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Cap 4 - Teoria e formulação de casos em análise comportamental


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4
O	mundo	encoberto	de	cada
um:	técnicas	que	auxiliam	o
autoconhecimento
Katrine	Souza	Silva	|	André	Amaral	Bravin
Conhece-te	a	ti	mesmo	e	conhecerás	o	universo	e	os	deuses.
Sócrates
Desde	a	Grécia	Clássica,	por	volta	do	século	VI	a.C.,	iniciou-se	uma	acentuada
preocupação	com	o	conhecimento,	 tanto	de	questões	 subjetivas	do	ser	humano
quanto	 das	 relações	 estabelecidas	 entre	 o	 ser	 humano	 e	 o	 mundo	 e	 entre	 os
próprios	seres	humanos.	Sócrates	foi	um	dos	primeiros	filósofos	a	destacar	que	o
conhecimento	deveria	 ter	 primeiramente	um	ponto	de	vista	 individual	 para,	 só
então,	 falar	 do	 universal	 (Chauí,	 2000).	 Nesse	 sentido,	 Sócrates	 instaurou	 seu
pensamento	 com	 base	 no	 preceito	 “conhece	 a	 ti	 mesmo”	 para	 explicitar	 a
desvinculação	 do	 homem	 em	 relação	 à	physis	 universal.	 O	 homem	 deveria	 se
voltar	 para	 o	 conhecimento	 de	 si	 mesmo,	 com	 autoconsciência	 despertada	 e
mantida	em	vigília.	Esses	fundamentos	sugerem	que	Sócrates	compartilhava	do
preceito	de	que	o	homem	era	a	medida	de	 todas	as	coisas.	Como	sugerido	por
Wolff	(1982,	p.	32-33),	é	“revolucionário	o	sentido	inédito	que	Sócrates	lhe	dá:
não	mais	sabei	que	sois	apenas	homem,	mas	ao	contrário:	que	cada	um,	sabendo
quem	é,	saiba	o	que	faz	e	por	que	o	faz”.
Essa	 mudança	 instaurada	 pelo	 pensamento	 socrático	 retira	 do	 foco	 das
explicações	de	um	oráculo	exterior,	em	favor	de	um	“oráculo	interior”,	sendo	o
homem	a	única	razão	de	ocorrência	de	suas	ações	(Pessanha,	1987;	Wolff,	1982).
124
Nesse	 sentido,	 o	 homem	passa	 a	 agir	 e	 pensar	 com	 consciência,	 sendo	 esse	 o
mais	rico	conhecimento	que	se	poderia	ter.	Com	essa	revolução,	Sócrates	estava
fazendo	 um	 convite	 à	 racionalidade	 moral	 e	 à	 tomada	 de	 consciência,
estimulando	 a	 capacidade	 de	 olhar	 para	 as	 coisas,	 para	 os	 outros	 e	 para	 si
mesmo.	 Com	 o	 passar	 do	 tempo,	 foram	 surgindo	 novas	 apreensões	 sobre	 o
“autoconhecimento”.
Atualmente,	na	linguagem	cotidiana,	o	temo	“autoconhecimento”	é	descrito
como	“s.m.	conhecimento	de	si	mesmo,	das	próprias	características,	sentimentos,
inclinações,	 etc.”	 (Houaiss,	 2009).	 De	 modo	 semelhante	 aos	 pensamentos
socráticos,	o	conhecimento	de	si	está	relacionado	com	a	percepção	de	si	mesmo.
Entretanto,	essa	definição	mantém	como	centro	das	explicações	o	 ser	humano,
fazendo-o	 refletir	 sobre	 suas	 próprias	 ações,	 sua	 inclinação	 e	 seu	 sentimento.
Dito	de	outra	maneira,	o	termo	sugere	que	a	pessoa,	por	ela	mesma,	conheça	as
razões	do	seu	modo	de	agir,	sentir,	etc.
Implicitamente,	 o	 termo	 “autoconhecimento”	 tem	 sido	 empregado	 na
linguagem	cotidiana	não	 só	para	a	descrição	da	ação	de	conhecer	 a	 si	mesmo,
mas	 também	como	um	gerador	das	 ações	conhecidas.	 Isto	 é,	o	 conhecer	 sobre
algo	ou	alguém	justifica	o	comportamento	final	de	uma	pessoa	(Marçal,	2004).
Um	 primeiro	 esboço	 para	 uma	 interpretação	 comportamental	 do	 uso
cotidiano	do	termo	“autoconhecimento”	sugere	que	ele	diz	respeito	ao	repertório
comportamental	 do	 organismo	 de	 estabelecer	 relações	 funcionais	 do	 próprio
comportamento.	 Isto	 é,	 que	 o	 próprio	 organismo	 que	 se	 comporta	 sabe
discriminar	 e	 descrever	 as	 contingências	 de	 controle	 do	 seu	 comportamento.
Avançando	 na	 definição	 cotidiana,	 o	 objeto	 de	 conhecimento	 seriam	 os
“sentimentos”	e	as	“inclinações”,	para	citar	alguns.
Em	algum	sentido,	o	foco	do	autoconhecimento	–	no	lugar	comum	–	está	no
conhecer	 eventos	 privados.	 Enquanto	 comportamento,	 eventos	 privados	 são
compreendidos	 como	 um	 conjunto	 de	 relações	 entre	 estímulos,	 respostas	 e
consequên​cias	 (i.e.,	 a	 contingência	 tríplice,	 em	 que	 o	 comportamento	 alvo	 de
análise	é	privado).	Tal	qual	qualquer	outro	comportamento,	é	selecionado	pelos
níveis	 filogenético,	 ontogenético	 e	 cultural.	 O	 autoconhecimento	 também	 se
refere	 às	 condições	 em	que	um	determinado	comportamento	ocorreu	e	 a	quais
variáveis	o	controlaram.	Seria,	portanto,	o	ato	de	prestar	atenção	em	sentimentos
e	 pensamentos	 (como	 quando	 a	 pessoa	 passa	 a	 discriminar	 e/ou	 descrever
eventos	e/ou	comportamentos	com	relação	a	ela	mesma	e	seu	meio	ou	com	ela
própria),	 que	 se	 dá	 de	 forma	 única	 para	 cada	 um	 e	 é	 inacessível	 aos	 outros.
Somente	 a	 pessoa	que	 se	 comporta	 tem	acesso	 ao	 seu	 comportamento	privado
125
(nesse	caso,	o	prestar	atenção,	o	sentir,	o	pensar,	as	percepções	e	sensações),	a
não	ser	que	o	comportamento	se	torne	público	–	por	meio	da	verbalização,	por
exemplo	(de	Rose,	Bezerra,	&	Lazarin,	2012;	Marçal,	2004;	Skinner,	1953/2003;
Tourinho,	 1999).	 Em	 síntese,	 autoconhecimento	 é	 a	 descrição	 de	 estados
privados,	instalados	por	meio	de	um	comportamento	produzido	por	uma	história
de	 reforçamento	 (contexto	 no	 qual	 o	 sujeito	 está	 inserido).	 Também	 está
relacionado	com	as	descrições	verbais	a	respeito	das	contingências	que	operam
ou	se	mantêm	no	comportamento	de	uma	pessoa.
AUTOCONHECIMENTO
Diz-se	 que	 uma	 pessoa	 tem	 autoconhecimento	 quando	 se	 torna	 apta	 a
discriminar	e	descrever	eventos	que	ocorrem	nas	relações	entre	si	mesma	e	seu
meio	 ou	 seu	 próprio	 comportamento.	 Ou	 seja,	 é	 (a)	 uma	 discriminação	 de
eventos	 privados	 (sejam	 eles	 referentes	 a	 eventos	 públicos	 ou	 privados),
instalados	por	uma	comunidade	verbal	por	meio	de	 reforçamento;	 e	 também	é
(b)	 a	 descrição	 pública	 de	 estados	 privados	 (emitida	 na	 forma	 verbal),	 sob
controle	 de	 estímulos	 discriminativos	 (nesse	 caso,	 um	 tato1).	 Portanto,
autoconhecimento	 é	 compreendido	 como	 um	 repertório	 de	 se	 fazer	 auto-
observação	e	autodescrição2	sobre	o	próprio	comportamento	do	indivíduo	que	se
comporta	(Brandenburg	&	Weber,	2005;	Del	Prette	&	Almeida,	2012;	de	Rose	et
al.,	2012;	Skinner,	1953/2003;	Tourinho,	1995).
Alguns	tratariam	“autoconhecimento”	por	“autoconsciência”	(de	Rose	et	al.,
2012).	Essa	descrição	não	é	necessariamente	antagônica	à	já	tratada	aqui,	se	for
considerado	que	a	consciência	deve	ser	entendida	como	a	descrição	do	próprio
comportamento	e	não	como	uma	manifestação	de	algo	subjacente,	ou	algo	que
promova	comportamentos.	Consciência	está	relacionada	com	a	instalação	de	um
repertório	 verbal	 descritivo	 do	 próprio	 comportamento	 (de	 Rose	 et	 al.,	 2012;
Tourinho,	 1995);	 uma	 metáfora	 que	 pode	 ser	 mais	 bem	 descrita	 como
comportamentos	 conscientes	 (Brandenburg	 &	 Weber,	 2005;	 Matos,	 1995;).
Desse	 modo,	 quando	 se	 diz	 que	 um	 sujeito	 é	 consciente	 do	 próprio
comportamento,	 significa	 dizer	 que	 existem	 contingências	 verbais	 de
reforçamento	que	dão	explicações	para	aquilo	que	ele	descreve	quando	sente	ou
quando	observa	introspectivamente	(Brandenburg	&	Weber,	2005;	de	Rose	et	al.,
2012;	Del	Prette	&	Almeida,	2012;	Skinner,	1953/2003;	Tourinho,	1995).
126
É	 comum	 acreditar	 que	 a	 pessoa	 que	 busca	 pelo	 conhecimento	 de	 si	 é	 o
sujeito	mais	 capaz	 para	 descrever	 o	 que	 acontece	 consigo	mesmo.	 Entretanto,
esse	 indivíduo	 só	 se	 reconhece	 e	 obtém	 conhecimento	 quando	 há	 uma
importância	 social	 para	 que	 tal	 conhecimento	 seja	 adquirido.	 Isto	 é,	 o
conhecimento	é	importante,	primeiramente,	para	a	comunidade	verbal	e,	depois,
para	si	próprio	(Sério,	1999).	Conforme	apontam	Koh​lenberg	e	Tsai	(1991/2006,
p.6),
Todo	comportamento	verbal,	não	importa	quão	privado	pareça	ser	o	seu	conteúdo,	tem	as	suas	origens
no	 ambiente.	 Embora	 os	 fenômenos	 relacionados	 ao	 funcionamento	 verbal	 humano	 possam	variar	 do
mais	intimamente	pessoal	ao	mais	publicamente	social,	toda	linguagem	que	faça	sentido	tem	a	sua	forma
eficaz	modelada	pela	ação	da	comunidade	verbal.
Apesar	de	ser	verdadeiro	o	fato	de	que	somente	nós	sabemos	o	que	ocorre	no
nosso	mundo	privado,	precisamos	de	uma	comunidade	verbal	que	nos	possibilite
conhecer	o	nosso	mundo	e	que	evoque	em	nós	comportamentos	descritivos.	O
autoconhecimento,	 portanto,	 é	 um	 produto	 social.	 O	 indivíduo	 passa	 a
discriminar	o	que	controla	o	seu	comportamento,	o	que	lhe	permiteestar	em	uma
melhor	 posição	 de	 prever	 e	 controlar	 seu	 próprio	 comportamento.	 Ou	 seja,	 a
pessoa	 que	 se	 tornou	 “consciente	 de	 si	 mesma”	 tem	 maior	 probabilidade	 de
dispor	de	condições	para	que	seu	comportamento	seja	mais	ou	menos	provável
de	ocorrer	(Sério,	1999;	Skinner,	1974/2006).
Além	 disso,	 ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 existem	 diferentes	 comunidades,	 há
diferentes	formas	de	autoconhecimento	e	diversas	possibilidades	de	uma	pessoa
explicar-se	 sobre	 si	 mesma	 ou	 sobre	 outros	 (Skinner,	 1989/2003).	 “Algumas
comunidades	 produzem	 a	 pessoa	 profundamente	 introspectiva,	 introvertida	 ou
voltada	 para	 dentro;	 outras	 produzem	 o	 extrovertido	 sociável”	 (Skinner,
1974/2006,	 p.	 146).	 É	 por	 meio	 de	 uma	 comunidade	 verbal	 específica	 que	 o
indivíduo	aprenderá/desenvolverá	o	repertório	autodiscriminativo.
O	comportamento	verbal	como	meio	importante	para	o
autoconhecimento
Skinner	 (1974/2006)	 apresenta	 motivos	 que	 justificam	 a	 importância	 do
comportamento	verbal	para	a	 instalação	de	repertórios	autodiscriminativos.	Em
primeiro	 lugar,	 o	 indivíduo	 só	 se	 comporta	 autodiscriminadamente	 se	 houver
contingências	 providas	 pela	 comunidade	 verbal	 que	 favoreçam	 esse	 treino
discriminativo.	Ou	seja,	é	preciso	haver	descrições	de	comportamentos	públicos
e	 privados,	 produtos	 de	 contingências	 específicas,	 que	 sejam	 verbais	 e
127
organizadas	por	uma	dada	comunidade	verbal.	Em	segundo	lugar,	porque	é	por
meio	do	 relato	verbal	 que	 a	 comunidade	 consegue	 acessar	 os	 comportamentos
privados	 de	 uma	 pessoa	 (Skinner,	 1953/2003;	 Tourinho,	 1995).	Os	 relatos	 são
importantes,	pois	“são	pistas	(1)	para	o	comportamento	passado	e	as	condições
que	o	afetaram,	(2)	para	o	comportamento	atual	e	as	condições	que	o	afetam,	e
(3)	 para	 as	 condições	 relacionadas	 com	 o	 comportamento	 futuro”	 (Skinner,
1974/2006,	p.	31).
O	comportamento	verbal	é	classificado	por	Skinner	em	oito	 tipos	distintos:
ecoar,	copiar,	tomar	ditado,	mandar,	ler	(pré-textual),	intraverbalizar,	rearticular
e	 tatear	 (Matos,	 1995;	 Skinner,	 1957/1978).	 Não	 cabe	 aqui	 discutir	 todos	 os
operantes	 verbais,	 mas	 será	 dado	 foco	 para	 aquele	 que	 em	 especial	 possui
relação	com	o	autoconhecimento	–	o	tato.	O	tato	é	um	operante	verbal	emitido
sob	controle	de	um	dado	estímulo	discriminativo,	seja	ele	externo	ou	interno	ao
organismo.	Assim,	 refere-se	 a	 descrições/informações	 de	 eventos,	 sejam	 essas
descrições	 controladas	por	 eventos	 externos	 físicos	 (p.	 ex.,	 “caneta”),	 externos
sociais	(p.	ex.,	“houve	um	motim”),	internos	fisiológicos	(p.	ex.,	“sinto	dor”)	ou
internos	históricos	(p.	ex.,	“tendo	a	solicitar	ajuda	quando	não	sei	o	que	fazer”).
Isto	 é,	 o	 tato	 serve	 à	 designação	 tanto	 de	 objetos	 quanto	 acontecimentos,	 por
exemplo.	Por	essa	razão,	esse	operante	verbal	é	muito	utilizado	pela	comunidade
como	 meio	 para	 ensinar	 a	 descrição	 de	 comportamentos	 privados,	 visto	 que
poderá	se	referir	a	descrições	sobre	comportamentos	públicos	e/ou	privados	do
próprio	indivíduo.	Isso	pode	ser	mais	bem	definido	como	autotato	(Brandenburg
&	Weber,	2005).
Existem	quatro	estratégias	por	meio	das	quais	a	comunidade	verbal	poderá
auxiliar	 a	 pessoa	 a	 emitir	 respostas	 verbais	 a	 respeito	 de	 estímulos	 privados3
(i.e.,	tatear	estímulos	privados):
1.	 por	 inferência,	 utilizando-se	 de	 estímulos	 públicos	 associados	 ao	 estímulo
privado	para	 reforçar	 a	 resposta	do	 indivíduo	 (p.	 ex.,	 ver	o	 joelho	de	uma
criança	 sangrando	 –	 correlato	 público	 –	 e	 nomear/reforçar	 aquilo	 que	 ela
sente	como	“dor”);
2.	 por	 reforçamento	 da	 resposta	 verbal	 ao	 estímulo	 privado	 na	 presença	 de
outras	respostas	colaterais	(p.	ex.,	sentir	dor	de	dente	ao	mesmo	tempo	em
que	põe	a	mão	na	mandíbula);
3.	 por	meio	da	descrição	do	próprio	comportamento:	(a)	quando	há	a	emissão
de	 um	 comportamento	 público	 em	 que	 a	 comunidade	 poderá	 reforçá-lo
128
diretamente	 (p.	 ex.,	quando	uma	pessoa	machuca	o	 joelho	e	este	 sangra,	 a
comunidade	 poderá	 dizer	 que	 o	 joelho	 está	 sangrando);	 e	 (b)	 quando	 se
refere	 a	 um	 comportamento	 público	 que	 retrocedeu	 a	 nível	 privado,
permitindo	 à	 comunidade	 se	 utilizar	 do	 relato	 e	 reforçar	 a	 resposta	 aberta
tomada	 como	 acompanhamento	 da	 resposta	 privada	 (p.	 ex.,	 apresentar	 um
cálculo	de	matemática	para	o	 indivíduo	e	este	 fazê-lo	de	cabeça	ou	 relatar
um	sonho);	e
4.	 por	 generalização	 de	 estímulos	 com	 base	 em	 propriedades
coincidentes/simultâneas	 (p.	 ex.,	 a	 pessoa	 afirmar	 que	 está	 agitada	 quando
observa	 que	 não	 consegue	 parar	 de	 se	 mexer	 ou	 dizer	 que	 está	 com	 o
estômago	 embrulhado	 quando	 este	 é	 acompanhado	 por	 barulhos	 ou	 a
sensação	 de	 estar	 “revirando	 por	 dentro”)	 (Brandenburg	 &	Weber,	 2005;
Skinner,	1957/1978;	Tourinho,	1995).
As	 respostas	 de	 auto-observação,	 no	 entanto,	 raramente	 são	 reforçadas
contingentemente.	 Por	 essa	 razão,	 necessitam	 de	 uma	 comunidade	 verbal	 que
utilize	 procedimentos	 que	 envolvam	 o	 comportamento	 verbal	 para	 ensinar	 a
pessoa	 a	 se	 auto-observar,	 discriminar	 e	 descrever	 as	 contingências	 que
controlam	o	próprio	comportamento.	Ou	seja,	a	comunidade	verbal	deve	prover
estímulos	discriminativos	verbais	ao	indivíduo	que	evoquem	comportamentos	de
auto-observação	 e	 descrição	 das	 contingências	 que	 o	 cercam.	 Uma	 forma	 de
fazer	isso	é	por	meio	de	perguntas	como:	“O	que	você	está	fazendo?”	ou	“O	que
está	sentindo?”	(Skinner,	1953/2003).	Assim,
Perguntas	 da	 comunidade	 são	 SD	 para	→	 resposta	 de	 auto-observação	 que	 produz	→	 S	 do	 próprio
comportamento	(e	de	suas	condições	e	consequências)	que	são	SD	para	→	resposta	de	autotato	[relato
sob	controle	do	que	é	observado	–	 inserção	nossa]	que	produz	→	S	 reforçador	 social	 (de	Rose	et	 al.,
2012,	p.	200).
Assim	 como	 ocorre	 na	 modelagem,	 as	 respostas	 emitidas	 pelo	 organismo
podem	 não	 ser	muito	 acuradas	 de	 início.	 Tais	 respostas	 vão	 sendo	modeladas
conforme	a	descrição	de	novos	correlatos	apresentados	pela	comunidade	 sobre
eventos	 privados.	 Desse	 modo,	 essas	 outras	 exposições	 passam	 a	 reforçar
contingentemente	 e	 de	 forma	 mais	 acurada	 uma	 dada	 resposta	 de	 autotato.
Contudo,	 pode	 haver	 casos	 em	 que	 a	 comunidade	 verbal	 não	 participa
diretamente	desse	processo,	como	em	circunstâncias	em	que	as	contingências	já
arranjadas	 pela	 comunidade	 determinam	 quais	 estímulos	 serão	 discriminados.
Ou	seja,	quando	ocorrem	eventos	contíguos	e,	por	modelação,	o	sujeito	aprende
a	 descrever	 certa	 situação.	 Apesar	 de	 não	 ter	 efetiva	 e	 diretamente	 o
129
envolvimento	 da	 comunidade,	 como	 grupo	 verbal,	 o	 comportamento	 verbal	 é
obviamente	estabelecido	(de	Rose	et	al.,	2012;	Skinner,	1953/2003).
Vale	 ressaltar	 que	 o	mais	 importante,	 segundo	 Skinner	 (1974/2006),	 não	 é
apenas	 aquilo	 que	 a	 pessoa	 diz	 sobre	 o	 que	 faz,	 pensa	 ou	 sente,	 mas	 se,	 em
algum	momento,	houve	circunstâncias	para	que	ela	se	observasse	e/ou	relatasse
seu	 comportamento.	 Assim	 como	 Skinner	 (1953/2003)	 menciona	 que	 o
autoconhecimento	é	considerado	um	repertório	especial,	de	tal	modo	que	o	que
se	 torna	 relevante	 não	 é	 saber	 se	 o	 comportamento	 que	 uma	 pessoa	 deixa	 de
relatar	é	realmente	observável,	mas	se,	em	algum	momento,	tal	pessoa	teve	razão
para	 observá-lo.	 E	 mesmo	 assim,	 quando	 prevalecerem	 circunstâncias
apropriadas,	 o	 autoconhecimento	 poderá	 não	 ocorrer.	 Como	 pode	 ser
exemplificado	na	seguinte	citação:
Não	temos	necessidade	de	supor	que	os	eventos	que	acontecem	sob	a	pele	de	um	organismo	tenham,	por
essa	razão,	propriedades	especiais.	Pode-se	distinguir	um	evento	privado	por	sua	acessibilidade	limitada,
mas	não,	pelo	que	sabemos,	por	qualquer	estrutura	ou	natureza	especiais.	Não	temos	razão	para	supor
que	 o	 efeito	 estimulador	 de	 um	 dente	 inflamado	 seja	 essencialmente	 diferente	 do	 efeito	 de	 um	 forno
quente.	(...)Como	são	tratadas	essas	variáveis?	(Skinner,	1953/2003,	p.	281-282).
Nesse	 sentido,	 o	 comportamento	 “expresso”	 é	 estritamente	 limitado	 pelas
contingências	que	a	comunidade	verbal	dispõe	ao	sujeito.	A	comunidade	possui
restrições	 ao	 acesso	 do	 comportamento	 encoberto,	 assim	 como	 também	 o
próprio	indivíduo	que	se	comporta,	uma	vez	que	este	pode	por	inúmeras	vezes	e
por	razões	distintas	distorcer	seu	próprio	relato	para	si	mesmo.	O	ambiente,	seja
ele	 público	 ou	 privado,	 poderá	 permanecer	 indistinto	 até	 que	 a	 pessoa	 seja
“forçada”	a	fazer	alguma	observação	(Skinner,	1953/2003).
Para	 que	 a	 comunidade	 verbal	 contribua	 para	 que	 um	 indivíduo	 elabore
formulações	 sobre	 si	mesmo,	ela	não	precisa	necessariamente	 ter	acesso	direto
aos	seus	eventos	privados.	Por	outro	lado,	em	todas	as	estratégias	cabíveis,	há	a
possibilidade	 de	 erro,	 imprecisão	 e	 limitação	 na	 sua	 aplicação.	 Desse	 modo,
nenhum	 indivíduo	 consegue	 “se	 conhecer	 por	 inteiro”	 ou	 “claramente”,	 no
sentido	de	 ter	um	conhecimento	 sobre	 si	que	 se	 identifica	com	o	comportar-se
discriminativamente	 (Tourinho,	 1995).	 Por	 mais	 que	 haja	 uma	 comunidade
verbal	 que	 evoque	 esse	 tipo	 de	 comportamento,	 as	 pessoas	 não	 estão	 sempre
atentas4	ou	não	estão	conscientes	do	que	ocorre	a	elas	enquanto	agem.	Por	esse
motivo,	 frequentemente	 os	 indivíduos	 fazem	 afirmações	 erradas,	 ainda	 que
tenham	 enfrentado	 circunstâncias	 semelhantes	 no	 passado,	 havendo	 uma
tendência	de	criarem	explicações	com	atribuição	à	herança	genética,	 como	“eu
130
nasci	assim”	ou	“é	esse	tipo	de	pessoa	que	sou”	(Brandenburg	&	Weber,	2005;
Skinner,	1974/2006).
Podem	 ainda	 existir	 casos	 de	 ausência	 de	 autoconhecimento.	 A	 partir	 do
momento	em	que	isso	é	identificado,	torna-se	imprescindível	a	identificação	de
quais	 foram	 as	 variáveis	 que	 contribuíram	 para	 que	 esse	 repertório	 seja
“empobrecido”.	 Uma	 das	 possibilidades	 de	 identificar	 e	 intervir	 sobre	 tais
variáveis	seria	ampliando	o	repertório	do	indivíduo	por	meio	da	psicoterapia,	a
fim	 de	 que	 o	 cliente	 se	 torne	 capaz	 de	 discriminar	 seus	 comportamentos	 e
identificar	 as	 variáveis	 que	 o	 influenciam.	 Assim	 sendo,	 psicoterapia	 é,	 em
última	 instância,	 um	 espaço	 para	 aumentar	 a	 auto-observação	 ou	 “trazer	 à
consciência”	 aquilo	 que	 se	 encontra	 “oculto”.	 Dito	 de	 outra	 maneira,	 o
psicoterapeuta	pode	servir	como	comunidade	verbal	para	instalar	repertórios	de
tatos	 relativos	 ao	 autoconhecimento	 do	 cliente	 que	 não	 teve	 oportunidade	 de
treinar	 tal	 repertório	 ao	 longo	 de	 sua	 história	 de	 vida	 (Brandenburg	&	Weber,
2005;	Sério,	1999;	Skinner,	1989/2003).
Em	 síntese,	 sem	uma	 comunidade	 verbal	 e	 sem	 condições	mínimas	 para	 o
desenvolvimento	de	repertórios	autodiscriminados,	muito	dificilmente	o	sujeito
estará	 apto	 a	 fazê-lo.	 Sem	 a	 comunidade	 verbal,	 ele	 não	 estará	 estimulado	 a
observar	os	próprios	comportamentos,	 tendo	como	efeito	uma	dificuldade	para
discriminar	as	variáveis	que	o	controlam,	isto	é,	desenvolver	autoconhecimento	e
tatos	 precisos.	 Questionamentos,	 perguntas,	 provocações	 e/ou	 manejo	 de
algumas	 contingências	 são	 algumas	 das	 estratégias	 típicas	 que	 a	 comunidade
empregará	 para	 levar	 a	 pessoa	 a	 se	 atentar	 aos	 eventos	 que	 estão	 à	 sua	 volta.
Uma	das	possibilidades,	em	psicoterapia,	é	que	o	terapeuta	assuma	esse	papel	da
comunidade	 verbal	 com	 o	 propósito	 de	 estabelecer	 (modelar)	 o	 repertório	 de
autoconhecimento	em	pessoas	que	tiveram	tal	treino	empobrecido.
O	terapeuta	como	mediador
O	terapeuta	pode	atuar	como	comunidade	verbal	e	social	que	ajude	o	cliente	a
tatear	 e	 descrever	 as	 relações	 entre	 sentimentos,	 comportamentos	 públicos	 e
ambientes	 nos	 quais	 ele	 se	 encontra,	 quer	 sejam	 esses	 eventos	 passados,
presentes	ou	ideações	quanto	ao	futuro.	Nesses	casos,	o	objetivo	do	terapeuta	é
manejar	 contingências	 para	 o	 estabelecimento	 de	 novos	 repertórios	 a	 fim	 de
minimamente	 predispor,	 no	 sentido	 de	 criar	 condições,	 para	 que	 o	 sujeito	 se
autoconheça	melhor.	 Estratégias	 que	 ampliem	 o	 repertório	 de	 auto-observação
do	 cliente	 poderão	 favorecer	 relatos	 com	maior	 precisão	 quanto	 aos	 diferentes
131
sentimentos	 e	 estados	 corporais,	 consequentes	 de	 reforçamento	 negativo	 ou
punição,	 ou	 contribuir	 para	 a	 discriminação	 de	 respostas	 de	 prazer	 típicas	 de
contingências	de	reforçamento	positivo	(Cunha	&	Bortoli,	2009).	“A	função	da
terapia	 é,	 portanto,	 dar	 condições	 para	 o	 cliente	 analisar	 como	 e	 por	 que	 ele
emite	 determinados	 padrões	 comportamentais	 (autoconhecimento)	 e,	 a	 partir
desse	 conhecimento,	 eleger	 os	 que	 aumentem	 os	 reforçadores	 em	 sua	 vida
cotidiana	 (autocontrole)”	 (Delitti	&	 Thomaz,	 2004,	 p.	 60).	 Como	 efeito	 desse
aprendizado,	o	cliente	terá	condições	de	emitir	respostas	semelhantes	quando,	no
futuro,	surgirem	situações	parecidas	(Madi,	2004).
O	terapeuta	irá	auxiliar	seu	cliente	a	ter	ciência	dos	estímulos	e	das	variáveis
das	quais	o	comportamento	é	função.	Isso	o	colocará	em	uma	melhor	condição
de	prever	e	controlar	o	seu	próprio	comportamento.	No	entanto,	mesmo	que	seja
de	suma	 importância	o	 trabalho	do	autoconhecimento	na	psicoterapia,	 isso	não
fará	necessariamente	o	sujeito	ter	uma	postura	mais	ativa	ante	os	eventos	de	seu
cotidiano,	isto	é,	o	autoconhecimento,	embora	possa	predispor	a	mudança,	não	é
condição	suficiente	para	que	ela	ocorra	(Skinner,	1953/2003).
Mesmo	 após	 o	 processo	 psicoterapêutico,	 caso	 o	 cliente	 não	 consiga
discriminar	as	contingências	às	quais	está	exposto	e	não	consiga	 intervir	 sobre
elas,	caberá	ao	 terapeuta	ensinar,	por	meio	de	 técnicas	e/ou	 ferramentas,	como
fazê-lo.	 Por	 meio	 dessas	 técnicas	 é	 que	 o	 cliente	 poderá	 identificar	 as
consequências	que	seu	comportamento	gerou	no	passado,	as	consequências	que
são	 produzidas	 atualmente	 e	 encontrar	 novas	 fontes	 de	 reforços	 positivos	 para
que	ele	amplie	sua	variabilidade	comportamental	(Madi,	2004).
Técnicas	para	o	manejo	terapêutico	do	autoconhecimento
Enquanto	terapeutas,	esperamos	que	as	razões	que	fornecemos	aos	nossos
clientes	os	auxiliem	em	seus	problemas	da	vida	diária.
(Kohlenberg	&	Tsai,	1991/2001,	p.	42)
A	Análise	Comportamental	Clínica	 faz	uso	de	 técnicas	para	 instrumentalizar	 a
prática	 do	 terapeuta5.	 Essas	 técnicas	 podem	 variar	 desde	 o	 uso	 de	 um	 arsenal
conceitual	 para	 fins	 de	 intervenção	 sobre	 o	 comportamento	 (p.	 ex.,	 identificar
um	 comportamento	 clinicamente	 relevante	 do	 tipo	 1,	 CRB16)	 até	 o	 emprego
específico	e	focado	de	alguns	manejos	para	a	modificação	do	comportamento	(p.
ex.,	economia	de	fichas).	Isto	é,	por	técnicas	comportamentais,	compreende-se	a
sistematização	 de	 intervenções	 orientadas	 para	 a	 finalidade	 de	 obter	 um
132
determinado	 resultado	 em	 uma	 dada	 situação.	 Portanto,	 para	 o	 terapeuta
comportamental,	 as	 técnicas	 funcionam	 como	 antecedentes	 verbais	 (tal	 qual
regras),	 cujo	 seguimento	 produz	 consequências	 iguais	 ou	 semelhantes	 àquelas
previstas	e	especificadas	pelas	técnicas	(Del	Prette	&	Almeida,	2012).
A	intervenção	analítico-comportamental	clínica	amparada	por	 técnicas	deve
seguir	 alguns	 passos,	 a	 saber:	 (a)	 fazer	 a	 análise	 de	 contingências:	 ferramenta
teórico-prática	 que	 corrobora	 a	 identificação	 de	 como	 as	 contingências	 estão
arranjadas.	 Essa	 análise	 inicial	 é	 embrionária,	 mas	 proverá	 ao	 clínico	 as
“hipóteses”	terapêuticas	que	deverão	ser	testadas	em	uma	análise	funcional;	(b)
realizar	 a	 avaliação	 funcional:	 identificar	 e	 descrever	 sistematicamente	 as
relações	entre	os	comportamentos	dos	indivíduos	e	suas	consequências,	ou	seja,
é	 a	 busca	 pelos	 determinantes	 (variáveis	 de	 controle)	 da	 ocorrência	 do
comportamento.	A	partir	das	análises	preliminares	de	contingência,	o	 terapeuta
comportamental	 irá	 ampliá-la,	 obtendo	 mais	 dados,	 identificandoos
comportamentos	 que	 serão	 fruto	 de	 intervenção	 e	 operacionalizando	 esses
comportamentos-alvo,	 vislumbrando	 variáveis	 que	 podem	 ser	 manipuladas	 e
prevendo	o	efeito	dessa	manipulação	sobre	o	comportamento-alvo	(Koh​lenberg
&	 Tsai,	 1991/2001;	 Moreira	 &	 Medeiros,	 2007;	 Skinner,	 1974/2006);	 (c)
programar	 a	 intervenção:	 selecionar	 instrumentos,	 ferramentas	 e	 ações	 (do
terapeuta)	como	estratégia	para	alterar	o	comportamento	do	cliente;	e,	por	fim,
(d)	deliberadamente	empregar	as	técnicas	para	alcançar	os	objetivos	terapêuticos
(Del	Prette	&	Almeida,	2012).	Em	alguma	medida,	a	reavaliação	do	emprego	da
técnica	é	feita,	pois,	como	dizem	Del	Prette	e	Almeida	(2012),	“toda	intervenção
(inclusive	com	uso	de	técnicas)	envolve	uma	avaliação	contínua”	(p.	149).
Segundo	 Del	 Prette	 e	 Almeida	 (2012),	 as	 intervenções	 sobre	 o
comportamento	operante	podem	ser	realizadas	em	qualquer	das	três	variáveis	da
tríplice	contingência	(antecedentes,	respostas	e	consequências).	Para	o	propósito
deste	 estudo	 (i.e.,	 intervenções	 para	 promover	 autoconhecimento),	 serão
mencionadas	 apenas	 algumas	 estratégias	 que	 alteraram	o	 controle	 antecedente.
Algumas	das	possíveis	intervenções	sobre	variá​veis	antecedentes	podem	derivar
de	 alterações	 verbais	 de	 controles	 discriminativos	 dos	 comportamentos	 do
cliente.	 Essas	mudanças	 do	 controle	 discriminativo	 podem	 ocorrer	 por	 regras,
autorregras	ou	ao	longo	do	contato	direto	com	a	contingência:
1.	 A	 regra	 funciona	 como	 estímulo	 discriminativo	 verbal	 que	 especifica	 uma
contingência	(sejam	todos	os	termos	da	contingência	–	regras	completas,	ou
não	–	regras	incompletas).	A	descrição	“você	deve	acordar	diariamente	às	7h
133
da	 manhã	 para	 não	 chegar	 tarde	 ao	 trabalho”	 especifica	 o	 antecedente
(horário),	 a	 resposta	 (despertar)	 e	 a	 consequência	 (não	 chegar	 tarde	 ao
trabalho).
2.	 Autorregras,	 assim	 como	 as	 regras,	 são	 estímulos	 discriminativos	 verbais
que	especificam	contingências,	 porém,	 são	 formuladas	pela	própria	pessoa
que	 se	 comporta.	 Essas	 regras	 podem	 especificar	 acuradamente,	 ou	 não,
contingências	 às	 quais	 as	 pessoas	 estão	 submetidas.	 Descrições	 como
“quando	 as	 pessoas	 me	 olham,	 é	 porque	 estão	 me	 julgando”,	 embora
descrevam	parcialmente	uma	contingência,	é	improvável	que	sejam	acuradas
em	todas	as	suas	ocorrências.
3.	 O	 contato	 com	 a	 contingência	 promoverá,	 em	 alguma	 instância,	 o	 próprio
autoconhecimento.	 Uma	 vez	 que	 regras	 e	 autorregras	 podem	 reduzir	 a
sensibilidade	 às	 contingências7,	 o	 contato	 com	 a	 contingência	 e	 a
substituição	 de	 controles	 verbais	 incompletos	 ou	 inacurados	 por	 controles
mais	completos	e	acurados	podem	favorecer	o	autoconhecimento.
Em	qualquer	um	desses	cenários,	o	propósito	é	que	o	cliente	modifique	suas
descrições	acerca	do	controle	das	contingências	sobre	o	próprio	comportamento,
em	 favor	 de	 controles	 mais	 acurados.	 A	 discriminação	 e	 descrição	 acuradas
desses	controles	será	a	demonstração,	por	parte	do	cliente,	da	aquisição	de	um
repertório	de	autoconhecimento.
Nesse	sentido,	Del	Prette	e	Almeida	(2012)	afirmam	que,	de	modo	geral,	o
objetivo	 de	 qualquer	 processo	 terapêutico	 envolve	 a	 promoção	 de
autoconhecimento,	a	fim	de	que	o	cliente	se	torne	capaz	de	observar,	descrever	e
manipular	 as	 variáveis	 que	 controlam	 seu	 comportamento	 e	 de	 fazer	 novas
formulações	de	prescrições,	instruções	ou	regras.	Isso	permite	que,	analisando-se
a	 si	mesmo,	 tenha	melhores	 condições	de	 alterar	 variáveis	 aversivas	que	 estão
intimamente	 relacionadas	 à	 sua	 queixa	 e	 produzir,	 em	 curto	 ou	 longo	 prazo,
reforçadores	positivos	(Kohlenberg	&	Tsai,	1991/2001).
Muitos	terapeutas	se	utilizam	de	técnicas	sistemáticas	e	comprovadas	em	sua
eficácia	 clínica	 para	 trabalhar	 o	 autoconhecimento.	 Alguns	 exemplos	 são	 o
fading,	o	timeout	e	o	role-play.	O	primeiro	diz	respeito	à	passagem	gradativa	do
controle	 de	 um	 estímulo	 para	 outro,	 de	 modo	 que,	 ao	 longo	 de	 sucessivas
repetições,	 se	 possam	 obter	 respostas	 semelhantes	 a	 partir	 de	 um	 estímulo
modificado	 parcialmente	 ou	 mesmo	 de	 um	 novo	 estímulo.	 Por	 exemplo,
perguntas	mais	diretivas	podem	ser	 empregadas	para	direcionar	quem	não	 tem
134
autoconhecimento	 e,	 à	 medida	 que	 o	 cliente	 progride	 na	 discriminação	 e
descrição	 das	 variáveis	 ambientais	 relacionadas	 ao	 seu	 comportamento,	 o
terapeuta	 pode	 ser	 menos	 diretivo,	 empregando	 perguntas	 mais	 amplas	 ou
reflexivas	 (p.	 ex.,	 o	 terapeuta,	 por	 conhecer	 o	 pouco	 repertório	 de	 seu	 cliente,
emite	perguntas	específicas	e	diretivas,	como	“quais	pessoas	conversaram	com
você	 hoje?”).	 O	 timeout	 diz	 respeito	 à	 suspensão	 discriminada,	 por	 um	 certo
período,	 de	 uma	 contingência	 de	 reforço	 (p.	 ex.,	 o	 terapeuta	 encerrar	 a	 sessão
antes	do	tempo	previsto	por	apresentação	de	um	comportamento	inadequado	por
parte	do	cliente	–	“se	você	conti​nuar	a	me	atacar	verbalmente,	terei	de	encerrar	a
sessão”).	 Já	 o	 role-play	 diz	 respeito	 ao	 arranjo	 de	 uma	 situação	 análoga	 ao
contexto	do	cliente,	em	que	se	avalia	o	desempenho	dele,	de	forma	a	modelar,
via	 feedback	 do	 terapeuta,	 comportamentos	 que	 se	 aproximam	 do	 objetivo
terapêutico	 (p.	 ex.,	 o	 terapeuta	 dizer	 “percebo	 que,	 diante	 do	 que	 expõe,	 você
para	de	trabalhar	quando	seu	chefe	está	por	perto”	e	em	seguida	solicitar	que	o
cliente	 represente	 o	 papel	 de	 seu	 chefe,	 para	 que	 ele	 discrimine	 o	 que	 o	 faz
interromper	sua	resposta	diante	do	chefe)	(Del	Prette	&	Almeida,	2012).
Em	todos	esses	casos,	a	finalidade	das	técnicas	é	promover	uma	manipulação
direta	 do	 ambiente	 terapêutico	 de	 modo	 a	 provocar	 alterações	 no	 controle
discriminativo	 do	 cliente,	 para	 que	 este	 perceba,	 discrimine,	 reflita	 e	 relate	 as
relações	 funcionais	 que	 controlam	 seu	 comportamento.	 Em	 outras	 palavras,	 a
manipulação	do	ambiente	terapêutico	é	realizada	com	o	objetivo	de	que	o	cliente
consiga	 exibir	 esses	 repertórios	 analíticos	 naquelas	 e	 em	 outras	 contingências
extraconsultório	(Del	Prette	&	Almeida,	2012).
Com	 esse	 mesmo	 objetivo,	 também	 é	 possível	 empregar	 técnicas	 não
sistemáticas	para	a	promoção	do	autoconhecimento.	Uma	das	formas	de	se	fazer
isso	é	por	meio	de	questionamentos.	O	uso	adequado	de	perguntas	servirá	como
SD	verbal	que	estabelece	ocasião	para	respostas	de	auto-observação,	que	serão
reforçadas	 socialmente	 pelo	 terapeuta	 quando	 as	 autoanálises	 do	 cliente	 se
aproximarem	daquelas	relações	funcionais	que	o	terapeuta	realizou	no	momento
do	diagnóstico	comportamental	(análise	funcional).	Esses	repertórios	verbais	do
cliente	 podem	 ser	 regras	 e	 autorregras	 acuradas,	 e	 sua	 correta	 emissão	 será	 a
demonstração	 da	 aquisição	 de	 um	 repertório	 de	 autoconhecimento.	 Para	 além
das	perguntas,	outras	estratégias	não	sistemáticas	poderiam	ser	empregadas	com
a	mesma	finalidade	da	promoção	do	autoconhecimento.
Desse	 modo,	 este	 trabalho	 objetiva	 exemplificar	 como	 estratégias	 não
convencionais	na	Análise	do	Comportamento,	empregadas	em	um	Caso	clínico
de	uma	mulher	com	déficit	no	repertório	de	autoconhecimento,	podem	contribuir
135
para	 a	 instalação	 de	 comportamentos	 mais	 discriminados.	 Ou,	 dito	 de	 outra
forma,	de	como	tais	técnicas	são	importantes	para	favorecer	o	desenvolvimento
do	repertório	de	autoconhecimento.
DESCRIÇÃO	DO	CASO
Rafaela	 (nome	 fictício),	 51	 anos	 de	 idade,	 natural	 de	 uma	 pequena	 cidade	 no
interior	do	estado	de	Goiás.	Tem	três	irmãos,	sendo	dois	deles	mais	velhos	e	um
mais	novo.	A	cliente	teve	como	grau	de	instrução	ensino	médio	incompleto	e	se
enquadrou	como	classe	média	baixa.	Dona	de	casa,	casada	há	29	anos,	mãe	de
dois	filhos	(um	casal),	sendo	o	filho	já	casado.
Aos	45	 anos	de	 idade,	 procurou	por	 atendimento	psicológico	quando	 ficou
cerca	 de	 duas	 semanas	 sem	 dormir.	 Todavia,	 interrompeu	 os	 atendimentos	 e
procuroupor	 um	 médico	 com	 a	 queixa	 de	 dificuldade	 para	 dormir,	 o	 qual
prescreveu	clonazepam	(10	mg).	A	cliente	usou	o	medicamento	por	cinco	anos	e
interrompeu	o	uso	por	conta	própria.	Ao	perceber	que	os	sintomas	de	ansiedade
e	 de	 insônia	 estavam	 retornando,	 procurou	 outro	 médico,	 o	 qual	 prescreveu
alprazolam	(2	mg).	Nessa	ocasião,	buscou	também	atendimento	psicológico	no
Serviço	 de	 Psicologia	Aplicada	 da	Universidade	 Federal	 de	Goiás	 –	 Regional
Jataí.
Análise	funcional/identificação	comportamental
Nas	entrevistas	iniciais,	Rafaela	apresentou	a	ansiedade	como	queixa	geral	para
tratamento,	 mas,	 ao	 longo	 das	 sessões,	 apontou	 outros	 objetivos	 terapêuticos
específicos,	como	fazer	uma	atividade	de	cada	vez	(em	oposição	a	iniciar	várias
e	 não	 terminar	 nenhuma),	 falar	 pausada	 e	 calmamente	 e	 parar	 de	 tomar	 sua
medicação	(alprazolam).	Como	somatizações8,	exibia	dificuldades	para	dormir,
o	 que	 atribuía	 ao	 excesso	 de	 preocupações	 com	 acontecimentos	 inespecíficos,
aperto	 no	 peito,	 dores	 no	 estômago	 e	 falta	 de	 controle	 da	 respiração,	 o	 que	 a
levava	a	outras	dificuldades,	como	não	conseguir	falar	apropriadamente.
A	cliente	descreveu	que,	desde	muito	nova,	cuidou	de	seu	pai,	dependente	de
álcool,	por	isso	dormia	muito	pouco,	uma	vez	que	preparava	comida	para	ele	e	o
colocava	para	dormir.	Somente	após	o	pai	pegar	no	sono,	ela	conseguia	se	deitar.
Afirmou	 fazer	 esse	 procedimento	 para	 se	 certificar	 de	 que	 ele	 não	 sairia
novamente	para	beber	ou	se	envolver	em	brigas.	Nunca	teve	abertura	e	liberdade
para	conversar	com	seu	pai	ou	sua	mãe.
136
Esses	fatos	podem	estar	relacionados	com	a	gênese	de	seu	quadro	de	insônia
(ver	Quadro	4.1),	uma	vez	que	ela	aprendeu	desde	cedo	a	interromper	seu	sono
para	 administrar	 problemas	 alheios	 e,	 nesse	 caso	 específico,	 ficar	 em	 vigília
cuidando	do	pai.	Então,	ela	mantinha	um	maior	contato	com	o	pai	apenas	nesses
momentos	em	que	ele	chegava	bêbado	em	casa.	Esses	cuidados	que	o	pai	recebia
de	 Rafaela	 eram	 por	 ele	 reconhecidos,	 e	 este	 a	 estimava	 muito	 por	 todos	 os
préstimos	 que	 fazia	 quando	 ele	 chegava	 alcoolizado	 em	 casa.	 Em	 alguma
medida,	o	reconhecimento	e	o	afeto	do	pai	poderiam	ser	reforço	positivo	social
do	comportamento	da	cliente.	Ao	mesmo	tempo,	ela	evitava	que	seu	pai	saísse
novamente,	 que	 se	 envolvesse	 em	 brigas.	 Nesse	 sentido,	 parte	 do	 cuidado
também	 era	 empregado	 para	 evitar	 que	 ele	 se	 ferisse,	 o	 que	 pode	 ser
caracterizado	como	reforço	negativo.	Como	dito,	esse	pode	ter	sido	um	fator	na
gênese	dessa	preocupação	com	problemas	de	outrem,	mas,	 por	 outros	motivos
que	serão	apresentados	a	seguir,	ela	manteve	esse	comportamento.
Quadro	4.1	Análise	funcional	da	insônia
Antecedentes Respostas Consequências
Pai	chega	em	casa	após	beber Manter-se	em	vigília	e	oferecer
cuidados	ao	pai
Só	dormir	depois	do	pai
R+	provindo	do	pai	(afeto)
R-	evitar	que	o	pai	se	envolvesse	em
brigas
R+,	reforçamento	positivo;	R-,	reforçamento	negativo.
O	 pai	 era	 muito	 agressivo,	 tanto	 no	 contexto	 familiar	 como	 em	 seu	 meio
social	 (p.	 ex.,	 ao	 relacionar-se	 com	 pessoas	 no	 bar).	 Ele	 preocupava-se	muito
com	a	reputação	de	sua	filha	e	dizia	para	ela:	“se	eu	souber	algo	sobre	você,	eu
mato	a	pessoa”.	Apesar	de	ele	nunca	a	ter	agredido	fisicamente,	exibia	padrão	de
agressividade	 (p.	 ex.,	 dizer	 a	 Rafaela	 que,	 se	 soubesse	 algo	 sobre	 ela,
provavelmente	 relacionado	 a	 sexo,	 mataria	 a	 pessoa	 com	 quem	 ela	 teria	 se
relacionado,	além	das	brigas	dele	com	sua	mãe,	repletas	de	agressões	verbais),	e
ela	 acreditava	 que	 as	 ameaças	 poderiam	 de	 fato	 tornarem-se	 atos.	 Rafaela
julgava-se	responsável	em	alguma	medida	para	que	isso	não	ocorresse	e,	a	fim
de	 evitar	 qualquer	 tipo	 de	 “abertura”	 para	 que	 seu	 pai	 interpretasse	 seu
comportamento	 como	 inadequado,	 exibia	 um	 comportamento	 reservado	 e
passivo.
Para	além	dessa	contingência,	a	mãe	de	Rafaela	 também	foi	um	modelo	de
passividade	(ver	Quadro	4.2).	Diante	das	agressões	do	marido,	mostrava-se	uma
dona	de	casa	passiva,	que	não	tomava	iniciativas.	Ademais,	admitia	que	a	filha
137
se	 responsabilizasse	pelos	 cuidados	 com	o	pai	 quando	 este	 estava	 ébrio.	Além
desse	 repertório	 de	 passividade,	 a	mãe	 de	Rafaela	 não	 dava	 abertura	 para	 que
seus	 filhos	 conversassem	 com	 ela,	 não	 havendo,	 portanto,	 comunicação	 entre
eles,	nem	mesmo	em	situações	que	exigiam	isso	(p.	ex.,	a	mãe	nunca	falou	sobre
menstruação	com	Rafaela).
Quadro	4.2	Análise	funcional	da	passividade	e	do	embotamento
Antecedentes Respostas Consequências
REGRA Permanecer	em
silêncio/embotamento
R-	evitar	apanhar	do	pai	e/ou	ouvir
sermões	(esquiva)
Modelo:	mãe	passiva	e	formulação	de
autorregra	“manter-se	em	silêncio	em	situações
de	conflito”
SDs
Pai	agressivo/brigas	verbais	entre	os
pais/irmãos	apanhando
R-,	reforçamento	negativo.
Em	 alguma	 medida,	 isso	 explica	 a	 dificuldade	 que	 Rafaela	 tinha	 para
expressar	 seus	 sentimentos	 e	 pensamentos.	 Essa	 circunstância	 pode	 ser
compreendida	 em	 parte,	 pelo	 fato	 de	 que	 a	 cliente	 não	 teve	 oportunidade	 de
aprender	 a	 nomear	 sentimentos	 e	 pensamentos	 adequadamente,	 em	 razão	 da
pouca	 disponibilidade	 de	 contingências	 que	 pudessem	 reforçar	 tal
comportamento.	Além	disso,	 quando	 conteúdos	 de	 cunho	 aversivo	 precisavam
ser	mencionados	 para	 ela	 (p.	 ex.,	 ter	 de	 se	 expressar	 ou	 emitir	 um	mando),	 a
verbalização	 de	 seus	 pensamentos	 saía	 de	 forma	 acelerada	 e	 desconexa	 de
sentido	entre	uma	frase	e	outra	–	hiperlalia	–	de	tal	forma	a	atrapalhar-se	ainda
mais	em	sua	comunicação	e	na	manutenção	de	sua	respiração	durante	a	fala	(ver
Quadro	4.3).	Justamente	por	essa	pouca	abertura	para	falar	de	si	e	por	sua	pouca
habilidade	 em	 interligar	 assuntos	 “difíceis”,	 Rafaela	 evitava	 entrar	 em	 contato
com	 estímulos	 que	 a	 fizessem	 refletir	 sobre	 seu	 comportamento	 e	 que
consequentemente	apontavam	para	o	seu	pouco	autoconhecimento.
Quadro	4.3	Análise	funcional	da	hiperlalia
Antecedentes Respostas Consequências
Quando	precisa	solicitar	ajuda Hiperlalia Efeito:	eliciação	de	respostas	emocionais	(raiva)	que
prejudicam	ainda	mais	a	hiperlalia
Quando	descreve	eventos	passados
sobre	si Ora	é	compreendida	pelos	ouvintes,	ora	não.	De	modo
geral,	as	pessoas	demonstram	disposição	para	ajudá-
138
la/compreendê-la	e	acalmá-la	(o	reforço	é	intermitente
–	resistência	à	extinção)
Outros	 fatores	 relevantes	 de	 sua	 história	 estão	 relacionados	 com	 a	 sogra.
Como	Rafaela,	em	sua	juventude,	não	se	ocupou	dos	afazeres	de	casa,	não	tinha
muitos	conhecimentos	sobre	culinária	ou	organização	do	 lar.	Quando	se	casou,
sua	sogra	(já	falecida	quando	iniciou	a	terapia)	disse	que	ela	não	seria	uma	boa
esposa	ou	dona	de	casa.	A	partir	desse	momento,	a	cliente	passou	a	se	dedicar	a
tarefas	domésticas.	Esse	episódio	em	particular,	junto	com	a	preocupação	que	já
tinha	 sobre	 sua	 reputação,	 sua	 passividade	 e	 a	 falta	 de	 repertório	 de
contracontrole	 (p.	 ex.,	 não	 conseguiu	 contra-argumentar	 a	 fala	 da	 sogra)	 e	 a
tendência	 de	 seguir	 regras	 e	 autorregras	 (repertório	modelado	 como	 forma	 de
evitar	 estimulação	 aversiva,	 vinda	 em	 grande	 parte	 da	 agressão	 do	 pai),
trouxeram	como	efeito	uma	maior	apreensão	quanto	à	sua	conduta,	à	sua	moral	e
aos	seus	valores	como	esposa,	diante	de	outras	pessoas	(ver	Quadro	4.4).
Quadro	4.4	Análise	funcional	da	preocupação	com	outros
Antecedentes Respostas Consequências
Regra	do	pai:	“se	eu	souber	algo
sobre	você,	mato	a	pessoa”
Regra	da	sogra:	“você	deve	ser	uma
boa	mãe	e	esposa”
Pessoa	conhecida	necessitando	de
cuidados/ajuda
Priorizar	o	cuidado	com	o
outro/assumir	cuidados	com	o
outro
R+	provindo	do	pai	(afeto)
R-	evitar	que	o	pai	se	envolvesse	em
brigas/ferisse	alguém
R+	social	familiar	(apreço	e
reconhecimento)
R-	esquiva	(evita	magoar	pessoas	e
perder	reforço	social)
No	fundo	cinza	estão	as	contingências	passadas	que	podem	ter	sido	gênesedo	padrão	comportamental.	No
fundo	branco,	estão	as	contingências	atuais	que	provavelmente	mantêm	o	padrão.
Assim,	 desde	 cedo,	 a	 cliente	 demonstrou	 um	 repertório	 de	 passividade	 e
embotamento.	 Esses	 repertórios,	 aliados	 às	 regras	 coercitivas	 (portanto,
supressoras	de	comportamentos)	de	seu	pai,	contribuíram	para	que	a	cliente	não
desenvolvesse	 repertórios	 de	 contracontrole	 (p.	 ex.,	 negociação/assertividade)
em	contingências	aversivas,	tampouco	desenvolveu	repertórios	que	poderiam	dar
acesso	a	 reforçadores	positivos	para	além	dos	que	ela	 já	estava	habituada	(i.e.,
reforços	 sociais).	 Embora	 a	 exposição	 a	 novas	 contingências	 fosse	 importante
para	 o	 desenvolvimento	 de	 seu	 repertório,	 Rafaela	 isolava-se	 cada	 vez	mais	 e
evitava	 situações	 de	 conflito.	 Dessa	 forma,	 esquivava-se	 do	 contato	 com
situações	aversivas.
139
Outra	característica	de	Rafaela	era	a	preocupação	com	sua	moral	e	conduta.
Para	 a	 cliente,	 era	 importante	 ser	 reconhecida	 como	 uma	 pessoa	 “boa”,
“certinha”	 e	 de	 “bom	 caráter”,	 escrupulosa	 consigo	 mesma	 e	 com	 os	 outros.
Nesse	 contexto,	 havia	 uma	 forte	 contribuição	 da	 regra	 e	 autorregra	 que	 ela
descrevia	sobre	seu	modelo	familiar.	Seu	comportamento	era	governado	por	um
modelo	tradicional	de	família,	segundo	o	qual	“família	unida	não	briga”.	Essas
regras	 favoreceram	 para	 que	 Rafaela	 nunca	 soubesse	 dizer	 “não”	 para
solicitações	que	seus	familiares	faziam	a	ela.	Aliado	a	isso,	naturalmente,	estava
seu	 repertório	de	evitar	 situações	de	conflito	 (ver	Quadro	4.5).	Dessa	maneira,
encontrava-se	 sempre	 com	excesso	de	 afazeres	por	 tentar	 ajudar	ou	 solucionar
problemas	que	não	estavam	diretamente	relacionados	a	ela	ou	que	estavam	a	ela
relacionados,	mas	que	não	sabia	como	negociar	naquele	momento.
Quadro	4.5	Análise	funcional	quanto	à	preocupação	com	sua	reputação
Antecedentes Respostas Consequências
Regras
Regra	do	pai:	“se	eu	souber	algo	sobre
você,	mato	a	pessoa”;	“família	unida	não
briga”
Autorregras
“Sou	uma	pessoa	boa”;
“Todos	devem	gostar	de	mim”
SDs
Solicitação	de	ajuda/favores	de
amigos/familiares
Atender	aos	pedidos	de
familiares	e
amigos/esforçar-se	para
resolver	os	problemas	dos
outros
R+	social	familiar	e	do	marido	(apreço
e	reconhecimento);	familiares	sempre
solicitam	a	sua	ajuda
R+	social	de	amigos	(apreço	e
reconhecimento:	é	vista	como	uma
“pessoa	boa”);	amigos	sempre
solicitam	a	sua	ajuda
R-	esquiva	(evita	magoar	pessoas	e
perder	reforço	social)
Ressalta-se	 que	 os	 respondentes	 eliciados	 (p.	 ex.,	 coração	 acelerado	 e
respiração	descoordenada)	e	as	 somatizações	 (p.	 ex.,	 sono	 irregular	 e	dores	no
estômago)	que	Rafaela	apresentava,	embora	pudessem	relacionar-se	a	um	quadro
dito	de	“ansiedade”,	não	eram	assim	denominados	pela	cliente.	Para	caracterizar
sua	 ansiedade,	 ela	 descrevia	 somente	 as	 respostas	 de	 hiperlalia,	 insônia	 e	 seu
“atropelo”	 pelo	 excesso	 de	 atividades	 a	 fazer;	 isto	 é:	 todas	 respostas	 públicas.
Respostas	privadas,	como	o	desconforto	sentido	por	ela	nessas	contingências	de
conflito	 aproximação-esquiva,	 não	 eram	 nomeadas	 pela	 cliente,	 embora	 ela
relatasse	algum	desconforto,	o	qual	pode	ter	favorecido	episódios	de	insônia	e	a
consequente	 autoadministração	 de	 alprazolam.	 Por	 seu	 turno,	 as	 somatizações
decorrentes	disso	eram	nomeadas	como	“cansaço”,	“estresse”	e	“raiva”.
Esse	 contexto	 de	 criticidade	 dos	 reforços	 sociais	 (que	 são	 praticamente	 os
únicos	 que	 a	 cliente	 tem)	 e	 o	 risco	 de	 perdê-los	 caso	 emitisse	 respostas	mais
140
autênticas	e/ou	assertivas	(ao	menos	é	assim	que	ela	se	comporta	em	função	de
suas	 regras)	deixavam-na	em	conflito,	o	que	estava	 favorecendo	a	manutenção
dos	respondentes	de	“ansiedade”.	Por	um	lado,	a	emissão	de	resposta	assertiva
poderia	 gerar	 a	 perda	 de	 reforçadores	 (p.	 ex.,	 desaprovação	 social),	 por	 outro,
geraria	 o	 reforço	 desejado	 (p.	 ex.,	 diminuição	 da	 carga	 de	 trabalho).	 E,	 nesse
cenário,	 um	 repertório	 que	 emergia	 garantindo	 o	 acesso	 a	 esse	 reforçador
(diminuição	 da	 carga	 de	 trabalho),	 sem	 gerar	 a	 possível	 perda	 de	 reforços
(desaprovação	 social),	 envolvia	 justamente	 as	 somatizações	 (p.	 ex.,	 insônia	 e
preocupações	 excessivas	 com	 coisas	 cotidianas),	 que	 acabam	 ganhando	 um
componente	operante	–	isto	é,	passam	a	ser	mantidas	por	reforçamento	negativo.
Uma	 vez	 que	 ela	 mesma	 e	 seus	 familiares	 valorizam	 bastante	 a	 questão	 da
manutenção	da	saúde,	esse	“argumento”	é	bem	aceito	nessa	comunidade	verbal,
tornando	o	repertório	da	cliente	apto	a	produzir	os	reforços	e	evitar	as	punições.
Por	esse	motivo,	ela	apresenta	grande	dificuldade	em	perceber	que	seu	repertório
atual	é	fruto	de	efeito	de	história,	o	que	é	muito	compreensível,	uma	vez	que	ela
não	 teve	 condições	 favoráveis,	 isto	 é,	 modelos	 familiares	 que	 estimulassem	 a
expressão	 de	 seus	 sentimentos	 e	 pensamentos.	 De	 tal	 modo,	 uma	 orientação
terapêutica	no	sentido	do	autoconhecimento	revelou-se	fundamental,	base	para	a
compreensão	de	um	modelo	interacionista	do	comportamento	com	o	seu	meio,	o
que	 poderia	 motivá-la	 a	 modificar	 padrões	 comportamentais.	 Rafaela	 não
considerava	 suas	 regras	 e	 autorregras,	 bem	 como	 sua	 história,	 como	 variáveis
que	 instalaram	 padrões	 comportamentais,	 o	 que	 não	 contribuía	 para	 que	 ela
assumisse	as	rédeas	da	própria	vida,	deixando	de	ser	vítima	da	própria	história,	e
passasse	 ativamente	 a	 construir	 repertórios	mais	 adequados	 a	 seus	 objetivos	 e
queixas	 apresentados.	 Nesse	 sentido,	 enquanto	 Rafaela	 assumisse	 suas
explicações	em	relação	à	causalidade	de	seus	comportamentos	ou	o	engajamento
deles	como	descrições	mentalistas	e	relacionadas	à	herança	genética,	isto	é,	“que
é	como	é	porque	é”,	dificilmente	teria	motivação	para	fazer	diferente.
Intervenção
Os	 atendimentos	 foram	 realizados	 em	 um	 dos	 consultórios	 do	 Serviço	 de
Psicologia	 Aplicada	 da	 Universidade	 Federal	 de	 Goiás	 –	 Regional	 Jataí.	 O
consultório	padrão	possuía	uma	mesa,	duas	cadeiras	e	um	sofá.
Os	atendimentos	ocorreram	semanalmente	e	duravam	cerca	de	50	minutos.
Ao	todo,	foram	rea​lizadas	23	sessões.	As	sessões	foram	planejadas,	conforme	os
passos	 descritos	 por	 Del	 Prette	 e	 Almeida	 (2012),	 no	 intuito	 de	 coletar
141
informações	 iniciais	 para	 (a)	 realizar	 a	 análise	 de	 contingências,	 (b)	 prover	 a
formulação	 comportamental,	 (c)	 programar	 as	 sessões	 de	 intervenção	 e	 (d)
empregar	 as	 técnicas	 a	 fim	 de	 atingir	 o	 resultado	 almejado.	 As	 sessões
envolviam	 a	 entrevista	 clínica	 acompanhada	 de	 outras	 técnicas	 individuais,
realizadas	dentro	e	fora	do	consultório,	como	principal	tônica	de	intervenção.	A
partir	da	formulação	comportamental,	 tornou-se	evidente	que	um	dos	objetivos
do	processo	terapêutico	era	promover	autoconhecimento.
Técnicas	utilizadas
Como	 já	mencionado,	 as	 técnicas	 visam	a	 alcançar	 algum	objetivo	 terapêutico
(Del	 Prette	 &	 Almeida,	 2012).	 Como	 um	 foco	 inicial	 dos	 atendimentos	 era
trabalhar	o	autoconhecimento,	as	 técnicas	utilizadas	e	aqui	descritas	visavam	a
atingir	 esse	 objetivo.	 Assim,	 o	 foco	 inicial	 do	 processo	 terapêutico	 era	 o	 de
instalar	 e	 aprimorar	 (modelar)	 descrições	 e	 relatos	 da	 cliente	 sobre	 seu
conhecimento	 de	 si;	 isto	 é,	modelar	 repertórios	 de	 descrições	 relacionadas	 aos
padrões	 comportamentais	 por	 ela	 apresentados,	 à	 sua	 origem	 nas	 interações
passadas	 e	 às	 variáveis	 presentes	 e	 mantenedoras	 dessas	 respostas.	 Esse	 foco
terapêutico	 ficou	 evidente	 pelo	 fato	 de	 que	 a	 cliente	 demonstrou	 dificuldades
para	 discriminar	 eventos	 e	 condições	 ambientais	 que	 corroboravam	 na
manutenção	de	seu	repertório	comportamental	(os	comportamentos	identificados
como	 problemas)	 e	 pela	 pouca	 destreza	 em	 descrever	 respostas	 privadas	 de
sentimentos	e	sensações	diante	de	situações	específicas.	Ademais,	as	explicações
de	 seus	 comportamentos	 sempreeram	 internalistas,	 atribuindo	 causa	 do	 seu
comportar-se	 atual	 a	 fatores	 genéticos	 (p.	 ex.,	 “...ou	 saí	 puxando	 minha	 mãe
também,	 não	 sei”)	 ou	 psíquicos	 (p.	 ex.,	 “Eu	 acho	 que	 é	 assim	 o	 meu	 jeito
mesmo...”)	(Skinner,	1953/2003).
As	técnicas	aqui	empregadas	tiveram,	em	conjunto,	o	objetivo	de	aumentar	a
sensibilidade	da	cliente	às	contingências	que	a	cercavam	e	diminuir	o	controle
por	 suas	 autorregras	 arbitrárias	 acerca	 da	 causalidade	 de	 seu	 comportamento.
Para	 tanto,	 foram	 empregadas	 as	 tarefas	 de	 (a)	 timeline,	 (b)	pizza	 da	 vida,	 (c)
exercício	 dos	 quadrantes	 (Sousa	 &	 de-Farias,	 20149)	 e	 (d)	 diário	 dos
sentimentos.
Timeline
142
Descrição.	Junto	com	a	cliente	é	elaborado	um	“infográfico”,	composto	por	uma
linha	 horizontal,	 que	 representa	 a	 passagem	 do	 tempo.	 A	marcação	 inicial	 da
linha	(em	seu	lado	esquerdo)	representa	o	nascimento	da	cliente.	À	medida	que	a
linha	aumenta	de	tamanho	para	a	direita,	representa-se	a	passagem	do	tempo,	até
a	 idade	atual	da	cliente.	De	maneira	mais	clara,	esse	 tipo	de	 técnica	é	descrito
por	 Bonato,	 Zorzi	 e	 Umiltá	 (2012)	 por	 ser	 uma	 elaboração	 longitudinal	 de
eventos	 apresentados	 de	 forma	 organizada	 ao	 longo	 da	 história	 de	 vida	 do
indivíduo	 baseados	 na	 interação	 entre	 tempo	 e	 espaço.	 Isso	 faz	 a	 pessoa	 se
engajar	 no	 processo	 de	 relatar	 suas	 vivências	 (Poletto,	 Kristensen,	 Grassi-
Oliveira,	&	Boeckel,	2014).	Dessa	maneira,	foi	solicitado	que	Rafaela	trouxesse
uma	foto	ou	fato	que	representasse	cada	um	dos	anos	de	sua	vida,	a	iniciar,	por
exemplo,	 com	 a	 história	 da	 escolha	 de	 seu	 nome.	 Assim,	 cada	 ano	 seria
representado	por	um	“marco	histórico	pessoal”,	 independentemente	do	que	ele
representava	do	ponto	de	vista	emocional	(p.	ex.,	se	agradável	ou	desagradável,
engraçado,	 curioso),	 mas	 todos	 os	 fatos/fotos	 deveriam	 ser	 subjetivamente
importantes	no	sentido	de	terem	impactado	a	vida	da	cliente.
Objetivo	específico	e	interpretação	comportamental.	O	principal	objetivo	dessa
atividade	é	demonstrar	a	influência	dos	aspectos	contextuais	no	desenvolvimento
de	 padrões	 de	 comportamento	 por	 parte	 da	 cliente.	 Assim,	 padrões
comportamentais	que	ela	poderia	apresentar	no	passado	(p.	ex.,	ser	extrovertida)
e	 que	 não	 apresentava	 mais	 no	 presente	 (p.	 ex.,	 ser	 tímida)	 poderiam	 ser
localizados	 no	 tempo	 e.	 a	 partir	 de	 então,	 tentar-se	 desvendar	 quais	 variáveis
ambientais	contribuíram	para	essas	mudanças	comportamentais.	Outro	exemplo
é	a	história	do	nome.	No	caso	de	uma	criança	filha	de	professores	que	se	chama
Sophia,	por	exemplo,	é	possível	hipotetizar	uma	disposição,	por	parte	dos	pais,	a
reforçar	 alguns	 padrões	 comportamentais	 (p.	 ex.,	 o	 interesse	 pelos	 estudos,
leitura,	conhecimento	e	erudição)	e	não	outros	(p.	ex.,	participação	em	festas	ou
eventos	de	massa).
Essa	 atividade	 seria	 um	 “resumo”	 que	 permite	 ao	 terapeuta	 e	 à	 cliente	 a
descrição	 da	 sua	 história	 de	 vida,	 em	 função	 do	 tempo.	 É	 uma	 forma	 mais
“lúdica”	 (e	 menos	 vocal,	 o	 que	 pode	 ser	 interessante	 para	 clientes	 que	 não
possuem	 o	 repertório	 de	 auto-observação	 e	 autodescrição)	 de	 realizar	 o
levantamento	de	 sua	história	comportamental,	viabilizando	assim	a	formulação
comportamental	 (i.e.,	 análise	 funcional)	 dos	 “comportamentos-problema”	 dos
quais	a	cliente	se	queixa.	Do	ponto	de	vista	de	causalidade,	abre	a	possibilidade
de	 discutir	 as	 interações	 desses	 comportamentos	 com	 o	 ambiente	 histórico	 (p.
143
ex.,	a	própria	experiência	da	cliente),	social	(p.	ex.,	disposições	familiares)	e,	em
casos	em	que	questões	orgânicas	são	mais	óbvias,	o	ambiente	biológico	(p.	ex.,
diagnósticos	genéticos).	Assim,	a	atividade	visa	a	proporcionar	elementos	para	a
análise	funcional	por	parte	do	terapeuta	e	da	própria	cliente.
Exemplificação.	 Foi	 pedido	 que	 Rafaela	 descrevesse	 eventos	 de	 sua	 vida	 de
forma	a	apresentar	os	dados	progressivamente,	nesse	caso	do	período	atual	para
o	passado,	sempre	relacionando	uma	data	a	uma	parte	de	sua	história.	Isso	a	fez
emitir	o	comportamento	verbal	de	autotato,	na	Sessão	2:
Terapeuta	(T):	Você	pode	me	ajudar	a	fazer	essa	linha	do	tempo?
Cliente	(C):	Uhum.
T:	Então	vamos	começar	a	história.	Vamos	começar	de	quando	você	se	casou.
C:	Eu	casei	com	21	anos.
T:	Com	quantos	anos	você	começou	a	tomar	o	Rivotril?
C:	Nossa,	faz	tanto	tempo!
T:	Você	tinha	me	dito	que	foi	antes	de	se	casar.
C:	Não,	 foi	depois	que	eu	casei.	Depois	que	eu	vim	pra	 cá	 (Jataí),	 foi	quando
meu	menino	tinha	6	anos,	ele	tem	28	hoje.	Foi	depois	de	uns	cinco	anos	ou
mais	para	frente	ainda.	Eu	já	tinha	mais	de	40	anos	já.
T:	Então,	agora	você	está	com	51	anos	e	tem	dois	anos	que	você	parou	de	tomar
o	medicamento?
C:	 Tem	 dois	 anos	 que	 eu	 parei	 de	 tomar	 o	 Rivotril	 e	 o	 mesmo	 tempo	 que
comecei	a	tomar	o	alprazolam.	Teve	um	intervalo	de	dois	a	quatro	meses	sem
tomar	medicamento	algum.
T:	Eu	achei	que	você	tinha	começado	a	tomar	o	Rivotril	muito	tempo	antes	de	se
casar.
C:	Não,	foi	muito	depois	que	eu	casei.	Foi	depois	que	eu	fiquei	muito	tempo	sem
dormir	por	conta	da	minha	ansiedade.	Aí	eu	fiquei	tomando	ele	(o	Rivotril).
(...)	T:	Sobre	sua	mãe,	você	disse	que	ela	também	é	ansiosa.
C:	Não,	ela	ultimamente	está	ansiosa.	Eu	estou	achando	ela	muito	ansiosa.
T:	E	o	que	você	notou	de	diferente?
144
C:	Esses	últimos	anos	que	meu	pai	 ficou	doente.	 Isso	 também	deixou	ela	mais
sozinha.	Então,	ela	também	achava	que	a	gente	(os	filhos)	íamos	tirar	ela	da
chácara	onde	ela	mora.
T:	E	o	que	mudou	do	comportamento	dela?
C:	Está	muito	agitada.	Ligo	pra	ela,	e	ela	começa	a	falar	muito	rápido	(ver	que
esse	é	um	comportamento	que	a	própria	Rafaela	emite).
Por	 meio	 da	 organização	 temporal	 dos	 relatos	 de	 Rafaela,	 foi	 possível
compreender	melhor	 quando	 ela	 começou	 a	 ter	 as	 primeiras	 somatizações	 e	 o
que	 ela	 compreendia	 e	 nomeava	 como	 ansiedade.	 Possivelmente,	 sem	 a
organização	 dos	 relatos,	 pouco	 entenderíamos	 sobre	 sua	 história,	 uma	vez	 que
ela	 apresentava	 falas	 rápidas	 e	 desorganizadas.	 Nesse	 sentido,	 por	 mais	 que
ainda	houvesse	a	atribuição	por	parte	da	cliente	de	causalidade	a	algo	subjacente
ao	 próprio	 comportamento,	 a	 atividade	 foi	 de	 suma	 importância	 para	 o
estabelecimento	de	análises	funcionais	de	seu	comportamento.
Pizza	da	vida
Descrição.	Consiste	em	elaborar	um	gráfico	de	setores	 (gráfico	de	pizza)	onde
cada	setor	(fatia	da	pizza)	corresponde	a	um	fator	crítico	na	vida	das	pessoas	(ver
Fig.	 4.1).	 Via	 de	 regra,	 divide-se	 o	 gráfico	 em	 oito	 setores,	 mas	 é	 possível
acrescentar	 ou	 subtrair	 setores	 em	 função	 dos	 objetivos	 terapêuticos	 de	 cada
cliente.	 Os	 setores	 são:	 (a)	 vida	 amorosa,	 (b)	 saúde,	 (c)	 finanças,	 (d)
carreira/trabalho,	 (e)	 desenvolvimento	 pessoal	 (ou	 intelectual/estudos),	 (f)	 vida
familiar,	(g)	vida	social/lazer	e	(h)	vida	espiritual.	A	tarefa	do	cliente	é	atribuir
valor	subjetivo	a	cada	setor,	proporcional	a	quanto	cada	uma	daquelas	atividades
ocupa	 de	 seu	 tempo	 e	 esforço	 cotidianamente.	 A	 escolha	 por	 um	 gráfico	 de
setores	(e	não	de	barras,	por	exemplo)	é	proposital,	pois	o	acréscimo	de	área	em
um	 dado	 setor	 necessariamente	 refletirá	 no	 decréscimo	 de	 área	 de	 algum	 ou
alguns	dos	outros	setores.
145
Figura	4.1	Gráfico	de	setores	elaborado	pela	 cliente	 (família,	 finanças,	 saúde,	espiritual,	 lazer,
relacionamentos	amorosos,	intelectualidade	e	trabalho).
Objetivo	específico	e	interpretação	comportamental.	O	principal	objetivo	dessa
atividade	é	demonstrar	à	cliente	como	ela	divide	 seu	 tempo	e	esforço	nos	oito
“setores	 críticos”	 da	 vida.	 Tal	 demonstração	 gráfica	 poderá	 auxiliar	 no
autoconhecimento,	em	circunstâncias	sutis	ou	obviamente	notórias	em	que	existe
um	desequilíbrio	muito	grande	entre	setores	(p.	ex.,	a	pessoa	que	se	dedica	quase
que	exclusivamente	ao	 trabalho	e	 às	 finanças	e	não	 se	ocupa	com	aspectos	do
relacionamentoamoroso,	familiar,	saúde,	etc.).
Os	 pressupostos	 comportamentais	 que	 respaldam	 essa	 interpretação	 estão
alicerçados	 nas	 áreas	 de	 “ecologia	 comportamental”	 (Fantino,	 1991)	 e
comportamento	 de	 escolha	 (Herrnstein,1970;	 Mazur,1991;	 Todorov	 &	 Hanna
2005).	De	uma	forma	geral,	trata-se	de	alocar	“respostas”	ou	“tempo”	naquelas
contingências	 que,	 de	 uma	 maneira	 ou	 outra,	 são	 mais	 reforçadoras	 para	 o
sujeito.	Uma	discussão	posterior	é	quanto	ao	“tipo	de	reforço”	(p.	ex.,	positivo
ou	negativo)	e	de	“contingên​cia”	 (p.	ex.,	controle	por	 regras	ou	contato	com	a
contingência)	 que	 mantém	 esse	 controle.	 Já	 é	 sabido	 que	 a	 proporção	 de
respostas	 em	 cada	 alternativa	 tende	 a	 se	 igualar	 à	 frequência,	 probabilidade,
proporção,	 magnitude	 e	 imediaticidade	 dos	 reforços	 programados	 e	 é	 afetada
ainda	 pela	 “qualidade”	 do	 reforço	 e	 pela	 topografia	 da	 resposta	 exigida
(Herrnstein,	1970;	Mazur,	1991).
146
O	uso	do	gráfico	de	setores	implica	que	o	aumento	em	um	setor	corresponde
à	 necessária	 diminuição	 de	 outro	 setor.	 Assim,	 estamos	 forçando	 uma
interpretação	de	“escolha	concorrente”,	o	que	torna	a	ferramenta	interessante	do
ponto	de	vista	terapêutico	para	interpretações	comportamentais	molares	(p.	ex.,
para	haver	mudança,	é	preciso	haver	mudança;	não	é	possível	aumentar	o	tempo
em	 família	 ou	 fazer	 uma	 aula	 de	 dança	 sem	 afetar	 o	 tempo	 de	 outra	 coisa),
porém	 não	 necessariamente	 verdadeira	 para	 interpretações	 comportamentais
moleculares	(p.	ex.,	é	possível	que	a	organização	da	cozinha	após	o	 jantar	seja
realizada	pelos	membros	da	família,	o	que	pode	trazer	benefícios	para	os	setores
de	 “vida	 amorosa”,	 “vida	 familiar”	 e	 “finanças”).	 O	 terapeuta	 deve	 ajudar	 o
cliente	a	equilibrar	essas	interpretações	e	esses	cenários	de	escolha.
Exemplificação.	A	realização	da	tarefa	“pizza	da	vida”	com	Rafaela	indicou	que
três	setores	(Família,	Saúde	e	Espiritual)	equivaliam	a	mais	de	50%	do	total	da
área	do	gráfico	(ver	Fig.	4.1),	isto	é,	essas	três	contingências	eram	as	fontes	de
reforçadores	críticos	para	a	cliente.
A	 exposição	 dessa	 informação	 de	 forma	 visual	 é	 amigável	 e,	mesmo	 para
uma	pessoa	com	baixa	instrução	formal,	teve	um	primeiro	efeito	terapêutico	que
foi	o	da	cliente	discriminar	o	“estreitamento”	de	 repertórios	e	contingências	às
quais	 ela	 se	 expunha	 (“É...	 está	 bem	 desproporcional,	 né?!	 Mas,	 é	 o	 que
representa	minha	vida”).	Do	ponto	de	vista	do	terapeuta,	essa	ferramenta	levanta
outras	questões.	Por	qual	razão	o	comportamento	está	em	baixa	frequência	nas
outras	 contingências	 (setores)	 da	 vida	 da	 pessoa?	Será	por	 falta	 de	 repertório?
Será	 pelo	 fato	 de	 elas	 serem	 de	 alguma	 forma	 aversivas?	 Como	 posso
estabelecer	intervenções	que	ampliem	o	repertório	da	pessoa	para	que	ela	tenha
acesso	 aos	 reforços	 das	 outras	 contingências,	 tornando-a	 mais	 autônoma	 e
provendo	 maior	 desenvolvimento?	 (Naturalmente,	 isso	 tudo	 feito	 dentro	 do
interesse	 do	 cliente).	 Quais	 seriam	 os	 comportamentos	 necessários	 a	 serem
emitidos	por	parte	da	cliente,	para	que	ela	ampliasse	seus	reforçadores?
Exercício	dos	quadrantes
Descrição.	Consiste	em	elaborar	uma	matriz	de	2	x	2	(ver	Fig.	4.2),	em	que	as
colunas	listam	“faço”	e	“não	faço”,	e	as	linhas	listam	“gosto”	e	“não	gosto”.	O
intercruzamento	entre	as	linhas	e	colunas	formarão	quatro	células	no	total,	sendo
elas	 “faço	 e	gosto”,	 “faço	 e	não	gosto”,	 “não	 faço	 e	gosto”	 e	 “não	 faço	 e	não
gosto”.	 Esse	 exercício	 já	 foi	 descrito	 como	 tarefa	 complementar	 em	 uma
147
intervenção	 fundamentada	 em	 terapia	 de	 aceitação	 e	 compromisso	 para	 dor
crônica	 com	 o	 objetivo	 de	 gerar	 “discriminação”,	 isto	 é,	 parte	 do	 processo	 de
autoconhecimento	(Sousa	&	de-Farias,	2014).
Figura	4.2	Matriz	2x2.
Objetivo	específico	e	interpretação	comportamental.	O	exercício	dos	quadrantes
é	 uma	 atividade	 complementar,	 por	 assim	 dizer,	 à	 pizza	 da	 vida.	 Enquanto	 a
pizza	da	vida	fala	sobre	contingências	de	reforço,	o	exercício	dos	quadrantes	vai
qualificar	 os	 tipos	 de	 reforços	 a	 que	 a	 pessoa	 está	 submetida.	 O	 objetivo
específico,	portanto,	era	ampliar	a	descrição	dessas	contingências	de	reforço	por
parte	 da	 cliente	 e	 tentar,	 ao	 mesmo	 tempo,	 gerar	 o	 efeito	 de	 discriminação
descrito	por	Sousa	e	de-Farias	(2014),	auxiliando	o	objetivo	terapêutico	geral	de
instalar	repertórios	de	autoconhecimento.
Essa	 atividade	 é	 uma	 aproximação	 didático-terapêutica	 em	 que	 é	 possível
identificar	comportamentos	mantidos	por	reforçamento	positivo	(faço	e	gosto)	e
negativo	(faço	e	não	gosto),	bem	como	possíveis	comportamentos-alvo	para	fins
terapêuticos	que	estão	em	baixa	frequência	por	alguma	razão	(não	faço	e	gosto).
Para	 o	 presente	 caso,	 essa	 atividade	 também	 era	 importante	 para	 sinalizar	 à
cliente	 que	 diferentes	 contingências	 estão	 relacionadas	 a	 diferentes	 respostas
148
emocionais	 e	 que	 as	 “causas”	 das	 respostas	 emocionais	 estão	 relacionadas	 a
essas	interações,	e	não	a	fatores	subjacentes,	como	o	“seu	jeito	de	ser”.
Lastro	empírico	que	dá	suporte	a	essa	interpretação	foi	mostrado	por	Cunha	e
Borloti	 (2009).	 Os	 pesquisadores	 delinearam	 um	 experimento	 de	 tentativa
discreta	 com	 a	 finalidade	 de	 identificar	 o	 efeito	 de	 quatro	 diferentes
contingências	 de	 reforçamento	 na	 emissão	 de	 tatos	 de	 eventos	 privados	 de
sentimentos.	Para	tanto,	um	delineamento	misto	foi	criado,	no	qual	um	grupo	de
10	 pessoas	 (idades	 entre	 11	 e	 14	 anos)	 passava	 pelas	 condições	 “reforço
positivo”	 (R+)	 e	 “punição	negativa”	 (P-)	 e	outro	grupo	de	10	pessoas	 (mesma
idade)	 passava	 pelas	 condições	 “punição	 positiva”	 (P+)	 e	 “reforçamento
negativo”	 (R-).	 Em	 cada	 contingência,	 eram	 apresentadas	 50	 telas	 pré-
programadas	pelo	experimentador,	em	que	uma	carta	de	baralho	era	apresentada
no	topo	da	tela	(modelo),	e	uma	entre	três	cartas	na	parte	inferior	da	tela	deveria
ser	 escolhida	 pelos	 participantes.	 O	 participante	 escolhia	 a	 carta,	 e	 seu
comportamento	era	reforçado	ou	punido,	a	depender	da	condição	em	que	estava.
Ao	 final	 da	 apresentação	 das	 50	 telas	 programadas,	 um	 questionário	 aparecia
para	 o	 participante,	 perguntando	 qual	 dos	 sentimentos	 correspondia	 mais
precisamente	ao	que	ele	sentiu.	Entre	12	alternativas	de	nomes	de	sentimentos,	o
participante	 deveria	 escolher	 somente	 uma.	 Na	 contingência	 de	 R+,	 70%	 das
respostas	 correspondiam	 a	 “contentamento”,	 “satisfação”	 e	 “alegria”.	 Na
contingência	 de	 P-,	 90%	 das	 respostas	 correspondiam	 a	 “frustração”,
“desapontamento”	 e	 “tristeza”.	 Na	 contingência	 de	 P+,	 60%	 das	 respostas
correspondiam	a	 “raiva”,	 “medo”	 e	 “aborrecimento”.	Por	 fim,	 na	 contingência
de	R-,	todas	as	respostas	correspondiam	a	“ansiedade”,	“apreensão”	e	“alívio”.	O
estudo	 demonstrou	 que	 sentimentos	 descritos	 pela	 nossa	 comunidade	 verbal
como	 “bons/agradáveis”	 estão	 relacionados	 a	 contingências	 de	 R+	 e	 que
sentimentos	 descritos	 como	 “ruins/desagradáveis”	 estão	 relacionados	 a
contingências	aversivas	(P-;	P+;	R-).	A	seguir	é	possível	ver	como	esses	achados
empíricos	dão	suporte	à	atividade	terapêutica	proposta.
Exemplificação.	 Rafaela	 discriminou	 e	 descreveu	 que	 havia	 mais
comportamentos	alocados	na	célula	“não	gosto	e	 faço”	do	que	nas	outras	 (i.e.,
excesso	de	comportamentos	mantidos	por	 reforço	negativo	em	sua	 rotina).	Ela
dizia	que	essas	atividades	“deviam”	ser	feitas,	pois	fazem	parte	da	rotina	e	dos
cuidados	com	a	família,	por	fazerem	parte	das	“obrigações”	de	uma	mulher.	O
controle	 por	 regra	 era	 tão	 superior	 ao	 contato	 com	 a	 contingência	 que,	 até
mesmo	nos	quadrantes	em	que	deveriam	estar	presentes	 reforços	positivos,	ela
149
descrevia	 atividades	 e	 situações	 em	 que	 os	 comportamentos	 emitidos	 eram	 de
fuga/esquiva.	 Isso	 denota	 o	 controle	 por	 regra	 e	 a	 falta	 de	 contato	 que	 esse
gerava	 com	 acontingência	 e	 seu	 carente	 repertório	 de	 autoconhecimento,	 a
ponto	 de	 confundir	 os	 sentimentos	 de	 “alívio”	 com	 os	 de	 “satisfação”.	 O
seguinte	trecho,	da	Sessão	5,	exemplifica	essa	situação:
T:	 Qual	 a	 diferença	 ou	 semelhança	 entre	 eles?	 (Entre	 os	 itens	 dispostos	 no
campo	gosto	e	faço)
C:	Isso	aí	que	eu	saía	mais,	assim,	sei	lá!	Com	a	correria	do	tempo	fui	afastando
disso,	porque	as	pessoas	ficavam	todas	ocupadas,	deixei	de	sair	porque	não
me	 acostumei	 a	 sair	 sozinha	 com	 o	marido.	 Como	 assim?!	 Acho	 que	 não
entendi	o	que	você	perguntou.
T:	Vamos	tentar	pensar	em	grupo,	por	exemplo.	As	coisas	que	você	gosta,	como
olhar	o	neto,	fazer	almoço	e	lavar	roupa.	Vamos	juntar	elas	e	pensar:	o	que
tem	 de	 igual	 em	 todas	 essas	 coisas	 que	 você	 faz?	 Quando	 você	 faz	 essas
atividades,	o	que	tem	de	igual	nelas?
C:	Bom	assim,	igual...	o	que	eu	sinto?
T:	O	que	você	sente,	pensa	ou	relaciona?
C:	É	uma	rotina.	É	isso	que	tem	que	ser	feito.
T:	É	verdade,	são	rotinas.	E	para	quem	são	destinadas	essas	atividades?
C:	O	almoço?
T:	Todas	as	atividades	desse	grupo	[aponta	para	a	célula	dos	itens	gosto	e	faço]
(R+).
C:	Uai.	É	para	 o	meu	marido,	 para	 os	meus	 filhos,	minha	nora	 também.	Faço
para	todo	mundo.	Para	eles,	né!	Pra	falar	a	verdade,	quando	ele	[o	marido]
não	está	em	casa,	eu	nem	faço	almoço.	Fazer	comida	só	para	mim	não.	Então
eu	faço	mesmo	para	eles.
T:	Então	não	me	parece	adequado	colocar	nesse	 lugar	 [aponta	a	célula	do	R+]
uma	coisa	que	na	verdade	você	faz	por	obrigação	ou	por	apenas	fazer	parte
do	cotidiano.	Estou	correta?
C:	É.	É	mais	pra	eles	e	não	pra	mim,	né!?
T:	Não	seria	mais	adequado	passar	esses	itens	[aponta	para	o	quadrante	do	gosto
e	faço]	para	a	parte	do	não	gosto	e	faço?	Não	seria	melhor?
150
Com	o	direcionamento	da	terapeuta	e	o	suporte	do	exercício	dos	quadrantes,
a	 cliente	 passa	 a	 discriminar	 que	 algumas	 das	 atividades	 que	 até	 então	 ela
julgava	como	“satisfação”	são	na	verdade	“alívios”	(ver	a	 fala	“é	 isso	que	 tem
que	ser	feito”	e	o	fato	de	ela	não	fazer	o	almoço,	quando	não	há	controle	social	–
o	marido	não	está	em	casa	–,	por	exemplo).
Em	 conjunto,	 as	 atividades	 “pizza	 da	 vida”	 e	 “exercício	 dos	 quadrantes”
permitiram	 à	 cliente	 perceber	 que,	 durante	mais	 de	 50%	de	 seu	 tempo,	 ela	 se
dedicava	à	“Família”,	“Saúde”	e	“Espiritual”,	o	que,	na	prática,	convertia-se	em
atividades	 domésticas	 de	manutenção	 da	 casa	 (R-),	 preparação	da	 alimentação
(R-)	e	cuidado	com	o	neto	(R+	de	grande	custo	de	resposta),	e	o	pouco	contato
social	que	ela	 tinha	era	com	os	colegas	de	 igreja,	uma	comunidade	verbal	que
dispunha,	ao	mesmo	tempo,	de	reforçadores	positivos	sociais	e	grande	controle
por	regras,	que	a	colocavam	em	situação	de	conflito	e	contato	com	estimulação
aversiva	 (p.	 ex.	 ,	 o	 seguimento	 de	 algumas	 regras	 era	 reforçada	 positivamente
pela	 comunidade	 verbal,	 mas	 também	 gerava	 estimulação	 aversiva,	 como
quando	o	“respeitar	as	vontades	do	marido”	era	estímulo	discriminativo	verbal
para	ela	não	dialogar	e	colocar	em	questão	o	fato	de	ele	sempre	chegar	em	casa,
jantar,	 ir	 para	 a	 cama	 e	 ligar	 a	 televisão	 enquanto	 ela	 tentava	 dormir).	 Em
resumo,	mais	 de	 50%	 do	 tempo	 da	 cliente	 era	 depositado	 em	 relações	 pouco
reforçadas	 positivamente,	 e	 a	manutenção	 de	 seu	 quadro	 “ansioso/depressivo”
derivava	 da	 baixa	 quantidade	 de	 reforços	 positivos,	 do	 excesso	 de	 atividades
reforçadas	negativamente	e	do	controle	de	 regras	que	 também	a	colocavam	no
conflito	de	perda	dos	poucos	reforços	críticos	que	ela	possuía	em	seu	ambiente.
Assim,	reforços	positivos	e	estimulação	aversiva	potencial	advinham	da	mesma
contingência	 (família).	 Justamente	 essa	 criticidade	 dos	 reforços	 sociais	 (eram
praticamente	 os	 únicos	 que	 a	 cliente	 tinha)	 e	 o	 risco	 de	 perdê-los,	 caso	 ela
emitisse	 respostas	 mais	 autênticas	 e/ou	 assertivas	 (autorregra	 da	 cliente
reforçada	 em	 alguma	medida	 pela	 comunidade	 verbal	 da	 igreja),	 deixavam-na
em	 um	 conflito.	 A	 contingência	 conflitante	 (R+/R-	 e	 P+)	 era	 o	 que	 gerava
sentimentos	de	“ansiedade”	que	ela	dizia	ter.
Diário	dos	sentimentos
Descrição.	Em	um	papel	A4,	foram	nomeados	20	sentimentos	“bons”	e	“ruins”,
a	 saber:	 tranquila,	 feliz,	 orgulhosa,	 esperançosa,	 saudosa,	 amorosa,	 estressada,
cansada,	 preocupada,	 confusa,	 desconfiada,	 irritada,	 culpada,	 ansiosa,
amedrontada,	 desesperada,	 decepcionada,	 solitária,	 envergonhada	 e	 triste.	 Em
151
conjunto	 com	 esses	 sentimentos,	 era	 apresentado	 um	 diário	 semanal	 com	 os
períodos	do	dia	 (manhã,	 tarde	e	noite)	 (ver	Fig.	4.3).	Era	solicitado	à	cliente	o
monitoramento	 do	 sentimento	 predominante	 naquele	 período	 e	 da	 razão	 pela
qual	ela	estava	se	sentindo	daquela	forma.
Figura	4.3	Representação	da	atividade	“diário	dos	sentimentos”.
Fonte	das	imagens:	Caminha	&	Caminha	(2011)
A	recorrente	não	adesão	à	 tarefa	 fez	a	 terapeuta	optar	por	sua	execução	no
setting	 terapêutico.	 Nesse	 caso,	 a	 atividade	 foi	 adaptada,	 e	 a	 terapeuta	 trazia
situações	 da	 vida	 da	 cliente	 (previamente	 relatadas	 nas	 sessões).	 Ela	 deveria
escolher	 os	 sentimentos	 que	 melhor	 a	 representavam	 naqueles	 momentos.	 Ou
seja,	a	atividade	foi	dirigida	para	evocar	autotatos	de	sentimentos	e	as	situações
de	sua	rotina	que	estavam	a	eles	relacionados.
Alguns	 exemplos	 de	 situações	 relatadas	 previamente	 em	 sessão	 e
empregadas	nessa	atividade	eram:	se	uma	pessoa	liga	a	televisão	enquanto	você
dorme,	como	você	se	sente?	Supondo	que	você	tenha	uma	colega	que	fala	muito,
e	 você	 não	 está	 muito	 afim	 de	 ouvi-la,	 o	 que	 você	 sente?	 Caso	 uma	 pessoa
querida	 apareça	 na	 sua	 casa	 repentinamente	 sem	 avisar,	 o	 que	 sentiria?	Como
152
uma	pessoa	se	expressaria	se	ela	conseguisse	conquistar	o	que	deseja?	Supondo
que	 ocorra	 uma	 briga	 entre	 duas	 pessoas	 da	 família,	 sendo	 que	 uma	 delas	 é
muito	 tranquila	 e	 querida,	 que	 sentimento	 apareceria?	 Se	 uma	 pessoa	 se	 sente
triste,	 confusa,	 raivosa	 e	 irritada,	mas	 não	 sabe	 falar	 qual	 o	 sentimento,	 como
esse	conjunto	poderia	ser	chamado?	Imagine	uma	pessoa	que	tenha	muito	receio
de	andar	de	avião,	o	que	ela	sentiria?
Objetivo	específico	e	interpretação	comportamental.	O	objetivo	dessa	atividade
era	 (a)	 evocar	 repertórios	 de	 autotatos	 de	 sentimentos,	 alguns	 dos	 quais	 ainda
confundidos	pela	cliente;	(b)	estimular	a	cliente	a	falar	sobre	si	com	os	outros;
(c)	modelar	 alguns	 desses	 repertórios	 verbais	 (entonação	 de	 voz,	 cadência	 das
ideias,	 etc.);	 e	 (d)	 criar	 contexto	 para	 a	 discriminação	 e	 descrição	 de	 relações
funcionais	 entre	 as	 contingências	 nas	 quais	 a	 cliente	 estava	 envolvida	 e	 seus
sentimentos.	Como	dito,	a	expectativa	era	de	que	a	cliente	realizasse	a	tarefa	de
automonitoramento	 “diário	 dos	 Sentimentos”	 ao	 longo	 da	 semana,	 mas	 o
sucessivo	 descumprimento	 da	 tarefa	 e	 sua	 importância	 terapêutica	 fizeram	 a
terapeuta	optar	por	sua	realização	no	setting	(ao	que	parece,	a	interpretação	para
a	não	realização	da	tarefa	parecia	estar	relacionada	ao	custo	de	resposta,	mas,	se
por	 alguma	 razão	 esse	 tivesse	 sido	 um	 repertório	 de	 esquiva,	 a	 estratégia	 de
trazer	a	tarefa	para	o	setting	foi	um	bloqueio	da	esquiva).
Bohm	e	Gimenes	(2008)	apresentam	uma	breve	revisão	discutindo	a	técnica
de	 automonitoramento	 do	 ponto	 de	 vista	 avaliativo	 (diagnóstico)	 e	 de
intervenção.	Em	alguma	medida,	o	diá​rio	dos	Sentimentos	visava	a	essas	duas
funções,	dentro	de	uma	perspectiva	não	tão	verbal,	no	sentido	de	que	ela	poderia
escrever	e	não	verbalizar	diretamente	os	seus	sentimentos	diante	da	terapeuta	na
sessão,	tendo	em	vista	as	limitações	de	instrução	que	a	cliente	apresentou.	Essas
preo​cupações	por	parte	da	terapeuta	estão	de	acordo	com	uma	boa	prática	clínica
e	atendem	às	 sugestões	propostas	pela	 literatura	 (Bohm	&	Gimenes,	2008),	de
simplificação	 do	 diário	 e	 utilização	 de	 materialde	 fácil	 manipulação	 para	 o
registro.
Exemplificação.	A	 realização	da	 tarefa	 no	 setting	 também	 foi	 proveitosa,	 pois,
além	de	viabilizar	os	objetivos	previamente	propostos	no	momento	da	escolha	da
técnica,	trouxe	alguns	elementos	que	não	estariam	acessíveis	à	terapeuta	caso	a
tarefa	 tivesse	 sido	 realizada	 pela	 cliente	 em	 casa.	 Por	 exemplo,	 foi	 notória	 a
destreza	 de	 Rafaela	 em	 relatar	 comportamentos	 públicos,	 sobretudo	 aqueles
relacionados	 à	 felicidade.	 Porém,	 quando	 os	 sentimentos	 eram	 “negativos”,	 a
153
latência	para	a	definição	de	uma	resposta	por	parte	da	cliente	era	longa,	e	todas
as	escolhas	por	ela	realizadas	eram	acompanhadas	de	um	“não	sei	se	é	isso”.	Foi
nesse	 momento	 que	 ficou	 evidente	 que	 Rafaela	 descrevia	 como	 “ansiedade”
apenas	 comportamentos	 públicos	 (p.	 ex.,	 gaguejar	 e	 falar	 rápido)	 e	 que	 não
reconhecia	os	comportamentos	privados	descritos	por	ela	(p.	ex.	,	ficar	indecisa,
estar	 tensa	 e	 sentir-se	 angustiada)	 como	 tais,	 nem	 mesmo	 em	 contingências
indutoras	que	demandava	uma	especificação	acurada	(p.	ex.	 ,	como	quando	ela
fazia	uma	solicitação	e	não	era	atendida).	Ela	tão	somente	relatava	sentimentos
difusos	nesses	momentos.	O	seguinte	trecho,	retirado	da	Sessão	13,	é	ilustrativo:
C:	Fiquei	estressada	durante	a	tarde	de	quinta	porque	teve	o	assunto	dos	papéis
do	meu	sogro.
T:	Uhum.
C:	Por	mais	 que	 eu	 passei	 estresse,	 eu	 passei	 a	 semana	mais	 tranquila	 do	 que
irritada.	Eu	não	estava	 tão	 irritada.	Sabe,	 estou	conseguindo	e	 aprendendo.
Não	estou	mais	como	antes.	Meus	pensamentos	estão	mais	controlados.	Não
fico	mais	pensando	naquilo	toda	a	vida.
T:	Uhum.
C:	 Quando	 eu	 coloquei	 “tranquila”,	 eu	 esperava	 a	 qualquer	 momento	 uma
ligação	de	Goiânia	[para	levar	o	pai	ao	médico],	mas	eu	consegui	dizer	[para
o	marido]	que	eu	ia	para	Goiâ​nia	com	o	meu	pai	e	que	alguém	teria	que	se
responsabilizar	por	ele	[o	sogro].	Então,	depois	que	eu	falei	isso,	que	estava
me	deixando	agitada,	eu	fiquei	até	mais	tranquila.	Aí	eu	anotei	aqui.
Portanto,	 nos	 moldes	 em	 que	 a	 intervenção	 foi	 realizada,	 ela	 acabou
cumprindo	mais	a	função	de	“observação”	e	“avaliação”	do	que	propriamente	as
funções	 de	 “intervenção”.	 Para	 a	 terapeuta,	 foi	 importante	 na	medida	 em	 que
proveu	 dados	 que	 auxiliaram	 na	 “análise	 funcional”,	 no	 “estabelecimento	 de
metas	 terapêuticas”	 e	 no	 “planejamento	 de	 ações	 futuras”	 (Bohm	&	Gimenes,
2008).
Considerações	gerais	sobre	as	técnicas
Ressalta-se	que	o	emprego	de	técnicas	terapêuticas	descritas	aqui	foi	adjuvante	e
que	 nenhuma	 técnica	 foi	 empregada	 sem	 ter	 sido	 antes	 amparada	 pela	 análise
funcional	 do	 Caso	 clínico.	 Isto	 é,	 reconhecemos	 e	 reiteramos	 que	 a	 análise
154
funcional	é	a	pedra	fundamental	de	toda	e	qualquer	intervenção	comportamental
(de-Farias,	 2010;	 Delitti,	 1997;	 Matos,	 1999;	 Skinner,	 1974/2006).	 Como
descrito	por	Del	Prette	e	Almeida	(2012),	o	uso	de	técnicas	é	a	adoção	de	uma
alternativa	 para	 se	 atingir	 um	 objetivo.	 Assim,	 foi	 nosso	 objetivo	 no	 presente
capítulo	ilustrar	um	caminho	possível	para	se	chegar	a	um	fim	(i.e.,	um	método).
Outro	ponto	crítico,	 e	derivado	do	parágrafo	anterior,	 é	a	 importância	de	o
terapeuta	 reconhecer	 a	 linha	 de	 base	 do	 cliente,	 sendo	 empático	 e	 respeitoso
quanto	 às	 limitações	 no	 momento	 do	 uso	 das	 técnicas.	 No	 presente	 caso,	 foi
observado	que	Rafaela	demonstrava	baixa	instrução	e	intercalava	momentos	de
fala	 confusa	 e	 verborrágica	 com	 longos	 silêncios	 (de	 falta	 de	 assunto).	 O
emprego	de	técnicas	que	não	exigiam	tanto	de	seus	repertórios	de	escrita	e	que
poderiam	ser	substituídas	por	alternativas	(p.	ex.	,	colagens,	desenhos	ou	simples
palavras)	 viabilizava	 a	 abordagem	 do	 conteúdo	 trazido	 pela	 cliente	 de	 uma
maneira	acertada	e	lúdica.	Além	disso,	possibilitava	a	organização	do	conteúdo	e
de	 sua	 própria	 fala,	 que	 ocorria	 de	 forma	 “errática”,	 isto	 é,	 de	 forma
desorganizada.
As	intervenções	também	priorizaram	o	uso	de	informações	visuais	e	de	fácil
discriminabilidade	 para	 favorecer	 o	 entendimento,	 por	 parte	 da	 cliente,	 das
análises	 realizadas.	Por	 exemplo,	 a	pizza	 da	 vida	 e	 o	 exercício	 dos	 quadrantes
forneciam	informações	visuais	de	fácil	compreensão.	A	proporção	de	cada	setor,
no	gráfico	de	pizza,	 e/ou	 a	 quantidade	 de	 coisas	 em	 cada	 uma	 das	 células,	 no
exercício	 dos	 quadrantes,	 esclareciam	 quase	 que	 por	 si	 só	 a	 maneira	 como	 a
cliente	 se	 comportava.	 Parte	 da	 função	 da	 terapeuta	 nesse	 contexto,	 além	 de
reforçar	 algumas	 das	 interpretações	 da	 cliente	 e	 modelar	 outras,	 era	 a	 de
relacionar	o	conteúdo	evocado	com	as	duas	atividades.
Evolução	terapêutica
Parte	 da	 aquisição	 e	 do	 refinamento	 do	 repertório	 de	 autoconhecimento	 de
Rafaela	 e	 da	 discriminação	 e	 descrição	 de	 sentimentos	 foi	 possibilitada	 pelas
técnicas	 aqui	 descritas.	 Além	 disso,	 as	 sessões	 em	 si,	 em	 conjunto	 com	 as
perguntas/pontuações	 que	 a	 terapeuta	 fazia	 no	 setting,	 alteravam	 o	 controle
discriminativo	 de	 contingências	 extraconsultório,	 o	 que	 viabilizava	 a
generalização	 gradual	 do	 repertório	 de	 autoconhecimento	 que	 estava	 sendo
modelado	no	setting.	Esses	 repertórios	 ficaram	mais	evidentes	por	volta	da	13ª
sessão,	momento	em	que	a	cliente	passou	a	perceber	e	reconhecer	algumas	das
relações	 funcionais	 trabalhadas	 em	sessão.	Rafaela,	que	até	 então	não	 tendia	 a
155
apresentar	muitos	relatos	de	eventos	privados,	passou	a	exibir	essas	experiências
subjetivas,	 relacionando-as	 com	 aspectos	 de	 sua	 interação	 com	 a	 filha,	 por
exemplo.	 Ademais,	 observou	 o	 comportamento	 de	 sua	 filha,	 identificou	 as
variáveis	 que	 a	 estimulavam	 e	 relacionou	 o	 controle	 ambiental	 do
comportamento	 de	 sua	 filha	 com	 o	 controle	 ambiental	 de	 seu	 próprio
comportamento.	 Esse	 último	 exemplo	 pôde	 ser	 visto	 pela	 evolução	 da	 13ª
sessão.
C:	 Outra	 coisa	 que	 eu	 até	 anotei,	 que	 você	 me	 perguntou,	 foi	 de	 conversar
abertamente	com	a	minha	mãe.	Você	me	perguntou	se	eu	sou	fechada	assim,
às	vezes,	por	causa	da	minha	vida.
T:	Uhum.
C:	Aí	eu	estava	pensando...	fui	embora	pensando	e	pensando.	Eu	falei:	“não,	mas
eu	 converso	 com	 a	 minha	 filha	 e	 tal!”.	 Mas,	 aí	 não,	 realmente	 você	 tem
razão,	 eu	 acho.	 Porque	 eu	 converso	 com	 a	 minha	 filha	 agora,	 depois	 de
velha.	 Eu	 nunca	 conversei	 com	 ela	 sobre	 a	 adolescência	 dela	 ou	 falar	 dos
meus	sentimentos	ou	problemas	para	ela.	E	ela,	eu	percebi	isso	agora,	que	ela
está	fazendo	o	mesmo	comigo.	Ela	não	me	conta	nada	dela,	por	medo	de	eu
ficar	preocupada.	Então,	faz	sentido	isso	aí	[de	ter	aprendizado	ao	longo	da
vida].	Tem	um	fundo	de	verdade.	Talvez	a	minha	mãe	passou	isso	para	mim.
Ela	[a	filha]	faz	comigo	exatamente	o	que	eu	fazia	com	ela	[mãe	da	cliente].
Aí	eu	percebi	que	realmente	tem	sentido	nisso.
T:	Então,	 eu	 compreendo	quando	você	diz	que	não	consegue	ver	 relação,	 pois
assim	como	os	seus	filhos,	você	também	sabe	muito	pouco	sobre	seus	pais.
Passou	51	anos	para	você	perceber	como	eram	as	relações.
C:	Aí	eu	pensei:	“gente,	mas	pode	ter	sido	isso	mesmo,	a	criança	vê	tudo”.
T:	E	eu	volto	a	dizer	aquilo	que	você	também	me	disse,	que	todo	sentimento	tem
uma	causa.
C:	A	gente	não	pensa	e	acaba	despercebido.
(...)
T:	Então,	depois	de	analisar	tudo	isso,	como	você	está	se	sentindo?
C:	Na	 realidade,	depois	daquele	dia	que	você	me	perguntou,	 eu	 falei	 que	não,
que	não	tinha	nada	a	ver.	Mas	aí	eu	comecei	a	pensar	no	jeito	que	eu	sou	e	no
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jeito	que	minha	filha	é...	Eu	fui	logo	fechando	as	portas.	Esse	é	o	meu	jeito
de	ser,	 e	 o	 dela	 é	 assim,	 e	 pronto	 e	 acabou.	Mas	 “Peraí,	 opa!”.	Aí	 pensei:
“Calma	aí	que	não	é	bem	assim”.
A	partir	da	análise	do	comportamento	de	sua	filha,	que	se	comportava	como
a	 própria	 Rafaela	 quando	 mais	 nova,	 a	 cliente	 passou	 a	 admitir	 que	 os
aprendizados	 transgeracionais	 por	 modelação,