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LLPT_Teoria_da_Literatura_impresso-46

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que quer passar ao leitor a certeza de que foi traído e de que sua 
vingança é legítima, mas não convence ninguém, desviando a simpatia 
do leitor para a mulher supostamente adúltera; em Menino de 
engenho, de José Lins do Rego, apresenta-se uma voz narrativa 
vacilante entre menino e adulto; em Sargento Getúlio, de João Ubaldo 
Ribeiro, temos o monólogo da missão e do destino inalterável.
2 - NARRADOR
Com relação à perspectiva sobre os fatos narrados, o narrador 
pode ser de primeira ou de terceira pessoa. No primeiro caso, pode 
haver variações: o personagem principal relata sua história, ou uma 
personagem secundária relata a história do protagonista.
A atitude do narrador de terceira pessoa pode variar entre aquele 
que sabe de tudo o que acontece e o que apenas observa os 
acontecimentos. O primeiro é o narrador onisciente, conhece tudo 
sobre a história e a intimidade (inclusive psicológica) das personagens. 
Às vezes esse ser onisciente chega a interferir na história, dando 
conselhos aos personagens e influenciando em seu comportamento: 
esse é o narrador intruso.
No segundo caso, temos o narrador observador, que se limita a 
observar e relatar os acontecimentos, comunicando apenas o que está 
ao seu alcance.
Outra modalidade de apresentação do narrador é a que propicia 
focos narrativos múltiplos. É um recurso que aparece na narrativa 
moderna, e se torna mais frequente nos textos contemporâneos, 
contemplando a presença de pontos de vista variados, com mistura ou 
não de pessoa.
Em Macunaíma, de Mário de Andrade, por exemplo, o 
protagonista, na “Carta pras Icamiabas”, assume a narrativa, que até 
então se fazia em terceira pessoa. Em Um copo de cólera, de Raduan 
Nassar, o narrador masculino dos seis primeiros capítulos cede a 
condução do texto no sétimo e último capítulo a uma voz feminina, 
que encerra a novela e revela a fraqueza e a carência do narrador 
masculino anterior. Em Nove noites, de Bernardo Carvalho, há a 
presença de dois narradores que relatam os acontecimentos 
relacionados ao suicídio do etnólogo norte-americano Buel Quain em 
épocas e locais diferentes, assumindo, evidentemente, pontos-de-vista 
também diferentes. Outro autor importante da literatura portuguesa 
contemporânea, António Lobo Antunes, usa frequentemente o recurso 
de narradores múltiplos, embaralhando as “verdades” ficcionais.
Quanto às atitudes do narrador, pode ser de envolvimento com o 
leitor, com quem ele dialoga, como ocorre em Machado de Assis; de 
autoridade em relação aos fatos narrados (ou mesmo de ausência de 
autoridade narrativa); ele pode ser um narrador memorialista, cuja 
atitude é de recordação; ele pode assumir uma postura crítica e 
irônica, ou lírica e melancólica; pode apresentar maior ou menor grau 
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