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Processo de gestão dos resultados do uso das ferramentas da qualidade SST Cassol, Mauricio Processo de gestão dos resultados do uso das ferramen- tas da qualidade / Mauricio Cassol Ano: 2020 nº de p.: 12 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Processo de gestão dos resultados do uso das ferramentas da qualidade 3 Apresentação Nesta unidade, analisaremos as consequências da aplicação das ferramentas da qualidade e o que deve ser feito a partir dos resultados obtidos com o seu uso. Também estudaremos técnicas gerencias aplicadas à qualidade e às estratégias de ação, a fim de transformar os diagnósticos e planos previstos nas ferramentas de qualidade em realidade, ou seja, em ações concretas que visem a melhoria contínua dos processos, sejam produtos, sejam de atendimento aos clientes. Mais do que conhecermos as ferramentas da qualidade, devemos, acima de tudo, saber o que fazer a partir dos resultados de sua aplicação, pois, assim, o seu uso será efetivo e trará resultados para a organização. A partir dos resultados obtidos por meio da aplicação das diversas ferramentas da qualidade, conheceremos os processos de gestão dos resultados e as estratégias de ação a serem adotadas. Processos de gestão de resultados O principal objetivo do uso de ferramentas da qualidade é gerar melhorias contínuas ao longo dos processos de uma organização. Isso, por consequência, resultará em progressos na qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Em decorrência disso, o grau de satisfação do cliente será aumentado. Quando falamos em gestão de resultados da qualidade, devemos compreender que o uso de ferramentas da qualidade também gerará custos para a empresa, que são os chamados custos da qualidade, como, por exemplo, os custos de prevenção e avaliação. Contudo, se bem aplicadas, esses custos serão revertidos em resultados, evitando que a empresa incorra nos custos da falta de qualidade representados tanto pelas falhas internas quanto externas, que potencialmente geram perdas de desempenho e resultado. Assim, a empresa gastará menos investindo na gestão de sua qualidade, em vez de ter retrabalho desperdiçando matérias-primas, gastando em garantias ou chamando os seus consumidores para fazer um recall. 4 Ferramentas de qualidade Fonte: Plataforma Deduca (2020). Sempre devemos ter em mente que os custos da qualidade não poderão superar os benefícios obtidos com ela. Não podemos implementar um sistema de gestão e controle da qualidade cuja manutenção agrega custos que tornem o produto mais caro e pouco competitivo no mercado. Portanto, é fundamental que, para obtermos resultados desejados a partir do uso das ferramentas da qualidade, conheçamos quais são os custos positivos e negativos do uso dessas ferramentas para que possamos decidir com eficiência e eficácia onde, como, quando, e quanto aplicaremos em recursos para a melhoria da qualidade. Quando uma organização, por meio de seus processos, não consegue entregar um produto ou serviço com a qualidades esperada ou desejada, por consequência não satisfaz o cliente. Isso é considerado um defeito ou falha que deve ser evitada, já que a sua correção gera custos indesejados que não poderão ser repassados aos demais clientes (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009). Muitas empresas dispendem tempo, esforços e recursos significativos em sistemas, treinamentos e mudanças organizacionais, para aperfeiçoar a qualidade e o desempenho se seus processos, produtos e serviços. Elas acreditam que a capacidade de mensurar os níveis correntes de desempenho seja fundamental para que quaisquer lacunas do processo possam ser verificadas de forma a não incorrer em custos da falta de qualidade. Portanto, essas lacunas refletem em clientes potencialmente insatisfeitos e custos adicionais para a empresa que comprometerão os seus resultados, o que pode ser evitado com o uso de ferramentas da qualidade. Esses custos podem ser divididos em quatro categorias principais: prevenção, avaliação, falhas internas e falhas externas (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009). A seguir, conheceremos os detalhes de cada um. 5 Os custos de prevenção decorrem de ações para evitar defeitos antes que eles aconteçam, de forma que os clientes recebam produtos e serviços em conformidade com os padrões desejados. Incluem custos de reformular o processo, produto ou serviço, com o intuito de eliminar as causas do desempenho insatisfatório. Isso envolve reprometer o serviço ou o produto para tornar a sua produção mais simples, capacitar funcionários nos métodos de melhoria contínua, e trabalhar com os fornecedores para aumentar a qualidade dos insumos adquiridos. A fim de aprimorar o desempenho, as empresas devem investir tempo, esforço e dinheiro adicionais (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009). É fundamental que se identifiquem as causas corretas dos problemas para que se invistam insumos adequados na sua prevenção a fim de evitar retrabalhos e desperdícios. E isso pode ser feito utilizando-se a análise causal como uma das ferramentas da qualidade, o Diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe. Atenção Já os custos de avaliação ocorrem quando a empresa verifica e avalia o nível de desempenho de seus processos, e a conformidade de seus produtos e serviços em relação aos padrões de qualidade determinados no projeto. Quando medidas preventivas (custos da prevenção) aperfeiçoam o desempenho, os custos de avaliação diminuem, pois são necessários menos recursos para a inspeção da qualidade e busca subsequente em virtude de quaisquer problemas detectados. (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009, p. 170) Os custos de falhas internas decorrem de defeitos que são descobertos durante a geração de um serviço ou produto, ocasionados pela falta de qualidade no processo e falhas em seu controle de qualidade. Esses defeitos podem ser classificados em duas categorias principias: • reprocessamento: ocorre caso algum aspecto dos serviços seja executado novamente, ou caso algum produto defeituoso seja redirecionado para algu- ma operação anterior com o propósito de corrigir o defeito; 6 • descarte: acontece quando um componente defeituoso não pode ser retra- balhado em função do seu defeito, e, por esse motivo, não poderá ser dada continuidade ao seu processamento. Já os custos de falhas externas comprometem ainda mais a produtividade e os resultados da empresa, pois a sua descoberta pelo cliente após receber o serviço ou produto acarreta também prejuízos à imagem da empresa. Custo de falha externa em um serviço de mecânica Fonte: Plataforma Deduca (2020). Por exemplo: suponha que o óleo de seu carro tenha sido trocado e o filtro instalado de forma incorreta, fazendo com que o óleo escorra no chão da sua garagem. Você poderia exigir que a empresa pague um reboque para o seu carro e substitua o óleo e o filtro imediatamente. Os custos dessa falha externa para a empresa incluem os custos do reboque, óleo e filtro adicionais, assim como a perda da receita futura porque você decide que não levará o seu carro nessa oficina para a próxima troca de óleo. Custos de falhas externas também incluem serviços de garantia e litígios (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009). Casos práticos do uso de ferramentas da qualidade para a melhoria de resultados de um serviço Os centros de atendimento de emergência recebem chamadas telefônicas de pessoas exigindo assistência imediata para evitar lesões ou a perda iminente de vida ou propriedade, ou, ainda, abordar uma potencial situação perigosa que requer 7 atenção imediata (ARIEL; WAGNER, 2006). Portanto, espera-se que, ao ligar para um número de emergência, o atendente encaminhe de forma adequada o recurso e a força necessária para atender à demanda que ora se apresenta, providenciando, assim, de pronto a resposta solicitada. Nos Estados Unidos da América, exemplos de call centers de emergência incluem 911 Call Centers, militar Call Centers;Call Centers comerciais, como a General Motors “On-Star”; e os centros de controle de companhias de transporte (rodoviário ou ferroviário). Agências governamentais e a iniciativa privada podem operar tais instalações. Reflita Esses centros são acionados para o atendimento de diversas situações, como pessoas doentes ou acidentadas que necessitam do atendimento imediato no local da ocorrência e remoção para emergências dos hospitais, pessoas falecidas e animais, vazamentos químicos ou a lida com materiais perigosos. Tais chamadas também podem fornecer um aviso prévio de um surto ou incidente de bioterrorismo (ARYEL; WAGNER, 2006). Diante das demandas apresentadas às centrais de atendimento de emergência, bem como da necessidade de uma ação imediata, uma pronta resposta aos seus usuários, sejam eles os envolvidos direta ou indiretamente em ocorrências que requerem urgência, é fundamental que haja uma estrutura robusta, eficiente e eficaz para esse tipo de situação. A partir da clara identificação do problema, foi possível, então, proceder a análise causal, utilizando para isso a análise de causa e efeito de Ishikawa representada pelo diagrama conhecido também como espinha de peixe. Considerando como causa global do problema “difusão dos canais de atendimento”, foi possível apontar dez causas em áreas, como: atendimento, procedimentos, equipamentos e pessoal. Observe a figura a seguir. 8 Análise causal do problema Aumento no tempo de atendimento / resposta à ocorrências INDICADORES IMPACTO $$$ Problema ANÁLISE CAUSAL – ISHIKAWA Dificuldade para dimensionar a estrutura adequada, impactando na produtividade do sistema. DIFUSÃO DE CANAIS DE ATENDIMENTO ProcedimentosAtendimento PessoalEquipamentos Abandono da chamada ou desistência do serviço pela demora do atendimento Diversas demandas para diversos canais de atendimento Existência de diversos números que confundem o cidadão (quem devo chamar?) Congestionamento do serviço Má distribuição da capacidade Sobrecarga do 190 Maior gasto com pessoal e infraestrutura Ocupação de pessoal que poderia estar em campo Redundância Falta de processo operacional padrão Ineficiência na alocação de recursos Dificuldades de coordenação de equipes Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Na área de atendimento, foram identificadas as seguintes causas que contribuem para o problema: existência de diversos números que confundem o cidadão (a quem devo chamar?); diversas demandas para diversos canais de atendimento; abandono da chamada ou desistência do serviço pela demora no atendimento. Já na área de procedimentos, as causas que contribuem para o problema são: dificuldades na coordenação de equipes; ineficiência na alocação de recursos; falta de um processo operacional padrão para todas as agências. Na área de equipamentos (infraestrutura física), temos como causas que contribuem para o problema: sobrecarga do número 190 (quando as pessoas não sabem para quem ligar, o primeiro número que vêm à mente é o 190); má distribuição de capacidade; congestionamento do serviço. Finalmente, na área de pessoal, foram identificadas as seguintes causas: redundância; maior gasto com pessoal e infraestrutura; ocupação de pessoal que poderia estar em campo. Ainda como efeito colateral, além de o aumento no tempo de atendimento (espera) e da reposta às ocorrências, que impactam diretamente os indicadores de resultado dos sistemas (financeiros e operacionais), as causas citadas também contribuem na dificuldade em dimensionar a estrutura adequada, prejudicando, assim, a produtividade do sistema. Com base nos diversos problemas identificados na análise causal realizada, por meio da aplicação do Diagrama de Ishikawa, propôs-se uma solução para o problema em que cada causa identificada foi relacionada a um 9 efeito indesejado (EI) correspondente, e, para cada um desses EI, foi apresentada a busca de um efeito desejável (ED) como solução, conforme quadro a seguir. Proposta de solução com base na análise causal PROPOSTA DE SOLUÇÃO Efeito Indesejável (EI) descentralização Efeito Desejável (ED) centralização 1. Existência de diversos números 2. Diversas demandas para diversos canais 3. Abandono da chamada ou desistência 4. Dificuldade na coordenação de equipes 5. Alocação eficiente de recurso 6. Falta de processo operacional padrão 7. Sobrecarga do número 190 8. Má distribuição da capacidade 9. Congestionamento do serviço 10. Redundância 11. Maior fasto de pessoal e infraestrutura 12. Ocupação de pessoal de campo 1. Existência de um só número 2. Diversas demandas para um único canal 3. Menor número de abandonos possível 4. Agilidade na coordenação de equipes 5. Ineficiência na alocação de recursos 6. Existência de um processo padrão 7. Não se aplica (não haverá mais 190) 8. Melhor distribuição da capacidade 9. Dimensionamento adequado da capacidade 10. Apenas a redundância é necessária 11. Redução de pessoal e infraestrutura com o ganho de sinergia 12. Liberação de pessoal de campo Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Além das soluções apontadas como resultado na análise causal, pode-se citar, complementarmente, as seguintes ações que colaboram para a solução do problema: • fase um: incluir o fone 193 no sistema para que o software possa contabilizar os dados que não são urgentes - com essa medida já seria possível “cen- tralizar” os dois números (190 e 193), projeto “piloto”, somente na cidade de Porto Alegre; • fase dois: levar o software para grandes cidades, após os acertos do projeto piloto; fase três, no interior, centralizar os números 190, 192 e 193; • fase quatro: centralizar o 192 “Samu” em Porto Alegre. Com isso, podemos estudar, na prática, o uso de uma das ferramentas da qualidade, o Diagrama de Ishikawa, conhecido também como espinha de peixe. Entre as técnicas gerenciais, a gestão da qualidade com foco na satisfação do cliente representa um dos principais indicadores de como está a qualidade na empresa. Clientes insatisfeitos conversam acerca de produtos ou serviços ruins com seus amigos, que, por sua vez, contam a outros (KRAJEWSKI; RITSMAN; 10 MALHOTRA, 2009; FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2014; ZEITAHAML et al., 2011; LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). Gestão da qualidade com foco na satisfação do cliente Fonte: Plataforma Deduca (2020). Atingir a qualidade em todas as áreas de uma empresa é uma tarefa difícil e, para tornar as coisas ainda mais complicadas, os consumidores mudam rapidamente as suas percepções de qualidade, visto que, à medida que as tecnologias avançam, as suas necessidades mudam também. Assim, em geral, o sucesso de uma empresa depende da rapidez e precisão de sua percepção acerca das expectativas dos consumidores e da sua habilidade reduzir a lacuna entre essas expectativas e suas competências operacionais (KRAJEWSKI; RITSMAN; MALHOTRA, 2009). Técnicas gerenciais para avaliar a qualidade dos serviços do ponto de vista dos clientes Para medir a satisfação do cliente com relação a diversos aspectos da qualidade de serviço, Zeithaml, Bitner e Gremler (2009) desenvolveram um instrumento de pesquisa por levantamento denominado SERVQUAL. Ele se baseia na premissa de que os clientes podem avaliar a qualidade do serviço de uma empresa comparando as suas percepções com suas próprias expectativas. É considerado como uma ferramenta de medição genérica, sendo aplicada a uma grande quantidade de setores de serviços. Em sua forma simplificada, a escala possui 21 itens de percepção e uma série de itens de expectativa que refletem cinco dimensões da qualidade de serviço. 11 Já na indústria poderíamos utilizar outros instrumentos de comparação, como o benchmarking, que pode ser interno, competitivo, ou funcional. Benchmarking é o processo de melhoria da qualidade por meio do qual comparamos o nosso próprio desempenho ou método com outras operações similares ou que possamos usar como modelo para comparação. Curiosidade É uma questãomais ampla do que estabelecer metas de desempenho e inclui investigar as práticas de operações de outras organizações, de modo a gerar ideias que poderiam contribuir para o melhoramento do desempenho, assim como aferir o resultado da aplicação das ferramentas, dos métodos e das técnicas da qualidade (SLACK, 2015; CORRÊA; CORRÊA, 2013). 12 Fechamento Aprendemos que o processo de gestão dos resultados do uso das ferramentas de qualidade, as quais visam gerar melhorias contínuas ao longo dos processos de uma organização, resultará em melhorias na qualidade dos produtos e serviços oferecidos e, consequentemente, aumentará o grau de satisfação do cliente. Conhecemos casos práticos do uso de ferramentas da qualidade para a melhoria de resultados de um serviço, como o Diagrama de Ishikawa, o benchmarking, bem como as características dessas ferramentas. Finalmente, identificamos técnicas gerenciais usadas para avaliar a qualidade dos serviços do ponto de vista dos clientes com instrumentos como o SERVQUAL. Referências ARYEL R. M.; WAGNER M. M. Chapter 25 - Emergency Call Centers. In: WAGNER M. M.; MOORE, A. W.; ARYEL R. M. Handbook of Biosurveillance. Burlington: Academic Press, 2006. p. 369-374. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração da produção e de operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de Serviços: Operações, estratégia e tecnologia da informação. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. KRAJEWSKI, L. J.; RITSMAN, L. P.; MALHOTRA, M. K. Administração da Produção e Operações. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2009. LOVELOCK, C.; WIRTZ, J.; HEMZO, M. A. Marketing de Serviços: pessoas, tecnologia e estratégia. 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. SLACK, N. Administração da produção. 4. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2015. ZEITHAML, V. A.; BITNER, M. J.; GREMLER, D. D. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.