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AULA 5 SUPPLY CHAIN MANAGEMENT ESSENTIALS (SCME) Profª Rosinda Angela da Silva 2 INTRODUÇÃO Para que uma Supply Chain Management (SCM) auxilie a empresa focal e também seus elos a atingirem os objetivos propostos, é preciso que os processos tenham qualidade de ponta a ponta. Não é somente o produto que faz a diferença na visão do cliente e, sim, o conjunto de benefícios entregues a ele, o que engloba os temas que estudaremos nesta etapa. São eles: qualidade dos serviços, atendimento no pós-venda, indicadores de desempenho, relação benefício versus custos e também, o lado humano da SCM. TEMA 1 – QUALIDADE DOS SERVIÇOS Discutir qualidade dos serviços é uma necessidade para qualquer tipo de organização, principalmente se ela for responsável por uma SCM, porque grande parte do seu sucesso depende da performance dos seus elos ao longo da cadeia. Por muito tempo os estudos da qualidade focaram muito no produto, até porque a qualidade foi criada para os processos produtivos industriais. Com o passar do tempo, as empresas prestadoras de serviços também foram pressionadas por melhoria e buscaram adaptar o conhecimento já produzido na qualidade industrial para a realidade dos serviços, principalmente de transporte e distribuição. Para ilustrar essa situação e entender a importância da qualidade para a SCM, analisaremos uma definição bem conhecida proposta por Vicente Falconi Campos, que é um ícone desse assunto no Brasil e que diz o seguinte: “um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente” (Campos, 1992, p .2). O autor ainda esclarece que cada elemento citado tem um sentido dentro do contexto da qualidade, conforme demonstrado no Quadro 1: Quadro 1 – Conceito de qualidade ampliado Elementos da qualidade Como entregar ao cliente ...que atende perfeitamente Projeto perfeito ...de forma confiável Sem defeitos ...de forma acessível Baixo custo ...de forma segura Segurança do cliente ...no tempo certo Entrega no prazo certo, no lugar certo e na quantidade certa Fonte: Campos, 1992, p. 2. 3 Todos os elementos citados no Quadro 1 fazem sentido para a SCM, no entanto o fator no tempo certo é o mais contundente porque trata exatamente do atendimento às necessidades da empresa focal, com a qualidade que ela exige. Isso porque não fará sentido para o cliente final receber o produto no prazo certo, mas com qualidade inadequada para uso; ou receber em outro local, que não foi aquele combinado; ou receber quantidades diferentes daquelas solicitadas, entre outras situações. Sendo assim, o foco é que a qualidade esteja presente em todas as fases e seja aplicada em todos os aspectos do serviço. Esse compasso será atingido se todos os elos da cadeia trabalharem no mesmo compasso e houver a visão de que a qualidade do serviço precisa ocorrer de ponta a ponta para que os objetivos previamente determinados sejam atingidos. 1.1 Aspectos da qualidade nos serviços É importante compreender que o cliente avalia a qualidade de serviço diferentemente do produto. Em linhas gerais, podemos compreender essa diferença da seguinte forma: Um produto de qualidade é aquele que funciona de acordo com suas especificações, que não tem defeitos aparentes, que o cliente possa utilizá-lo com facilidade e que, depois de utilizado, possa ser reciclado ou pelo menos ser enviado para a destinação adequada. Outra característica bem importante do produto é que ele é tangível e a produção antecede o consumo, sendo que o cliente não participa do processo, pois isso acontece nas fábricas. No contexto da qualidade, o cliente só opinará se o produto tem ou não qualidade, depois da compra e uso. Já a qualidade do serviço é mais complexa de definir porque depende muito da opinião do cliente ou usuário, ou seja, não é possível testar fisicamente porque os serviços são intangíveis. Além disso, na prestação de um serviço, é comum o cliente participar do processo, o que não acontece com os produtos. Por outro lado, a opinião do cliente se o serviço tem ou não qualidade é construída durante a prestação. Os principais fatores envolvidos na qualidade dos serviços dependem dos recursos físicos como veículos de transporte com manutenção em dia, disponibilidade de equipamentos de movimentação de materiais suficientes e de docas para carregamento e descarregamento, entre tantos outros. No entanto, o 4 fator humano na prestação de serviços é primordial, o que significa que todos os elos precisam investir na formação dos seus colaboradores para que todos compreendam seus papéis na entrega de valor para o cliente. Além da qualificação técnica constante, é primordial que os colaboradores envolvidos na prestação do serviço também apresentem certas características como: ser cortês, educado, comunicativo, proativo, rápido nas respostas, comprometido com a qualidade do serviço, entre outras. 1.2 Desafios da qualidade na SCM Alguns desafios que impactam na qualidade dos serviços são recorrentes na SCM e é recomendável que os gestores invistam tempo para análise e busca de soluções dentro da sua realidade. Entre esses desafios, o planejamento é o mais visível, isso porque, segundo Silva e Franco (2018, p. 76), “planejar é se preparar para realizar uma atividade futura”. E se preparar para o futuro é um exercício que engloba a análise de variáveis internas e externas e exige que os elos se envolvam no planejamento para minimizar os riscos de as operações não ocorrerem de acordo com o previsto. Diante disso, podemos assumir que o desafio não é o planejamento e, sim, as falhas que podem ocorrer no processo. 1.2.1 Falhas no planejamento das operações Pressupõe-se que as operações da SCM sejam previamente planejadas, mas alguns contratempos podem ocorrer, por isso é importante planejar conjuntamente com os elos. Em se tratando de SCM em que temos fornecedores e clientes de diferentes locais envolvidos, é possível que o planejamento não contemple todas as variáveis possíveis que podem ocorrer durante a execução das operações, por exemplo: Uma empresa focal do segmento de varejo de confecções no Brasil fechou o pedido da nova coleção de verão e necessita que os produtos cheguem até o início do mês de novembro para ter tempo de distribuir para todas as suas unidades espalhadas pelo país. Para isso, os produtos precisam ser despachados da Índia, no máximo até o início de setembro, devido ao tempo de organização do embarque marítimo, tempo de transporte marítimo, chegada ao Brasil e o tempo de desembaraço aduaneiro. 5 O fornecedor, que não tem o hábito de atrasar a produção, nesse pedido específico, enfrentou alguns problemas internos e não conseguiu entregar no prazo determinado no porto local. Assim, a importadora brasileira perdeu a reserva do navio e entrou na fila para conseguir espaço nos navios, quando o material efetivamente ficou pronto para o embarque. Lembre-se de que não é somente uma rede de lojas, tampouco somente do Brasil, que importam confecções da Índia. Com todos os contratempos que ocorreram, o produto embarcou e chegou ao Brasil no início de janeiro, causando conflitos entre todas as equipes envolvidas, pois o planejamento não previu algo que é possível de ocorrer em qualquer cadeia de abastecimento. Com base no exemplo apresentado, é possível inferir que a qualidade do serviço falhou em várias fases do planejamento para que o desfecho tenha sido este. O impacto é na qualidade do atendimento ao cliente e na confiabilidade do fornecedor que não conseguiu atender ao prazo inicial e isso desencadeou diversos contratempos, porque nas cadeias internacionais, é preciso considerar ocorrências de situações que a empresa focal não conseguirá evitar.TEMA 2 – ATENDIMENTO NO PÓS-VENDA A qualidade do atendimento no pós-venda é primordial para o sucesso da empresa focal e consequentemente para os elos envolvidos, por isso é tão importante que todos trabalhem com o mesmo objetivo. Você certamente ao menos tem uma ideia do que é o pós-venda, mas, na prática, sabe como isso ocorre e como isso pode ser benéfico para a organização? Alguns pontos precisam ser esclarecidos. 2.1 Papel do pós-venda O pós-venda é entendido como uma oportunidade que a empresa tem de ouvir o seu cliente e compreender se o que foi entregue, atendeu efetivamente às expectativas dele. As empresas podem (e devem) utilizar o pós-venda para fortalecer o relacionamento com seus clientes e identificar os pontos que podem ser melhorados para a próxima experiência de compra deles. Isso porque entende-se que tão importante quanto obter novos clientes é manter aquele que já comprou da empresa. 6 Geralmente são os setores de Vendas e de Marketing que realizam o acompanhamento do pós-venda. Em algumas empresas esses setores fazem o contato com o cliente; em outras, esse processo tem equipe específica, a qual pode ser interna ou terceirizada. Entre os benefícios que o pós-venda traz para a empresa, podem ser elencados: • Conhecer o coeficiente de satisfação dos clientes; • Aumentar as vendas por meio da compra recorrente; • Fidelizar os clientes por meio da atenção dispensada a ele; • Reduzir os custos com devoluções, trocas, recalls e até processos judiciais contra a empresa; • Transmitir imagem positiva da marca no mercado demonstrando preocupação com as necessidades do seu público-alvo; • Identificar se o cliente tem potencial de se tornar um embaixador da marca, ou seja, aquele que recomenda gratuitamente o produto; • Resolver algum problema que o cliente possa ter tido durante a experiência de compra para que ele se sinta prestigiado “em sua dor” e se considere ouvido. Os fatores elencados não são os únicos e ainda, alguns fazem mais sentido para algum tipo de empresa do que para outras, sendo assim, compete aos gestores listarem os objetivos a serem atingidos pela prática do pós-venda, pois isso impactará na estratégia (ou prática) adotada pela empresa. 2.2 Práticas de pós-venda As práticas adotadas pelas empresas dependerá do segmento em que atua e do seu planejamento para realizar essa atividade. De acordo com o blog da Oncase, algumas técnicas que podem orientar o planejamento são: estar sempre um passo à frente das demandas dos clientes; entender que seu público sempre merece o melhor para ficar continuamente satisfeito; fazer abordagens com ofertas personalizadas e que vão de acordo ao que ele procura; e, por fim, usar dados para embasar suas interações com os clientes (Oncase, 2021, grifo nosso). As práticas mais utilizadas, segundo o Portal VMI (Orbit Logistics, 2021), são as seguintes: 7 2.2.1 Cross sell (venda cruzada) É a prática de oferecer produtos que complementam o que já foi comprado, muito utilizado pelos varejistas de material esportivo, pois se o cliente comprar um tênis de corrida, a inteligência artificial aplicada às lojas virtuais oferecem meias específicas, squeezes, mochilas, entre outros. 2.2.2 Upsell Significa vender mais por meio da estratégia de atualizar o produto (upgrade). É uma boa oportunidade para o cliente adquirir a versão atualizada do seu produto e para a empresa, aumentar o ticket médio de vendas. 2.2.3 Lançamento de produtos Uma boa oportunidade de fazer com que o cliente se sinta especial quando ele é informado em primeira mão do lançamento de um novo produto que o interesse. 2.2.4 Programas de fidelidade São estratégias que costumam aumentar em até 39% as chances de o cliente comprar novamente da empresa. Por ser uma prática eficiente de estreitar o relacionamento com o cliente, as empresas precisam caprichar no programa para que o cliente se sinta recompensado pela sua compra recorrente. Um exemplo simples e bem conhecido: uma pizzaria oferece um programa de fidelização ao cliente, que ao comprar 9 pizzas, a 10ª será gratuita. Para que o cliente se sinta recompensado, essa pizza “gratuita” que representa a recompensa precisa contemplar os sabores que ele sempre compra, pois imagine que o cliente sempre compre uma pizza considerada especial e quando está apto a receber sua recompensa, só pode ser uma pizza simples. Outras ações também utilizadas, segundo o Blog Oncase (2021) são as seguintes: realizar follow-up; demonstrar preocupação com a experiência de compra do cliente; fazer ofertas exclusivas de acordo com o perfil de consumo do seu público; desenvolver programas de fidelização para atrair o cliente para novas compras; criar um relacionamento afetivo com mensagens ou cupons especiais em datas de aniversário e outros motivos festivos. 8 Em se tratando de SCM, o desafio está em gerenciar cada fase da operação de atendimento ao cliente entre todos os elos para que a qualidade do processo reflita em uma excelente experiência de compra do cliente. TEMA 3 – INDICADORES DE DESEMPENHO O uso de indicadores de desempenho como mecanismo de avaliação faz parte da rotina de grande parte das organizações, independente do seu porte ou segmento, isso porque, segundo Deming, “não se gerencia o que não se mede”. Observe a seguinte explicação sobre o uso de indicadores pelas organizações. o sucesso de uma gestão está diretamente relacionado ao acompanhamento dos processos por medições, e a forma mais tradicional de medir um processo é a utilização de indicadores, com base em um sistema de medição que integre todos os indicadores da organização. Os indicadores são fundamentais para controlar processos e produtos, introduzir melhorias e avaliar a satisfação das partes interessadas, principalmente os clientes. (Marshall Junior et. al., 2012, p. 50) A explicação do autor evidencia que o uso de indicadores auxilia a empresa tanto a monitorar seus avanços ou retrocessos bem como avaliar se o cliente está satisfeito com os produtos e serviços ou não. É pertinente esclarecer que os indicadores precisam ser quantitativos e baseados em dados reais, extraídos do próprio processo. E como será que os gestores da SCM definem os indicadores? Algumas possibilidades serão apresentadas. 3.1 Como definir indicadores A definição de indicadores na SCM geralmente engloba atividades logísticas e de qualidade no atendimento e fornecimento, no entanto é possível focar em outras áreas como o gerenciamento e a produtividade das operações. Diante disso, compete à equipe de gestores responsáveis por essa atividade ter bem claro o objetivo que se quer com o uso dos indicadores. Para serem úteis para a gestão das organizações, segundo Paladini (2011) os indicadores precisam contemplar algumas características, por exemplo, os elementos expostos no Quadro 2. 9 Quadro 2 – Características dos indicadores Características básicas dos indicadores 1. Objetividade Expressar de forma simples a situação que está avaliando 6. Visualização Devem garantir imediata avaliação do processo avaliado 2. Clareza Ser compreensíveis a todos 7. Ajuste Deve ser adaptado à realidade do processo avaliado 3. Precisão Não permitir duplicidade de interpretações 8. Unicidade Não devem ser usados de forma diferenciada em situações similares 4. Viabilidade Não podem requerer informações que não estejam disponíveis 9. Alcance Ênfase na avaliação das causas e não apenas dos efeitos 5. Representatividade Expressar exatamente o que ocorre com a situação em que foi aplicado 10. Resultados Representam uma situação que já ocorreu e não o que ainda é um projeto Fonte: Paladini, 2011, p. 28. Os indicadores que atendem a esses elementos certamente contribuirão para os aspectos da qualidadee produtividade não somente de uma organização, como de uma cadeia de abastecimento por completo. Considere que cada elo tem seus próprios indicadores, os quais impactam nos indicadores da cadeia como um todo. Outras informações práticas dos indicadores estão expostas no Quadro 3, segundo Marshall Junior (2012): Quadro 3 – Especificações para indicadores Especificação para indicadores Abreviatura, sigla ou título Critério para estabelecimento de metas Unidade de medida Referenciais de comparação Periodicidade Fonte Revisão Metodologia de medição Tipo-chave Metodologia de análise Arquivo Metodologia de uso Título Público-alvo Definição Responsável Origem Fonte: Marshall Junior et.al.; Paladini, 2012, p. 53. As especificações apresentadas no Quadro 3 devem ser padronizadas e divulgadas para todos os envolvidos no processo de definição e implementação de indicadores. Paladini (2011) apresenta uma estrutura simplificada já com exemplos de indicadores, conforme Quadro 4. 10 Quadro 4 – Exemplo de estrutura para indicadores Objetivo Justificativa Padrão Elemento Fator Medida Definir níveis de perda no processo Avaliar a responsabilidade da gerência nas perdas observadas Zero Desperdícios, erros, falhas Desperdício, falha ou erros observados por período Unidades por hora Avaliar o modelo de manutenção da empresa Determinar o impacto das ações preventivas sobre o desempenho dos equipamentos Zero quebras Manutenção Quebras de equipamentos por períodos Número de quebras pro semana Aceitação de produtos novos pelo mercado Avaliar o desempenho do setor de projetos No mínimo, 90% Percepção do mercado Produtos novos cujas vendas atenderam aos padrões por período Percentual por ano Avaliar a participação no mercado Determinar se está havendo evolução nessa participação Atingir uma média de 25% em um ano Participação no mercado Parcela do mercado por período Percentual por produto por semestre Fonte: Paladini, 2011, p. 48-51. Observe que os exemplos apresentados por Paladini no Quadro 4 são mensuráveis e passíveis de determinação de metas a serem atingidas, bem como da aplicação de equações para encontrar os valores que permitirão monitorar o desempenho de determinada situação. Outro exemplo que pode ser utilizado na definição dos indicadores é proposto por Chiroli (2016, p. 82) e exposto no Quadro 5. Quadro 5 – Detalhamento de um indicador Foco no resultado Tipo de resultado Produtividade Informações Unidade % Tendência Aumentar Histórico 70% Meta 85% Fórmula Método de cálculo Horas produtivas Horas disponíveis Descrição do indicador Detalhamento do conceito / objetivo Permite o acompanhamento da produtividade global do processo industrial Fonte: Chiroli, 2016, p. 82. Os gestores responsáveis por determinar quais e quantos indicadores serão utilizados para monitorar, avaliar e controlar a performance das operações da SCM poderão utilizar os modelos apresentados para determiná-los ou escolher entre os comumente utilizados no mercado. Conheceremos alguns indicadores que são úteis para a SCM, mas que não são os únicos. x 100 11 3.2 Exemplos de indicadores da SCM Os gestores poderão escolher entre indicadores de qualidade e satisfação dos clientes, de tempo, de custo, de uso do ativo, de produtividade, de disponibilidade de equipamentos, entre outros. O Quadro 6 traz alguns dos mais utilizados, segundo Seleme e De Paula (2019). Quadro 6 – Exemplos de indicadores Indicador Descrição Cálculo Melhores práticas Dock to stock time Tempo da mercadoria da doca de recebimento até sua armazenagem física Tempo da doca ao estoque ou disponibilização do item para venda Duas horas ou 99,9% no mesmo dia Stockouts Quantificação das vendas perdidas em função da indisponibilidade do item solicitado Receita não realizada devido à indisponibilidade do item em estoque (R$) Variável Estoque indisponível para venda Corresponde ao estoque indisponível para venda em função de danos decorrentes da movimentação ou armazenagem, vencimento da data de validade ou obsolescência. Estoque indisponível em (R$) divididos pelo estoque total em (R$) Variável Visibilidade dos estoques (Inventory visibility) Mede o tempo para disponibilização dos estoques dos materiais recém-recebidos nos sistemas da empresa Data e/ou hora do registro da informação de recebimento do material nos sistemas da empresa – data e/ou hora do recebimento físico Máximo de duas horas Utilização dos equipamentos de movimentação Mede a utilização dos equipamentos de movimentação disponíveis em uma operação de movimentação e armazenagem Horas em operação divididas pelas horas disponíveis x 100 Em uso intensivo, com operador dedicado, mínimo de 95% Fonte: Seleme; De Paula, 2019, p. 105-108. A definição de quais indicadores serão utilizados para gerenciar a performance da SCM dependerá do segmento em que ela atua e também dos objetivos definidos pela equipe gestora. O fato é que os elos precisam participar do processo de definição, estruturação dos indicadores, dos objetivos e das metas para que fique claro o papel de cada um neste contexto. TEMA 4 – RELAÇÃO BENEFÍCIO VERSUS CUSTO Esta etapa apresenta temas voltados para a qualidade na gestão da SCM porque é impossível apresentar performance adequada ao mercado, sem entender a importância disso para os negócios. Sempre lembrando que no contexto da SCM, onde vários elos interagem com a empresa focal, é sempre um pouco mais complexo do que gerenciar somente a qualidade de uma empresa. É 12 com base nesse contexto que estudaremos a relação benefício em relação aos custos. Iniciaremos entendendo que benefício é algo que justifica o custo que está sendo aplicado para obtê-lo. Por exemplo, o que é mais vantajoso para empresa: ter frota própria ou terceirizar o transporte? Para responder a essa questão, o gestor elencará os custos que ele tem hoje para realizar as atividades de transporte da empresa e também quais as vantagens que ele tem, como o controle da operação. A qualquer momento, o gestor pode mudar o plano de transporte de determinado veículo para atender alguma urgência de um cliente-chave. Na sequência, o gestor elenca o valor do contrato com operador logístico (O.L) e percebe que o custo da operação ficará menor, no entanto não terá garantia de flexibilidade para fretes urgentes, pois o O.L só consegue manter o preço otimizado sob programação. Neste exemplo, o gestor precisa avaliar bem os benefícios em relação aos custos para tomar a decisão. 4.1 Alguns custos para adequação Ao avaliar a relação benefício versus custo específico para a SCM isso pode ser realizado sob vários pontos de vista, mas focaremos na questão se é viável ou não para os elos investir em qualidade para atender a empresa focal. Iniciaremos a discussão sobre os custos que a adequação dos elos para atender as necessidades da empresa focal. 4.1.1 Melhoria dos processos internos Inicia-se no mapeamento, modelagem ou simulação e implantação das mudanças. Isso gera custo porque todos os setores terão que fazer isso. 4.1.2 Melhoria e adaptação dos produtos Isso geralmente ocorre para atender às especificações técnicas específicas da empresa focal. 4.1.3 Necessidade de certificação e selos, Algumas empresas focais exigem uma série de certificações para homologar um fornecedor, como por exemplo ISO 9001, 14001, 4500, IATF 13 16949, ROHS, FSC, entre tantos outros. Cada exigência gerará um custo para o fornecedor. 4.1.4 Investimento em tecnologia É o caso de softwares de ERP, CRM, SRM, RFID, QrCode, Business Intelligence (B.I) e outros. 4.1.5 Investimentos em infraestrutura Trata-se de máquinas,equipamentos de metrologia, dispositivos para testes. 4.1.6 Capacitação dos colaboradores Uma das primeiras ações que os fornecedores pretendem ao atender a uma empresa focal é investir na qualificação do seu capital humano, pois as mudanças no modelo de gestão serão sentidas por todos. 4.1.7 Desenvolvimento e homologação dos fornecedores Sabemos que, na SCM, existem os fornecedores de primeiro, segundo, terceiro ou mais níveis. Assim, a empresa focal exige do fornecedor de primeiro nível que repassa as exigências para os seus sucessivamente. Poderíamos elencar outros custos, mas é importante apresentar também os benefícios que os elos obtêm quando se qualificam para atender uma empresa focal na SCM. 4.2 Alguns benefícios obtidos pelos elos Se, por um lado, ocorrem os investimentos (que no primeiro momento são classificados como custos) para viabilizar as melhorias e alterações citadas acima, por outro lado, os elos se beneficiam em: 4.2.1 Contratos de fornecimento de médio e longo prazo Isso possibilita amortizar os investimentos. 14 Por meio do mapeamento de processo, haverá redução ou até eliminação de redundâncias, desperdícios, perdas de processo, retrabalhos, refugos, sucatas, devoluções e até de riscos de recall. 4.2.2 Aumento da produção e da produtividade O investimento em máquinas e equipamentos mais modernos permitirá à empresa produzir mais. 4.2.3 Melhoria da qualidade do produto ou serviço entregue ao cliente Isso porque depois de todos os ajustes realizados, aumenta o coeficiente da qualidade imputada no processo produtivo ou de atendimento. 4.2.4 Melhoria de performance Melhoria da performance dos colaboradores na execução de suas atividades além da integração entre os departamentos por meio da qualificação da equipe de trabalho. Se a empresa se certificar em alguma norma ou selo em decorrência das mudanças realizadas para atender à empresa focal, isso se tornará um diferencial para ela no mercado, pois servem de atestados de competência. 4.2.5 Abertura de novos mercados Se uma empresa comprova que tem capacidade de atender uma empresa focal em uma SCM, está preparada para atender a outras empresas também. 4.2.6 Maior visibilidade das operações Por meio do uso das tecnologias implementadas, haverá mais flexibilidade para as operações além da resiliência necessária para atender à empresa focal com mais agilidade e qualidade. O fato é que toda melhoria que os elos realizarem para adequação dos seus processos os tornará mais competitivos em seus mercados, evidenciando que os benefícios são palpáveis no médio e longo prazo. 15 TEMA 5 – LADO HUMANO NA SCME Ao acessar a internet e pesquisar sobre o futuro das organizações ou das profissões, encontraremos uma infinidade de matérias em jornais, revistas, artigos, blogs, lives, apresentando e discutindo a automatização dos processos. A impressão que dá é que nos últimos anos a tecnologia se tornou o remédio para todas as dores, inclusive na gestão da SCM. Todos discutem IoT, Blockchain, big data, machine learning, Business Intelligence, realidade virtual, realidade aumentada, chatbots, computação em nuvem, entre tantos outros. E com isso, você certamente se questiona: e as pessoas? Corremos o risco de perder espaço para os robôs? A SCM será toda automatizada no curto e médio prazo? Ao analisar o cenário organizacional na atualidade, podemos analisar que, mesmo que haja muitos recursos tecnológicos disponíveis para quaisquer atividades realizadas na gestão da SCM, isso não significa que, no curto prazo, todas as empresas investirão na automatização total. Ademais, é preciso reconhecer que embora haja tecnologia disponível, as pessoas continuam essenciais para o sucesso das operações e o adequado é que as empresas aproveitem o que há de melhor das duas situações. 5.1 A SCM do futuro precisa das pessoas Independente do grau de automatização de uma SCM, uma coisa é certa: ocorrerão situações que exigirão criatividade para sua solução, por exemplo, conflitos no ambiente de trabalho e moral baixa dos colaboradores. Nesse sentido, é adequado que a empresa invista na automação ou pelo menos faça um upgrade na tecnologia utilizada, sem protelar a qualificação dos seus colaboradores, pois as competências humanas continuam essenciais para resolução de problemas que exigem mais empatia que algoritmos. Martão (2018, p. 33) corrobora esse ponto de vista quando explica que as empresas precisam, na busca por inovação, atentar-se para a importância da evolução das pessoas. Essas novas tecnologias reforçam a real importância das pessoas na organização. Pode-se afirmar que o diferencial é feito pelos colaboradores, que possuem capacidade de comunicação, espírito de equipe, liderança, percepção da relação custo-benefíco, foco nos resultados, iniciativa, vontade de assumir os riscos e agilidade na adaptação às novas situações, por meio do comprometimento, motivação, disciplina, a busca constante por conhecimento e habilidade no relacionamento pessoal. 16 As palavras do autor reforçam a importância do investimento por parte das empresas na qualificação de seu time, além de evidenciar que, quanto mais desenvolvidos estiverem os colaboradores, mais preparados estarão para atender o cliente com excelência. Assim, é possível concluir que somente a tecnologia não será o suficiente para suprir as necessidades das SCMs, por isso a importância desse olhar mais voltado ao entendimento das necessidades humanas dos profissionais e a busca pelo equilíbrio entre a tecnologia e as pessoas. Segundo LaBombard et.al. (2019), as tecnologias que estão chegando não invalidam o papel do capital humano da organização e, sim, serão integradas às tecnologias já existentes e utilizadas nos cenários em que ainda se encontram problemas conhecidos como: “baixa visibilidade, incerteza, falta de confiança entre os elos, comportamentos tendenciosos, incentivos desalinhados e tomadas de decisão lentas”, que influenciam no desempenho da SCM. Sob o ponto de vista dos autores, a tecnologia pode expandir e acelerar o impacto dos investimentos digitais e apoiar as operações da SCM sob três perspectivas: 1. Fornecer novos insights utilizando-se dos dados existentes; 2. Automatizar tarefas que antes eram realizadas manualmente; 3. Ajudar as empresas a solucionar os problemas humanos que ocorrem nos itens 1 e 2, melhorando a comunicação, a confiança e a colaboração na organização. 5.2 Soft skills para atuar na SCM Para atuar nas áreas da logística que compõem a SCM são necessárias diversas competências técnicas conhecidas como hard skills, tais como: programação de sistemas, conhecimento nas áreas de softwares e hardwares, uso de automação em máquinas, equipamentos e processos de roteirização, conhecimento de idiomas, manuseio de ferramentas, o conhecimento que o colaborador desenvolveu por meio de suas pesquisas e aplicações nos processos de mestrado, doutorado, entre outros. Embora as hard skills sejam essenciais para o atingimento dos objetivos das organizações, um movimento de valorização das competências comportamentais, conhecidas como soft skills também está em crescimento, pois percebeu-se que é preciso um conjunto de competências que vá além do saber fazer, é preciso compreender por que fazer. Entre as soft skills, algumas são mais aderentes aos processos da SCM, conforme Quadro 7: 17 Quadro 7 – Soft skills Algumas soft skills necessárias na gestão da SCM ● Iniciativa ● Otimismo ● Inovação ● Liderança ● Resiliência ● Autonomia ● Criatividade ● Sociabilidade ● Ética no trabalho ● Trabalho em equipe ● Comunicação eficaz ● Inteligência emocional ● Capacidade de concentração ● Empatia ● Flexibilidade ● Colaboração ● Gestão do tempo ● Responsabilidade ● Pensamento crítico● Capacidade de análise ● Negociação, articulação ● Resolução de problemas ● Análise e visão sistêmica ● Gostar de trabalhar com pessoas ● Solução de problemas complexos ● Capacidade de aprendizagem constante O Quadro 7 traz diferentes soft skills capazes de tornar o profissional de SCM completo, mas na prática, dificilmente uma única pessoa consegue reunir todos esses predicados, por isso a importância do trabalho em equipe, onde diferentes profissionais se complementam. Diante disso, compete ao profissional buscar desenvolver as soft skills que são mais aderentes à atividade que desenvolve ou área que deseja se atuar. O lado bom dessa situação é que tanto as hard skills quanto as soft skills podem ser aprendidas e aprimoradas constantemente. Em relação às soft skills, algumas sugestões para aprender e aprimorar, independentemente da área em que você deseja atuar, são as seguintes: • Identifique seus pontos fortes e os pontos a melhorar, ou seja, busque primeiro o autoconhecimento. Conhecendo seus traços, ficará bem mais simples identificar quais são as competências comportamentais que você já possui, ou quais precisa desenvolver. Por exemplo, se você é resistente a mudanças, certamente terá que trabalhar esse traço para oferecer a flexibilidade e resiliência que a empresa necessita; • Busque conhecer as necessidades que o seu cargo exige e alinhe suas expectativas a isso, como por exemplo: seu cargo exige contato com o cliente externo mas sua comunicação ainda não está adequada o suficiente para essa tarefa, busque desenvolver a comunicabilidade; • Se você já for um gestor, invista na cultura de dar feedback com sua equipe; se, por outro lado, você fizer parte da equipe, solicite um feedback ao seu gestor para saber se você está atendendo às expectativas da sua função. Feedbacks sinceros fazem toda a diferença na formação profissional; 18 • Pratique a comunicação e a escuta ativa, pois essas duas competências são consideradas diferenciais para a construção da carreira profissional nas áreas da SCM. Comunicar-se bem e escutar as necessidades dos clientes internos e externos auxilia na melhoria contínua dos processos e operações. • Envolva-se em novos projetos, mas para isso, se organize e planeje onde você quer chegar. Novos projetos trarão ensinamentos importantes e tirarão o profissional da zona de conforto. • Exercite a disciplina e a paciência constantemente. A primeira reforçará sua postura responsável; a segunda lembrará que as equipes são formadas por pessoas, em que a paciência é fundamental. Além dessas soft skills, outras podem fazer mais sentido para alguma função e menos para outra, por isso é importante o mapeamento para compreender o processo como um tudo. E por fim, não pare de estudar, pois o conhecimento se renova constantemente e o profissional de alta performance precisa se manter em qualificação contínua! 19 REFERÊNCIAS CAMPOS, V. F. TQC: Controle de qualidade total (no estilo japonês). Belo Horizonte: Bloch Editora, 1992. CHIROLI, D. M. G. Avaliação de sistemas de qualidade. Curitiba: InterSaberes, 2016. LABOMBARD, M. et.al. O lado humano dos Supply Chains digitais. (agosto 2019). Disponível em: <https://www.mckinsey.com/business- functions/operations/our-insights/the-human-side-of-digital-supply-chains/pt-br>. Acesso em: 4 jul. 2022. MARSHALL JUNIOR, I. et.al. Gestão da qualidade e processos. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2012. MARTÃO, L. C. A logística do futuro passa por pessoas. Revista Mundo Logística, n. 63, ano X, mar. abr. 2018. ONCASE. A importância do atendimento do pós-venda. Oncase, 5 ago. 2021. Disponível em: <https://www.oncase.com.br/blog/gestao- estrategica/atendimento-pos-venda/>. Acesso em: 4 jul. 2022. ORBIT LOGISTICS. Pós-vendas: como sua empresa pode lucrar bem mais fidelizando clientes. VMI, 24 fev. 2021. Disponível em: <https://blog.portalvmi.com.br/pos-vendas-como-sua-empresa-pode-lucrar-bem- mais-fidelizando-clientes/>. Acesso em: 4 jul. 2022. PALADINI, E. P. Avaliação estratégica da qualidade. São Paulo: Atlas, 2011. SELEME, R. DE PAULA, A. Logística: armazenagem e materiais. Curitiba: InterSaberes, 2019. SILVA, R. A. S.; FRANCO, P. R. Jogos de empresas: fundamentos para competir. Curitiba: InterSaberes, 2018.