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AULA 6 SUPPLY CHAIN MANAGEMENT ESSENTIALS (SCME) Profª Rosinda Angela da Silva 2 INTRODUÇÃO Nesta etapa, trataremos de alguns assuntos transversais no contexto da Supply Chain Management (SCM), mas de extrema relevância para complementar o conhecimento do profissional em formação. Os temas tratados serão: sustentabilidade, gestão de crises, soluções geradas em momentos de crise, o impacto da tecnologia e, por fim, a versão 4.0 da SCM. TEMA 1 – SUSTENTABILIDADE DA SCME No estudo de SCME, até este momento discutimos sobre os processos e os pilares que sustentam uma SCM, a importância do planejamento das operações, como fazer a gestão eficiente dos elos e a qualidade a ser entregue ao cliente, entre outros assuntos pertinentes. No entanto, ainda há diversos assuntos pertinentes à gestão da SCME que o profissional que atuará na área, precisa conhecer. Dentre estes, um assunto essencial que precisa ser discutido neste contexto é a sustentabilidade ao longo da cadeia e como a empresa focal age (ou deveria agir) juntamente com os elos. O assunto sustentabilidade é algo que precisa ser discutido e aplicado por todos os elos que fazem parte de uma SCM demonstrando ao público-alvo que as organizações oferecem contrapartida ao meio ambiente e à comunidade que estão inseridas. No caso da formação de uma SCM ou, entrada de novos elos, compete à empresa focal identificar se todos os envolvidos possuem políticas que contemplem as ações de sustentabilidade. E na prática, você sabe o que é sustentabilidade? Embora o termo sustentabilidade tenha sido muito discutido nas últimas décadas, ainda assim está muito conectado ao conceito de meio ambiente e ecologia, mas na atualidade, faz parte de um contexto muito mais abrangente e global. Como já estudamos, uma SCM pode ser nacional ou internacional, o que nos faz refletir sobre o alcance das negociações da empresa focal com seus elos. Nas cadeias nacionais há a necessidade de seguir as regras brasileiras, que são consideradas complexas, mas lembre-se que nas cadeias globais os elos podem estar em diferentes partes do mundo, o que torna muito mais desafiadora a gestão da sustentabilidade da SCM. É preciso saber também que existem diferentes tipos de sustentabilidade como por exemplo: sustentabilidade ambiental, social, econômica e empresarial, 3 onde uma não exclui a outra, e sim, se complementam. Diante disso, podemos compreender o conceito de sustentabilidade como o esforço conjunto das instituições empresariais, governamentais, de educação e da sociedade para construir um cenário onde seja possível contemplar os diferentes tipos de sustentabilidade. Para garantir a sustentabilidade ambiental é preciso tornar o planeta mais saudável e buscar alternativas de produção que não esgotem os recursos naturais uma vez que são finitos. Já a sustentabilidade social visa alertar os atores (empresas, governo, educação, sociedade) sobre a importância da igualdade entre as pessoas, oportunizando o acesso à educação, à cultura e principalmente à saúde. É natural que a pessoa se preocupe com os outros elementos da sustentabilidade se ela estiver em uma condição de vida decente. Em relação à sustentabilidade empresarial, ela é demonstrada quando as organizações evidenciam à sociedade seu comprometimento com o uso de tecnologias de produção mais limpa (PML) produzindo bens e serviços não poluentes e que não utilizem trabalho infantil ou escravo ao longo de toda a SCM, por exemplo. E por fim, tão importante quanto as outras, temos a sustentabilidade econômica, a qual é obtida por meio das ações organizacionais que evidenciem que a busca pela lucratividade não protela as questões que envolvem o cuidado com os recursos naturais; o desenvolvimento social na comunidade em que ela está inserida; a distribuição de renda e também, a qualidade de vida no trabalho dos seus colaboradores. 1.1 Elementos da sustentabilidade ambiental Devido à necessidade de tempo e espaço para discutir os diferentes tipos de sustentabilidade, esta etapa apresentará dois conceitos que fazem parte da sustentabilidade ambiental e que têm sido aplicados por muitas organizações no mundo todo, o que denota a sua importância. São eles: energia limpa e pegadas de carbono. Você tem noção de como isso pode impactar nas operações da SCM? Em relação à energia limpa, segundo o Blog da empresa Intelbras (2021), “criada a partir de fontes renováveis, a energia limpa não gera emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2) ou monóxido de carbono (CO), ambos intensificadores do efeito estufa e agravantes do aquecimento global”. Como exemplos de energia limpa, temos: energia eólica, maremotriz, hidráulica, geotérmica e solar. Assim, espera-se que os elos da SCM e também a empresa 4 focal, invistam em processos que utilizem a energia limpa em detrimento da energia não renovável, uma vez que o impacto das operações de uma cadeia, é considerável. Como exemplo dessa temática, o site da empresa de bebidas Ambev explica que para trazer mais sustentabilidade para a distribuição das bebidas, foi criado o Projeto Colaborativo, também conhecido como Frota Compartilhada: Esse é um programa que fazemos em parceria com outras empresas para otimizar as viagens dos caminhões que distribuem os produtos das companhias e assim diminuir a emissão de CO2 na atmosfera. Os veículos depois de abastecer os centros de distribuição passam a fazer os trajetos de volta com as cargas dos parceiros. Em 2020, rodamos mais de 2 milhões de km em sinergia com 31 parceiros, evitando a emissão de aproximadamente 2.700 toneladas de CO2. Além disso, fizemos uma parceria com a Volkswagen Caminhões & Ônibus para o uso de 100 caminhões elétricos e-Delivery, em 2021, e temos o compromisso de ter 1,6 mil caminhões Volkswagen elétricos em nossa frota parceira até 2023. (Ambev, 2022) Observe que a Ambev contempla dois elementos de sustentabilidade, a redução de CO2 devido ao compartilhamento das entregas e o uso de veículos que utilizam energia limpa para a distribuição. Já em relação às pegadas de carbono, é uma iniciativa que envolve as empresas e suas SCMs, mas também a sociedade como um todo, pois auxilia a identificar como os processos produtivos ou de distribuição e os hábitos das pessoas impactam na produção de carbono. Em concordância com essa colocação, o site da empresa de seguros Zurich (2021) traz que estima-se que 90% das emissões totais de carbono das empresas são criadas por suas cadeias de abastecimento. Felizmente, desde o transporte e a embalagem mais eficiente, até tarifas e rotulagem de carbono, há muito que pode ser feito para reduzir as emissões da cadeia de abastecimento sem aumentar demais os custos para o consumidor. Considerando que os produtos geralmente são produzidos longe dos centros de consumo, a emissão de carbono no transporte é representativa no mundo todo devido a necessidade intensa de coletar e entregar mercadorias. Pode-se inferir que, reduzindo a emissão de CO2 no transporte, a pegada de carbono reduzirá sensivelmente. Essa visão oportunizou a criação de uma área de estudos dos processos logísticos chamada de logística verde, a qual conheceremos brevemente a seguir. 5 1.2 Um novo conceito de logística: logística verde Você já ouviu falar de logística verde? Vamos esclarecer o conceito para não confundir com logística reversa, pois ultrapassa o retorno de embalagens e resíduos industriais pela SCM. De acordo com Donato (2008, p. 15), “Logística Verde ou Ecologística é a parte da logística que se preocupa com os aspectos e impactos ambientais causados pela atividade logística”. Em relação a esses impactos, o autor ainda contribui apresentado alguns, como por exemplo: a crescente poluição ambiental decorrente do transporte; contaminação dos recursos naturais decorrentesdas cargas desprotegidas; vazamento de produtos tóxicos movimentados e armazenados de maneira inadequada e necessidade de desenvolver projetos que melhorassem as embalagens para o transporte seguro de produtos químicos, petroquímicos, defensivos agrícolas e produtos farmacêuticos. Diante do exposto, a Logística Verde tem como um dos seus objetivos o redesenho das operações internas e externas da logística contemplando o transporte, a movimentação, a armazenagem, a distribuição, o manuseio e o descarte dos produtos que oferecem risco à saúde humana e ao meio ambiente. Cada SCM pode determinar os elementos essenciais dos seus processos logísticos contemplando ações que valorizem os aspectos ambientais para que sua logística possa ser considerada verde. Isso deve contemplar todos os produtos e serviços ao longo da SCM e não somente um elemento, pois é comum perceber que algumas empresas obtêm selos verdes em um produto e utilizam como se ele certificasse todos os seus processos. TEMA 2 – GESTÃO DE CRISES NA SCME A gestão de crises faz parte de todas as áreas empresariais, principalmente naquelas ligadas diretamente aos processos logísticos. Neste contexto, lembre- se que a humanidade presenciou recentemente uma crise sem precedentes que foi a pandemia de Covid-19. Sem querer discutir um assunto que já tem sido muito debatido como a pandemia, analisaremos aqui duas crises desencadeadas nesses últimos anos sob o olhar da SCM: o impacto da Covid-19 no fornecimento mundial e o acidente do Canal de Suez. 6 2.1 Crise de abastecimento durante a pandemia Durante o período mais contundente da pandemia causada pelo Covid-19, podemos assumir que entre março de 2020 a março de 2022, muitos produtos faltaram nas prateleiras e o índice de ruptura nos estoques foi expressivo. Nesse período, muitos insumos não chegaram ao Brasil em quantidade e custo aos quais os empresários estavam acostumados. Nesse universo, o aço, embalagens, derivados de plásticos, insumos para papel e papelão, os componentes eletrônicos, foram os que representaram a maior falta e impactaram diretamente nos processos produtivos das indústrias desses segmentos. Os motivos foram muitos, como por exemplo, no começo da pandemia aqui no Brasil pelo menos, muitos governos estaduais e municipais decretaram lockdowns e grande parte da força de trabalho foi mantida em casa. Com a produção interrompida, naturalmente as empresas postergaram seus pedidos de compras e até cancelaram, até porque não havia como produzir. O fato é que depois do lockdown, muitas empresas optaram por manter seus colaboradores em home office, o que reduziu o consumo de muitos produtos nas empresas, mas aumentou nos lares, como por exemplo: alimentos, bebidas, itens de higiene e limpeza, móveis e itens de reforma. Como muitos produtos consumidos no Brasil são produzidos com insumos importados, as empresas que fazem parte de SCMs tanto com elos nacionais, quanto internacionais, foram afetadas. A demanda cresceu mais que o esperado e o mercado de fornecimento global estava em crise com as constantes mudanças de foco do Covid-19, pois, percebia-se que ora o impacto estava no país A, ora o impacto estava no país B, e assim sucessivamente. Como o transporte internacional de bens é realizado em sua grande maioria pelo modal marítimo, cada vez que algum porto fechava para conter o avanço do vírus, o impacto de atrasos era por toda a cadeia de suprimentos, o que atrapalhou grandemente o transporte de mercadorias no mundo todo. Segundo uma matéria da revista digital Exame publicada em julho de 2021, no primeiro semestre daquele ano, o índice de ruptura geral foi de 11,11% em junho de 2021, mas já havia atingido 12,57% em maio de 2020. São números elevados uma vez que o índice médio de ruptura geral no Brasil gira em torno de 8% (Exame, 2021). Voltando ao índice de 11,11%, os itens mais representativos foram: bebidas à base de soja (28,29%); leite longa vida (21,53%), ovo (21,51%), rum (20,35%) 7 e cerveja (19,93%). Ainda segundo a matéria, a cada 1 ponto percentual que cresce a ruptura, 1 ponto a menos na margem líquida para os varejistas e 2 pontos a menos para a indústria (Exame, 2021). A ruptura dos estoques desses e de tantos outros produtos impactaram diretamente no aumento dos preços de alimentos à vestuário, calçados, tecnologias, móveis, veículos, medicamentos, entre outros. 2.2 Crise causada pelo acidente no Canal de Suez Como se a situação da logística global já não estivesse difícil, em março de 2021, um navio de mais de 400 metros de comprimento e mais de 200 mil toneladas de peso encalhou diagonalmente no canal de Suez, impedindo o trânsito marítimo em um dos caminhos que é responsável por cerca de 13% das movimentações de mercadorias entre a Ásia e a Europa, dispensando a necessidade de contornar a África, conforme a Figura 1. Figura 1 – Rota marítima entre China e Holanda Créditos: pinate/Adobe Stock. A Figura 1 traz a rota entre China e Holanda que, ao utilizar o canal de Suez faz o percurso de 18 mil quilômetros com transit time de aproximadamente 25 dias. Já se o navio tiver que contornar a África para chegar à Holanda, o percurso 8 será de 25 mil quilômetros e o transit time terá em torno de 34 dias (Nubank, 2021). Os efeitos do acidente não foram sentidos apenas na demora dos demais navios que formaram uma fila de aproximadamente 193 quilômetros, mas também na falta de contêineres para atender as necessidades de clientes em diversos portos do mundo. Isso impactou diretamente no valor do aluguel desses equipamentos e até do frete marítimo, já que os navios atrasaram em vários dias as suas entregas, devido ao tempo parado na fila para atravessar o canal e depois, entraram na fila para serem atendidas nos respectivos portos que tinham que atracar. Embora o acidente tenha acontecido em uma rota longe do Brasil, alguns impactos foram sentidos aqui também como a falta de alguns insumos para linhas de produção em indústrias, falta de equipamentos para escoar as exportações e os custos dos fretes marítimos que impactaram diretamente no resultado de importadores e exportadores brasileiros. 2.3 Gerenciando crises na SCM Na prática, não há receita pronta para enfrentar uma crise, mas existe uma correlação entre o gerenciamento de crises e a forma com que a empresa gerencia seus riscos. Isso não significa dizer que o gerenciamento de riscos evitará crises, mas sim que uma empresa pode muito bem lidar com crises, sem entrar em situação delicada economicamente e até de imagem perante seu público-alvo, se ela conhecer os gargalos dos seus processos, como, por exemplo: • Ter apenas um fornecedor, o risco de desabastecimento é grande pois, qualquer situação atípica que ocorra com ele, pode atrasar as entregas impactando o negócio da empresa. • O produto é muito específico, feito sob encomenda e só serve para a sua empresa. Neste caso, o risco está em ficar à mercê do lead time do fornecedor que desenvolveu o produto, o qual pode ter algum problema e atrasar as entregas. • Sua SCM é 100% internacional ou seus fornecedores são muito distantes, o que pode impactar na confiabilidade das entregas e causar desabastecimento. 9 • O produto entregue não atende as especificações, o que pode gerar a compra de outro lote de mercadorias ou retrabalhar, o que aumenta os custos. • O fornecedor se envolve em escândalos de trabalho escravo, exploração de mão de obra infantil, poluição ao meio ambiente, corrupção, entre outras situações que podem impactar negativamente na imagem da empresa. Essas e outras situações que podem ocorrer com um único elo ou vários deles, podem gerar crises em toda a SCM, isso porque é comum um fornecedor atender vários clientes ao mesmo segmento, então, quando ocorre desabastecimentoem uma empresa, é comum ocorrer também com os concorrentes dela. O maior exemplo disso foi a falta dos semicondutores (chips) para os veículos durante a pandemia, que trouxe desafios para as montadoras durante toda a pandemia e continuou com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Segundo o site da Autoindústria (2022), somente nos cinco primeiros meses do ano de 2022, 14 fábricas de veículos pararam sua produção por falta de chips. (Autoindústria, 2022). O gerenciamento de crises exige pessoas competentes e soluções criativas para que as SCMs consigam manter os elos em sintonia e em melhoria contínua e conjunta, pois lembrando que o elo mais frágil, representa a força de toda a cadeia. TEMA 3 – SOLUÇÕES GERADAS EM MOMENTOS DE CRISE Em relação às soluções geradas em momentos de crise é possível perceber que a criatividade e a inovação são pilares importantes, mas são necessárias ações de ordem prática, tais como: • Criar um comitê gestor de crises: grande parte das empresas de melhores práticas já tinham esse hábito, mas foi durante a pandemia de Covid-19 que ficou evidente a importância de criar rapidamente uma equipe, preferencialmente multidisciplinar, para discutir as ações e decisões a serem tomadas. Nesse momento serão necessárias hard skills e soft skills para equilibrar as decisões. • Tomar decisões rápidas, porém sensatas: durante uma crise, o bom senso na tomada de decisão é fundamental para não complicar ainda mais 10 a situação da empresa. Isso novamente evidencia a importância da qualificação dos profissionais da empresa envolvidos na gestão da crise. • Analisar os riscos ponto a ponto: embora a tomada de decisão deva ser rápida, os riscos precisam ser avaliados para não agravar ainda mais o que já está difícil de gerenciar. • Ser flexível e resiliente: isso auxiliará o gestor a atuar em ambientes incertos e que exigem dele uma postura proativa e criativa para buscar soluções para os desafios da empresa. Em relação às soluções que surgem durante os períodos de crise, conheceremos algumas a seguir que fizeram parte da realidade das organizações nos últimos tempos. 3.1 Exemplos de produtos que surgiram devido à crise de Covid-19 A revista Forbes criou uma lista com 34 soluções brasileiras criadas para combater o Covid-19, mas que certamente continuarão a fazer parte do cotidiano dos hospitais e das clínicas, bem como da sociedade, como, por exemplo: • Ventilador mecânico de baixo custo criado pelo Instituto Mauá de Tecnologia – IMT. • Máscara respiradora, criado por um grupo composto pela Decathlon, Leroy Merlin, Azul e Expedicionários da Saúde. O grupo adaptou e converteu as máscaras de Snorkeling Easybreath em respiradores artificiais. • Plataforma de mapeamento da Covid-19 criado pela organização juntoscontraocovid.org, que é uma interface de coleta de dados e atualização a cada 10 minutos. • Câmera termográfica: produto que mede a temperatura das pessoas, mesmo com máscara. • Sistema de reconhecimento facial que reconhece pessoas com máscara e relaciona os dados pessoais. • Marcadores de distância, fabricados pela empresa Isoflex. Material utilizado PVC que é resistente ao fluxo contínuo de pessoas. • Tecido antimicrobiano ideal para a fabricação de vestimentas médicas e itens têxteis hospitalares. 11 • Tinta antiviral desenvolvida pela empresa Renner Herrmann e o Senai Paraná: produto capaz de inativar o vírus da Covid-19, é apropriada para as paredes de hospitais ou locais de grande circulação de pessoas. • Tapete higienizador que pode receber desinfetante, detergente ou álcool para higienizar calçados e é próprio para comércios e empresas. • Totem para álcool gel (FácilGel) acionado por um pedal, evitando que a pessoa precise pressionar o equipamento. Muitos outros produtos foram inventados e remodelados durante a pandemia para atender as necessidades de diferentes regiões do país e do mundo. Os itens que foram citados são apenas uma pequena amostra de como uma crise como essa que a humanidade presenciou gera desconfortos e desafios, mas também, oportunidades. 3.2 Exemplos de serviços que surgiram em meio à crise Não foram apenas produtos inovadores ou remodelados que surgiram durante a pandemia, pois muitos serviços também foram incorporados à rotina das pessoas e também das organizações, como por exemplo: • Minimercados em condomínio: foi uma solução arrojada para facilitar a vida das pessoas que entraram em home office e das localidades que praticaram os lockdowns. • Kits para minifestas: com o cancelamento dos eventos com público e até festas familiares, os profissionais desse segmento se reinventaram e passaram a entregar kits completos para minicomemorações com decoração, bolos, doces, salgados, bebidas e até lembrancinhas. • Plataforma online de consultas médicas: possibilita a marcação 24 horas por dia e mantém histórico dos pacientes. • Consultoria e delivery de plantas de pequeno porte: o home office e o lockdown fizeram com que muitas pessoas tivessem que ficar em seus lares o que despertou o desejo de muitas pessoas comprarem plantas, principalmente de pequeno porte para os ambientes internos. • Cornershop: serviço disponibilizado por meio de aplicativo onde o cliente escolhe o produto em determinada loja que faz parte do programa. Depois de escolher os produtos e colocá-los no carrinho, um comprador 12 profissional escolherá os produtos na loja e realizará a entrega para o cliente comprador. • Serviços de estética básica em casa: serviço que envia à casa do cliente, um profissional capaz realizar serviços de manicure, pedicure, massagem, penteados, tingimentos, maquiagem, podologia, entre outros. • Aplicativos para eventos corporativos: os eventos online cresceram muito durante a pandemia e com isso o uso de aplicativos para organizar, convidar, confirmar, lembrar o participante e até marcar a presença tornou- se essencial para facilitar a realização dos eventos. • Delivery e Take-Away de marmitas: como o home office não foi exatamente uma escolha durante a pandemia e sim, uma necessidade, as pessoas que não tinham aptidão ou tempo para cozinhar, adotaram a prática de comprar marmitex e solicitar a entrega ou, somente passar retirar no balcão. Assim, o delivery de marmitas veio para atender essa demanda. • Drive-thru de bebidas: outro serviço que também cresceu durante a pandemia foi a compra de bebidas para “tomar em casa”, muitas empresas decidiram criar o drive-thru de bebidas para facilitar a vida do cliente. • Terapia à distância: muitas pessoas precisaram de ajuda psicológica durante a pandemia, por isso, inúmeros profissionais se dispuseram a atender também online, o que facilitou a vida de muitos pacientes. • Cestas de orgânicos: a necessidade de realizar as refeições em casa trouxe a preocupação com a qualidade dos alimentos e com isso os orgânicos se destacaram, pois muitos produtores começaram a vender diretamente para o consumidor final com entregas de cestas de produtos orgânicos. • Assinaturas eletrônicas de contratos: esse serviço que já vinha sendo utilizado, mas somente por algumas empresas, durante a pandemia tornou- se uma ferramenta que agiliza o fechamento de contratos de compra, venda, transferência, entre outros. Todo o processo é realizado digitalmente, reduzindo custo e tempo de obter o documento assinado. Os bens e serviços apresentados neste tópico demonstram o quanto o ser humano pode ser criativo, inovador, persistente e que ao se sentir desafiado, cria oportunidades. 13 TEMA 4 – TECNOLOGIA NA SCME Depois de todos os temas estudados, chegou o momento de entender como tudo o que foi descrito pode ser integrado. Se a SCM é um conjunto de empresas conforme explicado anteriormente, as quais são responsáveis por diversas partesdo processo que atendem uma empresa focal, é necessário que recursos tecnológicos sejam utilizados para conectá-las. É importante ficar claro que na prática, a tecnologia tem como propósito simplificar os processos. No entanto, para isso é preciso que haja padronização, no primeiro momento, dentro da própria empresa focal e depois nos elos também, o que significa dizer que para integração adequada, os elos também precisam investir em tecnologia. Como é a empresa focal que “puxa o processo”, os elos precisam estar conectados com ela para que as informações sejam distribuídas de acordo com os interesses de cada um. Essa conexão é realizada por meios de sistemas integradores e requer conhecimento de todos os envolvidos, onde alguns serão apresentados na sequência. 4.1 Algumas tecnologias No primeiro momento as tecnologias foram desenvolvidas para as operações logísticas de forma isolada, foram criados alguns sistemas para atender demandas por operações logísticas como transporte, rastreamento, armazenagem, separação de pedidos, entre outros. Como na SCM o principal desafio está na integração entre a empresa focal e seus elos, alguns sistemas foram repaginados e outros foram criados exatamente para atender essa demanda de integração. De acordo com um artigo da Revista Ferramental (s.d.), algumas tecnologias utilizadas, principalmente no transporte de cargas, são: • Sistemas computadorizados de monitoramento e rastreio que utilizam o sistema Global Position System (GPS), Wi-Fi ou até hardwares instalados no veículo que permitem que o profissional responsável por essas tarefas saiba exatamente onde os veículos estão. Com essa informação, é possível manter toda a SCM informada. • Identificador por Radiofrequência (RFID) – Essa tecnologia é de extrema importância principalmente quando não há acesso à internet, pois funciona por ondas de rádio e permite que os veículos sejam rastreados. 14 • Geolocalização: essa tecnologia auxilia na identificação exata de onde está cada veículo de carga e necessita de um dispositivo (celular, computador ou outro) e de internet. • Sistema de gestão de transporte – TMS (Transportation Management System) – software dedicado à gestão das operações envolvidas no transporte como o faturamento, controle de custos, emissão de documentos fiscais, integração fiscal e contábil, entre outros. • Sistema de gestão de armazéns – WMS (Warehouse Management System) – software desenvolvido para o gerenciamento das operações de armazenagem abrangendo desde a entrada das mercadorias, suas movimentações internas até sua coleta para a transportadora. • Sistemas de roteirização e criação de mapas inteligentes: softwares que tornam mais fáceis o atendimento da cadeia de distribuição dos produtos, considerando as condições do percurso como segurança, custo, qualidade das rodovias, restrições de peso e altura de veículos de transporte, caminho mais curto, entre outros. Os softwares contemplam também inteligência artificial (I.A) e Machine Learning, sugerindo rotas mais otimizadas de acordo com as restrições e políticas programadas. • Sistemas de gestão de frotas: softwares que tem como propósito otimizar a quilometragem dos veículos de transportes da empresa, controlar os gastos, monitorar as manutenções preventivas, entre outros. • CRM – Customer Relationship Management (Gestão do Relacionamento com o Cliente) que embora seja comumente utilizado pela área comercial, também é um excelente recurso para trazer dados dos clientes para a SCM. Todo investimento que a empresa focal e os elos realizarem certamente terá que trazer melhoria em seus processos e benefícios que justifiquem, por isso é preciso mapear criteriosamente as necessidades da realidade de cada empresa para evitar desperdício de recurso em algo que não agregará valor ao cliente final. Para facilitar a escolha das tecnologias úteis para a empresa, recomenda-se criar a equação benefício versus investimento para a tomada de decisão, por isso alguns benefícios serão apresentados a seguir. 15 4.2 Benefícios da tecnologia nas SCMs A tecnologia aplicada nas operações logísticas traz benefícios como: • Redução de custos: o investimento em tecnologia nas áreas que possibilitam a automação permite reduzir os custos devido a eliminação de retrabalhos, redundâncias, falhas operacionais, excessos de estoques e outros. • Otimização de processos: para receber uma nova tecnologia na SCM é necessário que seja realizado um mapeamento de processos que deixará claro os fluxos (financeiro, de informação, de materiais e reverso) e conexão entre as áreas. Esse trabalho de mapeamento permitirá que os processos sejam redesenhados e otimizados. • Criação de padrões operacionais: isso ocorre depois do mapeamento e impacta no redesenho, uma vez que para automatizar, é preciso criar padrões para as operações permitindo a tradução para a linguagem computacional dos sistemas. • Tomada de decisão: a tecnologia agiliza o processo de tomada de decisão porque com o uso de sistemas como o Business Intelligence (B.I), os dados disponíveis estão sempre atualizados e permitem a simulação de vários cenários, dando suporte para as tomadas de decisão. • Minimização de custos e falhas: a automação dos processos repetitivos auxiliará a reduzir os custos; o mapeamento e programação corretos eliminarão as falhas. • Assertividade no planejamento: tudo começa no planejamento e a tecnologia oferece diversos recursos que facilitam essa atividade disponibilizando informações, gestão de projetos, comunicação entre as áreas e recursos de simulação. • Rapidez nos processos e nas entregas: os diversos recursos tecnológicos disponíveis para a gestão da SCM, tornarão os processos mais ágeis uma vez que parte do trabalho operacional, que antes eram realizados manualmente, foram automatizados. O impacto será a redução do tempo de entrega dos produtos e serviços aos clientes. • Aumento da satisfação do cliente: toda e qualquer decisão realizada pela equipe da SCM deve estar direcionada a entregar mais valor ao cliente aumentando sua satisfação. A tecnologia empregada de forma eficiente 16 será o suporte necessário para que todos os elos consigam chegar a esse mesmo objetivo. Dependendo do segmento da SCM outros benefícios podem ser incorporados a esses que foram citados. Cada gestor das empresas focais, juntamente com os elos precisam avaliar se a tecnologia empregada está entregando esses benefícios e se está auxiliando todos a atingirem os objetivos determinados previamente. TEMA 5 – SCME VERSÃO 4.0 Devido aos avanços expressivos na tecnologia nos últimos anos, a partir de 2013 foi considerado que a indústria estava em sua quarta geração e passou a ser chamada de Indústria 4.0. Este conceito considera que a indústria evoluiu porque “a partir da integração de diferentes tecnologias como inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem, os processos de produção tendem a se tornar cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis”. Tais elementos foram considerados disruptivos e por isso elevou o patamar das indústrias em diversos países do mundo. Neste contexto, é preciso reconhecer que, se a indústria chegou à sua quarta revolução, a logística, que é a principal alavanca do desenvolvimento industrial, também precisou evoluir. Essa evolução ainda está acontecendo em muitas áreas da logística e é conveniente lembrar que, como cada região do país e também do mundo têm características próprias, é possível perceber diferenças nas fases evolutivas que se encontram. Alguns exemplos: Nos países com alto índice de industrialização, muitas empresas já apresentam alto grau de automatização e utilizam os recursos da revolução 4.0, como a Internet das coisas (IoT), Blockchain, robôs, integraçãode sistemas, manufatura aditiva, computação em nuvem, big data, realidade aumentada, segurança da informação, conectividade, entre outros. Já os países em desenvolvimento, não apresentam o mesmo coeficiente de automação ou até mesmo acesso aos recursos citados. Neste contexto, um dos elementos que mais atrapalha o avanço da revolução 4.0 é a conectividade, pois nem todos os países apresentam internet rápida e eficiente para suportar o uso dos diversos recursos citados. Neste momento você se questiona: e qual é a conexão disso com a SCM? Discutiremos sobre isso na sequência. 17 5.1 SCM 4.0 A logística está em constante atualização para acompanhar a indústria 4.0 a qual está bem mais sofisticada e, para isso, também precisa investir em recursos tecnológicos, melhorias de processo e automação. Isso impacta nas atividades de transporte, na gestão dos centros de distribuição, na robotização de atividades logísticas como controle de pátio, roteirização das entregas, gestão de documentos, otimização dos processos e outros. Essa transformação nas atividades logísticas impacta diretamente na teia de elos que formam uma SCM, pois entre as fábricas que fazem parte de uma cadeia de suprimentos, temos os operadores logísticos (O.L) ou prestadores de serviços logísticos (PSL). Assim, ao avaliarmos a SCM pela perspectiva de que ela é formada por diferentes empresas que atuam na mesma cadeia, cada vez que uma delas investe em tecnologia dos processos produtivos, como automação por exemplo, isso impacta na cadeia como um todo. No contexto da SCM podemos compreender que o avanço para a versão 4.0 já aconteceu impulsionada pelas indústrias e isso tem feito que as cadeias se tornem cada vez mais inteligentes, conectadas, de alta visibilidade e transparência, possibilitando a criação de novos modelos de negócios. 5.2 Tecnologias chaves na SCM 4.0 Para que a SCM seja considerada 4.0 ela precisa utilizar certos recursos tecnológicos que agilizem seus processos e resulte em melhor atendimento às necessidades dos clientes da cadeia. Entre essas tecnologias, temos: • Torre de controle: De acordo com o site Logweb, “é um hub, um ponto focal que oferece visibilidade, tomada de decisão e ação, com base em diferentes análises em tempo real e é um local central que possui organização, tecnologia e processos”. Será a torre de controle que possibilitará ao gestor da SCM o monitoramento das operações por meio de múltiplos dispositivos inteligentes, desde o início do processo no fornecedor até a entrega ao consumidor final. • Veículo autônomo: essa tecnologia será utilizada pela logística de distribuição tanto na versão autônoma com o motorista no veículo que assumirá o controle caso seja requisitado, como na versão remota, onde o 18 motorista poderá monitorar e intervir em mais de um veículo ao mesmo tempo. • Drones para entrega: também chamado drone delivery, já está revolucionando a entrega de pequenos pacotes, evitando o trânsito dos grandes centros urbanos, bem como atendendo regiões de difícil acesso. De acordo com Imai Segundo (2020, p. 33-34), os drones também podem realizar swarm delivery (entregas por enxame) onde um caminhão com drones e mercadorias segue o seu caminho, enquanto os drones entregam mercadorias nas adjacências e retornam ao caminhão para reabastecer, se for necessário. Ainda segundo o autor, também há a possibilidade de utilizar os drones terrestres que são uma espécie de robôs utilizados para entregas. • Inteligência artificial (IA): nesse caso, a IA auxiliará no quesito de personalização do atendimento de cada cliente, oferecendo um serviço diferenciado e ampliando as chances de retenção e continuidade nos negócios. Além disso, a IA é a base para o Machine Learning que significa máquina que aprende que no caso da logística pode-se pensar em veículos ou equipamentos que aprendem. No contexto da SCM isso será muito útil pois, a partir do momento que o veículo está programado com diversas variáveis e obtêm os dados por meio da tecnologia embarcada nele como a telemetria, o veículo ou o equipamento melhora a precisão dos dados disponíveis para o programador que pode reprogramar certas rotas, por exemplo. O impacto da tecnologia na SCM 4.0 é sentido em diversas fases das operações como a melhoria na previsão de demanda dos clientes, na eficiência dos processos internos dos armazéns, depósitos e fábricas, resultando em entregas cada vez mais rápidas e com coeficiente de qualidade que atende as expectativas do mercado. Neste contexto, compete ao profissional de logística ou de gestão, se manter atento às mudanças na tecnologia e em constante atualização dos seus conhecimentos para atuar nos ambientes que no momento estão 4.0, mas rumo às outras versões como 5.0, 6.0 ou outra nomenclatura que esse universo de transformação pode criar. 19 REFERÊNCIAS AMBEV. Sustentabilidade com a operação logística. Disponível em: <https://www.ambev.com.br/esg/operacaologistica/>. Acesso em: 10 jun. 2022. AUTOINDÚSTRIA. No ano, 14 fábricas de veículos já pararam por falta de chips. Disponível em: <https://www.autoindustria.com.br/2022/05/10/no-ano-14- fabricas-de-veiculos-ja-pararam-por-falta-de-chips/>. Acesso em: 10 jun. 2022. BLOG INTELBRAS. 5 exemplos de energia limpa no Brasil. Disponível em: <https://blog.intelbras.com.br/energia-limpa/>. Acesso em: 10 jun. 2022. CANALTECH. Indústria 4.0 no Brasil: mais digital, porém com baixa maturidade. Disponível em: <https://canaltech.com.br/mercado/industria-40-no-brasil-mais- digital-porem-com-baixa-maturidade/>. Acesso em: 10 jun. 2022. DONATO, V. Logística verde: uma abordagem socioambiental. Rio de Janeiro: Ciência Moderna Ltda., 2008. IMAI SEGUNDO, Y. Transformação digital na cadeia de suprimentos. Revista Mundo Logística, n. 75, ano XIII, mar./abr. 2020. LOGWEB. Torre de controle em “Supply Chain”. 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