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resultado. Na volta, os que se lembravam dela, queriam notícias, e eu dava-lhes, como se acabasse de viver com ela; naturalmente as viagens eram feitas com o intuito de simular isto mesmo, e enganar a opinião. Um dia, finalmente... CAPÍTULO CXLII / UMA SANTA Entenda-se que, se nas viagens que fiz à Europa, José Dias não foi comigo, não é que lhe faltasse vontade; ficava de companhia a tio Cosme, quase inválido e a minha mãe, que envelheceu depressa. Também ele estava velho, posto que rijo. Ia a bordo despedir-se de mim, e as palavras que me dizia, os gestos de lenço, os próprios olhos que enxugava eram tais que me comoviam também. A última vez não foi a bordo. --Venha... --Não posso. --Está com medo? --Não; não posso. Agora, adeus, Bentinho, não sei se me verá mais; creio que vou para a outra Europa, a eterna... Não foi logo; minha mãe embarcou primeiro. Procura no cemitério de S. João Batista uma sepultura sem nome, com esta única indicação: Uma santa. É aí. Fiz fazer essa inscrição com alguma dificuldade. O escultor achou-a esquisita, o administrador do cemitério consultou o vigário da paróquia; este ponderou-me que as santas es tão no altar e no céu. -- Mas, perdão, atalhei, eu não quero dizer que naquela sepultura está uma canonizada. A minha idéia é dar com tal palavra uma definição terrena de todas as virtudes que a finada possuiu na vida. Tanto é assim que, sendo a modéstia uma delas, desejo conservá-la póstuma, não lhe escrevendo o nome. --Todavia, o nome, a filiação, as datas... -- Quem se importará com datas, filiação, nem nomes, depois que eu acabar? -- Quer dizer que era uma santa senhora, não? --Justamente. O protonotário Cabral, se fosse vivo, confirmaria aqui o que lhe digo. --Nem eu contesto a verdade, hesito só, na fórmula. Conheceu então o protonotário? -- Conheci-o. Era um padre-modelo. -- Bom canonista, bom latinista, pio e caridoso, continuou o vigário. --E possuía algumas prendas de sociedade, disse eu; lá em casa sempre ouvi que era insigne parceiro ao gamão... --Tinha muito bom dado! suspirou lentamente o vigário. Um dado de mestre! --Então, parece-lhe...? --Uma vez que não há outro sentido, nem poderia havê-lo, sim, senhor, admite-se... José Dias assistiu a estas diligências, com grande melancolia. No fim, quando saímos, disse mal do padre, chamou-lhe meticuloso. Só lhe achava desculpa por não ter conhecido minha mãe, nem ele nem os outros homens do cemitério. --Não a conheceram; se a conhecessem mandariam esculpir santíssima. CAPÍTULO CXLIII / O ÚLTIMO SUPERLATIVO Não foi o último superlativo de José Dias. Outros teve que não vale a pena escrever aqui, até que veio o último, o melhor deles, o mais doce, o que lhe fez da morte um pedaço de vida. Já então morava comigo; posto que minha mãe lhe deixasse uma pequena lembrança, veio dizer-me que,