Prévia do material em texto
Trata-se do RECURSO ESPECIAL Nº 1.291.247 - RJ (2011/0267279-8). Com vistas, o recurso especial foi proposto por Carlos Márcio da Costa Cortázio Corrêa e outros em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em matéria de Responsabilidade civil. O recurso tinha por objetivo tratar de Controvérsia entre consumidores e empresa especializada em coleta e armazenagem de células tronco embrionárias alegando falha na prestação de serviços no momento de parto, bem como inadimplemento contratual. Dispõe na petição inicial que, marido e esposa, os primeiros recorrentes do presente recurso, firmaram contrato de prestação de serviços sobre coleta e armazenagem de células- tronco de seu futuro filho, que é colocado como terceiro recorrente à época nascituro. Dias antes do parto de fato, a empresa com quem foi firmado o contrato noticiou que a cesárea da recorrente estaria marcada para o dia 06 de janeiro de 2009, contudo, a empresa não comparecei para coleta de material que havia sido contratado mesmo com o pai tendo os procurado durante o dia marcado, o que gerou inadimplemento contratual. A empresa não refutou o que foi narrado, mas alega que não foi possível prestar o serviço visto que a preposta não conseguiu chegar até o local no tempo combinado e por esse motivo não foi possível prestar com o que havia sido compactuado em contrato, mas alega ter restituído o valor de maneira antecipada e por isso não concorda com reparação extrapatrimonial alegada por descumprimento contratual. Na sentença foi acatado o pedido de indenização proferido pelos recorrentes maiores (pais) e condenando a ré ao pagamento do valor de R$ 15.000,00, mas não reconheceu como passível de indenização o terceiro recorrente (filho) alegando tão somente dano hipotético visto que somente se falaria em dano concreto caso em que o menor tivesse necessidade das células- tronco embrionárias não colhidas. Quanto ao Tribunal de Origem, o provimento fora parcial aos autores e majorou o valor a título indenizatório fixando o valor de 15.000,00 (quinze mil reais), para cada um dos recorrentes, mas também manteve a improcedência da indenização ao terceiro recorrente visto que entendeu que se trata de menor incapaz por não ter a consciência necessária da ocorrência de um dano moral, e afastou a teoria da perda de uma chance porque não fica evidenciada a probabilidade de que a criança necessitasse do material genético que viria a ser coletado já que nasceu em perfeitas condições de saúde. Isso resulta no recurso dos autores visto que alegam haver violação aos mencionados artigos 2.º, 3.º, 4.º, 5.º, 15 e 70 do Estatuto da Criança e do Adolescente, além do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. Reiteram que se trata de perda de uma chance o que foi admitido na origem. A discussão então recai na legitimidade da criança enquanto parte lesada e aplicação da perda de uma chance e na existência portanto de dano extrapatrimonial sofrido pela criança destacada em questão que era a grande beneficiária do contrato que havia sido celebrado pelos pais. O relator Paulo de Tarso Sanseverino dá o voto em que julga procedente o recurso especial provido pelos pais e entende que a criança é a principal prejudicada pelo inadimplemento da empresa e por esse motivo faz jus a indenização de dano extrapatrimonial por ter frustrada sua chance de células embrionárias para eventual necessidade. Expõe que, o tribunal de origem deu como improcedente a formulação de indenização alegando que a criança não tem consciência capaz de potencializar o dano moral, mas que em outro julgado já firmou entendimento contrário ao que foi proferido aqui e entendeu que o nascituro tem direito a danos morais mesmo sem componente de consciência já que se deve tutelar os seus direitos da personalidade, priorizando o princípio da pessoa humana. Outro ponto que faz parte do recurso e está presente nos autos é a indagação a respeito do dano hipotético. Entende o relator que, como proferido na sentença e descartado, o dano hipotético só seria concretizado caso o autor futuramente necessitasse do material genético não colhido e por esse mesmo motivo entende que se aplica a teoria da perda de uma chance. Não se exige do consumidor em tal teoria a prova da certeza do dano e sim a prova da certeza da chance perdida, no caso, atua-se com a probabilidade. Na ocorrência em questão, perdeu-se de maneira definitiva a chance de prevenir eventuais patologias, e por isso recai na possibilidade de indenização. Fala também sobre o princípio da reparação integral que tem incidência para ressarcir de maneira ampla a chance perdida pelo lesado, olhando o dano final que seria a vantagem esperada pelo lesado e que foi de maneira definitivamente perdida, enquanto a chance perdida é um prejuízo autônomo. O voto ainda decide por bem pleitear o valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), já que se trata a criança de principal prejudicada pelo ato ilícito com incidência de juros de mora desde a data do ato figurado como ilícito. Quanto ao voto de NANCY ANDRIGHI, concorda em partes com o relator visto que reconhece a legitimidade do menor como passível de pleitear danos morais conforme o julgamento do REsp 1.037.759/RJ em que foi relatora em que entendeu as crianças ainda que muito jovens fazem jus a proteção de direitos configurados como de personalidade e assegura, portanto, indenização por dano moral nos termos do artigo 5º, X, in fine, da CF e 12, caput, do CC/02. Diverge, contudo, quanto ao reconhecimento dos danos morais advindos da teoria da perda de uma chance. Colocando em perspectiva o principal afirmado pelo relator em que a característica principal de perda de uma chance é a certeza da probabilidade ou da certa da ocorrência de um fato antijurídico que interrompe o curso normal e poderia trazer uma situação mais favorável para o lesado, expõe que jamais seria possível saber se haver a ocorrência dessa vantagem ao lesado uma vez que a oportunidade da ocorrência ficou para trás e de todo modo é irreversível. De tal maneira induz que a certeza do dano reside na perda da chance efetiva e não na perda da vantagem pretendida, Justamente por isso, porque a certeza é da probabilidade anulada e não do proveito em si, a indenização devida será sempre inferior ao ganho que seria alcançado acaso ocorrido o resultado final almejado, e deve ser calculada segundo um juízo de proporcionalidade. Reflete ainda que a perda de uma chance se contrapõe ao que se entende por dano hipotético baseado em expectativa de ganho e depende de circunstancias eventuais e futuras. Por esses motivos e outros narrados nega o provimento ao recurso especial. Quanto ao voto do MINISTRO João Otávio de Noronha acompanha o voto do ministro relator. Ao passo que entende que a empresa assumiu o contrato e por esse motivo incorreu em inadimplemento absoluto bem como frustrou a expectativa da coleta de material para tratamento futuro causando dano à expectativa da família dessa maneira. Em essência, a turma, por maioria, restou por dar provimento ao recurso especial nos termos do voto proferido pelo Ministro Relator. Quanto ao Recurso Especial Nº 1.757.936 - SP (2018/0050733-1) a respeito de controvérsia com o objetivo de discutir a imposição de indenização por perda de uma chance em que em um reality show o participante foi eliminado da competição por erro dos organizadores na contagem de pontos. Nesse caso, caberia a perda de uma chance com reparação do dano decorrente da lesão sofrida pelo participante legitimo em que sua expectativa não se concretizou porque foi interrompido o curso normal dos eventos e assim impediu o resultado final que era esperado pelo participante. Trata-se de dois recursos especiais interpostos por Rádio e Televisão Record S.A. e por Endemol Brasil Produções LTDA. com fundamentaçãobaseada no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. A recorrente Rádio e Televisão Record S.A alega não ter praticado ato ilícito e que sua conduta foi pautada dentro da regularidade argumentando que o recorrido não sofreu nenhum dano moral seja material ou à sua imagem visto que se trata de pessoa pública e seu site de astrologia é conhecido no cenário da internet e dessa forma está acostumado com comentários polêmicos e maldosos nas redes sociais e que assinou termo de compromisso de participar do programa, assumindo total responsabilidade por constrangimentos que pudesse sofrer com sua imagem veiculada à televisão. Dispõe ainda que a teoria aplicada sobre a perda de uma chance não se resta efetiva nesse caso visto que não se demonstrou a ocorrência de ato ilícito que teria tirado do participante a oportunidade de disputar o prêmio, se tratando de possibilidade aleatória e que não há comprovação do dano e por esse motivo não se fala em indenização. A outra recorrente Endemol Brasil Produções LTDA. Sustenta não ser aplicável a teoria de perda de uma chance por ausência de previsão legal. Relata que o participante aceitou participar de um jogo e que por esse motivo implica em chances tanto de derrota quanto de ganho de maneira igual para todas as partes e que por esse motivo não cabe indenização por dano hipotético. Argumenta que indenizar o recorrido equivaleria a "presumir que ele passaria por mais duas fases que ainda iriam acontecer, assim tratando de hipóteses e não de chances reais e evidentes. O recorrente Alexey Dodsworth Magnavita de Carvalho pleiteia a ação de indenização por danos tanto morais quanto materiais e à imagem em face dos recorrentes por precoce e injusta eliminação em fase semifinal de reality show da TV. Segundo o autor, na fase de perguntas e respostas estava empatado com o outro jogador, mas que houve erro de contagem nos pontos sem possibilidade, portanto, de o participante entrar na disputa pelo desempate. Teve suas tentativas de contato com os organizadores frustradas. O magistrado que decidiu em primeiro grau julgou como improcedente o pedido e analisou a mídia existente nos autos e considerou que a alegação de número de contagem explanada pelo autor da indenização foi errônea e por esse mesmo motivo não chegaria ao empate como alegado pelo autor. Porém, julgou como parcialmente provido a condenação de indenização por perda de uma chance no valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) e por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). O Tribunal de origem posteriormente concluiu que houve empate entre os participantes após analise correta das mídias e do contexto fático-probatório, e afirmou que "o apelante ALEXEY efetivamente perdeu a chance de participar de uma rodada de desempate. O voto do ministro relator expõe que restou claro no vídeo do programa que o competidor que passou para a final obteve 238 pontos e que não há negação de que Alex também conseguira os mesmos pontos, mas que o programa não revela de imediato a ele sua pontuação de modo que ele possa conferir naquele momento e constatasse qualquer irregularidade. Não houve, inclusive, nenhuma nota de esclarecimento ao público sobre o ocorrido nem mesmo uma retratação. A análise de todos os fatos ocorridos e a demonstração nos autos do erro na contagem de pontos e por esse motivo a eliminação equivocada do competidor, existiu o ato ilícito pelas recorrentes e também existe o nexo de causalidade entre a conduta dos organizadores do programa e o dano suportado pelo recorrido, que possuía chances reais de ir para a próxima fase da disputa e, chegando à final. Ainda que o resultado final dependesse de seu êxito nas duas provas restantes não se afasta a perda de uma chance visto que sua eliminação indevida interrompeu um fluxo possível dos eventos. De todo modo o ministro relator Ricardo Villas Bôas Cueva negou provimento aos recursos especiais das recorrentes e determinou que restasse entendida a perda de uma chance do participante do reality bem como o pagamento dos danos pleiteados a ele e por esse modo as recorrentes foram vencidas nos recursos.