Buscar

artigo neldriane

Prévia do material em texto

A REVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO 
 
Neldriane Cristina da Silva1 
Marsiel Pacifico2 
 
 
RESUMO 
 
A educação é um tema em constante debate, seja nos bancos acadêmicos como também 
nas propostas de governo e de políticas públicas no cenário brasileiro. Mas, pensar em 
Educação, como um todo, demanda reflexões até mesmo mais complexas do que tão 
simplesmente desenvolver um projeto de ensino escolar. As raízes do ensino e sua 
perpetuação defendem interesses de diferentes classes e logo interesses conflitantes. O 
presente trabalho tem por objetivo tratar sobre a noção do que a revolução da Educação, 
levando principalmente em perspectiva o que ensina sobre o tema de maneira tão rica, o 
filosofo e professor Paulo Freire analisando preferencialmente sua contribuição no texto 
Pedagogia do Oprimido. Assim, busca-se com o trabalho, compreender os 
desdobramentos da educação e por qual motivo é necessário falar em uma revolução na 
educação e qual a intenção desse conceito no contexto do ensino. A pesquisa é de caráter 
bibliográfico, servindo como referencial teórico o livro citado, mas também toda a bagagem 
do que se estuda no campo da educação e leituras prévias sobre o autor bem como 
palestras sobre o assunto. 
 
Palavras-chave: Educação. Pedagogia. Aprendizagem. 
 
SUMMARY 
 
Education is a topic in constant debate, whether in academic banks as well as in 
government proposals and public policies in the Brazilian scenario. But thinking about 
Education as a whole demands even more complex reflections than simply developing a 
school teaching project. The roots of teaching and its perpetuation defend interests of 
different classes and therefore conflicting interests. The present work aims to deal with the 
notion of what the Education revolution is, taking mainly into perspective what it teaches on 
the subject in such a rich way, the philosopher and professor Paulo Freire preferentially 
analyzing his contribution in the text Pedagogy of the Oppressed. Thus, the work seeks to 
understand the unfolding of education and why it is necessary to speak of a revolution in 
education and what is the intention of this concept in the context of teaching. The research 
is bibliographical, serving as a theoretical reference the book cited, but also all the baggage 
of what is studied in the field of education and previous readings about the author as well 
as lectures on the subject. 
 
Keywords: Education. Pedagogy. Learning. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Educação é, seguramente, uma das principais fontes de poder na 
 
1 Discente email: neldriane@gmail.com 
2 Docente email: marsiel.pacifico@uems.br 
sociedade brasileira. Esse poder pode ser visto por dois diferentes ângulos: do 
oprimido, que pode passar a se conhecer e ganhar conhecimento para mudar sua 
realidade e a do seu próximo, e do opressor, que pode utilizar o boicote à educação 
como forma de manutenção sua enquanto classe dominante. 
Essas discussões, porém, são vistas nos últimos anos da maneira que são 
e por grande influencia de pensadores e acadêmicos como o nobre Professor Paulo 
Freire. Antes disso, contudo, entender o processo educativo e dialogar sobre ele 
como uma forma de emancipação, era tão somente uma realidade utópica. 
Desde o começo, a educação e a escola, espaço principal onde se 
disseminava a educação, foi tomada por um caráter e poder dominante desde os 
tempos do Brasil colonial. Nesse sentido, ao observar o desenvolvimento da escola 
e da educação é possível encontrar hoje um grande paradoxo no qual a educação 
se insere. Se por um lado, entende-se que a educação tem por objetivo principal 
educar a todos, por outro, é preciso entender e aceitar as diferenças e diversidades 
culturais, sociais e individuais daqueles que estão passivos do ensino. Esse é o 
verdadeiro passo para a revolução da educação. 
O trabalho a seguir se divide em dois momentos principais. Primeiro, busca-
se falar um pouco a respeito da educação no Brasil e seu desenvolvimento. Como 
foram caminhando os passos para uma educação estatal para que então seja feita 
a segunda parte do trabalho que é justamente indagar o motivo pelo qual é 
necessário pensar em uma educação revolucionária e qual o papel do filosofo Paulo 
Freire nessa perspectiva. 
 
HISTÓRICO BREVE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 
 
Não é segredo que, desde o período da colonização no Brasil e quando se 
passou a formalizar a educação por meio de escolas e professores especializados, 
o ensino foi destinado às classes sociais consideradas como dominantes. Isso não 
é um retrato apenas do país, mas é um retrato que reflete diretamente o desenho 
das sociedades colonizadas no mundo. 
Mas, no início, a educação estava voltada para o que se chama de 
transmissão de cultura básica, visto que era feita pelos padres à época. Não 
exercia, tampouco, mudanças estruturais na questão social e econômica do país. 
O Estado assumindo o papel de educador já no Brasil Império, ainda reafirmava o 
caráter de um ensino elitista cujas classes sociais mais elevadas eram as únicas a 
terem acesso a educação de fato. 
A grande ruptura nas estruturas sociais vem a partir do fim do Império e 
instituição da República. O Estado passa a ser não só o detentor da educação, mas 
também o grande vigia da moral, da conduta das pessoas, e isso reflete nas escolas 
e no que passou a ser ensinado. Entra-se no período de disciplinarização dos 
saberes, em que tudo é regulado dentro dos muros da escola. 
Aqui entra-se no que antes não era problema. Antes, os índices de 
analfabetismo não preocupavam o Estado. Agora, porém, apesar de existir um 
interesse por esse processo de alfabetização, existe a clara urgência de pelo 
menos a alfabetização das pessoas. 
O período da revolução industrial marca a educação como um todo, em um 
amplo palanque para a formação voltada para o trabalho. Essa foi a grande 
perspectiva disseminada para a educação durante muitos anos: o aprender para o 
trabalho. 
O modelo tecnicista operado durante o período da Ditadura Militar e reflexo 
direto do período da revolução industrial ecoa ainda nos dias atuais dentro das 
escolas. O ato de ensinar a mera reprodução, o sistema que prioriza as notas dos 
alunos em detrimento do pensamento crítico. 
O que se viu a partir do Golpe ocorrido em 1964 foi uma ampla reforma de 
base no sentido de que a obra de Paulo Freire foi considerada como subversiva e 
logo proibida. Aqui, a esquerda ousou sonhar que era possível mudar o mundo e a 
realidade em que a educação ia se construindo a longos passos. 
O ideal da educação passou a ser voltado para o mercado de trabalho e 
assim o sendo, ignora os três pilares centrais que determina a Constituição Federal 
como valor principal da educação: desenvolver a pessoa, prepara-la ao exercício 
da cidadania e qualifica-la para o trabalho. 
O que se vê a partir desse ponto como falado, ecoa nos modelos atuais da 
educação. O movimento Escola Sem Partido, a própria reforma do Ensino Médio, 
levantam bandeiras reacionárias, tentam destruir a memória do Paulo Freire e sua 
contribuição para a educação, além de tentar introduzir ideias imaginários como a 
ideologia de gênero, o assombramento quanto ao comunismo, a invisibilidade de 
matérias que desenvolvem o pensamento crítico como a filosofia e a sociologia, 
tentam afirmar que a escola é um lugar de ensino e não doutrinação. 
A ignorância tende a tolher as ideias de uma educação libertadora, sem 
amarras que possibilita o aluno a alçar voos no campo do pensamento e 
conhecimento. 
Mas ao ignorar a tríplice função da educação e determinar tão somente o 
ensino voltado para o trabalho, formam-se técnicos, mas não pensadores, pessoas 
conscientes de seu papel na sociedade. É nesse ponto que se deve pensar na 
revolução na educação. Uma educação que não só quebre com padrões e 
metodologias, mas que também imprima novas filosofias do ensino, do pensar. 
 
REVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO 
 
O que se pretendefalar aqui são reflexões quanto ao que o ilustríssimo 
filósofo Paulo Freire indagou ao longo de suas obras como Pedagogia do Oprimido, 
A importância do ato de ler e outras leituras sobre o autor, visto que sua contribuição 
nesse sentido é vista dentro da Pedagogia e para as ciências educacionais como 
um forte referencial e modelo ideal de aplicação nas escolas. Por isso, reflete-se o 
que se passa a seguir. 
Quando se pensa em Educação, o barulho que fala mais alto no pensamento 
é o que já era ensinado por Freire: Educação enquanto ato de conhecimento é 
também um ato político. E por ser um ato político, incomoda aqueles que possuem 
o poder de decisão sobre a vida dos outros. 
A educação tem o condão de incomodar o ideário fascista porque a 
educação transforma. E não somente falando rasamente como uma opinião 
meramente recitada. A educação transforma, ela tem o poder de mudar porque ela 
possibilita tomar o conhecimento em mãos e com o conhecimento em mãos é 
possível direcionar todos os passos de uma pessoa. 
Não interessa então a essa construção de uma educação apartada da 
realidade que se obtenha uma educação revolucionária porque quanto mais 
informação a pessoa possui, mais possibilidades de mudar e criar para si e para o 
outro passa a existir, logo, se pode mudar toda a estrutura também do coletivo. 
E é assim que devemos pensar em uma educação que não existe fora das 
sociedades humanas. E quando se fala em sociedades humanas e a possibilidade 
de educar para revolucionar, no entanto, é possível se deparar com suas 
possibilidades principais: a primeira seria retratada em uma educação como 
reprodução de valores, especialmente conservadora. 
Como muito tempo a educação vista e já relatado aqui: a educação e as 
escolas desempenhando um papel regulador de condutas sociais, de estreitar a 
liberdade do ser, reproduzir o que é permitido. Outra possibilidade, contudo, é 
transformar a educação em uma possibilidade de mediadora para transformar a 
realidade. 
Quando o método de Paulo Freire entrou em cena, no que chamamos de 
revolução da educação, trouxe uma metodologia que o Brasil até os dias atuais não 
conseguiu compreender em sua totalidade e muito menos colocar em prática. 
Freire acredita que a educação eficaz faz o uso do próprio espaço do 
indivíduo. É a educação dentro da própria casa, no convívio com o coletivo, fazendo 
o uso do que se toca, do que se vê. É essa realidade que faz abrir as portas que 
levam primeiramente ao pensamento e assim para o conhecimento. 
Indo na contramão da educação formal, a educação freiriana tinha por fim 
alfabetizar a população brasileira que tinha menos condição de acessar uma 
educação nas escolas. Respeitando a diversidade brasileira com diferentes etnias, 
e cultura, compreende que a educação se atrela principalmente com a cultura. 
Quando falamos dessa cultura com a educação, entendemos que a cultura 
nasce com o brasileiro. Desde o berço, o ato de entregar uma chupeta porque foi 
ensinado que assim a criança fica mais calma, é um costume cultural passado de 
geração em geração. As primeiras palavras ditas por uma criança são repetições 
do que ela ouve seus pais falarem e assim essas reproduções da cultura anda lado 
a lado com a realidade da educação. 
O que se vê, o que se toca. Mas a partir daí, o letramento advindo da cultura 
deixa de ser um espaço de reproduções. Contudo, Freire já buscou introduzir que 
é necessário apartar tal ideia de espontaneidade advinda pela realidade cultural. 
Apesar de haver essa imersão em determinada cultura e conjunto de práticas, 
quando se está vivendo muito imerso a elas, não é possível introduzir reflexões 
quanto a razões de ser e agir. A condição hereditária de determinado contexto 
cultural, é reproduzido automaticamente, mas não pode ser o único norte do 
indivíduo. Mas, elas servem, contudo ao que se chama de Círculo de Cultura que 
oferece subsídios para que se fortaleça e cresça o que é palpável para o estudo, 
mas que forneça constante evolução cultural através da reflexão crítica. (FREIRE, 
1981) 
Nesse sentido, o próprio ato de alfabetização começa a ser o aprender a ler 
a palavra escrita que se aprende na cultura, e desenvolva, no ser, a própria questão 
da consciência. 
Porque o pensamento permite que seja possível alcançar a ciência e 
alcançando essa ciência é possível mudar tudo. A educação revolucionária na 
descrição de Freire incomoda porque ela permite que as pessoas, portanto, tomem 
consciência de suas realidades. Essas realidades podem ser demonstradas por 
questões de exploração e subjugação de classes dominantes. Isso é perigoso 
porque tendo consciência da realidade, a própria pessoa tem o poder em mãos de 
muda-la. 
Mas tal processo de conscientização não fica esgotado quando as pessoas 
se entendem no campo da realidade. Para que o processo de conscientização de 
fato seja válido e crível é necessário a atuação ativa dos agentes para mudar a 
realidade na qual se encontram. Ela pode, a partir daí, organizar e reorganizar a 
vida de uma nova perspectiva ou estrutura, e mudar a realidade. 
Aqui também é colocado em ótica o papel do educador, pedagogo, mas 
também do educando. Como Freire fala na educação existe o foco nas figuras do 
professor e no aluno. É claro que o professor, em tese, detentor do conhecimento, 
tem o papel fundamental no processo educativo, porém seu papel bem como o 
papel do aluno deve ser regido por uma relação ampla de dialogo em que a história 
de cada um desses agentes seja considerada. 
Ao educador, pensar e agir devem se seguir como caminhos iguais. De 
acordo com ele é a existência da ação e reflexão, o desenvolvimento desse dialogo 
do que se vive e do que se aprende, na práxis, não existe oposição entre teoria e 
prática. A atividade do homem na busca pelo saber ou conhecimento, essas duas 
atividades são vinculadas. O ensino deve se situar na realidade prática do 
indivíduo, visto que, de acordo com o autor, a práxis é resultante do histórico-social 
da pessoa, mas que não se esgota nessa realidade já que está constante 
transformação. (FREIRE, 2013) 
Retomando a questão da realidade, o processo pedagógico leva em 
consideração a realidade de cada um. O professor possui suas bagagens e 
conhecimento e o aluno suas vivências cotidianas em que uma não se sobrepõe a 
outra. O pensamento passa, a partir daí, a nascer na realidade de cada um. 
Há de se falar também na autonomia dessas duas figuras. Com autonomia, 
mas com dialogo, há a condição de aprender a próprias palavras, compreender que 
o mundo educativo vai além de um campo de simples reprodução. O educando 
passa a ser sujeito de sua própria história educativa. 
Muito comum observar na política educacional atualmente um ensino 
pautado na repetição e não conscientização do que se aprende. As escolas estão 
preparadas para distribuir o conhecimento segmentado dos conteúdos, que nem 
sempre permitem ao aluno pensar criticamente sobre o que se aprende. 
O processo de reprodução ocorre porque os alunos absorvem o que é 
indicado a eles enquanto conteúdo, estudam o que se passa, não criticam o que 
aprendem e assim se preparam para exames e provas para dar segmento no 
ensino superior, na pós-graduação. É um ensino que não transforma. 
Tal modelo já é debatido por Freire no que ele descreve como educação 
bancária. É onde o existe um modelo de estudante que é treinado para ir bem em 
nas provas, mas que, se destina a uma classe que já coloca esse aluno em uma 
posição confortável. Ele anda de mãos dadas com o sistema e apesar de que essa 
formação educacional possa ser útil a ele, ele já está inserido no sistema. 
Em contraponto a esse modelo de educação bancária ou tradicional, Freire 
(201) propõe o que chama de problematizadora, como já evidenciado aqui no 
decorrer desse trabalho. A essência humana dos alunos deve ser colocada em 
pauta para problematizaressa compreensão do que é a realidade de cada um. É 
sociabilidade fundada na práxis. 
O ato de educar revolucionário então não possui uma destinação somente 
ao aluno do sistema ou ao aluno fora dele: é para todos. É a chamada educação 
libertadora e transformadora. 
Mais do que uma metodologia, Freire buscou uma filosofia de ensino. Mais 
serve para inspirar novos sistemas de ensino e metodologias do que de fato colocar 
em prática diretamente nas escolas. 
Entramos também em um debate nesse sentido das figuras utilizadas por 
Freire que são o sectário e o radical. Se pensarmos por um lado de uma educação 
pautada no que está pronto, no que está no sistema, falamos na figura do sectário. 
O sectário é um agente que possui uma visão pronta do mundo, possui todas as 
respostas, mas que, no entanto, não dialoga com a realidade. E a pedagogia 
precisa mudar a realidade e é por isso que não dialogar com ela não faz sentido, 
não invoca sua real finalidade. 
O radical, por outro lado, trabalha com o dialogo e com a divergência. Por 
dialogo, no entanto, não se contenta com um diálogo que não agrega, que é 
passível. O dialogo serve para confrontar de fatos ideias e fazer surgir novos 
pensamentos a partir dele. O radical jamais se coloca no papel do oprimido, no 
debate estéril. Ele deve trazer novas perspectivas. É por isso que falamos que o 
ensino ou a filosofia revolucionária de Paulo Freire indica que não é um processo 
pronto. Ela também permite e possibilita a abertura para se pensar diferente. 
Quando falamos ainda sobre a revolução da educação, o próprio filósofo em 
seu texto: A importância do ato de ler coloca a seguinte afirmativa “Estudar é um 
dever revolucionário!” (FREIRE, 1989, p. 33). A revolução é invocada aqui para 
demonstrar um movimento natural do que se entende por revolução: ela só ocorre 
quando o que se propõe de maneira inicial é identificada no ponto final. Se trata de 
um movimento circular no que diz respeito de fato que a revolução da educação 
ganha a expressão de mudanças sociais aplicadas ao caráter político. 
A revolução está na reconstrução do que se propõe, na modificação, no 
embate e debate e nem sempre o que se propôs inicialmente chega da maneira 
pontual no fim, mas pode e deve chegar de maneira melhorada. 
Mas tal ato revolucionário, contudo, não ocorre partindo tão somente do 
oprimido. É aqui que se retoma mais uma vez o caráter freiriano em que não existe 
um só lado na discussão, na pedagogia e na revolução. “Ninguém liberta ninguém, 
ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE, 2013, 
p. 71). A tentativa por introduzir também os já conhecidos revolucionários e não 
tirar deles suas características principais. 
Contudo, a práxis de Freire é se colocar como oposição ao dominador. É o 
que se lê em: ‘‘A práxis revolucionária somente pode opor-se à práxis das elites 
dominadoras. E é natural que assim seja, pois são quefazeres antagônicos.’’ 
(FREIRE, 2013, p. 169) 
Mas a Pedagogia do Oprimido de Freire tenta desconstruir essa ordem social 
injusta e opressora e assim, sua contribuição se fundamenta na práxis social, no 
que se vive diariamente. Buscar essa transformação é buscar uma transformação 
crítica, sobretudo, das massas. A mudança da realidade e da consciência para que 
o sujeito se veja em sua individualidade e realidade. O homem refletir sobre o 
mundo para poder muda-lo. (FREIRE, 2013) 
Nesse sentido sua proposta trata-se de uma autentica práxis educativa. A 
transformação da mentalidade coletiva ou de massas, mas principalmente do 
oprimido possibilita a construção de uma visão mais crítica do que o cerca. Retira 
do homem esse caráter abstrato, isolado das relações e construções sociais. É o 
que retomamos a respeito do homem ser, sobretudo, introduzido como parte do 
estudo ou a realidade do aluno introduzida e induzida na reflexão do que se 
aprende. Isso é colocar em perspectiva as consciências e considerações sobre o 
mundo como um todo. 
 
“reflexão que se propõe, por ser autêntica, não é sobre este homem 
abstração, nem sobre este mundo sem homens, mas sobre os homens 
em suas relações com o mundo. Relações em que consciência e mundo 
se dão simultaneamente” (Freire, 2013, p. 98). 
 
Retomando sempre os conceitos de diálogo, o que se entender por uma 
revolução autentica aplicada no método freiriano, é fruto de uma relação existida 
na base do diálogo, da solidariedade entre os companheiros oprimidos para com 
os revolucionários. 
O protagonismo do oprimido nessa ótica é um meio de reafirmar seu ideário 
como o grande transformador da realidade. Porque, se pensamos naqueles que já 
estão dentro do sistema, tampouco eles podem mudar sua realidade ao redor, mas 
eles podem, contudo, atuar como revolucionários e ajudar nessa construção. 
Mas o pensar sempre no povo faz com que esse oprimido tenha a 
compreensão de sua realidade e necessidade de mudar as estruturas para que ele 
também não venha a se tornar um opressor. 
A base do diálogo de Freire se opera em cinco vertentes que são a base 
propriamente dita do revolucionário. Humildade porquê de acordo com ele não 
existe saber absoluto naquele que dialoga de fato (novamente lembrando o radical), 
a fé sobretudo nas pessoas, esperança que é a base da luta da libertação conjunta 
do homem, pensamento crítico que é o primeiro passo para a mudança. Por fim, e 
talvez o mais importante: amor. Revolução sem amor se endurece. 
O amor também, se pensarmos por uma forma até mesmo superficial é o 
que deve dar base para uma aplicação da educação. Na figura do professor o amor 
por ensinar, pelo contemplar o aluno com o que se aprendeu antes dele. Pelo lado 
do aluno, o amor por aprender, descobrir, pensar diferente e melhor do que antes. 
‘‘[...] Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que 
permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um 
mundo em que seja menos difícil amar’’ (FREIRE, 2013, p. 253). O amor é, 
sobretudo, revolucionário. 
Dessa forma, a fé colocada nas pessoas, por Freire é o ato mais 
representativo na filosofia freiriana. Apesar de estarmos inseridos em um sistema 
capitalista que separa, é perverso e ambicioso, o autor não deixe de acreditar que 
os ideais das pessoas levem a essa constante busca pela revolução. 
Freire acreditava que os homens sempre vão buscar sua essência, a sua 
vocação e que essa busca sempre pode refletir principalmente no conhecimento e 
reconhecimento de sua história e humanização. Isso faz com que seja possível 
acreditar em um modelo de revolução que reflita primeiro no ser humano e depois, 
principalmente, seja disseminado para os meios educativos. 
De tal maneira, é possível acreditar inclusive que, depositar fé e esperança 
nos indivíduos é também um ato revolucionário se observada com profundida a 
filosofia internalizada por Freire. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
É muito complexo tratar sobre as infinitas possibilidades da Educação no 
Brasil. Primeiro, contudo, é quebrar com um padrão que se repete por anos e anos 
que é o fato de colocar a educação como um instrumento de reprodução e 
aprovação em massa. 
A educação real, liberta. Explora o individuo e sua individualidade. 
Complementa os passos educativos com o que é tangível para a pessoa. Se eu 
não vejo, se eu não toco, eu não entendo e eu não reproduzo em sua riqueza real. 
O ato de aprender para reproduzir serve para esse sistema que está mais 
preocupado com a educação e o status que ela possibilita. Alçar um curso de nível 
superior em uma universidade de prestigio, tradicional porque seu acesso é elitista, 
é visto com bons olhos. Mas se eu afasto o ser humano justamente desse lado 
humano, que compreende a realidade do indivíduo eu terei um profissional vazio. 
O real revolucionário da educação se entende então nessa dialética. Como 
trazer o que é palpável ao estudante para o campo deaprendizado. É nesse sentido 
que aprendemos com Paulo Freire sobre a necessidade das questões do diálogo, 
da autonomia, da memória, visto que a memória nos puxa para não repetir o passo, 
nos sustenta para que pensemos no futuro e sem duvidas a utopia que instiga a ir 
em frente. 
O método freiriano, que mais do que um método é uma filosofia de todo o 
sistema educativo, é criticado principalmente nos dias atuais com a onda crescente 
do fascismo no que importa não colocar o individuo para pensar. 
É preciso haver a ruptura desde a base. É contudo, um trabalho difícil de ser 
rompido. A educação está nas mãos principalmente daqueles que detém o poder, 
e não é interessante a eles uma educação revolucionaria. O patrão não quer deixar 
de ser patrão, o opressor não quer deixar de ser opressor. 
A dívida da educação brasileira reflete aos tempos mais antigos da 
colonização, mas quando julgamos e subjugamos, marginalizamos, e expulsamos 
pensadores que querem fazer diferente como o fizerem com Paulo Freire, 
demonstramos que o Brasil não quer essa realidade de mudanças. 
O fascismo, os discursos segregatícios e discriminatórios perpetuam que 
não existe uma realidade de dialogar com o diferente. E aqui, retoma-se a ideia do 
radical que, apesar de o ser, entende que não há dialogo na opressão. Não é 
possível construir pontes que não agreguem, pontes que estão fadadas a colocar 
em seu meio um obstáculo opressor. Assim, não há educação que se discuta. A 
filosofia de Freire, contudo, desconhece o ruim do ser humano porque ela importa 
na esperança, e o fascista, o opressor, o capitalista, desconhece a esperança. 
A educação problematizadora de Freire é, portanto, um grande passo na 
mudança estrutural do que se entende por educação geral. Conceituar e instaurar 
o individuo e sua realidade no próprio espaço da educação é uma inovação 
necessária para os dias atuais. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 
São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. 
 
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1967. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 54. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
2013.

Mais conteúdos dessa disciplina