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- ÍNDICE - DRENAGEM DE TÓRAX INDICAÇÕES INDICAÇÕES DE URGÊNCIA INDICAÇÕES ELETIVAS CONTRAINDICAÇÕES RISCOS MATERIAL E QUAL É O DIÂMETRO DO DRENO DE TÓRAX? TÉCNICA COMPLICAÇÕES REMOÇÃO DO DRENO TORÁCICO DRENAGEM DE TÓRAX VIDEO_01_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 INDICAÇÕES A drenagem pleural pode ser um procedimento eletivo ou de urgência. INDICAÇÕES DE URGÊNCIA ● Pneumotórax. ● Hemotórax. ● Rotura esofagiana com derrame de conteúdo gástrico no espaço pleural. Todo pneumotórax deve ser drenado? Não! Fique atento às situações em que devemos abordar um pneumotórax: ● Em qualquer paciente em ventilação mecânica; ● Pneumotórax grande, > 1/3 do volume pulmonar; ● Pacientes clinicamente instáveis independentemente do tamanho do pneumotórax; ● Pneumotórax hipertensivo, após descompressão no 5º espaço intercostal com agulha*; ● Recorrência ou persistência; ● Pneumotórax traumático; ● Qualquer paciente antes de transporte aéreo. INDICAÇÕES ELETIVAS ● Derrame pleural exsudativo (exceto em derrame parapneumômico simples). ● Derrames pleurais de origem maligna (inclusive para o procedimento de pleurodese). ● Derrame recorrente. ● Derrame parapneumônico complicado. ● Empiema. ● Quilotórax. ● Drenagem profilática após alguns tipos de cirurgia torácica. Critérios para drenagem do líquido pleural? ● pH < 7,2. ● Glicose < 40 mg/dl. ● LDH > 1.000 UI/L. ● Presença de bactérias ou aspecto purulento CONTRAINDICAÇÕES Não existe contraindicação absoluta para a drenagem pleural. No entanto, fatores como aderências intrapleurais, coleção pleural loculada, coagulopatias, infecção cutânea sobrejacente e doença maligna da parede torácica sobrejacente são consideradas contraindicações relativas e devem ser, quando possível, corrigidas antes do procedimento. Nestes casos, a drenagem exige mais cautela e o risco de complicação é maior. Nos casos de aderências intrapleurais e coleção loculada, a drenagem pleural deve, idealmente, ser realizada sob orientação por tomografia computadorizada ou ultrassonografia. RISCOS São considerados riscos potenciais do procedimento: ● Sangramento; ● Infecção (cutânea e subcutânea); ● Empiema; ● Lesões de estruturas adjacentes: neurovascular, parênquima pulmonar, diafragmática, cardíaca, esplênica e hepática; ● Vazamento de ar persistente; ● Necessidade de toracotomia emergencial. MATERIAL Na grande maioria dos hospitais já existe uma bandeja de drenagem pleural preparada para eventuais emergências. No entanto, é necessário que você saiba com propriedade o material a ser utilizado, uma vez que é comum nas estações práticas de cirurgia solicitar que o aluno monte a bandeja. Inicialmente, vamos lembrar que a drenagem pleural é um procedimento estéril e, por isso, sempre devemos garantir a correta assepsia e antissepsia. O uso de gorro, máscara cirúrgica, capote e luvas estéreis é mandatório. Deve-se atentar para a correta da lavagem de mãos e a degermação do sítio a ser incisado. Na bandeja deverão estar presentes: campo estéril, gaze, degermante (iodopovidona ou clorexidina), anestésico local (ex.: lidocaína 2%), duas agulhas simples, uma de 25 gauge e outra de 18-22 gauge, uma seringa de 10-20 ml, cabo de bisturi e lâmina (ex.: lâmina 11), 2 pinças hemostáticas longas (ex.: Kelly), dreno de tórax, um porta-agulhas, fio de sutura 1.0 ou 0 não absorvível (Nylon® ou Prolene®), tesoura e um sistema coletor em selo d’água. VIDEO_02_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 E QUAL É O DIÂMETRO DO DRENO DE TÓRAX? TÉCNICA VIDEO_06_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 Coletor em selo d’água e dreno de tórax. A drenagem pleural deve ser realizada no centro cirúrgico, no leito da UTI ou em uma sala de procedimentos apropriada, exceto em situações de emergência em que o procedimento poderá ser realizado na sala de trauma ou onde o paciente estiver internado. O paciente pode permanecer em decúbito dorsal ou lateral, dependendo da preferência do cirurgião. O braço ipsilateral ao procedimento deve ser colocado sob a cabeça, para expor de forma adequada a parede torácica anterolateral. Antes do procedimento, você deve marcar o sítio em que será realizada a incisão. A drenagem pleural é feita sem intercorrências quando os limites do triângulo da segurança (o popular triângulo de Safety) são respeitados. Ele consiste na região delimitada pela borda anterior do latíssimo do dorso, borda inferior do peitoral maior e o centro (apex) da axila. O sítio de punção deve se localizar no 5º ou 6º espaço intercostal, entre linha axilar média e anterior. O objetivo desta localização é evitar lesões diafragmáticas, dos órgãos abdominais e do tecido mamário em mulheres. Após marcar o sítio da drenagem, proceda a escovação do local e em seguida a degermação das mãos. Depois de devidamente paramentado com o capote e luvas estéreis, fazer a antissepsia do local e colocar os campos cirúrgicos. Você deve informar ao paciente todas as etapas do procedimento, buscando sempre a cooperação. O procedimento é iniciado com a anestesia do local. Existem três pontos principais que causam dor no trajeto do dreno: a pele, o periósteo da costela e a pleura parietal. É o que chamamos anestesia dos 3 "Ps" (pele, periósteo e pleura). Com uma seringa de 10-20 ml, uma agulha de 25 gauge e anestésico local, faça um botão superficial para anestesia da pele. Em seguida, troque a agulha para uma com calibre maior (18-22 gauge), anestesie generosamente os tecidos subcutâneos e prossiga com a agulha até sentir "bater" a costela. Utilize 50% da solução anestésica no periósteo, mais especificamente, Figura 1 - Triângulo da Segurança na morda superior da costela. Mantenha sempre em mente que a aspiração da seringa deve ser realizada antes da infusão do anestésico local para evitar a infusão intravascular inadvertida. O espaço pleural é atingido quando na aspiração com a seringa for coletado ar (pneumotórax) ou líquido (derrames). Neste momento, recue um pouco a agulha e intensifique a infusão de anestésico para atingir de forma adequada a pleura parietal. Obs.: uma sugestão para a diluição do anestésico é utilizar 10 ml de lidocaína 2% e 30 ml de água para injeção para obtermos uma solução de 40 ml de lidocaína 0,5%. Para diminuir o sangramento, a combinação de lidocaína com vasoconstritor pode ser utilizada. Com o local da drenagem anestesiado, chegou momento da confecção do espaço para passagem do tubo. A incisão da pele é feita com um bisturi a 1,5 cm abaixo do espaço intercostal selecionado para a passagem do dreno. Com uma pinça Kelly, inicie uma dissecção romba em direção transversa, progredindo através do subcutâneo. Ao atingir a costela, direcione a dissecção para sua margem superior e continue o processo através do músculo intercostal até atingir a pleura parietal Para certificar-se de que o pertuito é calibroso e suficiente para passagem do tubo, você pode realizar parte da dissecção romba com seu próprio dedo indicador (FIGURA 2). (FIGURA 3). Figura 2 A pleura parietal deve ser vencida gentilmente através de uma penetração controlada com a pinça Kelly, em um sentido paralelo às costelas. A sensação é de uma queda súbita na resistência acompanhada de um "plop" sui generis! Ao atingir o espaço pleural a pinça deve ser aberta permitindo a saída de ar ou líquido. Após, use o próprio indicador para testar a perviedade do canal e alargar o orifício na pleura, além de verificar a presença de aderências antes da colocação do dreno e se necessário, removê- las. Não se esqueça de um conceito fundamental: devemos sempre buscar a borda superior da costela para evitar a lesão do feixe vasculonervoso que corre abaixo dela Com o pertuito confeccionado, finalmente chegou o momento de inserir o tubo torácico. Atenção para o seguinte: o tubo deverá ter as suas duas extremidades ocluídas por pinças Kelly! Observe como a pinça que orienta a colocação do tubo deve ser empregada Figura 3 (FIGURA 2). (FIGURA 4): O tubo será orientado para dentro da incisão com cautela. Uma vez no lugar deve-se desclampleara 1ª Kelly e auxiliar a progressão do tubo com a mão, orientando-o com o indicador até a passagem do último orifício de drenagem, o qual deve estar a uma distância segura do ponto de fixação na pele (muita atenção aqui! Todas as fenestras do dreno tubular deverão estar dentro do espaço pleural, garantindo assim, a criação de um sistema fechado). Olhe e marque com fio até onde o tubo será inserido. Para onde eu miro o tubo? Depende do que você está drenando. No caso dos derrames pleurais, o tubo deve ser orientado para baixo, em direção à base pulmonar. Já na drenagem de pneumotórax o tubo será voltado para cima, em direção ao ápice. Como a tendência do tubo a ser inserido é ir para baixo, uma manobra simples a ser realizada para mirar o ápice é a rotação de 180º com a Kelly durante a inserção. Em situações clínicas associadas ao trauma, o ATLS preconiza que o dreno seja orientado para cima (em direção ao ápice pulmonar) e para trás (posteriormente ao pulmão), independente do conteúdo a ser drenado. Observe a Figura 4 FIGURA 5. Após a inserção do dreno, precisamos testar o sistema para verificar possíveis falhas, como uma dobra no dreno. Conecte a extremidade distal do tubo no selo d'água (verifique antes se o selo contém mesmo água, qual o volume de água tem no recipiente e se ele realmente funciona!) e somente após solte a 2ª Kelly que ocluía a parte distal do tubo! A partir desse momento, você observará nitidamente a drenagem do derrame para o selo, e, no caso de pneumotórax, a formação de bolhas de ar. Se isso aconteceu, quer dizer que o sistema está funcionando. Agora que o dreno já foi posicionado e testado, você pode perceber que não há estabilidade nenhuma no conjunto e ainda há vazamento de ar/líquido pelas bordas da ferida que naturalmente é maior do que o tubo. O que fazer? Você deve executar a fixação do tubo. Com o auxílio do porta-agulhas e o fio de sutura 1.0 ou 0 não absorvível (Nylon® ou Prolene®), você deve aproximar as bordas da incisão com um ponto de pele em "U" ou Donatti, além de fixar o tubo com nós do tipo bailarina, demonstrado no vídeo abaixo. VIDEO_04_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 Figura 5 Feito isso, envolva o sítio de drenagem com algumas camadas de gaze e oclua com um curativo compressivo. VIDEO_05_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 Pronto, acabou? Não! Lembre-se de que, assim como o acesso venoso profundo, o dreno de tórax precisa ter sua localização confirmada por uma radiografia AP de tórax. O que você precisa reparar é que no tubo há um filamento radiopaco que se interrompe exatamente no último buraco de drenagem. Caso ele esteja fora do espaço pleural, a drenagem pode ser inefetiva devido ao vazamento de ar. Nessa situação, NÃO reintroduza o tubo dentro do tórax! Ele deve ser retirado e um novo inserido com repetição da técnica asséptica. Não devemos se esquecer do monitoramento do estado hemodinâmico do paciente que permite verificar a presença de sinais de alterações cardiopulmonares. VIDEO_07_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04 COMPLICAÇÕES As complicações mais relacionadas à inserção do tubo torácico são: ● Hemorragia e hemotórax (gerada pela lesão de artérias intercostais); ● Lesão de estruturas torácicas (pulmão, coração, diafragma, aorta, veia cava etc.); ● Neuralgia por lesão dos nervos intercostais; ● Enfisema subcutâneo; ● Edema pulmonar de reexpansão (nas drenagens súbitas de volumes maiores que 1.000 ml); ● Complicações infecciosas (infecção do sítio de inserção do tubo, empiema e pneumonia). REMOÇÃO DO DRENO TORÁCICO Não importa o motivo da drenagem pleural, ela sempre será um procedimento temporário. A grande maioria dos pacientes evolui para melhora dos quadros de base, mas alguns necessitam de novas intervenções para corrigir fatores precipitantes (pleurodese, pleurostomia, correção cirúrgica de laceração brônquica etc.). Nos casos que evoluem bem, quando devemos retirar o tubo? Isto dependerá basicamente da indicação inicial da drenagem pleural. No pneumotórax, o dreno poderá ser retirado quando houver a reexpansão do parênquima pulmonar. E como confirmo essa reexpansão? O funcionamento do dreno, nestes casos, é confirmado pelo borbulhamento da água no recipiente. Após a parada deste borbulho devemos realizar uma radiografia do tórax, daí, se o pulmão estiver completamente reexpandido, podemos retirar o tubo. Já nos derrames pleurais devem ser observados os seguintes fatores antes da retirada do dreno: ● Drenagem < 200 ml nas últimas 24h; ● Aspecto claro/seroso do líquido; ● Reexpansão pulmonar em radiografia de tórax; ● Melhora clínica do paciente. A presença destes quatro fatores autoriza a retirada do dreno. Como eu retiro o tubo? VIDEO_03_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_04