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FUNDAMENTOS BÁSICOS DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) FUNDAMENTOS BÁSICOS DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) BY NC ND GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO E ASSISTÊNCIA SOCIAL, FAMÍLIA E COMBATE À FOME SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO PERMANENTE Todo o conteúdo do curso Fundamentos Básicos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), da Secretaria Nacional de Assistência Social, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Governo Federal - 2023, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR QR Code No decorrer do livro aparecerão códigos como este ao lado que darão acesso a conteúdos extras. Para acessá-los, basta apontar a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o código (obs.: é necessário estar conectado à internet). https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR Siglas BPC - Benefício de Prestação Continuada CadSUAS - Cadastro do Sistema Único de Assistência Social CadÚnico - Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal Centro POP - Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CIT - Comissão Intergestores Tripartite CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social CNEAS - Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CREAS - Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social CRESS - Conselho Regional de Serviço Social DIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente ESF - Estratégia Saúde da Família IAPs - Institutos de Aposentadorias e Pensões IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IGD - Índice de Gestão Descentralizada INSS - Instituto Nacional do Seguro Social LA - Liberdade Assistida LBA - Legião Brasileira de Assistência LGBTQIAPN+ - Lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e travestis, queer, interssexo, assexuais, panssexuais, não-binário LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social NIS - Número de Identificação Social NOB/SUAS - Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB-RH/SUAS - Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social ONGs - Organizações Não Governamentais OSC - Organização da Sociedade Civil PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos PAF – Plano de Acompanhamento Individual ou Familiar PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família PBF - Programa Bolsa Família PcD – Pessoa com Deficiência PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PNAS - Política Nacional de Assistência Social PNEP - Política Nacional de Educação Permanente PSB - Proteção Social Básica PSC - Prestação de Serviços à Comunidade PSE - Proteção Social Especial RF - Responsável Familiar RMA - Registro Mensal de Atendimento SAGICAD -Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único SCFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SEAS - Serviço Especializado de Abordagem Social SGD - Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente SICON - Sistema de Condicionalidades do Programa Bolsa Família SISC - Sistema de Informações do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SIS Acessuas - Sistema de Acompanhamento do Programa de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social SUAS - Sistema Único de Assistência Social SUS - Sistema Único de Saúde Sumário MÓDULO 1 1. A política de assistência social no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.1 A relação Estado, políticas sociais, direitos sociais e assistência social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 1.2 História da assistência social no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.3 A consolidação atual da política de assistência social brasileira: bases legais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 A política de assistência social no BrasilMÓDULO 1 MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL7 Neste módulo, estudaremos as bases conceituais da política de assistência social no Brasil, com enfoque na relação da sociedade, Estado e assistência social. Sobre isso, será apresentado um apanhado histórico que nos leva desde a época em que apenas existiam conceitos como “caridade” e “filantropia” para a atual, na qual existem políticas públicas e também o SUAS. Esses são amparados por leis e pelo Estado, que serão melhor explicados por último. 1.1 A relação Estado, políticas sociais, direitos sociais e assistência social Neste curso, no qual se faz uma introdução ao Sistema Único de Assistência Social, o SUAS, entende-se que é importante explicar que sua existência se deve a uma sólida estrutura política e institucional que, ao longo das últimas décadas, se estabeleceu no Brasil. Ao SUAS cabe a gestão e a execução da política de assistência social no Brasil. A política de assistência social foi prevista na Constituição Federal de 1988. Essa inserção na Constituição é um marco, pois o Estado assumiu definitivamente, e como protagonista, a função de executar a política social nessa área, o que antes não acontecia com a mesma relevância. Constituição Brasileira. Foto: © [Appreciate] / ShutterStock. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL8 O Brasil é um Estado nacional, estruturado politicamente como uma República e organizado administrativamente entre entes: os municípios, os estados, o Distrito Federal e a União. A União se expressa no governo federal, os estados nos governos estaduais, e os municípios nos governos municipais. Colocar um sistema como o SUAS em operação no país requer definir responsabilidades entre esses entes, estabelecer fluxo de práticas, de financiamento e conexões entre os envolvidos. União, estados, municípios e Distrito Federal são responsáveis, conjuntamente, por garantir a oferta de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais na política de assistência social. Isso tudo a partir de concepções e ideias que direcionam o papel do Estado e as ações em uma área, no caso, a assistência social. SAIBA MAIS Para compreender melhor o que é o Estado, acesse o vídeo elaborado pela Escola de Governo da Câmara dos Deputados no canal Câmara Escola, disponível em: https://youtu.be/P_X1zNTTGww. A constituição prevê direitos que serão instituídos a partir da publicação de leis e normas que tratarão dos assuntos especificamente, devendo contemplar as formas como esses direitos chegarão à vida real dos cidadãos. Na assistência social, esse papel é feito por algumas legislações. Uma delas é a Lei Orgânica de Assistência Social, a LOAS (publicada pela primeira vez em 1993 e alterada em 2011). A LOAS define a assistência social daseguinte forma: “[...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.” (BRASIL, 1993, p. 1). A partir da intenção de refletir com você, cursista, o lugar ocupado pela assistência social na vida dos brasileiros, serão abordados conceitos que estão presentes na definição da assistência social como uma política social e que são relevantes também para conhecer o SUAS. No momento, foram escolhidos alguns deles para discussão. São conceitos que estão profundamente relacionados, como: Estado, política social, direitos e, considerando a política de assistência social, conceitos como proteção social, necessidades, riscos e vulnerabilidades sociais. São conceitos importantes no cenário da política social, mas também relevantes na vida cotidiana dos serviços onde atuam os profissionais da assistência social. República República se refere a estrutura política do Estado voltada aos interesses e aspirações do público, dos cidadãos. São valores republicanos: “[...] o respeito às leis, o respeito ao bem público e o sentido de responsabilidade no exercício do poder” (OLIVEIRA, 2003 p. 128). https://youtu.be/P_X1zNTTGww MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL9 O ponto de partida é que falar de políticas sociais, entre elas a assistência social, é falar da forma como o Estado desenvolve suas funções na sociedade, principalmente com o aprofundamento da democracia. O Estado tem o monopólio de certas atividades e decisões da vida em sociedade. É uma espécie de “pessoa artificial” formada por uma combinação de outros agentes. SAIBA MAIS Quando se fala em democracia, o que vem à sua mente? Assista o vídeo elaborado pela Escola de Governo da Câmara dos Deputados no canal Câmara Escola, disponível em: https://youtu.be/1sT7ZCkxolw. As políticas sociais ao longo da história se consolidaram como uma forma de reconhecer, regularizar e difundir os direitos sociais. O Estado geralmente faz esse reconhecimento no sentido de buscar uma coesão entre os diferentes interesses e conflitos que estão presentes nas relações sociais. Ao longo da história, as políticas sociais, assim como os direitos que elas vão materializar na vida dos cidadãos, podem ser entendidas como resultado de manifestações reivindicatórias. Reivindicações, lutas, manifestações não são algo necessariamente ruim ou negativo. Quando falamos de Estado democrático, o conflito e, ao mesmo tempo, o diálogo entre sujeitos com posições distintas é esperado; e dele, na interlocução com as diferentes esferas de governo, espera-se a elaboração de propostas e caminhos para a vida pública. As políticas sociais expressam um compromisso do Estado de prover a sociedade de bens públicos que são levados à condição de direito, como educação, habitação, saúde, assistência social, saneamento básico, entre outros. As políticas sociais devem representar os interesses da sociedade. Assim, existirá, por parte do Estado, um olhar e uma intervenção sobre necessidades legítimas, que representam temas de interesse comum, a fim de dar condições de cidadania à população (NETTO, 2011; BRASIL, 2013a). Cidadania A cidadania pode ser entendida como um status que garante direitos civis, políticos e sociais aos indivíduos, assim como o “direito de ter direitos” e o acesso à vida no sentido pleno. Está ligada aos princípios de igualdade e liberdade (FERREIRA; FERNANDES, 2018). https://youtu.be/1sT7ZCkxolw MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL10 SAIBA MAIS Complete o conceito de cidadania com a poesia “Os Estatutos do Homem”, do amazonense Thiago de Mello, declamada no vídeo que está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XylbBRdiRdI. Para que os direitos alcancem a vida real da população, é preciso que se expressem em garantias formais inscritas na lei. Mas, para além disso, o direito é uma espécie de linguagem que dá visibilidade a temas ou questões importantes da existência das pessoas e dos diferentes atores sociais. Por isso, o direito deve acompanhar as mudanças sociais. GESTÃO EFETIVA Nessa direção, é importante ressaltar que a conquista de direitos depende do comparecimento dos sujeitos (indivíduos ou coletivos/grupos) nos espaços de participação onde a política pode se expressar e se elevar para a formulação e gestão das políticas sociais (associações, conselhos, sindicatos, fóruns, conferências, assembleias, órgãos de representação, entre outros) (TELLES, 1999). Assim, de acordo com Pereira (2008), as políticas sociais têm duas principais funções: Concretizar direitos conquistados pela sociedade e incorporados às leis.1 Alocar e distribuir bens públicos que o Estado deve prover e garantir acesso sem que as pessoas precisem apresentar algum tipo de “mérito”. 2 As políticas sociais são formas de intervenção em diferentes áreas que têm ligação umas com as outras, como a saúde, educação, trabalho, moradia, entre outras. Para isso, o Estado busca organizar uma complexa rede de recursos envolvendo as esferas administrativas (União, estados, municípios e Distrito Federal) que vão compor um sistema de proteção social. Para isso, precisam estabelecer estratégias visando adequar recursos para as finalidades estabelecidas. Segundo Nogueira (2020), em termos de recursos para as políticas sociais e os serviços que elas vão efetivar (escolas ou unidades de saúde, por exemplo),é possível pensar em algumas dimensões: Dimensão legal: legislação, normativas, portarias etc. Dimensão organizativa: instalações físicas, regulamentos, equipamentos, material de consumo. Dimensão técnico-operativa (trabalhadores): quadro técnico- operativo e administrativo, especialistas, assessores, etc. Dimensão fiscal: recursos financeiros. https://www.youtube.com/watch?v=XylbBRdiRdI MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL11 Em síntese, um sistema de proteção social, segundo Lavinas, “[...] é formado por um conjunto diverso de políticas ou intervenções diretas ou indiretas, cujo objetivo é reduzir riscos e vulnerabilidades, com base em direitos, garantindo seguranças.” (2006, p. 254). Portanto, as políticas sociais vão estabelecer formas de proteger os cidadãos dos riscos de não ter suas necessidades atendidas e das vulnerabilidades nas diferentes fases da vida e em áreas distintas de cidadania. A partir dessa afirmação, é interessante refletir sobre alguns conceitos importantes que ela contém. O que pode ser considerada uma necessidade? Pereira (2008) defende um conceito de necessidades humanas que apoia uma reflexão sobre o papel das políticas sociais. Para ela, as necessidades são aquelas que, se não forem satisfeitas, podem provocar sérios prejuízos à vida material e à autonomia do ser humano. Nessa direção, as políticas sociais vão ser formas de intervenção do Estado em áreas que têm muita importância para a vida de forma concreta e para a participação ativa das pessoas na sociedade (saúde, habitação, assistência social, educação, entre outras). No caso da assistência social, o campo de responsabilidades do Estado está dirigido ao direito à proteção social fundado na cidadania. A noção de direito de cidadania afasta a ideia de que o Estado esteja “doando” ou “concedendo algo”. A intervenção do Estado “está fazendo jus, justiça”, direito em face de suas responsabilidades sociais com os cidadãos. Desse modo, é importante lembrar que a assistência social é marcada ao longo da história pelas ideias de “favor”, “caridade”, “ajuda”. Quando passa a ser tratada como direito, “[...] a política de assistência social torna-se pública, não por que é realizada por um órgão público ou estatal, mas por reconhecer que superar uma dada necessidade é do âmbito do dever do Estado e não uma concessão de mérito eventualface a uma fragilidade de um indivíduo.” (BRASIL, 2013a, p. 21-22). E como podemos compreender melhor as ideias de proteção social e riscos sociais? Segundo Sposati (2009), proteção se refere a impedir que ocorra uma destruição. Ela está ligada às ideias de preservar, agir antecipadamente, desenvolver ações para evitar algum malefício. Isso tudo implanta a preocupação de agir antes de situações negativas já instaladas, isto é, quando já ocorreu uma desproteção. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL12 “Uma política de proteção social contém o conjunto de direitos civilizatórios de uma sociedade e/ou o elenco das manifestações e das decisões de solidariedade de uma sociedade para com todos os seus membros. É uma política estabelecida para preservação, segurança e respeito à dignidade de todos os cidadãos.” (SPOSATI, 2009, p. 22). Nesse sentido, o foco da assistência social está relacionado à proteção social: “A proteção social de assistência social se ocupa das vitimizações, fragilidades, contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão, a cidadã e suas famílias enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida, por decorrência de imposições sociais, econômicas, políticas e de ofensas à dignidade humana.” (BRASIL, 2005a, p. 89). A proteção social em sociedades organizadas pelo capitalismo, como a nossa, ganha maior importância quando se fala dos riscos relacionados ao trabalho. O risco é uma marca do capitalismo, que tornou o trabalho assalariado central nas relações econômicas das famílias. Capitalismo O capitalismo, ou sistema capitalista, é resultado de um processo histórico. É o sistema econômico vigente no mundo todo. Sua essência está em difundir um mercado de compra e venda de bens, serviços e do próprio trabalho humano (força de trabalho), objetivando o lucro da classe dominante. O sistema capitalista é hegemônico no mundo exatamente por estabelecer influência em todos os campos das relações e da vida social. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL13 Se considerarmos as imposições econômicas, a dependência das pessoas do trabalho assalariado promove uma generalização de riscos sociais. Isso ocorre porque o trabalhador, para a sua própria sobrevivência, fica à mercê de condições sobre as quais não administra: por exemplo, o mercado de trabalho não pode garantir a todos alguma renda, nem mesmo um posto de trabalho. A informalidade no trabalho pode ser uma alternativa (ESPING-ANDERSEN, 2011). Por isso a importância de se falar em risco social. O risco social também trata das situações que, “[...] independentemente da vontade do trabalhador, impossibilitam, temporária ou definitivamente, o exercício do trabalho e obtenção da renda ali originada”. São exemplos: “acidentes de trabalho, a doença, a invalidez, o desemprego involuntário, a maternidade ou a velhice” (JACCOUD, 2018, p. 899). O sistema no qual estamos inseridos afeta a forma como vivemos. As ações do SUAS, portanto, estão ligadas às consequências do capitalismo. SAIBA MAIS Para aprofundar a compreensão sobre o capitalismo, acesse o vídeo “Capitalismo: o que é, origem e características” do canal Brasil Escola, disponível em: https://youtu.be/ Tgcirb4SD14. Riscos sociais dizem respeito a um campo de probabilidades. Ou seja, referem-se às chances de as pessoas viverem situações ou eventos que possam provocar sequelas ou danos negativos mais ou menos intensos. Por isso, os riscos precisam ser pensados. No campo da assistência social, os riscos “[...] provocam padecimentos, perdas, como privações e danos, como ofensas à integridade e à dignidade pessoal e familiar” (SPOSATI, 2009, p. 30). Estão comumente associados a proximidade ou a efetiva violação de direitos. Expressam-se na: “[...] iminência ou por episódios de violência, abandono, negligência, abuso e exploração sexual, situação de rua, trabalho infantil, ato infracional, etc.” (HILLESHEIM; CRUZ, 2016, p. 244). https://youtu.be/Tgcirb4SD14 https://youtu.be/Tgcirb4SD14 MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL14 Sposati (2009) relaciona alguns fatores importantes relacionados ao risco social no cotidiano. As manifestações dos riscos podem ocorrer a partir: Dos territórios onde as pessoas vivem e que podem, por exemplo, submetê-las a segregação espacial. Resulta, por exemplo, em ter di�culdade no acesso aos serviços públicos e à infraestrutura da cidade. Das contingências da natureza, tais como enchentes e desabamentos, que tornam as populações que vivem em áreas ribeirinhas ou em regiões sujeitas a deslizamentos bastante vulneráveis. Da desigualdade social e econômica do país, que abastece condições para que os riscos e vulnerabilidades sejam vivenciadas pelas pessoas mais vulneráveis, como as crianças, adolescentes e jovens, os idosos, pessoas com de�ciências e pessoas que não têm vínculos familiares. Dos padrões de coesão e convivência familiar, comunitária e social, que podem resultar em ausência de pertencimento, discriminação, apartação, exclusão, violências. Da raça, da etnia, do gênero, da religião, da orientação sexual. SAIBA MAIS A perspectiva de “marcadores sociais da diferença” pode apoiar a compreensão sobre riscos relacionados à raça, etnia, gênero, religião e orientação sexual. Acesse o material elaborado por Márcio Zamboni, disponível em: https:// assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/ sites/2/2018/02/ZAMBONI_MarcadoresSociais.pdf. E sobre as vulnerabilidades sociais? De forma sucinta, é possível compreender a vulnerabilidade social como a iminência de um risco. A vulnerabilidade social na área da assistência social diz respeito “[...] à precariedade no acesso à garantia de direitos e proteção social, caracterizando a ocorrência de incertezas e inseguranças e o frágil ou nulo acesso a serviços e recursos para a manutenção da vida com qualidade.” (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 7). A vulnerabilidade é uma experiência de “estar suscetível” em contextos de desigualdade e injustiça social. É a vivência de desvantagens para conseguir melhorar a qualidade de vida. Não diz respeito somente à ausência ou precariedade no acesso à renda, mas às fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e desigualdade de acesso a bens e serviços públicos. Por outro lado, segundo as autoras supracitadas, embora possam viver a experiência da vulnerabilidade, o ser humano e suas famílias também podem possuir recursos ou serem apoiados nas capacidades de mudança de suas condições de vida. https://assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/sites/2/2018/02/ZAMBONI_MarcadoresSociais.pdf https://assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/sites/2/2018/02/ZAMBONI_MarcadoresSociais.pdf https://assets-dossies-ipg-v2.nyc3.digitaloceanspaces.com/sites/2/2018/02/ZAMBONI_MarcadoresSociais.pdf MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL15 Nessa mesma direção, “Atuar com vulnerabilidades significa reduzir fragilidades e capacitar as potencialidades. Esse é o sentido educativo da proteção social, que faz parte das aquisições sociais dos serviços de proteção.” (SPOSATI, 2009, p. 35). Bronzo (2009, 174) sugere que trabalhar com vulnerabilidade é lidar com “[...] diferentes tipos de recursos que as pessoas e famílias possuem e podem mobilizar”. A autora explica que o enfrentamento das condições de vulnerabilidade tem melhor resultado quando se qualifica a estrutura de oportunidades, quando se fortalecem os recursos e se abastece a busca de autonomia e protagonismo dos indivíduos e das famílias. É importante observar que trabalhar na perspectiva da existência de vulnerabilidades requer um olhar amplo e integral da situação. “Os problemas e as soluções não podem ser vistos de forma isolada, nem contidas dentro de um único espaço (família, instituições) ou de uma área específica (saúde, habitação, educação).” (MIOTO, 2000, p. 221). No quadro abaixo, a partir da revisão anterior, são apresentadosos principais elementos para entender os riscos sociais e a vulnerabilidade social. Riscos sociais Vulnerabilidade social Probabilidade de viver situações ou eventos que possam provocar sequelas ou danos negativos mais ou menos intensos em contextos de desigualdade e injustiça social. Proximidade ou a efetiva violação de direitos. Iminência ou episódios efetivos de violência, abandono, negligência, abuso e exploração sexual, situação de rua, trabalho infantil, ato infracional, entre outros. Suscetibilidade para riscos em contextos de desigualdade e injustiça social. Vivência de desvantagens para conseguir melhorar a qualidade de vida. Ausência ou precariedade no acesso à renda, fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e desigualdade de acesso a bens e serviços públicos. Neste momento do módulo, propõe-se também falar de agentes que fazem uma interlocução importante com o Estado na hora de formular e executar as políticas sociais por meio dos serviços, programas, projetos e benefícios sociais. São agentes presentes e atuantes, cada um à sua forma, e que também fazem reivindicações ou pressões importantes e necessárias ao processo democrático na condução das políticas sociais. Optou-se por discutir de forma mais organizada sobre o lugar das famílias, do mercado e das organizações da sociedade civil. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL16 1.1.1 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais: as famílias É importante destacar que as políticas sociais em todo mundo raramente dispensam a família no campo da organização dos serviços sociais. Na Constituição Federal do Brasil, a família é considerada a base da sociedade e tem especial proteção do Estado. A Política Nacional de Assistência Social indica que família é “[...] um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivos e, ou, de solidariedade.” (BRASIL, 2005a, p. 41). Segundo Mioto (2004), a família pode ser entendida como: “[...] espaço constituído de modo contínuo, relativamente estável e não-casual. Em muitas culturas se está na presença de uma família quando subsiste um empenho real entre as diversas gerações, sobretudo quando esse empenho é orientado para a defesa das gerações futuras. Assim, podemos falar da família a partir de sua organização e relações.” (MIOTO, 2004, p. 14). Na assistência social brasileira, a família é uma das “vertentes” de proteção social, o núcleo primeiro de apoio das pessoas. A partir da centralidade da família, são concebidos e implementados os benefícios, serviços, programas e projetos da assistência social (BRASIL, 2005a). As famílias geralmente vivem uma rede de relações e de trocas entre parentes. O termo ‘rede’ aqui tem sentido de um entrelaçado de relações e de trocas nem sempre diretas ou lineares; mas também indica atividade de apoio ou proteção. Segundo Saraceno e Naldini (2003), quem estiver desprovido ou tiver essa rede de forma escassa encontra-se mais só e mesmo indefeso ante as exigências sociais e dos riscos sociais: “[...] está mais exposto aos riscos da pobreza ligados ao desemprego, ou à viuvez, ou à perda dos pais, à falta de cuidados e assistência quando doente, ou tem uma velhice difícil, ou se encontra noutras circunstâncias que exigiriam auxílio (presença de filhos pequenos, incidentes familiares, etc.).” (SARACENO; NALDINI, 2003, p. 107). MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL17 Ao longo da história, criou-se a impressão de que a família é um “canal natural” de proteção de seus membros (MIOTO, 2008). As políticas sociais comumente destinam à família certas funções e papéis fundamentais na hora de organizar o funcionamento de serviços e estabelecer critérios de acesso. Isso se verifica no SUAS, mas também tem uma presença importante em outras políticas como no Sistema Único de Saúde (SUS). Basta lembrar que a atenção primária em saúde é baseada na Estratégia Saúde da Família (ESF). PODCAST Quando se discute políticas e serviços sociais, é importante compreender que as famílias têm condições distintas de oferecer proteção aos seus membros, como abordou-se ao discutir vulnerabilidade. A maioria das famílias busca acessar bens e serviços necessários para atender suas necessidades através do trabalho e de salários, assim como de serviços e benefícios sociais públicos. Por isso, é preciso atenção quando as ações públicas acham importante se dedicar apenas às famílias que já “falharam” ou “faliram” nas suas funções básicas. Daí a importância da atenção às famílias em situação de vulnerabilidade. Conforme aumenta a vulnerabilidade, aumenta a exigência das famílias desenvolverem complexas estratégias de relações entre seus membros para sobreviverem (MIOTO, 2008, 2000; BRASIL, 2005a). As famílias, como usuárias da assistência social, podem ocupar espaços de participação social que, a partir da Constituição Federal e da LOAS, constituem a política de assistência social no Brasil. Esse tema será desenvolvido no Módulo 2. 1.1.2 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais: o mercado As respostas das famílias às necessidades de seus membros podem ocorrer pelo uso combinado de serviços públicos e privados. Nas sociedades capitalistas, privilegia-se a autonomia da economia e o acesso a determinados recursos a partir das trocas mercantis, inclusive a mão de obra ou trabalho humano. Ou seja, predomina a lógica de compra e venda de bens e serviços. Como geralmente ocorre a dinâmica de aquisição de bens e serviços no mercado? As pessoas trabalham em troca do recebimento de seu salário ou remuneração e, a partir deste, adquirem bens e serviços, como alimentação, medicamentos, seguros, habitação, vestimentas, consultas, exames etc. O salário, para essas aquisições, depende do emprego, que, por sua vez, depende de um mercado de trabalho. As pessoas geralmente se inserem no mercado de trabalho segundo o que podem oferecer em termos de educação ou formação, sua experiência e tempo que podem destinar ao trabalho, por exemplo. Em síntese, uma pessoa geralmente consegue satisfazer suas necessidades no mercado dependendo da sua renda a partir do trabalho. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL18 Vivemos em uma sociedade que tem a tendência de mercadorização. Há uma valorização do mercado na regulação das condições de vida e, muitas vezes, troca-se a valorização de ter acesso a bens ou serviços como direito público pela valorização de ter renda para consumir esses bens ou serviços ou de ter capacidade de “comprá-los”. Nessa direção, ter dinheiro no bolso para comprar é símbolo de força ou o contrário de fraqueza. Essa relação com o mercado é um dos eixos das sociedades capitalistas e recorrentemente estimulada, como quando se ouve falar do tema privatização. (FRANZONI, 2008; BRASIL, 2013a). Quando o Estado defende a privatização de serviços que representam direitos sociais, ele diminui suas funções de proteção social e vai apresentar propostas para focalizar o atendimento. O critério pode ser o de atender grupos de menor renda ou maior risco social, por exemplo. Quando o Estado focaliza suas ações e diminui o campo de atuação em uma política social, é muito provável que as famílias assumam mais funções ou a responsabilidade por dispor de mais recursos para suas necessidades. Isso pode significar mais trabalho e menor renda para as famílias, pois elas precisarão assumir mais uma função ou pagar por esse bem ou serviço. Do seu lado, o mercado pode ampliar seu campo de atuação e/ou esperar mais famílias (clientes) que o busquem para adquirir bens e serviços. Mercadorização Mercadorização é a pressão por transformar tudo em mercadoria (FRANZONI, 2008; BRASIL, 2013a). Privatização Privatização é tornar o público, privado. Movimentos de privatização tratam de mercantilizar os serviços e benefícios sociais (FRANZONI, 2008; BRASIL, 2013a). MÓDULO 1 – A POLÍTICA DEASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL19 Contudo, uma maior dependência das soluções através do mercado abastece formas de desigualdades: as famílias de renda elevada têm pouca dificuldade para adquirir bens e serviços no mercado, enquanto a imensa maioria será excluída da possibilidade de acesso ou terá um acesso irregular ou parcial (ESPING-ANDERSEN, 2011). No âmbito das políticas sociais, é interessante ter noção da importância da “desmercadorização” dos direitos. Ou seja, é a prestação de um serviço ou bem se aproximar mais da lógica do direito ou da independência de relação com o mercado. Segundo Guilhon (2018), a política de assistência social insere-se em uma perspectiva de desmercadorização: “[...] pela gratuidade dos seus benefícios e serviços e por não estar o usufruto dos seus benefícios condicionado a nenhum cálculo contratual, atuarial ou contábil. Assim, ela é gratuita e não contributiva, não tendo nenhum valor mercantil.” (GUILHON, 2018, p. 709). 1.1.3 Agentes interlocutores nas políticas e serviços sociais: organizações da sociedade civil Na LOAS está definido que a assistência social é uma política que será realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade. É entre as ações de iniciativa da sociedade que se inserem as organizações da sociedade civil. O que é uma organização da sociedade civil? “[...] é toda e qualquer instituição privada que desenvolva projetos sociais com finalidade pública, sem fins econômicos. Também denominadas entidades privadas sem fins lucrativos, elas podem ser categorizadas como associações, fundações, organizações religiosas e sociedades cooperativas.” (BRASIL, 2021f, p. 8). A LOAS especifica que irão compor a política de assistência social e o SUAS as “entidades e organizações de assistência social”, que são aquelas sem fins lucrativos que prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos pela Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos. Dessa forma, elas integram a rede de atendimento do SUAS, também chamada de “rede socioassistencial do SUAS”. A assistência social conta com uma extensa rede de unidades pertencentes às organizações da sociedade civil. Segundo Peres (2011), elas são voltadas para o interesse público, para as demandas sociais. “Embora não integrem a administração pública, mantêm gestão de recursos para o público com o objetivo de realizar o bem comum, são registradas em cartório mediante estatuto social com finalidade de atender a população usuária da Assistência Social.” (PERES, 2011, p. 100). MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL20 A participação de organizações da sociedade civil na assistência social não é nova. A diferença é que houve uma mudança no desenho das políticas públicas, de modo a admitir a parceria entre Estado e sociedade civil. Segundo Oliveira (2003), é importante estar atento a que as entidades que se dispuserem às parcerias para atuação no SUAS não desenvolvam atividades tendo como direção realizar a filantropia ou a caridade. Pelo contrário, a possibilidade da participação das parcerias na política de assistência social ocorre desde que se disponham a assumir para si e para suas atividades o caráter público da política de assistência social. As organizações da sociedade civil podem ocupar espaços de participação social que, a partir da Constituição Federal e da LOAS, passaram a constituir a política de assistência social no Brasil. Esse tema será desenvolvido nos Módulos 2 e 3. De modo geral, destaca-se que a assistência social é uma política social operacionalizada pelo Estado e possui um campo específico de ação: a proteção social não contributiva (sem estar atrelada a pagamentos ou contribuições) como direito de cidadania, tal como está previsto na Constituição Federal do Brasil (1988). Uma política de proteção social, como é a assistência social, “[...] contém o conjunto de direitos civilizatórios de uma sociedade e/ou o elenco das manifestações e das decisões de solidariedade de uma sociedade para com todos os seus membros. É uma política estabelecida para preservação, segurança e respeito à dignidade de todos os cidadãos.” (SPOSATI, 2009, p. 22). É preciso ter claro que a assistência social tem como um de seus objetivos a proteção social, como será trabalhado no Módulo 2, mas não se compromete sozinha com esse objetivo. A assistência social participa do processo de proteção social junto com as políticas de saúde e previdência social, como previsto na Constituição Federal a partir da proposta de “Seguridade Social”, como será abordado na seção 1.3. GESTÃO EFETIVA Apresenta-se, portanto, uma política que é um norte importante, mas que também é um caminho em construção (SPOSATI, 2009). Supõe conhecer e enfrentar obstáculos no percurso e também não desistir da chegada. Entre os obstáculos, é muito comum que na política de assistência social se fale de um confronto com uma cultura conservadora, baseada na filantropia, na caridade, também em práticas públicas e privadas desarticuladas e descontínuas. Essa cultura, predominante até a Constituição de 1988, ainda precisa ser enfrentada em muitos espaços que se ocupam da assistência social. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL21 Então, considerando a importância de identificar os fundamentos desses aspectos conservadores, na próxima seção, abordaremos a história da assistência social no Brasil. 1.2 História da assistência social no Brasil A história da assistência social está ligada à própria história de nosso país e ao papel que o Estado foi ocupando ao longo do tempo para promover ou não a proteção social dos seus cidadãos. Prestar assistência abrangeu um conjunto de práticas muito diferentes que se estruturaram voltadas a determinadas populações e pela necessidade de atendê-las. No Brasil, até o início do século XX, o que havia na área de assistência eram ações desenvolvidas por organizações religiosas ou de iniciativa da sociedade e benfeitores. Veja que, desse modo, quando falamos de políticas sociais, especificamente sobre a política de assistência social, estamos falando de algo recente na história. Iniciativas sem a participação de governos ou Estado já eram observadas na Europa ocidental desde os séculos XII e XIII. Os conventos e as instituições religiosas foram os primeiros locais onde as principais práticas assistenciais se desenvolveram. Por muito tempo, a Igreja foi a principal administradora da assistência na forma da caridade (CASTEL, 1998). Instituições religiosas na Europa Chegada dos europeus no Brasil Padrão de caridade instalado Caridade no Brasil A caridade está vinculada ao dogma cristão e à história da salvação, principalmente as chamadas obras de misericórdia. Ao longo da história, era comum a Igreja estabelecer exigências à comunidade cristã, que deveria provar sua devoção, ter bons costumes, cumprir compromissos, etc. (SANGLARD et al., 2015; DONZELOT, 1986). MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL22 À medida que viver em sociedade se tornou mais complexo, as formas de assistência também foram modificando-se. Na Europa, algumas condições foram importantes para essas mudanças: ■ O desenvolvimento das cidades. ■ A migração das famílias das áreas rurais para as cidades e sua concentração sem suportes ou planejamento. ■ O trabalho assalariado não se constituir uma forma garantida de prover o sustento das famílias. ■ A vida em comunidades menos coesas em termos de solidariedade. ■ Ausência de políticas de intervenção do Estado. Essas foram algumas das condições para que as práticas de assistência se especializassem e levassem, por exemplo, à organização de experiências de entrega organizada de “esmolas” e à criação de espaços como os hospitais e os orfanatos (CASTEL, 1998). Foto: © [PhotoFra] / Shutterstock. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL23Eram atendidos os que não tinham condição de trabalhar. Na época eram considerados os “[...] velhos indigentes, crianças sem pais, estropiados de todos os tipos, cegos, paralíticos, escrofulosos, idiotas [...]” (CASTEL, 1998, p. 41). E quanto aos que podiam trabalhar mas não tinham trabalho? Nos textos históricos, já no século XIV, os que eram considerados “válidos” e não trabalhavam (mesmo com ausência de trabalho), que não tinham vínculos em uma comunidade, que percorriam as comunidades em busca de um ofício e/ou praticavam a mendicância eram definidos como vagabundos. A eles cabia a repressão policial e o enclausuramento (CASTEL, 1998 apud DONZELOT, 1986). Assim, como pesquisou Castel (1998), antes de o Estado assumir funções de proteção social, já existia um campo “social- assistencial” com formas, regras e agentes importantes na sua execução. Além da Igreja, é possível falar da presença da filantropia. A filantropia se fundamenta na ideia de “fazer bem ao outro” como um princípio ético, na perspectiva de utilidade social à nação (SANGLARD, 2015). A filantropia ganha muita força no século XIX, preocupada em difundir técnicas de bem-estar e de gestão dos problemas sociais que eram crescentes. Sua força vem justamente de apoiar ou oferecer diretamente práticas de assistência baseadas em conhecimentos científicos que também se fortaleceram na mesma época. No Brasil, a filantropia conviveu e convive com as práticas de caridade. Porém, ambas não podem ser consideradas antagônicas, pois se voltavam e ainda se voltam sobre a questões semelhantes (SANGLARD, 2015). conhecimento médico epidemiologia estatística vinculada a ideais cristãos Questões como pobreza, socorro aos pobres, etc. Caridade: Filantropia: Relação entre caridade e filantropia MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL24 Assim, é possível observar que algumas das preocupações que motivaram práticas de assistência que existem há séculos se mantiveram nas políticas de assistência contemporâneas, como: ■ A necessidade de classificar e selecionar os beneficiários. ■ Estabelecer um território para desenvolver intervenções. ■ O convívio de diferentes instâncias colocando-se como responsáveis: religiosas ou laicas, públicas ou privadas, locais ou centrais em um território. ■ A busca em desenvolver técnicas especializadas (CASTEL, 1998). Mudanças importantes aconteceram nos séculos XVIII e XIX. Considerando a realidade europeia, nessa época ficou mais evidente uma relação entre as necessidades não atendidas e uma vulnerabilidade que atingia em massa a população. Essa era provocada pela relação com o trabalho, que sai das áreas rurais para se estabelecer nas cidades, nas manufaturas, depois nas indústrias. Trabalho no século XIX. Foto: © [Everett Collection] / Shutterstock. Era um trabalho precário, insalubre, inseguro, que ocupava todos os membros da família, inclusive crianças. Inicialmente, prolifera-se sem se comprometer com direitos. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL25 Assim, se antes a assistência se voltava apenas aos indigentes incapazes de trabalhar, o trabalho assalariado como principal fonte de renda nas sociedades não garantia condições de subsistência aos trabalhadores e gera uma dupla preocupação às sociedades: ■ A proliferação do número dos que não trabalham pela ausência de postos de trabalho. ■ A precariedade da situação daqueles que trabalham. A vulnerabilidade aparece suscitada pelas condições de trabalho e renda e pelo enfraquecimento das proteções tradicionais, antes organizadas principalmente nas funções das famílias e da comunidade (CASTEL, 1998). Com o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho assalariado não se constituiu como uma forma absolutamente garantida de atender as necessidades das pessoas e das famílias, embora essa fosse uma das suas principais “promessas”. O trabalho assalariado também nunca chegou a se estabelecer efetivamente como um direito, embora o Estado, o principal parceiro no assentamento do capitalismo em diferentes países, assim também “prometesse”. As intervenções do Estado vão se organizar preocupadas com o agravamento da questão social. A questão social pode ser definida como processo de pobreza atingindo grandes massas da população ao mesmo tempo que cresce o inconformismo dos “pauperizados” com suas condições de trabalho e miséria. É a manifestação, no cotidiano da vida social, das disputas entre classe burguesa e classe trabalhadora, e esta passa a exigir outros tipos de intervenção do Estado, além da caridade e repressão, para os problemas que vivencia: violência, discriminações, condições precárias de moradia, de saneamento, entre outras (NETTO, 2011; IAMAMOTO; CARVALHO, 1985). Classe Burguesa e Classe Trabalhadora A classe burguesa e a classe trabalhadora são as classes fundamentais em um sistema capitalista. A classe burguesa é a que tem a posição de dominação por ser a proprietária e controladora de meios de produção, das matérias-primas e do capital financeiro. A classe trabalhadora detém a própria força de trabalho. Ambas disputam o processo de hegemonia na vida social. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL26 O Estado se estabelece no campo da assistência para tentar neutralizar os prejuízos da “questão social”. A intervenção do Estado não ocorre inicialmente na perspectiva do direito ou de resolver a “questão social” na sua origem. Isso não poderia ser o foco, pois o Estado busca estabilizar a ordem social em favor da classe dominante. Então, a intervenção do Estado sobre o “social” se desenvolve sobre algo que era considerado uma falha moral da família, assim como ocorria nas práticas da caridade e da filantropia. Era preciso “reerguer” a família e também garantir a assistência a partir de formas diversas de intervenções “sociais” que tinham (e ainda têm) importante papel de neutralizar conflitos entre a classe trabalhadora e a classe burguesa dominante. Nessa direção, As práticas visavam atenuar a miséria, porém, mais ainda, o déficit moral das “classes inferiores” da sociedade. Os problemas sociais eram causados pela “falta de moral” nas famílias, que se tratava “de irresponsabilidade, de preguiça, de devassidão que existe em toda a miséria”. O “problema social” era “moralizado” (CASTEL, 1998; DONZELOT, 1986). Mesmo na forte presença dessas ideias, a mobilização e a organização da classe trabalhadora foram cruciais para gerar uma tensão quanto ao papel do Estado, no sentido de assumir o dever de realizar ações sociais de forma planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. Essa garantia de ação do Estado pode ser observada na Europa mais nitidamente no final do século XIX. No Brasil, as práticas de assistência foram herança da caridade religiosa voltada à ajuda ao próximo, difundida pela Igreja Católica inicialmente. A história do Brasil é marcada pela invasão colonial exploratória e pela escravidão racializada. Nessa direção, o capitalismo aqui se estruturou pela dependência dos países europeus, associado ao sistema patriarcal e ao racismo estrutural (BEHRING; BOSCHETTI, 2008; ORTEGAL, 2018). Um funcionário a passeio com sua família, J.B. Debret, 1839. Fonte: Tokdehistoria. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL27 Esses são aspectos importantes para entender a “questão social” no Brasil e suas particularidades históricas. SAIBA MAIS Para melhor compreensão sobre racismo estrutural, sugerimos o vídeo “Interfaces do Racismo: Racismo Estrutural”, elaborado por iniciativa do Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais e produzido pela Assessoria de Comunicação da Defensoria Pública da União, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=uIJGtLJmD8w. Somente nos anos 1930, o Estado brasileiro passou a se atentar e assumir alguma intervenção sobre a questão social, que emergiu com o processo de desenvolvimentodo capitalismo e da classe trabalhadora, associada à industrialização e urbanização. O descontentamento dos trabalhadores e a reclamação por participação política através de sindicatos e organizações profissionais foram fundamentais para um primeiro movimento organizado do Estado de proteger os trabalhadores. https://www.youtube.com/watch?v=uIJGtLJmD8w https://www.youtube.com/watch?v=uIJGtLJmD8w MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL28 “Neste período, são criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) na lógica do seguro social e nesta década situamos a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Salário Mínimo, a valorização da saúde do trabalhador e outras medidas de cunho social.” (YAZBEK, 2008, p. 89). Mas do que se trata essa “lógica do seguro social” que se estabeleceu como primeira forma de atuação do Estado? Segundo Teixeira (1985), o seguro social é uma forma de organizar um conjunto de benefícios e proteção à população que tenha trabalho contratado assalariado. Recebem benefícios os trabalhadores que fazem contribuições, que são obrigatórias. O financiamento é feito com base na contribuição salarial e também com a contribuição do Estado. Os IAPs eram instituições de seguro social. Foi uma proposta precursora da política de Previdência Social no país, a primeira porta que se abre no campo da política social do Estado brasileiro. Foto: © [RHJPhotos] / Shutterstock. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL29 A assistência somente para os que pertencem ao mundo do trabalho assalariado foi central no Brasil por muitas décadas. Enquanto o trabalhador assalariado urbano dispunha de alguma proteção social, os trabalhadores do campo e no mercado informal de trabalho ficavam desprotegidos por não se enquadrarem nas categorias que eram autorizadas a pertencer ao seguro social. “Para o trabalhador pobre, sem carteira assinada ou desempregado restam as obras sociais e filantrópicas que se mantêm responsáveis pela assistência e segregação dos mais pobres, com atendimento fragmentado por segmentos populacionais atendidos.” (YAZBEK, 2008, p. 90). O Estado vai abertamente incentivar a caridade e a filantropia. Em 1938, criou o Conselho Nacional de Serviço Social, já extinto, para regular essas práticas (FLEURY, 2005). Em 1942, foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Sua principal fundadora foi a primeira-dama do país na época, Darcy Vargas. Primeiro tinha a função de atender às famílias dos soldados brasileiros enviados para lutar na Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, a LBA muda e expande seu campo de atuação para a assistência em diferentes áreas, como a maternidade e a infância. Em 1969, ela foi transformada em uma fundação. Caracterizou-se como “instituição mista que administrava fundos públicos e privados advindos de contribuições estatais e do empresariado nacional” (OLIVEIRA; ALVES, 2020, p. 18). Prestava auxílios emergenciais e paliativos à miséria. Intervinha junto aos segmentos mais pobres da sociedade mobilizando a sociedade civil e o trabalho feminino (YAZBEK, 2008). A criação e a atividade da LBA, por muitos anos, mostram dois importantes elementos da condução de práticas assistenciais incentivadas pelo Estado na época, confira a seguir. Paternalismo Primeiro-damismo Assistir aos mais pobres interessava ao governo e ao líder governante, pois eles apareciam como responsáveis diretos pelo bem-estar da maioria da população. A assistência aparece como uma possibilidade de a mulher se inserir na vida pública através da �lantropia. A LBA contava com um corpo assistencial formado na maioria por mulheres e era administrada, em cada cidade, pela primeira-dama municipal. (OLIVEIRA; ALVES, 2020). As práticas de assistência, dessa forma, não se constituíam como direito de cidadania. A proteção social pública era centrada no trabalhador formal e as atividades de assistência eram campo da caridade e da filantropia. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL30 Na década de 1970, pode-se indicar que havia atividades assistenciais de origem do Estado, as quais eram realizadas por vários setores: Ministério da Saúde, do Trabalho, da Previdência e da Educação. As iniciativas ficavam no “submundo do Estado” de forma a abafar e a ocultar a própria demanda da população por assistência. Portanto, quando se admitia a assistência, ela era atrelada e submetida à política de saúde, de habitação, de educação, por exemplo. Falava-se de uma área com nomes distintos: assistência geral, assistência comunitária, desenvolvimento social, assistência social, ação social. Assim como não cabia um nome para essas ações, as pessoas que buscavam atendimento recebiam o nome de “carentes” ou “necessitados”. Não havia ainda o lugar de cidadão/cidadã usuário/usuária de uma política social. Para além disso, onde não havia direito nem cidadão, havia o lugar para receber o favor. A assistência, não sendo um lugar de garantia de direitos, era muitas vezes um lugar de favor prestado pelo governante ou seu representante a um “carente” ou “necessitado”, ou seja, um lugar de clientelismo (SPOSATI et al., 1985; BRASIL, 2013a). O clientelismo é persistente nas relações sociais no Brasil. É também importante falar de outro grande problema presente no cotidiano dos serviços públicos: o assistencialismo. Ele acontece quando ocorre o atendimento na perspectiva do favor, mas vai além: o político, o gestor, representante ou o servidor envolvido estimula o conformismo do cidadão ou da população que depende desse “favor” e são incentivados a manter essa dependência (BAROZET, 2006). Clientelismo “Clientelismo” é um fenômeno de intercâmbio entre grupos que manejam recursos. Aqui nos referimos a recursos públicos, que não poderiam ser administrados a partir de interesses individuais ou de grupos. Ele é operacionalizado por pessoas que pertencem a redes formais e duradouras (como partidos políticos) ou informais (relações de pessoas conhecidas) (BAROZET, 2006). GESTÃO EFETIVA Atualmente, entre os princípios éticos para a oferta da proteção no SUAS, está a recusa de práticas de caráter clientelista, vexatório ou com intuito de benesse ou ajuda (BRASIL, 2012a). Em 1974, foi criado o primeiro órgão federal voltado à gestão estatal direta da assistência: a Secretaria de Assistência Social. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL31 PODCAST A Secretaria de Assistência Social surgiu durante a ditadura militar e ficou subordinada ao Ministério da Previdência e Assistência Social. Essa secretaria não tinha uma operação efetiva. A LBA acabava recebendo a maior parte dos recursos para as ações sociais do governo federal. O Estado subsidiava as práticas, mas não se podia falar que assumia um dever de proteção social. Havia uma multiplicidade de programas, órgãos e entidades envolvidas que utilizavam formas distintas de prestar atendimento. A ação estatal se diluía em diversas áreas dos governos e entre diversas entidades (BRASIL, 2013a; SPOSATI et al., 1985). As ações eram fragmentadas, não havia uma proposta integrada de ações entre os entes do governo. A população era totalmente excluída das decisões dos órgãos. Resultado disso é que a assistência ficava focada em soluções paliativas e emergenciais. Além disso, as atribuições e competências dos municípios e Estados não eram definidas. Era comum que serviços semelhantes fossem prestados por diferentes órgãos, com nomes diversos. Os recursos eram destinados a ações parecidas e, dessa forma, também mal aproveitados. Esse era o cenário da assistência social na década de 1980. Acrescente-se que os gastos eram diluídos, e não havia continuidade nos investimentos públicos. Conforme emergiam pressões públicas, os recursos e as ações eram deslocadas. As fontes de financiamento e custeio eram centralizadas em nível federal. Os municípios e estados disputavam as verbasconforme tinham mais “acesso” político e competências tecnoburocráticas (SPOSATI et al., 1985). Na década de 1980, o Brasil entra no chamado movimento de redemocratização. Nessa década, os movimentos sociais se organizaram com pautas importantes sobre o acesso a direitos mínimos e básicos dos indivíduos e grupos enquanto cidadãos. Criou-se um campo de pressão direta da população sobre os governantes para encaminhar reivindicações. A demanda de assistência crescia e havia pressão popular para que o atendimento fosse garantido. A proposta de uma política nacional de assistência já vinha sendo debatida. Foram importantes no processo de reivindicação da política de assistência social: a Frente Social dos Estados e Municípios, a Associação Nacional dos Empregados da Legião Brasileira de Assistência, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), sindicatos, organizações não governamentais (ONGs) e outros. De modo geral, a desigualdade de renda e a pobreza aparecem como temas importantes na sociedade (GOHN, 2003; SPOSATI et al, 1985; SANTOS, 2015). MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL32 A trajetória dos movimentos sociais esteve inteiramente orientada para inscrever novos direitos na ordem legal e influenciar a elaboração e regulamentação de uma nova ordem constitucional. E no movimento de elaborar uma nova Constituição, um novo regimento de direitos para o Brasil, muitas mudanças ocorreram. Foi assim na saúde, com o Estado se comprometendo com um sistema de saúde de acesso universal; e foi assim com a assistência social, embora ainda não indicando um sistema único, mas reconhecendo-a pela primeira vez com um direito social no Brasil. A Constituição Federal brasileira, publicada em 1988, é conhecida como a “Constituição cidadã”. Foi um marco para estabelecer um sistema de proteção social aos brasileiros abrangendo o direito à assistência social, à saúde e à previdência social (GOHN, 2003; PAOLI; TELLES, 2000). 1.3 A consolidação atual da política de assistência social brasileira: bases legais O SUAS é um sistema que foi se consolidando a partir de uma política social que depende de instrumentos legais para sua existência e para seu aprimoramento. Nesse momento, serão apresentadas as principais referências legais do SUAS, algumas das suas contribuições para efetivação e aprimoramento desse sistema. O grande desafio dessas leis é dar organicidade ao funcionamento do sistema, garantir o cumprimento dos seus objetivos e efetivar o acesso da população aos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais de qualidade em todo o território nacional. 1.3.1 Constituição Federal do Brasil A Constituição Federal, publicada em 1988, foi um marco no estabelecimento de um sistema de proteção social aos brasileiros. Ela definiu o dever do Estado na função de planejamento de políticas sociais (art. 193). Estabeleceu um campo de atuação para o Estado chamado “Seguridade Social”. “A palavra seguridade designa, no Brasil, um sistema de proteção social composto por ações do poder público, da sociedade e pelo aparato legal-normativo que pretendem assegurar direitos de cidadania aos indivíduos.” (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 7). Mais especificamente, a Seguridade Social “[...] compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988, p. 117). Essas três políticas formam o chamado “tripé da Seguridade Social”. A Constituição vai dedicar seções específicas para cada uma das políticas. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL33 Previdência Assistência social Saúde Tripé da Seguridade Social Considerando a definição da Seguridade Social, a consolidação do SUAS é uma forma de concretizar uma “vontade” expressa na Constituição sobre a assistência social. A Constituição explicita que a assistência social é direito do cidadão, prestada a quem dela necessite, com financiamento e participação de toda a sociedade, sob coordenação estatal e descentralização político-administrativa. Quando falamos de descentralização, a autoridade sobre o sistema não é só do governo federal, mas, sim, compartilhada: na União, pelo/a ministro/a da Saúde; nos estados, pelos/as secretários/as estaduais; e, nos municípios, pelos/as secretários/as. União (ministro/a da saúde) SUAS estados (secretários/as estaduais) municípios (secretários/as municipais) Descentralização político-administrativa Nessa direção é que, depois de 1988, foram publicadas leis, políticas, normas e portarias importantes para a assistência social que aprimoram o conteúdo do texto da Constituição. Estão em vigência hoje normativas importantes sob a forma de resoluções e portarias que resultam, entre outras, na: ■ Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) ■ Política Nacional de Assistência Social (PNAS) ■ Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS) ■ Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL34 A política de assistência social precisa incorporar novos elementos à medida que vai efetivando os serviços, programas, projetos e benefícios. Por isso, essas legislações passam por adequações. Alterações nas leis também podem estar relacionadas a pressões de grupos interessados, a pressões populares, à realidade social do país, à capacidade de investimento, à vontade ou não de impulsionar a política social nessa área. Nessa mesma lógica, a Constituição também foi alterada em 2003 e 2021 no que se refere aos objetivos e diretrizes da assistência social. 1.3.2 Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) As novas leis publicadas depois da Constituição vão aprimorando e dando sentido material ao direito nela inscrito. Em 1993, foi publicada a Lei Orgânica de Assistência Social. Essa Lei foi alterada em 2011 no intuito de integrar o SUAS à LOAS pela aprovação da Lei nº 12.435/2011. A primeira versão da LOAS (1993) demorou a ser publicada porque a Constituição estava na contramão de uma tendência internacional sobre o papel do Estado no campo do social, que era justamente o de reduzir funções, embora a pobreza e a desigualdade social demandassem o contrário. Foi um movimento intenso em defesa do “enxugamento da máquina estatal”. A LOAS regulamenta a política pública de assistência social prevista na Constituição e estabelece normas e critérios para organização da assistência social no Brasil. Mesmo nesse contexto, a LOAS e a Constituição Federal inovaram em: Tornar a assistência social um direito social e um dever de Estado para com os cidadãos. Essa é a primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo. Vai exigir o atendimento de normas, gestão orientada, planejamento e participação da sociedade nas decisões, deixando de ser “aquilo que o governante quer que seja”. 1 Garantir a participação da população: em espaços organizados, a população participa das decisões e partilha o poder de arbitrar sobre a política conforme critérios pactuados, em determinados espaços, e nas distintas esferas (local/municipal, estadual e federal).3 Reforçar as diretrizes de descentralização político-administrativa para os estados, o Distrito Federal e os municípios. Descentralização signi�ca que a assistência social deve ser operacionalizada com responsabilidades combinadas e compartilhadas entre todos os entes da federação: União, estados e municípios. 2 Instituir o Benefício de Prestação Continuada, o BPC, que é a garantia de renda com pagamento mensal de um salário mínimo às pessoas com de�ciência e às pessoas idosas com mais de 65 anos que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Por isso, é muito comum que o BPC seja popularmente conhecido como o “benefícioda LOAS”. 4 MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL35 Em 2011, com o SUAS integrando plenamente a finalidade da LOAS, passam a compor os objetivos da assistência social: 1.3.3 A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) Em 1998 foi aprovada a primeira Política Nacional de Assistência Social. Ela foi pouco efetiva. Na época, havia uma espécie de concorrente: o Programa Comunidade Solidária, que iniciou em 1995 e encerrou em 2002. Analisa-se que ele, de certa forma, contrariava o que se previa para a assistência social na Constituição e na LOAS, já que priorizava formas de solidariedade social nas funções centrais da atenção à pobreza no país. A ação do Estado na assistência social naquela época ainda era considerada “tímida” (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2014). Em 2003 o SUAS finalmente começa a se materializar, na 4ª Conferência Nacional de Assistência Social (importante espaço de participação social na política de assistência social, como será abordado no Módulo 2). Na Conferência, ficou decidido que o governo se responsabilizaria por uma agenda política para a implantação do SUAS. A partir daí houve um processo intenso de discussão em todos os estados, por meio de encontros, seminários, reuniões, oficinas e palestras sobre a Política Nacional de Assistência Social, que em 2004 foi aprovada e publicada. A PNAS estabelece as bases organizacionais do SUAS. Portanto, conforme a PNAS/2004 (BRASIL, 2005a) são eixos estruturantes da política de assistência social: ■ Matricialidade sociofamiliar: significa que o SUAS se propõe a ampliar o universo de abordagem da assistência social para as famílias. As famílias são consideradas espaços privilegiados de proteção, mas que precisam também ser cuidadas e protegidas. ■ Descentralização político-administrativa e territorialização: a PNAS reitera que as três esferas de governo devem desenvolver a política na área da assistência social. Além disso, indica que a operacionalização do SUAS será na perspectiva de rede de serviços com base nos territórios onde vive a população. A proteção social: que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos. A defesa de direitos: que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. A vigilância socioassistencial: que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos e a defesa de direitos. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL36 ■ Novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil: a PNAS reforça o papel central do Estado na condução da política. Por outro lado, como já observado na seção 1.1, reconhece a importância da participação da sociedade civil, primeiro como parceira na oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social; segundo, pela atuação nos espaços de controle social. ■ Financiamento: a PNAS estabelece a previsão de fontes de financiamento, a forma de repasses para os entes envolvidos e para a rede organizada. ■ Controle social: prevê que os espaços privilegiados para efetivar o controle social sobre a política de assistência social são os conselhos e as conferências. Esse tema será abordado no Módulo 2. ■ O desafio da participação popular/cidadão usuário: os conselhos e as conferências garantem a participação da população usuária do SUAS por meio de representantes. A PNAS prevê o estabelecimento de estratégias para incentivar a participação da categoria dos usuários. ■ Política de recursos humanos: a PNAS expõe a preocupação com as novas atribuições dos gestores e o surgimento de novas “ocupações/funções” devido a implementação do SUAS (educadores, monitores, cuidadores, entre outros). Nesse contexto, aponta também a necessidade de alterações no processo de trabalho dos trabalhadores e uma política de recursos humanos. Por último, trata do estabelecimento de uma Norma Operacional Básica (NOB) para a área de Recursos Humanos no SUAS. ■ A informação, o monitoramento e a avaliação: a criação de sistemas de informação é estabelecida como área estratégica da gestão do SUAS. A proposta é incentivar a produção de informações e conhecimento para a realização do controle social e para melhorias e avanços da política de assistência social para a população usuária. 1.3.4 Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS) A Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) é instrumento legal para definir questões a respeito da operacionalização da gestão da política de assistência social. As primeiras NOBs foram publicadas em 1997 e 1998. Constituem instrumentos de regulação dos conteúdos e definições presentes na Política Nacional de Assistência Social (PNAS). A NOB/SUAS disciplina a operacionalização da gestão da política de assistência social, sob a égide de construção do SUAS, entre outros assuntos. Em 2005, foi publicada a primeira NOB no contexto do SUAS. Juntas, a PNAS e a NOB/SUAS 2005 foram as que mais impactaram nos rumos da política de assistência social no Brasil. Estabeleceram o novo modelo de organização da gestão e oferta de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais. MÓDULO 1 – A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL37 A NOB/SUAS 2005 foi substituída pela NOB/SUAS publicada em 2012. Com a NOB/SUAS 2005, introduziu-se o repasse financeiro que zelou pela garantia da oferta permanente de serviços socioassistenciais nos municípios. A NOB/SUAS 2012 substituiu a NOB/SUAS 2005 por necessidade de aprimoramento de alguns elementos de gestão do SUAS, principalmente: “novas estratégias de financiamento e gestão,consubstanciadas na instituição dos blocos definanciamento, na pactuação de prioridades e metas, valorização da informação, do monitoramento edo planejamento como ferramentas de gestão e nainstituição de um novo regime de colaboração entre osentes, por meio do apoio técnico e financeiro, orientado porprioridades e para o alcance das metas de aprimoramento do sistema.” (BRASIL, 2012a). 1.3.5 Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais Em 2009 foi publicado o documento intitulado “Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais”. A 6ª Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em 2007, havia deliberado sobre a necessidade de criar um padrão de identificação dos serviços do SUAS. Assim é que se definiu pela elaboração da Tipificação Nacional, que foi publicada a partir de uma Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social (Resolução nº 109/2009). Na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, busca-se responder o que são, para quem são, o que fazem e para que nível de alcance estão disponíveis os serviços socioassistenciais do SUAS. Os serviços socioassistenciais do SUAS são apresentados um a um, divididos entre os que são considerados de Proteção Social Básica e de Proteção Social Especial (os níveis de atenção dos serviços). Na Tipificação é possível identificar de cada serviço: nome do serviço, sua descrição (o que oferece), usuários (ou a quem se destina), seus objetivos, provisões (o que precisa para o serviço funcionar) em termos de ambiente físico, recursos materiais, recursos humanos e trabalho social essencial, condições e formas de acesso (que usuários recebe e qual a forma de encaminhamento), período de funcionamento, entre outros. A Tipificação facilita o diálogo entre todos os envolvidos na operacionalização dos serviços. Esse tema será retomado no Módulo 2. 38 Referências ALVES, J. Assistência Social. In: FERNANDES, R. M. C; HELLMANN, A. (org.). Dicionário crítico: política de assistência social no Brasil. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2016. p. 22-25. BAROZET, E. Relecturas de la noción de clientelismo: una forma diversificada de intermediación política y social. Ecuador Debate, Quito, n. 69, p. 77-101, dic. 2006. BEHRING,E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008. BIASI, L. M. F. Controle social. In: FERNANDES, R. M. C.; HELLMANN, A. (org.). Dicionário crítico: política de assistência social no Brasil. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2016. p. 65-68. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado por Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira). BRASIL. Caderno de Orientações Técnicas para o aperfeiçoamento da gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2018. 87 p. Disponível em: http://blog.mds.gov.br/redesuas/caderno-de-orientacoes- tecnicas-do-peti/. Acesso em: 19 mar. 2022. BRASIL. Capacita SUAS/PE. Atualização sobre a especificidade, interfaces e curso Proteção Social Básica no SUAS. Pernambuco, 2017a. Disponível em: https://www.sigas.pe.gov.br/ files/02012017115234-c5.recife.16.a.20.01.2017.t06.mod.2.pdf. Acesso em: 1 abr. 2022. BRASIL. CapacitaSUAS. Caderno 1. Assistência Social: Política de Direitos à Seguridade Social. Centro de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Brasília, DF: MDS, 2013a. BRASIL. Casa Civil. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. 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Acesso em: 1 abr. 2022. http://blog.mds.gov.br/redesuas/caderno-de-orientacoes-tecnicas-do-peti/ http://blog.mds.gov.br/redesuas/caderno-de-orientacoes-tecnicas-do-peti/ https://www.sigas.pe.gov.br/files/02012017115234-c5.recife.16.a.20.01.2017.t06.mod.2.pdf https://www.sigas.pe.gov.br/files/02012017115234-c5.recife.16.a.20.01.2017.t06.mod.2.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm 39 BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, DF: MDF, 2014a. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/ publicacao/assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf. Acesso em: 24 abr. 2022. BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. 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Decreto nº 7.334, de 19 de outubro de 2010. Institui o Censo do Sistema Único de Assistência Social - Censo SUAS, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2010/decreto/d7334.htm. Acesso em: 28 mar. 2022. BRASIL. Decreto nº 6.135 de 2007. Dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/decreto/d6135.htm. Acesso em: 25 abr. 2022. BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2003. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 22. mar. 2022. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 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