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ASMA BRÔNQUICA P R O F . R I C A R D O S I U F I Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Asma Brônquica 2PNEUMOLOGIA PROF. RICARDO SIUFI APRESENTAÇÃO: Estrategista, seja muito bem-vindo(a) ao Curso de Pneumologia do Estratégia MED! Meu nome é Ricardo Siufi, mais conhecido como Siufi. Com muito orgulho, atualmente sou um dos professores do time de Pneumologia do Estratégia. Assim como você, ao longo de minha carreira tive diversas dúvidas. Acredite em mim, nossa jornada é mais sinuosa do que você imagina! No período do Ensino Médio, eu, na realidade, não sabia qual seria meu destino, mas minha única certeza era de que eu exerceria uma profissão cuja principal atividade fosse o CUIDADO. Logo após me formar, prestei Nutrição, mas, em seguida, mudei minha escolha, não completei o processo seletivo e prestei Medicina. Fui aluno da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, instituição que guardo com muito carinho e orgulho, onde me graduei em 2012! Durante o internato, passei pelos mesmos dilemas que você: a escolha da especialidade e a escolha do melhor curso pré-Residência. A da especialidade foi fácil: queria Cardiologia e ponto, era uma certeza! No entanto, optei por não realizar curso pré-Residência no quinto e sexto anos. Eu tinha um foco Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Asma Brônquica 3PNEUMOLOGIA muito claro em resolver questões como forma de sedimentação da teoria conquistada ao longo dos seis anos de graduação. Foi bastante difícil, montei meu cronograma e por vezes precisei refazê-lo, recorria a alguns resumos e não tinha materiais focados nas provas. De qualquer maneira, estudei resolvendo um bom montante de questões e provas ao longo do sexto ano e, assim, fui aprovado em Clínica Médica na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e em primeiro lugar na Residência em Clínica Médica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). Tranquei minha vaga, pois fiquei o ano de 2013 no Exército Brasileiro (EB) em Brasília e, após, cursei Clínica Médica na UNICAMP (2014-2015). Durante a Residência, pensei em diversas especialidades e percebi que a verdade da Cardiologia foi transitória. Considerei Reumatologia e, ao final, prestei Pneumologia. Fui aprovado em primeiro lugar na Residência de Pneumologia na UNICAMP, onde também cursei meu mestrado. E, assim, concluí minha formação em 2018. Por quatro anos fui médico assistente da Unidade de Emergência Referenciada (UER) da UNICAMP, onde pude ver o que, de fato, o interno espera de um preceptor e quais são as dores que enfrentamos durante a reta final. Até então, eu tinha vivido a minha experiência e, nesse período, por quatro anos pude vivenciar a realidade de mais de 400 formandos. Atualmente, sou docente em Pneumologia na Faculdade São Leopoldo Mandic (SLM), em Campinas, e curso MBA (Master of Business Administration) Executivo em Gestão de Saúde no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). “Professor, mas era Nutrição, depois Cardiologia e, por fim, Pneumologia. E, agora, gestão"? É exatamente nessa reflexão que eu queria chegar para deixar alguns recados para você: 1 – A vida, assim como a Medicina, é cheia de verdades transitórias. Portanto erre, mas erre rapidamente, redirecione sua jornada e aprenda com seus erros. Essa máxima também é válida para questões! 2 – Independentemente do seu posto ou graduação, VOCÊ é um exemplo para alguém. Portanto não se subestime. 3 – Seja feliz em sua trajetória. Os desfechos podem ser muito efêmeros para serem os únicos merecedores da sua felicidade. 4 – Viva SEU sonho. A vida é muito curta para vivermos os sonhos dos outros. O melhor para o próximo pode não ser o melhor para você. Saiba que o Estratégia MED tem ciência de sua principal função: intermediar a realização do SEU SONHO. Caso tenha alguma dúvida, estou à sua disposição no Fórum, ambiente em que compartilharemos experiências e dúvidas que surgirão ao longo do caminho. Um grande abraço e bons estudos! @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed @estrategiamed https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://t.me/estrategiamed https://www.tiktok.com/@estrategiamed Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 4 PNEUMOLOGIA SUMÁRIO BATE-PAPO COM O ALUNO 7 COMO A ASMA BRÔNQUICA É COBRADA NAS PROVAS DE RESIDÊNCIA? 8 1.0 INTRODUÇÃO 9 2.0 DEFINIÇÃO 10 3.0 EPIDEMIOLOGIA 11 4.0 FISIOPATOLOGIA 11 4.1 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA E FATORES DE RISCO 14 4.2 FENÓTIPOS 17 4.3 ENDÓTIPOS 19 5.0 DIAGNÓSTICO 22 5.1 QUADRO CLÍNICO 22 5.2 LIMITAÇÃO VARIÁVEL AO FLUXO AÉREO 25 5.2.1 ESPIROMETRIA 25 5.2.2 HIPERRESPONSIVIDADE DAS VIAS RESPIRATÓRIAS (HRVR) 29 5.2.3 PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO (PFE) 30 5.3 IDENTIFICAÇÃO DE ATOPIA 31 5.4 OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 34 5.5 SITUAÇÕES ESPECIAIS 38 6.0 MANEJO 41 6.1 DETERMINAÇÃO DO CONTROLE DA ASMA 42 6.2 DETERMINAÇÃO DA GRAVIDADE DA ASMA 47 6.3 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 48 6.3.1 STEP 1 (ETAPA 1) 51 6.3.2 STEP 2 (ETAPA 2) 51 6.3.3 STEP 3 (ETAPA 3) 51 6.3.4 STEP 4 (ETAPA 4) 52 Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 5 PNEUMOLOGIA 6.3.5 STEP 5 (ETAPA 5) 52 6.4 TERAPIA FARMACOLÓGICA 55 6.4.1 FÁRMACOS CONTROLADORES 55 6.4.2 FÁRMACOS DE RESGATE 59 6.4.3 MEDICAMENTOS ADICIONAIS 59 7.0 ASMA E GESTAÇÃO – O QUE PRECISO SABER? 65 7.1 INTRODUÇÃO 65 7.2 MANEJO 65 8.0 EXACERBAÇÃO/CRISES DE ASMA 68 8.1 INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO 68 8.2 ETIOLOGIA 68 8.3 QUADRO CLÍNICO 69 8.4 EXAME FÍSICO 69 8.5 FATORES DE RISCO – ASMA FATAL 70 8.6 DIAGNÓSTICO 71 8.7 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 71 8.8 EXAMES COMPLEMENTARES 71 8.9 CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE 73 8.10 TRATAMENTO 74 8.10.1 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO 74 8.10.1.1 BRONCODILATADOR 74 8.10.1.1.1 BETA-2-AGONISTA DE CURTA AÇÃO (SABA) 75 8.10.1.1.2 ANTAGONISTA MUSCARÍNICO DE CURTA AÇÃO (SAMA) 75 8.10.1.2 CORTICOIDE SISTÊMICO 75 8.10.1.3 CORTICOIDE INALATÓRIO (CI) 76 8.10.1.4 SULFATO DE MAGNÉSIO 76 8.10.1.5 XANTINAS (AMINOFILINA E TEOFILINA) 76 8.10.1.6 ANTIBIÓTICO 76 Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 6 PNEUMOLOGIA 8.10.1.7 ADRENALINA (PARA ANAFILAXIA) 77 8.10.1.8 MONTELUCASTE 77 8.11 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO 77 8.11.1 OXIGENOTERAPIA 77 8.11.2 VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VMNI) 78 8.11.3 VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA (VMI) 78 8.12 REAVALIAÇÃO 78 8.13 QUANDO TRANSFERIR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA PARA A URGÊNCIA? 82 8.14 CRITÉRIOS DE ALTA 83 8.13 ORIENTAÇÕES DE ALTA 83 9.0 ASMA E COVID-19 85 10.0 LISTA DE QUESTÕES 86 11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87 12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 88 Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 7 PNEUMOLOGIA BATE-PAPO COM O ALUNO Estrategista, imagine que você está em uma reunião de família e que, em uma conversa com um de seus familiares, ele diz para você que está bem de saúde e com poucos sintomas da asma. Ele diz que, para ficar bem, praticamente livre da dispneia Trouxe o exemplo para ficar claro quanto é importante nos mantermos atualizados e reconhecermos o que foge do normal. Ademais, estamos falando da doença respiratória crônica mais comum no mundo, com prevalência de 1 a 18% no mundo e que, no Brasil, ainda mata mais de 2.000 pacientes ao ano! Aluno Estratégia MED, tenho um recado muito importante para você: é impossível que você se forme, dê um plantão de pronto atendimento e não atenda ao menos uma exacerbação de asma. Observe que o tema pode estar presente tanto em uma reunião familiar quanto no seu primeiro plantão depois de formado. “Mas, Siufi, e nas provas de Residência"? de base, precisa utilizar mais de um dispositivo ao mês do seu broncodilatador de curtaação. Você checa as receitas e verifica que é o salbutamol 100 μg e que ele não utiliza nenhuma outra medicação. Observe que seu familiar está se tratando exclusivamente com uma medicação que foi o pilar do tratamento da doença por aproximadamente 50 anos. No entanto, em estudos recentemente publicados, foi observado que o uso indiscriminado do broncodilatador isoladamente aumenta a mortalidade! Portanto não podemos perpetuar a reação inflamatória brônquica no seu familiar! Figura 1. Dispositivo pMDI. Fonte: Shutterstock. Figura 2. Fonte: Adaptado, Shutterstock. Estamos diante de uma das doenças mais cobradas nas provas de pneumologia e que pode estar presente em diversas outras frentes, como preventiva, pediatria, obstetrícia e cirurgia geral. Por isso eu convido você a visitar um tema de tamanha relevância dentro da pneumologia: a asma brônquica! Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 8 PNEUMOLOGIA COMO A ASMA BRÔNQUICA É COBRADA NAS PRO- VAS DE RESIDÊNCIA? Futuro Residente, revisamos diversas questões de provas de residência e percebemos um padrão de temas mais cobrados. Diferentemente de frentes como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e pneumologia intensiva, no contexto da asma brônquica as provas tendem a seguir uma previsibilidade. Se somados, os temas “diagnóstico”, “classificação de gravidade”, “tratamento de manutenção” e “exacerbação” correspondem a quase 70% de todas as questões sobre asma brônquica nas provas. Portanto já sei exatamente em que eu preciso da sua atenção total. Vamos também nos concentrar em algumas inseguranças frequentes dentro do livro que está por vir. Por isso, antes de abordar o diagnóstico e o tratamento de manutenção, vou revisitar alguns temas importantes para seguir em frente com mais clareza. Ao final do livro, trago algumas evidências sobre asma x COVID-19. Estrategista, eu tenho certeza de que, com uma boa leitura do nosso livro digital e uma atenção redobrada em nossas aulas na área do aluno, você estará preparado para responder a todas as questões acerca do tema! Avante! Figura 3. Fonte: Shutterstock. Derr am e P leu ral Pneumo in tensiv a DPOC ASM A TE P Int roduç ão à pne um o Cân ce r d e p ulm ão Int ers tic iais Misc elâ ne a Questões de Pneumologia nas provas Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 9 PNEUMOLOGIA dos últimos anos e serve de subsídio para o estudo da doença, inclusive para o tratamento de manutenção e exacerbação! Na segunda metade do nosso livro, falaremos sobre exacerbação da asma brônquica, CAPÍTULO 1.0 INTRODUÇÃO Figura 4. Fonte: Shutterstock. Estrategista, o livro que segue dispensa apresentações e motivos para estudarmos. Afinal de contas, estamos diante da doença respiratória crônica mais prevalente no mundo e a segunda mais cobrada em provas, seguindo de perto a DPOC. Observe a estatística abaixo: De maneira didática, começarei com uma breve definição e, depois, conversaremos sobre epidemiologia, fisiopatologia e, na sequência, fatores de risco. Após, entraremos em temas um pouco mais densos e que, Figura 5. Fonte: Shutterstock. Figura 6. Dispositivo pMDI + espaçador. Fonte: Shutterstock. por isso, tendem a cair mais nas provas de Residência Médica, como controle de doença e tratamento de manutenção. Vale lembrar que tudo o que for falado aqui ao longo do livro é o que há de mais robusto na literatura, e trago as últimas evidências do documento GINA (Global Initiative for Asthma), documento e quero mostrar para você onde estão os principais erros da prática clínica diária. Vou transitar também por um terreno um pouco controverso na literatura, mas sempre trazendo informações robustas para que possamos entrar em comum acordo com as principais bancas do país. Ao final do livro, trago uma página toda reservada para conversar com vocês sobre as últimas publicações acerca da COVID-19 em pacientes asmáticos. Estrategista, você sabia que, no país, apenas 12,3% dos asmáticos têm a doença bem controlada? Tenho certeza que não. Então venha comigo, que, no livro, vou apresentar a você muitas outras que é atualizado anualmente e compila as principais publicações novidades de maneira didática e com muitos recursos visuais para o seu completo aprendizado! Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 10 PNEUMOLOGIA CAPÍTULO 2.0 DEFINIÇÃO A asma é uma doença heterogênea, caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas e limitação variável ao fluxo expiratório, reversível espontaneamente ou com tratamento. Manifesta-se clinicamente por sintomas respiratórios intermitentes e recorrentes, incluindo sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse, que variam ao longo do tempo e em intensidade. A asma é uma doença inflamatória crônica definida por história de sintomas respiratórios (sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse) que variam ao longo do tempo, associados à limitação variável ao fluxo expiratório. A inflamação crônica das vias respiratórias é o mecanismo central na fisiopatologia da doença e determina os episódios de sintomas, a gravidade da doença, a presença de exacerbações e alterações estruturais a longo prazo. As variações de sintomas e limitação ao fluxo expiratório correspondem a uma resposta broncoconstritora exagerada a diversos estímulos, como exposição a alérgenos ou irritantes, exercício, atividade física, mudança de tempo e infecções respiratórias. A obstrução ao fluxo aéreo na asma é parcial ou totalmente reversível espontaneamente ou após o uso de medicações. Essa definição é baseada nas características típicas da asma, previamente à instituição do tratamento de manutenção que visa ao adequado controle da inflamação das vias aéreas e, consequentemente, dos sintomas respiratórios. Vale ressaltar, também, que a limitação variável ao fluxo aéreo pode se tornar persistente, tardiamente, com o curso da doença. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 11 PNEUMOLOGIA CAPÍTULO CAPÍTULO 3.0 EPIDEMIOLOGIA A asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais comuns mundialmente, que afeta cerca de 1 a 18% da população mundial, aproximadamente 330 milhões de pessoas, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, a mudança de estilo de vida, com a globalização e urbanização, propicia o aumento da incidência da doença, com estimativa de aumento do número de asmáticos nos próximos anos. Apesar de todos os avanços no conhecimento da fisiopatologia da doença, e da tendência temporal de redução da mortalidade por asma em todo o mundo, a doença ainda está associada à elevada morbimortalidade e causa importante sobrecarga social e pessoal, ocupando a 15ª posição entre as 25 doenças crônicas mundiais com o mais elevado índice de anos vividos com incapacidade (YLD – years lived with disability). O Brasil está entre os países com maior prevalência de sintomas de asma, com estimativa de aproximadamente 20 milhões de brasileiros vivendo com a doença. Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), a asma é responsável por mais de 100 mil internações no SUS, com um custo anual de mais de 55 milhões de reais para o sistema de saúde pública do país. Estima-se, ainda, mais de 2.000 óbitos por ano no país associados à doença, bem como incontáveis atendimentos ambulatoriais e de emergências e considerável absenteísmo e presenteísmo ao trabalho e à escola. 4.0 FISIOPATOLOGIA Apesar de ser definida e englobada como uma "única doença" – ASMA –, é uma comorbidade multifatorial e heterogênea, com resposta inflamatória, gravidade, história natural e resposta ao tratamento variáveis em diferentes pacientes. Com o entendimento aprofundado da fisiopatologia e dos mecanismos envolvidospor trás de uma apresentação clínica, a doença passou a ser definida por diferentes fenótipos e endótipos. Fenótipo é um termo da genética utilizado para descrever as características manifestas de um indivíduo (ou de uma patologia), que resultam da interação dos fatores epigenéticos com o genótipo e os fatores ambientais não herdáveis. Endótipo é definido como uma integração de um processo patológico com as características clínicas da doença. Portanto compreende um subtipo de uma determinada alteração, definido por um mecanismo funcional ou fisiopatológico distinto. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 12 PNEUMOLOGIA INFLAMAÇÃO DAS VIAS AÉREAS Redução do calibre das vias aéreas Hiperresponsividade brônquica Remodelamento da via aérea Apesar de diferentes vias fisiopatogênicas, a alteração elementar da asma é a inflamação das vias aéreas, caracterizada pela presença de células inflamatórias e seus produtos (eosinófilos, basófilos, mastócitos, linfócitos, macrófagos, neutrófilos e citocinas) na submucosa das vias respiratórias, que desencadeia uma resposta broncoconstritora exagerada a estímulos normalmente não nocivos, determinando os episódios de sintomas da doença, reversíveis espontaneamente ou com tratamento (Figura 8). Figura 8. Esquema fisiopatológico da asma brônquica. Entre as células brônquicas envolvidas na patogenia da asma, destacam-se as células epiteliais, as musculares lisas, as endoteliais, os fibroblastos, os miofibroblastos e os nervos. O estreitamento brônquico é resultante não só da contração do músculo liso, mas, também, do edema da mucosa e da hipersecreção de muco (Figura 9). Apesar de ser a mais frequente, a inflamação da asma não é exclusivamente eosinofílica, podendo ser, predominantemente, neutrofílica, mista ou paucigranulocítica. REDUÇÃO DO CALIBRE BRÔNQUICO Contração do músculo liso Edema de mucosa Hipersecreção de muco Figura 9. Esquema fisiopatológico da asma brônquica. A inflamação crônica das vias respiratórias é, direta ou indiretamente (por meio do remodelamento), responsável pelos sintomas, pelas anormalidades fisiológicas (limitação variável ao fluxo de ar e hiperreatividade das vias aéreas), pela gravidade da doença e pela ocorrência de riscos futuros em sua história natural. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 13 PNEUMOLOGIA Figura SEQ Figura \* ARABIC 10. Representação esquemática da pequena via aérea de paciente com asma brônquica. Por sua vez, a persistência do processo inflamatório não controlado, resultando em ciclo vicioso de agressão e reparo, pode desencadear o remodelamento das vias respiratórias (irreversível) com depósito intersticial de colágeno na membrana basal, determinando a persistência de anormalidades clínicas e funcionais, como sintomas, limitação ao fluxo de ar e broncoconstrição, mesmo na ausência de gatilho desencadeador. Outras alterações estão envolvidas na irreversibilidade da obstrução e incluem hipertrofia e hiperplasia de músculo liso, hiperplasia de células caliciformes e hipertrofia das glândulas submucosas. SAIBA MAIS: asma fatal: qual é o mecanismo fisiopatológico envolvido no desfecho fatal da doença? Ao contrário da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a asma não causa, normalmente, destruição do parênquima e alvéolos pulmonares, como é visto no enfisema. O paciente vítima de uma exacerbação fatal de asma apresenta como mecanismo desencadeador do óbito a hipoxemia grave e refratária, resultante da presença de tampões de muco nas vias aéreas que impedem o fluxo de ar, compostos, principalmente, de eosinófilos e células epiteliais mucosas descamadas em grande número. Mas não é comum a presença de lesões destrutivas do parênquima pulmonar. Figura 11. Fonte: Adaptado, Shutterstock. Os elementos característicos vistos na necropsia desses pacientes incluem os cristais de Charcot-Leyden (coalescência de grânulos eosinófilos livres), corpúsculos de Creola (aglomerados de células epiteliais mucosas) e espirais de Curschmann (moldes bronquiolares de muco). Ocorre ainda edema de mucosa e submucosa, com presença de infiltrado inflamatório local (Figura 11). Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 14 PNEUMOLOGIA 4.1 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA E FATORES DE RISCO Figura 13. Fonte: Adaptado, Shutterstock. A asma é uma doença de apresentação mais comum em crianças e adultos jovens, porém o início dos sintomas pode ocorrer em qualquer década da vida, não sendo infrequente o surgimento dos sintomas na vida adulta, caracterizando a asma de início tardio. Diferentes fatores de risco e interações ambientais são fundamentais para a sua manifestação e estão resumidos na Tabela 1. A asma de início na infância ou adolescência está associada a fatores de risco como gênero feminino, predisposição genética, história familiar, atopia, rinite, eczema, urbanização, infecções virais na infância, medicamentos, Figura 12. Fonte: Adaptado, Shutterstock. Figura 14. Fonte: Adaptado, Shutterstock. dieta e tabagismo materno. Entretanto, lactentes e crianças pré- escolares com sibilância recorrente apresentam evoluções variadas, não sendo possível predizer com segurança quais desses pacientes persistirão com sintomas e quais entrarão em remissão de doença. Fator de risco para asma Fator genético/hereditariedade Exposição fetal a alérgenos ou mediadores maternos Fenótipo predisponente ("bebê chiador”, presença de atopia, dermatite atópica) Status alimentar – ausência de amamentação exclusiva Redução do calibre da via aérea (por exposição ambiental, como tabagismo) Estrutura familiar (“teoria da higiene” e desenvolvimento de resposta imune) Baixo nível socioeconômico Uso crônico de antibióticos/infecções respiratórias Atopia/sensibilização/nível sérico de IgE elevado Exposição ambiental ao tabagismo na infância Sexo e idade (masculino na infância e feminino a partir da adolescência) Asma ocupacional (exposição ambiental/ocupacional) Tabagismo e uso de drogas inalatórias Poluição ambiental Obesidade Tabela 1. Adaptado de UpToDate. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 15 PNEUMOLOGIA Outro ponto importante a ressaltar é que, mesmo conhecendo os fatores de risco para a persistência de hiperresponsividade brônquica, a prevenção primária (controle de fatores ambientais) ou a prevenção secundária (uso de corticoides inalatórios) não se mostraram capazes de modificar a progressão da doença a longo prazo na infância. As principais características utilizadas para prever se a sibilância recorrente na criança persistirá na vida adulta são: - diagnóstico de eczema nos três primeiros anos de vida; - pai ou mãe com asma; - diagnóstico de rinite nos três primeiros anos de vida; - presença de sibilância mesmo na ausência de infecção viral; e - eosinofilia sanguínea > 3% (na ausência de parasitoses). Por sua vez, mesmo que na ausência de manifestação prévia, o surgimento dos sintomas na idade adulta está associado a uma interação complexa de fatores genéticos e ambientais, como exposições na infância (tabagismo passivo, infecções respiratórias, principalmente virais), obesidade, depressão, baixos níveis de função pulmonar (ou desenvolvimento pulmonar) e fatores ambientais e ocupacionais/laborais. Os fatores que influenciam a asma podem ser divididos em: 1. Fatores associados ao desenvolvimento da asma (ligados ao hospedeiro): • predisposição genética (genes ligados à atopia e HRVR); • idade (na infância mais comum em homens; persistência ou início na vida adulta mais comum em mul- heres); • obesidade. 2. Fatores que desencadeiam os sintomas (gatilhos, ligados ao ambiente): alérgenos; • sensibilizantes ocupacionais; • fumaça de cigarro; • poluição ambiental; • alimentos e medicamentos. Estratégia MED Prof. RicardoSiufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 16 PNEUMOLOGIA CAI NA PROVA (ENARE - 2021) Sobre a definição de asma, é correto afirmar que: A) é uma doença de base exclusivamente genética, caracterizada por espessamento brônquico. B) a inflamação das vias aéreas está presente apenas no momento da exacerbação, quando há produção de muco espesso, como consequência. C) é definida pela história de sintomas respiratórios, tais como produção crônica de muco, tosse isolada, dispneia associada à tontura e dor torácica. D) a limitação variável do fluxo aéreo está ausente nos quadros de asma intermitente. E) os sintomas variam em tempo e intensidade, podendo o paciente permanecer assintomático por longos períodos. COMENTÁRIO: Estrategista, questão conceitual acerca da definição da asma brônquica. Atualmente, de acordo com o documento GINA, asma é definida como uma doença heterogênea, caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas, associada à presença de histórico de sintomas respiratórios tais como sibilância, dispneia, opressão torácica e tosse que varia ao longo do tempo e em intensidade, também com variação da limitação ao fluxo expiratório. A limitação ao fluxo aéreo pode, tardiamente, se tornar persistente. Vamos avaliar as alternativas. Incorreta a alternativa A. A doença tem característica genética. Entretanto, não é exclusivamente genética, e é caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas. Incorreta a alternativa B. A inflamação é persistente, sobretudo em pacientes com tratamento inadequado, não apenas no momento da exacerbação. Incorreta a alternativa C. Os sintomas clássicos da asma brônquica são sibilância, dispneia, opressão torácica e tosse que varia ao longo do tempo e em intensidade, também com variação da limitação ao fluxo expiratório. A tontura e produção crônica de muco são diagnósticos diferenciais de diversas doenças respiratórias e não respiratórias. Incorreta a alternativa D. A gravidade da asma não prediz a presença ou ausência de limitação variável ao fluxo aéreo. O que sabemos é que pacientes portadores da doença de longa data ou de um polo inflamatório neutrofílico podem cursar com ausência da limitação variável ao fluxo aéreo. Correta a alternativa E. A alternativa está de acordo com os dizeres do documento GINA, que definem a doença. (UNIRV – GO – 2019) Dentre as condições abaixo, qual não é fator de risco para asma? A) Obesidade. B) Predisposição genética. C) Atopia. D) Ar frio. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 17 PNEUMOLOGIA Fenótipos da asma Asma alérgica - Fenótipo mais frequente e mais facilmente reconhecido. - Início geralmente na infância com história pessoal ou familiar de rinite alérgica, eczema e alergia a alimentos/medicações. - O exame do escarro induzido revela frequentemente uma predominância de eosinófilos. - Os pacientes costumam responder bem aos corticosteroides inalatórios (CIs). Asma não alérgica - Não apresenta estigma de atopia. - O exame de escarro induzido pode ser neutrofílico, eosinofílico ou conter apenas algumas células inflamatórias. - Os pacientes frequentemente têm menor resposta aos CIs. Asma de início tardio - Asma de início na vida adulta, mais comum em mulheres. - Geralmente sem sinais de atopia. - Os pacientes frequentemente requerem doses mais elevadas de CIs ou são relativamente refratários a eles. Asma com limitação fixa ao fluxo aéreo - Pacientes com doença de longa duração, com provável remodelamento da parede das vias aéreas. - Frequentemente apresentam baixa resposta aos CIs. Asma e obesidade - Pacientes obesos com sintomas respiratórios proeminentes. - Apresentam pouco sinal de inflamação eosinofílica. - Os pacientes frequentemente têm menor resposta aos CIs. Tabela 2. Fenótipos da asma. Adaptado de Global Initiative for Asthma (GINA), COMENTÁRIO: Futuro Residente, muita calma nessa hora! Observe que a banca quer saber, entre as opções acima, qual não é um fator de risco para asma, não um gatilho para crises, como veremos na sequência. Incorreta a alternativa A. A obesidade é um fator de risco bem estabelecido para a doença. Incorreta a alternativa B. Filhos de pais asmáticos (ambos) apresentam uma chance de 70% de serem asmáticos também. Quando apenas um dos pais é asmático, os filhos apresentam uma chance aproximada de 30% de serem asmáticos. Incorreta a alternativa C. A atopia, sensibilização e IgE aumentada são fatores de risco importantes para o desenvolvimento da asma. Correta a alternativa D. Muito embora o ar frio possa ser um gatilho importante e bem reconhecido da asma, como algumas outras variações sazonais, ele não é um fator de risco para a doença em si. 4.2 FENÓTIPOS Um fenótipo de uma doença descreve as características comuns clinicamente observáveis, sem que haja, necessariamente, uma relação direta com a fisiopatologia subjacente. A classificação em fenótipos tem como objetivo facilitar o entendimento das manifestações clínicas, do desencadeamento de crises, dos gatilhos e da resposta ao tratamento. Os principais fenótipos trazidos pelo documento GINA e suas principais características estão resumidos na Tabela 2. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 18 PNEUMOLOGIA Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 19 PNEUMOLOGIA Estrategista, veja como o assunto pode ser cobrado pelas bancas: CAI NA PROVA (HOA – GO – 2020) São relativamente refratários ao tratamento com corticoides os indivíduos com: A) Asma de início tardio. B) Asma não alérgica. C) Asma com limitação fixa do fluxo aéreo. D) Asma com obesidade. COMENTÁRIO: De acordo com o estudo dos fenótipos, sabemos que pacientes que apresentam asma de início tardio tendem a ser de um espectro não eosinofílico, por isso frequentemente requerem doses mais elevadas de CI ou eventualmente são refratários aos fármacos dessa classe farmacológica. No entanto, a questão gera dúvidas e merece discussão. Vamos, juntos, avaliar as alternativas: Correta a alternativa A. As asmas de início tardio são, em sua maioria, neutrofílicas, por isso tendem a ter menor corticorresponsividade e, em alguns casos, refratariedade. Incorreta a alternativa B. A alternativa é duvidosa, e sabemos que asma não alérgica frequentemente tem menor resposta ao corticoide inalatório. Incorreta a alternativa C. Mais uma alternativa duvidosa; no entanto, apenas a asma de início tardio apresenta refratariedade aos CIs. As demais apresentam menor resposta. Incorreta a alternativa D. Conforme enfatizado em nossa tabela sobre os fenótipos da asma, a asma com obesidade apresenta menor resposta aos CIs, mas, segundo o documento GINA, entre os fenótipos apresentados, apenas a asma de início tardio cursa com refratariedade aos CIs. 4.3 ENDÓTIPOS Diferentemente dos fenótipos, os endótipos agrupam características fisiopatológicas consistentes, como vias metabólicas, inflamatórias, imunológicas e de remodelação envolvidas na patogênese da doença. Os principais endótipos da asma brônquica estão resumidos na Tabela 3, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 20 PNEUMOLOGIA Endótipos da asma Inflamação Th2 alta - Geralmente apresentam asma de início precoce, mais grave, associada à atopia/IgE e à eosinofilia nas vias aéreas e sistêmica. Costumam ter responsividade aos corticoides e às drogas que inibem a inflamação T2. Inflamação Th2 baixa - Geralmente apresentam asma de início tardio, com ausência de eosinofilia nas vias aéreas e sistêmica. Responsividade diminuída aos corticoides. Não respondem às drogas que inibem a inflamação T2. Tabela 3. Adaptado de Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. ATENÇÃO! O principal aspecto em estudo, atualmente, para a compreensão da fisiopatologia da asma consiste em associar os fenótiposaos endótipos mais prevalentes, incluindo a asma alérgica e não alérgica na presença de resposta eosinofílica, além da asma neutrofílica, ainda pouco entendida. Duas vias distintas, alérgica e não alérgica (fenótipos), resultam em inflamação eosinofílica (endótipo) das vias respiratórias na asma. ASMA EOSINOFÍLICA ALÉRGICA --> resposta Th2 secundária à apresentação de alérgenos pelas células dendríticas --> produção de IgE --> mediadores inflamatórios (histamina, heparina, serotonina) --> eosinofilia tissular, hiperplasia dos mastócitos, produção de muco pelas células caliciformes e hiperresponsividade das vias respiratórias. ASMA EOSINOFÍLICA NÃO ALÉRGICA --> liberação de citocinas após exposição a poluentes atmosféricos, vírus, bactérias e glicolipídios, independentemente de antígenos --> eosinofilia, hipersecreção de muco e hiperresponsividade das vias respiratórias. A HRVR (resposta broncoconstritora exagerada a diversos estímulos, como exercício, ar frio seco, alergênicos, metacolina, histamina etc.) é o mecanismo responsável pela broncoconstrição variável e, consequentemente, pelos sintomas da asma. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 21 PNEUMOLOGIA CAI NA PROVA (HFA – DF – 2020) A asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas, com prevalência estimada no Brasil de 4,5 a 8,5%. No que diz respeito à fisiopatologia da asma, julgue o item a seguir. A inflamação do tipo Th1 é predominante na asma alérgica. (HFA – DF – 2020) A asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas, com prevalência estimada no Brasil de 4,5 a 8,5%. No que diz respeito à fisiopatologia da asma, julgue o item a seguir. A exposição a alérgenos e microrganismos pode precipitar a inflamação da submucosa e a hiperirritabilidade da musculatura lisa das vias aéreas. A) Certo B) Errado COMENTÁRIO: Correta a alternativa B: Estrategista, sabemos que a asma alérgica é o fenótipo mais comum e mais facilmente reconhecido e que a história e o exame físico podem nos dar alguns preditores de que talvez a asma seja alérgica, tais como início na infância e associação a antecedentes familiares de doença alérgica. A resposta inflamatória na asma tem algumas características citadas anteriormente e que merecem destaque – incluem infiltração eosinofílica, degranulação de mastócitos, lesão intersticial da parede da via aérea e ativação de linfócitos Th2 que produzem citocinas (IL-4 e IL-5), que são responsáveis pelo início e pela manutenção do processo inflamatório. Por isso, a afirmativa está incorreta. A) Certo B) Errado COMENTÁRIO: Correta a alternativa A: entre os fatores que desencadeiam sintomas, os alérgenos e microrganismos estão entre os principais e, nesse contexto, podem desencadear a fisiopatologia da asma, com edema de mucosa e submucosa, contração da musculatura lisa das vias aéreas e hipersecreção de muco. Portanto a afirmativa é considerada correta. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 22 PNEUMOLOGIA (HFA – DF – 2020) A asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas, com prevalência estimada no Brasil de 4,5 a 8,5%. No que diz respeito à fisiopatologia da asma, julgue o item a seguir. Nos pacientes com asma, os níveis séricos de IgE estão frequentemente aumentados, sugerindo ativação crônica da imunidade humoral. A) Certo B) Errado COMENTÁRIO: Correta a alternativa A: a asma alérgica é o fenótipo mais comum e, no contexto da inflamação Th2 alta, os pacientes geralmente apresentam atopia, aumento de IgE com inflamação predominantemente eosinofílica. Portanto a afirmativa é considerada correta. CAPÍTULO 5.0 DIAGNÓSTICO Caro Estrategista, muita atenção neste conceito! O diagnóstico de asma deve ser baseado na presença de sinais e sintomas compatíveis com a doença, incluindo a variação clínica, e, sempre que possível, nas provas de função pulmonar e avaliação de componente de alergia. Figura 15. Fonte: Shutterstock. Portanto, para pacientes com história clínica compatível (sintomas e evolução característicos, com identificação de fatores desencadeantes), o médico está autorizado a iniciar o tratamento específico. Os testes funcionais ficam reservados para os casos em que há dúvida diagnóstica, com a identificação do distúrbio obstrutivo e sua reversibilidade. Entretanto, os testes funcionais apresentam outros benefícios além da confirmação diagnóstica, como a avaliação da gravidade da limitação ao fluxo aéreo, sua reversibilidade e variabilidade e a monitorização do curso da doença, devendo ser realizados sempre que possível. ATENÇÃO! Apesar de ser a principal forma de definir e comprovar obstrução variável ao fluxo expiratório, a prova de função pulmonar (ou espirometria) NÃO É OBRIGATÓRIA PARA O DIAGNÓSTICO DE ASMA! 5.1 QUADRO CLÍNICO A asma manifesta-se, classicamente, com episódios recorrentes de sibilância, dispneia, opressão torácica e tosse, principalmente no período noturno ou pela manhã, ao despertar. Não se pode esquecer de que a maioria dos pacientes asmáticos tem outras manifestações de atopias, sobretudo rinite alérgica. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 23 PNEUMOLOGIA Figura 15. Fonte: Shutterstock. Os sintomas são caracteristicamente episódicos, sendo sua gravidade variável ao longo do dia e do tempo (semanas, meses, anos), e incluem, principalmente, dispneia, sibilos, tosse, expectoração e opressão ou desconforto torácico retroesternal. Na investigação da doença, deve-se caracterizar a frequência, a intensidade e o horário de surgimento dos sintomas (diário, semanal, noturno provocando despertar, matinal, aos exercícios etc.). É importante caracterizar, também, fatores precipitantes ou agravantes, uso de medicações para alívio dos sintomas, medicações de controle da doença, tratamentos anteriores (eficazes e ineficazes), exacerbações prévias e tratamentos requisitados, presença de comorbidades e história familiar. ATENÇÃO! Alguns pacientes podem se apresentar apenas com tosse, que predomina no período noturno, podendo ficar assintomáticos durante o dia, constituindo a forma clínica conhecida como “tosse variante da asma”. Para o correto diagnóstico desta patologia, é preciso documentar a variabilidade da função pulmonar ou a hiperresponsividade das vias aéreas. * Para mais detalhes, leia sobre o tema no livro "Introdução à Pneumologia", capítulo de "tosse". Caro Estrategista, um marco importante da asma é a melhora dos sintomas, espontaneamente ou pelo uso de medicações específicas (broncodilatadores e/ou corticoides inalatórios ou sistêmicos). Além disso, durante o período intercrise, o paciente geralmente permanece assintomático ou oligossintomático, embora, nas formas graves e/ou prolongadas da doença, os sintomas possam ser contínuos. A anamnese do paciente com asma deve ser minuciosa e incluir os seguintes itens: • sintomas respiratórios (características, frequência, intensidade, periodicidade etc.); • fatores precipitantes ou agravantes (exposição a alérgenos ambientais e/ou ocupacionais, infecções respiratórias, irritantes específicos, tabagismo, atividades e exercícios físicos, medicamentos, emoções e situações de estresse, mudança climática etc.); • fatores de alívio (medicações de resgate, com dose e frequência, curso de corticoides sistêmicos e tratamentos anteriores); • comorbidades (rinite alérgica, rinossinusopatia crônica, eczema, doença do refluxo gastresofágico – DRGE, obesidade, depressão, tabagismo); • medicações em uso atual e alergias medicamentosas; • história familiar de asma, alergias, rinite, pólipos nasais, eczema. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 24 PNEUMOLOGIA Os principais fatores desencadeantes de sintomas (gatilhos): • alérgenos ambientais ou ocupacionais: pólens,fungos, ácaros, pelos de animais, fibras de tecidos; • exposição a irritantes: fumo, poluição do ar, aerossóis; • drogas: aspirina, anti-inflamatórios não hormonais, betabloqueadores; • alterações climáticas, exposição ao ar frio, alterações emocionais e exercícios. O exame físico do paciente asmático geralmente é inespecífico. A presença, ou não, de alterações ao exame físico está diretamente relacionada à presença de obstrução ao fluxo aéreo – período intercrise, assintomático, ou períodos sintomáticos ou de exacerbações. O principal achado ao exame físico são os sibilos, que variam conforme a gravidade da obstrução, inicialmente audíveis somente na expiração forçada, posteriormente, na expiração não forçada, e, por fim, nos pacientes mais graves, podem ser audíveis na inspiração e na expiração. VAMOS RELEMBRAR – TRECHO RETIRADO DO LIVRO DE SEMIOLOGIA RESPIRATÓRIA! - Sibilos: sons agudos de alta frequência, com qualidade sussurrante. Resultante da reabertura de vias aéreas distais, previamente ocluídas, quando são atingidas por fluxo aéreo em alta velocidade. Ocorrem na inspiração e na expiração e podem ser difusos ou localizados. Por ocorrerem na inspiração e expiração, são classificados como sons pulmonares contínuos. ATENÇÃO, ESTRATEGISTA! Uma das maiores "pegadinhas de prova" costuma ser o achado de TÓRAX SILENCIOSO! Em obstruções extremas, denominadas "quase fatais", os sibilos desaparecem em conjunto com o som vesicular, caracterizando o silêncio respiratório, geralmente acompanhado de outros sinais de gravidade, como uso de musculatura acessória, confusão mental ou sonolência. Outras alterações ao exame físico incluem taquipneia, prolongamento do tempo expiratório e presença de tiragens, conforme a gravidade da apresentação, tema que será discutido quando falarmos em exacerbações. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 25 PNEUMOLOGIA 5.2 LIMITAÇÃO VARIÁVEL AO FLUXO AÉREO Como já sabemos, a asma caracteriza-se por presença de limitação variável ao fluxo expiratório, parcial ou totalmente reversível. Entretanto, o que muitos não sabem é que a espirometria não é a única forma de documentar tal limitação, apesar de essa ser a forma mais conhecida e difundida. Outro ponto importante, que sempre é cobrado nas provas, é que, assim como os sintomas, a obstrução ao fluxo aéreo pode estar ausente em pacientes nos períodos intercrises. ATENÇÃO, ESTRATEGISTA! ESPIROMETRIA NORMAL NÃO EXCLUI O DIAGNÓSTICO DE ASMA! 5.2.1 ESPIROMETRIA Figura 17. Fonte: Shutterstock. A avaliação funcional de pacientes portadores de asma é realizada, principalmente, por meio da espirometria (Figura 17) e tem três grandes objetivos: 1. confirmar o diagnóstico; 2. documentar a gravidade da broncoconstrição; 3. monitorar o curso da doença e as modificações decorrentes do tratamento. A asma, classicamente, apresenta-se como um distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO), caracterizado pela redução dos fluxos e volumes expiratórios forçados e relacionado ao aumento da resistência das vias aéreas. • VEF1/CVF < 0,70 ou abaixo do limite inferior da normalidade. • VEF1: utilizado para a classificação da gravidade da obstrução. Classificação da gravidade do DVO conforme VEF1 (% do previsto) Leve ≥ 60% Moderado 41-59% Grave ≤ 40% Tabela 4. Futuro Residente, tome cuidado! Os cortes da classificação de gravidade da DVO conforme o VEF1 na literatura são diferentes dos cortes do documento GOLD, da DPOC! Outra característica marcante da doença é a presença de reversibilidade, total ou parcial, da limitação ao fluxo aéreo, que se identifica, na espirometria, por meio da resposta broncodilatadora positiva: • Aumento em VEF1 de 200 mL (absoluto) e 12% (porcentagem do basal) quando se compara os valores pré-broncodilatador e pós-broncodilatador. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 26 PNEUMOLOGIA ATENÇÃO, ESTRATEGISTA!! Classicamente, a asma comporta-se como um distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) com resposta broncodilatadora positiva. VAMOS RELEMBRAR! Obtemos, por meio da espirometria, volumes e fluxos aéreos derivados de manobras inspiratórias e expiratórias máximas forçadas ou lentas. Sua principal característica é a reprodutibilidade, minimizando, assim, a variabilidade interexaminador. Os principais parâmetros obtidos nas manobras espirométricas são: - CV (capacidade vital): volume total de ar mobilizado durante uma manobra de expiração, após uma inspiração máxima. Pode ser obtida por meio de manobras forçadas (CVF) ou lentas (CVL). - VEF1 (volume expiratório fo rçado no primeiro segundo): volume de ar exalado no primeiro segundo da manobra expiratória forçada. - Relação VEF1/CV: razão entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital, sendo muito importante para o diagnóstico de um distúrbio obstrutivo. Para isso, podemos considerar tanto o VEF1/CVF quanto o VEF1/CV. Além dos valores obtidos, para a correta análise da espirometria, SEMPRE devemos avaliar as curvas fluxo-volume e volume-tempo (Figura 18). Os principais distúrbios espirométricos cobrados em prova estão resumidos na tabela 5. Figura 18. Curva fluxo-volume e volume-tempo. Ambos os traçados são da prova de função pulmonar ou espirometria. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 27 PNEUMOLOGIA VEF1 CVF VEF1/CVF Exemplos Dica de prova Obstrutivo ↓↓ Normal ou ↓ ↓ Asma, DPOC, fibrose cística e bronquiectasias VEF1/CVF < 0,7 Restritivo ↓ ↓ Normal Doenças fibrosantes e deformidades de caixa torácica graves Redução proporcional VEF1 e CVF Misto/combinado ↓ ↓↓ ↓ Formas avançadas de fibrose cística; associação de doenças VEF1/CVF < 0,7 com CVF muito reduzida Tabela 5. Principais distúrbios espirométricos, exemplos e algumas dicas de prova. Autoria própria. ATENÇÃO, ESTRATEGISTA! MAIS UMA VEZ! Na espirometria clássica de um paciente com diagnóstico de asma, devemos ter a presença de dois aspectos: 1. Limitação do fluxo de ar das vias respiratórias: relação VEF1/CVF < 0,7. 2. Presença de resposta broncodilatadora positiva: aumento de VEF1 ≥ 200 mL e ≥ 12%. Entretanto, já sabemos que espirometria normal NÃO DESCARTA o diagnóstico de asma, principalmente se houver doença oligossintomática e/ou período intercrise. CAI NA PROVA (SES-GO- 2022) Paciente do sexo feminino, de 33 anos, refere que há cerca de seis meses vem apresentando dispneia aos moderados e grandes esforços associado com chiado no peito e tosse seca. Os sintomas são desencadeados com a mudança do tempo e contato com poeira. Refere que os sintomas ocorrem pela manhã e à noite e melhoram espontaneamente. Alega piora dos sintomas há um mês com tosse com escarro claro diário, dispneia, aperto no peito e chiado. Refere epigastralgia com alimentos gordurosos. Nega febre, nega perda de peso. Tabagista com 10 anos/maços. Na infância, teve "bronquite". Exame físico: SPO2 98%, FR: 18 IRM, FC 88 BPM, PA: 120x80 mmHg. Ausculta pulmonar com sibilos difusos. Nesse caso, qual é o diagnóstico da paciente? A) Asma. B) DPOC. C) Rinossinusopatia crônica. D) Pneumonia adquirida na comunidade. COMENTÁRIO: Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 28 PNEUMOLOGIA Estamos diante de um caso clínico muito sugestivo de ASMA. A paciente apresenta sintomas respiratórios crônicos (dispneia, chiado e tosse seca), que pioram com mudanças de temperatura e com poeira. Além disso, relata "bronquite" na infância. Lembremos que a asma pode apresentar um curso bimodal (surgir na infância, melhorar e reaparecer na vida adulta). Vamos às alternativas: Correta a alternativa A: como explicado anteriormente, a ASMA justifica os sintomas apresentados. Incorreta a alternativa B: a baixa carga tabágica (< 20 anos), aponta contrariamente a essa hipótese, apesar de ser um diagnóstico diferencial importante.Incorreta a alternativa C: os sintomas de vias aéreas inferiores (sibilos) apontam contrariamente a essa hipótese. Incorreta a alternativa D: o curso prolongado da doença, a ausência de febre e o escarro sem purulência falam contra pneumonia. (SUS BA – BA – 2020) Mulher, 32 anos, com queixa de tosse, dispneia, sobretudo à noite ou nas primeiras horas da manhã. Relata que os sintomas são relacionados a odores fortes, exercício físico e ocorrem duas vezes na semana. Apresentou sintomas semelhantes durante a primeira gestação há quatro anos. Considerando esse caso clínico, a alternativa que contém o exame complementar a ser solicitado é A) Espirometria. B) Polissonografia. C) Eletrocardiograma. D) Tomografia de tórax. E) Endoscopia digestiva alta. COMENTÁRIO: Aluno Estratégia MED, veja que, quando observamos as alternativas, podemos inferir que a questão nos cobra conceitos acerca do diagnóstico diferencial de nossa paciente, certo? Então veja que nossa paciente apresenta sintomas compatíveis com asma brônquica e que cursaram com piora durante a gestação e são relacionados a odores fortes. Logo, qual é o exame que devemos lançar mão para a investigação diagnóstica da doença? Espirometria! Correta a alternativa A. Devemos solicitar, na suspeita de asma brônquica, espirometria pré e pós-broncodilatador. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 29 PNEUMOLOGIA Incorreta a alternativa B. A questão deveria fornecer mais dados, como circunferência cervical aumentada, hipersonia diurna e roncos noturnos. Lembrar do STOP-BANG. Incorreta a alternativa C. Aparentemente, o eletrocardiograma não diagnosticaria nenhuma das causas de dispneia da paciente. Incorreta a alternativa D. A paciente apresenta sintomas compatíveis com doença de via aérea, não doença parenquimatosa, por isso, no momento, dispensamos a realização de tomografia computadorizada. Incorreta a alternativa E. A paciente para quem, classicamente, solicitaríamos endoscopia digestiva alta seria a paciente com sintomas de refluxo, como pirose e regurgitação, associados a algum sintoma atípico ou sinal de alarme, como emagrecimento ou anemia não explicada. (UNIRV – GO – 2020) A asma caracteriza-se pelos seguintes achados à espirometria: A) Redução do VEF1 (volume expiratório forçado em um segundo), redução da relação VEF1/CVF (capacidade vital forçada) e redução do FEP (fluxo expiratório de pico). B) Redução do VEF1, aumento da relação VEF1/CVF e redução do FEP. C) Aumento do VEF1, aumento da relação VEF1/CVF e aumento do FEP. D) Aumento do VEF1, redução da relação VEF1/CVF e redução do FEP. COMENTÁRIO: Questão interessante, que nos cobra os achados à espirometria no contexto da asma brônquica, mas, antes de buscarmos a alternativa correta, reitero que uma espirometria pré e pós-broncodilatador normal não exclui o diagnóstico da doença. Vamos avaliar as alternativas: Correta a alternativa A. A asma caracteriza-se como uma doença obstrutiva, que pode ou não apresentar resposta ao broncodilatador, com redução do pico de fluxo expiratório. Incorreta a alternativa B. No grupo das doenças obstrutivas, o esperado é que tenhamos uma diminuição na relação VEF1/CVF. Incorreta a alternativa C. No grupo das doenças obstrutivas, o esperado é que tenhamos uma diminuição na relação VEF1/CVF. Incorreta a alternativa D. O esperado na asma é que observemos um VEF1 reduzido, com resposta após a administração do broncodilatador. 5.2.2 HIPERRESPONSIVIDADE DAS VIAS RESPIRATÓRIAS (HRVR) Apesar de a espirometria ser o método mais difundido e acessível para a determinação de limitação ao fluxo aéreo e para reversibilidade parcial ou total da obstrução, já sabemos que alguns pacientes podem apresentar exame normal ou mesmo ausência de resposta broncodilatadora. Nesses casos, o diagnóstico de asma pode ser confirmado pela presença de hiperresponsividade das vias respiratórias (HRVR). Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 30 PNEUMOLOGIA ATENÇÃO, ESTRATEGISTA! Conceito importante! TESTE DE BRONCOPROVOCAÇÃO apresenta alta sensibilidade e elevado valor preditivo negativo, mas não é específico para asma, e sim para HRVR! Ou seja, um teste negativo com metacolina ou histamina, em indivíduos sintomáticos, exclui o diagnóstico de asma como causa desses sintomas. O método utilizado para a determinação de HRVR é o teste de broncoprovocação, que pode ser realizado pela inalação de agentes broncoconstritores como a metacolina e a histamina ou por meio de estímulos como exercício, inalação de ar frio, solução salina hipertônica, entre outros. O teste consiste na inalação de doses crescentes desses fármacos, seguidas da medida da resposta broncoconstritora (redução de pelo menos 20% no VEF1 basal – CP20). No protocolo de broncoprovocação induzida por exercício, a demonstração de queda do VEF1 de pelo menos 10 a 15% após também é compatível com teste positivo. Vale ressaltar, entretanto, que a presença de teste de broncoprovocação positivo confirma a presença de HRVR, e não necessariamente de asma! Por sua vez, se negativo, em paciente sintomático, exclui-se o diagnóstico de asma. 5.2.3 PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO (PFE) considerando medidas matinais e vespertinas, obtidas durante pelo menos 2 semanas (com pelo menos três medidas de cada vez). Também é indicativo de asma o aumento de pelo menos 15% no PFE após inalação de broncodilatador ou curso oral de corticoide. Contudo, a medida do PFE como teste diagnóstico é menos sensível e acurada do que a espirometria, além de ser trabalhosa e demorada para o paciente. A medida seriada do PFE pode ser uma alternativa na ausência da espirometria ou diante de espirometria Figura 19. Peak flow. Fonte: Shutterstock. normal. O teste é realizado por intermédio de um aparelho (“peak flow” – Figura 19) e é considerado positivo e indicativo de asma quando apresenta uma variabilidade diurna exagerada (> 20%), CAI NA PROVA (UNIMED RIO – RJ – 2020) São compatíveis com o diagnóstico funcional da asma: A) Relação VEF1/CVF aumentada e aumento do VEF1 após uso de broncodilatador B) Redução do pico de fluxo expiratório e aumento do VEF1 após uso de broncodilatador C) Relação VEF1/CVF normal e redução do VEF1 após uso de broncodilatador D) Aumento do pico de fluxo expiratório e redução do VEF1 após uso de broncodilatador Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 31 PNEUMOLOGIA Correta a alternativa B. Perfeito! No diagnóstico funcional de asma, podemos observar uma redução do PFE, que é considerado positivo quando apresenta uma variabilidade diurna > 20% do melhor do paciente ou do predito, ou aumento do VEF1 após o uso do broncodilatador. Incorreta a alternativa C. Aqui, podemos observar uma pegadinha, mas não cairemos nela! Observe que, no teste de broncoprovocação, o esperado é que tenhamos uma redução do VEF1, no entanto a alternativa falou após o uso de broncodilatador. A questão requer atenção. Incorreta a alternativa D. A diminuição do PFE é esperada, assim como um aumento do VEF1 após o uso do broncodilatador. 5.3 IDENTIFICAÇÃO DE ATOPIA A identificação de atopia é útil para complementar a investigação, aumentando a PROBABILIDADE diagnóstica para um paciente com asma alérgica (não podemos esquecer que temos vários fenótipos). É útil, também, para auxiliar o planejamento terapêutico Figura 20. Fonte: Shutterstock. do paciente e entendimento de fatores desencadeantes (gatilhos). Vale reforçar, entretanto, que não se trata de exame imprescindível para a investigação, não é exame específico para a asma e, se negativo, não exclui esse diagnóstico (apenas esse fenótipo). A anamnese cuidadosa é importante para a identificação da exposição a alérgenos e, posteriormente, para confirmar a sensibilização alérgica (atopia) por meio de provas in vivo (testes cutâneos) ou in vitro (determinação de concentraçãosanguínea de IgE específica). Os testes cutâneos são realizados utilizando-se extratos biologicamente padronizados, principalmente com antígenos inaláveis (ácaros, pólen, baratas, epitélio de gatos e cães). Poluentes ambientais ou ocupacionais também são antígenos possíveis, mas ficam reservados, geralmente, para a investigação específica, como na asma relacionada ao trabalho. Lembre-se de que alimentos raramente induzem asma. Investigação de atopia: dosagem de IgE sérica total ou específica (RAST) ou por testes cutâneos com aeroalérgenos (prick test). Outra pesquisa relacionada à atopia/eosinofilia (lembre-se de que elas não são sinônimos!) refere-se à medida de inflamação das vias aéreas e, indiretamente, à dosagem de eosinófilos no sangue periférico. COMENTÁRIO: Em um primeiro momento, a questão pode parecer confusa, concorda? Mas veja com calma e observe que, com os temas abordados, conseguimos chegar a uma resposta adequada. Vamos checar as alternativas: Incorreta a alternativa A. A asma faz parte do espectro das doenças obstrutivas, logo o esperado é que tenhamos relação VEF1/CVF diminuída e eventualmente normalização no pós-broncodilatador, e isso não é o que foi dito pela questão. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 32 PNEUMOLOGIA consenso sobre o valor de corte e a real acurácia do método. - ESCARRO ESPONTÂNEO OU INDUZIDO: é um procedimento não invasivo, validado, confiável, de grande utilidade para o manejo de asma grave, a monitorização de resposta ao tratamento e o ajuste de dose necessária de corticoide para adequado controle de doença. Contudo ainda é um método pouco disponível, restrito a grandes centros de pesquisa. - FRAÇÃO EXALADA DE ÓXIDO NÍTRICO (FENO): níveis elevados da fração de óxido nítrico exalado (FeNO) podem ser biomarcadores de eosinofilia nas vias aéreas e úteis para o tratamento da asma. Todavia, é um método pouco acessível. ATENÇÃO, ESTRATEGISTA! Apesar de serem estudados no tópico de "Investigação de atopia", lembre-se de que, atualmente, já reconhecemos a asma eosinofílica alérgica e a asma eosinofílica não alérgica. - EOSINOFILIA SANGUÍNEA: por ser de fácil execução e universalmente acessível, é utilizada como um marcador indireto para avaliar a inflamação eosinofílica das vias respiratórias. Entretanto ainda não existe um Figura 21. Fonte: Shutterstock. 2. Confirmação de limitação variável ao fluxo expiratório: - espirometria com DVO e resposta à prova broncodilatadora; - variabilidade média sucessivas do peak flow por 2 semanas; - melhora da função pulmonar após 4 semanas de tratamento (CIs ou corticoide sistêmico); - teste de exercício positivo ou teste de broncoprovocação positivo; - variação excessiva de valores de função pulmonar (especialmente VEF1) entre as consultas. 3. Testes alérgicos: - IgE específica (RAST) ou prick test positivos; - NO exalado (FENO) elevado; - medida (direta ou indireta) de inflamação eosinofílica em via aérea. RESUMINDO! 1. Sintomas compatíveis: - sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse; - variabilidade ao longo do tempo e em intensidade; - piora à noite ou no início da manhã; - desencadeantes: exercício, alérgenos, ar frio e infecções respiratórias. Estrategista, o assunto é recorrente e normalmente os sintomas compatíveis são fornecidos no contexto de um quadro clínico. Mas, em algumas situações, as perguntas podem ser mais diretas. Veja como o tema foi cobrado: Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 33 PNEUMOLOGIA CAI NA PROVA (HOA – GO – 2020) Assinale a alternativa incorreta sobre os achados que sugerem fortemente o diagnóstico de asma: A) Mais de um sintoma (sibilos, respiração encurtada, tosse e aperto no peito). B) Produção crônica de escarro. C) Sintomas que, frequentemente, pioram à noite e de manhã cedo. D) Sintomas que variam em frequência e intensidade. COMENTÁRIO: Futuro Residente, leia novamente quais são os sintomas compatíveis no quadro que fiz para você, logo acima. Ao ler novamente, conseguiremos responder à questão. Correta a alternativa A. Uma característica do diagnóstico de asma é a presença de mais de um dos sintomas classicamente atribuíveis à doença, sobretudo sibilância, tosse, opressão torácica e dispneia. Incorreta a alternativa B. A produção crônica de escarro é compatível com bronquite crônica e outras doenças pulmonares, e o principal diagnóstico diferencial aqui é com bronquiectasias. Correta a alternativa C. Uma das principais características da asma brônquica é a piora no período noturno e, eventualmente, também no início da manhã. Correta a alternativa D. A variabilidade dos sintomas ao longo do tempo, em frequência e intensidade, é marca registrada da doença. Estrategista, veja só. Mesma banca, mesmo ano, mesma temática: (HOA – GO – 2020) São sintomas característicos da asma todos os abaixo, exceto: A) Tosse B) Aperto no peito C) Rouquidão D) Falta de ar COMENTÁRIO: Aqui não tem como fugir – precisamos decorar os quatro sintomas cardinais da asma brônquica. Com eles, conseguiríamos assinalar a alternativa incorreta. Vamos recordar – opressão torácica, dispneia, tosse e sibilância. Incorreta a alternativa A. A tosse é um sintoma característico da asma. Incorreta a alternativa B. A opressão torácica é um sintoma característico da asma. Correta a alternativa C. A rouquidão deve ser um sinal de alarme e devemos ficar atentos para diagnósticos diferenciais. Vale lembrar que ela pode também ser complicação do tratamento com corticoides inalatórios. Incorreta a alternativa D. A dispneia é um sintoma característico da doença. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 34 PNEUMOLOGIA 5.4 OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS agravantes e fatores atenuantes, dificultando o diagnóstico clínico da doença. Além disso, outro aspecto comum na prática médica é a simplificação das queixas de dispneia e sibilância, associada a um fácil acesso às medicações inalatórias (as famosas "bombinhas"), elevando-se a taxa de diagnósticos incorretos de asma. Isso posto, vale relembrar que o diagnóstico diferencial Caro Estrategista, estamos diante de um dilema importante! Apesar de a história clássica de asma ser de fácil diagnóstico, nem todos os pacientes manifestam o quadro clínico típico, ou não compreendem a variação de sintomas, fatores desencadeantes ou de traqueia, mas também insuficiência cardíaca, disfunção de cordas vocais, fístula traqueoesofágica, aspiração de corpo estranho, infecções respiratórias recorrentes, DRGE, bronquiolite, aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA), pneumonia eosinofílica, tumor carcinoide, entre outros. Na Tabela 6, estão descritos os principais diagnósticos diferenciais da asma brônquica. de asma é bastante amplo e inclui não só doenças pulmonares/ respiratórias, como a DPOC, bronquiectasias, HRVR, estenose Figura 22. Fonte: Shutterstock. Diagnóstico diferencial da asma – adaptado da SBPT et al. < 5 anos • Rinossinusite • Doença pulmonar crônica da prematuridade e malformações congênitas • Fibrose cística, bronquiectasias, bronquiolite obliterante pós-obstrutiva e discinesia ciliar • Síndromes aspirativas (refluxo gastroesofágico, distúrbios de deglutição, fístula traqueoesofágica e aspiração de corpo estranho) • Laringotraqueobroncomalácia, doenças congênitas da laringe (estenose e hemangioma) e anel vascular • Tuberculose • Cardiopatias • Imunodeficiências > 5 anos e adultos • Rinossinusite • Síndrome de hiperventilação alveolar e síndrome do pânico • Obstrução de vias aéreas superiores (neoplasias e aspiração de corpo estranho) • Disfunção das cordas vocais • DPOC e outras doenças obstrutivas das vias aéreas inferiores (bronquiolites, bronquiectasias e fibrose cística) • Doenças difusas do parênquima pulmonar • Insuficiência cardíaca diastólica e sistólica • Doenças da circulaçãopulmonar (hipertensão e embolia) Tabela 6. Diagnóstico diferencial de asma brônquica, segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o tratamento da asma brônquica de 2012. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 35 PNEUMOLOGIA SAIBA MAIS: aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA) – o que você deve saber. É uma complexa reação de hipersensibilidade em resposta à colonização das vias aéreas pelo Aspergillus fumigatus que ocorre quase de maneira exclusiva em pacientes asmáticos ou portadores de fibrose cística. A prevalência da doença em pacientes asmáticos é de 1-5% e os principais sinais e sintomas são exacerbações frequentes da doença e, em casos mais graves, episódios de obstrução brônquica, febre e expectoração de “plugs” (tampões) mucosos acastanhados, momento em que pode ocorrer também a hemoptise. As alterações laboratoriais são eosinofilia, aumento da IgE sérica e a presença de anticorpos anti-Aspergillus (IgE e IgG). A principal característica imagiológica é a presença de bronquiectasias cilíndricas em fundo de saco (“em dedo de luva”), de alta densidade e com predomínio em campos médios pulmonares. O diagnóstico requer uma condição predisponente (asma ou fibrose cística) associada à detecção de anticorpos séricos anti-Aspergillus + teste cutâneo (RAST). O tratamento é baseado em corticoterapia e, em casos selecionados (pacientes exacerbadores), lançamos mão de terapia antifúngica com itraconazol ou voriconazol. “Siufi, achei aprofundado demais o tópico sobre ABPA... isso cai em prova”? Estrategista, se foi cobrado em prova, estará presente nos nossos livros digitais! Veja como foi cobrado: CAI NA PROVA (CEPOA – RJ – 2020) Paciente de 28 anos, asmático, procura o estabelecimento de saúde referindo que, no último mês, teve restrição de atividade física devido a cansaço e teve sintomas diurnos, tendo sido necessário tratamento pelo menos duas vezes por semana. No momento, sem medicação. Sobre este caso, é correto afirmar: A) O tratamento de refluxo gastroesofageano melhora os sintomas da asma. B) O uso de inibidores seletivos da COX-2 tem se mostrado promissor na prevenção de recorrências. C) Hemoptise e regurgitação de material (plugs acastanhados) podem sugerir coinfecção por Aspergillus fumigatus. D) Este paciente apresenta risco mais baixo em relação à população em geral de desenvolver catarata. COMENTÁRIO: Veja que interessante a maneira com a qual a questão aborda diversos temas distintos, mas com uma interface interessante com a asma brônquica. Vamos avaliar as alternativas: Incorreta a alternativa A. A presença de comorbidades, como o refluxo, ansiedade, entre outras, pode ser responsável pelo controle inadequado da doença. Porém o tratamento do refluxo não tem impacto nos sintomas da asma. Incorreta a alternativa B. O uso de anti-inflamatório pode ser o desencadeador da crise asmática, em especial o AAS e os inibidores da COX-1. Nos casos dos COX-2 seletivos, a possibilidade está reduzida, no entanto os inibidores não previnem recorrência da asma e, inclusive, podem piorá-la, igualmente, em algumas situações. Correta a alternativa C. A alternativa é a mais correta, no entanto vale lembrar que é uma reação de hipersensibilidade em resposta à colonização pelo Aspergillus spp., não uma coinfecção. Incorreta a alternativa D. Pacientes que fazem uso crônico de corticoide, seja oral, seja inalatório, têm risco aumentado de desenvolver glaucoma e catarata, principalmente pelo efeito adverso das medicações. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 36 PNEUMOLOGIA NÃO PODEMOS ESQUECER! NEM TUDO O QUE SIBILA É ASMA! Outros exames complementares, apesar de não serem utilizados diretamente para o diagnóstico de asma, são solicitados de rotina para avaliação de diagnósticos diferenciais, exclusão de outras patologias ou mesmo monitorização de complicações agudas, incluindo radiografia de tórax, ECG, ecocardiograma e, eventualmente, broncoscopia ou laringoscopia. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: Em pacientes com asma controlada ou em períodos intercrises, pode ser completamente normal. Porém é importante para exclusão de complicações e diagnósticos diferenciais, incluindo, pneumomediastino, pneumotórax, atelectasia e pneumonia. Pacientes com doença grave, com remodelamento ou em crise podem apresentar hiperinsuflação (retificação do diafragma e espaço retroesternal aumentado) e trama brônquica aumentada. CAI NA PROVA (HOA – AC – 2020) Mulher de 56 anos de idade, no 4º dia de pós-operatório de neoplasia maligna de colo uterino, durante esforço para tossir apresentou dor súbita em hemitórax direito, dispneia, chiado e escarro hemoptoico. Qual a hipótese diagnóstica mais provável? A) Edema agudo de pulmão. B) Crise de broncoespasmo. C) Broncopneumonia. D) Metástase pulmonar de neoplasia. E) Tromboembolismo pulmonar. COMENTÁRIO: Estrategista, eu tenho certeza de que muitos candidatos caíram do cavalo ao associar o “chiado” presente na pergunta à asma brônquica e, assim, assinalaram a alternativa B. Veja, estamos diante de uma mulher no pós-operatório, com neoplasia em atividade, com dispneia e dor torácica SÚBITA, associadas a escarro hemoptoico! A paciente é de alta probabilidade pré-teste para tromboembolismo pulmonar, por isso deve realizar uma angiotomografia. O recado é: não se deixe levar quando ler “sibilo” ou “chiado” no seu enunciado. Incorreta a alternativa A. Não observamos um passado de cardiopatia nem sintomas congestivos. Ademais, a ausculta pulmonar cursaria com crepitações finas, não sibilância. Incorreta a alternativa B. Observe que outras condições nosológicas podem cursar com sibilância, e é exatamente esse o motivo de eu ter incluído a questão aqui. Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 37 PNEUMOLOGIA Incorreta a alternativa C. O quadro de broncopneumonia, classicamente, manifesta-se com tosse associada à expectoração amarelada, febre e dor torácica ventilatório-dependente. Incorreta a alternativa D. As metástases pulmonares, em sua maioria, são assintomáticas, mas podem cursar com dor torácica se periféricas ou eventualmente com tosse, se em contato com via aérea. Mas o fato a que devemos ficar atentos no caso de nossa paciente é o nexo temporal entre o pós-operatório e a queixa. Correta a alternativa E. Nossa paciente é de alta probabilidade clínica de TEP. O principal diagnóstico diferencial da asma em adultos é a DPOC! Por serem duas doenças que se caracterizam por obstrução ao fluxo aéreo, elas compartilham várias características clínicas e funcionais, além de fatores de risco/agravantes em comum, principalmente em adultos tabagistas, o que se que aproximadamente 20% dos pacientes com DPOC possam apresentar, também, hiperreatividade brônquica, tornando a diferenciação entre asma e DPOC ainda mais difícil. As principais diferenças que merecem destaque entre as duas doenças são explicadas na Tabela 7. dificulta a distinção entre as duas doenças. Além disso, calcula- Como forma de evitar confusões de nomenclatura ou mesmo manejo das patologias, as sociedades médicas mundiais (incluindo os consensos GINA e GOLD) passaram a evitar o termo ACOS (Asthma COPD overlap syndrome) ou síndrome de sobreposição asma-DPOC como uma única entidade, reforçando que, mesmo quando presentes no mesmo paciente, compartilhando semelhantes sintomas respiratórios, devem ser abordadas como duas entidades diferentes, com fenótipos, mecanismos fisiopatológicos e manejo distintos. Diferenças entre asma e DPOC Asma DPOC • Doença inflamatória crônica com obstrução reversível ao fluxo aéreo; • Hiperreatividade brônquica e inflamação eosinofílica; • Inflamação mediada por eosinófilos e linfócitos T CD4+; • Terapêutica baseada em corticoides. • Doença inflamatória crônica geralmente caracterizada por obstrução irreversível ao fluxoaéreo; • Enfisema progressivo e aprisionamento aéreo; • Inflamação por neutrófilos, macrófagos e linfócitos T CD8+; • Terapêutica baseada em broncodilatação e controle de exacerbações. Tabela 7. Adaptado de GINA e GOLD 2021. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 38 PNEUMOLOGIA 5.5 SITUAÇÕES ESPECIAIS Algumas situações devem ser consideradas à parte para o correto diagnóstico de asma, incluindo a avaliação em atletas e o surgimento de sintomas durante a atividade laboral. As principais situações especiais para o diagnóstico da asma brônquica são explicadas na Tabela 8. Situações especiais para o diagnóstico de asma Asma relacionada ao trabalho (ART) Pode ser dividida em asma ocupacional (AO) ou asma agravada pelo trabalho. Implicam aspectos médico-legais e requerem notificação por meio da comunicação de acidente de trabalho (CAT). - Asma ocupacional: paciente previamente hígido desenvolve a doença após exposição laboral. - Asma agravada pelo trabalho: paciente previamente asmático apresenta piora dos sintomas/ controle da doença após a exposição ocupacional. - Diagnóstico: requer o diagnóstico de asma (hiper-responsividade brônquica) e a comprovação do nexo causal (início ou agravamento dos sintomas após exposição laboral). - Caracteristicamente, apresenta piora das medidas de VEF1, do PFE ou no teste de broncoprovocação inespecífica no período de trabalho com relação a períodos de afastamento do trabalho. Asma induzida pelo exercício (AIE) - Obstrução transitória das vias aéreas após o exercício vigoroso; tipicamente, inicia-se 2 a 4 minutos após o exercício, com picos de 5 a 10 minutos e resolução espontânea após cerca de 20 a 40 minutos. Algumas vezes, a crise pode perdurar por mais de 1 hora ou haver uma resposta tardia após 4 a 10 horas. - Pode ser evidenciada pela queda no volume expiratório forçado em um segundo (VEF1) e por outros parâmetros espirométricos, idealmente por meio do teste do exercício. - Diagnósticos diferenciais incluem excesso de treino, respiração disfuncional, disfunções laríngeas e doenças cardíacas. Tabela 8. Situações especiais para o diagnóstico de asma. Adaptado de GINA. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ART ASMA OCUPACIONAL • Asma relacionada ao trabalho (ART) • Variantes de asma • Sintomas que mimetizam asma • Asma ocupacional • Asma agravada pelo trabalho • Asma induzida por sensibilidade • Asma induzida por irritantes (não sensibilizante) Estratégia MED Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 Asma Brônquica 39 PNEUMOLOGIA CAI NA PROVA (USP - SP - 2022) Mulher de 22 anos de idade trabalha como auxiliar de limpeza em um grande hospital há 2 anos. Hoje procura ambulatório de clínica médica pois há 6 meses apresenta episódios de tosse e, às vezes, falta de ar durante o dia, que costumam melhorar à noite. Estes episódios estão se tornando mais frequentes. Não costuma apresentar tais sintomas aos finais de semana. Não sabe referir se teve febre. Nega antecedentes mórbidos relevantes e nunca fumou. Ao exame clínico presença de discretos sibilos expiratórios à ausculta pulmonar, sem outras alterações relevantes. A radiografia de tórax realizada há 15 dias é apresentada. Qual é a conduta, considerando a principal hipótese diagnóstica? A) Solicitar que faça a medida de Pico de Fluxo no trabalho e em casa. B) Afastamento das atividades laborais por 1 semana e prednisona oral por 5 dias. C) Solicitar tomografia de tórax e iniciar broncodilatador de longa duração. D) Prescrever salbutamol para sintomas e orientar para mudança da área de atuação. COMENTÁRIO: Estrategista, observe alguns detalhes interessantes nessa questão. A paciente começou seu trabalho com limpeza há 2 anos e há 6 meses desenvolve sintomas de tosse e dispneia. A dispneia acontece durante o dia e melhora à noite ou nos finais de semana, justamente quando ela não está mais no trabalho. Como a paciente não tem história prévia de asma, portanto, não parece ser uma asma agravada pelo trabalho e sim uma asma relacionada ao trabalho. Vamos analisar as alternativas: Correta a alternativa A. A medida de pico de fluxo nos diferentes ambientes demonstrariam o padrão de piora no trabalho. Incorreta a alternativa B. O corticoide oral tem papel nas exacerbações da asma. Para tratamento da doença é fundamental a presença de corticoide inalatório e não oral. Incorreta a alternativa C. Na asma, a broncodilatação de longa ação isolada piora o prognóstico. Além disso, diante da principal suspeita, a TC de tórax não contribuiria muito. Incorreta a alternativa D. O uso de broncodilatador sem corticoide inalatório não é recomendável atualmente. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 40 PNEUMOLOGIA (UNICAMP – SP – 2020) Homem, 48a, relata dispneia aos grandes esforços há dois anos e chiado no peito há seis meses. Nega episódios semelhantes anteriormente. Atualmente faz móveis por encomenda na garagem de sua residência, local pouco ventilado. Trabalhou como carpinteiro em uma fábrica de móveis por 12 anos. O DIAGNÓSTICO É: A) Asma brônquica. B) Asma relacionada ao trabalho. C) Asma ocupacional. D) Pneumonite alérgica. COMENTÁRIO: Aluno Estratégia MED, o conceito é reincidente em prova. Portanto vamos deixar claro novamente: asma ocupacional e asma agravada pelo trabalho são dois espectros de doença dentro da ART. Observe que nosso paciente começou a apresentar sintomas há dois anos... ele era previamente hígido e desenvolveu sua doença após exposição laboral. Portanto o nosso diagnóstico é de asma ocupacional! Incorreta a alternativa A. Observe a pegadinha da banca. Se estivéssemos desatentos, certamente responderíamos a alternativa A e passaríamos para a próxima questão. Incorreta a alternativa B. Dentro do espectro da ART, estamos diante de um caso de asma ocupacional. A alternativa também é uma pegadinha, deixa dúvidas e certamente a questão foi alvo de críticas e teve alto percentual de erro. Correta a alternativa C. Nosso paciente era hígido e apresentou sintomas após uma exposição laboral compatível. Incorreta a alternativa D. Pneumonite alérgica, ou alveolite alérgica extrínseca, é a atualmente chamada pneumonite por hipersensibilidade, doença menos comum e que requer alterações na tomografia de tórax e, também, na broncoscopia, com presença de linfocitose no lavado broncoalveolar, e cujos sintomas tendem a ser mais proeminentes e eventualmente associados à febre. O tema será abordado em nosso livro “miscelânea”. Estratégia MED Asma Brônquica Prof. Ricardo Siufi | Curso Extensivo | 2024 41 PNEUMOLOGIA 6.0 MANEJO CAPÍTULO Caro Estrategista, o principal objetivo do manejo do paciente com asma é a obtenção e manutenção do controle da doença, que compreende o controle dos sintomas atuais e a prevenção ou minimização de preditores desfavoráveis da asma: exacerbações, limitação crônica ao fluxo de ar das vias respiratórias (LCFR) e efeitos adversos do tratamento. de desfechos desfavoráveis da doença, inflamação das vias respiratórias e, possivelmente, piora da qualidade de vida. Controle dos sintomas atuais: ausência ou minimização de sintomas diurnos, sintomas noturnos, como despertares em razão da asma, uso de medicação de resgate e limitação da atividade física. Prevenção ou minimização de preditores de desfechos Futuro Residente, a doença não tem cura. No entanto, atualmente, dispomos de um amplo arsenal terapêutico para obtermos o adequado controle dela. Em outras palavras, a asma brônquica deve ser tratada com a menor quantidade de medicação possível para obter o melhor controle da doença. Figura 23. Fonte: Shutterstock. MANEJO AMBULATORIAL DA ASMA Medidas específicas de controle ambiental para reduzir a exposição domiciliar e ocupacional a gatilhos desencadeadores de sintomas da asma, como poeira, fumaças e gases tóxicos, animais de estimação e poluição, entre outros.