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PIODERMITES E INFECÇÕES BACTERIANAS GRAVES DE PARTES MOLES INTRODUÇÃO: · Piodermites são infecções cutâneas, sendo mais frequente Staphylococcus e Streptococcus · São muito comuns em adultos e crianças. Acometendo 7% da população, especialmente no verão (devido à temperatura, maior unidade de pele, soluções de continuidade que facilitam a infecção) FLORA CUTÂNEA Bactérias residentes: · Pele normal · Defesa contra bactérias patogênicas (proteção) · Presentes na pele normal · Bactérias que não causam doença: GP (S. epidermidis), difteróides (corynebacterium), anaeróbicos (propionibacterium) · Fazem lipólise: hidrólise de lipídios → ácidos graxos livres → defesa · Não é indicado ficar usando antissépticos ou ATB inadvertidamente Bactérias transitórias: · S. aureus e Strepto pyogenes · Podem não causar doença, mas, se tiver condição local que aumente a chance dessas bactérias se tornarem patogênicas, pode causar uma piodermite, com quebra da barreira cutânea (escoriação, dermatite atópica, picada de inseto), imunossupressão, DM, HIV, dermatite atópica · Não seriam patológicas em condições normais · Acesso venoso pode fazer contaminação · S. aureus: mais frequente das piodermites, presente em 20% da população (colonização da fossa nasal de forma permanente) e 60% da população terá colonização em algum momento da vida (narinas, faringe, períneo, axilas, mãos) · Colonizando, mas não sendo patogênico · S. pyogenes: colonização da faringe 10% da população e colonização da pele em apenas 1% Grupo A: maior virulência, produz proteína M que inibe a fagocitose mediada pelo IgA, que engana nosso sistema imunológico, tornando-se uma bactéria patogênica Equilíbrio: de um lado, flora resistente, barreira mecânica, umidade da pele, pH de pele e capacidade imunológica e, de outro, patogenicidade e grau de virulência (potencial de invasão e produção de toxinas) → desequilíbrio gera doença CLASSIFICAÇÃO: De acordo com nível de acometimento da pele: · Restrita a camada córnea = impetigo · Epiderme completa = ectima · Derme superficial = erisipela · Derme profunda e SC = celulite · Fáscia muscular = fasciite necrotizante · Músculo = miosite **Dificuldade de diferenciar clinicamente a erisipela e celulite → infecção de partes moles erisip./celulite **Gravidade depende da profundidade da lesão IMPETIGO · Acometimento da camada córnea, superficial · Comum em crianças · Pápulas pequenas erosões, com formação de crosta melicérica · Comum em localidade periorificial (perioral e perinasal, por exemplo) · Agentes etiológicos: streptococcus (agente mais frequente), staphylococcus ou associada · Epidemiologia: infecção mais comum no mundo em crianças < 6 anos, mais em face e pernas · Formas clínicas: · Não bolhosa (70%): stepto grupo A → crostas melicéricas, pústulas, pápulas, eritematosas · Bolhosa: S. aureus → crianças na face/pernas · Lesões cutâneas em diferentes etapas de evolução · Pápulas podem evoluir para placas por confluência · Pápulas eritematosas erosadas **Vesículas que confluem dando origem a bolhas superficiais, que podem romper, deixando lesões erosadas Diagnóstico: clínico, com tto clínico · Em casos de dúvida dx: bacterioscopia + cultura Complicações: · Pode evoluir para mais profundas, como celulite, linfangite, bacteremia, endocardite e sepse · Stepto gene A: pode ter cepas tóxicas para o rim, pode fazer glomerulonefrite difusa aguda pós streptocócica (HAS, edema, proteinuria, hematúria) → 3-6 semanas após infecção · Podem aparecer independente de tto Tratamento: limpeza, tópico e VO · Limpeza com água e sabão 3-4x/dia Casos leves: restrito a uma região anatômica → fazer tto tópico (ácido fusídico, mupirocina, neomicina) 2-3x/dia por 7 dias Casos moderados a graves: casos disseminados ou bolhosos, com mais de 10 lesões ou 2 regiões acometidas. É sistêmico, com ATB VO · Cefalexina 250-500 mg 4x/dia no adulto; crianças 25mg/kg/dia 4 doses · Amoxicilina-Clavulanato · Azitromicina/eritromicina ECTIMA: · Acomete toda a epiderme · Lesões em placa ou pápula que podem erosar (só na derme) ou ulcerar (atinge tecido SC) · Placas eritematosas · Pode ter vesículas e pústulas que vão evoluir para lesões ulcera crostosas · Infecção mais profunda · Atinge epiderme inteira, podendo chegar à derme e pode atingir tecido celular SC · Principal causa: estrepto pyogenes (> stafilo aureus) · Deixa cicatriz é diferente impetigo Paciente melanodérmico: pele mais escura, com eritema mais leve, violáceo e hiperpigmentação ao redor de lesões ulceradas Diagnósticos diferenciais: leishmaniose (centro da úlcera vermelho) e esporotricose Tratamento: sistêmico, semelhante ao impetigo FOLICULITE INFECCIOSA: · Acúmulo de neutrófilos no folículo piloso, induzido por bactéria (comum GP - S. aureus) · Pápulas eritematosas: pústulas pequenas (de localização folicular) podem confluir · Fluxo de neutrófilos ao redor do folículo piloso, desencadeado por bactéria, que leva a uma pústula SUPERFICIAL: · Comum em couro cabeludo (crianças), área de barba, axilas, nádegas e extremidades · Condições que podem facilitar: raspagem frequente dos pelos, imunossupressão, DM, obesidade, roupas apertadas, clima quente e úmido Tratamento: ATB tópico (mupirocina/ ácido fusídico) – 2x/dia 5-7 dias. Em casos mais difusos, pode associar atb VO FURÚNCULO (evolução/não tratada): · Maioria das vezes regride sozinha, mas pode evoluir para furúnculo → disseminação da infecção → lesão inflamatória pegando toda a derme (mais ainda é um folículo, mais profundo) · Pode chegar a abscesso → sente flutuação e necessita drenar · Evolução da foliculite superficial (S. aureus) · Nódulo eritematoso profundo (mais evidente), quente e doloroso · Muitas vezes pústula central Pode drenar espontaneamente, melhorando o desconforto do paciente/melhora dor, mas precisa ser tratado Tratamento de furúnculos: compressas quentes, drenagem cirúrgica (se tiver formação de abscesso/ flutuação - palpar, presença de líquido, não chega ATB) e ATB VO (cefalexina, amoxi, macrolídeos) CARBÚNCULO (antraz) decorrente do acometimento de vários folículos: Lesões ulceradas de áreas mais extensas, por confluência: foliculite → furúnculo em um folículo apenas → acomete folículos ao redor → carbúnculo ERISIPELA: · Acometimento da derme e tecido celular SC · Placa eritematosa, com sinais flogísticos e com aspecto da pele em casca de laranja, ocorre pelo edema · Se tiver vesícula ou bolha: lesão mais agressiva · Pode acometer face: com evolução grave · Edema bem delimitado · Causada pelo Streptococcus B hemolítico do grupo A é mais comum Clínica: · Eritema, edema, dor → sinais flogísticos · Podendo apresentar sintomas sistêmicas: febre, calafrios, mal-estar, náuseas e vômitos Epidemiologia: · Adultos de 40-60 anos, mais mulheres · MMII (80%) · Pode acometer a face → evolução mais grave Fatores predisponentes: · Procurar porta de entrada: ver extremidades, espaço interdigital, unha, etc · Porta de entrada · DM, obesidade, linfedema e etilismo Diagnóstico: · Clínico (mais bem delimitado, pode ter dor local) · Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda (não é a maioria dos casos inicial) · PCR/VHS (PCR mais sensível, aumenta em casos avançados) → não depende para tratar Diagnóstico diferencial: · Fasciite necrotizante: dor além da lesão · TVP · Dermatite de contato · Dermatite de estase (insuficiência venosa) · Celulite: difícil de diferenciar CELULITE: · Ocorre um pouco mais profundamente quando comparado à erisipela, pegando a derme mais profunda + tecido subcutâneo ** Muito difícil diferenciar as 2; clinicamente a gente pode considerar como sinônimos: · Placa eritematosa menos definida na borda TRATAMENTO ERISIPELA E CELULITE: · Repouso e elevação do membro Casos leves: tratamento ambulatorial por 10-14 d - Penicilina G procaína IM – 1 a 2 milhões U 4x/d - Penicilina G benzatina IM 1200.000 DU - Cefalexina 500 mg 6/6h - Amoxicilina 1g 8/8h - Azitromicina/eritromicina **Penicilina: primeira escolha para casos não complicados · Reavaliarem 48-72 horas Casos de internamento: · Erisipela em face (pode estar associada a IVAS, pensar em Haemophilus) · Forma bolhosa/ sintomas sistêmicos · > 60 anos · Pacientes imunossuprimidos · Múltiplas comorbidades (ICC, IR) · Vancomicina 1g 2x/dia EV (pensar em stafilo quando é bolhoso – usar vanco) · Penicilina G cristalina 12/20 milhões UI/dia EV → associar outros atb para infecções graves de partes moles · Cefazolina 3 g/dia EV Evolução: 50% persistem com edema residual no membro; 50% terão novo episódio e vão precisar de tratamento prolongado (erisipelas recorrentes) INFECÇÕES BACTERIANAS GRAVES: Como identificar? · Leucocitose: nos casos de erisipela e celulite, por ex, eu posso NÃO ter uma alteração de hemograma. Se tiver, pode estar aprofundada e iniciando manifestações sistêmicas · Dor desproporcional aos achados físicos, muito intensa ou além da área de eritema · Presença de bolha · Presença de fatores de risco Dificuldades: · Avaliar profundidade de invasão: saber se está no SC ou na fáscia · Choque séptico: principalmente fase tardia · Métodos de imagem: não ajudam muito, tem pouca evidência e não devem retardar procedimento cirúrgicos · Falta de biomarcadores · Biópsia por congelação pode ajudar no dx e tto Fatores de risco de acometimento grave de partes moles: · Idade avançada · DM, obesidade, doença cardiopulmonar, hepatorrenal ou arterial periférica · Imunossupressão · Usuário de droga EV · Acesso venoso · Desnutrição · Hospitalização prolongada INFECÇÕES COMPLICADAS: · Abscesso profundo · Celulite bolhosa · Fasciíte necrotizante; necrose de Fournier ** doenças graves com maior morbimortalidade, quanto mais profunda, maior o risco de osteomielite - Acometimento de fáscia → aumenta risco de acometimento de vasos e músculo, até o osso ABSCESSO: · Nódulo eritematoso, quente, doloroso · Pode ter começado com uma foliculite · Há uma coleção de pus, que é maior que o nódulo, podendo apresentar flutuação à palpação · Pode ter LNM ao redor · Sempre aferir temperatura nesses pacientes Pele melanodérmica (fototipo V), eritema não é tão evidente, coloração mais violácea, mas com outros sinais flogísticos presentes. Mais evidente neles é edema, dor, hipertermia, flutuação à palpação (tem que drenar) Exames de imagem: · US de alta frequência pode ser utilizado para auxiliar no diagnóstico, definir profundidade, delimitação da lesão · Imagem hipoecoica Tratamento: drenar + atb *No abscesso, faz cápsula que impede penetração do atb → precisa ser drenado!! · Primeiro fazemos anestesia (infiltrar ao redor do abscesso, pois dentro da cápsula pode romper), depois incisão com bisturi e drenagem do abscesso com divulsionar cápsula com hemostática e ir liberando aos poucos (cuidar com lesões de estruturas nobres em volta) CELULITE BOLHOSA · Presença de bolha em casos de suspeita de erisipela ou celulite: pensar em infecção grave e direcionar o paciente para tto hospitalar (especialmente por não ter controle do retorno do paciente em 48h) · Se dá por sinergismo de estrepto β-hemolítico e S. aureus (produz toxinas associadas a formação de bolhas; presente em 10 a 61% dos casos) · A infecção por MRSA é frequente (comunitária): sensível a quinolonas, vancomicina, trimetropim/ sulfametoxazol, eritromicina, clindamicina ** são sempre resistentes à cefalosporina de 1ª geração FASCIÍTE NECROTIZANTE · Evolução do subcutâneo que atinge a fáscia · As lesões podem variar desde uma placa eritematosa (confunde clinicamente com erisipela/ celulite), até necrose · Fasciíte necrotizante é difícil de identificar: RM · Pode também fazer biópsia de congelação · Saber tto básico e fatores de risco · Dor além da área acometida clinicamente: suspeitar de infecções grave · Pode haver crepitação à palpação pela presença de ar no SC ou fáscia · Quando suspeitar? · Dor intensa fora da marcação ou crepitação (ar) · Refratariedade ao ATB (não responde após 48-72h) Diagnóstico: · RNM: mostra espessamento da fáscia; é o melhor, mas nem sempre está disponível, então não esperamos por ela para conduta. Em casos iniciais pode não ter alteração · Cortes de congelação/ biópsia por congelação – acometimento da fáscia → neutrófilos no SC e no músculo · TC: mostra ar na estrutura acometida (fasciite produz gases) NECROSE DE FOURNIER: · É a fasciíte necrotizante do períneo · Paciente apresenta: eritema + edema + dor + coloração · Acinzentada (1), podendo evoluir com necrose e exposição de tecidos profundos (2) · Exige um tratamento precoce com antibióticos de largo espectro + debridamento (com abordagem multidisciplinar da dermato, infecto, uro, gineco, cx plástico) + reavaliação em 48h (caso não precise de internamento) Causas: polimicrobiana · Streptococcus do grupo A (pyogenes), Staphylococcus aureus · Menos comum: Vibrio vulnificus, Clostridium perfringens, Bacteroides fragilis Manuseio inicial do paciente com infecções de partes moles: NO INTERNAMENTO: · Hemograma completo, PCR, função hepática e renal · Hemocultura: não espera resultado para definir tto. Se infecção grave, imunocomprometido e idoso (pois pode ter choque com pouca clínica) · Cultura de aspirado de borda de celulite ou abscesso ou cultura de tecido: não deve atrasar tratamento! · RM ou cortes de congelação · Garantir equilíbrio hidroeletrolítico · Antibiótico empírico: varia de acordo com a gravidade da lesão, pensar em associar e amplo espectro por conta de ser uma infecção polimicrobiana · Fazer avaliação da necessidade de debridamento cirúrgico · NÃO: Antibiótico por 7-14 dias, com acompanhamento da resposta: alta em 4 dias. · SIM: drenagem se houver abscesso + debridamento para fasceíte necrotizante + antibiótico por 7-14 dias de amplo espectro (visto ser polimicrobiano) Concluindo: · Importante identificar casos suspeitos, pois o dx é clínico e o tto deve ser rápido e empírico, sem esperar resultados de exames Dificuldades · Falha dos métodos em identificar o patógeno · Variabilidade geográfica – precisa de dados epidemiológicos locais para identificar patógeno · Seleção empírica de antimicrobiano – não esperar cultura, combinar antibióticos image8.png image5.png image12.png image3.png image16.png image13.png image2.png image7.png image4.png image10.png image14.png image1.png image11.png image6.png image9.png image15.png