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SEPSE · Disfunção orgânica causada por falta de oxigenação adequada, decorrente de uma resposta sistêmica desequilibrada frente alguma injúria · qSOFA faz a primeira avaliação do paciente: olha a PA (hemodinâmica), taquipneia e rebaixamento/alteração do nível de consciência Obs: taquicardia pode ser uma resposta fisiológica, pois isso não entra/mede disfunção O SOFA surgiu como um método de prognóstico, ou seja, usar apenas ele, quando identificada alteração, pode já ser tarde Caso clínico: 15/03/2019 06:25 AMM, masculino, 24 anos 48h de febre, vômito, cefaléia, dor abdominal, coriza. Sem diarreia. Exame segmentar normal Viagens para Patagônia e para Florianópolis T 39°, FC 116, PA 111/65 Conduta 500 mL SF (06:12), solicitou exames 10h: T 38,8, FC 104, FR 24, PA 99/55 Não havia dados do nível de consciência Exames normais → Nesse momento, não faz droga vasoativa, pois precisa de hidratação de pelo menos 20 mL/Kg, ou seja, rever a hidratação. Se ainda assim não responder, pode-se fazer as drogas vasoativas → Pensar na etiologia: coletar hemocultura e depois aplicar ATB Definição atual: infecção (dx ou suspeita) com resposta inflamatória desregulada capaz de causar disfunção de órgãos Nos doentes terminais: conversar com a família até onde ir em casos de sepse. Muita alta letalidade Manifestações: · Infecção com disfunção de órgão · Infecção com disfunção de órgão oculta · Disfunção de órgão com infecção não evidente · Infecções determinando disfunções orgânicas localizadas sem resposta inflamatória desregulada História natural: · Evolução em horas-dias · Sofre influência de comorbidades agudas ou crônicas, medicamentos, intervenções · Influência de fatores endógenos e dos patógenos · Morte, especialmente se dx/manejo tardios · Alta incidência e altos custos sociais e monetários: aumento anual de 9%, principalmente em idosos, neutropênicos, pacientes oncológicos, procedimentos invasivos Fisiopatogenia: · Liberação de citocinas que culminam na hipovolemia, lesão endotelial, glicólise anaeróbica e hiperlactatemia · Esse quadro leva a hipóxia tecidual e acidose metabólica, resultando em disfunção múltipla de órgãos · Manifestações dentro desse quadro: encefalopatia, miocardiopatia, nefropatia, pneumonite, hepatite e colestase, translocação bacteriana, insuficiência medular, polineuropatia SIRS: 1. T > 38° C ou < 36°C 2. FR > 20 ou pCO2 < 32 mmHg 3. FC > 90 bpm 4. Leucocitose > 12 mil células/mm3 ou < 4 mil células/mm3 ou mais que 10% de células imaturas na periferia Obrigatório: volume e ATB precoce · Outros procedimentos e exames são coadjuvantes · Lactato é um fator prognóstico SOFA: Cardiovascular: PAS < ou = 90 ou PAM < ou = 70 por pelo menos 1h, mesmo após ressuscitação volêmica OU necessidade de drogas vasopressoras para manter PAS > ou = 90 ou PAM > ou = 70 Renal: diurese < 0,5 mL/Kg/h por pelo menos 1 h mesmo após ressuscitação volêmica OU elevação da creatinina SNC: alteração do nível de consciência (rebaixamento ou agitação) Respiratório: se foco infeccioso pulmonar com PaO2/FiO2 < 200. Se foco infeccioso de outra origem com PaO2/FiO2 < 250 Metabólico: pH < 7,3 ou excesso de base < - 5 mEq com lactato plasmático 1,5x o normal OU hiperbilirrubinemia Hematológico: plaquetas < 80.000 ou com queda de 50% ou + nas últimas 72h Como diagnosticar? Infecção: · Febre, sinais flogísticos, feridas, secreções, sítio específicos · Leucocitose ou leucopenia, cultura, exames de imagem, procalcitonina Inflamação: · Alterações de dados vitais: FC, FR, PA, T · Provas de atividade inflamatória Disfunção de órgão: · Alterações de dados vitais: FC, FR, PA, T · Nível de consciência · Hiperlactatemia · Hipoxemia, uremia, elevação de creatinina, plaquetopenia Não há teste padrão ouro validado para dx de sepse SEPSE = INFECÇÃO + DISFUNÇÃO ORGÂNICA (> 2 pontos) CHOQUE SÉPTICO: hipotensão refratária a volume, com necessidades vasoativas e lactato elevado MEWS (Modified Early Warning System): · FR, FC, PA, nível de consciência, temperatura, débito urinário → pontuam tanto para mais, quanto para menos · Escore feito por cirurgiões Diagnóstico clínico e laboratorial (viral x bacteriano)/ tratamento de: · IVAS: amigdalite e rinossinusite aguda · Pneumonia (PAC) · Infecção do trato urinário · Infecção de pele e tecidos moles · Artrites e osteomielites (pé DM) · GECA (gastroenterite aguda) · Meningites · Endocardite **Focar na topografia, etiologias e gravidade (com o uso do qSOFA) Obs: febre nem sempre é infecção e infecção nem sempre é bacteriana - cuidado ao usar ATB TRATAMENTO (PRÉ-UTI): Melhor tratamento: · Dx precoce de sepse (possível sepse) com conhecimento clínicos previamente · Início de ATV imediato · Hidratação adequada (guiada pelo lactato e PAM) · Definição do foco de infecção - clínica e laboratório · Controle precoce do foco infeccioso, como drenar abscesso Ressuscitação inicial: 1. Imediatamente: volume e antimicrobiano (após coleta de hemocultura). Se hipoperfusão ou hipotensão (choque), pelo menos 30 mL/Kg de cristalóide IV nas primeiras 3 horas 2. Avaliação dinâmica para guiar hidratação: lactato, PAM, perfusão, ecocardio, “stroke volume variation”, “pulse pressure variation” 3. PAM = 65 como alvo para uso de vasopressores (noradrenalina), podendo iniciar em acesso periférico 4. Se choque, vaga de UTI em até 6 horas 5. Cateter nasal de alto fluxo Infecção: 1. Se não for óbvia, continuar a pesquisa sem atrasar o manejo inicial 2. Antimicrobiano imediatamente se choque ou em até 3h se sepse 3. A decisão do início de antimicrobiano é clínica e não deve depender da procalcitonina (marcador de função bacteriana) → sensibilidade de 77% e especificidade 79% para sepse 4. Escolha do antimicrobiano: betalactâmico (infusão contínua) ou opção bactericida Obs: escolha do betalactâmico se deve ao fato dele agir na parede bacteriana, rompendo-a com excelente ação bactericida, com alto nível sérico *Risco de MRSA? Daptomicina ou vancomicina → neutropênico, uso CVC, colonização prévia, diálise, lesões de pele, escaras, pós pneumonite vital *Risco de BGN MDR? Meropenem, polimixina, ceftazidima avibactam → neutropênico, internamento prévio em UTI, colonização prévia *Risco de candidemia? Equinocandina ou fluconazol 800 mg → neutropênico, pós operatório (TGI), pós antibiótico, pós UTI, candidemia prévia, com biomarcadores (glucanas), queimados, uso CVC, NPT *Necessidade de antivirais? 5. Controle do foco. Incluindo retirada de CVC 6. Deescalonar antibiótico sempre que possível 7. Menor tempo de ATB de acordo com o hospedeiro, patógeno, sítio e droga. Procalcitonina pode guiar a retirada do antibiótico, mas não atrasar o começo Controle hemodinâmico: 1. Recomenda-se cristalóides e sugere-se cristalóide balanceado 2. Albumina para os pacientes que usaram grandes volumes de cristalóide 3. Não usar amidos e colóides 4. Hidrocortisona se necessidade de droga vasoativa Obs: utilizamos apenas em pacientes mais debilitados (idosos, imunossuprimidos), para, caso o paciente tenha uma insuficiência de adrenal, as drogas vasoativas façam efeito. Se o paciente tiver insuficiência de adrenal e fizermos drogas vasoativas sem hidrocortisona, elas não farão efeito TAKE HOME POINTS: · Fisiopatogenia complexa: patogenicidade dos microrganismos e resposta do hospedeiro. Mas, resume-se em hipóxia tecidual (pela hipercoagulabilidade e instabilidade hemodinâmica) e lactato é um marcador precoce, guiando a reposição volêmica e drogas em associação com análise da PAM · Suspeitar de sepse PRECOCEMENTE - “conhecer sepse 1, 2 e 3” e considerar SIRS + qSOFA (MEWS) · Infecção + 2 SIRS + 1 ou mais disfunções orgânicas (qSOFA) ou MEWS > 7 · Tratamento na primeira hora reduz mortalidade e deve incluir hidratação + antibioticoterapia image1.png