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Disciplina | Introdução: o que é didática? www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR AULA 03 A Organização da Prática Docente no Ensino Superior Docência no Ensino Superior | Sumário www.cenes.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). Nem a instituição nem os autores assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. 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Material didático elaborado pela equipe de Engenharia e Gestão do Conhecimento do Grupo Focus de Educação sob solicitação do CENES – Centro de Estudos de Especialização e Extensão. © 2023, by Faculdade Focus Rua Maranhão, 924 - Ed. Coliseo - Centro Cascavel - PR, 85801-050 Tel: (45) 3040-1010 www.faculdadefocus.com.br Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. G892 GRUPO FOCUS DE EDUCAÇÃO. Docência no Ensino Superior: A Organização da Prática Docente no Ensino Superior / Org. Vitor Matheus Krewer. – Cascavel: Grupo Focus de Educação, Focus, 2023. 18 P. 1. Professor – formação. 2. Professor Universitário. 3 Ensino Superior. 4. Prática de Ensino. I. Título. CDD 23 ed.: 370.7124 http://www.faculdadefocus.com.br/ mailto:tutoria@faculdadefocus.com.br http://www.faculdadefocus.com.br/ Docência no Ensino Superior | Sumário www.cenes.com.br | 3 Sumário Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 Introdução: o que é didática? ------------------------------------------------------------------------- 4 1 A Didática no Ensino Superior -------------------------------------------------------------------- 5 2 Organização e Planejamento Didático -------------------------------------------------------- 8 3 Tecnologias Aplicadas a Prática Docente ---------------------------------------------------- 11 Considerações Finais ------------------------------------------------------------------------------------ 15 Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------------------------ 16 Docência no Ensino Superior | Introdução: o que é didática? www.cenes.com.br | 4 Introdução: o que é didática? Durante muito tempo, a didática foi predominantemente concebida como uma mera técnica de ensino. No contexto contemporâneo, entretanto, sua relevância se estende para o epicentro do processo de ensino e aprendizagem, uma vez que engloba os componentes essenciais que norteiam a prática docente com vistas à construção do conhecimento. O termo "didática" abarca a amalgama de ações e elementos que interagem sinergicamente, conferindo materialização ao processo educativo. Mesmo que se possua um planejamento meticuloso, objetivos claros, métodos e conteúdos substanciais, tais componentes podem permanecer fragmentados e desarticulados, carecendo, assim, de uma abordagem didática que proporcione a coesão necessária. Sem esse alicerce pedagógico, o processo de ensino pode permanecer inconcluso, e a mera transmissão de informações não se traduzirá, necessariamente, em aprendizagem. A didática atua como um fio condutor que direciona o professor, indicando os caminhos para compreender como o aluno aprende, levando em consideração a interação entre os componentes didáticos, incluindo o relacionamento professor- aluno, conteúdos, objetivos, planejamento, avaliação e metodologias (LIBÂNEO, 1990). Para guiar eficazmente essas trajetórias no âmbito do processo de ensino e aprendizagem, a didática organiza os elementos didáticos, integrando-os em contextos de ensino específicos, ao mesmo tempo em que incorpora conhecimentos científicos que serão transformados em saberes escolares. Esse complexo processo, que requer uma apropriação profunda por parte do professor, culmina no aprendizado do aluno e na formulação de diretrizes orientadoras para a atividade docente, diretrizes essas que devem conduzir a educação nos mais variados níveis, modalidades e formatos. No entanto, a relação entre didática e formação docente tem sido firmemente estabelecida na educação básica, com o objetivo de aprimorar a prática pedagógica e melhorar a qualidade da aprendizagem dos estudantes. No ensino superior, por sua vez, devido às peculiaridades desse contexto e à ausência tradicional de profissionais especializados em pedagogia para orientar os docentes, a discussão sobre didática tem sido relativamente limitada. Docência no Ensino Superior | A Didática no Ensino Superior www.cenes.com.br | 5 Essa falta de tradição na orientação pedagógica dos professores universitários foi em parte perpetuada pela crença antiquada de que "quem sabe, ensina". A ideia de que ser um profissional reconhecido em sua área de conhecimento era suficiente para uma carreira acadêmica bem-sucedida dominou o cenário universitário até recentemente (MASETTO, 2003). As dinâmicas educacionais mudaram, reconhecendo que a competência pedagógica é tão vital quanto a proficiência técnica. Além de ter amplo conhecimento em sua disciplina, o professor universitário deve possuir a habilidade de mediar o entendimento dos conteúdos junto aos alunos, capacitando-os a construir seus próprios saberes. Nesse contexto, a expertise técnica não é mais suficiente; os conhecimentos pedagógicos tornaram-se imperativos. A didática representa uma manifestação de conhecimento pedagógico, estando intrinsecamente ligada à pedagogia, focalizando-se nos componentes do processo de ensino e aprendizagem. Seguindo este raciocínio, ressaltamos que a didática se propõe a estabelecer diretrizes que capacitem o professor a avaliar criticamente sua própria prática, com o objetivo de aprimorá-la e, assim, otimizar a aprendizagem do aluno. Portanto, compreender que a docência no ensino superior também requer uma abordagem didática, é um passo significativo na compreensão da relação entre didática e educação superior. No decorrer desta unidade trataremos de aspectos relacionados a aplicação da didática no contexto do ensino superior, desenvolvendo e trabalhando conceitos e saberes relacionados ao campo da organização e do planejamento didático dos docentes e, ao final, como poderia faltar, comentaremos brevemente sobre as tecnologias aplicadas no âmbito da prática docente. 1 A Didática no Ensino Superior O encerramento do século XX foi marcado por significativas transformações que atingiram variados setores da sociedade, especialmente no que concerne à produção de conhecimento,ocasionando, por conseguinte, alterações nas instituições incumbidas de gerar e disseminar novos saberes. As modificações observadas nas instituições de ensino superior, em particular, resultaram primordialmente do aumento substancial na demanda por matrículas. Um Docência no Ensino Superior | A Didática no Ensino Superior www.cenes.com.br | 6 dado elucidativo aponta que entre os anos de 2001 e 2010, houve um incremento de 100% nas matrículas, culminando em um total de 6,5 milhões de novos estudantes, conforme as estatísticas apresentadas pelo Censo da Educação Universitária, veiculado pelo Ministério da Educação no ano de 2011 (SANTO; LUZ, 2013). O ingresso massivo de milhares de estudantes, muitos dos quais anteriormente excluídos da perspectiva de cursar o ensino superior, não apenas resultou em um público renovado, mas também inaugurou uma nova categoria profissional. Este público, estimulado pelas crescentes demandas, encontrou oportunidades no campo do ensino universitário. No entanto, a maior parte desses novos educadores não possui a formação acadêmica tradicional de um professor, nem mesmo o background pedagógico de um licenciado. Trata-se, em grande medida, de profissionais autônomos, bacharéis que agora se lançam na empreitada de dominar a arte do magistério (ZABALZA, 2004). O processo de aprender a ser um educador e compreender as nuances do panorama pedagógico, onde se articulam cada um dos elementos que compõem a relação entre ensino e aprendizagem, exige uma compreensão aprofundada dos elementos didáticos e a aquisição de saberes pedagógicos que viabilizem a conexão desses elementos. Essa apropriação dos saberes pedagógicos, mesmo por parte daqueles que cursaram programas de licenciatura, é imperativa, haja vista que se relaciona com as particularidades do ensino superior e do ambiente acadêmico. Portanto, torna-se fundamental que se compreenda a dinâmica acadêmica e se adquira discernimento sobre as complexas relações didáticas que se estabelecem nesse contexto específico. Os desafios inerentes às relações didáticas no âmbito do ensino superior englobam uma série de considerações relevantes que devem ser cuidadosamente ponderadas no que diz respeito à seleção das estratégias metodológicas, ao estabelecimento dos objetivos, à avaliação e aos demais elementos didáticos. Tais considerações representam os fundamentos basilares que instrumentalizam a concretização do processo de ensino e aprendizagem (ALMEIDA, 2015). A seguir, procede-se à exposição destes desafios: ▪ Conhecimento do aluno: Mais do que a simples ciência da área de estudo escolhida pelo aluno, a qual, apesar de relevante, é apenas um indicador a ser considerado, torna-se de suma importância compreender o trajeto formativo do estudante até o momento presente. Suas experiências profissionais, Docência no Ensino Superior | A Didática no Ensino Superior www.cenes.com.br | 7 vivências anteriores, estilo de vida e objetivos pessoais devem ser criteriosamente avaliados e incorporados na definição dos elementos didáticos. No contexto do ensino superior, tal aspecto assume uma relevância ainda maior, visto que as motivações e vivências do estudante frequentemente constituem as principais impulsionadoras de seu processo de aprendizagem. ▪ Engajamento do aluno: É comum que estudantes universitários desempenhem, simultaneamente, papéis de trabalhadores, enfrentando a sala de aula com cansaço proveniente de suas atividades profissionais. Portanto, torna-se imperativo atrair esses alunos e fomentar sua participação ativa. Isso requer a adoção de recursos e metodologias adequados, bem como a habilidade de integrar as tecnologias contemporâneas sem que se abra mão do diálogo. O objetivo é transformar a aula em uma experiência agradável e motivadora, na qual o estudante seja um participante efetivo do processo de aprendizagem, ao invés de mero espectador. ▪ Postura do professor: A postura docente demanda abertura para o diálogo e para responder a questionamentos, o que nem sempre é simples, uma vez que muitos professores se sentem intimidados ou questionados quanto à sua autoridade e domínio do conhecimento. Isso se deve, em parte, à facilidade dos alunos em acessar informações em tempo real e, ocasionalmente, às próprias experiências profissionais dos discentes. Portanto, os professores precisam atuar com segurança ao discutir e debater com seus alunos, compreendendo que seu papel não se restringe à detenção do conhecimento, mas sim à mediação ativa na construção de novos saberes. ▪ Postura do aluno: Em contraste com a educação básica, onde o professor é o mediador que incita o aluno a aprender, o ensino superior exige um engajamento mais substancial por parte dos discentes. Nesse nível de ensino, o processo é mais centrado no aluno, em sua capacidade de absorver conhecimento, buscar informações adicionais, realizar pesquisas e sistematizar seus saberes. Embora o professor ainda exerça um papel mediador, os estudantes são desafiados a desenvolver sua autonomia no processo de aprendizagem. Isso é crucial, uma vez que o objetivo é formar profissionais que Docência no Ensino Superior | Organização e Planejamento Didático www.cenes.com.br | 8 desempenhem papéis essenciais na sociedade e, por isso, precisam adquirir um conhecimento sólido e competente. ▪ Metodologias: A seleção de metodologias pedagógicas apropriadas é fundamental e deve estar em conformidade com as demandas específicas do processo de ensino-aprendizagem em questão. Isso não se limita a adotar atividades modernas e inovadoras ou a conferir dinamismo às aulas, mas sim a adaptar a estratégia educacional à abordagem formativa pretendida e ao perfil dos estudantes. Os obstáculos mencionados anteriormente refletem, em parte, uma tradição universitária em que os professores, na qualidade de detentores de conhecimento, permaneciam isolados em suas cátedras e frequentemente demonstravam indiferença com relação aos processos sociais. Em tais contextos, a responsabilidade do professor se restringia apenas ao ato de ensinar, enquanto o aprendizado era considerado unicamente como uma incumbência do aluno. No contexto educacional contemporâneo, caracterizado pela interação mais ativa entre as universidades e a sociedade, as instituições de ensino superior passaram a influenciar não apenas os processos produtivos e o mercado de trabalho, mas também a serem influenciadas por eles. Essa dinâmica exige uma adaptação nos processos formativos. Portanto, é imperativo superar os desafios apresentados. A estratégia fundamental para enfrentar esses desafios reside na capacitação docente. A melhoria na formação dos docentes, com foco na otimização de suas práticas e dos processos didáticos nos cursos superiores, representa o caminho para transformar o ensino em um processo efetivo de aprendizagem. Consequentemente, esse aprimoramento resultará na formação de profissionais mais bem preparados, com impactos significativos na sociedade e na própria estrutura das instituições de ensino superior. Essas instituições se transformarão efetivamente em espaços de aprendizado e descoberta, tanto para os alunos quanto para os próprios professores. 2 Organização e Planejamento Didático Cada elemento didático incorpora particularidades e funções intrínsecas ao processo de ensino e aprendizagem. Todavia, tais componentes, de maneira isolada, não estabelecem, por si só, uma abordagem didática eficaz, incapaz de guiar a prática docente em direção ao aprendizado. Docência no Ensino Superior | Organização e Planejamento Didático www.cenes.com.br | 9 Portanto, a fim de promover as vias para o processo de aprendizagem, torna-se imperativo entrelaçar e amalgamar o conjunto de elementos que compõe a prática didática, preservando a singularidade de cada um. É a sinergia desses elementosque direciona o olhar do professor para o seu propósito formativo, levando em consideração fatores como conteúdos, objetivos, perfil do estudante, o estabelecimento de uma relação interpessoal com o aluno, a escolha das metodologias pedagógicas e a avaliação do processo de aprendizado. A organização desses elementos, de tal maneira que essa estruturação possibilite ao professor direcionar, e, principalmente, manter o controle sobre o processo, constitui um elemento essencial da didática. Nesse contexto, destaca-se a importância de um dos componentes fundamentais da didática: o planejamento. Para compreender a relevância do planejamento no âmbito do ensino superior, é imperativo primeiro definir o seu conceito e analisar questões pertinentes, tais como: o que constitui um planejamento? Refere-se à instituição de ensino? À sala de aula? Ao conteúdo de uma aula específica? É de responsabilidade individual de um professor ou envolve todos os educadores? Tais questionamentos refletem a amplitude e a significância do planejamento no processo educativo. Portanto, é fundamental explorar suas particularidades. O planejamento tem como raízes a habilidade de antecipar, prever e, com base nessas projeções, selecionar as estratégias e recursos que contribuirão para a construção dos conhecimentos preconizados, bem como determinar os conteúdos a serem ministrados, de modo a alcançar o objetivo didático estabelecido. O planejamento, assim, se refere à trajetória didática escolhida pelo professor com o propósito de ensinar, tendo em vista a aprendizagem do aluno. Portanto, planejar implica tomar decisões com foco no ensino e aprendizado (SANT'ANNA, 1998). O planejamento, como componente didático, abarca diversas finalidades e perspectivas, apresentando uma amplitude que se desdobra para atender às particularidades de cada etapa do processo educacional, enquanto mantém sua natureza essencialmente organizativa. O ponto de partida para as distintas dimensões do planejamento é o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, o qual deve fundamentar o propósito formativo e as concepções sobre ensino, indivíduo e sociedade que guiam esse propósito. Desse modo, o plano institucional decorre do que o PPP estabelece como Docência no Ensino Superior | Organização e Planejamento Didático www.cenes.com.br | 10 formação e constitui uma empreitada coletiva, realizada pela comunidade universitária, que visa a traçar as diretrizes didáticas a serem seguidas pelo corpo docente. A intenção é a de padronizar procedimentos, sem negligenciar a autonomia e a individualidade inerentes ao trabalho de cada professor. O plano institucional tem como objetivo alinhar as ações, tendo em vista o processo formativo definido, sem fragmentar ou perder de vista os elementos previamente estabelecidos no Projeto Pedagógico. Integrante do plano institucional, o plano de ensino se vincula aos elementos formativos delineados pelo Projeto Político Pedagógico (PPP). Todavia, leva em consideração as particularidades inerentes a cada área do conhecimento, visando assegurar que todos os cursos da instituição possuam uma identidade singular, harmonizando-se com o plano institucional e, simultaneamente, respeitando as demandas e os contextos formativos de cada campo. Como ilustração, podemos mencionar o curso de Pedagogia, o qual deve estar em sintonia com o projeto institucional, almejando formar um pedagogo crítico, reflexivo e capacitado a orientar práticas pedagógicas diversas e a analisá-las à luz das várias concepções ou correntes pedagógicas. Este representa o princípio orientador para a formação de um pedagogo. No entanto, as coordenações e os colegiados de cursos têm a responsabilidade de deliberar e definir quais conteúdos são necessários para o desenvolvimento das competências requeridas desse futuro profissional, ou seja, quais disciplinas devem ser incorporadas na estrutura curricular do curso. Dessa forma, o plano de ensino lida com as escolhas curriculares do curso, abordando a maneira como cada disciplina contribuirá para a concretização dos objetivos estabelecidos na proposta de formação do curso. Convergindo com os planos institucional e de ensino, mas em uma dimensão mais específica, emerge o plano de aula, que se concentra na abordagem de conteúdos individuais e na forma como esses conteúdos serão abordados didaticamente no ambiente da sala de aula, com o intuito de cumprir o objetivo traçado para a disciplina. Este objetivo, por sua vez, deve estar alinhado com as demais disciplinas do curso, a fim de promover a formação desejada. O plano de aula abrange a definição de estratégias metodológicas que permitam uma compreensão abrangente dos conteúdos e sua interligação com outros tópicos do curso. Ao elaborá-lo, o perfil do aluno deve ser considerado, abarcando também a escolha dos recursos pedagógicos a serem empregados, os tipos de atividades Docência no Ensino Superior | Tecnologias Aplicadas a Prática Docente www.cenes.com.br | 11 propostas e o método de avaliação, tendo como ponto de referência o plano de ensino. Nesse contexto, o plano de aula se configura como uma expansão detalhada do plano de ensino (Libâneo, 1993). O planejamento, em todas as suas dimensões, é o alicerce da ação didática. Por meio dele, os elementos didáticos são organizados, facultando ao professor, ao compreender os objetivos estabelecidos, a determinação das estratégias mais apropriadas para que resulte em aprendizagem. Para tanto, o professor deve ter plena consciência de sua função e da natureza singular da ação docente, compreendendo que a ação didática constitui parte intrínseca desse processo. É imperativo que o educador se aproprie dessa ação como parte de sua profissionalidade docente, reconhecendo que a função do professor universitário vai além da pesquisa, incluindo a formação de outros profissionais. Isso, por sua vez, demanda uma formação pedagógica. A formação pedagógica implica a adoção da identidade docente e, com base nessa escolha, a busca por conhecimentos que enriqueçam sua prática pedagógica. Isso torna indispensável o conhecimento da didática e seus componentes, com destaque para as metodologias que podem ser aprimoradas por meio da introdução de diversos elementos de inovação, notadamente o emprego de tecnologias educacionais. 3 Tecnologias Aplicadas a Prática Docente Através dos períodos da história da humanidade, a ciência e a tecnologia têm desempenhado um papel fundamental na redefinição dos modos de vida e na criação de novas expressões culturais. Elas desencadearam significativas mudanças em inúmeros processos sociais, afetando de maneira proeminente domínios como o trabalho, o lazer, a saúde e as relações interpessoais, ou seja, em todas as esferas da vida humana (KENSKI, 2013). Este fenômeno corresponde à adoção de uma percepção singular do cotidiano social que permeou as relações humanas de maneira irreversível. Uma percepção que está imbuída de progressos tecnológicos e que desempenha um papel essencial, sobretudo na forma como nos relacionamos com o conhecimento. Essa relação gerou a construção de novos campos de conhecimento e novas abordagens para compreender e apreender o mundo e a sociedade que nos rodeiam. Docência no Ensino Superior | Tecnologias Aplicadas a Prática Docente www.cenes.com.br | 12 Resultante de uma multiplicidade de processos históricos, a tecnologia evoluiu para se tornar a principal força motriz da sociedade contemporânea. Esse desenvolvimento está fundamentalmente ancorado nas transformações econômicas decorrentes da Revolução Industrial, que deu origem a novas formas de comunicação e revolucionou a maneira como a sociedade encara a informação. Consequentemente, esse cenário impulsionou um dinamismo e uma velocidade sem precedentes nas mudanças sociais. A notável celeridadedas transformações sociais torna imperativa uma adaptação constante do indivíduo à medida que o conhecimento se torna cada vez mais volátil. O que era considerado verdade e era transmitido como tal há apenas uma ou duas décadas é agora objeto de questionamento e, em alguns casos, refutação. Diante desse contexto, emerge a necessidade de formar indivíduos mais críticos, capazes de questionar e se adaptar aos desafios contemporâneos. Além disso, a formação deve capacitá-los a utilizar eficazmente as ferramentas tecnológicas, uma vez que estas desempenham um papel central em todas as esferas da sociedade moderna, onde a ciência e a tecnologia são os pilares do desenvolvimento. A universidade, como instituição encarregada de moldar os futuros profissionais e cidadãos, está imbuída da responsabilidade de adaptar seu processo de formação. Esse processo transcende a mera transmissão de conhecimentos específicos de uma profissão e se insere na missão mais ampla de construção social. Assim, é incumbência da universidade formar indivíduos capazes de se orientar qualitativamente nas complexas redes sociais que emergem da interação entre o conhecimento e a tecnologia. Portanto, torna-se essencial que as instituições de ensino superior incorporem a tecnologia no cerne de suas práticas pedagógicas, proporcionando aos alunos as habilidades necessárias para utilizar ferramentas tecnológicas tanto em seu ambiente profissional quanto em sua vida cotidiana. Afinal, como enfatizado por Mill e Jorge (2013), "não dominar a linguagem legitimada pela sociedade, desconhecer as tecnologias, a linguagem e a língua que dão suporte ou não saber fazer uso delas significa, automaticamente, exclusão do grupo beneficiado pelas tecnologias digitais." Para tornar isso uma realidade, é imprescindível que o corpo docente da universidade esteja adequadamente preparado para a utilização das tecnologias, possibilitando assim a integração eficaz dessas ferramentas nas salas de aula, com o objetivo de contextualizar e redefinir o conhecimento produzido socialmente. Docência no Ensino Superior | Tecnologias Aplicadas a Prática Docente www.cenes.com.br | 13 A inserção da tecnologia no contexto educativo transcende a mera disponibilização de equipamentos. Embora a infraestrutura para o uso de tecnologia nas universidades seja relevante, não se pode subestimar o fato de que "a tecnologia não é algo simplesmente independente, com existência e finalidades próprias; pelo contrário, existe pelo e para o ser humano" (NEGRI FILHO, 2008). Nesse sentido, é imperativo que as funcionalidades tecnológicas sejam cuidadosamente articuladas com o conteúdo curricular, tornando o ensino e a aprendizagem mais alinhados com o contexto dos alunos. Portanto, não se limita apenas à implementação de computadores ou à modernização das instituições, mas sim a elevar a tecnologia a um recurso para a construção de novos conhecimentos. Isso implica na integração não somente nas metodologias de ensino, mas também nos planos de ensino dos cursos e no Projeto Político Pedagógico da instituição. Como destacado por Almeida e Valente (2011), a integração de tecnologia no currículo oferece uma ampla gama de estratégias que podem aprimorar o processo de ensino, ajustando-se aos contextos familiares dos alunos. Essa integração possibilita que os alunos se tornem agentes ativos na construção de conhecimentos por meio da ressignificação do que já sabem, mediado por "diferentes ferramentas e interfaces digitais" (ALMEIDA; VALENTE, 2011, p. 33). Dentre as várias interfaces tecnológicas que possibilitam essa interação com a realidade cotidiana e o mundo, a internet se destaca como a principal ferramenta de transformação. A internet não apenas influencia as interações diárias e o acesso global à informação, mas também influencia a produção de novos conhecimentos e saberes. Devido à sua capacidade de fornecer acesso e interação global, a internet pode contribuir significativamente para diversificar as estratégias de ensino, bem como para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel no mundo, capazes de interagir em diversos contextos e respeitar diversas realidades culturais. Portanto, é dever dos professores universitários estarem preparados para mediar a relação entre os alunos e o conhecimento, incorporando diversas interfaces tecnológicas nos processos de ensino e aprendizagem. Eles devem orientar e indicar caminhos para uma aprendizagem mais crítica e reflexiva. Existem várias maneiras pelas quais os professores podem integrar a tecnologia no ensino e aprendizagem, como blogs, aplicativos, simuladores, programas interativos, redes sociais, Google Earth, ferramentas de busca, criação de sites, jornais Docência no Ensino Superior | Tecnologias Aplicadas a Prática Docente www.cenes.com.br | 14 online e muito mais. Cada um desses meios oferece uma abordagem de aprendizado que capacita o aluno a se tornar um agente ativo na construção de conhecimento, que posteriormente se tornará parte de sua bagagem cultural e profissional. A utilização de tecnologias, em conjunto com metodologias ativas, pode ser mais do que apenas um recurso; pode se tornar um princípio educacional com o objetivo de fomentar o conhecimento e, mais importante, o desenvolvimento social. Entretanto, a integração da tecnologia ao currículo, sobretudo no ensino superior, requer uma formação do corpo docente que permita compreender as tecnologias como um suporte para otimizar a aprendizagem. A tecnologia na educação não deve ser vista simplesmente como uma ferramenta, mas como um elemento facilitador para a construção de novas estruturas cognitivas e estratégias educacionais inovadoras que se adaptem aos novos métodos de ensino e aprendizagem. Assim, as instituições e seus profissionais devem adotar a tecnologia educacional como um recurso fundamental para aprimorar os processos de ensino e aprendizagem, com o propósito de estreitar a relação entre o conhecimento e o contexto social e transformar a universidade em um espaço de aprendizagem em todas as suas dimensões. Essa transformação implica uma série de ações coordenadas e um comprometimento integral da instituição e de seus professores. O primeiro passo é reconhecer a relevância da tecnologia como parte integrante da experiência educacional. Em seguida, é necessário oferecer suporte e treinamento adequados aos professores para que possam efetivamente incorporar a tecnologia em seus planos de ensino. Uma abordagem eficaz requer uma revisão dos currículos para integrar de forma coerente as tecnologias ao longo dos cursos. Isso não significa simplesmente adicionar tecnologia como um apêndice, mas sim repensar como a tecnologia pode melhorar a compreensão e a aplicação dos conceitos dentro de uma disciplina. Além disso, é fundamental estabelecer diretrizes pedagógicas claras para o uso da tecnologia. Os professores devem planejar cuidadosamente como a tecnologia será utilizada em suas aulas, considerando os objetivos de aprendizagem, o perfil dos alunos, os recursos didáticos a serem empregados e a avaliação dos resultados. A avaliação contínua dos métodos de ensino e da eficácia da tecnologia também é essencial. As instituições de ensino superior devem estar dispostas a adaptar e Docência no Ensino Superior | Considerações Finais www.cenes.com.br | 15 aprimorar suas abordagens à medida que novas tecnologias emergem e a compreensão sobre como melhor usá-las evolui. A colaboração entre professores e a criação de uma cultura de compartilhamento de melhores práticas também desempenham um papel importante. A troca de experiências e estratégias bem-sucedidas entre colegas pode enriquecer a abordagem de ensino de todos. Em constante evolução, a formação pedagógica dos professores universitários é crucial. Eles devem ser capazes de adaptar-seàs mudanças tecnológicas, compreender as diferentes maneiras pelas quais a tecnologia pode ser integrada no ensino superior e orientar os alunos em sua jornada de aprendizado nesse ambiente digital. Por fim, devemos considerar que a integração da tecnologia no ensino superior não se limita à aquisição de equipamentos, mas envolve uma transformação holística do processo de ensino e aprendizagem. Isso requer a colaboração de instituições, professores e alunos para criar um ambiente educacional que esteja alinhado com as necessidades da sociedade atual, capacitando os alunos com habilidades críticas e um conhecimento profundo, ao mesmo tempo em que os prepara para interagir de forma eficaz em um mundo cada vez mais tecnológico e interconectado. Considerações Finais O ensino superior tem experimentado significativas transformações nas últimas décadas, conduzindo a uma mudança de paradigma na compreensão do processo de ensino e aprendizagem por parte da comunidade universitária. Atualmente, a concepção evoluiu para reconhecer que tanto o professor quanto o aluno desempenham papéis ativos nesse processo, e, portanto, a função do educador não se limita à mera transmissão de conhecimentos, mas abrange a co-construção do saber. Nesse cenário, a ação didática emerge como um elemento central das práticas pedagógicas no ensino superior. Ela orienta os educadores na compreensão do processo de aprendizado dos alunos e nas estratégias para criar ambientes de ensino que promovam uma aprendizagem eficaz, alinhada com os objetivos formativos da instituição. A compreensão da importância da ação didática no contexto do ensino superior é relativamente recente e, em certa medida, ainda enfrenta resistência. É um conceito Docência no Ensino Superior | Bibliografia www.cenes.com.br | 16 que precisa ser construído em colaboração com os professores, de modo que eles compreendam que as dinâmicas atuais de ensino e aprendizagem escapam do antigo modelo de transmissão de conhecimento, em que o professor desempenhava um papel central e o aluno era principalmente um receptor passivo de informações. A nova perspectiva não diminui a relevância do professor, mas sim redireciona seu foco, passando da simples transferência de conhecimento para o papel de orientador, facilitador e mediador na construção do saber do aluno. Nesse contexto, o uso de recursos didáticos, incluindo as tecnologias educacionais, desempenha um papel fundamental para aprofundar a compreensão do processo de ensino e aprendizagem, além de aprimorar as práticas pedagógicas. A melhoria da prática pedagógica implica a busca contínua de aperfeiçoamento profissional por parte dos docentes. A promoção do "aprender a aprender" deve se tornar um norte constante em suas carreiras, enfatizando que a formação pedagógica não é um ato isolado, mas um processo contínuo que requer o apoio institucional na implementação de ações que ampliem o conhecimento e a compreensão da importância da didática no ensino superior. Finalizando esta unidade, ressaltamos que é essencial que as instituições de ensino superior promovam a formação docente e a valorização da ação didática como elementos fundamentais na construção de um ambiente de ensino eficaz e eficiente, no qual tanto professores quanto alunos estejam envolvidos ativamente no processo de aprendizagem e na construção do conhecimento. Bibliografia ALMEIDA, H. M. de. A didática no ensino superior: práticas e desafios. Estação Científica, Juíz de Fora, n. 14, p. 1-8, dez. 2015. Disponível em https://portal.estacio.br/docs%5Crevista_estacao_cientifica/07-14.pdf. Acesso em 12 de outubro de 2023. ALMEIDA, M. E. B. de; VALENTE, J. A. 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Didática do ensino superior / Mary Natsue Ogawa. - 1. ed. – Curitiba -PR: IESDE, 2020. SANT’ANNA, F. M. et al. Planejamento de Ensino e Avaliação. Porto Alegre: Sagra, 1998. SANTO, E. do E.; LUZ, L. C. S. da. Didática no ensino superior: perspectivas e desafios. Saberes, Natal, v. 1, n. 8, p. 58-72, ago. 2013. Disponível em https://periodicos.ufrn.br/saberes/article/view/2201/3366. Acesso em 12 de outubro de 2023. ZABALZA, M. A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004. Docência no Ensino Superior | Bibliografia www.cenes.com.br | 18 Sumário Introdução: o que é didática? 1 A Didática no Ensino Superior 2 Organização e Planejamento Didático 3 Tecnologias Aplicadas a Prática Docente Considerações Finais Bibliografia