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RESUMO DE FISIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR Thalia Michele Vier Schmitz Medicina UFRGS ATM 2024/1 Baseado nas aulas e slides da professora Adriane Bello Klein Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 2 Sumário FUNÇÕES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR ...................................................................... 8 Considerações anatômicas e funcionais do sistema cardiovascular ......................................... 8 Circulação coronariana .............................................................................................................. 9 Tecidos cardíacos .................................................................................................................... 11 1) Pericárdio ........................................................................................................................ 11 2) Miocárdio ........................................................................................................................ 12 3) Endocárdio ...................................................................................................................... 14 Miocárdio – tipos celulares ..................................................................................................... 15 Musculatura atrial versus musculatura ventricular ................................................................ 18 LEIS DE LAPLACE .......................................................................................................................... 19 Aplicações da Lei de Laplace ................................................................................................... 19 Hipertrofia concêntrica ........................................................................................................... 20 Hipertrofia excêntrica ............................................................................................................. 20 Hipertrofia mista ..................................................................................................................... 20 PROPRIEDADES FUNCIONAIS DA FIBRA MIOCÁRDICA ................................................................ 23 a) Automatismo ....................................................................................................................... 23 2) Condutibilidade ................................................................................................................... 24 3) Excitabilidade ...................................................................................................................... 25 4) Contratilidade ..................................................................................................................... 27 5) Lusitropismo ........................................................................................................................ 29 ATIVIDADE ELÉTRICA DO CORAÇÃO ............................................................................................ 30 Canais iônicos no músculo cardíaco ........................................................................................ 31 1) Canais de sódio – corrente rápida .................................................................................. 31 2) Canais de cálcio ............................................................................................................... 32 3) Canais de potássio ........................................................................................................... 32 4) Trocador de sódio-cálcio ................................................................................................. 34 Potencial de repouso das células cardíacas ............................................................................ 34 Potencial de ação do tipo rápido – átrios e ventrículos .......................................................... 35 Potencial de ação lento ........................................................................................................... 37 Modulação das células auto-excitáveis ................................................................................... 39 Função do potencial de ação .................................................................................................. 40 Sequência da ativação cardíaca .............................................................................................. 41 ECG e as ondas ........................................................................................................................ 43 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 3 Relações temporais entre os potenciais de ação e o ECG ...................................................... 44 ELETROCARDIOGRAMA (ECG) ..................................................................................................... 45 Histórico do ECG ...................................................................................................................... 45 Derivações do plano frontal .................................................................................................... 46 Plano das derivações ............................................................................................................... 50 Representação vetorial ............................................................................................................ 51 Representação vetorial – casos ............................................................................................... 53 Como é feito o registro no ECG? ............................................................................................. 54 Significado das Ondas ............................................................................................................. 55 Onda P ................................................................................................................................. 57 Ondas F ................................................................................................................................ 57 Espaço PQ ou PR .................................................................................................................. 57 Complexo QRS ..................................................................................................................... 57 Intervalo QT ......................................................................................................................... 58 Segmento ST ........................................................................................................................ 58 Segmento TP ....................................................................................................................... 58 Vetores de despolarização e repolarização ventriculares. ................................................. 58 Onda T ................................................................................................................................. 60 Onda Ta ................................................................................................................................ 60 Onda U ................................................................................................................................. 60 Interpretação do ECG normal .................................................................................................61 Informações trazidas pelo ECG ............................................................................................... 62 1. Frequência cardíaca ........................................................................................................ 62 2. Ritmo ............................................................................................................................... 63 Arritmias .................................................................................................................................. 63 1) Arritmias de origem sinusal ............................................................................................ 63 2) Ritmo ectópico ................................................................................................................ 64 3) Bloqueios de condução ................................................................................................... 65 4) Síndromes de pré-excitação ............................................................................................ 65 Flutter ventricular .................................................................................................................... 66 Fibrilação ............................................................................................................................. 67 Bloqueios atrioventriculares ................................................................................................ 67 3. Eixo elétrico .................................................................................................................... 69 Hipertrofia cardíaca e ECG ..................................................................................................... 70 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 4 Infarto ...................................................................................................................................... 72 Alterações na fase de isquemia ............................................................................................... 73 Dicas para verificar, em um ECG, a ocorrência de um infarto ............................................... 74 ATIVIDADE MECÂNICA CARDÍACA ................................................................................... 78 Estrutura das células cardíacas ................................................................................................ 78 O processo de contração .......................................................................................................... 80 Teorias da contração ............................................................................................................... 82 Compartimentos do cálcio ....................................................................................................... 87 Contratilidade .......................................................................................................................... 89 Modulação da contratilidade ............................................................................................... 89 Atividade mecânica do coração ............................................................................................... 90 Tipos de contração .................................................................................................................. 90 Ciclo cardíaco .......................................................................................................................... 91 Diagrama de Wiggers .............................................................................................................. 92 Bulhas cardíacas ...................................................................................................................... 94 Débito Sistólico ou Volume Sistólico ..................................................................................... 94 Débito cardíaco ou volume-minuto ......................................................................................... 95 Índice cardíaco ........................................................................................................................ 95 Relação do débito cardíaco com certas variáveis .................................................................... 95 a) Relação do débito cardíaco com a postura ...................................................................... 95 Variações do débito cardíaco durante o ciclo respiratório .................................................. 96 Desdobramento fisiológico do segundo ruído (“tum”, “ta”, “ta”)........................................... 97 Manobra de Valsalva ............................................................................................................... 97 Alça de pressão versus volume ............................................................................................... 98 O que pode alterar essa alça? .............................................................................................. 99 Inotropismo – gráficos ...................................................................................................... 100 Lusitropismo ..................................................................................................................... 101 Insuficiência aórtica crônica .............................................................................................. 102 Estenose aórtica ................................................................................................................. 102 REGULAÇÃO DA ATIVIDADE CARDÍACA ....................................................................... 104 1. Autorregulação .................................................................................................................. 104 Autorregulação heterométrica – Mecanismo de Frank-Starling ............................... 104 b) Autorregulação e frequência cardíaca ........................................................................... 107 2) Regulação nervosa ............................................................................................................ 107 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 5 a) Divisão parassimpática .................................................................................................. 107 Reflexos vagais ................................................................................................................. 108 b) Divisão simpática .......................................................................................................... 109 3) Regulação Humoral .......................................................................................................... 109 4) Regulação Hormonal ........................................................................................................ 109 a) Catecolaminas ............................................................................................................... 110 b) Hormônios adrenocorticais ........................................................................................... 110 c) Hormônios tireoidianos ................................................................................................. 110 d) Estrogênios .................................................................................................................... 111 e) Insulina .......................................................................................................................... 112 f) Glucagon ........................................................................................................................ 112 g) Hormônios da hipófise anterior..................................................................................... 112 FISIOLOGIA CIRCULATÓRIA.............................................................................................. 113 Leis gerais da circulação ....................................................................................................... 115 a) Lei da pressão ................................................................................................................ 115 b) Lei da velocidade .......................................................................................................... 116 c) Lei do caudal/lei do fluxo ............................................................................................. 117 Estrutura dos vasos ................................................................................................................ 118 Determinantes do fluxo sanguíneo ........................................................................................ 119 CIRCULAÇÃO ARTERIAL ................................................................................................ 120 Por que se utiliza como unidade de medida para a pressão arterial o mmHg?.................. 123 Pressão de pulso ou pressão diferencial ............................................................................ 126 Pressão arterial média ........................................................................................................ 127 Aferição da pressão arterial (medida indireta – medida não-invasiva) ............................. 129 CIRCULAÇÃO CAPILAR ................................................................................................... 130 Estrutura da parede capilar ................................................................................................ 132 Pressões e fluxo capilar ..................................................................................................... 132 O que determina se haverá mais ou menos trocas entre o sangue e o interstício? Forças de Starling. ............................................................................................................................. 133 CIRCULAÇÃO LINFÁTICA ............................................................................................... 136 Edema ................................................................................................................................ 138 CIRCULAÇÃO VENOSA .................................................................................................... 139 Considerações anatômicas ................................................................................................. 139 Complacência .................................................................................................................... 141 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 6 Pressão venosa e fluxo ...................................................................................................... 141 Pulso venoso ...................................................................................................................... 143 CONTROLE LOCAL DO FLUXO SANGUÍNEO .................................................................. 145 a) Auto-regulação .................................................................................................................. 145 1. Teoria Miogênica .......................................................................................................... 145 2. Teoria/Regulação metabólica ........................................................................................ 145 b) Controle neural do tônus arterial e venoso........................................................................ 147 1. Simpático ....................................................................................................................... 147 2. Parassimpático ............................................................................................................... 147 3. Simpático colinérgico .................................................................................................... 148 4. Inervação não-adrenérgica e não colinérgica (NANC) – inervação nitrérgica. ............ 148 c) Controle humoral do tônus arterial e venoso .................................................................... 149 REGULAÇÃO DO DÉBITO CARDÍACO .............................................................................. 154 Controle do débito cardíaco .................................................................................................. 154 Curva de função vascular ...................................................................................................... 156 HEMOSTASIA ......................................................................................................................... 162 a) Fase vascular ..................................................................................................................... 163 b) Hemostasia primária: fase plaquetária .............................................................................. 163 Plaquetas? .............................................................................................................................. 165 c) Hemostasia secundária – coagulação ................................................................................ 166 d) Fibrinólise ......................................................................................................................... 167 Mecanismo geral da coagulação ........................................................................................... 167 Cascatas de coagulação – via intrínseca e via extrínseca. ..................................................... 168 a) Via extrínseca ................................................................................................................ 168 b) Via intrínseca ................................................................................................................ 169 REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL A CURTO PRAZO ............................................ 171 Mecanismos de controle da pressão arterial .......................................................................... 171 Mecanismos neuro-humorais da regulação da pressão arterial ............................................. 172 a) Barorreflexo .................................................................................................................. 172 Como o SNC sabe se é necessária uma vasoconstrição ou vasodilatação? ....................... 174 Aferências do sistema............................................................................................................ 178 a) Baro ou Pressorreceptores arteriais ............................................................................... 178 O que acontece quando retiramos a influência do barorreflexo? Desenervação sino-aórtica ........................................................................................................................................... 183 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 7 b) Quimiorreceptores arteriais ............................................................................................... 184 → Reflexo quimiorreceptor .............................................................................................. 185 c) Receptores cardiopulmonares ........................................................................................... 186 Reflexo de Bainbridge ....................................................................................................... 187 → Vias dos receptores cardiopulmonares ......................................................................... 189 → Hemorragia .......................................................................................................................190 Resposta isquêmica do SNC ................................................................................................. 191 Reação de Cushing ................................................................................................................ 191 Síncope vaso-vagal ................................................................................................................ 192 CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL A LONGO PRAZO ............................................... 194 Curva de função renal ........................................................................................................... 195 Aldosterona ........................................................................................................................... 196 Hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina................................................................... 197 Fatores desencadeantes do mecanismo da sede .................................................................... 197 Alterações de volemia e osmolaridade .................................................................................. 198 HIPERTENSÃO ARTERIAL ................................................................................................... 199 Modelos animais ................................................................................................................... 199 Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 8 FUNÇÕES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR → Transporte de oxigênio, nutrientes. → Remoção de dióxido de carbono e outros restos metabólicos. → Transporte de moléculas sinalizadoras dentro do corpo. → Função de defesa – transporte de moléculas que envolvem o sistema imunológico. → Transporte de calor – conservar e dissipar calor por controle do tônus dos vasos da pele, especialmente. Considerações anatômicas e funcionais do sistema cardiovascular Coração: principal bomba do sistema. Artérias maiores também auxiliam nessa condição com função de bomba, mas de forma menos significativa. Coração direito: captação do sangue das vias venosas e envio/direcionamento dele para os pulmões para a realização das trocas gasosas. Vasos que chegam ao coração: veias. Vasos que saem do coração: artérias. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 9 Pela veia cava inferior vem a maior parte do retorno venoso – tronco, trato digestório, membros inferiores. Veias pulmonares chegam ao átrio esquerdo. O sangue bem oxigenado é bombeado pelo ventrículo esquerdo para a aorta, para ser distribuído para o restante do organismo. O ventrículo direito é uma bomba mais fraca porque não necessita fazer um bombeamento com tanta pressão, já que a circulação pulmonar trabalha com pressões mais baixas. Isso se reflete em um menor número de camadas de células, ao contrário do ventrículo esquerdo, que precisa fazer muito mais força para vencer a resistência da aorta. Circulação coronariana Sistema circulatório para o próprio coração. Os dois vasos principais são as coronárias direita e esquerda. O ramo mais calibroso é o ramo descendente anterior esquerdo → por onde passa mais fluxo sanguíneo. O ramo circunflexo é responsável pela irrigação da porção mais posterior do coração. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 10 As próprias contrações do coração vão diminuir o fluxo sanguíneo nas artérias coronárias (bem como esse será de acordo com as necessidades metabólicas do tecido). Quando as contrações são muito fortes, essas artérias, especialmente do lado esquerdo, acabam comprimidas, o que diminui o fluxo sanguíneo. Trata-se de um fluxo controlado por fatores locais. → Infarto do miocárdio – ocorre quando para de circular sangue em algum ramo das coronárias, geralmente em consequência de placas ateromatosas. → Em um coração normal e sadio, o fluxo sanguíneo é unidirecional: do átrio para o ventrículo, e do ventrículo para as artérias. Esse fluxo em uma só direção é mantido pelas valvas cardíacas. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 11 Valvas atrioventriculares: presentes entre os átrios e ventrículos. A valva atrioventricular esquerda é chamada de mitral ou bicúspide, e a valva atrioventricular direita é chamada de tricúspide. Cordas tendíneas prendem as valvas nos músculos papilares. Devido a essa estrutura, elas são mais resistentes do que as valvas arteriais. Essa estrutura é importante para evitar que essas valvas grudem nas paredes do próprio coração. Quando elas não funcionam adequadamente, temos um quadro de insuficiência valvar. A abertura e o fechamento das valvas dependem de alterações de pressão. Há valvas arteriais – semilunares/sigmoides – como a valva arterial pulmonar e a valva arterial aórtica. o A abertura e fechamento dessas valvas dependem somente de alterações de pressão. Por isso, pode-se fazer uma substituição delas, quando não mais funcionam adequadamente, por artificiais, já que elas não são comandadas por sinais químicos ou inervação. Tecidos cardíacos 1) Pericárdio Tecido conjuntivo – sistema de membranas para proteção e amortecimento. O depósito de gordura se dá nessa camada. Pericárdio visceral: é contínuo com o tecido conjuntivo mais externo do coração, que é chamado de epicárdio. Pericárdio parietal: tecido conjuntivo que protege o coração e o ancora às estruturas adjacentes. Há líquido entre essas duas camadas de pericárdio. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 12 Pericardite: acúmulo de líquido inflamatório entre os dois folhetos, o que acaba “apertando” o coração. A consequência disso é que o coração não consegue encher normalmente, porque tem o seu espaço de expansão limitado. Leva ao tamponamento cardíaco = estado no qual o coração não expande devido ao acúmulo de líquido na cavidade pericárdica. O saco pericárdico limita o volume de enchimento do coração. Quando o coração não consegue encher de forma correta, temos uma disfunção diastólica – diástole é o momento em que o músculo cardíaco relaxa para receber e acomodar o fluxo sanguíneo do retorno venoso. 2) Miocárdio Anatomicamente semelhante ao músculo esquelético, mas funcionalmente semelhante ao músculo liso. Átrios: desenvolvem baixas pressões. Em consequência disso, suas paredes apresentam duas camadas de células. o Musculatura atrial: células em ângulo reto uma em relação às outras. São células menores, com menos junções entre si, e com mais colágeno entre as fibras. o Músculos pectinados: possuem fibras que compõem os feixes intermodais – sistema de condução atrial. Ventrículos: desenvolvem altas pressões. Em consequência disso, suas paredes apresentam três camadas de células. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 13 o Musculatura ventricular: três camadas – bulboespiral interna, constritora e bulboespiral externa. Bulboespiral interna: quando essa camada contrai, varia o comprimento longitudinal do músculo cardíaco. Constritora: é uma camada circular, faz a volta em todo o diâmetro da fibra. Ao encurtar o raio, consegue-se aumentar mais a pressão dentro das câmaras cardíacas. Bulboespiral externa: quando contrai também varia o comprimento longitudinal do músculo. Algumas cardiopatias acabam prejudicando/acabando com essa formatação e geometria, prejudicando assim a função cardíaca, como ocorre em algumas cardiopatias dilatadas → exemplo: Doença de Chagas.o A parede que separa os dois ventrículos é parte constituinte do ventrículo esquerdo; assim, a contração do ventrículo esquerdo ajuda na contração do ventrículo direito de forma simultânea. o Ventrículo direito: bomba de volume. O ventrículo direito tem um raio maior em função de ter também uma parede menos espessa. Assim, a pressão dentro da câmara é menor. Tem uma capacidade maior de absorver volumes, consegue se expandir mais em razão do predomínio de musculatura bulboespiral (mais estiramento). o Ventrículo esquerdo: bomba de pressão. Apresenta raio menor, parede mais espessa, e maior pressão dentro da câmara. Inervação: autonômica. Quando ocorre o corte dessa inervação, o coração consegue continuar batendo. Por isso é possível realizar transplantes cardíacos. o A inervação autonômica serve para modular a atividade cardíaca. o A ativação do sistema nervoso autônomo simpático leva ao aumento da atividade cardíaca, enquanto que a ativação da parte parassimpática leva à sua diminuição. o Além da inervação, vários hormônios também podem atuar modelando a atividade cardíaca. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 14 3) Endocárdio Constituído por uma fina membrana endotelial, formando pregas nos orifícios entre os átrios e ventrículos – as valvas cardíacas. Sobre o endocárdio, há camadas de colágeno e elastina e também uma camada rudimentar de músculo liso. Reveste o coração internamente e forma as valvas atrioventriculares, cuja função é orientar o fluxo, impedindo o fluxo sanguíneo retrógrado. → Batimento cardíaco “Tum”: fechamento da valva atrioventricular. “Ta”: fechamento da valva arterial. → Quando o coração apresenta uma dificuldade para bombear o sangue, tem-se uma disfunção sistólica; contudo, vale salientar que uma disfunção leva a outra (sistólica → diastólica e vice-versa). → Pacientes oncológicos precisam ter um acompanhamento cardiológico, porque a pericardite é um quadro frequente em pacientes que se submetem ao tratamento de radioterapia. → O músculo cardíaco é cheio de trabéculas, um tipo de estrutura que o ajuda a perfundir diretamente o tecido em contato com o sangue dentro das cavidades (especialmente as ventriculares). → Na diástole, as valvas atrioventriculares estão abertas, e as valvas arteriais estão fechadas. Na sístole, é exatamente a situação inversa. → Todas as quatro valvas se encontram na base dos ventrículos. Nessa região há muito tecido fibroso (esqueleto fibroso) que dá estrutura e sustentação a essas valvas. Além disso, esse esqueleto fibroso funciona como uma barreira isolante elétrica para os potenciais de ação. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 15 Miocárdio – tipos celulares Miocárdio operacional: fibras cilíndricas, com núcleo central, e prolongamentos formando um sincício funcional. Sincício anatômico: célula multinucleada em que a membrana celular engloba vários núcleos. Sincício funcional: células com ramificações, ligando uma célula a outra, por meio de junções intercalares, de modo que os potenciais de ação se propagam rapidamente por toda a extensão do órgão. Isso faz com que todas as células se contraiam juntas, praticamente. → O coração possui dois sincícios funcionais separados por tecido fibroso de sustentação que rodeia as valvas. Esse tecido isola esses dois sincícios por não conduzir os potenciais de ação. → Se o coração perde essa estrutura sincicial funcional, tem-se uma fibrilação. As células deixam de funcionar e operar de forma conjunta e ordenada. Algumas relaxam, algumas contraem, sem ordenamento. Se essa disfunção for atrial, não é tão importante, já que os átrios não apresentam uma função de bomba significativa; contudo, se essa disfunção afetar os ventrículos, trata-se de uma arritmia leta. Junções intercalares: gap junction + desmossomos + fáscia aderente. o Gap junction: canais grandes e inespecíficos formados por conexinas. É um tipo de junção aberta. o Os desmossomos e a fáscia aderente estão mais relacionados com a propagação do potencial de ação a membrana pela proximidade existente entre as duas, e também são estruturas envolvidas com a manutenção da integridade do tecido. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 16 Células auto-excitáveis o Tratam-se de células de miocárdio que não têm função contrátil; têm função de geração de potencial elétrico. o Despolarizam-se espontaneamente, por isso são chamadas de células marca-passo. o Nodo sinoatrial: responsável pela atividade marca-passo. o Nodo atrioventricular: responsável pela condução atrioventricular do estímulo elétrico. Apresenta um retardo nodal – despolariza menos vezes por minuto do que o nodo sinoatrial. Além disso, nesse nodo, temos uma ramificação maior e fibras com menor diâmetro, o que faz com que o potencial de ação se “perca” por vários caminhos, contribuindo para a ocorrência do retardo nodal, que equivale a um atraso de 0,1 segundos. Esse retardo é fundamental para que a contração dos átrios e ventrículos não seja simultânea, o que permite que o átrio se contraia ligeiramente antes, os ventrículos consigam se encher e ai então contraiam. o Tratam-se de células pequenas e que possuem poucos filamentos contráteis, já que a contração não é uma de suas funções. Feixe de Hiss: leva o potencial do nodo atrioventricular para os ventrículos. Apresenta várias ramificações que penetram no músculo cardíaco para espalhar esse estímulo por meio das fibras de Purkinje. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 17 → Do nodo sinoatrial, o potencial de ação chega até o nodo atrioventricular por meio dos tratos intermodais (de forma mais rápida) e também de célula a célula do miocárdio (de forma mais lenta). → O nodo atrioventricular, em uma situação fisiológica, só atua como um condutor de potencial. Ele é um marca-passo latente – irá atuar quando houver disfunção do marca- passo principal, que é o nodo sinoatrial. Quando isso ocorre, há uma disfunção cardíaca, mas mais minimizada, porque a função principal de contração dos ventrículos para que a circulação sanguínea se mantenha continua a ocorrer em função do funcionamento do nodo atrioventricular. Os átrios, de forma oposta, têm a sua contração prejudicada; contudo, como eles não tem uma função de bomba importante, essa disfunção não causa tantos prejuízos ao paciente. → O potencial de ação gerado pelo nodo atrioventricular somente é funcional quando ele não recebe estímulo do nodo sinoatrial. → O feixe de Hiss também tem uma pequena atividade marca-passo que pode atuar quando as demais não estiverem funcionais → segmento perfurante do feixe de Hiss. → Todos esses feixes são células musculares especializadas. Não são neurônios. → No lado esquerdo do coração não existem nodos. → Células de Purkinje Efetuam condução rápida (até 4 m/s) do impulso elétrico; São células grandes, pálidas, ricas em glicogênio, com poucos filamentos contráteis; Células semelhantes ocorrem dispersas pelos átrios. → O feixe de Hiss esquerdo tem ramo anterior e posterior. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 18 Musculatura atrial versus musculatura ventricular → O diâmetro das células de Purkinje é grande e isso ajuda a aumentar a velocidade de condução do potencial de ação. Essas células não precisam ter muitos túbulos T porque esses têm mais relação com a atividade contrátil, a qual as células de Purkinje praticamente não exercem. Resumo de Fisiologiado S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 19 LEIS DE LAPLACE A lei de Laplace afirma que a tensão de parede, em qualquer dada pressão, é aumentada se o raio aumentar e vice-versa. T = tensão. A tensão é a força exercida em uma linha (dinas/cm); P = pressão; R = raio; h = espessura da parede. → Estresse: força exercida em uma área (dinas/cm 2 ). Aplicações da Lei de Laplace → Recipientes sujeitos a altas pressões internas são construídos com raios de curvatura menores que aqueles que transportam material sob baixas pressões. → Quando o coração é submetido a uma carga maior do que a necessária, ele acaba, cronicamente, hipertrofiando, na tentativa de adquirir mais força e conseguir sustentar de melhor forma essa carga. Isso acontece, por exemplo, em pessoas que apresentam hipertensão pulmonar. Nesse quadro, o paciente apresenta maior resistência nas artérias pulmonares e brônquicas, e ai o fluxo do ventrículo direito para o pulmão se torna dificultado. Com o passar do tempo, para vencer essa resistência maior, o ventrículo direito acaba hipertrofiando. Suas paredes ficam mais espessas e isso pode fazer com que, inclusive, o septo inverta de lado (inversão de septo). Essa inversão ocorre, principalmente, porque o septo passa também a se contrair, para ajudar o ventrículo direito, e ai ele também hipertrofia. Normalmente, ele faz parte do ventrículo esquerdo. Nesse caso de hipertensão pulmonar/core pulmonale, o ventrículo direito acaba adquirindo uma aparência semelhante ao que se esperaria de um ventrículo esquerdo. Com essa hipertrofia, agora o ventrículo direito consegue exercer pressões maiores. Essas hipertrofias podem ocorrer tanto do lado esquerdo quanto do lado direito. À medida que esse hipertrofia do ventrículo direito vai evoluindo e se tornando mais proeminente, com a inversão do septo, o ventrículo direito acaba Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 20 “empurrando” o ventrículo esquerdo e acaba prejudicando a sua função de bomba. → A hipertrofia nada mais é do que um ajuste que a câmara cardíaca realiza para suportar cargas e pressões maiores. As células (fibras cardíacas) aumentam de tamanho – aumenta o número de sarcômeros, mitocôndrias, proteínas, etc. Não há aumento no número de células. A hipertrofia pode ocorrer por aumento da demanda metabólica e exigência do aumento de função de bomba do coração, por sobrecarga de pressão e/ou volume, ou por mecanismos de natureza genética (o indivíduo já pode nascer com o coração aumentando ou ele ir aumentando ao longo da vida), ou outras patologias que levam a esse aumento, como a Doença de Chagas. O benefício da hipertrofia é que com ela, o coração passa a exercer sua função de bomba de maneira mais eficiente – mas para tudo há limites. O coração consegue desenvolver pressões maiores com menos estresse para as paredes cardíacas – especialmente tratando-se de uma hipertrofia concêntrica. Hipertrofia concêntrica O raio interno da câmara pode se manter ou ser reduzido, e há aumento da espessura da parede da câmara. É um tipo de hipertrofia melhor, pois permite que o coração execute mais força sem dar mais estresse às paredes cardíacas → melhora a função de bomba. Hipertrofia excêntrica Ocorre um aumento do raio da câmara, e não há aumento da espessura da parede. Esse tipo de hipertrofia faz com que a câmara sofra mais estresse de parede e diminua a sua função de bomba, já que ele não consegue exercer pressões tão grandes. Essa hipertrofia também pode ser chamada de dilatação. Hipertrofia mista Há aumento tanto da espessura da parede da câmara cardíaca, quanto do seu raio. É comum após infarto do miocárdio. → Estímulos patológicos que levam à hipertrofia estimulam fibroblastos a produzirem mais colágeno; por isso, há aumento da deposição de tecido fibroso. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 21 → Qualquer alteração pode levar a alterações dos parâmetros considerados na Lei de La Place. → Fatores que estimulam a hipertrofia: angiotensina II, hormônios tireoidianos (atenção para pessoas que uma hiperprodução de hormônios tireoidianos), peptídeo atrial natriurético, agonistas beta-adrenérgicos. → Para que qualquer tipo de hipertrofia ocorra, seja ela concêntrica ou excêntrica, é necessário um estímulo. A sobrecarga de pressão (exemplo: pressão arterial sistêmica alta) tende a levar a uma hipertrofia concêntrica, enquanto que a sobrecarga de volume (como em casos de problemas renais) tende a levar a uma hipertrofia excêntrica. Esses estímulos também podem ser de origem fisiológica, como a prática de exercício físico (depende do tipo de exercício, frequência de prática e intensidade), com aumento da demanda metabólica, e a gravidez. Prática de exercícios de natureza aeróbia leva a uma hipertrofia excêntrica; Prática de exercícios que exigem mais resistência, como levantamento de peso, levam a uma hipertrofia concêntrica. Ambos os casos acima se tratam de hipertrofias reversíveis → quando o indivíduo cessa com a prática do exercício físico, o coração regride para o tamanho normal (o mesmo ocorre com o músculo esquelético). A hipertrofia fisiológica é melhor porque, juntamente com o crescimento das células, há o crescimento da vasculatura que irriga esse tecido → é uma adaptação mais adequada e progressiva. Além disso, nesse tipo de hipertrofia, o crescimento de sarcômeros não leva ao aumento de crescimento de tecido fibroso, o que ocorre na hipertrofia patológica (e faz com que o coração fique mais rígido, o que, com o tempo, leva esse órgão a um quadro de insuficiência cardíaca). Tanto na hipertrofia concêntrica quanto na excêntrica, há aumento do volume ejetado, o que pode levar ao aumento da pressão arterial. Tanto na hipertrofia patológica quanto na fisiológica, o aumento da massa cardíaca é considerado um fator de risco cardiovascular. Isso se deve ao fato de que quando se tem um coração maior, leva-se mais tempo para despolarizar toda essa massa de células → por uma questão de tempo necessário para que o estímulo atinja todo o tecido cardíaco, pode acabar ocorrendo uma sobreposição de estímulos → o primeiro estímulo pode nem ter chegado a todo o tecido, e já Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 22 ter outro disparando, o que pode levar a arritmias cardíacas, as quais podem levar à morte súbita. A hipertrofia patológica, além de levar à insuficiência cardíaca pela deposição de mais tecido fibroso, leva à expressão de certos genes que costumam se expressar somente na vida fetal → reprogramação de genes fetais. Um exemplo é a cadeia pesada da miosina → leva ao aumento da expressão da ATPase- miosínica que hidrolisa o ATP mais lentamente. → Quando há um aumento no número de células cardíacas, tem-se uma hiperplasia. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 23 PROPRIEDADES FUNCIONAIS DA FIBRA MIOCÁRDICA a) Automatismo → O coração tem a característica de apresentar algumas células que têm atividade automática → não dependem de estímulo externo para dispararem. → Essa propriedade é definida como rítmica, e persiste mesmo que o coração esteja desconectado do suprimento sanguíneo e da inervação. → Esse automatismo não é homogêneo em toda a extensão do coração; há zonas com mais automatismo, e outras com menos. Quando o coração é desconectado da inervação e do suprimento sanguíneo, as primeiras câmaras a pararem de funcionar são os ventrículos, porque eles apresentam menos células com automatismo do que osátrios, especialmente o átrio direito → é a câmara que mais apresenta automatismo, porque é nele que estão localizados os dois nodos (o sinoatrial e o atrioventricular). → O nodo sinoatrial é considerado o marca-passo cardíaco porque é ele que apresenta mais automatismo, até em relação ao nodo atrioventricular. Ele tem uma frequência maior de despolarizações (cerca de 75 a 80 vezes por minuto, em condições fisiológicas, em um indivíduo adulto, em repouso). A frequência cardíaca é determinada por essa frequência de despolarizações. Esse ritmo que é imposto pelo nodo sinoatrial é chamado de sinusal, o qual é o ritmo normal. → O nodo atrioventricular é considerado um marca-passo de reserva/latente. Já que em considerações fisiológicas o nodo sinoatrial tem uma maior frequência de despolarizações, sua atividade acaba se sobrepondo à atividade do nodo atrioventricular, por isso, o nodo AV não comanda a frequência cardíaca, a não ser em casos em que o nodo sinoatrial fique disfuncional. → Quando o nodo atrioventricular assume a atividade de marca-passo principal, a frequência cardíaca cai para valores abaixo de 60 batimentos por minuto. Esse ritmo é chamado de nodal. → Quando a frequência cardíaca se encontra entre 60 e 100, tem-se uma frequência normal. Se for abaixo de 60, tem-se uma bradicardia; acima de 100, taquicardia. → Quando o indivíduo apresenta uma hipertrofia fisiológica (por exemplo, em decorrência da prática de exercícios físicos), o seu coração é mais eficiente e consegue contrair com mais força; por isso, sua frequência é mais baixa, já que a cada batimento ele consegue bombear mais sangue. Assim, atletas podem possuir bradicardia de repouso. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 24 → Alguns indivíduos apresentam, naturalmente, uma frequência mais baixa ou mais alta em repouso. Isso se deve, especialmente, em razão do balanço existente entre a atividade do sistema nervoso simpático e parassimpático. → Em crianças, o número de despolarizações é maior, assim como quando um indivíduo pratica exercícios, pois o metabolismo fica mais acelerado, e é esse o principal fator determinante para esse ritmo. Em grávidas, a frequência cardíaca também é maior, justamente pelo aumento da velocidade do metabolismo. → A frequência de disparos também tem relação com a altura e a superfície corporal. Quanto menor for a estatura e maior a superfície corporal, maior será a frequência cardíaca. Quanto maior for a superfície corporal, mais perda de calor se tem para o ambiente, e assim a frequência cardíaca exigida é maior. Indivíduos menores apresentam o metabolismo mais acelerado. → O feixe de Hiss e as fibras de Purkinje também apresentam certo automatismo, mas bem menor se comparado ao dos nodos. Se nenhum dos dois nodos funcionarem, é necessário implantar um marca-passo artificial, porque a frequência gerada pelo feixe de Hiss e de Purkinje é muito baixa, e o fluxo sanguíneo não seria suficiente para manter as atividades vitais. → Cronotropismo é um sinônimo para automatismo. É utilizado muito para descrever fármacos que atuam sobre a frequência cardíaca. Aqueles que aumentam a frequência cardíaca apresentam efeito cronotrópico positivo (adrenalina), e os que diminuem, cronotrópico negativo (acetilcolina). 2) Condutibilidade → Se refere aos meios que o estímulo gerado no marca-passo é conduzido. Ele pode ser conduzido célula a célula, ou pelo sistema de condução que existe tantos nos átrios como ventrículos, constituído por células especializadas. Nos átrios, esse sistema é constituído pelos feixes internodais, e nos ventrículos, pelo sistema Hiss-Purkinje (Hiss tem ramo direito e esquerdo). → Quando o estímulo gerado pelo nodo sinoatrial atinge o nodo atrioventricular, ele sofre um atraso em sua condução, chamado retardo nodal, porque a velocidade de condução por ele é baixa, se comparada às demais estruturas que fazem parte do sistema de condução. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 25 → Percebe-se que os tecidos nodais são bons para gerar potenciais de ação, mas não para conduzi-los. Isso porque são constituídos de células pequenas e tramadas (especialmente no nodo AV). → O retardo nodal tem valores de normalidade. Gira em torno de 0,1 – 0,12 segundos. Quando esse retardo passa de 120 milissegundos, tem-se uma patologia – um bloqueio atrioventricular. Esse potencial pode se atrasar tanto no nodo AV, que pode chegar a nem atingir os ventrículos – bloqueio atrioventricular completo/terceiro grau de bloqueio atrioventricular. Com isso, os ventrículos vão despolarizar e contrair com uma frequência bem mais baixa se comparados aos átrios, poisa atividade marca-passo vai depender do feixe de Hiss e das fibras de Purkinje → uma perda completa do sincício atrial e ventricular. → O bloqueio do nodo atrioventricular pode ser congênito, pode ser uma intoxicação por algum medicamento, falta de oxigênio, intoxicação bacteriana ou parasitária, etc. → As fibras de Purkinje são as estruturas do sistema de condução que apresentam a maior velocidade de condução, o que tem muito haver com a sua anatomia: células com muitas junções, células grandes e com diâmetro grande. → Um sinônimo para condutibilidade é o dromotropismo. 3) Excitabilidade → Automatismo é a capacidade intrínseca do coração de gerar os estímulos necessários para que a contração ocorra – se auto-excitar. Excitabilidade se refere a estímulos extrínsecos ao marca-passo. → Para que esse estímulo extrínseco consiga gerar algum efeito, ele precisa ter certa intensidade (passar de um limiar), e atingir as células quando elas não estiverem refratárias, e durar um certo período. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 26 → A resposta do coração a esses estímulos extrínsecos são chamados de extra-sístoles. Extra-sístoles podem ser geradas por um choque elétrico, uma batida no tórax, etc. Estímulos mecânicos, térmicos, químicos, etc. Essa capacidade de resposta a esses estímulos aproxima o músculo cardíaco do músculo liso. O músculo esquelético não tem essa capacidade de resposta. A nossa sorte é que as fibras cardíacas apresentam um grande período refratário, especialmente as células dos ventrículos, ao contrário dos neurônios. → Quando o coração já está contraindo, ele está refratário. Isso se mantém durante toda a sístole e até o primeiro terço da diástole. Depois disso, o coração pode responder a estímulos externos. → Se não houver estímulos externos, as sístoles (0,3 segundos) e as diástoles (0,5 segundos) vão ocorrer em períodos bem homogêneos. Se for aplicado um estímulo externo, um supra-limiar, o coração que estava relaxando pode contrair novamente, e a sístole seguinte, esperada no período normal, não irá ocorrer → quando o coração estiver realizando a extra-sístole, o marca-passo vai despolarizar e coordenar uma contração, mas ele já estará em sístole (ele está refratário). Após extra-sístole, ele realiza uma pausa/repouso compensatória (período que ele está enchendo). A próxima sístole é maior, para compensar, já que uma extra-sístole tem uma força menor (o coração não tinha enchido totalmente quando ela ocorreu). → Quanto mais no final da diástole ocorrer esse estímulo externo, menor será a pausa compensatória (já que, se ocorrer mais no fim da diástole, mais o coração terá conseguido encher), e também menor será a sístole seguinte, pois não será necessária uma sístole tão grande para compensar. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 27 → Essa compensação é efetiva quando os estímulos externos não ocorrem com alta frequência, pois, caso isso ocorra, teremos várias extra-sístoles em sequência. → Alguns estudos demonstram que a aplicação de estímulos externos promovem uma maior liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, o que aumenta a força de contração. → Se houver somente um estímulo externo causando uma única extra-sístole, não se estará alterando a frequência cardíaca, já que a próxima sístole que era esperada não irá ocorrer, devido ao período de pausa compensatório. Contudo, mesmo com a frequência inalterada, no ECG ter-se-á uma alteração do ritmo → uma arritmia, já que as sístoles não estarão ocorrendo com períodos homogêneos (intervalos homogêneos) entre elas. 4) Contratilidade → Versa sobre a capacidade que as fibras têm de contrair. → Agentes inotrópicos são aqueles capazes de mexer/modular a contratilidade cardíaca. Inotropismo é sinônimo de contratilidade. → Depende da quantidade de cálcio e do substrato energético disponível para a contração, além das características intrínsecas da fibra, que determinarão, por exemplo, quando cálcio consegue entrar na célula. → O coração que apresenta mais inotropismo é aquele que consegue bombear mais sangue se comparado a outro, mesmo que ambos tenham enchido o mesmo volume de sangue. Ele apresenta uma fração de ejeção maior. → É muito importante estudar os agentes inotrópicos, visto que um dos problemas que mais afeta o coração é a insuficiência cardíaca → o coração não consegue bombear o volume de sangue adequado para atender às demandas dos tecidos. É mais frequente em pessoas mais idosas, porque com a idade se perde a função de bomba. Para conseguir recuperar essa função, administram-se drogas com efeito inotrópico positivo (aumentam o inotropismo) → glicosídeos cardiotônicos (digitálicos). Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 28 → Os digitálicos são extraídos de uma planta chamada Digitalis purpurea → extrai-se a digoxina. Essa substancia tem um efeito direto de inibir a sódio-potássio ATPase → 2 íons potássio para dentro e 3 íons sódio para fora, com o gasto de ATP → com a sua inibição, menos potássio entra na fibra, e menos sódio sai dela → aumenta-se a concentração de sódio intracelular → isso afeta a atividade do trocador sódio-cálcio, o qual não é uma bomba; assim, ele troca íons a favor do gradiente eletroquímico → com o aumento da concentração de sódio intracelular, ele acaba colocando sódio para fora da célula, e cálcio para dentro da célula → mais cálcio no meio intracelular vai proporcionar mais força de contração para o tecido cardíaco (mais inotropismo). → O problema da administração da digoxina é que ela afeta todas as bombas de sódio e potássio, as quais estão presentes nas mais diferentes células do nosso organismo. Por isso, sua administração deve ser feita com cuidado, para evitar uma intoxicação. OBS.: tanto a bomba de sódio e potássio quanto o trocador de sódio-cálcio são bombas eletrogênicas – alteram os potenciais elétricos do meio intra e extracelular, porque não trocam o mesmo número de cargas entre esses dois meios durante a sua atividade (não há um equilíbrio na troca de cargas). → Os beta-adrenérgicos, por meio da ativação de receptores adrenérgicos, também são capazes de gerar um efeito inotrópico positivo. O coração apresenta muitos receptores beta-adrenérgicos, os quais tem afinidade por adrenalina (+) e noradrenalina. Sua ativação estimula o aumento da concentração de AMPc intracelular, o qual ativa a Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 29 proteína quinase A. Essa é capaz de fosforilar os miofilamentos das fibras cardíacas, aumentando a sua afinidade pelo cálcio, além de fosforilar canais de cálcio na membrana plasmática que também permitirão uma maior entrada de cálcio na célula, oriundo do meio extracelular, meios pelo quais essas drogas realizam o seu efeito inotrópico positivo. Além disso, a Pk-A fosforila proteínas do retículo plasmático (bomba SERCA), permitindo maior captação e reserva de cálcio dentro do retículo, o que faz com que a musculatura cardíaca consiga relaxar mais. Assim sendo, a adrenalina e a noradrenalina ajudam o coração a contrair mais e a relaxar mais. Contudo, não é tão comum administrar adrenalina em pacientes que apresentam insuficiência cardíaca, devido aos efeitos secundários que ela pode trazer aos pacientes. Geralmente, administra-se adrenalina em situações de emergência, como em parada cardíaca. 5) Lusitropismo → Refere-se à capacidade de relaxar do músculo. → Depende da retirada de cálcio do meio intracelular → trocador sódio-cálcio, bomba SERCA, cálcio ATPases de membrana plasmática. O cálcio pode serbombeado para fora da célula ou para dentro do retículo. É um mecanismo que depende do uso de energia. → Em casos de isquemia, quando falta oxigênio, a síntese de ATP é prejudicada → não ocorrerá um relaxamento adequado das fibras → o coração pode ficar em um estado de contração mantida, contratura cardíaca. Está associado também a uma sobrecarga de cálcio. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 30 ATIVIDADE ELÉTRICA DO CORAÇÃO → Características Grande diversidade de morfologias dos potenciais de ação; Células atriais: potenciais de ação de menor amplitude e duração em relação às células ventriculares. Células nodais: menor amplitude (cerca de 60 mV) e potencial de ação em rampa (o potencial de repouso não é estável). → Nodo sinoatrial e nodo atrioventricular Despolarização lenta; Células não voltam totalmente ao potencial de repouso (potencial de repouso não estável). → Átrio, feixe de Hiss, ventrículos e células de Purkinje Variação de voltagem maior; Despolarização rápida; Despolarização se mantém por mais tempo até que a célula volta a repolarizar. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 31 Canais iônicos no músculo cardíaco 1) Canais de sódio – corrente rápida São canais voltagem-dependentes, com portão para o lado extracelular e um portão de inativação voltado para o lado intracelular. Apresenta três estados de ativação. Quando a célula está em seu potencial de repouso, a comporta de inativação está aberta e a de ativação está fechada. Não passam íons sódio. É um estágio não condutivo. Quando o potencial de membrana varia, a comporta de ativação se abre e permite a entrada de sódio – estado ativado – permeável ao íon sódio. O sódio entra do meio extracelular para o intracelular, tornando o meio intracelular mais positivo, por meio da geração de uma corrente despolarizante (sinônimos: corrente de influxo – significa corrente despolarizante, não interessando se o íon está entrando ou saindo da célula; o importante é o efeito). o Corrente de fluxo contrário = corrente repolarizante. Exemplo: entrada de cloro na célula. Depois da repolarização da célula, a comporta de inativação da célula se fecha, e é um estado não condutor/inativado. Quando esses canais estão nesse estado, um segundo estímulo não consegue gerar nenhuma resposta celular. Esses canais precisam sair do estado inativado para o estado de repouso. Período refratário absoluto: ocorre quando todos os canais de sódio se encontram no estágio inativado. Quando cerca de 50% desses canais voltam para o estado de repouso, se tem um período chamado de período refratário relativo. Nesse caso, precisa-se de um estímulo supralimiar (mais forte) para que se consiga gerar uma resposta. Isso Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 32 pode gerar extra-sístoles. Exemplo: uma sístole extra antes de que todo o músculo cardíaco volte a estar relaxado. A tetraiodotoxina e anestésicos locais, como lidocaína e xilocaína, bloqueiam esses canais de sódio – revertem arritmias dependentes de distúrbios de condução. 2) Canais de cálcio Existem dois tipos de canais de cálcio: do tipo L (long lasting) e do tipo T (transient). O canal do tipo L é um canal mais lento e grande. Como ele abre devagar e também fecha devagar, acaba ficando por bastante tempo aberto, permitindo grande entrada de cálcio. Esse canal é fosforilado pela proteína quinase A e fica ativado. O canal do tipo L é bloqueado por diidropiridinas – é um canal receptor dessa substância. Tratam-se de compostos como Verapamil (um bloqueador inespecífico de canais de cálcio), a Nifedipina → usados quando se precisa diminuir a atividade contrátil do coração, como em quadros de hipertensão. o Verapamil e nifedipina são antagonistas de canal de cálcio lentos. A despolarização, quando atinge certo valor, permite a abertura dos canais de cálcio do tipo L, que estão muito relacionados com a geração do potencial marca-passo. Por isso, nos nodos encontramos muitos canais de cálcio do tipo L. Os canais do tipo T são rápidos. Durante a sua abertura, não entra muito cálcio na célula, já que ele abre e fecha rapidamente → rápido e pequeno (tiny). Células com características predominantemente contráteis têm mais canais do tipo L (especialmente as células ventriculares). As demais células, como as condutoras, apresentam mais canais do tipo T. 3) Canais de potássio → Canal de potássio retificador retardado (IK) É o canal mais lento de todos – retardado. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 33 Ele começa a ser ativado com o mesmo estímulo que resultou na abertura de canais de sódio e cálcio, mas ele ativa mais lentamente. Ele ativa quando os outros estão em processo de inativação ou já em repouso. Ele é um retificador retardado – retificador no sentido de “deixar reto” – faz com que o potencial de ação da célula que estava no pico (no gráfico) volte ao potencial de ação (representado no gráfico por uma linha reta). Quando esse canal se ativa, a célula perde potássio. Por ser um canal lento, ele deixa muito potássio passar e a célula acaba perdendo muita carga positiva. Assim, o meio se torna mais negativo, fazendo com que a célula repolarize. Existem subtipos de canais de potássio: o R (rápido), o UR (ultrarrápido) e o S (slow). As células atriais tem mais canais de potássio do tipo UR e, por isso, elas não permanecem com o platô elevado por tanto tempo no potencial de ação. → Canal de potássio retificador de influxo (IK1)/retificador anômalo Quando a célula despolariza, esses canais se fecham. Eles se fecham imediatamente após a despolarização – quando o potencial se afasta do potencial de equilíbrio do potássio, diminuindo a saída de K. quando ele se fecha, deixa-se de perder carga positivo (é como se entrasse carga positiva) e daí se tem uma corrente do tipo influxo → por isso ele é chamado de retificador de influxo. → Canal de potássio do tipo Ito1 e Ito2 Corrente transitória de efluxo (Ito1 – transient outward) → gera uma corrente de efluxo – repolarizante – mas é transitória/transiente. É um canal rápido de potássio – abre rápido e fecha rápido. É o único canal rápido de potássio. O canal de potássio Ito1 permite somente a saída de potássio. O canal Ito2 permite somente a entrada de cloro nas células → esse se faz mais presente nas células de Purkinje. → Canal de potássio ativado por acetilcolina É um tipo de canal de potássio ligante-dependente da acetilcolina que vem das fibras parassimpáticas (receptores muscarínicos). O canal se abre e a célula perde potássio – geração de corrente hiperpolarizante/repolarizante. A condução Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 34 fica mais lenta, o potencial de repouso fica mais negativo → modulação para baixo da atividade cardíaca. → Canal de potássio regulado por ATP É um canal que geralmente não está ativado. Somente é ativado quando houver uma queda considerável dos níveis de ATP intracelulares. O canal se abre, nessa situação, e a célula perde potássio e hiperpolariza. Objetivo: diminuir ao máximo a atividade cardíaca para preservar energia em um momento em que o tecido enfrenta depleção de ATP → efeito protetor. 4) Trocador de sódio-cálcio Permite a entrada de 3 íons sódio na célula para cada íon cálcio que sai. É uma corrente de vazamento – não depende de voltagem, e não gasta ATP → sempre funciona de acordo com ogradiente de concentração dos íons no meio. Quando a célula despolarizou, a troca se inverte → na despolarização, mais sódio entra na célula; depois de certo período, com muito sódio, ele encontra um gradiente favorável para a saída da célula, e ai o cálcio começa a entrar. Depois que o cálcio se acumula, devido ao gradiente químico e elétrico formado, ele começa a sair, e assim o ciclo se repete. Essa inversão na troca de íons que ocorre na despolarização (sódio acaba saindo e cálcio entrando) é fundamental para fornecer substrato (cálcio) para a contração das células cardíacas. Potencial de repouso das células cardíacas Ele está diretamente relacionado com o gradiente/potencial de equilíbrio do potássio. Essa polaridade de membrana também se deve muito a bomba de sódio e potássio, que trabalha continuamente colocando sódio para fora (3 íons), e potássio para dentro (2 íons), gastando ATP. Essa atividade acaba gerando certa negatividade no meio intracelular, o que contribui para a formação do potencial de repouso. Outras proteínas grandes com cargas negativas que não saem da célula também contribuem para a manutenção do potencial negativo. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 35 No repouso, a permeabilidade da célula ao potássio é cerca de 50 vezes maior do que se comparada à permeabilidade ao sódio. Assim sendo, há bem mais saída de potássio da célula do que entrada de sódio. Esse processo ocorre pelo canal Ik1, o canal anômalo de potássio que fica aberto quando a célula está hiperpolarizada/em repouso. Potencial de ação do tipo rápido – átrios e ventrículos Potencial de repouso ocorre na faixa de -90 mV (correspondente a fase 4 no gráfico). Fase 0 → correspondente à despolarização rápida. Ondas pontiagudas aparecem no EEG – caracterizam um fenômeno mais rápido. É resultante da abertura dos canais de sódio rápidos (abertura das duas comportas, com grande quantidade de sódio entrando na célula). O potencial vai até cerca de +20 ou +30 mV. Fase 1 → a célula não repolariza totalmente. Ela faz uma pequena repolarização – repolarização rápida inicial. Tem relação com a abertura dos canais rápidos de potássio e abertura de to2. A célula perde pequenas quantidades de potássio. Nessa fase, os canais de sódio já estão no estado inativado, e o sódio já não entra mais na célula. Fase 2 → platô (quase que uma linha reta). Nesse momento, a voltagem dentro da célula praticamente não varia. Não está despolarizando ou repolarizando Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 36 muito. Ambas (forças despolarizantes e repolarizantes) estão em equilíbrio, e por isso se forma esse platô. Isso se mantém por um período relativamente longo. Por isso, a duração desse potencial de ação é muito mais longo do que a do potencial de ação de um neurônio. o Trocador de sódio e cálcio → corrente de influxo (despolarizante). o Ativação dos canais de cálcio lentos → por isso que há um retardo da atividade mecânica do coração em relação à atividade elétrica. o Inativação dos canais de sódio → corrente de efluxo. o Fechamento dos canais anômalos de potássio → funcionavam como uma corrente de influxo. o Inativação de ITO1 → corrente despolarizante. o Inativação da bomba de sódio e potássio → corrente de efluxo. o TODAS ESSAS CORRENTES SE ENCONTRAM EM EQUILÍBRIO NO PLATÔ, algumas estando em atividade e outras inativas nesse momento. o O segmento ST do ECG corresponde a esse intervalo de tempo. o É no platô que inicia a contração muscular. Fase 3: repolarização final. o Células voltam para o estado de repouso. o Ativação dos canais lentos/retificadores retardados (primeiro UR, depois R, depois S) de potássio → sai bastante potássio da célula. A saída de potássio excede o influxo de cálcio. Fase 4: potencial de repouso. o Ativação do canal de potássio retificador de influxo (IK1). o Potencial das células volta a valores mais aproximados do potencial de equilíbrio do potássio. → As células sempre apresentam algum valor de polaridade. → Para que todo o processo do potencial de ação ocorra corretamente como citado anteriormente, é importante que as concentrações de potássio sejam maiores dentro da célula do que fora delas. Caso contrário, caso as concentrações sejam maiores no meio extracelular, ele acaba entrando na célula ao invés de sair, e ai essas células acabam despolarizando no momento em que deveriam voltar ao estado de repouso (fase 4). Sem voltar ao repouso, os canais de sódio não conseguem ser ativados. Da mesma forma, se Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 37 houver muito cálcio no meio extracelular, o cálcio acaba não conseguindo sair da célula da forma que deveria, e ai o músculo tem mais dificuldade para conseguir relaxar. Potencial de ação lento Presente nos nodos (sinoatrial e atrioventricular). Apresenta fase 0 – despolarização. Não apresenta fase 1 e 2. Apresenta fase 3 (repolarização) e 4 (despolarização diastólica – não há repouso nessas células – não fica uma linha reta, fica um “arame”, o que caracteriza o potencial em rampa). Quando essas células repolarizam, atingem cerca de -60 mV, um valor não tão negativo, mais próximo do limiar que se precisa atingir para desencadear um potencial de ação → assim, essa célula consegue ser despolarizada e gerar um potencial de ação com mais facilidade → menos estímulo se faz necessário. Essas células (dos nodos) praticamente não apresentam canais de sódio rápidos. A fase 0 é dependente de cálcio – canal de cálcio lento. Por isso, a célula vai despolarizando devagar. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 38 A fase 3 ocorre devido a abertura de IKa – saída de potássio pelo retificador retardado. Fase 4 – ocorre em função dos canais de cálcio rápidos – corrente If. É um canal também chamado de funny. Trata-se de um canal inespecífico, porque pode entrar sódio, cálcio, sair potássio. É um canal ativado pela hiperpolarização. Ele fica ativo quando a célula volta a atingir potenciais próximos de -60 mV – início da fase 4. Como a célula está com um gradiente negativo (hiperpolarizada), acaba entrando cálcio e sódio na célula. Quando a célula volta a se despolarizar, potássio começa a sair (mas pouco). o Modulação da “rampa” por atividade do sistema autônomo → a corrente funny pode ser regulada, principalmente, por esse sistema. Com a ativação do simpático, há mais corrente funny, as células acabam despolarizando com mais frequência, e a frequência cardíaca aumenta. O simpático ativa os também os canais de cálcio lentos. Já o parassimpático ativa mais os canais dependentes de acetilcolina. Leva a célula a um estado de hiperpolarização. Atinge-se um limiar que ativa os canais de cálcio do tipo ICaT – canal de cálcio rápido que faz a célula despolarizar e atingir o limiar para abrir os canais de cálcio lentos, responsáveis por terminar a fase de despolarização. Essa corrente é a mais importante para a geração do potencial marca-passo. Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 39 Modulação das células auto-excitáveis Resumo de Fisiologia do S. Cardiovascular Thalia Michele Vier Schmitz – ATM 2024/1 40 Função do potencial de ação Nos neurônios, é de transmitir as informações muito rapidamente ao longo de grandes distâncias, sendo a modulação da frequência importante para o conteúdo da mensagem (para compreender se foi um estímulo forte ou fraco