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Se me mostrarem um único ser vivo que não tenha ancestral, minha teoria poderá ser enterrada. (Charles Darwin) Sobre essa frase, afirmou-se que: I. Contrapõe-se ao criacionismo religioso. II. Contrapõe-se ao essencialismo de Platão, segundo o qual todas as espécies têm uma essência fixa e eterna. III. Sugere uma possibilidade que, se comprovada, poderia refutar a hipótese evolutiva darwiniana. IV. Propõe que as espécies atuais evoluíram a partir da modificação de espécies ancestrais, não aparentadas entre si. V. Nega a existência de espécies extintas, que não deixaram descendentes. É correto o que se afirma em a) IV, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III, IV e V. Resposta: D A teoria evolucionista de Charles Darwin propõe que as espécies evoluíram a partir de modificações de ancestrais aparentados entre si. As espécies extintas deixaram descendentes que formaram as espécies atuais. Na frase do enunciado, Darwin evoca, de maneira irônica, a possibilidade de sua teoria poder estar errada. Para ele, a ancestralidade é uma característica comum a todas as espécies de seres vivos, que, por isso, são considerados como sendo aparentados entre si, mesmo que através de um ancestral longínquo. Vale ressaltar que sua teoria da Evolução contraria tanto o criacionismo religioso quanto o essencialismo platônico ao desconsiderar a existência de espécies únicas e diferentes entre si em essência. 2. (Unesp 2015) Texto 1 Quanto mais as classes exploradas, o “povo”, sucumbem aos poderes existentes, tanto mais a arte se distanciará do “povo”. A arte pode preservar a sua verdade, pode tornar consciente a necessidade de mudança, mas apenas quando obedece à sua própria lei contra a lei da realidade. A arte não pode mudar o mundo, mas pode contribuir para a mudança da consciência e impulsos dos homens e mulheres que poderiam mudar o mundo. A renúncia à forma estética é abdicação da responsabilidade. Priva a arte da verdadeira forma em que pode criar essa outra realidade dentro da realidade estabelecida – o cosmos da esperança. A obra de arte só pode obter relevância política como obra autônoma. A forma estética é essencial à sua função social. MARCUSE, Herbert. A dimensão estética, s/d. Adaptado. Texto 2 Foi com estranhamento que crítica e público receberam a notícia de que a escritora paulista Patrícia Engel Secco, com a ajuda de uma equipe, simplificou obras de Machado de Assis e de José de Alencar para facilitar sua leitura. O projeto que alterou partes do conto O Alienista e do romance A Pata da Gazela recebeu a aprovação do Ministério da Cultura para captar recursos com a lei de incentivo para imprimir e distribuir, gratuitamente, 600 000 exemplares. Os livros apresentam substituição de palavras e expressões com registro simplificado, como, por exemplo, a troca de “prendas” por “qualidades” em O Alienista. “O público-alvo do projeto é constituído por não leitores, ou leitores novos, jovens e adultos, de todos os níveis de escolaridade e faixa de renda”, afirmou Patrícia. Autora de mais de 250 títulos, em sua maioria infantis, ela diz que encontra diariamente pessoas que não leem, mas que poderiam se interessar pelo universo de Machado e Alencar se tivessem acesso a uma obra facilitada. KUSUMOTO, Meire. “De Machado de Assis a Shakespeare: quando a adaptação diminui obras clássicas”. http://veja.abril.com.br, 12.05.2014. Adaptado. Explique o significado da autonomia da obra de arte para o filósofo Marcuse. Considerando esse conceito de autonomia, explique o significado estético do projeto literário de facilitação de algumas obras de Machado de Assis e de José de Alencar. Resposta: A teoria estética de Herbert Marcuse baseia-se nos princípios marxistas, realizando, contudo, uma crítica à visão ortodoxa desta teoria. Segundo a teoria estética marxista a obra de arte é um todo que representa a visão de mundo de determinadas classes sociais. Desta forma, a obra de arte possui a função política de criar uma consciência, porém esta criação é direcionada, intencional segundo os marxistas ortodoxos. Para Marcuse, a obra de arte possui uma função política em si mesmo, ou seja, ela é uma representação de uma visão de mundo que visa comunicar, abrir possibilidades, não necessariamente direcionar a visão daqueles que apreciar a obra. Assim, a obra de arte é autônoma por si e não necessita de direcionamento. Ela rompe com a consciência dominante por meio da experiência individual. Esta experiência é libertadora na medida em que leva o apreciador a sentir e refletir seu significado, comparando o que lhe foi proporcionado com sua própria experiência de mundo. Com relação ao projeto de facilitação de acesso a obras consagradas, de Machado de Assis e José de Alencar, a estética Marcuseana se posiciona contra, pois isto serve como forma de direcionamento do sentido político da obra de arte. A facilitação ao acesso não produziria uma experiência individual e libertária para o apreciador, mas sim uma doutrinação ao modificar a concepção original da obra, impedindo que ela, por si própria, desempenhasse sua função estética. Em outras palavras, a adaptação da obra literária, através da justificativa de facilitação de acesso, serviria como instrumental de controle e que pode ser utilizado em favor de interesses de classes dominantes. 3. (Unesp 2012) Regulamentação publicada nesta segunda-feira, no Diário Oficial do Município do Rio, determina que as crianças e adolescentes apreendidos nas chamadas cracolândias fiquem internados para tratamento médico, mesmo contra a vontade deles ou dos familiares. Os jovens, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social (Smas), só receberão alta quando estiverem livres do vício. A “internação compulsória” vale somente para aqueles que, na avaliação de um especialista, estiverem com dependência química. Ainda de acordo com a resolução, todas as http://veja.abril.com.br/ crianças e adolescentes que forem acolhidos à noite, “independente de estarem ou não sob a influência do uso de drogas”, não poderão sair do abrigo até o dia seguinte. (www.estadao.com.br, 30.05.2012. Adaptado.) As justificativas apresentadas neste texto para legitimar a “internação compulsória” de usuários de drogas são norteadas por: a) princípios filosóficos baseados no livre-arbítrio e na autonomia individual. b) valores de natureza religiosa fundamentados na preservação da vida. c) valores éticos associados ao direito absoluto à liberdade da pessoa humana. d) realização prévia de consultas públicas sobre a internação obrigatória. e) critérios médicos relacionados à distinção entre saúde e patologia. Resposta: E Interessante questão. A tomada de decisão a respeito da “internação compulsória” não é baseada em princípios filosóficos ou valores religiosos. O principal aliado para a tomada dessa decisão política é o saber médico que passa a definir o que é normal e o que é patológico. Esse é um dos principais saberes com o qual o poder está relacionado na sociedade contemporânea. 4. (Unesp 2012) Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conhecimentos, seus modos de vida, seus erros, suas ilusões. Na nossa atual era planetária, o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras têm de melhor, e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada em sua história não somente segundo os ideais de Liberdade-Igualdade-Fraternidade promulgados por sua Revolução, mas também segundo o comportamento de uma potência que, como seus vizinhos europeus, praticou durante séculos a escravidão em massa, e em sua colonização oprimiu povos e negou suas aspirações à emancipação. Há umabarbárie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitarismos fascistas, nazistas, comunistas. Devemos considerar uma cultura não somente segundo seus nobres ideais, mas também segundo sua maneira de camuflar sua barbárie sob esses ideais. (Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado.) No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard Morin desenvolve a) reflexões elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental sobre outras culturas. b) um ponto de vista idealista sobre a expansão dos ideais da Revolução Francesa na história. c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteção dos valores culturais. d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras culturas na história. e) uma defesa do caráter absoluto dos valores culturais da Revolução Francesa. Resposta: D A alternativa [D] é a única correta. Morin propõe uma análise crítica das culturas contemporâneas. Segundo ele, elas não devem ser analisadas somente por seus valores, mas também por aquilo que produziram e pelas barbáries que permitiram. É a partir dessa análise que cada nação deve buscar integrar aquilo que as outras possuem de melhor.