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espaço muito menor que entre fascistas e comunistas, por exemplo. Se tomarmos duas ideologias que recaíram em ditaduras e regimes totalitários – o fascismo e o comunismo –, podemos perceber uma grande diferença na concepção de Estado. Para a primeira o Estado existe e o indivíduo o serve, para a segunda o Estado serve as necessidades individuais de acordo com as capacidades destes. Porém, para simplificar podemos generalizar uma seguinte diferenciação: ideologias de direita geralmente buscam ser ou conservadoras ou reacionárias, e ideologias de esquerda ou progressistas ou revolucionárias. 45. (Unesp 2012) De certo modo, a primeira fonte de ruptura com o antropocentrismo se encontra na teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, a assim chamada revolução copernicana. A segunda grande ruptura é provocada pelo que se poderia chamar, em analogia com a primeira, de revolução darwiniana, resultado da obra de Charles Darwin, A origem das espécies pela seleção natural, onde este formula sua famosa teoria da evolução das espécies. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.) A partir do texto, explique o significado do termo “antropocentrismo” e descreva por que as obras de Copérnico e de Darwin são apresentadas como momentos de ruptura com essa centralidade. Resposta: Antropocentrismo é a concepção na qual o mundo existe em função do homem. É uma concepção que se vinculou muito ao cristianismo e a ideia de que a criação divina se fez para o homem e o próprio é especialmente divino por ter sido feito à imagem e semelhança do Criador. Evidentemente, quando Copérnico revoluciona a teoria sobre o movimento dos corpos celestes, fazendo o espectador se mover e o astro se manter em repouso, o antropocentrismo sofre um ataque contundente, afinal a Terra criada para o homem não seria o centro de tudo, mas apenas um planeta como qualquer outro. Do mesmo modo, Darwin ao teorizar sobre a evolução das espécies faz algo similar e retira a qualidade divina do homem ao afirmá-lo como uma derivação do macaco. Também, Darwin retira do mundo qualquer finalidade especial e diz que a origem das espécies não aponta para nada além da sua mera sobrevivência, isto é, podemos imaginar disto que Darwin afirma sobre as espécies que não há finalidade especial para o planeta Terra e seus seres vivos e eles vagam pelo universo sem qualquer finalidade específica. 46. (Unesp 2012) As freiras da Congregação das Pequenas Irmãs da Sagrada Família, de Cascavel (PR) e, em particular, a Irmã Kelly Favareto, poderão aparecer com os véus que cobrem cotidianamente suas cabeças na foto da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A decisão é da Justiça Federal, que aceitou recurso da Irmã contra a Resolução do Conselho Nacional de Trânsito que proíbe, por razões de segurança, que na foto da CNH o condutor apareça usando óculos, bonés, gorros, chapéus ou qualquer outro item que cubra parte do rosto ou cabeça, dificultando sua identificação. “Eu só ando de véu, que é um sinal de consagração a Deus, não é um acessório que posso tirar quando quiser”, alegou a Irmã. (Evandro Fadel. Freira ganha direito de usar hábito na foto da CNH. O Estado de S.Paulo, 10.02.2012. Adaptado.) Comente o significado filosófico do fato noticiado, abordando a relação entre indivíduo e Estado, e explique a relação entre esse fato e o movimento filosófico iluminista do século XVIII. Resposta: É um tanto estranho pedir simplesmente, sem qualquer definição anterior, que se comente o significado filosófico de um fato noticiado. A filosofia não é algo tão coeso para possuir um significado tão preciso, tão simples de se fazer referência e, sendo assim, são possíveis várias abordagens distintas. Porém, aparentemente, deseja-se ressaltar nesta pergunta de vestibular a questão referente à liberdade do cidadão, ou seja, sua relação com o Estado e com as Leis. No caso brasileiro, nossa Constituição permite o culto e sua manifestação livre, todavia devemos nos perguntar sempre sobre a laicidade dos poderes, isto é, sobre a indiferença do Estado e suas Leis a respeito da religião de cada indivíduo. Enfim, o Estado poderia beneficiar um cidadão ao tomar uma decisão que o favoreça simplesmente devido sua religião? Apesar de a argumentação da freira criar uma relação de necessidade entre o véu e seus hábitos, ou seja, que ela deveria habitualmente usá-lo e não pode, simplesmente, tirá-lo para uma fotografia, o poder poderia favorecê-la baseando-se neste argumento religioso? Essas ideias sobre a liberdade dos cidadãos e a laicidade do Estado se desenvolveram e foram propagandeadas na modernidade durante o período do movimento Iluminista. John Locke (1632-1704) e Montesquieu (1689-1755), por exemplo, pensaram sobre as relações entre o Estado, as Leis e o cidadão e consideram com frequência as questões referentes à laicidade do poder e à liberdade do sujeito. 47. (Unesp 2012) Texto 1 2012 começa sob a vibração positiva de uma Lua crescente em Áries logo no dia 1.º. Áries é o signo que tem tudo a ver com o início de algo e traz muita garra, coragem e esperança. Ainda na primeira semana, Mercúrio, das comunicações, forma um aspecto harmonioso com Saturno e Netuno, evidenciando um momento de descobertas, diálogo e de primeiros passos coletivos na consolidação de um sonho ou projeto comum, de muitos povos e sociedades. Acordos internacionais e negociações de paz podem ser feitos em um momento feliz e que promete bom desenvolvimento. (Barbara Abramo. Céu de janeiro de 2012. http://horoscopo.uol.com.br, 01.01.2012.) Texto 2 O Irã lançou ontem mísseis de cruzeiro melhorados, que podem ameaçar navios americanos, durante um exercício naval que simula o fechamento do estreito de Hormuz – por onde passa cerca de um sexto da produção de petróleo mundial. O míssil Ghader (capaz, em farsi) foi desenvolvido com o objetivo de atacar navios de guerra e proteger o litoral do país. Duas unidades foram disparadas ontem da costa iraniana em um teste. (Irã testa míssil que ameaça frota dos EUA. Folha de S.Paulo, 03.01.2012.) Os dois textos, publicados no início de 2012, apresentam incompatibilidade lógica entre as formas pelas quais abordam a realidade. Responda quais são os pressupostos ou pontos de vista assumidos por cada um deles e explique os motivos dessa incompatibilidade. Resposta: O Texto 1 apresenta uma abordagem esotérica da realidade e, ao contrário, o Texto 2 uma abordagem exotérica. O esoterismo é uma doutrina hermética, fechada, acessível para poucos, já o exoterismo não se restringe e é algo público, aberto, acessível para todos. O sobrenatural participa das previsões expostas no Texto 1 e através de uma leitura do posicionamento dos astros, sem qualquer fundamento científico, descreve-se acontecimentos futuros e qualifica irracionalmente que tipo de ação pode ser bem ou má sucedida. A documentação empírica participa da informação transmitida no Texto 2 e através de uma consideração factual de um evento ocorrido e observado garante-se um lastro responsável por tornar racionais decisões subsequentes. Evidentemente, existe uma incompatibilidade estabelecida pela irracionalidade presente no Texto 1 e a http://horoscopo.uol.com.br/ racionalidade presente no Texto 2, pela presença de um sobrenatural esotérico no Texto 1 e uma publicidade exotérica no Texto 2. 48. (Unesp 2011) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna de Platão (A República), que se refere ao célebre mito da caverna e seu significado no pensamento platônico. Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. Noque se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas as coisas; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública. (Platão. A República, texto escrito em V a.C. Adaptado.) Explique o significado filosófico da oposição entre as sombras no ambiente da caverna e a luz do sol. Resposta: Nós estamos diante de um trecho que compõe um dos mais famosos da história da filosofia e cujas tarefas, as do filósofo, estão delineadas em forma de alegoria. A primeira tarefa a ser entendida é que a caverna é o nosso mundo, o mundo onde esquecemos de tudo – supõe Platão – enquanto todos nós já tivéssemos vivido como puro espírito contemplando o mundo das ideias. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos correspondem a uma ocasião para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Deste modo, a sombra significa o amor pela doxa (amor pela opinião), pelas opiniões que existem no mundo das sombras, de onde os acorrentados ainda não tiveram capacidade de se libertarem. Quanto à luz do sol, é exatamente o oposto, uma vez que já libertos das correntes, ao contemplar fora da caverna a verdadeira realidade passa da opinião à ciência, ou melhor, ao amor pela filosofia. Ao que vê a luz do Sol, cabe, segundo Platão, ensinar e governar. Trata-se da ação política, da transformação dos homens em sociedade, desde que as mesmas estejam voltadas para a contemplação do modelo do mundo das ideias. 49. (Unesp 2011) “Três maneiras há de preservar a posse de Estados acostumados a serem governados por leis próprias; primeiro, devastá-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir que vivam com suas leis, arrancando um tributo e formando um governo de poucas pessoas, que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade, a garantia mais segura da posse é a ruína. Os que se tornam senhores de cidades livres por tradição, e não as destroem, serão destruídos por elas. Essas cidades costumam ter por bandeira, em suas rebeliões, tanto a liberdade quanto suas antigas leis, jamais esquecidas, nem com o passar do tempo, nem por influência dos favores que receberam. Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, sem promover desavença e desagregação entre os habitantes, continuarão eles a recordar aqueles princípios e a estes irão recorrer em quaisquer oportunidades e situações”. (Nicolau Maquiavel. Publicado originalmente em 1513. Adaptado.) Partindo de uma definição de moralidade como conjunto de regras de conduta humana que se pretendem válidas em termos absolutos, responda se o pensamento de Maquiavel é compatível com a moralidade cristã. Justifique sua resposta, comentando o teor prático ou pragmático do pensamento desse filósofo.