Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO A sexualidade feminina, as diferenças entre sexualidade e sexo e as disfunções sexuais femininas. As principais doenças sexualmente transmissíveis, seus fatores de risco e as abordagens de tratamento fisioterapêutico na saúde sexual da mulher. PROPÓSITO Compreender a clínica, os fatores de risco e as diferenças entre as principais doenças sexualmente transmissíveis, tratando dos aspectos em torno da sexualidade, dos tipos de disfunções sexuais femininas e sua identificação a partir da avaliação pélvica, para o embasamento na escolha das abordagens fisioterapêuticas empregadas em seu tratamento. OBJETIVOS MÓDULO 1 Contextualizar sexualidade e gênero, bem como as disfunções sexuais femininas MÓDULO 2 Conhecer as principais doenças sexualmente transmissíveis e os tratamentos fisioterapêuticos eletivos para a saúde da mulher INTRODUÇÃO Iniciaremos com uma contextualização sobre sexualidade, gênero e sexo, a fim de refletir sobre as mudanças que ocorreram na sociedade e as possíveis consequências sociais e emocionais que podem gerar disfunções sexuais femininas, envolvendo distúrbios relacionados às fases de desejo, excitação e orgasmo feminino, além de distúrbios de dor, como vaginismo, dispareunia e vulvodínia. Tudo isso associado às abordagens fisioterapêuticas e interdisciplinares para o tratamento desses problemas que tanto afetam a saúde sexual da mulher. Em 2019, já eram relatados cerca de 1 milhão de novos casos por ano entre pessoas de 15 a 49 anos. Isso equivale a mais de 376 milhões de novos casos anuais de quatro infecções mais comuns: clamídia, gonorreia, tricomoníase e sífilis. Entre elas, a tricomoníase é a IST curável mais comum no mundo, causada por um parasita durante a relação sexual, já as outras são causadas por bactérias. Um cuidado que devemos ter é o fato de, apesar da existência de alguns sintomas, como sangramento intermenstrual, corrimentos uretrais e vaginais e disuria, as IST podem se manifestar de forma assintomática. A clamídia e a gonorreia são as principais causas de doença inflamatória pélvica e infertilidade em mulheres, já a sífilis pode causar doenças cardiovasculares e neurológicas graves. A transmissão dessas doenças durante a gravidez pode levar a sérias consequências para os bebês, incluindo: morte neonatal, natimortos, baixo peso, prematuridade, sepse, cegueira, pneumonia e deformidades congênitas. O conhecimento dessas infecções e sua sintomatologia pelo fisioterapeuta poderá ajudar no diagnóstico precoce e na prevenção de outras sequelas, além de uma abordagem de atenção primária em sua prevenção. MÓDULO 1 Contextualizar sexualidade e gênero, bem como as disfunções sexuais femininas SEXO, SEXUALIDADE E GÊNERO Vamos iniciar este módulo diferenciando sexo e sexualidade, que são termos, atualmente, muito discutidos. A SEXUALIDADE, DIFERENTE DE SEXO, TEM UM CONCEITO NÃO MUITO SIMPLES DE SER APRESENTADO, POR SER CONTROVERTIDO E COMPLEXO, MESMO ASSIM, DEVEMOS TER CONVICÇÃO DE QUE NÃO SE REDUZ À IDEIA DE GENITALIDADE. A sexualidade é uma energia vital direcionada ao prazer, vinculada à afetividade, ao erotismo, à relação sexual e à reprodução. Ela se expressa em forma de sentir e influencia pensamentos, sentimentos e ações. Trata-se de uma parte integral da personalidade que foi construída ao longo da vida através das relações com o outro, entendendo que seu desenvolvimento depende de necessidades básicas, como: desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor. Tudo isso faz com que a sexualidade seja dinâmica e não imutável. Imagem: BARBOSA; VIÇOSA; FOLMER, 2019, p.4 O sexo, embora seja utilizado para descrever a relação sexual, é a expressão biológica do ser humano. Essas particularidades podem incluir cromossomos, genitália e composição hormonal. O sexo biológico fala sobre as características sexuais primárias e secundárias, e podemos compreendê-lo em três vertentes: SEXO CROMOSSÔMICO É definido geneticamente na fertilização do óvulo (XX e XY; e ainda existem as variações X0, XXY) X0 Em biologia, o sistema X0 é um sistema de determinação sexual em que não existe o cromossomo Y. Ou seja, machos possuem um X único e existe um número ímpar de cromossomos no cariótipo. Algumas espécies de Drosophila têm machos X0. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) XXY Alteração genética específica, denominada Síndrome de Klinefelter, acontece devido a uma alteração genética que faz com que exista um cromossoma X extra no cariótipo do menino, sendo XXY em vez de XY. SEXO GONÁDICO É o que determina as características sexuais primárias. É determinado por influência de hormônios gonadais embrionários, fazem a diferenciação hipotalâmica. SEXO FENOTÍPICO É o aparente no nascimento pelas características sexuais secundárias. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Maurício Garcia javascript:void(0) javascript:void(0) NESSE CONTEXTO, PORTANTO, PODEMOS AFIRMAR QUE O SEXO ENTENDIDO POR ATIVIDADE SEXUAL É DIFERENTE DA SEXUALIDADE, EMBORA FAÇA PARTE DELA. Outro conceito que também permeia essas discussões é a compreensão de gênero. Essa discussão tem como ponto de partida a compreensão do contexto social dos dias atuais, em que o gênero adotado é produto da realidade social e não da anatomia dos seus corpos. Como podemos ver, as concepções de sexualidade, sexo e gênero são complementares no ser humano e nos ajudam a compreender suas variantes. Imagem: Ary Ney Chaicoski Junior, Fabio Dezo, Thiago Campos/ Wikimedia Commons/ CC-BY- SA-4.0 Mandala da diversidade sexual. O quadro abaixo aponta os termos que expressam atualmente as relações entre sexualidade e afetividade além do sexo, trazendo a compreensão de identidade e expressão de gênero e orientação sexual. Sexualidade e afetividade Identidades de gênero Cisgênero Transgênero Gênero fluido Refere-se à forma como o indivíduo se vê e pensa sobre si mesmo. Cisgênero: São as pessoas que se identificam com o sexo biológico que foi designado quando nasceram. Transgênero: São as pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele que foi determinado ao nascerem. Gênero fluido: São pessoas que se identificam com mais de um gênero, podendo transitar, ou flutuar, entre o masculino, o feminino ou outras identidades, como, por exemplo, o agênero (sem gênero), em diferentes momentos de sua vida. Expressão de gênero Mulher Não binário Homem Forma como demonstra seu gênero, nas atitudes, formas de se vestir, comportamento e interação. Não binários: São as pessoas que não se identificam com um gênero específico, cuja identidade não se limita às categorias "masculino" ou "feminino”, ou podem definir seu gênero de maneira totalmente diferente dessas duas categorias. Orientação sexual Heterossexual Bissexual Homossexual Refere-se a quem se é atraído física e emocionalmente. Heterossexual: A relação sexual e emocional entre pessoas de sexo oposto. Homossexual: A relação sexual e emocional entre pessoas de mesmo sexo. Bissexual: A relação sexual e emocional entre pessoas de ambos os sexos, tanto homens quanto mulheres. Além da bissexualidade em que pessoas se sentem atraídas e envolvidas afetivamente por pessoas de ambos os sexos, existem também as pessoas que não sentem atração sexual e que são chamadas de assexuadas. Os pansexuais são os indivíduos que sentem atração por pessoas, independente do sexo e da identidade de gênero. Sexo biológico Macho Intersexual Fêmea Refere-se às características mensuráveis e biológicas do indivíduo. Quadro: Termos atuais que expressam as relações entre sexualidade e afetividade. Adaptado de: DE JESUS, 2012. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COM O ENTENDIMENTO DESSES TERMOS E CLASSIFICAÇÕES, PASSAMOS AGORA A FALAR DA SEXUALIDADE FEMININA, TRAZENDO UM POUCO DA HISTORICIDADE PARA EMBASAR POSTERIORES DISCUSSÕES SOBRE AS DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS. DISFUNÇÕES ESSAS QUE TRANSITAM NO UNIVERSODE MITOS E TABUS SOBRE SEXO, CONSTRUÍDOS E DESCONSTRUÍDOS AO LONGO DO TEMPO, INFLUENCIADOS PELA HEGEMONIA MASCULINA, QUESTÕES POLÍTICAS, RELIGIOSAS E SOCIAIS. Até o final do século XIX, as mulheres saudáveis eram as que não tinham desejos sexuais, ou seja, esperava-se que a mulher apenas obtivesse relações sexuais para fins de procriação. O sexo no casamento tinha como finalidade a reprodução humana, portanto, a escolha era por mulheres reprodutoras, enquanto as mulheres mais erotizadas eram tidas por amantes. Nesse cenário, a mulher era posta em condição desigual em relação ao homem, vivendo, inclusive, sob sua tutela. Em um primeiro momento, dependia do pai, depois, do marido; tinha sua sexualidade normatizada pelos padrões cristãos, sendo legitimada pela instituição do casamento e pelo cumprimento da função reprodutora. Elementos esses que, hoje, são amplamente confrontados ao se discutir direitos e sexualidade. Foto: shutterstock.com A sexualidade feminina durante séculos foi entendida como algo inexistente, mas, atualmente, as discussões têm sido mais frequentes. No entanto, falar do assunto ainda rende tabus entre as próprias mulheres, o que as restringe a uma relação de valorização e exploração dos seus desejos e, principalmente, quanto ao rompimento de padrões e conceitos errôneos. Houve alguns marcos na mudança de conceitos rígidos e estigmatizados sobre a mulher no tocante a sexo e prazer, além da ideia equivocada daquela época de que o orgasmo tornava as mulheres mais férteis. Sobre algumas mudanças que geraram grandes marcos, podemos citar a necessidade de uma viúva sair em busca de trabalho durante as guerras mundiais, para garantir o sustento familiar após a morte de seu marido; o surgimento da pílula anticoncepcional; a valorização do autoconhecimento, quebrando o tabu da masturbação (de que se olhar e tocar seria ilícito e condenável), dentre outros. Apesar de as mulheres terem conquistado autonomia, ainda existe certo desconforto acerca da sexualidade feminina e a busca pelo prazer sem culpa. Isso porque aspectos sociais, religiosos e culturais continuam intermediando essa relação, resultando em bloqueios sexuais que afetam as fases de desejo e excitação feminina, levando a transtornos de orgasmo, incluindo, muitas vezes, dor na relação sexual. INSTA SALIENTAR QUE A PRÓPRIA “AUTORIDADE” MASCULINA, SUSTENTADA SOBRE OS CONCEITOS DE SUBMISSÃO FORTALECIDOS PELA IGREJA, REFORÇA COMPORTAMENTOS PARAFÍLICOS , DE AGRESSÃO E ABUSO SEXUAL. COMPORTAMENTOS PARAFÍLICOS Transtornos parafílicos são fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e excitantes sexualmente que causam sofrimento ou incapacitação. Envolvem objetos inanimados, crianças ou outros adultos não consentidores, sofrimento ou humilhação de si mesmo ou do parceiro, com potencial para causar dano. Foto: Shutterstock.com javascript:void(0) Outra questão sobre a sexualidade da mulher está atrelada à orientação sexual. A homossexualidade era considerada uma prática de delinquentes, relacionada a perturbações congênitas de ordem física e mental, considerando-se um fenômeno predominante, ou até exclusivo, de homens. As lésbicas e as mulheres bissexuais sofreram com os comportamentos machistas e discriminatórios por parte dos homens homossexuais, que as levaram a ter uma expressão mais clara dentro do movimento LGBT. A sexualidade feminina é interferida pelas questões ligadas à autoestima. Muitos processos de doença que a mulher vive podem afetar sua sexualidade: a mulher que apresenta incontinência urinária e tem medo de urinar durante o sexo; a mulher que foi mastectomizada após um diagnóstico de câncer de mama; a mulher que sofreu abusos e apresenta episódios de vaginismo, impedindo a penetração nas relações consensuais; a mulher que não aceita a própria imagem ou a que gera um distúrbio de autoimagem durante a gestação; o puerpério, que pode afetar as relações conjugais e o sexo. Enfim, é uma gama de questões ligadas às consequências socioculturais que impactam a relação da mulher com o seu prazer. A FUNÇÃO SEXUAL FEMININA No ser humano, a motivação para se tornar sexualmente ativo é variada e envolve a reprodução – desejo de ter um filho –, a identidade – sentir-se homem/mulher –, o prazer – sentir-se desejado(a) –, ou o relacionamento – desejo por intimidade e cumplicidade. As sensações sexuais são despertadas, seja por fantasias, por masturbação ou pelo ato sexual em si, e ocorrem em uma sucessão de fases que estão interligadas entre si, as quais são chamadas de fases da resposta sexual humana. A função sexual na vida da mulher vai muito além de uma resposta biológica e interfere diretamente na qualidade de vida e, por isso, durante muito tempo, vem sendo alvo de estudos de vários autores. Durante a década de 50, os autores Masters e Johnson iniciaram uma minuciosa investigação científica acerca do comportamento sexual, apresentando uma descrição da sexualidade humana, que foi dividida em 4 fases sequenciais: excitação, platô, orgasmo e resolução (SENA, 2010). No final da década de 70, Kaplan propôs um modelo alternativo de resposta sexual, abrangendo o desejo como uma fase para início do ato sexual. Esse modelo consiste em 3 fases: desejo, excitação e orgasmo. Com a associação entre os modelos de Masters e Johnson e de Kaplan, estabeleceu-se a resposta sexual com um conjunto de 4 etapas sucessivas: desejo, excitação, orgasmo e resolução. Qualquer alteração persistente ou recorrente em uma dessas fases, é denominada de disfunção sexual feminina (MARQUES; CHEDID; EIZERIK, 2008). Na evolução dos estudos sobre sexualidade feminina, Basson discutiu que o desejo sexual nas mulheres também poderia ser “espontâneo” e nem sempre estaria relacionado a um estímulo (MARQUES; CHEDID; EIZERIK, 2008). AS 4 ETAPAS DA RESPOSTA SEXUAL Desejo Consiste em uma fase em que fantasias, pensamentos eróticos, palavras ou visualização da pessoa desejada despertam vontade de praticar a atividade sexual. Excitação Fase de preparação para o ato sexual, desencadeada pelo desejo. Junto com sensações de prazer, surgem alterações corporais que são representadas basicamente no homem pela ereção (endurecimento do pênis) e na mulher pela lubrificação vaginal (sensação de estar intimamente molhada). Orgasmo É o clímax de prazer sexual, sensação de prazer máximo, que ocorre após uma fase de crescente excitação. Resolução Consiste na sensação de relaxamento muscular e bem-estar geral que ocorre após o orgasmo que, para os homens em geral, associa-se ao seu período refratário (intervalo mínimo entre a obtenção de ereções). Na mulher, esse período refratário não existe: ela pode, logo após o ato sexual, ter novamente desejo, excitação e um novo orgasmo, não necessitando esperar um tempo para que isso ocorra novamente — o que chamamos de orgasmos múltiplos. Quadro: As 4 etapas da resposta sexual segundo Masters e Johnson e Kaplan. Extraído de: MARQUES; CHEDID; EIZERIK, 2008, p. 17(3-6):175-183. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Foto: Shutterstock.com Excitação Sexual O estímulo sexual é, de forma recorrente, o começo de toda resposta sexual. Pode ser psíquico (apenas por pensamento, visual ou auditivo) ou físico (toque). Hoje, sabe-se que a parte psíquica do estímulo sexual, especialmente, para a mulher, é ponto fundamental para a completa realização sexual. O estímulo é a porta de entrada para toda a resposta sexual: é a partir da boa recepção e percepção dos estímulos que uma relação satisfatória começa. Conhecer a si mesmo e estar bem consigo mesmo é fundamental para que o caminho para a recepção dos estímulos sexuais esteja aberto. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS NAS ESTRUTURAS GENITAIS FEMININAS NO ATO SEXUAL Até a quinta semana de gestação, não há diferenças morfológicas entre bebês do sexo masculino ou feminino. É partir daí que acontece a diferenciação sexual, quando são formadosos órgãos genitais masculinos e femininos, a partir dos mesmos tecidos. De fato, esses dois órgãos são bastante similares, diferenciando apenas em tamanho e número de terminações nervosas. Isso significa que ambos podem ficar eretos durante a excitação. O clitóris recebe maior inervação e, durante a excitação, aumenta em tamanho e volume. Foto: Shutterstock.com A região delimitada pelos grandes lábios, conhecida como vestíbulo, também aumenta de volume em virtude do aumento no fluxo sanguíneo. A sensibilidade também é aumentada, além de haver um estreitamento dos tecidos da região, que vai ficar ao redor do pênis durante o ato sexual. As regiões mais importantes a sofrerem esse ingurgitamento são os pequenos lábios, a entrada da vagina e os arredores do clitóris. Na parte inferior da entrada da vagina, existem duas pequenas glândulas chamadas glândulas de Bartholin. Sua função é produzir aquele muco transparente e inodoro que umidifica toda a região genital durante a excitação sexual. Em conjunto com as secreções produzidas pelas paredes vaginais, esse muco vai permitir que a sensação durante o ato sexual seja de massagem, branda e sem atrito, ao contrário da sensação irritativa de uma vagina ressecada. A quantidade de muco produzido varia para cada mulher, que, como já abordamos, é o sinal de excitação. Quando não acontece, a causa pode ser emocional, ou também física, como a diminuição do estrogênio no climatério. Imagem: GILROY, 2017, p. 225. Anatomia da estrutura vaginal feminina. Finalmente, se todas as condições propícias foram alcançadas, desde a recepção apropriada e proveitosa dos estímulos sexuais (visuais, táteis, psicológicos), se esses estímulos foram suficientes para provocar a ereção do clitóris, o engurgitamento dos pequenos lábios e do restante do vestíbulo, se houve lubrificação suficiente para que o atrito na penetração fosse reduzido à sensação de prazer, então, é muito provável que a mulher chegue a uma fase da resposta sexual conhecida como fase de platô — que prepara terreno para o orgasmo. ENGURGITAMENTO Quando os órgãos genitais se enchem de sangue. Quando o engurgitamento de toda a região genital está no máximo, a sensibilidade completa, outros sinais ficam evidentes, como: hiperemia da região das bochechas, do pescoço e do peito, e as alterações na respiração, sudorese e ereção dos pelos. Quando o estímulo na fase de platô continua, é possível que aconteça o orgasmo. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Orgasmos são contrações rítmicas e reflexas que podem durar de segundos a minutos. Pode acontecer nas mais diversas intensidades. Quanto mais intensos forem os estímulos, mais intenso é o orgasmo. A sensação na mulher é de que toda a região genital (que envolve não só a vagina, mas a parte interior da cavidade pélvica, útero, toda a musculatura do assoalho pélvico) e, por vezes, até os músculos abdominais e da parte interna das coxas, está contraindo automaticamente e com força (OSTERGARDE, 2006). DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS (DSF) Muitas disfunções sexuais femininas (DSF) são frutos da construção e desconstrução da sexualidade feminina. O patriarcado e as diferenças entre homens e mulheres, bem como as histórias de abusos, construídas e reforçadas socialmente, podem ser causas de DSF. As IST também trazem reflexo sobre a sexualidade e possíveis transtornos sexuais, como: enfrentamento da soropositividade, queixas de dor e desconforto, e o medo de ser transmissora da doença. A necessidade de compreender e estabelecer critérios de diagnóstico para os transtornos da sexualidade, chamados de disfunções sexuais femininas (DSF) , consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, levou à realização de diversos estudos que apontam a influência sobre vida social, psicológica, ocupacional e física das mulheres e de seus parceiros. Em 1994, foi publicado o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais - IV (DSM - IV) que, em 2000, precisou ser ampliado (DSM IV TR), citando, além dos transtornos sexuais, os de identidade de gênero. Em maio de 2013, o DSM V apresenta as categorias disfunções sexuais, disforias de gênero e transtornos parafílicos. Esse material apresenta a classificação mais atual. Em maio de 2019, foi lançada uma nova versão do DSM, em que a saúde ganhou um novo capítulo com visões mais atualizadas sobre as questões que afetam a vida sexual. Disfunções sexuais: São síndromes que compreendem as várias maneiras pelas quais as pessoas adultas podem ter dificuldade em experimentar atividades sexuais pessoalmente satisfatórias e não coercitivas. A resposta sexual é uma interação complexa de processos psicológicos, interpessoais, sociais, culturais e fisiológicos e um ou mais desses fatores podem afetar qualquer estágio da resposta sexual. Para ser considerada disfunção sexual, a disfunção deve: 1) Ocorrer com frequência, embora possa estar ausente em algumas ocasiões. 2) Estar presente há pelo menos vários meses. 3) Estar associada a sofrimento clinicamente significativo. Transtornos de dor sexual: Referem-se a dificuldades marcadas e persistentes ou recorrentes relacionadas à experiência de dor durante a atividade sexual em pessoas adultas, que não são inteiramente atribuíveis a uma condição médica subjacente. Lubrificação insuficiente em mulheres, alterações relacionadas à idade ou alterações associadas à menopausa estão associadas ao sofrimento clinicamente significativo. Incongruência de gênero: Caracterizada por uma incongruência marcante e persistente entre o gênero experimentado de um indivíduo e o sexo atribuído. O comportamento e as preferências das variantes de gênero por si só não são uma base para atribuir os diagnósticos neste grupo. Quadro: Questões atualizadas na nova versão do DSM que afetam a vida sexual. Adaptado de: Associação americana de psiquiatria (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION), 1994. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal As causas das DSF podem estar associadas às alterações hormonais, faixa etária, ritmo individual, expectativas do parceiro, tempo de relacionamento, má experiência sexual, abuso sexual, repressão sexual e, ainda, casamentos não consumados, problemas de fertilidade, conflitos conjugais e insatisfação sexual. De forma geral, as DSF podem ser primárias, presentes desde as primeiras experiências sexuais, secundárias ou adquiridas, situacionais, quando ocorrem somente com determinados tipos de estimulação ou situações. As alterações da função sexual são multifatoriais, necessitando de uma abordagem holística, sendo necessário um tratamento biopsicossocial, multidisciplinar, associando medidas farmacológicas, fisioterapêuticas e intervenções psicológicas. Normalmente, é uma mistura entre métodos cognitivo, comportamental e intervenções sistêmicas, incluindo educação sexual, permissão sexual, treinamento de comunicação, aconselhamento de casais, exercícios de conscientização física e da sensualidade. Vamos estudar mais profundamente as DSF que exigem a atuação efetiva da fisioterapia. TRANSTORNO DO ORGASMO FEMININO Atraso persistente ou recorrente, ou ausência de orgasmo após uma fase normal de excitação sexual. PRIMÁRIA Associada à imaturidade e à dificuldade de entrega. SECUNDÁRIA Relacional, drogas psicoativas, diabetes, neuropatias etc. TRANSTORNO DO INTERESSE/EXCITAÇÃO SEXUAL FEMININA javascript:void(0) javascript:void(0) Ausência ou diminuição de sentimentos de interesse ou desejo sexual; ausência de pensamentos ou fantasias; e/ou falta de desejo responsivo, associado à incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual de lubrificação – turgescência até o fim da atividade sexual. TURGESCÊNCIA Processo pelo qual um tecido ou órgão, ao absorver água, torna-se intumescido, por meio do aumento da pressão interna. Foto: shutterstock.com TRANSTORNO DA DOR GÊNITO- PÉLVICA/PENETRAÇÃOjavascript:void(0) DISPAREUNIA Dor genital persistente ou recorrente no início, durante ou após a penetração vaginal. Quando acontece no início e pós-coito, geralmente, está associada à alteração hormonal, por atrofia vulvovaginal ou por vulvodínia e queixas urinárias. Quando ocorre durante o coito, pode ter origem orgânica, uterina ou anexial, mas, em todos os casos, não podemos afastar as causas emocionais. Pode apresentar-se de forma superficial ou profunda, primária ou adquirida. Segundo a OMS, a dispareunia tem prevalência entre 8 e 22% nas mulheres. A dor pode ter origem em várias patologias, médicas e psicossexuais: infeções vulvovaginais; doenças da vulva (dermatoses vulvares, vulvodínia, quistos de Bartholin); alterações trófi¬cas da pós-menopausa (secura vaginal, atrofi¬a vulvovaginal, lubrifi¬cação defi¬ciente); distúrbios urológicos (uretrite, síndrome de dor vesical crônica); consequências de cirurgias (cicatriz de episiotomia, correção do pavimento pélvico); distúrbios neurológicos/musculares (lesões do nervo pudendo, hipertonicidade do pavimento pélvico); infeções pélvicas (doença inflamatória pélvica, cervicite crônica); patologias ginecológicas (endometriose, miomas uterinos, síndrome de congestão pélvica); distúrbios intestinais (síndrome do cólon irritável, obstipação crônica). VAGINISMO Desordem sexual caracterizada por espasmos involuntários persistentes ou recorrentes da musculatura perineal e que interferem na relação sexual, levando ao comprometimento das relações interpessoais da mulher. Essa condição inviabiliza qualquer forma de penetração vaginal, como o uso de absorvente interno, exame ginecológico ou o ato sexual. O vaginismo possui várias etiologias, podendo ser físicas ou emocionais, como infecções urinárias, parto, anormalidade do hímen, cirurgia pélvica, lubrificação insuficiente e efeitos colaterais de medicamento. Por outro lado, causas emocionais incluem: medo, ansiedade, abuso sexual e problemas no relacionamento. VULVODÍNIA Desconforto vulvar, na maioria das vezes, descrito como dor em queimação em um período superior a três meses, que ocorre na ausência de achados visíveis relevantes e/ou específicos, clinicamente identificáveis ou de distúrbio neurológico. A vulvodínia pode ser classificada em generalizada e localizada, sendo que a última corresponde a 80% dos casos e é caracterizada pela dor ao toque em área específica: vestíbulo (vestibulodínia), clitóris (clitorodínia) ou unilateral (hemivulvodínia). Pode ainda ser classificada de acordo com a existência de fatores desencadeadores (provocada, espontânea ou mista) e quanto ao início das queixas (primária ou secundária) e ao padrão temporal (intermitente, persistente, constante, imediata ou diferida). DOR PÉLVICA CRÔNICA LIGADA AO SEXO O especialista Leandro Dias abordará os principais sintomas de dor pélvica relacionada ao sexo e penetração e o impacto na vida da mulher. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MULHER COM QUEIXA DE DOR GENITAL QUE INICIA NA PENETRAÇÃO VAGINAL E PERDURA DURANTE O INTERCURSO SEXUAL. A QUEIXA É DE DOR PROFUNDA DESDE A PRIMEIRA RELAÇÃO SEXUAL. BASEADO NESSE RELATO, QUAL A PROVÁVEL DSF ENCONTRADA? A) Transtorno do orgasmo feminino B) Transtorno do interesse C) Transtorno da excitação sexual feminino D) Transtorno da dor gênito-pélvica/penetração — vaginismo E) Transtorno da dor gênito-pélvica/penetração - dispareunia 2. AS DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS (DSF) SÃO CONSIDERADAS PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, E ELEVAM CADA VEZ MAIS O INTERESSE NA REALIZAÇÃO DE DIVERSOS ESTUDOS QUE APONTAM A INFLUÊNCIA DA VIDA SOCIAL, PSICOLÓGICA, OCUPACIONAL E FÍSICA DAS MULHERES E DE SEUS(SUAS) PARCEIROS(AS). DE UMA FORMA GERAL, AS DSF PODEM SER CLASSIFICADAS COMO PRIMÁRIAS OU SECUNDÁRIAS (ADQUIRIDAS). SOBRE AS SUAS CAUSAS, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE ELENCA ALGUMAS DELAS. A) Infertilidade, satisfação sexual, faixa etária B) Fertilidade, satisfação sexual, conflitos conjugais C) Alterações hormonais, abuso sexual, satisfação sexual D) Problemas na fertilidade, insatisfação sexual, faixa etária E) Casamentos consumados, repressão sexual, fertilidade GABARITO 1. Mulher com queixa de dor genital que inicia na penetração vaginal e perdura durante o intercurso sexual. A queixa é de dor profunda desde a primeira relação sexual. Baseado nesse relato, qual a provável DSF encontrada? A alternativa "E " está correta. Dispareunia é a dor genital relacionada ao intercurso sexual. 2. As disfunções sexuais femininas (DSF) são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública, e elevam cada vez mais o interesse na realização de diversos estudos que apontam a influência da vida social, psicológica, ocupacional e física das mulheres e de seus(suas) parceiros(as). De uma forma geral, as DSF podem ser classificadas como primárias ou secundárias (adquiridas). Sobre as suas causas, assinale a alternativa que elenca algumas delas. A alternativa "D " está correta. As causas das DSF podem estar associadas a vários fatores, dentre eles: faixa etária, ritmo individual, alterações hormonais, tempo de relacionamento, má experiência sexual, expectativas do parceiro, abuso sexual, repressão sexual, problemas de fertilidade, casamentos não consumados, conflitos conjugais e insatisfação sexual. MÓDULO 2 Conhecer as principais doenças sexualmente transmissíveis e os tratamentos fisioterapêuticos eletivos para a saúde da mulher INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (IST) As infecções sexualmente transmissíveis (IST) recebem essa nomenclatura, pois podem ser causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos, levando a um quadro infeccioso que pode ser transmitido, mesmo a pessoa não apresentando sintomas. IST são transmitidas, principalmente, por contato sexual (oral, vaginal, anal) sem proteção, mas pode acontecer, ainda, da mãe para a criança durante a gestação, no parto ou na amamentação. De maneira menos comum, as IST também podem ser transmitidas por meio não sexual, pelo contato de mucosas ou pele não íntegra com secreções corporais contaminadas. São vários os sintomas das IST: feridas, corrimentos e verrugas anogenitais, dor pélvica, ardência ao urinar e lesões de pele que aparecem, principalmente, no órgão genital. Além disso, pode surgir em outras partes do corpo, como: palma das mãos, olhos e língua. No que diz respeito ao diagnóstico das IST, a anamnese, a identificação das diferentes vulnerabilidades e o exame físico são constituídos como elementos essenciais. Durante o exame físico, deve-se proceder, quando indicado, à coleta de material biológico para a realização de testes laboratoriais ou rápidos. É IMPORTANTE RESSALTAR QUE OS TESTES RÁPIDOS NÃO POSSUEM COBERTURA COMPLETA, MAS ESTÃO DISPONÍVEIS PARA HIV, SÍFILIS E HEPATITE B E C. A estratégia principal de controle é a prevenção combinada, isto é: uso de preservativos masculinos e femininos; ações de prevenção através da mídia social em postos de saúde, clínicas da família e escolas; diagnóstico e tratamento das IST, testagem para HIV, sífilis e hepatites virais B e C; profilaxia pós-exposição ao HIV, imunização para HPV e hepatite B; prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B. VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) O vírus da imunodeficiência humana (HIV), sigla em inglês, é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae, que ataca o sistema imunológico — responsável por defender o organismo de doenças. ATENÇÃO As células mais atingidas são os linfócitos TCD4+ e é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. A transmissão do HIV ocorre, principalmente, através do sexo sem proteção, tanto vaginal, quanto oral ou anal, uso de seringa por mais de uma pessoa; transfusão de sangue contaminado; transmissão vertical (da mãe infectada para seu filho durante o parto e na amamentação); e por meio de instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.Foto: Shutterstock.com No Brasil, os homens são o principal grupo afetado pela infecção do HIV, com tendência de crescimento nos últimos dez anos. Nos dados oficiais, os homens heterossexuais representam 49% dos casos, os homossexuais 38% e os bissexuais 9,1% em virtude de práticas como a multiparceria sexual, o consumo de drogas ilícitas e o consumo de bebidas alcoólicas que podem contribuir para a vulnerabilidade ao HIV. Algumas semanas depois da infecção pelo HIV, podem ocorrer sintomas semelhantes aos da gripe, como: febre, dor de garganta e fadiga. Contudo, a doença costuma ser assintomática até evoluir para AIDS. Os sintomas incluem perda de peso e falta de apetite, febre ou sudorese noturna, fadiga e infecções recorrentes. Além disso, podem ocorrer outros sintomas, como: dificuldade para engolir, dor nas articulações, dores genitais, erupções na pele e diarreias com náuseas. Pessoas infectadas pelo HIV apresentam risco aumentado para alguns tipos de câncer (Sarcoma de Kaposi e linfomas); Síndrome de Wasting, que é a perda de massa corporal; sintomas neurológicos, como confusão, esquecimento, ansiedade e demência; doenças renais e lipodistrofia. Imagem: Shutterstock.com Causador do Sarcoma de Kaposi. Com o intuito de orientar e subsidiar, especialmente, os profissionais de saúde na realização do diagnóstico da infecção pelo HIV, a Portaria SVS/MS nº 29, de 17 de dezembro de 2013, aprovou o Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV, o qual compila seis fluxogramas que permitem um diagnóstico seguro. Para o diagnóstico da infeção por HIV, é realizado o teste de rastreio, que é a técnica de Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay (ELISA). SE O RESULTADO FOR POSITIVO, É REALIZADO UM TESTE CONFIRMATÓRIO, QUE, ATUALMENTE, PODE SER UTILIZADO O TESTE DE FLUIDO ORAL PARA ESSA TRIAGEM. Existem os testes de quarta geração, que detectam a presença de anticorpos (anti-VIH-1 e anti-VIH-2), bem como do próprio vírus (antígeno p24 do VIH-1). Outros testes importantes são a contagem de células CD4 (glóbulo branco que é especificamente destruído pelo HIV). A contagem de células CD4 em uma pessoa sem HIV pode variar de 500 a mais de 1.000. Contagens abaixo de 200 células/mm3 mostram que o paciente tem risco de apresentar infecções oportunistas. Temos a medida da carga viral (PCR — teste de reação da cadeia da polimerase) que é a quantidade de vírus no sangue. A infecção pelo HIV evolui para AIDS, mesmo em pacientes sem sintomas, pois o HIV continua se multiplicando e atacando as células de defesa, principalmente, os linfócitos TCD4+. Dessa forma, sua contagem fica menor que 200 células/mm3 ou apresenta doença definidora, como neurotoxoplasmose, pneumocistose e/ou tuberculose extrapulmonar. O TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL VISA IMPEDIR A PROGRESSÃO DA DOENÇA PARA AIDS. NO ENTANTO, É IMPORTANTE SABERMOS QUE UMA PESSOA PODE ESTAR INFECTADA PELO HIV SENDO SOROPOSITIVA E, NÃO NECESSARIAMENTE, APRESENTAR COMPROMETIMENTO DO SISTEMA IMUNE COM DEPLEÇÃO DOS LINFÓCITOS T, PODENDO VIVER POR ANOS SEM MANIFESTAR SINTOMAS OU DESENVOLVER A AIDS. SINTOMAS E FASES DA DOENÇA Os sinais e os sintomas estão caracterizados nas respectivas fases que envolvem a doença. Veja a seguir: PRIMEIRA FASE Também chamada de infecção aguda, é quando ocorre a infecção pelo vírus HIV. O sistema imunológico começa a ser atacado e, nessa primeira fase, ocorre a incubação do vírus (tempo de exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais e sintomas da doença). Esse processo pode variar de 3 a 6 semanas e o organismo leva de 30 a 60 dias após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV. Nessa fase, os sintomas são parecidos com os da gripe, além de febre e mal-estar geral. SEGUNDA FASE Ocorre forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Essa fase não enfraquece o organismo o suficiente para permitir novas doenças, pois o vírus amadurece e morre de forma equilibrada. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático. FASE SINTOMÁTICA As células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns dos linfócitos CD4+ e ocorre o emagrecimento. FASE AVANÇADA Momento em que a baixa imunidade já está definida. Começam a surgir as doenças oportunistas em razão da debilidade do organismo, atingindo o estágio avançado da doença, a AIDS. Quando o tratamento não é seguido corretamente, podem surgir hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer. HÁ UM CONSENSO BRASILEIRO DE TRATAMENTO DE HIV/AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE QUE VISA UNIFORMIZAR O TRATAMENTO. A MEDICAÇÃO DE PRIMEIRA ESCOLHA, HOJE, ESTÁ DISPONÍVEL EM UM ÚNICO COMPRIMIDO, QUE É A COMBINAÇÃO DE TRÊS REMÉDIOS. SÃO USADOS OS INIBIDORES NUCLEOSÍDEOS DA TRANSCRIPTASE REVERSA, INIBIDORES NÃO NUCLEOSÍDEOS DA TRANSCRIPTASE REVERSA, INIBIDORES DE PROTEASE, INIBIDORES DE FUSÃO OU INIBIDORES DA INTEGRASE. PREVENÇÃO Segundo o Ministério da Saúde, embora ainda não haja a cura para a infecção pelo vírus HIV, é possível controlar a infecção por meio de ações que promovem a prevenção primária, pelo diagnóstico precoce e pela terapia adequada da pessoa portadora. A AIDS atinge, hoje, a todos os grupos sociais, independentemente de classe, sexo, raça ou etnia, orientação sexual e faixa etária. Isso significa que estamos todos vulneráveis ao HIV/AIDS. Para evitar o risco de contaminação, deve-se ter atenção a alguns cuidados básicos: Praticar sexo seguro, ou seja, utilizar preservativos em qualquer situação que envolva sexo. Se usuário de drogas, não compartilhar seringas e agulhas. No caso de fazer tatuagens, verificar se o material é totalmente descartável ou esterilizado em condições permitidas pela vigilância sanitária local. Ficar atento ao uso do profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP), uma medida de prevenção à infecção pelo vírus HIV, que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais em até 72 horas após qualquer situação em que exista risco. ATENÇÃO O diagnóstico precoce da infecção pelo HIV impacta diretamente a quebra de cadeia da transmissão viral, o surgimento de novos casos e garante ao indivíduo o início imediato do tratamento após a confirmação diagnóstica. HEPATITE B Hepatite é um termo que significa inflamação do fígado. A hepatite pode ser crônica ou aguda e acomete ambos os sexos em diferentes idades e etnias. Vários vírus podem causar quadros de inflamação do fígado: dengue, citomegalovirose e febre amarela. Porém, chamamos de hepatites virais apenas aquelas causadas por vírus que atacam preferencialmente o fígado. São cinco as hepatites virais: A, B, C, D e E, ao passo que as três primeiras correspondem mais de 95% dos casos. Imagem: SANTOS, 2018, p. 119 Inflamação do fígado pela hepatite. A hepatite B é transmitida habitualmente por contato sexual, transfusão sanguínea ou por objetos cortantes compartilhados. A maioria dos doentes também costuma ter hepatite subclínica, com sintomas inespecíficos de infecção viral. A taxa de cura é baixa (5 a 10%), levando ao quadro de hepatite crônica e pode levar à falência e ao câncer hepático, principalmente, nos quadros de início precoce, a exemplo de transmissão no parto. SAIBA MAIS A hepatite B é 100 vezes mais infecciosa que o HIV. Estima-se que haja 350 milhões de pessoas com hepatite B crônica em todo o mundo, ao passo que 25% dessas pessoas devem desenvolver câncer de fígado. OS SINTOMAS DA HEPATITE SÃO A ICTERÍCIA (PELE E OLHOS AMARELADOS) , COLÚRIA (URINA COR DE MATE) E ACOLIA FECAL (FEZES CLARAS, QUASE BRANCA) , MAS PODE CAUSAR FRAQUEZA, COMICHÃO GENERALIZADO, NÁUSEAS, PERDA DE APETITE, DORES NO FÍGADO E FEBRE. ESSES SINTOMAS TENDEM A SE MANIFESTAR 6 MESES APÓS A INFECÇÃO. Os principais exames de sangue para identificação de hepatite são as transaminases (AST e ALT). Nas hepatites virais agudas, não há tratamento específico,mas o seguimento é importante para se identificar aqueles que evoluirão para hepatite crônica. HERPES Como já sabemos, o herpes genital é transmitido por meio de relação sexual (oral, anal ou vaginal) sem camisinha com uma pessoa infectada. Em mulheres, durante o parto, o vírus pode ser transmitido para o bebê se a gestante apresentar lesões por herpes. ATENÇÃO O herpes genital apresenta um alto índice de contágio, sendo importante os cuidados de higiene. Como é uma doença causada por vírus, não tem cura, mas há tratamento. Essa IST é caracterizada pelo surgimento de pequenas bolhas na região genital, que se rompem formando feridas e desaparecem espontaneamente. Antes do surgimento das bolhas, pode haver sintomas como: formigamento, ardor e coceira no local, febre e mal-estar. Os sintomas podem reaparecer dependendo de fatores como: estresse, cansaço, esforço exagerado, febre, exposição ao sol, traumatismo, uso prolongado de antibióticos e menstruação. Em homens e mulheres, os sintomas, geralmente, aparecem na região genital (pênis, ânus, vagina, colo do útero). Imagem: SANTOS, 2018, p. 96 Imagem ilustrativa dos tipos de herpes e suas principais formas de contágio. TIPOS DE HERPES O herpes genital apresenta-se de duas formas: HERPES SIMPLES TIPO 1 (HSV-1) É o tipo mais comum e o primeiro contato com o vírus é na infância. Associa-se a lesões dos lábios e interior da boca, em forma de pequenas lesões e aftas; e na face, mais comumente nos olhos, em conjuntiva e córnea. Em alguns casos, pode ocorrer infecção nas meníngeas, causando meningoencefalite. No entanto, geralmente, transmite-se por meio de saliva infectada, ao passo que a maioria das pessoas contrai herpes ainda quando criança, através de beijos. HERPES SIMPLES TIPO 2 (HSV-2) Também considerado um tipo comum, sendo, geralmente, transmitido pelo ato sexual. Ocorre o aparecimento de lesões vesiculares nas regiões genital, perineal e perianal, acompanhadas de edema e eritema. Pode também permanecer em fase de latência, sem apresentar qualquer sintoma. A INFECÇÃO CRUZADA ENTRE OS DOIS TIPOS DE HERPES PODE ACONTECER SE HOUVER CONTATO ORO-GENITAL. ATENÇÃO O herpes pode ser transmitido mesmo sem sintomas ou lesões aparentes. Um parceiro sexual que foi infectado há anos e que não tem lesões ativas da doença pode transmitir a infecção a outra pessoa. Isso se dá devido à fase de latência da doença. CLAMÍDIA A clamídia é uma IST causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que pode afetar homens, mas é mais comum em mulheres. Pode acometer a região vaginal, peniana, anal, faringe e, ainda, ser responsável por doenças pulmonares e infertilidade. Nas mulheres, há risco de a bactéria atravessar o colo uterino, atingir as tubas uterinas e provocar, além da doença inflamatória pélvica, uma obstrução nas tubas, aumentando assim as chances de uma gravidez tubária (ectópica). Durante a gestação, a mulher está mais sujeita a partos prematuros e a abortos. Nos casos de transmissão vertical na hora do parto, o recém- nascido corre o risco de desenvolver um tipo de conjuntivite (oftalmia neonatal) e pneumonia. O período de incubação da clamídia é de aproximadamente 15 dias, fase em que é possível o contágio. A infecção pode ser assintomática, mas pode apresentar dor ou ardor ao urinar, polaciúria, presença de secreção fluida, perda de sangue nos intervalos do período menstrual e dor no baixo ventre. O tratamento consiste no uso de antibióticos específicos (azitromicina, doxiciclina, eritromicina, minociclina) e deve incluir o(a) parceiro(a) para evitar a reinfecção. É recomendável suspender as relações sexuais nesse período. Imagem: Shutterstock.com TRICOMONÍASE Trata-se de uma IST causada por um protozoário, o Trichomonas vaginalis, encontrado com mais frequência na genitália feminina. Existem vários sintomas, como corrimento amarelado, amarelo-esverdeado ou acinzentado com odor desagradável e, às vezes, ocorre prurido, sangramento após relação sexual, dor durante relação sexual (Dispareunia) e dor ao urinar (Disuria) . A tricomoníase pode ser assintomática, mas é facilitadora para a transmissão de outros agentes infecciosos agressivos, como gonorreia e infecção por clamídia e, na gestação, quando não tratada, pode evoluir para rompimento prematuro da bolsa. A tricomoníase tem cura através de antibióticos tomados em dose única. TRANSMISSÃO A transmissão ocorre pelo ato sexual com uma pessoa já infectada, ou de forma acidental, com período de incubação variável de 5 a 28 dias. SINTOMAS Corrimento vaginal abundante, com alteração de coloração, odor fétido, hiperemia vaginal, prurido, dor e ardor ao urinar, dor durante a relação sexual; em alguns casos, apresenta erosões vulvares. Esses sintomas podem se tornar mais intensos no período menstrual. Imagem: SANTOS, 2018, p. 99 Atuação da tricomoníase. CONDILOMA ACUMINADO O condiloma acuminado, conhecido popularmente como verruga genital, crista de galo, figueira ou cavalo de crista, é uma IST causada pelo Papilomavírus humano (HPV) . Atualmente, existem mais de 200 tipos de HPV, alguns deles, podendo causar câncer, principalmente, no colo do útero e no ânus, embora o mais frequente entre as pessoas nem sempre resulte em câncer. Os subtipos, considerados de baixo risco, costumam ser identificados em 90% dos diagnósticos de verrugas genitais. Não se conhece o tempo em que o HPV pode permanecer sem sintomas e quais são os fatores responsáveis pelo desenvolvimento de lesões. Portanto, não só por prevenção, mas também para diagnóstico precoce, é necessário regularidade no exame ginecológico preventivo. A infecção pelo HPV, normalmente, causa verrugas úmidas, macias, rosadas ou acinzentadas e com superfície irregular e áspera. No homem, é mais comum na glande e na região do ânus. Na mulher, os sintomas mais comuns surgem na vagina, vulva, região do ânus e colo do útero. As lesões também podem aparecer na boca e na garganta. ATENÇÃO Importante destacar que essa lesão difere da que ocorre no condiloma plano (manchas vermelhas ou rosadas na pele da boca, sola dos pés e palmas das mãos), comum na fase secundária da sífilis, que veremos logo a seguir. QUANTO AO PERÍODO DE INCUBAÇÃO, TEMOS BASTANTE VARIAÇÃO. EM MÉDIA, AS VERRUGAS GENITAIS COMEÇAM A SURGIR SOMENTE DE 2 A 8 MESES DEPOIS DO CONTATO COM O VÍRUS, MAS PODE FICAR LATENTE POR ANOS. SÃO CONSIDERADOS FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CONDILOMA ACUMINADO À IDADE: PESSOAS SEXUALMENTE ATIVAS ENTRE 15 E 30 ANOS, COM MÚLTIPLOS PARCEIROS E QUE, HABITUALMENTE, NÃO FAZEM USO DO PRESERVATIVO; SISTEMA IMUNOLÓGICO DEPRIMIDO: GESTANTES, PORTADORES DE HIV/AIDS, TRANSPLANTADOS, PACIENTES RECEBENDO QUIMIOTERAPIA OU RADIOTERAPIA; E TABAGISTAS. O diagnóstico do condiloma acuminado é feito pela observação das verrugas e leva em conta fatores de risco para a doença, histórico do paciente e aspecto, e localização das lesões clínicas. Podem ser realizados exames laboratoriais, como: exames de sangue, peniscopia, colposcopia, anuscopia, captura híbrida, colonoscopia e biópsia. O PCR, inclusive, pode identificar o tipo de HPV para um tratamento mais eficaz. As opções do tratamento variam de acordo com as necessidades de cada paciente. Normalmente, inclui o uso tópico ou sistêmico de medicamentos para fortalecer o sistema imune, conter o crescimento das verrugas e a proliferação do vírus HPV (antivirais). Além de procedimentos cirúrgicos, como a crioterapia, utilizando nitrogênio líquido; a cauterização e a aplicação de laser para remoção das verrugas. Imagem: SANTOS, 2018, p. 97 Atuação do HPV GONORREIA Também é uma IST causada por bactéria, a Neisseria gonorrhoeae, popularmente, chamada de gonococo. Além da forma de transmissão sexual, assim como outras estudadas, ela pode passar da mãe para o bebê durante o parto. O período de incubação dessa bactéria é de até 7 dias antes de iniciar seus sintomas. Estima-se que, entre 1 e 2% da população mundial carregue essabactéria no corpo. Aproximadamente 10 a 20% das mulheres e alguns homens infectados são assintomáticos. Cerca de 25% dos homens apresentam sintomas mínimos. Nas mulheres, é comum a presença de cervicite, que apresenta período de incubação de > 10 dias. Os sintomas variam de leves a intensos e incluem disúria, polaciúria e secreção vaginal purulenta. A doença inflamatória pélvica ocorre em 10 a 20% das mulheres infectadas, podendo incluir salpingite, peritonite pélvica e abscessos pélvicos. Além disso, pode produzir desconforto abdominal inferior, tipicamente bilateral, dispareunia e evidente sensibilidade à palpação do abdome, dos anexos e da cérvice. ATENÇÃO A gonorreia retal, geralmente, é assintomática e ocorre em mulheres que praticam sexo anal. Os sintomas incluem prurido retal, secreção purulenta anal, sangramento e constipação intestinal. Foto: Shutterstock.com A faringite gonocócica, na maioria das vezes, não é sintomática, mas pode provocar faringite. Quando evolui para a infecção gonocócica disseminada (IGD ou síndrome artrite-dermatite), reflete bacteremia e se apresenta caracteristicamente com febre, mal-estar, poliartralgia migratória e lesões cutâneas. O TRATAMENTO É FEITO PELA ASSOCIAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS EM DOSE ÚNICA E, EM CASOS SISTÊMICOS, PODE OCORRER COM ESQUEMAS MAIS LONGOS. SÍFILIS A sífilis é provocada por T. pallidum, que entra pelas mucosas ou pela pele, alcança os linfonodos regionais dentro de horas e, rapidamente, dissemina-se ao longo do corpo. Podendo ser primária, secundária ou terciária, a sífilis pode ser diagnosticada em qualquer fase e pode afetar um ou múltiplos órgãos. SAIBA MAIS A sífilis pode ser acelerada por infecção concomitante pelo HIV, nesses casos, envolvimento ocular, meningites e outras complicações neurológicas são mais comuns e mais graves. Na sífilis primária, após um período de incubação de 3 a 4 semanas, uma lesão primária desenvolve-se no local de inoculação. A pápula hiperemiada inicial, rapidamente, forma um cancro indolor, que pode minar um soro característico. Normalmente, aparece no pênis, ânus e reto em homens; e vulva, cérvice, reto e períneo em mulheres, e ainda em lábios ou orofaringe. O cancro, geralmente, cicatriza em 3 a 12 semanas. Então, as pessoas parecem ser completamente saudáveis. Na sífilis secundária, ocorre a disseminação pela corrente sanguínea, produzindo lesões mucocutâneas generalizadas, edema dos linfonodos e, menos comumente, sintomas em outros órgãos. Os sintomas tipicamente começam 6 a 12 semanas depois do aparecimento do cancro, aproximadamente, 25% dos pacientes continuam a ter um cancro. Febre, perda de apetite, mal-estar, anorexia, náuseas e fadiga são comuns. Cefaleia (devido à meningite), perda auditiva (devido à otite), problemas de equilíbrio (devido à labirintite), distúrbios visuais (por causa de retinite ou uveíte) e dor nos ossos (decorrente de periostite) também podem ocorrer. A sífilis terciária está presente em, aproximadamente, um terço das pessoas sem tratamento, algumas vezes, não muitos anos depois da infecção inicial. São classificadas como: sífilis terciária benigna, sífilis cardiovascular e neurosífilis. Os exames para diagnóstico incluem testes sorológicos para sífilis (STS), que consistem em: testes de triagem (reagínicos, ou não treponêmicos); testes confirmatórios (treponêmicos) e microscopia de campo escuro. O microrganismo T. pallidum não pode ser cultivado in vitro. Atualmente, fazem testes treponêmicos baratos mais recentes primeiro e confirmam os resultados positivos usando um teste não treponêmico. O tratamento é feito através do uso de antibiótico (penicilina G benzatina), incluindo o(a) parceiro(a) sexual. Imagem: SANTOS, 2018, p. 94 Atuação da sífilis. CANDIDÍASE A candidíase é uma infecção fúngica causada por mais de vinte tipos de fungos do gênero Candida. Estudos demonstram que a Candida albicans é mais frequente que as espécies não albicans, correspondendo a 80% dos casos. Porém, tem-se observado um aumento na frequência das espécies não albicans, especialmente, Candida glabrata. Quando a doença afeta a boca, é denominada candidíase oral. O sintoma mais evidente de candidíase oral são manchas brancas na língua ou em outras partes da boca e da garganta. Quando a doença afeta a vagina, é denominada candidíase vaginal. Entre os sinais e sintomas da candidíase vaginal, estão prurido e irritação vaginais e, por vezes, um corrimento vaginal branco, espesso, inodoro e semelhante ao leite talhado. De forma menos comum, o pênis pode também ser afetado, causando prurido. Muito raramente, a infeção pode se tornar invasiva e se espalhar por todo o corpo, causando febre e outros sintomas que dependem das partes do corpo afetadas. ATENÇÃO O tratamento pode ser feito por meio do consumo de antifúngico sistêmico, utilizado também pelo(a) parceiro(a), e de modo local, através de pomadas. É IMPORTANTE QUE O FISIOTERAPEUTA PÉLVICO APRESENTE ORIENTAÇÕES ÀS MULHERES: • USAR ROUPA ÍNTIMA DE ALGODÃO, DE MODO A PERMITIR QUE A PELE RESPIRE. • LAVAR A REGIÃO GENITAL SOMENTE COM ÁGUA E SABONETE NEUTRO. • NÃO UTILIZAR DIARIAMENTE SABONETE ÍNTIMO. • DORMIR SEM ROUPA ÍNTIMA, SEMPRE QUE POSSÍVEL. • EVITAR ABSORVENTES INTERNOS E PROTETORES DIÁRIOS DE CALCINHA. A fisioterapia tem uma ação eficaz no tratamento e controle da candidíase vaginal. Um novo método à base de um diodo emissor de luz, também conhecido pela sigla em inglês LED (Light Emitting Diode), combate células do fungo Candida albicans, mostrando-se sete vezes mais eficaz. O uso de diferentes lasers também vem sendo avaliado, tanto para candidíase oral quanto para vulvovaginal, e até então apresentando boas respostas. Imagem: Shutterstock.com POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS IST As políticas públicas de prevenção das IST são baseadas no Manual Políticas e Diretrizes de Prevenção às DST e HIV/AIDS entre Mulheres, que surgiu como fruto da necessidade de registro dos caminhos percorridos e do desafio de estabelecermos estratégias para o controle da epidemia de AIDS entre as mulheres (BRASIL, 2003). O manual tem como compromisso contemplar questões como a integralidade das ações e intersetorialidade dos programas, de sensibilizar gestores e profissionais de saúde. Além disso, contribuir com a compreensão da dinâmica das relações de gênero, saúde e sexualidade no contexto das diferentes vulnerabilidades femininas frente às DST e ao HIV/AIDS, em que se destaca: Recomendação da inclusão, sempre que possível, de temas relacionados à sexualidade feminina em todas as ações da saúde (no campo da educação, da prevenção e da promoção à saúde), enfatizando tal inserção nas atividades direcionadas especificamente às mulheres, às profissionais do sexo, às mulheres soropositivas, às usuárias de drogas e seus(suas) parceiros(as). Capacitação de profissionais de saúde e produção contínua de material de IEC (informação, educação e comunicação), com vistas a disseminar diretrizes de prevenção entre mulheres, assim como ações educativas, desde a infância e, principalmente, na pré-adolescência e adolescência, enquanto elementos importantes para favorecer o fortalecimento das mulheres. Ainda, contribuir para relações mais igualitárias entre homens e mulheres, potencializando a possibilidade de negociação de sexo seguro entre parceiros. Humanização e qualificação dos serviços de atenção à saúde da mulher, dentro de uma visão de integralidade e intersetorialidade; capacitação de lideranças femininas, entre essas: adolescentes, profissionais do sexo e mulheres vivendo com HIV, como multiplicadores de saúde; abordagem de gênero/percepção da vulnerabilidade feminina e prevenção das DST/AIDS nos treinamentos das equipes de saúde dos programas de saúde da família e agente comunitário. Abordagens de prevenção baseadas no empoderamento, enfoque de gênero, modelo comunitário e educação de pares. A prevenção de IST ainda se depara com um cenárioimpregnado de estigmas e tabus sexuais, vide a dificuldade de acesso a insumos de prevenção e as representações sociais do uso de preservativo, principalmente, entre parceiros fixos e aconselhamento familiar. Portanto, é importante que nós, profissionais de saúde, fisioterapeutas, abracemos a causa de prevenção e esclarecimento sobre IST. A luta também é nossa! TRATAMENTO FISIOTERA PÊUTICO Ao iniciarmos as nossas discussões sobre tratamento, precisamos trazer algumas reflexões. Vamos destacar, inicialmente, algumas considerações sobre a avaliação: Localização da dor, tanto externa (área de adutores e vulva) como internamente (superficial ou profunda). Pontos-gatilho ou nódulos de tensão, que podem estar presentes na cavidade vaginal e na musculatura do assoalho pélvico (MAP) . Presença de cicatrizes. Tônus da MAP (hipotônico/hipertônico). Força muscular (perineometria). Percepção MAP e presença de sincinesias. Integridade das sensibilidades. Baseado em uma boa avaliação no tratamento fisioterapêutico das DSF, vamos objetivar o autoconhecimento genital, por meio da restauração da função do MAP, da melhora da mobilidade, da diminuição da dor, do relaxamento e da reeducação/reconstrução da resposta sexual, de forma que a mulher retome e restaure sua função sexual. O modelo PLISSIT, apresentado abaixo, deve nortear nossa aproximação e abordagem no tratamento de mulheres com queixas sexuais. Importante permitir que os vínculos terapêuticos sejam solidificados. Muitas questões irão aparecer ao longo dos atendimentos. Afinal, já compreendemos a complexidade da sexualidade feminina e dos seus transtornos (MORENO, 2009). Imagem: ALMEIDA; BRITTO; FIGUEIREDO; MOREIRA; CARVALHO; FIALHO, 2019, p. 1169. Adaptada por Glória Lourenço Revelles Modelo PLISSIT. PERMISSÃO INFORMAÇÃO LIMITADA SUGESTÕES ESPECÍFICAS SIMPLES TERAPIA INTENSIVA PERMISSÃO Dar abertura à paciente para falar sobre a sua saúde sexual. INFORMAÇÃO LIMITADA Fornecer educação sexual básica adequada (ciclo resposta sexual feminino, anatomia e impacto do envelhecimento na função sexual). Orientar o uso de vibrador, lubrificante e formas de aumentar a intimidade emocional. Validar as preocupações da paciente e referenciar para outros profissionais. A abordagem nas DSF deve ser multiprofissional sempre. Vamos apontar a seguir algumas condutas que podem ser utilizadas no tratamento das DSF pelo fisioterapeuta, mas lembrando que as sintomatologias se cruzam e a abordagem mais adequada deve ser individualizada e pautada nos sinais encontrados na avaliação pélvica. PERCEPÇÃO DO CORPO E CONSCIÊNCIA CORPORAL Orientação da anatomia pélvica através de pranchetas com imagens. Percepção genital através do autotoque e reconhecimento da região perineal com ajuda de espelho. ALÍVIO DA DOR TENS, que pode ser usado na região vulvar com eletrodos de superfície ou intracavitário. Calor – compressas e banho de imersão. Massagem perineal com óleo de coco. Manipulação dos pontos gatilhos. Uso de vibração com auxílio de vibrador ou aparelho Peridell. CONTROLE TÔNICO – HIPERTONIA Exercícios respiratórios e de relaxamento global. Terapia manual e alongamento MAP. Uso de dilatadores vaginais para dilatação vaginal progressiva. POTENCIALIZAÇÃO SENSÓRIO MOTORA – FRAQUEZA DA MAP Reforço da musculatura perineal. Eletroestimulação (FES) para ativação dos receptores genitais e melhoria do padrão contrátil. Biofeedback para controle da contração e relaxamento perineal. Cinesioterapia para fortalecimento da MAP. Imagem: Shutterstock.com REEDUCAÇÃO POSTURAL Reeducação postural global (RPG) – O tratamento das DSF pela RPG busca realinhar os eixos ósseos, eliminar pontos de tensão exagerada e, por outro lado, flacidez dos músculos, reorganizar a tensão nas cadeias musculares e colocar o centro de gravidade do corpo no centro da bacia. Como consequência, espera-se desenvolver uma estrutura pélvica equilibrada. ORIENTAÇÃO SEXUAL Nessa questão, cabe ao fisioterapeuta o encaminhamento a profissionais de saúde que discutem esse tema de forma terapêutica: psicólogos e sexólogos. FISIOTERAPIA E CANDIDÍASE O especialista Leandro Dias abordará conceito, causas, fatores de risco e principais abordagens terapêuticas na Candidíase. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MULHER CHEGA AO CONSULTÓRIO DE FISIOTERAPIA COM QUEIXA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA. DURANTE A AVALIAÇÃO PÉLVICA, PERCEBEMOS A PRESENÇA DE CORRIMENTO DE ASPECTO BRANCO E ESPESSO COMO SE FOSSE “LEITE TALHADO”. AO INDAGAR SOBRE OUTROS SINTOMAS, A PACIENTE MENCIONA O PRURIDO. DIANTE DESSE CENÁRIO, O FISIOTERAPEUTA OPTA POR ENCAMINHAR AO GINECOLOGISTA PARA INVESTIGAÇÃO, MAS ESSES SINTOMAS SUGEREM: A) Clamídia B) Gonorreia C) Herpes genital D) Candidíase vaginal E) HIV 2. MULHER VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL FOI ENCAMINHADA AO FISIOTERAPEUTA COM HISTÓRIA DE VAGINISMO SECUNDÁRIO, ACOMPANHADO DE DISPAREUNIA NA TENTATIVA DE PENETRAÇÃO. NA AVALIAÇÃO, FOI OBSERVADO AUMENTO DA SENSIBILIDADE VULVAR, NÃO TENDO SIDO POSSÍVEL O TOQUE BIDIGITAL PARA AVALIAÇÃO INTRACAVITÁRIA DA FORÇA DA MAP OU PARA INVESTIGAÇÃO DE PONTOS DE DOR. QUAL DAS CONDUTAS ABAIXO SERIA CONTRAINDICADA NO MOMENTO? A) Biofeedback com sonda vaginal para percepção do relaxamento da MAP B) Exercícios respiratórios e técnicas de relaxamento C) Massagem corporal D) Massagem perineal somente em núcleo fibroso central e vulva E) TENS na região vulvar com eletrodo de superfície GABARITO 1. Mulher chega ao consultório de fisioterapia com queixa de incontinência urinária. Durante a avaliação pélvica, percebemos a presença de corrimento de aspecto branco e espesso como se fosse “leite talhado”. Ao indagar sobre outros sintomas, a paciente menciona o prurido. Diante desse cenário, o fisioterapeuta opta por encaminhar ao ginecologista para investigação, mas esses sintomas sugerem: A alternativa "D " está correta. A paciente possivelmente apresenta candidíase vaginal pela característica do corrimento e presença de prurido. 2. Mulher vítima de abuso sexual foi encaminhada ao fisioterapeuta com história de vaginismo secundário, acompanhado de dispareunia na tentativa de penetração. Na avaliação, foi observado aumento da sensibilidade vulvar, não tendo sido possível o toque bidigital para avaliação intracavitária da força da MAP ou para investigação de pontos de dor. Qual das condutas abaixo seria contraindicada no momento? A alternativa "A " está correta. Em mulheres com vaginismo, não será possível a introdução da sonda vaginal para realização de biofeedback perineal. Inicialmente, as técnicas visam ao relaxamento global, exercícios respiratórios e diminuição da dor. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS É cada vez mais reconhecida a importância da saúde sexual para a longevidade das relações afetivas e como parte da saúde global e bem-estar da mulher. Atualmente, independente do gênero, o aspecto prazeroso do sexo tem demonstrado maior importância do que a sua finalidade reprodutiva. Nos últimos dez anos, a mulher tem recorrido aos cuidados médicos com mais frequência em busca de solução para os problemas que interferem em sua qualidade de vida, em especial, aqueles relacionados à sua função sexual. As disfunções sexuais estão ligadas à falta de conhecimento da anatomia genital e da resposta sexual humana à dor no coito por afecções do trato genital e à própria sexualidade afetada por vários aspectos socioafetivos: repressão, violência sexual, entre outros. Tais condições devem ser encaminhadas à terapia sexual associada à psicoterapia. O modelo PILSET (PLISSIT), composto por quatro elementos (permissão, informação limitada, sugestão específica e terapia sexual), oferece condições para o acesso às queixas sexuais e tem impacto positivo na função sexual, através da utilização de técnicas fisioterapêuticas no tratamento das disfunções sexuais femininas. Esperamos que você tenha se interessado por essa área ainda tão carente de profissionais que possam auxiliar essas mulheres, que sofremgeralmente em silêncio, com transtornos sexuais que tanto afetam suas vidas. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALMEIDA NG, BRITTO DF, FIGUEIREDO JV, MOREIRA TMM, CARVALHO REFL, FIALHO AVM. Modelo PILSET: aconselhamento sexual para sobreviventes do câncer de mama. Rev Bras Enferm. 2019. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM. 4 ed. Washington D/C, 1994. CAVALCANTI, A. L. Efeitos do citrato de sildenafila na circulação do clitóris em mulheres na pós-menopausa com disfunção orgástica avaliadas por Doppler. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2006. BARBOSA, L. U.; VIÇOSA, C. S. C. L.; FOLMER, V. A educação sexual nos documentos das políticas de educação e suas ressignificações. Revista Eletrônica Acervo Saúde, Porto Alegre (RS), 2019. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST e Aids. Políticas e diretrizes de prevenção das DST/aids entre mulheres/Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. DE JESUS, J. G. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores de opinião. 2ª ed. Brasília, 2012. GILROY, AM. Atlas de Anatomia. 3ª edição, Grupo GEN, 201, 2007. MARQUES, F. Z. C.; CHEDID, S. B.; EIZERIK, G. C. Resposta sexual humana. Revista de Ciência Médica, Campinas, 17(3-6):175-183, 2008. MORENO, A. L. Fisioterapia em Uroginecologia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2009. OSTERGARDE, D. R. et al. Uroginecologia e disfunções do Assoalho Pélvico. 5. ed. São Paulo: Medsi e Guanabara Koogan, 2006. POLDEN, M.; MANTLE, J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. 2. ed. São Paulo: Santos, 2000. SANTOS, N. C. M. Enfermagem em Ginecologia e Saúde da Mulher. São Paulo. Saraiva, 2018. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO. CID-11. Classificação Internacional de Doenças 11ª Revisão - O padrão global para informações de diagnóstico de saúde. Consultado na internet em: 09 jun. 2021. SENA, T. Os relatórios Masters & Johnson: gênero e as práticas psicoterapêuticas sexuais a partir da década de 70. Universidade Federal de Santa Catarina. Estudos Feministas, Florianópolis, 18(1): 288, 2010. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia: O artigoA fisioterapia pélvica melhora a dor genitopélvica/desordens da penetração?, dos autores Antunes Teixeira, Elaine Spinassé Camilato e Gerson Lopes. Trata-se de uma revisão de literatura, publicada em 2017. O artigo Transtornos de dor gênito-pélvica/penetração: Uma experiência de abordagem interdisciplinar em serviço público, das autoras Tatiane Gomes de Araujo e Sandra Cristina Poerner Scalco, publicado pela Revista Brasileira de Sexualidade Humana em 2019. Visite o site da Associação Americana de Psiquiatria para saber todas as atualizações do DSM. CONTEUDISTA Leandro Dias de Araujo CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);