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JOGOS, BRINCADEIRAS, CULTURA E ARTE E-book 2 Agda Malheiro Ferraz De Carvalho Neste E-book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ������4 Recursos Pedagógicos ��������������������������������������������9 Espaços e ambientes ������������������������������������������� 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������29 SÍNTESE �������������������������������������������������������30 Professor Mediador Da Aprendizagem 2 E-book 2 INTRODUÇÃO Ser professor e professora é ser um promotor da aprendizagem, aquele ou aquela que planeja, base- ando-se na tríade: objetivo-atividade-avaliação, e que sabe que, quanto mais significativa for a ação para o estudante, mais ele aprende e se desenvolve� Este tópico tratará especificamente da abordagem dos educadores, no que se refere à mediação como parceiros mais experientes (professores) na manipu- lação e pensamento sobre jogos e brincadeiras� Você, então, poderá entender e olhar mais atentamente para os recursos pedagógicos e os locais em que eles podem ser usados� Não esqueça! Uma das principais funções dos peda- gogos é sistematizar o ensino� Por isso, aprofunde seus conhecimentos durante a leitura e estude para compreender essa sistematização� Figura 1: O bom professor medeia a relação da criança com o mundo. Fonte: Unsplash. 3 https://unsplash.com/photos/GelAjCYjqCo A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM De acordo com Vygotsky, a relação entre brincadeira e desenvolvimento deve ser comparada com a relação entre a instrução e o desenvolvimento. Por trás da brincadeira estão as alterações das necessi- dades e as alterações de caráter mais geral da consciência. A brincadeira é fonte de desen- volvimento e cria a zona de desenvolvimen- to proximal. A ação num campo imaginário, numa situação imaginária, a criação de uma intenção voluntária, a formação de um plano de vida, de motivos volitivos – tudo isso surge na brincadeira, colocando-a num nível superior de desenvolvimento, elevando-a para a crista da onda e fazendo dela a onda decúmana do desenvolvimento na idade pré-escolar, que se eleva das águas mais profundas, porém, relativamente calmas. Em última instância, a criança é movida por meio da atividade de brincar. Somente nesse sentido a brincadeira pode ser denominada de atividade guia, ou seja, a que determina o desenvolvimento da criança. (VYGOTSKY, 2008, p. 35) 4 Ensino-aprendizagem� Escrito assim, com hífen� Porque um não existe sem o outro, só há ensino se houver aprendizagem e só há aprendizagem se hou- ver ensino� Papel de professor e papel de aluno são bem claros neste contexto: um precisa do outro para existir� Sendo assim, as atividades de cunho lúdico podem ser uma boa ferramenta para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma satisfatória� Reflita Talita está cursando o 5º semestre de Pedagogia e dedica-se a cumprir a carga horária destinada ao estágio� Ela já havia feito o estágio no Ensino Fundamental – anos iniciais, e o tinha considera- do tranquilo, sendo que, nesta modalidade, a pro- fessora regente da sala direcionava diariamente o que ela deveria fazer, enquanto estagiária: suas atividades consistiam em corrigir provas, enca- par cadernos e carimbar bilhetes� A maior curiosidade de Talita estava prestes a ser desvendada: como é a Educação Infantil? Quan- do criança, a estudante não passou por essa etapa, tendo sua primeira vivência como aluna ingressando no 1º ano do Ensino Fundamental� Ao iniciar o estágio em Educação Infantil, a estu- dante Talita encontrou um cenário muito diferen- te, tanto no formato físico da sala de aula, quanto na postura e atuação da professora, o que a fez, a princípio, ficar apreensiva e se questionando sobre como seriam os dias ali� Logo que chegou, 5 a professora de Educação Infantil a acolheu calo- rosamente com um abraço e disse: “vamos brin- car?” Talita rapidamente respondeu: “vamos!”� Conforme os dias passavam, a estagiária e a pro- fessora formaram uma parceria em que comen- tavam suas experiências quanto às observações das crianças em atividades livres e dirigidas� O estágio terminou e Talita teve de fazer um relató- rio sobre a experiência com crianças pequenas� Nesse registro escrito, fez questão de colocar pontos que identificou na rotina da sala. Seguem alguns deles: as crianças sentavam em grupo; existiam muitos momentos em que as crianças podiam escolher o que fazer; havia diversas conversas na sala, com diálogos das crianças; as criações dos alunos ficavam expostas na sala. Talita refletiu, durante a escrita, pois ela queria saber o que diferenciava tanto aquelas turmas de modalidades diferentes� Seria a faixa etária dos alunos? Seria o tipo de conhecimento que deve- riam adquirir? Conversou com colegas do curso de Pedagogia e também com os professores� E chegou a uma conclusão: a professora! As pro- fessoras tinham atitudes e abordagens diferen- tes� A estudante/estagiária avaliou que a profes- sora, como gestora da sala, é a responsável por manter um bom clima, por compreender e auxi- 6 liar nas necessidades das crianças e de promo- ver um ambiente em que o conhecimento possa, de fato, ser apropriado pelos estudantes� O primeiro passo dado por um professor, ao rece- ber uma nova turma, é conhecer seus alunos� Quem são, quantos são, quantos anos têm, onde vivem, do que gostam, do que não gostam, quais os interesses desses alunos��� São muitas perguntas que precisam de respostas para, apoiados em teorias e diretrizes da Educação, criar um planejamento, com objetivos de aprendizagem� Tendo isso feito, a vez agora é de pensar em como colocar em ação esse planeja- mento, lançando mão de quais intervenções e com quais recursos físicos� Muita coisa, não? Mas tudo isso é necessário, tendo em vista o motivo que move a Educação: a aprendizagem dos alunos e alunas� Aliado a esses fundamentos, há um princípio maior e indispensável para o sucesso do processo de ensino- -aprendizagem, que é como o professor entende sua função para garantir a qualidade social na Educação� Para isso, sua atuação deve estar pautada na media- ção da aprendizagem� São professoras e professores que, diariamente, em todo o mundo, realizam a mediação da aprendizagem porque se colocam no lugar de estabelecer um elo intermediário entre os alunos e o conhecimento uni- versalmente produzido� É o professor que decide por quais meios o aluno vai acessar esse conhecimento e quais materiais e espaços físicos podem também atuar como mediadores� 7 Há um ditado popular que diz “não é preciso reinven- tar a roda” (pois ela já foi inventada, não é mesmo?)� É exatamente esse papel que o professor mediador faz� Ele apresenta e cria meios para que esse conhe- cimento seja, também, do aluno� A constituição do humano não seria possível sem a mediação, pois o homem não nasce homem: ele se torna homem pela mediação dos grupos sociais em que está inserido. Sentir, agir e pensar no mundo perpassam as relações estabelecidas no e pelo mundo, pois o sujeito é ele mesmo uma unidade de contrários, expressão tanto do social como do individual, apropriadas nas e pelas inte- rações estabelecidas em sua sociedade. A sociedade, portanto, medeia conhecimentos. (CARVALHO, 2016) Compreendendo o que é mediação, pode-se compre- ender que as relações que constituem as pessoas não são diretas, ou seja, essas relações são media- das� É a mediação que “organiza” a aprendizagem� Fique Atento Para aprimorar seu conhecimento, fica a suges- tão do artigo de Dermeval Saviani com o título “O conceito dialético de mediação na pedagogia his- tórico-crítica em intermediação com a psicologia histórico-cultural”� Saviani é Professor Emérito da 8 Unicamp (universidade Estadual de Campinas) e Pesquisador Emérito do CNPq (Conselho Nacio- nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológi- co)� O link para o artigo é: https://portalseer.ufba. br/index.php/revistagerminal/article/view/12463�Recursos Pedagógicos A interação realizada entre pessoas e entre pessoas e objetos tem função essencial para que quem está aprendendo se aproprie de um conhecimento� Nesta parte do estudo, vamos abordar quais são os objetos – aqui denominados recursos pedagógicos – que o professor pode utilizar em suas aulas� Uma das formas de classificar os materiais utilizados para brincar, jogar e produzir arte na escola é classi- ficá-los em materiais estruturados ou não estrutura- dos� Também podemos substituir a palavra materiais pela palavra brinquedos (afinal, tudo pode tornar-se brinquedo nas mãos e mentes das crianças)� Estruturado diz respeito ao que já possui uma forma, ou seja, foi desenhado e fabricado (industrializado, muitas vezes) para ser brinquedo� São as bonecas, carrinhos, etc� que foram estruturados para serem brinquedos� Ao olharmos para eles, sabemos que são brinquedos! Com os brinquedos estruturados, a criança pode imitar relações estabelecidas no meio social� 9 https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/12463 https://portalseer.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/12463 Em relação aos não-estruturados, o valor da brinca- deira é estabelecido por quem brinca� Quem esta- belece que aquele objeto é um brinquedo é o “brin- cante”� O recurso não está no objeto em si, mas no sentido que a criança ou o adulto estabelece para esse material� Oferecer, aqui, exemplos de materiais não-estruturados seria uma tarefa que não acaba- ria, mas alguns exemplos ajudam a elucidar: panela, chapéu, caneta, caixa de papelão, sementes, botão de roupas, colher de pau e teclado de computador� Eles são estimuladores do pensar, já que quem brinca precisa planejar uma função para ele� Saiba Mais Assista a esses dois vídeos para ampliar sua no- ção sobre a utilização de brinquedos nas escolas com bebês, crianças bem pequenas e pequenas (conforme nomenclatura declarada na Base Cur- ricular Nacional de Educação Infantil)� É impor- tante projetar que, quando a criança aprende a brincar na Educação Infantil ela possui mais re- cursos para brincar, jogar e aprender, no Ensino Fundamental, pois ela vai, gradativamente, con- solidar as funções psicológicas superiores� Aten- te-se também em observar o espaço e as inter- venções propostas pelas educadoras em ambos os vídeos� https://www.youtube.com/watch?v=cTQq9C5kMIQ https://www.youtube.com/watch?v=_CYOxMEQCbw 10 https://www.youtube.com/watch?v=cTQq9C5kMIQ https://www.youtube.com/watch?v=_CYOxMEQCbw Para organizar os recursos para que os educado- res possam conhecer/explorar/oferecer os brin- quedos (estruturados) aos alunos, há o Sistema de Classificação ESAR. Ele foi criado na década de 1980 do século passado, pela canadense Denise Garon, com o intuito de colaborar na organização de brin- quedos e jogos, embasada na Teoria de Jogos de Jean Piaget� Saiba Mais: Para se aprofundar na Teoria Piagetiana de Jo- gos, leia o livro “A formação do símbolo na crian- ça”, de Jean Piaget� A editora é LTC� Segundo Piaget, há categorias evolutivas no jogo, daí as letras para a sigla ESAR: E = Exercício: compreendem ações motrizes e sen- soriais; dentro dessa categoria encontram-se sub- categorias: brinquedos para despertar o sensorial (dão sensação imediata); brinquedos de motricidade (implicam no movimento do corpo); brinquedos de manipulação (eles produzem atividades repetitivas)� S = Símbolo: compreendem a possibilidade de in- ventar ou reproduzir um enredo; também possuem subcategorias: brinquedos de papéis (para estar no lugar de um personagem); brinquedos de faz de conta (assessórios que colocam o jogador no lugar da cena); brinquedos de representação (ajudam a representar um objeto)� 11 A = acoplagem: quando conectados, forma um novo brinquedo, com as subcategorias jogos de constru- ção (peças que se sobrepõem ou se entrelaçam for- mando objetos em três dimensões); jogos de encade- amento (peças que se sobrepõem ou se entrelaçam formando objetos em duas dimensões); jogos de experimentação (quando os elementos isolados são colocados juntos possibilitam a experimentação de fenômenos químicos); jogos de fabricação (são para produção artística, de artesanato ou para culinária)� R = regras: quem participa está submetido às regras pré-estabelecidas; são subdivididos em jogos de as- sociação, de azar, de questões, de expressão, de per- cursos, de combinação, de esporte e de estratégia� Imagens dos brinquedos e jogos da Classificação ESAR: Figura 2: Brinquedo para despertar o sensorial: Chocalho. Fonte: DHGate. 12 https://pt.dhgate.com/product/baby-rattle-baby-toys-wooden-kids-child-sand/416476844.html Figura 3: Brinquedo de motricidade: triciclo. Fonte: Stockvault. Figura 4: Brinquedo de manipulação: pinos para encaixe. Fonte: Freepik. 13 https://www.stockvault.net/photo/100067/tricycle https://www.freepik.com/free-photo/girl-kindergarten-with-plaything_1267740.htm Figura 5: Brinquedo de papéis: fantasia. Fonte: rawpixel.com / Freepik. Figura 6: Brinquedo de faz de conta: ferramentas. Fonte: Shutterstock. Figura 7: Brinquedo de representação: massa de modelar. Fonte: jannoon028 / Freepik. 14 https://www.freepik.com/free-photo/little-kids-halloween-party_3215395.htm https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-little-boy-yellow-hard-hat-610017413?src=6ydQpQmjR_eiCepZbK13OA-1-27 https://www.freepik.com/free-photo/plasticine-global-business-growth-bar-graph_1007805.htm Figura 8: Jogo de construção: peças de encaixe. Fonte: Stockvault. Figura 9: Jogo de encadeamento: quebra-cabeça. Fonte: rawpixel. com / Freepik. 15 https://www.stockvault.net/photo/131051/lego-toys https://www.freepik.com/free-photo/paper-craft-art-jigsaw-puzzle-piece_3743492.htm https://www.freepik.com/free-photo/paper-craft-art-jigsaw-puzzle-piece_3743492.htm Figura 10: Jogos de experimentação: tubos de ensaio com líquidos coloridos. Fonte: Depositphotos. Figura 11: Jogos de fabricação: colar feito com miçangas. Fonte: Freepik. Figura 12: Jogo de associação: dominó. Fonte: Unsplash. 16 https://br.depositphotos.com/206434426/stock-video-child-girl-and-adult-woman.html https://www.freepik.com/free-photo/close-up-hand-making-necklace-with-beads-flower-cotton-ball-wooden-textured-backdrop_3100510.htm https://unsplash.com/photos/bHZ2_D4bTfg Figura 13: Jogo de azar: baralho. Fonte: Unsplash. Figura 14: Jogo de questões: caça-palavras. Fonte: Shutterstock. 17 https://unsplash.com/photos/43LcbfI-tok https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/closeup-crossword-puzzle-coffee-cup-red-304735175?src=SPkFl-0D7QX24v8vP6R0fg-2-87 Figura 15: Jogo de expressões: mímica. Fonte: Shutterstock. Figura 16: Jogo de percurso: ludo. Fonte: Shutterstock. 18 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/little-hispanic-kid-mimic-monster-isolated-1176346024?src=DVFTeySibhIIz7LXv6U5bQ-1-8 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-boy-plays-ludo-game-his-453151174?src=LX9NeemN3Edp3nDURKmnCw-1-37 Figura 17: Jogo de combinação: tetris. Fonte: Shutterstock. Figura 18: Jogo de esporte: xadrez. Fonte: Unsplash. Figura 19: Jogo de estratégia: jenga. Fonte: Freepik. 19 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/concept-logical-thinking-geometric-shapes-on-380772673?src=Q6kAy7uxBlq1UVcVyO_6Zg-1-20 https://unsplash.com/photos/IsphRwNKkjc https://www.freepik.com/free-photo/focused-girl-building-jenga-tower_2177710.htm Com todos esses recursos pedagógicos disponíveis, não é possível apenas brincar por brincar� Permanece, nas intenções do professor, uma intencionalidade de aprendizagem ao disponibilizar brinquedos e jogos� Há cinco relações a serem estabelecidas, quando jo- gos e brinquedos estão sendo utilizados pelos alunos: 1. relação criança-criança; 2. relação criança-professor(a); 3. relação criança-conteúdo de ensino-aprendizagem; 4. relação criança-experiência; 5. relação criança-recurso pedagógico� Outro fator importante e indispensável é projetar a frequência de uso de cada materiale essa é uma medida difícil, porém possível de ser realizada� Ao mensurar o número de vezes que os materiais serão disponibilizados e manuseados, o professor necessi- ta compreender que o mesmo material pode e deve ser utilizado diversas vezes, pois a repetição e a imi- tação produzem bons modelos nas crianças� Quanto mais utilizam, mais se apropriam, mais formas de serem criativos são geradas� Ao mesmo tempo, a criança não pode “enjoar” do recurso� E, ainda, ao mesmo tempo, há muitos outros materiais a serem utilizados, com infinitas proba- bilidades de criação e desenvolvimento cognitivo� Os exemplos de brinquedos estruturados e não es- truturados e a Classificação ESAR – que você aca- bou de conhecer –, além dos conceitos envolvidos, 20 possibilitam que, futuramente, como profissional da Pedagogia, você tenha muitos recursos e saberes para colocar em prática� Saiba Mais Assista ao filme Tarja Branca, com direção de Cacau Rhoden, que possibilita que você conhe- ça formas da expressão lúdica no Brasil� Trata- -se de um verdadeiro manifesto sobre cultura e brincar� Está disponível em: https://vimeo. com/185171112� Sobre a mediação da aprendizagem: ela se dá muito pela linguagem, outra forma de manifestação do pensamento� Então, um bom professor mediador fala muito com as crianças e, a medida que fala, também as escuta muito� O diálogo é uma intervenção, além de ajudar a coletar informações sobre as crianças e o desenvolvimento das ações lúdicas� Espaços e ambientes A interação entre os diversos atores que participam do mundo escolar não se dá apenas na sala de aula� Há tantos lugares, dentro da escola, em que isso pode acontecer que trataremos desse tema aqui� Primeiramente, é preciso diferenciar o que é brinca- deira livre e o que é brincadeira dirigida� A brincadeira livre é proposta pelas próprias crianças, o professor a 21 https://vimeo.com/185171112 https://vimeo.com/185171112 observa� E a brincadeira dirigida tem a mediação e a intervenção dos professores� Mas onde elas podem acontecer? Leia esta lista de alguns “lugares” que a escola contém: • Sala de aula; • Pátio; • Refeitório; • Quadra; • Parque; • Ateliê; • Laboratórios (informática, química, biologia etc�); • Secretaria; • Sala dos professores; • Sala da equipe gestora; • Brinquedoteca; • Biblioteca; • Jardim (ou horta)� Agora, faça um resgate de memória sobre sua vida como estudante� Qual, dentre esses “lugares”, você mais gostava? Em quais você podia brincar? Com que brincava e com quem? É sabido que nem todas as escolas brasileiras – visto que estamos em um país em que a desigualdade social e a falta de políticas públicas e investimento na Educação estão presentes – têm realmente uma diversidade de ambientes como os citados acima� 22 Ter recursos como bons “lugares” na escola, infeliz- mente, não é para todos os estudantes e professo- res� Porém, é preciso possibilitar que os “lugares” disponíveis sejam amplamente utilizados� Porque o espaço é educador e educativo. Pode-se afirmar que ele atua como um terceiro educador, pois os professores educam, as crianças se educam e esses “lugares” também� Agora já é possível deixar de denominar “lugares” para dar-lhes o nome que realmente devem ter: são espaços ou são ambientes? A resposta a essa pergunta depende da forma como são organizados� O espaço deixa de ser apenas um lugar físico para tornar-se um ambiente quando há intencionalidade pedagógica, quando está organiza- do para ser acolhedor, com mobiliário adequado para todos, com acessibilidade arquitetônica, com uma es- tética que favoreça a aprendizagem� Assim, quando o espaço se torna ambiente, está propício para ser um terceiro educador, está mediando a aprendizagem� Observe e compare as duas fotos abaixo: 23 Figura 20: Sala de aula de Ensino Fundamental. Fonte: Unsplash. Figura 21: Sala de aula de Ensino Fundamental. Fonte: Unsplash. Na primeira imagem, uma sala vazia; na segunda imagem, uma sala cheia, mas não apenas “cheia de gente”, é uma sala em que “o conhecimento circula”, ou seja, há pistas visuais para consulta dos alunos (mapas, alfabetário, lista, etc�), há proximidade entre 24 https://unsplash.com/photos/jrRe6er0pY0 https://unsplash.com/photos/zFSo6bnZJTw as carteiras, o que deixa os alunos trocarem informa- ções entre si, materiais ao alcance de todos e uma professora – que podemos inferir que está mediando o conhecimento� Assim como a sala de aula, os diversos ambientes são socializadores� A atividade oferecida, sempre supervi- sionada ou com intervenções, não precisa ser sempre a mesma e pode mudar ao longo do ano letivo� Durante um dia, os profissionais de educação podem se organizar, conversar e elaborar “cantos” ou “ilhas” com propósito pedagógico que garanta os direitos de aprendizagem� A ideia é criar momentos em que o lúdico seja privilegiado, com fantasias, materiais não estruturados, bolas, jogos de encaixe... Enfim, sempre vai depender da intencionalidade do profes- sor, aliado ao interesse das crianças� Saiba Mais O fotógrafo James Mollison criou um projeto fo- tográfico muito interessante. Ele fotografou, em diversos países do mundo, a “hora do recreio”� O artista conta que sofreu bullying enquanto criança, quando estava no pátio da escola� E real- mente é importante observarmos os estudantes nestes momentos, pois as brincadeiras são for- mativas, por vezes inclusivas, por vezes não, já que estamos tratando de relacionamentos inter- pessoais� Nas fotos é interessante notar alguns critérios: qual o clima do lugar, qual país e cidade, se há desigualdade social, qual o espaço (interno 25 ou externo), qual a vestimenta dos alunos, se há profissionais da educação presentes, se brincam ou não; se brincando, estão sozinhos ou em gru- pos e muitos outros critérios que você mesmo pode identificar e perceber. Disponível em: http:// jamesmollison.com/books/playground. A diferença entre a educação que ocorre em casa, com a família, e a educação que ocorre na escola está pautada na diferença, nesses dois locais, entre o que se ensina e como se ensina� Os materiais a que a criança tem acesso em casa são restritos em comparação aos materiais que tem acesso na escola, além da maneira como são utilizados e a mediação existente� Figura 22: Brincando se aprende. Fonte: Shutterstock. Assim, a escola deve ser um local rico em oportunida- des� No que se refere ao uso do espaço transforma- 26 http://jamesmollison.com/books/playground/ http://jamesmollison.com/books/playground/ https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/little-children-playing-hopscotch-outdoors-744829210?src=eRwBD26-KN21EVj_L3ahTg-1-10 do, tornando-se um verdadeiro ambiente educativo, as brinquedotecas atendem a diversas necessida- des� Ela não pode ser apenas um depósito onde os brinquedos ficam guardados. A Classificação ESAR é extremamente útil ao se planejar e organizar uma brinquedoteca, ela é uma facilitadora nesse percurso� Enquanto estudante de Pedagogia, você sabe que sua atuação não se limita às escolas� Há pedago- gos e pedagogas atuando com recreação, e como brinquedistas em brinquedotecas� Aprofundar o conhecimento no que diz respeito aos jogos, brin- cadeiras cultura e arte é um diferencial para esses profissionais. As brinquedotecas podem estar não apenas nas es- colas, elas podem estar em hospitais (sendo obri- gatória em hospitais que possuem ala pediátrica de internação de médio e longo prazo), em centros comunitários, em universidades (afinal, ela é o la- boratório do curso de Pedagogia, sendo um espa- ço físico ou virtual), em clínicas de Psicologia e Psicopedagogia, ou ainda próximas de universidades� Podcast 1 Estando na brinquedoteca, a possibilidade de esco- lher um brinquedo dá à criança autonomia, análise crítica e bem-estar� É interessante quando as brin- quedotecas funcionam em um esquema similar ao esquema das bibliotecas, com empréstimo de livros e brinquedos e jogos catalogados�Os usuários da 27 https://famonline.instructure.com/files/47654/download?download_frd=1 brinquedoteca poderiam utilizar os jogos em brinque- dos no próprio local ou levar para casa� Além de, se estiver em uma escola, utilizar os diversos espaços e ambientes para ser “brincante”� Ser usuário de uma brinquedoteca impulsiona a criança a ser solidária, a ter respeito, a ser colabo- rativa, e no processo de socialização� É necessário – sempre – ao montar uma brinquedoteca, ter em mente a qual público ela se destina: identificar se são alunos, pacientes ou moradores do bairro é um bom começo� Ter jogos e brinquedos para todas as idades (crianças, jovens, adultos e bebês)� Podcast 2 Ao oferecer espaços criativos, com recursos pedagó- gicos adequados e variados, com atividades desafia- doras e interessantes, tendo noção e atuando como mediador da aprendizagem, o resultado esperado é que os estudantes tenham uma educação integral, que conduza ao desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor� 28 https://famonline.instructure.com/files/47655/download?download_frd=1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 23: A imaginação presente na brincadeira. Fonte: Freepik. Há muitos profissionais da educação (professores, coordenadores pedagógicos, diretores, auxiliares de sala, entre outros) que se queixam da falta de interesse dos alunos em relação à participação em sala e em querer aprender� Ora, é preciso que esses profissionais façam uma autoanálise e reflitam se suas aulas e intervenções estão sendo atrativas e significativas para os alunos. Durante o estudo deste tópico você, estudante de Pedagogia, pôde aprender sobre o professor mediador da aprendizagem, quais recursos pedagógicos podem ser utilizados como instrumento facilitador nesse pro- cesso de mediação e como os ambientes escolares podem possuir uma função de terceiro educador� 29 https://www.freepik.com/free-photo/kids-playing-with-toy-sabers_1891467.htm SÍNTESE • A Brinquedoteca é um ambiente que tem uma potência para o lúdico, pois, além de ter uma di- versidade de objetos (brinquedos e jogos), per- mite o uso da imaginação e da criatividade, além da troca entre pares. • Um espaço físico torna-se um ambiente na medida que é transformado pelos trabalhadores da educação para ser um lugar de aprendizagem; • É essencial identificar as relações estabeleci- das entre o “brincante” e os materiais, além da relação com o meio e as relações interpessoais; • O sistema de classificação ESAR (exercício, símbolo, acoplagem e regras) permite organizar e diferenciar os tipos de brinquedos, podendo ser um fundamento para as escolhas e ações do educador; • Brinquedos estruturados são aqueles fabricados para serem brinquedos e têm uma função importante ao fornecer modelo para o brincar, já os brinquedos não estruturados são aqueles que, a princípio, não teriam a função social de ser brinquedo, mas a medida que são manipulados pelas crianças, podem ser transformados e utilizados como brinquedos; • O ser humano aprende por modelos e imitações, a partir disso cria seus próprios modelos e pode transcender suas ações; • Observar as crianças em momentos lúdicos permite conhecê-las e intervir para que aprendam e se desenvolvam; • Atividades coletivas podem criar zonas de desenvolvimento proximal e a criança e outros aprendentes se movem pelo e no brincar; • Brinquedos são recursos pedagógicos e jogos e brincadeiras devem ser estratégias para o ensino e para a aprendizagem; • Ser mediador é possibilitar que os estudantes acessem o conhecimento universalmente produzido e façam uso dele; E-book 2 • Um dos pilares da atuação dos professores é utilizar a tríade objetivo-atividade-avaliação, sabendo que esses três tópicos são codepen- dentes (um não existe sem o outro); PROFESSOR MEDIADOR DA APRENDIZAGEM Objetivo Avaliação Atividade Referências Bibliográficas e Consultadas CARVALHO, Agda Malheiro Ferraz� Atuação profis- sional do agente de inclusão escolar: um estudo sobre os sentidos e significados constituídos por um deles� 127 f� Dissertação (Mestrado em Educação: Psicologia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016. CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida� Jogos e brincadei- ras na educação infantil. Campinas: Papirus, 2015. FRIEDMANN, Adriana� O direito de brincar: a brin- quedoteca. São Paulo: ABRINQ, 1998. JOBIM e SOUZA, Solange� Infância e linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin� Campinas: Papirus, 1994� KOBAYASHI, Maria do Carmo Monteiro; KISHIMOTO, Tikuko Morchida; SANTOS, Silvana Aparecida� Implantação de sistema de organização e classi- ficação de brinquedos e jogos: a experiência do la- boratório de brinquedos e de materiais pedagógicos – Labrimp� Disponível em: https://repositorio.unesp. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/139786/ISSN2175-7054-2009-7771-7783.pdf?sequence=1 br/bitstream/handle/11449/139786/ISSN2175-7054- 2009-7771-7783.pdf?sequence=1� Acesso em: 19 jan. 2019. KISHIMOTO, Tizuko Morchida� O brincar e suas teo- rias. São Paulo: Cengage Learning, 2008. KISHIMOTO, Tizuko Morchida� O jogo e a educação infantil. São Paulo: Cengage Learning, 2016. 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