Prévia do material em texto
Brasília-DF. Planejamento estratégico Elaboração Leonardo Ferreira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 PLANEJAMENTO ....................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 EVOLUÇÃO ESTRATÉGICA ....................................................................................................... 14 CAPÍTULO 3 DEFINIÇÃO DAS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS ............................................................................. 20 UNIDADE II ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL ................................................................. 25 CAPÍTULO 1 ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO: CENÁRIOS, OPORTUNIDADES, AMEAÇAS E O AMBIENTE COMPETITIVO ......................................................................................................................... 26 CAPÍTULO 2 ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO ............................................................................................. 40 CAPÍTULO 3 A MATRIZ SWOT, PESTEL, CADEIA DE VALOR E A AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA ............................... 45 CAPÍTULO 4 BUSINESS MODEL CANVAS ..................................................................................................... 50 UNIDADE III APLICAÇÃO DAS PRINCIPAIS FERRAMENTAS ESTRATÉGICAS .................................................................. 53 CAPÍTULO 1 ESTRATÉGIAS DE EXPANSÃO DE MERCADO: MATRIZ DE ANSOFF .............................................. 53 CAPÍTULO 2 MATRIZ DO BOSTON CONSULTING GROUP (BCG) ................................................................. 55 CAPÍTULO 3 CURVA DE CICLO DE VIDA DO PRODUTO ............................................................................... 57 4 CAPÍTULO 4 MATRIZ DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE NEGÓCIOS DA MCKINSEY-GE ........................... 60 CAPÍTULO 5 O MODELO PORTER DAS ESTRATÉGIAS GENÉRICAS DE COMPETIÇÃO ..................................... 61 UNIDADE IV AS ESTRATÉGIAS E PLANOS DE AÇÕES ................................................................................................. 69 CAPÍTULO 1 DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS ...................................................................................... 69 CAPÍTULO 2 O BALANCED SCORE CARD (BSC) .......................................................................................... 72 CAPÍTULO 3 OBJETIVOS ............................................................................................................................. 82 CAPÍTULO 4 PLANO DE AÇÃO ................................................................................................................... 89 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 94 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução O planejamento estratégico é elemento essencial em qualquer organização, independentemente de seu porte, segmento e atuação. Para tanto, esta disciplina trará instrumentos que lhe auxiliarão neste processo. Você entenderá a etapa de análise do ambiente competitivo, avaliando as forças e as fraquezas de uma organização (internas), e também, as oportunidades e ameaças (externos). Mediante a este processo entenderá o que são cenários, e como desenvolvê- los e utilizá-los. Também discutiremos as diretrizes organizacionais, através da visão, missão e valores, além de definir a cadeia de valor, onde as atividades primárias e de apoio da organização são desenhadas de forma a agregar valor. Aprenderá, ainda, a formular as políticas empresariais, as estratégias empresariais e as estratégias corporativas. No processo de implantação da estratégia empresarial, trabalharemos o desdobramento das estratégias a todos os níveis da organização, possibilitando a criação de planos de ações, com objetivos predefinidos e uma sequência lógica de execução e acompanhamento. Objetivos » Análisar o ambiente competitivo, avaliando as forças e fraquezas, oportunidades e ameaças de uma organização. » Definir a Cadeia de valor, Visão, Missão e Objetivos Empresariais. » Formulação de políticas empresariais, de estratégias empresariais e de estratégias corporativas. » A implantação da estratégia empresarial. » A administração e o controle estratégico organizacional. 9 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO CAPÍTULO 1 Planejamento Neste primeiro momento vamos compreender alguns conceitos para posteriormenteentendermos as suas aplicabilidades. Então, o que é Planejamento? O planejamento pode ser definido como um processo para estabelecer objetivos e decidir o modo como alcançá-los. Objetivos são os resultados específicos ou metas que se deseja atingir. Um plano é a organização de tudo aquilo (recursos) que é necessário para atingir os objetivos. Outras definições de Planejamento: “Planejamento é o processo de determinar como a organização pode chegar onde deseja e o que fará para executar seus objetivos” (CERTO, 2003, p. 13). “Planejamento é um modo de pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer, como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde” (OLIVEIRA, 2007, p. 5). Para Daft (2005, p. 152), planejamento é “o ato de determinar as metas da organização e os meios para alcançá-las”. O autor ainda salienta a importância do planejamento, considerando-o o mais fundamental entre as quatro funções administrativas: planejamento, organização, liderança e controle. Drucker (2002) descreve que o planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes. 10 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento é um componente essencial para as organizações, oferecendo uma série de vantagens, sendo as principais: » Foco e flexibilidade: apesar dos termos, por muitas vezes, serem controversos, o planejamento é orientado para resultados, para prioridades, para vantagens e para mudanças. Ou seja, ele é constituído para o atingimento dos objetivos, e permite a flexibilização para o atingimento das mesmas. » Definir melhor os objetivos e políticas organizacionais. » Orientar os recursos para obter os resultados. » Melhoria no Controle e tomada de ação (correção e aprendizado). Para a organização desenvolver o seu processo de planejamento pode seguir uma série sequencial de seis passos (CHIAVENATO, 2006): 1. Definir os objetivos: nesta primeira etapa deve-se definir quais são os resultados que se pretende alcançar. 2. Análise da situação atual em relação aos objetivos: pós definidos os objetivos, deve-se verificar qual é a situação atual da organização em relação aos mesmos. Mediante a esta análise, posicionar a organização e definir quais ações são necessárias e o que precisa ser feito. 3. Desenvolver premissas quanto às condições futuras: com base nas informações essenciais sobre o negócio, gerar raciocínio/ estudo, que leve a conclusão/ decisão referente aos ambientes esperados e aos planos de ações pertinentes. 4. Analisar as alternativas de ação: representa a busca e a análise dos cursos alternativos de ação. 5. Selecionar a ação entre as várias alternativas: entre as possibilidades de ações, selecionar a mais viável/ adequada para alcançar os objetivos propostos. 6. Implementar o plano e avaliar os resultados: é realizar o que é determinado pelo plano, e acompanhar os resultados, visando assegurar o alcance dos objetivos, e respectivos ajustes quando necessário. 11 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I Para Ackoff (1990) podem existir três tipos de filosofia do planejamento: » Planejamento conservador: é o planejamento voltado para a estabilidade e a manutenção da situação existente. As decisões visam obter bons resultados, mas não necessariamente os melhores possíveis, pois neste tipo de planejamento não haverá mudanças radicais na organização. As decisões são baseadas na tradição, sem grandes riscos e mudanças. » Planejamento otimizante: é o planejamento voltado para a adaptabilidade e a inovação dentro da organização. As decisões são tomadas a fim de obter os melhores resultados possíveis para a organização, seja minimizando recursos (otimizados) para alcançar um determinado desempenho ou objetivo, seja maximizando o desempenho para melhor utilizar os recursos disponíveis. » Planejamento adaptativo: é o planejamento voltado para as contingências e o futuro da organização. As decisões visão harmonizar os diferentes interesses envolvidos, gerando uma composição capaz de sustentar o desenvolvimento da empresa e se adaptar mediante contingências que surgem no decorrer de sua execução. Ainda referente ao planejamento, podemos subdividi-los em três níveis organizacionais, que representam o desdobramento desde o nível macro até a aplicação nas rotinas diárias na organização. São eles: Planejamento Estratégico: esta subdivisão está atrelada ao alto nível de gestão da organização. Tem por objetivo responder a algumas questões básicas que norteiam as demais tomadas de ações. São perguntas a serem respondidas: por que a organização existe, o que ela faz, como faz e onde quer chegar. Como resultado deste processo é gerado um plano macro, o qual geralmente tem horizonte de três a cinco anos, porém constantemente revisado, usualmente uma vez por ano (ainda mais em um ambiente VUCA*). O planejamento estratégico apresenta cinco características fundamentais: 1) está relacionado com a adaptação da organização a um ambiente mutável; 2) é orientado para o futuro; 3) é compreensivo; 4) é um processo de construção de consenso; 5) é uma forma de aprendizagem organizacional. O planejamento estratégico se assenta sobre três parâmetros: a visão do futuro, os fatores ambientais externos e os fatores organizacionais internos. Começa com a construção do consenso sobre o futuro que se deseja: é a visão que descreve o mundo em um estado ideal. A partir daí, examinam-se as condições externas do ambiente e as condições internas da organização (CHIAVENATO, 1999, p. 227). 12 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Para Oliveira (2010), o planejamento estratégico possui quatro aspectos de atuação: » A identificação dos fatores não controláveis pela organização e a forma de atuação sobre estes no ambiente externo. » Capacidade da organização em relação a conhecimento e competência, e a própria capacidade. » As decisões da administração da empresa em relação às expectativas pessoais e das equipes. » As necessidades organizacionais considerando as restrições sociais e éticas. Planejamento Tático: envolve uma determinada unidade organizacional, um departamento ou divisão. Estende-se pelo médio prazo, geralmente o exercício de um ano (subdividido em trimestres ou bimestres) e é desenvolvido pelo nível intermediário. É necessário fazer o desdobramento (denominado por alguns de cascateamento) do planejamento estratégico em todos os níveis da organização, garantindo que todos entendam as suas responsabilidades e contribuições dentro de uma proposta única. Desta forma o planejamento estratégico é desdobrado em vários planejamentos táticos, estes desdobrados em planos operacionais. Os planos táticos geralmente refletem em processos-chave da organização, a exemplo do que veremos a seguir: » Planos de produção: envolvendo os métodos, recursos e tecnologias necessárias para a realização das atividades e tarefas necessárias para a realização do produto que a organização se dispõe a realizar e comercializar. » Planos financeiros: como o próprio nome diz, envolvendo questões financeiras da organização, tais como captação e aplicação do dinheiro necessário para viabilizar as operações da organização. » Planos de marketing: envolvendo questões mercadológicas, tais como ponto de venda, mix de produtos e serviços, preço e promoção. » Planos de recursos humanos: envolvendo questões atreladas a força de trabalho existente e necessárias à organização, envolve fatores como seleção e recrutamento, treinamento e desenvolvimento, políticas de salários e benefícios, entre outros. 13 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I Planejamento Operacional: como descrito anteriormente, os planejamentos devem ser desdobrados, esta etapa é que atende o nível operacional, teoricamente o último. O planejamento operacional, geralmente, visa o curtoprazo e descreve as métricas para as tarefas ou operações individualmente. Responde a duas perguntas fundamentais: o que fazer e como fazer as atividades rotineiras da organização. O foco é otimizar e minimizar os resultados. Podem ser classificados em quatro tipos: 1. Procedimentos: são os planos operacionais relacionados com métodos. É comum, inclusive, estes se tornarem documentos padrões dentro do processo operacional, tais como instruções de trabalho, procedimento operacional padrão, entre outros. 2. Orçamentos: são os planos operacionais relacionados com o financeiro. Podemos ter como exemplo o fluxo de caixa e os planos de investimentos. 3. Programas (ou programações): são os planos operacionais relacionados ao tempo. Como exemplo podemos citar os cronogramas para atendimento de uma demanda e/ou projeto. 4. Regulamentos: são os planos operacionais relacionados com comportamentos das pessoas. Neste tipo de plano operacional, temos como exemplo os manuais de código de conduta e ética. 14 CAPÍTULO 2 Evolução estratégica Agora que já entendemos o que é o planejamento e o seu desdobramento, vamos aprofundar um pouco mais o conceito de estratégia. Mas o que é estratégia? Vale aqui recordar a cena do filme “Tropa de Elite”, em que personagem Capitão Nascimento inicia a sua explicação teórica sobre o conceito de estratégia. Ao ver um dos integrantes dormindo, dá-lhe uma granada, tira o pino da mesma, e completa: “Seu zero-cinco, se o senhor dormir, o senhor vai explodir o turno inteiro, o senhor vai explodir os meus auxiliares, o senhor vai me explodir. Então, o senhor vai dormir, seu zero-cinco?”. Apesar do filme não ter aprofundado o conceito, até porque não era o foco, a palavra estratégia tem origem grega (stratégòs), e deriva dos termos stratos (“exército”) e agein (“conduzir”, “guiar”), desta forma diz respeito à arte de comandar uma batalha (operações militares). Conceitos semelhantes sobre estratégia surgiram na Ásia, sendo que os mais famosos estão no livro de Sun Tzu, intitulado A arte da guerra, escrito em 200 a. C. e lido até os dias de hoje. Em gestão empresarial podemos considerar que a estratégia é a maneira pela qual a empresa visa alcançar objetivos através de planos e competências técnicas superando os concorrentes. A estratégia é “a seleção dos meios para realizar objetivos” (MAXIMIANO, 2006, p. 329). Mas vamos exemplificar de outra maneira. Já que estamos no país do futebol, vamos contextualizar dentro de um contexto “futebolístico”. Você já parou para pensar como um time denominado pequeno pode ganhar de um time denominado grande? Quais fatores influenciaram para isso? Provavelmente são fatores que influenciam na vitória de um time de futebol: o conhecimento do campo, influência da torcida, o treino anterior ao jogo, jogadas ensaiadas (treinadas persistentemente), a formação/ escalação do time, esquema tático montado pelo treinador, a motivação dos jogadores, conhecimento prévio do adversário etc. Todos estes fatores são decorrentes da estratégia montada pela equipe técnica, que visa vencer a partida. Vamos nos aprofundar mais neste jogo, uma das estratégias pode ser ensaiar incessantemente uma jogada aérea na entrada da grande área, pois o time possui um atacante com altura elevada e, em contrapartida, o defensor da equipe adversária tem uma estatura mediana ou baixa. A essência da estratégia é realizar atividades de modo diferente da concorrência e manter vantagem competitiva (PORTER, 1985). 15 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I Mintizberg (2006) descreve que, apesar do ser humano buscar definições únicas para as “coisas”, a palavra estratégia possui diversas definições, e o autor apresenta cinco delas, sendo intituladas como cinco P’s para estratégias, vejamos: 1. Estratégia é um Plano (PLAN): uma direção, um guia, um curso de ação para o futuro, um caminho a ser seguido para levar a organização do estado atual para uma posição desejada no futuro. 2. Estratégia é um Padrão (PATTERN): consistência de um comportamento no longo prazo. Uma organização que trabalha focada num segmento de mercado de maior valor agregado está seguindo um padrão. 3. Estratégia é uma posição (POSITION): o posicionamento de determinado produtos ou serviços em função de determinados mercados. 4. Estratégia é uma perspectiva (PERSPECTIVE): uma maneira fundamental da organização fazer as coisas. A estratégia apresenta uma perspectiva da visão do negócio em termos de interação com o mercado. 5. Estratégia é um estratagema (PLOY): uma manobra específica para vencer com astúcia um oponente ou concorrente. Um artifício para obter Market share através de um estratagema (também pode ser chamado de pretexto). Mintzberg, Ahlstrant e Lampel (2010) fizeram uma reflexão sobre o processo estratégico e descrevem 10 escolas estratégicas, as quais são descritas a seguir. 1. Escola do Design (1957 – 1965): apresenta a estratégia como processo forma de concepção. 2. Escola do Planejamento (1965): apresenta a estratégia como processo formal de etapas bem definidas. 3. Escola do Posicionamento (1980): apresenta a estratégia como fruto de um processo analítico da organização e seu contexto. 4. Escola do Empreendedorismo: apresenta a estratégia como processo visionário que surge na mente do líder ou fundador. 5. Escola Cognitiva: apresenta a estratégia como um processo mental, analisa como as pessoas percebem as informações e padrões. 16 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 6. Escola do Aprendizado: apresenta a estratégia como processo emergente de aprendizado empírico. 7. Escola do Poder: apresenta a estratégia como processo de negociação e concessões entre os indivíduos e grupos interesse. 8. Escola do Cultural: apresenta a estratégia como processo enraizado na força social da cultura envolvendo grupos na organização. 9. Escola do Ambiental: apresenta a estratégia como processo reativo em relação aos desafios impostos pelo cenário no qual a organização está. 10. Escola Configuração: apresenta a estratégia como um processo de transformação da organização através de configurações. Podemos, ainda, destacar a evolução do pensamento estratégico, representado através da quadro 1 que descreve cada escola, que engloba e complementa a anterior, corrigindo os aspectos que possam limitar ou distorcer o conjunto delas. Quadro 1. Evolução do pensamento estratégico. Descrição Escola de Pensamento Planejamento financieiro Planejamento a longo prazo Planejamento estratégico Administração estratégica Gestão estratégica Características principais Orçamento anual Controle financeiro Administração por objetivos Projeção de tendências Análise de lacunas Curva de experiência Estudo de cenários Pensamento estratégico Análise de mudança s no ambiente Análise dos recursos internos e externos Alocação de recursos Foco na formulação Análise da estrutura da indústria Contexto econômico e competitivo Estratégias genéricas Cadeia de valor Foco na análise e implementa-ção Pesquisa e informações com base analítica Pensamento sistêmico Integração en-tre planejamen- to e controle Coordenação de todos os recursos para o objetivo Organização estratégica Direção estratégica Foco nos objetivos financeiros Sistemas de valores Cumprir o orçamento Projetar o futuro Definir a estratégia Determinar a atratividade da indústria Buscar sintonia com os ambien-tes internos e externos Problemas Promover a miopia Não prever a descontinuidade Falta de foco na implementação Não desenvolver a abordagem sistêmica Falta de alinhamento com a filosofia organizacional Predominância Anos 1950 Anos 1960 Anos 1970 Anos 1980 Anos 1990 Fonte: Lobato (2009). Nos anos 1950, período da escola do planejamento financeiro, as estratégias organizacionais visavam basicamente o cumprimento do orçamento anual. Neste período as diretrizes eram baseadas na teoria da administração por objetivos(APO), com a definição dos objetivos da organização, e desdobrados em metas individuais que contribuem para o alcance de objetivos maiores. Desta forma, as empresas estimavam 17 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I seus vários gastos com base na previsão de receitas e coordenavam todos os recursos aos objetivos planejados. Na segunda fase da evolução do pensamento estratégico, vemos o Planejamento a Longo Prazo, onde a premissa para as organizações era de visão de futuro com base na elaboração de cenários e com mudanças que seguiam regras bem conhecidas de causa e efeito. Umas das técnicas utilizadas neste período é a curva de experiência, que prevê uma diminuição progressiva dos custos de um produto à medida que se aumenta a produção. Já nos anos 1970, foi desenvolvida a escola do planejamento estratégico com avaliação do ambiente interno da empresa, mediante a análise de suas forças e fraquezas, e do ambiente externo e suas oportunidades e ameaças. Neste momento surge a ferramenta denominada de SWOT, sigla formada dos termos ingleses Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). Também é importante realçar o foco estratégico nas decisões empresariais, enfatizando a importância da eficiência e da eficácia na organização. Na quarta fase, a escola da administração estratégica, a implementação das estratégias é tão importante quanto a sua formulação, destacando-se o lado prescritivo do pensamento estratégico. Nesta escola, umas das principais referências é o modelo de análise estrutural criado por Porter e denominado de cinco forças competitivas, sendo elas: a rivalidade entre os concorrentes existentes; a entrada de novos concorrentes (entrantes); a ameaça de produtos substitutos; o poder de negociação dos fornecedores e o poder de negociação dos compradores. O nível da concorrência e da rentabilidade está atrelado à interação dessas cinco forças que determinam a essência da competição nessa indústria. A gestão estratégica, quinta escola, tem foco sistêmico nas funções estratégicas para estabelecer o equilíbrio entre as demandas dos ambientes interno e externo, bem como a integração de todos os setores da organização, no intuito de melhor alocar recursos para atingir os objetivos. Foca não apenas no planejamento, mas também na organização, direção, coordenação e controle. Analisando essas escolas, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) narram a parábola dos cegos e o elefante, que possui muitas versões, sendo atribuída à primeira versão do texto budista Udana, que faz parte da coleção de escrituras Pāli Canon. Na história, um grupo de cegos tenta conhecer um elefante pelo tato. Cada um apalpa uma parte do corpo do animal, tendo assim a impressão de que ele se assemelha apenas àquela parte. Fazendo uma analogia com as escolas do pensamento estratégico já apresentadas, nenhuma delas visualiza a estratégia como um todo: cada qual apresenta 18 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO as suas soluções de acordo com as suas premissas (ou necessidades). Desta maneira, na primeira década do século XXI surge a escola da gestão estratégica competitiva. A escola da gestão estratégica competitiva caracteriza-se por assumir a forma de um processo de aprendizado ao longo do tempo. Na sequência serão apresentadas outras características desta escola: » Atuação global: a competitividade não é mais regional, e sim global. Principalmente em função da utilização de novas tecnologias e da internet. Se antes os meus concorrentes estavam geograficamente proximos, hoje podem estar do outro lado do mundo. Da mesma forma, meus clientes podem estar em regiões distantes da minha empresa. Estes fatores obrigam as empresas a se mobilizarem e buscarem estratégias mais abrangentes e que considerem a atuação global. » Proatividade e foco participativo: aprendizagem de forma sistêmica, postura empreendedora de todos os colaboradores, ambiente participativo na elaboração e implementação da gestão e comportamento proativo. » Incentivo à criatividade: necessidade constante das empresas se moldarem aos novos modelos de negócios e aos avanços tecnológicos. Para tanto, é necessário desenvolver um ambiente propício para a criatividade, buscando a adesão intelectual e emocional de todos os colaboradores, reconhecendo e recompensando as ideias inovadoras. » Controle pelo balanced score card (BSC): o método balanced score card (BSC), desenvolvido por Robert Kaplan e David Norton, é baseado na representação equilibrada das medidas financeiras e não- financeiras organizadas segundo quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e do crescimento. O BSC é um método de gestão que permite às organizações utilizarem o desdobramento da estratégia para elaborar o seu planejamento. Através de indicadores que impulsionam o desempenho, proporcionando à organização uma visão atual e futura do negócio, com foco abrangente e controle proativo dos objetivos planejados. » Organização em unidades estratégicas de negócio (UENs): subdivide a organização em um conjunto de pequenas organizações, que possuem o máximo de interdependência em sua administração. Esse tipo de estrutura organizacional facilita a coordenação estratégica, com menos hierarquia e mais autonomia e com um processo decisório participativo. Um exemplo desta prática é uma organização que atua 19 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I em vários mercados, como alimentício, higiene e saúde, tendo cada um destes segmentos sua administração propria. Ambas as unidades de negócios se reportam a uma mesma matriz, entendendo o seu papel e contribuição para atender os objetivos macros da corporação como um todo, mas também há uma linha estratégica específica para a unidade/ segmento. » Ênfase em alianças: formar alianças estratégicas, com foco no ganho mútuo, que possibilitem o desenvolvimento de novas tecnologias, compartilhar investimentos de pesquisa e desenvolvimento e reduzir custos operacionais. » Responsabilidade social e ambiental: organizações com responsabilidades que vão além da produção de bens e serviços para obter lucro. As decisões empresariais são guiadas por princípios éticos, podendo citar como exemplo: a) a implementação de códigos de conduta na relação com os empregados, a comunidade, os acionistas e o meio ambiente; b) práticas que relacionem a atividade de negócios e o meio ambiente, equacionem os danos ambientais e neutralizem os efeitos. Uma visão de sustentabilidade. » Aprendizagem contínua: a empresa deve ter um propósito claro e estratégico, voltado para a aquisição de novas capacidades e um efetivo compromisso com a experimentação contínua. As discussões e práticas no campo das estratégicas são muitas, e com atualizações constantes, no entanto, utilizaremos como base norteadora de nossos estudos a gestão estratégica competitiva, que deixou de ser apenas a administração de mudanças para tornar-se a administração por mudanças. Vale ressaltar que, nesta escola de pensamento, a gestão é vista como um processo de aprendizagem tanto individual quanto coletiva, o que complementa a minha afirmação do início do paragrafo, que por ser um processo de aprendizagem sempre terá novos conceitos e atualizações. Atualmente estamos em um ambiente VUCA, sigla que significa: volatilidade (volatility), a incerteza (uncertainty), a complexidade (complexity) e a ambiguidade (ambiguity). Será que outras caracteristicas podem ser inseridas em nossas estratégias? Entenda o que é o mundo VUCA, assistindo ao vídeo do seguinte link: <https://www.youtube.com/watch?v=ZuEF76Xs_Mw>. Acesso em: 29/08/2019. 20 CAPÍTULO 3 Definição das diretrizes estratégicas O que algumas poucas palavras e pequenas frases podem fazer em sua estratégia e organização? Pois bem, as diretrizes estratégicas são algumas definições, que regem (direcionam) as estratégias daorganização. Estas diretrizes são representadas através da visão, missão e valores da organização. São justamente estas frases e palavras que dão início ao processo de implementação da gestão estratégica competitiva. Você sabe qual é a missão, visão e valores da sua organização? Você já pensou o quanto estas definições podem afetar em uma organização? As diretrizes estratégicas permitem que a organização possa detectar os sinais de mudança, identificar as oportunidades, planejar de forma sincronizada com o negócio e criar condições para as ações proativas. Em suma, é a descrição da organização que a leva a assumir determinados comportamentos na formulação de suas estratégias. Vamos conhecer um pouquinho mais sobre cada uma destas definições/ atribuições. O que é Visão? Visão é previsão / prescrição futura de um cenário do qual a organização pretende desfrutar. Vai além dos objetivos da empresa, é uma imagem projetada para o futuro (onde queremos chegar) e que deve ser entendida e buscada por todos da organização. Já vivenciei, sendo colaborador de uma empresa, a definição de visão de que em um horizonte de 10 anos a empresa seria líder de mercado na América Latina. Logicamente, só esta frase, por si só, não garantirá esta evolução, mas tendo como norte esta visão, a organização e os seus colaboradores trilharão estratégias para alcançá-la. E isto ocorreu no exemplo que descrevi. Ao definir a sua visão, a organização deve fazer as seguintes reflexões: » Como queremos ser reconhecidos no futuro? » Que desafio se apresenta aos nossos colaboradores? » O que queremos ouvir dos nossos stakeholders (partes interessadas)? » Onde estaremos atuando com os nossos clientes? » Quais são as principais oportunidades que podem surgir? 21 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I Veja alguns exemplos de Visão (todos retirados dos sites institucionais das organizações): » Disney: “Criar um mundo onde todos possam se sentir crianças.” » Coca-Cola: “Matar a sede do mundo.” » Petrobrás: (Visão 2030) “Ser uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo e a preferida dos seus públicos de interesse.” » Kopenhagen: “Ser um grupo competitivo que atue de forma abrangente no segmento alimentício, através de um portfólio de produtos com qualidade, representado por marcas fortes, com características e propostas únicas.” » Cacau Show: “Ser a maior e melhor rede de chocolates finos do mundo, oferecendo aos seus clientes e parceiros uma relação duradoura, com foco no crescimento, rentabilidade e responsabilidade socioambiental.” Quando a organização define a visão, está estabelecendo uma identidade comum quanto aos seus propósitos, a fim de orientar o comportamento dos membros quanto ao futuro que ela deseja construir. É o ponto de partida para a formulação de estratégias, pois só se deve desenvolver uma estratégia quando se sabe aonde se quer chegar. Vale aqui recordar a história de Alice no País da Maravilhas, quando questiona o gato para qual caminho deve ir, obtém a resposta: “Para quem não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve”. Ao formular a visão de futuro, a organização deve harmonizar motivações, valores e desafios com o sonho. O quadro abaixo apresenta alguns exemplos de visão de futuro e as suas principais motivações. Quadro 2. A visão de futuro de algumas organizações brasileiras. Organização Motivação Visão de futuro Banco de varejo “Ser o banco líder em performance, reconhecidamente sólido e confiável, destacando-se pelo uso agressivo do marketing, tecnologia avançada e equipes capacitadas, comprometidas com a qualidade total e a satisfação dos clientes.” A motivação não é ser o maior banco em volume de vendas, mas o líder em performance. Espera-se que neste banco cada real proporcione o maior spread. Indústria de alimentos “Ser reconhecida como empresa de classe mundial na indústria de alimentos processados para consumo final, especialmente os que necessitam de refrigeração na produção e conservação.” Ser aceita mundialmente por quaisquer critérios econômicos, sanitários, políticos e religiosos. Empresa de serviços pela Internet “Ser líder no fornecimento de soluções business-to-business através da utilização de ferramentas de alta tecnologia, considerando toda a amplitude de produtos requeridos e serviços de valor agregado.” Ser o principal provedor de soluções customizadas em serviços através da Internet. 22 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Empresa de serviços de armazenamento “Tornar-se operador logístico em buscando excelência nos serviços e satisfação dos clientes, através de investimentos maciços em equipamentos, tecnologia de informação e satisfação pessoal dos funcionários.” Transformar o armazém numa rede logística, atuando em elos da cadeia de suprimento Indústria de cosméticos “Ser uma empresa com alta performance em operações e logística, fabricando produtos que proporcionem total equilíbrio e bem-estar. Ser a pioneira em disseminação internacional do conceito de biodiversidade e sustentabilidade da flora brasileira.” A motivação aqui tem três vertentes: especializar-se em logística, respeitar e valorizar o ser humano, e difundir internacionalmente a imagem da flora brasileira. Indústria de equipamentos e componentes de telecomunicações “Ser a empresa de melhor rentabilidade e estar entre as cinco maiores do setor, com destaque no domínio de tecnologias avançadas e comprometimento com a qualidade total e a satisfação dos clientes.” Implementar o conceito de valor agregado, conciliando qualidade dos produtos e serviços com rentabilidade empresarial. Empresa de consultoria em engenharia e informática “Estar entre as três primeiras empresas nacionais do setor - projeto e tecnologia - com participação no mercado externo, carteira de clientes diversificada e equilibrada entre o setor público e o privado, e comprometimento com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento contínuo dos funcionários” Estar presente nos principais projetos de desenvolvimento tecnológico e de engenharia, nos âmbitos públicos e privados. Fonte: Elaboração própria do autor. Como se vê, formular a visão de futuro possibilita propor estratégias, pois sabe-se aonde a empresa quer chegar e quais são as suas principais motivações. E a missão da organização, do que se trata? A missão é a razão da existência da organização, e os problemas da sociedade que ela se propõe a resolver. Toda organização tem uma função a desempenhar no mercado, e esta é descrita na missão. Mas esta descrição não é o detalhamento dos processos, e tampouco apenas os produtos que são comercializados, é mais que isso, é a essência da empresa, os valores que são entregues. A forma de escrita pode variar de empresa para empresa, algumas organizações preferem explicar detalhadamente como alcançar o sucesso e como medi-lo; outras sintetizam a missão numa única frase. No entanto, alguns pontos são comuns na formulação da missão (mas não são regras), sobre os quais a organização deve refletir e responder durante a sua concepção: » Qual é o negócio da organização? » Quem é o seu cliente? » Onde ela tem a sua base de atuação? » Qual é a sua vantagem competitiva? » Qual é a sua contribuição social? Para Drucker (1992), o processo de definição da missão da organização é difícil, penoso e arriscado, mas essencial para o estabelecimento de políticas, desenvolvimento de estratégias, alocação de recursos e planos de ações. O autor ainda destaca que definir a missão é muito mais do que estabelecer a diferença entre receita e custo. Tendo que 23 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO │ UNIDADE I o lucro não é a única variável estratégica a ser utilizada nas decisões e atitudes da organização. Veja alguns exemplos de Missão (retiradas dos respectivos sites institucionais): » Walmart: “Nós economizamos o dinheiro das pessoas para que elas possam viver melhor!” » Harley Davidson: “Nósrealizamos sonhos através da experiência de motociclismo.” » Mary Kay: “Dar oportunidades ilimitadas às mulheres.” » Microsoft: “Ajudar pessoas e empresas por todo mundo a realizar todo o seu potencial!” » Kopenhagen: “Fabricar produtos de altíssima qualidade, preservando seu sabor com sofisticação e originalidade.” » Cacau Show: “Proporcionar ao maior número de pessoas uma experiência memorável e excelência em produtos e serviços, sendo referência em gestão do negócio de chocolate.” Pesquise na internet outras missões de organizações que você admira, compra ou concorrentes da empresa em que trabalha. Este benchmark é bem interessante para que você possa ter bem claro este conceito para poder nortear as suas estratégias. Finalmente, os valores devem ser definidos como as crenças básicas para a tomada de decisão na empresa. Também eles podem ser vistos como ideais a serem atingidos, o que nem sempre é possível. Mas isso não impede que a organização se norteie por crenças básicas. São exemplos de valores: preocupação com o meio ambiente, honestidade, busca da excelência e cidadania responsável. Veja o exemplo de valores da empresa Kopenhagen: » Lideranças Interativas. » Trabalho em Equipe. » Proatividade. » Qualidade. » Ética e Respeito. 24 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A empresa aponta, em seu site (www.kopenhagen.com.br), como alcançar atingir as diretrizes estratégicas: “Disseminando nossa visão, realizando nossa missão e trabalhando nossos valores, com todos os colaboradores, parceiros, clientes e consumidores, fortaleceremos nossa posição como a melhor empresa brasileira de chocolates finos” (KOPENHAGEN. Disponível em: www.kopenhagen.com.br. Acesso em: 23/08/2019). E na organização em que você trabalha, quais são as diretrizes estratégicas? Pesquise outras organizações do mesmo segmento da empresa em que trabalha e compare as diretrizes estratégicas. Podemos concluir que as diretrizes estratégicas possibilitam o direcionamento e o compromisso dos colaboradores com o propósito da empresa, e também serem flexíveis e adaptáveis durante a busca dos objetivos. O conceito de vantagem competitiva está associado à obtenção de um resultado superior de uma determinada organização ao fazer algo diferente e/ ou melhor que os seus concorrentes. Pense em uma padaria grande que conheça ou que já tenha visitado e tente lembrar se ela faz algo diferente e/ou melhor que seus concorrentes. Em outras palavras, avalie quais são as necessidades ou desejos dos consumidores. Ela atende melhor que os seus concorrentes, o que faz com que os clientes prefiram frequentar essa padaria ao invés das demais. Para reforçar os seus conhecimentos sobre Estratégia Empresarial, acesse o artigo “Estratégia empresarial: construindo estratégia para vencer no mercado competitivo”. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2004/ trabalhos/inic/pdf/IC6-19.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2019. 25 UNIDADE II ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Nesta unidade estudaremos a análise e o diagnóstico do ambiente organizacional. Ou seja, entender qual é a situação da empresa perante os desafios e oportunidades de mercado no qual está inserida, e como as suas características internas interferem positivamente ou negativamente para alcançar os objetivos e se destacar perante a concorrência. As organizações precisam entender os cenários, indo além da simples projeção futura dos acontecimentos passados e da análise dos dados imediatos, é necessário antecipar o que é relevante para a construção de seu futuro. Para isso, e comumente na área de planejamento, dividiremos em ambientes externos, que é aquele sobre o qual não temos controle pois se refere principalmente ao mercado, e o ambiente interno, sobre o qual temos maiores influências por acontecer dentro da “nossa casa”. 26 CAPÍTULO 1 Análise do ambiente externo: cenários, oportunidades, ameaças e o ambiente competitivo Para iniciarmos o estudo sobre o ambiente externos, devemos considerar que os cenários nos permitem analisar a longo prazo um mundo complexo e incerto. Comumente, as tendências identificadas nos dados passados influenciam decisivamente o futuro, mas sempre com uma certa imprevisibilidade, pois são inúmeras as variáveis que podem influenciar (SCHWARTZ, 1991). A organização deve lidar com estas incertezas e construir um futuro mais assertivo e diferente, para isso é preciso estar atento às descontinuidades (disrupturas), e às mudanças que acontecem constantemente no ambiente onde estão inseridas. A seguir veremos como as organizações procuram analisar e compreender o ambiente externo, que pode ser decomposto em ambiente geral e ambiente setorial. O ambiente geral Quando nos referimos ao ambiente geral, estamos falando do mercado e da sociedade de forma ampla, sem atribuir questões referentes ao produto e/ou serviço produzido e comercializado pela organização. Sendo assim, sua constituição considera os elementos próprios à vida da sociedade e que influenciam de maneira direta ou indireta as organizações. Nesta análise deve-se considerar quatro segmentos, ou classes, a serem estudados pelas organizações, sendo eles: demográfico, econômico, sociopolítico e tecnológico. No quadro a seguir, podemos verificar os elementos que devem ser analisados dentro de cada segmento. Quadro 3. Ambiente geral: segmentos e elementos. Segmento Elemento Demográfico » Tamanho e taxa de crescimento da população. » Pirâmide populacional (faixas etárias da população). » Composto étnico e principais grupos linguísticos. » Distribuição de renda. Econômico » Evolução dos índices de preço e quantidade. » Taxas de juros e de poupança. » Evolução do PIB e investimentos em capacidade de produção. » Balança de pagamentos. » Níveis de emprego e renda no país. » Internacionalização da economia. 27 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II Sóciopolítico » Principais traços culturais da população. » Atitudes, hábitos e diversidade cultural. » Leis de defesa da concorrência, leis trabalhistas e tributárias. Tecnológico » Investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). » Incentivos a pesquisa e desenvolvimento. » Inovações e aplicação de conhecimentos. Fonte: Adaptado de Hitt, 2002. Podemos observar que o segmento demografico tem relação com a população de um determinado lugar, neste caso o local em que a empresa atua ou pretende atuar. Para o segmento economico o estudo é referente aos processos de produção, distribuição, acumulação e consumo. No sociopolítico são analisadas as questões sociais e politicas de uma determinada região ou pais, e respectivamente a sua população. No segmento tecnologico é preciso entender a situação referente ao desenvolvimento tecnologico, tecnologias existentes, assim como as inovações e tendências. O ambiente setorial Para proceder à análise setorial do ambiente de negócios onde a organização está inserida, uma das ferramentas utilizadas é o modelo de análise da indústria proposto por Porter, conhecido como modelo das cinco forças competitivas. A seguir veremos a construção metodológica desse modelo. Análise da indústria O objetivo central dessa análise, segundo Porter (1986), é prever o nível médio de lucratividade a longo prazo dos competidores numa determinada indústria (também pode ser definido como segmento ou setor de atuação). Como existem diferenças substanciais de lucratividade a longo prazo entre as empresas, conhecer as forças competitivas que determinam essas diferenças intersetoriais auxilia a organização na elaboração de estratégias eficazes para atuar em ambientes de negócio com maior ou menor grau de competição. Outro objetivo da análise da indústria é compreender as diferenças de rentabilidade entre os competidores numa mesma indústria. Isso é importante por dois motivos: a extensão dessas diferenças de rentabilidade é um indicador do alcance e tipode estratégia a ser adotada para superar a média da indústria; conhecer a causa dessas diferenças ajuda as empresas a ajustar os seus recursos internos, competências e capacidades ao ambiente da indústria. 28 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL As cinco forças competitivas As cinco forças competitivas, denominadas por Porter (1986), são representadas na figura 1: Figura 1. Cinco Forças Competitivas. Empresas Concorrentes Novos Entrantes Poder de Negociação do Cliente Produtos Substitutos Poder de Negociação do Fornecedor Fonte: Adptado de Porter (1986). A seguir analisaremos as cinco forças mencionadas, mostrando os principais fatores que podem fazer com que elas sejam mais ou menos influentes. Grau de rivalidade entre as empresas concorrentes: demonstra como o valor criado pela indústria será distribuído no mercado. A análise desta força possibilita que a organização possa identificar os elementos que impulsionam a empresa a disputar uma posição no mercado. Qual é o tamanho do mercado, e como ele está dividido? Para tanto, deve-se verificar as seguintes condições na indústria: » Velocidade de crescimento. » Quantidade de Concorrentes – concorrentes numerosos ou bem equilibrados. » Custos fixos ou de armazenamento elevados. » Excesso crônico de capacidade. » Ausência de custos de mudança. 29 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II » Existência de concorrentes divergentes. » Existência de concorrentes com grandes interesses estratégicos. » Ausência de diferenciação de produtos. » Barreiras de saída elevadas — existência de ativos especializados, altos custos fixos de saída, inter-relações estratégicas com outros setores, barreiras emocionais dos controladores e restrições de ordem governamental ou social. Ameaça dos novos entrantes: esta força compreende as empresas que ainda não são concorrentes, mas que podem vir a ser. Anteriormente comentamos sobre empresas globais, este fator impulsiona ainda mais este fator, e conhecê-lo é fundamental para os negócios. Será que a então líder do mercado varejista de moda brasileiro, a C&A, visualizou que estaria disputando seu mercado com empresas “on-line”? Alguns aspectos devem ser considerados nesta análise: » Existem empresas com recursos (capital) substanciais, capazes de sustentar longas batalhas em busca de posicionamentos estratégicos que lhes concedam vantagens competitivas sobre seus concorrentes? Exemplo: uma empresa alimentícia que já tem uma considerável fatia do mercado, mas em um segmento específico (biscoitos). Ela quer expandir, e para isso tem o “privilégio” de poder vender os seus produtos (biscoitos) abaixo do valor de mercado, e em algumas situações obtendo inclusive prejuízo. Isto acontece, podem acreditar, já passei por isso! » Qual é a velocidade de crescimento da indústria e do mercado? O crescimento está em ritmo de moderado a lento, reduzindo a taxa de aumento das vendas e a lucratividade das empresas, forçadas a lutar por uma fatia de um mercado cada vez mais restrito e competitivo? Ou o mercado está em ritmo acelerado e crescimento exponencial? » Quais são as barreiras de entrada, riscos e complexidade do negócio? A força das barreiras aos entrantes potenciais pode ser avaliada pela existência de: grandes economias de escala no setor; maior grau de diferenciação de produto; elevadas necessidades de capital; altos custos de mudança de fornecedor; dificuldades de acesso aos canais de distribuição e desvantagens de custos independentes de escala. 30 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Ameaça dos produtos substitutos: esta força é referente à análise da existência de produtos e serviços que desempenham as mesmas funções que os produtos ou serviços atuais, e que satisfazem as mesmas necessidades dos consumidores. Como o próprio nome descreve, é a substituição do produto e/ou serviço atual. Vários são os exemplos de produtos substitutivos que alteraram toda uma indústria, vejamos: máquinas fotográficas digitais que substituíram as antigas máquinas “analógicas” que utilizam filme fotográfico. O resultado foi a falência de uma potência mundial, a Kodak. A criação do Spotify acarretou uma mudança indústria fonográfica. E assim outras empresas nesta última década mudaram várias indústrias como a de hotelaria, mobilidade urbana/transporte, alimentação etc. São notórias as transformações recentes, e as empresas que não enxergarem as possibilidades futuras, provavelmente estarão fadadas a serem substituídas. Esta força, desenhada por Porter em 1986, parece que descreveria os nossos dias atuais. Os produtos substitutos possuem pelo menos uma das seguintes características: » o comprador, após adquirir um produto, deixa de consumir outros até o f imdo prazo normal de reposição do produto; » os produtos se revezam na preferência do consumidor ao final do prazo de reposição. Também devemos considerar que o grau de pressão dos produtos substitutos depende fundamentalmente: » da percepção relativa de valor desses produtos; » dos altos custos de mudança para tais produtos; » da propensão dos compradores para substituir produtos. Nas três situações, a pressão dos produtos substitutos intensifica a concorrência de maneira global, pois afeta o poder de barganha dos clientes e fornecedores e acirra a própria rivalidade entre as empresas. Poder de Negociação (barganha) dos compradores:trata-se da força demonstrada pelos compradores ao negociar a compra de produtos ou serviços. Aqui se denominam compradores todos aqueles que consomem produtos ou serviços fornecidos por uma determinada indústria. Ou seja, se estamos nos referindo à indústria automobilística, as montadoras têm o poder de negociação/ barganha perante os fornecedores de autopeças. Se nos referimos às grandes redes varejistas, elas (geralmente) detêm o poder de barganha junto aos produtores 31 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II (neste caso fornecedores) dos produtos que serão vendidos nas gôndolas das lojas. Esta força impacta na definição de preços, nas quantidades a serem negociadas, prazos e prioridades, entre outros fatores. Ainda, pode ser considerado como um dos principais fatores que determinam quem irá apropriar-se do valor criado na indústria. Tal poder permite aos compradores diminuir as margens da indústria pressionando os competidores (fornecedores) a reduzir preços ou aumentar a oferta, sem custos adicionais. Vejamos, alguns motivos/ condições que aumentam o poder de barganha do comprador: » existência de poucos compradores; » os compradores serem muito importantes para a indústria; » a indústria(segmento) ser pouco importante para os compradores; » o produto fabricado/vendido pela indústria ser padronizado; » baixo custos para mudança de fornecedor; » existência de substitutos para os produtos; » o comprador ter total informação; » possibilidade de integração retrógrada na cadeia de valor dos compradores. Poder de Negociação (barganha) do fornecedor: esta força é o oposto da força anterior, demonstrando a força dos fornecedores ao negociar com os compradores, tendo “poder” para elevar preços ou reduzir a qualidade de seus serviços. Em casos em que os fornecedores exercem grande poder, estes podem absorver a maior parte da rentabilidade de uma indústria, principalmente quando os compradores são incapazes de repassar aumentos de preços aos consumidores finais (sentido a jusante). Um exemplo disto são as indústrias siderúrgicas, que acabam exercendo poder sobre os seus clientes e respectivamente sobre o mercado. Algumas condições podem ser percebidas referentes ao poder de barganha dos fornecedores: » existência de poucos fornecedores no mercado; » fornecedores com importância estratégica para a indústria; » indústria (segmento) ser pouco importante para os fornecedores; » alto grau de diferenciaçãodo produto na indústria; 32 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL » não existir substitutos para os produtos fabricados pelos fornecedores; » altos custos de mudança de fornecedores; » possibilidade de integração vertical para frente (a jusante) por parte dos fornecedores. Em ambas relações e poder de barganha, consumidores e fornecedores devem levar em conta o tipo de relacionamento estabelecido entre as partes, se cooperativo ou competitivo. A busca por parcerias fortes e duradoras é uma tendência cada vez mais forte entre fornecedores e clientes, visando um relacionamento ganha-ganha. Mas, independentemente desta nova forma de atuação, as forças de barganha continuarão a acontecer, com mais ou menos intensidade. E também este é reflexo da própria indústria de atuação e posição dentro da cadeia de suprimentos. Por isso, agora, vamos entender um pouco sobre este tipo de cadeia. Transformação digital Muito se fala de transformação digital, inclusive neste material, e não há como fugir a uma tendência mundial. Mas o que vem a ser esta transformação digital? É a incorporação e uso da tecnologia digital nas soluções de problemas tradicionais. Esta nova abordagem exige mudanças fundamentais de tecnologia, cultura, operações e entrega de valor. O que nos faz considera-la como mais uma e nova variável a ser avaliada no ambiente competitivo. Desta forma algumas perguntas se fazem necessárias, entre elas: a minha empresa está preparada para a transformação digital? Como é a cultura de incorporação da inovação na minha empresa? Quais são as dificuldades e implicações éticas para a implementação da transformação digital? É fato, e necessário, estar preparado para a mudança. Ou ainda, estar antecipando as novas tendências e tecnologias, e ser o pioneiro no desenvolvimento e utilização dos mesmos. Já citei em outras oportunidades algumas empresas que pararam no tempo, só que agora o tempo (mudança) é mais rápido, e as organizações que não se adaptarem e forem flexíveis serão “atropeladas”. Cadeia de suprimentos O que é a cadeia de suprimentos? Vamos desmembrar estas duas palavras e entender a essência de cada uma, creio que assim ficará mais fácil o processo de entendimento. 33 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II No dicionário Aurélio encontramos algumas definições para cadeia: Corrente formada de anéis ou elos quaisquer; Fila de pessoas disposta de modo que possam passar objetos de mão em mão; Série ininterrupta de coisas semelhantes. Já para suprimentos encontramos as seguintes definições: Ação ou efeito de suprir; acrescentamento, adição, suplemento; Coisa que remedeia ou serve para satisfação de necessidades; auxílio (FERREIRA, 2010). Vamos juntas as palavras agora? Pessoas dispostas de modo que possam passar objetos de mão em mão para a satisfação de necessidades. Mas quem seriam estas pessoas? E satisfazer as necessidades de quem? As pessoas são, na verdade, as empresas que estão interligadas para atender as necessidades do consumidor final. Exemplificando: quando você vai ao mercado ou à mercearia e compra um refrigerante, houve várias empresas trabalhando para que aquele produto se tornasse verdade e estivesse disponível para você. Lembram- se da distribuição física e dos canais de distribuição? Esta é apenas uma parte da cadeia de suprimentos, que acontece quando o produto está pronto, mas muitas etapas e empresas participam antes desta distribuição, e é isso que veremos a partir desta seção. Conforme aponta a Associação de Gerenciamento de Operações (APICS – The Association for Operations Management) a cadeia de suprimentos é definida como: “Os processos que envolvem fornecedores-clientes e ligam empresas desde a fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado”. Ou ainda: “[...] uma rede de companhias autônomas, ou semi-autônomas, que são efetivamente responsáveis pela obtenção, produção e liberação de um determinado produto e/ou serviço ao cliente final” (PIRES, 2011, p. 11). A cadeia de suprimentos é responsável pelo fluxo de materiais, informações e financeiro de um determinado produto, e deve seguir desde o início de seu processo até o consumidor final. Toda cadeia de suprimentos é composta por uma empresa focal ou foco, que é aquele integrante que agrega maior valor ao produto, geralmente aquele que produz o produto final para o consumidor (um fabricante de refrigerante, um produtor de celular, uma confecção etc.). A cadeia de suprimentos é orientada em função da empresa montante e será composta por fornecedores e clientes. Jusante e Montante são lugares referenciais de um rio pela visão de um observador. Jusante é o fluxo normal da água, de um ponto mais alto para um ponto mais 34 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL baixo. Montante é a direção de um ponto mais baixo para o mais alto. No caso de uma cadeia de suprimentos, a jusante são as empresas que estão mais próximas do consumidor final. E a montante são as empresas localizadas mais próximas à fonte (fornecedores). No gerenciamento da cadeia de suprimentos usualmente trabalharemos com o relacionamento de parceria. Lambert (2008) conceituou parceria como sendo um relacionamento de negócios personalizado, com base na confiança mútua, no relacionamento aberto, na divisão de riscos e de ganhos que proporcionam um desempenho e vantagem competitiva maior do que poderia ser obtido individualmente. O mesmo autor subdivide as parcerias em três tipos, conforme demonstrado no quadro 4, onde o desejável é o Tipo III. Quadro 4. Tipos de Parceria. TIPO I As empresas reconhecem-se mutualmente como parceiras e, dentro de determinados limites, coordenam conjuntamente o planejamento e atividades. Geralmente são relações de curto prazo e envolvem somente uma divisão ou área funcional dentro de cada empresa. TIPO II As empresas envolvidas avançam da coordenação de atividades para integração de atividades. Sem pretensão, acabam tendo longa duração e envolvem várias divisões em cada uma das empresas envolvidas. TIPO III As empresas compartilham um significante nível de integração operacional e cada uma vê a outra como uma extensão dela própria. Tem uma longa duração de forma pretendida. Fonte: Lambert (2008). Mas a frente, em nossos estudos, aprofundaremos um pouco mais a questão de parceria. Neste momento, é importante ressaltar a importância do relacionamento, e do entendimento da cadeia em que está inserida a empresa. Conforme descrito anteriormente, dependendo de sua localização dentro da cadeia, e dependendo do tipo de relacionamento, as questões de barganha serão mais evidentes e influenciadoras. Você já parou para avaliar em que local a empresa em que você trabalha se localiza dentro da cadeia de suprimentos? Como a empresa corresponde a estes fatores de barganha? Questionamento ao modelo de cinco forças Por que não são consideradas outras forças neste modelo? Este modelo direciona a análise para os ambientes da indústria, e não do macroambiente. Por isso, é necessário ter uma visão mais ampla e considerar o impacto das forças do macroambiente sobre as cinco forças competitivas. 35 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II Outro ponto relevante sobre o modelo é que compradores e fornecedores são tratados de maneira desigual. A facilidade com que o comprador pode substituir o produto que consome não é considerada a mesma que tem o fornecedor para substituir o cliente de seus produtos. O modelo também não leva em consideração as empresas que complementam a cadeia de valor da indústria e cuja importância pode ser crucial para a competitividade como um todo. Ainda, outros fatores passageiros da economia devem ser considerados a curto prazo, a exemplo de flutuações dos ciclos econômicos, picos de demanda, variações de preços de insumos, acordos salariais ou alterações na política econômica e fiscal em anos eleitorais.Porém, estes fatores não devem ser determinantes nas estratégias a longo prazo da organização. É fundamental para a estratégia competitiva da organização conhecer a estrutura da indústria e as características do setor, sendo este um dos direcionadores-chave. Desenvolvimento de cenários Sequencialmente às análises do ambiente externo, é necessário definir os cenários, os quais são definidos por Schwartz (1991) como sendo as configurações de um sistema ou situação que se deseja conhecer, em um determinado período. Dentro desta definição, podemos considerar os cenários como descrições sistêmicas feitas para futuros qualitativamente distintos, determinando os rumos que o ambiente de negócios pode tomar. Isso é feito com base na evolução das tendências do ambiente externo, consubstanciada em variáveis quantitativas e qualitativas. Os cenários, portanto, são desenhados a partir do estudo das tendências verificadas nos ambientes geral e setorial. Vejamos um exemplo atual de tendência que pode alterar toda uma indústria: a geração Y, ou millennials, vem mudando as relações de trabalho e consumo. Eles priorizam a experiência no lugar da posse, e é notório o crescimento de novos negócios de economia compartilhada, desde bicicletas e patinetes, a ambientes de trabalho (coworking), automóveis e moradia. Se estes novos consumidores têm novas necessidades, o que será da antiga indústria? As montadoras automobilísticas deixarão de fabricar seus veículos? Quais são os valores que estas indústrias terão de agregar ao produto e serviço, para que possibilitem a experiência do usuário? Em contrapartida, se estes consumidores querem “conhecer o mundo”, como as empresas de viagens e seguros se comportarão? Será que tudo continuára da mesma forma? 36 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Nenhuma destas perguntas tem uma resposta correta, mas é notório nesta época exponencial perceber a mobilização, inclusive, de grandes empresas, para entender as tendências e buscar novos caminhos. Elaborar cenários é construir elos coerentes de hipóteses. O objetivo não é prever exatamente o que vai acontecer, até porque isso seria impossível, e sim identificar as diferentes situações que podem ocorrer, de tal forma que a organização possa estar preparada para elas. Esta técnica possibilita a organização a lidar com a incerteza e estar preparada para ela. Comumente as organizações elaboram três tipos de cenários (LOBATO et al., 2009): » Otimista – visam as melhores situações em um ambiente futuro (se tudo der certo...). » Intermediário (ou realistico) – é aquele mais “lógico”, onde algumas premissas se concretizarão e outras não. » Pessimista – visam as piores situações (se tudo der errado...). Para o desenvolvimento dos cenários pode ser considerada apenas a evolução das principais variáveis que influenciarão o futuro, ou podem ser utilizar técnicas avançadas de prospecção. Independentemente, o processo de construção de cenários deve ser constante, possibilitando proatividade e agilidade para mudança, sempre que se perceber o surgimento de novos fatores importantes para o futuro. Os cenários estão diretamente relacionados às tendências e seus impactos nas organizações de uma forma sistêmica. Por exemplo, as tendências que estão surgindo para uma empresa de petróleo podem estar afetando uma seguradora, um banco ou uma universidade. E as tendências deste mundo VUCA podem estar afetando de maneira significativa o futuro de inúmeras organizações, podem estar até mesmo destruindo o futuro de organizações centenárias e construindo o futuro de organizações que ainda nem surgiram! Essas tendências desencadeiam mudanças na competição, nos mercados, nos produtos e nas organizações. A organização deve estar atenta a elas e formular planos de ação para lidar com esse ambiente em constante mudança. Por isso, podemos considerar o desenvolvimento de cenários como uma técnica para discussão de ideias, incentivando a criação de um sistema estruturado para monitorar tendências e eventos importantes. Os cenários ajudam a identificar o ponto no futuro em que decisões relevantes terão de ser tomadas. 37 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II Algumas forma de construir cenários são apresentadas no artigo “Construção de cenários: apreciação de métodos mais utilizados na administração estratégica”. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ESO1387.pdf>. Acesso em 29/09/2019. Considerando os grandes temas mapeados no ambiente geral, deve-se refletir sobre os itens relacionados a seguir, respondendo às perguntas sobre tendências, oportunidades e ameaças relacionadas a cada cenário, dentro de um período de tempo, que pode ser de 5 anos por exemplo (LOBATO et al., 2009). Relações capital-trabalho » Quais são as tendências em relação às novas formas de trabalho (teletrabalho, terceirização etc.)? » Quais são as tendências relativas às formas de participação do trabalhador na gestão? » Quais serão as expectativas do trabalhador com relação à remuneração? » Quais serão as novas demandas relativas a recrutamento e seleção? » Quais serão as novas demandas relativas a desenvolvimento organizacional/treinamento? E as que dizem respeito à relação empregador-empregado? » Quais são as principais competências requeridas do trabalhador? Economia » Quais serão as tendências relativas à expansão do PIB e ao crescimento da economia nos próximos anos? E com relação à inflação e à recessão no país? » Quais serão as tendências com relação à política de crédito e de juros? » Quais serão as tendências relativas à internacionalização da economia? » Quais serão as tendências com relação à taxa de câmbio, exportação e importação, e como isso poderá afetar as organizações e os consumidores? 38 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL » Qual será o perfil da política de gastos públicos? E quanto ao desemprego no país? » Que mudanças significativas poderão ocorrer na economia mundial? Consumidores, mercados e produtos » Qual será o ambiente competitivo que as organizações irão encontrar? » Quais serão os modelos de negócios mais apropriados nesse novo ambiente competitivo? » Quais serão as expectativas e os comportamentos dos consumidores em relação aos produtos/serviços, e como isso afetará os negócios em geral? » Como será o relacionamento com os consumidores? Será afetado pelos avanços da tecnologia? E quanto a comportamento do consumidor? » Quais serão as tendências predominantes no tocante ao desenvolvimento de novos produtos e serviços? Quais serão as tendências relativas ao direito do consumidor? Sociedade e política » Quais serão as tendências relativas à intervenção do Estado na economia, e como isso afetará as organizações no Brasil? Que indica o futuro com relação à privatização no país, e como isso poderá afetar as organizações e a sociedade? » Que estarão fazendo os poderes Executivo, Judiciárioe Legislativo para gerar um ambiente de negócios cada vez mais favorável à prosperidade no país? » Quais serão as expectativas da sociedade e do governo quanto à atuação das organizações pertencentes às administrações direta e indireta? » Quais serão as tendências relativas à organização do terceiro setor, e como isso poderá afetar as organizações? Quais serão as tendências relativas à proteção do meio ambiente e da população em geral? 39 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II Tecnologia » Como as atuais mudanças no campo da tecnologia da informação deverão afetar os modelos de negócio? » Como o relacionamento com os consumidores e fornecedores será afetado pelos avanços da tecnologia? » Que mudanças deverão ocorrer no campo da biotecnologia? » Que transformações ocorrerão na organização dos processos de trabalho? Mediante a este levantamento de tendência, é possível identificar as oportunidades e as ameaçasexistentes. Mas o que são oportunidades e ameaças? Ambos são fatores externos à organização, sendo as oportunidades, situações ou acontecimentos que podem contribuir positivamente para o exercício de sua missão e a concretização de sua visão. Já as ameaças são as situações ou acontecimentos que podem prejudicar o exercício de sua missão e a concretização de sua visão. 40 CAPÍTULO 2 Análise do ambiente interno A análise do ambiente interno compreende o diagnóstico da organização referente às suas forças, fraquezas, capacidades e competências para alcançar os objetivos organizacionais. Na figura 2 é apresentado um modelo de análise ambiental, observando as variáveis e os aspectos as serem considerados. Figura 2. Análise do Ambiente Interno. Recursos: * Tangíveis * Intangíveis Capacidade Forças e Fraquezas Fatores críticos de sucesso Descoberta das competências essenciais Vantagem competitiva Competitividade estratégica Análise da cadeia de valor Terceirizar ou não Valiosa Rara Difícil de imitar Insubstituível O modelo de análise do ambiente interno Fonte: Adaptado de Hitt (2002). Agora vamos entender cada um destes termos/conceitos, e como utilizá-los na análise do ambiente interno. Recursos Os recursos são as entradas (inputs) utilizadas nos processos da organização. Estes podem ser subdivididos em: a) tangíveis (concreto): imóvel, máquinas, equipamentos e matérias-primas/estoques; b) intangíveis (difíceis de se ver, de se tocar, mas perceptíveis): marca, patentes, qualidade, valores e princípios morais. 41 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II A estrutura básica de funcionamento de uma organização está baseada nos recursos existentes e na maneira de gerenciar esses recursos. A gestão dessas capacidades deve ter por objetivo alcançar uma posição competitiva sustentável no mercado, através do melhor uso dos recursos em comparação com os concorrentes. Por este motivo, no diagnóstico estratégico, é o primeiro conceito a ser avaliado. Capacidade Os recursos, em si, não geram vantagem competitiva. Sendo assim, recursos em abundância ou sobressalentes, se não forem bem planejados e utilizados podem, inclusive, ser uma desvantagem, gerando custos e outros desperdícios. A verdadeira vantagem competitiva é resultado da combinação dos recursos disponíveis à organização. A habilidade para gerenciar esses recursos em um ambiente complexo e imprevisível é denominada capacidade. As capacidades de uma organização são resultantes das interações, ao longo do tempo, entre os recursos tangíveis e os intangíveis. Essas capacidades baseiam-se, essencialmente, nas informações e no conhecimento retido pelo capital humano da organização. Sendo o conhecimento a base do desenvolvimento das capacidades, e consequentemente do desenvolvimento das vantagens competitivas sustentáveis. Competências Essenciais Conforme aponta IPEG (2019, Adaptado de PRALAHAD, p. 29), as competências essenciais são um “conjunto de habilidades e tecnologias que permite à organização oferecer um determinado benefício às partes interessadas. É identificada quando gera valor percebido pela parte interessada, provoca diferenciação com os concorrentes e possui capacidade de expansão”. São habilidades e características que possibilitam a organização se diferenciar de seus concorrentes. Podem ser considerados como exemplos uma entrega rápida ou um serviço específico, ou, ainda, a utilização de uma tecnologia que a concorrência não utiliza e que agrega valor ao usuário. A Empresa de saneamento da região metropolitana de São Paulo, a Sabesp, adotou como base norteadora de seus negocios, uma competência essencial “geral”, sendo ela: “Eficiência operacional na prestação de serviços de saneamento em áreas de alta complexidade com soluções inovadoras” (SABESP, 2019). Uma competência essencial não é apenas uma capacidade bem desenvolvida, mas a fonte das vantagens competitivas sustentáveis da organização. 42 UNIDADE II │ ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Outros exemplos de competências essenciais são citadas a seguir: » 3M = inovação e processo de desenvolvimento de produtos. » Coca-Cola = controle da função marketing e capacidade de valorizar a marca. » Wal-Mart = gerenciamento da cadeia de distribuição. Ainda sobre as competências essenciais podemos considerar que as mesmas sejam: a) valiosas; b) raras; c) difíceis de imitar e d) insubstituíveis. Entendendo e desenvolvendo estas características, as organizações atingem desempenhos superiores aos dos competidores, agregando valor aos clientes e criando vantagens competitivas sustentáveis. Forças e fraquezas Uma vez conhecidos os recursos, capacidades e competências essenciais, pode-se diagnosticar a situação do ambiente interno da organização, devendo-se para tanto identificar as suas forças e as fraquezas. Avaliar as forças e fraquezas da organização é realizar o diagnóstico interno que ajuda a definir os tipos de estratégias que podem ser adotadas pela organização. Isso porque, enquanto as oportunidades e ameaças (externos) indicam o que deve ser feito, as forças e fraquezas indicam o que pode ser feito (potencialidades). Uma organização que tem como ponto forte a sua capacidade produtiva deverá cria estratégias que explorem este fator como meio de diferenciação e redução de custos. Ao mesmo tempo, se esta empresa tem uma fraqueza com relação à força de trabalho, alto turnover por exemplo, deve entender esta realidade e buscar meios de intervir e até mesmo melhorar (fortalecer). Logicamente existem fatores que muitas vezes não estão diretamente na alçada da organização, por exemplo, uma organização de pequeno porte que está instalada em uma cidade do interior, e concorre com uma grande multinacional para obter a força de trabalho. Este fator, por si só, gerará uma cultura na cidade de empregabilidade na grande indústria. Cabe à pequena empresa assumir este fator, e se for crucial para o negócio, buscar estratégias de captação e manutenção da força de trabalho. São várias as ferramentas que podem ser utilizadas na realização dos diagnósticos internos, vejamos algumas: pesquisa de clima organizacional por meio de questionários ou entrevistas pessoais, levantamento e benchmarking com os concorrentes e empresas de referência, brainstorming de forças e fraquezas, caixas 43 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL │ UNIDADE II de sugestões e reclamações e avaliações de desempenho individual, de equipes ou de setores. Muitas vezes temos ideia daquilo em que somos bons e daquilo em que não, isso ocorre até mesmo em nossa vida pessoal. Eu mesmo sou muito bom em escrever e trabalhar em equipe, mas ainda tenho muito o que melhorar em relação à comunicação oral. E você, já fez esta análise? Da mesma forma, a organização deve levantar estes fatores, tendo um importante olhar de dentro pra fora, comparando- se com a concorrência. É fundamental que a análise seja estruturada e que utilize um sistema de informação e monitoramento, o qual deverá manter atualizadas as questões importantes para a gestão estratégica competitiva. Este ciclo deve ser sistemático, periódico e possuir bases comparativas consistentes e relevantes. A exemplo de questões tecnológicas, as quais cada vez mais impactam os negócios, desta forma algumas perguntas surgiram: como estou atualmente, possuo tecnologia adequada? Quais são as novas tecnologias que estão surgindo? Qual é a tecnologia da minha concorrência? Fatores críticos de sucesso As principais forças e fraquezas levam-nos à identificação dos fatores críticos de sucesso (FCS) para a organização. Os FCS priorizam as atividades-chave do negócio, que precisam ser muito bem realizadas para que a organização alcance os seus objetivos. É preciso concentrar as energias da organização para que os FCS se transformem em pontos fortes. É preciso identificar os FCS e criar a capacidade de