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ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 – ORTOPEDIA PEDIÁTRICA – DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL – DDQ CASO CLÍNICO LMM, sexo feminino, 1 dia de vida. Neonatologista solicitou avaliação dos quadris. Nascida 38 semanas, parto cesáreo, peso: 4.400. Antecedentes obstétricos: apresentação pélvica e oligodramnio. QUAIS SÃO OS FATORES DE RISCO PARA O CASO? • 1 dia de vida. • Parto cesáreo. • A termo – 38 semanas. • Peso elevado. • Apresentação pélvica. • Oligodramnio – pouco líquido amniótico. AVALIAÇÃO DOS QUADRIS: o Importante avaliar alterações congênitas do quadril; o Existe uma relação conteúdo/continente entre o parto e o feto quando estão dentro do útero: quanto maior o bebê (macrossômico), há menos espaço para ele no útero, consequentemente ele sofrera uma maior ação das paredes uterinas sobre seu corpo → determina variações morfológicas. o Quanto menos líquido amniótico, há uma relação de um feto grande para um espaço uterino diminuído com menos espaço para se mobilizar e uma relação mais direta com as paredes da cavidade uterina. o A diminuição do espaço pode colocar o feto em uma posição que induza má formações. COMO EXAMINAR • Avaliação do membro inferior como um todo. • Posição de semiflexão natural do bebê. • Examina-se em decúbito dorsal de frente para os membros. SANAR →A DDQ geralmente faz parte de um conjunto de anormalidades associadas, tais como torcicolo congênito (17% dos casos) e metatarso adulto. INSPEÇÃO Ao levantar-se o bebê, devemos analisar se existe simetria das pregas: essas pregas da região interna da coxa costumam ser simétricas, a assimetria indica que pode significar uma patologia envolvendo o quadril, como uma perna encurtada com flexão do joelho e quadril. Evolução benigna com tratamento imediato. Pé torto congênito (PTC): É uma deformidade chamada de equinovaro supinado do pé, o qual tem relação direta da posição fetal (alça em torno do pé) associada ao contato do feto com as paredes do útero. Evolução benigna com tratamento imediato, logo após o nascimento. Torcicolo muscular congênito: posição viciosa com o membro lateralizado o que causa uma contratura congênita até a formação do esternocleidomastoideo, o que causa o bebê nascer assim. Tem uma evolução benigna se for tratada de imediato. • USG permite suspeitar essas situações e nos preparar para tratar no nascimento. DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL DEFINIÇÃO (SANAR): um espectro de desordens relacionadas com o desenvolvimento do quadril, que inclui displasia do quadril, subluxação da cabeça do fêmur e luxação da cabeça femoral. EXAME FISICO MANOBRA DE BARLOW: • Pressão na região interna do quadril. Sendo esse quadril displásico/raso, sente-se um click que representa a luxação ou subluxação. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 • Pressão interna na região da coxa com uma leve adução, você escuta um click, luxando. • Vê se esse quadril é instável. • A hiperpressão uterina impede que a cabeça do fêmur molde o acetábulo de forma mais aprofundada (fica raso) e ele fica instável – facilmente sai do lugar. • Tratamento imediato. O teste de Barlow é feito com os dedos indicadores também sobre o trocânter maior, realizando-se flexão e adução do quadril fazendo o movimento de pistonagem, ou seja, a intenção nesse exame é o contrário do teste de Ortolani, pois aqui se intenciona luxar o quadril, ou seja, retirar a cabeça do fêmur do encaixe no acetábulo. O teste será positivo quando ao final do movimento se sente o quadril luxar e escuta o click. Os dois testes positivos em conjunto realizam o diagnóstico da displasia do quadril. MANOBRA DE ORTOLANI: • Analisa se o paciente tem um quadril luxado. Se já nasceu luxado. • Coloca os dedos atras na região do trocanter, fazendo uma abdução e sente-se um click de redução – cabeça do fêmur entrando na cavidade acetabular. • Leve abdução e anteorização, você reduz esse quadril, escuta um click também. • Geralmente faz após Barlow. O teste de Ortolani é feito com os dedos indicadores sobre os trocânteres maiores da criança, com os polegares nas faces internas de ambas as coxas, realiza-se os movimentos de flexão e abdução pressionado os dedos indicadores sobre o trocânter maior para encaixar o fêmur no acetábulo. O teste de Ortolani é positivo quando ao final do movimento é possível sentir um “clunk”, que representa o quadril sendo reduzido, ou seja, mostrando que a cabeça do fêmur não estava adequadamente posicionada no acetábulo, este teste possui alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico. • Barlow e Ortolani positivos = displasia de quadril. • Faz os dois testes mesmo tendo assimetria de pregas. RESTRIÇÃO DE ABDUÇÃO • Em um quadril fora do lugar, comum em luxações, há uma amplitude da abdução reduzida. • Vemos a assimetria de pregas também, bloqueio mecânico. o Normal = 80°. • DDQ: Incapacidade do corpo de desenvolver um quadril adequadamente estável. • Pregas assimétricas indicam problema no quadril. NELATON GALLEAZZI • Avalia a dismetria do membro. • Flexiona os joelhos e observamos uma assimetria – indica que um membro é encurtado. Presença de prega. • Encurtamento de fêmur; diferença da altura dos membros. O sinal de Galeazzi está presente quando o quadril está em flexão e a altura dos dois joelhos não é a mesma, e essa assimetria também indica deformidade no acetábulo. Obs.: Outro sinal encontrado é o de Hart onde haverá uma limitação da abdução do lado afetado devido ao encurtamento dos adutores. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 É importante pontuar que tanto o sinal de Hart quanto o sinal de Galeazzi podem ser simétricos em crianças com displasia bilateral, e são nessas condições que o raio-X é essencial. EXAMES COMPLEMENTARES ULTRASSOGRAFIA: • Confirmar a suspeita através da USG. • Nos primeiros dias de vida não é bem-visto no raio-x. • Verifica a relação entre o acetábulo e a cabeça do fêmur. • Estruturas que indicam o amparo da cabeça do fêmur com o acetábulo: o Musculo abdutor; o Cartilagem acetabular; o Epífise do fêmur proximal - cartilaginosa. o Linha epifisária de crescimento. Ultrassonografia (SANAR): O quadril do recém-nascido é cartilaginoso, e a cabeça femoral não é visível ao raio X. Por isso, até os 6 meses de vida, é mais bem avaliado pela ultrassonografia, que identifica as estruturas cartilagíneas do acetábulo, da cabeça e do colo do fêmur. Podendo servir tanto como método diagnóstico como método de avaliação do tratamento nos primeiros seis meses de vida. RADIOGRAFIA • Radiografia – núcleo secundário da cabeça femoral apenas com 6 meses – se deixar passar até os três meses a cabeça do fêmur terá uma má nutrição e o quadril luxado terá um estabelecimento diferente. • O fêmur tem uma ossificação endocondral – existe um molde cartilaginoso que vai sendo ossificado aos poucos e aos seis meses já há o núcleo secundário de ossificação da cabeça do fêmur que pode ser detectado através do RX. • Esse quadril do lado esquerdo do paciente: núcleo hipotrófico e ectópico. • Linhas para se guiar no RX: o LINHA DE HILGENREINER: linha traçada paralela ao solo, cortando as duas cartilagens trirradiadas. o LINHA DE PERKINS: linha traçada em cada quadril, formando um ponto passando pela na borda lateral do acetábulo e na linha de Hilgenreiner verticalmente (perpendicular ao solo). Formação de 4 quadrantes a partir dessas linhas Hilgenreiner e Perkins – para ser normal o quadril tem que estar no quadrante inferior e medial. § Qualquer que seja a situação, a epífise deve estar no quadrante inferior e medial desses quadrantes formados. o LINHA DO ARCO DE SHENTON: região proximal interna do fêmur faz uma linha harmônica com a borda inferior do púbis/bordasuperior do forame obturatório formando um arco. Essa linha tem que ser harmônica, formando um arco. Se o arco não é formado adequadamente, indica-se uma assimetria. É um arco contínuo, no quadril anormal, será descontinuo. Sanar: Uma radiografia em anteroposterior da bacia com as articulações coxofemorais em posição neutra permite o traçado de linhas, sendo a primeira linha a de Hilgenreiner, que passa no centro da cartilagem trirradiada dos dois quadris. Além dela, devem ser traçadas duas linhas perpendiculares à linha de Hilgenreiner, que são as linhas de Perkins, e assim são traçados quatro quadrantes. Normalmente a cabeça do fêmur se encontra no quadrante inferior medial, e com isso, quando há displasia do quadril a posição estará inadequada. Outro indício que o raio-X pode evidenciar é o arco de Shenton, demonstrado pela face medial do fêmur e borda superior do forame obturatório, que devem formar um arco contínuo de um lado até o outro, quando há displasia de quadril, o lado contralateral não é possível traçar o mesmo arco. TRATAMENTO • Depende da idade. • Se a detecção for imediatamente - neonatos → por suspensório de pavlik por seis semanas. • Se for de 1 a 6 meses → deve-se fazer a redução do quadril (as vezes deve ser cirúrgica e com sedação, pois não é tão fácil mais, tem que ter cuidado para nãos fazer uma fratura) e pavlik por 6 semanas. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 • Quando o bebê tem mais de 6 meses → geralmente é cirúrgico. Ex. osteotomia pélvica. SUSPENSÓRIO DE PAVLIK • O suspensório de pavlik confere uma abdução e rotação interna do membro, fazendo com que o fêmur proximal fique em contato direto com o acetábulo. SEQUELAS • Acetábulo displásico: • Quadril com asa de ilíaca e dificuldade de deambular. • Quadril displásico que se manteve subluxado, forçando a borda lateral do acetábulo até modificar a morfologia dessa estrutura: Sequelas para pacientes sem tratamento - limitações físicas, não consegue andar no padrão da normalidade. • Pode gerar uma artrose. SANAR: É importante pontuar que existem quatro complicações principais associadas à DDQ. Duas delas estão relacionadas ao tratamento, que são a doença de Pavlik e a lesão do nervo femoral, sendo essas duas complicações inerentes ao uso do suspensório de Pavlik, quando ele fica em abdução ou flexão excessiva, respectivamente. A depender da força imposta sobre a cabeça do fêmur, ela pode sofrer necrose. A lesão do nervo femoral pode ser uma praxia, ou seja, diminuir a sensibilidade do nervo. As outras duas complicações estão associadas à doença em si, que são a displasia residual de fêmur e acetábulo. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 LEGG CALVE PERTH DEFINIÇÃO • Doença autolimitada, caracterizada por isquemia e variáveis graus de necrose da cabeça femoral. • Há um colapso vascular gerando fraturas subcondrais seguidas de reabsorção e remodelação óssea, levando, ou não, à deformidades. • Acontece na infância. • A detecção precoce evita deformidades – porque ainda existe uma esfericidade do osso. • Causa idiopática. • Seta: linha de fratura subcondral – sinais clássicos da doença. • RX: linha escurecida que representa a perda da vascularização. INCIDÊNCIA • Muitos casos sem diagnóstico. • 1 feminino: 3,7 masculinos. • Mais prevalente de 4 a 12 anos. • 82% → 4-9 anos. o Pico em torno de 6 a 7 anos. • 10 a 12% bilaterais. • Não há padrão de herança genética. EPIDEMIOLOGIA • 0,8% dos pais (Gray 1972); • 3,8% dos irmãos (Gray 1972); • 0,3% dos parentes de 2o e 3o graus (Gray 1972); • Parece não haver evidências de fatores genéticos associados (Wynie-Davies 1978); • Baixa estatura (Fisher 1972); • Atraso na idade esquelética (Goff 1954); • Baixo peso ao nascer (Malloy e MacMahon 1967); • Fumo (Matos e Gusmão 2004). ETIOLOGIA • É causada por avascularização (ou hipovascularização) da epífise femoral; • São necessários múltiplos episódios de infarto e em fases distintas; • Associações a trauma, suscetibilidade, fatores hereditários, coagulabilidade, hiperatividade, fumantes passivos; • Sinovite, endocrinopatias, fatores ambientais; • Pressão hidrostática intra-articular elevada – interrupção do suprimento sanguíneo por tamponamento dos vasos retinaculares (trauma, sinovite transitória) – (Tachidjian e Grana 1968); • Aumento da viscosidade sanguínea pode ser um fator desencadeante da necrose (Kleinman e Bleck 1981); • Aumento da pressão venosa intraóssea (Green e Griffin 1982); • Trombofilia – baixos níveis proteína C ou S, ou resistência à proteína C ativada. • Quando a cabeça do fêmur isquêmia ou infarta, faz com que haja uma fratura subcondral do núcleo de ossificação, então, o organismo vai revascularizar esse núcleo, fazendo com que ocorra a deformação. • Acontece uma fratura subcondral em que há uma redução da altura da epífises e uma área trabecular compressiva reduzida. Por fim, ainda pode a ver uma cabeça achada pelo peso. • Redirecionar o remodelamento que é importante. • Qual a artéria que nutre a maior parte da cabeça do fêmur? Artéria circunflexa medial do fêmur (70%-80%). • A artéria obturada interna, nutre apenas 1% dessa região; QUADRO CLÍNICO • Geralmente, a criança com doença de Legg-Calvé- Perthes é uma criança com 2 a 12 anos sem sinais e sintomas sistêmicos importantes. • Claudicação antálgica. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 • Dor insidiosa de média intensidade na face ântero-medial da coxa e do joelho, associada a estresse; • Dor no quadril, inguinal, irradiada para o joelho, é a dor clássica. • História de trauma – sinal de alerta para investigação, mas não é o que causou a doença. AVALIAÇÃO DO EXAME FÍSICO • Membro em abdução-flexão-rotação externa; • Limitação da abdução; • Limitação da rotação interna; • Encurtamento do membro. MARCHA E SINAL DE TRENDELENBURG: fraqueza no mecanismo abdutor do glúteo que mantem o quadril equilibrado, ficando apoiado em uma perna só. Assim, claudica- se pela fraqueza daquela perna. • Marcha claudicante; • Fraqueza do glúteo; • Teste para ver se tem flacidez do glúteo médio; • Paciente quando fica em uma perna só o quadril contralateral vai ceder pela fraqueza do glúteo médio. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL • Sinovite transitória; • Artrite piogênica; • Artrite reumatóide juvenil; • Febre reumática; • Artrite tuberculosa; • Tumores; • Displasia epifisária múltipla; • Displasia de Meyer; • Hipotireoidismo; • Síndrome tricorrinofalangeana; • Doença de Gaucher; • Falcemia. AVALIAÇÃO POR IMAGEM • Radiografia simples (melhor): epífises bastante infartada e degenerada. • Núcleo de ossificação fragmentado, áreas de reabsorção e de remodelação óssea; • Sítios de hiper e de hipodensidade radiográfica entremeados. • Preocupante, esse quadril jamais será normal; • Geralmente pede-se radiografia em AP e em perfil de RAM ou laustnner. • Ressonância magnética (principalmente em quadros iniciais): serve para analisar a estrutura do quadril, mas não tem muito efeito no tratamento. Geralmente faz raio-x e ressonância. • Cintilografia: sinais hipocaptação na região. • Artrografia. • Tomografia. • Ultrassonografia. Incidência de RAM ou laustnner. SANAR: A depender da fase, alterações diferentes no exame, como radioluscência aumentada no osso subcondral, opacidade aumentada da cabeça do fêmur afetado, a qual também pode já apresentar deformações, que ficam mais aparentes nos estágios mais avançados da doença. A doença de Perthes também pode ser diagnosticada com a ajuda do raio-x na posição Frog Leg, que é feito em perfil com a criança em posiçãode rã, ou seja, com os quadris completamente abduzidos, evidência da mesma forma aumento da radioluscência no osso subcondral e aumento da opacidade em outras regiões da cabeça do fêmur. TRATAMENTO • O tratamento não deve interferir na história natural, o tratamento não pode mudar o que está indo bem. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 • Quando a história natural for favorável, o tratamento não deve interferir no seu curso – se há melhora, sem dor, anda bem. • Quando a história natural for desfavorável, o tratamento deverá ser capaz de modificá-la. MÉTODOS CONSERVADORES • Durante 4 a 6 semanas; • Órtese de abdução tipo Atlanta; • Órteses de abdução-rotação interna; • Gesso de Petrie: fazendo em abdução e rotação interna, remodelando a cabeça do acetábulo. • PRÉ-REQUISITOS para esses tratamentos: o Boa redução da cabeça do fêmur dentro do acetábulo; o Força muscular e equilíbrio – porque o que vai modelar a cabeça é o acetábulo, o acetábulo já esta formado, a forca muscular é para conter esse osso no acetábulo; o Amplitude de movimento tem que estar normal – se tiver redução da amplitude tem limitação do resultado. TRATAMENTO CIRÚRGICO • Osteotomia periacetabular – técnica de bernese: realinhar o acetábulo com a cabeça do fêmur. • Sempre vai ter artrose. HISTÓRIA NATURAL • 2/3 dos pacientes apresentam cabeça ruim na maturidade esquelética – na adolescente. • Até 40 anos após o início dos sintomas mais da metade dos pacientes apresenta alterações radiológicas, contudo 70 a 80% apresentam-se clinicamente assintomáticos. • Os quadris sintomáticos mais precocemente são aqueles com alterações significativas da cabeça na cura primária. • Após 40 anos os quadris começam a deteriorar funcional e radiologicamente, sendo que metades dos pacientes podem apresentar dor e incapacidade. • A taxa de artroplastias realizadas e possíveis chega a aproximadamente 15 a 20%. • Após 50 a 60 anos do início dos sintomas, 70% dos pacientes já apresentam artrite degenerativa severa. • Desenvolve um processo degenerativo rápido. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 EPIFISIÓLISE DO FÊMUR PROXIMAL DEFINICAO • Deslizamento do colo femoral em direção anterior e superior em relação à epífise femoral proximal, que permanece em sua posição anatômica em relação ao acetábulo. o Não é a epífises que desliza. o *Colosiólise. o Só acontece em quem ainda não fechou a fise. INCIDÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA • Varia de acordo com sexo, raça e região geográfica; • Idade de início em torno dos 13 a 15 anos (meninos) e 11 a 13 anos (meninas); • Mais comum em negros (dados dos EUA); • Incidência geral estimada 2:100.000; • Mais comum no sexo masculino 2:1; • Esquerdo 3:1; • Bilateral 25%; Para detectar o deslizamento: traça uma linha na epífise que é o eixo mecânico do fêmur e faz outra linha perpendicular à cabeça do fêmur. Em AP: O ângulo deve ser 145º e se for menor o colo estar deslizando. Incidência de RAM: o ângulo deve ser menor que 10º. Aqui faz a mesma coisa, traça a linha e liga as pontas, se o ângulo estiver aumentado significa que está havendo deslizamento. Como traçar o ângulo: faz uma linha de uma ponta das epífises a outra e fazer um outro traço de 90° no meio em relação ao primeiro que é o eixo do fêmur. Depois essa linha, traça-se uma perpendicular a ela que irá se cruzar com a linha formada pelo centro do fêmur, e formando um ângulo que deve estar entre 135-145°. Se esse ângulo está reduzido para 110-120°, há um quadril com alteração. (na imagem antero- posterior) CLASSIFICAÇÃO • Existe uma graduação para o deslizamento, que quanto maior pior o prognostico. • Crawford, 1988: baseada na extensão do deslizamento: o Até 33%: leve; o Entre 33% e 66%: moderado; o Acima de 66%: grave. ETIOLOGIA • Fatores mecânicos: o Afilamento do complexo do anel pericondral. o Retroversão femoral relativa ou absoluta. o Mudança da inclinação da fise femoral proximal no adolescente relativa ao colo e diáfise. • Fatores hormonais – associações: o Biotipo adiposo genital: menino grande, pesado e gordinho. o Hipotiroidismo (tratado ou não). o Insuficiência rena. Obs.: A maioria dos pacientes com epifisiólise femoral proximal é normal do ponto de vista endócrino-metabólico. PATOLOGIA • Com o deslizamento progressivo, o periósteo anterior é distendido, e o posterior é afrouxado. O espaço subperiosteal é preenchido com calo ósseo neoformado. Pode haver hemartrose nos deslizamentos agudos. o Escorregamento do colo femoral e a epífises fica dentro do acetábulo. Com isso, haverá um tensionamento do periósteo, o que pode ocasionar na formação de uma giba/calosidade pela consolidação. § Não se deve recolocar o quadril, pois pode-se romper o periósteo. • Ocorre um estágio de pré-deslizamento, com alargamento fisário e fragilização, com a “fratura” geralmente ocorrendo na zona hipertrófica. o A fise de crescimento tem várias camadas: na camada hipertrófica as células tendem a crescer. Contudo, nesses casos, ela está fragilizada, tornando-se deslizável. ACHADOS RADIOLÓGICOS ULTRASSONOGRAFIA • Pode demonstrar alterações precoces: o Efusão articular. o Degrau entre a epífise e o colo femural. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA • Maior fidelidade para traçar o ângulo epífise-diáfise. • Avalia bem retroversão femural. • Avalia melhor a penetração de implantes na cartilagem articular. • Não é fundamental para diagnóstico e maioria dos casos de tratamento. CINTILOGRAFIA – TC99 (TECNÉCIO) • Hipercaptação na epífise acometida. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 • Hipocaptação na vigência de necrose avascular. • Hipercaptação no espaço articular em caso de condrólise. RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA • Detecta alterações precoces da patologia. • Alto custo; não é rotina, uma vez que os casos podem ser conduzidos de forma eficaz com RX, USG ou até TC. TRATAMENTO MANEJO INICIAL • Tratamento sintomático. o O quadril inflama, causando dor – no estágio de pré deslizamento. • Investigação radiológica. • Evitar manobras forçadas ao exame físico. TRATAMENTO DEFINITIVO • Objetivo é estabilizar a epífise femural proximal ao colo do fêmur a fim de prevenir novo escorregamento. • Outros fins podem incluir epifisiodese ou redução do desvio epifisário. TRATAMENTO - DESLIZAMENTO ESTÁVEL • Usada principalmente em pacientes assintomáticos. • Pouco prejuízo vascular; • Reduzir essa lesão faz colapso vascular e vai fazer necrose da epífise. Evitar deslizamento. Entra no meio do colo. • Quando fixa, tomar cuidado para não perfurar a cabeça e fazer lesão condral. • Uso de tomografia para controle pós operatório. DESLIZAMENTO INSTÁVEL • Fixação com parafuso. • Quando você fixa e ele continua deslizando. • Mesmo princípio para o deslizamento estável – fixação com o parafuso centralizado na EPÍFISE, independente da redução. o A redução da epífise pode promover um novo colapso vascular. § A fixação in situ evita um novo colapso vascular. • Prognostico pior do que o do deslizamento estável. FIXAÇÃO CONTRALATERAL PROFILÁTICA • Tema bastante discutido. • A alta prevalência de deslizamentos contralaterais levou vários autores a recomendarem fixação contralateral profilática no mesmo ato cirúrgico. • Lembrar que a fixação não é isenta de complicações. • Considerar fixação profilática nos casos de: o Endocrinopatias confirmadas. o Sexo Feminino – devido a um quadro pior. § Uma deformidade no quadril pode determinar uma dificuldade para o parto. § Mais graves e mais rapidos. o Idade precoce de apresentação. o Baixas condições socioeconômicas – dificuldade de acesso a assistência. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIAAULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 COMPLICAÇÕES CONDRÓLISE • Destruição da cartilagem articular da cabeça do fêmur e acetábulo. • Começa a fazer infarto condral e no futuro pode causar artrose precoce. • Etiologia desconhecida. • Relacionada com imobilização prolongada ou penetração da cartilagem articular. • Clínica: quadril doloroso, com rigidez, e mantido em flexão, abdução e rotação lateral. • Radiograficamente: redução do espaço articular (< 3mm ou < 50% do quadril oposto). • Tratamento é de suporte. • História natural variada: pode resolver espontaneamente com pouca limitação residual ou evoluir para osteoartrose. NECROSE VASCULAR • Complicação mais grave. • Mais relacionada ao tratamento de redução do deslizamento (aberta ou fechada) e osteotomias do colo femoral. o A redução gera um novo colapso vascular e os parafusos invadem a cavidade acetabular. • Apresentação variável – total ou segmentar, precoce ou tardia. • Tratamento principal é a PREVENÇÃO. • Prognóstico – alterações degenerativas precoces – artrose. • Sintomatologia variável. • Necrosou a epífise. • Artrose precoce e prótese. A LUXAÇÃO CONTROLADA DE GANZ • Luxação controlada do quadril que não prejudica a vascularização primária principal da cabeça do fêmur. • Promove um posicionamento mais adequado da epífise sobre o colo. • Via de acesso utilizada para fazer a redução sem prejudicar a vascularização. • Evita a lesão vascular que nutre a epífise. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA AULA 3 - RODRIGO NUNES 06/04/2022 ARTRITE SÉPTICA Caso clínico: VSF, 4 anos, masculino. Claudicação e dor progressiva no joelho direito há 02 dias. Refere 2 picos febris de 38, 5º. Pneumonia há 1 semana. Ao exame físico: T=39º, paciente não apoia MID, dor a palpação superficial. • Diagnóstico provável: artrite séptica. DEFINIÇÃO (LIVRO): A infecção articular denomina-se artrite séptica e, em geral, é causada por bactéria patogênica com disseminação via hemática ou em decorrência de uma osteomielite metafisária. A infecção articular leva a destruição da cartilagem, a necroses epifisárias e a luxações, que serão de dificílimo tratamento ou apresentarão sequelas irreversíveis. Portanto, da mesma forma que na osteomielite, um diagnóstico precoce e um tratamento perfeitamente eficiente são muito importantes. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo; • Leucograma – 20.500 com 6% bastões – desvio para a esquerda, células imaturas na corrente sanguínea; • VHS – 120 mm; • PCR – 72. • Cultura. • Pode ou não encontrar achados no raio x. • Pode ter um alargamento da articulação, do espaço articular, capsula articular tensa. • Líquido que aumenta a pressão articular do joelho. • Não consegue mobilizar o joelho, causa muita dor. • Se tiver muita duvida pode fazer USG, se tiver disponível. Obs.: quem tem pioartrite não mexe a articulação – muita dor. CONDUTA Punção articular: para buscar a bactéria ali presente. O exame é melhor quando o envelope articular está fechado. • Faz punção antes de drenar porque o infiltrado vai ser inócuo, mais verdadeiro, para fazer a pesquisa do patógeno. • ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL: o Aspecto macroscópico/ quantidade. § Ex. aspecto de pus, amarelado. o Celularidade. o Bioquímica. o Gram. o Cultura. • Para limpeza, lavagem, do joelho com solução salina. AGENTES ETIOLÓGICOS • O paciente deve ser internado. TRATAMENTO (ANTIBIOTICOTERAPIA) • 2 semanas endovenoso; • 3 - 4 semanas oral.