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ACESSE AQUI ESTE MATERIAL DIGITAL! TANISE FITARELLI PANDOLFI FRIDRICH NUTRIÇÃO HOSPITALAR Coordenador(a) de Conteúdo Renato Castro da Silva Projeto Gráfco e Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Daiane Victória Maass Design Educacional Vanessa Graciele Tibúrcio Revisão Textual Carlos Augusto Brito Oliveira Ilustração Andre Luis Azevedo da Silva e Eduardo Aparecido Alves Fotos Envato e Shutterstock Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Ficha catalográca elaborada de acordo com os dados ornecidos pelo(a) autor(a). Núcleo de Educação a Distância. FRIDRICH, Tanise Fitarelli Pandol. Nutrição Hospitalar / Tanise Fitarelli Pandol Fridrich. - Florianópolis, SC: Arqué, 2024. 252 p. ISBN papel 978-65-6083-710-2 ISBN digital 978-65-6083-711-9 1. Nutrição 2. Hospitalar 3. EaD. I. Título. CDD - 612.3 EXPEDIENTE FICHA CATALOGRÁFICA N964 02511587 RECURSOS DE IMERSÃO Utilizado para temas, assuntos ou con- ceitos avançados, levando ao aprofun- damento do que está sendo trabalhado naquele momento do texto. APROFUNDANDO Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de lmes que se conectam com o tema do conteúdo. INDICAÇÃO DE FILME Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de livros que agregarão muito na sua vida prossional. INDICAÇÃO DE LIVRO Utilizado para desmisticar pontos que possam gerar confusão sobre o tema. Após o texto trazer a explicação, essa interlocução pode trazer pontos adicionais que contribuam para que o estudante não que com dúvidas sobre o tema. ZOOM NO CONHECIMENTO Este item corresponde a uma proposta de refexão que pode ser apresentada por meio de uma frase, um trecho breve ou uma pergunta. PENSANDO JUNTOS Utilizado para aprofundar o conhecimento em conteúdos relevantes utilizando uma lingua- gem audiovisual. EM FOCO Utilizado para agregar um con- teúdo externo. EU INDICO Professores especialistas e con- vidados, ampliando as discus- sões sobre os temas por meio de fantásticos podcasts. PLAY NO CONHECIMENTO PRODUTOS AUDIOVISUAIS Os elementos abaixo possuem recursos audiovisuais. Recursos de mídia dispo- níveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. 4 U N I D A D E 3 DIETAS HOSPITALARES, DE PROVA E PREPARO PARA EXAMES 70 U N I D A D E 4 SUPLEMENTAÇÃO ORAL DE VITAMINAS E MINERAIS 104 U N I D A D E 5 PACIENTE ADULTO 130 U N I D A D E 1 CUIDADOS NUTRICIONAIS COM O PACIENTE HOSPITALIZADO 8 U N I D A D E 2 TRIAGEM E AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 36 U N I D A D E 6 PACIENTE HEPATOPATA 162 U N I D A D E 7 PACIENTE RENAL CRÔNICO 184 U N I D A D E 8 PACIENTE ONCOLÓGICO 208 U N I D A D E 9 PACIENTE DPOC – DOENTE PULMONAR OBSTRUTIVO CRÔNICO 232 5 CAMINHOS DE APRENDIZAGEM UNIDADE 1 MINHAS METAS CUIDADOS NUTRICIONAIS COM O PACIENTE HOSPITALIZADO Conhecer as atribuições de um nutricionista em âmbito hospitalar. Entender como unciona o recebimento de um paciente em ala hospitalar. Compreender o uncionamento do trabalho em Equipe Multiprossional. Perceber as interações entre a Nutrição Clínica e a produção de alimentos. Aprender sobre a instituição de dieta hospitalar. Entender a elaboração dos mapas de dietas. Compreender a importância do acompanhamento nutricional do paciente hospitalizado. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 1 8 INICIE SUA JORNADA Feche os olhos por um momento e imagine um hospital. Suponho que se você já não trabalha neste ambiente e buscou apenas referências em seu subconsciente, deve ter visto imagens que observamos costumeiramente em programas de TV ou mesmo em jornais. Normalmente salas cheias, luzes brancas e fortes, pessoas correndo para prestar socorro, ambulâncias, soros, medicamentos, desbriladores, e assim por diante. O que envolve o trabalho em hospital e em que momento entra o suporte nutricional e o nutricionista? Na verdade, por trás de todo esse atendimento queocorre em um pronto-socorro, o trabalho em hospital adentra a vida das pessoas, estando presente desde o nascimento, até o momento dos cuidados paliativos e assim da morte. E para que haja o suporte necessário à vida, existem necessidades muito maiores do que apenas o atendimento médico. E sim, aqui entra o suporte nutricional ao paciente hospitalizado. Já dizia Hipócrates: “que teu alimento seja teu remédio e que teu remédio seja teu alimento”, e ele, considerado o pai da medicina, já nos ensinava a importância do alimento não apenas para a manutenção da vida, mas para proporcionar cura e recuperação. Você já tinha parado para pensar no quanto a alimentação pode impactar não apenas a vida das pessoas, mas o seu processo de recuperação? Imagine um paciente que interna por hiperglicemia e descobre o diagnóstico de diabetes? Como a nutrição pode ajudar nesse processo? E essa é a beleza do trabalho nutricionista, utilizar de algo simples e comum como um simples alimento, como um elemento promotor de cura e recuperação. E posso dizer que vai além disso, pois a comida em si, insere-se em nossa vida em todos os momentos, sendo uma parte que promove sensação de acolhimento e está envolvida em sentimentos de amor. As- sim, usar a alimentação em âmbito hospitalar serve como um recurso que humaniza o atendimento e traz um apelo emocional ao mesmo tempo em que fornece nutrientes necessários para pro- mover recuperação. UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Trabalhar em hospital exige aprender a trabalhar de orma interdisciplinar. Vamos ouvir um pouco mais sobre esse assunto? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Durante nossa disciplina iremos aprofundar o conhecimento em relação ao desenvolvimento das atividades do nutricionista em hospital. Para que esse conteúdo possa ser desenvolvido, é importante que você retome os conteúdos trabalhados nas disciplinas de dietoterapia. Além disso, no Brasil, temos o Guia Alimentar para a População Brasileira, que é uma diretriz para as nossas condutas. Sendo assim, considero esse conteúdo uma chave para todo profssional.Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem DESENVOLVA SEU POTENCIAL FUNCIONAMENTO INTEGRADO DO HOSPITAL Os hospitais são instituições de grande complexidade, e por causa disso, necessitam de regras e protocolos para que todas as operações ocorram de forma articulada e por m consiga-se realizar o atendimento e a recuperação das pessoas que o procuram. Conforme o artigo 3º da Portaria nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013 (BRASIL, 2013): “ Os hospitais são instituições complexas, com densidade tecnoló- gica especíca, de caráter multiprossional e interdisciplinar, responsável pela assistência aos usuários com condições agudas ou crônicas, que apresentem potencial de instabilização e de compli- cações de seu estado de saúde, exigindo-se assistência contínua em regime de internação e ações que abrangem a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação. Assim, ao chegar em um hospital, temos uma sequência lógica de entrada. Primeiramente serão realizados protocolos de recebimento, para garantir que o paciente seja vinculado sempre aos dados corretos. No momento de sua chegada a equipe de saúde passa a ser responsável pelo usuário, devendo acolher e respeitar suas especicidades socioculturais e garantir a sua assistência e segurança. Sim, a segurança do pa- ciente, regulamentada pela RDC nº 36 de 2013 (BRASIL, 2013), tem como primeira meta a identicação correta do paciente. E essa começa na porta de entrada, com a conferência de documentos, preenchimentode dados em sistema/prontuário, e atual- mente em quase todas as casas de saúde, confecção de etiqueta com informa- ções impressas para conferência durante a internação. Todo esse cuidado pode parecer um tanto exagerado, entretanto, vou propor algumas questões para você refetir sobre a importância da correta identifcação: • O paciente José dos Santos, lho de Maria dos Santos, nascido em 10 de evereiro de 1960 interna para cirurgia de retirada de um tumor hepático e ao mesmo tempo o paciente José dos Santos, lho de Maria Regina da Silva, nascido em 15 de dezembro de 1980 interna para uma cirurgia no joelho. Ambos estão no bloco cirúrgico, e são chamados para a cirurgia. Já pensou se não é eita a correlação dos dados para conerência antes do processo cirúrgico? Se apenas levássemos em consideração o nome e o sobrenome? • A paciente Maria da Silva tem doença celíaca e, portanto, segue uma dieta isenta de glúten, entretanto nomesmo quarto a paciente Maria Pereira e Silva segue dieta livre. Ao entrar no quarto, a copeira chama apenas pelo primeiro nome e entrega para Maria da Silva um bolo de lanche que seria da Maria Pereira e Silva. Já pensou nas consequências para a Maria, celíaca, ingerindo um alimento com glúten? Conseguiu entender a importância da correta identicação do paciente? Esses são apenas alguns exemplos, mas temos a importância dos medicamentos, de exames laboratoriais, entre tantas outras questões. Para tanto, a recomendação é que ao UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 1 entrar em contato com um paciente beira leito, todo o prossional faça a confe- rência dos dados antes de qualquer ação, ou seja, ao invés de chamá-lo pelo nome, pergunte ao paciente seu nome completo e sempre que possível conrme os dados básicos na pulseira de identicação. Cabe ainda ao prossional informar sem- pre que houver alguma informação irregular ou mesmo solicitar nova pulseira ao identicar a falta da mesma. Tudo isso para garantir que o paciente certo, receba o atendimento correto e assim sejamos mais assertivos em nossos tratamentos. Para elucidar um pouco mais sobre a identicação do paciente, indico um breve vídeo. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO Após esse processo o paciente será encaminhado para os atendimentos neces- sários. Para os casos de internação, o paciente é levado até o leito onde terá pri- meiramente o atendimento da enfermagem. Em quase todos os locais, já nesse momento, ou na triagem da enfermagem, são realizados os primeiros questiona- mentos que serão partilhados com a equipe de nutrição, como aferição de peso e altura e mesmo informações básicas sobre tolerância alimentar e informações sobre alergias, por exemplo. O Programa Nacional de Segurança do Paciente, em vigor desde 2013, visa diminuir os efeitos adversos e o risco que as pessoas têm ao serem atendidas em âmbito hospitalar. Esse programa propõe a implantação de Núcleos de Seguran- ça do Paciente em todos os estabelecimentos de saúde, com intuito de ampliar o conhecimento e a cultura de segurança e promover ações em direção a esse propósito. Para as primeiras metas, temos: Figura 1 - Cartaz de Divulgação das metas do Programa Nacional de Segurança do Paciente. Fonte: adaptada de Ministério da Saúde (2021). Descrição da Imagem: a imagem apresenta um cartaz com o título “Segurança do Paciente”. Abaixo são elencados em seis blocos retangulares as seis metas: o primeiro bloco tem cor vermelha e nele está escrito: 1 - identicar corretamente o paciente; o segundo bloco tem cor amarelo ouro, e nele está escrito: 2 – Melhorar a comunicação entre os prossionais de saúde; o terceiro bloco tem cor azul, e nele está escrito: 3 – Melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos; o quarto bloco tem cor roxa, e nele está escrito: 4 – Assegurar cirurgia em local de intervenção, procedimento e paciente corretos; o quinto bloco tem cor verde, e nele está escrito: 5 – Higienizar as mãos para evitar infecções; o sexto e último bloco tem cor laranja, e nele está escrito: 6 – Reduzir o risco de quedas e de úlceras por pressão. Abaixo do último bloco está a frase: Melhorar a sua vida, nosso compromisso. Acesse o site: www.saude.gov.br/segurancadopaciente. Abaixo o símbolo da Anvisa, do SUS, do Ministério da Saúde e do Governo Federal. Fim da descrição. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 1 ATRIBUIÇÕES DO NUTRICIONISTA CLÍNICO HOSPITALAR O Nutricionista pode trabalhar em diversas áreas, conforme determinação do Conselho Federal de Nutricionistas segundo a Resolução do CFN nº 600 de 25 de fevereiro de 2018 (CFN, 2018). No âmbito hospitalar, temos duas áreas possíveis, uma na Alimentação Coletiva atuando na Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) e outra na área clínica, a que iremos nos ater um pouco mais, trazendo as subáreas nas quais podem ser desenvolvidas atividades, que são: ■ A. Subárea – Assistência Nutricional e Dietoterápica em Hospitais, Clínicas em geral, Hospital-dia, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Spa clínicos. Dentro dessa atribuição estão englobados todos os atendimentos diretos aos pacientes: execuçãodetriagem,avaliaçãonutricionaleoutrosprotocolos.Estabelecimentodediag- nóstico nutricional e prescrição dietética. Registro em prontuário do paciente a prescri- ção dietética e evolução do paciente. Solicitação de exames laboratoriais de acordo com a necessidade dietoterápica. Prescrição de suplementos e fórmulas orais e enterais. Orien- tação nutricional para pacientes e familiares durante a internação e para alta hospitalar. Além disso, estão previstas ações em parceria com os nutricionistas responsáveis pela produção dos alimentos. Participação de equipe multiprossional e integra- ção em outras equipes e comissões pertinentes. ■ E. Subárea – Assistência Nutricional e Dietoterápica em Bancos de Leite Humano (BLH) e Postos de Coleta. O contato direto com o paciente sugere incentivo e promoção ampla ao aleita- mento materno, seguindo as diretrizes da Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância (NBCAL). Prestar assistência à gestante, puérpera, nutriz e lactente na prática ao aleitamento ma- terno, sejam esses pacientes internados ou não. Quanto aos procedimentos padrão de Banco de Leite, cabe ao nutricionista elaborar e implementar o Manual de Boas Práticas , atualizando-o sempre que necessário e mantendo o acompanhamento e treinamento da equipe para garantir que todas as etapas, desde a coleta, pasteurização e distribuição do leite materno sejam seguras e garantam a qualidade higiênica-sanitária do leite. 4 Ainda interagir com equipe multiprossional e participar de comissões pertinen- tes, bem como promover treinamentos na área também são parte das atribuições do nutricionista clínico atuando em Banco de Leite Humano. ■ F. Subárea – Assistência Nutricional e Dietoterápica em Lactários. O nutricionista que atua em lactário deve estabelecer, elaborar, supervisionar e implementar o Manual de Boas Práticas e os Procedimentos Operacionais Padrão para todas as atividades que envolvam fórmulas infantis, desde a aquisição de insumos, até acondicionamento, preparo e distribuição. Todas as atividades são voltadas para que haja segurança alimentar em todos os preparos ali realizados. Quanto às outras atividades, o nutricionista de lactário deve auxiliar os familiares com orientações com vistas à alta hospitalar. Bem como interagir com os outros nu- tricionistas da equipe clínica, trabalhando em equipe para auxiliar na denição de procedimentos complementares na assistência do paciente, e não apenas com os nutri- cionistas, mas em equipes multiprossionais para prestar assistência integrada à saúde. ■ G. Subárea – Assistência Nutricional e Dietoterápica em Centrais de Terapia Nutricional. O nutricionista que atua em Terapia Nutricional irá atuar como nutricionista clínico de pacientesem necessidade de terapia nutricional, seja oral ou enteral, atuando na avaliação, prescrição dietética e acompanhamento do paciente durante a internação e prestando orientações nutricionais para pacientes e familiares no momento de alta. Também deverá estabelecer, elaborar, supervisionar e implementar o Manual de Boas Práticas e os Procedimentos Operacionais Padrão para todas as atividades que envolvam terapia nutricional, desde a aquisição de insumos, até acondicio- namento, preparo e distribuição. Todas as atividades são voltadas para que haja segurança alimentar em todos os preparos ali realizados. Interessante observar como o nutricionista, mesmo clínico, em âmbito hospitalar, pode estar atuando em áreas ans e que também envolvem processo de produção e qualidade de alimentos, gestão e coordenação de equipe. Mostrando que a prossão de Nutricionista está muito além de apenas um prescritor de dietas como muitos podem pensar. Perpassamos por diversas áreas e muitas são nossas atribuições e responsabilidades no que diz respeito ao cuidado e bem-estar do nosso paciente. UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 RECEBIMENTO DE PACIENTES E PRIMEIRAS INFORMAÇÕES Após a internação de um paciente e seu encaminhamento a ala, como falado anteriormente, ele vai estar em contato com a equipe de enfermagem. No tocan- te à nutrição, conforme recomendação da ASBRAN (2014) ele deverá receber a triagem nutricional preferencialmente em até 24h da admissão. A triagem é um primeiro contato que irá determinar o risco do paciente e assim qual o nível de assistência que esse paciente necessita, ou seja, se é primário, secundário ou terciário. Em alguns casos, essa triagem, que é uma avaliação supercial, como por exemplo a Avaliação Subjetiva Global (ASG), pode ser realizada inclusive pela equipe de enfermagem no recebimento do paciente, sendo importante o treinamento da equipe pelos nutricionistas para que tenhamos conabilidade nos dados coletados. Outra sugestão é que seja realizada através de um ques- tionário autoaplicado pelo paciente ou seus familiares. Após a triagem teremos: VOCÊ SABE RESPONDER? Agora que entendemos a amplitude do trabalho de um nutricionista hospi- talar, você consegue imaginar como serão desenvolvidos nossos primeiros atendimentos ao paciente? PACIENTE SEM RISCO Mesmo que o paciente não apresente um risco no momento da avaliação, devem ser mantidas avaliações regulares, visto que com o tempo de internação pode haver mudança no estado nutricional dele. PACIENTE DE RISCO Esse paciente necessita uma avaliação nutricional completa com a equipe de nutrição clínica breve, visto que para ele, já são necessárias medidas dietoterápicas para recuperação de seu estado nutricional. A denição desse nível assistencial ou hierarquização do atendimento em nutri- ção serve para determinar como será delineado o acompanhamento nutricional, ou seja, pacientes em nível primário terão visitas de retorno a cada 7 dias, já nível secundário terão os retornos a cada 4 dias e o terciário em até 0 dias. O nível assistencial serve para que a equipe de nutrição consiga manter uma lógica e uniformidade nos atendimentos, conseguindo atender a todos os pacientes, mas dando maior atenção para aqueles que apresentam maior risco nutricional. Apesar dessa sistematização facilitar a logística de um serviço de nutrição, não podemos deixar de levar em consideração que conforme passam os dias de internação, o paciente pode mudar aspectos relacionados com a nutrição (piora ou progressão do seu quadro) o que demonstra mais uma vez a necessidade do acompanhamento periódico, sabendo que um paciente que interne em nível primário pode mudar de nível assistencial ao longo da internação ou mesmo um que estava em nível terciário pode progredir para primário e mesmo ter alta breve. Durante o primeiro contato com o paciente, além de dados sistemáticos sobre o risco, também se faz importante conseguir entender como está a sua alimen- tação, explorando fatores como: o seu apetite e aceitação da dieta, se há alguma mudança relacionada com os seus hábitos alimentares, seus hábitos intestinais. A determinação do nível assistencial mostra a ne- cessidade e urgência de uma avaliação nutricional e acompanhamento mais completo e aprofundado. Ainda mais, como Valadão et al. (2021) pontuam que determinar riscos nutricionais e desnutrição são fundamentais, considerando que nas últimas déca- das o quadro de desnutrição permanece alto, com quase 50% dos pacientes internados classicados com algum grau da doença e, ainda assim, ser um ponto negligenciado pelas equipes de saúde como um todo. O atendimento nutricional é complexo, pois necessita a formulação de um diag- nóstico nutricional que engloba diversos aspectos, seja a triagem, avaliação comple- ta, antropometria, análise de exames laboratoriais, avaliação de aspectos dietéticos, todos com o objetivo de minimizar agravos ou complicações nutricionais ao longo da internação. E esse não é um trabalho só, deve estar inserido dentro da equipe. O paciente pode mudar aspectos relacionados com a nutrição Quase 50% dos pacientes internados classifcados com algum grau da doença UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 INTERAGINDO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL Em qualquer empresa que tenha colaboradores de áreas distintas, precisamos en- tender que cada função é importante e que a conjunção de todos que permitem o melhor funcionamento do serviço proposto. Não é diferente no organismo de um hospital, cada pessoa tem seu papel, desde o prossional da recepção que confere e faz a pulseira de identicação, até o pessoal da higienização que garante a saúde sani- tária do ambiente hospitalar, e todos são fundamentais para o bem-estar do paciente. Entender e respeitar esse espaço do outro são ainda mais importantes quando percebemos que nosso trabalho só terá bons resultados quando conseguimos dividir nossas experiências e construir com os demais prossionais o melhor atendimento possível ao paciente. Habitualmente, em um hospital, cada paciente cará sob a responsabilidade de alguma equipe médica ou médico, que irá determinar a conduta a ser realizada com ele. A princípio é a equipe médica que dene dieta (oral, jejum, enteral...), medicamentos, exames e mesmo procedimentos a serem realizados. A partir daí, as demais equipes irão desempenhar suas atividades para que essa conduta solicitada seja cumprida. 8 É indiscutível o papel da equipe de enfermagem, podemos dizer essencial, pois são eles que estão em contato direto com o paciente em todos os momentos, como: para dar os medicamentos, alimentos, fazer controle de sinais vitais, soli- citar e encaminhar exames e fazer outros atendimentos beira leito. Assim como todas as intercorrências são primeiramente assistidas por eles. Além deles, temos a equipe de Nutrição, e não apenas o nutricionista clínico. Sim, o nutricionista clínico irá a partir da triagem, avaliar e determinar a prescrição dietética do paciente, entretanto, temos por trás dele toda a equipe da unidade de alimentação, que efetivamente vão executar a sua prescrição e fornecer os alimentos nos horários estipulados. Não menos importantes, temos outros prossionais que nos auxiliam no cuidado ao paciente: sioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, assistente social, farmacêuticos e bioquímicos. Você consegue pensar ou imaginar o que cada um desses prossionais pode articular com a nutrição para acilitar e aprimorar o nosso trabalho? PENSANDO JUNTOS Mesmo muitas vezes não tendo um contato tão direto com esses prossionais, posso descrever situações em que o aremos: ao trabalhar com um paciente inapetente e depressivo, o psicólogo será undamental para nos auxiliar com a melhora da aceitação da dieta. Ao atendermos pacientes em ventilação, o trabalho do fsioterapeuta otimizando o quadro respiratório do paciente, permitirá que nossa ação seja mais eetiva e que o paciente receba a dieta conorme prescrevemos.Um paciente diságico terá no fonoaudiólogo a possibilidade de treinar a deglutição para conseguir ao menos ingerir algum tipo de alimento em dierente consistência. A assistente social nos dá apoio nos momentos de alta hospitalar para pacientes que não tem renda para conseguir articular com meio público e dar suporte ao cidadão. O farmacêutico consegue nos auxiliar para analisar dietas parenterais e mesmo para montarmos protocolos de interação medicamento-nutriente. E o bioquímico nos auxilia na interpretação de exames que são necessários para um diagnóstico nutricional mais preciso. Percebe como cada prossional tem sua importância? E estes oram apenas exemplos para mostrar o quanto ganhamos ao trabalharmos juntos. UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Em algumas situações, são realizadas discussões das condutas em equipe, muitas vezes em forma de ROUND, que são atividades que esclarecem diagnóstico e mesmo ações dos demais prossionais e permitem ajustes em conjunto para que ações mais assertivas sejam realizadas, potencializando o tratamento e mesmo melhora do paciente. Em geral, os ROUNDS acontecem à beira leito, com a participação do paciente (quando possível) e mesmo do acompanhante, além da presença de um prossional de cada área para que sejam discutidas as ações e apresentadas as condutas para o próprio paciente. Esse momento extremamente enriquecedor para a equipe é importante igual- mente para o paciente, que não se sente apenas acolhido, mas seguro por poder compreender melhor o que estão fazendo com ele. Os ROUNDS são inclusivos, e humanizam o atendimento, tornando o paciente e/ou seu acompanhante par- ticipantes das decisões dos tratamentos. Além dos momentos de discussão interdisciplinar, um dos recursos mais signicativos que temos é o prontuário do paciente, visto que ali estará toda a história da pessoa durante a internação. E para tanto torna-se fundamental o seu preenchimento completo e detalhado, para que não apenas os seus pares, mas demais prossionais possam compreender as condutas adotadas e dá sequência ao atendimento. Esse preenchimento não é opcional, ele é obrigatório! No que concerne à alimentação, todos os prossionais podem auxiliar ou mesmo atrapalhar a conduta dietética, considerando que em muitos casos o paciente tem diversos momentos em que há suspensão da alimentação o que pode levar ao aumento do risco nutricional e em consequência piora de seu nível de saúde. Oliveira et al. (2020) comentam da suspensão de alimentação para realização de exames e acrescento outras situações, como: momento de banho, sioterapia, medicações, todos interferem no período alimentado do paciente. Ainda devemos entender que sem uma avaliação e acompanhamento nutri- cional, e mesmo sem protocolos bem denidos, alguns problemas comuns em ambiente hospitalar, como vômitos e diarreia, por exemplo, causam reações da equipe e geram condutas contraditórias e muitas vezes sem embasamento. A ESPEN (2021), em sua diretriz sobre nutrição hospitalar, reforça o quanto essas condutas, que por vezes são baseadas apenas em crenças pessoais, podem colocar os pacientes em risco nutricional, demonstrando assim a importância da comunicação entre as equipes. Sempre que conseguir baseie seu conhecimento em artigos e diretrizes produzidos por Sociedades e Órgãos que têm um amparo cientíco. Para aproundar um pouco mais o seu conhecimento sobre nutrição hospitalar, indico as Diretrizes da ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism) produzida em 2021 - DOI. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 1 NUTRIÇÃO CLÍNICA E UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO – TRABALHANDO EM CONJUNTO Como falamos anteriormente, o trabalho do nutricionista clínico duran- te a internação está intimamente ligado com a execução das atividades pela Unidade de Alimentação. Por isso, é fundamental para o nutricionista clínico o contato com a equipe da Produção, entendendo e conhecendo a forma com que se trabalha, quais dietas padrão e quais dietas especializadas existem, quais os cardápios disponíveis, quais variações são possíveis de se- rem executadas, em que horário são produzidas e distribuídas às refeições, dentre outras questões, em especial no que diz respeito aos cuidados com a qualidade e o desperdício dos alimentos. O trabalho de Carvalho et al. (2021, p. 2) traz uma clareza sobre as dietas hospitalares: “ As dietas hospitalares visam atender às demandas nutricionais dos enfermos decorrentes do estado nutricional e siopatológico em que se encontram. Além disso, contribuem para manter e/ou recuperar o estado nutricional e de saúde, durante o período de internação. Nesse sentido, as dietas podem sofrer modicações de consistência, temperatura, volume, valor calórico, alterações das características químicas e restrições de nutrientes especícos. Assim, as dietas hospitalares por via oral podem ser padroniza- das de acordo com as modicações e se classicam a partir das principais características, indicações terapêuticas e dos alimentos/ preparações dos quais são compostas. Vamos tentar imaginar uma situação comum em hospital? Imagine que você atende dezpacientes comdieta livre de umaala hospitalar, entretanto, quase todos eles estão com alguma diculdade ou queixa com a alimentação. Então, como são com dieta livre, você apenas pergunta o que gostariam de comer no horário do almoço. Para a resposta, cada um pede algo dierente: um quer macarrão, outro quer sanduíche, outro quer sopa de eijão, outro quer bie e ovo... e assim por diante. No cardápio padrão tem arroz, eijão e carne de porco. E naquela ala, a copa tem apenas duas colaboradoras para atender 50 pacientes. Já pensou como seria a logística para a Unidade de Alimentação realizar para cada paciente um tipo de alimento dierente? Obviamente existem modificações, principalmen- te em pacientes com maiores dificuldades de ali- mentação. Entretanto, para que a sua prescrição dietética seja executada corretamente, ela deve ser viável para a Unidade de Alimentação. Com isso, o ideal é que a equipe de nutrição clínica e a da produção trabalhem em conjunto ajustando opções a serem oferecidas, a ponto que todas as prescrições dietéticas possam ser cumpridas e consigamos alimentar o paciente da melhor forma. A alimentação hospitalar apresenta em si uma conotação negativa, geral- mente associada a uma comida ruim, fria e/ou sem sabor e por vezes conside- rada de péssima aparência; e entendendo isso é fundamental que tenhamos um olhar humanizado para compreender a relação dos pacientes com o alimento, procurando transmutar esses sentimentos negativos, buscando fazer com que percebam o quanto uma boa alimentação pode impactar na sua recuperação. “ A humanização dentro da gastronomia se refere a uma preparação nutricionalmente equilibrada, saudável e de acordo com a patolo- gia de cada paciente, juntamente com conforto, prazer e ternura. (SOUZA; MOLERO; MOLINA, 2021, p. 19). O ideal é que a equipe de nutrição clínica e a da produção trabalhem em conjunto UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 1 DIETAS HOSPITALARES E EXECUÇÃO DE MAPA DE DIETAS Para que exista uma boa alimentação ao paciente, precisamos conseguir com- por uma alimentação agradável e que atenda às necessidades específicas de cada paciente. Por isso, em um hospital, normalmente temos disponíveis diversos grupos de dietas. VOCÊ SABE RESPONDER? Por que precisamos ter dietas padronizadas em hospital, já que cada paciente tem necessidades e patologias diferentes? Novamente voltamos ao ponto que estávamos falando anteriormente, precisa- mos compreender que em um hospital existe uma unidade de alimentação que necessita executar todas as prescrições dietéticas e por vezes ainda alimentar funcionários, acompanhantes, dentre outros. Sem contar que toda a gestão de uma Unidade de Alimentação envolve a questão da sustentabilidadee assim o trabalho para evitar o desperdício, seja pensando nas questões ambientais e não menos importante na viabilidade dos custos operacionais. Assim, dividir as dietas em alguns blocos (normalmente dietas padrão e die- tas especializadas – conforme as patologias base) é fundamental para conseguir programar a produção dos alimentos. Já o mapa de dietas serve como uma forma de identicação, assim como a pul- seira. O mapa de dietas é o guia para que a Unidade de Alimentação saiba como proceder com cada paciente, ali precisamos compor as principais informações, como: Nome completo do paciente, data de nascimento, leito, dieta e por m, observações dietéticas com os ajustes solicitados pela nutrição clínica (NOZAKI et al., 2013). Não existe um padrão ouro para isso, cada unidade hospitalar desenvolve suas planilhas de acordo com as suas necessidades e com o que a equipe considera essencial, por isso, cabe à equipe de nutricionistas organizar os seus protocolos e congurar o mapa de dietas para favorecer o seu trabalho e garantir o bom atendimento ao paciente. 4 ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DURANTE A INTERNAÇÃO Exatamente por tudo o que já estamos pontuando, o acompanhamento nutricional é primordial, visto que ele visa à promoção de saúde, seja pela manutenção, seja pela recuperação do estado nutricional do paciente. Ao internar, sabemos o básico sobre o paciente e determinamos as primeiras condutas, entretanto, estar ao lado dele ao longo de sua internação permite ajustes para que a prescrição dietética seja mais efetiva e consigamos assim garantir a qualidade nutricional da alimentação e mesmo a recuperação do paciente. “ Construir uma relação efetiva, com ternura, acolhimento e respeito se faz benéco para o paciente, tornando a permanência no hospital a menos traumática possível a ele e à família. (SOUZA; MOLERO; MOLINA, 2021, p. 16). Durante um acompanhamento nutricional conseguimos perceber as diculdades inerentes à doença ou mesmo aos hábitos dos pacientes. O estudo de Behrmann e Lima (2019) reforça sobre a prevalência de pacientes que não se alimentam corretamente e podemos considerar quadros de: incapacidade funcional, dor, náuseas, vômitos, inapetência, disfagia, ansiedade, tratamentos agressivos (como quimioterapia, por exemplo), insegurança, dentre tantos outros fatores que Data: __/__/___ Clínica/Setor: ____________ Responsável:___________ LEITO Nº ATENDIMENTO NOME COMPLETO PRESCRIÇÃO DE DIETA Quadro 1 - Exemplo de Planilha para Mapa de Dietas / Fonte: a autora. UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 podem impactar a alimentação, sendo necessários um acompanhamento e uma intervenção nutricional mais especíca. Em muitos casos, além da alimentação oral, serão necessárias medidas de terapia nutricional, sejam por suplementação oral e por vezes enteral. Conforme recomendações da ESPEN (2021), a avaliação da aceitação dietética deve ser monitorada desde a admissão hospitalar, em pacientes sem risco de forma semanal enquanto estiverem internados e em pacientes em risco ou desnutridos diariamente. Conforme exposto pelo estudo de Valadão et al. (2021), sabemos que cerca de 30 a 50% dos pacientes que internam estão em risco nutricional ou mesmo em desnutrição, e se considerarmos apenas os idosos, esse índice aumenta. Com isso, o atendimento nutri- cional precoce e o seu seguimento servem como uma forma de melhorar o estado nutricional dos pacien- tes, por vezes garantindo a recuperação nutricional, mas principalmente evitando o agravamento dos quadros de desnutrição, que não são um problema apenas alimentar, mas que é um quadro que piora a recuperação, aumenta morbidade, mortalidade, tempo de internação e consequentemente custos hospitalares. Cerca de 30 a 50% dos pacientes que internam estão em risco nutricional ou mesmo em desnutrição A nutrição clínica hospitalar é um campo amplo, como discutimos até agora, esse vídeo curto traz um resumo de tudo o que oi apresentado até agora. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO Atendimento Nutricional de Pacientes Hospitalizados Sinopse: Elaborado com o intuito de auxiliar o nutricionista que atua em hospitais, esse livro serve como uma erramenta práti- ca com as inormações necessárias para consultas rápidas. Comentário: Esse livro oi organizado por uma equipe de pro- ssionais da nutrição, e serve como um bomguia de bolso para quem nunca trabalhou em hospital e quer ter um norte sobre como proceder uma avaliação e um atendimento completo ao paciente, de uma orma rápida e prática. INDICAÇÃO DE LIVRO Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? EM FOCO NOVOS DESAFIOS Após nossa discussão, acredito que agora você consiga compreender como o trabalho em um ambiente hospitalar é complexo e não pode ser feito por uma pessoa só. O hospital, apesar de ser visto como um local frio, necessita da presença das pessoas para humanizar esse espaço e fazer com que o paciente, que carece de cuidado, possa receber mais do que apenas atendimento, mas sim acolhimento e respeito com suas individualidades. Dentro desse contexto, o papel do nutricionista é fundamental. Como vimos quase metade dos pacientes que estão internados apresentam algum risco nutricional, o que afeta diretamente no seu processo de recuperação, com isso, o UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 acompanhamento nutricional, com as outras terapias que serão realizadas, serve para não apenas nutrir o paciente, mas o recuperar e permitir com que haja um melhor desempenho do paciente nas outras terapias. Dentro desse contexto, existem algumas questões que podem interferir no cumprimento de uma prescrição dietética, como: a tolerância do paciente, o cumprimento da prescrição pela equipe da Unidade de Alimentação, a facilitação por parte dos demais prossionais da equipe multiprossional. Assim, o papel do nutricionista clínico é estar entrosado em todos os meios, ou seja, conseguindo se comunicar com a equipe multiprossional, conversando com a equipe de produção e mesmo estando em acompanhamento de forma rotineira com o paciente para manter os ajustes necessários e garantir a alimentação adequada. Entendendo esse processo complexo, o nutricionista que está almejando tra- balhar na área hospitalar deve estar pronto para as múltiplas demandas que irão aparecer e entender que o melhor caminho para conseguir cumprir o seu papel é aprimorar a sua comunicação, ampliando sua abertura para o trabalho inter- disciplinar. Trabalhar em equipe traz benefícios para todos. Dividir demandas e construir um trabalho em conjunto permitem que todos os prossionais cres- çam em conhecimento e principalmente otimizem as condutas a serem realizadas com o paciente permitindo uma recuperação mais rápida e assertiva. 8 1. Desde2013,oMinistériodaSaúdepreconizaqueas instituiçõesdesaúdeseorganizemmontando Núcleos de Segurança do Paciente. Inicialmente, foram elencadas 06 prioridades para que os hospitais se sensibilizem e se adequempara garantir a segurança dos pacientes internados. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html. Acesso em: 1 jun. 2023. Entre as alternativas, qual dos itens não az parte das prioridades? a) Identicar corretamente o paciente. b) Higienizar bem as mãos. c) Reduzir risco de lesões por pressão. d) Realizar condutas individualizadas. e) Atentar para que a cirurgia ocorra no paciente correto. 2. O trabalhodeumnutricionistahospitalperpassaporváriasáreas, econformeaResoluçãodoCFN nº 600 de 25 de evereiro de 2018, temos algumas atribuições defnidas para essas atividades.Fonte: CFN - CONSELHO FEDERALDE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018: Dispõe sobre a denição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de reerência, por área de atuação, para a eetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília: DF, 2018. Disponível em: http://sisnormas.cn.org.br:8081/ viewPage.html?id=600. Acesso em: 2 jun. 2023. Dentre as armações, quais delas são competências de nutricionistas que trabalham na área hospitalar? I - Elaborar a prescrição dietética, com base nas diretrizes do diagnóstico de nutrição e considerando as interações drogas/nutrientes e nutrientes/nutrientes. II - Promover ações de educação alimentar e nutricional para clientes/pacientes/usuários, cuidadores, amiliares ou responsáveis. III - Elaborar e implantar o Manual de Boas Práticas em Lactário, supervisionando sua execução e mantendo-o atualizado. VAMOS PRATICAR 9 É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 3. Conforme recomendações da Asbran, a triagem nutricional deve ser realizada preferencialmente em até 24 horas da internação. Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO. Manual Orientativo: Sistematização do Cuidado de Nutrição. São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. Sobre alguns critérios da triagem, indique qual a opção correta: a) A triagem deve ser aplicada por um nutricionista. b) Na triagem, são realizadas todas as medidas antropométricas. c) A triagem pode ser autoaplicada. d) Após a triagem, pacientes sem risco não precisam de avaliação nutricional; e) A triagem dene o nível assistencial para todo o período de internação. VAMOS PRATICAR REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO. Manual Orientativo: Sistematização do Cuidado de Nutrição. São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. BEHRMANN, G.; LIMA, A. M. P. Relevância do protocolo em nutrição na avaliação do estado nutricional do paciente hospitalizado: uma revisão integrativa. RASBRAN, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 134-141, jan-jun, 2019. Disponível em: https://www.rasbran.com.br/rasbran/article/view/1103. Acesso em: 30 maio 2023. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html. Acesso em: 1 jun. 2023. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria Nº 3.390, de 30 de dezembro de 2013. Institui a Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabe- lecendo- se as diretrizes para a organização do componente hospitalar da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/saudelegis/gm/2013/prt3390_30_12_2013.html Acesso em: 1 jun. 2023. CARVALHO, M. F. A. et al. Aceitabilidade de dietas hospitalares por pacientes internados em hos- pital universitário. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 10, n. 14, 2021. CFN - CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018: Dispõe sobre a denição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de reerência, por área de atuação, para a eetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Brasília: DF, 2018. Disponível em: http://sisnormas.cn.org.br:8081/viewPage.html?id=600. Acesso em: 2 jun. 2023. ESPEN. ESPEN guideline on hospital nutrition. Clinical Nutrition, [S.I.], v. 40, 5684e570, 2021. NOZAKI, V. T. et al. Atendimento Nutricional de Pacientes Hospitalizados. Rio de Janeiro: Rubio, 2013. OLIVEIRA, M. F. et al. NutriDia Brasil: retrato dos cuidados nutricionais em um hospital de alta complexidade do Rio Grande do Sul. BRASPEN J, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 216-221, 2020. SOUZA, B. S.; MOLERO, M. P.; MOLINA, V. B. C. Gastronomia e humanização hospitalar. Revista Multidisciplinar da Saúde, Fortaleza, v. 3, n. 1, p. 14-26, 2021. Disponível em: https://revistas.an- chieta.br/index.php/RevistaMultiSaude/article/view/1704. Acesso em: 1 jun. 2023. VALADÃO, T. A. et al. “Diga não à desnutrição”: diagnóstico e conduta nutricional de pacientes internados. BRASPEN J, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 145-150, 2021. 1. Opção D. Realizar condutas individualizadas = a segunda meta do Núcleo de Segurança é melhorar a comunicação entre os proissionais de saúde. Todo o trabalho dentro de um hospital deve ser realizado de orma conjunta, discutir as condutas e trabalhar de orma interdisciplinar são prioridades para um trabalho assertivo e seguro. 2. Opção E. Dentro do hospital, o nutricionista hospitalar poderá não apenas realizar atendimento direto ao paciente, mas está sim atuando emBancos de Leite, Lactários e Centrais deTerapia Enteral, podendo se envolver com atividades de gestão e organização. 3. Opção C. A triagem é um primeiro momento de contato com o paciente que determina o risco nutricional do paciente. Ela pode ser aplicada por qualquer proissional de saúde treinado ou mesmo por questionários autoaplicáveis. Independentemente de os pacientes não estarem em risco nutricional na triagem ao longo da internação deverão receber uma avaliação nutricional completa, lembrando que ao longo da internação o nível assistencial desse paciente pode modiicar (aumentar ou diminuir o risco). CONFIRA SUAS RESPOSTAS MEU ESPAÇO UNIDADE 2 MINHAS METAS TRIAGEM E AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Conseguir dierenciar triagem de avaliação nutricional. Aprender as triagens indicadas para cada tipo de paciente. Conhecer as dierentes avaliações nutricionais e como aplicá-las. Desenvolver um bom diagnóstico nutricional. Entender os métodos de cálculos de necessidades calóricas e proteicas para pacientes hospitalizados. Obter conhecimento para agregar todas as inormações para montar a conduta nutricional e prescrição dietética. Aprender a azer uma evolução nutricional completa. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 2 INICIE SUA JORNADA Suponha que ao trabalhar em um hospital você fica responsável em avaliar clinicamente uma ala. Ao chegar ao trabalho, você se depara com a internação que dez pacientes cabe a você avaliar. Sem que haja uma forma criteriosa para determinar as prioridades, você pode, em algumas situações, priorizar pacientes em bom estado, e deixar para um segundo momento pessoas em maior risco nutricional. Consegue perceber isso? Como fazer para que isso não aconteça? É importante que cada instituição mantenha protocolos de sistematização/ hierarquização dos atendimentos. Determinar prioridades, questionários e condutas serve para auxiliar o nutricionista a atender a todos, semdeixar de reter a sua atenção em quem mais necessita. Atuando de forma precoce em pacientes em risco nutricional, conseguiremos entender prioridades e implementar uma prescrição dietética que atenda às demandas, bem como associar terapias nutricionais conforme. Com isso con- seguiremos melhorar seu estado nutricional, diminuir risco de morbidade e mortalidade, tempo de internação, entre outros fatores. Além dos pontos que conversamos, você consegue considerar outros benefícios para o paciente, equipe e instituição que virão através do acompanhamento nutricional? Em um hospital o Prontuário Médico é primordial. Convido você a ouvir nosso Podcast para conhecer melhor a história desse documento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 DESENVOLVA SEU POTENCIAL O atendimento nutricional pode mudar o desfecho de um paciente internado (ESPEN, 2021). Entretanto, para que tenhamos a melhor conduta,precisamos estar munidos de uma boa avaliação nutricional e conseguir interpretar e cor- relacionar os dados. O atendimento nutricional tem como prioridade detectar precocemente a desnutrição, e assim minimizar os danos desse agravamento na condição do paciente (BEHRMANN; LIMA, 2019). Todo o atendimento inicia com a triagem nutricional, um método simples, que irá determinar o risco nutricional e a sequência do atendimento. Após, a avaliação nutricional aliará aspectos objetivos e subjetivos e as condutas dos demais prossionais, para chegar ao diagnóstico nutricional e determinar a conduta e prescrição dietética (ASBRAN, 2014). VAMOS RECORDAR? Para relembrar alguns tópicos e entender melhor a função da avaliação nutricional na prevenção da desnutrição, sugiro esse vídeo da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral: 8 O acompanhamento nutricional se dará ao longo da internação (BEHRMANN; LIMA, 2019). Serão momentos para acompanhar tolerância e evolução do pa- ciente, reavaliando condutas para garantir o melhor tratamento. Precisamos ter em mente que um paciente hos- pitalizado é diferente de um paciente ambulatorial, visto que suas necessidades e sua doença estão em constante mudança, destarte, suas necessidades nu- tricionais podem igualmente modicar durante a in- ternação. O nutricionista é responsável por promover o cuidado do paciente desde sua admissão até sua alta hospitalar (ESPEN, 2021). Finalmente, o registro das condutas através da evolução nutricional. Ape- sar de muitas pessoas considerarem apenas uma burocracia, a evolução faz parte do atendimento, ali serão colocadas todas as informações pertinentes tanto para os outros prossionais quanto para a futura referência. A integralidade da atenção se az necessária com uma atuação interdisciplinar a m de garantir a melhora do paciente, sempre o trazendo para o centro do atendimento, permitindo que haja autonomia do indivíduo em seu processo de adoecimento e cura. Um paciente hospitalizado é diferente de um paciente ambulatorial UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 PRINCIPAIS PROTOCOLOS PARA TRIAGEM NUTRICIONAL A triagem tem como papel fundamental sinalizar precocemente quais os pa- cientes necessitariam ou se beneciariam de uma terapia nutricional (ASBRAN, 2014). Conforme a recomendação, a sua aplicação deveria ser nas primeiras 24h de admissão do paciente, para garantir a intervenção precoce e melhora do qua- dro nutricional do paciente internado (BEHRMANN; LIMA, 2019). Diversos protocolos de triagem nutricional foram desenvolvidos e validados (DINIZ et al., 2018), todos com suas particularidades, pontos positivos, fragilida- des, público-alvo. Para tanto, cada equipe deve entender quais os mais adequados para sua realidade. A seguir, alguns mais difundidos: ■ Mini Avaliação Nutricional A Mini Avaliação Nutricional (MAN®) foi criada para avaliação específica de pacientes idosos hospitalizados. A partir do preenchimento das questões, que podem ser realizadas pelo próprio paciente ou cuidador, conseguirá determinar pacientes em estado nutricional adequado, em risco para desnutrição ou desnutridos. ■ NRS-2002 A NRS-2002 (abreviação do seu nome em inglês “Nutritional Risk Screening”) é uma escala bem difundida em meio hospitalar, visto poder ser utilizada para os mais diversos públicos, inclusive idosos em risco nutricional. O maior objetivo dessa escala é conseguir detectar desnutrição , e igualmente importante, o risco de poder desenvolver algum quadro de desnutrição durante a internação hospitalar. Ela é composta de poucas perguntas e, portanto, é fácil e rápida de ser aplicada, otimizando o tempo de triagem para a equipe. Ela é subdividida em três partes: VOCÊ SABE RESPONDER? Agora que demos um vislumbre sobre os assuntos que serão abordados, você consegue imaginar qual seria a sequência de perguntas que usaria ao atender um paciente? Ou como montar uma evolução nutricional? O maior objetivo dessa escala é conseguir detectar desnutrição 4 ■ Avaliação Subjetiva Global A avaliação subjetiva global inicialmente tem o objetivo de avaliar o risco nutricional, considerando que o mesmo pode ser preditivo não apenas de um diagnóstico nutricional, mas do prognóstico do paciente. Para um prossional treinado, é uma avaliação simples e prática, com boa previsibilidade da desnutrição e boa aplicabilidade para pacientes com cirurgia do trato gastrointestinal, hepatopatias, doenças renais e apresenta as seguintes características: HISTÓRIA: Alterações de peso, alte- rações de ingestão alimentar, sinto- mas gastrointestinais, capacidade funcional, doenças e demandas metabólicas. EXAME FÍSICO: Avaliação subjetiva de perda de massa e de perda de reservas subcutâneas, edema. TRIAGEM NUTRICIONAL: • Avaliação do peso. • Avaliação da Ingestão dietética. • Avaliação do quadro clínico. ESTADO NUTRICIONAL • Determinação da deterioração do estado nutricional nos últimos meses, ou semanas. • Avaliação da aceitação dietética, tanto pela ingestão quanto pela análise da adequação da ingestão pelas suas necessidades energéticas. GRAVIDADE DA DOENÇA • Grau de risco pela doença ou intervenção realizada no paciente. • Manutenção ou aumento da demanda metabólica, ou grau de estresse. UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Outra forma mais extensa da Avaliação Subjetiva que foi desenvolvida especi- camente para pacientes oncológicos é a chamada Avaliação Subjetiva Global produzida pelo paciente (ASG-PPP). Essa avaliação é dividida em duas partes: uma a ser preenchida pelo paciente, e uma pelo prossional, conseguindo determi- nar em escala numérica o grau de risco/ desnutrição do paciente. Como todos os questionários, eles apresentam algumas limitações, mas são de fácil aplicabilidade. Para ampliar seu conhecimento, aconselho a leitura do artigo de Gonzalez et al. (2010, s.p.): “Validação da versão em português da avaliação subjetiva global produzida pelo paciente”. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO 4 ■ Strong Kids Todas as escalas apresentadas até o momento são voltadas para público adulto ou idoso. Até então não existe uma escala validada para o público infantil aqui no Bra- sil, entretanto, a Strong Kids (Screening Tool Risk Nutritional Status and Growth) tem sido recomendada como uma boa triagem para determinar risco nutricional e necessidade de intervenção. A seguir, vamos observar os pontos trabalhados: AVALIAÇÃO NUTRICIONAL • Avaliar se a criança parece ter décit nutricional. • Através de perda de reservas, emagrecimento aparente. DOENÇA • Indicar se há alguma doença aguda/crônica. • Indicar se haverá ou se houve intervenção cirúrgica. AVALIAÇÃO DA INGESTÃO DIETÉTICA • Inormar-se com acompanhante ou equipe para ver se há mudança no padrão alimentar da criança nos últimos dias. ACOMPANHAMENTO DO PESO • Vericar se houve perda ou estagnação do peso nas últimas semanas, ou meses. Para entender melhor e visualizar a escala na totalidade, recomendo o Material da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Recursos demídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EU INDICO UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 SISTEMATIZAÇÃO DO ATENDIMENTO NUTRICIONAL O trabalho em um hospital exige do prossional nutricionista precisão e agilidade, visto a alta demanda e, em muitos casos, o baixo número de prossionais disponíveis para esse trabalho. Com isso, torna-se imprescindível atuar de forma sistemática, proporcionando assim atendimentos mais criteriosos em pacientes em risco ou desnutridos, sem deixar de acompanhar todos os pacientes internados (ASBRAN, 2014). No estudo de Valadão et al. (2021), percebeu-se que mais de 60% dos pacientes hospitalizados foram avaliados com algum protocolo de triagem nutricional, dentre estes, 70% apresentaram risco ou desnutrição e apenas 30% deles receberam alguma conduta de terapia nutricional. “ A categorização emníveis possibilita ao nutricionista estabelecer condutas dietoterápicas uniformes e, além de ser um instrumento de trabalho sistematizado, é segura e de fácil compreensão. Para a equipe multidisciplinar, há a facilidade de obtenção de dados nutri- cionais do paciente e o conhecimento da atuação do nutricionista (ASBRAN, 2014, p. 14). 4 4 Para a classicação de um paciente, serão aliados dois critérios: o resultado da triagem e a necessidade de dietoterapia. Assim, teremos (Quadro 1): NÍVEL DE ASSISTÊNCIA CRITÉRIOS PRIMÁRIO • Internação situações que não exijam cuidado nutricional imediato, ex.: gripe, realização de exames, parto. • Pacientes sem risco nutricional. • Pacientes sem necessidade de dietoterapia. SECUNDÁRIO • Internação por situações que não exijam cuidado nutricional imediato, mas já haja risco nutricional prévio. • Pacientes sem risco nutricional, mas que necessitem de dietoterapia, ex.: diabete, doença celíaca, hipertensão. TERCIÁRIO • Pacientes cuja doença necessite de cuidados nutricionais especializados. • Pacientes em risco nutricional. Quadro 1 - Critérios analisados durante a triagem / Fonte: adaptado de ASBRAN (2014). Na prática, vamos entender como funciona essa hierarquização: para to- dos os pacientes que são admitidos no hospital, preconiza-se que recebam uma triagem nutricional em até 24h. O resultado determinará se há ou não risco nutricional, soma-se a história clínica para definir o nível: Nível primário: todos os pacientes sem risco nutricional e sem necessidade de dietoterapia. Nível secundário: pacientes com risco nutricional, mas sem necessi- dade de dietoterapia ou pacientes sem risco nutricional, mas com neces- sidade de dietoterapia. Nível terciário: pacientes com risco nutricional e necessidade de dietoterapia. Após a definição do nível assistencial, determinam-se as prioridades de atendimento e prossegue-se com a avaliação e conduta. Para cada nível, serão definidas metas, como: frequência de visitas, reavaliação, orientações, prescrição dietética, necessidade de terapia nutricional, dentre outros. UNICESUMAR 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 COMO REALIZAR UMA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Após a triagem e a determinação do nível assisten- cial, chegamos ao momento em que o nutricionista deve aprofundar o seu atendimento ao paciente. Conhecer o nível de complexidade e entender como está a sua condição clínica e estado nutri- cional servirão para realizar um diagnóstico nutricional preciso que permita a prescrição dietética mais adequada. Não existe um protocolo único ou um padrão ouro a ser seguido. Assim, cada serviço deve avaliar criteriosamente suas necessidades e buscar ormalizar amelhor conduta possível para os seus pacientes. O nutricionista deve aprofundar o seu atendimento ao paciente VOCÊ SABE RESPONDER? Para um diagnóstico completo, você consegue pensar quais são os aspectos a serem avaliados após a triagem nutricional? A seguir, vamos trabalhar cada aspecto da avaliação nutricional, permeando: avaliação da história do paciente, hábitos alimentares, exame físico, avaliação antropométrica, análise de exames laboratoriais. “ A avaliação clínica do estado nutricional envolve a coleta e a in- terpretação de sintomas e sinais físicos que tenham impacto na alimentação e/ou que estejam associados a deciências, excessos nutricionais e outros processos de doenças sistêmicas. A avaliação clínica pode ser eciente e efetiva para identicar o estado nutri- cional de indivíduos sem depender inteiramente dos métodos ob- jetivos (ASBRAN, 2014, p. 18). 4 Avaliação Nutricional Objetiva A avaliação objetiva, como o nome já diz, é o uso de técnicas de medidas antropométricas e cálculos de composição corporal que resultarão em dados numéricos e características de ordem estatística que determinarão o estado nutricional do paciente. A antropometria é um dos métodos mais utilizados, por ser não invasiva, prática, rápida e de baixo custo, sendo que o peso e a altura são as medidas mais utilizadas (BRASIL, 2011). A partir desses dois dados, é possível estimar o Índice de Massa Corpo- ral (IMC) que irá classificar o indivíduo em alguma categoria: baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade. O IMC se dá pelo cálculo do peso dividido pela altura (em metros) ao quadrado: IMC = Peso / (Altura)² (BRASIL, 2011). Para crianças e gestantes, são utilizadas curvas para avaliação de cada dado. Os gráficos de crescimento de crianças e adolescentes estão todos dis- poníveis no site da Sociedade Brasileira de Pediatria . O gráfico para classificação de gestantes foi atualizado através do Con- sórcio Brasileiro, e foram definidas novas curvas conforme o IMC pré-ges- tacional. Veja os gráficos na Caderneta da Gestante . Para adultos e para idosos, a classificação do IMC se dará de forma diferente (Tabela 1). Tabela 1 - Classicação do IMC de adultos e idosos / Fonte: adaptada de Brasil (2011). ADULTO IMC Classicação IDOSO IMC Classicação < 18,5 Baixo Peso ≤ 22 Baixo Peso ≥ 18,5 e < 25 Eutroa > 22 e < 27 Eutroa ≥ 25 e < 30 Sobrepeso ≥ 30 Obesidade ≥ 27 Sobrepeso UNICESUMAR 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Além do IMC, temos outras medidas antropométri- cas como as circunferências e as dobras cutâneas que auxiliam na predisposição de risco ou que demons- tram a composição corporal. Para cada caso, deverão ser avaliadas quais serão as melhores e trarão resultados mais dedignos (DINIZ et al., 2018). Em nível hospitalar, as mais utilizadas: ■ Circunferências: Braço, panturrilha, cintura, quadril, abdome. ■ Dobras cutâneas: tríceps, bíceps, subescapular, suprailíaca, panturrilha, coxa. ■ Adutor do polegar. Como todos os outros métodos, precisamos considerar que a antropometria também apresenta limitações, como presença de edema ou desidratação. No caso de IMC, como não há medida de composição corporal, pode-se haver uma classicação equivocada. Medidas de dobras cutâneas nem sempre são possíveis em idosos ou em acamados. Além do IMC, temos outras medidas antropométricas VOCÊ SABE RESPONDER? Pensando na análise de um paciente de 30 anos com 100Kg e 180cm, com um IMC 30,8Kg/m², classifcado como obeso, mas praticante de atividade ísica intensa e um percentual de gordura classifcado em 21%. Você o classifcaria em qual estado nutricional? Obeso, sobrepeso ou eutrófco? Avaliação Nutricional Subjetiva A avaliação subjetiva é uma complementação dos outros métodos, em que serão observadas as características físicas do paciente para determinar como está o seu estado nutricional. Em geral, observam-se os sistemas corporais que vão demonstrar deficiências nutricionais: reservas subcutâ- neas, massa muscular, avaliação de edema. A avaliação deve ser pensada de forma glo- bal, visto que a alteração de apenas um conjunto muscular não vai necessariamente refletir o estado A avaliação deve ser pensada de forma global 4 8 nutricional do indivíduo. Para pacientes internados, essa avaliação é funda- mental, em especial para em acamados, ou críticos, em que o método objetivo e mesmo a avaliação dietética não é possível. Entretanto, por ser subjetivo, o prossional que o está aplicando deve o fazer de forma criteriosa e detalhada para não incorrer em erro. E saber que o olhar nem sempre irá traduzir a realidade e, por essa razão, aliar outras in- formações como quadro clínico, exames laboratoriais e a história do paciente podem permitir uma avaliação mais concreta (DINIZ et al., 2018). Em resumo, devemos observar as seguintes características: CABEÇA E PESCOÇO • Características dos cabelos (queda, cor, espessura...). • Características dos olhos (olheiras, aundamento...). • Condição da cavidade oral (dentição, mandíbula, mucosa, gengivas, língua...). PELE • Coloração, textura, umidade e/ou ressecamento, edema (intensidade e local). • Integridade (eridas, lesões por pressão, dermatites...). UNHAS • Formato (textura, espessura, estrias...); quebradiças ou lascando. MASSA MAGRA • Obesidade ou magreza (perdade peso grave em pouco tempo). • Alteração nas reservas musculares da ace (têmporas e masseter), da região do deltoide (clavícula, ombros e escápula), das costas (intercostais), dorso das mãos, pernas (quadríceps, joelho, panturrilha). • Alteração de reservas gordurosas (bochechas, região suborbital, abdome). • Tônus muscular, raqueza, cãibras. • Força muscular tanto em membros superiores quanto em ineriores. • Presença de alterações nas articulações. UNICESUMAR 4 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Avaliação da História Nutricional A avaliação da história nutricional é subjetiva. É uma conversa a ser realizada com o paciente, familiares ou cuidadores para conseguir identicar hábitos alimentares e o funcionamento das rotinas do paciente para adaptar à rotina do hospital ou orientar a modicações necessárias (ASBRAN, 2014). Nesse ponto, consideraremos dados sociais, como data de nascimento, ocupação, acesso à alimentação e à saúde. Precisaremos adentrar em aspectos psicológicos, emocionais e culturais que permeiam a alimentação (DINIZ et al., 2018). Sem levar esses dados em consideração, dificilmente conseguire- mos modificar ou otimizar um planejamento dietético. SINAIS GERAIS • Estado de consciência e capacidade uncional. • Diculdades respiratórias e uso de sistema de ventilação. • Diculdades de deglutição e disagia. • Capacidade gástrica e intestinal (náuseas, vômitos, distensão abdominal, ruídos abdominais, constipação ou diarreia). • Capacidade urinária. (DINIZ et al., 2018). Suponha que interne umpaciente idoso, que esteja desnutrido. Ao conversar sobre a alimentação você percebe que é carente em proteínas. O paciente se declara vegetariano. Já pensou se na sua prescrição a onte proteica é apenas animal? Como seria a adesão do paciente ao tratamento proposto? PENSANDO JUNTOS 5 Esses aspectos são relevantes para melhor compreender o paciente e assim oferecer o melhor tratamento, facilitando a adesão e recuperação. Vamos então pensar sobre os aspectos que podem estar em seus questionamentos: HISTÓRIA DE SAÚDE • Qual o seu diagnóstico e história nessa internação? • Existem comorbidades, quais são e como aetam a alimentação? • Existem queixas de alimentação que são relacionadas com sua doença ou mesmo tratamento médico? • Qual a dor ou desconorto ele está apresentando? • Como está o padrão de sono? • Existem doenças que aetam o trato gastrointestinal? • Está com lesões de pele, eridas, ou mesmo ístulas, ou ostomias? • Apresenta histórico de cirurgia, amputações ou outros tratamentos médicos impor- tantes (como quimioterapia, hemodiálise...)? • Faz uso de medicamentos contínuos ou esporádicos? • Faz uso de terapias complementares? HISTÓRIA FAMILIAR / SOCIOECONÔMICA • Na amília existe alguma comorbidade ou atores que possam predispor à condição atual do paciente? • Pode haver algum ator ambiental de importância? • Com quem o paciente vive e como são suas condições nanceiras para manutenção de vida e mesmo para compra de alimentos? • Uso de algum entorpecente: tabaco, álcool ou outras drogas ilícitas? CAPACIDADE FUNCIONAL • Paciente tem qual nível de atividade ísica diária? Faz exercícios ísicos? • É restrito ao leito ou deambula? • Paciente consegue exercer suas atividades diárias sozinho? • Paciente tem alguma ocupação? • Paciente exerce suas capacidades ísicas e mentais? UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Além dos aspectos subjetivos, devemos avaliar a qualidade da dieta do paciente. A forma mais conhecida são os questionários de frequência alimentar e o recor- datório alimentar de 24h. Os questionários de frequência fornecem uma análise qualitativa e por vezes quantitativa da inges- tão do padrão alimentar do indivíduo (ASBRAN, 2014). Existem diversos questionários, desde os mais curtos, de fácil preenchimento, mas que podem ter falhas na qualicação dos padrões alimentares, ou os completos que, por serem mais longos, podem ter falhas nas respostas por cansaço ou diculdade da memória do entrevistado. Já o recordatório de 24 horas é prático, de baixo custo e normalmente dispende de pouco tempo para ser realizado. Devido a essas características, ele é facilmente aceito pelos entrevistados. Como todos os métodos, ele apresenta limitações como oculta- ção de informações, esquecimento e mesmo subestimar, ou superestimar alimentos. Qual dos métodos será escolhido para caracterizar a alimentação de um pa- ciente vai depender dos objetivos do atendimento (BEHRMANN, LIMA, 2019). Entretanto, não é possível realizar uma conduta nutricional e prescrição dietética adequada sem entender os hábitos alimentares, e não apenas isso, mas quais são as fragilidades dietéticas, ou mesmo restrições necessárias por intolerâncias, ou alergias, por exemplo. Em resumo, todas as escolhas devem unir os dados neces- sários e a viabilidade de aplicação para a equipe. Para complementar a avaliação nutricional precisamos, enquanto prossio- nais, ser capazes de analisar exames laboratoriais (ASBRAN, 2014), os mais comuns que irão ter alguma aplicação nutricional são (Quadro 2): RELAÇÃO COM A ALIMENTAÇÃO • Houve mudança de peso nos últimos meses / semanas / dias? • Paciente tem alguma alteração na sua relação com o alimento? • Como estão o seu apetite e saciedade? Apresenta recusa ou seletividade? • Como está a sua capacidade de deglutição? • Paciente apresenta dentição, prótese ou diculdade para mastigação? • Paciente tem alguma dor ou diculdade para se alimentar? • Paciente apresenta quadros de azia, refuxo, náuseas? • Como são o trânsito intestinal do paciente e a requência evacuatória? (DINIZ et al., 2018). Já o recordatório de 24 horas é prático, de baixo custo 5 NOME DO EXAME INTERPRETAÇÃO Albumina sérica Pode demonstrar a reserva proteica do indivíduo, bem como doenças hepáticas. É um indicador de desnutrição e preditor de morbidade e mortalidade. Amilase Auxiliar no diagnóstico de: pancreatite aguda, insuciência renal, câncer no pâncreas, obstrução intestinal, úlcera perurada, apendicite aguda. Bilirrubinas Indicado para investigação de quadros de icterícia, na suspeita de doenças hepáticas, doenças da via biliar e anemias hemolíticas. Excreção urinária de ureia Indicador de presença de catabolismo muscular Colesterol total Complementados com as rações LDL, HDL, VLDL. Demonstram risco para doenças cardíacas. Creatinina Avalia a unção renal em pacientes com doenças renais, ou em tratamentos e doenças que podem aetar os rins. Ferritina Avalia a reserva de erro do corpo e em quadros infamatórios pode estar alterada, não refetindo a reserva. Gasometria arterial Indicado para determinar se as trocas de oxigênio e dióxido de carbo- no nos pulmões estão normais, e se há umdesequilíbrio entre esses gases, que pode indicar distúrbios respiratórios, metabólicos ou renais. Glicose Determina o nível de glicose no sangue e para diagnosticar e/ou monitorar hiperglicemia, hipoglicemia, diabetes e pré-diabetes. Hemoglobina Glicada Para monitoramento do diabetes e a estimativa da glicemia média. Hemograma Os resultados do hemograma ornecem inormações sobre os números, tamanho, orma e outras características das células sanguíneas. Auxilia no diagnóstico de algumas doenças, como a anemia. Sua diminuição pode indicar quadros de subnutrição. UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Leucograma Medirá os leucócitos presentes no corpo: os neutrólos, os linócitos, os basólos, os eosinólos e os monócitos. Mostram inecções e outras possíveis lesões. Lipase Indicado para diagnosticar e monitorar pancreatites e outras doenças do pâncreas. PCR (Proteína C Reativa) Marcador de infamação, monitoramento de atividade infamató- ria durante a evolução clínica do paciente. Plaquetas Utilizado para diagnóstico de coagulopatias, ou seja, doenças re- lacionadas à coagulação e doenças relacionadas à medula óssea. Potássio Serve para monitorar os níveis de potássio no sangue, equilíbrio de eletrólitos. Também paramonitorar diabetes, doenças renais e problemas cardíacos. Sódio Auxilia na avaliação do balanço eletrolítico e da unção renal. Também na desidratação ou edema. Triglicerídeos Parte do perl lipídico auxilia na determinação de risco para doenças cardiovasculares. TGO / TGP Indicado para avaliação da unção hepática. TSH Triagem e diagnóstico de distúrbios da tireoide. Ureia Avalia o comprometimento da unção renal e monitorar a ecácia de diálise e outros tratamentos de doenças renais. Quadro 2 - Principais exames laboratoriais na avaliação nutricional / Fonte: Diniz et al. (2018, s.p.). 5 4 DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL A partir da avaliação nutricional, iremos reunir todos os dados obtidos e os entre- cruzar para formular o diagnóstico nutricional (BEHRMANN, LIMA, 2019). Realizar essa interconexão e estar sensível para perceber necessidades adicionais do paciente são peças-chave para um atendimento nutricional de excelência. O diagnóstico nutricional é a identificação de um problema nutricional existente, cujo tratamento é de responsabilidade do nutricionista (DINIZ et al., 2018). É preciso deixar bem claro que o nutricionista não pode fazer diag- nósticos de doenças, que são atividades exclusivas do profissional médico. Após a análise dos dados, poderemos classicar a pessoa pelo risco nutricional (seja por desnutrição, obesidade), ou relacionar um risco por ingestão dietética inadequada (como baixo consumo de bras, excesso do consumo de carnes vermelhas), ou relacionado ao comportamento ou estilo de vida (como falta de acesso aos alimentos, seletividade alimentar). Com o diagnóstico, precisamos determinar qual será a intervenção a ser realizada denindo as prioridades e os passos para sua execução (ASBRAN, 2014). PRESCRIÇÃO DIETÉTICA A partir dos dados coletados e do diagnóstico cará mais fácil determinar a in- tervenção. A decisão de uma prescrição dietética adequada é lógica a partir do que foi levantado no diagnóstico. Por exemplo: ■ Pacientes com diagnóstico de desnutrição: irão necessitar de um au- mento no aporte energético, possivelmente a depender do nível de de- pleção da massa muscular, um aumento no aporte proteico igualmente. ■ Pacientes obesos: irão necessitar de ajustes energéticos, entretanto, se apresentarem perda de massa muscular necessitarão aumento nas quan- tidades proteicas, e se estiverem com níveis inamatórios aumentados podem se beneciar de um consumo maior de imunomodulares. ■ Pacientes diabéticos: irão necessitar de uma dieta alinhada com sua patologia de base, em geral de baixo índice glicêmico. E conforme a de- terminação de seu estado nutricional serão denidas suas necessidades energéticas e proteicas, mantendo um fracionamento que mantenha a normalidade de sua glicemia. UNICESUMAR 5 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 “ Para manter a homeostasia do corpo são necessários nutrientes indispensáveis à saúde, uma vez que esta requer uma série de gastos energéticos, que são primordiais. Essa energia, fornecida pela dieta alimentar diversicada e em quantidades que devem ser continuamente reguladas, garante o desempenho e o funcionamento da estrutura corporal e promove a diferenciação e os mecanismos de defesa tecidual (BEHRMANN; LIMA, 2019, p. 135). DETERMINAÇÃO DE NECESSIDADES ENERGÉTICAS Os cálculos de necessidades energéticas devem ser realizados de acordo com equações especícas considerando faixa etária, sexo e situações de saúde. Con- forme os Guidelines da ESPEN (2021), a dieta hospitalar deve cobrir minima- mente as necessidades energéticas e proteicas do indivíduo. Existem diversas fórmulas propostas para cada situação (DINIZ et al., 2018). Apresentarei aqui as fórmulas de bolso (Tabela 2) que por sua pratici- dade são as mais utilizadas em nível hospitalar: CLASSIFICAÇÃO IDADE OU FATOR ENERGIA (KCAL/KG/DIA) PEDIATRIA 0 – 3 meses 116 3 – 6 meses 99 6 – 9 meses 95 9 – 12 meses 101 MENINOS MENINAS 1 – 2 anos 104 108 2 – 3 anos 104 102 3 – 4 anos 99 95 5 4 – 5 anos 95 92 5 – 6 anos 92 88 6 – 7 anos 88 83 7 – 8 anos 83 76 8 – 9 anos 77 69 9 – 10 anos 72 62 ADOLESCENTES 11 – 14 anos 55 47 15 – 18 anos 45 40 ADULTOS E IDOSOS: CONFORME GRAU DE ESTRESSE METABÓLICO Sem estresse 22 a 25 Estresse Leve 25 a 27 Estresse Moderado 25 a 30 Estresse Intenso 30 a 33 Queimados (<30%) 30 a 35 Obeso 20 a 22 Tabela 2 - Fórmulas para determinação de necessidades energéticas / FONTE: Diniz et al. (2018, s.p.). No contexto hospitalar, mesmo considerando pacientes obesos, devemos evitar o uso de dietas restritivas. Seguindo o Consenso da ESPEN (2021), em alguns casos podemos prescrever dietas hipocalóricas de forma transitória, como em: síndrome de realimentação, obesidade associada à resistência insulina severa. Mesmo nesses casos, devemos dar atenção para manter a ingestão proteica dentro dos níveis adequados. UNICESUMAR 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Determinação de Necessidades Proteicas A determinação das necessidades de proteínas deve ser realizada de forma individualizada, considerando sempre o estado clínico do paciente (DINIZ et al., 2018). Existem algumas especificidades para determinação das neces- sidades, irei novamente apresentar a fórmula de bolso (Tabela 3), que pela sua praticidade é muito utilizada em hospitais: Tabela 3 - Fórmulas para determinação de necessidades proteicas / FONTE: Diniz et al. (2018, s.p.). CLASSIFICAÇÃO IDADE OU FATOR PROTEÍNAS (G/KG/DIA) PEDIATRIA 0 – 6 meses 2,2 6 – 12 meses 1,6 1 – 3 anos 1,2 4 – 6 anos 1,1 7 – 10 anos 1,0 ADOLESCENTES MENINOS MENINAS 11 – 14 anos 1,0 1,0 15 – 18 anos 0,9 0,8 ADULTOS E IDOSOS: CONFORME GRAU DE ESTRESSE METABÓLICO Sem estresse 0,8 Estresse Leve 1,0 a 1,2 Estresse Moderado 1,2 a 1,5 Estresse Intenso 1,5 a 2,0 5 8 Escolha de dieta Após a determinação das necessidades do paciente – lembrando que demonstrei cálculos para necessidades energéticas e proteicas, entretanto, não devemos esquecer necessidades especícas de micronutrientes, de água, de bra, entendendo que a clínica do paciente é o determinante das suas necessidades –, temos que escolher qual será a conduta dietoterápica a ser adotada. Para pacientes que estão em dieta oral, deve-se escolher a que melhor cabe às necessidades do paciente. Cada instituição terá seu manual especíco (ESPEN, 2021), conforme determinação da equipe de nutrição da Unidade de Alimentação. Entretanto, normalmente as dietas se dividem em três blocos: DIETAS PADRÃO Geralmente dietas que seguem uma distribuição de nutrientes conorme as recomen- dações para a média da população e são modicadas apenas em alguns aspectos. Dentre elas, a dieta livre, a dieta leve ou a dieta branda, e a dieta para idade (pediátrica). DIETAS MODIFICADAS EM CONSISTÊNCIA Também dietas que procuram seguir a distribuição dos nutrientes conorme a recomendação média da população, entretanto com ajustes em consistência seja por disagia ou por evolução do quadro clínico do paciente. Dentre elas estão as dietas líquidas, líquidas pastosas, semipastosas, pastosas. DIETAS TERAPÊUTICAS Apesar de em sua base serem dietas que procuram manter as recomendações, elas são ajustadas conorme a necessidade das patologias. Dentre elas, as dietas para diabetes, para hipertensão, para dislipidemia, para insuciência renal, dentre outras. Além da dieta oral, em algumas situações podemos determinar que o pa- ciente necessite de um aporte aumentado e, nesses casos, iremos iniciar com uma terapia nutricional oral com suplementos completos, ou com UNICESUMAR 5 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 nutrientes e/ou módulos específicos. Em outros casos, poderemos propor o uso de uma terapia nutricional enteral que pode ser concomitante à via oral ou exclusiva (ESPEN, 2021). “ A terapia de nutrição enteral é um conjunto de procedimentos te- rapêuticos empregados para manutenção ou recuperação do estado nutricional por meio de nutrição enteral. Ela é caracterizada por prover nutrientes ao trato gastrintestinal atravésde um tubo, seja por sondas nasais ou ostomias (SANTOS, 2022, p. 4). A prescrição dietética deve ser adequada às necessidades do paciente e estar alinhada com as demais condutas e ainda deve ser tolerada pelo indivíduo. Não adianta fazermos uma bela prescrição e não darmos acompanhamento, pois a falha de vericar a tolerância ao longo da internação pode contribuir negativamente para alterações no estado nutricional e/ou em consequência do tratamento de modo geral do paciente (VALADÃO et al., 2021). Assim, torna- se imprescindível que o acompanhamento nutricional se dê ao longo de toda a internação do paciente para monitoramento e ajustes dietéticos conforme a necessidade (BEHRMANN; LIMA, 2019). Com a prescrição dietética pronta - atividade exclusiva do prossional nutricionista -, precisamos descrever no prontuário as seguintes informações: valor energético total (VET), consistência da alimentação, tipo de dieta escolhida, composição de macro e se possível dos micronutrientes (pelo menos os mais importantes para o caso clínico), fracionamento dietético (ESPEN, 2021). Conorme as recomendações da ESPEN (2021), a alimentação do paciente deve ser considerada como parte de seu tratamento médico e por isso deve estar detalhada na prescrição do paciente. IMPORTÂNCIA DA EVOLUÇÃO NUTRICIONAL EM PRONTUÁRIO O prontuário, conforme Silva (2021, p. 2), é um documento de extrema relevância. A “palavra origina-se do latim promptuarium e signica ‘lugar onde são guardadas coisas de que se pode precisar a qualquer momento’ ou ‘manual de informações úteis’, ou ainda, ‘cha que contém os dados pertinentes de uma pessoa’”, demonstrando que há muito tempo à necessidade de compilar dados pertinentes para o bom atendimento ao paciente. Após o trabalho desenvolvido pela equipe de nutrição clínica, necessitamos realizar a evolução nutricional em prontuário. Ela terá duas funções: manter o registro da história do paciente; e melhorar a comunicação entre a equipe, evitando a fragmentação da atenção ao paciente. Para o prossional, ter um registro detalhado da sua avaliação, diagnóstico e metas favorece o acompanhamento e facilita suas reavaliações. Para a equipe, uma evolução completa permite com que as condutas se mantenham em concordância, auxiliando para que os objetivos sejam centrados no paciente em busca de sua recuperação precoce (BEHRMANN; LIMA, 2019). A linguagem deve ser técnica e faz-se importante colocar todos os aspectos da avaliação, diagnóstico e prescrição. Um método disseminado na área da saúde é o S.O.A.P (QUEIROZ, 2009), um acrônimo utilizado no Prontuário Orientado por Problemas e Evidências, em que cada letra signica uma palavra que demonstra as informações a serem descritas: S = Subjetivo = Registra-se o motivo do atendimento, dados subjetivos coletados do paciente, queixas, sentimentos. O = Objetivo =Aqui é o espaço para o prossional descrever as inormações coletadas e os resultados importantes da avaliação nutricional. A = Avaliação = Aqui você descreve as suas hipóteses e diagnóstico nutricional, vinculando as inormações com o que oi descrito anteriormente. P = Plano = A partir do diagnóstico, aqui é o espaço em que você registrará a sua conduta nutricional: prescrição dietética, orma de alimentação, racionamento, dados da dieta a ser oerecida e planejamento para a internação. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 2 NOVOS DESAFIOS Após tantos aspectos relacionados com a avaliação nutricional, percebe-se como o trabalho do prossional nutricionista é complexo e diferente do que muitos pensam. Vai além de determinar uma “dieta x calorias”. Ter um olhar ampliado, conseguindo relacionar os dados coletados com a conduta de outros prossionais e assim propor um plano dietético pode fazer a diferença na recuperação do paciente. Entendendo essa complexidade, cabe ao nutricionista hospitalar vincular-se à equipe e desenvolver um protocolo especíco que caiba dentro das necessidades da instituição em que trabalha. Assim, se o perl da instituição é maternidade, dena critérios que sejam ade- quados para gestantes e bebês; se for clínica adulto, dena uma boa avaliação e critérios para esse nicho e assim por diante. Você pode pensar: para quê tudo isso? Con- forme vemos no Guideline da ESPEN (2021), um paciente que ficar por 3 dias sem a ingestão de 50% da sua dieta deve ter uma intervenção nutri- cional. E hoje é mais do que fundamentado que nosso atendimento é linha de frente nesse processo! Sim! Uma boa estratégia nutricional muda a história da internação, podendo promover uma recupe- ração completa e impactando morbidade e mortalidade. Espero que eu possa ter despertado o seu interesse na busca de um desem- penho transformador na vida de quem cuidamos. Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? EM FOCO Uma boa estratégia nutricional muda a história da internação 1. Para conseguir defnir o nível de risco nutricional de um paciente, são utilizadas as triagens nutricionais. Dentre as triagens mais utilizadas, sinalize quais afrmativas são corretas: I - AMini Avaliação Nutricional (MAN) oi ormulada para pacientes hospitalizados em qual- quer idade. II - A NRS-2002 é uma triagem que atende diversos públicos, mas não consegue detectar de orma adequada quadros de desnutrição. III - A Strong Kids é uma triagem recomendada para uso na internação de crianças, apesar de ainda não ser validada. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. 2. Após realizar uma avaliação nutricional completa, o profssional nutricionista deve realizar o diagnóstico nutricional. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I - O diagnóstico nutricional compreende o resultado da análise de todos os dados obtidos durante a avaliação do paciente. PORQUE II - Apenas com todos os dados coletados é possível identicar o estado nutricional real do paciente para poder propor um tratamento. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justicativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justicativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição alsa. d) A asserção I é uma proposição alsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são alsas. VAMOS PRATICAR 3. Ao fnalizar uma avaliação, realizar um diagnóstico e uma prescrição dietética, precisamos, enquanto profssionais, registrar os dados coletados de orma sistemática. Compreendendo a importância da evolução nutricional, avalie as afrmativas a seguir: I - A evolução nutricional serve como um registro do atendimento nutricional a ser utilizado apenas pela equipe de nutrição. II - No prontuário devemos ser sucintos. Por exemplo, na prescrição dietética só devemos descrever qual a dieta e via a serem utilizadas. III - Dentro da evolução nutricional devemos descrever no diagnóstico apenas o que or rela- cionado à nutrição, visto que diagnóstico de doenças é de atribuição exclusiva domédico. IV -O prontuário é um documento ocial, para tanto az-se necessário uso de linguagem técnica e que na evolução existam aspectos da avaliação, diagnóstico e prescrição. É correto o que se arma em: a) I e IV, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas. VAMOS PRATICAR 4 REFERÊNCIAS ASBRAN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO. Manual Orientativo: Sistematização do Cuidado de Nutrição. São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. BEHRMANN, G.; LIMA, A. M. P. Relevância do protocolo em nutrição na avaliação do estado nutricional do paciente hospitalizado: uma revisão integrativa. RASBRAN, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 134-141, jan-jun, 2019. Disponível em: https://www.rasbran.com.br/rasbran/article/view/1103.Acesso em: 30 maio 2023. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_cole- ta_analise_dados_antropometricos.pd. Acesso em: 30 maio 2023. DINIZ, A. A. A. et al. Instrutivo de Avaliação Nutricional e cálculo das necessidades energético proteicas. Belo Horizonte: [S.n.], 2018. ESPEN. ESPEN guideline on hospital nutrition. Clinical Nutrition, [S.I.], v. 40, 2021. QUEIROZ, M. SOAP revisitado. Rev Port Clin Geral, [S.l.], v. 25, n. 2, p. 221-227, 2009. SANTOS, S. V. Avaliação nutricional de pacientes hospitalizados em suporte nutricional en- teral. Ponta Grossa: Atena, 2022. SILVA, C. R. História do Prontuário Médico: Evolução do Prontuário Médico Tradicional ao Pron- tuário Eletrônico do Paciente – PEP. Research, Society and Development, [S.l.], v.10, n. 9, 2021. SOUSA, J. C. S. et al. Avaliação do estado nutricional de pacientes hospitalizados: uso de méto- dos convencionais e não convencionais. Demetra, [S.l.], v. 13, n. 1, p. 195-208, 2018. VALADÃO, T. A. et al. “Diga não à desnutrição”: diagnóstico e conduta nutricional de pacientes internados. BRASPEN J, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 145-150, 2021. 5 1. Opção B. 2. Opção A. Para um diagnóstico, há de se azer uma avaliação completa compreendendo as- pectos objetivos e subjetivos, e aliando demais inormações coletadas de outros proissionais. 3. Opção C. CONFIRA SUAS RESPOSTAS MEU ESPAÇO 1 UNIDADE 3 MINHAS METAS DIETAS HOSPITALARES, DE PROVA E PREPARO PARA EXAMES Compreender o trabalho entre equipe clínica e de produção. Entender a evolução dietética durante a internação. Compreender o papel das dietas especializadas. Compreender como são as dietas modicadas em consistências. Aprender sobre a dieta de prova. Aprender preparos para exames comuns durante a internação. Entender o papel do nutricionista na evolução dietética. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 3 1 INICIE SUA JORNADA Mais um dia se inicia no hospital e hoje você estará responsável pela clínica cirúrgica. Você encontra pacientes em bom estado nutricional, em risco e em desnutrição. Todos aguardam por procedimentos cirúrgicos dos mais diversos graus de complexidade, e estão em jejum desde o dia anterior. As cirurgias serão realizadas ao longo do dia, algumas ocorrem pela manhã, outras à tarde e outras possivelmente à noite, ou mesmo no outro dia, se acaso entrar alguma emergência. Como nutricionista, você consegue pensar qual seria a melhor conduta a ser realizada? Seria necessário manter todos os pacientes em jejum ou ter uma escala conforme o horário da cirurgia? Poderia ser realizada alguma interven- ção nos pacientes conforme o grau de risco nutricional? Um projeto super interessante busca conscientizar os prossionais de saúde sobre a abreviação de jejum no período pré-operatório. O nome é PROJETO ACERTO! Vamos conhecer? Recursos demídia disponíveis no conteúdo digital do ambien- te virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO Pensando nos casos apresentados, podemos diminuir o jejum ao míni- mo necessário, seguindo protocolos em consonância com a equipe mé- dica, ofertando maior concentração de nutrientes para pacientes em risco nutricional. E saber o risco nos per- mite realizar intervenções precoces no pós-operatório, com alimentação e evolução de dieta sempre que possível. Na realidade hospitalar, muitas vezes enfrentamos alguns problemas simplesmente de logística. Por isso é tão importante conhecermos nossos pacientes, sua situação e seu risco para propormos tratamentos coerentes com sua situação clínica, objetivando a recuperação precoce. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 DESENVOLVA SEU POTENCIAL INTERDISCIPLINARIDADE: NUTRIÇÃO CLÍNICA E EQUIPE DA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO Assim como o trabalho interdisciplinar é fundamental para que ocorra um atendimento integral e voltado para o paciente, a Equipe de Nutrição deve agir da mesma forma para que o atendimento seja cumprido. Conforme o último consenso da ESPEN (2021), é fundamental que toda a instituição tenha um serviço de alimentação organizado, com dietas padrão protocoladas, que sejam rotineiramente revisadas para adequação com as novas evidências. No Brasil recomenda-se centrar todas as nossas orientações a partir de nosso Guia Alimentar (BRASIL, 2014). Em resumo, ele descreve a necessidade de estabelecer a alimentação baseada em alimentos in natura, ou seja, a base da alimentação deve ter uma composição de alimentos naturais, como: as frutas, as verduras, os cereais e os tubérculos, e mesmo as carnes, ovos e lácteos. Além desses, iremos compor a dieta com alimentos minimamente processados ou processados. VAMOS RECORDAR? Vamos relembrar a Política Nacional de Humanização (PNH). Essa política visa efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualifcando a saúde pública no Brasil. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem 1 O que devemos evitar são os alimentos ultraprocessados, que são aqueles que em sua composição tenham ingredientes que não são naturais, são articiais e, em alguns casos, potencialmente perigosos para nossa saúde, e aqui entram diversos corantes, avorizantes, conservantes. Resumidamente, nosso planejamento deve ser centrado no paciente, respeitando suas crenças e valores, bem como sua história alimentar, visto que o alimento é muito mais do que apenas nutriente, ele é carregado de valores sociais e culturais que também promovem saúde e bem-estar. A equipe da Unidade de Alimentação (UAN) é parte fundamental no processo do atendimento ao paciente, visto que são eles que executam o nosso planejamento dietético. Para tanto, dialogar, montar protocolos em conjunto faz-se necessário para que consigamos atuar de forma integrada e lógica. Você consegue imaginar como uncionaria a produção alimentar se para cada paciente osse prescrita uma dieta dierente com composições alimentares dierentes? Será que seria viável? PENSANDO JUNTOS Entendendo que há necessidade de logística em uma UAN, precisamos compreender que a nossa prescrição dietética deve ter elemento norteador os cardápios e dietas que a equipe de Produção nos fornece, bem como, formular modicações que respeitem os alimentos disponíveis na Unidade Hospitalar e estejam adequados aos horários da distribuição de alimentos. O uso da ciência da nutrição, visa construir cardápios nutricionalmente adequados e voltados para as necessidades de cada patologia, aliado aos conhecimentos da área da gastronomia, permitem não apenas dietas hospitalares com padrão nutricional correto, mas alimentos ainda prazerosos que tenham apelo visual, olfativo e gustativo (SOUZA, MOLINA, 2021). Conforme o estudo de Carvalho et al. (2021), percebeu-se que a organização e cumprimento no horário de distribuição das refeições, foi um dos pontos que favoreceu a maior aceitação dietética por parte dos pacientes. Por isso, não apenas impor condutas, mas fazer com que o colaborador da unidade de alimentação entenda o seu trabalho com treinamentos e educação em saúde para motivá-lo, pode fazer a diferença. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 “ Destaca-se ainda que há vulnerabilidade dos pacientes quando a qualidade no atendimento hospitalar se baseia somente na eciência técnico-cientíca, focalizando apenas as doenças, os procedimentos e as tarefas (CARVALHO et al., 2021, p. 15). O atendimento de nutrição está muito além de apenas uma dieta perfeitamente calculada e prescrita, mas tende a ser um dos aspectos mais humanizadores da internação, pois vamos além do indivíduo doente e da comida, usamos a alimentação como um momento de acolhimento e prazer. EVOLUÇÃODE DIETA NA INTERNAÇÃO Como falado anteriormente, o paciente deve ser atendido de forma individua- lizada e a prescrição dietética deve ser baseada em: suas necessidades energéti- co-proteicas, necessidades dietoterápicas (respeitando todas as suas patologias- -base), individualidades e cultura (por exemplo, um paciente vegetariano ou mesmo um paciente kosher). 1 4 Mesmo levando em consideração tudo isso, o acompanhamento ao longo de sua internação é imprescindível, visto que seu estado nutricional ou suas con- dições clínicas podem variar. Conforme recomendações da ESPEN (2021), o atendimento regular do paciente visa adaptar as necessidades da alimentação conforme a evolução de sua doença. VOCÊ SABE RESPONDER? Se um paciente está internado com dieta para diabetes e inicia com quadro de diarreia, qual seria a sua conduta relacionada com a composição das fbras? Consegue compreender como nós, enquanto nutricionistas, devemos estar aten- tos a tudo o que acontece com o paciente durante sua internação? Alguns exem- plos: paciente interna com constipação, necessita aumento de suporte de bras; paciente apresenta diculdade de deglutição, necessita avaliação do fonoaudió- logo e ajustes em consistência da dieta; paciente desnutrido, necessita ajustes da oferta proteica; paciente irá realizar procedimento cirúrgico, necessita ajuste dietético e jejum para o procedimento. O que pretendo destacar aqui, é que o nosso trabalho com o paciente não termina após a primeira avaliação por mais bem feita e completa. Anal, ao longo dos dias, o paciente apresentará mudanças, seja por sua condição clínica, seja por aspectos emocionais envolvidos. O nosso trabalho com o paciente não termina após a primeira avaliação Os aspectos culturais e emocionais não podem ser negligenciados. Se um pacien- te permanece por um longo período internado, por exemplo, ele pode enjoar da alimentação, diminuir a tolerância de algum suplemento, e caberá ao nutricionista clínico compreender e propor alternativas que estejam conorme o disponível na instituição e ainda atendam às necessidades do paciente. PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Acredito que após essa breve reexão, você consiga compreender que o seu papel enquanto nutricionista está muito além de uma simples avaliação. Dietas Padrão Padronização, conforme o dicionário Aurélio (2023), signica: sistematização, uniformização. Ou seja, padronizar dietas, signica sistematizar cardápios que possam atingir metas quali e quantitativas de macro e micronutrientes de um grupo de pacientes. Além disso, devemos considerar a capacidade funcional desse grupo de pacientes, como, por exemplo: capacidade de deglutição, capacidade gástrica, capacidade cognitiva, impactos das patologias de base. As dietas hospitalares visam atender as demandas nutricionais de um indivíduo considerando seu estado nutricional e siopatológico. Para isso, as dietas vão sendo compostas e modicadas conforme as necessidades especícas. E essas alterações por vezes transformam os alimentos a ponto de não serem mais identicados ou serem vistos negativamente, o que torna o papel do nutricionista indispensável para auxiliar na adaptação das dietas conforme a tolerância dos pacientes (CARVALHO et al., 2021). Para cada instituição, dependendo das especialidades, será necessário o desenvolvimento de dietas diferentes. Seguindo as diretrizes da ESPEN de nutrição hospitalar, espera-se que as dietas padrão possam cobrir algumas necessidades especícas: “A dieta hospitalar deve cobrir 30 kcal/kg/dia das necessidades energéticas, e pelo menos 1,2 g/kg/dia das necessidades proteicas” (ESPEN, 2021, p. 5691, tradução da autora). Entretanto, de forma geral teremos alguns grupos que serão presentes em todos os locais, e dentro das dietas padrão gerais, temos duas em especíco que são as mais comumente utilizadas: As dietas hospitalares visam atender as demandas nutricionais de um indivíduo 1 DIETA LIVRE OU DIETA GERAL Será utilizada para pacientes que a princípio não apresentam nenhuma doença que necessite alteração na alimentação, e que estejam em um estado nutricional normal. Pensando em nível assistencial, são dietas para nível de assistência primário. Em suas características principais, teremos nutrientes base para um adulto conorme as recomendações, sem alteração em proporções. E alimentos sem mudanças em consistência. EXEMPLO DE CARDÁPIO: • Desjejum: Caé com leite + pão (integral, rancês, atiado...) com manteiga ou geleia, ou rios + ruta. • Almoço e Jantar: Salada verde + legumes cozidos ou reogados + arroz + eijão + guarnição (batata, mandioca, massa, polenta...) + alimento proteico (carnes, ovos...) + sobremesa ou ruta. • Lanches e ceia: Chás/ vitaminas / suco de rutas + bolo / torrada / biscoitos. DIETA LEVE OU BRANDA Será utilizada para um grupo geral de pacientes, que não apresentem necessidades dietoterápicas especícas, mas que estejam em processo de recuperação, como: pós-cirúrgico, início de alimentação após período de jejum. Pensando em nível de assistência serão pacientes de nível primário ou secundário. Em suas características, mantém-se a proporção de macro e micronutrientes, com alimentos abrandados, ou seja, passando por processos de quebra de bras e tecidos, acilitando mastigação, deglutição e digestão. EXEMPLO DE CARDÁPIO: • Desjejum: Caé com leite / chás + pão (rancês, atiado branco) com manteiga ou geleia + ruta cozidas, ou em orma de suco. • Almoço e Jantar: Legumes cozidos ou reogados + arroz + caldo de eijão + guarnição (purê de batata, de mandioca, polenta...) + alimento proteico (carnes cozidas, desa- das ou moídas, ovos...) + sobremesa com cremes ou compotas. Também podem ser oerecidos sopas e cremes em substituição da comida. • Lanches e ceia: Chás/ vitaminas / suco de rutas + biscoitos doces ou salgados, cremes, iogurte. Fonte: (ICESP, 2017) UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 A partir desses dois grupos de dietas há o desdobramento para as demais necessidades, seja considerando consistência, ou nutrientes especícos conforme as patologias-base ou dietas para preparos para exames e procedimentos cirúrgicos. Nesse momento, nossos conhecimentos em dietoterapia, que signica utilizarmos nossos conhecimentos para estabelecer uma alimentação que venha tratar e auxiliar na melhora do indivíduo conforme as suas debilidades, são fundamentais para conseguirmos atender as demandas apresentadas. Dietas Modifcadas em Consistência Entre as dietas mais presentes e importantes em um hospital estão as dietas modicadas em sua consistência. Podemos pensar em dois casos principais para modicar a consistência de um alimento: pacientes com diculdade de deglutição/ disfagia ou pacientes que apresentem diculdades em sua dentição. 1 8 Dentre as dietas mais comuns entre as modicadas, teremos (SANTOS et. al., 2021; ICESP, 2017): DIETA LÍQUIDA RESTRITA Dieta para pacientes no pré-cirúrgico, em preparo para exames, ou que vinham sem tolerância de alimentação e irão reiniciar com dieta. É uma dieta de transição e deve ser utilizada o mínimo de tempo necessário para o m esperado. Em geral apresentam baixa densidade calórica e proteica, composta apenas de pequenas quantidades de líquidos. Basicamente usam-se: sucos de rutas coados, água de coco, chás, caldos de legumes ou de carnes. DIETA LÍQUIDA Dieta para pacientes que passaram por: procedimentos de cabeça e pescoço (em alguns casos ainda se devem deixar os líquidos rios ou gelados), pacientes em quadros infamatórios, pacientes com incapacidade de tolerância de alimentos sólidos. Em geral, não conseguem atingir as necessidades de todos os macronutrientes, entretanto, podem atingir as necessidades calóricas. São compostas por alimentos de ácil digestão e podem ter alimentos líquidos ou que se liqueazem na boca, como: sucos de rutas, vitaminas, iogurte, chás, gelatinas, caldos de sopa ou sopas maisralas liquidicadas. DIETA LÍQUIDA-PASTOSA Utilizadas para pacientes que estão em evolução dietética após procedimentos cirúrgicos, ou que não toleram alimentos sólidos, que apresentam diculdades de mastigação, ou mesmo em casos de disagia. Em geral, atinge algumas metas de macronutrientes, podendo ter baixa proporção de bras e em micronutrientes. Em sua composição podem ser apresentados todos os tipos de alimentos, desde que passem por processos que os transormem em alimentos líquidos ou cremosos, como: suco de rutas, vitaminas, iogurte, chás, gelatinas, caldos de sopa, sopas liquidicadas, alimentos liquidicados (arroz e eijão; batata com carne; cremes de moranga, entre outros). UNICESUMAR 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 DIETA PASTOSA / CREMOSA Utilizada em pacientes que estão em treino de desmame de Terapia Nutricional Enteral e para pacientes com risco de aspiração ou diculdade de mastigação. Em termos gerais, atinge as necessidades nutricionais de um paciente adulto, tendo sua composição completa em alimentos, os mesmos sendo modicados apenas em sua orma de apresentação e consistência. EXEMPLO DE CARDÁPIO: • Desjejum: Caé com leite / chás + mingau ou papa de rutas + vitamina, ou rutas cozidas em orma de purê. • Almoço e Jantar: Sopas batidas ou purês e cremes de legumes ou tubérculos / eijão liquidicado e coado / carnes moídas e desadas / sufês. • Lanches e ceia: Chás/ vitaminas / suco de rutas / mingaus e cremes. Para as dietas modicadas em consistência precisamos considerar o risco de aspiração / disfagia dos pacientes. E nesse ponto, a presença de um fonoaudiólogo para essa avaliação é fundamental. Conforme o parecer da BRASPEN (ALVITE et al., 2019), compete ao fonoaudiólogo identicar os pacientes em risco de disfagia, assim como realizar a avaliação da biomecânica da deglutição e prescrever consistência alimentar, volume, ritmo de oferta, manobras e posturas necessárias para administrar a alimentação de forma segura; enquanto ao nutricionista compete realizar a prescrição dietética conforme as orientações do fonoaudiólogo a m de garantir uma alimentação adequada e que cumpram as suas necessidades siológicas. Conorme o estudo de Carvalho et al. (2021), percebeu-se que homens normalmente apresentam maior fuxo de deglutição do que mulheres, entretanto o envelhecimento se mostrou determinante de diminuição de fuxo e capacidade de deglutição em ambos os sexos. Entender o risco de um paciente aspirar pode ser diferencial em desfecho e recuperação, assim, manter a consistência sugerida é essencial para o sucesso do tratamento. Ao longo dos anos, diversas classicações de espessamento existiram e em cada país uma nomenclatura era utilizada, por essa razão, em 2013, houve a 8 formação de um comitê internacional para padronização das dietas para disfagia (IDDSI - International Dysphagia Diet Standardisation Initiative), e em 2022 publicaram um diagrama atualizado sobre espessamento de alimentos que pode ser utilizado tanto em nível hospitalar, quanto em nível domiciliar por pacientes e cuidadores. Para a nova denição usa-se uma classicação por números e o teste é realizado através do uso de uma seringa, como demonstrado na gura a seguir: Figura 1 - Determinação do nível de espessamento dos alimentos / Fonte: adaptado de IDDSI (2022). Descrição da Imagem: a imagem é uma ilustração composta de duas partes. Do lado esquerdo tem uma barra vertical composta por 10 quadrados de tamanhos iguais, onde o primeiro tem a cor branca; os próximos 3 na cor preta; os 4 seguintes, na cor pink e os últimos 2 tem a cor amarela, os quais representam os níveis de gotejamento: 0, 1, 2 e 3. Ao lado direito da escala tem um seta também vertical com as seguintes informações “Verique sua seringa: escala de 0-10mL = 61,5mm”. Ao lado apresenta uma seringa sem êmbolo com a marcação de 1mL, 4mL, 8mL e 10ml e ao seu lado uma régua marcado os milímetros 61,5mm. Do lado direito da imagem há uma sequência de imagens: uma mão segurando uma seringa sem êmbolo com o dedo mínimo cobrindo a abertura. Após o desenho com a mão da mesma forma, mas com outra seringa introduzindo líquido na seringa pelo espaço do êmbolo até os 10 ml; após a mão solta o dedo mínimo da abertura e solicita o início do cronômetro com a vazão do líquido; por último a mão retorna a fechar o bico com o dedo mínimo aos 10 segundos do cronômetro para averiguar quantos ml restaram na seringa. Ao fundo aparecem marcações coloridas: acima de 10ml – classicação 04; entre 08 e 10 ml – classicação 03; entre 04 e 08ml – classicação 02; entre 01 – 04ml – classicação 01 e abaixo de 01ml – classicação 0. Fim da descrição. © IDDSI 2022 1ml 4ml 8ml 10ml Nível 4: Use os testes de gotejamento do garfo e inclinação da colher IDDSI © IDDSI 2022 Vire para verifique o nível IDDSI Remova o êmbolo Coloque o dedo aqui Tampe o bico com o dedo e encha 10mL Destampe o bico e inicie o temporizador Pare em 10 segundos 1. 2. 3. 4. 10 ! 10 10 10 10 UNICESUMAR 8 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Após o uso da seringa para determinação do espessamento, temos as seguintes denições (CICHERO et al., 2019): 0 – LÍQUIDO FINO Flui como água; fuxo rápido; pode ser bebido através de qualquer tipo de bico, copo ou canudo. 1 – MUITO LEVEMENTE ESPESSADO Mais espesso que a água; requer um pouco mais de esorço para beber do que líquidos nos; fui através de canudo, seringa, bico; semelhante à espessura da órmula antirregurgitação. 2 – LEVEMENTE ESPESSADO Flui de uma colher; pode ser bebido em goles, derrama rapidamente de uma colher; é necessário um esorço leve para beber através de um canudo de oriício padrão (5.3mm de diâmetro). 3 – LIQUIDIFICADO MODERADAMENTE ESPESSADO Pode ser bebido em um copo; é necessário um esorço moderado para sugar através de um canudo de oriício padrão ou largo (6.9mm de diâmetro); não pode ser comido com um garo; pode ser comido com uma colher e engolido diretamente; textura lisa e sem “pedaços” (grumos, bras, pedaços de pele ou casca, cartilagem ou osso). 4 – PASTOSO EXTREMAMENTE ESPESSADO Normalmente comido com uma colher (com um garo é possível); não pode ser bebido em um copo porque não fui acilmente nem sugado por canudo; não exige mastigação; mostra algum movimento muito lento sob a gravidade, mas não pode ser derramado; cai da colher em uma única colherada quando inclinada; sem gru- mos; não pegajoso; o líquido não deve se separar do sólido. 8 O uso de espessantes, para paciente disfágico é essencial (CICHERO et al., 2019), inclusive para líquidos como a água. Como nutricionistas preci- samos aprender e entender essas particularidades não apenas para cumprir a consistência orientada, mas para sensibilizar o paciente para a adesão ao tratamento, visto que o consumo de alimentos espessados não é atrativo. O uso de espessantes, para paciente disfágico é essencial Para entender melhor o novo consenso sobre a classicação do espessamento, sugiro a leitura do material da IDDSI, na íntegra. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EU INDICO Dietas Especializadas Ainda temos as dietas especiali- zadas/terapêuticas. Como sem- pre digo cada instituição terá suas prioridades conforme a clientela atendida para definir o que será padronizado. Algumas dietas, en- tretanto, são habituais (SANTOS et. al., 2021; ICESP, 2017): DIETA PARA DIABETES Delineada para pacientes com diabetes mellitus, apresentando controle em quantida- de de carboidratos (índice e carga glicêmica): geralmente rica em bras, com exclu- são/restrição de alimentos renados e da adição de sacarose. UNICESUMAR 8 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 DIETA HIPOSSÓDICA Delineada para pacientes com Hipertensão Arterial Sistêmica, ou outras cardiopatias que necessitem da restrição do sódio para auxílio no controle da pressão arterial. Geralmente composta por alimentos sem adição de sal e são ornecidasas gramas de sal determinadas pela equipe, de orma adicional. DIETA LAXATIVA Delineada para pacientes constipados ou que necessitem maior aporte de bras e líquidos. Geralmente, é uma dieta com mudança de alimentos renados por alimentos integrais, uso de alimentos potencialmente laxativos, acréscimo de bras e retirada de alimentos constipantes. DIETA CONSTIPANTE OU SEM RESÍDUOS Delineada para pacientes com quadros de diarreia. A composição será de alimentos diminuídos em bras ou com bras solúveis, bem como restrição do uso de lactose, ajustando a oerta de líquidos e eletrólitos. DIETA PARA DOENÇA RENAL Delineadas para pacientes com doenças renais em tratamento conservador ou em diálise. Para cada caso, serão ajustadas às necessidades especícas, como quantidade de proteínas, potássio e ósoro. Deve ser determinada a necessidade de restrição hídrica, estipulando a quantidade permitida nas 24h. DIETA PARA GASTRITE / ÚLCERA Delineadas para pacientes que apresentem gastrite ou úlcera, ou um quadro de hemorragia digestiva, que necessitem de uma alimentação abrandada e não ácida para avorecer a sua recuperação. Para cada situação de saúde, podem ser utilizadas dietas específcas Para cada situação de saúde, podem ser utilizadas dietas especícas é de suma importância que a equi- pe dena as suas prioridades. Existem ainda algumas dietas terapêuticas comuns em ambiente hospitalar 8 4 Outro ponto que comumente observamos em ambiente hospitalar são pacien- tes que apresentam múltiplas enfermidades e necessidades de dietas especí- cas que intercruzem os diversos tipos, por exemplo: um paciente diabético que apresenta insuciência renal crônica. Nesse caso, precisamos entender as prioridades terapêuticas do paciente para assim denir na prescrição dietética como será a composição alimentar e que alimentos e nutrientes iremos modi- car a m de atender essas necessidades especícas. que são apenas ajustes em nutrientes, como: dieta hiperproteica; dieta hipercaló- rica e hiperproteica; dieta hipolipídica; dieta hipoproteica. Nesses casos, as dietas são similares à dieta LIVRE, entretanto com ajustes no macronutriente especíco. Uma dieta ainda utilizada é a dieta neutropênica, ou dieta sem crus. Usualmente essa dieta vinha com a intenção de garantir uma diminuição da proporção de microrganismos nos alimentos e com isso não colocar em risco de inecção pacientes que estavam com seu sistema imune debilitado (em especial pacientes oncológicos em neutropenia ou após transplante). Entretanto, após diversos estudos e metanálises, percebeu-se não haver conrmação de beneícios, pelo contrário, por se restringirem diversos tipos de alimentos, em especial crus (vegetais), diminuía-se o aporte de vitaminas, minerais e antioxidantes que apresentam papel undamental para a recuperação da imunidade. Por isso, a última diretriz da ESPEN (2021) chegou ao consenso de não aconselhar mais esse tipo de terapia. APROFUNDANDO UNICESUMAR 8 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 DIETAS DE PROVAS E SUAS PARTICULARIDADES Dentro do contexto hospitalar teremos dietas delineadas para preparo de exames, para pré-operatório, para atender ao processo de desmame de sonda, ou mesmo uma evolução dietética após longo período em jejum (SANTOS et. al., 2021). Ao longo dos últimos anos, alguns conceitos foram sendo modificados. Antigamente era habitual deixar pacientes muitas horas e mesmo dia em jejum para ter a certeza de que o alimento não atrapalharia os procedimentos, seja com possíveis aspirações, vômitos, estase gástrica. Entretanto, com a ampliação dos estudos e a percepção do agravamento dos casos de desnutrição intra-hospitalar, uma das premissas é que ocorra abreviação de jejum, ou seja, que se inicie a alimentação de forma precoce ou mesmo, que o paciente fique em jejum o mínimo de tempo necessário. Dentro desse contexto temos a dieta de prova, que é indicada para casos cirurgia de cabeça e pescoço, pós-operatório, transtornos intestinais e preparos de exame, sendo basicamente composta por: água, chás, água de coco, isotônicos e gelatinas diet. Essa composição serve apenas para uma adaptação do paciente, e nela não se faz uso de alimentos ricos em gordura e carboidratos simples, visto o risco de o paciente apresentar síndrome de realimentação e síndrome de dumping. 8 Ampliando um pouquinho os conceitos anteriormente apresentados, temos como denição: Síndrome de Realimentação (SR): conorme Sad et al. (2019), a SR é uma reação anabólica em decorrência da terapia nutricional. Ela ocorre especialmente em pacientes desnutridos ou que tenham sorido um quadro catabólico grave (idosos, pacientes HIV e doentes críticos tem maior risco), e que estejam em jejum por mais de cinco dias ou recebendo um aporte calórico muito baixo nos últimos dias. Ao apresentar a SR, o paciente pode ter sintomas leves, com piora clínica e em quadros graves pode mesmo levar a morte cardíaca súbita. Síndrome de Dumping (SD): conorme Chaves e Desteani (2016), a SD é uma das síndromes mais comuns após gastrectomias (incluindo as cirurgias bariátricas) e está relacionada com sintomas vasomotores e gastrointestinais, devido ao rápido esvaziamento gástrico rápido e a grande exposição a nutrientes no intestino delgado, com resposta siológicas de: liberação de bradicinina, serotonina e enteroglucagon, juntamente com líquido extracelular, levando aos sintomas iniciais (necessidade de deitar, palpitação, hipotensão arterial, taquicardia, adiga, tontura, sudorese, dor de cabeça, rubor, calor, sensação de saciedade, dor e plenitude epigástrica, diarreia, náusea, vômito, cólica, inchaço, e borborigmo) em menos de 30 min, e dentro de 90 min a 3 h, aos sintomas tardios (transpiração, tremor, diculdade em concentrar- se, perda de consciência e ome) devido à alta secreção de insulina provocando a hipoglicemia (CHAVES; DESTEFANI, 2016, p. 117). ZOOM NO CONHECIMENTO Percebendo essas possíveis complicações, entende-se que a dieta de prova se faz importante para conseguir- mos uma evolução gradual da dieta, mantendo uma segurança ao paciente e mesmo realizando uma ali- mentação precoce, diminuindo quadros de riscos nu- tricionais. Entretanto, o que preciso deixar claro é sua transitoriedade, exatamente por ser uma dieta restri- ta, não sendo nutricionalmente adequada para segui- mento, demonstrando a importância do acompanha- mento nutricional para a evolução da dieta assim que o paciente mostrar boa tolerância com a alimentação. UNICESUMAR 8 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Pré e Pós-cirúrgico Dentre as dietas de prova, temos as dietas específicas para períodos pré e pós-operatórios. Obviamente, conseguimos compreender que pessoas submetidas a pro- cedimentos cirúrgicos necessitam aporte nutricional diferenciado, princi- palmente quando consideramos as grandes cirurgias ou pacientes que es- tejam em risco nutricional. Conforme o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (IBANUTRI), sabe-se que cerca de 48% dos pacientes hospitalizados estão em estado de desnutrição, sendo que dentre os pacientes cirúrgicos, esse índice é de 35 a 60% (ARARIPE et al., 2019). Há grande respaldo para o uso de dietas imunomoduladoras no período pré-operatório, apresentando benefícios tanto para a ecácia do procedimento como para uma recupe- ração precoce do pacien- te. Entretanto, ainda não há consenso e prática dessa diretriz por parte dos cirurgiões, fazendo com que o nutricionista desempenhe um papel importante de dissemi- nação da informação e atuação interdisciplinar. Realizar uma alimentação pré-operatória que vise recuperação do risco nutricio- nal, melhora de quadros de sarcopenia, compensação de diabete, uso de imu- nonutrientes (dentre os mais estudados ômega-3, arginina e nucleotídeos) têm demonstrado uma melhor recuperação, assim como melhora da capacidade un- cional do paciente, modulação da resposta infamatória no pós-cirúrgico, melhora da cicatrização, diminuiçãoda morbidade, redução de complicações e mesmo redução em tempo de internação. O uso de ômega-3 e outros imunonutrientes são especialmente positivos em pacientes que irão realizar cirurgia oncológica, principalmente se já estiverem em estado de risco nutricional ou desnutrição. APROFUNDANDO 8 8 Outro ponto que ainda apresenta resistência por parte dos prossionais médicos, tanto anestesistas quanto cirurgiões, mas que já está bem fundamentada, e vêm sendo estudada e comprovada há muitos anos, é a abreviação de jejum (DE-A- GUILAR-NASCIMENTO et. al., 2017). Muitas condutas perioperatórias, dentre elas, manter pacientes em jejum de horas ou mesmo de dia no período antes da cirurgia é obsoleta, e observando as evidências cientícas deveriam ser abando- nadas. Infelizmente, a realidade dos hospitais brasileiros permanece, ainda, com tempo de jejum muito maior do que o recomendado. “ O jejum pré-operatório não deve ser prolongado. Para a maioria dos pacientes candidatos a procedimentos eletivos recomenda-se jejum de sólidos de 6-8h antes da indução anestésica. Líquidos contendo carboidratos (maltodextrina) devem ser ingeridos até 2h antes da anestesia, exceto para casos de retardo no esvaziamento esofágico ou gástrico, ou em procedimentos de emergência (DE-AGUILAR- -NASCIMENTO et. al., 2017, p. 637). Conforme os estudos têm demonstrado, o volume de resíduo gástrico é similar para pacientes que cam 12 horas e os que cam com jejum de sólidos de 6 horas, e de líquidos 2 horas, e mesmo demonstrou que essa abreviação não aumentou risco de aspiração ou pneumonia, trazendo benefícios tanto de bem- estar ao paciente, quanto de melhora de parâmetros metabólicos, reforçando a segurança deste protocolo (DE-AGUILAR-NASCIMENTO et. al., 2017). A realidade brasileira ainda não é condizente com essa orientação, como exemplo, no estudo de Araripe et al. (2019), demonstraram que pacientes em cirurgia de médio porte tiveram uma média de 16h de jejum, enquanto os de cirurgia Atualmente, já se fala não apenas do uso de carboidratos de rápida absorção nesse período, mas a possibilidade de utilizar aminoácidos ou mesmo proteínas hidrolisadas. Perceberam-se benefícios ainda maiores no que diz respeito à resistência à insulina, capacidade funcional e di- minuição do risco de inflamação. de grande porte permaneceram por mais ou menos 15h em jejum; em geral, a média no Brasil são cerca de 18h de jejum. UNICESUMAR 8 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 O mesmo paradigma é enfrentado no pós-cirúrgico, em que ainda são utilizados protocolos mantendo pacientes em jejum por longos períodos, principalmente em cirurgias mais complexas e que sejam do trato gastrointestinal. Entretanto, já existem estudos mostrando segurança do início precoce da alimentação do paciente, sendo que o maior critério seja estabilidade hemodinâmica. Dentre as complicações mais comuns que retardam o início da dieta estão náuseas, vômitos e distensão abdominal. A recomendação atual é que os pacientes iniciem uma alimentação, preferivelmente via oral, em até 24 horas após a cirurgia. Conforme as diretrizes da ESPEN para cirurgia (2021), atender às necessidades dos pacientes, e garantir seu estado nutricional têm enorme impacto em morbidade e mortalidade, demonstrando a importância da nutrição para esse público. O que precisamos entender é que a proteína deve ser oertada na orma de aminoácidos livres ou pequenos nucleotídeos para que haja rápida absorção e rápido esvaziamento gástrico, mantendo assim a segurança do paciente para o procedimento (ESPEN, 2021). Dentre as características a serem observadas para determinar o equilíbrio he- modinâmico estão: choque séptico, débito cardíaco diminuído, perusão tissular inecaz, ventilação espontânea prejudicada, hipertermia, síndrome de décit do autocuidado, risco de glicemia instável e risco de integridade da pele prejudicada. Esses cuidados são realizados pela equipe de enermagem e equipe médica. APROFUNDANDO Habitualmente, para início da dieta pode ser utilizada a dieta de prova, com rápida evolução conforme for sendo percebida a tolerância do paciente à alimen- tação. Para pacientes em cirurgia de pequeno porte ou mesmo cirurgia eletiva, sugere-se a liberação de dieta precoce e conforme a vontade do paciente, ou seja, manter alimentos e consistências que ele mesmo se sinta confortável para ingerir. Em caso de pacientes cirúrgicos de risco que não tenham condições clínicas de alimentação oral, também é sugerida a alimentação precoce, usando vias alternativas, seja via enteral e, em últimos casos, via parenteral. 9 Para esses pacientes também serão realizadas evoluções de dieta graduais para evitar em especial a SR, entretanto necessitam um acompanhamento individualizado para garantir a sua recuperação. Sendo que pacientes que não conseguem atingir a ingestão de pelo menos 50% de suas necessidades são elegíveis para iniciar tratamento com terapia nutricional, seja por meio de suplementos orais ou mesmo enterais. ACERTO: acelerando a recuperação total pós-operatória O livro visa compilar as últimas reerências e indicações sobre a abreviação do jejum tanto no pré quanto no pós-operatório. Ao longo do livro, conseguimos compreender a siologia do paciente mediante aos procedimentos e entender em cada especialidade como aplicar essas condutas que além de garantirem maior bem-estar ao paciente proporcionam ainda a sua recuperação precoce. INDICAÇÃO DE LIVRO Exames laboratoriais VOCÊ SABE RESPONDER? Quando vamos coletar exames de sangue são geralmente orientadas algumas horas de jejum. Você sabe qual a razão desse preparo? Pode parecer desnecessário falarmos um pouco sobre o preparo para exames laboratoriais, entretanto, não realizar esses protocolos pode inuenciar nos re- sultados, aumentar a necessidade de recoleta, e por vezes atrapalha ou atrasa diagnósticos importantes. A maioria dos exames não necessita preparos muito signicativos, em geral, especialmente os laboratoriais, vão necessitar apenas de algumas horas de jejum. Entretanto, alguns exames, como a colonoscopia, por exemplo, irão necessitar alguns dias de preparo com alimentações especícas. UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Para a coleta de exames laboratoriais, alguns como: glicose, triglicerídeos, ferro sérico, hemograma, necessitam jejum de 4 a 14 horas. O jejum, nesse caso, serve para que consigamos ter parâmetros adequados no resultado, visto que não fazer jejum ou manter períodos maiores do que os recomendados irão interferir diretamente no resultado, pois o corpo realizará reações metabólicas compensatórias trazendo assim resultados equivocados. O jejum, nesses casos, compreende todos os tipos de alimentos, assim como chás, sucos, café, bebida alcoólica. Todavia, o consumo de água é indicado, até para que o indivíduo permaneça bem hidratado, o que facilita a coleta de sangue. Em caso de outros exames, temos alguns critérios (SANTOS et. al., 2021, ICESP, 2017): PET-SCAN • Necessita preparo de 24h antes da realização do exame, azendo uma restrição de carboidratos, como, por exemplo: Açúcar (renado, cristal, mascavo), mel, e doces em geral; Sucos/rerigerantes com açúcar e bebidas alcoólicas; Arroz emassas em geral; Cereais matinais (granola, focos demilho); Grãos como eijão, lentilha, ervilha; Tubérculos como, batata, batata-doce, mandioquinha, beterraba e cenoura; Farinhas em geral (trigo, centeio, arroz, aveia), biscoitos, pães, bolos; Frutas; Iogurte, leite e derivados. • No dia do exame, sugere-se jejum de 6 horas, e antes disso o consumo apenas de líquidos não adoçados e ovos. PESQUISA DE SANGUE OCULTO NAS FEZES • Necessita da retirada de alguns alimentos para observar a presença real de sangue. O ideal é um preparo de 3 dias, com retirada de alimentos como: carnes (qualquer tipo), alguns vegetais (rabanete, nabo, beterraba, cenoura, abóbora e os clorolados: espinare, alace, bertalha), assim como eijão, gema de ovo, bananadae goiabada, medicamentos à base de erro. CINTILOGRAFIA DE TIREOIDE • Retiram-se alimentos ricos em iodo, para conseguir visualizar no exame sítios de acúmulo de íon radioativo, para denir áreas diminuídas ou aumentadas da glândula. • O ideal é que seja um preparo de 7 dias com a retirada de alimentos como: Peixes, alimentos do mar, brócolis, agrião, espinare, caqui, sal. 9 COLONOSCOPIA • Para conseguir executar o exame e mesmo obter resultado ecaz, precisa-se de um preparo de limpeza do cólon por 2 dias. O mesmo se dará pela mudança na alimentação e inclusão de medicamentos laxativos. • A alimentação deve ser de base leve, com o mínimo de bras e sem o consumo de alimentos corantes (em especial os vermelhos, sejam naturais ou articiais). Pree- re-se o consumo de: arroz branco, purê de batatas, ovos cozidos, rango ou peixe grelhado, macarrão sem molho vermelho, caldo de rango, bolacha de água e sal, gelatinas de cores claras. • Realizar o consumo de pelo menos 2 litros de líquidos (água, chás claros, sucos ou bebidas isotônicas). • Alimentos que não devem ser ingeridos: carnes vermelhas, verduras e legumes em geral, rutas e cascas, leite e derivados, rerigerantes, bebida alcoólica. • Geralmente, o jejum se inicia de 4 a 6 horas antes do exame. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA PARA DIAGNÓSTICO DE ENDOMETRIOSE • Para o diagnóstico de endometriose, a ressonância irá mostrar imagens de toda a pelve em múltiplos planos auxiliando assim o diagnóstico. Entretanto para sua eetividade necessitamos de uma limpeza do cólon e diminuição de peristaltismo, por isso recomenda-se 24 horas antes do exame uma dieta pobre em resíduos (sem bras e lácteos), assim como geralmente associa-se o uso de laxativos e medica- mentos antiespasmódicos. Cada laboratório irá solicitar preparos diferentes para seus propósitos. Por isso, cabe aos prossionais a boa comunicação para conseguir organizar os protocolos corretos que atendam às necessidades de cada instituição. UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 PRESCRIÇÃO DIETÉTICA E EVOLUÇÃO Como estamos discutindo ao longo do conteúdo, a prescrição dietética deve ser criteriosa. Vamos lembrar os passos necessários para chegar até uma prescrição dietética assertiva? Inicialmente, iremos triar o paciente, realizar uma avaliação nutricional com- pleta (dados objetivos e subjetivos) para um bom diagnóstico; interpretar todos os dados coletados e relacionar com o quadro diagnóstico do paciente e a con- duta dos outros prossionais, e apenas após esse procedimento iremos realizar a prescrição da dieta. Certo? O planejamento dietético de um paciente deve ser rotineiramente avaliado ao longo de toda a sua internação, e consequentemente ajustado quando houver necessidade, seja através de evolução ou involução de dieta. Pensando em um paciente que interna para um procedimento cirúrgico, ini- ciaremos com dieta padrão; 6h antes do procedimento iniciamos o protocolo de jejum para sólidos e 2h antes jejum para líquidos. Após o procedimento, e se o paciente estiver hemodinamicamente estável, iremos reiniciar uma alimentação oral o mais rápido possível, procurando não ultrapassar 24h. Para iniciar a dieta, se o paciente tiver realizado um procedimento simples, sem interferência em trato gastrointestinal, será iniciada uma dieta em consistência sólida conforme as necessidades do paciente. Já se houver comprometimento de 9 4 trato gastrointestinal, deverá ser observada a condição do paciente e iniciar com uma dieta em evolução gradual, com (Figura 2): Figura 2 - Fluxograma de evolução de dieta no pós-cirúrgico / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a gura ilustra um uxograma de evolução das dietas em pós-cirúrgico. Após o início com a dieta de prova, os seguintes blocos são ligados sequencialmente: Dieta líquida, dieta líquida-pastosa, dieta pastosa, dieta leve, dieta livre. Fim da descrição. Dieta de Prova Dieta líquida Dieta líquida-pastosa Dieta Livre Dieta Leve Dieta Pastosa Toda a evolução da dieta deve ser realizada após reavaliação do nutricionista clínico que irá observar as condições clínicas do paciente e a sua tolerância. Além da dieta, dependendo o caso, deverão ser aliadas complementações/ suplementações que visam à recuperação precoce do indivíduo. UNICESUMAR 9 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Paciente com dieta de Prova Se boa tolerância Evolução da dieta Reavaliação Nutricional Permanece tolerando Segue em evolução de dieta Tolerou Parcialmente Manter dieta Adequar com terapia nutricional Não tolerou Retomar dieta anterior Iniciar com Terapia Nutricional Figura 3 - Fluxograma de Avaliação de Tolerância da dieta / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a gura ilustra um uxograma de procedimento para avaliação da evolução das dietas no pós-cirúrgico. Após o início com a dieta de prova, os seguintes blocos são ligados sequencialmente: Se boa tolerância; evolução da dieta; reavaliação nutricional. Abrem-se 3 hipóteses: Permanece tolerando; segue em evolução de dieta ou tolerou parcialmente; manter dieta; adequar com terapia nutricional ou não tolerou; retomar dieta anterior ou iniciar com terapia nutricional. Fim da descrição. Em alguns casos, vamos precisar involuir dietas se houver piora de seu quadro, como, por exemplo, um paciente que vinha com dieta livre com boa tolerância e apresentou aspiração e necessitará mudança para uma dieta líquida espessada. Ou mesmo, um paciente que esteja em recuperação pós-cirúrgica e esteja com dieta líquida e na evolução para dieta leve apresentou distensão abdominal e vômitos, precisa retornar para dieta líquida até melhora do quadro, como mostra a Figura 3. Coloco esses exemplos, para reforçar que o acompa- nhamento nutricional ao longo da internação é fun- damental para conseguir realizar a efetiva recuperação do paciente e adequação de sua alimentação. Ao estar em um hospital, precisamos ter o olhar de que o pa- ciente apresenta alguma condição em sua saúde, ou O acompanhamento nutricional ao longo da internação é fundamental 9 seja, não está saudável, e precisa desse acompanhamento criterioso para antever problemas e conseguir auxiliá-lo com a alimentação o mais adequada possível para sua recuperação. Sem contar que a presença do nutricionista com esse olhar, que não considera apenas o nutriente, mas entende o sentimento relacionado ao alimen- to, permite com que haja uma maior adesão do paciente aos tratamentos propostos. Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EM FOCO NOVOS DESAFIOS Entendemos que o trabalho da nutrição clínica está intimamente conectado com os demais prossionais que atuam no ambiente hospitalar, sendo que a Equipe de Nutri- ção é uma aliada ao nosso trabalho, pois irá executar o que estivermos prescrevendo. Dietas hospitalares apesar de serem padronizadas para facilitar a execução por parte da Equipe de Nutrição, também apre- sentam particularidades e cabe ao nutricionista clí- nico atuar de forma interdisciplinar com o nutri- cionista da produção para montarem o Manual de Dietas que seja adequado para a Instituição em que estão trabalhando, conseguindo alcançar as deman- das de todos os pacientes assistidos. E mesmo em situações mais sensíveis, como antes ou depois de procedimentos cirúrgicos, a alimentação precoce pode oferecer diversos benefícios ao paciente, como menor morbidade e mortalidade, sem contar no bem-estar do indivíduo. Levando em conta o que aprendeu até aqui, o meu desao a você, é que você se torne um prossional inquieto, que esteja sempre em busca de novas evidências e entenda o papel central que o paciente tem em sua recuperação, tendo um olhar cientíco e humano ao mesmo tempo, podendo assim transfor- mar a experiência do paciente com uma alimentação que traga para ele todos os benefícios para sua recuperação, mas que sejaacolhedora e gere autonomia. A alimentação precoce pode oferecer diversos benefícios ao paciente UNICESUMAR 9 1 1. O Guia Alimentar para a População Brasileira deve ser usado como norteador para todas as ações de saúde relacionadas com a nossa alimentação, em âmbito hospitalar também podemos usar as suas diretrizes para ormular nossas dietas. Entre as afrmativas abaixo, qual delas não contempla as recomendações do nosso guia? a) As recomendações devem estar de acordo com as condições de saúde da população. b) Os alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da alimentação c) Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambien- talmente sustentável d) Prera legumes, verduras e rutas da estação e cultivados localmente. e) Limite o uso de alimentos ultraprocessados, consumindo-os, em pequenas quantidades 2. Para o uncionamento do Serviço de Nutrição e Dietética, é primordial existir uma padroni- zação da dieta hospitalar. Pensando nas dietas padrão, podemos afrmar: I - As dietas hospitalares devem no mínimo atingir 20Kcal/Kg/dia e 1,5g de proteínas/ Kg/dia. II - A dieta livre é adequada para todos os pacientes internados, por ser uma dieta inicial. III - A dieta leve é uma dieta equilibrada em macro e micronutrientes, mas apresenta diminuição em quantidade de bras, por serem abrandadas. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. VAMOS PRATICAR 9 8 3. Quando um paciente inicia a alimentação após um longo período de jejum é habitual utili- zarmos uma dieta chamada DIETA DE PROVA. Considerando essa liberação de dieta após longo período de jejum e a dieta de prova, podemos dizer que: I - Adieta de prova deve sermantida até que o paciente esteja completamente recuperado. II - Atualmente é preconizado diminuir o tempo de jejum empós-operatórios, iniciando com dietas de prova em no máximo 24 horas. III - Adieta de prova é composta basicamente por líquidos, como: água, chás, leite, gelatina. IV - A dieta de prova é transitória, visto ser restrita em macro e micronutrientes. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) II e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. VAMOS PRATICAR 9 9 REFERÊNCIAS ALVITE, M. F. L.; PIOVACARI, S. M. F.; NASCIMENTO, D. B. D. Parecer da BRASPEN sobre pres- crição de volume, consistência e suplemento nutricional no paciente diságico. BRASPEN, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 418-420, 2019. ARARIPE, T. S. O. et al. Impacto do estado nutricional e do tempo de jejum nas complicações gastrointestinais e no tempo de hospitalização em pacientes cirúrgicos. HU ver, Juiz de Fora, v. 45, n. 1, p. 22-30, 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed., Brasília: Ministério da Saúde, 2014. CARVALHO, M. F. A. et al. Aceitabilidade de dietas hospitalares por pacientes internados em hospital universitário. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 10, n. 14, 2021. CHAVES, Y. S.; DESTEFANI, A. 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T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 4 4 INICIE SUA JORNADA A avaliação nutricional de um paciente permeia desde compreender quais alimentos a pessoa consome, até se tudo o que está consumindo garante as suas necessidades nutricionais, não apenas de macronutrientes, mas também dos micronutrientes. Pensando nessa situação, você consegue elaborar como fazer uma avaliação adequada? O que perguntar para saber que nutrientes são mais importantes? E ainda, consegue elaborar uma alimentação e suplementação adequada para suprir as necessidades reais do seu paciente? Obviamente que todos esses aspectos são complexos e vão ser inuenciados por diversas variáveis, como: patologias de base, nível nutricional, idade, hábitos alimentares, situação clínica, dentre tantos outros. E após determinar o que é necessário, devemos sempre priorizar o uso de alimentos para recuperação, entretanto, em alguns casos, precisamos lançar mão do uso de suplementos a m de corrigir deciências mais graves e fazer com que nosso paciente apresente melhora. Neste tema, vamos falar um pouco sobre a suplementação oral, entendendo que para isso precisamos compreender sobre a bioquímica dos nutrientes, seu pa- pel na siologia do paciente e ainda considerar a relevância e o custo do mesmo. Temos hoje uma innidade de suplementos disponíveis para nosso consumo. Basta chegarmos emummercado, loja de produtos naturais, armácias oumesmoem revisti- nhasdeprodutosquepoderemos teracessoa todo tipodesuplemento. Entretanto, será que todos precisamde suplementos? É o que abordaremos emnosso podcast!Recur- sos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Dentre as atribuições dos nutricionistas está a possibilidade da prescrição de suplementos nutricionais incluindo nutrientes. Vamos relembrar a legislação que normatiza essa prescrição. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 DESENVOLVA SEU POTENCIAL AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE SUPLEMENTAÇÃO Suplementar ou não? Essa é uma questão que todos os nutricionistas enfrentam em sua prática clínica e dentre as tantas estratégias nutricionais que temos, atualmente utilizar suplementos faz a diferença em nossos tratamentos, visto que pelo padrão dietético atual, nossa população por vezes apresenta diversas deciências que pre- cisam ser corrigidas para a melhora de sua saúde. E essa situação está presente não apenas em pacientes desnutridos, mas também em obesos (BERGER et al., 2022). Em nível hospitalar, o nutricionista em geral recorre a suplementos orais com- pletos que não apenas fornecem aporte de macronutrientes de forma concen- trada, mas em muitos casos garantem o fornecimento dos micronutrientes con- forme a RDA (Recommended Dietary Allowance). Usos de vitaminas e mineraisde forma pontual e em doses elevadas, em geral, fazem parte de uma prescrição médica, e para pacientes internados, a suplementação será via parenteral. Conforme a recomendação da ESPEN (e European Society for Clinical Nutrition and Metabolism), sempre que possível e puder ser feito com segurança e de maneira ecaz, a suplementação deve ser ofertada via oral ou enteral (BERGER et al., 2022). Entretanto, em nível ambulatorial e clínico, o nutricionista pode recorrer a mais essa estratégia a m de suprir as necessidades do paciente. Mas como determinar quais suplementos utilizar e quais as doses? Ao uti- lizarmos nutrientes via enteral precisamos compreender que ele passará por um processo de absorção via intestinal, e que nesse caminho poderão existir reações entre alimentos e nutrientes que impactarão na sua absorção. Após entrar na circulação sofrerão processos de biotransformação o que poderá aumentar ou não a sua ecácia, entendendo ainda que geneticamente o indi- víduo pode ter mutações que fazem converter os nutrientes de forma lenta ou rápida, podendo aumentar risco de toxicidade ou de deciência. E por m, temos ainda a última etapa, que é a de eliminação, e pode ser feita via renal (sendo a mais comum), mas ainda via bile, suor, leite materno, saliva e mesmo outras secreções orgânicas (PASCHOAL et al., 2015). Compreendendo todo esse processo, caberá ao nutricionista mediante uma boa anamnese alimentar, que irá considerar a condição clínica do paciente, sua avaliação física (sinais e sintomas que determinam potenciais carências ou ex- cessos de nutrientes), exames laboratoriais (que irão demonstrar efetivamente quantidades séricas dos nutrientes) e análise da composição da alimentação do paciente, determinar quais os nutrientes serão necessários como comple- mentação, qual composto, dose a ser utilizado e por quanto tempo. Diversas formas de suplementos podem ser prescritas e utilizadas pelos nutricionistas, podemos escolher tanto produtos prontos (que têm como vanta- gem palatabilidade, estabilidade, recursos técnicos e mesmo validade), quanto podemos recorrer a produtos manipulados (que têm como vantagens o uso de fórmulas ajustadas à necessidade dos pacientes, assim como a escolha de princípios ativos que considere mais ecazes). A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelece a re- gulamentação da suplementação através das RDCs e instruções normati- vas que demonstram quais os ativos podem ser utilizados e em que dose, e como os mesmos devem ser descritos. Atualmente, temos as seguintes recomendações em vigor: RDC 239 e 243 de 2018 e Instruções Normativas 28/2018 e 76/2020. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Uma prescrição de nutrientes é a indicação de uma conduta especíca, que deve seguir algumas especicações, como a determinação de dose, requência, e período de administração do composto. Ainda precisamos denir claramente a forma farmacêutica, o tipo de apresenta- ção (cápsula, sachê, pastilha, comprimido, pó...) (PASCHOAL et al., 2015). Essa prescrição deve ser documentada e estar registrada no prontuário do paciente, seja na internação ou no ambulatório, para permitir a rastreabilidade e garantir a segurança do paciente. Para determinação de dose, nós, nutricionistas, podemos atuar com níveis de segurança conforme as DRIs (Dietary Reference Intakes), podendo atingir ao limite máximo conforme as UL (Tolerable Upper Intake Level), doses acima dessas recomendações só deverão ser prescritas por prossionais médicos. Diversas são as tabelas com as recomendações dos nutrientes, com denições especícas conorme a aixa etária. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO 8 Resumindo, a seguir apresentamos um uxograma para determinação de suplementação: Figura 1 - Fluxograma para decisão da suplementação / Fonte: a autora. Descrição da Imagem: a imagem apresenta um uxograma sobre suplementação, com possíveis escolhas. Pri- meiro quadro diz: Paciente aceita VO (via oral), está nutrido, e apresenta sinais de deciência de nutrientes e uma seta sinaliza para o segundo quadro que diz: Usa-se suplemento com os nutrientes especícos em baixa dose. Abaixo um terceiro quadro diz: Paciente aceita VO, está nutrido, e além de sinais, apresenta diminuição de níveis séricos de nutrientes e uma seta sinaliza para um quarto quadro que diz: Ajusta-se a dose conforme a necessidade, podendo chegar ao UL (nível máximo tolerável de ingestão). Abaixo um quinto quadro diz: Paciente em risco nutricional, tolera parcialmente VO e apresenta sinais de outras deciências e uma seta sinaliza para o sexto quadro que diz: Usa-se suplemento completo para suprir necessidades de macro e micronutrientes. Abaixo o sétimo quadro diz: Paciente em risco nutricional, baixa tolerância VO e sinais de deciência nutricional e uma seta sinaliza ao oitavo quadro que diz: Considera-se o uso de TNE (Terapia Nutricional enteral) para suplementação de macro e micronutrientes. Abaixo o nono quadro diz: Paciente em risco nutricional, em mal estado geral ou em agravamento. Com deciência nutricional e uma seta sinaliza para o último quadro da gura que diz: Usa-se suplementação via parenteral de acordo com prescrição médica. Fim da descrição. SUPLEMENTAÇÃO Paciente aceita VO (via oral), está nutrido, e apresenta sinais de deficiência de nutrientes. Usa-se suplemento com os nutrientes específicos em baixa dose. Paciente aceita VO, está nutrido, e além de sinais, apresenta diminuição de níveis séricos de nutrientes. Ajusta-se a dose conforme a necessidade, podendo chegar ao UL. Paciente em risco nutricional, tolera parcialmente VO e apresenta sinais de outras deficiências. Usa-se suplemento completo para suprir necessidades de macro e micronutrientes. Paciente em risco nutricional, baixa tolerância VO e sinais de deficiência nutricional. Considera-se o uso de TNE (Terapia Nutricional enteral) para suplementação de macro e micronutrientes. Paciente em risco nutricional, em mal estado geral ou em agravamento. Com deficiência nutricional. Usa-se suplementação via parenteral de acordo com prescrição médica. PRESCRIÇÃO DE VITAMINAS Para o grupo das vitaminas, dividiremos entre os dois grupos, as vitaminas hi- drossolúveis, do complexo B e a vitamina C, que precisam ser repostas diaria- mente e as lipossolúveis, que apresentam possibilidade maior de estoque. UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Vitaminas Hidrossolúveis ■ Tiamina ou Vitamina B1 É uma vitamina segura, não sendo descritas toxicidades relacionadas ao seu consumo. Não há descrição de interação negativa entre ela e outros nutrien- tes, e apresenta sinergia quando concomitante com vitaminas do complexo B (PASCHOAL et al., 2015). A deciência grave é conhecida como Beribéri. Em geral, a deciência se manifesta por desordens neuromusculares, como: edema, náusea, formigamento, mialgia, taquicardia, distúrbios digestivos. Para adultos, estima-se uma RDA em torno de 1,0 a 1,4mg/dia, em caso de quadros de deciência grave a suplementação pode ser sugerida, com doses em adultos que podem chegar a 200mg/dia, sendo que pacientes criticamente enfermos têm reser- vas depletadas entre 05 a 07 dias (PASCHOAL et al., 2015; HRUBŠA et al., 2022). ■ Riboavina ou vitamina B2 A Riboavina não apresenta uma toxicidade comprovada, visto que o corpo ex- creta via renal o excesso ingerido. Não há sinais de mudança em sua absorção em relação a outros nutrientes. A deciência dessa vitamina é incomum e pode estar associada a outras deciências do complexo B. Sinais de deciência são: queilose, glossite, alterações em olhos como coceira, cansaço e sensibilidade à luz, dermatite seborreica, descamação na face, perda de cabelo, catarata (HRUBŠA et al., 2022). Para adultos, doses de 01 a 1,6mg/dia podem ser sucientes e são facilmente supridas em dietas onívoras. Doses de 200mgforam consideradas seguras para adultos, visto que o excesso é facilmente excretado pelo corpo. ■ Niacina ou vitamina B3 A niacina não apresenta uma toxicidade comprovada, entretanto doses elevadas de niacinamida (uma de suas formas ativas) podem gerar sintomas como náu- seas, vômitos e diarreia. Também documentado, temos que altas doses de ácido nicotínico podem causar efeitos transitórios de rubor, com pele esfoliada e dores de cabeça por uma liberação de prostaglandinas. Entretanto, os efeitos tendem a sumir em 10 a 30 minutos e dicilmente ocorrem no uso da nicotinamida. Dentre as deciências severas, temos a pelagra, caracterizada por dermatite, demência e diarreia. Já sintomas leves de deciência são: dermatites, erupções cutâneas, diarreia (HRUBŠA et al., 2022). Em adultos, doses entre 20 a 35mg/dia são sucientes para manutenção da saúde, sendo que níveis de segurança foram estimados em 500mg/dia; entretan- to, visto as reações transitórias, sugere-se que seu uso seja em doses menores, fracionadas ao longo do dia e preferencialmente junto de refeições, evitando o consumo de álcool, bebidas quentes e alimentos apimentados (PASCHOAL et al., 2015). Ainda podendo ser usadas fórmulas de liberação lenta para evitar os sintomas adversos (HRUBŠA et al., 2022). ■ Piridoxina ou Vitamina B6 A vitamina B6 pode ser suplementada na forma de piridoxina ou piridoxal- -5-fosfato, essa última forma ativa e com ecácia comprovada em seu efeito. A piridoxina é neurotóxica e, quando suplementada em altas doses (2g ou mais), pode estar relacionada com sintomas como formigamento de mão e pé, diculdade de caminhar. Ainda, seu consumo elevado pode depletar folato e causar um quadro de neuropatia periférica. O metabolismo da piridoxina é dependente da B2, B3 e do zinco, sendo importante garantir o bom suprimento desses nutrientes na deciência da B6 (PASCHOAL et al., 2015). Como a B6 participa como cofator de diversas enzimas e atua em diversas vias metabólicas, os sintomas na deciência podem ser múltiplos, em especial dermatológico, circulatório e neurológico, incluindo sintomas, como: distúr- bios do sono, letargia, aumento em homocisteína, náuseas, vômitos, dermatite seborreica, estomatite, glossite, queilose, anemia microcítica, dentre outros. Para adultos, o consumo de 1,0 a 2,0mg/dia de B6 é suciente, as doses má- ximas permitidas giram em torno de 100mg/dia, entretanto, devido aos quadros de neurotoxicidade deve haver critério em seu uso. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 4 ■ Cobalamina ou Vitamina B12 A vitamina B12 tem como forma ativa a metil- cobalamina, entretanto, por ser mais estável a cianocobalamina é uma boa forma para suplementação. Não há uma toxicidade re- lacionada com o consumo dessa vitamina. A deciência se manifesta como anemia e disfun- ções neurológicas, podemos ter sintomas como: fadiga, neuropatia periférica, anemia macrocícita, anemia megaloblástica, con- fusão mental, perda de memória, hiper-homocisteinemia dentre outros (PAS- CHOAL et al., 2015). Para um adulto, a ingestão diária de 2,4 a 2,8mcg é recomendada, que pode ser suprida através do consumo de proteínas animais (únicas fontes da vitamina em sua forma ativa), sendo que absorvemos cerca de 50% do que consumimos. Vegetarianos e veganos necessitam suplementação da vitamina pelo baixo ou não contato com alimentos de fonte animal (PASCHOAL et al., 2015). ■ Ácido Fólico ou Vitamina B9 Não há uma toxicidade associada à vitamina B9, entretanto quando em excesso pode mascarar deciências de vitamina B12 e de zinco. O ácido fólico pode au- mentar a excreção do zinco, e a sua ingestão com vitaminas do complexo B, em especial vitamina B12 e B6, é recomendada por participarem de forma sinérgica no metabolismo da homocisteína (PASCHOAL et al., 2015). Alguns sinais de deciência de B9 são: anemia microcítica, fadiga, dores de cabeça, perda de cabelo, irritabilidade, neuropatia periférica, defeitos congênitos, hiper-homocisteinemia, defeitos no fechamento do tubo neural. Conforme as recomendações, doses de 300 a 500mcg/dia para um adulto são sucientes, sendo que a recomendação é não passar de doses de 01mg ao dia. ■ Ácido pantotênico ou vitamina B5 O ácido pantotênico, utilizado através de sua forma ativa pantotenato de cálcio ou pantetina não apresenta toxicidade, nem relação de aumento ou diminuição de algum nutriente (HRUBŠA et al., 2022; PASCHOAL et al., 2015). Alguns sinais de deciência desse nutriente podem ser: irritabilidade, dores de cabeça, parestesia, vômitos, dores abdominais, redução da sensibilidade à insulina, diminuição da resposta imune. Entretanto, a deciência desse nutriente é rara. Doses em torno de 05mg ao dia para um adulto já são sucientes. ■ Vitamina C A vitamina C é uma vitamina hidrossolúvel de baixa toxicidade, entretanto, doses elevadas de seu consumo (>03g) podem levar a efeitos adversos, como: diarreia os- mótica, aumento de formação de cálculos renais (em pessoas predisponentes) e de ácido úrico. A vitamina C pode diminuir a absorção de cobre e aumentar a absorção de ferro. Apesar de ter um papel antioxidante importante, em alguns momentos ela pode ter uma carga oxidante, por essa razão, sua suplementação é otimizada quando associada com outros antioxidantes, como a vitamina E (PASCHOAL et al., 2015). Dentre os sinais de deciência, o mais conhecido é o escorbuto (sangramento de membranas mucosas e dores musculares). Além dele, podem ser sinais de deciência: fragilidade capilar, hemorragias, fácil aparecimento de hematomas, gengivites, anemia, diminuição do apetite. Em pacientes internados, em condi- ções de trauma, infecções respiratórias, cirurgia ou infecção, pode ser necessário um suporte aumentado dessa vitamina (HOLFORD et al., 2020). Em geral, baixas doses de vitamina C são necessárias para suprir necessidades diárias, sendo em torno de 75 a 80mg; entretanto em uma situação de estresse ou exposição viral, como o COVID, essa dose poderia ser aumentada, sempre confor- me a necessidade avaliada em exames laboratoriais. Na suplementação, precisamos nos atentar que a absorção da vitamina C diminui conforme o aumento da dose, por exemplo, se a dose for de 30mg temos uma absorção de 87%, já se for de 01g a absorção cai para 50% (HOLFORD et al., 2020; PASCHOAL et al., 2015). Vitaminas Lipossolúveis ■ Vitamina A A vitamina A, utilizada na forma de retinol, acetato de retinila em sua forma original ou como betacaroteno, uma pró-vitamina A. A vitamina A, por ser li- possolúvel, pode se acumular no tecido adiposo e consequentemente pode gerar toxicidade, com sintomas como: náuseas, vômitos, pele seca, unhas frágeis, dor óssea, dores de cabeça, hepatomegalia (PASCHOAL et al., 2015). Para aumentar a absorção da vitamina A e dos carotenoides, aconselha-se o uso de veículo oleoso, ou mesmo o consumo em refeições que contenham uma fonte lipídica em sua composição. Pensando no sinergismo entre os nutrientes, percebe-se inter-re- lação entre a vitamina A, o ferro e o zinco. Como sinais de deciência, temos a xerof- talmia como a principal. Para um adulto, doses de 700 a 900mcg/dia são sucientes. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 4 ■ Vitamina D A vitamina D, utilizada na forma de ergocalciferol ou colecalciferol, são vita- minas formadas na nossa pele através da exposição solar, entretanto, percebe-se um aumento em sua deciência pela mudança no estilo de vida. Essa vitamina é cumulativa no organismo e, quando em doses maiores do que 100ng/ml, resulta em hipercalemia. Podem depletar esse nutriente, o ferro, o cobre e o manganês. A vitamina D aumenta a absorção de cálcio e de fósforo (PASCHOAL et al., 2015). Os sintomas mais comuns relacionados com a deciência são o raquitis- mo na infância e a osteomalácia e osteoporose no adulto. Além das desordens ósseas, podem ser sintomas de deciência, alterações imunológicas, na função cognitiva, fraqueza muscular e desordens cardiovasculares. Em pacientescom insuciência respiratória e COVID, percebeu-se que o status da vitamina D e sua suplementação diminuíram complicações, riscos e mesmo mortalidade (NIET et al., 2022). Um adulto saudável consegue suprir suas necessidades de vitamina D com doses em torno de 600UI/dia; para a deciência, valores de segurança podem ser utilizados com estudos demonstrando segurança em doses de 5.000 a 50.000UI (MCCULLOUGH; LEHRER; AMEND, 2019). ■ Vitamina E A vitamina E, utilizada na forma de tocoferóis, é uma vitamina lipossolúvel, em geral, segura, visto que cerca de 60% da sua dosagem é excretada pelas fezes. Com relação com outras drogas, percebe-se que ela potencializa o efeito anticoagu- lante. Já pelo seu poder antioxidante, ela é associada à suplementação de ácidos graxos poli-insaturados e mesmo junto à vitamina C para diminuir sua oxidação. A deciência na vitamina E apresenta sintomas de disfunções neurológicas, como: neuropatia periférica, miopatia esquelética. Doses em torno de 15mg diá- rias são sucientes para adultos (PASCHOAL et al., 2015). ■ Vitamina K A vitamina K, que pode ser utilizada na forma K1 (loquinona) ou mesmo na forma K2 (menaquinona) é uma vitamina segura quando utilizada em doses usuais, visto que por seu efeito coagulante, em excesso, pode induzir a agregação plaquetária. A vitamina A e a vitamina E atuam como antagonistas, podendo reduzir a absorção da mesma (PASCHOAL et al., 2015). A deciência da vitamina K pode ser observada por meio de sintomas como fácil sangramento e desordens esqueléticas (pela sua participação na manutenção da matriz óssea) como raquitismo, osteoporose; assim como se pode perceber equi- 4 moses, hematúria, hematêmese, sangramentos de mucosas e presença de manchas roxas pele. Doses 90 a 120mcg/dia são sucientes para pacientes adultos. PRESCRIÇÃO DE MINERAIS Os minerais são essenciais em nosso corpo, e a suplementação pode corrigir diversas carências, em especial de alguns elementos-chave. Independentemen- te do tipo de mineral, para termos uma maior biodisponibilidade, utilizar os elementos em forma associada, os quelados, pode aumentar a absorção e assim a ecácia do produto. Existem várias formas de ofertarmos um mineral quelado, podemos inclusive determinar com qual aminoácido será o quelato. Atualmente, quanto maior o número de estudos, apresentam-se novas formas de apresentação dos minerais com possíveis usos especícos. Por isso, manter a atualização é importante para conhecer as novas possibilidades. Em geral, temos os macroelementos e os microelementos e falaremos um pouco sobre eles. Dentre os macroelementos, temos (PASCHOAL et al., 2015): UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 CÁLCIO • Além da debilidade óssea, os sinais de deciência de cálcio podem ser: cãibras, adormecimento e ormigamento muscular, contrações contínuas, palpitações, dores nas costas e pernas, queda de cabelo. • A necessidade diária média de um adulto é 1000mg, e na orma de suplementação percebe-se eeito negativo quando usado concomitantemente com erro e zinco, assim como o consumo com caé ou excesso de gordura prejudicam a absorção. Entretanto, o consumo com alimentos aumenta a absorção. MAGNÉSIO • Doses de 310 a 420mg/dia são sucientes para adultos. Seu uso em excesso pode causar diarreia, e a suplementação deve ser eita com cautela, especialmente em pacientes hepatopatas e cardíacos descompensados. Cálcio e osato podem atrapalhar a absorção de magnésio. E o uso de carboidratos em concomitância pode aumentar a absorção. • Sinais de deciência são: hipocalemia, hiperexcitabilidade muscular, dores de cabeça tensionais, tremor, vômitos. Os microelementos, também chamados de oligoelementos, são essenciais em pequenas concentrações e precisam atuar em sinergia e harmonia entre si para que as funções siológicas do corpo aconteçam de forma regular. Por serem vi- tais para nosso organismo, precisamos estar atentos à sua ingestão e adequação, visto que não conseguimos os produzir naturalmente, ou seja, dependemos do consumo, seja via alimentação ou suplementação. Dentre os microelementos temos (BERGER et al., 2022; PASCHOAL et al., 2015): COBRE • Doses em torno de 900mcg/dia são sucientes para adultos, sendo toxicidade relacionada com consumo de 200 a 500 vezes o valor indicado. Por ser oxidativo, deve ser suplementado apenas quando realmente or necessário. Excesso de zinco, erro, molibdênio e vitamina C podem intererir na sua absorção. • Sinais de deciência são: perda da cor do cabelo, adiga, baixa temperatura corporal, diminuição da resistência à inecção. CROMO • O cromo é ummicronutriente que, em doses em torno de 30mcg, supre as necessida- des de um adulto. A orma utilizada em suplementação mais biodisponível é o picoli- nato de cromo. Está relacionado com a sensibilidade à insulina, por isso o uso junto às reeições é indicado. Interage com erro, sendo que competem pelo mesmo carreador. FERRO • Doses em torno de 08-18mg são sucientes em adultos, sendo que na suplementação em orma quelada sua absorção é de 25%. A toxicidade está relacionada, em geral, com a doença genética hemocromatose. A vitamina C aumenta a absorção do erro, já o cálcio, o zinco podem intererir na absorção. • Sinais de deciência podem ser: anemia, raqueza, palidez, dores de cabeça, queda de cabelo, unhas rágeis. IODO • O iodo é undamental para a saúde da tireoide e doses de 150mcg para um adulto são sucientes. No Brasil, como era uma deciência endêmica, apresenta suplementação no sal obrigatória, diminuindo riscos de deciência na população em geral. Doses elevadas e crônicas podem levar ao bócio. SELÊNIO • O selênio é um importante antioxidante e o consumo de cerca de 55mcg/dia supre a necessidade de um adulto. Sua toxicidade será vista com concentrações plasmáticas maiores de 100mcg/dL. • Em geral, a deciência está relacionada com desordens como inecções, gripes recorrentes, dores musculares, adiga e raqueza muscular. ZINCO • Doses em torno de 40mg/dia são sucientes para adultos. Altas doses podem induzir à deciência de cobre. Pode haver depleção e diminuição da absorção do zinco com o consumo de erro, cálcio e cádmio. Há sinergia entre zinco e vitamina A. • Sintomas de deciências são: acne, diculdade de cicatrização, unhas racas, resria- dos recorrentes. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Além desses, existem outros minerais que são suplementados, como: cobalto, manganês, vanádio, boro, molibdênio, potássio, silício, sódio. E devem ser avaliados caso a caso conforme a necessidade do paciente. PRESCRIÇÃO DE OUTROS ELEMENTOS Ômega- Os lipídios são importantes para as funções das membranas celulares e para diversas funções imu- nológicas. Devido à nossa alimentação ocidentaliza- da, estamos com uma ingestão desequilibrada quando consideramos a proporção de ômega-3: ômega-6, por essa razão é preconizado o consumo desse ácido graxo de forma suplementar a m de corrigir essa proporção. Assim, preconiza-se o consumo de 500mg de w-3 para adultos (tanto na forma de EPA – ácido eicosapentaenoico ou DHA – ácido docosahexaenoico), sendo para gestantes pelo menos 200mg de DHA por dia. Considerando a prevenção de riscos para doenças cardiovasculares, preconiza-se o uso de 01 a 03g/dia (PASCHOAL et al., 2015). O ômega-3 deve ser utilizado por meio de cápsulas oleosas e deve haver controle da oxidação, seja na forma de sua extração, seja na sua forma de con- servação. A fonte pode ser animal (óleo de peixe) ou vegetal (sendo que as algas fornecem ômegas de boa qualidade, ou mesmo por meio de óleo de linhaça que necessita de mais processos para a metabolização). Probióticos O uso de probióticos tem sido cada vez mais prescrito no tratamento de algu- mas condições clínicas, como: alergias, disbiose, vaginoses e acometimentos gastrintestinais, como nas diarreias ou após tratamentos com antibióticos. No tratamento da diarreia pós-tratamento com antibióticoem idosos, parece que o uso de probióticos tende a ser positivo se iniciado em até 48h do início do tratamento (ZHANG et al., 2022). Em geral, os gêneros Lactobacillus e Bi- dobacterium são os mais utilizados. 8 Devemos considerar ao escolher um probiótico o número de unidades for- madoras de colônia (UFCs) de cada bactéria, utilizando usualmente de 107 UFC a 109UFC, a forma de administração que garanta a sobrevivência e viabilidade das colônias no intestino (PASCHOAL et al., 2015). Prebióticos As bras prebióticas são em geral oligossacarídeos e estão relacionados com o metabolismo da microbiota, estimulando o crescimento das bactérias benécas e auxiliando na formação de ácidos graxos de cadeia curta. Dentre os mais utilizados, temos a inulina, os galacto-oligossacarideos (GOS), os fruto-oligossacarídeos (FOS). A depender do paciente, as necessi- dades podem ser variadas, mas quantidades em geral até 05g ao dia são bem toleradas, podendo acima disso causar reações como atulência e distensão abdominal (PASCHOAL et al., 2015). UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Enzimas Digestivas O uso de enzimas digestivas tem ganhado notoriedade como um facilitador digestivo para pacientes que tenham transtornos gástricos, nas pancreatites, e mesmo alguma intolerância, como no uso da lactase na intolerância à lactose. Algumas enzimas vegetais utilizadas amplamente são a bromelina (extraída do abacaxi) e a papaína (extraída do mamão papaia) que atuam como proteases (PASCHOAL et al., 2015). Em nível hospitalar, podemos utilizar as enzimas como coadjuvante para pacientes que estejam tendo diculdades em esvaziamento gástrico ou na sín- drome disabsortiva, auxiliando para diminuir volume gástrico e evitar sintomas como náuseas e vômitos. Outro uso tem se mostrado promissor, sendo o uso de um mix de enzimas digestivas para a desobstrução de sonda enteral. Em um estudo com uso de 03 soluções, sendo a primeira água pura, a segunda sachê de enzimas pancreáticas; e a terceira sal de frutas, observou-se sucesso na tentativa de desobstrução em todas as tentativas com o sachê de enzimas, o que pode melhorar a qualidade de vida do paciente e impactar em custos, por não ter a necessidade da troca da sonda enteral (VERAS; ANDRADE, 2021). PRESCRIÇÃO NA CIRURGIA BARIÁTRICA A cirurgia bariátrica tem crescido exponencialmente no mundo, e no Brasil isso não é diferente, com um aumento de 84% nos últimos 8 anos. E a condição nu- tricional do paciente, antes e após o procedimento, é um dos maiores desaos, visto que o procedimento em si causa mudanças na forma de absorver os nu- trientes, levando consequentemente a deciências nutricionais importantes se não acompanhados e suplementados, o que pode levar a complicações severas. Muitos pacientes apresentam deciências ainda antes da cirurgia e, depen- dendo do procedimento, necessitam de suplementação vitamínica pelo resto da vida. Os pacientes devem ser acompanhados e orientados de forma criteriosa e individualizada antes e depois do procedimento para garantir a sua saúde. A seguir apresenta-se um resumo das deciências mais comuns (GASMI et al., 2022; PEREIRA et al., 2023). Figura 2 - Deciências de micronutrientes na obesidade e cirurgia bariátrica, riscos e controle. Fonte: Gasmi et al. (2022, p. 4). Descrição da Imagem: A gravura apresenta um quadro com as descrições sobre deciências nutricionais na cirurgia bariátrica. Ao centro da gravura temos um homem e uma mulher obesos, à esquerda o desenho de um estômago intacto temos descrito: Deciências antes da cirurgia e abaixo escrito: Consequências da obesidade e baixa ingestão associada à maus hábitos alimentares; Vitamina A; Vitamina B12; Vitamina C; Vitamina D; Ácido fólico; Cálcio; Ferro; Selênio; Zinco. Do lado direito da gravura temos o desenho de um estômago com um corte no fundo do estômago e a ligação do intestino com a descrição abaixo Bypass gástrico em Y de Roux) e abaixo um estômago seccionado com a descrição abaixo Gastrectomia tubular ou em sleeve; ao lado direito dos desenhos segue o quadro com a seguinte descrição Deciências após a cirurgia e abaixo escrito: Má absorção de nutrientes e baixa ingestão associada à maus hábitos alimentares; Vitamina A; Vitamina B12; Vitamina B1; Vitamina C; Vitamina D; Vitamina K1; Vitamina E; Ácido fólico; Cálcio; Cobre; Ferro; Selênio; Zinco. Abaixo seguem duas setas, uma em vermelho que leva a um quadro com a seguinte descrição: Riscos principais) - Anemia, ataxia, queda de cabelo, hiperoxalúria, osteoporose, má cicatrização de feridas, encefalopatia de Wernicke; a outra seta em verde diz: Manejo dos pacientes bariátricos) - Alimentação saudável, rotina de exercícios, consultas de follow-up após a cirurgia, tratamento com suplementos especícos. Fim da descrição. Deficiências antes da cirurgia Consequências da obesidade e baixa ingestão associada à maus hábitos alimentares Vitamina A Vitamina B12 Vitamina C Vitamina D Ácido fólico Cálcio Ferro Selênio Zinco Bypass gástrico em Y de Roux Gastrectomia tubular ou em sleeve Deficiências após a cirurgia Má absorção de nutrientes e baixa ingestão associada à maus hábitos alimentares Vitamina A Vitamina B12 Vitamina B1 Vitamina C Vitamina D Vitamina K1 Vitamina E Ácido fólico Cálcio Cobre Ferro Selênio ZincoRiscos principais Anemia, ataxia, queda de cabelo, hiperoxalúria, osteoporose, má cicatrização de feridas, encefalopatia de Wernicke Manejo dos pacientes bariátricos Alimentação saudável, rotina de exercícios, consultas de follow-up após a cirurgia, tratamento com suplementos específicos. Como percebe-se a cirurgia bariátrica demanda de nós prossionais e mesmo dos pacientes um cuidado extremo, e isso se deve tanto ao período antes como depois da cirurgia. Pensando nos critérios para avaliação e conduta dos pacientes, podemos considerar: UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 4 ■ No pré-operatório devemos acompanhar os pacientes com uma boa ava- liação bioquímica, atentando-nos pelo menos a esses marcadores: hemo- grama, ferro, vitamina B12, ácido fólico, vitamina D, cálcio, paratormônio e tiamina. Além disso, para a preparação da cirurgia, sugere-se o uso de uma suplementação imunomoduladora por pelo menos 05 a 07 dias. E pensando no momento da cirurgia, a abreviação de jejum sempre deverá ser considerada, mantendo um jejum de sólidos de 06 horas e de líquidos de 02 horas (O’KANE et al., 2020; GASMI et al., 2022; PEREIRA et al., 2023). ■ Já no pós-operatório, cuidados básicos para pacientes cirúrgicos devem ser considerados, como, por exemplo, não manter o paciente em longos períodos de jejum. Recomenda-se iniciar com dieta em no máximo 24h do procedimen- to, sendo que o uso de líquidos claros é a dieta padrão de largada. Entretanto, mesmo nesse período, a suplementação individualizada e o incremento protei- co são preconizados (1,5g/Kg de peso ideal/dia) – sendo que deciências nu- tricionais podem impactar com diminuição da absorção proteica em até 25%. Para um acompanhamento criterioso, a realização de uma avaliação completa e a solicitação de exames laboratoriais de rotina nos auxiliam para perceber o estado nutricional e ajustar os suplementos utilizados. Em geral, sugere-se para suplementação o uso dos seguintes nutrientes com doses variáveis conforme o procedimento escolhido e situação prévia do paciente (lembrando que algumas doses, por estarem além da UL serão de prescrição mé- dica): tiamina (100mg de 02 a 03x ao dia ou doses maiores endovenosa), vitamina B12 (350 a 1.000mcg - líquida ou sublingual), vitamina D (3.000UI), ácido fólico (400 a 800mcg), vitamina B6 (seguir RDA), vitamina A (5.000 a 10.000UI), vi- tamina E (15mg), vitamina K (90 a 300mcg) ferro (18mg para pacientes que não tem histórico de anemia e 50 a 60mg para mulheres na fase menstrual), cálcio (1.800 a 2.400mg), zinco (08 a 22mg), cobre (01 a 02mg), selênio (conforme a RDA) (O’KANE et al., 2020; GASMIet al., 2022; PEREIRA et al., 2023). Não menos importante, estar atento ao microbioma intestinal parece ser hoje uma das estratégias nutricionais que trazem impacto positivo na vida do pacien- te pós-bariátrica. Além de estratégias nutricionais com o uso de prebióticos, a suplementação com FOS, inulina e simbióticos parece auxiliar numa resposta melhor do paciente, até mesmo na perda de peso e em marcadores inamatórios (O’KANE et al., 2020; GASMI et al., 2022; PEREIRA et al., 2023). Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? EM FOCO NOVOS DESAFIOS A suplementação nutricional tem ganhado força a cada dia. Muito por estarmos vivendo em um momento em que a alimentação das pessoas apresenta-se pobre em micronutrientes, e outra pela força da indústria farmacêutica que tenta vender produtos sempre com a máxima de solução rápida e ecaz. Para tanto, cabe a nós, nutricionistas, sermos criteriosos para compreender as necessidades reais dos pacientes, buscar melhorar a alimentação na totalidade, procurando suprir todas as necessidades e ajustando demais nutrientes a m de garantir a recuperação e melhora da saúde. Espero que, ao nal deste tema, você consiga compreender um pouco me- lhor o uso de alguns elementos-chave na suplementação e tenha segurança para aplicar esses conhecimentos na sua prática clínica. UNICESUMAR 1. As vitaminas do complexo B são undamentais para diversas reaçõesmetabólicas no nosso organismo e agem de forma sinérgica. Sobre sinais de deciência de algumas vitaminas, podemos armar: a) Além da anemia microcítica, a adiga é um sinal de deciência de B12. b) O beribéri é característico de deciência de vitamina B5. c) Aumento em homocisteína pode estar associado com deciência de vitamina B6, B9 e B12. d) A alta de niacina pode levar a rubor acial transitório. e) A deciência de B6 pode causar ormigamento de mãos e pés. 2. A vitamina C é uma vitamina hidrossolúvel de uso amplamente conhecido pela popula- ção, em geral, pelos seus eeitos positivos no sistema imune. Além dessas características, podemos afrmar: I - Doses elevadas de vitamina C acima de 03g podem aumentar o risco de ormação de cálculos renais para pessoas com predisposição. II - Pacientes com inecções respiratórias podem se beneciar com um aumento no aporte dessa vitamina. III - Nosso corpo tem boa capacidade de absorção da vitamina C, sendo que absorvemos boas quantidades, independentemente da quantidade utilizada no suplemento. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. VAMOS PRATICAR 4 3. Os lipídios são elementos importantes para a ormação das nossas membranas celula- res, regulação neuronal e mesmo da nossa imunidade. Dentre eles, o ômega-3 é um dos principais suplementos utilizados hoje em dia, visto o nosso baixo consumo através da alimentação. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I - O uso de ômega-3 pormeio de suplementação em cápsulas oleosas pode ser realizado tanto na orma animal, através do óleo de peixe, quanto na orma vegetal, através das algas e da linhaça. PORQUE II - Independentemente da orma suplementada, no nosso corpo a sua biotransormação se dá através da mesma rota e não há dierença no seu uso. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justicativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justicativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição alsa. d) A asserção I é uma proposição alsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são alsas. VAMOS PRATICAR 5 REFERÊNCIAS BERGER, M. M. et al. ESPEN micronutrient guideline. Clinical Nutrition, v. 41, p. 1357-1424, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.clnu.2022.02.015. Acesso em: 30 jan. 2024. GASMI, A. et al. Micronutrients deciences in patients ater bariatric surgery. European Journal o Nutrition, v. 61, p. 55–67, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00394-021-02619-8. Acesso em: 30 jan. 2024. HOLFORD, P. et al. Vitamin C—An Adjunctive Therapy or Respiratory Inection, Sepsis and CO- VID-19. Nutrients, v. 12, n. 12, p. 3760, 2020. Disponível em:https://doi.org/10.3390/nu12123760. Acesso em: 30 jan. 2024. HRUBŠA, M. et al. Biological Properties oVitamins o the B-Complex, Part 1: Vitamins B1, B2, B3, and B5. Nutrients, v. 14, n. 3, p 484, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.3390/nu14030484. Acesso em: 30 jan. 2024. MCCULLOUGH, P. J.; LEHRER, D. S.; AMEND, J. Daily oral dosing o vitamin D3 using 5000 TO 50,000 international units a day in long-term hospitalized patients: Insights rom a seven year experience. 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Sendo ideal utilizar doses menores e se necessário aumentar o racionamento. 3. Opção C. As rotas da transormação do ômega-3 de origem animal e vegetal são dierentes, sendo que os vegetais precisam de um númeromaior de reações para poderem ser aprovei- tados pelo nosso organismo. Mas ambos podem ser utilizados corretamente sendo eicazes. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 1 UNIDADE 5 MINHAS METAS PACIENTE ADULTO Conseguir avaliar e interpretar dados para diagnóstico nutricional. Compreender exames laboratoriais importantes para o diagnóstico nutricional. Entender o acompanhamento nutricional do paciente clínico. Compreender o acompanhamento do paciente com doenças crônicas. Compreender o acompanhamento do paciente acamado. Entender o atendimento do paciente cirúrgico. Refetir sobre a importância da orientação nutricional na alta hospitalar. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 5 INICIE SUA JORNADA Em todas as fases da vida, o hospital faz parte da nossa realidade enquanto so- ciedade. E durante a vida adulta e ao nos tornarmos idosos, muitas situações podem nos levar a necessitar desse serviço.Enquanto nutricionista hospitalar, possivelmente esse será o maior público em número a ser atendido nas unidades de internação, e, se por um lado, com o público adulto há maior facilidade em determinar condutas pelo fácil manejo, por outro, temos inúmeros pacientes com comorbidades que dicultam o nosso trabalho. Imagine um paciente que interna, em sobrepeso ou obesidade, diabético, hiper- tenso, com lesão renal e que, ao mesmo tempo, tem apresentado perda de massa e com isso desnutrição proteica. Como você realizaria uma conduta adequada para ele? Pois é, esses casos exigem que nós, nutricionistas, tenhamos que fazer um malabarismo entre as muitas diretrizes e costurar uma nova orientação que será baseada na necessidade individualizada desse paciente, com o objetivo de recu- perá-lo para uma alta breve, com controle de cada comorbidades. Como brinco com os pacientes, eles são “pacotinhos de surpresa” e temos que dar atenção em cada detalhe para conseguirmos auxiliar no processo de cura ao invés de atrapalhar. No caso citado, obviamente teremos que ajustar um plano alimentar para o peso, seguindo as diretrizes do diabetes, entretanto, calculando a necessidade proteica adequada para recuperação de seu estado nutricional ao mesmo tempo em que monitoramos a função renal. Não menos importante, considerar ainda a vulnerabilidade desses pacientes fortalece ainda o como o cuidado nutricional se faz necessário. Estima-se que a taxa de desnutrição em adultos hospitalizados varia de 20% a 50%, sendo que destes 40% a 60% já internam nessa condição. Considerando esses dados temos a diretriz da BRASPEN (Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral) do “Diga Não a Desnutrição”, uma campanha para que os prossionais de saúde prestem maior atenção a essa realidade tão comum em nossos hospitais (TOLEDO et al., 2018). Pensando no que foi dito, podemos apenas perceber a importância da ne- cessidade do acompanhamento nutricional, anal, com tantos ajustes, apenas estando com o paciente no dia a dia poderemos entender como será sua evo- lução e garantir uma conduta alinhada. Assim, adentraremos um pouco no atendimento hospitalar do paciente adulto. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 5 DESENVOLVA SEU POTENCIAL O atendimento hospitalar segue uma lógica: triagem, determinação de seu nível assistencial, avaliação nutricional, diagnóstico nutricional e, por m, à prescrição dietética (TOLEDO et al., 2018). Como sempre, nosso trabalho deve ser baseado em protocolos para que estejamos atentos às necessidades reais do paciente e conseguirmos detectar quem está em maior risco nutricional para que assim possamos oferecer acompanhamento e condutas que sejam assertivas. OMinistério da Saúde, com o Hospital do Coração, montou o Guia de Alimentação Cardioprotetora, vamos conhecer? Dê um play no nosso podcast! Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? A desnutrição hospitalar atinge cerca de 50% dos pacientes e ainda é uma das causas de maior impacto na recuperação do indivíduo. Entendendo essa importância, a BRASPEN lançou a campanha Diga não à Desnutrição. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. VOCÊ SABE RESPONDER? A nutrição em ambiente hospitalar sempre apresenta desafos. Você consegue imaginar quais desafos o nutricionista pode ter ao longo de seu atendimento? Do meu ponto de vista, enquanto nutricionistas, temos dois principais desaos: o primeiro consiste em conseguir avaliar todos os pacientes e realizar as con- dutas necessárias para evitar a desnutrição, e não apenas isso, mas contemplar suas necessidades para auxiliar seu processo de recuperação. O segundo, e não menos importante, é conseguir traduzir tudo o que detec- tamos na avaliação em uma prescrição dietética que seja adequada nutricional- mente às necessidades (que é o mais fácil), e que seja apresentada de uma forma que haja tolerância. INTERNAÇÃO DE PACIENTES CLÍNICOS Geralmente existem duas portas de entrada aos pacientes para sua internação: ■ Pronto-Socorro Uma das formas de um paciente ser admitido na ala hospitalar é através do pron- to-socorro. Geralmente são pacientes em alguma condição grave (como aciden- tes, infartos, AVC...) ou que estão tendo crises agudas e necessitem de cuidados mais intensivos (diabetes descompensada, crise renal, pneumonia...). ■ Internações Hospitalares Outra forma de admissão no hospital será através do setor de internações, e nesse caso são pacientes que apresentam internação geralmente programada, seja um procedimento cirúrgico, realização de exames de controle ou pacientes crônicos que necessitam algum suporte em seu tratamento. Independentemente de como esses pacientes cheguem à unidade clínica, a equipe de nutrição deve estar atenta para os seus riscos e proceder o atendimento e acompanhamento conforme os protocolos de cada instituição AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL Realizar uma triagem nutricional em até 72h de internação é o preconizado. Após a triagem e a determinação do risco do paciente, deve- -se realizar a avaliação nutricional completa. Cada situação e cada instituição irão determi- nar a melhor forma de avaliar o paciente, lem- brando que para cada faixa etária e situação clínica podemos ter protocolos diferenciados . UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Anamnese e Avaliação Nutricional O estado nutricional do paciente está relacionado com o seu prognóstico, assim sua composição corpo- ral pode alterar sua resposta ao estresse e isso contri- bui diretamente para sua morbidade e mortalidade. Uma intervenção nutricional adequada é fundamen- tal para impactar o desfecho, logo uma boa avaliação nutricional nos proporciona as ferramentas necessárias para a construção de um plano alimentar adequado. O estado nutricional do paciente está relacionado com o seu prognóstico A avaliação nutricional deve ser sistemática, a coleta de dados deve ser direcionada para cada situação, buscando identicar os problemas nutricionais e intervir de orma objetiva, denindo metas claras e prescrevendo uma dieta que atenda às demandas do paciente. Para que isso ocorra, precisamos coletar dados objetivos e subjetivos: ANTROPOMETRIA • Peso atual (aerido com balança) – deve-se, entretanto, considerar ajustes quando houver: edema, ascite, amputações ou tumoração maciça. • Peso usual ou habitual – para quando houver impossibilidade de aerição do peso atual, e para comparações e avaliação do percentual de perda de peso. • Altura - preerencialmente aerida com o paciente em pé; em caso dos acamados, a medição pela altura do joelho ou pela extensão do braço. COMPOSIÇÃO CORPORAL • Dobras cutâneas: a tricipital é representativa para estimar a gordura corporal. • Circunerência do braço, é uma medida ácil que permite com a dobra tricipital o cálculo da área muscular do braço e estimar a reserva de tecido muscular, e o risco nutricional do paciente. 4 Com todos esses dados, você consegue imaginar quais exames laboratoriais po- dem ser fundamentais para um bom diagnóstico nutricional? AVALIAÇÃO FÍSICA • Observar sinais ísicos do corpo de perda de massa e de reservas é de extrema utilidade, em especial para pacientes em que a antropometria está comprometida. Por isso, observar: ace (região órbita, têmporas, bochechas), tronco (clavícula, escápula, região torácica e lombar), braços (perda de gordura em bíceps e tríceps, músculo dorsal da mão), pernas (observar quadríceps, proeminência dos joelhos). AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR • A avaliação do consumo alimentar se az imprescindível para entendermos possíveis hábitos alimentares que possam comprometer a saúde. • Conhecer preerências e aversões alimentares são undamentais para ajustarmos a dieta a ser oerecida, a m de atingirmos as metas nutricionais. UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Análise de exames laboratoriaisDentre uma das ferramentas de avaliação nutricional que considero de grande valia, estão os exames laboratoriais, anal através dele conseguimos perceber deciências e excessos nutricionais e mesmo condições de saúde que por vezes apenas com a avaliação física e antropométrica não conseguiríamos compreen- der. Considero os seguintes exames importantes: HEMOGRAMA Mostra como estão a produção de glóbulos vermelhos e brancos do corpo, além de possíveis anemias (erropriva, por deciência de vitamina B12, ácido ólico, hemocro- matose) e mesmo a imunidade. PROTEÍNAS PLASMÁTICAS A sua diminuição pode ser um indicador de desnutrição, entretanto, modicações podem ocorrer por desidratação, problemas hepáticos ou mesmo infamação. A mais comum é a albumina, entretanto, por ter uma vida média longa, é menos sensível. GLICEMIA A glicemia em jejum mostra comportamento da glicose, assim como az parte do diagnóstico médico de diabetes. Pode ser realizada a hemoglobina glicada, que mos- trará uma estimativa das glicemias nos últimos 2 a 3 meses, ou seja, demonstra como está o comportamento da glicemia ao longo do tempo. LIPÍDEOS SÉRICOS Amedição do colesterol (total, HDL, LDL), e dos triglicerídeos, ajuda a estimar riscos para doenças cardiovasculares, hiperlipidemias, síndrome metabólica. FERRITINA A erritina é a orma de identicarmos a reserva de erro, entretanto em situações de infamação, a mesma pode estar aumentada. VITAMINAS E MINERAIS Medir vitaminas e minerais nos auxilia a perceber como está o estado nutricional do paciente, quadros de excessos ou deciências. Os comumente solicitados são os eletrólitos (sódio, potássio, cálcio iônico), assim como magnésio, zinco, vitamina B12, vitamina D, ácido ólico. ENZIMAS HEPÁTICAS Aerir TGO, TGP, Gama GT auxilia a detectar disunções hepáticas. CREATININA Útil para a avaliação da unção renal. PCR A proteína C reativa nos mostra o quadro infamatório do paciente. Mesmo considerando a importância da avaliação dos exames para o diagnóstico, precisamos compreender que eles podem se modicar pelo quadro clínico do paciente (como uso de medicamentos), assim devemos levar essas questões em consideração na nossa conduta. Diagnóstico Nutricional Após coletar os dados, precisamos correlacioná-los para conseguir formular o diagnóstico nutricional. Assim, determinar o estado nutricional através dos da- dos antropométricos, observando se houve perda de peso, agravamento de seu risco nutricional, assim como através do diagnóstico médico unir as informações pertinentes, como sinais e sintomas e exames bioquímicos especícos, permitirão determinar o diagnóstico nutricional do paciente. Com o diagnóstico denido, precisamos formular a prescrição dietética, através dos cálculos de necessidades nutricionais condizentes com o quadro do UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 paciente, e unindo as informações coletadas acerca dos hábitos alimentares, o cardápio apropriado e que facilite a tolerância do paciente. Após toda a conduta nutricional estabelecida, não se esqueça da importância de manter os registros do paciente em prontuário atualizado. DOENÇAS CRÔNICAS Dentre as causas de internação mais frequentes na vida adulta estão as compli- cações relacionadas com doenças crônicas, conversaremos um pouco sobre elas e os aspectos que devemos estar atentos para o seu tratamento. Diabetes Mellitus (DM) O diabetes é um crescente problema de saúde em todo o mundo, e pode estar relacionado com diversos fatores: “ Rápida urbanização, transição epidemiológica, transição nutricional, maior frequência de estilo de vida sedentário, maior frequência de ex- cesso de peso, crescimento e envelhecimento populacional e, também, à maior sobrevida dos indivíduos com diabetes (SBP, 2019. p. 12). Segundo a OMS, estima-se que a hiperglicemia seja a terceira maior causa de morte prematura, cando atrás da hipertensão e do consumo de tabaco. O diabetes é um distúrbio metabólico associado com a hiperglicemia persis- tente, mas a mesma pode se dar por algumas formas: ■ Diabetes Mellitus tipo I: é uma doença autoimune, podendo ser ocasionada por diversos fatores, que acarretam a destruição das células β pancreáticas e por m ocasionam a deciência da produção de insulina. Existe o tipo DM1A que apresenta células autoimunes circulantes e os DM1B, que são idiopáticos em que não há presença dessas células. Em ambos os casos, os pacientes serão insulinodependentes, ou seja, no tratamento, além de ajustar estilo de vida, precisamos manter uma alimentação com controle de carga glicêmica, e ajustar as quantidades 8 de carboidratos (contagem de carboidratos) e de insulina a ser aplicada para o controle da glicemia. ■ Diabetes Mellitus tipo II: corresponde a cerca de 90% dos casos da doença, sendo mais comum a partir dos 40 anos, e estão relacionados com diversos fatores, dentre os quais, a alimentação, a obesidade e a inatividade física parecem ter o maior impacto. Sua ação no corpo está na alteração de diversas rotas metabólicas e impacto na produção de insulina, e glucagon e mesmo da resposta dessa pelos tecidos, com associação com resistência à insulina. O tratamento da doença se dará pela mudança do estilo de vida e uso de medicamentos para melhorar a sensibilidade à insulina. A hiperglicemia em uma internação não é exclusivi- dade de pacientes diabéticos. Em muitos casos, pelo estresse, catabolismo e inamação do corpo, o orga- nismo reagirá com menor sensibilidade à insulina e isso faz com que tenhamos que ter uma atenção com todos os pacientes internados. A hiperglicemia está as- sociada a fatores como: aumento do tempo de internação, complicações cardíacas, distúrbios hemodinâmicos, risco de infecção e comprometimento da cicatrização. Para a avaliação nutricional, além dos dados usuais, acompanhar a glicemia sanguí- nea e as medidas da glicemia capilar são fundamentais para a determinação da conduta, e para ajustes dietéticos necessários conforme a resposta do paciente. Para pacientes com diabetes já diagnosticado, sugere-se ainda a medida da hemoglobina glicada. Em uma hospitalização temos como meta o controle da hiperglicemia, e evi- tar episódios de hipoglicemia. Para pacientes em geral, a meta é manter glicemias entre 140 a 180mg/dL, entretanto para pacientes com baixo risco de hipoglice- mia, manter de 110 a 140mg/dL (SBP, 2019). Para a conduta nutricional sugere-se preferencialmente o uso de dieta oral, procurando controle glicêmico. Caso o paciente não consiga atingir as suas me- tas, deve-se iniciar terapia oral com suplementação e em últimos casos o uso de terapia nutricional enteral deve ser considerado. “ A participação de nutricionistas especializados na condução da hiperglicemia hospitalar é fundamental para garantir o aporte adequado de calorias, promover o equilíbrio de macro e micronu- A hiperglicemia em uma internação não é exclusividade de pacientes diabéticos UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 trientes, ajustar a dieta ao paladar do paciente, quanticar consumo e perdas e, nalmente, determinar o conteúdo de carboidratos para aqueles que utilizam o esquema de insulina conforme contagem de carboidratos (SBP, 2019, p. 440-441). Quadro 1 - Recomendações no Diabetes / Fonte: adaptado de SBP. CALORIAS Seguir os cálculos conorme o estado nutricional do paciente. MACRONUTRIENTES Manter a proporção normal dos nutrientes. Carboidratos: ≥130g/dia, priorizando carboidratos complexos. AJUSTES Utilizar alimentos com baixo índice e carga glicêmica, assim como oertar quantidade adequada de bras (pelo menos 20g). Não ultrapassar a 10% do VET com sacarose. MICRONUTRIENTES Observar possíveis deciências. A hipoglicemia também é uma situação comum nas internações hospitalares e deve ser acompanhada de forma dinâmica, visto estar relacionado com maior tempo de internação, morbidade e mortalidade. São denidas quando qualquer glicemia estiver com valores < 70mg/dL e consideradasgraves quando estiverem com valores < 54mg/dL. Além de quantidade errada de insulina e condições do paciente, sintomas como vômitos e diminuição da ingestão oral são comumente relacionados com esse quadro (SBP, 2019). 4 Figura 1 - Protocolo para tratamento da hipoglicemia / Fonte: SBP (2019, p. 448). Descrição da Imagem: A gura apresenta um uxograma com o primeiro quadro escrito GLICEMIA < 70mg/L. Este é ligado a outros 03 quadros. O primeiro diz: consciente e alimentando-se e segue: administrar 15g de carboidrato de absorção rápida (uma colher de sopa de açúcar ou 30ml de soro glicosado a 50% diluído em água ltrada). Rever o valor da glicemia capilar (GC) após 15 minutos; se não houve reversão da hipoglicemia, reverter o processo. O segundo quadro diz: Jejum intencional e com acesso venoso prévio e segue: Administrar 30ml de glicose 50%, diluídos em 100ml de SF (soro siológico) 0,9% de EV. Repetir a GC em 5 minutos e se não houve recuperação o procedimento deve ser repetido. Após a correção imediata é necessário oferecer alimento, se possível. Caso não seja possível, aumentar aporte calórico endovenoso. No terceiro quadro diz: Em torpor ou inconsciente e sem acesso venoso pérvio e segue: Administrar 1 ampola de glucagon por via intramuscular ou subcutânea. Quando consciente oferecer alimento, se possível. Continuar tentativa de acesso venoso periférico. Fim da descrição. G lic e m ia < 7 0 m g /L Consciente e alimentando-se Administrar 15 g de carboidrato de absorção rápida (uma colher de sopa de açúcar ou 30ml de soro glicosado a 50% diluído em água filtrada). Rever o valor da glicemia capilar (GC) após 15 minutos; se não houve reversão da hipoglicemia, repetir o processo. Jejum intencional e com acesso venoso prévio Administrar 30 mL de glicose 50%, diluídos em 100 mL de SF 0,9% de EV. Repetir a GC em 5 min e se não houve recuperação o procedimento deve ser repetido. Após a correção imediata é necessário oferecer alimento, se possível. Caso não seja possível, aumentar aporte calórico endovenoso. Em torpor ou inconsciente e sem acesso venoso prévio Administrar 1 ampola de glucagon por via intramuscular ou subcutânea. Quando consciente oferecer alimento, se possível. Continuar tentativa de acesso venoso periférico. Assim, independentemente se houver hiper ou hipoglicemia associada em um paciente internado, nossa meta enquanto nutricionistas será fornecer uma ali- mentação adequada para controle desses valores e manutenção ou recuperação de seu estado nutricional. Doença Obstrutiva Pulmonar Crônica (DPOC) A DPOC é a quarta principal causa de morte no mundo. Sua causa está associa- da com uma exposição contínua a partículas e gases que levam aos problemas respiratórios e alveolares, com sintomas gerais de tosse, dispneia e produção aumentada de escarro. UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Na avaliação nutricional do DPOC, além dos dados padrão, deveremos considerar a gasometria arterial, que irá nos mostrar o balanço nitrogena- do do paciente. Durante a internação todos os pacientes com DPOC devem receber avaliação nutricional, com especial rigor para pacientes com perda involuntária de peso significativa (>10% em 06 meses ou >5% no último mês) (NUNES et al., 2011). Pacientes com DPOC inúmeras vezes apresentam comorbidades, aumen- tando seu risco nutricional. Sem contar que pelo hipermetabolismo e hiper- catabolismo relacionado com a doença, diversas vezes não conseguem atingir suas metas através da alimentação piorando seu estado nutricional, com perda importante de massa magra, ocasionando disfunção esquelética e sarcopenia. Esses quadros, além do agravamento de sua condição, estão diretamente rela- cionados com sua morbidade e mortalidade. Para a alimentação, sugere-se a alimentação oral, suplementada quando ne- cessário para atingir as metas calculadas e quando isso não for possível pensar em uso de terapia nutricional enteral. Quadro 2 - Recomendações no DPOC / Fonte: adaptado de Nunes et al. (2011). CALORIAS 30 a 45Kcal/Kg/dia ou 1,3 a 1,7 vezes a Taxa metabólica Basal MACRONUTRIENTES Carboidratos: 40 a 55% Proteínas: 15 a 20% (1,2 a 1,7g/Kg/dia) Lipídios: 20 a 35% AJUSTES Garantir um bom aporte proteico para manter massa ma- gra do paciente e reduzir o catabolismo. O uso de ômega-3 pode beneciar os pacientes. Dietas ricas em lipídios podem diminuir a produção de CO2, o que pode beneciar pacientes em estado mais grave ou em desmame de ventilação. MICRONUTRIENTES Atentar para possíveis deciências, controlar eletrólitos. Uso de vitamina C, vitamina E, zinco e selênio parecem melhorar a recuperação dos pacientes. 4 Hipertensão Arterial (HA) A hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível dependente de fato- res multifatoriais (genéticos, ambientais e sociais) que alteram os níveis pressóricos de uma forma persistente com valores de pressão sistólica maior ou igual a 140 mmHg e/ou diastólica maior ou igual a 90 mmHg. Muitas vezes por se tratar de uma doença assintomática pode evoluir para complicações, como: doenças coronarianas, insuciência cardíaca, acidente vascular cerebral, insuciência renal, dentre outras. Dentre as recomendações para a prevenção emesmo o tratamento para a HAestão: manter o peso dentro de um IMC de normalidade, manter uma alimentação rica em rutas, verduras e alimentos in natura, com menor quantidade de consumo de gorduras e sódio (a recomendação permanece de 02g de sódio diário, equivalente a mais ou menos 05g de sal por dia). Conforme a Diretriz Brasileira para HA (BARROSO et al., 2021) recomenda-se que na avaliação nutricional seja realizada uma anamnese contemplando rotinas de consumo alimentar e ainda se há consumo de alimentos cardioprotetores ou não. Para as medidas antropométricas, além de peso, altura e determinação do IMC, o uso da circunferência abdominal é imprescindível, pela correlação com o risco de doenças cardiovasculares por demonstrar maior acúmulo de obesidade central (para população em geral, os valores de risco são para mulheres > 80cm e homens > 94cm). UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Doença Renal As doenças renais são complicações em saúde que aumentam a morbidade dos pacientes internados e necessitam de uma maior atenção do nutricionista. “ O estado nutricional tem papel fundamental na saúde e nos desfechos clínicos de pacientes com doença renal. Não há dúvidas que a desnu- trição tem alta prevalência e está intimamente associada a resultados clínicos adversos e aumento da taxa de hospitalização, complicações e mortalidade nessa população (ZAMBELLI et al., 2021, p. 6). Durante a internação, conforme consenso há a recomendação de uso da triagem conhecida por MST (Malnutrition Screening Tool) que por ser de fácil aplicação (podendo ser realizada pelo próprio paciente) cria um alerta para o risco de desnutrição (MARTINS et al., 2021). Quadro 3 - Recomendações no HA / FONTE: adaptado de Barroso et al. (2021). CALORIAS Manter os cálculos da população em geral, sempre buscando manter os pacientes dentro de um IMC de eutroa. MACRONUTRIENTES Distribuição normal dos nutrientes. AJUSTES Sugerem-se padrões da dieta DASH = maior consumo de ru- tas e verduras, cereais integrais, carnes magras, laticínios com baixo teor de gordura e oleaginosas. MICRONUTRIENTES Restringir o sódio az-se necessário para as recomendações de 02g de sal adicionado ao dia. Consumo de potássio e de cálcio são recomendados. Além da hipertensão arterial, temos outros ajustes nutricionais relacionados com pacientes cardiopatas. Vamos ver um artigo sobre as recomendações energéticas nestes pacientes? EU INDICO 4 4 Para conhecer a MST. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EU INDICO DESNUTRIÇÃO Perda involuntária de peso (>10% de seu peso nos últimos seis meses); IMC < 18Kg/m²; Baixa ingestão calórica e proteica. OBESIDADE Devido à mudança de composição corporalpela retenção hídrica, especialmente em pa- cientes com DRC, o IMC não é uma medida conável; a circunerência abdominal conse- gue indicar melhor a gordura abdominal. Tanto a desnutrição como a obesidade são fatores de risco para as doenças renais, impactando no agravamento da doença. Para uma boa avaliação nutricional os seguintes critérios devem ser levados em consideração: Existem algumas denições para as doenças renais, que são subdivididas (ZAM- BELLI et al., 2021): ■ Injúria Renal Aguda (IRA): considerada uma síndrome, que tem como característica o rápido e repentino declínio da função renal, acúmulo de metabólitos, toxinas e medicamentos no sangue. Seu diagnóstico se UNICESUMAR 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 dará: Quando houver aumento da creatinina sérica em ≥50% dentro de 7 dias ou aumento da creatinina sérica em ≥0,3 mg/dL dentro de 48 horas ou Oligúria ■ Doença Renal Aguda (DRA): Quando houver dano estrutural no rim menor de 03 meses ou Taxa de ltração glomerular <60 mL/min por 1,73 m² <3 meses ou diminuição da Taxa de ltração glomerular por ≥50% por <3 meses ■ Doença Renal Crônica (DRC): Dano renal ≥3 meses ou TFG <60 mL/ min por 1,73 m2 por ≥3 meses. Doença ou Injúria Renal Aguda (DRA ou IRA) A IRA, frequentemente, é causada por enfermidades graves e está associada com altas taxas de mortalidade, podendo variar de 10 a 80% dos casos. Os cuidados nutricionais vão estar sempre permeados pelas demais comorbidades apresen- tadas, entretanto, em geral as recomendações devem seguir: Quadro 4 - Recomendações no IRA / Fonte: adaptado de Zambelli et al. (2021). CALORIAS Em obesidade e muito baixo peso deve-se calcular pelo ideal ou peso seco: 20-30Kcal/Kg/dia. No estresse grave: 20-25Kcal/kg/dia. Fase inicial da doença aguda iniciar com aporte <70% das ne- cessidades com evolução para 80-100% da meta em 3 dias. MACRONUTRIENTES Carboidratos e gorduras seguir DRI Proteínas: Paciente hipercatabólicos e sem terapia de reposição renal = 1 a 1,5g/Kg/dia Reposição Intermitente = 1,5g/Kg/dia Reposição contínua = 1,7 a 2,5g/Kg/dia Pacientes em estado normal = 0,8 a 1,0Kg/Kg/dia. AJUSTES Manejo de eletrólitos, os quais devem ser individualizados observando os níveis séricos. Glutamina não é recomendada. MICRONUTRIENTES Pode ser necessária a suplementação de micronutrientes. 4 A alimentação na IRA ou DRA deve estar atingindo as metas conforme a tabela, priorizando a via oral. Para os que estejam impossibilitados ou não tolerem, pode ser utilizada a via enteral para a recuperação do paciente. Em casos agudizados, não se recomenda o uso da parenteral, devendo ser opção apenas com o paciente estabilizado e na impossibilidade da via enteral. Insufciência Renal Crônica (IRC) A insuciência renal crônica é uma condição que coloca em risco nutricional os pacientes, havendo uma alta prevalência da desnutrição entre eles. Muitas vezes pela sua condição clínica, o estado de hipercatabolismo e a baixa ingestão alimen- tar podem agravar a sua condição e aumentar riscos, não apenas da desnutrição, mas de hospitalização, complicações e mortalidade (ZAMBELLI et al., 2021). Para a avaliação antropométrica, precisamos entender que o paciente renal apresenta diversas particularidades, como o edema, o que diculta o uso de dados objetivos como o IMC, anal, se não houver a correção para o peso seco, tere- mos dados superestimados, e por vezes, eles poderão atrapalhar um diagnóstico precoce de desnutrição. Quadro 5 - Recomendações no IRC / Fonte: adaptado de Martins et al. (2021) e Zambelli et al. (2021). CALORIAS Seguir recomendações gerais conorme estado nutricional dos pacientes; em geral 25 a 35Kcal/Kg/dia - Usar peso atual ou em casos de obesidade peso ideal para os cálculos. MACRONUTRIENTES Carboidratos e gorduras seguir DRI. Proteínas: Não-dialisado: 0,55 a 0,8g/Kg/dia (sem risco nutricional) Diálise: 1,0 a 1,2g/Kg/dia AJUSTES Em caso de pacientes em risco nutricional ou desnutrição pode ser necessária suplementação de aminoácidos essencial. Em casos de diálise pode ser necessário correção na inges- tão de líquidos para recuperação de peso. MICRONUTRIENTES Atentar ao consumo de sódio, ósoro e potássio. Salvo se perceber deciências de outros nutrientes, segue-se a DRI. UNICESUMAR 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Como sempre, a principal via de alimentação a ser considerada será a oral. Em casos de desnutrição ou mesmo risco, deve-se considerar a terapia nutricional para complemen- tar as necessidades, primeiramente a partir do uso de suplementos alimentares e em últimos casos, poderemos fazer uso de terapia enteral, seja complementar ou exclusiva. O uso de suplementação oral ou enteral pode ser utilizado sempre que um paciente estiver em risco nutricional ou desnutrido, o ajuste de micronutrientes das composições deverá ser realizado quando houver alterações em exames labo- ratoriais, com atenção especial para: potássio, fósforo, sódio, cálcio e vitamina D. Os pacientes com IRC deverão sempre ter um controle rígido da ingestão de sódio, potássio e ósoro, que são preditores de sua saúde e evolução da doença. Portanto, a prescrição dietética deve estar atrelada ao controle laboratorial desses nutrientes (ZAMBELLI et al., 2021). Obesidade A obesidade tende a agravar quadros de saúde dos pacientes internados, assim a ASPEN (American Society for Parenteral and Enteral Nutrition) recomenda uma avaliação nutricional para esses pacientes em até 48h de internação para diminuir o risco de complicações. Muitas doenças podem estar associadas em pacientes obesos, entretanto, ape- nas a obesidade já é um risco e deve ser tratada. Para análise dos exames bioquími- cos, incluir avaliação da função tiroidiana e de micronutrientes pode auxiliar no diagnóstico e conduta. Observar o consumo alimentar e sua relação com hábitos e comportamentos é fundamental não apenas para uma intervenção adequada, mas para a orientação de mudanças de estilo de vida (PEPE et al., 2022). “ Algumas limitações muito importantes que devem ser consideradas são tanto o fato de haver omissão quanto subrrelatos podem ocorrer de maneira não intencional e devem ser avaliados com cautela. O comportamento envolvido no subrrelato da ingestão alimentar é um processo complexo, que inclui componentes perceptivos, emo- tivos e cognitivos ainda pouco explorados (PEPE et al., 2022, p. 69). 4 8 Após realizar o diagnóstico, a conduta nutricional preconizada sempre será uma alimentação via oral baseada em alimentos in natura, complementando com suplementação oral ou terapia enteral caso paciente não atinja as metas. Para os cálculos, podemos ajustar o valor do peso ao ideal ou utilizar uma dieta hipocalórica ao considerar o peso atual. Quadro 6 - Recomendações na Obesidade / Fonte: adaptado de Pepe et al. (2022). CALORIAS 22 a 25Kcal/Kg de peso ideal/dia 11 a 14Kcal/Kg de peso atual/dia MACRONUTRIENTES Carboidratos – 55 a 60% (de baixo índice e carga glicêmica) Proteínas – 15 a 20% (se IMC de 30 a 40 = 02g de proteína/ Kg/dia e se IMC ≥ 40 = 2,5g de proteína/Kg/dia) Lipídeos - < 30% AJUSTES Não ultrapassar 10% com açúcares simples, e gorduras saturadas. Fornecer uma dieta rica em bras. MICRONUTRIENTES Observar possíveis deciências ou excessos como de ácido ólico, magnésio, cálcio, potássio, sódio, vitamina B12, erro. O paciente obeso deve ser acompanhado de forma contínua, afinal, die- tas hipocalóricas (em especial as de muito baixas calorias: < 800Kcal/dia) podem colocar em risco os pacientes, com perda de função, massa magra e mesmo densidade óssea. Nesses casos, deve-se considerar ajustar o apor- te calórico, sempre mantendo a dieta hiperproteica. Além disso, ajustar a alimentação com aumento na oferta de alimentos in natura, conforme as recomendações do Guia Alimentar Brasileiro (PEPE et al., 2022). Acesse o Guia Alimentar da População Brasileira. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EU INDICO UNICESUMAR 4 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL EM PACIENTES ACAMADOS Pacientes acamados são um grande desao no quesito da avaliação nutricional, anal, os dados usuais como peso e altura deverão ser estimados ou medidos de forma indireta, bem como a avaliação subjetiva serão nosso principal meio para chegar a um diagnóstico do estado nutricional do paciente. Sabemos que a desnutrição iatrogênica, ou seja, a relacionada com as doenças, é responsável pelo maior risco do paciente e morbidade, como piora da cicatrização, maior risco de infecção hospitalar, maior tempo de internação. Com isso, avaliar corretamente e atuar precocemente podem diminuir os riscos e auxiliar na recuperação do nosso paciente. O peso estimado pode ser realizado através de cálculos com uso de circunferên- cias e pregas, assim como através do IMC. O peso do paciente é fundamental para determinação do estado nutricional, gastos energéticos e até mesmo volumes de medicamentos a serem utilizados (BURGOS et al., 2018). A estatura pode ser aferida pela altura do joelho ou pela extensão dos braços. Em últimos casos, pode-se usar a estatura recumbente (coloca-se o paciente na 5 posição de supina, com o leito na horizontal, fazem-se marcas no lençol no topo da cabeça e na base do pé e mede-se com a ta métrica). Muitos pacientes em cuidados paliativos ou em terminalidade da doença podem estar acamados, as- sim, nosso principal objetivo deve ser manter a qua- lidade de vida deles. Por essa razão, estar atento às particularidades é parte do nosso trabalho enquanto nutricionista, sabendo que o paciente deve estar no centro de qualquer decisão que tomarmos para seu tratamento, seja para garantir recuperação, e em alguns casos apenas para garantir conforto. Conduta Nutricional A depender do quadro do paciente, deveremos realizar condutas nutricionais diferentes. Assim, antes de tudo, deve-se avaliar qual o quadro da doença do paciente, por exemplo: ele está acamado momentaneamente, mas em processo de recuperação, ou ele está em terminalidade? Bem, no primeiro caso, nossa conduta será direcionada para manter uma ali- mentação adequada para sua recuperação breve, garantindo as metas calculadas. Já no segundo caso, nosso objetivo será o conforto, ou seja, priorizar o bem-estar, fornecendo alimentação que garanta tolerância, evitando o agravamento da des- nutrição (BURGOS et al., 2018). Para os cálculos nutricionais, devemos atentar para a doença de base e sua condição clínica. Em casos, por exemplo, de pacientes neurológicos, com perda de peso, ou mesmo em catabolismo, sugere-se a manutenção de uma dieta hi- percalórica (em média 30Kcal/Kg/dia). Mesmo para pacientes acamados a alimentação oral será prioridade, entre- tanto em uma boa parte dos casos os pacientes não conseguem atingir suas me- tas, seja por não tolerar ou por apresentar riscos (sempre solicitar avaliação do fonoaudiólogo para determinar possibilidade ou não de alimentação). Nesses casos, sugere-se o uso de terapia enteral para pacientes em recupe- ração, pode-se utilizar dietas hipercalóricas e hiperproteicas para garantir uma maior densidade calórica e mesmo proteica em um menor volume de dieta; para pacientes em estado de terminalidade, sugere-se o uso de uma alimentação tró- ca, apenas para conforto e manutenção da vida. Nosso principal objetivo deve ser manter a qualidade de vida UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 ACOMPANHAMENTO NO PACIENTE CIRÚRGICO O acompanhamento nutricional do paciente cirúrgico é essencial para evitar complicações e auxiliar no seu processo de recuperação. Por isso, o nutricionista hospitalar também deve estar inserido nas equipes cirúrgicas a m de garantir uma correta conduta. Pré-Cirúrgico Ainda temos casos frequentes em que os pacientes internam diretamente para a cirurgia sem a possibilidade de um preparo nutricional que melhore seu prog- nóstico. Entretanto, sempre que possível, atuar no pré-cirúrgico permite que o paciente tenha uma boa evolução do pós-operatório. Sugere-se manutenção do estado nutricional do paciente, utilizando então cálcu- los energéticos de acordo com sua classicação. Independente do quadro, pacien- tes que irão para uma cirurgia irão se beneciar de uma dieta imunomoduladora (enriquecidas com arginina, ômega-3, ribonucleotideos), bem como com um aporte proteico otimizado (WEIMANN et al., 2021). 5 Em pacientes que irão para uma cirurgia de grande porte ou que estejam em risco nutricional/desnutrição, há claras evidências de benefícios de um preparo nutricional pré-cirúrgico. Caso não consigam atingir 50% das suas necessida- des com a ingestão alimentar, deve-se iniciar a suplementação oral. Não há recomendações para longos períodos de jejum, assim, devemos tentar intervir de forma a manter os pacientes o mínimo possível no estado não alimentado, preconiza-se o jejum de sólidos de 6h, e de líquidos 2 horas antes do procedimento (WEIMANN et al., 2021). Pós-Cirúrgico O paciente no pós-cirúrgico permanecerá em jejum até estar bem acordado e estável, entretanto recomenda-se o início precoce da alimentação, procurando iniciá-la em no máximo 24 horas. Mesmo em cirurgias de grande porte percebe- -se benefício em pacientes que receberam alimentos (mesmo que líquidos claros) em poucas horas após a cirurgia (WEIMANN et al., 2021). A prescrição dietética do paciente no pós-operatório deverá ser condizente com suas necessidades, ajustadas com o catabolismo do procedimento. Em ge- ral, cirurgias de grande porte demandam mais dos pacientes, precisando muitas vezes iniciar com dietas hipercalóricas e hiperproteicas. Sobre o tipo de alimentação indicada, priorize a alimentação oral e a de- pender do procedimento, seguindo a tolerância do paciente. Pacientes que não consigam atingir suas metas deverão receber terapia nutricional oral através de suplementação, e na impossibilidade dieta enteral total ou complementar. Nas cirurgias do trato gastrointestinal, a evolução dietética poderá ser mais lenta, iniciando com dietas líquidas e evoluindo a composição nutri- cional conforme a tolerância do paciente. Nesses casos, a terapia enteral, e mesmo parenteral podem ser necessárias para evitar a desnutrição (WEI- MANN et al., 2021). Em geral, cabe ao nutricionista o bom senso de avaliar bem o paciente e sua situação clínica. Com isso, o suporte nutricional deverá garantir as metas esta- belecidas e poderá ser complementado sempre que necessário. Não há recomendações para longos períodos de jejum UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS NA ALTA HOSPITALAR Após o período de internação e recuperação, o paciente poderá receber alta hos- pitalar. Entretanto, muitos pacientes recebem alta por estarem clinicamente es- táveis, permanecendo em risco nutricional e por vezes em desnutrição. Por essa razão, nosso papel será fornecer não apenas o suporte durante a internação, mas atuar de forma a orientar pacientes e familiares. Para pacientes sem risco nutricional, apenas uma orientação geral, norteada com o que está sugerido em nosso Guia Alimentar é suciente, entretanto para pacientes com comorbidades ou em risco, precisaremos ser mais precisos. Preconize a manutenção do estado nutricional, assim para uma prescrição die- tética realize os cálculos conforme o estado nutricional do paciente, para uma alimentação oral, é aconselhável usar para o cardápio os dados que foram ava- liados no seu consumo alimentar. Em caso de pacientes com diculdades alimentares, o aconselhamento para o uso de suplementos alimentares também deve ser feito com determinação dos produtos, sempre indicando várias possibilidades para a compra. Outro fator que não deve ser esquecido é a condição econômica do paciente. 5 4 Para pacientes em uso de terapia enteral, devemos orientar os produtos a serem utilizados, a forma de preparo, fracionamento, forma de administração, hidratação, higiene e acondicionamento. Geralmente o uso de sondapor si só é um grande desao, assim, os pacientes e cuidadores precisam de uma maior atenção para que não tenham dúvidas. Quanto ao tipo de produto, sabemos que o uso das fórmulas enterais líquidas e prontas para consumo são a primeira opção, tanto por garantirem o fornecimento das metas, quanto por diminuírem o risco de contaminação. Entretanto, da mesma forma que na suplementação, os fatores econômicos inuenciam para a deter- minação do tipo de alimentação, podendo ser ainda realizado o uso de módulos alimentares, e em últimos casos o uso de dietas artesanais (devendo estimar o risco de contaminação e perdas nutricionais no preparo e administração do alimento). Por m, o que importa sempre é a coerência. A orientação deve ser pautada nas necessidades do paciente, buscando a manutenção de sua saúde, com a indicação de uma alimentação saudável e consonante com os hábitos do paciente, e acima de tudo que consiga ser realizada conforme a sua realidade socioeconômica. NOVOS DESAFIOS Chegamos ao nal deste tema. Espero que você tenha conseguido entender um pouco sobre a necessidade do acompanhamento do paciente adulto, que hoje é a maior demanda dos hospitais gerais. Cada situação, paciente e momento irão trazer suas necessidades e para isso o prossional nutricionista deve estar atento e disposto a realizar a avaliação completa e manter o acompanhamento para adequar a conduta conforme a realidade do dia a dia. Compreender que um paciente dicilmente terá apenas uma condição clíni- ca, ou seja, na maior parte dos casos teremos pacientes com diversas comorbida- des, faz com que estejamos aptos a atender a todos os pacientes da melhor forma, estando com um olhar amplo, capazes de identicar as prioridades e manter condutas alinhadas que venham fornecer os nutrientes necessários para manu- tenção e recuperação do paciente. Por m, acompanhar um paciente favorecendo sua recuperação precoce e ainda o orientar a m de que sua alimentação seja parte de seu tratamento após a sua alta, torna o trabalho do nutricionista essencial para o processo de cura do nosso paciente. UNICESUMAR 5 5 1. Ao avaliar um paciente no hospital, coletamos as seguintes inormações: paciente de 48 anos, com 102kg, 173cm, interna com diagnóstico de diabetes tipo II, hipertensão, e lesão renal, tendo internado para iniciar tratamento dialítico. Paciente relata que tem apresen- tado náuseas e por isso não tem conseguido comer direito, relatando alguns episódios de hipoglicemia ao acordar, no prontuário apresenta glicemia capilar de 82mg/dL. Mediante as inormações acima, podemos armar: I - Paciente apresenta um IMC de 34Kg/m², entretanto, devemos considerar o peso do paciente ajustado por causa da doença renal. II - Nesse momento, o principal objetivo é atender às demandas relativas à insuciência renal, sendo que demais comorbidades deverão ser avaliadas em um segundomomento. III - Para esse paciente será considerada a restrição de sódio, oerecendo apenas 2g de sal por dia. IV - A hipoglicemia é considerada apenas para valores abaixo de 70mg/dL. Entretanto, os sintomas nos mostram que o paciente apresenta glicemias mais elevadas ao longo do dia, devemos adequar a alimentação para normalização da mesma. É correto o que se arma em: a) I e IV, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas. 2. O atendimento nutricional em hospital é composto por inúmeras fases, temos a triagem, a avaliação, a prescrição, o acompanhamento e, por fm, as orientações de alta hospitalar. Pensando em manter uma conduta adequada ao paciente e nas orientações necessárias na alta, podemos afrmar: I - Pacientes diabéticos, com uso de insulina, devem ter uma orientação completa, incluindo prescrição dietética, mas deve-se priorizar ensinar a contagem de carboidratos. II - Todos os pacientes internados deveriam receber alguma orientação nutricional, mesmo aqueles sem comorbidades. VAMOS PRATICAR 5 III - Um paciente que apresente uma doença grave, mesmo recebendo orientação nutricio- nal na alta hospitalar, deve ser orientado a manter acompanhamento nutricional, ou ser encaminhado para tal. IV - Pacientes em uso de suporte nutricional devem ser orientados apenas com dietas en- terais artesanais, tanto por serem alimentos in natura, quanto pelo alto custo do uso de dietas industrializadas. É correto o que se arma em: a) I e IV, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas. 3. Em pacientes cirúrgicos a alimentação é fundamental para sua recuperação. Uma boa avaliação nutricional e estratégia podem mudar o desfecho de um paciente. Com base nas inormações apresentadas, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I - A abreviação do jejum no pré-operatório, mantendo pacientes nomáximo 06 horas sem receber qualquer tipo de alimento e líquido, é recomendada para pacientes cirúrgicos. PORQUE II - Um paciente bem alimentado antes da cirurgia é importante para diminuir riscos de inecção e desecho do paciente, devendo apenas ser mantido um jejum prolongado no pós-operatório por causa da anestesia. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justicativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justicativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição alsa. d) A asserção I é uma proposição alsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são alsas. VAMOS PRATICAR 5 1 REFERÊNCIAS BARROSO, W.K.S. et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arq Bras Cardiol., v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.36660/abc.20201238. Acesso em: 30 jan. 2024. BURGOS, R. et al. ESPEN guideline clinical nutrition in neurology. Clinical Nutrition, v. 37, p. 354- 396, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.clnu.2017.09.003. Acesso em: 30 jan. 2024. MARTINS, C. et al. Consenso sobre a terminologia padronizada do processo de cuidado em nutrição para pacientes adultos com doença renal crônica. Braz. J. 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II - Mesmo no pós-operatório é indicado iniciar com alimentação precocemente, assim que o paciente esteja acordado. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 5 9 UNIDADE 6 MINHAS METAS PACIENTE HEPATOPATA Conhecer aspectos para avaliação nutricional do paciente hepatopata. Aprender a interpretar os dados para diagnóstico nutricional. Entender as principais hepatopatias e suas características. Compreender a intervenção nutricional eita em cada patologia. Entender a importância do acompanhamento nutricional nas hepatopatias. Conhecer as condutas nutricionais nas hepatopatias. Reconhecer a importância da terapia nutricional nas hepatopatias. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 6 INICIE SUA JORNADA O fígado é um órgão fundamental para nosso organismo, anal através dele te- mos todas as funções metabólicas de proteínas, carboidratos, gorduras e não apenas isso, todo o processo de distribuição de nutrientes ao organismo e de transformação e eliminação de toxinas e substâncias estranhas (os xenobióticos). Assim, o adoecimento desse órgão tão importante pode trazer grandes conse- quências para o nosso corpo, sendo que todas as medidas de prevenção e trata- mento precoce são fundamentais para a garantia da saúde. Como em todos os quadros clínicos, a nutrição pode desempenhar um papel fundamental no processo de melhora, anal, consegue imaginar como um paciente com problemas hepáticos pode se beneciar de uma intervenção nutricional? A conduta nutricional pode garantir melhora de sintomas, melhora da con- dição clínica e mesmo do prognóstico em casos mais agravados. Ao utilizar uma alimentação equilibrada conforme o caso, com ajuste em nutrientes, po- deremos melhorar o processo de metabolização e assim permitir uma melhor qualidade de vida para nossos pacientes. Vem comigo aprender mais detalha- damente sobre como fazer isso. VAMOS RECORDAR? A ESPEN (European Society or Clinical Nutrition and Metabolism) é um dos principais órgãos mundiais a defnir diretrizes para a nutrição. E em 2021 tivemos as diretrizes gerais para a nutrição hospitalar. Vamos relembrar as recomendações? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem Nomundo das redes sociais propostasmilagrosas e resultados imediatos são bus- cados por inúmeras pessoas. Mas já pensou que o uso de toterápicos e outras substâncias podem prejudicar o ígado? Recursos de mídia disponíveis no con- teúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 6 DESENVOLVA SEU POTENCIAL AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NAS DOENÇAS HEPÁTICAS O paciente hepatopata internado por ter uma doença de base instalada já neces- sitará um acompanhamento nutricional mais aprofundado, pois a sua situação de saúde já o coloca em risco. A doença hepática em geral é assintomática, o que piora o quadro dos pacientes, que muitas vezes só percebem o dano quando o quadro já está amplamente agravado (BITTENCOURT et al., 2017). Em geral, pacientes com doença hepática por toda a sua diculdade no meta- bolismo apresentam risco aumentado para desnutrição e mesmo pacientes com esteatose hepática gordurosa, comumente associada à obesidade, apresentam no agravamento de sua doença a perda importante de massa muscular o que pode o levar a sarcopenia (SANTOS et al., 2018). Em pacientes com cirrose hepática compensada, a desnutrição está presente em 20% dos casos, e nos pacientes com doença descompensada a prevalência é maior do que 50%. Percebe-se ainda que tanto tecido adiposo, quanto massa muscular podem ser depletadas, sendo que mulheres tendem a diminuir mais rapidamente a reserva adiposa, enquanto que homens perdem rapidamente a massa muscular (EASL, 2018). Dentre as medidas utilizadas para estabelecer gravidade, está o índice de massa corporal (IMC), que apesar de sua limitação, relacionada nesses pacientes com a grande retenção de líquidos, pode nos demonstrar a desnutrição grave com IMC ≤18,5Kg/m² comum nos pacientes cirróticos e mesmo em pacientes com obesidade com IMC > 30Kg/m², cada vez mais comum relacionados a esteatose não alcoólica. Entretanto, para validar esses valores, precisamos fazer correção do peso e ou apurar o peso seco do paciente. E como fazer isso? Utilizando ou o peso antes da retenção de líquidos, ou aferido após a paracentese, ou descontando o valor estimado conforme a ascite (esse chamamos de peso seco) (EASL, 2018). Para isso, segue-se a regra: ■ Ascite grau I (detectada apenas em ultrassonograa): descontar 5% ■ Ascite grau II (moderada não tensa): descontar 10% ■ Ascite grau III (ascite importante/tensa): descontar 15% ■ Subtrair 5% quando houver edema nos membros inferiores de forma bilateral. 4 Para pacientes hepatopatas, em especial cirróticos, foi desenvolvida uma ferra- menta chamada Royal Free Hospital - Nutritional Prioritizing Tool (RFH-NPT) que já foi traduzida para o português em duas oportunidades e validada por GLASENAPP, ZUCHINALI e DALL’ALBA (2023), com o nome Triagem Nu- tricional - Royal Free Hospital, e segue os critérios da Figura 1. No estudo de Santos et al. (2018), esse modelo foi o mais ecaz em determinar a desnutrição em pacientes hepatopatas crônicos e é considerado adequado inclusive pela ESPEN (BISCHOFF et al., 2022). UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 03 PASSOS PARA DETECTAR O RISCO NUTRICIONAL EM PACIENTE COM DOENÇA HEPÁTICA PASSO 1 PASSO 2 PASSO 3 Pontuação 0 Baixo Risco •Cuidados clínicos de rotina. •Repita a triagem semanalmente. Pontuação 1 Moderado Risco •Cuidados clínicos de rotina. •Monitore a ingestão alimentar. •Estimule a alimentação e ofereça lanches. •Repita a triagem semanalmente. Pontuação 2 a 7 Alto Risco •Realize a avaliação nutricional detalhada. •Monitore a ingestão alimentar. •Institua medidas de suporte nutricional a fim de recuperar o estado nutricional. •Monitore cuidadosamente pelo menos 2 vezes por semana. Some todos os pontos para obter o risco geral de desnutrição. De acordo com a sua pontuação, verifique as DIRETRIZES DE CONDUTA: O paciente apresenta hepatite alcoólica aguda ou está em uso de nutrição enteral? O paciente apresenta sobrecarga hídrica? Ou seja, edema periférico/ascite. Não (0 pontos) Sim (6 pontos) Não (0 pontos) Sim (1 ponto) IMC (kg/m²) Pontos = 0 = 1 = 2 >20 18,5 - 20 >18,5 Perda de peso não intencional nos últimos 3-6 meses: Pontos = 0 = 1 = 2 >5% 5 - 10% >10% Pontos = 0 = 1 = 2 Não Ocasionalmente Sim A sobrecarga hídrica (edema periférico/ edema) interfere na capacidade do paciente de se alimentar? Não Sim Pontos = 0 = 2 O paciente está ingerindo a metade ou menos da metade da dieta oferecida nos últimos 5 dias? 2 pontos Pontos = 0 = 1 = 2 O paciente perdeu peso nos últimos 3-6 meses? Não Difícil de avaliar, pois o paciente está usando diuréticos Sim Se o paciente está gravemente doente e reduziu drasticamente a ingestão alimentar ou se prevê não conseguir alimentar-se durante > 5 dias Figura 1- Algoritmo da Triagem Nutricional - Royal Free Hospital / Fonte: Glasenapp, Zuchinali e Dall’alba (2023, p. 88). Descrição da Imagem: A gura descreve um uxograma com o título: 3 passos para detectar o risco nutricional em paciente com doença hepática. Abaixo aparece o passo 1 com a pergunta: O paciente apresenta hepatite alcoólica aguda ou está em uso de nutrição enteral? Não (0 pontos) Sim (06 pontos). O não ligado por uma seta ao passo 2: O paciente apresenta sobrecarga hídrica? Ou seja, edema periférico/ascite. Não (0 pontos) Sim (01 ponto). O não se liga a 3 quadros, o primeiro com duas colunas: IMC (Kg/m²) na esquerda e Pontos na direita, abaixo >20 = 0 pontos; 18,5 - 20 = 1 ponto; <18,5 = 2 pontos. O outro quadro: Perda de peso não intencional nos últimos 3-6 meses - duas colunas: <5% = 0pontos; 5-10% = 01 ponto; >10% = 02 pontos. O terceiro quadro descrito: Se o paciente está gravemente doente e reduziu drasticamente a ingestão alimentar ou se prevê não conseguir alimentar-se durante > 5dias = 2 pontos. O sim se liga igualmente a 3 quadros, o primeiro: A sobrecarga hídrica (edema periférico/edema) interfere na capacidade do paciente de se alimentar? Abaixo descrito Não = 0 pontos; Ocasionalmente = 01 ponto; Sim = 2 pontos. O segundo quadro diz: O paciente está ingerindo a metade ou menos da metade da dieta oferecida nos últimos 5 dias? Não = 0 pontos Sim = 2 pontos. E o terceiro quadro diz: O paciente perdeu peso nos últimos 3-6 meses? Não = 0 pontos; Difícil de avaliar, pois o paciente está usan- do diuréticos = 1 ponto; Sim = 2 pontos. Todos esses quadros levam em setas para o Passo 03 que diz: Some todos os pontos para obter o risco geral de desnutrição. De acordo com a sua pontuação, verique as diretrizes de conduta: Abaixo um quadro com 03 colunas: Pontuação 0 - Baixo Risco que diz - Cuidados clínicos de rotina, repita a triagem semanalmente; segunda coluna pontuação 1 - Moderado Risco que diz - cuidados clínicos de rotina, monitore a ingestão alimentar, estimule a alimentação e ofereça lanches, repita a triagem semanalmente. Última coluna: Pontuação 2 a 7 pontos - Alto risco que diz - realize a avaliação nutricional detalhada, monitore a ingestão alimentar, institua medidas de suporte nutricional a m de recuperar o estado nutricional, monitore cuidadosamente pelo menos 2 vezes por semana. Fim da descrição. Seguindo esse uxo, conseguiremos ter uma atenção mais criteriosa com pa- cientes de maior risco, sem deixar de acompanhar de forma adequada pacientes que estejam estáveis. Além da avaliação do risco nutricional, devemos estar atentos para sinais de perda de massa e de reservas subcutâneas para prevenir não apenas a desnutrição, mas o risco maior de perda muscular e sarcopenia, que estão associados com maior mortalidade, mesmo em pacientes obesos (BISCHOFF et al., 2020; 2022). Dentre as medidas a serem utilizadas para avaliar as perdas, a prega cutânea tricipital e a circunferência muscular do braço apresentam boa correlação mesmo em pacientes cirróticos (SANTOS et al., 2018). Já para os pacientes com a esteatose não alcoólica, a medida de circunferência abdominal, assim como marcadores de enzimas hepáticas devem ser acompanhados para avaliação dos riscos e evolução da doença (MÁLAGO JR. et al., 2021). Outra medida que é uma boa preditora do risco de mortalidade é a força da preensão palmar (BISCHOFF et al., 2020). Ainda, o uso de exames laboratoriais e/ou sinais físicos de deciências nu- tricionais devem ser observados, visto que algumas deciências são comuns em hepatopatas, como: vitamina D, vitamina K, tiamina e outras vitaminas do com- plexo B, cálcio. Marcadores como albumina e pré-albumina ajudam a determi- UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 nar o estado nutricional, salvo em pacientes com doença hepática avançada que estará correlacionado com o prognóstico e mesmo grau de ascite. Por m, na avaliação é fundamental realizar uma entrevista acerca de sua in- gestão dietética, com o uso de um diário alimentar ou recordatório alimentar e não apenas isso, incluir o quê, quanto, como se alimenta, ainda que suplementos usa, ingestão hídrica e sintomas como: náuseas, vômitos, saciedade precoce, alterações gastrointestinais, podem ser estratégicos para a conduta nutricional (EASL, 2018). Após todos os dados coletados, precisamos interpretar e correlacionar eles a m de realizar o diagnóstico nutricional, que em geral será para caracterizar o grau de risco ou mesmo desnutrição do paciente. Após denir o diagnóstico conseguiremos ser assertivos em nossa conduta e prescrição dietética, com uma previsão ajustada de suas necessidades e metas a serem cumpridas e observadas. Paracentese: conorme descrito no site do governo do Brasil, é a “punção da pare- de do abdome, com agulha especíca, para retirada de líquido peritoneal (de den- tro da cavidade do peritônio), em pessoas apresentando suspeita ou diagnóstico de ascite (“barriga d’água”), com a nalidade de esclarecimento diagnóstico e para tratamento” (BRASIL, 2020, s.p.). Além do diagnóstico, esse procedimento pode ser indicado para pacientes com desconorto ventilatório, ou para pacientes com ascite reratária por uso de diuré- ticos ou em tratamento terapêutico associado à inusão intravenosa de albumina (BITTENCOURT et al., 2017). ZOOM NO CONHECIMENTO PRINCIPAIS CONDIÇÕES ENCONTRADAS Doença Hepática Crônica A doença hepática crônica está relacionada com o comprometimento da es- trutura do fígado e consequentemente a capacidade funcional dos hepatócitos após intensa e contínua agressão e necrose celular. Ela inicia com o aumento das enzimas hepáticas, detectadas laboratorialmente e segue com a presença de brose, diagnosticada histologicamente (BITTENCOURT et al., 2017). O paciente com a doença crônica está em constante estado hipercatabólico, e a depender de seu quadro, o risco de desnutrição aumenta, seja por redução da 8 alimentação, mudanças no metabolismo de nutrientes, alterações na absorção intes- tinal e mesmo o estado inamatório (BISCHOFF et al., 2020; SANTOS et al., 2018). A doença hepática crônica pode evoluir para a cirrose, sendo a causa mais prevalente do desfecho o consumo abusivo de álcool (SANTOS et al., 2018). Além da doença hepática alcoólica, temos a doença hepática gordurosa não al- coólica e ainda as hepatites B e C que podem estar associadas com a cronicida- de da doença hepática e mesmo com o desenvolvimento de cirrose. No Brasil estimam-se 700.000 pessoas com infecção ativa por hepatite C sem tratamento (BITTENCOURT et al., 2017), como as principais causas de agravamento crô- nico do fígado. Estima-se que em 2014 havia 850 milhões de pessoas no mundo com essa doença, sendo que ela permanece subdiagnosticada o que agrava o seu desfecho (MÁLAGO JR. et al., 2021). Os pacientes cirróticos podem apresentar um agravamento e quadro clínico com os seguintes sinais e sintomas (BISCHOFF et al., 2020; GREGORINI et al., 2016): • Encealopatia hepática e Coma. • Hipertensão Portal – levando a varizes esoagianas e colaterais. • Ascite e edemas – aumentando a retenção de sódio e água. • Desnutrição, mesmo quando as necessidades nutricionais são supridas. • Icterícia. • Hiperamonemia. • Anormalidades na coagulação – com alteração no tempo de protrombina. • Resistência à insulina ou Intolerância à glicose. • Hipoalbuminemia. • Plaquetopenia. A doença alcoólica do fígado se manifesta pela esteatose hepática relacio- nada com o consumo excessivo de álcool (consumo de 20 a 30g de etanol/ dia - equivalente a mais ou menos 01 taça de vinho de 150ml ou 45ml de destilados, por exemplo) podendo progredir para a cirrose (BITTENCOURT et al., 2017). Se diagnosticada de forma precoce pode ser reversível com a cessação do consumo do álcool. Já as hepatites são uma inflamação do fígado em decorrência de infecções virais ou mesmo substâncias tóxicas e podem levar à cirrose. Estão relacionadas com sintomas de fadiga, náuseas e icterícia (nos sintomas mais graves) UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 Esteatose Hepática não Alcoólica Dentre as doenças hepáticas crônicas, temos a esteatose não alcoólica, que tem se tornado cada vez mais prevalente com o aumento dos índices de obesidade. Ela se caracteriza por uma anormalidade hepática, com aumento do peso do órgão maior que 5%, com inamação, consequente necrose e regeneração celular progredindo para a brose e não está relacionada com o consumo de álcool, nem a problemas autoimunes ou doenças metabólicas. Pode estar relacionada, entretanto, em alguns casos ao uso de medicamentos hepatotóxicos, anabolizantes, e mesmo exposição a toxinas como a aatoxina. E não menos importante a sua relação com a síndrome metabólica (BISCHOFF et al., 2022; MÁLAGO JR. etal., 2021; COTRIM et al., 2016). “ A DHGNA (doença hepática gordurosa não alcoólica) tem crescido no mundo em associação com maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentário, junto com a epidemia de obesidade. Esta doença afeta de 25 a 30% da população mundial. A ocorrência da DHGNA está associada à obesidade, resistência à insulina e síndrome meta- bólica, sendo inclusive considerada a manifestação hepática dessa síndrome. Essas doenças compartilham fatores de risco: obesidade, diabetes tipo 2, dislipidemia e resistência à insulina (MÁLAGO JR. et al., 2021, p. 196). Um dos grandes problemas relacionados com a doença é sua evolução, que após a inflamação, pode levar à fibrose e à cirrose hepática, sendo que muitos casos estão as- sociados ao carcinoma hepatocelular, que pode vir associado ou não ao desenvolvi- mento da cirrose. Estima-se que essa doença em breve será a principal causa de morbi- mortalidade comparada a todas as doenças hepáticas, bem como a principal causa para transplantes (MÁLAGO JR et al., 2021). 1 Figura 2 - Progressão da doença hepática crônica não alcoólica Fonte: Málago Jr. et al. (2021, p. 200). Descrição da Imagem: A - gura descreve alguns fígados adoecidos com a sequência da progressão da doença linkados com setas: Acúmulo de gordura - Necrose - lesão tecidual - inamação - cicatri- zação - brose - brose dis- seminada - cirrose - distorção hepática - carcinoma hepato- celular. Fim da descrição. Acúmulo de gordura Necrose Lesão tecidual Inflamação Cicatrização Fibrose Fibrose disseminada Cirrose Distorção hepática Carcinoma hepatocelular Outra questão que deve ser levada em consideração é o risco de perda de massa e a sarcopenia, comum em pacientes com quadros cirróticos e muitas vezes su- bestimada em pacientes que sejam obesos (BISCHOFF et al., 2022). Insufciência Hepática Aguda A Insuciência Hepática Aguda grave em geral ocorre em pacientes sem com- prometimento do fígado prévio e clinicamente apresenta sintomas de icterícia UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 seguida de encefalopatia. A mortalidade desses pacientes é alta, variando de 60 a 90% dos casos quando não há controle da encefalopatia. A encefalopatia hepática, que é um distúrbio do sistema nervoso central as- sociado à insuciência hepatocelular e com sintomas neuropsiquiátricos (BIT- TENCOURT et al., 2017). Transplante Hepático O transplante hepático é considerado sempre que não for possível controlar as doenças hepáticas com tratamentos convencionais e mesmo em pacientes com hepatopatias em estágio terminal. No Brasil, existe uma la única que compreen- de pessoas de 18 a 70 anos de idade que atendam a alguns critérios. Mesmo antes do transplante, o controle de comorbidades como obesidade, hipertensão, dislipidemia e diabetes devem ser priorizados (BITTENCOURT et al., 2017). INTERVENÇÃO NUTRICIONAL “ A manutenção do estado nutricional é essencial para o gerencia- mento e recuperação do estado de saúde. A identicação precoce do risco nutricional é importante para oferecer intervenção apropriada e um cuidado nutricional adequado. Uma intervenção nutricional individualizada baseada na avaliação prévia do risco nutricional pode prevenir complicações em pacientes cirróticos, melhorar sua qualidade de vida e a taxa de sobrevivência (GLASENAPP; ZUCHI- NALI; DALL’ALBA, 2023, p. 85). A meta de todo o nutricionista é manter o paciente em bom estado nutricional, e isso não é diferente com o hepatopata. Os pacientes em desnutrição apresentam por si só maior risco de mortalidade, assim como piora em seu estado catabólico e in- flamatório (BISCHOFF et al., 2020). As- sim, devemos nos ater a alguns objetivos: 1 • Melhorar as unções hepáticas e qualidade de vida do paciente. • Recuperar ou manter o estado nutricional. • Diminuir ou controlar o catabolismo proteico, evitando a sarcopenia. • Manter o balanço nitrogenado. • Promover a regeneração hepática sem aumentar o risco de encealopatia hepática. Para cada quadro, teremos alguns cuidados especícos a serem observados. ■ Doença Hepática Aguda: ■ A dieta nos casos agudos é similar ao utilizado em pacientes críticos, com ajuste na demanda energética conforme o quadro do paciente. ■ A quantidade proteica deve suprir as necessidades com cautela, visto o risco da encefalopatia, assim quantidades de 1,0 a 1,2g/Kg podem ser sucientes até a estabilização do quadro, dando preferência para consumo de proteínas vegetais e lácteos, visto que a proporção de ami- noácidos de cadeia ramicada. ■ Pacientes com encefalopatia hepática e que apresentem hiperamonemia não necessitam restrição proteica, entretanto, eles podem iniciar aos poucos a adição na dieta, procurando atingir as metas. ■ Doença Hepática Crônica: ■ Necessidades energéticas: 30 a 40Kcal/Kg de peso seco. ■ Cálculo proteico: 1,2g de proteína/Kg de peso seco para pacientes compensados e não desnutridos; 1,5g de proteína/Kg para pacientes desnutridos ou sarcopênicos. ■ A composição da dieta deve conter de 50 a 60% de carboidratos, priorizando os complexos. Já os lipídios devem ser de 20 a 30% das necessidades, devendo evitar gorduras saturadas e trans, e aumentar a oferta de gorduras poli-insaturadas. ■ Restrição de líquidos pode ser necessária e deve ser avaliada e indicada pela equipe médica. ■ A restrição de sódio pode ser avaliada em situações de ascite e edema, mas deve permanecer minimamente o consumo de 2g por dia. ■ Algumas deciências de micronutrientes são comuns e devem ser avaliadas. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 ■ Esteatose não alcoólica: ■ Por estar relacionado com obesidade, nesses casos a terapia nutricional deve preconizar a diminuição do peso corporal de 7 a 10% com objetivo de diminuição da esteatose e mesmo melhorar valores bioquímicos das enzimas hepáticas. A dieta deve ser normoglicídica e normolipídica, buscando atingir um requerimento energético que busque a eutroa. ■ Aliar o atendimento a uma equipe multiprossional é fundamental visto que a mudança de hábitos pode gerar frustração e mesmo resistência em pacientes que ainda sejam assintomáticos. ■ A composição da dieta deve ser com carboidratos complexos. O con- trole do índice glicêmico da dieta pode favorecer não apenas o controle da glicemia, mas da lipogênese e consequente necrose do tecido. ■ Para as gorduras usar como base as mono e as poli-insaturadas, evitando em especial as saturadas e trans que podem agravar a esteatose. ■ Já a porção proteica da dieta deve ser mantida entre 1,2 a 1,5g/Kg de peso ideal/dia. Tanto para manutenção de sua capacidade muscular como para evitar ou corrigir a sarcopenia. ■ Transplante Hepático: ■ A terapia nutricional deverá visar à recuperação do estado nutricional, garantir uma boa cicatrização, prevenir infecções. ■ Fase pré-transplante: deve ser nutricionalmente completa e de fácil digestão, com 30 a 35Kcal/Kg/dia e em obesos 25Kcal/Kg de peso ideal. Já as proteínas devem atingir metas de 1,2 a 1,5g/Kg/dia, e em obesos sugere-se o aumento da ingestão proteica para 2 a 2,5g/Kg de peso ideal. E deve ser evitado jejum perioperatório longo. ■ No pós-transplante, o requerimento energético deve ser aumentado em pelo menos 20% as necessidades basais e ainda mais 50 a 70% para pacientes desnutridos. ■ A dieta deve ser nutricionalmente completa, mas com proteínas em 1,2 a 1,5g/Kg de peso, respeitando a tolerância e com evolução gradual. Assim como em todo o paciente internado, o acompanhamento nutricional é fundamental. Observar cada característica e determinar a conduta nutricional são os primeiros passos em um acompanhamento, visto que a cada dia e situação clínica do paciente, nós nutricionistas deveremos estar atentos para realizar as 1 4 mudanças necessárias a m de garantir o suprimento das necessidades do pa- ciente. A alimentação oral sempre será a primeira opção, entretanto, conforme o risco que o paciente apresente,e mesmo sua tolerância, o uso concomitante de suplementos deve ser considerado. Assim como, em casos de baixa adesão à dieta oral, o uso de terapia nutricional enteral é de grande valia para a manutenção ou recuperação do estado nutricional do indivíduo. Terapia Nutricional Oral Como dito anteriormente, a alimentação oral sempre será a primeira via a ser considerada. Por isso, uma avaliação nutricional detalhada e uma intervenção precoce podem facilitar a adesão do paciente com a dieta hospitalar. Dentre os cuidados, podemos considerar. ■ Doença Hepática Aguda: ■ Se o paciente estiver com condições de deglutição preservadas, a alimentação oral permanece sendo preconizada, adequando o volume de alimentos e o fracionamento conforme tolerância do paciente. ■ A suplementação pode ser necessária para conseguir atingir as metas calculadas do paciente, sendo que suplementos concentrados com maior densidade calórica podem beneciar o paciente. ■ Doença Hepática crônica: ■ Priorize uma dieta com maior fracionamento (6 a 8 refeições), evitando jejum prolongado especialmente a noite e assim a degradação proteica. O fracionamento também favorece a melhor tolerância alimentar, visto que um sintoma prevalente nesses pacientes é a saciedade precoce. ■ Para que o jejum seja evitado, o café da manhã e a ceia são fundamentais e devem ser equilibradas em sua composição de carboidratos e proteínas. ■ A suplementação de aminoácidos de cadeia ramicada (AACR - leucina, valina e isoleucina) pode ajudar na recuperação do paciente. Se pensarmos em fonte alimentar, as leguminosas, as castanhas e os lácteos apresentam uma boa proporção. A proteína pode ser de fonte animal, mas em pacientes com encefalopatia diabética priorizar proteínas vegetais e suplementar os aminoácidos para garantia das necessidades. Doses de 0,25g/Kg de BCAAs parecem ser sucientes. A proteína das carnes por apresentarem uma maior proporção de UNICESUMAR 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 aminoácidos de cadeia ramicada (AACA) que podem piorar os sintomas da encefalopatia. ■ O uso de carboidratos complexos deve ser preconizado, sendo a composição de bras importante para correção de constipação. Entretanto, deve-se observar tolerância de pacientes com ascite que podem ter plenitude gástrica precoce. ■ Para os lipídeos, as gorduras preconizadas são as poli-insaturadas e pacientes com esteatorreia podem se beneciar com o uso de triglicerídeos de cadeia média (TCM). ■ Esteatose não alcoólica: ■ Esses pacientes se beneciam de uma dieta hipocalórica associada a atividades físicas. Em geral, a dieta mediterrânea parece estar associada à melhora da esteatose e da resistência à insulina. ■ Restringir o consumo de produtos processados com alta concentração de açúcar renado, xaropes de milho e frutose adicionada, como por exemplo as bebidas açucaradas. O mesmo vale para a bebida alcoólica que deve ser restrita e preferencialmente evitada. ■ O uso de ômega-3, vitamina E, vitamina D e outros antioxidantes po- dem auxiliar a diminuir o processo inamatório. ■ Para melhorar a adesão ao tratamento, o acompanhamento multidisci- plinar e mesmo condutas que respeitem a alimentação e as referências culturais e sociais do paciente tendem a ser mais ecazes. ■ Transplante hepático: ■ A alimentação deve ser fracionada em pequenas refeições conforme a tolerância do paciente na fase pré-transplante. Para pacientes que não to- lerem a totalidade da proteína ofertada ou apresentem aumento na amô- nia, sugere-se o uso de proteína vegetal e a suplementação com BCAAs. ■ No pós-transplante, iniciar a alimentação precocemente (12-24h após o transplante), com refeições com baixo volume, maior frequência, prefe- rencialmente com maior concentração calórica. Se o paciente não tolerar a totalidade da oferta alimentar, pensar no uso de suplementos orais. 1 Terapia Nutricional Enteral (TNE) Quando não for possível atingir pelo menos 60% das necessidades nutricio- nais do paciente por via oral, e mesmo após tentativas de suplementação oral, é indicada a terapia enteral de forma precoce. No caso de pacientes com encefalopatia hepática o uso de nutrição enteral precoce é recomendado. Mesmo em casos de falência hepática a nutrição enteral será recomendada, em pacientes nutridos com início tão logo quanto possível, e em casos de pacientes desnutridos, deve ser iniciada prontamente com evolução gradual (BISCHOFF et al., 2020). Mas em casos de hemorragia digestiva a TNE deve ser interrompida até melhora do sintoma, nesses casos, a nutrição parenteral pode ser necessária. Assim que houver melhora dos sintomas ou estabilização a NE deve ser reiniciada. A dieta que mais beneficia os pacientes são as com maior densidade calórica (1,5Kcal/ml), visto que em menores volumes conseguimos atingir as metas calóricas, assim como preferencialmente o uso de dietas poliméricas deve ser preconizado, com o uso de dietas oligoméricas apenas em pacientes com má absorção. Para pacientes transplantados também iremos pensar na nutrição enteral em duas situações, primeiramente para aqueles que não conseguirem atingir as metas calculadas, nem mesmo com a suplementação e para aqueles que apresentarem um quadro de desnutrição severa antes da cirurgia. Sendo que a dieta polimérica, de baixa osmolaridade deve ser preconizada, a ser iniciada precocemente (até 12 horas após o procedimento) com baixo volume, e aumento gradual conforme tolerância do paciente (BISCHOFF et al., 2020). Gostou do que discutimos até aqui? Tenhomais para conversar comvocê a respei- to deste tema, vamos lá? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 NOVOS DESAFIOS Todo o atendimento nutricional na área hospitalar é desaador. Entretanto o paciente hepatopata nos desaa, pois tanto o seu estado hipermetabólico tende à desnutrição como pela incapacidade funcional do fígado que o metabolismo ca prejudicado, podendo levá-lo à desnutrição. Assim, nosso desao enquanto nutricionistas é aliar nosso conhecimento com as necessidades individuais a m de ofertar uma alimentação equilibrada e que seja palatável ao paciente. E não menos importante atuar de forma a oferecer suplementos orais ou intervir com a nutrição enteral sempre que necessário e o paciente demonstrar diculdades em tolerar a alimentação necessária. Espero que com as informações fornecidas você consiga ter segurança em atender esses pacientes que demandam um cuidado nutricional extremo. Lem- brando que a atualização contínua será o seu diferencial enquanto prossional. 1 8 1. Para considerar o grau de desnutrição e risco do paciente hepatopata, o IMC,mesmo limitado, ainda é a medida utilizada. Entretanto, a correção do peso faz-se necessária em pacientes compresença de ascite. Considerando a avaliação do paciente hepatopata, podemos afrmar: a) Pacientes com IMC < 20Kg/m² são considerados desnutridos. b) Pacientes com ascite leve ou grau I devem ter o seu peso reduzido em 10% c) Pacientes com IMC > 30Kg/m² sempre serão considerados obesos d) Utilizar o peso do paciente prévio, antes de um quadro de ascite, não é recomendado. e) Emcaso de edemaemmembros ineriores, a diminuição de 5%do peso deve ser realizada. 2. Diversas triagens são utilizadas em nível hospitalar para determinação do risco dos pa- cientes. Para os pacientes hepatopatas foi desenvolvida e validada no Brasil a Triagem Nutricional - Royal Free Hospital. Sobre essa triagem, podemos afrmar: I - O paciente hepatopata em uso de terapia enteral não apresenta necessariamente risco. II - Perda de peso >10% de orma não intencional nos últimos 3 a 6meses aumentam o risco do paciente. III - Um paciente que não esteja conseguindo ingerir suas necessidades nos últimos 05 dias já apresenta maior risco. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.3. A doença hepática crônica é amais prevalente entre os hepatopatas. Diversas razões levam a essemal, como as hepatites, o alcoolismo emesmo a esteatose gordurosa não alcoólica. Sobre o quadro dessa doença, podemos afrmar: a) O paciente com doença hepática crônica está constantemente em estado hipercatabó- lico e com isso aumenta seu risco de desnutrição. b) A icterícia é uma característica apenas dos quadros agudos da doença. c) A hepatite crônica induzida pelo álcool, mesmo na cirrose pode ser revertida na cessação do consumo da bebida. d) As hepatites virais podem ser totalmente curadas com o tratamento. e) Pacientes com ascite devem ter sua dieta ajustada retirando o sódio oertado. VAMOS PRATICAR 1 9 REFERÊNCIAS BISCHOFF, S. C. et al. ESPEN practical guideline: Clinical nutrition in liver disease. Clinical Nutri- tion, n. 39, v. 12, p. 3533-3562, 2020. BISCHOFF, S. C. et al. European guideline on obesity care in patients with gastrointestinal and liver diseases – Joint ESPEN/UEG guideline. Clinical Nutrition, v. 41, n. 10, 2022. BITTENCOURT, P. L. et al. Manual de cuidados intensivos em hepatologia. 2.ed. Barueri, SP: Manole, 2017. BRASIL. Realização de Paracentese para Pacientes Atendidos na Emergência, no Ambulatório ou nas Unidades de Internação do HGE, UEA. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/ servicos-estaduais/realizacao-de-paracentese-para-pacientes-atendidos-na-emergencia-no- -ambulatorio-ou-nas-unidades-de-internacao-do-hge-uea-1. Acesso em: 31 jan. 2024. COTRIM, H. P. et al. Nonalcoholic atty liver disease Brazilian Society o Hepatology consensus. Arquivos de Gastroenterologia, v. 53, n. 2, p. 118-122, 2016. EUROPEANASSOCIATION FOR THE STUDYOFTHE LIVER. EASL Clinical Practice Guidelines on nutrition in chronic liver disease. Journal o Hepatology, v. 70, n. 1, p. 172-193, 2018. GLASENAPP, J. H.; ZUCHINALI, P.; DALL’ALBA, V. Translation and cross-cultural adaptation o the Royal Free Hospital-Nutritional Prioritizing Tool (RFH-NPT). Arquivos de Gastroenterologia, v. 60, n. 1, 2023. GREGORINI, F. R. et al. Avaliação do estado nutricional em pacientes hospitalizados com cirrose hepática. Braspen Journal, v. 31, n. 4, p. 299-304, 2016. Disponível em: http://www.braspen.com. br/home/wp-content/uploads/2017/02/04-AO-Avaliacao-do-estado-nutri.pd. Acesso em: 10 dez. 2023. MÁLAGO-JR, W. et al. Eeitos Nutricionais e Mecanismos Bioquímicos na Doença Hepática Gor- durosa Não Alcoólica. Revista da Associação Brasileira de Nutrição, v. 12, n. 1, p. 195-214, 2021. SANTOS, K. P. C. et al. Avaliação nutricional de pacientes com doença hepática crônica: compa- ração entre dierentes métodos. BRASPEN J, v. 33, n. 2, p. 170-175, 2018. Disponível em: http:// arquivos.braspen.org/journal/abr-mai-jun-2018/10-AO-Avaliacao-nutricional-de-pacientes. pd. Acesso em: 2 dez. 2023. 8 1. Opção E. a) IMC < 18,5Kg/m² são considerados desnutridos. b) Ascite grau I deverá ter subtraido 5% de seu peso. c) Pacientes obesos deverão ter igualmente a avaliação de perda de massa, pois pode haver desnutrição proteica ou sarcopenia. d) O peso prévio pode ser utilizado como parâmetro para determinar o risco do paciente. e) A recomendação estabelecida para ajustes de peso em casos de membros ineriores que são a ascite I é de apenas 5%. 2. Opção D. I - Um paciente em terapia enteral já está classicado como maior risco, visto não estar conseguindo ingerir suas necessidades em alimentação oral. 3. Opção A. a) A icterícia apesar de comum nos quadros agudos, pode ocorrer nos casos crônicos descompensados. b) A cirrose não pode ser revertida, entretanto, se a hepatopatia estiver no início a cessação do uso de álcool pode levar a melhora do ígado. c) As hepatites podem ser tratadas, entretanto, ainda não há cura. d) Apesar de na ascite termos que controlar o consumo de sódio, o mesmo deve ser mantido. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 8 UNIDADE 7 MINHAS METAS PACIENTE RENAL CRÔNICO Conhecer os estágios das doenças renais. Entender como são os tratamentos para pacientes renais crônicos. Aprender a triagem nutricional em pacientes renais. Aprender os aspectos a serem observados na avaliação nutricional. Compreender a conduta nutricional na doença renal crônica. Relacionar os parâmetros nutricionais a serem usados para os pacientes renais em tratamento conservador e nas diálises. Identicar a melhor terapia a ser utilizada para os pacientes renais. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 7 8 4 INICIE SUA JORNADA A doença renal crônica (DRC) é um problema de saúde pública que está associado a uma perda progressiva das funções dos néfrons que diminuem a capacidade de ltração do sangue no organismo e em consequência sua homeostase. Devido a isso, a doença renal torna-se uma doença com altos índices de mortalidade e morbidade. O atendimento ao paciente renal no hospital também é desaador. Temos diversas situações, desde um paciente que devido ao seu quadro clínico está com uma insuciência renal agudizada, ou mesmo pacientes com diversas comor- bidades (como a hipertensão e o diabetes, doenças mais prevalentes na doença renal) e que vão necessitar suporte nutricional especializado para sua melhora. Como você faria o atendimento desse paciente? Será que há uma forma de realizarmos uma conduta nutricional que consiga recuperar o paciente sem pio- rar a sua condição clínica? Entender os processos e a importância de uma ava- liação nutricional precisa, para que possamos não apenas nutrir o paciente, mas conseguir garantir a segurança do tratamento são fundamentais para o sucesso do planejamento dietético em um paciente renal. Restrição de sódio, potássio, fósforo, líquidos; ingestão proteica adequada aumentada ou não. Ajustes dietoterápicos a m de garantir as recomendações. Todos esses são pontos a serem observados e articulados pelo nutricionista no decorrer da internação de um paciente. E sobre esses pacientes que iremos falar aqui. Entender um pouco melhor os tratamentos e a conduta nutricional a m de garantirmos a sua recuperação de forma mais breve possível. O trabalho pode aetar a saúde dos rins? Neste podcast alaremos um pouco so- bre o assunto e o que azer para prevenir as doenças. Recursos de mídia disponí- veis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO UNICESUMAR 8 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 DESENVOLVA SEU POTENCIAL DOENÇAS RENAIS Como dito anteriormente, a doença renal é um problema de saúde pública não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. Percebe-se que a doença é prevalente em pacientes idosos, e em pessoas com menores poderes aquisitivos, ainda rela- cionada com diabetes e hipertensão arterial. A doença acomete mais homens (59%) do que mulheres (41%) (NERBASS et al., 2022; AGUIAR et al., 2020). Conforme o novo Censo Brasileiro de Diálise, o resumo da epidemiologia dos pacientes em diálise no Brasil é: VAMOS RECORDAR? As doenças renais podem acontecer de forma silenciosa. Por isso, o vídeo da Fundação Pró-Rim traz o assunto em pauta: Sinais e Causas das doenças renais. Vamos recordar? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem Figura 1 - Resumo do Censo Brasileiro de Diálise 2021 / Fonte: adaptada de Nerbass et al. (2022). 8 Descrição da Imagem: a gura apresenta o título dados epidemiológicos e abaixo o mapa do Brasil com a descri- ção de 849 centros ativos, abaixo também escrito 30% dos centros responderam ao questionário. Ao lado uma tabela com as seguintes informações: paciente em diálise e 04 colunas descrevendo o número e a prevalência (pmp = por milhão de habitantes) - 2020 e 2021. Na coluna 2020 aponta 144.779 pacientes em diálise com prevalência de 684pmp. Na coluna 2021 aparece 148.363 pacientes em diálise com prevalência de 696 pmp. Na coluna do meio aparece um aumento de 2,5% no número de paciente e se 1,7% na prevalência pmp. Abaixo aparecem quadros com a descrição: hemodiálise94% - ao lado outro quadro com: 96,1% convencional e 1,8% hemodialtração, diálise peritoneal 5,8% - ao lado outro quadro com: 85% automatizada, 14,2% contínua e 0,8% intermitente. Abaixo a lista para transplante = 21%. Ao lado desses quadros, aparece um gráco pizza indicando a prevalência de 41% dos pacientes do sexo feminino e 59% do sexo masculino. Abaixo um gráco da taxa bruta de mortalidade em percentual por ano, com valores: 2017 - 19,9%, 2018 - 19,5%, 2019 - 18,2%, 2020 - 24,5% sendo 20,3% por outras causas e 4,2% por COVID e 2021 - 22,3% sendo 17% por outras causas e 5,3% por COVID. Abaixo descrito 06/2021 com 88,6% com 01 dose de vacina para o COVID. Fim da descrição. Conforme pesquisas realizadas fora do Brasil, algumas características foram re- lacionadas com as lesões renais e consequentes perdas de ltração: “ a diabetes, a hipertensão, a hipercolesterolemia, o tabagismo, o con- sumo de álcool, o sobrepeso/obesidade, a dieta e a idade avançada. Acredita-se que no Brasil, assim como nos estudos internacionais, a DRC esteja associada a fatores de risco, tais como condições so- ciodemográcas, comportamentos/estilos de vida não saudáveis e doenças crônicas (AGUIAR et al., 2020, p. 3). Como dito, o estilo de vida é um dos aspectos fundamentais para a preven- ção das doenças renais e mesmo para diminuir a sua progressão. Portanto, adotar uma dieta balanceada, realizar práticas de atividade física regulares e manter um peso adequado são indicados para todos os pacientes (CAE- TANO et al., 2022). A hipertensão arterial é encontrada em cerca de 75% dos pacientes com DRC, e está relacionado com o declínio da ltração glomerular associado à vasocons- trição renal. Já o mecanismo e associação da dislipidemia e do diabetes não es- tão totalmente esclarecidos, entretanto, a resistência à insulina parece ter efeito direto na função renal e mesmo no risco de necrose (FIACCADORI et al., 2021; AGUIAR et al., 2020). Existem algumas características que determinam os critérios da doença renal (ZAMBELLI et al., 2021): UNICESUMAR 8 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 INJÚRIA RENAL AGUDA (IRA) Quando houver aumento da creatinina sérica em ≥50% dentro de 7 dias ou aumento da creatinina sérica em ≥0,3 mg/dL dentro de 48 horas ou Oligúria. DOENÇA RENAL AGUDA (DRA) Quando houver dano estrutural no rim menor de 03 meses ou Taxa de ltração glomerular <60 mL/min por 1,73 m² <3 meses ou diminuição da Taxa de ltração glo- merular por ≥50% por <3 meses. DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) Dano renal ≥3 meses ou TFG <60 mL/min por 1,73 m2 por ≥3 meses. Vamos caracterizar um pouco melhor essas divisões? Doença renal aguda Na doença renal aguda, o paciente apresenta um declínio rápido e repen- tino da função renal, com consequente acúmulo de metabólitos, toxinas e medicamentos no sangue. Como sintomas pode haver anuria ou mesmo um aumento do volume urinário. Dentre as subcategorias da DRA, temos a injúria renal aguda, um problema comum em hospital em especial em pacientes sépticos e críticos. Alguns medi- camentos usuais em UTI como bloqueadores de receptor da angiotensina ou anti-inamatórios não esteroides, ocasionam por si a diminuição da perfusão renal (ZAMBELLI et al., 2021). A DRA é transitória, não durando mais do que 3 meses. Por ser um agravamento agudo, tende a ser de maior gravidade e tem taxas de mortalidade de 10 a 80% a depender do estado geral do pa- ciente. Caso persista por mais de 3 meses, ela será caracterizada como DRC (VAVRUK et al., 2021). A DRA é transitória, não durando mais do que 3 meses 8 8 Doença renal crônica A doença renal crônica é um acometimento heterogêneo que atinge a função e estrutura do órgão, por um período superior a 03 meses que pode estar relacio- nado com a diminuição progressiva da ltração glomerular, e levar à falência do órgão, sendo necessário em muitos casos tratamento através de diálise, chegando à necessidade de transplante renal (OLIVEIRA et al., 2021). O estado nutricional tem papel fundamental nos desfechos clínicos do pa- ciente com DRC. “ É amplamente conhecido que a desnutrição tem alta prevalência e está intimamente associada a resultados clínicos adversos e au- mento da taxa de hospitalização, complicações e mortalidade nessa população. A patogênese da desnutrição na DRC é multifatorial e complexa, e as principais causas são a redução da ingestão alimentar e do anabolismo de nutrientes, e a presença de hipercatabolismo (MARTINS et al., 2021, s. p.). A determinação da gravidade da doença é feita através de estádios relacionados com a taxa deltração molecular e níveis de excreção de albumina na urina, e estão relacionados a complicações como: anemia, desnutrição, perda óssea, acidose me- tabólica e complicações cardiovasculares. Dentre as doenças correlacionadas com a DRC, a presença de diabetes e hipertensão são as mais prevalentes (OLIVEIRA et al., 2021). A falha progressiva do sistema renal tam- bém apresenta impacto negativo em todo o me- tabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos. Quanto aos carboidratos, percebe-se alteração na resistência periférica à insulina; no caso das proteínas há aumento do catabolismo proteico e alteração no metabolismo de determinados aminoácidos; quanto aos lipídeos a redução da lipólise pode alterar a proporção dos nutrien- tes, sem contar na depleção dos sistemas antio- xidantes (FIACCADORI et al., 2021). UNICESUMAR 8 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 TRATAMENTOS NA DOENÇA RENAL CRÔNICA O tratamento da doença renal vai ser determinado conforme o estadiamento da doença e a capacidade de ltração pelo rim. Inicialmente o tratamento conserva- dor visa garantir o funcionamento renal que se apresenta diminuído, mas ainda existente, entretanto a diálise é necessária quando a ltração glomerular está < 15mL/min/m², ou seja, momento em que o órgão se torna incapaz de manter sua função (OLIVEIRA et al., 2021). Tratamento conservador O tratamento conservador é a primeira linha a ser utilizada em um paciente com doença renal, ele é baseado em mudanças de estilo de vida (como modicação da dieta, atividade física) e clínicas com uso de medicações com o objetivo de retardar a piora da função renal, procurando não apenas diminuir sintomas como prevenir possíveis complicações ou progressão da doença (CAETANO et al., 2022). O ideal é que esse tratamento permaneça o maior tempo possível, sendo que se houver adesão do paciente, pode aumentar chances de preservação da unção renal, melhorando a qualidade de vida e a sobrevida do paciente. Quando estes não se fazem mais ecazes, e a função renal piora de forma pro- gressiva, obrigatoriamente serão adotadas medidas substitutivas como terapia. Hemodiálise A hemodiálise é o tratamento indicado para pacientes em que o funcionamento renal já não ocorre, e assim altração e limpeza do sangue ocorrem através de um equipamento, chamado dialisador. Durante o tratamento ocorre a liberação do acúmulo de solutos, eletrólito e água geralmente através de um cateter ou fístula arteriovenosa, buscando restabelecer o equilíbrio ácido básico e eletrolítico do paciente (OLIVEIRAet al., 2021). O dialisador tem a função de fazer o plasma urêmico entrar em contato com a solução de diálise que ocorre através de uma membrana articial permeável, local em que ocorre a ltração. 9 A sessão de diálise é realizada de 2 a 5 horas, 2 ou 3 vezes na semana. O paciente ca conectado no dialisador para que ocorra a depuração do sangue, que ocorre através de diusão entre ele e o líquido de diálise circulante (OLIVEIRA et al., 2021). Em pacientes internados, o uso da hemodiálise, inclusive em pacientes críticos, com benefícios do uso da hemodiálise prolongada, garantindo melhor estabili- dade hemodinâmica (FIACCADORI et al., 2021). Diálise peritoneal O tratamento da diálise peritoneal estabelece a mesma ação do tratamento da hemodiálise, a diferença é que ao invés de utilizarmos um equipamento e uma membrana artificial paraque ocorra a troca entre o plasma urêmico e a solução de diálise, fazemos o tratamento com o uso da membrana pe- ritoneal do paciente (OLIVEIRA et al., 2021). Com relação ao tratamento nutricional, devemos estar atentos à composição do dialisato que já apresenta uma quantidade de glicose e, por essa razão, ao calcular as necessidades dos macronutrientes essas doses devem ser consideradas e os valores ajustados, evitando assim o excesso dos carboidratos. Figura 2 - Diálise peritoneal Fonte: o autor. Descrição da Imagem: a imagem descreve o funcionamento da diáli- se peritoneal com o de- senho do corpo humano apresentado a cavidade abdominal com um caté- ter e um líquido sendo colocado. Esse catéter está ligado ao uido dia- lizados e ao uido nal. Fim da descrição. Fluido dializador Abdomen Catéter Fluido final UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Transplante Renal O transplante renal é a última via de tratamento para o paciente DRC que esteja em um estágio avançado da doença que já tenha dificuldades em sua vida mesmo com a hemodiálise. Em geral, é doado um rim compatível de uma pessoa viva ou falecida. Assim como em qualquer outro procedimento cirúrgico, ou mesmo trans- plante, existem contraindicações como instabilidade, doenças cardíacas e hepática avançadas, abuso de álcool, dentre outros. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O estado nutricional dos pacientes renais é fundamental na manutenção de saúde e desfecho. Pacientes desnutridos estão relacionados com maiores taxas de hospitalização, complicações e mortalidade. Já a obesidade está relacionada com o aumento do risco do desenvolvimento da DRC, assim como de outras comorbidades como o diabetes, a hipertensão e a dislipidemia, assim como estão associados ao risco da progressão da doença (ZAMBELLI et al., 2021). Triagem Nutricional A triagem nutricional é fundamental para a determinação do risco nutricional e mesmo a detecção da desnutrição de forma precoce. Não há um instrumento de triagem especíco para as doenças renais, porém a BRASPEN recomenda o uso da MST (Malnutrition Screening Tool), que por sua simplicidade pode ser aplicado por prossionais ou mesmo leigos e apresentou boa validade para pacientes renais agudos, crônicos hospitalizados ou não (MARTINS et al., 2021; ZAMBELLI et al., 2021). Para acessar a MST. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do am- biente virtual de aprendizagem EU INDICO 9 Conforme a ESPEN todo o paciente renal deve ter uma avaliação criteriosa para o risco nutricional, em especial pacientes críticos, procurando realizá-la em até 48h de internação (FIACCADORI et al., 2021). Avaliação e Diagnóstico Nutricional A identicação da desnutrição é um dos aspectos mais importantes para di- minuição de morbidade e mortalidade dos pacientes com DRC. Entretanto a obesidade também deve ser acompanhada, visto os riscos associados com as comorbidades e progressão da doença (ZAMBELLI et al., 2021).Em pacientes internados, principalmente em pacientes críticos e em UTI, a desnutrição é um dos principais agravantes da DRC. A resistência insulina relacionada com o quadro inamatório e o estresse oxidativo, mesmo a falta de homeostase, são complicações usuais nesses pacientes e que são agra- vadas pela doença renal. Para a ESPEN, todos os pacientes com DRC internados devem ser automaticamente considerados em risco nutricional (FIACCADORI et al., 2021). VOCÊ SABE RESPONDER? Você saberia dizer quais critérios seriam de ácil diagnóstico para desnutrição ou obesidade na DRC? UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Os critérios para identicação utilizados são (ZAMBELLI et al., 2021): DESNUTRIÇÃO Perda involuntária de peso ( > que 10% em 6 meses), IMC <18Kg/m², ingestão energéti- co-proteico abaixo do recomendado, redução da orça e uncionalidade muscular. OBESIDADE Excesso de gordura abdominal, visto que o peso deve ser bem avaliado pela alteração relativa à retenção hídrica. Ainda em pacientes sem edema, podem ser aeridas as dobras cutâneas de tríceps e subescapular para determinação do tecido adiposo subcutâneo. Independentemente da forma de avaliação, o paciente renal por suas altera- ções fisiológicas apresenta mudança na distribuição de líquidos, o que faz com que dados como peso não sejam fidedignos. Já quando falamos em massa muscular, parece que a sua qualidade / funcionalidade são mais importantes do que a sua quantidade em si, sendo agravados inclusive por pacientes que não praticam atividade física de forma habitual (CAETANO et al., 2022). Assim, testes como força da pressão palmar ou pinçamento dos dedos são consideradas como boa associação para determinação de risco para desnutrição e mesmo mortalidade (ZAMBELLI et al., 2021). Em pacientes internados, devido ao grau de catabolismo, o acompanhamento do estado nutricional, em especial as condições da massa muscular, são fundamentais para evitar a progressão da desnutrição e permitir que o nutricionista aja de forma precoce (FIACCADORI et al., 2021). Após a triagem, uma avaliação nutricional criteriosa deve ser realiza- da pelo nutricionista. Cada paciente, conforme recomendação da ASBRAN devem ser categorizado por níveis assistenciais e deve ser dada prioridade ao atendimento para pacientes em nível terciário, secundário e primário, respectivamente (ASBRAN, 2014). Para a avaliação nutricional, há a recomendação do uso da Avaliação Sub- jetiva Global (SGA), que já é validada há muitos anos e parece ser uma boa preditora dos riscos em pacientes renais (ZAMBELLI et al., 2021). 9 4 Devido ao grande número de terminologias para a desnutrição nos pacientes com DCR, foram determinadas as seguintes categorias relacionadas com a etio- logia e grau de inamação dos pacientes (MARTINS et al., 2021): 1) associada à doença ou condição crônica com infamação continuada; 2) associada à doença crônica com infamação mínima ou não percebida; 3) associada à doença ou injúria aguda com infamação grave; 4) associada à baixa ingestão alimentar crônica pura não relacionada à doença. Os exames bioquímicos também são importantes parâmetros para a avaliação dos pacientes. No caso da DRC, deve-se considerar a avaliação dos seguintes: albumina, transferrina sérica (como marcadores proteicos); balanço nitroge- nado e ureia (reetindo o catabolismo); cálcio, fósforo e paratormônio (acom- panhamento do metabolismo mineral e ósseo); lipídeos séricos (relacionados com a degradação, modicação no metabolismo, e maior risco para doenças cardiovasculares), assim como acompanhar creatinina, potássio, sódio auxi- liam a compreender os cuidados e as medidas dietoterápicas a serem utilizadas (CARVALHO et al., 2016). Após realizar a avaliação nutricional, o nutricio- nista deve compor o diagnóstico nutricional através de todos os dados coletados, sempre correlacionan- do as comorbidades e situações do paciente. Após o diagnóstico, que determinará o risco nutricional, deve ser realizada a prescrição dietética, conforme os critérios que discutiremos a seguir. Mas vale lembrar que em nível hospitalar, todas essas ações deve estar devidamente registradas em prontuário, seguindo terminologias padronizadas e uniformes para melhor entendimento de toda a equipe (VAVRUK et al., 2021). DIETOTERAPIA NAS DOENÇAS RENAIS A dietoterapia na doença renal é um desao à parte, visto que depende do quadro do paciente, da forma de tratamento e de sua evolução. Após realizar a avaliação nutricional, o nutricionista deve compor o diagnóstico nutricional UNICESUMAR 9 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Em alguns casos sugere-se a restrição proteica com a intenção de diminuir o acúmulo de toxinas urêmicas e diminuir a queda da taxa de ltração glomeru- lar, entretanto há diculdade na determinação real das necessidades, devendo ser levado em consideração idade, estado nutricional e funcional, sobrevida do paciente, comorbidades, entre outros (ZAMBELLI et al., 2021). Durante a hemodiálise, a necessidadeproteica é aumentada e a baixa ingestão do nutriente está relacionada com aceleramento da sarcopenia, perda de massa muscular e consequentemente risco de infecções, desnutrição e aumento do risco de morte (OLIVEIRA et al., 2021). Independentemente do quando do paciente com DRC, em uma internação deveremos sempre estar atentos às particularidades, como o catabolismo rela- cionado aos quadros inamatórios e o estresse oxidativo que pioram por si só o estado nutricional dos pacientes. Aliado ao quadro da doença, ainda devemos considerar a diculdade na adesão dietética, que pode ser um agravante do estado nutricional (FIACCADORI et al., 2021). Dentre as recomendações básicas, podemos manter as seguintes diretrizes: ■ Necessidades Energéticas: ■ A medida padrão ouro para determinação das necessidades dos pacientes renais seria a calorimetria indireta, recomendada pela ESPEN e pela ASPEN. ■ 25-35Kcal/Kg/dia em pacientes estáveis, devendo sempre ser avaliada a evolução do paciente para ajustes. ■ Em obesos, a necessidade pode ser menor, devido à menor atividade do tecido adiposo. ■ Em pacientes hipercatabólicos as necessidades estão aumentadas. ■ Carboidratos e Lipídeos: ■ Em pacientes renais internados, os estudos têm mostrado um uso mui- to maior de lipídios como substrato energético do que o de carboidra- tos, para tanto o uso combinado dos dois nutrientes com aumento do aporte lipídico parece beneciar o paciente, em especial os críticos. ■ Manter em 50-60% de carboidratos e 25-35% de lipídeos. ■ Recomendação Proteica: ■ Em pacientes estáveis o uso de 0,6 a 0,8g de proteínas/Kg de peso/dia parece ser suciente para manutenção da saúde sem prejuízo da função renal. Para todos os pacientes preconiza-se uma composição proteica que atinja de 50 a 60% de proteínas de alto valor biológico. 9 ■ Já pacientes em hemodiálise, ou em diálise peritoneal, deverão ter um aporte aumentado de proteínas, chegando a 1,2g/Kg/dia, mesmo quan- do há comorbidades associadas. ■ Pacientes hipercatabólicos como pacientes com neoplasias, infecções, internações ou perda de peso signicativa não deve ser realizada res- trição proteica por aumentar o risco de mortalidade. ■ Pacientes críticos não apenas necessitam de aumento do aporte pro- teico, como ainda ajuste para alguns aminoácidos que se tornam con- dicionalmente essenciais, como a tirosina, por exemplo. ■ Pacientes críticos em hemodiálise intermitente: 1,3-1,5g/Kg/dia; mes- mo valor a ser utilizado em pacientes transplantados imediatos. Em hemodiálise contínua, esse valor pode ser ajustado até 1,7g/Kg/dia. Sempre realizando controle do balanço nitrogenado do paciente. ■ O uso de 0,3 a 0,4g/Kg/dia de cetoanálogos (são análogos de ami- noácidos essenciais sem o radical nitrogênio) parece reduzir a carga de compostos nitrogenados tóxicos e em consequência reduzir risco de falência renal. ■ Micronutrientes: ■ A ingestão de fósforo deve ser ajustada procurando manter os níveis séricos dentro da normalidade. A restrição deve ser indicada na pre- sença de hiperfosfatemia persistente e progressiva, com avaliação con- comitante do cálcio e do paratormônio. ■ A vitamina D em pacientes com hiperfosfatemia pode estar diminuída, o que prejudica ainda mais o metabolismo do cálcio, e por isso deve ser observada. ■ Devido ao quadro relacionado com o fósforo, o consumo de cálcio também deve ser observado, evitando, entretanto, produtos lácteos que também são fonte importante de fósforo. ■ O controle do consumo de potássio também deve ser realizado sempre buscando os níveis séricos dentro da normalidade. ■ A ingestão alimentar de sódio é recomendada em < 2 - 3 g/dia, pro- curando em principal evitar alimentos com condimentos articiais. ■ Líquidos: ■ Para pacientes em diálise, devido à variação do peso entre os procedimen- tos, a ingestão de líquidos deverá ser considerada conforme os resultados. UNICESUMAR 9 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 ■ O parâmetro relacionado ao volume de excreção urinário diário é in- dicado para calcular a capacidade de ingestão hídrica do paciente, com 500ml a 1000ml/dia acrescentados ao volume da excreção urinária. ■ O uso do ganho de peso intradialítico também é um bom método para determinação da ingestão de líquidos. A alimentação oral sempre deverá ser a prioridade para os pacientes, indepen- dente da forma de tratamento e de seu quadro. Se eles conseguirem ingerir os alimentos atingindo suas demandas, a mesma deve ser mantida. Devido à ne- cessidade de restrição de alguns nutrientes, em alguns casos, deve-se observar os alimentos a serem escolhidos, sempre dando prioridade para fontes naturais e evitando alimentos com aditivos, que costumam ter doses aumentadas de sódio, potássio e fósforo e acabam sendo prejudiciais. O uso do parâmetro laboratorial como determinante da restrição ou não dos micronutrientes é fundamental, visto que para a restrição são excluídos diversos alimentos boa fonte de bras e de outros micronutrientes e, portanto, benécos para o organismo (ZAMBELLI et al., 2021). O uso de técnicas dietéticas no preparo dos alimentos também pode favore- cer, como por exemplo o cozimento de vegetais em água com o descarte dela após o cozimento, é uma boa forma de diminuir as quantidades de potássio dos alimentos e auxiliar a diversicar a dieta do paciente renal que necessite de restrições alimen- tares; o mesmo vale para melhorar o sabor dos alimentos com o uso ao invés do sal e de condimentos articiais, o uso de temperos naturais (OLIVEIRA et al., 2021). A escolha do tipo de alimentos parece favorecer também o estado do pacien- te em DRC, sendo que se percebe que uma alimentação baseada em alimentos vegetais, que auxiliem a diminuição da acidose metabólica e inamação caracte- rísticas da doença, parecem auxiliar a recuperação do estado de saúde e melhora das taxas de sobrevida dos pacientes (OLIVEIRA et al., 2021). Já em pacientes que tenham diculdades com a ingestão alimentar, seja por diminuição do seu apetite, disfagia ou outros fatores, o uso de suplementos orais deve ser a primeira tentativa para alcançar os objetivos, sendo que em pa- cientes que necessitam um pequeno aporte podem ser escolhidos suplementos gerais, mas em caso de maior necessidade devem ser avaliadas a composição energética, proteica e de micronutrientes para garantia da oferta de um produto adequado (FIACCADORI et al., 2021). 9 8 Não tendo sucesso no tratamento com suplementação oral, e quando hou- ver risco para manutenção do quadro nutricional ou de desnutrição, ou tendo pacientes com doença renal críticos, ou não internados e incapazes de ingerir suas necessidades em pelo menos 70%, o uso de terapias enterais é a alternativa que nos ajuda a melhorar a nutrição do paciente. Podem ser utilizadas dietas especializadas, entretanto, os cálculos das necessidades individualizadas devem ser os determinantes para as necessidades do paciente. O nutricionista ao avaliar um paciente com DRC internado deve ter uma aten- ção maior às suas necessidades nutricionais, e mesmo o paciente crítico deve ter sua terapia nutricional iniciada preferencialmente em até 48h de internação. Em pacien- tes críticos ainda devemos ter uma atenção para a progressão da dieta, iniciando-a de forma precoce e ao mesmo tempo cuidando para não hiperalimentá-los, fazendo um aumento gradual das suas necessidades, buscando atingir a meta calculada de 3 a 7 dias, em especial em casos em que não houve predição das necessidades por calorimetria e sim por equações preditoras (FIACCADORI et al., 2021). Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO NOVOS DESAFIOS O tratamento de um paciente renal é fundamental para evitar a desnutrição e melhorar a qualidade de vida do paciente. Entretanto, pela necessidade de di- versas restrições para montar uma condutanutricional adequada, pode ser um desao para o nutricionista, e não apenas pelo quebra-cabeça relacionado com as diversas comorbidades e restrições alimentares, mas em principal pela baixa adesão das orientações por parte dos pacientes. Pense em um paciente que era habituado a comer de forma livre e de uma hora para outra precisa ter uma alimentação controlada em líquidos, proteínas e principalmente potássio, fósforo, cálcio e por fim com restri- ção do sódio. Consegue imaginar como eles recebem essa notícia? Sem UNICESUMAR 9 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 contar que a hemodiálise, que é o tratamento usual para esses pacientes, por realizar essa “limpeza” do organismo a cada 2 ou 3 dias, causa a impressão de liberdade alimentar. Afinal, por que restringir se a máquina me “limpa”? Entendendo todos esses aspectos e compreen- dendo que as restrições são necessárias para melhora da qualidade de vida dos pacientes, cabe a nós nutricionistas usarmos nossos conhecimentos dietoterápicos, associados com técnicas dietéticas para promover um planejamento alimentar que possa estar adequado às necessidades do paciente, mas ao mesmo tempo seja palatável. Ainda, e não menos importante, o nu- tricionista tem o papel fundamental de educação! Sim, precisamos não apenas impor para esses pacientes as condutas, mas sim, exercer um papel de educadores, procurando trazer uma melhor compreensão a ele sobre o porquê dessas restri- ções e como que a mudança da sua alimentação pode beneficiar a sua saúde e melhorar sua qua- lidade de vida. Espero que ao longo dessa aula eu possa ter esclarecido um pou- co os aspectos relacionados com essa doença tão comum em nossas clínicas hospitalares e mostrado a você a importância da sua ativi- dade para impacto na vida desses pacientes, com diminuição inclusive no risco de vida. 1. As doenças renais são um problema de saúde pública que acometem cerca de 10milhões de pessoas no Brasil. Vistos incidência e risco é necessário que estejamos atentos aos cuidados básicos para preveni-las. Dentre as afrmações qual está correta? a) Pacientes com doença renal aguda por um mês já terão desenvolvido a orma crônica da doença. b) Todo o paciente diabético irá desenvolver doença renal em algum momento após o primeiro diagnóstico. c) Alguns hábitos de vida comomanter uma alimentação saudável podem estar associados com a prevenção das doenças renais. d) Todos os pacientes com doença renal necessitam restrição de líquidos. e) A doença é mais prevalente em jovens e quando comparado por gênero acomete mais mulheres do que homens. 2. A doença renal aguda é o primeiro estágio da doença renal e pode ser de grande risco para o paciente. Sobre a doença renal aguda, podemos afrmar: I - A doença renal aguda é transitória, durando até três meses. II - Pela perda de unção repentina, a doença renal aguda é de grande risco, podendo ter uma mortalidade que varia de 10 a 80% dos pacientes. III - Pacientes emUTI, seja pela sua condição clínica oumesmo uso demedicamentos como anti-infamatórios não esteroides podem desenvolver uma doença renal aguda e neces- sitar de tratamento como hemodiálise. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. VAMOS PRATICAR 3. A doença renal crônica (DRC) acomete cerca de 150.000 pessoas no Brasil e necessita uma atenção dos órgãos públicos pela sua gravidade. Sobre o quadro dessa doença, podemos afrmar: a) A desnutrição é uma das principais complicações do paciente com DRC que pode au- mentar seu risco de hospitalização e mesmo mortalidade. b) Para caracterizar-se como DRC o quadro de agravamento da unção renal deve se es- tender por pelo menos seis meses. c) Todo o paciente com DRC irá obrigatoriamente necessitar de uma terapia renal subs- titutiva. d) O estadiamento da doença é caracterizado pela capacidade urinária do paciente. e) No DRC, apenas a ltração está comprometida e consequentemente o aumento de toxinas no sangue. VAMOS PRATICAR REFERÊNCIAS AGUIAR, L.K. et al. Fatores associados à doença renal crônica: inquérito epidemiológico da Pes- quisa Nacional de Saúde. Rev bras epidemiol, v. 23, E200044, 2020. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO. Manual Orientativo: Sistematização do Cuidado de Nutrição. São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. CAETANO, A.F.P. et al. Estágios da doença renal crônica e suas associações com o nível de ativi- dade ísica, qualidade de vida e perl nutricional. Rev. Bras. Ativ. Fís. Saúde, v. 27, 2022. CARVALHO, A.P.P.F. et al. Protocolo de atendimento nutricional do paciente hospitalizado - Adulto/Idoso. Goiânia: Gráca UFG,2016. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/ hospitais-universitarios/regiao-centro-oeste/hc-ug/comunicacao/noticias/unidade-de-nu- tricao-clinica-do-hc-lanca-protocolo-de-atendimento-nutricional/NutricaoProtocolo_Adulto. pd Acesso em: 10 ago. 2023. FIACCADORI, E. et al. ESPEN guideline on clinical nutrition in hospitalized patients with acute or chronic kidney disease. Clinical Nutrition, n. 40, p.1644-1668, 2021. MARTINS, C. et al. Consenso sobre a terminologia padronizada do processo de cuidado em nutrição para pacientes adultos com doença renal crônica. J. Bras. Nerol., v. 43, n. 2, p. 236-253, 2021. NERBASS, F. B et al. Censo Brasileiro de Diálise 2021. Braz. J. 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Cuidados com a alimentação auxiliam na manutenção da saúde renal. d) Em algumas situações, em especial pacientes em hemodiálise, precisaremos realizar restrição da ingestão de líquidos, mas nem todos os pacientes necessitam da restrição. e) A doença é mais prevalente em idosos e não em jovens e sua prevalência se dá mais em homens do que em mulheres. 2. Opção E. 3. Opção B. a) A DRC está caracterizada após 3 meses de doença. b) A terapia renal substitutiva será determinada conorme o estadiamento da doença. Logo, existem pacientes que não necessitam do tratamento. c) O estadiamento da doença será realizado através da taxa de ltração molecular e níveis de excreção de albumina na urina. d) No DRC, além do comprometimento da ltração, temos alteração em todo ometabolis- mo de carboidratos, proteínas, lipídios, bem como na produção de hormônios. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 4 MEU ESPAÇO 5 UNIDADE 8 MINHAS METAS PACIENTE ONCOLÓGICO Entender o que é o câncer e o seu impacto na saúde. Compreender a importância do atendimento nutricional ao paciente oncológico. Entender o acompanhamento nutricional no paciente oncológico clínico. Entender o acompanhamento nutricional no paciente oncológico cirúrgico. Entender o acompanhamento nutricional no paciente oncológico pediátrico. Conhecer as terapias nutricionais e suas ramicações no câncer. Compreender a importância da orientação nutricional em oncologia. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 8 8 INICIE SUA JORNADA A cada ano, vemos os casos de câncer aumentando paulatinamente e não é raro termos nas internações hospitalares alas dedicadas apenas para pacientes onco- lógicos, seja em fase de diagnóstico, tratamento ou mesmo cuidados paliativos. Ao atender um paciente convalescente, devemos estar atentos às suas neces- sidades reais. Pacientes oncológicos, por vezes, estão desnutridos,em muitos casos pelo seu tratamento, estão com diculdades alimentares (vômitos, náuseas, mucosite…), por vezes pela própria localização do tumor ou tumoração, estarão impedidos de comer via oral. Neste momento, não apenas uma boa avaliação nutricional, mas o estabe- lecimento de uma estratégia nutricional especíca, pode auxiliar o paciente em sua recuperação e mesmo em amenizar as suas diculdades. Como nutricionista, nos cabe o bom senso e a melhor decisão. Que dieta benecia o paciente? Vamos manter apenas via oral? Vamos utilizar suplemento? Vamos sugerir terapia enteral? Em qualquer caso, a nutrição no paciente oncológico não apenas evita agrava- mento de seu estado nutricional, mas garante a melhora da sua condição, rápida recuperação durante o tratamento e por vezes sobrevida com qualidade. Dentre os atores de risco para o câncer, estão questões ambientais. Neste podcast, vamos alar alguns aspectos que importam e passam despercebidos. Dê o play e conra! Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? As mudanças de estilo de vida (alimentação, atividade ísica e modulação do estresse) são undamentais para atuarmos na prevenção ao câncer. Falaremos sobre alimentação ao longo do texto, então, vamos recordar sobre as orientações de INCA sobre a importância da atividade física nesse processo? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 DESENVOLVA SEU POTENCIAL CONHECENDO O CÂNCER O câncer é um conjunto de mais de cem tipos de doenças, de causa multifato- rial, caracterizadas por proliferações celulares desordenadas, de forma autônoma e contínua, causando danos ao indivíduo. Figura 1 - Processo de oncogênese / Fonte: Fridrich (2022, p. 29 apud INCA, 2021). Descrição da Imagem: Apresenta a descrição do processo de oncogênese. Células normais – passam por divisão, sofrem ação de agentes carcinogênicos, e sofrem mutações e se dividem desordenadamente formando o tumor, após o câncer é caracterizado quando as células sofrem mutação e após o ciclo de reprodução invadem tecidos e órgãos. Fim da descrição. AGENTES CARCINOGÊNICOS DIVISÃO CELULAR Formam tecidos e órgãos CÉLULAS NORMAIS Formam tecidos e órgãos CÉLULAS SOFREM MUTAÇÕES Células normais podem sofrer alterações no material genético (DNA) REPRODUÇÃO CELULAR Célula alterada se divide de maneira desordenada e dá origem ao tumor. CÂNCER As células que sofrem mutação após ciclo de reprodução celular, invadem tecidos e órgãos Conforme se prevê, em 2040 teremos 28 milhões de novos casos da doença no mundo, sendo que 1/3 desses casos poderiam ser evitados por mudanças em estilo de vida (alimentação, atividade física, cessação de fumo e ingestão de álcool, con- trole ambiental). No mundo, temos como mais prevalente os casos de câncer de pulmão, seguidos do câncer de mama, cólon e reto e próstata (FRIDRICH, 2022). Em um estudo com pacientes oncológicos na região Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul, percebeu-se que 51,9% dos pacientes em tratamento apresentavam sobrepeso ou obesidade, demonstrando o impacto que a mudança de hábitos pode ter no desenvolvimento da doença (FRIDRICH, 2022). Enquanto a obe- sidade é um risco no desenvolvimento da doença, a desnutrição e a sarcopenia impactam a morbimortalidade dos pacientes ao longo do tratamento, devendo ser motivo de atenção. Dentre os casos de câncer com maior risco de desnutrição, temos os tumores digestórios, de pulmão e de cabeça e pescoço (SBNO, 2021). O paciente oncológico pode ter diversas complicações a depender da locali- zação do tumor pode haver retiradas de partes do corpo que afetam seu cotidiano e mesmo sua autoimagem (por exemplo, retirada parcial da língua, mandíbula, amputações, retirada das mamas...), complicações e efeitos colaterais do tra- tamento, desenvolvimento de comorbidades como hipertensão, diabetes; sem contar na possibilidade de metástase, com isso, o agravamento da doença pelo alastramento da doença. VOCÊ SABE RESPONDER? Todo esse quadro pode impactar diretamente no seu estado nutricional do paciente. Você consegue pensar em estratégias nutricionais para cada situação a fm de otimizar a alimentação desse paciente? ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL NO PACIENTE ONCOLÓGICO Por diversas razões teremos o paciente oncológico internado nas alas hospitala- res, como: a fase do diagnóstico, do tratamento cirúrgico e clínico, momentos de fragilidade e efeitos do tratamento que levarão à internação para recuperação e igualmente para os quadros de terminalidade. Por sua fragilidade, o paciente oncológico deve estar acompanhado pela equi- pe de Nutrição durante toda sua internação. Iniciando com uma boa triagem em no máximo 48h da admissão, podendo utilizar ferramentas, como: NRS-2002, MNA, Subjetiva Global, MUST..., sempre conforme a escolha da instituição. Para a internação, a escala mais utilizada é a NRS-2002 (SBNO, 2021). UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Para todo o paciente classicado em risco nutricional deve-se proceder com a avaliação nutricional completa. Para a avaliação nutricional devemos sempre considerar a associação de diversos dados (SBNO, 2021; HORIE, 2019): ■ Dados objetivos: Peso usual, peso atual, altura – para classicação do IMC e % de perda de peso (ris- co elevado para perda > 5% em um mês, 7,5% em três meses e > 10% em seis meses). Circunferência da panturrilha e circunferência do braço – para avaliar perda de massa muscular, caquexia e sarcopenia. ■ Dados Subjetivos: Avaliação física de perda de massa e reservas subcutâneas: em face, escápulas, tórax, tríceps, pernas, abdômen. Avaliação de edema e hidratação da pele. Sinais e sintomas: como apetite, sintomas gastrointestinais, palidez cutânea, man- chas e outras mudanças em pele/cabelos/unhas, força muscular. ■ Exames laboratoriais: Hemograma: avaliação de anemias, produção de glóbulos vermelhos e avaliação da imunidade. Albumina: avaliação do catabolismo. Função hepática: TGO, TGP e Gama GT. Função Renal: creatinina, Uréia. Proteína C Reativa: preditor de sobrevida e inamação Glicemia: Pacientes em quadro inamatório podem ter resistência à insulina Eletrólitos e outras vitaminas: sódio, potássio, cálcio, magnésio, vitamina D, vi- tamina B12 – auxiliam a detectar deciências nutricionais e desidratação. Além desses dados, o paciente oncológico pode ser impactado por mudanças alimentares importantes, por isso, realizar uma boa análise da ingestão alimentar, Relembre a escala NRS-2002. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO Paciente Clínico O paciente oncológico apresenta risco nutricional por diversos fatores: pelo es- tado catabólico da doença, por mudanças em sua ingestão alimentar em razão do tumor ou por efeitos colaterais aos tratamentos propostos, por diminuição da atividade física e por mudanças de metabolismo. Assim, observarmos cada etapa em que ele se encontra e procurar agir precocemente, pode fazer com que o paciente receba uma intervenção dietética com impactos positivos em sua me- lhora e mesmo em sua sobrevida (MUSCARITOLI et al., 2021). Para considerar o catabolismo da doença, precisamos adequar a ingestão dietética desse paciente e procurar manter uma dieta adequada caloricamente para o seu estado. Assim como devemos entender que o estado de catabolismo, causado pela doença e mesmo, por vezes, agravado pelo tratamento e estado inamatório do paciente, faz com que o mesmo se benecie de dietas hiperpro- teicas (HORIE, 2019). Nosso objetivo deve ser voltado para a manutenção e/ou recuperação do estado nutricional do paciente, sempre observando a perda de massa, visto que a caquexia e a sarcopenia podem ser preditores de mau prognóstico, aumentando inclusive a toxicidade dos tratamentos (SBNO, 2021). Após a análise dos dados, deve-se classicar o estado nutricionaldo paciente e determinar a conduta através da prescrição dietética individualizada para garantir o suporte nutricional que possa proporcionar sua recuperação. Para avaliar risco de sarcopenia temos a escala SARC-F, nesse link está o artigo de adaptação do escore para a língua portuguesa. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO de hábitos, e mudanças ocorridas no decorrer da doença, nos permitem agir de forma precoce e melhorar o estado nutricional do paciente. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 8 A alimentação preferencial deverá ser via oral, sempre buscando uma prescrição dietética que atinja as necessidades do paciente e ainda seja baseada em alimentos naturais conforme a preferência do paciente. Deve-se buscar um maior fracionamento dietético, ajuste de texturas ou preparações dietéticas a m de garantir maior aceitação. Além da alimentação, para pacientes oncológicos devemos dar uma atenção especial para a hidratação, tanto pela doença, quanto pela diculdade da ingestão, mas prin- cipalmente pela toxicidade do tratamento que exige que o paciente esteja sempre bem hidratado (em média de 2,5 a 03 litros de líquidos ao dia, sempre sugerindo a água pura como a principal opção). Em casos em que ainda não conseguem ser atingidas as metas determinadas, sugere-se iniciar com terapia nutricional (HORIE, 2019). Atendimento ao paciente em tratamento antineoplásico Existem diversos tipos de tratamentos utilizados para o paciente clínico (qui- mioterapia endovenosa, subcutânea, oral, imunoterapia etc.) e para cada tipo de câncer, teremos diversas opções e combinações de drogas e ativos a m de atuar na diminuição e eliminação dos tumores (MUSCARITOLI et al., 2021). Quadro 1 - Recomendações dietoterápicas para pacientes clínicos Fonte: adaptado de Muscaritoli et al. (2021), SBNO (2021), Horie (2019) e Brasil (2016). CALORIAS Adultos e idosos nutridos: 25-30Kcal/Kg Adultos e idosos obesos: 20-25Kcal/Kg Adultos e idosos em caquexia: 30-35Kcal/Kg MACRONUTRIENTES Proteínas: Acima de 1,0g/Kg/dia; se infamação de 1,2 a 2,0g/Kg/dia; se desnutrição: 1,2 a 1,5g/Kg/dia Demais nutrientes seguir diretrizes AJUSTES Para pacientes em risco nutricional sugere-se o uso de ômega-3 Manter a hidratação adequada, em especial durante o perío- do de tratamento para evitar a toxicidade. Mantendo de 30 a 40ml/Kg/dia. MICRONUTRIENTES Manter as diretrizes e desencorajar o uso excessivo de vita- minas e minerais. 4 O nutricionista deve estar atento aos efeitos colaterais induzidos por esses tratamentos, que impactam diretamente na ingestão dietética e consequente- mente no estado nutricional e sobrevida do paciente. Por essa razão, aconselho que para cada caso, você, como prossional, avalie quais são as drogas utiliza- das e pesquise nas bulas as principais reações a m de adequar a sua conduta à realidade do paciente. Entre as principais reações adversas relacionadas com a nutrição, bem como as condutas aconselhadas nesse caso, temos (MUSCARITOLI et al., 2021; SBNO, 2021; HORIE, 2019): DISFAGIA Encaminhe para avaliação onoaudiológica para adequação e espessamento da dieta; racione a alimentação; opte por aumentar densidade calórica e proteica nas reeições; utilize suplementos orais; se disagia grave, opte por iniciar a terapia enteral precocemente. XEROSTOMIA Estimule o consumo de líquidos ao longo do dia e durante as reeições para acilitar mastigação e deglutição; prera o uso de alimentos umedecidos; use gotas de limão nos alimentos; use balas cítricas ou mentoladas; opte por mastigar pedacinhos de gengibre; oerte cubos de gelo para o dia; evite o consumo de alimentos com caeína. DISGEUSIA Procurar oerecer os alimentos de maior preerência; utilizar temperos e condimentos a m de intensicar o sabor dos alimentos; preparar pratos coloridos e chamativos; racionar as reeições. ANOREXIA / INAPETÊNCIA Oriente o consumo dos alimentos conorme a preerência, procurando estratégias para aumentar a densidade calórica e proteica dos alimentos; racione a dieta; inicie com suplementos alimentares. UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 CONSTIPAÇÃO Ajustar a dieta com aumento da oerta de alimentos ricos em bras; aumentar a oerta de líquidos e sucos laxativos; estimular o paciente a se movimentar. DIARREIA Retirar da dieta bras insolúveis e alimentos que promovam resíduos (como o leite); retirar excesso de sacarose e alimentos gordurosos; aumentar o consumo de líquidos e corrigir a desidratação; incluir probióticos como suplementação (salvo em pacientes neutropênicos). NÁUSEAS E VÔMITOS Oerecer alimentos com temperaturas abrandadas e orientar que o consumo seja rea- lizado em ambientes arejados; ajustar a dieta com alimentos sem temperos ortes, e buscar aumentar o racionamento dietético; oertar alimentos gelados e cítricos; evitar oerta de alimentos gordurosos e muitos doces; preerir alimentos mais secos (evitar molhos); oertar gengibre seja para mastigar ou em orma de chás e/ou sucos; evitar o consumo de líquidos nas reeições; evitar o jejum prolongado. MUCOSITE Modicar a consistência da dieta conorme o grau da mucosite; aumentar o ra- cionamento dietético; preerir alimentos macios ou pastosos; evitar alimentos em temperaturas extremas (quente e gelado); preerir dieta com pouca adição de sal e outros condimentos; considerar o uso de suplementos orais; considerar o uso de chás calmantes (malva e camomila); considerar o uso de glutamina (exceto para câncer gástrico e intestinal). Atendimento ao paciente em radioterapia O tratamento radioterápico é caracterizado pelo uso de radiações ionizantes aplicadas diretamente no tumor a m de destruir as células ou impedir que elas se multipliquem. Ele pode ser utilizado sozinho ou em complementação à qui- mioterapia, e pode ser curativo ou tratativo (ajudando a estabilizar o tumor e promover qualidade de vida ao paciente) (MUSCARITOLI et al., 2021). Pacientes de câncer de cabeça e pescoço em tratamento radioterápico devem ser avaliados e acompanhados pela equipe de nutrição de forma consistente, sendo recomendado avaliação semanal a m de impedir o agravamento do estado nutri- cional. Nesses casos, há geralmente uma piora na ingestão alimentar por diculda- de alimentar pelo tumor, por presença de mucosite e queimaduras consequentes ao tratamento ou por piora em sua condição e deglutição. Além da adaptação dietética, de- ve-se considerar a terapia nutricional oral ou enteral para que os pacientes se recuperem e consigam completar o tratamento proposto. Outros pacientes que apresentam descon- forto com a radioterapia são os que recebem a radiação em tórax e trato gastrointesti- nal. Nesses pacientes pode haver aumento da distensão abdominal, constipação, diarreia e mesmo obstrução intestinal. Por essa razão, a terapia nutricional deve visar uma alimentação que promova um bom trânsito intestinal, não seja fermentativa, mas permaneça adequada para a manutenção do estado de saúde do paciente. Atendimento ao paciente em transplante O paciente transplantado deverá ter um atendimento nutricional especializado a m de garantir suas necessidades nutricionais com vias à manutenção de seu estado de saúde ou mesmo recuperação de estado nutricional. “ Muitos pacientes que serão submetidos a TCTH (TCTH: Trans- plante de células-tronco hematopoéticas) apresentam risco nu- tricional ou já estão desnutridos durante a admissão. A alteração do estado nutricional, na fase pré-TCTH, é um fator prognóstico negativo para a evolução desses indivíduos, interferindo no tempo de enxertia (SBNO, 2021, p. 41). Não há contraindicação da alimentação oral, mesmo no transplante, entretanto, deverão ser sugeridos cuidados higiênico-sanitários maiores para pacientes que ainda não estejam com sua imunidade estabelecida. UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Assim, sugere-se apenas que os cuidados com a higiene e confecçãodos ali- mentos sigam criteriosamente o Manual de Boas Práticas de Fabricação da Instituição. Ainda, deve-se considerar o uso de alimentação fracionada, prefe- rencialmente com oferta de alimentos embalados e fracionados individualmente, evitando o risco de contaminação cruzada (SBNO, 2021). Em pacientes que não conseguem atingir as metas dietéticas pela alimentação oral, sugere-se a utilização de suplementos orais e, caso o quadro persista, iniciar uma terapia enteral pode beneciar a recuperação do paciente. Ainda em quadros de sintomas extremos e de difícil manejo, como: mucosi- te grave, vômito incoercíveis, íleo paralítico, má absorção, diarreia prolongada, pode ser considerada a via parenteral como alternativa. Atendimento ao paciente no tratamento paliativo O atendimento ao paciente em tratamento paliativo tem como maior objetivo o conforto. Ou seja, iremos buscar manter ou recuperar o estado nutricional do paciente, entretanto sempre respeitando a tolerância e a vontade dele. Um pa- ciente em cuidado paliativo pode ter uma expectativa de vidas de dias, meses ou ano; por isso, cada caso deve ser avaliado individualmente e discutido em equipe. “ A estratégia nutricional dos pacientes em cuidados paliativos deve ser baseada no prognóstico. Considerar estado nutricional, inges- tão alimentar e expectativa de vida. A tomada de decisão deve ser sempre em conjunto com o paciente, família e a equipe multipro- ssional (HORIE., 2019, p. 20). Para uma avaliação clínica, precisamos entender não apenas o diagnóstico, mas a progressão da doença, como foi a história de seu tratamento, se apresenta co- morbidades, quais medicações estão sendo utilizadas e assim relacionar com a Antigamente sugeria-se o uso de dietas sem alimentos crus (as chamadas dietas neutropênicas ou dietas isentas de alimentos crus), entretanto conorme o avanço dos estudos, percebeu-se que essas dietas são inecazes por retirarem da alimentação onte de nutrientes e toquímicos que desempenhampapel importante na recuperação dos pacientes. 8 história alimentar, sua condição nutricional e ingestão dietética. Após, devemos estabelecer os planos de cuidado com esse paciente. Imagine estar cuidando de um paciente com um prognóstico de mais ou menos 06 meses de vida, que esteja em risco nutricional e diculdade alimentar. Quais critérios você determinaria para o planejamento dietético? PENSANDO JUNTOS Nesse momento, precisamos estar sensíveis às solicitações do paciente, bem como respeitar os familiares nas condutas, sempre procurando atender aos pedidos e solicitações. Aqui, nosso papel vai além do cuidado nutricional traduzido em forma de nutrientes, mas devemos buscar entender o quadro e manter uma ali- mentação que tenha signicado afetivo (respeitando cultura, aspectos sociais), entendendo que podem ser as suas últimas refeições. PACIENTE ONCOLÓGICO CIRÚRGICO Todo o paciente cirúrgico deve ser atendido pela equipe de nutrição com o objeti- vo de estar em um estado nutricional adequado não apenas para o procedimento, mas para sua recuperação no pós-cirúrgico. No caso dos pacientes oncológicos não é diferente, pelo contrário, visto seus riscos nutricionais pelo estado da doen- ça, a intervenção nutricional precoce é recomendada em to- dos os casos (SBNO, 2021). O paciente oncológico, por vezes, ao descobrir a doença, já está em depleção de seu estado nutricional e, não raro, já apre- senta risco ou desnutrição. Com isso, sugere-se que para esses pa- cientes sejam utilizadas terapias nutricionais hipercalóricas e hiperproteicas, sejam via alimentação usual, via suplementação e, se necessário, via terapia enteral (HORIE, 2019). UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Quadro 2 - Recomendações dietoterápicas para pacientes oncológicos cirúrgicos Fonte: adaptado de SBNO (2021) e Horie (2019). CALORIAS Usualmente 25 a 30Kcal/Kg de peso atual/dia. Para pacientes desnutridos iniciar no pós-operatório com 15 a 25Kcal/Kg nos primeiros dias e evoluir gradualmente a m de atingir as metas, podendo chegar em 30 a 45Kcal/Kg. MACRONUTRIENTES Seguem-se as diretrizes, ajustando proteínas conorme o balanço nitrogenado ou observação de perda de massa muscular (mantendo mais de 01g/Kg/dia, com uma média de 1,5g/Kg/dia). AJUSTES Utilizar terapia perioperatória (05 a 07 dias antes da cirurgia) com órmulas hiperproteicas com imunonutrientes (arginina, ácidos graxos ômega-3 e nucleotídeos). MICRONUTRIENTES Manter as diretrizes. A recomendação de abreviação de jejum para pacientes oncológicos é com o uso de líquidos de 2 a 3 horas antes da cirurgia. No pós-cirúrgico, a recomendação é iniciar a alimentação de 12 a 24h após a estabilidade hemodinâmica do paciente, independente da via escolhida. Essas estratégias têm demonstrado melhor recu- peração do paciente, diminuição do risco de complicações e tempo de internação, impactando ainda na sobrevida. Para pacientes desnutridos, recomenda-se um início lento com evolução gra- dual da dieta a m de evitar o risco do desenvolvimento da Síndrome de Reali- mentação, que pode ser potencialmente fatal se não for tratada de forma imediata. PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO Para o paciente pediátrico, os cuidados devem ser os mesmos direcionados ao adulto, entretanto com um olhar mais atento e com um acompanhamento mais frequente, visto que pequenas mudanças em sua alimentação e estado nutricional podem impactar de forma imediata sua sobrevida e desenvolvi- mento (SBNO, 2021). Deve-se realizar uma boa triagem nutricional de forma precoce e avaliar o pa- ciente, utilizando dados antropométricos, mas não apenas peso, altura e IMC. Utilizar medidas como prega cutânea tricipital, circunferência do braço e circun- ferência muscular do braço, além de serem pouco invasivas e de fácil aferição, nos auxiliam no diagnóstico nutricional mais preciso e na detecção precoce do risco nutricional, da desnutrição e de morbidade futura. “ Em crianças, uma perda ponderal maior ou igual a 5%, ou, em lac- tentes, maior ou igual a 2%, deve ser considerada como fator de risco nutricional. De igual modo, um aumento rápido e inesperado de peso também indica esse risco (SBNO, 2021, p. 18). PACIENTES CIRÚRGICOS • Procure avaliar os pacientes antes do procedimento e busque manter uma alimenta- ção que garanta as metas e minimize carências nutricionais. • Monitore o paciente ao longo da internação e busque após o procedimento reiniciar a alimentação de orma precoce, com evolução gradual, sempre em busca de alcançar as necessidades nutricionais para manutenção ou recuperação da criança. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 8 PACIENTES CLÍNICOS • As crianças têm um maior risco a mudanças do estado nutricional quando oncológicas, isto é verdade tanto para a desnutrição quanto para o sobrepeso/ obesidade. No caso da desnutrição, a depender do tipo de câncer, a criança tende a agravar o seu quadro com o tratamento clínico e mesmo ter maiores eeitos sobre mortalidade e complicações. • Realize avaliações completas e considere a perda de peso. Atenha-se para possíveis sintomas relacionados ao tratamento e procure ajustar a alimentação conorme a tolerância da criança com o uso de suplementos em caso de diculdade em cumprimento das metas. Quadro 3 - Recomendações dietoterápicas para pacientes pediátricos Fonte: adaptado de SBNO (2021) e Horie (2019). CALORIAS Seguir os cálculos dietéticos de acordo com as equações predi- tivas e estado nutricional dos pacientes. No caso da desnutrição recomenda-se o uso do peso do percentil 50 para a estatura. MACRONUTRIENTES Segue-se o recomendado conorme aixa etária e desenvolvi- mento da criança, podendo ser ajustado a quantidade protei- ca em casos de desnutrição (com aumento de 15 a 50%). AJUSTES Os ajustes devem ser de acordo com sintomas e condição clínica dos pacientes. MICRONUTRIENTES Seguem-se as diretrizes conorme a aixa etária. Em crianças, a alimentação tem um aspecto emocional muito mais importantedo que em pacientes adultos, portanto, a conduta nutricional deve visar alcançar as metas calculadas, com uma alimentação que seja atrativa e esteja de acordo com os hábitos e preferências das crianças. Para pacientes que não conseguem atingir as metas por inapetência ou outros sintomas, sugere-se a inclusão de suplementos orais que aumentem a densidade calórica da dieta. Por m, em casos em que a criança não consiga atingir as demandas, esteja em agravamento nutricional ou impedida de se alimentar VO, pode-se iniciar a nutrição enteral, sempre com o objetivo de sua recuperação e saúde. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL E ENTERAL O uso de terapia nutricional seja oral (TNO), ou enteral (TNE), é uma estratégia muito utilizada no paciente oncológico, visto suas necessidades aumentadas e seu risco nutricional pelo estado de saúde. Conforme as Diretrizes da BRASPEN (HORIE, 2019), a terapia nutricional deve ser iniciada com todo o paciente que não consiga atingir pelo menos 70% das suas necessidades nutricionais. Em pacientes que consigam se alimentar VO e não tenham comprometimen- to de seu trato gastrointestinal, deve-se priorizar o uso de suplementos orais, por serem mais siológicos. Para pacientes oncológicos, como já visto anteriormente, por estarem geralmente com necessidades proteicas elevadas, podemos utilizar suplementos que tenham uma densidade calórica maior (1,5Kcal/ml) e que te- nham uma maior fração proteica (pelo menos 20% do produto) (SBNO, 2021). Ainda em casos de pacientes pré-cirúrgicos, podemos escolher suplementos que tenham adição de nutrientes imunomoduladores (ômega-3, nucleotídeos, argini- na), assim como tenham uma composição adequada de bras e carboidratos, que auxiliem no controle glicêmico, que pode estar alterado pela sua condição clínica. Para pacientes em quadros de mucosite, radioterapia ou mesmo para abre- viação de jejum, podemos recorrer a suplementos claricados, com nutrientes de rápido esvaziamento gástrico que auxiliem o controle de sintomas. UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Ainda, existem no mercado alguns suplementos com uma composição ajustada para essas necessidades e com sabor neutro, ótimos para uso em pacientes que apresentem inapetência ou náuseas, por exemplo. Esses suplementos neutros podem ser adicionados em água e facilmente utilizados em receitas, propor- cionando maior exibilidade para a nossa prescrição. Entretanto, para pacientes que ainda assim não consigam atingir as suas necessidades, seja por não tolerarem sabor ou mesmo o volume dos suplemen- tos, deve-se considerar o uso da TNE complementar à dieta oral ou mesmo de forma exclusiva (BRASIL, 2016). Em casos de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, devemos iniciar a terapia nutricional de forma precoce, visto que o local da tumoração e mesmo os tratamentos podem dicultar a ingestão alimentar e causar agravamento em seu estado nutricional. Suplementos orais devem ser considerados e, ao observar diculdades de ingestão e piora do estado nutricional, a TNE deve ser aconselhada e iniciada (HORIE, 2019). No caso de terapia enteral, devemos escolher dietas preferencialmen- te poliméricas, que tenham uma densidade calórica maior (pelo menos 1,5Kcal/ml), assim como sejam hiperproteicas. Paciente oncológico pelo seu catabolismo necessita de maior aporte calórico e proteico, e, geralmente pela sua condição clínica (seja a própria doença ou fases do tratamento), não consegue tolerar grandes volumes, portanto conseguir concentrar as necessidades nutricionais em menor volume pode ser benéfico para o tra- tamento (SBNO, 2021). Obviamente para cada caso e condição clínica deve ser escolhido o produto que atenda às necessidades, entretanto, observar essas questões, assim como buscar produtos que tenham um bom perl lipídico (preferencialmente com adição de ômega-3), controle glicêmico (adição de bras) e preferencialmente que sejam isosmolares, são pontos importantes a serem considerados. Para pacientes impossibilitados de utilizar a via oral, o início daTNEdeve serprecoce, em até 48h da sua internação; e se a ingestão oral or insuciente por um período de 3 a 7 dias, com uma ingestão menor de 60% das suas necessidades, recomenda-se a complementação com a TNE. 4 A terapia parenteral deverá ser considerada nos seguintes casos: impossibili- dade total ou parcial de uso do TGI; Diculdade de atingir metas nutricionais de forma enteral por 5 a 7 dias; Obstrução intestinal; Síndrome de intestino curto ou falência intestinal; Fístulas enterocutâneas; Pacientes críticos de alto risco nutricional e contraindicação a TNE (HORIE, 2019). ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS NA ONCOLOGIA O paciente oncológico ao receber alta hospitalar deverá ser aconselhado e orientado pela equipe de nutrição para que possa saber como proceder a me- lhor alimentação a m de manter o seu estado nutricional. Para pacientes que estejam eutrócos, orientações gerais de hábitos saudáveis, incluindo a manutenção de peso e uma alimentação saudável, seguindo as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira serão sucientes (SBNO, 2021). Para todos os pacientes, precisamos reforçar a importância da boa hidra- tação, sendo que pacientes em quimioterapia devem ter uma ingestão ainda maior, considerando a necessidade de diminuir a toxicidade do medicamento. Em termos gerais, uma ingestão de 2,5 a 3 litros de líquidos ao dia é suciente para garantir a eliminação do excesso do medicamento (SBNO, 2021). Dentre as orientações alimentares direcionadas aos pacientes oncológicos ainda devemos aconselhar aumento de consumo de frutas e vegetais, preferen- cialmente orgânicos, diminuição do consumo de embutidos e carnes vermelhas, não consumo de bebidas alcoólicas, diminuição do consumo de alimentos ultra- processados como as bebidas açucaradas. Muitos pacientes ainda fazem uso em casa de toterápicos, entretanto, prin- cipalmente para pacientes em terapias antineoplásicas, devemos considerar o risco do uso dos toterápicos que podem interferir no tratamento e, por essa razão, não devem ser aconselhados de forma indiscriminada. O mesmo vale para suplementos de vitaminas e minerais que devem ser aconselhados sempre em consonância com a equipe médica (HORIE et al., 2019). Para pacientes desnutridos, ou em risco nutricional, sugere-se a orientação com o planejamento alimentar a m de auxiliar o paciente no seu processo de recuperação. Sempre que possível, indicar alimentos que correspondam com os UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 hábitos e preferências do paciente. Caso perceba que o paciente não consegue atin- gir as metas, orientar o uso de suplemento alimentar é aconselhável (SBNO, 2021). Assim como, em casos de incapacidade de ingestão via oral, o uso de terapia enteral é indicado, devendo ser realizada a orientação não apenas dos produtos, mas ensi- nando a forma de preparo, de administração, higiene e manutenção da sonda enteral. Todos os pacientes devem ser orientados quanto aos possíveis sintomas re- lacionados ao tratamento, assim como estratégias para melhorar o sintoma e garantir sua recuperação. Em termos gerais, a orientação nutricional visa garantir que o paciente oncológico consiga manter seu estado nutricional e, além disso, mantenha sua qualidade de vida. NOVOS DESAFIOS Chegamos ao m de mais um tema. Espero ter conseguido trazer um pouco mais sobre a importância do cuidado nutricional ao paciente oncológico. Enquanto trabalhei com pacientes oncológicos, percebi que o nutricionista é um dos prossionais que mais está com o paciente, anal, o acompanhamos no período de seu diagnóstico, nos tratamentos cirúrgicos, nos tratamentos clínicos e mesmo em seu processo de terminalidade. Por isso, ser sensível ao processo que o paciente passa e estar atento às suas necessidades podem fazer diferença não apenas em seu estado nutricional, mas em seu prognóstico. Realizar uma boa avaliação nutricional nos auxilia a estabelecer um diagnós-tico preciso e com isso uma conduta dietoterápica assertiva. Além disso, manter o acompanhamento, com avaliações recorrentes e ajustes em sua conduta, pode minimizar os danos da doença e dos tratamentos e evitar a desnutrição e mesmo os casos mais severos de sarcopenia e caquexia. Não menos importante, manter todo o nosso atendimento devidamente re- gistrado em prontuário auxilia os demais prossionais a compreenderem nossas condutas, bem como os demais prossionais nutricionistas a conseguirem dar sequência ao atendimento do paciente com os dados coletados. A nutrição é fundamental para todos os pacientes, entretanto para os pacien- tes oncológicos ela deve ser parte do tratamento, anal, a manutenção do estado nutricional melhora o prognóstico do paciente e a sua sobrevida. 1. Ao realizarmos a avaliação nutricional de um paciente oncológico precisamos coletar algumas inormações que nos auxiliem no nosso diagnóstico. Pensando em uma avaliação nutricional para o paciente oncológico, podemos afrmar: a) O peso atual do paciente é suciente para entendermos o grau de risco que ele apresenta. b) Para denir risco de sarcopenia, o cálculo do IMC é o mais recomendado. c) Oexamede albumina não é umbompreditor do estado nutricional do paciente oncológico. d) Aperda de 05% do peso emummês coloca o paciente em risco elevado para desnutrição. e) Grau de edema e de hidratação não intererem no diagnóstico nutricional através do uso do IMC. 2. Todos os pacientes oncológicos devem receber avaliação nutricional ao serem internados, sendo recomendada a realização de triagem em no máximo 48h da sua admissão. Considerando a sistematização do atendimento, podemos afrmar: I - Todo o paciente oncológico já é pelo menos um nível secundário de atendimento pela sua doença. II - O paciente oncológico eutróco e que consiga se alimentar será classicado como nível primário. III - Para classicar o risco, precisamos entender o diagnóstico, a alimentação e as suas necessidades nutricionais atuais. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 3. Pacientes oncológicos em tratamento quimioterápico porvezes apresentamdiversos efeitos colaterais relacionados às drogas em uso. Para controle dos sintomas é correto afrmar: a) Em caso de disagia, deve-se trocar alimentos sólidos por líquidos. b) Pacientescomxerostomia sãobeneciadosquandocolocamosgotasde limãonosalimentos. c) Para acilitar a adaptação na disgeusia podemos retirar todos os temperos e deixar o alimento mais suave. d) Uma das estratégias na náusea é diminuir o número de reeições e buscar o uso de alimentos mais úmidos e em molho. e) Na mucosite os pacientes se beneciam com alimentos em temperaturas extremas. VAMOS PRATICAR 1 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed. pd. Acesso em: 10 maio 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Espe- cializada e Temática. Manual de terapia nutricional na atenção especializada hospitalar no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS [recurso eletrônico]. Ministério da Saúde, Brasília, 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_terapia_nutricio- nal_atencao_especializada.pd Acesso em: 4 jun. 2023. FRIDRICH, T.F.P. A vida antes do câncer: O estilo de vida pregresso de pacientes atendidos no serviço de alta complexidade em oncologia no Alto Uruguai. 2022. 188. Dissertação (Mestra- do) – Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal Fronteira Sul, Erechim, 2022. HORIE, L. M. Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. BRASPEN J, v. 34, supl. 1, p. 2-32, 2019. Disponível em: https://www.braspen.org/diretrizes. Acesso em: 7 jun. 2023. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Consenso nacional de nutrição oncológica. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, 2. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: INCA, 2015. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/uu.sti.inca.lo- cal/les//media/document/consenso_nacional_de_nutricao_oncologica_-_2a_edicao_2015_ completo_0.pd. Acesso em: 7 jun. 2023. MUSCARITOLI, M. et al. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clinical Nutrition, v. 40, p. 2898-2913, 2021. SANTOS, S. V. Avaliação nutricional de pacientes hospitalizados em suporte nutricional ente- ral. Ponta Grossa: Atena, 2022. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA. I Consenso brasileiro de nutrição on- cológica da SBNO. Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica. Rio de Janeiro: Edite, 2021. Disponível em: http://www.sbno.com.br. Acesso em: 7 jun. 2023. WEIMANN, A. et al. ESPEN practical guideline: Clinical nutrition in surgery. Clinical Nutrition, v. 40, p. 4745-4761, 2021. 8 1. Opção D. a) Precisamos avaliar perda de peso, por isso, além do peso atual, devemos considerar peso usual. b) O IMC não é bom preditor de sarcopenia, para isso deve-se utilizar medidas de circun- erências e pregas cutâneas. c) A albumina consegue nos demonstrar o catabolismo no câncer, sendo uma boamedida para auxílio diagnóstico de desnutrição, com os demais dados coletados. d) Está correta e) Edema e hidratação impactam em dados de peso e condição nutricional, impactando, sim, na determinação do IMC e do diagnóstico nutricional. Devem ser considerados e corrigidos para avaliação. 2. Opção D. I - A armação II explica o porquê a I é alsa. Apesar do câncer ser uma doença catabólica, a depender do quadro em que o paciente se encontra ele pode estar bem e sem risco nutricional. 3. Opção B. a) A disagia deve ser avaliada por um onoaudiólogo para podermos sugerir as melhores consistências para o paciente, dentre elas os líquidos. b) A xerostomia é o ressecamento da boca e a diminuição da salivação, logo o uso de gotas de limão estimula esse processo e diminui a sensação de ressecamento. c) Na disgeusia, o paciente tem diminuição da percepção de paladar, logo o que precisa- mos azer é aumentar o uso de temperos para auxiliar na palatabilidade da alimentação. d) Nas náuseas devemos aumentar o racionamento dietético para acilitar o processo digestivo; assim como alimentos mais secos diminuem os sintomas de náuseas. e) Na mucosite, devemos evitar o calor e o rio extremo que pioram a dor e as eridas na mucosite. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 9 UNIDADE 9 MINHAS METAS PACIENTE DPOC – DOENTE PULMONAR OBSTRUTIVO CRÔNICO Conhecer as causas para o desenvolvimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Compreender a relação da nutrição com a DPOC. Identicar quais os protocolos de triagem recomendados para DPOC. Relembrar aspectos importantes para a avaliação nutricional no DPOC. Conhecer quais os aspectos nutricionais são importantes na conduta nutricional do paciente DPOC. Correlacionar sintomas e condutas nutricionais para melhor tolerância da dieta pelo paciente DPOC. Compreender o momento a utilizar terapias nutricionais no DPOC. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 9 INICIE SUA JORNADA A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença de grande prevalência e relaciona-se com a limitação respiratória do indivíduo poden- do estar associada a diversas causas como veremos adiante. Com relação ao aspecto nutricional, o catabolismo da doença, tanto pela dificuldade respi- ratória e aumento do esforço para oxigenação, assim como o processo infla- matório crônico faz com que os pacientes tenham uma demanda energética aumentada, assim como pelo cansaço breve, uma grande dificuldade em se alimentar e suprir as suas necessidades. Imagine estar atendendo a um paciente já com perda de peso aparente, em risco nutricional,e que não tem conseguido atingir as metas calculadas com a alimentação proposta. Qual seria a sua abordagem? Quais seriam seus passos para uma avaliação correta e mesmo para superar esses desaos? Nosso objetivo será fazer com que o paciente consuma uma alimentação que seja aceitável ao seu hábito, adequada conforme os princípios da nutrição e respeitosas a sua cultura. Entretanto, em casos de diculdade, podemos sim lançar mão de estratégias como aumento de densidade calórica com uso de módulos alimentares, ou complementação nutricional com suplementos orais e ainda, em casos de maior necessidade, uso de terapia nutricional enteral exclusiva ou concomitante. E sobre esses pacientes e condutas que iremos falar neste tema. Quais avalia- ções são sugeridas, quais são os fatores de maior atenção e quais são as metas a serem atingidas com esses pacientes, são os desaos do nutricionista que atende pacientes com DPOC. Dentre algumas das doenças pulmonares, temos a asma como uma doença que atinge pelo menos 20 milhões de brasileiros. Com um impacto tão grande, vamos alar um pouco sobre a nutrição no tratamento da asma? Recursos de mídia dis- poníveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem PLAY NO CONHECIMENTO UNICESUMAR TEMA DE APRENDIZAGEM 9 DESENVOLVA SEU POTENCIAL CONHECENDO A DOENÇA A doença pulmonar é causada pela perda da capacidade respiratória e essa li- mitação crônica está relacionada inclusive com uma inamação que altera as estruturas alveolares e mesmo destruição do parênquima pulmonar (resultando em ensema). Toda essa limitação piora a capacidade respiratória do indivíduo levando a sua perda de funcionalidade. Para a avaliação médica dessa condição clínica, o uso da espirometria costuma ser o indicado (GOLD, 2020). “ A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma doença comum, evitável e tratável que se caracteriza por sintomas respiratórios persistentes e pela limitação respiratória causada por anomalias das vias aéreas e/ou alveolares geralmente causada por exposição signicativa a partículas ou gases nocivos e inuenciada por fatores individuais, incluindo anormalidades no desenvolvimento pulmonar (GOLD, 2020, p. 4). A importância de falarmos da DPOC está em sua prevalência, visto que é a doen- ça que mais causa morbidade e mortalidade ao redor do mundo, sem contar no impacto econômico e social. Estima-se que mundialmente existem 3 milhões de mortes por ano, com previsão de que até 2030 esse número possa saltar para 4,5 milhões de mortes/ano. Sua causa está relacionada diretamente com a exposição ao VAMOS RECORDAR? Hoje vamos tratar da DPOC, entretanto, para recordar vou propor pensarmos um pouco sobre a Fibrose Cística, uma doença genética que afeta diversos órgãos, inclusive o pulmão que pode sofrer com a obstrução crônica das vias aéreas, consequentemente diminuindo a capacidade de ventilação, o que é caracterizado como DPOC. Para o tratamento dessa doença, a nutrição é um grande aliado. Vamos relembrar o manejo nutricional? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem 4 tabaco e mesmo outros gases, sem contar em fatores ambientais relacionados com riscos ocupacionais e mesmo poluição (como dióxido de enxofre, cádmio, sílica, as- besto, quartzo etc.), fatores genéticos, desenvolvimento pulmonar do bebê durante a gestação, níveis socioeconômicos, doenças relacionadas como asma e bronquite. Ao observar características da doença, parece que pessoas que apresentam DPOC, mas não são fumantes apresentam menores riscos de desenvolver câncer pulmonar e sintomas menos agressivos, entretanto apresentam risco maior para desenvolvimento de pneumonia e de falência respiratória (PORFÍRIO et al., 2021; GOLD, 2020; FERNANDES; BEZERRA, 2006). Ao que se percebe, a prevalência da doença se dá em pessoas com mais de 40 anos de idade, em umantes mais do que em não umantes, e em homens mais do que emmulheres (GOLD, 2020). A depender do país esses dados podem variar, mas no Brasil a tendência permanece sendo esta, atingindo cerca de 5% da população (PORFÍRIO et al., 2021; FERNANDES; BEZERRA, 2006). No que concerne à nutrição devemos estar atentos à inamação crônica, ao es- tresse oxidativo e mesmo à diminuição da capacidade respiratória e oxigenação celular. Todos esses fatores estão relacionados com um aumento nas demandas energéticas e de nutrientes (macro e micro) que se não forem supridas podem levar à risco nutricional, desnutrição e mesmo caquexia, tão comum em pacientes DPOC em quadros avançados (PORFÍRIO et al., 2021; GOLD, 2020). A desnutrição é considerada uma das principais condições a serem acompa- nhadas nos pacientes com DPOC, visto sua relação negativa com a morbidade e mortalidade da doença, e ainda mais importante quando falamos em pacientes críticos, internados em UTI (BALDEMIR; CIRIK, 2022). Além disso, percebe-se que a depender do grau da inamação há uma as- sociação com piora da função pulmonar e mesmo aumento da incidência de comorbidades (HANSON et al., 2021). Em pacientes com a doença exacerbada, quadro encontrado especialmente em pacientes hospitalizados, a desnutrição apresenta ainda maior prevalência, merecendo a nossa atenção. Seja por baixa ingestão dietética, por aumento das quebras proteicas e assim um balanço nitrogenado negativo, ou mesmo o cata- bolismo relacionado com a infecção, todos são motivos que o nutricionista deve observar em pacientes com DPOC (COLLINS et al., 2019). UNICESUMAR 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 TRIAGEM E AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Todo o paciente hospitalizado precisa estar em acompanhamento nutricional, e isso é um fato. Entretanto, existem casos em que precisamos estar com um olhar mais atento, seja pela gravidade da doença como pela possível evolução rápida do quadro. No caso da DPOC, a desnutrição energética e protéica é um dos preditores do diagnóstico da doença, estando relacionado com o aumento do risco para infecções e diminuição da qualidade de vida, com uma previsão de 25-40% dos pacientes desnutridos (PORFÍRIO et al., 2021). Dentre as causas de internação desses pacientes, a desnutrição parece ser uma das principais, poden- do ser tanto causa como consequência da progressão da saúde, impactando não apenas na qualidade de vida do paciente, mas em custos e tempo de internação, aumentando e sobrecarregando os sistemas de saúde (COLLINS et al., 2019; FERNANDES; BEZERRA, 2006). “ Pacientes desnutridos com DPOC costumam apresentar maior hi- perinsuação, pior capacidade de difusão pulmonar e tolerância reduzida ao exercício quando comparados com pacientes nutridos com a mesma doença. Essas alterações físicas e siopatológicas im- pactam ainda mais negativamente o estado nutricional. Por outro lado, a desnutrição parece acelerar o declínio da função respiratória, causando perda de tecido pulmonar, bem como uma redução no seu tamanho e na contratilidade dos músculos associados à respi- ração, como o diafragma. Na presença de desnutrição, os músculos respiratórios cam mais fracos e apresentam fadiga precocemente, e isso pode prejudicar a capacidade de gerar pressão suciente e efe- tiva de tosse para expectoração e limpeza de secreções pulmonares que podem estar infectadas. Em pacientes com comprometimento respiratório, a combinação da redução da força muscular respirató- ria e a fadiga precoce podem antecipar a insuciência respiratória ou atrasar o desmame da ventilação mecânica. Na DPOC, pacientes que necessitam de ventilação mecânica, que apresentem um índice de massa corporal (IMC) <21 kg/m² necessitaram de maior tem- po de ventilação, um período mais longo de hospitalização, taxas maiores que o dobro de re-intubação e pior sobrevida (COLLINS et al., 2019, p. 2231). O objetivo de uma avaliação nutricional será identicar as alterações metabólicas e orgânicas que tenham relação com a alimentação, podendo estar sendo prejudica- das ou atenuadas pelo tratamentodietoterápico (FERNANDES; BEZERRA, 2006). Dentre as triagens nutricionais sugeridas ao paciente DPOC, podemos ca- racterizar a Nutritional Risk Screening (NRS) e a Avaliação Subjetiva Global (ASG) como duas formas de conseguir avaliar o risco de desnutrição de forma precoce (BALDEMIR; CIRIK, 2022; PORFÍRIO et al., 2021). Com a triagem, estabelece-se o risco e assim o nível de atenção nutricional que será necessário ao mesmo, se primário, secundário ou terciário (FERNANDES; BEZERRA, 2006). Considerando pacientes em UTI, a recomendação da triagem NRS-2002, assim como a Nutrition Risk in the Critical Ill (Nutric Score) são recomendadas pela ASPEN. Para conseguir alguns dados, em pacientes que estejam sedados ou intubados, pode ser necessária a coleta de informações com os familiares. Em algumas situações é impossível realizar a avaliação nesses pacientes, pelo seu grau de criticidade, por isso, nesses casos as avaliações subjetiva, física e mesmo laboratorial serão fundamentais para o prossional nutricionista determinar o seu diagnóstico e a sua conduta (BALDEMIR; CIRIK, 2022). Entretanto, para todos esses pacientes a avaliação nutricional completa é in- dicada, a m de garantirmos a ação o mais precoce possível por parte da equipe de nutrição hospitalar. Para tanto, sugere-se: ■ Antropometria ■ Peso atual, peso usual, altura, % de perda de peso, IMC – são dados básicos e fundamentais para determinar o risco nutricional, de sarcopenia e caquexia. ■ O IMC parece estar diretamente relacionado com o aumento da mortalidade. Quanto menor, maior a taxa de mortalidade, assim como quanto maior a recuperação (com índices entre 25 e 29Kg/ m²) menor o risco de vida. ■ “O Nutrition Screening Initiative, a American Academy of Family Physicians e a American Dietetic Association sugeriram como pontos de corte para o IMC de pacientes com DPOC os seguintes valores: IMC entre 22 e 27 kg/m² para eutroa, IMC < 22 kg/m² para desnutrição e IMC > 27 kg/m² para obesidade” (FERNANDES; BEZERRA, 2006, p. 465). UNICESUMAR 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 ■ Medidas de pregas cutâneas como tricipital, supra-ilíaca e subescapular po- dem determinar a composição corporal do paciente. Assim como a circun- ferência do braço também é conhecida como um reexo da reserva proteica. ■ Avaliação Física ■ Observar perdas de massa magra: em face, subescapular, tronco, bra- ços, panturrilhas também são ecazes para a determinação do agrava- mento do estado nutricional, em especial em pacientes acamados, em que haja diculdade de realizar medidas objetivas. ■ Dosagens bioquímicas ■ Exames que podem auxiliar a avaliar o estado nutricional do paciente, bem como determinar o estado proteico visceral: pré-albumina, albumina, transferrina, proteína transportadora do retinol, contagem de linfócitos. ■ O índice creatinina/altura é um bom indicador para avaliação da diminuição da massa corporal magra em pacientes desnutridos. ■ A gasometria além de ser um marcador importante para a equipe médica, para o nutricionista auxilia no controle do balanço nitrogenado e na adequação da dieta. ■ A vitamina D quando em índices baixos está relacionada com piora da função pulmonar, assim como aumento do risco de vida, devendo ser monitorada. Bem como outros micronutrientes como fósforo, cálcio, magnésio, potássio. ■ Para pacientes em estado crítico, o uso de exames bioquímicos é fundamental para o tratamento, visto que por vezes são os dados mais precisos que conseguiremos obter. ■ Medicamentos e Terapias Associadas ■ Listar os medicamentos em uso pelo paciente, seja de forma contínua ou no momento da internação visam melhorar a tolerância da dieta (visto que diversos podem estar relacionados com alteração de apetite, anorexia, constipação), assim como alguns podem alterar fatores inamatórios que agravam o catabolismo. Em especial, os corticosteroides estão relacionados com diminuição do apetite, desmineralização óssea e enfraquecimento da massa muscular. ■ Acompanhar outras terapias relacionadas ao longo da internação, como por exemplo, conversar com a equipe de sioterapia para entender melhor o gasto energético desse paciente e sua capacidade muscular, 8 podem auxiliar no diagnóstico e na conduta com ajuste dos nutrientes conforme a fase que o paciente se encontra. O paciente DPOC apresenta com facilidade a perda de peso, uma das razões pode estar relacionada com o aumento do turnover proteico, além do esforço respiratório ao se alimentar (PORFÍRIO et al., 2021). Devemos compreender a íntima relação da nutrição com os pacientes com DPOC. Imagine que a baixa ingestão dietética relacionada com um aumento energético aumentado resulta não apenas em perda de peso, mas ainda em perda de massa, de gordura e em muitos casos em atroa (COLLINS et al., 2019). Para pacientes com maior risco de ragilidade e sarcopenia oi desenvolvido uma erramenta de rastreio validada em português. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem EU INDICO Em pacientes internados em UTI, Baldemir e Cirik (2022) propõem ainda o uso do parâmetro de prognóstico nutricional (Prognostic nutritional index – PNI), usado principalmente em pacientes com câncer e já em uso para pacientes em criti- cidade, para determinação do grau de inamação, estado nutricional e prognóstico. O PNI é calculado a partir de uma relação entre a albumina sérica e valores dos linfócitos, podendo com facilidade demonstrar riscos nutricionais com a associa- ção dos dados ao que foi coletado nas triagens NRS-2002 ou Nutric Socore. Todos os pacientes em UTI com DPOC devem ser prontamente avaliados, considerando que o quadro inamatório é comum nesses pacientes, a criticidade exacerba isso, aumentando o catabolis- mo e o seu risco (BALDE- MIR; CIRIK, 2022). Quanto à alimentação, precisamos estar atentos a mudanças comuns desses pacientes, que pela di- culdade em se alimentar e respirar (a dispneia e a UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 baixa oxigenação pioram o quadro, assim como o ato de se alimentar aumenta a dispneia), reduzem a sua ingestão dietética para minimizar a ocorrência de hiper alimentação e associada ao aumento da demanda calórica pode levar ao desenvol- vimento de um estado de caquexia proteico-calórica (PORFÍRIO et al., 2021). A anamnese alimentar e a avaliação do consumo auxiliam na formulação da história pregressa e atual do paciente demonstrando não apenas hábitos e práticas alimen- tares, mas ainda intolerâncias, alergias e mesmo tabus, que são fundamentais para a posterior prescrição dietética. Tanto o recordatório de 24h quanto os questionários de frequência alimentar são válidos para essa coleta (FERNANDES; BEZERRA, 2006). A desnutrição no DPOC pode estar relacionada a diversos atores siológicos e sociais, como: idade, anorexia, dentição, dispneia, xerostomia, ageusia ou disgeusia e não menos importantes, como: capacidade de preparar os seus próprios alimentos, capacidade de adquirir os alimentos necessários, habitação e rede de apoio. Apesar de nem tudo estar relacionado com a dieta especicamente, todos esses fatores podem estar interferindo para a melhora ou piora do paciente, e para tanto, o nutri- cionista deve não apenas coletar essas informações, mas também utilizar esses dados para melhorar a sua conduta intra-hospitalar e se basear nessas observações para a conduta a ser orientada em razão de alta, podendo ser necessário inclusive o apoio do serviço social para situações em que perceba risco psicossocial (COLLINS et al., 2019). Durante a internação hospi- talar sempre devemos observar à evolução do paciente, ou seja, o acompanhamento nutricional é primordial, anal ao longo da internação o paciente pode tanto melhorar o seu quadro quanto agravar e, nesse caso, o nutricionista estará realizando avaliações recorrentes e ajustes em suas condutas podem fazer a diferença para a melhora do paciente (HANSON et al., 2021). 4 CONDUTA NUTRICIONAL A conduta nutricional é peça chave no tratamento do DPOC tanto para evitar o agravo da doença e do estado nutricional do paciente, como para promover a melhora dos danos já causados. Dentre os objetivos de uma terapia nutricional para o paciente DPOC temos: prevenir a progressão da doença, diminuir sintomas relacionados à alimentação e dispneia, manter o equilíbrio entre massa magra e tecido adiposo, diminuir o cata- bolismo e perda nitrogenada, manter o equilíbrio hídrico, controlar complicações, reduzir mortalidade (CARVALHO et al., 2016; FERNANDES; BEZERRA, 2006). Se há alguns anos entendia-se que a dieta deveria ser balanceada com cau- tela, observando cada nutriente a ser ofertado a m de evitar a sobrecarga do sistema respiratório, hoje, percebe-se que a dieta tem papel fundamental à saúde do paciente com DPOC, visto a comprovação que um indivíduo bem nutrido apresenta melhora na capacidade funcional e respiratória e consequentemente em qualidade de vida. Assim, prioriza-se a recuperação nutricional, acompanha- da por prossionais que venham a ajustar os nutrientes conforme a demanda do paciente (COLLINS et al., 2019). ALIMENTAÇÃO ORAL A alimentação oral sempre será nossa linha de partida no tratamento nutricio- nal, inclusive no DPOC. Em todos os casos devemos buscar adequar a alimen- tação à realidade do paciente, em especial tentando utilizar um cardápio que seja palatável. Em muitos casos, o uso das dietas branda e pastosa é uma boa estratégia, visto que a mudança da textura dos alimentos pode facilitar a ingestão, diminuindo o esforço ventilatório do indivíduo. Além disso, o fracionamento alimentar, com uma dieta composta por 05 ou 06 refeições ao dia, pode trazer benefício aos pacientes, já que grandes volumes tendem a aumentar a fadiga e a carga respiratória (PORFÍRIO et al., 2021; FERNANDES; BEZERRA, 2006). Quando tivermos pacientes com sintomas de inapetência o fracionamento também é uma estratégia, assim como o aumento da densidade calórica das refei- ções, que podemos fazer facilmente com a adição de uma porção de azeite de oliva ou TCM (se disponível na instituição) ou mesmo adicionando leite em pó em preparos UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 cremosos, ou ainda fazendo uso de módulos suplementares de carboidratos como a maltodextrina ou a palatinose. Visto a demanda proteica aumentada, o uso de isolados proteicos pode facilitar o consumo desse grupo por pacientes inapetentes. Já pacientes com saciedade precoce podem se beneciar com alimentos mais secos, assim como alimentos frios tendem a diminuir a sensação de ple- nitude e mesmo de sensibilidade em caso de alteração da mucosa oral; ainda como estratégia, devemos evitar o uso concomitante de líquidos no momento da refeição (COLLINS et al., 2019; FERNANDES; BEZERRA, 2006). Para pacientes com dispneia, além das estratégias supracitadas, podemos ainda sugerir que o paciente realize repousos intencionais antes das refeições. Assim como estratégias de educação nutricional, como estimular a mastigação e o comer devagar podem aliviar o quadro. Em casos de piora, conversar com a equipe médica para adequarem tanto medicações, quanto possível uso de oxigê- nio suplementar pode ser necessário (CARVALHO et al., 2016). Para a composição da dieta, precisamos sempre considerar o quadro do pa- ciente, suas limitações, assim como possíveis comorbidades (como doenças car- diovasculares, diabetes etc.), e assim ajustar o planejamento dietético conforme todas as suas necessidades (HANSON et al., 2021). Basicamente, considerando apenas o DPOC devemos levar em: NECESSIDADES ENERGÉTICAS • Pelo quadro de dispneia característica da DPOC, os pacientes apresentam maior gasto energético basal, portanto a dieta deve ser hipercalórica. • Para pacientes não obesos, o uso da regra de bolso com 30Kcal/Kg de peso parece atender às demandas da doença para manutenção do peso, podendo chegar a níveis de 45Kcal/Kg conorme o grau de desnutrição do paciente. CARBOIDRATOS • O consumo deve ser mantido entre 50 a 60% da quantidade energética total. • O consumo estimulado deve ser de carboidratos complexos, visto que doses maio- res de carboidratos, em especial simples (renados), podem aumentar o quociente respiratório devido ao aumento da lipogênese o que consequentemente agrava a dispneia e os quadros de insuciência respiratória (por aumentar a requência respi- ratória para eliminar o excesso de dióxido de carbono gerado). 4 PROTEÍNAS • A dieta deve ser preerencialmente hiperproteica com 1 a 1,2g de proteína/Kg/dia, mantendo uma proporção de 15 a 20% das necessidades. • Em pacientes desnutridos, idosos ou com a doença crônica, a sugestão do aporte proteico aumenta para 1,2 a 1,5g/Kg/dia. • Deve-se evitar o excesso de proteínas, que podem causar estímulo exacerbado pulmonar e piorar quadro de dispneia, bem como de aminoácidos ramicados. Entretanto, uso de alguns aminoácidos como a leucina, parecem estimular a unção pulmonar, ainda com necessidade de maiores estudos para conseguir uma relação de dose e ecácia. LIPÍDIOS • Manter uma quantidade de gordura que atinja 25 a 30% das necessidades diárias do paciente permanece adequado. Alguns estudos sugerem um aumento da oerta lipídica em mais de 40%, entretanto ainda carecemos de mais estudos para termos total certeza dessa conduta. O suporte alimentar que venha atingir as demandas calculadas de macronutrien- tes é fundamental para a correção do catabolismo, entretanto, os micronutrientes não são menos importantes. Mesmo que em pacientes obesos, o uso de dietas hipercalóricas não seja recomendado, o uso de dietas hipocalóricas em nível hospitalar não deve ser mantido. Assim, para estes pacientes manter uma dieta normocalórica, e acompanhar sua evolução, é primordial para o bom acompa- nhamento nutricional (PORFÍRIO et al., 2021; THIBAULT et al., 2021). Como já falamos esses pacientes apresentam níveis aumentados de inama- ção e estresse oxidativo, portanto para melhorar seu quadro o uso de nutrientes antioxidantes é sugerido (preferencialmente a partir de alimentos), assim como, em pacientes com deciências de hemoglobina (e assim piora da capacidade de transporte de oxigênio) o suporte com alimentos fontes de ferro pode ser indicado. Outros nutrientes, relacionados com o suporte muscular devem ser observa- dos, como vitamina C, vitamina E, vitamina A, cálcio, fósforo, magnésio e potássio. Dar atenção para a imunomodulação dos pacientes através de lipídios, como: os ácidos graxos de cadeia curta, o ômega-3, e mesmo oligoelementos como cobre, zinco e selênio, parecem trazer benefícios. UNICESUMAR 4 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 Para pacientes com baixos níveis séricos de vitamina D, deve ser conside- rada a suplementação, que considerando um período de internação hospitalar, pode ser discutida com a equipe médica para uso de doses adequadas. Como dito anteriormente, percebeu-se que valores séricos de vitamina D abaixo de 25 nmol/L estão relacionados tanto com piora do quadro respiratório, capa- cidade pulmonar, assim como maior risco de vida. Assim como a vitamina D tem participação direta na calcicação óssea, e pensando que a osteoporose é um problema comum nesta população, o seu uso pode impactar positivamente. Ainda, manter uma reposição hídrica adequada, e calculada de forma in- dividual, pode auxiliar o paciente a melhorar seu padrão respiratório, já que a água mantém o muco menos viscoso, o que melhora os sintomas (FERNAN- DES; BEZERRA, 2006). Conorme a recomendação da ESPEN, toda a dieta hospitalar deve ser monitorada e ajustada conorme as necessidades do paciente e sua tolerância, evitando sempre restrições que não tenham embasamento cientíco, visto que o risco de tais condutas pode ser ainda maior em pacientes hospitalizados e que venham apresentar risco nutricional. Portanto, o nutricionista deve sempre estar atualizado com as descobertas cientícas, e não deve ser levadopor modismos ou supostas dietas milagrosas, tão comuns em nossos dias (THIBAULT et al., 2021). Quando a alimentação oral não for efetiva, e os pacientes já não conseguirem atingir suas metas e assim permanecerem em risco ou já apresentarem desnutri- ção ou perda de massa, o uso de suplementação deve ser iniciado. Pacientes que estejam em risco nutricional devem ter uma reavaliação de sua ingestão alimentar a cada 3-5 dias, para ajustes necessários ou para iniciar a terapia nutricional o mais precocemente possível, evitando agravamento de sua condição. Além da suplementação, os pacientes com DPOC parecem apresentar me- lhora signicativa quando aliados treinamentos físicos para aumentar tanto capacidade respiratória quanto força muscular. A suplementação nutricional é indicada para todo o paciente DPOC que apresente perda de peso maior do que 10% em 6 meses ou que já estejam desnutridos em quadros mais graves. A escolha do produto deverá ser conforme a necessidade do paciente, entretanto o uso de suplementos com maior densidade energética e proteica parecem ter bons resultados. 4 4 SUPORTE ENTERAL E PARENTERAL Caso a alimentação oral e a suplementação não sejam ecazes e os pacientes com DPOC permanecerem em risco nutricional / desnutrição, as vias alternativas devem ser utilizadas, assim como em casos como presença de disfagia ou recusa alimentar por parte do paciente. Obviamente como primeira tentativa deve-se manter a via enteral, por ser a via mais siológica e apenas em últimos casos a via parenteral deve ser. O paciente DPOC por si já apresenta risco nutricional e, portanto, deve ser considerado o uso de terapia enteral, no caso de pacientes em UTI, esse risco é ainda maior, sendo que há recomendação de terapias nutricionais para todo o paciente que permanecer em UTI mais do que 48 horas. O suporte enteral deve ser utilizado em todos os pacientes que não conseguem ali- mentar-se via oral, principalmente considerando aqueles com exacerbação da doença e em uso de suporte respiratório ou ventilação mecânica (SINGER et al., 2023). O uso de dietas polimé- ricas sempre deve ser preferido, considerando pacientes que tenham a capacidade gastrointes- tinal preservada. Para os cálculos e metas nutricio- nais, mantêm-se os mes- mos parâmetros a serem utilizados ao paciente com alimentação oral. O uso de ômega-3 parece beneciar pacientes em uso de ventilação mecânica, entretanto seu uso não deve ser em doses elevadas. Ainda considerando pacientes críticos em ventilação, devemos iniciar a nutrição en- teral com cautela, sempre evitando a síndrome de realimentação, nesses casos, sugere-se o aumento gradual da oferta dietética, progredindo a mesma até a meta calculada entre três a sete dias. O uso de terapia enteral deve ser mantido enquanto o paciente apresentar risco e não conseguir fazer a ingestão alimentar adequada. Entretanto, quando o paciente conseguir adequar a sua alimentação, e a mesma atingir as metas UNICESUMAR 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 calculadas em pelo menos 80% por pelo menos 5 dias, sugere-se a suspensão da dieta enteral e manutenção da via oral, podendo retomar o uso de suple- mentos para conseguir atingir as demandas calculadas. A via parenteral, que deve ser a via de alimentação quando houver contrain- dicação do uso do trato gastrointestinal, é composta por uma infusão de uma solução estéril composta por nutrientes conforme a necessidade dos pacientes. Apesar de existirem compostos prontos no mercado, existe a possibilidade de prescrição individualizada através do uso de solução parenteral manipulada. A infusão se dá por via periférica ou central, a depender da situação clínica do paciente, e deve ser mantida pelo menor tempo possível, sendo que no menor sinal de melhora a via enteral deve ser retomada. Gostou do que discutimos até aqui? Tenho mais para conversar com você a respeito deste tema, vamos lá? Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO NOVOS DESAFIOS A DPOC, como vimos, é uma doença com um impacto importante na nutrição do paciente. Aliás, uma coisa leva a outra, a doença piora o estado nutricional e o estado nutricional pode agravar a doença. Por essa razão, o nutricionista deve estar integrado na equipe a m de pro- porcionar a melhor conduta para que o paciente permaneça estável e bem. Como vimos, mesmo com todas as diculdades é possível estabilizar a doença através de medidas médicas, atividade física e manutenção do estado nutricional. Assim, conseguirmos ser assertivos, realizando uma triagem e avaliação nutri- cional precoce, que realmente consiga detectar riscos antes do agravamento, pos- sibilita um tratamento nutricional ecaz e que pode produzir ganhos não apenas momentâneos, mas em qualidade de vida e mesmo no prognóstico da doença, em especial buscando melhora da força, massa e função muscular respiratória. Espero que você consiga se sentir mais seguro para tratar o paciente DPOC. Como sempre digo, a nutrição pode ser um divisor de água na vida do paciente, e nossa ajuda pode fazer toda a diferença. 4 1. A doença pulmonar crônica (DPOC) é a doença que mais causa morbidade e mortalidade ao redor do mundo, estima-se que mundialmente existem 3 milhões de mortes por ano. Considerando as possíveis causas para a doença, podemos afrmar que: a) Fatores ambientais não intererem no desenvolvimento de DPOC b) A exposição a alguns compostos como cádmio e sílica são riscos ocupacionais para a doença. c) O cigarro é a principal causa da doença, aetando ainda mais umantes passivos do que ativos. d) Mulheres apresentam maior risco para a doença, relacionada com exposição social. e) A doença émais prevalente em pessoas commaior condições socioeconômicas, devido à exposição ao tabaco ou aos seus derivados. 2. A desnutrição é um dos fatores de maior impacto relacionado à doença pulmonar crônica (DPOC) com relação ao seu prognóstico e qualidade de vida. Considerando uma avaliação nutricional completa em DPOC, podemos afrmar: a) Apesar do IMC não ser um bom indicados de composição corporal, seu uso no DPOC pode estar associado com pior prognóstico, sendo que valores entre 22 e 29Kg/m² são considerados dentro da normalidade para a doença. b) Coletar dados de dobras cutâneas como a do tríceps não oerece correlação com a perda de unção muscular do paciente DPOC. c) O uso de exames bioquímicos como albumina, transerrina e proteína transportadora do retinol pode ajudar no diagnóstico de perda de capacidade respiratória. d) O índice creatinina/altura é um bom indicador para avaliação da diminuição da massa corporal magra em pacientes desnutridos. e) A condição da vitamina D dos pacientes com DPOC deve ser monitorada, sendo que o ideal é que estejam acima de 20 nmol/L. VAMOS PRATICAR 4 1 3. Conforme a evolução do quadro da doença pulmonar crônica (DPOC), os pacientes podem apresentar alguns sintomas que atrapalham a sua ingestão dietética. Pensando nesses pacientes, podemos afrmar: I - Em caso de dispneia, recomendar pequenos momentos de repouso antes da reeição podem auxiliar. II - Pacientes com diculdades na ingestão alimentar podem se beneciar com dietas brandas ou pastosas. III - Para pacientes com saciedade precoce o uso de alimentos secos ou em temperatura amena pode avorecer a ingestão alimentar. IV -O aumento da densidade energética das reeições benecia tanto pacientes em quadro de desnutrição quanto aqueles que estejam inapetentes. É correto o que se arma em: a) I, apenas. b) II e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. VAMOS PRATICAR 4 8 REFERÊNCIAS ANKER, S.D. et. al. ESPEN Guidelines on Enteral Nutrition: Cardiology and Pulmonology. Clinical Nutrition, v. 25, p. 311-318, 2006. BALDEMIR, R.; CIRIK, M. Ö. 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Opção D. 3. Opção E. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 5 MEU ESPAÇO 5 MEU ESPAÇO 5