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Cirurgia - Volume 8 2Medgrupo - CiClo 2: M.E.D VÍDEO DE INTRODUÇÃO Diagnóstico Diferencial (Hypothesis) Seção 1: TRAUMA ATenDiMenTo iniciAl Ao PoliTRAUMATizADo Avaliação Primária Avaliação Secundária TRAUMA De TóRAx Pneumotórax Hipertensivo Pneumotórax Aberto Tórax Instável e Contusão Pulmonar Pneumotórax Simples Hemotórax Fraturas da Parede Torácica Tamponamento Cardíaco Contusão Miocárdica Trauma Aórtico Trauma do Diafragma Ruptura do Esôfago Lesões da árvore Traqueobrônquica Lesões que Atravessam o Mediastino TRAUMA AbDoMinAl e Do TRATo URináRio Introdução Trauma Hepático e das Vias Biliares Trauma Esplênico Trauma Duodenal Trauma Pancreático Trauma do Intestino Delgado Trauma Colorretal Trauma do Trato Urinário Trauma de Grandes Vasos Abdominais Fraturas Pélvicas Síndrome Compartimental Abdominal Cirurgia para Controle do Dano TRAUMA ceRvicAl TRAUMA De FAce TRAUMA cRAnioenceFálico (Tce) Introdução Anatomia Lesões Decorrentes do TCE 1. Fraturas de Crânio 2. Lesões Intracranianas Recomendações de Manejo do Paciente Vítima de TCE TRAUMA RAqUiMeDUlAR Introdução Imobilização da Coluna Exame Físico Tratamento Seção 2: qUeiMADURAS Introdução - Fisiopatologia Profundidade da Queimadura Avaliação da área de Superfície Queimada Cuidados Pré-Hospitalares Abordagem Inicial Cuidados Hospitalares Cuidados com a Queimadura Lesão por Inalação Lesão Térmica de Via Aérea Lesão Química Broncopulmonar Intoxicação por Monóxido de Carbono Intoxicação por Cianeto de Hidrogênio Aspectos Nutricionais do Paciente Queimado Outras Medidas Queimaduras Elétricas Introdução Conduta Inicial Cuidados com a Queimadura Complicações Tardias Queimaduras Químicas Introdução Conduta Complicações das Queimaduras Disfunção Múltipla de Órgãos e Sistemas Infecções e Câncer de Pele Lesões Gastrointestinais Seção 3: leSõeS PoR FRio Lesões Hipotermia Sistêmica TRAUMA x PRovA De PeDiATRiA MeD R3 área de Treinamento M.e.D qUeSTõeS De concURSoS coMenTáRioS Trauma e Queimadura cirurgia - VOLuME 8 M.E.D - 2019 2019 http://#scrolldown http://#videomiolo=intro_13704 http://#page=3 http://#page=13 http://#page=101 http://#page=127 http://#page=129 http://#page=144 http://#page=173 4 Caso 1 Inicialmente, os “amigos” acharam que fazia par te da encenação e não deram bola; já o dono do bar, o único no recinto que não estava bêbado, percebeu a gravidade da si tuação e acionou a ambulância do Corpo de Bombeiros. Jorge foi prontamente removido para o hospi tal, recebendo o atendimento inicial na ambulância. Lá chegando, foi imediatamente levado à Sala de Trauma, apresentando o seguinte exame de admissão: Copa do Mundo, mesa de bar, amigos reunidos para uma confraternização em frente à TV. Empolgado com o desempenho da Seleção, Jorge, lá pela décima dose de cachaça do dia, disse ter praticado salto em altura na adolescência e resolveu imi tar as defesas do goleiro brasileiro. O esperado por todos aconteceu: ao tentar a primeira acrobacia, eis que Jorge cai de cabeça no chão, para riso geral. O que ninguém esperava, porém, é que ele perderia os sentidos.. . - Paciente torporoso, com aber tura ocular aos estímulos dolorosos, balbuciando sons incompreensíveis, com reflexo de retirada à dor. Anisocoria com midríase à direi ta. - Corado, hidratado, acianótico, eupneico em ambiente. - PA = 150 x 100 mmHg, FC = 54 bpm, FR = 14 irpm. - SpO 2 (oxímetro de pulso) = 96%. - Exame cardiovascular, respiratório, abdominal e de membros sem outras alterações. Chegando ao local do acidente, quais são os primeiros cuidados que o médico deve ter com o paciente? Você acha que deveria ter sido indicada via aérea ar tificial para Jorge? http://#scrolldown http://#page=255 http://#page=256 5 Caso Jorge, além das alterações descri tas, apresentasse fratura maxilofacial extensa, qual seria sua escolha para obtenção de via aérea defini tiva? E se ele também apresentasse fratura de laringe, você mudaria sua conduta? E se, durante o procedimento listado na questão anterior, o paciente entrasse em apneia, qual seria sua conduta? Uma hora após o procedimento listado na questão 4, o paciente apresenta deterioração ainda maior do nível de consciência, embora o status hemodinâmico esteja preservado. Excluindo causas neurológicas, qual seria o outro fator desencadeante provável? O enunciado a seguir servirá para os casos clínicos 2 e 3: Francirene trabalha há 8 anos como assistente do atirador de facas em um circo e nunca se feriu. Em mais um dia de espetáculo, que prometia ser igual a todos os outros, Jeancleiton, o atirador, erra uma faca e perfura a base de seu hemitórax esquerdo... Francirene é imediatamente levada ao hospi tal e apresenta, à admissão, o exame físico a seguir: - Paciente hipocorada ++/4+, desidratada +/4+, acianótica, taquidispneica, com esforço respiratório e turgência jugular. Traqueia desviada para a direi ta. - Aber tura ocular espontânea, discurso confuso, mobilizando ativamente todos os membros. - PA = 80 x 50 mmHg, FC = 114 bpm. FR = 28 irpm. Caso 2 - Murmúrio vesicular abolido no hemitórax esquerdo e percussão hiper timpânica. Enfisema subcutâneo próximo ao local da ferida. - Ri tmo cardíaco regular em 2 tempos, bulhas normofonéticas. - Exame do abdome e membros sem alterações. Qual é o diagnóstico mais provável no caso apresentado? http://#scrolldown http://#page=257 http://#page=258 http://#page=259 http://#page=260 6 Você solici taria algum exame complementar para confirmar este diagnóstico? Por quê? Qual deve ser a conduta inicial no caso apresentado? Qual é o tratamento defini tivo da condição apresentada na questão 1? Cerca de 1 hora após o procedimento proposto na questão anterior, que foi realizado sem dificuldade técnica, a paciente, já intubada e em ventilação mecânica, mantém hipotensão ar terial (70x30 mmHg) e turgência jugular, refratária à reposição volêmica, sendo iniciada noradrenalina através de cateter femoral. É realizada uma radiografia de tórax, que evidencia tubo orotraqueal e dreno de toracostomia bem posicionados, com pulmão esquerdo colabado. Qual é o diagnóstico provável? Justifique. Qual é o método diagnóstico preferido para a condição listada na resposta anterior? Qual é o tratamento da condição apresentada na questão 5? Como poderíamos tentar estabilizar o quadro respiratório da paciente antes de submetê-la a este tratamento? Caso 3 Francirene é imediatamente levada ao hospi tal e apresenta, ainda na ambulância do GSE, o exame físico a seguir: - Paciente hipocorada ++/4+, desidratada +/4+, acianótica, com turgência jugular. - Abertura ocular espontânea, agitada, mobilizando ativamente todos os membros. - PA = 80 x 50 mmHg, FC = 114 bpm. FR = 16 irpm. - Murmúrio universalmente audível, sem ruídos adventícios. - Ritmo cardíaco regular em 2 tempos, bulhas hipofonéticas. - Exame do abdome e membros sem alterações. http://#scrolldown http://#page=261 http://#page=262 http://#page=263 http://#page=264 http://#page=265 http://#page=266 7 Qual é o diagnóstico mais provável no caso apresentado? Qual deve ser a conduta inicial? Qual o exame a ser solicitado, na chegada ao hospital, para confirmar o diagnóstico inicial? Qual é o tratamento defini tivo da condição apresentada na questão 1? Caso 4 Manuel e Maria estão comemorando seus 30 anos de casamento! Embalados ao som do “Vi- ra-Vira” de Rober to Leal, todos se far tam com vinhos, bolinhos de bacalhau e pastéis de Belém. Maria realmente era uma bela “rapariga”, chamava a atenção de todos e Joaquim, primo distante e antigo desafeto de Manuel, não parava de olhar para ela. Ao perceber o fato, Manu- el tratou de tirar satisfação! Foi quando a briga começou no meio do salão... E, no momento em que todos já achavam que a discussão tivesse acabado, Joaquim desfere um soco pelas costas em Manuel que cai desacordado. Para a surpresa de todos, Maria ao ver seu amado caído no chão, retira a faca do bolo que acabara de partir e crava no abdome de Joaquim. Joaquim foi levado à emergência, apresentando o exame a seguir: - Lúcido, corado, desidratado +/4+, eupneico, com estabilidade hemodinâmica. - Ferida perfurocontusa no quadrante superior direito do abdome, sem evisceração ou sinais de peritonite. Qual é o órgão mais lesado no trauma abdominal penetrante por arma branca? Existe indicação imediata de laparotomia? Justifique. E se, ao invés de uma facada, o paciente apresentasse uma lesão por PAF, qual órgão seria o mais acometido? A conduta seria a mesma? http://#scrolldown http://#page=267 http://#page=268 http://#page=269 http://#page=270 http://#page=271 http://#page=272 http://#page=273 8 Caso 5 João recuperou os sentidos dentro da ambulância e chegou ao hospi tal com for te dor abdominal e, ao exame físico, apresentava abdome doloroso, com descompressão também dolorosa, PA = 80 x 40 mmHg, FC = 120 bpm, restante do exame físico sem alterações. João, 27 anos, zagueiro mais famoso do clube da cidade, estava mui to feliz pela disputa da final do campeonato regional. O jogo estava correndo bem e faltavam poucos minutos para garantirem o caneco... No entanto, numa cobrança de falta do time adversário, João que estava no meio da barreira, recebeu o impacto da bola a 120 km/h sobre o abdome e caiu, desacordado... Qual deve ser a conduta inicial no caso apresentado? Justifique. Qual é o órgão mais comumente lesado neste tipo de trauma? Aponte dois achados de exame físico que estão comumente presentes no traumatismo do órgão listado na questão anterior. Caso o paciente apresentasse estabilidade hemodinâmica e tivesse exame abdominal sem alterações, qual seria a sua conduta? http://#scrolldown http://#page=274 http://#page=275 http://#page=276 http://#page=277 9 Caso 6 Geberson, 33 anos, professor de ar tes marciais da pacata cidade de Pequenópolis, animado com o sucesso do MMA, resolve se preparar para entrar no octógono. A luta se- ria televisionada e toda a cidade estava ansiosa para ver o seu representante que poderia fazer história… Mas o sonho não durou muito tempo. O nosso lutador recebeu um chute giratório que o acer tou em cheio no rosto. Neste momento, Geberson perdera os sentidos e ao cair, bateu for temente com a par te lateral da cabeça. Com isso, a luta foi interrompida e ele teve de ser levado ao hospital. Durante o percurso, Geber- son retomou os sentidos e até queria voltar para a luta. No entanto, cerca de 15 minutos depois, ficou tonto e perdeu a consciência novamente. Já no hospital, apresentou o seguinte exame: Paciente comatoso, sem aber tura ocular, balbuciando sons incompreensíveis, com postura de flexão anormal dos membros. Anisocoria com midríase à esquerda. Estável hemodinamicamente e sem outras alterações ao exame físico. Calcule a escala de Glasgow de Geberson e classifique seu TCE em leve, moderado ou grave. Após as medidas iniciais, Geberson seguiu para a tomgrafia computadorizada e o resultado é mostrado a seguir: A par tir da TC e do caso apresentado, qual seria a sua principal hipótese diagnóstica? Justifique. Você seria capaz de identificar o vaso que provavelmente foi lesado? http://#scrolldown http://#page=278 http://#page=279 http://#page=280 10 Após sofrer o trauma, ainda na ambulância, Geberson perdeu a consciência, recuperou os sentidos e voltou a perder a consciência, chegando ao hospi tal em coma. Como você chamaria esse “fenômeno”? Se a TC realizada tivesse apresentado essa outra imagem (projeção) qual seria agora a sua hipótese diagnóstica? De acordo com a sua principal hipótese, qual seria a conduta neurocirúrgica neste momento? Justifique. Quais os fatores de risco para este tipo de lesão? Você, já residente, está em mais um dia agitado de plantão no CTI, quando é solicitado pela enfermagem para fazer a admissão de um paciente oriundo da Emergência. Trata-se de um motociclista de 20 anos, que estava sem capacete e bateu a cabeça contra o meio-fio após colidir contra um caminhão. O paci- ente já recebeu o primeiro atendimento e foi avaliado pela equipe da Neurocirurgia na Emergência: a TC de crânio apontou para a presença de um hematoma epidural, com indicação cirúrgica. Uma vez que não havia sala de cirurgia disponível naquele momento, decidiram então encaminhá-lo ao CTI, já com ventricu- lostomia instalada, uma vez que não há previsão para liberação das salas em uso. Você faz um breve exame físico: paciente intubado em modo VCV, sem sedação, mal adaptado à ventilação mecânica, com postura de decor ticação e aber tura ocular ao estímulo álgico. Afundamento craniano em região temporoparietal di- reita, anisocoria com dilatação pupilar à direita, exame de tórax e abdome sem alterações aparentes, PA = 160x100 mmHg, FC = 50 bpm, SatO 2 (oxímetro de pulso): 98%. Peso aproximado do paciente: 60 kg. PIC (ventriculostomia): 70 mmHg. Prescrição O residente da Neurocirurgia virá em breve para ajudá-lo no manejo da ventriculostomia. Enquanto isso, faça a prescrição inicial deste paciente. http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-PRESCRICAO_MEDICA_MEDCIR08_2017 http://#page=248 http://#page=281 http://#page=282 http://#page=283 http://#page=284 11 Você é o interno de plantão na emergência quando um homem de 19 anos é levado ao pronto-socorro após ser agredido com arma branca. No momento, encontra-se estável hemodinamicamente. Ele apresenta uma lesão dorsal, paramediana direita, medindo cerca de 5 cm de extensão. O residente que faz a avaliação inicial não encontra outras lesões, mas informa que o paciente muito provavelmente apresenta hemissecção medular plena à direita, de acordo com o exame físico realizado... Considerando que a hipótese diagnóstica esteja correta, você espera que esse paciente apresente algumas alterações do exame físico... Em qual membro inferior (direito ou esquerdo) você esperaria encontrar as alterações a seguir? Paresia: Perda do tato discriminativo: Perda da propriocepção: Perda da sensibilidade vibratória: Perda da sensibilidade térmica: Perda da sensibilidade álgica: http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-DESAFIO_DIAGNOSTICO_MEDCIR08_2017 http://#page=285 http://#page=286 12 Se o paciente apresenta reflexo patelar íntegro e aquileo ausente no membro inferior direi to, qual é o provável nível da lesão medular? Você iniciaria metilprednisolona para este paciente? Justifique. E se a lesão medular fosse não penetrante, você iniciaria metilprednisolona? Caso afirmativo, qual seria a dose e durante quanto tempo manteria a droga? http://#scrolldown http://#page=287 http://#page=288 http://#page=289 Cirurgia - Volume 8 13Medgrupo - CiClo 2: M.E.D abordagem da vítima de trauma deve ser de domínio de todos nós, e não apenas dos médicos que trabalham em equipes de resgate e cirurgiões, já que nunca sabemos quando precisaremos desse conhecimento - além de, é claro, ser matéria sempre cobrada em provas. Começaremos pelo atendimento inicial ao politraumatizado e depois passaremos aos capítulos específicos (tórax, abdome, TCE, etc). Por fim, estudaremos as queimaduras, cujo manejo frequentemente se aproxima ao do paciente politraumatizado. trauma 13 ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO A AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: A: Vias aéreas e estabilização da coluna cervical • A estabilização da coluna é a prioridade! • Em caso de cianose, cornagem, esforço respi- ratório importante laringoscopia direta para aspiração de secreção e remoção de corpos estranhos. Indicações de via aérea artificial (intubação orotraqueal, crico, traqueostomia): • Apneia. • Proteção das vias aéreas inferiores contra aspiração de sangue ou conteúdo gástrico. • Comprometimento iminente das vias aéreas (por exemplo, lesão térmica por inalação, fra- turas faciais ou convulsões reentrantes). • TCE grave: Glasgow ≤ 8. • Incapacidade de manter oxigenação adequada com ventilação sob máscara. A intubação orotraqueal é a via aérea definiti- va mais utilizada.Suas contraindicações são: • Trauma maxilofacial extenso. • Distorção anatômica resultante de trauma no pescoço. • Incapacidade de visualização das cordas vocais devido ao acúmulo de sangue e secreções ou pelo edema da via aérea. Quando a intubação não for possível, a indica- ção é de via aérea cirúrgica. A cricotireoidosto- mia cirúrgica é preferível à traqueostomia, exce- to em duas situações: fratura de laringe e idade < 12 anos. Se o paciente está em apneia (“su- foco total”), devemos fazer uma cricotireoidos- tomia por punção até conseguirmos a via aérea cirúrgica. A crico por punção não é contraindi- cada em crianças. *Fique atento durante a leitura do capítulo, pois vamos discutir com detalhes a fratura de laringe que até pouco tempo era considerada contraindicação!!! B: Respiração e ventilação • Fornecer oxigênio suplementar. • Examinar o tórax. • Pneumotórax Hipertensivo, Pneumotórax Aberto Atendimento inicial ao politraumatizado http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 14Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Antes de começarmos, veja como esse conceito do ABCDE é importante! RESIDÊNCIA MÉDICA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Menino, 9 anos, chega ao hospital após que- da do telhado há 40 minutos; mãe refere per- da da consciência por 5 minutos, seguida de vômitos, confusão mental e sonolência. Exame físico: hematoma em região temporoparietal esquerda, palidez cutaneomucosa, pulsos fi- nos, pupilas anisocóricas, Escala de Coma de Glasgow = 8. A PRIMEIRA CONDUTA É: a) Realizar tomografia de crânio. b) Realizar radiograma de crânio e, se evidên- cia de fratura, tomografia de crânio. c) Puncionar veia periférica e administrar de- xametasona. d) Intubação orotraqueal. Não tem como errar, no atendimento ao paciente vítima de trauma devemos seguir o ABCDE e no A devemos estabilizar a coluna cervical e garantir a via aérea do paciente.... Muitas vezes, uma via aérea artificial é neces- sária!!! Gabarito D. Vamos discutir esse con- ceito com mais detalhes durante a sua leitura. E é sempre a mesma coisa!!! RESIDÊNCIA MÉDICA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP Homem de 19 anos foi vítima de politrauma- tismo por acidente com motocicleta. Exame físico: inconsciente, FC 140 bpm, FR 25 mpm, PA 80 x 40 mmHg, palidez cutânea, pulso fino, MV presente e diminuído à esquerda, abdome reativo com escoriações em flanco esquerdo. e Tórax Instável podem causar deterioração clínica e morte precoce caso não sejam iden- tificados e tratados precocemente (armadilhas da fase B). C: Circulação (avaliação hemodinâmica) • Todo paciente politraumatizado e chocado deve ser considerado, até segunda ordem, portador de choque hipovolêmico hemorrágico. • Outras causas de choque incluem o pneu- motórax hipertensivo, o hemotórax maciço, o tamponamento cardíaco, a contusão miocár- dica, o choque neurogênico, a insuficiência suprarrenal. A primeira medida do item C deve ser a com- pressão de feridas sangrantes. Depois, puncionar acesso venoso (preferen- cialmente veias periféricas com “jelcoR” de grosso calibre e curto): • Veias preferidas para punção = 2 acessos calibrosos no dorso das mãos, antebraço. • Opções: jugular externa, safena magna (dis- secção), acesso central, acesso intraósseo. • Em caso de choque, a ressuscitação se faz com um bolus de 1 a 2 litros de ringer lactato (ou 20 ml/kg para a criança), se possível aquecido. • A roupa pneumática antichoque (MAST) é indi- cada para pacientes hipotensos com suspeita de fratura pélvica instável ou fratura proximal de ossos longos. D: Avaliação neurológica • Escala de coma de Glasgow, avaliação pupi- lar e a observação de movimentos ativos de extremidades. • Várias são as causas de alteração do nível de consciência no paciente politraumatizado; devemos sempre nos lembrar da hipoxemia, hipotensão, uso de álcool e drogas. Excluídas essas causas, alterações do exame neuroló- gico devem ser atribuídas a traumatismo do sistema nervoso central. E: Exposure • Examinar o paciente dos pés à cabeça. • Controle do ambiente (Environment) para pre- venir a hipotermia. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: • Exame físico completo. • Fase dedicada aos exames complementares, como radiografias, laboratório, lavado peritone- al diagnóstico, além da instalação de cateteres. A primeira conduta é: a) Solicitar ultrassonografia abdominal e ava- liação do cirurgião. b) Iniciar reposição volêmica com infusão rápida de cristaloide aquecido a 39°C. c) Garantir a permeabilidade das vias aéreas. d) Realizar punção de alívio em hemitórax esquerdo. Viu, sempre o ABCDE! Gabarito C. TRAUMA Definição – Conforme o Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões: lesão carac- terizada por alterações estruturais ou desequilí- brio fisiológico, decorrente de exposição aguda a várias formas de energia (mecânica, elétrica, térmica, química, irradiações). Afeta superficial- mente partes moles ou lesa estruturas nobres e profundas do organismo. Etiologia – Dentre as causas de trauma em nos- so país, os homicídios (ou tentativas) respondem pela maioria dos casos, seguidos por acidentes com veículos de transporte. Epidemiologia – Nas estatísticas de morta- lidade no Brasil, o trauma é a principal causa de óbito entre 1 e 40 anos de idade. É também considerado a maior causa de anos potenciais de vida perdidos. Quais são as causas de morte no trauma? Para facilitar o entendimento sobre as causas de morte decorrente do trauma, dividiu-se as causas em 3 momentos de óbito e, com isso, conseguimos relacionar as causas, com o momento em que elas ocorrem e o qual seria a melhor maneira de se evitar essas mortes. A esse conceito damos o nome de DISTRI- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 15Medgrupo - CiClo 2: M.E.D BUIÇÃO TRIMODAL das causas de morte no trauma. As estatísticas podem variar, mas geralmente são, aproximadamente, as seguintes: • Primeiro momento: 50% dos óbitos ocor- rem segundos ou minutos após o trauma: lesões de aorta, coração, tronco encefálico, medula espinhal, insuficiência respiratória aguda... Dessa maneira, mesmo que todo trauma fosse abordado de forma ideal, di- ficilmente conseguiríamos evitar metade dos óbitos! A principal estratégia a ser em- pregada nessa situação são as políticas de prevenção e controle dos danos (ex.: Lei Seca, uso obrigatório do cinto de seguran- ça, obrigatoriedade de air bags, etc). • Segundo momento: 30% dos óbitos ocor- rem em horas: são lesões potencialmente tratáveis. Algumas lesões abdominais, fra- turas pélvicas, hemopneumotórax, hemato- mas epidural e subdural. Esses pacientes são os que mais se beneficiam de uma abordagem rápida e sistemática. Aqui, um atendimento de qualidade pode reduzir contundentemente o número de mortes. O grande enfoque do ATLS está aqui, nota- damente, na primeira hora de abordagem a esses pacientes (golden hour). • Terceiro momento: O restante das mortes ocorre após 24 horas, variando de dias a semanas após o acidente. Ou seja: nesses casos predominariam as complicações relacionadas ao trauma. A principal causa de morte nessa situação são as infecções, seguidas pelo tromboembolismo pulmonar. Veja a figura a seguir, que expõe a mortalidade por trauma em determinada região dos EUA (N = número de óbitos): Antes de começar, vamos ver duas questões que exemplificam o que acabamos de ler: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES Adolescente politraumatizado foi trazido pelo serviço médico de remoção móvel em venti- lação mecânica de transporte, com 2 acessos venosos e hemodinamicamente estável. De repente soou o alarme da oximetria de pulso pela hipóxia e taquicardia. São causas prová- veis do evento, EXCETO: a) Falha no equipamento. b) Obstrução do tubo orotraqueal. c) Deslocamento do tudo orotraqueal. d) Infecção. e) Pneumotórax. Se o paciente acabou de sofrer o acidente, como dá a entender o enunciado da questão, certamente infecção não é uma opção plausível...Resposta D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – ESPCE Assinale a afirmativa CORRETA sobre a mor- talidade no trauma. a) Metade das causas de morte ocorre dentro de segundos ou minutos depois do trauma de- vido a lesões cardiovasculares ou neurológicas. b) Existem dois picos máximos de mortalidade pós-trauma; o primeiro por causa respiratória e outro vascular. c) As análises sobre a eficiência nos sistemas de atendimento pré-hospitalar têm mostrado redução na mortalidade acima de 50%. d) O terceiro pico de incidência de mortalida- de pós-trauma se deve a infecção e embolia pulmonar. Esta sendo a maior causa na mor- talidade em centros com excelentes serviços de atendimento ao trauma. e) Excelência no planejamento ao atendimento hospitalar em trauma reduzirá especificamente o primeiro pico de incidência de mortalidade. Questão simples sobre o que acabamos de estudar: resposta letra A. Uma observação importante: por mais que o nosso atendimento pré-hospitalar e o nosso centro de trauma se- jam excelentes, dificilmente teremos impacto importante na mortalidade do “primeiro pico”, já que esta decorre, na maioria das vezes, de lesões “intratáveis” (ruptura aórtica, lesão extensa de tronco encefálico ou medula, etc). A melhoria das condições de atendimento à vitima de trauma terá bem mais impacto no 2º e no 3º picos de mortalidade... Sem perder muito tempo, vamos come- çar o atendimento da vítima de trauma. Em questões de prova geralmente este indivíduo é um politraumatizado. Segui- remos as últimas edições do Sabiston e do Schwartz, sem nos esquecermos do renomado ATLS (Advanced Trauma Life Support), do Colégio Americano de Cirur- giões, que já está em sua 9ª edição. Como veremos a seguir, o atendimento ini- cial ao politraumatizado pode ser dividido em avaliação primária (o ABCDE do trauma) e secundária... http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 16Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Fique Atento: Antes de iniciar o nosso estudo da ava- liação primária, fique atento a essas duas definições que podem estar presentes nas provas: PACIENTE POLITRAUMATIZADO: apresenta lesões em dois ou mais sistemas de órgãos, sendo que pelo menos uma dessas lesões apresenta um risco vital para o paciente. Por exemplo, lesão torácica + lesão abdominal ou lesão abdominal + fratura de ossos longos, entre outras combinações. TRIAgEM: avaliar os pacientes e o tipo de trata- mento necessário, indicando a ordem de atendi- mento de cada vítima. Na avaliação do trauma, dois cenários são possíveis: 1º – número de vítimas menor do que a capaci- dade de atendimento: nesses casos, como todos os pacientes serão atendidos, os primeiros a serem avaliados são os mais graves, com risco iminente de óbito. 2º – número de vítima excede a capacidade de atendimento (desastre): nesses casos, as vítimas com maior probabilidade de sobreviver (menos graves) devem ser atendidas primeiro. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA A avaliação primária tem como objetivos a identificação e o tratamento prioritário das le- sões que implicam em maior risco de morte. Esta primeira etapa deve ser sempre condu- zida através do ABCDE, um mnemônico de fácil emprego que deve ser conhecido por todo médico. Não confundir o “ABCDE do Trauma” com o ABCD ou CABD da Reanimação Car- diopulmonar, que tem significado diferente. A vítima de trauma deve ser abordada inicial- mente de acordo com o ABCDE do Trauma. Caso seja identificada uma parada cardiorres- piratória, passamos imediatamente às mano- bras de reanimação cardiopulmonar – que não serão abordadas nesta apostila. ABCDE do Trauma A Airway Estabilização da coluna cervical e vias aéreas B Breathing Respiração e ventilação C Circulation Circulação (avaliação hemodi- nâmica) D Disability Incapacidade (avaliação neuro- lógica) E Exposure Exposição e controle da hipoter- mia Vamos então ver cada item do ABCDE do Trauma: A Pois bem, esse mnemônico já é conhecido de vocês desde a época de acadêmicos e esta- giários no pronto-socorro. Mesmo assim, te- mos que atentar para não errar questões que envolvem este assunto. Vamos com calma. Toda vez que estamos frente a um politrauma- tizado, não interessando quantos ossos foram fraturados, quantos órgãos internos lesados, se o indivíduo está com a sua perna em cima do poste ou no assento traseiro do veículo – a primeira medida a ser tomada é sempre referente à letra A, não esqueça! Qualquer outro esforço para estabilizar o paciente antes da verificação das vias aéreas será realizado em vão, já que a hipoxemia matará o paciente mais rapidamente que qualquer outra causa... A = airway = Estabilização da coluna cervical e avaliação das vias aéreas Vamos agora analisar essas questões: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ – PR Num dado paciente de 17 anos, masculino, vítima de atropelamento, com fratura exposta e cominutiva de perna esquerda, com sangra- mento ativo e FC: 120/min, FR: 30/min e TA: 90 x 70 mmHg. Qual é o primeiro procedimen- to a ser tomado? a) Obtenção de acesso venoso calibroso nos membros superiores e infusão de 2L de Rin- ger-lactato aberto. b) Limpeza rápida, curativo compressivo do sangramento externo com alinhamento do membro e verificação do status neurovascular do mesmo. c) Aplicação de torniquete por manguito (es- fignomanometro) acima do ponto de sangra- mento até a parada da hemorragia. d) Verificação da permeabilidade das vias aé- reas; oferta de oxigênio suplementar e imobi- lização cervical. e) Nenhuma das respostas acima. Aí ficou fácil!!! Sempre, sempre, sempre ABCDE.... Gabarito letra D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP A prioridade durante o atendimento primário de um paciente politraumatizado que apresen- ta-se hipotenso é: a) Estabelecer acesso venoso. b) Pesquisa imediata de focos de sangramen- to ocultos. c) Permiabilidade das vias aéreas. d) Realizar exame neurológico rápido. Que falta de imaginação!!! Não tem como errar... Trauma = ABCDE. Gabarito C. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 17Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2004 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMUSP Pessoa vítima de colisão de autos deu entra- da no pronto-socorro apresentando redução do nível de consciência e cianose. Ao exame físico: frequência respiratória (FR) de 36 irpm; pulso e frequência cardíaca (FC) de 136 bpm; pressão arterial (PA) de 80x60 mmHg; lacera- ções na face e no pescoço, sem apresentar deformidade anatômica expressiva; contusão torácica com respiração paradoxal bilateral e fratura no membro superior direito. A primeira conduta a ser adotada é a realiza- ção de: a) Radiografia de tórax com aparelho portátil. b) Tipagem sanguínea. c) Inspeção, aspiração da orofaringe e venti- lação com máscara e oxigênio suplementar. d) Verificação da amplitude dos movimentos passivos do pescoço e das extremidades. e) Drenagem bilateral de tórax. Reparem que é pintado um quadro aterro- rizante. O que fazer primeiro? É muito sim- ples, perceba pelo jeitão do enunciado que essa é uma questão que exige a aplicação do ABCDE. Sendo assim, a opção mais do que correta é a C. Agora, sem dúvida nenhuma, existem ques- tões um pouco mais difíceis, como esta da UNIFESP: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem, 33 anos de idade, vítima de acidente entre automóvel e motocicleta, a um quarteirão do hospital, é trazido pela polícia em viatura comum. Deu entrada no pronto-socorro, em cadeira de rodas, hálito alcoólico, com rebai- xamento importante do nível de consciência, com movimentação dos membros a estímu- los dolorosos. Sangramento nasal devido a uma laceração, deformidade da mandíbula e do arco zigomático direito com equimose periorbitária. Apresenta sangramento intenso pela boca. Sua respiração é difícil e ruidosa. Pressão arterial de 90 x 60 mmHg, frequência cardíaca de 105 bpm, saturação de O2 = 85% em ar ambiente.À palpação do tórax, apre- senta crepitação dos últimos arcos costais à direita, escoriação e equimose em hipocôndrio e flanco direitos. A sondagem vesical revelou hematúria. Na avaliação inicial deste politrau- matizado, além de assegurar a permeabilidade das vias aéreas, cite dois procedimentos que devem ser adotados. Temos uma vítima de politrauma com im- portante rebaixamento do nível de consciência (Glasgow certamente < 8), trauma de face e equimose periorbitária (achado que sugere trauma de base de crânio); além disso, en- contra-se alcoolizado e com respiração difícil e ruidosa. Ninguém duvida da necessidade imediata de se assegurar uma via aérea des- se paciente, que já foi obtida de acordo com o enunciado. Nosso próximo passo, dentro do ABCDE, é ainda nos fixarmos no “A”, ou seja, estabilização da coluna cervical. Deve- mos sempre considerar o politraumatizado e principalmente aqueles com queda do nível de consciência, como portadores de uma poten- cial lesão à coluna cervical. Contudo, a coluna cervical só é imobilizada de forma correta com o emprego do colar cervical junto com a fixa- ção da cabeça com coxins laterais na prancha rígida (ou longa ou de resgate). Esta última deve ser utilizada para o transporte da vítima. GABARITO OFICIAL UNIFESP: Prancha rígi- da OU prancha de resgate - Colar cervical OU estabilização da coluna cervical. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG – PSU MG Um médico do serviço de resgate retornava para casa quando presenciou colisão de auto- móvel de passeio na traseira de caminhão. O acidente ocorreu em uma via com grande fluxo de tráfego e velocidade máxima permitida de 80 km/h. Foi o primeiro a se aproximar do veí- culo acidentado, percebendo que o motorista do automóvel apresentava- se inconsciente, com sangramento profuso na cabeça e com dificuldade respiratória. A conduta inicial ime- diata deveria ser: a) Administrar oxigênio suplementar. b) Colocar colar cervical e manter vias aéreas pérvias. c) Puncionar veia periférica e administrar ime- diatamente cristaloide. d) Sinalizar a via de tráfego. Excelente questão! Para você que veio “no embalo”, cuidado... Essa questão nos ajuda a relembrar que a ordem preconizada no aten- dimento pré-hospitalar ao politraumatizado é um pouco diferente do atendimento na sala de trauma. Apesar de seguir o mesmo “ABCDE”, antes de socorrer o paciente em uma rodovia devemos sempre garantir nossa segurança sinalizando a via! Opção correta “D”. A primeira medida a ser tomada é sempre a estabilização da coluna cervical no caso de suspeita de lesão da medula espinhal. Na prática, todos acabam recebendo essa esta- bilização... Os principais indicadores seriam: trauma com lesões multissistêmicas, trauma com grande componente cinético, paciente sintomático (dor cervical, deficit neurológico) ou inconsciente. Ela é realizada com a colo- cação de um colar cervical rígido. No entan- to, o colar rígido de maneira isolada permite algum movimento lateral da cabeça, assim como pequena rotação e movimentação an- teroposterior. Desta forma, além do colar, o ideal é colocar o paciente em prancha rígida e colocarmos coxins laterais de sustentação. Lembre-se que colares cervicais “moles” são uma “aberração” na abordagem ao trauma e não devem ser utilizados... Nesse caso, a estabilização manual efetuada por um dos so- corristas é preferível (técnica de estabilização http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 18Medgrupo - CiClo 2: M.E.D inline) – FIgURA 1. Ou seja, o “padrão-ouro” é a estabilização com colar e prancha rígida, mas se não for possível, a simples estabiliza- ção manual é indicada. Figura1: Técnica de estabilização inline. Em seguida, devemos observar as vias aé- reas: ela está pérvia? E a melhor maneira de se avaliar é através da fonação – se o paciente estiver consciente, falando e eupneico é im- provável que haja obstrução significativa! Por isso sempre perguntamos o nome do paciente na avaliação inicial... No entanto existem algumas exceções a essa regra! São situações em que o paciente provavelmente evoluirá com obstrução de via aérea, mesmo que não haja nenhuma evidência de obstrução no momento, as principais seriam: • Trauma penetrante de pescoço com hema- toma em expansão. • Evidência de lesão química ou térmica na boca, narinas ou hipofaringe. • Enfisema subcutâneo extenso no pescoço. • Trauma maxilofacial complexo. • Sangramento ativo em via aérea. Em todo politraumatizado devemos buscar qualquer indicativo de obstrução de via aé- rea, como cianose, cornagem ou esforço respiratório. Frente a esses sinais passamos à laringoscopia direta para aspiração de se- creção e remoção de corpos estranhos. Em pacientes com nível de consciência redu- zido, a queda da base da língua pode ser res- ponsável pela obstrução. Aqui, semelhante ao preconizado no BLS, o socorrista pode lançar mão das manobras de Chin Lift e Jaw Thrust, sendo a primeira preferida por evitar o risco de lesão cervical. As cânulas orofaríngeas (Guedel) ou nasofaríngeas também podem ser empregadas com esse intuito. Contudo, a despeito de todos esses esforços, esse tipo de paciente provavelmente necessitará de uma via aérea artificial... Mas o que significa o termo via aérea artificial? Muito fácil, é simplesmente lançarmos mão de uma medida que garanta a oxigenação e a ventilação de um paciente crítico. As várias formas de acessarmos a via aérea incluem os métodos não cirúrgicos (como a intubação orotraqueal) e os cirúrgicos (traqueostomia e cricotireoidostomia cirúrgica). Lembrando sempre que a via aérea artificial pode ser defi- nitiva ou temporária!!! E fique atento para não ser enganado, pois via aérea definitiva não significa aquela que será utilizada definitiva- mente por toda a vida do paciente, mas sim, uma via que protege a via aérea do pacien- te. Já a temporária não protege. Mas como assim, protege a via aérea??? Proteção con- tra a broncoaspiração. Ou seja, para uma via aérea artificial ser considerada definitiva, ela deve apresentar uma balonete insuflável den- tro da traqueia (intubação orotraqueal, cricoti- reoidostomia cirúrgica, traqueostomia). Já as temporárias não têm esse balonete insuflável (cricotireoidostomia por punção, máscara la- ríngea, combitubo). Afinal, é intubação ou entubação? Teoricamente as duas formas estão corretas, mas utilizaremos “intubação” por ser a mais comum na literatura médica. Voltando ao assunto, quais são as principais indicações de acesso artificial à via aérea? Veja a tabela: • Apneia. • Incapacidade de manutenção da via aérea devido à queda do nível de consciência. • Proteção das vias aéreas inferiores contra aspiração de sangue ou conteúdo gástrico. • Comprometimento iminente das vias aéreas (por exemplo, lesão por inalação, fraturas fa- ciais ou convulsões reentrantes). • TCE grave com Glasgow ≤ 8. • Incapacidade de manter oxigenação adequada com ventilação sob máscara. Quais são os principais métodos que em- pregamos para acessar a via aérea? Veja esta nova tabela: (1) Métodos para intubação endotraqueal: • Intubação orotraqueal (método de escolha, salvo contraindicações); • Intubação nasotraqueal. (2) Cricotireoidostomia por punção. (3) Acessos cirúrgicos: • Cricotireoidostomia cirúrgica; • Traqueostomia. Quando você intubar um paciente vítima de trauma, ele provavelmente estará com o es- tômago “cheio”. Uma maneira fácil de reduzir o risco de broncoaspiração é pedindo que algum integrante da sua equipe comprima a cartilagem cricoide durante a intubação, de modo a “fechar” o esôfago... esta é a manobra de Sellick. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 19Medgrupo - CiClo 2: M.E.D • Todo o cuidado é pouco quan- do realizamos a intubação orotraqueal, caso contrário, colocamos em risco a coluna cervical de nosso paciente: a indução rápida sequencial, um método anestésico, permite uma intubação rápida e não traumáti-ca, combinando anestésicos de ação rápida, como o etomidato, e bloqueadores neuromuscula- res, como a succinilcolina. Neste procedimento, a hiperextensão da coluna cervical não é necessária, sendo uma abordagem utilizada com frequência por profissionais experientes. Para facilitar o pro- cedimento, o colar cervical pode ser rapidamente retirado, sendo a estabilização cervical mantida por um socorrista que apoiará a cabeça do paciente bilateral- mente (estabilização inline). Veja no quadro abaixo mais detalhes sobre a sequência rápida. • A intubação nasotraqueal re- quer um paciente alerta e cola- borativo, sendo pouco utilizada. É contraindicada no paciente em apneia ou com trauma de face (pelo risco de falso trajeto). • Apesar de algumas referências darem preferência à intubação orotraqueal, o ATLS preconiza que, salvo as contraindicações de cada método, o principal determinante para o tipo de intubação a ser feita é a experiência do médico – que, na grande maioria das vezes, é maior com a intubação orotraque- al... Mas fique atento, pois a última edição do Sabiston coloca a IOT como método de escolha. Veja a representação desta manobra na FIgURA 2. Figura 2 Tudo bem, já sei que a intubação orotra- queal é o método mais utilizado para aces- so definitivo à via aérea. Mas quando ela não deve ser utilizada? • Trauma maxilofacial extenso. • Distorção anatômica resultante de trauma no pescoço. • Incapacidade de visualização das cordas vocais devido ao acúmulo de sangue e se- creções ou pelo edema da via aérea. • Laceração aberta da laringe/traqueia. * Até pouco tempo atrás a IOT era contra indicada nos casos de fratura de laringe. No entanto, as últimas edições do Sabiston e do ATLS alteraram este conceito. Fique tran- quilo pois vamos discutir essas novidades mais adiante. O que fazer nesses casos, então? Nesses casos devemos fazer um acesso ci- rúrgico à via aérea, por cricotireoi dostomia, preferencialmente cirúrgica. Porém, uma observação importante: se o paciente tem contraindicação à intuba- ção e necessita de acesso às vias aéreas de forma mais do que imediata (como na ocorrência de apneia), a cricotireoidosto- mia por punção deve ser empregada, a fim de que o paciente possa “esperar” pela via aérea cirúrgica. Este método consiste na punção da traqueia através da membrana cricotireoide com um cateter agulhado, que pode ser um extracath® ou um jelco® 12 ou 14 (16 ou 18 em crianças). Este cateter é então acoplado a uma fonte de oxigênio (15 L/min) em alta pressão (40 a 50 psi) e a uma cânula em “Y” ou a um tubo com um furo lateral. O funcionamento se dará da seguin- te maneira: sempre que o socorrista ocluir a perna livre do “Y” ou o furo no tubo com o dedo, a fonte de oxigênio inflará o pulmões; quando retirado o dedo ocorrerá a expiração do ar. A razão inspiração/expiração deve ser mantida em 1 para 4 segundos. Perceba ain- da que sempre haverá uma grande pressão positiva no circuito. Devido a essa “falha” no método, a “crico” por punção causa retenção de gás carbônico e deve ser utilizada por no máximo 30 a 45 minutos, enquanto se con- segue uma via aérea definitiva. Observe as FIgURAS 3 e 4. Figura 3: Anatomia das principais cartila- gens da laringe. Você pode palpar facil- mente as cartilagens tireoidea e cricoide para realização da cricotireoidostomia. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 20Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Figura 4: Cricotireoidostomia por punção - quando a luz da traqueia é atingida, observamos bolhas no líquido contido na seringa. Os métodos para obtenção de via aérea cirúrgica são: Cricotireoidostomia cirúrgica: • Feita através de uma incisão transversa ou longitudinal cervical sobre a membrana cricotireoide (palpada entre as cartilagens tireoidea e cricoide). O orifício deve ser então dilatado delicadamente com pinça hemostá- tica para introdução de uma cânula (Portex 7-8 mm ou tubo de traqueostomia com o mesmo diâmetro, em adultos). Como intro- duzimos uma cânula com balonete insuflável na traqueia, a cricotiroidostomia cirúrgica é considerada uma via aérea artificial definitiva. • Evitar em menores de 12 anos (alto risco de estenose subglótica) e nos casos de fratura de laringe*. • Caso o paciente precise de ventilação mecâ- nica durante períodos maiores, a cricotireoi- dostomia cirúrgica deve ser substituída por traqueostomia assim que possível. * Apesar de 12 anos ser o limite consagrado no manual do ATLS, os tratados de Cirurgia mais recentes trazem a idade de 8 anos como ponto de corte. Fique atento às questões!!! Traqueostomia: • Não deve ser utilizada rotineiramente no atendimento inicial, pois é mais demorada (e difícil) que a cricotireoidostomia cirúrgica. A traqueostomia de urgência tem três indi- cações principais: I - Em pacientes com fratura de laringe.* II - Como método cirúrgico de acesso à via aérea em menores de 12 anos. III - Nas lacerações abertas de pescoço com secção parcial ou total da laringe ou traqueia.** * As fraturas de laringe, por muito tempo foram consideradas como indicação de traqueosto- mia, no entanto, como dito anteriormente, nas ultimas edições do Sabiston e do ATLS isso sofreu uma alteração. Atualmente, mesmo nas fraturas de laringe, podemos tentar a IOT. Esta tentativa deve ser feita naqueles casos em que o acesso artificial deve ser imediato, não per- mitindo a realização de uma traqueostomia. O ATLS em sua última edição ainda vai além e afirma que em casos de emergência ou inca- pacidade técnica, mesmo a crico cirúrgica não sendo o melhor método, pode ser tentada. Mas fique atento, pois algumas bancas mais arcai- cas ainda consideram as fraturas de laringe como indicação absoluta de traqueostomia. Dica para a sua prova: quando suspeitar de uma fratura na laringe? É uma lesão rara, mas que deve ser lembrada na presença da seguinte tríade: Rouquidão; Enfisema sub- cutâneo; Fratura palpada. ** Na secção total de traqueia, o coto distal deve ser ancorado com uma pinça ou com fio de sutura, de forma a evitar sua retração para o mediastino. Nessa situação, o socorrista pode colocar o tubo endotraqueal diretamente pela traqueia, uma vez que a dissecção das estruturas já foi efetuada pelo próprio trauma. Observação importante: Apenas a cricotireio- dostomia cirúrgica deve ser evitada em crian- ças. A “crico” por punção pode ser utilizada. Métodos novos para estabelecimento de via aérea, como a máscara laríngea combitubo e o tubo laríngeo, devem ser encarados como medidas provisórias, podendo ser utilizados enquanto se obtém a via aérea definitiva. ASSIM: • Maioria dos acessos definitivos à via aérea, com paciente em apneia ou não = Intuba- ção orotraqueal (IOT). • Outros acessos à via aérea: em caso de contraindicação à IOT • Paciente em apneia (“sufoco total”) = Crico por punção. • Crico cirúrgica. • Traqueostomia: principalmente se menor de 12 anos, fratura de laringe ou laceração aberta da laringe/traqueia. • Cricotireoidostomia cirúrgica = Contraindicada em crianças me- nores de 12 anos. • Cricotireoidostomia por punção = Pode ser usada em crianças me- nores de 12 anos. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ Um paciente de 20 anos, vítima de acidente automobilístico com colisão frontal, é admitido na emergência apresentando intenso sangra- mento nasal e oral, edema facial, fratura de arco mandibular, em franca insuficiência res- piratória. A conduta imediata a ser tomada deverá ser: http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 21Medgrupo - CiClo 2: M.E.D a) Intubação orotraqueal. b) Cricotireoidostomia. c) Traqueostomia. d) Intubação nasotraqueal. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP Um paciente de 32 anos de idade, vítima de queda de motocicleta em alta velocidade, sem capacete, chega ao pronto-socorro nas se- guintes condições: A: Grande quantidade de sangue na boca, com muita dificuldade de aspiração com aspiradorrígido. B: Murmúrio vesicular presente, com roncos difusos bilate- ralmente; saturação de O2: 83%. C: Pulso: 110 bpm; PA: 100 × 70 mmHg. D: Glasgow: 13. E: Fratura exposta de maxilar e mandíbula, com muito sangramento. Conduta imediata: a) Intubação com fibroscópio na sala de emer- gência. b) Traqueostomia por punção. c) Cricotireoidostomia cirúrgica na sala de emergência. d) Máscara de oxigênio em alto fluxo, aspira- ção da via área e arteriografia de emergência. e) Ventilação com máscara laríngea até prepa- ro da sala operatória, para via aérea cirúrgica. Se eu não posso ou não consigo realizar a intubação orotraqueal, devo pensar na crico cirúrgica... Gabaritos B e C respectivamente!!! Pois bem, veja em resumo o que diz o ATLS sobre via aérea artificial. Esta referência inicia a abordagem às vias aéreas no trauma com um dado importante que você nunca poderá esquecer: oxigene seu paciente antes de obter a via aérea ar- tificial! Pode ser com uma máscara e ambu ligados a um fluxo de O2... Não o deixe sem oxigênio enquanto pensa no que fazer ou prepara o material para intubação – isso é um erro grave!!! Outro erro que você não pode cometer são as tentativas prolongadas de intubação: não esqueça que o paciente não está sendo oxigenado enquanto você tenta intubá-lo, e isso pode levar a uma parada cardiorrespi- ratória por hipóxia! O ATLS dá uma “dica” interessante, que é prender a sua própria respiração antes da primeira tentativa de intubação: quando você mesmo não con- seguir ficar sem respirar, é hora de parar e oxigenar o paciente antes de tentar de novo... O fato de o “A” de airways vir antes do “B” de breathing no ABCDE diz que você deve avaliar as vias aéreas antes de ventilar os pacientes (se o paciente está respirando, se há obstrução, etc), mas não significa que você só poderá oxigená-lo após estabelecer via aérea definitiva, muito pelo contrário... Existe diferença entre ventilar e oxigenar? Sim!!! Quando oxigenamos, apenas fornece- mos um fluxo de O2 para as vias aéreas do paciente, sem necessariamente ventilá-lo com o ambu... Todo paciente com indicação de via aérea definitiva deve ser adequadamente pré- -oxigenado. Devemos ventilá-lo também? Idealmente não... A ventilação direta sob máscara acaba por encher não só os pul- mões de ar, mas também bombeia ar para o estômago, aumentando o risco de broncoas- piração durante procedimentos como a intu- bação orotraqueal. É claro que nem sempre estamos em um ambiente ideal, no qual dis- pomos de todos os pré-requisitos para reali- zar uma sequência de indução rápida e obter objetivamente uma via área definitiva... Nes- sas situações, a ventilação, mesmo sem flu- xo de O2, pode ser a única solução. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Mulher, 22a, politraumatizada. EM RELAÇÃO À MANUTENÇÃO E GARANTIA DA PERVIE- DADE DAS VIAS AÉREAS ESTÁ CORRETO: a) Se houver perda de consciência temporária, há indicação de obtenção de via aérea definitiva. b) Se houver fratura de face, ou edema de glote, ou Glasgow inferior a 8, há indicação de cricotiroidostomia. c) A realização de traqueostomia no local do atendimento inicial diminuiria a morbimortali- dade. d) Se houver trauma de laringe, a cricotiroi- dostomia está indicada. Veja como até mesmo as bancas fazem confusão!!! Questão anulada! Vamos analisar nossas alternativas tomando como base as últimas orientações do ATLS 9a ed. a) Nem sempre uma perda transitória de consciência indica a necessidade de uma via aérea artifi- cial!!! b) Falsa. Glasgow menor ou igual a 8 indica via aérea artificial, porém não necessa- riamente cirúrgica. c) Falsa. Apenas em situa- ções muito específicas, como em alguns casos de fratura de laringe com dificuldade de IOT, a traqueostomia encontra-se bem indicada. d) Falsa também!!! Como já foi dito, em casos de trauma de laringe, a primeira conduta é a ten- tativa de IOT. Em caso de insucesso, a via cirúrgica prontamente indicada é a TRA- QUEOSTOMIA! Logo, todas estão incorretas e a questão foi devidamente anulada! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER- NESTO – RJ Amoroso, 45 anos, dá entrada no setor de emergência, trazido por seus vizinhos, após ter sofrido atropelamento por carro há vinte minutos. Chegou agitado, sudoreico, taquip- neico, taquicárdico, hipotenso e apresenta fratura grave na face, fratura exposta na tíbia direita com sangramento e equimose extensa http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 22Medgrupo - CiClo 2: M.E.D no hipocôndrio direito, com distensão abdo- minal. Nesse momento, a conduta mais ade- quada será: a) Compressão da fratura tibial. b) Acesso cirúrgico à via aérea. c) Laparotomia exploradora de emergência. d) Tomografia computadorizada de crânio e abdome. Nossa vítima de politrauma apresenta fratura facial grave, taquipneia, hipotensão, distensão abdominal (com equimose em hipocôndrio es- querdo) e fratura exposta na tíbia. Toda vez que estivermos diante de um caso como este, a primeira medida a ser tomada é assegurarmos uma via aérea adequada e estabilizarmos a coluna cervical! Nesta situação, o termo grave da fratura facial, faz com que a intubação oro- traqueal não deva ser realizada – por isso fica- mos realmente com a letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem, 33 anos de idade, vítima de acidente entre automóvel e motocicleta, a um quarteirão do hospital, é trazido pela polícia em viatura comum. Deu entrada no pronto-socorro, em cadeira de rodas, hálito alcoólico, com rebaixa- mento importante do nível de consciência, com movimentação dos membros a estímulos do- lorosos. Sangramento nasal devido a uma la- ceração, deformidade da mandíbula e do arco zigomático direito com equimose periorbitária. Apresenta sangramento intenso pela boca. Sua respiração é difícil e ruidosa. Pressão arterial de 90 x 60 mmHg, frequência cardíaca de 105 bpm, saturação de O2 = 85% em ar ambiente. À palpação do tórax, apresenta crepitação dos últimos arcos costais à direita, escoriação e equimose em hipocôndrio e flanco direitos. A sondagem vesical revelou hematúria. Cite dois procedimentos indicados para assegurar uma via aérea definitiva nesta situação. Nosso paciente apresenta rebaixamento do nível de consciência (certamente com escala de coma de Glasgow < 8) e equimose perior- bitária, achado que revela um possível trauma de base de crânio. Só com estes dados, já está indicado o acesso definitivo à via aérea; contudo, existe ainda respiração difícil e rui- dosa. Observa-se também sangramento na- sal, deformidade da mandíbula e do arco zi- gomático direito. O enunciado nos pede dois procedimentos para se acessar a via aérea do paciente. Bom, devido ao trauma de face, a intubação nasotraqueal está formalmente con- traindicada. Poderíamos realizar a intubação orotraqueal? Em alguns casos de trauma de face, a intubação fica dificultada pela presen- ça de fragmentos ósseos e dentários na via aérea, fenômeno acompanhado de sangue e edema, o que dificulta muito a visualização das cordas vocais; todavia, não há descrição destes achados; sendo assim, a intubação orotraqueal pode ser tentada – essas lesões de face não podem ser consideradas extensas a ponto de contraindicar a intubação orotra- queal, se fosse assim, a grande maioria das vítimas de acidente automobilístico seria sub- metida à cricotireoidostomia, o que de fato não ocorre. Outras formas de se acessar a via aérea nesse caso incluem a cricotireoidosto- mia cirúrgica (no insucesso ou na impossibili- dade de se realizar a intubação orotraqueal) ou a cricotireoidostomia por punção (no insu- cesso ou na inviabilidade de se realizar a cri- co cirúrgica). A traqueostomia não é uma op- ção na emergência para esse paciente, uma vez que ele pode ser submetido aos procedi- mentos anteriores com menor chance de com- plicações.GABARITO OFICIAL UNIFESP: Intubação orotraqueal/Cricotireoidostomia.Agora cuidado! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI- DADE DE SÃO PAULO – FMUSP Traumatizado, vítima de colisão de veículo, deu entrada no pronto-socorro semiconsciente e cianótico. Apresentava lacerações em face, pescoço e abdome. FR = 36 bpm, P = FC = 136 bpm, PA = 80 x 60 mmHg e Glasgow de 7. Observada ainda, contusão torácica com res- piração paradoxal bilateral e fratura fechada em membro superior direito. No atendimento primário à admissão devem ser efetuados di- versos procedimentos, EXCETO: a) Radiografia de tórax e pelve. b) Ultrassonografia de abdome. c) Entubação orotraqueal. d) Redução da fratura do membro. e) Lavagem peritoneal diagnóstica. Atenção!! O que vamos falar é um conceito importantíssimo – No atendimento inicial ao politraumatizado grave, como o caso descrito acima, devemos ter em mente que é essen- cial direcionar as intervenções diagnósticas e terapêuticas iniciais para os sistemas com maior potencial de levar ao óbito ou sequela grave. Analisando o enunciado, temos um paciente com TCE fechado grave (Glasgow ≤ 8), tórax instável, provavelmente associado a contusão pulmonar importante (veremos este tema em breve) e hipotensão. Como em todos os casos, a prioridade é garantir via aérea pérvia e ventilação adequada. A radio- grafia de tórax e pelve pode até ajudar, mas não deve interromper a avaliação primária. O ultrassom de abdome e o lavado peritoneal fazem parte da investigação inicial do trauma abdominal. Logo, a redução da fratura deve aguardar a estabilização do paciente na fase de reanimação. Resposta D. Para lembrar: Não intubar sem antes OXIgENAR http://#scrolldown http://#page=249 Cirurgia - Volume 8 23Medgrupo - CiClo 2: M.E.D B Após acessarmos a via aérea, devemos ven- tilar de forma adequada (breathing) nosso paciente: todo indivíduo vítima de trauma deve receber oxigênio suplementar (fluxo de pelo menos 11 L/min) e, preferencialmente, ser monitorizado por meio de oximetria de pulso e eletrocardiografia contínua. Repare que, com a via aérea assegurada e o risco de bron- coaspiração descartado, o termo chave aqui é VENTILAR. Resta nesse momento saber se existe algo que impeça a ventilação própria do paciente ou se há algum empecilho à ventila- ção empregada pelo método escolhido para manutenção definitiva da via aérea. Nesse momento, devemos examinar o tórax seguindo aqueles velhos e sempre importan- tes passos: inspeção, palpação, percussão e ausculta. Em pacientes estáveis, sem com- plicações, observamos esforço respiratório simétrico e murmúrio vesicular bilateralmente audível. Uma radiografia de tórax também pode ser solicitada. Atenção para as três principais armadilhas da fase B – Pneumotórax Hipertensivo, Pneu- motórax Aberto e Tórax Instável. Essas condições podem levar o paciente à deterio- ração clínica e morte precoce caso não sejam identificadas e tratadas precocemente! Vamos discutir essas “armadilhas do B” no capítulo sobre trauma de tórax. O hemotórax, o pneumotórax simples e as fraturas costais podem também prejudicar a ventilação, porém geralmente em menor grau. Veremos to- das essas condições com maior detalhamento quando tratarmos do trauma de tórax! C Estamos agora entrando no item C do nosso ABCDE, que significa avaliação hemodinâ- mica (circulation) e controle da hemorragia. A primeira medida do item C deve ser a compressão de feridas sangrantes. A compressão deve ser realizada com as mãos enluvadas e uma gaze ou curativo transpa- rente, de forma que o médico possa, de fato, saber o que está fazendo... Deve-se evitar o clampeamento às cegas das feridas, a fim de que sejam evitadas lesões de estruturas ad- jacentes aos vasos (ex.: nervos). Torniquetes são capazes de fornecer uma hemostasia efe- tiva, à custa de da isquemia de uma grande região. Seu uso é geralmente desaconselha- do (reservado para situações extremas), ten- do em vista que dificilmente a hemostasia não é obtida com uma simples compressão local. Logo após devemos estimar o status he- modinâmico do pacientes, o grau de perda volêmica e iniciar a reposição intravascular o mais cedo possível. Para obter uma “noção geral” do paciente que estamos abordando, é interessante ava- liar inicialmente seus pulsos centrais e pe- riféricos. A presença de pulso carotídeo de- nota uma pressão sistólica de no mínimo 60 mmHg. Analogamente podemos deduzir uma PS de 70 mmHg para o pulso femoral e 80 mmHg para o pulso radial. A pressão arterial deve ser aferida, pelo menos, a cada 5 minu- tos. Uma pressão menor que 90 mmHg deve ser sempre considerada hipotensão por cho- que hipovolêmico. Outros sinais de hipovolemia são buscados além da hipotensão: taquicardia (mais preco- ce), taquipneia, alteração do nível de cons- ciência, sudorese e palidez cutânea. Eles são fundamentais para estimar o grau de perda volêmica do paciente. Cabe ressaltar que nem sempre encontra- remos todo o conjunto dos sinais de hipovo- lemia. Por exemplo: apesar de a taquicardia costumeiramente ser a primeira manifesta- ção do choque hipovolêmico, podemos não encontrá-la em atletas e pacientes betablo- queados. De forma análoga, é difícil encon- trarmos manifestações evidentes de choque em crianças ou grávidas até que a hipovole- mia atinja níveis alarmantes! Como estimar, então, a perda volêmica? Com o conjunto de dados obtidos através de um rápido exame físico podemos classificar a depleção volêmica em quatro classes: Estimativa da perda volêmica Classe I Classe II Classe III Classe IV Perda volêmica (ml) até 750 750-1500 1500-2000 > 2000 Perda volêmica (%) até 15% 15%-30% 30%-40% > 40% Frequência cardíaca < 100 100-120 120-140 > 140 Pressão arterial Normal Normal Diminuída Diminuída Pressão de pulso Normal ou Diminuída Diminuída Diminuída (mm Hg) aumentada Frequência respiratória 14-20 20-30 30-40 > 35 Débito urinário (ml/h) > 30 20-30 5-15 Insignificante Nível de Pouco Moderada- Ansioso, Confuso, consciência ansioso mente ansioso confuso letárgico Reposição Cristaloide Cristaloide Cristaloide Cristaloide indicada e sangue e sangue http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 24Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ Homem, 56 anos, admitido na emergência após amputação acidental de antebraço esquerdo. Exame físico: confuso; PA = 90 x 60 mmHg, FC = 122 bpm; FR = 32 irpm e pressão de pul- so diminuída. De acordo com a definição do ATLS (Advanced Trauma Life Support) o pa- ciente é classificado como Classe: a) I. c) III. b) II. d) IV. Questão que vem se repetindo cada vez mais. Veja a importância da memorização desta classificação. Dica: avaliar sempre em relação a PA e FC. A PA divide a classificação ao meio, pois se o paciente está normotenso, só pode ser classe I ou II e se está hipotenso, só pode ser III ou IV. Somente com este dado já ficamos entre as letras C e D. E agora? Vamos olhar a frequência cardíaca, de 120-140 bpm classe III e maior que 140 bpm classe IV. Logo, gabarito C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – RJ Homem de 40 anos dá entrada no setor de emergência, vítima de atropelamento, apresen- tando ansiedade moderada, escoriações e dor abdominal acentuada em hipocôndrio esquerdo, embora no restante do abdome apresente dor moderada. Ao exame físico, constata-se PR = 110 bpms e PA = 110 x 70 mmHg. O lavado pe- ritoneal foi positivo para sangue. Nesse caso, deve-se estimar uma perda sanguínea de: a) 10%. c) 30%. b) 20%. d) 40%. O raciocínio segue o mesmo, normotenso, classe I ou II, com FC de 110 bpm = classe II, que corresponde a uma perda entre 15-30%. Gabarito B. Como iniciar a abordagem no “C”? Devemos assegurar pelo menos dois aces- sos venosos calibrosos o mais rápido pos- sível, já no atendimento pré-hospitalar, so- bretudo em vítimas de trauma moderado a grave. As veias periféricas no dorso das mãos ou na face anterior do antebraço sãoas preferidas. Na impossibilidade des- ses acessos (veias colabadas em pacientes chocados, por exemplo), podemos realizar a dissecção da veia safena magna nos mem- bros inferiores (em frente ao maléolo medial) ou tentar um acesso venoso central através da técnica de Seldinger (veia jugular interna, veia subclávia ou veia femoral). E, de acor- do com a nona edição do ATLS, a punção intraóssea pode ser tentada em qualquer faixa etária. mACETE PRÁTICO! De acordo com o ATLS, sempre que você puncionar o acesso do paciente, aproveite para coletar uma amostra de sangue para avaliação inicial do hematócrito (mesmo não sendo o melhor parâmetro inicial), tipagem sanguínea, avaliação laboratorial, testes toxicológicos e teste de gravidez nas mulheres em idade fértil. Agora, fique atento a um detalhe: como vimos anteriormente, a punção intraóssea pode ser tentada em qualquer faixa etária. Mas nas crianças menores de 6 anos em que não se consegue o acesso periférico, o acesso in- traósseo passa a ser a primeira escolha. O sítio de punção localiza-se a três dedos da tuberosidade tibial. Esta punção não pode ser feita em sítios de fraturas ou infecções devi- do ao risco de osteomielite. O grande entra- ve da punção intraóssea no adulto é a neces- sidade de material específico, muitas vezes não disponível. ASSIM: • Veias preferidas para punção = dorso das mãos, antebraço. • Opções: safena magna (dissecção), acesso central. • Outra opção: acesso intraósseo (primeira op- ção em menores de 6 anos quando o acesso periférico não for possível). A roupa pneumática antichoque (MAST) é semelhante a uma calça; este dispositivo apre- senta efeitos compressivos sobre os membros inferiores e o abdome. Atualmente é indicada em pacientes hipotensos com suspeita de fratura pélvica instável ou fratura proximal de ossos longos. Pode causar aumento da pressão intra-abdominal e hérnia diafragmá- tica. Atualmente o uso desta calça tem sido desaconselhada pela maioria dos autores que indicam na suspeita de fratura de pelve a adoção de dispositivos de estabilização pélvi- ca (prefabricated pelvic binder). Na ausência destes dispositivos, a equipe pré-hospitalar pode utilizar um lençol e amarrar a pelve (ao nível dos trocanteres maiores do fêmur) com um nó apertado, reduzindo a fratura pélvica. Perceba que na maioria dos casos esta é uma medida provisória até a fixação externa do anel pélvico. Torniquete: voltou a ganhar destaque como medida heroica. O seu uso é mais expressivo no âmbito militar. Mas ainda é desaconselhado como medida de rotina. Em pacientes hipotensos devemos iniciar reposição imediata de volume para elevar a pressão sistólica acima de 100 mmHg o mais rapidamente possível. A hipotensão http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 25Medgrupo - CiClo 2: M.E.D arterial sistólica só ocorre após a perda de cerca de 30% da volemia, ou seja, cerca de 1500 ml em um homem de 70 kg. Que solução empregar? A solução utilizada para infusão de volume deve ser um cristaloide, de preferência Ringer lactato. O soro fisiológico (SF0,9%) também pode ser utilizado, mas alguns trabalhos recen- tes mostram que ele não apresenta benefícios em relação a redução na mortalidade. E um outro detalhe, a infusão de grandes volumes de SF 0,9% pode levar à acidose hiperclorêmi- ca, principalmente se houver disfunção renal associada. Em indivíduos chocados, a ressuscitação se faz com um bolus de 1 a 2 litros de solução de Ringer lactato para o adulto ou 20 ml/kg para a criança. Se possível, a solução deve ser aquecida a 39ºC para evitar a hipotermia (veja o item E logo adiante). Um conceito interessan- te introduzido no novo ATLS é a diferenciação entre o paciente “hemodinamicamente estável” e o “hemodinamicamente normal”. O doente hemodinamicamente estável pode apresentar taquicardia, taquipneia e oligúria persistentes. Esses achados devem levar você a pensar que o paciente continua em choque e deve receber mais volume. Por outro lado, o paciente “hemo- dinamicamente normal” é aquele que não exibe sinais de hipoperfusão tecidual. Resposta à Reposição volêmica Inicial 2.000 ml de Ringer lactato em adulto ou 20 ml/kg em criança Resposta Resposta Sem Rápida Transitória Resposta Sinais vitais Retorno Melhora transitória Continuam ao normal anormais Perda sanguínea Mínima Moderada e Grave (> 40%) estimada (10-20%) persistente (20-40%) Necessidade de Baixa Alta Alta mais cristaloide Necessidade Baixa Moderada ou Alta Imediata de sangue Preparo do Tipado e com Tipo específico Liberado em sangue prova cruzada caráter de emergência Necessidade Possível Provável Muito provável de cirurgia Presença precoce Sim Sim Sim do cirurgião Quando iniciar a transfusão sanguínea? A indicação deve ser individualizada. Se o paciente permanecer refratário à reposição com cristaloide, a transfusão de hemoderiva- dos deve ser considerada. De uma maneira geral, temos: • Nos pacientes com choque classes III e IV, indica-se transfusão de sangue de imediato; • A identificação do foco hemorrágico e seu controle são cruciais e imprescindíveis para se evitar choque prolongado e suas compli- cações. Como avaliar a resposta à infusão inicial de líquidos? Normalmente, avaliamos a resposta a partir de parâmetros clínicos como PA, FC!!! Agora, para sua prova fique atento: devemos sempre realizar a sondagem vesical deste paciente. O débito urinário é um dos melhores parâme- tros como guia para a reposição volêmica!!! O padrão de resposta pode ser dividido em três categorias: a) resposta rápida; b) resposta transitória; c) resposta mínima ou ausente. Veja a tabela do ATLS: A. Resposta Rápida Geralmente os pacientes pertencentes a este grupo apresentam perda volêmica discreta (< 20%). Nesses casos não está indicada a ad- ministração adicional de volume ou a infusão imediata de sangue, mas não se esqueça de deixar reservado sangue tipado e com prova cruzada realizada. B. Resposta Transitória Esses são os pacientes-modelo que reforçam a ideia de que é sempre necessária a reava- liação contínua de toda vítima de trauma! Eles respondem à reposição inicial rápida e ficam he- modinamicamente normais. O problema é que, à medida que se reduz a velocidade de infusão para níveis de manutenção, alguns pacientes de- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 26Medgrupo - CiClo 2: M.E.D monstram hipoperfusão periférica (taquicardia, palidez, oligúria, etc), indicando sangramento persistente ou reanimação inadequada. A maioria desses indivíduos teve perda san- guínea entre 20 e 40% da volemia! Nessas condições estão indicados a administração contínua de líquidos e o início de transfusão sanguínea. A resposta transitória à administra- ção de sangue pode identificar os pacientes que ainda estão sangrando e exigem rápida intervenção cirúrgica. C. Resposta Mínima ou Ausente A falta de resposta à administração adequada de cristaloide e de sangue indica a necessi- dade de intervenção cirúrgica imediata para identificar e controlar uma hemorragia exsan- guinante. Só um lembrete: eventualmente a não resposta pode ser decorrência de causas não hemorrágicas, como o choque cardiogê- nico ou outras situações como o pneumotó- rax hipertensivo e o tampo namento cardíaco. Todos facilmente reconhecidos pelo exame físico. (Viu? Reavaliação constante sempre!) Só para lembrar, o trauma pode levar à alcalo- se respiratória devido à taqui pneia. A alcalose respiratória é seguida frequentemente por aci- dose metabólica leve nas fases precoces do choque, que não necessita de tratamento. A acidose metabólica grave pode surgir quando o choque é prolongado ou grave. Assim, concluímos que, a princípio, todo pa- ciente politraumatizado e chocado deve ser considerado, até segunda ordem, portador de CHOQUE HIPOVOLÊMICO HEMORRÁgI- CO. Outras causas de choque incluem o pneu- motórax hipertensivo, o hemotórax maciço, o tamponamentocardíaco, a contusão miocárdica, o choque neurogênico e a insuficiência adrenal. Em politraumatizados que apresentam exame do aparelho respiratório normal e se encontram chocados, devemos considerar como fontes de hemorragia o abdome (causa frequente) e o retroperitônio (associado às fraturas pélvicas). Quando estudarmos especificamente o trau- ma de tórax e abdome, veremos as diversas causas de choque refratário no paciente vítima de trauma. Veja alguma questões! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Menino, 9a, é trazido pelo SAMU, vítima de queda de bicicleta há 60 minutos. Sem história de perda de consciência e sem vômitos. Exame físico: Glasgow = 15, descorado 2+/4+, pulsos periféricos distais de baixa amplitude, FC = 146 bpm, FR = 18 irpm, PA = 90 x 60 mmHg, crânio com escoriações em região frontopa- rietal direita, auscultas pulmonar e cardíaca normais, lesão circular eritematosa em parede abdominal, com dor difusa à palpação profun- da do abdome. A CONDUTA INICIAL É A IN- FUSÃO DE: a) Solução cristaloide isotônica, 20 ml/kg a cada 20 minutos na primeira hora. b) Solução coloide, 20 ml/kg, a cada 20 minu- tos na primeira hora. c) Solução cristaloide isotônica, 20 ml/kg em 20 minutos por 2 vezes, seguida de solução de coloide, 20 ml/kg por mais 20 minutos, se não houver melhora. d) Solução coloide e cristaloide, ambas 20 ml/ kg, em 2 acessos venosos, na primeira hora. Apesar da estabilidade hemodinâmica aparente, com o nível de consciência pre- servado apresentado por esse menino, sa- bemos que a criança possui uma reserva fisiológica maior do que o adulto. Os sinais precoces de hipovolemia são a taquicardia e a má-perfusão da pele. Podemos observar ainda redução dos pulsos periféricos. Mu- danças nos sinais vitais só vão ocorrer com uma perda superior a 30% da volemia. So- mente perdas ainda mais expressivas é que podem se traduzir em queda da Pressão Sistólica (PAS). O cálculo da PAS na infância é de 70 mmHg mais o dobro da idade em anos. Sendo assim, nesse paciente é de 70 + 18 = 88 mmHg; reparem então que a PAS está normal, embora já tenhamos uma per- da de mais 30% da volemia. A etiologia des- se choque provavelmente é ocasionada por trauma abdominal (lesão circular eritemato- sa em parede abdominal), onde o baço pode estar acometido. A conduta imediata envol- ve a repleção do volume intravascular de maneira agressiva e, segundo o ATLS e as Diretrizes do Pediatric Advanced Life Su- pport (corroboradas pela SBP), a fluidotera- pia expansora se baseia na administração de cristaloides (soro fisiológico ou Ringer Lactato), no volume de 20 ml/kg, no mínimo a cada 20 minutos na primeira hora (totali- zando 3 etapas). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS O melhor meio de conter uma hemorragia ex- terna é através de: a) Torniquete arterial. b) Compressão direta. c) Garroteamento. d) Clampeamento com pinças hemostáticas. e) Elevação do membro afetado. Questão extremamente simples e prática! A melhor forma de conter uma hemorragia é comprimindo o vaso sangrante! Medidas como o torniquete e o garroteamento terão efeito semelhante, porém à custa de dano tecidual bem mais extenso... O clampeamen- to vascular deve ser evitado neste momento pelo risco de lesão de estruturas adjacentes. Resposta B. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 27Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP Na reposição volêmica inicial no paciente po- litraumatizado, qual a solução de preferência: a) Ringer lactato. b) Plasma. c) Soro glicosado 10%. d) Soro glicosado 5%. e) Glicose hipertônica. Facílima. Resposta letra A. A letra D significa Avaliação Neurológica (Di- sability). Realizamos um rápido exame neuro- lógico nesta fase que inclui a escala de coma de Glasgow, avaliação pupilar e a observação de movimentos ativos das extremidades. A presença de tubo orotraqueal, o uso de bloqueadores neuromusculares, fraturas de membros e trauma ocular direto atrapalham, sem dúvida nenhuma, a avaliação neurológica pela escala de coma de Glasgow. Várias são as causas de alteração do nível de consciência no paciente politraumatiza- do; devemos sempre nos lembrar da hipo- xemia, hipotensão, uso de álcool e drogas. Excluídas essas causas, alterações do exame neurológico devem ser atribuídas a traumatismo do sistema nervoso central. Escala de coma de Glasgow infantil (menores de 1 ano) 4 Espontânea Abertura Ocular 3 Estímulo verbal 2 Estímulo doloroso 1 Ausente 5 Alerta, vocalização normal 4 Choro consolável Melhor resposta verbal 3 Persistentemente irritada 2 Inquieta, agitada, gemente 1 Ausente 6 Espontânea, proposital 5 Localiza estímulo doloroso Melhor resposta motora 4 Retira membro à dor 3 Flexão anormal (decorticação) 2 Extensão anormal (descerebração) 1 Ausente Escala de coma de Glasgow 4 Espontânea Abertura Ocular 3 Estímulo verbal 2 Estímulo doloroso 1 Ausente 5 Orientada 4 Confusa Melhor resposta verbal 3 Palavras inapropriadas 2 Palavras incompreensíveis 1 Ausente 6 Obedece comando 5 Localiza estímulo doloroso Melhor resposta motora 4 Retira membro à dor 3 Flexão anormal (decorticação) 2 Extensão anormal (descerebração) 1 Ausente RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDA- DE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – MG Vítor, 25 anos, vítima de acidente de moto (choque com poste), chega ao Pronto-Socor- ro agitado, com várias lesões de face e esco- riações pelo corpo. Perguntando o que acon- teceu, ele responde com palavras desconexas; ao estímulo de dor em seu esterno, ele leva a mão direita para tirar o estímulo doloroso e seu membro superior esquerdo está imóvel. Abre os olhos quando é chamado pelo nome. Sua escala de coma de Glasgow é: a) 13. d) 6. b) 11. e) 4. c) 8. É mandatório saber a escala de Glasgow para as provas... A maioria das questões são simples e giram em torno da avaliação da pontuação na escala de coma de Glasgow!!! Gabarito B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Menina, 12a, foi atropelada enquanto andava de skate. Chega ao pronto-socorro sonolenta e referindo muita dor na região cervical. Exame físico: regular estado geral; FC = 100 bpm; FR = 20 irpm; PA = 100 x 70 mmHg; pulsos cheios; localiza dor, confusa, pupilas isofotorreagentes, reflexos osteotendíneos presentes e simétricos, ausência de paralisia de pares cranianos. D http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 28Medgrupo - CiClo 2: M.E.D OS DADOS DO EXAME FÍSICO UTILIZADOS PARA DETERMINAÇÃO DA ESCALA DE COMA DE GLASGOW SÃO: a) Resposta pupilar, reflexos osteotendíneos, avaliação de pares cranianos. b) Resposta ocular, resposta verbal, resposta motora. c) Resposta verbal, avaliação de pares cra- nianos, resposta motora. d) Resposta pupilar, resposta motora, reflexos osteotendíneos. Não tem como errar. Gabarito B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ Você está de plantão numa Unidade de Pron- to Atendimento (UPA) e examina um jovem. Seus acompanhantes relatam que o mesmo foi vítima de agressão com um “porrete” quando participava de uma “manifestação social”. No exame físico neurológico, constata a existên- cia de um traumatismo craniano. Observa que abertura ocular só acontece em resposta à dor; que as respostas verbais são inadequadas ao que lhe é perguntado e, por fim, que a resposta motora localiza o estímulo álgico. A pontuação obtida, usando-se a escala de Glasgow, foi: a) Seis. d) Doze. b) Oito. e) Quatorze. c) Dez. Questão sobre escala de coma de Glasgow: Abertura ocular somente aos estímulos dolo- rosos: 2 pontos + resposta verbal inadequada: 3 pontos + resposta motora localizando o es- timulo álgico: 5 pontos. Logo, ECG = 10. Como você pode ver, a escala de Glasgow costuma cair nas provas. Assim, é necessário que você DECORE toda ela. Não acreditaque cai todo ano? Agora, podemos ter também questões um pouco mais complexas. Veja esta recente questão da USP-RP: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP Menino de 12 anos de idade chega à sala de trauma. HMA: sofreu queda de 3 metros, baten- do a cabeça. EF: O estímulo doloroso provoca extensão do membro e abertura ocular, porém o menino não responde quando perguntado. FC = 65 bpm e PA: 150 x 60 mmHg, pulsos perifé- ricos fortes, tempo de enchimento capilar 2 seg., com FR de 15 variando até 30 mpm. O diagnóstico e a conduta são: a) Glasgow > que 8, com sinais de hipertensão intracraniana moderada. Tomografia imedia- tamente. b) Glasgow < que 8, com sinais de hipertensão intracraniana grave. Intubação orotraqueal utilizando a sequência rápida de intubação usando como bloqueador neuromuscular a succinilcolina. c) Glasgow > que 8, com sinais de hipertensão intracraniana moderada. Internação imediata no CTI pediátrico para monitorização. d) Glasgow < que 8, com sinais de hipertensão intracrania- na grave. Intubação orotraqueal utilizando a sequência rápida de intubação usando como bloqueador neuromuscular o rocurônio. Pobre criança. Só pelo enunciado, sem antes calcularmos ainda a Escala de Coma de Glasgow (ECG), percebemos que ela está gravíssima. Vamos lá. Abertura ocular ao estímulo doloroso ganha 2 pontos; não há resposta verbal, o que equivale a 1 ponto; ex- tensão do membro em resposta ao estímulo álgico equivale a 2 pontos. Sendo assim, o resultado é de 5 pontos, o que corresponde a Trauma Cranioencefálico (TCE) grave, ou seja, ECG < 8. Hipertensão sistólica, queda na frequência cardíaca e presença de uma frequência respiratória que chegou até 15 irpm são sinais de hipertensão intracraniana, representando a famosa tríade de Cushing; sabemos que estes achados se correlacio- nam com compressão do tronco encefálico. Devemos acessar definitivamente a via aérea deste paciente de forma imediata, minimizan- do as elevações da pressão intracraniana que podem ocorrer com a intubação endotraqueal. Desta forma, sedação adequada e paralisia neuromuscular devem ser empreendidas (sequencia rápida de intubação). A sedação, que deve preceder o bloqueio neuromuscular, pode ser realizada com derivado imidazólico, o etomidato (0,3 mg/kg), ou um barbitúrico de rápida ação, como o tiopental (3 a 5 mg/ kg). Por estar associada a bradicardia (sobre- tudo em crianças) e poder elevar a pressão intracraniana, a succinilcolina não deve ser o bloqueador neuromuscular a ser empre- gado nesse caso. A droga a ser utilizada é o rocurônio (1 mg/kg). E A Exposição (Exposure) é a etapa final da avaliação primária. Nessa fase, despimos o paciente e o examinamos da cabeça aos pés. Lesões na região dorsal e no períneo, além dos traumas penetrantes, podem ser revelados neste momento. Não podemos esquecer que o E também inclui o controle do ambiente (Environment) para prevenir a hipotermia. A administração de líquidos deve ser feita preferencialmente com soro previamente aquecido (37 a 40º C). Obviamente o ar condicionado da sala de trau- ma deve ser desligado durante as manobras do ATLS. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 29Medgrupo - CiClo 2: M.E.D A avaliação secundária inclui um exame mais detalhado da cabeça aos pés do paciente traumatizado, incluindo uma avaliação neuro- lógica mais cuidadosa. O exame secundário pode ser resumido com a frase “tubos e dedos em todos os orifícios”. Avaliação secundária = tubos e dedos em todos os orifícios Neste período, exames laboratoriais e radio- lógicos mais completos devem ser solicitados, como radiografias de coluna cervical, tórax em anteroposterior (AP) e pelve (AP). Estes filmes podem ser obtidos na própria área de atendimento, usualmente com um aparelho portátil, desde que o paciente apresente uma mínima estabilidade clínica. Procedimentos especiais, como lavado peritoneal, ultras- som de abdome e introdução de cateteres (nasogástrico, de Foley, etc.) são também realizados durante esta fase. Lembretes importantes: • Na suspeita de fraturas de base de crânio, devemos empregar os cateteres orogástricos no lugar dos nasogástricos. • Antes de passar uma sonda de Foley deve- mos excluir lesão uretral. Quando suspeitar uma lesão uretral? Frente às seguintes situações: • Sangue no meato uretral • Equimose perineal • Sangue no saco escrotal • Próstata “flutuante”/cefálica ao toque retal • Fratura de pelve AVALIAÇÃO sECUNDÁRIA Assim, podemos concluir que todo politrau- matizado deve receber, pelo menos, um to- que retal antes da cateterização vesical. Na presença de qualquer uma dessas situações, uma uretrocistografia (uretrografia retrógrada) é realizada para afastar lesão uretral. Uma vez descartada esta hipótese, a sonda de Foley pode ser passada com segurança. E qual deve ser o alvo da diurese? Nos adultos, o alvo é uma diurese superior a 0,5 ml/kg/h. Nas crianças o alvo é maior, sen- do colocado com 1 ml/kg/h de forma geral e 2 ml/kg/h nos menores de 1 ano. As questões sobre avaliação secundária costumam ser tranquilas e não nos ofere- cem dificuldade. Vamos ver uma delas: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP É considerada contraindicação para passagem de sonda vesical no paciente politraumatizado: a) Presença de sangue no toque retal. b) Hipotonia esfincteriana ao toque retal. c) Presença de hematúria. d) Equimose periumbilical e suprapúbica. e) Presença de uretrorragia Sangue no meato uretral constitui o sinal isolado mais importante de lesão uretral. Nun- ca é demais enfatizar a importância desse achado, pois uma tentativa de introduzir um cateter uretral pode resultar em infecção do hematoma periprostático e perivesical, além de transformar uma lesão parcial em completa. Sangue no meato uretral externo indica que é necessária uma uretrografia para estabelecer o diagnóstico. Portanto, fica evidente que o gabarito é a opção “E”. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 30Medgrupo - CiClo 2: M.E.D TRAUMA DE TóRAx Até 25% das mortes de vítimas de trauma são decorrentes diretamente de trauma torácico, percentual este que é ainda maior quando consideramos apenas os óbitos ocorridos na primeira hora. Vamos, então, estudar as prin- cipais formas de trauma torácico – na prática médica e nas provas. Vamos estudar primeiro as complicações “pul- monares” com destaque para as 3 principais armadilhas da fase B do “ABCDE do Trauma” – Pneumotórax Hipertensivo, Pneumotórax Aberto e Tórax Instável. Essas condições podem levar o paciente à deterioração clínica e morte precoce caso não sejam identificadas e tratadas precocemente! O hemotórax, o pneumotórax simples e as fraturas costais podem também prejudicar a ventilação, porém geralmente em menor grau. Posteriormente veremos as complicações “cardíacas”, como a contusão miocárdica e o tamponamento cardíaco, e finalizaremos com os traumas de aorta, do diafragma e do esôfago. Mas, antes de tudo, vamos a um conceito importante. Da mesma forma que existem indicações de laparotomia exploradora no trauma de abdome, também pode haver ne- cessidade de exploração da cavidade torácica. À abertura cirúrgica do tórax damos o nome de Toracotomia. Em alguns pacientes, o trauma torácico é gra- ve a ponto de indicar toracotomia de urgência; esses pacientes devem ser encaminhados ao centro cirúrgico tão logo seja finalizada a ava- liação inicial na sala de trauma – Atenção: não devemos esperar que eles estejam estáveis hemodinamicamente para o transporte, pois, nesses casos, a toracotomia é vista como um procedimento salvador, uma “última chance” para o paciente, que não deve ser postergada. A principal indicação da tabela 1 é a primeira. Tabela 1 - Principais indicações de toracotomia em centro cirúrgico no trauma de tórax. (1) Hemotórax maciço, ou seja, drenagem imediata de 1.500 ml (ou 1/3da volemia) pelo dreno tubular de toracostomia ou saída de > 200 a 300 ml/hora após a drenagem inicial. * A cirurgia também está indicada quando a drenagem torácica falha apesar da colocação de um segundo dreno (Hemotórax coagulado, retido ou caked hemothorax). (2) Lesões penetrantes na parede torácica anterior com tamponamento cardíaco. (3) Feridas da caixa torácica de grandes dimensões (ex.: pneumotórax aberto). (4) Lesões de vasos nobres no tórax na presença de instabilidade hemodinâmica. (5) Lesões traqueobrônquicas extensas. (6) Evidência de perfuração esofagiana. *O Schwartz diferencia o limite: 1.500 ml para traumas fechados e 1.000 ml para os traumas penetrantes. ** Outro conceito interessante presente na última edição do ATLS é que não devemos ficar aprisionados a esses valores drenados. O principal para indicar ou não a toracotomia seria a estabilidade hemodinâmica do paciente. Dessa forma, mesmo se a drenagem inicial não for > 1.500 ml mas o paciente se apresentar instável, a toracotomia pode ser realizada e vice-versa. Contudo, existem alguns casos ainda mais graves, nos quais a toracotomia é tão urgente que deve ser feita ainda na sala de trauma – é a toracotomia de reanimação. Esse é o caso da PCR em vítimas de trauma penetrante do tórax. Aqui, as técnicas convencionais de massagem cardíaca externa (compressões torácicas) não surtem efeito, assim deve ser tentada a toracotomia de reanimação com massagem cardíaca aberta, enquanto se res- taura o volume intravascular. Obviamente, não transferiremos um paciente em parada cardíaca para o centro cirúrgico – a toracotomia anterior esquerda é feita na sala de trauma! Mas não são todos os pacientes em PCR que são candidatos a toracotomia!!! Eles devem preencher alguns requisitos: * Sinais de vida: Reatividade pupilar; Esforço respi- ratório espontâneo; Pulsos palpáveis; Movimentos de extremidades; Atividade elétrica cardíaca orga- nizada no ECG. Fique Atento: As principais referências sobre o assunto (Sabiston 20a ed. e ATLS 9a ed.) não indicam a toracotomia no trauma CONTUSO. E repa- re também que o paciente deve apresentar algum sinal de vida, ou seja, aquele paciente com muito tempo de parada, também não é candidato. Cabe ressaltar que mesmo quando indicada, a toracotomia de reanimação é ineficiente em pa- cientes hipovolêmicos e hipoxêmicos... Dessa forma, é fundamental que seja reposto volume 30 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 31Medgrupo - CiClo 2: M.E.D além da ventilação por uma via aérea definitiva (tubo endotraqueal preferencialmente). Agora que você já sabe quando indicar uma toracotomia frente a um trauma torácico, faça a si mesmo uma pergunta: “que tipo de to- racotomia devo fazer?”. A incisão dependerá obviamente do órgão que necessita de abor- dagem cirúrgica... Você já viu que para as abordagens cardíacas emergências a via de escolha é a toracotomia anterior esquerda. E para os demais órgãos? Segue uma tabela relacionando a abordagem ao órgão alvo: Coração Situações emergenciais (PCR): Toracotomia anterior esquerda Abordagem em centro cirúrgico: Esternotomia mediana Pulmão e hilo pulmonar Toracotomia posterolateral com ou sem remoção da 5a costela. Traqueia, Carina e Vias aéreas direitas Toracotomia posterolateral direita Vias aéreas esquerdas Brônquio fonte: Toracotomia posterolateral direita Brônquios distais: Toracotomia esquerda Aorta ascendente, arco aórtico, veias cava, a. e vv. pulmonares Esternotomia mediana Aorta descendente Toracotomia posterolateral esquerda Esôfago 2/3 superiores do esôfago torácico: Toracotomia posterolateral direita (4o ou 5o EI) 1/3 inferior do esôfago torácico: Toracotomia posterolateral esquerda (6o ou 7o EI) Figura 5: Toracotomia anterior esquerda. Figura 6: Toracotomia posterolateral direita. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAULO – SP Em um paciente vítima de trauma torácico grave, após a drenagem em selo d’água, hou- ve saída de 1.500 mL de sangue pelo dreno tubular torácico. A melhor conduta seria: a) Toracocentese apenas. b) Toracotomia exploradora. c) Expectante, com tomografia de tórax em 24 horas. d) Laparotomia exploradora. e) Toracoscopia. Fácil né? Drenagem inicial > 1.500 ml = he- motórax maciço, o que indica uma toracotomia de urgência. Gabarito B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP A melhor indicação de toracotomia na sala de emergência é em pacientes: a) Com trauma torácico penetrante que evo- luem para parada cardíaca na sala de emer- gência. b) Politraumatizados que chegam ao hospital em parada cardíaca. c) Com contusão torácica, instáveis hemodi- namicamente. d) Com trauma torácico penetrante, instáveis hemodinamicamente. e) Com contusão torácica que evoluem para parada cardíaca na sala de emergência. Perceba a sutileza do autor da questão: ele não quer saber somente “a indicação”, mas sim qual seria “a melhor indicação” para to- racotomia de reanimação. De fato, ela é mais efetiva nos pacientes com parada cárdica secundaria a um trauma torácico penetrante, embora existam outras indicações para o pro- cedimento. Opção “A” correta. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 32Medgrupo - CiClo 2: M.E.D PNEUMOTóRAx HIPERTENsIVO Principal causa: ventilação com pressão positiva em pacientes com lesões pleuropul- monares. Clínica: dispneia com ausência ou diminuição do murmúrio vesicular no hemitórax acome- tido e hipertimpanismo à percussão, desvio contralateral da traqueia, turgência jugular, enfisema subcutâneo e hipotensão arterial ou mesmo choque. Não solicitar RX para diagnosticar diag- nóstico clínico. Tratamento: • Imediato: Toracocentese com jelco 14 ou 16 no 2º espaço intercostal, linha hemiclavicular. • Definitivo: Toracostomia com drenagem torá- cica em selo d’água (fechada), posicionando o dreno entre o 5º e o 6º espaço intercostal, entre as linhas axilar anterior e média. Caso o pneumotórax se mantenha mesmo após drenagem correta lesão de via aérea calibrosa (fístula broncopleural) tratamento = toracotomia. Agora, vamos passar ao estudo das compli- cações mais frequentes do trauma torácico, que, é bom que se diga, frequentemente coexistem em um mesmo paciente! Chamamos de “PNEUMOTóRAX HIPER- TENSIVO” o pneumotórax que ocorre quando o ar penetra na cavidade pleural de forma contínua e um mecanismo valvular o impede de sair. Ele pode ser causado por traumatismo torácico penetrante, trauma fe- chado com fratura de costelas e consequente lesão pulmonar ou mesmo pelo emprego de ventilação com pressão positiva em pacientes com lesões pleuropulmonares – esta última é a causa mais comum segundo o ATLS. Desta forma, acumula-se na cavidade pleural uma grande quantidade de ar sob pressão, causando: • Colapso do pulmão ipsilateral ao pneumotó- rax. • Desvio da traqueia e do mediastino (balanço mediastinal) para o outro lado (o ar empurra o mediastino). • Compressão do pulmão contralateral, geran- do insuficiência respiratória. • Aumento de pressão intratorácica levando à redução do retorno venoso, o que ocasiona turgência jugular e hipotensão ou choque. Eventualmente pode até levar ao encontro de pulso paradoxal. Ou seja, no pneumotórax hipertensivo te- mos tanto um problema ventilatório, mas também hemodinâmico... O exame físico geralmente é rico, com ausência ou diminuição do murmúrio ve- sicular no hemitórax acometido e hipertim- panismo à percussão, desvio contralateral da traqueia, turgência jugular, enfisema subcutâneo e hipotensão arterial ou mes- mo choque. Vejamos um caso que ilustra bem essa condição: Ambiente de emergência, você está de plan- tão. Um paciente dá entrada após colisão au- tomobilística, não estava usando cinto de se- gurança. O indivíduo está lúcido, conversando normalmente (sinal que não há envolvimento da via aérea). Nos próximos minutos fica sudoreico, com desconforto respiratório e PA= 85 x 60 mmHg. Rapidamente você ausculta novamente o tó- rax, não há MV à direita. Na ordem errada do exame físico você agora percute o hemitórax direito, ops! Hipertimpanismo. Você assistiu à aula de trauma e se dá conta que é um pneumotórax hipertensivo. Devemos lembrar que é erro imperdoável a solicitação de radiografia de tórax antes de tratar, já que o diagnóstico é CLÍNICO. Sendo assim, as medidas subsequentes e imediatas são: Em primeiro lugar, o tratamento salvador: To- racocentese de alívio com JelcoR 14 ou 16 no 2º espaço intercostal, linha hemiclavi- cular. Essa medida transforma o pneumotó- rax hipertensivo em aberto, minimizando suas repercussões hemodinâmicas e ventilatórias. Em segundo lugar, o tratamento definitivo: Toracostomia com drenagem torácica em selo d’água (fechada), posicionando o dreno entre o 5º e o 6º espaço intercostal, entre as linhas axilar anterior e média. Figura 7: Pneumotórax hipertensivo à di- reita cursando com desvio da traqueia e mediastino para a esquerda, além de com- pressão do parênquima pulmonar e diminui- ção do retorno venoso. E se o pneumotórax continuar “hiper- tensivo” mesmo após a drenagem? Caso o hemitórax seja adequadamente dre- nado*, mas mantenha-se o quadro de pneu- motórax hipertensivo, com desvio do medias- http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR207045 Cirurgia - Volume 8 33Medgrupo - CiClo 2: M.E.D tino, provavelmente existe uma lesão de via aérea de grande calibre se comunicando com a cavidade pleural. O diagnóstico é feito pela broncoscopia e esses pacientes neces- sitam de toracotomia. A intubação seletiva do pulmão oposto ao pneumotórax pode ser tentada a fim de melhor estabilizar o pacien- te antes do tratamento. Outra medida provi- sória pode ser a colocação de um 2º dreno. Uma dica para te ajudar a pensar nesse quadro é o borbulhamento intenso e exage- rado no selo d’água!!! * A posição do dreno deve ser avaliada através de radiografia de tórax. O mal posicionamen- to ou o dobramento do dreno são causas de insucesso na drenagem. Pneumotórax hipertensivo drenado que “se mantém hipertensivo” = lesão de via aérea calibrosa (fístula broncopleural) Toracotomia RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO – MG Um doente com pneumotórax traumático foi drenado, pelo dreno verifica-se saída contínua de grande fluxo de ar e falta de expansibilida- de pulmonar. Qual justificativa? a) Lesão esofageana. b) Complicação de pneumonia estafilocócica. c) Associação a lesão de alça intestinal. d) Lesão de bronquíolo terminal. e) Lesão de grande brônquio. Drenou e não melhorou, devemos pensar em lesão de grande via aérea. Gabarito E. Agora veja esta situação: Paciente politraumatizado é trazido pela ambulância do Corpo de Bombeiros, já em ventilação invasiva, apresentando hipotensão mantida sem resposta a infusão de volume. O exame físico evidencia redução do murmúrio vesicular e hipertimpanismo no hemitórax direito, com turgência jugular. O plantonista imediatamente solicitou uma radiografia de tórax, que é vista a seguir: Avalie a conduta adotada. SIM - Houve erro? Qual é o tratamento imediato? TORACOCENTESE Qual é o tratamento definitivo? TORACOSTOMIA + RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HOSPITAL MOINHOS DE VENTO – RS Homem, 35 anos, condutor de motocicleta, após colisão com carro em rodovia, é atendi- do na sala de emergência. Avaliação inicial mostra um paciente consciente, sem sinais de sangramento externo, com frequência de pul- so de 150 bpm, frequência respiratória de 34 mrm e pressão arterial de 70 x 30 mmHg. A traqueia encontra-se desviada para a esquer- da, palpando-se enfisema subcutâneo na re- gião cervical e no hemitórax direito que apre- senta murmúrio vesicular diminuído. A condu- ta inicial MAIS ADEQUADA neste momento do atendimento seria: a) Entubação orotraqueal. b) Cricotomia. c) Transfusão sanguínea. d) Punção torácica de alívio à direita. e) Toracotomia à direita. A questão nos mostra um quadro clássico de pneumotórax hipertensivo!!! O diagnóstico deve ser clínico e a conduta IMEDIATA, atra- vés de uma toracocentese de alívio, no 2º EIC na linha hemiclavicular, no lado do pneumotó- rax. Gabarito D. Aproveitamos para lembrar a todos que os seguintes termos apresentam significados diferentes e você tem obrigação de não os confundir: Toracocentese = Punção; Toracostomia = Posicionamento de dreno; Toracotomia = Abertura cirúrgica da cavidade torácica. Outra lembrança importante é que esses pro- cedimentos, independentemente do espaço intercostal, devem ser sempre feitos na borda superior do arco costal, de modo a evitar o fei- xe neurovascular intercostal, que geralmente situa-se ao longo da borda inferior da costela. FIGURA 8 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP Um rapaz de 21 anos, motorista envolvido em colisão automobilística (auto × auto), chega ao pronto-socorro muito dispneico, com fre- quência cardíaca de 140 batimentos/minuto, frequência respiratória de 40 movimentos respiratórios/minuto e pressão arterial de 70 × 40 mmHg. A traqueia está desviada para a esquerda e nota-se enfisema de subcutâneo http://#scrolldown http://#page=250 Cirurgia - Volume 8 34Medgrupo - CiClo 2: M.E.D em região cervical e torácica alta. O murmúrio vesicular está muito diminuído em hemitórax direito. Tratamento inicial mais apropriado: a) Cricotireoidostomia (por punção ou cirúr- gica). b) Toracotomia de emergência. c) Acesso venoso de grosso calibre. d) Intubação traqueal e ventilação assistida. e) Punção torácica de alívio. Veja: Trauma torácico + diminuição do mur- múrio vesicular no hemitórax acometido + desvio contralateral da traqueia + enfisema subcutâneo + hipotensão arterial = ??? Quan- ta pista... O autor da questão está gritando: PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO! E na prá- tica é assim mesmo. Usualmente o exame físico é rico e seria um erro imperdoável a solicitação de radiografia de tórax antes de proceder ao tratamento. O diagnóstico é CLÍ- NICO! E qual seria o tratamento imediato? Toracocentese (punção torácica de alívio) com jelco 14 ou 16 no segundo espaço intercostal, linha hemiclavicular. Esta medida salvadora transforma o pneumotórax hipertensivo em aberto, minimizando as repercussões hemo- dinâmicas e ventilatórias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2004 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Criança vítima de acidente automobilístico, com traumatismo torácico grave e insuficiên- cia respiratória. Exame físico: crepitação à palpação, percussão timpânica e murmúrio vesicular diminuído no hemitórax direito. A conduta IMEDIATA é: a) Tubagem orotraqueal e radiografia simples de tórax, para avaliar o comprometimento pulmonar. b) Punção da cavidade pleural direita com agu- lha em selo d’água para confirmação diagnós- tica e drenagem de pneumotórax hipertensivo. c) Drenagem torácica bilateral, pois nesse tipo de trauma é comum haver comprometimento de ambos os pulmões. d) Encaminhamento para o centro cirúrgico para drenagem e exploração cirúrgica, pois é comum a associação com hemotórax. e) Tubagem orotraqueal e estabilização de tórax instável. Vamos logo adiantando o gabarito. A ques- tão da UFRJ tem como resposta a opção C e a da UNICAMP, a alternativa B. Você pode- ria questionar, e com razão – Não devemos seguir o ABCDE? A via aérea não vem pri- meiro? O seu questionamento é lógico, mas em questões de pneumotórax hipertensivo a resposta é sempre intervir no pneumotórax. O examinador poderia argumentar que se você diagnosticou o pneumotórax é porque já passou pela fase A do ABCDE – já que o exame do tórax faz parte da fase B. Outra observação importante: na questão da UNI- CAMP, a resposta mais correta seria a punção do hemitórax com jelco para alívio imediato, seguida pela toracostomia com drenagem em selo d’água. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS Um homem de 28 anos sofre acidente de carro e apresentatrauma fechado de tórax e abdômen. Na abordagem inicial, observa-se esforço respiratório e aparente movimento respiratório paradoxal à direita. A traqueia está levemente desviada para a esquerda e as veias jugulares externas são visíveis. À ausculta, apresenta murmúrio vesicular diminuído à direita. Durante exame, subita- mente, sua pressão cai para 70/30 mmHg e a ventilação espontânea torna-se extrema- mente difícil. A primeira conduta que seve ser tomada nesse caso é: a) Estabilização (contenção) da parede torá- cica. b) Drenagem de pneumotórax. c) Entubação orotraqueal. d) Radiografia de tórax. e) Pesquisa de outra lesão traumática asso- ciada a sangramento. Suspeita clara de pneumotórax hipertensivo: dispneia, hipotensão, turgência jugular, des- vio de traqueia. Qual é a regra? Suspeitou = tratou!!! Resposta letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP Homem, 26 anos, caiu de três metros de altura sobre um anteparo. Chegou ao Pronto-Socorro com máscara de oxigênio com10 L/min. Estava ansioso e gemente referindo muita dificuldade para respirar. Ao exame clínico apresentava palidez cutânea, taquicardia e dispneia. O MV estava abolido em hemitórax esquerdo sendo puncionado e a seguir drenado com saída de grande volume de ar com imediata melhora do quadro. O paciente evoluiu com enfisema de tecido celular subcutâneo e borbulhamento pelo dreno de tórax. O RX pós-drenagem apresen- tava fratura do primeiro ao quarto arcos costais à esquerda, pneumotórax de médio volume e dreno bem posicionado. Com relação ao qua- dro podemos afirmar: a) Com o diagnóstico inicial de pneumotórax hipertensivo, o tratamento definitivo requer a utilização de dois drenos torácicos. b) A punção do enfisema do tecido celular subcutâneo em vários pontos está indicada. c) A toracotomia imediata está indicada. d) A intubação endotraqueal está contra indi- cada após a drenagem de um pneumotórax hipertensivo. e) A broncoscopia está indicada. O enunciado apresenta um caso de pneu- motórax hipertensivo cuja conduta inicial foi a correta. O paciente, contudo, apresentou em avaliação posterior fuga aérea persistente pelo dreno em selo d’água e expansão parcial do pulmão – a radiografia de tórax mesmo após a instalação do dreno demonstrou um pneumo- tórax de médio volume. Sabemos que esta não é uma evolução normal quando há resposta adequada ao tratamento. Sendo assim, o que http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 35Medgrupo - CiClo 2: M.E.D devemos considerar? Sem dúvida alguma a presença de uma fístula broncopleural, compli- cação que perpetua o pneumotórax e justifica o borbulhamento pelo dreno. A conduta é a realização de toracotomia para a abordagem da lesão. Todavia, uma broncofibroscopia deve ser realizada antes; o exame permite uma localização exata do comprometimento brônquico e da fístula aérea. Gabarito E. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP – RIBEIRÃO PRETO Paciente politraumatizado apresenta extenso enfisema da parede torácica, pescoço e ca- beça. Esse enfisema é bilateral e simétrico. Fez-se a drenagem da cavidade pleural direita, após a qual o pulmão não se expandiu e saiu grande quantidade de ar pelo dreno. Decorri- das 24 horas, a situação não se alterou. Indi- que a associação CORRETA no que se refere à hipótese diagnóstica e conduta: A- contusão pulmonar B- rotura de brônquio C- rotura de esôfago D- tomografia computadorizada E- esofagoscopia F- broncoscopia G- tratamento endoscópico e/ou clínico H- tratamento cirúrgico a) A,F,G. d) C,E,H. b) B,F,H. e) B,D,H. c) B,F,G. Questão muito boa!!! Trata-se de um pacien- te politraumatizado que apresenta extenso en- fisema de parede torácica, cabeça e pescoço e que não apresenta melhora do quadro após drenagem adequada do tórax. Neste caso, há uma lesão que perpetua o pneumotórax do paciente através da comunicação direta da via respiratória com a cavidade pleural, não permitindo que mesmo a drenagem do tórax reverta o quadro apresentado. Do que deve- mos suspeitar? Ruptura esofagiana? Ruptura brônquica? Ambas as condições citadas po- dem se apresentar com quadro de enfisema subcutâneo. No entanto, enfisemas extensos e refratários às medidas citadas nos falam a favor de grande escape gasoso, ou seja, al- guma condição que permita um hiperfluxo de gás capaz de manter o pneumotórax mesmo em um tórax drenado, como ocorre na rup- tura de brônquio, que deve ser reconhecida através da broncoscopia (preferencialmente) ou TC e cujo tratamento definitivo é cirúrgico. O gabarito divulgado foi a opção B (rotura de brônquio – broncoscopia – cirurgia). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JA- NEIRO – UFRJ Paciente com trauma fechado de tórax. Ra- diografia de tórax: pneumotórax com 90% de volume. É imediatamente submetido à drena- gem intercostal fechada, com saída de grande quantidade de ar, com borbulhamento intenso, no frasco de drenagem. Radiografia de con- trole: expansão parcial do pulmão. A seguir, o paciente deve ser submetido a: a) Tomografia computadorizada. b) Nova drenagem intercostal fechada. c) Broncoscopia. d) Aspiração pleural negativa. Já deu para perceber que esse tipo de ques- tão cai sempre... Você tem que dominar o tema! Gabarito “C”. Não esqueçam esta importante dica para fe- charmos com chave de ouro o item pneumo- tórax hipertensivo: Murmúrio vesicular reduzido, hipertim- panismo, enfisema subcutâneo, hipoten- são, turgência jugular = PNEUMOTóRAX HIPERTENSIVO = punção imediata com jelco (toracocentese) drenagem em selo d’água (toracostomia). Pegou o conceito? Por fim vamos revi- sar uma última vez com essa questão da UNIFESP: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem de 30 anos, vítima de atropelamento, foi trazido ao Pronto-Socorro em prancha rígida, com colar cervical e o membro inferior esquerdo imobilizado. Estava inconsciente e havia sangue vivo e dentes soltos na cavidade oral. O oxíme- tro de pulso registrava 80% de saturação. 1) Nesse momento, qual é o procedimento a ser executado que seja mais importante para a sobrevivência do paciente? Temos um paciente com perda do nível de consciência e hipóxia. O paciente já está com colar cervical. Nessa momento, a medida mais importante é garantir a via aérea com: - Aspiração e limpeza da cavidade oral - Oxigenoterapia (máscara, cateter) - Intubação orotraqueal ou - Cricotireoidostomia 2) Ao expor o tórax do paciente acidentado, constatou-se crepitação em região peitoral esquerda, além de hipertimpanismo à percus- são e murmúrio vesicular abolido na ausculta pulmonar. No pescoço, havia estase jugular e desvio de traqueia. Nesta circunstância, cite os dois procedimentos a serem executados, na ordem de prioridade, que sejam mais im- portantes para a sobrevivência do paciente: O paciente apresenta um quadro clínico clássico de pneumotórax hipertensivo. Deve ser abordado incialmente com uma toraco- centese de alívio no 2º espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular. A seguir, após estabilização do quadro, a toracostomia em selo d’água no 5º espaço intercostal esquerdo, linha axilar anterior (ou média), é o procedimento definitivo. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 36Medgrupo - CiClo 2: M.E.D O PNEUMOTóRAX ABERTO é a nossa se- gunda armadilha. Este fenômeno ocorre quando temos uma lesão na parede do tórax que estabe- lece uma comunicação da cavidade pleural com o ar atmosférico, portanto um trauma torácico aberto (ferida). Quando o paciente inspira, o ar pode “entrar” no tórax por dois caminhos. O primeiro pela via aérea (conduto que apresenta resistência) e o segundo diretamente para a cavidade pleural através da ferida, trajeto em que não há resis- tência. Qual dos dois caminhos você acha que o ar vai “preferir” seguir? É muito fácil: aquele que não apresenta resistência. Infelizmente isto é péssimo para o paciente, pois ar na cavidadepleural não oxigena ninguém e ainda comprime o pulmão. Essa situação torna-se ainda mais crítica quando a ferida apresenta diâmetro su- perior a 2/3 do diâmetro da traqueia, já que o ar seguirá preferencialmente pela ferida torácica. O tratamento imediato do pneumotórax aberto consiste na realização de um curati- vo oclusivo quadrangular fixado apenas em três de seus lados (curativo de 3 pontas). Isso gera um mecanismo valvular, pois impede que o ar entre durante a inspiração e permite sua saída na expiração – sua oclusão completa pode transformar um pneumotórax aberto em hipertensivo! O tratamento definitivo envolve o fechamento cirúrgico do pneumotórax apenas após a drenagem torácica em selo d’água (to- racostomia). Obviamente não podemos usar a ferida torácica para inserção do dreno. Pneumotórax aberto = curativo de 3 pontas drenagem em selo d’água (toracostomia) fechamento cirúrgico do pneumotórax. Figura 9: Curativo de 3 pontas. PNEUMOTóRAx ABERTO Causa: trauma penetrante de tórax. Patogênese: se a ferida apresenta diâmetro superior a 2/3 do diâmetro da traqueia, já que o ar seguirá preferencialmente pela ferida torácica dispneia importante. Tratamento: • Imediato: Curativo de 3 pontas na ferida. • Definitivo: Toracostomia com drenagem torácica em selo d’água (fechada) + oclusão da ferida. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS – CERMAM Paciente vítima de acidente automobilístico, apresentando quadro de pneumotórax aberto. Foi tratado com cobertura da lesão da parede torácica por compressas, mas vem apresen- tando dispneia intensa e hipotensão. Nesse caso o diagnóstico mais provável é: a) Contusão cardíaca. b) Lesão do parênquima pulmonar. c) Fratura de múltiplas costelas e esterno. d) Hemotórax maciço. e) Pneumotórax hipertensivo. Repare o que aconteceu nesse caso! Um pa- ciente com pneumotórax aberto foi tratado com cobertura total da ferida em vez de um curativo de 3 pontas. A cobertura total permite a for- mação de um mecanismo de aprisionamento de ar pela lesão pleuropulmonar, gerando um pneumotórax hipertensivo! Você entendeu agora a importância do curativo de 3 pontas? Resposta correta “E”. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP ID: Homem, 45 anos de idade, vítima de aci- dente. HMA: refere que uma máquina industrial (torno) causou ferimento no tórax após sua roupa ter ficado presa. Queixa-se de dor torá- xica e muita dificuldade para respirar e falar. EF: O paciente está consciente e orientado, mas agitado. A PA era de 140 x 90 mmHg, a FC: de 110 bpm. O murmúrio vesicular esta diminuído no hemitórax esquerdo. A fotografia abaixo mostra o ferimento torácico próximo à axila. (VER IMAGEM) A conduta mais adequa- da na Unidade Básica de Saúde é: a) Drenagem pleural fechada. b) Curativo oclusivo/compressivo. c) proximação da pele com pontos. d) Curativo com três lados. No caso em questão, a associação de dispneia, dor torácica, murmúrio reduzido em HTE e a foto demonstrando trauma contuso com visualização da pleura e pulmão, nos sugere um caso de pneumotórax aberto. O tratamento indicado é a realização de CURA- TIVO COM TRÊS LADOS, que permite a saída do ar no espaço pleural durante a ins- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 37Medgrupo - CiClo 2: M.E.D piração, sem permitir entrada do ar na expi- ração, permitindo a expansão pulmonar. A aproximação da pele e o curativo oclusivo não permitem o mecanismo de saída sem retorno do ar. Já a drenagem fechada possi- bilita a saída do ar, mas como a lesão conti- nua aberta, há entrada do ar, refazendo o pneumotórax. Gabarito D. TóRAx INsTÁVEL E CONTUsÃO PULMONAR Causa: presença de duas ou mais fraturas em duas ou mais costelas consecutivas respiração paradoxal. Altamente associado a contusão pulmonar. Clínica: dispneia com hipoxemia e consolida- ção pulmonar (contusão). Tratamento: suporte – oxigênio, analgesia, fisioterapia respiratória e reposição cautelosa de volume. Intubação + ventilação mecânica nos casos graves. O TóRAX INSTÁVEL (flail chest) ocorre quando um segmento da parede torácica perde a con- tinuidade óssea com o resto da caixa torácica, associando-se geralmente a fraturas múltiplas, como a presença de duas ou mais costelas fraturadas em dois ou mais lugares* ou então na ocorrência de desinserção costo-condral. O segmento fraturado perde a continuidade com a caixa torácica e leva à respiração paradoxal – ele colaba na inspiração e sofre abaulamento na expiração. A respiração paradoxal parece não levar à insuficiência respiratória na maioria dos casos. Um percentual grande de pacientes que deterioram do ponto de vista respiratório o fazem devido à presença da contusão pulmo- nar, ou seja, sangue no parênquima. *Segundo o Schwartz e Sabiston antigo: três ou mais costelas consecutivas fraturadas em dois ou mais lugares. Para facilitar a compreensão grave da seguin- te maneira: múltiplas fraturas nas costelas consecutivas. O trauma torácico fechado intenso a ponto de causar instabilidade torácica leva com frequência à contusão pulmonar. Nesta condição ocorre acúmulo de sangue nas vias aéreas, causando hipoxemia e consolidação pulmonar ao RX de tórax. Este costuma subes- timar a gravidade do acometimento quando realizado nos primeiros momentos da abor- dagem ao trauma. A evolução do tórax instável para insuficiência respiratória e hipoxemia é extremamente su- gestiva de contusão pulmonar, embora a dor e a hipoventilação pulmonar também colaborem ativamente para o quadro. O tratamento do tórax instável é de su- porte, com oxigênio suplementar, analgesia, fisioterapia respiratória e reposição cautelosa de volume para evitar hidratação excessiva, o que piora a contusão (hemorragia) pulmonar subjacente. A analgesia convencional com opioides nem sempre é suficiente, havendo in- dicação de bloqueio peridural em certos casos. A fisioterapia e o “toalete” respiratório devem ser sempre incentivados. Alguns pacientes podem ser tratados sem ventilação mecânica, mas como a ventilação adequada é primordial em qualquer paciente politraumatizado, a in- tubação com ventilação mecânica por um curto período de tempo pode ser conveniente. A fixação externa dos arcos costais é assunto controverso, só sendo indicada caso o pacien- te necessite de alguma intervenção cirúrgica no tórax por uma outra condição; trauma cranioencefálico e contusão pulmonar grave contraindicam o procedimento! A hemorragia para o interior das vias aéreas felizmente é limitada e o sangue (“contusão pulmonar”) é reabsorvido. Tórax instável = respiração paradoxal Associação frequente com contusão pul- monar. E fique atento a um detalhe, o que mais chama a atenção no tórax instável é a respiração paradoxal, mas duas coisas colocam o paciente em risco: (1) a dor, que inviabiliza uma ventilação adequada e (2) a contusão pulmonar associada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP Um paciente de 30 anos, vítima de queda de moto em alta velocidade, apresenta: A: via aérea pérvia, com colar cervical; B: MV+ bilate- ralmente com roncos difusos, SatO2: 80% com oxigênio; C: PA: 110 × 70 mmHg, P: 95 bpm, abdome flácido e indolor, pelve estável, toque retal sem alterações; D: Glasgow 14, pupilas isocóricas, fotorreagentes; E: escoriações em tórax e membros superiores. Provável causa da hipoxemia: a) Pneumotórax bilateral. b) Contusão pulmonar. c) Hemotórax. d) Broncoespasmo. e) Pneumotórax hipertensivo. Temos um quadro de trauma torácico con- tuso, estável hemodinamicamente, que apre- senta hipoxemia e achado no exame físico MV presente bilateralmente. Podemos assim afas- tar a possibilidade de pneumotórax e hemo- tórax como causas da dispneia e hipoxemia. Na presença de roncos difusos associados à hipoxemia, o diagnóstico mais provável é mes- mo de contusão pulmonar. Resposta opçãoB. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 38Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Mulher, 35 anos, após acidente automobilísti- co tem dor torácica, sem cianose de extremi- dades. A radiografia de tórax mostra contusão nos pulmões e saturação de O2 é de 90%. A conduta mais adequada é: a) Drenagem de tórax em selo d’água. b) Hidratação com 3 L de soro fisiológico e morfina. c) Analgésicos, aumento da oferta de oxigênio e observação. d) Intubação orotraqueal, sedação e ventilação mecânica. Bom, nosso paciente apresenta contusão em ambos os pulmões. Podemos concluir de imediato que houve fraturas de vários arcos costais e que existe tórax instável. Sabemos que nesta condição, a analgesia (por bloqueio intercostal ou até mesmo epidural) muitas vezes evita a evolução para a insuficiência respiratória. Contudo, a causa mais comum desta complicação é a contusão pulmonar subjacente. Como a vítima de trauma não tolera hipoxemia, muitas vezes é necessária intubação seguida de ventilação mecânica por curtos períodos. Como existe ainda uma sa- turação de O2 de 90%, podemos administrar O2 suplementar e observar cuidadosamente a evolução clínica. Um cuidado em casos de contusão pulmonar consiste na administração de volume. Um excesso pode extravasar para os pulmões e piorar os parâmetros ventilató- rios, enquanto a infusão de pouco volume também pode ser danoso. Sendo assim, mui- tas vezes se recomenda a monitorização hemodinâmica invasiva. Gabarito letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Após a ocorrência de um acidente de trânsito, o socorrista informa ao médico de plantão que o paciente apresenta tórax instável. A disfun- ção pulmonar pós-traumática, decorrente da situação relatada, decorre de: a) Movimento paradoxal da parede torácica. b) Perfuração do pulmão por um fragmento de arco costal. c) Dor intensa provocada pelas fraturas dos arcos costais. d) Contusão pulmonar traumática que aumen- ta a fração de shunt. O movimento paradoxal do tórax pode as- sustar, mas dificilmente é o responsável direto pela disfunção pulmonar. A dor intensa e hi- poventilação costumam estar implicadas no mecanismo de insuficiência respiratória, mas sem sombra de dúvidas, a contusão pulmonar é o principal fator envolvido. Assim, a resposta “mais correta” da questão é a letra “D”. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF Para se caracterizar o diagnóstico de “tórax flutuante”, é necessário que haja: a) Fratura de esterno, ocasionando deformi- dade acentuada na região pré-cordial. b) Duas ou mais fraturas em três ou mais costelas consecutivas ou desinserção costo- condral. c) Pneumotórax bilateral e diminuição do re- torno venoso. d) Enfisema subcutâneo extenso por ruptura brônquica. e) Traumatopneia com entrada de ar pela fe- rida na parede torácica. O “tórax instável” ou “flutuante” pode ser observado quando três ou mais costelas con- secutivas são fraturadas em dois ou mais luga- res, segundo a definição do Sabiston, ou ainda quando ocorre desinserção costocondral. Resposta B. Figura 10: Observe a respiração parado- xal em paciente com tórax instável: o seg- mento que perde a continuidade óssea com a caixa torácica colaba na inspiração e sofre abaulamento na expiração. http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR208049A http://#videomiolo=13704-RCIR208049B Cirurgia - Volume 8 39Medgrupo - CiClo 2: M.E.D PNEUMOTóRAx sIMPLEs HEMOTóRAx O PNEUMOTóRAX SIMPLES (não hipertensi- vo) tem gênese semelhante ao pneumotórax hi- pertensivo, porém neste caso não há desvio do mediastino ou hipotensão arterial. A indicação ou não da drenagem em selo d’água depende principalmente da extensão do pneumotórax. É importante que você as conheça. Veja: • Quando pequeno (< 1/3 do volume do pul- mão) deve ser acompanhado clinicamente, sendo indicada drenagem nas seguintes situações: Aumento do pneumotórax. Necessidade de anestesia geral ou ven- tilação mecânica. Antes de transporte aéreo. • Quando grande deve ser sempre drenado. Figura 11: Observe a diferença entre o pneumotórax simples e o hipertensivo: no pri- meiro ocorre livre entrada e saída de ar, enquanto no segundo um mecanismo valvular impede a saída de ar, mas não sua entrada. Algumas referências indicam que sempre de- vemos drenar um pneumotórax traumático... Na realidade, a opção pela observação ou tratamento cirúrgico cabe ao julgamento do médico assistente. Na dúvida ou na impossibi- lidade de acompanhamento a melhor conduta é a drenagem, devido ao risco de evolução para pneumotórax hipertensivo. O pneumotórax simples não causa instabilida- de hemodinâmica, assim não é necessária a toracocentese imediata – partimos direto para o tratamento definitivo, que é a toracostomia com drenagem em selo d’água. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS Paciente masculino de 25 anos, previamente hígido, apresenta-se com queixa de discreta dor torácica, à direita, de início há cerca de 12 horas. Uma radiografia do tórax demons- trou a presença de pneumotórax à direita com volume inferior a 20% do hemitórax, sem doença pulmonar subjacente. Ao exame físico, apresenta-se eupneico, normotenso (120 x 80 mmHg), com frequência cardíaca de 88bpm em repouso e murmúrio vesicular reduzido à direita. Qual a conduta mais indi- cada inicialmente? a) Drenagem pleural intercostal direita suba- quática. b) Punção aspirativa aliviadora. c) Toracotomia axilar direita com pleurodese. d) Drenagem pleural intercostal direita com pleurodese química pelo dreno. e) Repouso e observação. Paciente com provável pneumotórax espon- tâneo (não traumático). Só para lembrar que a conduta nos casos de pneumotórax com tamanho < 1/3 do pulmão é conservadora. Resposta E. O HEMOTóRAX é definido como um sangra- mento na cavidade pleural (veja imagem a se- guir), sendo geralmente causado por laceração pulmonar ou pela ruptura de um vaso intercos- tal. Geralmente este sangramento é autolimi- tado e, por isso, na grande maioria dos casos (85% dos casos, de acordo com o Sabiston), o único tratamento necessário é a drenagem, que leva à reexpansão pulmonar, comprimindo o vaso lesado e parando o sangramento. Con- tudo, alguns pacientes desenvolvem uma forma mais grave denominada hemotórax maciço. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 40Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Hemotórax maciço: o que eu tenho que saber? Esta condição decorre mais frequentemente de traumas torácicos penetrantes que lesam estruturas vasculares. O hemotórax maciço é definido por um acúmulo rápido de mais de 1.500 ml de sangue ou de um terço ou mais do volume sanguíneo do paciente, na cavida- de torácica. O diagnóstico é feito através do exame físico que demonstra a presença de hipotensão ou choque associada à percussão maciça e MV abolido no hemitórax afetado. O que fazer? Devemos realizar a reposição volêmica e drenar o tórax. No hemotórax maciço podemos transfundir o sangue drenado para o próprio paciente (autotransfusão). É um procedimento re- lativamente simples, uma vez que o se o sangue for adequadamente coletado não é necessário nenhum tratamento especial para que o mesmo seja reinfundido. Tem que fazer toracotomia? Depende. Segundo o ATLS, a toracotomia é indicada baseada principalmente no es- tado fisiológico do paciente. Porém, algu- mas condições nos levam a considerar tal procedimento: • Drenagem imediata de 1.500 ml; • Drenagem contínua de > 200 ml/h durante mais de duas a quatro horas após a drena- gem inicial; • Necessidade persistente de transfusões sanguíneas. FIQUE ATENTO: De acordo com a 20ª edição do Sabiston, a toracotomia está indicada na drenagem imediata > 1.500 ml de sangue ou na drenagem constante > 300 ml/h, em três horas consecutivas. A última edição ainda cita que a conduta conservadora pode ser tentada quando, apesarde uma drenagem imediata de 1.500 ml, o paciente se man- tiver estável hemodinamicamente e não apresentar mais sangramento. Figura 12: Volumoso hemotórax à direita em paciente atingido por PAF. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP Homem de 30 anos de idade foi retirado desa- cordado de veículo automotor acidentado; tra- zido ao pronto-socorro de um hospital terciário pelo resgate aéreo. No exame clínico estava intubado, sob ventilação mecânica, agitado. Frequência cardíaca = 120 bpm, pressão arte- rial = 60 x 40 mmHg, pontuação na escala de coma de Glasgow 8T. Semiologia cardíaca normal. Ausculta pulmonar com murmúrios vesiculares audíveis à direita e ausentes à es- querda. Abdome doloroso à palpação, presen- ça de crepitação à mobilização da pelve no sentido anteroposterior. Toque retal com pe- quena quantidade de sangue. Realizada son- dagem vesical, também com pequena saída de sangue. Entre seus documentos havia uma declaração de que era portador de epilepsia, em acompanhamento regular por colega neu- rologista nesse mesmo hospital. Complete o quadro do caderno de respostas citando as três principais hipóteses diagnósticas capazes de justificar a alteração da semiologia pulmonar desse paciente e a conduta terapêutica imedia- ta indicada para cada uma delas. Temos um politraumatizado que dá entrada no pronto-socorro já ventilado mecanicamen- te. Apresenta-se chocado. Qual seria a etiolo- gia da instabilidade hemodinâmica? Sua aus- culta pulmonar revela Murmúrio Vesicular (MV) abolido em hemitórax esquerdo, o que poderia representar um hemotórax maciço ou pneu- motórax hipertensivo (não há descrição da percussão). Apresenta ainda fraturas pélvicas (crepitação à mobilização da pelve) e contusão em abdome, esta última sempre a causa mais comum de choque no politrauma. Mas repa- rem que o enunciado não está nos perguntan- do a possível etiologia do choque, e sim as condições que poderiam justificar a ausculta de MV abolido em um dos hemitóraces e a nossa posterior conduta para lidar com cada http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 41Medgrupo - CiClo 2: M.E.D uma de nossas hipóteses. Os principais diag- nósticos a serem considerados nesse momen- to incluem pneumotórax hipertensivo, cuja drenagem deve ser feita através de toracos- tomia em selo d’água (lembrem-se que nosso doente está no respirador), hemotórax maciço, que requer drenagem intercostal também, e intubação seletiva, que necessita de reposi- cionamento do tubo orotraqueal. A intubação seletiva acontece em alguns casos durante o atendimento pré-hospitalar. Sabemos que a intubação no trauma é muito complicada; mui- tas vezes o profissional não tem tempo ade- quado para avaliar a posição do tubo, e ao acoplar vítima no respirador, o pulmão não ventilado evoluí rapidamente para atelectasia total. Contudo, este “acidente” não seria o responsável pela queda da pressão arterial observada. A ruptura das fibras do diafragma (com hérnia diafragmática) ocorre em 0,8% das vítimas de acidentes automobilísticos e em cerca de 3% a 5% dos casos de trauma- tismo abdominal fechado; o exame físico ra- ramente fornece o diagnóstico, uma vez que esses pacientes chegam em estado grave no pronto-socorro, não havendo tempo hábil para um exame minucioso. Entre 38% e 59% dos casos identificamos lesões associadas, como hemo/pneumotórax ou peritonismo. O sinal de Gibson, com o abdome escavado mostrando assimetria dos hipocôndrios é pouco encon- trado. A dificuldade de passagem do cateter nasogástrico na junção esofagogástrica é al- tamente sugestiva de lesão diafragmática com herniação do estômago para o tórax. Sendo assim, a hérnia diafragmática não foi aceita como uma das três principais hipóteses diag- nósticas pela banca examinadora. GABARITO OFICIAL USP: Hemotórax e Drena- gem; Pneumotórax e Drenagem ou punção In- tubação seletiva e Reposicionamento da cânula. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP Homem de 32 anos de idade foi trazido por amigos após ser vítima de ferimento único por arma branca em região entre o dorso e flanco direitos, durante um assalto. Estava ansioso, mas colaborativo. Queixava-se de dor no local do ferimento. No exame clínico em sala de emergência estava em regular estado geral, consciente, orientado, pontuação na escala de coma de Glasgow = 15. Pressão arterial - 90 x 62 mmHg. Pulso = 120 bpm e Frequência res- piratória = 28 ipm. Semiologia cardíaca e pul- monar normais. Seu abdome era flácido e pouco doloroso em hipocôndrio direito. Presen- ça de lesão penetrante de 5 cm de extensão no maior eixo (horizontal), centrada na linha axilar posterior direita, 2 cm acima da altura da cicatriz umbilical. Cite a conduta na sala de emergência para o caso. Após a descrição do caso, poderíamos até esperar uma pergunta mais difícil ao término do enunciado, mas o autor nos questiona sobre a conduta na sala de emergência. Temos uma vítima de ferida penetrante na transição de dorso e flanco de abdome, que se encontra levemente taquipneica, com pressão arterial sistólica limítrofe e taquicárdica; apresenta pontuação máxima na escala de coma de Glas- gow, o que nos faz concluir que está totalmen- te lúcida. Bom, a conduta inicial, indubitavel- mente, é seguir com nosso exame primário. Não há evidência que indique necessidade de acesso definitivo à via aérea, sendo assim, vamos administrar oxigênio sob máscara facial; existe necessidade de acesso venoso para administração de cristaloides (Ringer lactato ou soro fisiológico); toda vítima de trauma deve receber monitorização cardíaca (uma medida auxiliar ao exame primário); e, por fim, admi- nistração de analgésicos para aliviar a dor, que pode estar contribuindo para a taquicardia. GA- BARITO OFICIAL USP: Monitorização cardía- ca, Oxigênio, Acesso venoso, Soro fisiológico ou Ringer lactato, Analgesia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ Vítima de ferimento por arma de fogo, com orifício de entrada na parede anterior do he- mitórax direito, no quinto espaço intercostal (EID), é admitido em Unidade de Emergência. Após estudo radiológico, que revela hemop- neumotórax, recebe toracostomia pelo sexto EID. Continua com drenagem de ar e sangue indicativas de toracotomia, que mostra ferida de cerca de 2 cm bem no meio do lobo médio. Neste caso, o procedimento cirúrgico mais indicado será realizar: a) Sutura em U nas bordas da ferida. b) Lobectomia média videolaparoscópica. c) Trajetotomia e ligadura de vasos e bron- quíolos. d) Lobectomia médio-inferior aberta com bito- racostomia. Paciente com hemopneumotórax refratá- rio à drenagem inicial (continua saindo ar e sangue) muito provavelmente tem uma lesão de via aérea associada a lesão de um vaso calibroso. A localização da ferida no pulmão direito (bem no meio do lobo médio) é com- patível com este diagnóstico. Nesta situação, devemos abordar o trajeto da bala no órgão (“trajetotomia”) e realizar a ligadura dos vasos e vias aéreas lesadas. Resposta C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Homem, 29 anos, há 45 minutos sofreu aci- dente automobilístico usando cinto de segu- rança. Exame físico: PA = 110x70 mmHg, FC = 126 bpm, FR = 38 irpm; consciente, dispneico; ausência de MV e submacicez em todo o he- mitórax direito, veias do pescoço colabadas. A LESÃO TORÁCICA MAIS PROVÁVEL É: a) Tamponamento cardíaco. b) Pneumotórax hipertensivo à direita. c) Hemotórax à direita. d) Ruptura brônquica à direita. e) Ruptura diafragmática à direita. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 42Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Paciente taquicárdico, com veias do pesco- ço colabadas, MV ausente e submacicez. Só pode ser hemotórax! Qual a conduta? Repo- sição volêmica mais drenagem torácica. Resposta letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE SÃO PAULO – SUS – SP Vítima de ferimento por arma branca na região supraclavicular direita, próximoà fúrcula ester- nal, um senhor de 55 anos chega ao pronto- -socorro, levado por policiais, cerca de 15 mi- nutos após o trauma. Está agitado e apresenta sinais de choque. Não tem murmúrio vesicular em hemitórax direito e a expansibilidade está muito diminuída também à esquerda. Intu- bado por via orotraqueal, é feita drenagem de tórax no quarto espaço intercostal direito, linha axilar média, com dreno tubular de 38 Fr, saindo mais de 2.000 ml de sangue. Obtidos dois acessos venosos calibrosos em membro superior esquerdo, é feita reposição volêmica e pedido sangue O negativo. O paciente é le- vado à sala de operação e deve ser submetido imediatamente a: a) Toracotomia anterolateral direita. b) Esternotomia. c) Cervicoesternotomia. d) Toracotomia anterolateral direita, possivel- mente associada a acesso supraclavicular di- reito e esternotomia (incisão em “livro aberto”). e) Toracotomia anterolateral esquerda. Questão interessante... Conforme você já sabe, o paciente apresenta uma indicação clara para toracotomia devido à formação de um hemotórax maciço, es- tando indicada a toracotomia anterolateral direita. Contudo a questão exige ainda um pouco mais de raciocínio! Qual é a provável causa desse hemotórax? A lesão penetrante no espaço subclavicular direito é bastante su- gestiva de lesão da dos vasos subclávios ou mesmo do ramo inominado da aorta. Dessa forma, é obrigatória, nesse caso, a explora- ção do desfiladeiro cervicotorácico direito através de um acesso supraclavicular e de uma esternotomia. Opção “D” correta. FRATURAs DA PAREDE TORÁCICA A fratura costal é a lesão mais comum nos traumas torácicos fechados (80% dos casos), sendo também frequente no trauma torácico penetrante (25% dos casos). Já vimos que a fratura de dois ou mais arcos costais con- secutivos em pelo menos dois pontos pode causar o “tórax instável”. Independentemente disso, existem alguns outros conceitos sobre as fraturas dos ossos que compõem a parede torácica que você deve saber. • Fraturas dos 3 primeiros arcos costais, escá- pula e clavícula geralmente ocorre no trauma torácico grave, com lesões de grandes vasos. Quase sempre requer cirurgia. • A fratura do esterno geralmente está as- sociada a lesões graves das estruturas do mediastino. • Fraturas do 4º ao 9º arcos costais são as mais comuns no trauma de tórax, sendo mais frequentes em idosos (parede torácica menos flexível). • Fraturas dos 3 últimos arcos costais (10º ao 12º) podem se acompanhar de lesão esplê- nica e/ou hepática. Na maioria dos pacientes, felizmente, as fratu- ras não trazem maiores consequências, exceto a dor. Nos casos refratários à analgesia oral ou parenteral, indica-se bloqueio intercostal ou analgesia epidural, esta última reservada para casos com múltiplas fraturas. A dor que não é tratada adequadamente faz com que o indivíduo expanda menos o tórax e acumule secreções das vias respiratórias, podendo complicar com atelectasias e pneumonias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Homem, 18a, vítima de espancamento há 30 minutos, dá entrada no pronto-socorro refe- rindo muita dor em hemitórax direito. Exame físico: consciente, PA = 130 x 90 mmHg, FC = 82 bpm, FR = 26 irpm, palpação dolorosa de 4º, 5º, 6º e 7º arcos costais à direita, mur- múrio vesicular presente, simétrico, com roncos. Radiograma de tórax: fraturas de 4 costelas em várias posições e opacidade pulmonar na região das fraturas, ausência de pneumotórax ou coleções pleurais. A CONDUTA É: a) Oxigênio suplementar, analgesia e internação. b) Intubação orotraqueal, antibioticoterapia e drenagem pleural. c) Oxigênio suplementar, drenagem pleural e internação. d) Analgesia, antibioticoterapia e internação. Temos uma vítima de trauma de tórax por espancamento. Encontra-se hemodinamica- mente estável e levemente taquipneica. Apre- senta evidências radiográficas de tórax instá- vel (fratura de três ou mais arcos costais consecutivos, cada um fraturado em mais de um segmento). Além disso, opacidade pulmo- nar, que na presença do quadro é altamente sugestiva de contusão pulmonar. Sabemos que no tórax instável as principais condições que levam a insuficiência respiratória são a dor e a contusão pulmonar geralmente asso- ciada...Todavia, não há, a princípio, evidências de insuficiência respiratória. Nesse momento, a melhor conduta é administração de oxigênio suplementar, bloqueio intercostal com o obje- tivo de melhorar a dor e facilitar as incursões http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 43Medgrupo - CiClo 2: M.E.D respiratórias e obviamente internar o paciente para avaliação da evolução do quadro pulmo- nar. Gabarito letra A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Uma mulher de 47 anos foi trazida ao servi- ço de emergência, vítima de atropelamento. Segundo o bombeiro que fez o atendimento pré-hospitalar, a paciente foi atingida por uma motocicleta e bateu com o hemitórax esquerdo no meio fio. Ao exame, encontrava-se estável hemodinamicamente e queixava-se de dor pleurítica de forte intensidade à esquerda. A radiografia de tórax, feita na sala de trau- ma evidenciou fratura do 5°, 6°,7° e 8° arcos costais esquerdos e uma pequena contusão pulmonar. Após discussão, a equipe médica optou por realizar: a) Fixação costal. b) Drenagem torácica. c) Analgesia peridural. d) Ventilação mecânica. Paciente com múltiplas fraturas de parede torácica deve ser manejada com analgesia epidural, para reduzir a dor e permitir que a paciente respire normalmente, prevenindo complicações como pneumonia e atelectasia. Resposta C. Se você errou alguma questão, é hora de voltar e rever o que não foi assimilado! Vamos treinar: assinale se as afirmativas abaixo estão certas ou erradas. Correta Errada Está sempre indicada a realização de radiogra fia de tórax para o diagnóstico de pneumotórax hipertensivo. X Ao diagnosticarmos um pneumotórax hipertensivo, a conduta imediata é a toracostomia com drenagem em selo d’água. X Em alguns casos é necessária a realização de toracotomia como tratamento definitivo do pneumotórax hipertensivo. X Segundo o ATLS, a causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica em pacientes com lesões pleuropulmonares. X A conduta frente a um caso de pneumotórax aberto é a oclusão total imediata da ferida. X Em indivíduos com pneumotórax aberto, a deterioração respiratória ocorre somente quando a ferida apresenta diâmetro superior a 1/3 ao da traqueia. X A contusão pulmonar é a causa mais frequente de insuficiência respiratória em indivíduos com múltiplas fraturas de arcos costais. X TAMPONAMENTO CARDÍACO Causa principal: trauma torácico penetran- te com lesão cardíaca, porém o pericárdio é bloqueado por coágulos ou pelo parênquima pulmonar, causando acúmulo de sangue na cavidade pericárdica. • A câmara mais atingida é o VD. Clínica: o quadro clássico é a tríade de Beck – turgência jugular, hipofonese de bulhas e hipotensão arterial (completa em 30 a 40% dos casos). Pode ocorrer pulso paradoxal. Tratamento: • Imediato: pericardiocentese subxifoidiana. • Definitivo: toracotomia para reparo da lesão. O TAMPONAMENTO CARDíACO tem como causa mais comum o traumatismo torácico penetrante, atingindo e lacerando o coração. A maioria dos indivíduos que sofre esse tipo de trauma tem hemotórax maciço e morte bastante rápida. Porém, em alguns casos, o “rasgo” da estrutura do pericárdio é bloqueado por coágu- los ou pelo próprio parênquima pulmonar, fa- zendo com que o sangue que sai do miocárdio lacerado se acumule na cavidade pericárdica. A câmara mais frequentemente envolvida é o Ventrículo Direito (VD), que tem localização anterior no tórax, estando assim mais “exposta”. Outras causas de tamponamento cardíaco, além das lesões penetrantes torácicas, in- cluem traumas cardíacos fechados (que levam à ruptura miocárdica), dissecções traumáticas daaorta, lesões das porções intrapericárdicas da veia cava inferior e superior e lesão de seg- mentos de artéria e veias pulmonares envoltos pelo pericárdio. O sangue na cavidade pericárdica exerce efei- to compressivo sobre as câmaras do coração, o que leva à restrição do enchimento diastóli- Figura 13: Representação de tamponamen- to pericárdico importante. http://#scrolldown http://#page=251 Cirurgia - Volume 8 44Medgrupo - CiClo 2: M.E.D co, representada clinicamente por turgência jugular e congestão pulmonar. Como o coração não consegue se encher de sangue adequadamente, ocorrem queda do débito cardíaco, hipotensão e choque. Bastam ape- nas pequenos acúmulos de líquido, da ordem de 100 a 150 ml, para que as manifestações clínicas apareçam. A tríade de Beck – turgência jugular, hipofonese de bulhas e hipotensão arterial – está presente em 30 a 40% dos casos. Como ocorre o pulso paradoxal? Sempre que inspiramos profundamente, dimi- nuímos a pressão intratorácica (pelo aumento de volume do tórax) e ocorre um aumento do retorno venoso para as cavidades direitas. Este fenômeno provoca um discreto abaula- mento do septo interventricular em direção à cavidade do VE. Na presença de sangue envolvendo e comprimindo o VE (como no tamponamento) este abaulamento realmente diminui a cavidade ventricular esquerda tran- sitoriamente, pois o VE não tem para onde se expandir: é comprimido de um lado pelo septo e de outro pelo sangue que o envolve. A diminuição da cavidade do VE leva à queda do débito sistólico, o que acarreta uma dimi- nuição da pressão arterial sistólica de mais de 10 mmHg durante a inspiração – o pulso paradoxal. Utilizando ainda a mesma lógica, perceba que, ao inspirar, a veias jugulares desse paciente não conseguirão ser drenadas por completo, uma vez que a drenagem ve- nosa para o coração encontra uma limitação restritiva. Dessa forma, elas permanecerão túrgidas mesmo com a diminuição a pressão intratorácica (Sinal de Kussmaul). Em traumatismos penetrantes, o diagnóstico de tamponamento cardíaco geralmente é mais fácil. Deve-se suspeitar de trauma cardíaco em qualquer ferida no espaço compreendido entre a linha hemiclavicular direita e a linha axilar média esquerda, verticalmente, e entre a fúr- cula esternal e as extremidades anteriores dos arcos costais (até o décimo), horizontalmente. Esses limites são variáveis na literatura, mas ideia a ser passada é a mesma. Ressaltamos para fins de prova que essa área também é conhecida como a “área perigosa de Ziedler”, embora possua uma pequena diferença em seus limites (linha paraesternal direita, manú- brio esternal, linha axilar anterior esquerda, re- bordo da 10ª costela). Ressaltamos ainda que pontos de entrada, como o abdome superior, região escapular, torácica lateral e cervical, também devem ser avaliados. Apesar de possuir diagnóstico clínico, o tam- ponamento cardíaco nem sempre possuirá uma apresentação clássica, dificultando o diagnós- tico. Nesses casos e na abordagem a pacientes com alta probabilidade de trauma cardíaco penetrante, a ultrassonografia FAST está indi- cada para a pesquisa de derrame pericárdico. A confecção de uma janela pericárdica ainda é o melhor método diagnóstico para o tam- ponamento e outras lesões cardíacas já que permite a visualização direta das estruturas. No caso de dúvida diagnóstica e indisponibilidade do ultrassom FAST, a janela torna-se o método diagnóstico de escolha. Figura 14: Janela pericárdica. O tratamento imediato é a pericardiocen- tese subxifoidiana, que deve ser realizada com agulha de ponta romba. Nesta técnica, inserimos a agulha sob o esterno do paciente, apontando para a ponta da escápula esquer- da, avançando até atingirmos o pericárdio. A remoção de quantidades pequenas de sangue (em torno de 20 ml) já é o suficiente para uma melhora hemodinâmica e alívio dos sintomas. Na opção pela janela pericárdica, a drenagem é feita pelo próprio procedimento. Em seguida o paciente deve ser encami- nhado ao centro cirúrgico para o tratamen- to definitivo: toracotomia para reparo da lesão cardíaca. A última edição do ATLS reforça a toraco- tomia como tratamento definitivo e indica a pericardiocentese como uma manobra para “ganhar tempo” se a toracotomia não estiver disponível, mas não enfatiza que ela deva ser sempre feita no manejo inicial do tampona- mento, como em edições anteriores. Em ou- tras palavras temos: Se um cirurgião qualifica- do estiver presente e o ambiente permitir, uma toracotomia deve ser prontamente realizada para aliviar o tamponamento. Este seria o tra- tamento ideal. Mas, se a intervenção cirúrgica não for possível, uma pericardiocentese pode ser realizada, mas sempre lembrando que ela não é o tratamento definitivo. Existe ainda uma situação onde devemos empregar a toracotomia de reanimação nos pacientes com tamponamento: quando houver hipotensão grave (< 70 mmHg) e persistente a despeito da realização pericardiocentese de alívio e da reposição volêmica. Figura 15: Localização ante- rior do VD. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 45Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Duas armadilhas importantes podem surgir no atendimento de um paciente com tampo- namento cardíaco: (1) A reposição de volume no paciente hipo- tenso pode elevar transitoriamente a PA, condição que atrasa do diagnóstico. (2) O hemopericárdio coagulado (15%) pode impedir o sucesso da pericardiocentese, nos dando o resultado falso-negativo da presença de líquido pericárdico em exces- so. Nestes casos, é aconselhável o uso do ecocardiograma (5% de falso-negativos) ou a confecção da janela pericárdica para a confirmação diagnóstica. Figura 16: Observe a técnica da pericar- diocentese subxifoidiana. não esquecer: Hipotensão arterial, hipofonese de bulhas, turgência jugular = TAMPO- NAMENTO CARDÍACO. Conduta: pericardiocentese subxi- foidiana toracotomia para reparo definitivo da lesão. Assim como a toracocentese é o tratamento imediato (“salvador”) no pneumotórax hiper- tensivo, a pericardiocentese é o “salvador” no tamponamento cardíaco. Aliás, como essas são as duas condições mais importantes do trauma torácico, vamos fazer uma breve revisão. Pneumotórax Tamponamento hipertensivo cardíaco Clínica Hipotensão arterial/ Hipotensão arterial/ Choque Choque Turgência jugular Turgência jugular MV reduzido, hipertimpanismo, Hipofonese enfisema subcutâneo. de bulhas Tratamento Toracocentese no 2º espaço Pericardiocentese imediato intercostal, na linha subxifoidiana (“salvador”) hemiclavicular Tratamento Toracostomia no 5º espaço Toracotomia para definitivo intercostal, entre a linha axilar reparo da lesão anterior e a linha axilar média, para drenagem em selo d’água Não precisamos esperar exames de imagem para tratar nenhuma des- sas condições!!! A regra é: Suspeitou = tratou!!! Vamos ver essas duas discursivas!!!! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP Paciente com ferimento penetrante precordial foi admitido no Pronto-Socorro. Encontrava-se consciente e respondendo normalmente aos comandos verbais. Ventilação espontânea, com murmúrio vesicular presente sem ruídos adventícios ao exame, SatO2 95% com más- cara de O2 a 30%. O exame cardiovascular evidenciava FC = 120 bpm, PA = 70/50 mmHg, abafamento de bulhas cardíacas e estase ju- gular bilateral. Considerando o quadro clínico de admissão, responda: Qual o diagnóstico? Com um quadro como esse não tem como errar!!! Murmúrio vesicular presente, Hipoten- são + Turgência de Jugular + Hipofonese de bulhas = Tríade de Beck, o que nos faz pensar em tamponamento cardíaco!!! GABARITO UNIFESP: Tamponamento cardíaco. Veja a sequência na próxima questão!!! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP Paciente com ferimento penetrante precor- dial foi admitido no Pronto-Socorro. Encon- trava-se consciente e respondendo normal- mente aos comandos verbais. Ventilaçãoespontânea, com murmúrio vesicular pre- sente sem ruídos adventícios ao exame, SatO2 = 95% com máscara de O2 a 30%. O exame cardiovascular evidenciava: FC = 120 bpm, PA = 70/50 mmHg, abafamento de bu- lhas cardíacas e estase jugular bilateral. Considerando o quadro clínico de admissão, responda: Qual a conduta? Veja que a pergunta é meio dúbia!!! Como visto anteriormente, a melhor conduta é a to- racocentese com reparo imediato da lesão!!! Agora existe uma conduta provisória, “imedia- ta” que é a pericardiocentese. E foi esse o gabarito liberado pela prova... Mas a melhor pergunta seria: qual a conduta imediata? Ou qual a conduta definitiva? http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 46Medgrupo - CiClo 2: M.E.D GABARITO UNIFESP: Pericardiocentese (OU Punção xifoidea OU punção pericárdica OU punção de Marfan) OU Drenagem pericárdica. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA – RJ Homem branco, vítima de ferimento penetran- te na parte anterior do tórax do PAF. No aten- dimento inicial, apresenta hipotensão arterial, distensão das veias do pescoço e abafamento das bulhas cardíacas. A apresentação clínica descrita nesse caso é chamada tríade de: a) Beck. c) Arnold. b) Charcot. d) Renault. Questão simples! Tríade de Beck (tampo- namento cardíaco): hipofonese de bulhas car- díacas, turgência jugular e hipotensão arterial. Presente em 30 a 40% dos casos. Vamos aproveitar e revisar os outros epônimos: Tríade de Charcot (colangite aguda): febre, dor ab- dominal e icterícia. Reflexo de Arnold: é uma causa de tosse crônica associada ao estímulo do canal auditivo por impacto de cerume e colesteatoma. O ramo auricular do nervo vago também é chamado de nervo de Arnold e iner- va a pele sobre a concha do ouvido externo. Pêntade de Reynold (colangite grave): febre, dor abdominal, icterícia, hipotensão arterial e confusão mental. Gabarito A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP Um rapaz de 20 anos de idade foi vítima de facada única que entrou no 3º espaço inter- costal esquerdo, próximo à linha hemiclavicu- lar. Está torporoso, dispneico e descorado. As veias cervicais estão dilatadas. Pulso: 130 bpm; PA: 80 x 50 mmHg. Pulmões: murmúrio presente bilateralmente, simétrico. Coração: bulhas taquicárdicas, abafadas. Hipótese diag- nóstica mais provável e conduta: a) Tamponamento cardíaco – punção de es- paço pericárdico. b) Hemotórax maciço - drenagem torácica. c) Pneumotórax hipertensivo - descompressão com agulha. d) Pneumotórax simples - drenagem de tórax. e) Pneumotórax aberto - curativo parcialmen- te oclusivo. Temos uma vítima de trauma torácico pe- netrante por arma branca em terceiro espaço intercostal esquerdo próximo à linha hemicla- vicular. Evoluiu com hipotensão, veias disten- didas do pescoço e abafamento de bulhas. O que nos lembra estes achados? A famosa tríade de Beck, identificada em casos de tam- ponamento cardíaco. Qual deve ser nossa conduta? Com o FAST, na sala de emergência, identificamos o derrame pericárdico (através de janela subxifoidiana) e encaminhamos o paciente para toracotomia imediata (de acordo com a última edição do ATLS). Contudo, caso não tenhamos equipe cirúrgica disponível de imediato, uma pericardiocentese pode ser salvadora. A opção que nos parece a mais correta, embora com ressalvas, é a (A). Aten- ção: considere sempre a possibilidade de traumatismo cardíaco em feridas penetrantes no espaço compreendido entre a linha hemi- clavicular direit até a linha axilar média, à esquerda, verticalmente, e fúrcula esternal e as extremidades anteriores dos arcos costais até o décimo, horizontalmente. Pontos de en- trada localizados no abdome superior, região escapular, torácica lateral e cervical (feridas orientadas de cima para baixo) também devem ser avaliadas para possível comprometimento do coração. Gabarito letra A. E como é realizado o tratamento definitivo? Tudo dependerá da região cardíaca acometi- da. As lesões atriais são abordadas com clam- peamento tangencial (ex.: clampeamento por pinças Satinsky) e rafia primária da lesão. As lesões ventriculares são mais graves e podem ser tamponadas temporariamente com gram- pos de pele ou mesmo um cateter tipo Foley até o tratamento definitivo com uma sutura em “U” apoiada em patchs de Teflon® ou pericár- dio bovino para não “rasgar” a musculatura cardíaca. As lesões intracardíacas são mais raras (geralmente o paciente morre antes de ser atendido) e necessitam de circulação extracorpórea para sua correção. Devido à morbidade inerente ao método, é comum que essas lesões sejam deixadas para um segun- do tempo. Cerca de 30% dos pacientes não apresentaram nenhuma repercussão dessas lesões e não necessitaram de reabordagem posteriormente. CONTUsÃO MIOCÁRDICA A contusão miocárdica está associada ao traumatismo fechado do tórax, principalmen- te quando ocorre fratura do esterno ou de arcos costais superiores, sendo caracteri- zada por hemorragia, rotura de fibras mio- cárdicas e edema miocárdico. O Ventrículo Direito (VD) é a câmara mais acometida, por sua posição anterior. As consequências da contusão miocárdica são: • Insuficiência cardíaca aguda – geralmen- te IVD. • Instabilidade elétrica, gerando arritmias. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 47Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Assim, o quadro clínico mais comum é de hipotensão arterial com aumento da Pres- são Venosa Central (PVC), causada pela IVD, com alterações eletrocardiográficas e alterações da motilidade miocárdica ao ecocardiograma. As alterações mais comuns do ECG são extrassístoles, taquicardia sinu- sal inexplicada e Bloqueio de Ramo Direito (BRD), mas até fibrilação atrial e alterações do segmento ST podem ocorrer! O diagnóstico permanece controverso, sendo baseado na clínica, ECg e ECO. A CK e a CK-MB têm pouco valor para o diag- nóstico dessa condição, pois estão elevadas no paciente politraumatizado. A troponina já tem mais valor, principalmente para excluir o diagnóstico após pelo menos oito horas do trauma. Os principais indicadores são o sur- gimento de arritmia ou choque cardiogênico após um trauma torácico. O tratamento é de suporte e é altamente recomendável a moni- torização eletrocardiográfica, que deve ser realizada por 12h nas arritmias leves e por 24 a 48h nas restantes, associado ao tratamento específico para arritmia nesta última. TRAUMA AóRTICO Muitos pensam que a lesão da aorta torácica é uma causa importante de choque no poli- trauma não responsivo à infusão de volume. Isso é um erro, pois a ruptura da aorta é con- siderada um “tudo ou nada” no atendimento ao politraumatizado: a maioria dos pacientes vítimas de lesão aórtica morre no local do acidente e a razão é óbvia, exsanguinação para o mediastino. Menos de 20% sobrevi- vem, graças ao tamponamento da área san- grante por tecidos periaórticos. Quando es- ses pacientes que sobrevivem apresentam hipotensão refratária, esta se deve a outras causas e não à lesão da aorta, que até segunda ordem se encontra estabilizada. Nesses indivíduos, uma hipotensão refratária provavelmente se deve a outras causas como sangramento intra-abdominal, sangramento retroperitoneal, pneumotórax hipertensivo, etc. Na realidade, a ruptura aórtica pode gerar hipertensão arterial de membros superiores com deficit de pulso nos membros inferiores devido à compressão pelo próprio sangramen- to tamponado. A esse quadro damos o nome de pseudocoarctação da aorta. Os locais mais frequentes de ruptura da aorta torácica são: • Aorta descendente após a emergência da subclávia esquerda. Trata-se de uma parte fixada pelo ligamen- to arterioso. Quando a aorta é projetada a tração gera uma laceração logo abaixo da emergência da a. subclávia esquerda. • Aorta ascendente, próximo à valva aórtica. O mecanismo de lesão é diferente. Aqui o esterno costumaestar fraturado. Parte cortan- te do osso fraturado é projetada para trás, lesando o vaso. Perceba que essa lesão tam- bém pode gerar insuficiência da valva. Se você passou o olho displicentemente pelo parágrafo anterior, volte e DECORE. Esse dado costuma se frequentemente co- brado em provas de residência... Veja essa questão do ano passado: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ No trauma fechado do tórax, a rotura da aorta ocorre, preferencialmente, na inserção: a) Da artéria subclávia esquerda. b) Da artéria carótida esquerda. c) Intrapericárdica. d) Da artéria braquiocefálica. Ficou fácil, não? Reposta “A”. Obviamente a lesão aórtica deve ser reconheci- da e tratada, pois a rotura do hematoma aórtico que se forma é catastrófica. No entanto esta rotura não é imediata, ou seja, não costuma ocorrer logo após a chegada à sala de trauma. Desta forma, caso o paciente necessite de cuidados em outros sistemas que ameacem imediatamente sua vida (sangramento intra-ab- dominal de vulto, hematoma intracraniano em expansão, etc), estes devem ser abordados e a lesão aórtica corrigida mais tarde. Geralmente o trauma desses pacientes envolveu uma desaceleração rápida. Como não há, de forma geral, manifestações clínicas evidentes desse diagnóstico, devemos sempre suspeitá-lo quando encontramos alguns sinais no RX de tórax que, indiretamente, sugerem lesão aórtica. Veja os sinais radiológicos, que nos fazem suspeitar de lesão da aorta: (1) Mediastino alargado > 8 cm (principal). (2) Perda do contorno aórtico (mais confiável). (3) Desvio da traqueia e/ou do tubo orotraqueal para a direita. (4) Depressão do brônquio fonte esquerdo. (5) Desvio do esôfago e/ou do cateter naso- gástrico para a direita. (6) Derrame extrapleural apical. (7) Densidade retrocardíaca. (8) Fratura do primeiro e segundo arcos costais ou da escápula. (9) Obliteração do espaço entre artéria pulmo- nar e aorta. (10) Elevação e desvio para a direita do brônquio principal direito. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 48Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Como proceder na suspeita de lesão da aor- ta? A partir de uma radiografia de tórax su- gestiva, podemos solicitar uma Angiotomo- grafia (angio-TC) de tórax ou um Ecocardio- grama Transesofágico (ETE) para confirmar o diagnóstico. Atente que a suspeita de trauma à coluna cervical é contraindicação absoluta ao ETE. Além disso, os comprometimentos do arco aórtico e da aorta ascendente não são bem vi- sualizados neste exame e o pneumomediastino, caso presente, atrapalha a interpretação do ETE. Segundo o ATLS, uma TC “negativa” exclui o diagnóstico de trauma aórtico. Figura 17 A aortografia continua sendo o exame padrão- -ouro para o diagnóstico de lesão aórtica, além de fornecer detalhes anatômicos que poderão ser úteis ao cirurgião. Contudo, devido ao de- senvolvimento da angiotomografia de tórax, a aortografia vem sendo cada vez menos empre- gada. Isso se deve ao fato que, como o aumen- to da resolução do método e com a possibili- dade de reconstrução em três dimensões da imagem, o cirurgião consegue extrair todos os detalhes anatômicos necessários para sua in- tervenção. É claro que ainda existem casos em que a TC não é conclusiva, necessitando-se da aortografia para melhor avaliação. O tratamento é o reparo cirúrgico do segmento acometido assim que possível, com a subs- tituição do mesmo por uma prótese. Como o clampeamento simples da aorta pode gerar paraplegia para os procedimentos com tempo superior a 30 minutos, é prudente a indução de hipotermia e emprego de circulação extra- corpórea. Nas lesões de arco aórtico ou seus ramos, o emprego de ambos é a regra. O reparo com prótese endovascular vem sendo estudado em muitos centros e está despontan- do como uma técnica promissora. Destaca-se pela ausência de necessidade de CEC, menor risco de paraplegia e menor morbimortalidade perioperatória. As lesões restritas a camada íntima podem ser acompanhadas conserva- doramente, uma vez que sua grande maioria pode regredir sem a abordagem cirúrgica. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA – UNIFESP Rapaz de 25 anos dirigia a 100 km/hora, co- lidindo frontalmente seu carro contra árvore. No pronto atendimento encontrava-se com palidez cutânea, mucosas descoradas, su- dorese frontal e de extremidades, agitação psicomotora, sensação de sede. Radiografia de tórax evidencia alargamento mediastinal superior. A hipótese mais provável é: a) Tamponamento cardíaco. b) Fratura de esterno. c) Hematoma de timo. d) Contusão cardíaca. e) Rotura de aorta torácica. Hum... Politrauma, alargamento do medias- tino, mucosas descoradas... deve ser... Muito bem! Lesão de aorta torácica! Resposta letra E. Vamos agora fazer com calma esta sensa- cional questão de prova: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2003 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI- DADE DE SÃO PAULO – FMUSP Paciente do sexo masculino com 40 anos de idade é transferido de um pequeno hospital de periferia, após receber atendimento inicial por ter sido vítima de acidente por motocicleta. Ao chegar, está comatoso, com 8 na escala de Glasgow, intubado por via nasotraqueal e instá- vel hemodinamicamente. Apresenta murmúrios vesiculares presentes e simétricos em ambos os hemitóraces. No local do acidente foi aplica- da uma calça pneumática, mantida após a ava- liação primária, devido a uma fratura instável de pelve e episódios de hipotensão. Iniciou-se reposição volêmica com cristaloides e sangue e, após a administração de quatro bolsas, sua pressão sistólica permanece em torno de 84 mmHg. Apresenta hematoma periorbitário à esquerda, alargamento de mediastino e sublu- xação entre a terceira e quarta vértebra cervical. O passo subsequente adequado é: a) Laparotomia exploradora. b) Tomografia de crânio, abdome e pelve. c) Angiografia de vasos ilíacos e pelve para embolização. d) Lavagem peritoneal diagnóstica. e) Toracotomia de urgência para reparo de lesão de aorta. É um trauma grave em um paciente hipo- tenso não responsivo à infusão de volume. Até segunda ordem, devemos considerar choque hi- povolêmico hemorrágico como a principal causa para esta hipotensão, não acham? Pois bem, o abdome é uma fonte bem mais frequente de cho- que do que as fraturas pélvicas (mesmo quando elas estão presentes). Atenção, o alargamento do mediastino pode nos levar para um caminho errado. Lembre-se, o trauma da aorta é “tudo ou nada”, ou seja, se o paciente sobreviveu, o tamponamento aórtico não leva à hipotensão. Desta forma devemos sempre investigar o abdome como fonte de hemorragia. Veremos mais tarde que a resposta lavagem peritoneal (D) é a correta. Não esquecer: a maioria dos pacientes vítimas de lesão aórtica morre no local do acidente. Quando sobrevivem, apresentam hipotensão refratária, esta se deve a outras causas e não à lesão da aorta, que até segunda ordem se encontra estabilizada. http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR207054 Cirurgia - Volume 8 49Medgrupo - CiClo 2: M.E.D TRAUMA DO DIAFRAGMA O trauma diafragmático geralmente resulta de lesões penetrantes, mas também pode ser decorrente de trauma fechado: • Quanto ocorre lesão penetrante, o acometi- mento do diafragma pode passar despercebido e ser visto apenas após algum tempo, quando um exame de imagem solicitado por outra ra- zão evidencia uma hérnia diafragmática. • O trauma fechado com aumento súbito da pressão intra-abdominal também pode lesar o diafragma, sendo geralmente associado a fraturas dos arcos costais inferiores. O quadro clínico é amplamente variável: a herniação de estruturas abdominais para o tórax pode ser inteiramente assintomática ou mesmo cursar com hipoxemia e insuficiência respiratória. O uso da roupa pneumática antichoque (MAST) nos pacientes com fratura pélvica também pode causar hérnia diafragmática. De acordo com a literatura mais recente, as lesões são mais comuns do lado esquerdo.Figura 18: Conteúdo abdominal no he- mitórax esquerdo – hérnia diafragmática à esquerda. O diagnóstico geralmente é feito facilmente pela radiografia de tórax, porém nos casos duvidosos a passagem de um cateter naso- gástrico antes do RX pode ajudar a tirar a dúvida – CNG este que poderá apontar se o estômago está dentro do tórax. Outra maneira de diagnosticar é quando fazemos um lavado peritoneal diagnóstico e o líquido sai por algum dreno torácico do paciente. O tratamento é a laparotomia com redução da hérnia, seguida de rafia do diafragma. No paciente sem indicação de cirurgia por outras causas, podemos eventualmente conseguir reparar o diafragma através de uma toracos- copia ou uma laparoscopia (com o cuidado de evitar a formação de um grande pneumotórax). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ A rotura diafragmática traumática diagnos- ticada com 48 horas de evolução deve ser abordada por via: a) Torácica posterolateral. b) Torácica por esternotomia. c) Toracoabdominal. d) Abdominal ampla. As roturas diafragmáticas traumáticas estão frequentemente associadas a lesões intra-ab- dominais com indicação cirúrgica, razão pela qual devem ser abordadas por laparotomia. Os defeitos crônicos do diafragma podem são abordados via transtorácica ou abdominal. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL Um menino andando de bicicleta é atropelado por um caminhão. Ao chegar à emergência do hospital, ele está acordado e consciente, mas muito assustado. Não há trauma de crânio, não há fraturas em membros e o exame físico revela escoriações apenas no abdome e tórax. A radiografia de pelve e cervical são normais. A radiografia de tórax mostra nível líquido à esquerda e presença da sonda nasogástrica no tórax nessa mesma região. Qual o próximo passo? a) Drenagem de tórax. b) Toracotomia esquerda. c) Laparotomia exploradora. d) Endoscopia digestiva alta. e) Lavagem peritoneal diagnóstica. Veja que este paciente tem uma hérnia dia- fragmática à esquerda (o cateter nasogástrico “migrou” pra lá): a conduta é a laparotomia com redução da hérnia, seguida de rafia do diafragma. RUPTURA DO EsÔFAGO A ruptura do esôfago geralmente é decorren- te de lesão penetrante, mas pode se dever a traumatismo fechado e iatrogenias. O quadro inicial é de uma mediastinite, que caso não abordada quase sempre invade o espaço pleural e evolui com formação de empiema. Devemos suspeitar de ruptura do esôfago em algumas situações específicas: • Presença de pneumotórax e/ou hemotórax à esquerda sem fraturas de arcos costais. • Relato de trauma fechado na região epigástrica ou na porção inferior do esterno, com sintomas aparentemente desproporcionais à lesão. • Drenagem torácica com conteúdo intestinal ou gástrico. • Presença de ar no mediastino (pneumome- diastino) sem outra causa aparente. http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR207055 Cirurgia - Volume 8 50Medgrupo - CiClo 2: M.E.D O diagnóstico pode ser confirmado por uma combinação de EDA e esofagografia con- trastada na grande maioria dos casos. O tratamento de eleição consiste na drenagem do espaço pleural e do mediastino, com re- paro primário da lesão (em duas camadas) seguido do tamponamento da linha de sutura (ex.: cobertura com retalho de músculo inter- costal). Lembre que o esôfago não possui serosa, dessa forma a rafia da lesão deve ser tratada com muito cuidado. Nesse contexto, é de praxe associar ao procedimento uma gastrostomia descompressiva e uma jeju- nostomia para alimentação enteral precoce do paciente. O tratamento das lesões diag- nosticadas tardiamente será revisto quando estudarmos trauma cervical. E como acessar o esôfago? Conforme você já sabe, o esôfago torácico pode ser abordado pelas toracotomias posterolaterais direita ou esquerda, dependendo da altura da lesão. O esôfago abdominal é idealmente abor- dado por uma laparotomia mediana simples, en- quanto o esôfago cervical é exposto através de uma cervicotomia longitudinal esquerda. Essas múltiplas abordagens são justificadas pela forma de “S” invertido do próprio esôfago. Na região cervical ele fica predominantemente à esquerda. Quando atinge o mediastino posterior é deslo- cado para a direita pela aorta descendente. Na altura do diafragma o esôfago volta para uma localização mais à esquerda, a fim de encontrar o estômago no abdome. LEsÕEs DA ÁRVORE TRAqUEOBRÔNqUICA LEsÕEs qUE ATRAVEssAM O MEDIAsTINO São lesões raras para todos os tipos de traumas. A região mais afetada é o brônquio fonte direito (a menos de 2 cm da carina), que costuma ser lesado por um trauma do tipo desaceleração. Outra explicação possível para esse tipo de le- são é a compressão do ar nas vias aéreas con- tra a glote fechada (como uma “manobra de valsava” com muita pressão). A clínica depen- derá do sítio acometido. Lesões mais distais se comportaram como um pneumotórax, muitas vezes com alto débito após a drenagem devido à fístula broncopleural. Rupturas proximais da traqueia apresentam-se com enfisema subcutâ- neo e pneumomediastino. O diagnóstico da lesão é firmado através de broncoscopia. O tratamento é alcançado através de toracotomia, na qual os tecidos desvitalizados são desbrida- dos e rafia primária é realizada, seguida da in- terposição de um retalho de musculatura sub- costal. Lesões que acometem menos de 1/3 da circunferência respondem a toracostomia em selo d’água e antibioticoterapia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP Mulher, 34 anos, vítimas de ferimento por arma branca em hemitórax direito, altura do 4º EIC linha axilar anterior, chega dispneica à sala de trauma com saturação de O2 = 89%. Rapida- mente, ela tem o tórax drenado com dreno tu- bular grosso ligado a um sistema coletor selo d’água. A saturação após a drenagem pleural = 90%. Realizado Rx de tórax ainda na sala de trauma, que mostra dreno bem posicionado com pneumotórax persistente, apesar de o coletor borbulhar bastante. A próxima conduta é: a) Broncoscopia de urgência. b) Trocar o dreno de tórax. c) Tomografia computadorizada de tórax. d) Colocar um segundo dreno de tórax. e) Encaminhar a doente para toracotomia ex- ploradora. Repare a história clássica: pneumotórax que foi devidamente drenado mas não me- lhorou!!! Isso nos indica uma lesão de grande via aérea. O diagnóstico é feito através de uma broncoscopia e o tratamento geralmen- te é feito através de uma toracotomia. Agora, algumas medidas provisórias como a coloca- ção de um segundo dreno ou a IOT seletiva podem ser adotadas até a conduta definitiva. Gabarito D. As lesões penetrantes por objetos que atra- vessam o mediastino, como projétis de ar- mas de fogo, podem lesar estruturas nobres como coração, grandes vasos, árvore tra- queobrônquica e esôfago. O diagnóstico é feito através do RX do tórax e também do exame físico, que pode evidenciar, por exemplo, orifício de entrada de um projétil em um hemitórax e o orifício de saída, ou o próprio projétil, no outro hemitórax. Nos pacientes que apresentem pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco, etc, essas lesões devem ser abordadas como es- tudamos anteriormente. Nos pacientes instáveis hemodinamicamente, a conduta é a toracotomia exploradora, ideal- mente uma esternotomia mediana ou uma toracotomia bilateral transesternal (Clamshell). Se existem fragmentos metálicos do projétil alojados em estruturas mediastinais, a cirurgia é obrigatória. Caso contrário, e se o paciente estiver hemodinamicamente normal, podemos adotar uma conduta conservadora, sem cirur- gia, porém o paciente deve ser submetido a uma TC de tórax com contraste para avaliar a trajetória do projétil e a necessidade de solici- tarmos novos exames, como angiografia, esofagografia contrastada e/ou EDA, broncos- copia e ecocardiograma. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 51Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Você provavelmente já está lendo essa apos-tila há algum tempo. Dois temas complexos e bastante cobrados (abordagem inicial ao trauma e trauma torácico) ainda estão sendo sedimentados na sua memória... O próximo tema a ser abordado, trauma abdominal, é provavelmente a parte mais cobrada da ma- téria! Dessa forma, antes que você comece a misturar tudo na cabeça, aconselhamos que você interrompa um pouco sua leitura, des- canse e retome o estudo de cabeça limpa e coração aberto!!! Este tema, COM CERTEZA, estará na sua prova, independentemente da instituição almejada. Vamos lá? Inicialmente podemos classificar o trauma abdominal em fechado (contusão abdominal) e penetrante (ferida abdominal). A grande questão ao avaliar uma vítima de trauma abdominal, na prática médica ou nas provas, é determinar se existe ou não indicação cirúrgica. A indicação depende da presença ou da suspeita de lesão de vísceras abdominais. Muitas vezes usamos alguns exa- mes complementares que nos ajudam a tomar esta decisão. Em cerca de 25% dos casos a abordagem cirúrgica é necessária. E para responder se o paciente deverá ou não ser submetido a laparotomia, devemos avaliar se o abdome é cirúrgico. Se sim, a conduta deve ser a LAPAROTOMIA. Mas o que é um abdome cirúrgico? Depende do tipo de trauma... Veja: • Trauma penetrante: sempre que o paciente apresentar evisceração, irritação peritoneal ou choque, o abdome será cirúrgico e a con- duta deve ser a LAPAROTOMIA. Já no trau- ma contuso, o que indica um abdome cirúr- gico é a presença de irritação peritoneal. TRAUMA ABDOMINAL E DO TRATO URINÁRIO INTRODUÇÃO NÃO ESQUECER: ABDOME CIRúRgICO = LAPAROTOMIA • Trauma penetrante: evisceração ou irritação peritoneal ou choque. • Trauma contuso: irritação peritoneal. Agora, se o abdome não for cirúrgico, o que fazer? Trauma abdominal penetrante Vamos começar a nossa discussão com alguns conceitos epidemiológicos que são cobrados com frequência pelos concursos. De acordo com o ATLS, os órgãos mais fre- quentemente envolvidos nas lesões por arma de de fogo são: intestino delgado (50%), o cólon (40%), o fígado (30%) e estruturas vasculares abdominais (25%). Já nas lesões por arma branca, a lesão mais comum é a do fígado (40%), seguido por intestino delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%). Vamos agora estudar de forma separada as lesões por arma de fogo e as por arma branca, destacando as principais indicações do manejo cirúrgico, lembrando sempre que, no trauma penetrante, independentemente do tipo, a pre- sença de irritação peritoneal, choque ou evis- ceração já são indicativos de LAPAROTOMIA. Lesões por arma de fogo: • Devido à elevada taxa de lesões intra-ab- dominais, a imensa maioria dos pacientes vítimas de trauma abdominal penetrante por arma de fogo na região anterior do abdome (de acordo com o ATLS, aproximadamente 98% dos casos) devem ser encaminhados imediatamente para o centro cirúrgico para a realização de LAPAROTOMIA. Feridas no flanco ou dorso do abdome: • Neste cenário, as vítimas que se encontram estáveis hemodinamicamente devem ser melhor avaliadas com tomografia computa- dorizada de abdome e reconstrução tridimen- sional. A TC identifica possíveis lesões na cavidade peritoneal, no retroperitônio, bem como o comprometimento de outras estru- turas retroperitoneais como coluna vertebral, medula espinhal e pelve. Lesões por arma branca: • Se o abdome não for cirúrgico, a conduta depende da localização da lesão. (1) No caso de lesão anterior ou lateral, a ferida deve ser avaliada pelo cirurgião, sob anestesia local! Acompanhe o fluxograma abaixo e veja as indicações cirúrgicas: 51 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 52Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Veja que mesmo com uma exploração positiva ou duvidosa, atualmente, nem sempre indica- mos a laparotomia. Se o paciente se apresen- ta estável, ele poderá ser observado. Se du- rante a observação surgirem sinais de irrita- ção peritoneal, instabilidade ou evisceração, a laparotomia deve ser realizada de imediato. E aqueles que apresentarem queda no valor de hemoglobina > 3 g/dl ou apresentarem leucocitose, deve ser avaliado com cuidado pois existe a possibilidade de lesão intra-ab- dominal, e a TC ou LPD estão indicados. (2) Quando a lesão é dorsal ou no flanco, o exame físico fica mais difícil. Nesses casos, a melhor conduta é realizar uma TC com triplo contraste (oral, retal e venoso) e a cirurgia estará indicada caso seja diagnosticada le- são de alguma estrutura retroperitoneal. E quando indicar a laparoscopia no trauma? A laparoscopia é um procedimento de exceção na abordagem a trauma de abdome, ficando quase restrita a alguns casos de trauma ab- dominal penetrante em que existe dúvida de penetração da cavidade peritoneal. Um exem- plo clássico é a ferida tangencial em flanco por arma de fogo com TC inconclusiva. Habitualmente indicaríamos uma laparotomia exploradora. Contudo, na presença de esta- bilidade hemodinâmica poderia ser realizada uma laparoscopia, capaz de diagnosticar com precisão se houve ou não penetração da ca- vidade peritoneal. Esse raciocínio também pode ser expandido para algumas lesões por arma branca com exame físico duvidoso. Cabe ressaltar que a instabilidade hemodinâmica é uma contraindicação absoluta. Veja agora essas duas questões da prova do SUS-BA: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – BAHIA – BA A conduta a ser tomada em pacientes vítimas de lesão por projétil de arma de fogo varia de acordo com o quadro apresentado. Sendo assim, indique a conduta a ser adotada em paciente, sexo masculino, 25 anos de idade, com orifício de entrada em face anterior de flanco direito e de saída em face posterior de flanco direito, estável hemodinamicamente, sem sinais de irritação peritoneal. Questão interessante. Os traumas abdomi- nais penetrantes por arma de fogo na REGIÃO ANTERIOR DO ABDOME são mais bem trata- dos com laparotomia exploradora. No entanto, naquelas lesões tangenciais e em flancos, se o paciente estiver estável hemodinamicamente, uma TC pode ser feita para elucidar o caso, uma vez que nesses tipos de lesões pode não ocorrer a penetração da cavidade peritoneal. Gabarito SUS-BA : Realizar tomografia com- putadorizada de abdome; manejo clínico do paciente sem evidência de hemorragia em atividade ou ruptura de vísceras ocas no exame de imagem. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – BAHIA – BA A conduta a ser tomada em pacientes vítimas de lesão por projétil de arma de fogo varia de acordo com o quadro apresentado. Sendo assim, indique a conduta a ser adotada em http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 53Medgrupo - CiClo 2: M.E.D paciente, sexo feminino, 35 anos de idade, com orifício de entrada em epigástrio e sem orifício de saída, estável hemodinamicamente com dor abdominal. Veja a diferença. Neste caso, temos uma lesão por PAF na região anterior do abdome e, nesses casos, em mais de 95% das vezes temos lesões intra-abdominais e, por isso, a conduta é a laparotomia. Gabarito SUS-BA: Laparotomia OU laparos- copia. Trauma fechado do abdome Como vimos anteriormente, se o abdome é cirúrgico (irritação peritoneal), a conduta é a laparotomia, caso contrários, devemos avaliar cada caso em específico. Agora, fique atento a um detalhe, devemos ava- liar também se o exame físico é ou não confiável, veja: Antes de discutirmos as indicações de lapa- rotomia, qual é a víscera mais comumente lesada no trauma abdominal contuso? BAÇO. • No paciente desperto, estável hemodinami- camente, sem lesões em outros sistemas, o exame físico é suficientemente sensível para nos responder a essa primeira pergun- ta. Caso o exame físico evidencie irritação peritoneal, a conduta é a LAPAROTOMIA. • Quando a situação é crítica (paciente co- matoso, vítima de TCE ou intoxicado por drogas, e/ou com lesões multissistêmicas) e o paciente não é “capaz de nos responder” a essa pergunta inicial, devemos lançar mãode exames complementares, que avaliarão se há lesão de vísceras abdominais. O primeiro exame complementar que vamos estudar é o lavado peritoneal diagnóstico (LPD). Existem três indicações principais: (1) Vítimas de contusão abdominal, nas quais o exame físico não é confiável devido a rebaixamento do nível de consciência. (2) Hipotensão ou choque no politrauma sem causa aparente. (3) Situações nas quais o abdome pode ser uma das causas de choque e o exame físi- co não é confiável, como, por exemplo, no politrauma com fraturas pélvicas. No traumatismo abdominal penetrante, o uso do LPD é controverso. A única indicação aceitável seria o trauma por arma branca com penetração peritoneal e exame físico negativo. Como veremos adiante, a tomografia de abdome é mais específica para ava- liar lesões do que o LPD e, por isso, este exame fica reservado aos pacien- tes instáveis hemodinamicamente ou naquelas situações em que a TC não for possível. O LPD é realizado através de colocação de um cateter na cavidade peritoneal, através de pequena incisão infraumbilical*. Durante a aspiração inicial, o retorno de 10 ml de sangue ou conteúdo gastrointestinal são sinais ime- diatos de positividade. Caso isso não ocorra, devemos infundir 1.000 ml de soro fisiológico. Um mínimo de 200 ml de líquido de retorno (efluente) deve ser obtido para o sucesso do exame, que será considerado positivo na pre- sença de pelo menos um dos critérios a seguir: • Hemácias > 100.000/mm3. • Leucócitos > 500/mm3. • Amilase > 17,5 UI/L. • Pesquisa positiva para bile ou fibras alimen- tares. • Positividade para Gram. O LPD tem alta sensibilidade e baixa especifi- cidade, ou seja, um alto número de resultados falso-positivos. O índice de falso-positivos é destacadamente maior quando empregamos os critérios de análise do soro infundido do que quando há retorno evidente de sangue. Além disso, o LPD pode não diagnosticar lacerações diafragmáticas, lesões de bexiga na porção extraperitoneal, hematomas retroperitoneais, pequenas lesões intestinais e lesões em pân- creas, rins e duodeno. Fique Atento: CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA: achados que já indicam laparoto- mia exploradora (pneumoperitônio, exame físico confiável para irritação peritoneal e trauma penetrante com evisceração). CONTRAINDICAÇÃO RELATIVA: • cirurgia abdominal prévia; • obesidade mórbida; • cirrose avançada; • coagulopatias. * Em gestantes ou na suspeita de fratura pélvica, a incisão deve ser supraumbilical, evitando-se assim o útero ou um possível hematoma retroperitoneal, respectivamente. O cateter de diálise peritoneal geralmente é o mecanismo de escolha para o LPD, mas, as técnicas fechadas de posiciona- mento de cateter (Seldinger) também po- dem ser utilizadas. Outro exame complementar que pode ser utilizado neste momento é a Ultrassono- grafia (US), também conhecida pela sigla FAST (Focused Assessment Sonography for Trauma). O objetivo deste exame é a detecção de líquido livre na cavidade abdominal. Além disso, o espaço pleural e o pericárdio também http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 54Medgrupo - CiClo 2: M.E.D podem ser observados. De acordo com o ATLS, quatro espaços são examinados: • Espaço Hepatorrenal (Morrison)*. • Espaço Esplenorrenal*. • Pelve. • Pericárdio. * Alguns autores preferem espaço sub-hepá- tico e subdiafragmático esquerdo. O FAST detecta coleções > 250 ml. Vantagens do FAST: exame não invasivo, pode ser repetido quantas vezes forem necessárias. Desvantagens do FAST: exame observa- dor-dependente, baixa acurácia na presença de coleções < 500 ml, gás intestinal e obesi- dade, resultados falso-negativos nas lesões retroperitoneais e lesão de vísceras ocas. escoriação. Toque retal sem alterações, diurese clara; D: Escala de Coma de Glasgow = 15, pu- pilas isocóricas e fotorreagentes; E: Sem outras alterações. Realizada expansão volêmica com 2.000 mL de Soro fisiológico e analgesia. Após essas medidas, o paciente apresenta frequência cardíaca de 86 bpm e pressão arterial de 120 x 70 mmHg. Foi realizada ultrassonografia focada no trauma (FAST). Cite as quatro janelas ultras- sonográficas em que se pesquisa a presença de líquido neste exame. FAST classicamente avalia: espaços heta- torrenal e esplenorrenal, espaço retrovesical ou fundo de saco, e saco pericárdico. E foi justamente este o gabarito liberado pela ban- ca. Agora, aproveitando a questão, atualmente existe o E-FAST (FAST estendido) que, além desses quatro espaços clássicos, o espaço pleural também é avaliado. Em pacientes graves nos quais o FAST não foi esclarecedor está indicado o LPD. Fique Atento: Um conceito moderno que pode ser cobrado pelas bancas mais atuais é o do FAST-estendido, que nada mais é do que uma extensão do protocolo FAST, que proporciona informações valiosas sobre esses pacientes, ampliando o diagnóstico de doenças antes reservadas às cavidades abdominais e pericárdi- cas, com as na cavidade torácica, em busca de hemotórax, derrame pleural e pneumotórax. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – SP Adolescente masculino de 16 anos de idade, trazido ao pronto-socorro de hospital terciário pelo Serviço de Resgate, foi vítima de queda de bicicleta após colisão em alta velocidade contra anteparo fixo. Paciente relata ter trau- matizado a região superior do abdome contra o guidão da bicicleta e refere intensa dor no local. Apresenta ainda trauma craniano, sem perda de consciência, porém refere cefaleia intensa. Nega vômitos. Dados colhidos pela equipe do resgate no local do acidente: Pulso = 112 bpm, Pressão arterial = 130 x 90 mmHg, Frequência respiratória = 16 ipm, Saturação de oxigênio 97% em ar ambiente. Tempo entre acidente e admissão hospitalar: 30 minutos. Na avaliação no pronto-socorro: A: Vias aéreas pérvias, com colar cervical; B: Murmúrios vesiculares presen- tes bilateralmente, expansibilidade simétrica, tórax indolor à palpação, sem crepitações, FR = 16 ipm, saturação de O2 98% em ar am- biente; C: Pulso = 108 bpm, Pressão arterial = 120 x 70 mmHg, sem sangramento visível. Abdome doloroso à palpação em epigástrio e mesogástrio, onde se evidenciam equimose e Tanto o LPD quanto o FAST são utilizados para responder a nossa primeira pergunta (que pode ser dividida em duas dependendo da questão): Houve ou não lesão de estruturas intra-abdominais? – É o abdome ou não fonte dessa hipo- tensão ou choque que nosso pa- ciente politraumatizado apresenta? Em pacientes INSTÁVEIS HEMODINAMICA- MENTE com LPD ou FAST positivo, está in- dicada a LAPAROTOMIA EXPLORADORA. Nos HEMODINAMICAMENTE ESTÁVEIS, o próximo passo é a TC DE ABDOME COM CONTRASTE ORAL E VENOSO. A Tomografia Computadorizada (TC) com contraste oral e venoso seria o melhor método para a avaliação desses pacientes, particularmente para observação do retro- peritônio. A TC é capaz de nos responder as perguntas “Qual é a víscera que foi lesada? Como está o retroperitônio?” com uma acu- rácia superior a 90%. Porém não devemos esquecer que este exame exige ESTABILI- DADE HEMODINÂMICA!” A grande “limitação” da TC são as lesões de vísceras ocas. Apesar da evolução na qualida- de das imagens, ela ainda continua menos sensível para o diagnóstico dessas lesões. Achados como espessamento da parede intes- tinal, inflamação do tecido adiposo ao redor de alças intestinais e a presença de líquido livre na cavidade não explicada por outra lesão são sinais altamente sugestivos de lesão de vísce- ra oca. Esses achados, associados à presença de hipersensibilidade à palpação ou ao sinal do cinto de segurança, indicam a necessidade de exploração cirúrgica. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 55Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Agora sim, conhecendo os exames que nos auxiliam no trauma abdominal contuso, como seria a abordagem? Veja o fluxograma: Repare que nem sempre uma TC evidencian- do lesão é indicativa de laparotomia, devemos avaliar cada caso específico,determinando o órgão lesado e o grau da lesão. Além disso, nos pacientes instáveis, devemos avaliar se ele é ou não vítima de politrauma, pois se for somente um trauma abdominal, o único foco para esta instabilidade é o abdome e o pa- ciente deverá ser submetido a uma laparotomia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 PUC – SOROCABA – SP Um homem de 35 anos, vítima de colisão au- tomobilística, ao dar entrada na URE, apre- sentava dor, escoriações na parede lateral do hemitórax esquerdo, abaixo do mamilo, e hi- potensão arterial. Uma ultrassonografia [FAST] mostrou líquido livre no abdome. É provável que tenha sido atingido o: a) Fígado. c) Baço. b) Rim. d) Pâncreas. A lesão mais comum no trauma contuso é a esplênica! Gabarito C. Figura 19: Lavado Peritoneal Diagnóstico. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ Paciente vítima de trauma abdominal fechado, apresentando-se estável hemodinamicamen- te, realizado ultrassonografia abdominal evi- denciando líquido livre em cavidade abdomi- nal. Qual seria a próxima conduta? a) Tomografia abdominal. b) RX de abdome. c) Repetir USG após duas horas. d) Analgesia e antibioticoterapia. Questão que se repete ano após ano. No trauma contuso de abdome, se o paciente está estável hemodinamicamente devemos reali- zar a TC, mesmo que o FAST seja positivo. Gabarito A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SANTA GENOVEVA COMPLEXO HOSPITALAR – MG Um rapaz de 18 anos de idade, vítima de acidente decorrente de colisão envolvendo dois automóveis, deu entrando no Pronto- -Socorro apresentando-se em REG, desco- rado+, PA: 80 x 60 mmHg, P: 128 bpm, rítmi- co com hálito alcoólico e rebaixamento do nível de consciência. A avaliação inicial pri- mária não mostrava outras alterações. Na avaliação secundária, o exame abdominal revela-se duvidoso. Após a hidratação endo- venosa rápida com 2 litros de Ringer Lactato, a medida de PA apresentava-se 70 x 60 mmHg e P: 140 bpm, rítmico. Qual a condu- ta mais apropriada a seguir? http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 56Medgrupo - CiClo 2: M.E.D a) Transfusão sanguínea e reavaliação. b) Laparotomia exploradora. c) Lavagem peritoneal diagnóstica. d) Tomografia computadorizada de tórax. e) Tomografia computadorizada de crânio. Paciente vítima de trauma contuso do ab- dome, com rebaixamento do nível de cons- ciência, ou seja, exame físico não confiável!!! Apresenta-se instável hemodinamicamente, o que contraindica a tomografia. Como é vítima de politrauma, não sabemos se a instabilidade advém do abdome ou de outro sítio, por isso, antes de levar o paciente ao centro cirúrgico devemos realizar um exame mais rápido à beira do leito, seja o FAST ou o lavado perito- neal. Gabarito letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Homem, 26a, sofreu acidente motociclístico e foi encaminhado ao pronto-socorro após re- ceber 2500 ml de cristaloide. Exame físico: vias aéreas pérvias, ventilação espontânea, FR = 35 ipm, FC = 115 bpm, PA = 80 x 40 mmHg, escala de coma de Glasgow = 15, pupilas isocóricas e fotorreagentes, presença de escoriações em membros e tronco, sem fraturas, bacia estável, com dor abdominal à palpação difusa; ausculta pulmonar simétrica com murmúrio vesicular presente. Ultrassono- grafia abdominal na sala de urgência: líquido livre no espaço peri-hepático e periesplênico. A CONDUTA É: a) Tomografia computadorizada abdominal. b) Hematimetria seriada. c) Laparotomia exploradora. d) Lavagem peritoneal diagnóstica. Uma questão que, cá entre nós, não é difícil. Temos um homem jovem, vítima de trauma por acidente motociclístico. Durante sua avaliação primária encontra-se cons- ciente (pontuação máxima na Escala de Coma de Glasgow), com vias aéreas pérvias e taquipneico. Contudo, o que mais nos cha- ma a atenção, sem dúvida, é a hipotensão sem resposta à reposição volêmica. Sabe- mos que na vítima de trauma, a causa mais comum de hipotensão é o sangramento, e a fonte mais frequente, o ABDOME. Reparem que há dor abdominal ao exame físico, a ausculta pulmonar é normal (afastando pneumotórax e hemotórax maciço) e não há evidências de fraturas pélvicas. Sendo as- sim, nossa suspeita mais do que nunca deve recair sobre o ABDOME. A ultrassonografia abdominal (FAST) só veio a confirmar a le- são intra-abdominal. A “fórmula” é simples: FAST positivo para líquido livre abdominal + instabilidade hemodinâmica que persiste após reposição volêmica = laparotomia ex- ploradora. Sendo assim, a resposta correta é a opção (C). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Paciente de 26 anos, vítima de trauma abdo- minal contuso, dá entrada no setor de emer- gência sonolento, taquipneico, com mucosas hipocoradas, PA: 85 x 45 mmHg e FC: 130 bpm. O abdome é plano, com área de esco- riações em hipocôndrio direito, dor à palpação profunda difusamente, sem possibilidade de avaliação adequada de sinais de peritonite. A ultrassonografia evidenciou líquido livre na cavidade peritoneal. Após as medidas iniciais de suporte, a melhor conduta será: a) Tomografia abdominal. b) Laparotomia exploradora. c) Ultrassonografias seriadas. d) Lavado peritoneal diagnóstico. Questão direta. O paciente vítima de trauma abdominal contuso, que apresenta instabilida- de hemodinâmica e ultrassonografia (FAST) positiva para líquido, até que se prove o con- trário, tem choque hipovolêmico hemorrágico de foco abdominal e deve ser prontamente encaminhado para uma laparotomia de emer- gência. Logo, gabarito letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Mulher, 47a, refere queda do telhado há 1 hora e queixa-se de dor abdominal. Exame físico: consciente, orientada, PA = 80 x 40 mmHg, FC = 110 bpm, FR = 20 irpm, descorada 1+/4+, murmúrio vesicular presente e simétrico, abdo- me doloroso à palpação, sem irritação peritoneal. A SEQUÊNCIA DE CONDUTA É: a) Ultrassonografia na sala de emergência (FAST), oxigênio suplementar e transfusão sanguínea. b) Oxigênio suplementar, reposição volêmica e FAST. c) FAST, tomografia abdominal e reposição volêmica. d) Reposição volêmica, transfusão sanguínea e laparotomia exploradora. Bom, temos uma vítima de queda de grande altura, que apresenta dor abdominal e encon- tra-se levemente descorada. Seus sinais vitais evidenciam hipotensão e taquicardia, sinais que sugerem hipovolemia e a provável etiologia é um trauma abdominal, não concordam? A au- sência de irritação peritoneal jamais descartará um acometimento intra-abdominal. Qual a op- ção que representa a conduta mais lógica? Toda vítima de trauma deve receber oxigênio suplementar, faz parte do “A” do ABCDE. A reposição volêmica com Ringer Lactato aque- cido é mandatória, uma vez que em muitos casos de lesão intra-abdominal a estabilidade hemodinâmica é obtida com este procedimen- to. Em seguida, ainda na Sala de Trauma, a realização do FAST (ou do LPD) é fundamental. A alternativa correta é mesmo a (B). http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 57Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem de 30 anos, vítima de atropelamento, foi trazido ao Pronto-Socorro em prancha rí- gida, com colar cervical e o membro inferior esquerdo imobilizado. Estava inconsciente e havia sangue vivo e dentes soltos na cavidade oral. O oxímetro de pulso registrava 80% de saturação. Na entrada, a vítima estava taqui- cárdica, hipotensa, com bulhas cardíacas abafadas e permaneceu hemodinamicamente instável mesmo após ressuscitação volêmica, com cristaloide. Exame de ultrassonografia estava disponível na sala de emergência. Quais são as quatro janelas ecográficas a serem avaliadas neste instante? Questão clássica, cobrada praticamente todo ano! Se você não decorou, reveja. Os espaços avaliados pelo FAST são o espaço sub-hepático (peri-hepático / Morrison), Espa- ço subdiafragmáticoesquerdo (periesplênico), a pelve e o pericárdio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP Homem, 46 anos, politraumatizado devido a atropelamento apresenta: vias aéreas pér- vias; murmúrio vesicular diminuído à direita com som claro pulmonar à percussão; PA = 110/70 mmHg, FC = 84 bpm; Glasgow = 15. Abdome doloroso à palpação difusa com de- fesa e descompressão brusca dolorosa difu- samente. A tomografia de abdome para ava- liação de lesão de fígado ou baço: a) Deve ser realizada após a reposição volêmica. b) Deve ser realizada após a drenagem de tórax. c) Deve ser realizada após a realização do FAST (ultrassonografia na sala de emergência). d) Deve ser realizada antes da radiografia de tórax. e) Não está indicada. Não caia na pegadinha! Temos uma trauma abdominal fechado com exame físico confiá- vel. Nesse caso a presença de irritação perito- neal indica diretamente a realização de laparo- tomia, sem necessidade de investigação com outros exames. Alternativa “E” correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Jovem, 20a, vítima de acidente automobi- lístico, foi admitido no pronto-socorro cons- ciente, orientado, referindo dor abdominal. Exame físico: FC = 86 bpm, PA = 120x80 mmHg, palpação abdominal dolorosa, sem irritação peritoneal. Realizada ultrassono- grafia na sala de emergência (FAST): peque- na quantidade de líquido livre periesplênico e na pelve. A CONDUTA A SER ADOTADA NUM CEN- TRO DE TRAUMA É: a) Laparotomia exploradora. b) Lavado peritoneal diagnóstico. c) Ultrassonografia abdominal de controle. d) Tomografia computadorizada de abdome. Cuidado para não embarcar na pegadinha da questão... Apesar de o paciente apresentar um FAST positivo, ele se encontra hemodi- namicamente estável. O FAST foi realizado somente pela facilidade de acesso, baixo cus- to e disponibilidade de operador... O melhor exame para esse caso é a TC e ela deve ser realizada mesmo em vigência de um FAST positivo, já que a mesma é capaz da fornecer indicações anatômicas muito mais precisas para o cirurgião. Gabarito: D. A partir de agora, abordaremos as peculia- ridades das lesões de alguns órgãos. TRAUMA HEPÁTICO E DAs VIAs BILIAREs Prevalência O fígado é um órgão frequentemente acome- tido no trauma abdominal. De acordo com o ATLS, ele é o segundo mais acometido no trauma contuso, o primeiro nas lesões abdo- minais penetrantes por arma branca e o ter- ceiro nas lesões por arma de fogo. Esses dados são um pouco conflitantes pois, de acordo com o “National Trauma Data Bank (NTDB)” americano, o fígado é a víscera mais comumente acometida nos traumas penetran- tes como um todo. Na maioria das lesões hepáticas, a hemostasia ocorre espontanea- mente, antes mesmo da laparotomia. Ou seja, na grande maioria dos casos, o sangramento já cessou no momento do atendimento. Classificação Existe uma classificação do trauma hepático de acordo com sua localização e profundida- de. As lesões grau I, II e III são chamadas de “simples”, enquanto as demais (IV, V e VI) são ditas “complexas”. A classificação do trauma hepático se tornou tema muito fre- quente em provas, sobretudo porque a partir da mesma a conduta era definida. Observe a tabela abaixo. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 58Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Inicialmente você pode até ficar assustado, mas seu entendimento é muito simples. Para memorizar a classificação de vez, lembre-se de que existem três principais lesões descriti- vas em um trauma hepático: Hematoma, La- ceração e Lesão Vascular Retro-hepática. O hematoma é uma lesão “benigna” e só está presente nas lesões simples (I, II e III), ao contrário da Lesão Vascular Retro-hepática que, devido a sua gravidade, é considerada diretamente como grau de lesão (V). As lace- rações possuem gravidade variável pela sua extensão e permeiam toda a classificação. Veja como fica mais fácil quando olhamos por esse ponto de vista: Escala de lesão hepática (Revisada em 1994 – AAsT*) grau Tipo de Lesão Descrição da lesão I Hematoma Subcapsular, < 10% de superfície. Laceração Avulsão capsular, < 1 cm de profundidade no parênquima. II Hematoma Subcapsular acometendo de 10% a 50% da superfície. Intraparenquima- toso com < 10 cm de diâmetro. Laceração Avulsão capsular de 1 a 3 cm de profundidade e com < 10 cm de extensão. III Hematoma Subcapsular acometendo > 50% da superfície, ou expansivo, ou roto com sangramento ativo. Intraparenquimatoso com > 10 cm ou expansivo. Laceração > 3 cm de profundidade no parênquima. IV Laceração Rotura parenquimatosa de 25 a 75% de um lobo ou de 1 a 3 segmentos de Couinaud dentro de um único lobo. V Laceração Rotura parenquimatosa de > 75% de um lobo ou de > 3 segmentos de Couinaud dentro de um lobo. Vascular Lesões venosas justa-hepáticas (veia cava inferior retro-hepática e veias hepáticas). VI Vascular Avulsão hepática. * American Association for the Surgery of Trauma. grau Hematoma Laceração Lesão Vascular Retro-hepática Lesões simples I Subcapsular, < 10% de superfície. Avulsão capsular, < 1 cm de profundidade no parênquima. II Subcapsular acome- tendo de 10% a 50% da superfície. Ou Intraparenquimatoso com < 10 cm de diâ- metro. Avulsão capsular de 1 a 3 cm de profundida- de e com < 10 cm de extensão. III Subcapsular acome- tendo > 50% da su- perfície, ou expansivo, Ou roto com sangramen- to ativo Ou Intraparenquimatoso com >10 cm ou ex- pansivo. > 3 cm de profundida- de no parênquima. Lesões complexas IV Rotura parenquimato- sa de 25 a 75% de um lobo ou de 1 a 3 segmentos de Coui- naud dentro de um único lobo. V Rotura parenquimatosa de > 75% de um lobo ou de > 3 segmentos de Couinaud dentro de um lobo. VI Lesões venosas justa-hepáticas (veia cava inferior retro-hepática e veias hepáticas). Ou Avulsão hepática. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 59Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Veja alguns exemplos de lesão hepática: grau Lesão I Pequena avulsão capsular. II Hematoma subcapsular de 10 a 50% da superfície hepática. III Laceração com profundidade > 3 cm e com foco ativo de sangramento (seta). IV Laceração parenquimatosa de 2 segmentos + hematoma subcapsular > 50%. V Laceração parenquimatosa acometendo > 75% do lobo direito e parte do lobo esquerdo. VI Lesão da veia cava hepática retro-hepática (seta). É possível ainda visualizar a trajetória do projétil pelo parênquima hepático. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 60Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Tratamento Fique bem atento, pois as novas edições do Sabiston e do ATLS revolucionaram o trata- mento das lesões hepáticas. Então, como vamos fazer? Inicialmente, vamos discutir a abordagem mais atual, de acordo com a 20a ed. do Sabiston e 9a do ATLS... Mas como sabemos que algumas bancas teimam em trazer conceitos não tão atuais, vamos mostrar também a conduta mais antiga. Atualmente, sabemos que o principal preditor de sucesso para o tratamento conservador de uma lesão hepática é a estabilidade hemodi- nâmica e, além disso, a grande maioria dos sangramentos é tamponada de maneira espon- tânea. Por isso, atualmente, até mesmo nas lesões grau V, em um paciente estável hemo- dinamicamente devemos tentar a conduta não cirúrgica. O paciente deve ficar em observação aguardando o tamponamento da lesão. Além disso, com o advento da arteriografia, podemos tentar também a realização da embolização de um vaso que permaneça sangrando. Ou seja, excluindo-se as lesões grau VI, no paciente estável, devemos tentar o tratamento conser- vador. E essa é a visão mais atual. Agora, veja como era diferente. Para tentarmos o tratamen- to conservador, antigamente o paciente deveria obedecer alguns requisitos: • Lesões grau I, II ou III. • Estabilidade hemodinâmica. • Nível de consciência preservado. • Ausência de outras indicações para laparo- tomia. • Necessidade de menos de dois concentrados de hemácias (relativo).queda do hematócrito ou deterioração dos si- nais vitais, o paciente pode receber alta, caso contrário, uma nova TC deve ser realizada para observar a presença e o grau e hemope- ritônio. Segundo a literatura atual, pacientes estáveis não precisam de uma nova TC antes da alta. Gravou o conceito? Os hematomas subcapsulares sem lesões parenquimatosas associadas podem ser evacuados ou simplesmente observados. Grande parte das hemorragias hepáticas é solucionada temporariamente apenas com tamponamento com compressas ou pela compressão manual. Nesse momento, o ci- rurgião deve optar por um procedimento de “controle de dano” ou pelo controle definitivo da hemorragia. No primeiro caso, o paciente seguirá para terapia intensiva com as lesões tamponadas para ter a hemostasia final reali- zada em futura abordagem. Tamponamento é definido como a técnica de colocação de compressas ou gazes sobre uma área que continua exsudando depois que o sangramento mecânico foi estancado. E se houver extravasamento de contraste na fase arterial da TC? No passado, era indicação absoluta de cirur- gia mas, atualmente, dividimos em três tipos: Tipo 1: extravasamento de contraste para a cavidade peritoneal = LAPAROTOMIA. Tipo 2: hemoperitônio e extravasamento de contraste para dentro do parênquima = tentar ANGIOGRAFIA com EMBOLIZAÇÃO e avaliar necessidade de laparotomia. Tipo 3: extravasamento de contraste para dentro do parênquima e sem hemoperitônio = ANGIOGRAFIA com EMBOLIZAÇÃO. Mas como vimos anteriormente, a tendência atual é que esses critérios sejam “relaxados” e cada vez mais pacientes sejam tratados con- servadoramente no futuro, permanecendo em dieta zero com monitorização do hematócrito e dos sinais vitais em CTI, durante pelo menos 48 horas. Após esse período, os pacientes podem ser transferidos para uma unidade in- termediária e iniciar dieta oral, permanecendo lá mais três dias, em repouso. Caso não haja Figura 20: Tamponamento hepático com balão. Existem diversas técnicas para o controle de- finitivo das lesões hepáticas: • Eletrofulguração com bisturi elétrico. • Cauterização bisturi de argônio. • Aplicação local de agentes hemostáticos (colágeno microcristalino, cola de fibrina, Bioglue, etc). • Sutura com chuleio em “U” ou pontos em “X” dependendo do tamanho da laceração. Evitar os famosos “pontões” de Categute cromado. • Confecção de “tampão” com omento maior. • As lesões hepáticas devem ser drenadas de- vido ao risco considerável de fístula biliar. Os sistemas de drenagem fechados são preferi- dos devido ao menor risco de infecção. Nas lesões penetrantes o manejo inicial pode ser mais complicado. A hemorragia pode ser detida temporariamente se o trajeto for ocluído http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 61Medgrupo - CiClo 2: M.E.D com um cateter de Foley ou balão. O tratamen- to definitivo é variável de acordo com a lesão e pode exigir hepatotomia com dissecção manual e ligadura dos vasos envolvidos ou mesmo hepatectomia. Uma opção seria enca- minhar o paciente para realização de arterio- grafia com embolização dos vasos sangrantes após o tamponamento cirúrgico. E se o tamponamento não funcionar? Muitas vezes o cirurgião fica “perdido”, diante da grande quantidade sangue advindo de um trauma hepático. Existe uma máxima em ci- rurgia de trauma que diz o seguinte: “Fique calmo, o sangue não é seu”. Imbuídos desse espírito, devemos ter tranquilidade para per- ceber que se o tamponamento não é eficaz, provavelmente estamos diante de uma lesão dos grades vasos hepáticos (vasos portais, veias hepáticas, veia porta retro-hepática). Mas como saber a origem do sangramento frente à complexa vascularização hepática? Para este fim empregamos a manobra de Pringle – clampeamento das estruturas do ligamento hepatoduodenal (colédoco, artéria hepática e veia porta). Se o sangramento para, ele é proveniente dos ramos da artéria hepá- tica ou da veia porta e o cirurgião tem meia hora para identificar e ligar os vasos sangran- tes (tempo que as estruturas do ligamento hepatoduodenal podem permanecer clampea- das). O uso de corticosteroide pode prolongar este tempo para uma hora. Caso a manobra de Pringle não estanque o sangramento, ele é proveniente de ramos do segmento retro-he- pático da veia cava inferior ou da veia hepáti- ca. Outra manobra que ajuda na identificação da fonte do sangramento é o descolamento dos ligamentos falciforme, coronário e trian- gulares, para melhor exposição do parênquima hepático. O cirurgião deve proceder um des- colamento cuidadoso, já que existe a possibi- lidade de destamponar um hematoma da re- gião retroperitoneal do fígado. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE MACEIÓ – AL Manobra de Pringle é manobra que objetiva interromper o fluxo vascular através do clam- peamento do pedículo: a) Hilo hepático. c) Hilo renal. b) Hilo pulmonar. d) Hilo cardíaco. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SANTA GENOVEVA COMPLEXO HOSPITALAR – MG A “manobra de Pringle” pode ser utilizada na seguinte situação: a) Trauma esplênico. b) Trauma renal. c) Trauma hepático. d) Trauma com lesão de artéria ilíaca interna. e) Trauma com lesão de veia mesentérica superior. Pra quem duvidou que essa manobra é im- portante!!! Gabaritos A e C respectivamente! As lesões dos vasos portais são tratadas no momento do diagnóstico. Podem ser tenta- dos o reparo primário ou enxertia com safena em caso de perda significativa da parede. Em caso de lesões extensas ou instabilidade per- -operatória os vasos podem ser simplesmen- te ligados. A ligadura das artérias hepáticas é geralmente bem tolerada devido à presença de colaterais, mas o surgimento de algum grau de necrose do parênquima é possível. Na ligadura da artéria hepática direita a co- lecistectomia deve ser empregada, uma vez que a mesma é a origem mais comum da a. cística. Lesões dos troncos portais direito ou esquerdo também podem ser tratadas com ligadura, contudo a hepatectomia ipsilateral é necessária em um segundo tempo devido à grande necrose resultante da mesma. As lacerações das veias hepáticas e cava retro-hepática são um verdadeiro “pesadelo” mesmo para os cirurgiões de trauma mais ex- perientes. Elas apresentam uma mortalidade altíssima, acima de 80% mesmo em centros especializados! Dessa forma, se porventu- ra a terapia compressiva funcionar na lesão de veias hepáticas ou na lesão de cava, não se deve realizar maiores explorações, sen- do o paciente enviado para observação em terapia intensiva. Naqueles que mantêm o sangramento a despeito do tamponamen- to, algumas manobras heroicas podem ser tentadas. Na vigência de uma manobra de Pringle podemos realizar: I) Isolamento com controle da veia porta su- pra-hepática, veia porta suprarrenal e aor- ta supra celíaca. Provoca uma redução abrupta do retorno venoso. O by-pass ve- novenoso pode ser empregado em asso- ciação para evitar a queda do retorno. II) Shunt atriocaval (Schrock) Necessita de uma esternotomia mediana. III) Shunt com balão (Moore Pilcher). A ideia central é parar ou desviar a circulação da veia cava inferior e suas tributárias hepáti- cas, permitindo a rafia da lesão. Ainda que as técnicas sejam empregadas de forma corre- ta, a probabilidade de sucesso é baixa. Figura 21: Manobra de Pringle: Clam- peamento das estruturas do ligamento hepatoduodenal. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 62Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Por fim, nas avulsões com grande destrui- ção do parênquima hepático a única solu- ção é a hepatectomia total. Nesses casos, o paciente sairá da sala em anepatia e listado na categoria de urgência para a fila do trans- plante hepático. Veja como as bancas adoram o tratamento conservador!!!! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Homem, 21 anos, vítima de acidente motoci- clístico em alta velocidade, deu entrada no pronto socorro consciente, sem evidências de fraturas.Exame físico: FC = 80 bpm; FR = 16 irpm; PA = 122 x 80 mmHg; apresenta esco- riações em hipocôndrio e flanco direito e dor local. Htc = 40% e Hb = 13,0 g/dL. Tomografia computadorizada de abdome: lesão hepática grau II e líquido livre no espaço hepatorrenal e cavidade pélvica. Internado em UTI para monitorização. No controle de 12 horas de internação: FC = 84 bpm; FR= 18 irpm; PA = 118 x 76 mmHg; Htc = 30% e Hb = 9,7 g/dL. A CONDUTA É: a) Repetir a tomografia computadorizada do abdome. b) Tratamento conservador não cirúrgico. c) Indicar transfusão sanguínea. d) Indicar laparatomia exploradora. Paciente estável hemodinamicamente, o que nos possibilitou realizar a tomografia que iden- tificou uma lesão hepática grau II e líquido livre (provável sangue) em um paciente ESTÁVEL hemodinamicamente... Nas lesões hepáticas, se o paciente encontra-se estável, devemos tentar o tratamento conservador. Gabarito B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP Homem de 48 anos, vítima de acidente auto- mobilístico, deu entrada no PS consciente, orientado, com queixa de dor abdominal prin- cipalmente em hipocôndrio direito. Exame fí- sico: descorado (+/4+), PA 90 x 60 mmHg, FC 114 bpm. Após avaliação inicial e infusão de 3 litros de cristaloide, paciente apresentou estabilidade hemodinâmica. Tomografia de abdome: hematoma subcapsular no segmen- to VI e laceração no segmento VII de 3 cm de extensão e 3 cm de profundidade, com líquido peri-hepático e na goteira parietocólica direita, em pequena quantidade. A conduta é: a) Observação em regime de UTI com contro- le seriado de Hb e Ht. b) Laparotomia exploradora. c) Videolaparoscopia. d) Observação na sala de emergência e repe- tição da tomografia de abdome em 8 horas. Interessante questão que aborda um concei- to importante, só podemos afirmar que um paciente encontra-se instável hemodinamica- mente após a administração inicial de volume!!! E no caso acima, após esse volume o pacien- te manteve a estabilidade!!!! E lesão hepática em paciente estável, devemos sempre lembrar do tratamento conservador!!!! Gabarito A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP Num paciente com trauma hepático grave, após a realização da Manobra de Pringle, não foi observado melhora do sangramento. No caso apresentado, deve-se suspeitar de lesão da (s): a) Veia cava infra-hepática. b) Veia hepática. c) Artéria hepática comum. d) Veias frênicas. e) Veia renal direita. Essa questão traz um conceito anatômico interessante sobre as divisões da Veia Cava Inferior (VCI). Na ocasião do concurso, muitos alunos confundiram a VCI infra-hepática com a VCI retro-hepática, achando que eram sinô- nimos. Atenção alunos: estes são segmentos diferentes do vaso! A porção infra-hepática da VCI é a que se localiza ANTES DO FÍGADO e depois das veias renais, e a porção retro-he- Figura 22: A) Shunt átrio-caval B) Shunt com Balão. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 63Medgrupo - CiClo 2: M.E.D pática – que é uma das possíveis causas de sangramento de origem hepática que não cessa após a manobra de Pringle –, se loca- liza por detrás do fígado. O sangramento pro- veniente da VCI infra-hepática é de fácil aces- so e de pouca complexidade em seu tratamen- to (não existem ramos tributários), sendo a hemorragia adequadamente controlada até mesmo com compressão manual. Como este segmento da VCI não tem qualquer relação com o parênquima do fígado, obviamente não é acometido em um TRAUMA HEPÁTICO. Em lacerações hepáticas acompanhadas de san- gramento profuso, podemos lançar mão da Manobra de Pringle, que consiste no clampea- mento com pinça vascular das estruturas do ligamento hepatoduodenal (colédoco, artéria hepática e veia porta). Essa técnica permite a diferenciação entre sangramentos provenien- tes de ramos da artéria hepática ou da veia porta, que param de sangrar, daqueles oriun- dos do segmento retro-hepático da veia cava inferior e/ou da veia hepática, chamados de “sangramento de retorno”, que não são inter- rompidos com a manobra. Estas lesões cos- tumam ser gravíssimas e controladas apenas com procedimentos como shunt atriocaval, exclusão vascular do fígado ou manobra de Patcher (compressão bimanual do fígado) ou com o tamponamento numa cirurgia para o controle de danos. Portanto, a única alterna- tiva que responde adequadamente a questão é a opção (B). Lesões das vias biliares extra-hepáticas Nas lesões pequenas, envolvendo menos de 50% do ducto, a conduta é o reparo primário com colocação de dreno em T (tipo Kehr). Quando ocorre perda importante de tecido ductal, pode ser realizada uma coledocojeju- nostomia em Y de Roux, com a instalação de um tubo transanastomótico exteriorizado pela parede da alça. Uma complicação frequente é a estenose biliar tardia. Lesões da vesícula biliar A vesícula biliar para os cirurgiões parece ser tratada como o apêndice: deu problema, tira, não serve pra muita coisa mesmo. Brincadeira à parte, a colecistectomia é o tratamento de escolha na grande maioria dos casos. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP Com relação ao trauma abdominal fechado é correto afirmar: a) Diante do diagnóstico de lesão hepática deve ser iniciado o tratamento não operatório. b) O achado de sinal de sangramento ativo (Blush) à TC de abdome, contraindica o trata- mento não operatório da lesão hepática. c) Caso a lesão hepática seja a causa da hemorragia com instabilidade hemodinâmica durante a laparotomia exploradora, deve ser feito o seu tratamento definitivo nesse mo- mento, independente das condições clínicas do doente. d) Quando se avalia a possibilidade de trata- mento não operatório da lesão hepática é importante considerar a disponibilidade de arteriografia e embolização. e) A presença de fraturas ortopédicas cirúrgi- cas de membros inferiores representa con- traindicação absoluta para o tratamento não operatório da lesão hepática. Vamos avaliar as opções... A) incorreta. A lesão hepática pode ser cirúr- gica ou não! B) incorreta. A conduta conservadora pode ser adotada mesmo com sangramento ativo. C) incorreta. O damage control, ou seja, em- pacotamento com compressas do fígado san- grante pode ser necessário caso o paciente esteja muito grave. D) correta. A arteriografia e a embolização podem ser necessárias para parar o sangra- mento de um vaso sem a necessidade de laparotomia. E) incorreta. A concomitância de outras lesões abdominais contraindica o tratamento conser- vador na lesão hepática. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR Paciente masculino, 32 anos, vítima de atro- pelamento há 48 horas, desenvolve dor abdo- minal localizada em hipocôndrio direito, pali- dez, icterícia, hematêmese e melena. Qual a conduta que melhor atende a situação clínica atual do paciente? a) Arteriografia abdominal. b) Tomografia computadorizada do abdome. c) Lavagem peritoneal diagnóstica. d) Laparotomia exploradora. e) Endoscopia digestiva alta. Aprenda com a questão... Este paciente, além de hemorragia digestiva alta (hematê- mese e melena), apresenta dor em hipocôn- drio direito e icterícia. Esta é exatamente a tríade clínica da hemobilia (tríade de Philip Sandblom), definida como sangramento na árvore biliar através de uma comunicação entre um vaso sanguíneo e o ducto biliar, cuja principal etiologia é traumática (iatrogê- nica ou acidental). Agora que já sabemos o provável diagnóstico, como chegar até ele? A EDA, que deve ter sido a resposta de muitos, é diagnóstica em apenas 10% dos casos, quando evidencia sangramento oriundo da ampola de Vater. Atualmente o exame de escolha é a arteriografia, que, além de diag- nóstica, é também terapêutica, uma vez que pode interromper o sangramento através da embolização. Esta propriedade é particular- mente importante nos casos mais graves, como o apresentado (o paciente apresenta palidez cutânea, indicandoperda sanguínea significativa). Resposta letra A. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 64Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Classificação TRAUMA EsPLÊNICO Escala de Lesão Esplênica (Revisada em 1994 – AAsT*) grau Tipo de Lesão Descrição da lesão I Hematoma Subcapsular acometendo < 10% superfície. Laceração Laceração capsular com < 1 cm de profundidade no parênquima. II Hematoma Subcapsular acometendo de 10 a 50% da superfície. Intraparenquimatoso com < 5 cm de diâmetro. Laceração Laceração capsular com 1 a 3 cm de profundidade no parênquima, que não compromete vasos trabeculares. III Hematoma Subcapsular acometendo > 50% superfície, ou em expansão, ou roto com sangramento ativo. Parenquimatoso com ≥ 5 cm ou em expansão. Laceração > 3 cm de profundidade ou envolvendo vasos trabeculares. IV Laceração Laceração com comprometimento de vasos segmentares ou hilares produzin- do desvascularização de > 25% do baço. V Laceração Baço pulverizado. Vascular Lesão hilar com desvascularização esplênica. A classificação de trauma esplênico, infe- lizmente, também deve ser vista com muito carinho... Por mais que a mesma não seja cobrada dire- tamente, existem muitas questões que cobram a conduta baseadas nessa classificação. grau Hematoma Laceração Lesão Vascular do Hilo Lesões simples I Subcapsular, < 10% de superfície. Laceração capsular com < 1 cm de profundidade no parênquima. II Subcapsular acometendo de 10% a 50% da superfície. Ou Intraparenquimatoso com < 5 cm de diâmetro. Laceração capsular com 1 a 3 cm de profundidade no parênquima, que não compromete vasos tra- beculares. III Subcapsular acometendo > 50% da superfície, ou expansivo, Ou roto com sangramento ativo Ou Intraparenquimatoso com > 5 cm ou expansivo. > 3 cm de profundidade ou envolvendo vasos trabeculares. Lesões complexas IV Ruptura de hematoma in- traparenquimatoso com sangramento ativo. Laceração com compro- metimento de vasos seg- mentares ou hilares pro- duzindo desvasculariza- ção de > 25% do baço. V Baço pulverizado. Lesão hilar com desvascularização esplênica. Prevalência O baço é o órgão mais comumente lesa- do no traumatismo fechado de abdome. Assim, devemos suspeitar de lesão esplênica em todos os casos de trauma abdominal fe- chado, especialmente quando houver fratura dos últimos arcos costais à esquerda ou dor subescapular à esquerda (sinal de Kehr). Veja esses exemplos de lesão na página seguinte. Tratamento Durante muito tempo quase todos os pacientes eram tratados com esplenectomia. Contudo, devido à ocorrência infecções potencialmente graves por encapsulados nesses pacientes e ao maior desenvolvimento dos exames de imagem, o cenário mudou bastante. Os pacientes com lesões de grau I a III que estejam estáveis hemodinamicamente podem ser tratados cli- nicamente, com monitorização do hematócrito e acompanhamento tomográfico durante dois a três dias, desde que sejam cumpridas três condições: http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 65Medgrupo - CiClo 2: M.E.D grau Trauma esplênico I Laceração < 1 cm II Laceração entre 1 a 3 cm III Hematoma subcapsular envolvendo >50% da superfície do baço IV Desvascularização de mais de 25% do baço V Baço pulverizado Exemplos de lesão: • TC sem extravasamento de contraste no hilo esplênico. • Ausência de outras indicações de laparotomia. • Ausência de distúrbios da hemostasia (coa- gulopatia, insuficiência hepática ou uso de anticoagulantes). Assim como no trauma hepático, a tendência é que haja um “relaxamento” desses critérios e cada vez mais pacientes sejam tratados con- servadoramente. Cabe lembrar ainda que o tra- tamento conservador é muito mais “trabalhoso” que o tratamento cirúrgico, necessitando de uma estrutura hospitalar que promova monito- rização clínica e laboratorial constantes. Não é raro encontrar instituições que não preenchem esses critérios no Brasil... Nelas o melhor trata- mento permanece a abordagem cirúrgica! Por que essa agressividade? A lesão esplênica é eventualmente tampona- da pelo próprio baço e estruturas adjacentes, o que leva ao tratamento natural da lesão. No entanto, a mesma pode voltar a sangrar ge- rando hemoperitônio e choque hemorrágico (lesão do baço em “dois tempos”). Quando existe monitorização frequente, esse tipo de http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 66Medgrupo - CiClo 2: M.E.D complicação é rapidamente identificada e tra- tada. Contudo, caso haja uma monitorização ineficaz, o tratamento conservador pode pro- vocar óbito de um paciente potencialmente tratável com laparotomia. Uma medida que vem ganhando grande des- taque na abordagem conservadora ao trauma esplênico é a arteriografia nas lesões que demonstram sangramento ativo na TC (ex.: algumas lesões do tipo III e IV) que ainda apresentam parênquima esplênico viável. O método, além de diagnóstico, é capaz de em- bolizar os vasos sangrantes. Cabe ressaltar que qualquer tipo de instabilidade hemodinâ- mica é contraindicação absoluta ao método. Os pacientes com trauma esplênico associado a hipotensão, extravasamento de contraste TC (sem indicação de angiografia) ou distúrbios da hemostasia têm indicação cirúrgica. O baço está longe de ser um órgão “dispensável”, já que possui cerca de ¼ do tecido linfoide do organismo. Assim, devemos tentar preser- var a maior parte possível de parênquima, realizando uma esplenectomia parcial ou uma simples rafia do órgão, sendo a esplenectomia reservada apenas para algumas situações: • Lesão hilar. • Pulverização do parênquima esplênico. • Lesão grau II ou maior em pacientes discrási- cos ou com múltiplas lesões intra-abdominais. Uma complicação direta da cirurgia é fístula pancreática, originada da transecção da cauda do pâncreas durante a ligadura do hilo. Nos casos em que suspeitamos da lesão intraope- ratória, um dreno de sucção contínua deve ser empregado. Para as demais situações de abordagem cirúrgica do baço a drenagem é desnecessária. Mais detalhes sobre a esple- nectomia podem ser aprendidos no boletim operatório da apostila de síndromes anêmicas. Outro ponto importante é que o baço represen- ta cerca de 25% do tecido linfoide do organis- mo. O risco de sepse fulminante, notadamente na população pediátrica, é aumentado naque- les pacientes esplenectomisados. Não devemos nos esquecer que, quando a es- plenectomia for realizada, a imunização para a prevenção de infecções pneumocócicas, meningocócicas e aquelas ocasionadas por Haemophilus influenzae tipo B está indicada. Nos pacientes vítimas de trauma, o melhor momento para a administração da vacina é o 14º dia de pós-operatório. Em crianças com o calendário vacinal em dia, a imunização para hemófilos não é necessária, pois é realizada antes de um ano. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR – CIRURGIA GERAL Qual das modalidades terapêuticas abaixo é a opção mais frequente para o manuseio das lesões esplênicas ocorridas em trauma abdo- minal fechado? a) Tratamento operatório conservador - esple- nectomia parcial. b) Tratamento operatório conservador - esple- norrafia. c) Tratamento operatório radical - esplenec- tomia total. d) Tratamento radiológico intervencionista - embolização angiográfica. e) Tratamento não operatório. Questão simples. A conduta é conservadora na maioria das lesões esplênicas fechadas. Resposta E. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ Homem de 50 anos de idade é vítima de colisão veicular e é levado à sala de emergência, onde refere desconforto abdominal. O exame clínico revela mucosas conjuntivais hipocoradas e fre- quência cardíaca de 85bpm, sendo a pressão arterial de 140x90mmHg. Abdome tenso, sem irritação peritoneal. O hemograma solicitado revelou valores dentro da normalidade. Uma TC contratada revela hematoma subcapsular, abrangendo 10% da área da superfície do baço e hematoma intraparenquimatoso com 4 cm de diâmetro com pequeno hemoperitônio.Nesse caso, pode-se afirmar que: a) A lesão é grau III e exige esplenectomia de urgência. b) A lesão é grau II e pode ser tratada conser- vadoramente. c) A idade já é indicação para a esplenectomia de urgência. d) A avaliação deve incluir obrigatoriamente uma angiografia. Consultando a tabela, vemos que se trata de uma lesão grau II. E se eu não tivesse decorado a tabela? Teria como acertar também. Veja: As opções C e D são absurdas, restando a dúvida entre A e B. Você sabe que as lesões esplênicas grau I a III podem ser tratadas conservadora- mente em paciente com estabilidade hemodi- nâmica desde que não haja outras indicações de laparotomia, que a TC não demonstre ex- travasamento de contraste no hilo esplênico e que não haja coagulopatia. O paciente preen- che esses critérios, logo a resposta correta é a letra B. Mesmo que a lesão fosse grau III, o tratamento também seria conservador. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO – USP A adoção do tratamento conservador não operatório no trauma de víscera abdominal é possível desde que: a) A hemoglobina inicial tenha valores maiores que 10 g/dl. b) Não haja lesão de mais que um órgão sólido. c) Não haja a necessidade de transfusão de sangue. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 67Medgrupo - CiClo 2: M.E.D d) O paciente apresente estabilidade hemo- dinâmica após ressuscitação volêmica inicial. Questão um pouco estranha. Provavelmente o autor da mesma está se referindo apenas ao trauma fechado abdominal (contusão abdomi- nal), já que o trauma penetrante geralmente tem indicação cirúrgica. E muito provavelmente está se referindo ao trauma esplênico, e que o principal item a ser “checado” na avaliação desses pacientes é realmente a estabilidade hemodinâmica. Se o paciente está estável e a lesão é no máximo grau III, podemos passar aos outros critérios que acabamos de ver na ques- tão anterior. O gabarito divulgado foi a opção D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD Paciente vítima de acidente automobilístico com diagnóstico de hemoperitônio. Durante laparoscopia exploradora foi identificado he- matoma subcapsular de 45% da área intrapa- renquimatosa, e de 4 cm de diâmetro em baço. Podemos classificar essa lesão esplênica como: a) I. b) II. c) III. d) IV. e) V. É incrível, mas questões que exigem me- morização das escalas de trauma da AAST continuam caindo em provas. Que mau gosto pedir que você decore esta tabela enorme! Fique Atento: Da mesma maneira do que nas lesões hepáticas, nas lesões es- plênicas, cada vez mais vem se tentando a terapia conservadora. No entanto, de acordo com a últi- ma edição do Sabiston, as lesões graus IV e V apresentam falha no tratamento conservador de 33% e 75%, respectivamente, o que para eles é inaceitável, principalmente tendo em vista que 8% desses ressangramentos ocorreram após nove dias. Desta forma, mesmo que alguns serviços tentem o tra- tamento conservador, o Sabiston defende que nesses casos a con- duta cirúrgica deve ser adotada. A boa notícia é que essas lesões são a minoria. Esta fala sobre o baço. Devemos lembrar que o baço é o órgão mais comumente lesado no traumatismo fechado de abdome. Quando suspeitar desta condição? Em todo trauma abdominal importante, principalmente quando há fratura de arcos costais à esquerda ou dor subescapular também à esquerda (sinal de Kehr). Ah, o gabarito dessa questão interes- santíssima é a letra B. TRAUMA DUODENAL Prevalência O duodeno é um órgão pouco acometido no trauma abdominal, já que boa parte dele é protegida por sua localização retroperi- toneal. Os traumatismos penetrantes são a causa mais frequente de trauma duodenal. A causa mais comum de trauma duodenal fe- chado é o impacto do volante do carro contra o abdome num acidente de carro. Diagnóstico O exame físico desses pacientes é caracterís- tico, já que as lacerações do órgão são geral- mente associadas a retropneumoperitônio, acarretando dor lombar e em flancos com irradiação até escroto e crepitação ao to- que retal. A hiperamilasemia é um achado laboratorial comum. A radiografia característica de pneu- moperitônio secundário à laceração duodenal evidencia apagamento da sombra do psoas, ausência de ar no bulbo duodenal e ar no re- troperitônio, delineando os rins (fazendo con- traste com a cápsula renal). Além disso, nas lacerações duodenais ocorre extravasamento de contraste da alça durante a realização de seriografia ou TC de abdome. Já o hematoma duodenal pode se apresentar com a imagem em “empilhamento de moedas” ou “mola em espiral” no exame contrastado. Figura 23A: Ar delineando o rim di- reito após perfuração duodenal. Figura 23B: Sinal da “mola em es- piral” – marcação das pregas coni- ventes numa alça de delgado por obstrução extrínseca. http://#scrolldown http://#videomiolo=RCIR207068 Cirurgia - Volume 8 68Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Outra tabela. Até mesmo essa já foi cobrada! Escala de Lesão Duodenal grau Tipo de Lesão Descrição da lesão I Hematoma Envolvendo uma única porção do duodeno Laceração Espessura parcial, sem perfuração II Hematoma Envolvendo mais de uma porção do duodeno Laceração < 50% da circunferência III Laceração 50 a 75% da circunferência da 2ª porção 50 a 100% da circunferência da 1ª, 3ª e 4ª porções IV Laceração > 75% da circunferência da 2º porção ou envolvimento da ampola ou ducto biliar comum distal V Laceração Lesão maciça do complexo duodenopancreático Desvascularização do duodeno Vascular As principais lesões duodenais são o hema- toma e laceração. A lesão vascular envolve a lesão conjunta da cabeça do pâncreas e desvascularização de ambos, sendo extre- mamente grave. Os hematomas são absorvidos dentro de 10 a 15 dias e geralmente não necessitam de tratamento direto. Para aqueles que apresen- tem-se como obstrução pilórica está indicada a passagem de cateter nasogástrico para as- piração da secreção gástrica e nutrição pa- renteral total, com reavaliação por seriografia 5 a 7 dias após. Se não for possível progredir a dieta oral e houver manutenção do quadro por 14 dias a abordagem cirúrgica para des- compressão está indicada. Já o tratamento das lacerações é cirúrgico e depende do seu grau. Grave o conceito: Hematomas duodenais: Tratamento conservador X Laceração duodenal: Tratamento cirúrgico! Vamos rever as lesões e o tratamento indicado: Trauma Duodenal grau Hematoma Tratamento Laceração Tratamento Lesão Vascular Tratamento I Envolvendo uma única porção do duodeno Regride espontanea- mente. Descompres- são gástrica e NPT se obs- trução pilórica. Espessura parcial, sem perfuração • Evolução < 6 horas: ra- fia simples e omentoplastia (Maior parte dos casos). • > 6h: des- compressão duodenal com sonda, jeju- nostomia ou duodenosto- mia. II Envolvendo mais de uma porção do duodeno < 50% da cir- cunferência III 50 a 75% da circunfe- rência da 2ª porção 50 a 100% da circunfe- rência da 1ª, 3ª e 4ª por- ções • Reparo pri- mário, exclu- são pilórica (Vaughan/ Jordan) e dre- nagem. • Alternativa: duodenojeju- nostomia em Y-de-Roux. IV > 75% da circunferên- cia da 2º porção ou envolvimen- to da ampola ou ducto bi- liar comum distal • Reparo do duodeno e ducto biliar + posicionamen- to de dreno de Kehr com uma longa alça transpapilar. • Alternativa: Derivação bi- liodigestiva. V Lesão maciça do complexo duodenopan- creático Desvasculari- zação do duo- deno Duodeno- pancreatec- tomia http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 69Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Lembramos ainda que para uma exposição adequada do duodeno é necessário rebater o cólon direito (Manobra de Cattel) e o próprio duodeno (Manobra de Kocher) para acessar a porção retroperitoneal do mesmo. Até 15 a 20% dos pacientes com trauma duo-denal desenvolvem fístulas duodenais ou abs- cessos. O tratamento das fístulas é feito com CNG e NPT, havendo resolução dentro de 6 a 8 semanas. Já os abscessos podem ser dre- nados via percutânea ou através de cirurgia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG J.F.G.H., 22 anos, sexo masculino, vaqueiro, foi vítima de um golpe direto por coice de ca- valo no abdome anterior há cerca de 24 horas. Não procurou atendimento na ocasião. Deu entrada no hospital queixando-se de descon- forto abdominal com irradiação para o dorso, sem sinais de irritação peritoneal, estável he- modinamicamente. Solicitada propedêutica laboratorial e de imagem: Hemoglobina 15,3 g/ dl, leucócitos totais 16.000/mm³, plaquetas 256.000/mm³, amilase 256 UI, PCR 93, lactato 2,3 mg/dl. Radiografia de tórax sem alterações. FAST: ausência de líquido livre. Tomografia computadorizada do abdome com retropneu- moperitônio. Dentre as opções abaixo, qual é a conduta CORRETA para este paciente? a) Alta hospitalar com antibiótico oral e retorno em sete dias para repetir a tomografia. b) Internação e encaminhamento para laparo- tomia exploradora. c) Internação, jejum, cateterismo nasogástrico e reavaliações seriadas. d) Observação hospitalar, com repetição dos exames laboratoriais e da tomografia em 24 horas. Questões que abordam o trauma duodenal sempre são interessantes!!! Veja a cinética do trauma, a região de contato!!! É justamente esse o tipo de trauma que pode gerar essas lesões. E o paciente apresenta retropneumo- peritônio, logo a nossa conduta deve ser ci- rúrgica. Gabarito B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – RJ Um paciente, vítima de colisão de automóvel, dá entrada no pronto-socorro. Refere não ter usado o cinto de segurança e ter sido proje- tado contra o volante. O exame físico revela estabilidade hemodinâmica. O paciente refere dor mal definida à palpação do andar superior do abdome. Não indica dor à descompressão. O RX simples de abdome mostra a presença de ar em torno do rim direito. O diagnóstico mais provável deve ser o de uma lesão no(a): a) Reto. b) Sigmoide. c) Ângulo de Treitz. d) Segunda porção duodenal. O enunciado descreve um trauma abdo- minal cujo mecanismo foi provavelmente um choque do andar superior do abdome contra o volante do automóvel. A vítima apresenta dor abdominal maldefinida à palpação, se encontra estável hemodinamicamente e sem sinais de irritação peritoneal. O exame radiológico de- monstra ar em torno do rim direito. Bom, este achado é compatível com ar em retroperitônio, o que no trauma significa lesão de segmento retroperitoneal de víscera oca. O diagnóstico é de comprometimento da segunda porção do duodeno; é bom lembrarmos que esta víscera, de aproximadamente 20 cm de comprimento, é quase toda retroperitoneal. Devido a esta localização, muitas vezes a lesão de duodeno torna-se um desafio diagnóstico; contudo, o sinal radiológico descrito é muito compatível. O ângulo de Treitz (que marca a transição duodenojejunal) e o sigmoide são segmentos do trato digestivo peritonizados. O reto possui um segmento proximal, recoberto pelo peri- tônio, e um distal, totalmente extraperitoneal. Gabarito letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF Paciente, 23 anos, após traumatismo abdomi- nal fechado, apresenta dor em andar superior do abdome, náuseas e vômitos. Ao exame radiológico contrastado do tubo digestivo, observa-se imagem de “mola em espiral” na segunda e terceira porções do duodeno. O diagnóstico provável é de: a) Hematoma de corpo de pâncreas compri- mindo o duodeno. b) Hematoma retroperitonial comprimindo o duodeno. c) Hematoma duodenal. d) Contusão da cabeça do pâncreas compri- mindo o duodeno. e) Ruptura duodenal. Questão simples... Atenção à figura que acabamos de ver, pois pode ser cobrada nas provas de segunda fase com “multimídia”... Resposta letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – HUOL Uma motorista de 26 anos, que usava cinto de segurança, foi levada ao hospital de trauma, após colisão frontal com caminhão. O exame primário não revela evidência de traumatismo grave, exceto pela queixa de dor abdominal difusa, porém discreta. Os ruídos hidroaéreos estão diminuídos e a macicez hepática é du- vidosa. Uma radiografia de tórax em posição ortostática revela pneumoperitônio. Nesse caso, a paciente deve ser: a) Observada procurando evidências adicio- nais de lesão intra-abdominal. b) Submetida imediatamente a laparotomia. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 70Medgrupo - CiClo 2: M.E.D c) Submetida a lavagem peritoneal. d) Submetida a ultrassonografia (FAST) de abdome. Desaceleração abrupta aparada pelo cinto de segurança deve sempre sugerir lesão fe- chada de víscera oca. Frente esses paciente com trauma abdominal fechado e estável hemodinamicamente o melhor exame a ser solicitado seria uma TC de abdome. Eis que a banca nos brinda com uma radiografia?!? Maluquices à parte, o dado a ser passado pela questão é que o paciente apresenta um pneu- moperitônio, sugestivo de lesão de víscera oca, indicando assim a laparotomia imediata. Opção “B” correta. TRAUMA PANCREÁTICO Prevalência O pâncreas é outro órgão pouco acometido no trauma abdominal, sendo os traumatismos penetrantes a causa mais frequente. Diagnóstico Comumente, o indivíduo com trauma pancreá- tico tem lesão de outros órgãos e de grandes vasos abdominais, razão pela qual esses pa- cientes são submetidos a laparotomia explo- radora, sendo a lesão pancreática geralmente diagnosticada na cirurgia. O hematoma em re- gião central de abdome, o edema pancreático a presença de bile no retroperitônio indicam a lesão do órgão. Para a inspeção do mesmo deve ser realizado um acesso à retrocavidade com incisão do ligamento gastrocólico e libera- ção da cabeça e da cauda do pâncreas (com a manobra de Kocher e liberação dos ligamentos esplênicos respectivamente). Caso haja dúvida quanto ao acometimento ductal, pode-se infun- dir contraste ou corante no ducto de Wirsung, para observar se há ou não extravasamento. Nos pacientes sem indicação de laparotomia, o diagnóstico é mais difícil. A hiperamilasemia, apesar de frequente, não tem sensibilidade nem especificidade suficientes nesta situação. Ela pode estar ausente nos exames laborato- riais precoces ou pode estar elevada secunda- riamente à lesão de uma víscera oca. A manu- tenção dos níveis elevados de amilase deve levantar a suspeita para o diagnóstico. No ma- terial obtido via LPD podemos encontrar amila- se elevada. A TC com duplo contraste é o me- lhor exame para o diagnóstico, embora possa estar normal após as primeiras 8h do trauma. Classificação e Tratamento Na maioria dos casos, o tratamento do trau- ma pancreático é cirúrgico. E o principal indi- cador de pior prognóstico é a lesão ductal. Se houver somente hematoma (grau I e II sem lacerações), a conduta é conservadora. Nas lesões grau II com laceração do parênqui- ma, a abordagem cirúrgica gira em torno do debridamento + hemostasia local + drenagem. Quando houver lesão ductal (graus III, IV e V), o tratamento dependerá de sua localiza- ção da lesão. No corpo e na cauda a pan- createctomia corpo-caudal com pode ser rea- lizada. Na cabeça do pâncreas a ressecção torna-se um tratamento mais complicado. Na maior parte das vezes apenas a colocação de um dreno permitirá a formação de uma fístula orientada, que pode ser tratada pos- teriormente sem necessidade de ressecção cirúrgica. Nos casos de grande destruição da cabeça do pâncreas e do duodeno a duode- nopancreatectomia estaria indicada. Devido à grande morbimortalidade inerente ao pro- cedimento, muitas vezes é interessante rea- lizar apenas o tamponamento e hemostasia local para que a reabordagem seja feita após a estabilização do paciente (damage control). Para lesõesmais “caprichosas”, sem lesão da via biliar associada, uma ressecção par- cial da cabeça do pâncreas pode ser tentada. A complicação pós-operatória mais comum das vítimas de trauma de pâncreas é a fístula pancreática, acompanhada ou não de abs- cesso do pâncreas. O tratamento da fístula é conservador (drenagem, dieta zero e NPT). Os resultados obtidos até hoje com os análogos da somatostatina foram controversos. Já os abs- cessos devem ser abordados cirurgicamente. Resumindo... Hematoma: observação. Laceração sem lesão ductal: observação ou desbridamento. Laceração com lesão ductal: ressecção se corpo-caudal e drenagem ou duodenopancre- atectomia se envolver a cabeça do pâncreas. PaRa a PRova... A resposta depende da relação entre a lesão e os vasos mesentéricos superiores: Lesão à direita dos vasos mesentéricos su- periores: duodenopancreatectomia; Lesão à esquerda dos vasos mesentéricos superiores: pancreatectomia distal. QUAL CIRURgIA REALIZAR??? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC Um homem, 62 anos, sofre trauma abdominal contuso e tem laparotomia de urgência indica- da. Nesta é realizada esplenectomia e nota-se contusão da cauda pancreática. O paciente é mantido com dreno abdominal pós-operatório, http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 71Medgrupo - CiClo 2: M.E.D com drenagem diária de 300 ml/dia. A dosa- gem desta secreção mostra amilase de 20.000 U/ml. O melhor manejo clínico é: a) Pancreatectomia distal. b) Injeção de cola biológica via dreno abdominal. c) Alimentação enteral via sonda nasoenteral posicionada após ângulo de Treitz. d) Jejum, nutrição parenteral total e somatos- tatina. e) Colangiopancreatografia endoscópica re- trógrada com utilização de stent. Outra tabela. Embora menos cobrada, já apa- receu em provas! Escala de Lesão Pancreática (AAsT) grau Tipo de Lesão Descrição da lesão Tratamento I Hematoma Contusão leve sem lesão ductal Apenas observação. Laceração Laceração superficial sem lesão ductal II Hematoma Contusão maior sem lesão ductal ou perda tecidual Laceração Laceração maior sem lesão Dieta zero, desbridamento, ductal ou perda tecidual hemostasia e drenagem. III Laceração Transecção distal ou lesão do Pancreatecomia distal, parênquima com lesão ductal pancreaticojejunostomia em Y-de-Roux. IV Laceração Transecção proximal* ou lesão parenquimatosa envolvendo a ampola V Laceração Trauma maciço envolvendo a cabeça do pâncreas * A porção proximal do órgão é a que está à direita da veia mesentérica superior. Tentar procedimentos que desviem secreções biliares, gástricas e pan- creáticas do duodeno, como a diver- ticularização duodenal (antrectomia + gastrojejunostomia), com ou sem coledocostomia (em caso de envol- vimento da ampola de Vater). Hemorragia incontrolável: duode- nopancreatectomia. Este paciente provavelmente desenvolveu uma fístula pancreática, complicação comum do traumatismo deste órgão. A conduta, como vimos há pouco, consiste em dieta zero, NPT TRAUMA DO INTEsTINO DELGADO Prevalência O intestino delgado ocupa um grande volume na cavidade abdominal, sendo assim é o órgão mais acometido em traumas penetrantes no ab- dome. Também pode ser acometido no trauma fechado, porém com frequência bem menor. Diagnóstico Obviamente, o diagnóstico é fácil naqueles que têm indicação de laparotomia, como na presença de irritação peritoneal e instabili- dade hemodinâmica. Devemos suspeitar de trauma de delgado em todo paciente que so- freu uma desaceleração abrupta e apresente uma equimose linear no abdome (marca do cinto de segurança) ou na presença de fra- turas por distração da coluna lombar (fratura de Chance). A radiografia pode evidenciar ar fora da alça e o LPD e a TC contrastada frequentemente têm resultado falso-positivo quando a lesão é pequena. Tratamento Rafia simples das lacerações pequenas ou, no caso de trauma mais extenso ou presença de várias lesões próximas, ou lesão acome- tendo mais de 50% da circunferência da alça a ressecção do segmento acometido com anastomose deve ser realizada. Os hemato- mas da parede devem ser explorados, pois podem esconder pequenas lacerações. e drenagem, esperando que a fístula se fe- che, o que pode levar até 8 semanas. O uso de somatostatina é controverso. Gabarito letra D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2001 HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD No trauma pancreático, identificado como grau III, significa que houve: a) Lesão de densidade parcial no duodeno e lesão do pâncreas sem comprometimento do duto pancreático. b) Lesão do duto pancreático no corpo ou cauda do pâncreas. c) Lesão de densidade completa do duodeno e pâncreas, sem comprometimento do duto. d) Lesão do duto pancreático na cabeça do pâncreas. e) Lesão de densidade completa do duodeno e na cabeça do pâncreas, com comprometi- mento do duto. Mais uma questão estilo “decore as tabelas” do Marcílio Dias. Essa banca realmente adora as tabelas do capítulo de trauma abdominal! Vamos lá: As lesões incluídas na classe III representam injúria grave ao parênquima do pâncreas, geralmente com transecção do pâncreas distal (lateral à veia mesentérica superior, o que inclui corpo e cauda), ou seja, acometendo o Wirsung. Resposta letra B. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 72Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Prevalência Assim como o delgado, o cólon ocupa um volume considerável na cavidade abdominal, sendo também um órgão bastante acometido nos traumas penetrantes de abdome. O cólon transverso, por ser móvel, longo, e também por sua localização, é a região mais aco- metida. As lesões retais são bem mais raras que as colônicas. O toque retal com saída de sangue é característico das lesões colorretais. Diagnóstico Quanto mais precoce o diagnóstico e o trata- mento, menor o risco de infecções – o ideal é a cirurgia dentro de até duas horas da lesão. O diagnóstico desses pacientes geralmente é cirúrgico, mas naqueles sem indicação de laparotomia a TC é um exame que ajuda bas- tante. Nos pacientes hemodinamicamente es- táveis, a retossigmoideoscopia rígida pode ser empregada para o diagnóstico e planejamento cirúrgico na abordagem as lesões retais. Tratamento São três as possíveis abordagens das lesões colônicas: • Reparo primário. • Ressecção do segmento acometido + anas- tomose primária. • Ressecção do segmento acometido + colos- tomia, com reoperação para reconstrução do trânsito. Os principais critérios que devem ser preen- chidos para se recomendar a rafia primária (mais indicada nas lesões do cólon direito) ou a ressecção do segmento acometido com anastomose primária são: Operação dentro das primeiras 4 a 6 horas. Estabilidade hemodinâmica. Ausência de lesão vascular colônica. Necessidade de menos de 6 unidades de concentrado de hemácias. TRAUMA COLORRETAL Figura 24: Abordagem preferencial no trauma colorretal. Hoje em dia, mesmo nas lesões à esquerda, que eram classicamente tratadas com colos- tomia, aceita-se a anastomose primária nos pacientes que preenchem os critérios acima. Outra opção ainda é a ressecção não seguida de reconstrução quando realizada uma cirurgia de damage control. A confecção da anastomo- se primária ou da colostomia será realizada na revisão 24 a 48h após. Já o tratamento do trauma retal depende da localização da lesão: • Intraperitoneal: abordagem igual às lesões colônicas. • Extraperitoneal: desbridamento, sutura primária (opcional) e drenagem pré-sacra (colocação de dreno de Penrose através do períneo, descolando-se o plano pré-sacro/ fáscia de Waldayer). É obrigatória a realiza- ção de uma derivação fecal com colostomia proximal de proteção. Figura 25: Abordagem do trauma retal extraperitoneal. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 (ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ Um paciente com lesão por Projétil de Arma de Fogo (PAF) no abdome teve identificada,duran- te a laparotomia exploradora, somente uma le- são transfixante no cólon sigmoide, sem destrui- ção local e sem peritonite. O paciente permane- ceu estável, sendo que o tempo entre o trauma e a laparotomia foi curto (menor que 30 minutos). Diante desse quadro, a melhor conduta seria? a) Rafia simples da lesão. b) Técnica de Hartmann. c) Drenagem da área afetada com ileostomia de proteção. d) Ressecção da área afetada e anastomose primária. e) Colectomia esquerda alargada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – SE Paciente vítima de ferimento por arma branca no flanco esquerdo. À laparotomia realizada 70 minutos depois da agressão, encontrou-se lesão de sigmoide com 3 cm de comprimento. A melhor conduta deve ser: a) Exteriorização da lesão com maturação precoce. b) Rafia da lesão com colostomia de transver- so de proteção. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 73Medgrupo - CiClo 2: M.E.D c) Cirurgia aos moldes de Hartmann. d) Rafia primária. Veja como é fácil!!! Nas duas questões, paciente se manteve estável, lesões simples e com pouco tempo de evolução. Nesses ca- sos podemos tentar a rafia. Gabaritos A e D respectivamente. TRAUMA DO TRATO URINÁRIO Prevalência As lesões do trato urinário são bastante fre- quentes no trauma abdominal, mas como costumam ser pouco sintomáticas acabam passando despercebidas em muitos pacientes. Apresentação e diagnóstico Os sintomas mais comuns dependem da lo- calização da lesão: hematúria macroscópica é comum nos traumas mais altos, enquanto nos mais baixos geralmente visualizamos sangue no meato uretral. Pode haver ainda hemato- mas perineais e deslocamento superior da próstata ao toque retal (próstata “flutuante”). As vítimas de trauma penetrante com indica- ção de laparotomia devem ser submetidas a urografia excretora peroperatória. As vítimas de trauma fechado com sangue no meato uretral devem ser submetidas a uma uretro- cistografia antes de cateterização vesical. A TC de abdome com contraste venoso também apresenta alta sensibilidade, com a vantagem de permitir a avaliação de outras lesões intra- -abdominais e do retroperitônio. Trauma renal O rim é o órgão mais acometido no trauma urogenital, sendo classificado conforme tabela a seguir. Escala de lesão renal – AAsT I Laceração renal pequena ou hematoma subcapsular contido. II Laceração cortical sem extravasamento urinário. III Lesão parenquimatosa com extensão maior que 1 cm através do córtex renal. IV Laceração estendendo-se através da junção corticomedular. V Fragmentação renal ou lesão do pedículo renal. O tratamento das lacerações depende de sua gravidade, podendo variar desde simples des- bridamento com reparo primário e nefrectomias polares (ou seja, parciais) até a nefrectomia. mACETE PARA PROVA! De forma geral, as lesões penetrantes do rim são tratadas cirurgicamente, enquanto os traumas renais fechados possuem manejo conservador em até 90% dos casos! Os hematomas perirrenais não acompanha- dos de lesão vascular ou parenquimatosa gra- ve devem ser observados clinicamente. Já os hematomas secundários a trauma penetrante devem sempre ser explorados. De forma geral, as lesões do tipo I a III permitem o tratamento conservador, enquanto os traumas de IV a V exigem intervenção cirúrgica. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMRP–USP Jovem, 24 anos de idade, sofreu queda de motocicleta há 2 horas. Apresenta-se confuso, queixando-se de dor abdominal esquerdo. Du- rante o atendimento, nota-se taquicardia (FC = 140 bpm) e hipotensão arterial (90 X 50 mmHg). Abdome doloroso à palpação, com extensa equimose em gradeado costal e flanco esquer- do. Não se observou hematúria após introdução de cateter uretral. A tomografia de abdome está abaixo: A melhor forma de tratamento é: a) Embolização seletiva da artéria renal es- querda. b) Cateter duplo J + observação em terapia intensiva. c) Exploração cirúrgica. d) Observação em terapia intensiva + antibió- ticos via endovenosa. As setas da figura apontam diretamente para o rim esquerdo. Compare com o rim contrala- teral para ter ideia do grau da lesão. Certamen- te estamos diante de uma lesão parenquima- tosa maior que 1 cm. O rim não está pulveriza- do e ainda há algum grau de perfusão renal, mas a lesão se estende até a junção cortico- medular. Apesar de ser um trauma abdominal http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 74Medgrupo - CiClo 2: M.E.D fechado, estamos frente a uma lesão renal grau IV, indicativa de cirurgia. Alternativa “C” correta. Trauma Ureteral São pouco comuns e geralmente assintomáti- cos, podendo se manifestar tardiamente com fístulas, urinomas e abscessos intrarrenais. Os melhores exames para diagnóstico são a urografia excretora e a urografia retrógrada e o tratamento depende da localização do trauma. Figura 26 Nas lesões do terço proximal e médio a anas- tomose primária (ureterureterostomia) com ressecção do segmento afetado é o tratamen- to de escolha. Quando se torna impossível a reconstrução devido à extensa lesão do coto distal, a anastomose pode ser realizada com o ureter contralateral (transureterostomia). As anastomoses são sempre protegidas com a passagem de um cateter duplo-jota. Nas lesões do terço inferior é frequente a perda do coto distal. Dessa forma, o ureter pode ser reimplantado na parede posterior da be- xiga, que é elevada até a altura do defeito e fixada no m. psoas (Psoas Hitch). Se a lesão for realmente muito baixa o ureter pode ser reimplantado diretamente na parede da bexi- ga com construção de um túnel submucoso (ureteroneocistostomia). Uma opção clássi- ca, embora em desuso, é construção de um retalho de Boari, que consiste na construção de um novo ureter distal a partir da própria parede da bexiga. Figura 27: Psoas Hitch. Figura 28: Retalho de Boari. Trauma Vesical Os traumas fechados são a causa mais co- mum de lesão vesical, principalmente após acidentes automobilísticos. As manifestações mais comuns são dor suprapúbica, a inca- pacidade de urinar e a hematúria. Podemos classificar o trauma de bexiga em três tipos: • Contusões: Trata-se da lesão mais sim- ples, frequentemente acompanhada de um hematoma intramural. • Laceração intraperitoneal: Ocorre pelo aumento súbito de pressão da bexiga. É exatamente isso que você pensou: a bexiga repleta “explode” extravasando urina para dentro da cavidade peritoneal. • Laceração extraperitoneal: Associada às fraturas pélvicas. A bexiga é rompida pela tração dos ligamentos pubovesicais ou per- furada diretamente por espículas ósseas. Quando suspeitado, o trauma de bexiga deve ser investigado com cistografia retrógada. Sempre devemos investigar trauma vesical nas seguintes situações: trauma abdominal fechado associado a hematúria franca e líqui- do livre em cavidade, trauma abdominal fe- chado associado fratura pélvica com qualquer tipo de hematúria e trauma penetrantes asso- ciados a hematúria em pacientes estáveis. A cistografia revela claramente o extravasa- mento de contrate da bexiga. Nas lesões intra- peritoneais o extravasamento do contraste para o peritônio é visualizado nos recessos vesicais, fundo de saco de Douglas e goteiras parieto- cólicas. O acúmulo de contrate nos recessos adjacentes à bexiga pode gerar imagens ane- xas conhecidas como “orelhas de cachorro”. Nas lesões extraperineais o contraste fica “es- premido” no espaço pré-vesical, gerando uma imagem em “lágrima” ou “chama de vela”. Figura 29: Laceração Intraperitoneal: as setas indicam o extravasamento do contraste para cavidade peritoneal. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 75Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Figura 30: Laceração extraperitoneal: Observe o acúmulo de contraste do espaço pré-vesical. O tratamento dependerá do tipo da lesão. Extravasamentos intraperitoneais devem ser abordados com laparotomia e rafia primária da bexiga. As lesõesextraperitoneais podem ser tratadas de forma conservadora com a descompressão da bexiga por um cateter de Foley por duas semanas, sem necessidade de rafia primária da lesão. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP As imagens obtidas através de cistografias nos traumas de bacia, denominadas “orelha de cachorro” e “gota de lágrima”, significam: a) Alterações da motilidade da bexiga, após trauma raquimedular incompleto. b) Respectivamente, rotura da bexiga intrape- ritoneal e rotura da bexiga extraperitoneal. c) Respectivamente, rotura da bexiga extra- peritoneal e rotura da bexiga intraperitoneal. d) Pontos auxiliares de fixação da bacia para tratamento da hemorragia oculta. e) Limites auxiliares para tratamento da he- morragia oculta por embolização. Agora ficou fácil! As lesões intraperitoneais podem gerar uma imagem em “orelha de ca- chorro” pelo extravasamento superior do con- traste, enquanto nas lesões extraperitoneais o contraste fica espremido na espaço pré-vesical gerando uma imagem em “gota de lágrima”. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMRP – USP Observe a uretrocistografia abaixo. O diagnóstico e a melhor conduta são: a) Rotura intraperitoneal de bexiga; laparoto- mia exploradora. b) Rotura extraperitoneal de bexiga; cateter vesical de demora. c) Rotura extraperitoneal de bexiga; laparoto- mia exploradora. d) Rotura intraperitoneal de bexiga; cateter vesical de demora. Note que o extravasamento do contraste está acima da bexiga e delimita alças e as goteiras parietocólicas. Trata-se de um rotura intraperitoneal que deve ser abordada por laparotomia. Alternativa “A” correta. Trauma Uretral Existem 2 tipos principais de trauma uretral de acordo com a porção da uretra acometida: • acima do diafragma urogenital temos trau- ma da uretra posterior, que acomete a ure- tra membranosa e prostática. • abaixo do diafragma urogenital ocorrem os traumas da uretra anterior, afetando as uretras peniana, bulbar e fossa navicular. Figura 31 O trauma uretral é mais frequente em homens sendo comuns tanto os traumas fechados quanto penetrantes. As lesões da uretra ante- rior estão associadas a trauma contuso, fratu- ra peniana, queda à cavaleiro (esmagamento da uretra bulbar) e lesões iatrogênicas. A lesão de uretra posterior é causada por traumatismo de grande impacto, geralmente associados a fratura pélvica. Nesses traumas a próstata é tracionada superiormente, rompendo a uretra na altura da de sua parte membranosa. A tríade clínica classicamente associada à le- são uretral é composta por sangue no meato uretral, incapacidade de urinar e formação de bexigoma. Outras manifestações são os he- matomas perineais ou escrotais e presença de próstata deslocada cefalicamente ao to- que retal (“flutuante”). Todo paciente em que suspeitamos de um trau- ma uretral deve ser estudado com uma ure- trografia retrógrada antes de ser submetido a cateterização vesical para evitar a progressão iatrogênica da lesão e o falso trajeto do cateter. O diagnóstico é realizado por extravasamento http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 76Medgrupo - CiClo 2: M.E.D de contraste no exame. O tratamento depen- derá do local da lesão. Apesar de ser um tema Trauma Uretral Localização Fechado Aberto Fratura de Pênis Posterior Realinhamento ou Cistostomia suprapúbica Realinhamento Anterior Cistostomia suprapúbica Correção cirúrgica Correção cirúrgica controverso, podemos resumir a abordagem da seguinte maneira: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP O trauma de bacia pode causar hemorragias letais ou cursar com outras complicações, como impotência ou lesão de uretra ou bexiga. Um homem de 54 anos de idade teve diag- nóstico de fratura de bacia após colisão auto- mobilística. Está estável e normal hemodina- micamente, em ventilação espontânea, e não tem lesões associadas significativas. Queixa- -se de dor em hipogástrio e tem uretrorragia. Lesão mais provável e melhor forma de inves- tigação: lesão de: a) Bexiga extraperitoneal; cistografia. b) Uretra; urografia excretora. c) Bexiga intraperitoneal; tomografia de abdome. d) Uretra; tomografia de abdome. e) Uretra; uretrocistografia retrógrada. A sondagem vesical sempre é uma medida que devemos lembrar no atendimento ao trau- ma, no entanto, se houver algum sinal de lesão de uretra (uretrorragia, bexigoma, próstata com deslocamento cefálico, hematoma em região perineal....), antes de sondar você deve garan- tir que não há nenhuma lesão de uretra e a conduta deve ser a realização de uma uretro- cistografia retrógrada. Gabarito E ou É!!!! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem de 30 anos, vítima de atropelamento, foi trazido ao Pronto-Socorro em prancha rí- gida, com colar cervical e o membro inferior esquerdo imobilizado. Estava inconsciente e havia sangue vivo e dentes soltos na cavidade oral. O oxímetro de pulso registrava 80% de saturação. No exame físico da vítima, foram notadas manchas equimóticas na pube e no períneo, além da saída espontânea de sangue pelo meato uretral. Deslocamento cranial da próstata foi percebido durante toque retal. 1) O quadro sugere lesão de qual parte da uretra? As lesões de uretra classicamente relacio- nadas as fraturas pélvicas e migração supe- rior da próstata são as lesões da uretra pos- terior, sendo a uretra membranosa a região mais acometida. 2) Qual exame de imagem é padrão para con- firmar esse trauma? Independentemente da uretra acometida, o melhor exame diagnóstico é a uretrografia retrógrada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Em relação ao trauma do aparelho urogenital, pode-se afirmar que: a) A automutilação é a causa mais comum de amputação traumática do pênis. b) A causa mais comum de lesão do ureter ter- minal é o ferimento por projétil de arma de fogo. c) Retenção aguda de urina, uretrorragia e impossibilidade de palpar a próstata no exame retal digital, sugerem ruptura da fossa navicu- lar da uretra. d) A ruptura intraperitoneal da bexiga deve ser tratada, clinicamente, com a colocação de cateter vesical de demora. Pode parecer piada, mas realmente a au- tomutilação do pênis é causa mais comum de amputação traumática do órgão. A causa mais comum de lesão do ureter são as iatrogenias ligadas às cirurgias, principalmente as gine- cológicas (também não é piada...). Os sintomas descritos na letra “C” são clássi- cos da lesão da uretra posterior e não da fossa navicular. Finalmente, como você acabou de ver, a ruptura intraperitoneal da bexiga deve ser abordada com laparotomia e rafia primária. Opção “A” correta. Para fecharmos, veja mais essa! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ A combinação de choque sistêmico e hematúria microscópica, decorrente de trauma, sugere: a) Lesão na uretra prostática. b) Fístula vesicorretal. c) Lesão renal grave. d) Laceração de bexiga. O enunciado requer o nosso conhecimento sobre um assunto importante no trauma: qual órgão do trato urinário, quando lesado, pode levar à instabilidade hemodinâmica? Temos nas alternativas próstata, uretra, rim e bexiga. O tipo de trauma do trato urinário que mais está relacionado a um quadro de insta- bilidade associada à hematúria seria a lesão RENAL grave – opção (C). É bom lembrarmos que nesses casos é a hematúria macroscópi- ca, e não a microscópica, a mais comum. O comprometimento dos demais órgãos cursaria com outros achados, tais como: (1) Lesão na uretra prostática: hematoma peri- neal, sangue no meato, uretrorragia, retenção http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 77Medgrupo - CiClo 2: M.E.D urinária e uma próstata em posição alta ao toque retal. (2) Fístula vesicorretal: pneumatúria e fecalúria. (3) Laceração de bexiga: mais comum em trauma fechado por perfuração de fragmentos ósseos adjacentes. Diagnosticadapelo extra- vasamento de contraste durante a cistografia. TRAUMA DE GRANDEs VAsOs ABDOMINAIs Ao contrário do que senso comum indicaria, a maioria das lesões dos grandes vasos abdo- minais não se apresenta com choque hipo- volêmico e sinais de irritação peritoneal. Isso acontece porque geralmente o sangramento fica contido em um hematoma retroperitoneal, que é capaz tamponar o vaso e fornecer uma hemostasia compressiva “natural”. Como a causa mais frequente desse tipo de lesão é o trauma abdominal penetrante, é extrema- mente comum que esses hematomas sejam um achado na laparotomia para tratamento de outras lesões, embora também sejam fa- cilmente localizados por tomografia. O que fazer diante de um hematoma retro- peritoneal? Tudo dependerá da área em que se encontra o hematoma e do mecanismo de trauma en- volvido. Para facilitar o estudo podemos divi- dir o retroperitônio em três zonas: Figura 32 ZONA 1 Composta pela região central, onde ficam si- tuadas a aorta, a veia cava inferior, a raiz do mesentério, o duodeno e o pâncreas. Devido às altas pressões da aorta é grande a proba- bilidade dos hematomas “destamponarem” espontaneamente. Dessa forma, todo hema- toma em Zona 1 deve ser explorado, inde- pendentemente de sua etiologia. Para facili- tar ainda a abordagem, podemos dividir os hematomas de zona 1 em: Supramesocólicos: Situados acima da raiz do mesocólon transverso. Contém sangramento advindos da aorta supracelíaca, tronco celíaco, a. mesentérica superior e a. renais proximais. Esses hematomas devem ser expostos com o deslocamento dos órgãos para direita, através da mobilização das vísceras situadas a esquer- da no abdome (Manobra de Mattox). O acesso permite a completa visualização da aorta e o início dos seus ramos. Hemorragias advindas da aorta são corrigidas após obtenção de con- trole proximal e distal com clampeamento par- cial ou total dependendo da extensão da lesão. São empregados a rafia primária ou enxerto com prótese (PTFE ou Dacron) no casos de perda significativa da parede. Nas lesões do tronco celíaco o mesmo e seus ramos podem ser ligados sem maiores complicações (ideal- mente tentamos “salvar” a artéria hepática se possível). As lesões de a. mesentérica superior necessitam de reparo com rafia primaria ou in- terposição com enxerto de PTFE ou safena. Inframesocólicos: Localizam-se abaixo do me- socólon transverso e são sede de sangramen- tos advindos da aorta e veia cava infra-hepática. Inicialmente são abordados de forma análoga aos hematomas supracelíacos, com realização da manobra de Mattox seguida de controle aór- tico e correção da lesão. Caso a aorta esteja íntegra, é provável que o sangramento seja ori- ginário da veia cava. Apesar de acessível pelo mesmo ângulo, a maior parte dos cirurgiões prefere descolar a goteira parietocólica direita e mobilizar o duodeno, jogando as vísceras para esquerda e expondo assim a maior parte da veia cava (Manobra de Cattell-Braasch). As le- sões de veia cava são corrigidas de forma aná- loga com controle (lateral, preferencialmente) e reparo com rafia primaria ou interposição com enxerto de PTFE. Pacientes jovens em estado grave que sofreram trauma complexo da veia cava podem ter a mesma ligada. Figura 33 Figura 34 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 78Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO DE JANEIRO – RJ Injúrias vasculares retroperitoneais no trauma geralmente são detectadas durante a laparo- tomia exploradora de urgência. Em relação a essas lesões, é correto afirmar que aquelas ocorridas na: a) Zona II decorrem frequentemente de fratu- ras open book da bacia. b) Zona IV decorrem frequentemente de fra- turas open book da bacia. c) Zona I devem ser exploradas cirurgicamen- te devido ao frequente envolvimento da artéria aorta e da veia cava inferior. d) Zona III devem ser exploradas cirurgica- mente devido ao frequente envolvimento da artéria aorta e da veia cava inferior. Muita atenção em relação aos hematomas do retroperitônio! REGRINHA PARA FACILI- TAR: sempre que a lesão for penetrante, eles devem ser explorados. Agora, em relação ao trauma contuso, a conduta depende da zona do hematoma. Na zona 1, eles sempre devem ser explorados, exceto aquelas lesões de veia cava retro-hepática. Nas zonas 2 e 3, geral- mente não se explora, a não ser nos hemato- mas em expansão. Gabarito C. Manobra de Mattox: Acesso retro- peritoneal à esquerda com deslo- camento das vísceras para direita Manobra de Cattel-Braasch: Acesso retroperitoneal à direita com deslocamento das vísceras para esquerda Manobra de Kocher: Mobilização do duodeno das aderências retro- peritoneais ZONA 2 Ficam situados aqui os rins, os vasos renais e os cólons ascendente e descendente. Os hematomas dessa área são originários princi- palmente dos rins e vasos renais. Conforme você estudou previamente na seção de Trau- ma Renal, o hematomas de zona 2 originados por traumatismo fechado são abordados em sua maioria com tratamento conservador. Para os hematomas em expansão, com sangramen- to ativo ou fruto de trauma perfurante a melhor conduta é a exploração cirúrgica. A manobra de Mattox fornece um campo capaz de abran- ger os vasos renais esquerdos e a. renal di- reita. Afim de melhor controle da veia renal direita, a mobilização duodenal isolada é ne- cessária (manobra de Kocher). Nos hemato- mas não expansivos sem sangramento ativo, o controle proximal junto à aorta ou veia cava é obtido. Em caso de sangramento ativo ou expansão o rim é simplesmente elevado e tem sem hilo clampeado de forma que a hemosta- sia seja rapidamente alcançada. O reparo das lesões vasculares é feito com rafia simples, ressecção com anastomose termino-terminal ou com interposição de enxerto. As lacerações renais propriamente ditas são manejadas com rafia simples, nefrectomia parcial ou total de- pendendo do grau da lesão. ZONA 3 Compreende toda região pélvica retroperito- neal e seus respectivos vasos. Os sangramen- tos dessa zona são oriundos dos vasos ilíacos. Analogamente aos hematomas de zona 2, nos traumas fechados o manejo é conservador, ficando a exploração reservada para hemato- mas em expansão, com sangramento ativo ou associados a trauma penetrante. A ausência de pulsos em membro inferior no contexto de um trauma pélvico penetrante é dita patognomônica de lesão de artéria ilíaca. O melhor acesso para a bifurcação dos vasos ilíacos e obtenção do controle proximal tam- bém é realizada com a manobra de Mattox. As lesões vasculares são abordadas com rafia simples ou ressecção com anastomose termino-terminal. A interposição de enxertos pode ser realizada com enxerto venoso ou artificial. Apesar de a presença de contamina- ção não ser uma contraindicação absoluta, o by-pass extra-anatômico (fora da cavidade) deve ser considerado. FRATURAs PÉLVICAs As fraturas pélvicas são pouco comuns e sua presença sempre indica traumatismo grave, geralmente fechado e de alta energia, como acidentes automobilísticos, atropela- mentos e quedas. O mais importante aqui é lembrar que as fraturas com instabilidade do anel pélvico ge- ralmente cursam com hematoma retroperi- toneal, o que pode causar hipotensão arterial e choque hipovolêmico. O tratamento inicial é de suporte, com repo- sição volêmica e hemotransfusão. A roupa pneumática antichoque (MAST) pode ser usa- da nas fraturas instáveis em pacientes hipoten- sos. Além disso, devem ser tentados a fixação externa e o alinhamento do anel pélvico, para a redução do sangramento. Sangramentos venosos persistentes resultantes da fratura pélvica podem requerer uma laparotomia com tamponamento pélvico com compressas. Essa conduta não será resolutiva para os casos de persistência de sangramento de origem arterial. Nessas situações a arteriografia com embolização torna-se a melhor opção. Na au- sência de arteriografia a ligadura manual das aa. ilíacas internas é uma opção. http://#scrolldownCirurgia - Volume 8 79Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Figura 35: Paciente vestido com a MAST (Military Anti-Shock Trousers). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS Em caso de uma hemorragia pélvica de grande porte em que outras medidas falharam, qual vaso sanguíneo deve ser ligado? a) Artéria femoral. b) Artéria ilíaca externa. c) Artéria uterina. d) Artéria ovárica. e) Artéria hipogástrica. Questão de anatomia! Você está cansado de saber que artérias ilíacas internas são as responsáveis pela vascularização da pelve e são diretamente envolvidas nas fraturas pél- vicas. Talvez faltasse o pequeno conhecimen- to de que as artérias hipogástricas são uma denominação antiga para as artérias ilíacas internas. Opção “E” correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Homem, 40a, vítima de acidente automobi- lístico há 30 minutos, foi trazido pelo Samu à unidade de emergência. Exame físico: des- corado 3+/4+, consciente, Glasgow = 15, PA = 70x40 mmHg, FC = 140 bpm. Abdome: dor à palpação profunda, sem irritação perito- neal. Bacia: dor à mobilização, com sinal de instabilidade. Exames complementares: Hb = 6 mg/dl, tomografia computadorizada: he- matoma retroperitoneal e disjunção do anel pélvico com fratura fechada da diáfise do fê- mur esquerdo. Após infusão de 2.000 ml de cristaloide: FC = 150 bpm e PA = 65x35 mmHg. ALÉM DA REPOSIÇÃO VOLÊMICA, A CON- DUTA É: a) Tração esquelética no fêmur, repouso no leito com amarria de lençóis para pelve. b) Tala gessada inguinopodálica e fixador ex- terno pélvico. c) Osteossíntese imediata com haste intramedu- lar ou placa no fêmur e fixador externo na pelve. d) Fixador externo no fêmur e na pelve. Acabamos de ver: fratura de pelve com he- matoma retroperitoneal = MAST ou fixação externa da pelve. E o fêmur? Nos casos de po- litrauma, a fixação externa se mostrou superior aos outros métodos, melhorando o controle da dor, permitindo uma deambulação precoce e reduzindo o risco de complicações tromboem- bólicas e infecciosas. Alternativa “D” correta. sÍNDROME COMPARTIMENTAL ABDOMINAL A Pressão Intra-Abdominal (PIA) normal gira em torno de 5 a 7 mmHg. Contudo, algumas condições resultam em uma importante tran- sudação de líquidos e edema de alças junta- mente com a presença de um importante íleo metabólico. Essas alterações acabam por au- mentar de forma significativa a PIA, uma vez que estamos diante de um compartimento com espaço limitado. Os politraumatizados são uma população extremamente susceptível a esse fenômeno, já que recebem grandes quan- tidades de volume na reanimação volêmica e apresentam um grande íleo metabólico pela resposta ao trauma. Além disso, hematomas volumosos e a presença de compressas de tamponamento são fatores contribuintes para o aumento da pressão. Quando a PIA atinge 12 mmHg temos o que se convencionou cha- mar de Hipertensão Intra-Abdominal (HIA). A hipertensão abdominal não necessariamente causa sintomas e na maior parte das vezes não precisa de um tratamento específico. Ela pode ser classificada em 4 graus: Hipertensão Abdominal grau mmHg* I 12 a 15 II 16 a 20 III 21 a 25 IV > 25 *1 mmHg = 1,36 cm H2O. Com o aumento progressivo da pressão, as alterações metabólicas passam a ser mais significativas. O retorno venoso é diminuído, a pressão intratorácica aumenta e inicia-se a compressão do rins. A agravação dessas al- terações pode causar repercussões sistêmi- cas como a queda do débito cardíaco, aumen- to da resistência vascular periférica, hipóxia, http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 80Medgrupo - CiClo 2: M.E.D hipercarbia e queda do débito urinário. Por fim, podemos ter uma pressão intracraniana anor- malmente aumentada além de isquemia vis- ceral e de extremidades. mas o que é, então, a síndrome comparti- mental abdominal? De acordo com último consenso a síndrome compartimental abdominal é definida pelo au- mento sustentado da PIA superior a 20 mmHg associado a uma nova disfunção ou falha orgânica. Dessa maneira, pacientes com hipertensão abdominal grau III ou superior devem ser vigiados constantemente. Diagnóstico e Tratamento O diagnóstico da SCA é feito através da afe- rição da pressão intravesical em pelo menos três ocasiões diferentes distando entre si de quatro a seis horas. De acordo com a pres- são aferida, podemos relacionar a SCA com o grau de HIA. O tratamento visa otimizar a oferta de oxigênio, preservando as funções orgânicas e a perfu- são esplâncnica. O tratamento inicialmente deve der realizado através de medidas clíni- cas, como a tentativa de diminuir a PIA através de sonda nasogástrica, sonda retal, enemas para esvaziar os cólons, sedação contínua, paracentese se necessário, drenagem de co- leções intra-abdominais, reposição volêmica cautelosa, entre outras. A grande questão é: quando indicar a cirurgia descompressiva? Resumindo, podemos pensar da seguinte maneira. Para as HIA graus I e II, somente medidas clínicas. Para SCA com HIA grau III, devemos iniciar o tratamento com medidas clínicas e, se mesmo assim, o paciente conti- nuar apresentando repercussão sistêmica grave (insuficiência renal e/ou respiratória), indicamos a cirurgia descompressiva. Agora, para os casos em que temos SCA com HIA > 25 mmHg (grau IV), devemos sempre consi- derar a cirurgia descompressiva. Fique atento, pois este tema gera muita dis- cussão entre as referências e no momento da prova, todo cuidado é pouco para não confundir os conceitos... Vejamos alguns exercícios.... RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ Um paciente, de 25 anos de idade, vítima de atropelamento, é submetido a laparotomia ex- ploradora, sendo encontradas múltiplas lesões viscerais, que são tratadas, recebe ressuscita- ção hídrica maciça e, após 4 horas, o paciente segue para a UTI. No dia seguinte, cursa com insuficiência respiratória, oligúria, hipotensão arterial e o abdômen encontra-se distendido e tenso. A hipótese diagnóstica mais provável é: a) Íleo paralítico. b) Lesão despercebida. c) Hematoma retroperitoneal. d) Síndrome de compartimento abdominal. Receita de bolo da síndrome compartimen- tal abdominal: laparotomia exploradora para a correção de múltiplas lesões + reanimação hídrica maciça + fechamento primário = au- mento da pressão intra-abdominal. Isso asso- ciado a disfunção orgânica = síndrome com- partimental abdominal. Gabarito D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ Quanto à classificação da síndrome compar- timental, a descompressão abdominal está indicada a partir do seguinte grau: a) I - PIA entre 10-14 mmHg. b) II - PIA até 20 mm Hg. c) III - PIA entre 25-35 mmHg. d) V - PIA > DE 35 mmHg. O tratamento inicial consiste na adoção de medidas clínicas, como manter o paciente em posição supina, melhorar a sedação, a anal- gesia, reposição volêmica cautelosa, sonda- gem vesical e nasogástrica, drenagem de coleções intra-abdominais, entre outras medi- das, e isso geralmente é suficiente no contro- le da SCA. Agora, na SCA associada a uma HIA > 25 mmHg (grau IV), a descompressão está sempre indicada. Gabarito C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – SP Mulher, 25 anos, vítima de agressão física, deu entrada no pronto socorro com dor abdo- minal. Exame físico: PA = 80 x 40 mmHg; FC = 130 bpm. Pulmões: murmúrio vesicular si- métrico bilateral. Abdome: distendido, descom- pressão brusca dolorosa. Toque retal: sem alteração. Ultrassonografia FAST: líquido livre nos espaços hepatorrenal e hepatoesplênico. Realizada reanimação volêmica e laparotomia exploradora com reparação das lesões intra- cavitárias. No fechamento da cavidade abdo- minal as alças intestinais estavam edemacia- das. Durante o ato cirúrgico foram administra-dos 10 litros de solução cristaloide, 4 unidades de concentrado de hemácias e 4 unidades de plasma fresco congelado. No terceiro dia de http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 81Medgrupo - CiClo 2: M.E.D pós-operatório, sob ventilação mecânica, a Pressão Intra-Abdominal (PIA) é de 15 mmHg. A CONDUTA É: a) Adequar, se necessário, a analgesia e o relaxamento da parede abdominal. b) Realizar tomografia computadorizada de abdome e laparotomia se líquido livre. c) Indicar laparotomia exploradora e perito- neostomia. d) Administrar corticoide e adequar, se neces- sário, parâmetros de ventilação. Questão com uma história longa no enun- ciado mas que poderia ter sido substituído por: Qual é a conduta para uma PIA de 15 mmHg? Veja que a paciente apresenta somente HIA e não SCA!!! Logo, devemos adotar medidas de suporte. Gabarito A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – PE A Hipertensão Intra-Abdominal (HIA) ocorre em graus variados em alguns pacientes críticos ci- rúrgicos e não cirúrgicos, podendo culminar na Síndrome Compartimental do Abdome (SCA) e seguir-se de falência de múltiplos órgãos e óbi- to. Assinale a alternativa em que todos os itens estão presentes nos pacientes com SCA. a) Aumento da pressão intratorácica e da pres- são intracraniana, aumento da pós-carga, queda do débito cardíaco, aumento da pressão venosa central, redução do volume corrente, queda da taxa de filtração glomerular. b) Aumento da pressão intratorácica, redução da pós-carga, aumento do débito cardíaco, redução da pressão venosa central, queda da taxa de filtração glomerular, aumento da pres- são intracraniana. c) Redução da pressão intratorácica, redução da pós-carga, aumento do débito cardíaco, redução da pressão venosa central, queda da taxa de filtração glomerular, aumento da pres- são intracraniana. d) Aumento da pressão intratorácica, aumento da pós-carga, queda do débito cardíaco, redução da pressão venosa central, redução do volume corrente, redução da pressão intracraniana. e) Aumento da pós-carga, queda do débito car- díaco, queda da pressão venosa central, redução do volume corrente, queda da taxa de filtração glomerular, redução da pressão intracraniana. Questão que resume os conceitos da SCA!!! Se ficou alguma dúvida volte e leia mais uma vez!!! Gabarito A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – RJ Paciente em pós-operatório imediato apresen- tando quadro de distensão abdominal e medida de pressão intra-abdominal de 28 mmHg. A conduta mais adequada é: a) Descompressão cirúrgica imediata. b) Conduta conservadora: observar com me- didas seriadas. c) Punção abdominal descompressiva. d) Sondagem nasogástrica. Veja como agora fica fácil!!! SCA com HIA grau IV = descompressão cirúrgica!!! Gabarito A. CIRURGIA PARA CONTROLE DO DANO No trauma do abdome, a cirurgia para o con- trole do dano – damage control – representa uma nova abordagem em casos graves, com lesões multiorgânicas que apresentam gran- des perdas volêmicas. Os pacientes politraumatizados com lesão pene- trante grave de abdome necessitam geralmente de cirurgias complexas e demoradas. A laparoto- mia por um tempo prolongado e, eventualmente, a toracotomia simultânea, expõem o indivíduo ao meio ambiente do centro cirúrgico. A conse- quência é a hipotermia, muitas vezes fatal; esta condição determina disfunção plaquetária com agravo do sangramento. Este círculo vicioso leva ao choque, acidose metabólica e necessidade adicional de hemotransfusão (tríade da morte ou tríade fatal: hipotermia, acidose e distúrbios da coagulação). Pra quem achou meio macabro!!! Veja como cai... RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ A tríade letal dos pacientes com choque hipo- volêmico submetidos à ressuscitação volêmi- ca é constituída de: a) Acidose, hipotermia e coagulopatia. b) Alcalose, hipotermia e coagulopatia. c) Hipotensão, hipotermia e coagulopatia. d) Hipotensão, acidose e hipotermia. e) Acidose, hipotensão e coagulopatia. Gabarito A!!! O controle do dano prossegue através de três fases: (1) operação inicial breve; (2) reanimação na terapia intensiva; e (3) reoperação planejada. A intervenção inicial é a mais breve possí- vel, com controle vascular rápido (através de ligadura, tamponamento com compressas ou embolização angiográfica) e/ou ressecção ou sutura de lesões orgânicas, sem realização de anastomoses ou reconstruções comple- xas. Após o controle vascular, uma limitação rápida no vazamento de conteúdo entérico é a segunda prioridade. O paciente é mantido em peritoneostomia, ou seja, a parede abdominal não é fechada (sendo apenas protegida com utilização de barreiras plásticas) e assim é enviado para tratamento intensivo. Após 48-72h* de prazo para compen- sação clínica, o paciente é levado novamente à cirurgia e, caso esteja em melhores condições clínicas, é realizado o reparo definitivo. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 82Medgrupo - CiClo 2: M.E.D * O tempo de reanimação em leito de tera- pia intensiva pode variar de acordo com a fonte bibliográfica. Utilizamos o Sabiston como referência, mas outros autores como o Schwartz, descrevem um período de rea- nimação de 12-24 horas. Como o cirurgião sabe que deve fazer ci- rurgia de controle de dano e não a correção primária? Bom, a princípio, ele não sabe! Somente após a laparotomia o cirurgião terá ideia do grau real de acometimento do trauma após o in- ventário da cavidade. Além do aspecto óbvio das lesões, existem ainda alguns parâmetros que auxiliam a escolha desse tipo de cirurgia: • Temperatura corporal < 35ºC. • pH < 7,2. • Deficit de base < 15 mmol/l (ou < 6 mmol/l em maiores que 55 anos). • PTT ou INR superior a 50% da normalidade. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF Em relação à cirurgia de controle de dano pós- -traumatismo, assinale a afirmativa CORRETA. a) A hipotermia não é levada em consideração nesse caso. b) Sua utilização deve ocorrer apenas depois de esgotados os meios disponíveis de trata- mento cirúrgico do trauma. c) O paciente necessita de monitorização para hemorragia persistente em face de coagulo- patia corrigida, o que indica um breve retorno à sala de operações. d) Tal cirurgia só deve ser considerada para o controle de dano de trauma hepático grave, com sangramento extenso. e) Esse procedimento deve ser considerado exclusivamente nos casos de síndrome de compartimento abdominal. Embora mal redigida, a alternativa C é a única correta. Vamos analisá-la: se após a correção da coagulopatia um paciente continua a sangrar, torna-se necessário o seu retorno para o centro cirúrgico o mais breve possível, uma vez que a coagulopatia não está contribuindo; neste caso a própria lesão orgânica é a responsável. Veja agora esta sequência de questões muito bem-feitas da UFRJ: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ As próximas questões baseiam-se no caso clínico a seguir: Paulo, 35 anos, dirigia seu automóvel em via expressa a 100 km/h, quando perdeu a direção do veículo, chocou-se violentamente contra a mureta divisória da pista, capotan- do várias vezes. Socorrido por populares, foi retirado do carro inconsciente e atendido pelo GSE 10 minutos depois, ainda no local do acidente. Na avaliação inicial, o paciente estava agitado e confuso quando solicitado a dar alguma informação verbal. Abria os olhos espontaneamente; as pupilas eram isocóricas, fotorreagentes e reagia aos estímulos com retirada do membro estimulado. Não havia sinais neurológicos focais. Apresentava várias escoriações com sangramento ativo na face e ferida contusa com perda de substância no supercílio esquerdo. Fratura exposta na coxa direita e lesão semicircular equimótica na pa- rede anterior do abdome. PA=140/90 mmHg, FC=90 bpm e FR=26 irpm. A primeira conduta a ser tomada com este paciente é: a) Imobilização cervical. b) Tamponamentodas feridas com sangramento. c) Imobilização do membro inferior esquerdo. d) Entubação orotraqueal. Seja feliz: Siga o ABCDE! Letra A = imobi- lização cervical e avaliação das vias aéreas. Este paciente não tem indicação de via aé- rea definitiva, razão pela qual só sobrou a imobilização cervical como opção plausível. Contudo, mesmo que ele tivesse indicação de intubação, lembre: na letra A do ABCDE, a imobilização cervical é prioridade em relação à abordagem das vias aéreas. Resposta letra A. A avaliação do coma pela escala de Glasgow requer o seguinte dado do exame clínico rea- lizado no local do acidente: a) “Pupilas isocóricas e fotorreagentes”. b) “Confuso, quando solicitado para dar algu- ma informação verbal”. c) “Não havia sinais neurológicos focais”. d) “O paciente estava agitado”. A escala de coma de Glasgow é utilizada no item D do ABCDE, sendo composta por três itens: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Gabarito letra B. Após o atendimento inicial, o paciente foi remo- vido para o hospital. No setor de emergência os sinais vitais eram: PA = 90/50 mmHg, FC = 115 bpm, FR = 35 irpm. Recebia O2 por más- cara a 4L/min, a oximetria de pulso mostrava saturação de O2 = 83%. Ao exame neurológico, o paciente encontrava-se confuso, sem sinais de localização, com desconforto respiratório e apresentava expansibilidade diminuída no hemitórax direito. Evoluiu subitamente com agitação, sudorese e vômitos de restos alimen- tares. Ao exame notava-se turgência jugular. A conduta neste momento é: a) Drenagem de hematoma subdural e vaso- pressor. b) Punção pericárdica e vasopressor. c) Descompressão do tórax com agulha e re- posição volêmica. d) Desobstrução brônquica e antibioticoterapia. Paciente politraumatizado, hipotenso, con- fuso, com turgência jugular, apresentando http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 83Medgrupo - CiClo 2: M.E.D desconforto respiratório. Em que devemos pensar? Dentre as opções apresentadas, a mais plausível é o pneumotórax hipertensivo, que tem seu tratamento exposto na opção C. Um dado que nos foi passado de forma discreta é a diminuição da expansibilidade do hemitórax envolvido, fenômeno que fala mais a favor de pneumotórax. A conduta inicial é a descompressão do tórax através de toracocen- tese, seguida de drenagem torácica em selo d’água. Para o diagnóstico de tamponamento cardíaco faltam alguns dados como abafamen- to de bulhas, pulso paradoxal etc. Além disso, o tamponamento não justificaria esta redução da expansibilidade torácica observada. O paciente evoluiu com sudorese e palidez cutaneomucosa. PA=90/50 mmHg, FC=130 bpm. O abdome estava distendido e difusa- mente doloroso à palpação e à descompres- são. A prioridade é: a) Tomografia de abdome. b) Lavado peritoneal. c) Rotina radiológica para abdome agudo. d) Ecodoppler abdominal. Vamos rever conceitos importantes: o pa- ciente sofreu trauma fechado, está hipotenso (PA = 90/50 mmHg) e apresenta sinais de irritação peritoneal: neste caso, temos uma indicação clara de laparotomia. Contudo, o autor da questão não entendeu assim e quer que você indique um exame complementar! Dentre os apresentados, o mais rápido é o lavado peritoneal (LPD). Resposta letra B. A equipe cirúrgica decidiu pela conduta cirúrgi- ca (laparotomia exploradora) que deve ser feita: a) Após 12 horas de observação de piora con- tínua na emergência. b) Imediatamente. c) Após admissão na enfermaria para trata- mento prolongado com antibioticoterapia. d) Após admissão na UTI para monitorização hemodinâmica invasiva, ventilação e estabili- zação do quadro. A conduta mais do que imediata nesse pa- ciente é a laparotomia exploradora. Tem sinais de irritação peritoneal é laparotomia agora! Resposta letra B. Durante a cirurgia para o trauma você percebe que há um hemangioma de 6 cm, no lobo di- reito do fígado, não sangrante. A conduta é: a) Aproveitar a oportunidade e ressecar a lesão. b) Não ressecar a lesão. c) Tentar embolização peroperatória. d) Marcar a lesão com clips para posterior radioterapia. O objetivo durante a abordagem emergen- cial do abdome é corrigir a lesão que está ge- rando a instabilidade hemodinâmica! Não fique “futucando” quem está quieto! Quanto mais rápido o procedimento cirúrgico, melhor para o paciente, pois menos serão os mediadores liberados durante o trauma anestésico-cirúr- gico (lembre-se que estes mediadores já se encontram na circulação do paciente devido ao próprio estresse traumático, sendo apenas aumentada a sua liberação por novo estímulo). A REMIT é melhor estudada em outra apostila de Cirurgia do MED! Resposta letra B. Para terminar o capítulo e revisar alguns pontos importantes de trauma torácico, abdominal e pélvico, vamos fazer juntos algumas questões recentes: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMRP–USP Mulher, 24 anos de idade, estava na moto e foi atropelada por um ônibus. Foi trazida à emergência inconsciente, intubada (sonda na- sotraqueal) e em ventilação assistida. FC de 140 bpm e PA de 80/40 mmHg. Após adminis- tração de 2.000 ml de solução cristaloide, não houve melhora significativa dos parâmetros hemodinâmicos. As próximas medidas para investigação e tratamento da hipotensão são: a) Ventriculostomia para monitoração da pres- são intracraniana; drenagem liquórica. b) Ultrassom abdominal; laparotomia explora- dora se tiver líquido na cavidade. c) Tomografia de crânio; craniotomia para des- compressão se tiver edema cerebral. d) Tomografia de tórax; toracotomia explora- dora se tiver pneumotórax. Observe que temos uma paciente hipotensa mesmo após reposição adequada de volume. Repita bem alto para não esquecer: “Todo paciente politraumatizado e chocado, até que se prove o contrário, é portador de choque hipovolêmico hemorrágico!” As principais cau- sas de choque hemorrágico são o hemotórax, a hemorragia intra-abdominal e as fraturas pélvicas. Outras possíveis causas incluem o pneumotórax hipertensivo e o tamponamento cardíaco. Dentre as opções, a única que apre- senta uma relação adequada entre o exame a ser solicitado e a conduta é o ultrassom de abdome com laparotomia exploradora. O pneu- motórax hipertensivo também pode ser causa de hipotensão, porém a conduta é a drenagem torácica e não a toracotomia. Resposta B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Jovem, 18 anos, sofreu queda de 12 metros de altura e deu entrada no pronto-socorro com si- nais evidentes de choque hemorrágico. DIAN- TE DA SUSPEITA DE LESÃO ABDOMINAL, O EXAME MAIS SENSÍVEL PARA AUXILIAR NO DIAGNÓSTICO É: a) Lavado peritoneal. b) Radiograma do abdome. c) Tomografia computadorizada. d) Exame físico seriado do abdome. Na mesma linha da questão anterior, temos um paciente com choque hemorrágico, e agora http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 84Medgrupo - CiClo 2: M.E.D a pergunta já é mais direta: como investigar um possível trauma fechado de abdome neste caso? LPD ou ultrassonografia “FAST”... Res- posta letra A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Paciente com 25 anos de idade, vítima de acidente automobilístico há 20 minutos, deu entrada no pronto-socorro com PA = 80x60 mmHg, FC = 120 bpm e taquipneia. No aten- dimento inicial identificaram-se sinais de pneumotórax à esquerda. O tórax foi drenado e conectado a um sistema de selo d’água, apresentando borbulhamento contínuo. Após infusão de 2.000 ml de cristaloide, o quadro hemodinâmico mantém-se inalterado, e o pa- ciente continua com sinais de pneumotórax à esquerda. A revisão da drenagem torácica mostra que estava adequada e a radiografia simples revela colabamento completo do pul- mão esquerdo com pneumotórax maciço. O provável diagnóstico é: a) Rolha de secreção no brônquio esquerdo. b) Ruptura do esôfago. c) Ruptura de brônquio. d) Tórax instável. e) Ruptura do diafragma à esquerda. Paciente com pneumotóraxsubmetido a dre- nagem sem sucesso provavelmente apresenta ruptura de grande via aérea “perpetuando” o pneumotórax... Questão clássica de trauma torácico. Resposta C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Homem, 40 anos, vítima de traumatismo fecha- do em abdome, encontra-se estável hemodina- micamente e sem sinais de irritação peritoneal. Tomografia computadorizada revela presença de gás no retroperitônio. O diagnóstico é: a) Ruptura de esôfago abdominal. b) Laceração da 1ª alça jejunal. c) Lesão da 2ª porção do duodeno. d) Perfuração do cólon transverso. A presença de gás no retroperitônio significa que há lesão de víscera oca nesta região. Dentre as opções, a única estrutura retroperitoneal é a segunda porção do duodeno. Resposta letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Peri, 35 anos, é atendido pelo GSE em via pública, após acidente automobilístico. Está alcoolizado, apresenta trauma torácico, com desconforto respiratório e hipotensão (PA 90/60 mmHg), que responde a infusão de cristaloides; FC 100 bpm, FR 28 irpm. Subme- tido a cateterismo vesical que dá saída a 50 ml de urina sanguinolenta, a ultrassonografia abdominal que revela moderada quantidade de líquido livre na cavidade peritoneal; radio- grafia de tórax com hipotransparência difusa em hemitórax esquerdo. O procedimento a ser realizado no tórax é: a) Toracocentese e drenagem aberta. b) Drenagem em selo d’água na linha axilar média à altura do mamilo esquerdo. c) Drenagem em selo d’água na linha hemi- clavicular no 2° espaço intercostal esquerdo. d) Toracotomia no 9° espaço intercostal es- querdo, na linha hemiclavicular. Este paciente tem um hemotórax que deve ser drenado, a fim de que ocorra reexpansão pulmonar, comprimindo o vaso lesado e pa- rando o sangramento. O procedimento mais indicado é a drenagem em selo d’água no 5º espaço intercostal esquerdo, entre a linha axilar anterior e a média... Resposta letra B. Considerando-se o trauma urológico deve-se solicitar: a) Uretrocistografia. b) Pielografia retrógrada. c) Tomografia computadorizada. d) Laparoscopia. As vítimas de trauma abdominopélvico fechado que apresentam sangue no meato uretral devem ser submetidas a uma uretro- cistografia antes de cateterização vesical. Resposta A. Ao ser transportado para o Serviço de Radio- diagnóstico, Peri apresenta novo quadro de hipotensão. O lavado peritoneal é positivo para sangue. Submetido a laparotomia exploradora, observa-se presença de laceração esplênica linear em polo inferior do baço medindo cerca de 4 cm de extensão e aproximadamente 4 cm de profundidade. A conduta é: a) Esplenectomia parcial. b) Esplenectomia. c) Rafia esplênica. d) Ligadura de artéria esplênica. Veja que este paciente apresenta uma lace- ração esplênica grau III (> 3 cm de profundi- dade). Essa lesão é manejada facilmente com rafia, não sendo necessário qualquer tipo de ressecção. Resposta C. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 85Medgrupo - CiClo 2: M.E.D TRAUMA CERVICAL 85 O pescoço possui várias estruturas nobres, razão pela qual devemos sempre estar atentos a essa região no exame do paciente vítima de trauma. Podemos dividir grosseiramente o pescoço em anterior e posterior (à frente e atrás do esternocleidomastoideo, respectiva- mente). As lesões anteriores costumam ser mais graves, pela possibilidade de lesão do esôfago e das vias aéreas. Figura 36 Quando analisamos as feridas tendo como base uma localização craniocaudal, o pescoço é dividido em três zonas horizontais, conforme observamos a seguir: Figura 37: Divisão craniocaudal do pescoço em zonas. Os traumas da zona II costumam ser os menos graves, enquanto aqueles da zona I podem cursar com lesão de grandes vasos e o acesso cirúrgico é mais difícil, gerando os casos mais graves. Os da zona III são de maior risco para lesão de carótida, glândulas salivares, faringe. Claro que o trauma pode se estender por mais de uma zona... Veja, a seguir, as delimitações e peculiaridades de cada uma: Base do pescoço e desfiladeiro torácico. Fúrcula esternal à cartilagem cricoide. Cartilagem cricoide ao ângulo da mandíbula. Acima do ângulo da mandíbula. Maior mortalidade devido ao acesso cirúrgico difícil e a probabilidade de lesões em grandes vasos. Lesões possuem melhor curso. Nesse caso, estruturas como a artéria carótida distal, as glândulas salivares e a faringe podem ser acometidas. Zona I Zona II Zona III Podemos encontrar também uma divisão mo- dificada proposta por Monson et al. presente em alguns tratados de cirurgia: Base do pescoço e desfiladeiro torácico. Todos estrutura abaixo da fúrcula esternal. Fúrcula esternal ao ângulo da mandíbula. Acima do ângulo da mandíbula. Zona I Zona II Zona III Por último, os pacientes com trauma cervical ainda podem ser classificados em mais três grupos: • Grupo I: com risco de morte imediato (lesões evidentes em sistema vascular, respiratório ou nervoso) • Grupo II: com sintomas, mas sem risco de morte imediato (apesar de sintomáticos per- manecem estáveis clinicamente) • Grupo III: assintomáticos. Os pacientes com trauma cervical sintomá- tico devem ser sempre abordados cirurgi- camente. Os sintomas podem ser de trauma vascular (hemorragia importante, hematoma em expansão), de trauma de via aérea (es- tridor, disfonia, enfisema subcutâneo), de trauma do trato digestivo (disfagia, enfisema subcutâneo), deficit neurológico ou, mais co- mumente, uma “mistura” de vários desses. Nos pacientes do grupo II, podemos realizar uma investigação diagnóstica antes da inter- venção cirúrgica como a solicitação de doppler ou arteriografia para as lesões vasculares, TC na lesões ósseas e de laringe e ressonância nas lesões de medula. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 86Medgrupo - CiClo 2: M.E.D A grande dúvida no trauma cervical é: O que fazer com os assintomáticos? • As vítimas de trauma fechado podem ser acompanhadas com TC de pescoço e doppler de carótidas. O envolvimento do esôfago no trauma fechado é raro, então, a princípio, este órgão só será investigado na presença de sintomas. • Já em relação às vítimas de trauma aberto: • Quando a ferida não atinge o platisma, não há necessidade de investigação, a princípio. • Quando a ferida atinge o platisma, há risco de lesão a estruturas internas. Ainda não existe consenso sobre a conduta a ser tomada. Tanto a conservadora quanto a abordagem cirúrgica imediata têm resul- tados semelhantes. Caso opte-se pela conduta conservadora, o paciente deve ser submetido a TC de pesco- ço para screening e, em caso de alterações, laringoscopia direta, broncoscopia e endos- copia digestiva alta ou esofagografia. Nos casos em que a ferida não atinge o platisma, a chance de dano a estruturas internas do pescoço é pequena, já que este músculo é superficial a todas elas. Sempre que possível, os portadores de trau- ma penetrante das zonas I e III com indicação cirúrgica devem se submeter a uma angio- grafia pré-operatória – claro que excluindo os instáveis hemodinamicamente... Esse estudo geralmente não é necessário nas lesões de zona II, que vão direto para a cirurgia. Não iremos aqui entrar em detalhes sobre a abordagem de cada órgão, pois este tema não costuma cair em prova. Vamos apenas estudar a conduta frente ao trauma do esôfago. • Nas lesões esofagianas abordadas nas pri- meiras 12 horas após o trauma, é feito reparo primário e drenagem da ferida. A esofagos- tomia é indicada apenas nos casos de perda significativa de substância, impossibilitando o reparo primário. • Nas lesões abordadas mais de 12 horas após o trauma, devemos considerar a presença de infecção no mediastino. Assim, indica-se esofagostomia (para desviar a secreção oro- faríngea) e antibioticoterapia sistêmica. Além disso, este paciente deverá ter uma gastros- tomia ou jejunostomia para alimentação.RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Homem, 22 anos, chega a Hospital de Refe- rência para Urgências e Emergências, vítima de ferimento por projétil de arma de fogo no pescoço. Exame físico: FC = 94 bpm, PA = 120 x 80 mmHg, FR = 20 irpm, consciente, dor na região cervical com orifício de entrada próximo ao ângulo da mandíbula à esquerda e, de saída, na região inferior do músculo esternocleidomastoideo à direita. Apresenta pequeno hematoma à direita, ausência de sangramento ativo bem como de enfisema subcutâneo e déficit neurológico. SaO2 (com máscara de O2) = 98%. A CONDUTA É: a) Intubação orotraqueal e cervicotomia ex- ploradora. b) Manutenção de máscara de O2 e endosco- pia digestiva alta. c) Manutenção de máscara de O2 e tomografia computadorizada multislice do pescoço. d) Intubação orotraqueal e tomografia compu- tadorizada multislice do pescoço. Paciente com lesão cervical penetrante, ultrapassando o platisma, assintomático. Nes- ses casos podemos traçar uma conduta mais conservadora: TC de pescoço para screening e, em caso de alterações, laringoscopia direta, broncoscopia e EDA. Esta foi a ideia do autor da questão, que divulgou como gabarito a opção C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – ESPCE Paciente é vítima de ferimento por arma branca na região da cartilagem cricoide. Refere odino- fagia e no exame físico um hematoma cervical é identificado. Qual a melhor conduta no caso? a) Esofagoscopia. b) Esofagograma. c) Arteriografia. d) TC do pescoço. e) Cervicotomia exploradora. Questão simples. Os pacientes com trauma cervical sintomático devem ser sempre abor- dados cirurgicamente. Resposta letra E. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO Uma das assertivas abaixo está em desacordo com a conduta a ser tomada no paciente com traumatismo do pescoço. a) Pacientes com sinais abertos de lesão no trajeto vascular ou aerodigestório requerem exploração cirúrgica. b) Pacientes com lesões penetrantes na zona II são, em geral, levados diretamente para a sala de operações. c) Pacientes com lesões penetrantes nas zonas I e III devem ser submetidos, quando possível, à angiografia pré-operatória. d) O traumatismo fechado do pescoço, com frequência compromete a laringe, e estas lesões são facilmente identificadas pela larin- goscopia direta. e) A endoscopia intraoperatória é um adjuvan- te útil nos casos em que haja alta suspeita de lesão aerodigestória. A opção D está errada pois o melhor exame para o diagnóstico de lesão da laringe não é a laringoscopia, e sim a TC. As demais estão corretas, inclusive a B: as lesões de zona II geralmente não requerem angiografia pré-ope- ratória para estudo da vascularização cervical e podem ser operadas diretamente, ao contrário das lesões nas zonas I e III, nas quais o exame contrastado é feito sempre que possível. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 87Medgrupo - CiClo 2: M.E.D O trauma maxilofacial não costuma ameaçar a vida do paciente, razão pela qual o seu trata- mento geralmente é postergado. Nos poucos casos de sangramento profuso, as responsá- veis costumam ser ramos da carótida externa – assim, a ligadura desta artéria geralmente resolve o problema. O mais importante aqui é saber classificar as formas de fratura de face (classificação de Le Fort). A TC é o exame de escolha. Acompanhe pela imagem ao lado. TRAUMA DE FACE Le Fort Disjunção Fratura horizontal do I dentoalveolar maxilar, separando processos alveolares, dentes e palato do resto do crânio. Le Fort Disjunção Separa os ossos II nasofaríngea maxilar e nasal do osso frontal. Le Fort Disjunção Semelhante à III craniofacial anterior, porém a linha de fratura, em vez de descer em direção ao processo frontal da maxila, sobre e atravessa toda a órbita, passando pela fissura orbitária superior. Figura 38 Outra observação importante relacionada a este assunto é que a presença de fratura maxilofacial extensa contraindica a intubação oro ou nasotraqueal, estando indicado nesses casos o acesso cirúrgico à via aérea (cricoti- reiodostomia ou traqueostomia). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – CE No traumatismo facial, a disjunção craniofacial corresponde a fratura do tipo: a) Le Fort IV. c) Le Fort II. b) Le Fort III. d) Le Fort I. Tema não muito cobrado mas que vez ou outra pode aparecer. Gabarito B. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 88Medgrupo - CiClo 2: M.E.D INTRODUÇÃO ANATOMIA TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO (TCE) O paciente politraumatizado comumente é portador de um Traumatismo Cranioencefá- lico (TCE) – estima-se que a causa mortis de mais da metade das vítimas de trauma seja o TCE! Aproximadamente 80% dos indi- víduos com TCE que recebem cuidados médi- cos podem ser classificados como vítimas de trauma leve, 10% como trauma moderado e 10% trauma grave. Os traumas relacionados ao transporte (acidentes com motocicletas, veículos automotores, atropelamento) são as causas mais comuns de TCE. A gravidade do TCE depende da escala de coma de glasgow (ECg): • ECg ≥ 13: TCE leve • ECg entre 9 e 12: TCE moderado • ECg ≤ 8: TCE grave O objetivo do tratamento para portadores de TCE deve ser a prevenção de lesão cerebral secundária. Vamos explicar: além da lesão cerebral primária (causada diretamente pelo trauma), é comum a extensão dessas lesões em caso de hipoperfusão, hipoxemia, hiper- tensão intracraniana – são as lesões secun- dárias. A melhor maneira de preveni-las é for- necendo oxigenação adequada e mantendo uma pressão arterial suficiente para garantir a pressão de perfusão do cérebro. Nossos objetivos são: • PA sistólica ≥ 90 mmHg • PaO2 ≥ 60 mmHg • Evitar hipercapnia – causa vasodilatação cerebral e aumenta PIC. Vamos primeiro responder à pergunta: o que protege o encéfalo do trauma? Seguindo da porção mais externa, podemos identificar três camadas que envolvem o encéfalo: couro cabeludo, crânio e meninges. Não pule essa parte, pois ela nos ajudará a entender diver- sos tipos de lesão que estudaremos a seguir. Vamos estudá-las “de fora para dentro”. A. Couro Cabeludo O couro cabeludo que reveste a calota crania- na é constituído por cinco camadas: (1) a pele; (2) o tecido conjuntivo; (3) a aponeurose ou gálea aponeurótica; (4) o tecido areolar frou- xo; e (5) o pericrânio. O tecido areolar frouxo separa a gálea do pericrânio e é a sede dos hematomas subgaleais. Em razão da sua irrigação abundante, a laceração do couro ca- beludo pode levar a perdas sanguíneas signi- ficativas, especialmente em bebês e crianças. B. Crânio O crânio é constituído pela (1) calota ou abóbo- da e pela (2) base. A calota é particularmente fina nas regiões temporais (este dado é impor- tantíssimo nos casos de hematomas epidurais) onde, porém, é “acolchoada” pelos músculos temporais. A base do crânio é irregular, possi- bilitando a ocorrência de lesões quando o cére- bro se desloca e “desliza” no interior do crânio, em decorrência de movimentos de aceleração e desaceleração (as famosas lesões por “ci- salhamento”). A fossa anterior aloja os lobos frontais, a fossa média aloja os lobos temporais e a fossa posterior aloja a porção inferior do tronco cerebral e o cerebelo. C. Meninges • As meninges revestem o cérebro e se divi- dem em três camadas — (1) a dura-máter; (2) a aracnoide; e (3) a pia-máter. • A dura-máter é constituída por dois folhetos de tecido conjuntivo denso, um em conta- to com o periósteo craniano e outro com a aracnoide. Em algumas regiões, como a parietal, o folheto externo encontra-se frou- xamente aderido à tábua interna do crânio, facilitando o acúmulo de sangue nesta to- pografia, formando os hematomas extra- durais ou epidurais. Esses hematomas são formados geralmente após lesão das artérias meníngeas: a artéria meníngea média, que se encontra localizadasobre a fossa temporal, é o vaso meníngeo lesado com maior frequência. • Além disso, as veias que vão da superfí- cie do cérebro para o seio sagital na linha média superior (as chamadas “veias em ponte”) podem se romper no TCE, levando à formação de hematoma subdural, loca- lizado sob a dura-máter. • Após a dura-máter situa-se a segunda menin- ge, a aracnoide, que é fina e transparente. A 88 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 89Medgrupo - CiClo 2: M.E.D terceira meninge, a pia-máter, está firmemen- te aderida ao parênquima cerebral. O líquor circula no espaço subaracnoideo. A hemor- ragia para dentro deste espaço (hemorragia subaracnoidea) também é frequentemente causada por TCE. Em resumo: Crânio Espaço Epidural/Artérias Meníngeas Hematoma________________ Dura-máter Espaço Subdural/Veias Ponte Hematoma ________________ Aracnoide Espaço Subaracnoideo/LCR Hemorragia _______________ Pia-máter Encéfalo LEsÕEs DECORRENTEs DO TCE 1. Fraturas de Crânio As fraturas de crânio podem ser identificadas na calota ou na base do crânio. Para identifi- cação das fraturas da base do crânio habitual- mente é necessário o uso de tomografia com- putadorizada com “janela” para osso. Alguns sinais clínicos levam à suspeita de fratura de base de crânio, como: • Rinorreia, otorreia, hemotímpano: indicam fístula liquórica através do nariz ou ouvido. • Disfunção do VII e VIII pares cranianos (para- lisia facial e perda de audição). Anosmia (dis- função do I) também pode estar presente se houver lesão da lâmina crivosa. • Equimoses periorbital (olhos de guaxinim), retroauricular (sinal de Battle). A presença de fratura de crânio, mesmo pe- quena, indica que o trauma foi grave! Para haver fratura de crânio, a energia cinética liberada no trauma seguramente foi muito intensa, então frequentemente a fratura se acompanha de outras lesões. Só para você ter uma ideia, a presença de uma fratura linear da calota craniana aumenta em até 400 vezes a possibilidade de ocorrência de hematoma intracraniano. As fraturas fechadas da calota craniana não costumam exigir manejo cirúrgico específico. As abertas exigem reparo do escalpe e des- bridamento cirúrgico. E a craniectomia? Ela fica reservada para as fraturas com depressão superior à espessura da calota, associadas a hematoma intracraniano e quando há acome- timento dos seios frontais. As fraturas de base de crânio assintomáticas (diagnosticadas pela TC), não exigem tra- tamento especifico. Na presença de fístula liquórica o tratamento de escolha é a elevação da cabeceira da cama por vários dias asso- ciada ou não a uma drenagem lombar por ca- teter. O uso de antibióticos para profilaxia de meningite não possui eficácia comprovada... No caso de lesões de nervos cranianos não há muito o que se fazer. Corticoides podem sem empregados, embora ainda não haja nenhu- ma comprovação de seu efeito. A exceção ao caso é a lesão do nervo facial, que eventual- mente pode ser tratada pela descompressão do seu trajeto petroso. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BA Uma unidade de atendimento do SAMU é chamada para socorrer acidente automobilís- tico envolvendo dois automóveis em uma avenida da cidade, com dois indivíduos trau- matizados. Após estabelecimento de períme- tro de segurança para o atendimento no local do acidente, constata-se o óbito de um dos condutores. O condutor do segundo automó- vel, um indivíduo jovem, sexo masculino, sem cinto de segurança, está inconsciente, com ferimentos e deformação grave da estrutura óssea da face, hematomas periorbitários, saí- da de sangue e líquido amarelo claro pelo http://#scrolldown http://#page=252 Cirurgia - Volume 8 90Medgrupo - CiClo 2: M.E.D nariz, com taquicardia, taquipneia e respiração ruidosa. O enfermeiro socorrista coloca o co- lete de imobilização cervical. Diante do quadro, indique a principal suspeita diagnóstica, além da fratura óssea em face. Olha ele aí!!! Hematoma periorbitário, o GUAXINIM!!! GABARITO OFICIAL: Fratura de base do crânio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BA Uma unidade de atendimento do SAMU é cha- mada para socorrer acidente automobilístico envolvendo dois automóveis em uma avenida da cidade, com dois indivíduos traumatizados. Após estabelecimento de perímetro de segu- rança para o atendimento no local do acidente, constata-se o óbito de um dos condutores. O condutor do segundo automóvel, um indivíduo jovem, sexo masculino, sem cinto de seguran- ça, está inconsciente, com ferimentos e defor- mação grave da estrutura óssea da face, he- matomas periorbitários, saída de sangue e lí- quido amarelo claro pelo nariz, com taquicardia, taquipneia e respiração ruidosa. O enfermeiro socorrista coloca o colete de imbolização cer- vical. Diante do quadro, indique os sinais clíni- cos mais específicos apresentados, no caso, para a suspeita diagnóstica. Como acabamos de ver na anterior!!!! GA- BARITO OFICIAL: Hematoma periorbitário (sinal do guaxinin) e saída de líquor pelo nariz/ liquorreia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP Você atende um doente de 63 anos no Pronto- -Socorro vítima de queda da escada, que apresenta fratura de crânio, otorragia e rinor- ragia e está com 80% de saturação de O2 à oximetria de pulso e com Glasgow de 7. Há sangramento intenso na orofaringe e você não consegue realizar a intubação orotraqueal. Qual o procedimento adequado para drena- gem gástrica desse paciente na emergência? Grave um conceito, paciente com fratura ou suspeita de fratura de base de crânio, deve- mos evitar procedimentos nasais como a pas- sagem de sondas!!! Logo, nesse caso, a des- compressão deve ser orogástrica. GABARITO UNIFESP: Sonda orogástrica (OU sondagem orogástrica). Olha a falta de criatividade!!!!! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Homem de 30 anos, vítima de atropelamento, foi trazido ao Pronto-Socorro em prancha rígida, com colar cervical e o membro inferior esquerdo imobilizado. Estava inconsciente e havia sangue vivo e dentes soltos na cavida- de oral. O oxímetro de pulso registrava 80% de saturação. No exame da vítima, notou-se a existência de otorragia à esquerda, equi- mose periorbitária bilateral e hematoma em processo mastoide esquerdo. Que diagnós- tico deve ser suspeitado e qual é a via de passagem de sonda para descompressão gástrica desse paciente? Para aqueles que persistiram até o final da apostila a UNIFESP praticamente deu uma questão de presente. A presença de equimose periorbitária bilateral, otorragia e hematoma em mastoide são sinais clínicos clássicos de fratura de base de crânio. Devido ao risco de falso trajeto, estão absolutamente contrain- dicados os cateteres nasogástricos. O pacien- te em questão deve realizar a descompressão gástrica com um cateter orogástrico. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP O sinal clínico de uma fratura de base de crâ- nio é equimose: a) Mentoniana. b) Periorbitária unilateral. c) Da asa nasal. d) Na região retroauricular e mastoidea. e) Na região frontal. Não tem como errar!!! Gabarito D. 2. Lesões Intracranianas Essas lesões podem ser classificadas como focais ou difusas, embora as duas formas de lesão frequentemente ocorram em conjunto. As lesões cerebrais focais incluem os he- matomas epidurais, os hematomas subdu- rais, as contusões e os hematomas intrace- rebrais. Essas lesões podem exercer efeito de massa, causando desvio da linha média e hipertensão intracraniana. Veja: Hematomas Epidurais (Extradurais) • Localizam-se entre a dura-máter (meninge mais externa) e o crânio. • Tipicamente têm forma biconvexa à TC. • A causa mais comum é a lesão da artéria meníngea média localizados geralmente na região temporal ou temporoparietal. • Frequentemente cursam com intervalo lúcido. • Indicações de tratamento cirúrgico: as prin-cipais são hematomas com volume ≥ 30 ml, espessura ≥ 15 mm e/ou desvio da linha mé- dia ≥ 5 mm, além de coma, deficit neurológico focal ou anisocoria. Hematomas subdurais • Frequentemente secundários à dilaceração de pequenas veias (veias em ponte) entre a dura-máter e a aracnoide. • Tipicamente têm localização frontotemporoparie- tal e a TC mostra uma imagem que acompanha a curvatura da calota craniana – “imagem em crescente”. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 91Medgrupo - CiClo 2: M.E.D • Maior risco em idosos e alcoólatras (pela atro- fia cerebral) e usuários de anticoagulantes. • Indicações de tratamento cirúrgico: hematoma com ≥ 10 mm de espessura ou desvio da linha média ≥ 5 mm, sinais de herniação cerebral, anisocoria, deterioração neurológica. Hematomas epidurais ou extradurais (HED): Ocorrem em 0,5% de todos os indivíduos com TCE – Entre os comatosos (com TCE grave), este número atinge 9%. Localizam-se entre a dura-máter (meninge mais externa) e o crânio. Tipicamente têm forma biconvexa. Estão mais frequentemente localizados na região temporal ou temporoparietal (lembra que esta é uma área mais delgada do crânio?) e habitualmente resultam da ruptura da artéria meníngea média, se- cundária a uma fratura craniana. Guarde: o trauma da parte lateral da cabeça pode causar um hematoma epidural. Cerca de 60% dos pacientes têm uma evo- lução peculiar com (1) perda da consciência, seguida de (2) melhora (que pode ser com- pleta ou incompleta – o intervalo lúcido) e, finalmente, (3) piora neurológica súbita, com o paciente evoluindo para o coma com midríase homolateral à lesão e paresia dos membros contralaterais ao hematoma. Os pacientes tratados conservadoramente devem ser monitorados com exame neuro- lógico e tomografias seriadas, sendo a TC repetida no máximo 8 horas após o trauma. Hematomas subdurais (HSD): São bem mais comuns que o hematoma epidural, ocorrendo em cerca de 30% dos TCEs graves. São frequentemente secundários à dilace- ração de pequenas veias entre a dura- máter e a aracnoide (veias em ponte). Existem 3 populações sob maior risco: os idosos, os alcoólatras (pela atrofia cere- bral causando aumento do espaço subdu- ral) e os usuários de anticoagulantes. Habitualmente recobrem toda superfície do hemisfério – tendo localização frontotem- poroparietal característica. O comprome- timento cerebral subjacente ao hematoma subdural costuma ser muito mais grave que nos hematomas epidurais. Alteração no nível de consciência, deficits lateralizados, anisocoria, posturas patológicas e arritmia respiratória ocorrem em combinações va- riadas. Dependendo do volume e da velo- cidade de instalação deste hematoma, ele pode exercer efeito de massa significativo, com desenvolvimento de síndrome de hi- pertensão intracraniana, que pode culminar com o aparecimento da tríade clínica clás- sica de hipertensão arterial, bradicardia e arritmia respiratória (tríade de Cushing); a presença destes achados indica hiperten- são intracraniana grave, com herniação transtentorial iminente. A TC mostra uma imagem que acompanha a curvatura da calota craniana – “imagem em crescente”. Figura 39: Hematoma epidural: formato de lente biconvexa. O tratamento cirúrgico está indicado nos hematomas com volume ≥ 30 ml, espessura ≥ 15 mm e/ou desvio da li- nha média ≥ 5 mm. Outras indicações encontradas na literatura são hematomas epidurais associados a coma (Glasgow ≤ 8), deficit neurológico focal ou anisocoria. A deterioração do estado neurológico, com ou sem indicativos de herniação cerebral, é outra indicação que deve ser considerada para abordagem cirúrgica. Uma cranioto- mia ampla frontotemporoparietal, seguida de tratamento da lesão com remoção do hematoma e coagulação bipolar das áreas de hemorragia, é o procedimento correto a ser empregado. Figura 40: Hematoma subdu- ral: formato em crescente, acompanhando a curvatura da calota craniana. A abordagem cirúrgica é indicada nos seguintes pacientes: hematoma com ≥ 10 mm de espessura ou desvio da linha mé- dia ≥ 5 mm, sinais de herniação cerebral, anisocoria ou deterioração neurológica. Ao contrário dos hematomas epidurais, o estado de coma não é uma indicação absoluta de http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR207084 http://#videomiolo=13704-RCIR207085 Cirurgia - Volume 8 92Medgrupo - CiClo 2: M.E.D abordagem cirúrgica. A drenagem deve ser realizada através de craniotomia ampla. Os pacientes tratados conservadoramente devem ser observados com monitorização da PIC, exame neurológico e tomografias seriadas. Deterioração neurológica e PIC persistentemente > 20 mmHg são indicações de abordagem cirúrgica. O prognóstico é sombrio, mesmo com o tratamento adequado (mortalidade = 60%). Algumas observações sobre o que acabamos de estudar: • A hipertensão intracraniana desses pacientes deve ser tratada do mesmo modo que estuda- mos na apostila de Síndromes Neurológicas Hematoma Hematoma epidural subdural Origem do sangramento Arterial Venoso Localização típica Temporal ou Frontotemporoparietal temporoparietal Intervalo lúcido? Sim Não Imagem (TC) Lente biconvexa Em crescente e AVE, mas devemos tomar cuidado ao usar manitol em pacientes hipotensos, já que a diurese osmótica resultante pode agravar a hipovolemia. • Indivíduos anticoagulados devem ter o efeito anticoagulante revertido preferencialmente antes da cirurgia. Os usuários de warfarin, por exemplo, podem ser tratados com plas- ma, complexo protrombínico ou fator VIIa recombinante, como estudamos na apostila de Distúrbios da Hemostasia e Trombose. Mesmo para os pacientes que não são opera- dos, a reversão da anticoagulação é indicada na maioria dos casos. O quadro a seguir serve para recordar as diferenças entre os hematomas epidural e subdural. Preencha-o: grupos sob maior risco de hematoma subdural: idosos , alcoólatras e usuários de anticoagulantes . RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP R.M., masculino, 58 anos, etilista, sofre queda de aproximadamente 6 degraus na escada de sua residência. Chega ao pronto-socorro tra- zido por familiares com Glasgow = 13 (aber- tura ocular ao chamado e confuso/desorien- tado) e hemiparesia desproporcionada incom- pleta contralateral ao local da sua lesão intra- craniana. Realizou imediatamente tomografia computadorizada de crânio sem contraste. (VER IMAGEM). Qual é a lesão que mais destaca-se na região parietal direita do corte tomográfico ao lado? a) Hematoma epidural. b) Hematoma subdural. c) Hemorragia subaracnoidea. d) Não há lesão na região parietal direita. Na tomografia computadorizada de crânio observamos imagem biconvexa e hiperdensa, o que nos fala a favor de hematoma epidural. Gabarito A. Contusões e hematomas intracerebrais: Contusões cerebrais ocorrem em 20% a 30% dos TCEs graves, geralmente nos lobos frontal e temporal, embora possam acontecer em qualquer parte do cérebro. Em aproximadamente 20% dos casos, as contusões se expandem para formar um hematoma intracerebral, exigindo evacua- ção cirúrgica imediata. É por isso que se recomenda repetir a TC dentro de 12 a 24 horas após a tomografia inicial. O quadro clínico pode ser semelhante ao do AVE isquêmico, com deficit neurológico http://#scrolldown http://#page=253 http://#page=254 Cirurgia - Volume 8 93Medgrupo - CiClo 2: M.E.D focal. Além disso, pode evoluir com a forma- ção de cicatrizes corticais, um importante fator de risco para epilepsia pós-TCE. As lesões cerebrais difusas são geralmente atribuídas à desaceleração súbita dentro do crânio. Pode haver distúrbio neurológi- co temporário, como nas concussões, ou definitivo, como na maioria dos casos de Lesão Axonal Difusa (LAD). Concussão: Nas concussões, o indivíduo pode ter breveperda de consciência (< 6 horas) e amné- sia, retrógrada ou anterógrada. Tais alterações geralmente duram pouco e não é raro que o acidentado já tenha se recuperado ao receber atendimento médico. A concussão é classificada como leve quan- do ocorre apenas distúrbio neurológico, sem perda da consciência. Já na concussão clás- sica temos perda temporária da consciência, durante no máximo 6 horas. Lesões difusas graves resultam mais frequen- temente de agressão hipoxicoisquêmica ao cérebro devido a choque prolongado ou apneia que ocorrem imediatamente após o trauma. Nestes casos, a tomografia computadorizada pode ser inicialmente normal, ou o cérebro aparece com edema difuso, havendo perda da distinção normal entre cinza e branco. Lesão Axonal Difusa (LAD): A LAD é classicamente um quadro grave, sendo causada pela lesão dos prolongamentos axonais dos neurônios. O mecanismo do trauma parece ser explicado por aceleração rotacional da ca- beça. A LAD costuma ser mais frequente nas estruturas inter-hemisféricas (corpo caloso) e a porção rostral do tronco encefálico. Clinicamente, manifesta-se com coma > 6 horas (diferenciando a LAD da concussão clássica). A TC deve ser solicitada por duas razões: • Excluir a formação de lesões expansivas (ex.: hematomas) e a hipertensão intracraniana como causa do estado comatoso. • Demonstrar as alterações clássicas da LAD – discretos pontos de hemorragias no corpo caloso e centro semioval – presentes em 50% dos casos. A RNM, quando realizada alguns dias após o trauma, demonstra lesões difusas da subs- tância branca. O tratamento é de suporte clínico – não está indicada cirurgia! E agora? Chegou um paciente com TCE. O que fazer??? É fundamental lembrar que o paciente com TCE é um paciente vítima de trauma e, por isso, deve ser submetido ao “ABCDE do Trauma”. A prioridade no TCE é a prevenção de lesões secundárias, assim o tratamento do choque e a ventilação são primordiais. Tão logo a PA e ventilação estejam mantidas, será realizado exame neurológico sumário (Glasgow e reação pupilar). Se for impossível normalizar a pressão arterial, ainda assim o exame neurológico será realizado e a hipotensão registrada. É importantíssimo que você saiba pontuar o paciente na escala de Glasgow!!! Grave a sequência O-V-M (Ocular-Verbal-Motora), que corresponde à ordem (crescente) de pontua- ção de cada item na escala de Glasgow: abertura ocular vale 4 pontos, reposta verbal 5 pontos e resposta motora 6 pontos (total = 15 pontos). Se, apesar de reanimação agressiva com lí- quidos, a PA sistólica não atingir > 100 mmHg, a prioridade é estabelecer a causa da hipo- tensão, sendo que a avaliação neurocirúrgica ocupa a segunda prioridade. Lembre que a causa do choque quase nunca é proveniente do TCE! Procure sangramento torácico no exa- me físico e abdominal com LPD ou FAST. Para tratar o choque, o paciente poderá necessitar de laparotomia ou toracotomia. Apenas após a estabilização clínica realizaremos exames de imagem, como a TC de crânio. Escala de Coma de Glasgow Abertura Ocular Espontânea 4 Estímulo verbal 3 Estímulo doloroso 2 Ausente 1 Melhor Resposta Verbal Orientada 5 Confusa 4 Palavras inapropriadas 3 Palavras incompreensíveis 2 Ausente 1 Melhor Resposta Motora Obedece comando 6 Localiza estímulo doloroso 5 Retira membro à dor 4 Flexão anormal (decorticação) 3 Extensão anormal (descerebração) 2 Ausente 1 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Para avaliar inicialmente um paciente com traumatismo cranioencefálico, o residente uti- lizou a escala de Glasgow, que leva em conta: a) Resposta verbal, reflexo cutâneo plantar e resposta motora. b) Reflexos pupilares, resposta verbal e refle- xos profundos. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 94Medgrupo - CiClo 2: M.E.D c) Abertura ocular, reflexos pupilares e reflexos profundos. d) Abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. E é assim que é cobrado!!! Fácil né... Ga- barito D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 CLÍNICA DE CAMPO GRANDE – MS Paciente de 50 anos, vítima de traumatismo cranioencefálico (TCE), chega ao Pronto Socor- ro, apresentando abertura ocular a dor, falando sons incompreensíveis e com postura de flexão hipertônica. Qual o valor na escala de Glasgow deste paciente? a) 7. c) 5. b) 6. d) 3. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ De acordo com a Escala de Glasgow, qual será o escore atribuído a um paciente que apresenta abertura ocular aos estímulos, pa- lavras inapropriadas e flexão anormal (postu- ra em decorticação)? a) 3. d) 12. b) 6. e) 15. c) 9. Agora não tem como errar! E isso cai todo ano. Se você não deu a devida importância para a escala de coma de Glasgow, volte e gaste mais um tempo com a sua memorização. Gabaritos A e C, respectivamente. Quando solicitar a TC? Em todo paciente que se apresentar com história de alteração do nível de consciência, amnésia, cefaleia progressiva, vômitos, con- vulsões, suspeita de fratura de crânio ou face ou com TCE moderado/grave. Naqueles que se apresentam assintomáticos, com cefaleia, tonteira ou lacerações de escalpe e que não perderam a consciência, não há ne- cessidade de realizar uma TC. Esses pacientes podem receber alta com orientações, sob super- visão de familiares ou responsável. O paciente deve retornar ao serviço de emergência para reavaliação em um dia. Caso não seja possível realizar a conduta, devemos manter o paciente internado por um período de avaliação mínimo. E se a TC vier normal? Se o exame neurológico não possuir altera- ções, o paciente pode ser liberado da mesma forma anteriormente explicitada. Se não for possível, uma internação com observação por um período de 24h deve ser realizada. RECOMENDAÇÕEs DE MANEJO DO PACIENTE VÍTIMA DE TCE O paciente com TCE grave (glasgow ≤ 8) deve ser submetido à intubação orotraqueal e acoplado à ventilação mecânica. As condutas cirúrgicas emergenciais já foram descritas an- teriormente. É importante que o neurocirurgião instale um cateter para a medida da Pressão Intracraniana (PIC), que geralmente funciona como guia para a terapêutica empregada. O mais importante neste momento é o tratamen- to da Hipertensão Intracraniana (HIC), assunto que já foi abordado na apostila de Síndromes Neurológicas e AVE. Vamos abordar aqui os pontos principais do tratamento da HIC: • Elevação da cabeceira do leito (30 a 45º). É uma medida simples e eficaz, mas requer estabilidade da coluna toracolombar. • Manter a Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) > 70 mmHg. A PPC é calculada pela fórmula PAM - PIC. • Drenagem de líquor através da ventriculos- tomia reduz a PIC e permite a monitorização contínua da mesma. A hidratação venosa em pacientes hipotensos aumenta a PAM, ambas contribuindo para o aumento da PPC. • Osmoterapia com manitol - diurético osmo- ticamente ativo, que reduz o edema cerebral. Cuidado com os pacientes hipotensos! Pode feita com manitol a 20%, 1 g/kg em bolus (e depois 0,25-0,5 g/kg a cada 6-8 horas, man- tendo osmolaridade sérica < 320 mOsm/L). Recentemente a hidratação com solução sa- lina hipertônica vem sendo empregada com a mesma finalidade. • Sedação (com midazolam, propofol ou opioi- des): a agitação pode aumentar a PIC. • Hiperventilação leve (mantendo PaCO2 entre 30 e 35 mmHg) – efeito vasoconstritor cerebral - apenas em pacientes intubados. Outras observações importantes: • O uso profilático de anticonvulsivantes (feni- toína e carbamazepina) mostrou-se benéfico apenas na prevenção de convulsões pós- -traumáticas precoces (< 7 dias). • Manter pH gástrico > 3,5 para evitar as úlce- ras pépticas decorrentes do TCE (úlceras de Cushing). • O uso de glicocorticoides não melhora o prognósticoe pode agravar alterações nu- tricionais e metabólicas. • Caso o paciente precise de anti-hipertensivos, evitar nitratos e bloqueadores do cálcio, pois a vasodilatação agrava o edema cerebral. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 95Medgrupo - CiClo 2: M.E.D • A cirurgia descompressiva está indicada em casos selecionados, já estudados para os pacientes com HED e HSD. A craniectomia também pode ser empregada com sucesso em pacientes com HIC refratária a todas intervenções não cirúrgicas, podendo ser ainda complementada por ressecções pa- renquimatosas. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 CLÍNICA DE CAMPO GRANDE – MS Paciente vítima de traumatismo cranioencefá- lico, apresentou perda da consciência no local do trauma, voltando a consciência e lucidez, após uma hora apresentou nova perda de consciência e no momento o Glasgow é 9, neste caso o diagnóstico mais provável é: a) Hematoma intraparenquimatoso. b) Hematoma subdural. c) Hematoma extradural. d) Contusão cerebral. INTERVALO LÚCIDO = hematoma extra- dural. Gabarito C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP Um homem de 32 anos, que estava sem ca- pacete, caiu da motocicleta. No local, estava inconsciente, com Glasgow 6. Na chegada ao hospital, levado por ambulância de suporte básico, a pupila direita tem 6 mm de diâmetro e está arreativa; a pupila esquerda tem 3 mm de diâmetro. Sinais vitais: Pulso = frequência cardíaca: 90 batimentos por minuto; PA: 200/110 mmHg. Próximo passo: a) Ventilação por máscara laríngea. b) Intubação traqueal, hiperventilação contro- lada e tomografia de crânio imediata. c) Intubação traqueal, ventilação para manter pCO2 em torno de 40 mmHg e administração de nicardipina. d) Trepanação do lado direito, onde tem pro- vável hematoma subdural. e) Administração de 1 litro de solução de cloreto de sódio a 0,45% e 500 ml de manitol a 10%. Estamos diante de um TCE grave (Glasgow 6) com perda de nível de consciência. Indubi- tavelmente a via aérea deve ser garantida preferencialmente através de uma intubação orotraqueal. Mas como devemos ventilar esse paciente? O exame físico nos indica uma pro- vável hipertensão intracraniana com herniação uncal (midríase paralítica). Idealmente o pa- ciente deve ter a sua cabeceira elevada, ser hiperventilado mantendo a pCO2 em torno de 30 a 35 mmHg e receber manitol venoso. Se estável, devemos realizar uma tomografia craniana para observar se há indicação de neurocirurgia, além de viabilizar uma ventricu- lostomia com maior segurança. Alternativa “B” correta. Vamos rever as opções: não há indi- cação de máscara laríngea, o que o paciente necessita é de acesso definitivo à via aérea! Opção “A” errada. A nicardipina é um antago- nista do cálcio que pode inclusive aumentar a pressão intracraniana – opção “C” erra- da. Como o neurocirurgião vai intervir sem saber a condição intracraniana que está pre- sente? – opção “D” errada. Não devemos administrar soluções hipo-osmolares para a vítima de TCE, sob pena de se agravar o ede- ma cerebral – opção “E” errada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE – HCPA Dentre as abaixo, qual a opção INCORRETA para tratamento da hipertensão intracraniana que ocorre no traumatismo cranioencefálico? a) Indução de hipotensão arterial. b) Hiperventilação. c) Indução de coma barbitúrico. d) Infusão em bolo de manitol. e) Craniotomia descompressiva. Questão fácil! Note que a letra A é absurda! A indução da hipotensão arterial diminuiria a pressão de perfusão cerebral, aumentando a isquemia neuronal... Todas as outras alterna- tivas incluem medidas empregadas classica- mente no tratamento da HIC. Resposta: A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP Paciente vítima de atropelamento, socorrido pelo SAMU, é submetido à intubação oro- traqueal no local do acidente sem sedação. Chega ao pronto-socorro com escala de coma de Glasgow igual a 6, pupilas isocóricas e mióticas, PA 140 × 90 mmHg, FC 64 bpm, taquipneico e sudorese importante em face e tronco. Após reavaliação na sala de emer- gência é submetido ao exame de tomografia de crânio que mostrou hemorragias puntifor- mes em corpo caloso. O restante do exame é normal. O motivo do rebaixamento do nível de consciência é: a) Choque neurológico. b) Choque dismielinizante agudo. c) Inchaço cerebral difuso (Brain Swelling). d) Lesão axonal difusa. e) Inchaço cerebral hemisférico (Swelling He- misférico). Apesar de não encontrarmos um quadro clássico de coma superior a 6 horas, o achado de hemorragias puntiformes em corpo caloso é extremamente sugestivo de lesão axonal difusa. Alternativa “D” correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ Severino foi atropelado. Atendido em via pú- blica chegou à Emergência com colar cervi- cal; havia fratura de costelas à esquerda com hemopneumotórax; fratura de fêmur direito; escoriações no braço direito e na parede an- terior do tórax. O escore de Glasgow para o coma era 10 (2-4-4). Sinais Vitais: PA= 115 X 90 mmHg, FC = 98 bpm, FR= 18 irpm. Reali- zada RNM, demonstrada a seguir. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 96Medgrupo - CiClo 2: M.E.D A conduta terapêutica nesse momento é: a) Cirurgia imediata e fenitoína. b) Acesso venoso profundo e dexametasona intravenosa. c) Manitol e hiperventilação. d) Punção lombar descompressiva e feno- barbital. Excelente imagem! Observe a imagem hi- perdensa em crescente, extensa, característi- ca de hematoma subdural. Vimos agora pouco que a abordagem dos hematomas com desvio da linha média > 5 mm é cirúrgica e nessa imagem a linha média está desviada bem mais que isso, e a espessura do hematoma também parece bem maior que 10 mm. A opção cor- reta é, portanto, a que inclui cirurgia – letra A. E a fenitoína? Estudos demonstraram que a fenitoína reduziu a incidência de convulsões durante a primeira semana após o trauma craniano, mas não após este período. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF Paciente masculino, idade em torno dos 25 anos, vítima de acidente automobilístico, dá entrada no Serviço de Emergência em coma Glasgow 8. É realizada TC do crânio que evidencia coleção hemorrágica frontoparietal direita com aspecto em crescente, determinan- do desvio contralateral das estruturas da linha média. Esses dados favorecem a hipótese de: a) Lesão axonal difusa. b) Hematoma epidural. c) Hematoma subdural. d) Contusão intraparenquimatosa. e) Edema cerebral difuso. Hematoma frontoparietal em crescente = hematoma subdural. Se fosse de formato bi- convexo, pensaríamos em hematoma epidu- ral. Resposta letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI- DADE DE SÃO PAULO – FMUSP Paciente de 20 anos de idade, vítima de atro- pelamento é trazido pelo resgate ao pronto-so- corro, com entubação orotraqueal. Ao exame clínico apresenta PA = 130x80 mmHg, P = 60 bpm, FR espontânea = 16 ipm, pontuação na escala de Glasgow = 4 (AO1 MRV 1 TMRM 2), postura de descerebração à esquerda e anisocoria (D > E). Foi realizada tomografia computadorizada de crânio. Quais as lesões observadas no exame de imagem? a) Lesão axonal difusa, hematoma intraparen- quimatoso e edema cerebral. b) Hematoma subdural agudo, hemorragia meníngea e edema cerebral. c) Hematoma intraparenquimatoso, hemato- ma subgaleal e lesão axonal difusa. d) Hematoma extradural, hemorragia menín- gea e hematoma subgaleal. e) Lesão axonal difusa, hematoma subdural agudo e edema cerebral. Observamos com nitidez um hematoma subgaleal (hemorragia entre a pele do couro cabeludo e a calota craniana), um hematoma extradural (epidural) de forma lenticular, bi- convexa e faixas de hemorragia aguda (faixas hiperdensas no parênquima cerebral) dentro do parênquima cerebral direito (hemorragia meníngea). Neste último caso, observe a com- pressão do ventrículo lateral direito. Resposta letra D. RESIDÊNCIA MÉDICA– 2004 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Adolescente, 15 anos, caiu do telhado após ser baleado em região abdominal. Exame fí- sico: corado, anisocórico, Glasgow = 10, PA = 120x80 mmHg, orifício de entrada do projétil em região epigástrica e saída em região dorsal esquerda. A CONDUTA é: a) Laparotomia exploradora e avaliação neu- rológica na sala de cirurgia. b) Tomografia computadorizada de crânio, com tratamento cirúrgico a seguir. c) Radiografia simples de crânio e abdome seguido de tratamento cirúrgico. d) Laparotomia exploradora com avaliação do neurologista na recuperação anestésica. e) Laparotomia exploradora e craniotomia sem exames prévios. Ferida penetrante por arma de fogo em abdome – indicação absoluta de laparoto- mia exploradora. E quanto ao traumatismo craniano? O paciente está anisocórico, será que existe uma lesão expansiva que mereça tratamento neurocirúrgico? Muito provavel- mente sim, mas não podemos adivinhar. Sendo assim, a realização de tomografia de crânio é essencial para resposta des- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 97Medgrupo - CiClo 2: M.E.D ta pergunta. Como ele está estável, você tem tempo para a TC. A opção (B) é a mais adequada se considerarmos que a cirurgia a qual ela está se referindo, a princípio, é a laparotomia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002 ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA – UNIFESP Um paciente de 22 anos foi atingido por uma pedra na parte lateral esquerda da cabeça du- rante uma briga à saída do estádio de futebol. Após descansar por alguns minutos e observar inchaço na região, dirigiu-se para sua casa. Três horas após passou a apresentar cefaleia de forte intensidade acompanhada de náuseas e vômito. Enquanto era levado ao hospital por seus familiares, foi progressivamente ficando sonolento. Ao exame de entrada o paciente estava comatoso, apresentava hemiparesia direita e anisocoria. O diagnóstico mais pro- vável e sua respectiva etiologia são: a) Tumefação cerebral, lesão da artéria cere- bral média. b) Brain swelling, distúrbio da vasomotricidade cerebral. c) Contusão frontal, lesão de veias ponte. d) Hematoma subdural subagudo, lesão de veias em ponte. e) Hematoma extradural, lesão da artéria me- níngea média. Observe que este paciente apresenta qua- dro clássico de hematoma epidural ou extra- dural, com direito a intervalo lúcido. Estes são causados principalmente por lesão da artéria meníngea média, ocorrendo geralmente na região temporoparietal!! Resposta letra E. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 98Medgrupo - CiClo 2: M.E.D TRAUMA RAqUIMEDULAR INTRODUÇÃO IMOBILIZAÇÃO DA COLUNA A coluna vertebral é formada por 7 vértebras cervicais, 12 torácicas e 5 lombares, além do sacro e do cóccix. Uma possível lesão traumática da coluna vertebral, com ou sem deficit neurológico, deve ser sempre considerada em vítimas de politraumatismo. Cerca de 5% dos indivíduos com TCE apresentam, também, uma lesão da coluna e, reciprocamente, 25% daqueles com trauma de coluna têm, pelo menos, um trauma leve de crânio. Aproximadamente 55% das lesões ocorrem na região cervical, 15% na região torácica, 15% na transição toracolombar e 15% na região lombossacra. Até 20% das vítimas de fraturas de coluna cervical apresentam uma segunda fratura de coluna, não contígua à primeira. Lembre sempre que a imobilização da coluna cervical é conduta prioritária na vítima de trauma, fazendo parte da letra A do “ABCDE do Trauma”, junto com a avaliação da via aérea. A coluna deve permanecer imobilizada até afastarmos a presença de lesão medular. Quando o paciente está acordado e orienta- do, é relativamente fácil e seguro afastar uma lesão medular. O problema é quando ele está em coma ou tem depressão do nível de cons- ciência – nesses casos, a exclusão de lesões não é tão simples e devem ser solicitadas ra- diografias (lateral, AP e transoral) para ajudar a excluir a presença de lesões traumáticas da coluna. Quando as radiografias são inconclu- sivas, a coluna deve permanecer protegida até que se possa realizar outros exames per- tinentes, como TC ou RM. Quando retirar o colar cervical? Inicialmente guarde o seguinte conselho: na dú- vida mantenha o colar! Outro conselho: escreva! Documente bem a história e o exame físico, assim você e os outros médicos que acompa- nharão este paciente poderão notar quaisquer alterações evolutivas do exame neurológico. Se o seu paciente está acordado, sóbrio, alerta, sem alterações neurológicas e não se queixa de dor no pescoço ou em sua linha média, podemos dizer que é extremamente improvável que ele apresente uma fratura ou instabilidade de coluna cervical. Então siga os seguintes passos: a) Mantendo o paciente em posição supina, remova o colar cervical e palpe a coluna. Se ele não se queixar de dor significativa, peça-lhe para que movimente o pescoço de um lado para outro. Nunca force o pescoço do doente. Essas manobras são geralmente seguras quando realizadas vo- luntariamente pelo paciente. b) Se continuar não referindo dor, peça-lhe que faça movimentos voluntários de flexão e de extensão com o pescoço. c) Se ele ainda continuar sem queixas de dor, as radiografias de coluna cervical não são necessárias. Na dúvida, siga os seguintes passos: a) Avalie a radiologia da coluna cervical, em incidências lateral, AP e transoral e com imagens axiais de TC de áreas suspeitas ou da porção inferior da coluna cervical, caso esta não tenha sido adequadamente visualizada nas radiografias simples. b) Avalie as radiografias de coluna cervical à procura de: • deformidade óssea. • fraturas dos processos ou do corpo vertebral. • desalinhamento da face posterior dos cor- pos vertebrais (extensão anterior do canal vertebral). • aumento da distância entre os processos espinhosos ao nível de C1 e estreitamento do canal vertebral. • aumento do espaço das partes moles pré- -vertebrais. Se essas radiografias forem normais, remova o colar cervical. Peça ao paciente que flexione voluntariamen- te seu pescoço e faça uma radiografia lateral em flexão. Se esta radiografia não evidencia 98 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 99Medgrupo - CiClo 2: M.E.D subluxação, a coluna cervical do doente pode ser considerada inocente e o colar deve ser removido definitivamente. Entretanto, se qual- quer destas radiografias for suspeita ou pouco clara, recoloque o colar cervical e realize uma consulta com um especialista de coluna. E se o paciente está grave e precisa de ou- tros procedimentos? O que fazer? Trate-o como se fosse portador de uma lesão instável de coluna. O colar cervical deve ser mantido e o paciente mobilizado utilizando a técnica de rolamento em bloco, quando for colocado e retirado da mesa de cirurgia. O anestesista deve ser informado sobre o estado da avaliação. A indução rápida se- quencial, usando anestésicos de ação curta e bloqueadores neuromusculares, permite a intubação orotraqueal sem hiperextensão da coluna. Não esqueça que o paciente deve ser removido da prancha tão logo seja possível: um indivíduo paralítico que é mantido em uma prancha dura por mais de 2 horas pode apresentar úlceras de decúbito. ExAME FÍsICO Em qualquer paciente com alterações motoras e/ou sensitivas que sugiram trauma medular, devemos avaliar a gravidade da lesão testando a função neurológica sacral (S1-S5) – caso ela esteja preservada, o prognóstico é “menos pior”, pois significa que a lesão medular foi incompleta. A função neurológica sacral pode ser avaliada através de: • Flexão do hálux. • Tônus retal, função retal, função vesical. • Reflexo cutâneo-anal (contração do ânus após estímulo da pele perianal). • Reflexo bulbocavernoso (contração do ânus ao se pressionar a glande peniana ou o clitóris). A secção medular definitiva causa exacerbação dos reflexos motores profundos, perda total da sensibi- lidade abaixo do nível da lesão e abolição dos reflexos superficiais, inclusive os reflexos sacrais. Dessamaneira, a presença de reflexos sa- crais após um trauma levanta a sus- peita de lesão medular incompleta. No entanto, pacientes que sofreram traumatismo raquimedular podem cursar com estado transitório co- nhecido como “choque medular”, no qual todos reflexos abaixo do nível da lesão são perdidos, fican- do a musculatura flácida e atônica. O choque medular pode mascarar uma lesão medular incompleta, evi- tando a manifestação dos reflexos sacrais, bem como se sobrepor a um estado de lesão da medular completa, impedindo a formação da hipertonia e exacerbação dos reflexos motores profundos. Logo, a presença de choque tanto medular subestimar o grau da lesão quanto impedir que a função neurológica sacral real seja avaliada. Ah, e quais seriam os reflexos sacrais? Existem dois principais a serem pesquisados: • Reflexo anal superficial (“piscar anal”): con- siste na contração do esfíncter externo após um leve estímulo com a ponta do indicador. • Reflexo bulbocavernoso: coloca-se a ponto do dedo indicador através do esfintar anal. Com a outra mão a glande ou clitóris é com- primida (tem que ser inesperado), provocan- do uma contração reflexa do esfíncter. Será que cai? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – UNB Um homem de 28 anos de idade, vítima de atropelamento, foi socorrido por paramédicos e encaminhado ao hospital, apresentando-se letárgico, com frequência de pulso de 120 ba- timentos por minuto, frequência respiratória de 28 incursões por minuto e pressão arterial de 100 mmHg x 70 mmHg. Com relação ao caso clínico acima, julgue o item. Se, durante o exame neurológico do paciente citado, verificar-se au- sência de reflexos, especificamente dos reflexos sacrais, como bulbocavernoso, tem- se indicada a presença de choque medular e o prognóstico de que o grau real da lesão anatômica pode ser menor que o inicialmente constatado. a) CERTO. b) ERRADO. Certíssimo! Devemos lembrar sempre que até 20% das víti- mas de fraturas de coluna cervical apresentam uma segunda fratura de coluna, não contígua à primeira, o que indica a realização de radio- grafias em AP e perfil (lateral) de toda a coluna em pacientes com fratura de coluna cervical. De acordo com o deficit neurológico apresen- tado (motor e/ou sensitivo), é possível saber, com relativa precisão, qual é o segmento es- pinhal acometido. Além disso, secções incom- pletas da medula podem causar síndromes neurológicas bastantes características que costumam ser cobradas em prova. Relembre as síndromes medulares, os principais der- mátomos e as raízes motoras consultando a apostila de Síndromes Neurológicas e AVE. http://#scrolldown http://#videomiolo=13704-RCIR207090A http://#videomiolo=13704-RCIR207090B http://#videomiolo=13704-RCIR207090C Cirurgia - Volume 8 100Medgrupo - CiClo 2: M.E.D O tratamento clássico da lesão comprova- da não penetrante de medula espinhal é a administração de metilprednisolona, nas primeiras 8 horas após o trauma, em doses de 30 mg/kg nos primeiros 15 minutos, se- guidas por 5,4 mg/kg/hora. Nos pacientes que recebem o medicamento durante as primeiras 3 horas após o trauma, adminis- tra-se corticoide durante 24 horas. Caso o tratamento seja iniciado entre 3 e 8 horas após o trauma, ele deve ser continuado por 48 horas, a menos que existam condições médicas desfavoráveis. Não parece haver benefício no tratamento iniciado mais de 8 horas após o trauma. Contudo, uma ob- servação importante: diversas referências, como a última edição do ATLS, deixaram de recomendar o uso rotineiro de corticoide, pois alguns estudos não mostraram bene- fício em relação ao placebo. Assim, tanto usar quanto não usar podem ser conside- radas condutas corretas... Não confunda: Choque Neurogênico ver- sus Choque medular. O choque neurogênico resulta da lesão das vias descendentes do sistema simpático da medula espinhal, o que ocasiona a perda do tônus vasomotor e da inervação simpática do coração. Como resultado, o paciente pode apresentar bradicardia ou deixar de apresentar taquicardia reflexa à hipovolemia. A pressão arterial pode ser restaurada pelo uso cauteloso de vasopressores, após reposição moderada TRATAMENTO de volume. A atropina é usada para corrigir bradicardia sintomática. Mais uma vez: o termo “choque medular” não tem nada a ver com pressão arterial! Este “choque” refere-se à flacidez e à perda de reflexos comuns após o trauma medular. A duração deste estado é variável. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ Um paciente de 28 anos de idade é admitido no setor de emergência, vítima de traumatismo raquimedular com fratura da quinta vértebra cervical. A história, o exame físico e os exa- mes complementares afastam outras lesões. O paciente encontra-se chocado, com PA máxima de 50 mmHg. Nesse caso, devemos notar a ausência da seguinte condição: a) Taquicardia. b) Extremidades quentes. c) Queda da resistência vascular periférica. d) Deficit da sensibilidade na face lateral do braço. Paciente de 28 anos que evolui com choque neurogênico clássico. Como a fisiopatologia por trás do choque é a perda do tônus simpá- tico, esperamos encontrar uma intensa vaso- dilatação periférica (extremidades quentes e queda da resistência vascular) e bradicardia, ou ausência de taquicardia secundaria à que- da da pressão arterial. Resposta A. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 101Medgrupo - CiClo 2: M.E.D QuEImaDuraS FISIOPATOLOgIA: • A resposta corporal a uma queimadura é uma disfunção da microvasculatura. Esta disfun- ção leva a um importante aumento da per- meabilidade vascular. As substâncias mais importantes são a histamina e a bradicinina. Ocorrem ainda diminuição do débito cardía- co, atrofia de mucosa intestinal IRA pré-renal seguida de NTA e hipermetabolismo. PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA: 1º Grau – Limitadas à epiderme. A pele se apresenta eritematosa e dolorosa, ficando pálida à compressão. 2º Grau superficial – Lesão da epiderme e derme superficial. Eritematosas, dolorosas e geralmente com bolhas, empalidecem também com a compressão. 2º Grau profundo – Lesão através da epi- derme e profundamente na derme. Maior palidez e eventualmente torna-se mos- queada. São dolorosas ao toque, mas não empalidecem à compressão. 3º Grau – Lesão de espessura total através da epiderme e da derme, chegando até o subcutâneo. Pele endurecida com aspecto de couro. Pode apresentar-se translúcida ou mosqueada com aspecto de cera. Não empalidece à compressão. A superfície é indolor e geralmente seca. 4º Grau – Envolvem estruturas abaixo da pele como ossos, músculos e tendões. AVALIAÇÃO DA ÁREA DE SUPERFíCIE QUEIMADA: • Regra dos nove – MMSS - 9% cada, MMII - 18% cada, faces anterior e posterior do tron- co -18%, cabeça e o pescoço - 9%, genitália e o períneo - 1%. • Regra da palma da mão – mão aberta com os dedos estendidos equivale a aproximada- mente 1% da SCQ. • Fórmula de Berkow – Melhor método em crianças. ABORgEM A PACIENTE QUEIMADO Cuidados pré-hospitalares: Mesma abordagem do paciente politraumati- zado: ABCDE. A e B – Procurar obstrução por edema após lesão térmica de vias aéreas superiores. In- tubar se houver comprometimento iminente. Observar se há ventilação adequada a des- peito da patência das vias respiratórias. C – Reposição com Ringer Lactato EV – Taxa de infusão em ml/h é dada pela fórmula SCQ x peso do paciente / 8. D e E – Mesmo enfoque do politraumatiza- do. Atentar para prevenção da hipotermia. Cuidados hospitalares Reposição volêmica • Fórmula de Parkland – 4 x SCQ x peso do paciente = volume a ser infundido nas 1ªs 24h em ml. Metade deve ser feito nas 1ªs 8h. • Fórmula de Broke modificada – 2 x SCQ x peso do paciente – mesma regra de re- posição que a fórmula de Parkland. • Fórmula de Galveston – Preferida para crianças – 5000 ml de Ringer lactato + SCQ em m2 x 1500. Cuidados com a queimadura• 1º Grau – AINEs. • 2º Grau superficial – Desbridamento + Curativo (com antibiótico tópico, biológico ou sintético). • 2º Grau profunda ou 3º Grau – Desbri- damento + Excisão de áreas necróticas. Necessitam de enxertia. Escarotomias • Serão necessárias em queimaduras de 2º e 3º graus circunferenciais nas extremi- dades, pois o edema pode comprometer a circulação venosa e eventualmente o suprimento arterial. Também podem ser necessárias quando houver restrição da respiração por queimadura torácica. Fasciotomias • São realizadas quando o edema muscular inicia uma síndrome compartimental. Mais comum nas queimaduras elétricas. INTRODUÇÃO – FIsIOPATOLOGIA 101 Este assunto é extremamente frequente em provas, mas tem uma vantagem: as questões, na sua maioria, são fáceis. Vamos inicialmente revisar alguns conceitos da fisiopatologia envolvendo pacientes com queimaduras. O evento mais marcante da resposta corporal a uma queimadura é uma disfunção da micro- vasculatura desencadeada por mediadores inflamatórios liberados durante a fase inicial deste trauma. Esta disfunção leva a um impor- tante aumento da permeabilidade vascular. Os mediadores são liberados não só localmente http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 102Medgrupo - CiClo 2: M.E.D como também por outros tecidos (REMIT). As substâncias mais importantes são a histamina e a bradicinina. Vamos rever alguns efeitos sistêmicos da queimadura: Efeitos cardiovasculares: o débito cardí- aco diminui em decorrência de queda no volume sanguíneo e aumento da viscosi- dade (hemoconcentração). Ocorre uma disfunção ventricular mediada por fatores depressores do miocárdio. Efeitos pulmonares: a serotonina, libera- da por plaquetas agregadas, aumentará a resistência vascular pulmonar. Efeitos gastrointestinais: ocorrerá atrofia da mucosa intestinal que será mais intensa por volta de 18h pós-queimadura. A per- meabilidade intestinal às macromoléculas aumentará favorecendo a translocação bacteriana. Efeitos renais: dependendo da gravidade da queimadura, podemos observar necrose tubular e insuficiência renal. A diminuição do débito, associada à presença de media- dores como a angiotensina, ADH e aldos- terona, leva a uma importante diminuição do fluxo sanguíneo renal e também da taxa de filtração glomerular. Efeitos metabólicos: por conta da REMIT, a taxa metabólica basal pode aumentar 200% acima do normal, elevando a deman- da por nutrientes. Embora haja um hiper- metabolismo em todos os tipos de trauma, nas queimaduras é que ele se revela de forma mais intensa. Este fenômeno pode se manter por meses. Efeitos hemostáticos: o tromboxano A2 promove agregação plaquetária. Veja como é fácil! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR Dentre as situações especificadas nas alter- nativas, qual a de maior demanda de energia (kcal/kg/dia)? a) Colecistectomia videolaparoscópica. b) Operação de Whipple. c) Politraumatismo. d) Peritonite aguda difusa. e) Queimadura de terceiro grau. Como acabamos de ver, dentre as diversas formas de trauma, o hipermetabolismo no grande queimado é maior. É claro que uma duodenopancreatectomia (cirurgia de Whip- ple) exigirá um gasto metabólico muito maior do que uma queimadura de terceiro grau me- nor que 1 cm... A banca não especificou se tratava-se de um grande queimado. Nessa hora não adianta querer brigar com a questão. Tente usar o bom senso e deduzir o que o po- bre do cirurgião quer dizer. Opção “E” correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP Homem, 23 anos, com queimadura de 3º grau em toda a extensão anterior do tronco e MMII há uma hora. A PERDA HÍDRICA NESSA FASE SE CARACTERIZA POR: a) Aumento da permeabilidade vascular. b) Aumento da pressão coloidosmótica. c) Aumento da pressão hidrostática. d) Diminuição dos hormônios catabólicos. e) Inibição do sistema renina-angiotensina. Em pacientes com SCQ superior a 20%, ocorre uma intensa produção de citocinas capaz de promover resposta sistêmica infla- matória, com aumento importante da per- meabilidade capilar e perda generalizada de fluidos e proteínas do intravascular para o terceiro espaço. Opção “A” correta. Vamos ver como o domínio desse conceito é importante? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Em paciente com grande queimadura, a causa primária de choque é: a) Aumento da permeabilidade capilar. b) Hemorragia extensa em área queimada. c) Elevação da pressão oncótica do interstício. d) Diminuição do débito cardíaco induzido pelo fator de depressão do miocárdio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 INSTITUTO ORTOPÉDICO DE GOIÂNIA – IO Assinale a resposta CERTA quanto à fisiopa- tologia das queimaduras: a) A extensão da queimadura é inversamente proporcional à gravidade. b) O edema intersticial começa a ceder após 72 horas. c) O aumento da permeabilidade capilar é o fator mais importante na fisiopatologia das queimaduras. d) A profundidade da queimadura é inversa- mente proporcional à gravidade. e) As proteínas plasmáticas permanecem no compartimento intravascular. E a mesma questão se repete todos os anos... Já sabemos a resposta! Opção “A” e opção “C” respectivamente. Entendidos os efeitos deste trauma sobre o organismo, vamos começar a parte clínica desta apostila: http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 103Medgrupo - CiClo 2: M.E.D PROFUNDIDADE DA qUEIMADURA Em conjunto com a área de superfície quei- mada, a profundidade é fundamental para de- terminar o tipo de tratamento e o prognóstico dos pacientes. A profundidade da queimadura depende do grau de lesão tecidual, sendo classificada em relação ao grau de lesão à epiderme, derme, tecido celular subcutâneo e estruturas adjacentes. queimAdurAs de Primeiro GrAu Estão limitadas à epiderme e não perdem a in- tegridade da barreira cutânea. O grande exem- plo desta queimadura é aquela decorrente da exposição solar. A pele se apresenta eritema- tosa e dolorosa, ficando pálida à compressão. Não ocorrem bolhas ou comprometimento de anexos da pele como folículos pilosos, glându- las sebáceas e sudoríparas. Do ponto de vista estético, esse tipo de queimadura é ótimo já que não deixa lesões residuais. Figura 1: Queimadura de Primeiro Grau. queimAdurAs de seGundo GrAu Dividem-se em dois tipos, a superficial e a profunda, ambas acometendo a derme. As superficiais (epiderme e derme superficial) se caracterizam por serem eritematosas, doloro- sas e geralmente com bolhas, empalidecem também com a compressão. Esteticamente pode ocorrer lesão residual, geralmente uma discreta descoloração da pele secundária e lesão dos melanócitos. Já as queimaduras de segundo grau profundas (epiderme e profun- damente na derme) lesam a derme reticular, com uma maior palidez e eventualmente mos- queada. Estas queimaduras são dolorosas ao toque, mas não empalidecem à compressão. Deixam cicatrizes com resultado estético ruim. É importante notar que a divisão acima é co- mum nos livros de cirurgia, incluindo a última edição do Sabiston, entretanto, o ATLS não a considera: ele chama de queimadura de es- pessura parcial e só. Figura 2: As bolhas características da queimadura de 2º grau. queimAdurAs de terceiro GrAu Avançam sobre a epiderme e toda a derme (chegando até o subcutâneo) e são caracteri- zadas por uma pele endurecida com aspecto de couro que também pode apresentar-se translúcida ou mosqueada com aspecto de cera. Esta queimadura não empalidece à com- pressão. A superfície é indolor e geralmente seca. Do ponto de vista estético, como não http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 104Medgrupo - CiClo 2: M.E.D restam epiderme e derme locais, a reepite- lização é feita a partir das margens da quei- madura ou de enxertia com aspecto estético muito ruim. O ATLS chama esta queimadura de espessura total. Figura 4 - Resultado estético da Queima- dura de Terceiro Grau. Figura 3: Queimaduras deterceiro grau. queimAdurAs de quArto GrAu: envolvem estruturas abaixo da pele como ossos, mús- culos e tendões. Característica da queima- dura elétrica. O ATLS não considera esta classificação. Figura 5: Queimaduras de quarto grau. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RIO DE JANEIRO – RJ No paciente queimado, a queimadura de se- gundo grau superficial apresenta injúria da epiderme até: a) A derme profunda. b) A derme superficial. c) O subcutâneo. d) Os fâneros. Gabarito B. Vamos resumir com este esquema: queimaduras Localização 1º grau Epiderme. 2º grau Epiderme e derme superficial. superficial 2º grau Epiderme e derme profunda. profunda 3º grau Epiderme, derme e tecido subcutâneo. 4º grau Todas as camadas da pele, além de músculos, tendões e ossos. Fique Atento: Cuidado durante a realização das questões! Como você observou nas descrições das queimaduras, existe uma grande diferença nesta classificação entre os tratados de cirurgia e o manual do ATLS. Va- mos resumir agora o que diz o ATLS: Primeiro grau: São caracterizadas por erite- ma, dor e ausência de bolhas. Elas não deter- minam risco de morte e geralmente não ne- cessitam de reposição intravenosa de fluidos. O exemplo clássico é a queimadura solar. Segundo Grau (espessura parcial): Apresen- tam como características a aparência verme- lha ou mosqueada e a presença de edema e bolhas. A superfície pode ter uma aparência “lacrimejante” ou úmida e é hipersensível a dor, que é intensa, mesmo a pequenos estí- mulos como a corrente de ar. Terceiro grau (espessura total): Costumam ser escuras e ter aparência de couro. Ou também a pele pode se apresentar translúcida, mos- queada ou esbranquiçada, com aspecto de cera. O curioso é que a superfície é indolor. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 105Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP – RIBEIRÃO PRETO Considerando pacientes vítimas de queima- dura pode-se afirmar que: a) As queimaduras na região dorsal costumam apresentar pior prognóstico. b) Queimaduras químicas devem ser tratadas inicialmente com neutralização. c) Antibioticoterapia endovenosa deve ser ins- tituída já na sala de atendimento inicial para todos os tipos de queimadura. d) A reepitelização dependerá da manutenção de glândulas sebáceas e sudoríparas, bem como dos folículos pilosos. Pacientes vítimas de queimaduras depen- dem dos anexos epiteliais para a reepiteliza- ção. Queimaduras de segundo grau preser- vam os anexos cutâneos, promovendo, assim, uma reepitelização eficaz. As de terceiro grau, por sua vez, exigem reepitelização por tecidos vizinhos ou por enxertos. Veremos a seguir que as queimaduras químicas não devem ser neutralizadas sob risco de piorar as lesões e o tratamento deverá ser feito com lavagem abundante em água corrente. Além dis- so, veremos que não está indicada a profilaxia antibiótica nas queimaduras! Opção “D” correta. Zona de Necrose É a zona mais afetada da queimadura, geral- mente o centro. Como o nome indica, trata-se de uma área que sofreu necrose de coagula- ção e necessitará ser removida da ferida no tratamento. Zona de Estase É a zona ao redor da zona de necrose. Consiste em uma região onde há intensa Fique Atento: Quando você atender um queimado na vida real, raramente existirá uma lesão puramente de 2º ou 3º graus. A fonte da lesão (seja fogo, eletricidade ou agente quími- co) afetará com intensidade diferente a pele, dependendo da distância e tempo de duração do insulto. Três zonas foram classicamente descritas por Jackson: vasoconstrição, resultando em isquemia lo- cal. Uma ressuscitação volêmica adequada ajuda a reperfundi-la, enquanto infecções e reposição volêmica inadequada implicam em necrose da mesma. Repare que o con- ceito é muito semelhante ao das áreas de penumbra no infarto agudo do miocárdio e no acidente vascular encefálico. Ou seja, o tecido na zona de estase pode ou não ser salvo, isso vai depender da abordagem cor- reta a esta lesão. Zona de Hiperemia Zona de vasodilatação e inflamação que en- volve a queimadura. Essa região não sofre o risco de necrose e é dela que se inicia o processo de regeneração. Na realidade ela corresponde a um “halo” de queimadura de 1º grau no entorno de queimaduras mais graves. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 106Medgrupo - CiClo 2: M.E.D AVALIAÇÃO DA ÁREA DE sUPERFÍCIE qUEIMADA Geralmente se utiliza a “regra dos nove” ou regra de Wallace para os adultos por meio da qual o corpo do paciente é dividido em regiões anatômicas que representam 9% ou múltiplos de 9% da superfície corporal quei- mada ou SCQ. Cada membro superior equi- vale a 9%, cada membro inferior a 18%, as faces anterior e posterior do tronco perfazem cada uma 18%, a cabeça e o pescoço 9% e finalmente a genitália e o períneo, juntos correspondem a 1%. Uma outra forma de es- timar área queimada é lembrando que a mão aberta com os dedos estendidos equivale a aproximadamente 1% da SCQ (esta regra da palma da mão é mais utilizada naquelas queimaduras menores). Não deixe de memorizar o diagrama “Método de Wallace (Regra dos Nove)”! (FIgURA 6). As queimaduras de primeiro grau não entram no cálculo da SCQ. Agora treine com estas questões: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP Homem de 55 anos de idade, pesando 70 kg, deu entrada no pronto-socorro trazido pelo resgate com história de queimadura por la- baredas de fogo decorrentes de combustão por gasolina. Estava consciente, orientado, contactuando e referindo dor intensa nos lo- cais das queimaduras. Ao exame físico apre- sentava sinais de queimadura em todo o membro superior esquerdo e todo o membro inferior esquerdo, predominantemente de segundo grau com áreas de terceiro grau. Com relação a este caso responda: Qual a porcentagem estimada de superfície corporal queimada? Veja que a questão pode ser tanto disser- tativa quanto objetiva que é sempre a mesma coisa!!! É obrigatório saber a “regra dos 9” para as provas de residência... GABARITO UNI- FESP: -27% RESIDÊNCIA MÉDICA – 2004 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ Paciente de 25 anos, com cerca de 80 kg, foi retirado de um foco de incêndio em ambiente fe- chado, com queimaduras de segundo e terceiro graus em toda a superfície dos membros su- periores e faces anteriores do tronco, pescoço e cabeça. Apresentava-se lúcido, taquipneico, disfônico, referindo sede intensa. Tinha sobran- celhas e pelos nasais chamuscados. O pulso pedioso estava diminuído, com frequência de 124 batimentos por minuto. Em relação à área corporal total deste paciente, a superfície quei- mada, pela regra dos nove, é de: a) 35%. c) 45%. b) 40%. d) 50%. Vamos aos cálculos através da “regra dos nove”? Toda a superfície dos membros su- periores (direito + esquerdo) = 18% + face anterior do tronco = 18% + face anterior da cabeça e pescoço = 4,5%. Somando estes va- lores encontramos 40,5%, que, aproximando, chegamos à opção B, resposta da questão. Em crianças, também podemos usar a regra dos nove, porém a área corporal é maior nas áreas do pescoço e cabeça e relativamente menor nos membros inferiores, com um per- centual de 21% na cabeça e pescoço e 13% para cada membro inferior. Assim, de uma for- ma mais precisa, usamos a fórmula de Berkow ou o diagrama de Lund & Browder. Veja a tabela 1 – Diagrama de Lund & Browder (fórmula de Berkow adaptada). Agora veja a questão! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ASSOCIAÇÃO MÉDICA PARANAENSE – AMP – CIRURGIA GERAL Dados clínicos como a situação que envolveu o paciente no acidente de queimadura, horário do acontecido, agente causador da queimadura, peso, antecedentes mórbidos pessoais, vacina- ção e exame físico detalhado são de fundamen- tal importância na avaliação inicial da criança queimada. A MAIS correta determinação da su- perfície corporal queimada é obtida através de: a) Observação visual. b) Diagrama de Lund & Browder.c) Regra dos nove. d) Regra da palma da mão. e) Todas estão corretas. O diagrama de Lund & Browder (adaptação da fórmula de Berkow), como vimos acima, é o mais fidedigno para as crianças. Portanto, Opção B correta. Figura 6: Método de Wallace (Regra dos nove). http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 107Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP Um menino de 11 anos apresenta uma quei- madura que envolve todo o seu hemitórax direito (da clavícula até a margem costal e do esterno até linha axilar anterior), e a superfície anterior do seu braço e antebraço direito. Você estima que a superfície envolvida é de: a) 2%. d) 15%. b) 5%. e) 20%. c) 10%. Maldade... Muita atenção! Estamos lidando com um adolescente de 11 anos de idade; por- tanto, a “regra dos nove” não vale neste caso, sendo aplicada apenas em indivíduos a partir dos 15 anos de idade. Em indivíduos dos 10 aos 14 anos, o membro superior vale cerca de 8 a 9%; sendo assim, teríamos 4 a 4,5%, pois somente a região anterior foi envolvida. Nesta faixa etária, a região anterior do tron- co vale 13%. Como o paciente foi acometido apenas na região anterior do tórax, poupando abdômen, o nosso valor é de 6,5. Somando as superfícies das áreas queimadas, o resultado mais próximo se encontra na alternativa (C). Bem, terminados estes cálculos iniciais vem a pergunta: Qual é o tratamento? Os pacientes que têm queimaduras de 1º grau não têm risco de vida e serão tratados com analgesia e hidratantes. Já os pacientes com queimaduras mais pro- fundas serão tratados ambulatorialmente ou em ambiente hospitalar dependendo da SCQ. Como abordar um paciente queimado? Ora, como qualquer paciente vítima de trauma! Lembre-se do ABCDE ou A: via aérea ou airway. B: ventilação ou breathing. C: circulação. D: disfunção ou disability. E: exposição e environment de controle da hipotermia. CUIDADOs PRÉ-HOsPITALAREs Abordagem Inicial O primeiro passo é afastar o paciente da fon- te de queimadura e interromper o processo. Neste momento, não devemos nos esquecer de avaliar a segurança da cena, cuidando para que o socorrista não se torne mais uma vítima. A lesão térmica de via aérea deve ser sempre suspeitada e o paciente receberá oxigênio a 100% por máscara. Toda a roupa e a joalheria (anéis, pulseiras, relógios) do paciente devem ser retiradas para interromper o processo e evitar um possível efeito torniquete. A superfície queimada deve ser lavada com água corrente em temperatura ambiente somente até 15 mi- nutos após a queimadura para interromper o processo de lesão térmica. Depois deste tempo, os cuidados devem ser direcionados para a prevenção da hipotermia, com a colocação de tecido limpo e seco sobre a área, por exemplo. 1) ViAs AéreAs e VentilAção Embora a laringe promova uma verdadeira bar- reira protetora contra a lesão térmica direta da região subglótica, pode haver obstrução desta área como resultado da exposição ao calor. A exposição à fumaça e vapores gera no primeiro momento a lesão térmica das vias aéreas supe- Tabela 1- Área corporal por idade (em anos). Cabeça Pescoço Tronco A. Tronco P. Braço D. Antebraço D. Mão D. Braço E. Antebraço E. Mão E. genitália Nádega D. Nádega E. Coxa D. Perna D. Pé D. Coxa E. Perna E. Pé E. 19,0 % 2,0 % 13,0 % 13,0 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 1,0 % 2,5 % 2,5 % 5,5 % 5,0 % 3,5 % 5,5 % 5,0 % 3,5 % 17,0 % 2,0 % 13,0 % 13,0 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 1,0 % 2,5 % 2,5 % 6,5 % 5,0 % 3,5 % 6,5 % 5,0 % 3,5 % 13,0 % 2,0 % 13,0 % 13,0 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 1,0 % 2,5% 2,5 % 8.0 % 5,5 % 3,5 % 8,0 % 5,5 % 3,5 % 11,0 % 2,0 % 13,0 % 13,0 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 1,0 % 2,5 % 2,5 % 8,5 % 6,0 % 3,5 % 8,5 % 6,0 % 3,5 % 7,0 % 2,0 % 13,0 % 13,0 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 4,0 % 3,0 % 2,5 % 1,0 % 2,5 % 2,5 % 9,5 % 7,0 % 3,5 % 9,5 % 7,0 % 3,5 % Área 0 a 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14 Adulto http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 108Medgrupo - CiClo 2: M.E.D riores. O calor propagado pelas mucosas res- piratórias promove intensa inflamação, ulcera- ções e edema, que rapidamente podem evoluir para distorção da anatomia local e obstrução à passagem de ar. Qualquer paciente exposto à fumaça ou vapor que apresente rouquidão, broncoespasmo, taquipneia, escarro com res- quícios de carbono, queimaduras de face e chamuscado nos pelos nasais são potenciais portadores de lesão por inalação. Todos devem receber máscara com alto fluxo de oxigênio. A intubação, nesse momento, deverá ser realiza- da diante de qualquer um dos fatores a seguir: • Presença de estridor respiratório. • Rouquidão progressiva. • Uso de musculatura acessória durante res- piração. • Queimaduras profundas em face ou pescoço. • Formação de bolhas ou edema importante de orofaringe. • Insuficiência Respiratória Aguda. • Coma. • Hipoxemia ou Hipercarbia. Repare ainda que após a dissipação do calor nas cavidades oral e nasal, faringe e laringe o ar desce resfriado aos brônquios e pulmões. Dessa forma, a lesão das vias aéreas inferio- res é devido à natureza química da fumaça. Não devemos confundir os critérios de intubação do atendimento inicial do queimado com os critérios de intubação da lesão química por fumaça. Apesar de coexistirem muitas vezes, o diagnóstico delas geralmente é feito em momentos distintos! Mais detalhes sobre a le- são por inalação serão abordados em um tópico separado. O tórax do paciente também deverá ser exposto. Apenas a avaliação da patência das vias aéreas não significa que esteja ocorrendo uma venti- lação adequada. Deve ser realizada ausculta pulmonar bilateral. Caso já tenha sido realizada intubação endotraqueal e ventilação mecânica, a saída de CO2 pode ser monitorada no capnó- grafo para avaliar se a ventilação está adequada. Ambos os pulmões devem ser auscultados... Sempre considere a possível ocor- rência de exposição ao monóxido de carbono (CO) em doentes quei- mados em ambientes fechados. O diagnóstico da intoxicação deve ser feito através de uma história de exposição e da medida direta da carboxiemoglobina (HbCO). Níveis elevados de HbCO podem acar- retar em sintomas como cefaleia e náuseas, confusão, coma e em níveis maiores que 60%, ao óbito. Logo, os doentes com suspeita de exposição ao CO devem receber, desde o início, O2 em alto fluxo. Veja estas questões! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA Um homem jovem, após acidente automobi- lístico, foi retirado do carro em chamas. Ele apresenta queimadura de terceiro grau em toda a face, região anterior do tórax e abdô- men. A primeira medida a ser tomada pelo profissional de saúde que o atende deve ser: a) Lavar a face. b) Aplicar dolantina. c) Perguntar o nome. d) Promover hidratação. Perguntar o nome é um excelente método para avaliação das vias aéreas, que deve ser a sua primeira preocupação (ABCDE). Opção “C” correta. A hidratação e a analgesia são fundamentais, porém são avaliadas e tratadas no seu determinado momento. 2) circulAção Segundo o ATLS, os pacientes com queima- duras de 2º ou 3º graus com mais de 20% de SCQ necessitam de acesso venoso e reposi- ção volêmica. A reposição volêmica adequada deve ser feita por punção periférica mesmo sobre a pele queimada. O problema é que fre- quentemente queimaduras de espessura total cursam com veias superficiais trombosadas. Nos casos em que não se consegue um aces- so venoso periférico, o Sabiston recomenda dissecção da veia safena. Da mesma forma que nos politraumatizados, em menores de 6 anos pode ser utilizada a via de reposição intraóssea. O líquido a ser reposto é o Rin- ger Lactato (sem dextrose para adultos, com dextrose a 5% para menores de 2 anos). Ini- cialmente o paciente fora do hospital terá sua reposição calculada da seguinte forma: SCQ multiplicada pelo peso em quilogramas do pa- ciente e dividido por 8. Por exemplo, a taxa de infusão inicial (pré-hospitalar)de um paciente de 70 kg com uma SCQ de 20%, seria: 70 kg x 20% SCQ/8 = 175 ml/h. Quando o paciente chega ao hospital, fórmulas mais precisas serão utilizadas. Não erre! Veja! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SANTA CATARINA – SES – SC Para a ressuscitação hídrica do paciente quei- mado, a solução de Ringer lactato sem dextro- se é o fluido de escolha, exceto em crianças com menos de 2 anos. A taxa de infusão inicial para um homem de 80 kg, com uma queima- dura de 40% da superfície corporal total é: a) 400 ml/hora. d) 700 ml/hora. b) 500 ml/hora. e) 800 ml/hora. c) 600 ml/hora. A fórmula Peso x SCQ/8, por hora é utilizada no atendimento inicial do queimado. Fazendo os cálculos... Opção “A” correta. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 109Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Como avaliar a eficácia da reposição volê- mica? A aferição da PA em pacientes queimados pode ser difícil, e a grande maioria apresenta taquicardia, mesmo após reposição volêmi- ca. Inicialmente o status hemodinâmico pode ser avaliado através dos pulsos periféricos. A presença de pulso distal já é suficiente na avaliação até que medidas de PA ou diurese sejam possíveis. Portanto, a melhor maneira de avaliar a eficácia da reposição é através do débito urinário. Em adultos a diurese horária deve ser de 0,5 ml/kg/h e em crianças de 30 kg ou menos 1,0 ml/kg/h. Em paciente com queimaduras elétricas, em que á suspeita de rabdomiólise, a reposição deve ser capaz de manter uma diurese, em adultos, igual a 100 ml por hora ou 2 ml/kg/h, além de ser válido também infusão venosa de bicar- bonato e manitol (25 g 6/6h) com a finalidade de prevenir a lesão renal por mioglobina. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP Homem de 25 anos, vítima de acidente por explosão de combustível, apresenta 30% da superfície corporal com queimaduras de segundo grau e 15%, de terceiro grau. Não há comprometimento de vias aéreas e na ventilação. Foram puncionadas duas veias periféricas fora da área queimada e infundidos 1.000 ml de ringer lactato. Exame físico: peso estimado em 85 Kg, PA = 120 x 80 mmHg; FC = 120 bpm. Após passagem de cateter vesical, não houve diurese nos últimos 50 minutos. O procedimento correto deve ser: a) Administrar 5.100 ml de ringer lactato nas próximas 8 horas. b) Administrar soro fisiológico com manitol, devido a mioglobinúria, comum nesse tipo de queimaduras. c) Aumentar o volume e a velocidade de infu- são de líquidos. d) Administrar hidratação vigorosa e internação na enfermaria, devido ao paciente ser jovem e não apresentar queimaduras em vias aéreas. Apesar da existência de inúmeras fórmu- las para a hidratação no paciente queimado, sabemos que elas servem somente como um pontapé inicial e que a reposição é avaliada de fato através da diurese. No adulto, buscamos uma diurese de 0,5 ml/kg/h, ou seja, provavel- mente a reposição volêmica está inadequada. Gabarito C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 1999 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI- DADE DE SÃO PAULO – FMUSP Qual o melhor parâmetro para avaliação da eficiência da reposição volêmica na fase agu- da da queimadura? a) Pressão venosa central (PVC). b) Frequência cardíaca. c) Débito urinário. d) Pressão arterial. e) Nível de consciência. Acabamos de ver! Opção “C” correta. Vamos ver mais algumas questões! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMRP-USP Paciente, com 42% de superfície corporal quei- mada por chama direta em ambiente aberto, encontra-se agitado na sala de Emergência. As prioridades de conduta são: a) Analgesia endovenosa, hidratação venosa segundo a fórmula de Parkland, sonda vesical, exames laboratoriais para avaliar gasometria. b) Analgesia intramuscular, hidratação veno- sa com soro fisiológico guiada pela FC e PA, sonda vesical, exame laboratorial para avaliar eletrólitos. c) Hidratação venosa orientada pela diurese diária, entubação traqueal, sondagem vesical, exame laboratorial para avaliar gasometria. d) Hidratação oral, exame laboratorial para avaliar eletrólitos, sonda vesical, entubação traqueal. Atenção! Este paciente já se encontra na sala de Emergência e, portanto, em teoria, já deve ter recebido atendimento inicial, com controle da via aérea e alívio temporário da dor pela irrigação da pele com soro (água) gelado no local do acidente. Um acesso venoso já deveria ter sido puncionado (veia periférica de grosso calibre) no local do acidente para reposição vo- lêmica rápida com cristaloides (Ringer Lactato conforme a fórmula: peso x SCQ/8, por hora). Bem, quando recebemos o doente na sala de Emergência, o que devemos fazer? O próximo passo seria puncionar um acesso venoso (veia periférica de grosso calibre), administrarmos analgesia (o que pode melhorar a agitação) e iniciarmos reposição volêmica com cristaloides seguindo qualquer uma das fórmulas desen- volvidas para este fim (Parkland, Brooke, etc). Além disso, este paciente deve ter um cateter vesical instalado (para aferição da diurese), se possível. Por fim, mesmo em se tratando de uma queimadura em ambiente aberto, nunca devemos dispensar a avaliação gasométrica no intuito de surpreendermos uma eventual lesão por inalação de fumaça. Opção A correta. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP Em criança com queimadura de segundo grau, iniciando quadro de edema importante da face e da região cervical, devemos proceder a: a) Entubação oro ou nasotraqueal. b) Traqueostomia imediata. c) Escarotomia cervicofacial. d) Usar diuréticos para diminuir o edema. e) Usar albumina para diminuir o edema. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 8 110Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Em qualquer paciente com lesão facial ou cervical, seja ele vítima de queimadura ou trauma, a primeira conduta a ser adotada deve visar à permeabilidade da via aérea. No entanto, diversas são as formas de ma- nutenção de via aérea pérvia, tais como entubação oro ou nasotraqueal, traqueos- tomia, cricotireoidostomia (cirúrgica ou por punção), etc. Sendo assim, qual dessas medidas adotar neste caso? Como opção, temos apenas as modalidades de entubação endotraqueal (orotraqueal/nasotraqueal) e traqueostomia – alternativas A e B. Avalie a circunstância do enunciado e responda: Será que é realmente necessário submeter este paciente a traqueostomia, um procedi- mento tão invasivo? Obviamente não! Como o quadro de edema ainda está se iniciando, a conduta correta seria obter o acesso à via aérea por meio de entubação orotraqueal ou nasotraqueal. Opção A correta. Realizados estes passos, devemos levar o paciente ao hospital. mas, qual? Aquele que é especializado em queimaduras ou qualquer outro? Alguns pacientes merecem atendimento em unidades especializadas em queimaduras. Segundo a última edição do ATLS, os critérios para transferência são: a) Queimaduras de espessura parcial com SCQ > 10%. b) Queimaduras envolvendo face, mãos, pés, genitália e períneo, ou aquelas que com- prometam a pele localizada sobre princi- pais articulações. c) Queimaduras de terceiro grau em qualquer paciente. d) Queimaduras elétricas, incluindo raios. e) Queimaduras químicas. f) Lesões por inalação. g) Queimaduras em pacientes com comorbi- dades que podem se agravar em decorrên- cia do trauma. h) Qualquer paciente com queimaduras e traumas concomitantes, como fraturas, nos quais a queimadura represente o maior ris- co de morbidade e mortalidade. Quando o trauma é mais importante, o paciente deve ser estabilizado antes da transferência para um centro especializado em queimaduras. i) Crianças queimadas em hospitais sem pessoal qualificado ou equipamentos ina- dequados. j) Lesões de queimaduras em pacientes que necessitarão intervenção especial: social, emocional ou de reabilitação. Veja como estas informações aparecem nas provas! RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO