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professor, geralmente emergem quando o estudante pas- sa a ser o centro do processo de ensino-aprendizagem. Dentre os vários aspectos geradores de conflitos, desta- ca-se o choque entre a cultura cotidiana dos estudantes e a cultura científica, pois eles entram em contato com um conjunto de conhecimentos, atitudes, procedimen- tos e formas de raciocínio que, muitas vezes, lhes são completamente estranhos. Quando se fala sobre a implementação de propostas centradas no estudante, tende-se a idealizar o espaço escolar como harmônico e consensual. As várias metá- foras utilizadas para descrever o papel do professor, co- mo coordenador, guia etc., em geral enfatizam o aspec- to harmonioso da relação professor-estudante. É importante destacarmos que, mesmo em propostas que pressupõem a participação ativa dos estudantes, há con- tradições e resistências. É preciso termos consciência de que isso vai ocorrer para lidarmos com essas situações com tranquilidade. A proposta de trabalho que apresentamos impõe à sala de aula uma dinâmica “alternativa”, o que a diferencia de outras mais tradicionais. A experiência que temos com a utilização do livro em nossas aulas nos mostra que é fundamental que estejamos convencidos de que a abordagem centra- da nos estudantes vai favorecer suas aprendizagens. Nossa opção por essa forma de trabalho e as conse- quências que ela tem para as atividades cotidianas do es- tudante na sala de aula devem ser discutidas explicita- mente com eles. Os estudantes vão trabalhar em grupo em muitas aulas, uma prática que pode ser incomum nas demais disciplinas. O trabalho em grupo é um grande de- safio para estudantes e professores que não estão acostumados a essa dinâmica. É importante expli- citarmos o quanto isso pode contribuir para a for- mação de cada um deles, não só na aquisição de conhecimentos, mas no desenvolvimento de ha- bilidades para o trabalho em equipe. Se você tiver acesso a um serviço de psicologia em sua escola pode, por exemplo, propor um trabalho orientado que envolva dinâmicas de grupo e a discussão sobre como funciona esse tipo de trabalho. De qualquer for- ma, o principal é que você dedique tempo para discutir essa dimensão do trabalho em sala de aula. É importante explicitar para os estudantes as con- cepções de ensino que vão fundamentar suas ações. Isso significa principalmente explicar a eles a impor- tância de se engajarem nas atividades. É essencial reforçar várias vezes esse ponto. Explique, sempre que necessário, que é importante fazer, e não copiar do co- lega. Que é importante ler os textos atentamente, pro- curando entender o que está escrito. Rapidamente, os estudantes vão perceber que, ao final de cada atividade, há um texto de fechamento, no qual todos os aspectos são retomados e discutidos, o que não é comum na cul- tura escolar que predomina hoje em nosso país, em que os estudantes devem ler os textos e depois responder a questionários, e não elaborar suas próprias respostas a partir de atividades e questionamentos, tendo o texto como apoio para a articulação final das ideias. Deixe cla- ro que você sabe que os textos têm as respostas, mas que é fundamental para o processo de aprendizagem que eles exercitem suas formas de pensar, que elaborem suas próprias hipóteses. Uma forma de resistência muito comum, principal- mente nas turmas de primeiro ano, é a pouca disponibi- lidade para participar da discussão com toda a turma quando são solicitados a expor suas opiniões aos colegas. É importante que você encoraje os estudantes a se ma- nifestarem e a ouvirem com atenção e respeito. Coloque- -se no lugar deles e tente compreender como estão pen- sando. Assim, você poderá auxiliá-los a superar tanto a falta de confiança em falar quanto algum problema com a compreensão de ideias. F e rn a n d o F a v o re tt o /C ri a r Im a g e m No trabalho em grupo, os estudantes aprendem a cooperar, ter responsabilidade, planejar e dividir tarefas, entre outras habilidades. ORIENTAÇÕES GERAIS | 197 160_202_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_Parte_Comum_MP.indd 197160_202_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_Parte_Comum_MP.indd 197 28/09/2020 21:1228/09/2020 21:12 � A avaliação A avaliação é um aspecto importante do processo de aprender. Em geral, todas as atividades realizadas sobre determinado conteúdo ensinado devem ser avaliadas. Is- so promove uma diversificação das formas de avaliação e mostra aos estudantes que o conjunto das atividades que realizam, e não apenas as provas, é valorizado. Permi- te também que a avaliação seja considerada na sua di- mensão formativa, e não apenas somativa. Em outras pa- lavras, a avaliação pode e deve constituir uma prática constante de regulação das aprendizagens alcançadas. Para que essa dimensão seja alcançada, é importante fornecer informações constantes aos estudantes sobre seus progressos em cada atividade realizada. Isso pode ser feito por meio da correção de relatórios, de textos, de exercícios e de comentários sobre as apresentações e pro- jetos realizados. É importante também envolver os estudantes nesse processo, promovendo constantemente, entre eles, uma reflexão sobre sua própria aprendizagem. Nosso livro muitas vezes facilita esse processo ao comparar formas de pensar que os estudantes já utilizavam como parte de seu conhecimento cotidiano com as formas de pensar científicas que serão ensinadas. No entanto, sabemos que o professor precisa avaliar os estudantes também por meio de notas – a avaliação somativa. Em todas as atividades propostas nesta obra trazemos questões que podem ser usadas como instru- mento de avaliação ou como base para sua elaboração. A ideia central é avaliar o progresso dos estudantes em termos do nível de elaboração dos conceitos, das atitu- des, das formas de pensar. Em todas as atividades propos- tas é interessante que você, professor, estimule os estu- dantes a expressar o que pensam e que aproveite esses momentos para avaliar os progressos que fizeram. Consideramos fundamental que as formas de avaliar se- jam variadas. A avaliação individual do conhecimento é im- portante. É um momento de reflexão para os estudantes e para o professor, mas não pode ser a única forma de avaliação. Testes em grupo, atividades experimentais, elaboração de textos, apresentação de trabalhos, apresentação de relatórios de projetos, relatórios de experimentos, relatórios de visitas, elaboração de exposições são formas que podem ser utiliza- das. Este livro propõe todos esses tipos de atividade e é fun- damental que todas sejam igualmente avaliadas; do contrário, os estudantes podem sentir-se desestimulados a realizá-las. Avaliações em larga escala Além das avaliações realizadas e planejadas pelo cor- po docente e pela escola, é preciso considerar as avalia- ções em larga escala, pois algumas delas envolvem dire- tamente os estudantes de Ensino Médio. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei- xeira (Inep) é o órgão do governo responsável pelas ava- liações e exames, pelas estatísticas e indicadores e pela gestão dos conhecimentos e estudos educacionais. Ava- liações de larga escala são fundamentais para fornecer dados gerais sobre o sistema educativo que serão impor- tantes balizadoras para o estabelecimento de novas es- tratégias e políticas públicas. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é formado por um conjunto de avaliações, realizadas periodicamente por meio da apli- cação de testes cognitivos e questionários para etapas específicas da Educação Básica. Os resultados do Saeb são utilizados para compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador que tem sido utili- zado para estabelecimento de metas de qualidade edu- cacional para os sistemas. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), embora seja um exame que visa à certifi- cação de competências, atualmente utilizado para fins classificatórios de ingresso em universidades, é também um reflexo da EducaçãoBásica brasileira. A média de ins- crições no Enem dos últimos dez anos foi de 7,1 milhões de estudantes, no entanto, o número absoluto de inscri- tos tem caído nos últimos cinco anos. O Programa Internacional de Avaliação de Estudan- tes (Pisa) é um estudo comparativo internacional, reali- zado a cada três anos pela Organização para a Coopera- ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Pisa oferece informações sobre o desempenho dos estudan- tes na faixa etária dos 15 anos. Avalia três domínios – lei- tura, matemática e ciências. Espera-se dos estudantes que interpretem textos, resolvam problemas matemáti- cos ou expliquem fenômenos cientificamente, fazendo uso de seus conhecimentos e capacidade de raciocínio. Todas essas avaliações de larga escala geram dados e re- latórios de domínio público. É importante que você, pro- fessor, atente para essas informações geradas, sejam de escala regional, nacional, sejam de escala internacional, procurando sempre refletir de que maneira os resultados podem ser elementos propulsores de mudanças em prá- ticas educacionais e também de pressão por mudanças em políticas públicas. 198 160_202_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_Parte_Comum_MP.indd 198160_202_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_Parte_Comum_MP.indd 198 28/09/2020 21:1228/09/2020 21:12