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77 Quadro XVII.1. Lipidios óleos e gorduras - triacilglideróis ceras - ácidos graxos e alcoóis de alta massa molar simples complexos precursores e derivados fosfoglicerideos (álcool é o glicerol) fosfoesfingosideos (álcool é a esfingosina) fosfolipidios glicolipidios sulfolipidios aminolipidios lipoproteinas lipidios Triacilgliceróis Também conhecidos como triglicerídeos, são ésteres de ácidos graxos de cadeia longa com glicerina (um triol). Sua diversidade é muito grande, uma vez que sua estrutura pode conter um ou mais tipos de ácido graxo conforme as Tabelas XII.1, 2 e 6. Sua estrutura pode ser vista na Figura XVII.2 onde o grupamento R pode ser qualquer cadeia hidrocarbônica encontrada nas tabelas citadas. Figura XVII.2. Estrutura de um triglicerídeo residuo de glicerina H2C HC H2C O O O C C C R1 R2 R3 O O O residuo de ácido graxo Os triglicerídeos tem principalmente a função de reserva alimentar nos organismos vivos. Esses compostos podem ser hidrolisados liberando ácidos graxos e glicerol. Se essa reação for conduzida em meio alcalino, formam-se sais de ácidos graxos, também conhecidos como sabões. Os primeiros sabões foram obtidos a partir de gordura animal aquecida em presença de uma lixívia de soda ou potassa, que era produzida a partir de cinzas de madeira queimada, a qual era adicionada a água, fervida e depois filtrada, gerando uma solução alcalina. A reação global é exemplificada no esquema a seguir. RCOO CH2 CH CH2RCOO RCOO + NaOH ∆ RCOONa + CH2 CH CH2 OH OH OH gordura soda sabão glicerina O efeito observado nos sabões quando da lavagem de roupas ou no banho é a formação de emulsões. O sal de ácido graxo, possuindo uma cadeia de baixa constante dielétrica (hidrocarboneto) e uma extremidade de alta constante dielétrica (carboxila salinizada), apresenta a capacidade de interagir com óleos e outras substâncias apolares pela sua parte hidrofóbica (hidrocarboneto) e também de interagir com a água pela sua contraparte hidrofílica (extremidade salina), formando o que se chama de micela anfipática (Figura XVII.3a), onde as cadeias hidrocarbônicas se aglutinam junto com os óleos e a sujeira no centro de uma esfera cuja superfície possui grande quantidade de grupamentos hidrofílicos, que interagem com a água do meio. A estrutura tem muita semelhança com o que se observa na constituição de uma membrana celular ou plasmática (Figura XVII.3b). 78 Figura XVII.3a. Micela anfipática e 3b. Esquema geral de uma membrana celular a b Os sabões, também chamados de agentes tensoativos, interagem com a água diminuindo sua tensão superficial, permitindo que haja uma maior interação da água com materiais de baixa constante dielétrica. Na ausência do agente tensoativo, uma gota de água sobre uma superfície apolar, exibe um perfil de baixa molhabilidade, ou seja, não há um contato amplo entre a água e a superfície, como no caso de uma gota de água sobre uma folha vegetal (Fig. XVII.4a). No caso, o ângulo de contato entre as substâncias é maior que 90o. Contrariamente, o contato entre materiais com constante dielétrica semelhante permite uma maior interação entre eles, possibilitando uma maior molhabilidade, como no caso entre o vidro e a água (Fig. XVII.4b), onde o ângulo de contato é menor que 90o. A adição de pequenas quantidades de sabão à água permite que haja uma maior molhabilidade da água sobre folhas vegetais, o que se conhece como dispersante foliar. Figura XVII.4. ângulos de contato entre materiais de constante dielétrica diferente (a) e semelhante (b) Os triglicerídeos de origem animal possuem, em sua estrutura, uma grande porcentagem de ácidos graxos saturados, o que lhes confere uma consistência mais rígida, ou seja, um maior ponto de fusão, comparados às gorduras vegetais, que possuem alta porcentagem de ácidos graxos insaturados e, consequentemente, pontos de fusão mais baixos. As gorduras vegetais são comumente chamadas de óleos e as insaturações em sua estrutura são sempre em configuração cis (ou Z), pois nessa configuração, o composto possui baixa tendência a cristalizar-se, contrariamente aos compostos lineares com configuração trans, que possuem cadeia mais estendida, com maior possibilidade de cristalização. A presença de configuração trans em produtos comerciais advém do processo de síntese do produto, que envolve uma reação de hidrogenação em óleos vegetais para torná-los mais consistentes. Durante a reação, que possui reversibilidade, algumas ligações duplas atacadas revertem ao seu estado inicial, porém com 50 % de probabilidade de configuração cis e o mesmo para a trans, como no esquema abaixo, o que resulta em um produto contendo algumas insaturações indesejadas. H2 cat. H H COOR COOR COOR COOR COOR óleo insaturado óleo saturado cis trans As gorduras parcialmente hidrogenadas contendo isômeros trans aumentam a taxa de lipoproteínas (LP) de baixa densidade (LDL) e diminuem a de alta densidade (HDL). O LDL auxilia a formação de depósitos de colesterol nas paredes arteriais. As gorduras saturadas aumentam os níveis de LDL.