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FIBROSE CÍSTICA DEFINIÇÃO Doença multissistêmica autossômica recessiva Mutações no gene CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator) alterações no transporte transmembrana epitelial de Cl-, Na+ e água • glândulas exócrinas (sudoríparas, salivares, pâncreas), trato respiratório, GI e reprodutivo. CFTR NORMAL CFTR ANORMAL Fibrose Cística – O que acontece? Transporte de íons Cl e Na nos tecidos epiteliais está defeituoso Menor permeabilidade de Cl Maior reabsorção de Na e água para manter o equilíbrio Cl/Na dentro da célula Alterações nas propriedades físico-químicas do muco Mais espesso e viscoso, obstruindo ductos de vários órgãos (Tubulopatia obstrutiva) – Pâncreas, fígado, pulmões, • União Européia e Oceania: 1:2.000-3.000 • EUA: 1:3.500 • África: dados não são precisos • Oriente médio: 1:2.560-15.876 • Ásia: raro • América Latina: 1:3.900-8.500 • Brasil: 1:7.358 Epidemiologia Firmida, MD, Lopes, AJ, 2011 EPIDEMIOLOGIA Registro Brasileiro De Fibrose Cística (REBRAFC/2019) http://portalgbefc.org.br/site/ Registro Brasileiro De Fibrose Cística (REBRAFC/2019) Sobrevida • Idade mediana predita de sobrevida CFF Registry, 2009. A média de expectativa de vida passou de poucos anos, quando a doença foi inicialmente descrita em 1938, a mais de 45 anos recentemente. Muitos são os fatores que contribuíram para melhores resultados, incluindo inovações terapêuticas, identificação e tratamento das infecções de forma precoce, tratamento multidisciplinar em centros especializados e a instituição da triagem neonatal para esta condição. Departamentos Científicos de Suporte Nutricional e Pneumologia (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria FISIOPATOLOGIA o Ductos das glândulas sudoríparas: decréscimo na reabsorção de Cl e, conseqüentemente, de Na do lúmen, levando a suor com elevadas concentrações de NaCl. o Ductos pancreáticos: os canais CFTR de Cl são importantes na hidratação e alcalinização da secreção exócrina pancreática. A perda dessa função leva ao acúmulo de muco e obstrução dos ductos pancreáticos menores, com dilatação e atrofia das glândulas exócrinas e fibrose pancreática progressiva, culminando também em insuficiência pancreática endócrina mais tardiamente (diabete insulino-dependente). PÂNCREAS • ENDÓCRINO • Produz hormônios: insulina, glucagon e somatostatina • EXÓCRINO • Enzimas digestivas: CHO, PTN e LIP • Bicarbonato de sódio: neutraliza o ácido procedente do estômago, protegendo o duodeno FISIOPATOLOGIA o Ductos biliares e Fígado: o desbalanço de sais e água, semelhantemente ao pâncreas, leva a obstrução dos pequenos ductos biliares, podendo causar cirrose hepática. o Trato genital masculino: a obstrução dos pequenos ductos leva a atrofia, fibrose ou ausência dos vasos deferentes, cauda e corpo do epidídimo, e vesículas seminais. o Trato GI: Semelhantemente aos outros sistemas, a atividade anormal ou ausente do CFTR leva a secreção de água diminuída no íleo terminal, com conseqüente bolo fecal espesso e endurecido, podendo levar a obstrução intestinal (íleo meconial no RN). FISIOPATOLOGIA PULMÕES Secreções espessas Obstruções nos brônquios e bronquíolos Infecção crônica progressiva de vias aéreas Lesões pulmonares e bronquiectasias Hipoxemia Cor pulmonalle (repercussão cardíaca) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Multiplicidade de manifestações • Estrutura da CFTR (canal de cloro) que pode estar ausente, deficiente ou em menor quantidade nas células de vários órgãos • Trato respiratório: ocorre em 95% dos casos • Intensidade do acometimento determina o prognóstico final RESPIRATÓRIAS • Tosse crônica persistente • Sibilância ou roncos (por obstrução brônquica) • Pneumonias de repetição • Sinusite • Bronquectasia • Pneumotórax • Fibrose pulmonar A doença pulmonar é crônica com períodos de reacutizações ou exacerbações. APARELHO DIGESTIVO • Insuficiência exócrina do pâncreas: • Diarréia crônica • Diagnóstico difícil em lactentes, nº de evacuações variável • Fezes volumosas, de cor amarelo-palha, brilhantes, gordurosas e fétidas • Restos alimentares • Desnutrição = má-absorção + infecção respiratória • Íleo Meconial • Apresentação mais precoce da FC • Diagnóstico durante gestação por Ultra-sonografia • RN tem dificuldade de eliminar o mecônio, com sinais de obstrução intestinal e vômitos biliares ou fecalóides • 15-20% dos pacientes com IM têm FC CRESCIMENTO DEFICIENTE • Desnutrição protéico-energética • A forma edematosa com anemia e hipoalbuminemia é a manifestação mais grave de desnutrição em lactentes. • Má-absorção intestinal • Multifatorial • Deficiência de enzimas pancreáticas é a causa principal • Baixa concentração de bicarbonato de sódio no suco pancreático = pH duodenal baixo = má absorção • Lactente com ingestão adequada e ganho ponderal insuficiente OUTRAS MANIFESTAÇÕES • Dedos hipocráticos = Osteoartropatia de Pierre-Marrie • Resulta da anoxia dos tecidos moles que levam à proliferação da camada muscular dos dedos • Esterilidade • RGE • Medicações que ↓ tônus EEI, tosse persistente, esforço respiratório e uso da musculatura acessória, fisioterapia respiratória, esvaziamento gástrico lento (dieta hiperlipídica) • Suor salgado • Cirrose, pancreatite crônica • Doença celíaca e Crohn (raras e tardias) • Obstrução Intestinal • Acompanhada de cólicas e constipação intestinal = Equivalente do íelo meconial em crianças maiores de 4 anos e adultos jovens MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Registro Brasileiro De Fibrose Cística (REBRAFC/2019) Teste de Eletrólitos no Suor Diagnóstico Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 Etapa 1: Triagem neonatal para quantificação dos níveis de tripsinogênio imunorreativo em duas dosagens, sendo a segunda feita em até 30 dias de vida. Etapa 2: Frente a duas dosagens positivas, faz-se o teste do suor para a confirmação ou a exclusão da fibrose cística. Tratamento Multidisciplinar Antibioticoterapia Nutrição Fisioterapia Enzimas A nutrição tem um papel essencial no tratamento da fibrose cística (FC) e pode influenciar na sobrevida e qualidade de vida Quadro policarencial pode manifestar-se: parada do crescimento emagrecimento acentuado deficiências nutricionais específicas puberdade retardada grande comprometimento da função pulmonar ASPECTOS NUTRICIONAIS Milla CE. Nutrition and lung disease in cystic fibrosis. Clin Chest Med. 2007;28:319-30. DESNUTRIÇÃO X FC IP = má digestão e má absorção Anorexia causada por alterações da mucosa, medicações, vômitos, tosse, dietas impalatáveis e frequentes internações ↑ GET = infecções Estresse metabólico relativo aos processos inflamatórios crônicos + + + DESNUTRIÇÃO X FC Departamentos Científicos de Suporte Nutricional e Pneumologia (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria É necessário um acompanhamento periódico com atenção não só na antropometria, mas também na função pulmonar, função gastrointestinal, qualidade e quantidade da alimentação, composição corporal e avaliação bioquímica. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Departamentos Científicos de Suporte Nutricional e Pneumologia (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria • Estudo transversal incluindo pacientes com fibrose cística de um centro pediátrico de referência de São Paulo, em 2014 • 101 pacientes incluídos no estudo CRITÉRIOS QUE INDICAM ESTADO NUTRICIONAL ADEQUADO • Meninos: Est. Pai + (Est. Mãe + 13)/2 (cm) • Meninas: Est. Mãe + (Est. Pai – 13)/2 (cm) Departamentos Científicos de Suporte Nutricional e Pneumologia (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria TERAPIA NUTRICIONAL Hipercalórica 110 - 200 % RDA 200% RDA – Exacerbação da doença TERAPIA NUTRICIONAL ENERGIA da tosse, alteração no aspecto das secreções, febre, alterações na auscultapulmonar, queda do VEF1, queda da saturação, alterações radiológicas e perda ponderal. Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 TERAPIA NUTRICIONAL Sermet-Gaudelus I, Mayell SJ, Southern KW. Guidelines on the early management of infants diagnosed with cystic fibrosis following newborn screening. Journal of Cystic Fibrosis, 2010; 9:323-329. Borowitz D, Robinson KA, Rosenfeld M, Davis SD, Sabadosa KA, Spear SL et al. Cystic fibrosis foundation evidences-based guidelines management of infants with cystic fibrosis. The journal of Pediatrics, 2009; 155: 73-93 MACRONUTRIENTES MACRONUTRIENTE % do VET PTN 15-20% LIP 35-40% HC 50-55% Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 TERAPIA NUTRICIONAL Nutrição clínica pediátrica em algoritmos /Adriana Servilha Gandolfo et al.-1. ed. Barueri [SP]: Manole, 2022. TERAPIA NUTRICIONAL • MICRONUTRIENTES • Vitaminas lipossolúveis = suplementar • Vitaminas hidrossolúveis = bem absorvidas • Minerais: Na, Ca, Fe e Zn = monitorar • Fracionamento? • Tipos de intervenção nutricional • Educação nutricional • Terapia oral = ↑ DC • Nutrição enteral • Nutrição parenteral Clinical Guidelines: care of children with cystic fibrosis 2011; DELGADO e CARDOSO 2010. TERAPIA NUTRICIONAL VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 SÓDIO: A perda de sal pelo suor e a grande superfície corporal trazem risco para desidratação e distúrbios eletrolíticos nos lactentes com fibrose cística, mesmo sem perdas aparentes. - Neonatos e lactentes em uso de leite materno ou de fórmulas infantis devem receber suplementação de cloreto de sódio, na dose de 2,5-3,0 mEq/kg/dia. TERAPIA NUTRICIONAL MINERAIS Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 ✓ Aumento da DC: módulos de nutrientes. ✓ Uso de suplementos orais: indicados para pacientes com perda ponderal ou falha de ganho ponderal durante 2-6 meses de acordo com a faixa etária. ✓ Dieta enteral: Para casos mais graves. Sondas: para uso por curtos períodos de tempo. Gastrostomia: terapia nutricional de longo prazo. ✓ Nutrição parenteral: é medida de exceção, indicada para pacientes cuja via digestiva não pode ser utilizada (no pós-operatório ou na enfermidade crítica) ou em casos de síndrome do intestino curto. TERAPIA NUTRICIONAL Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 Insuficiência Pancreática: REPOSIÇÃO ENZIMÁTICA Esteatorreia Diarreia Crônica Baixo Ganho de Peso Fezes com odor fétido Hipovitaminose Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 Dosagem da elastase fecal, sendo valores menores de 200 µg/g de fezes confirmatórios de insuficiência pancreática - As enzimas devem ser administradas com todos os alimentos. - As cápsulas de enzimas devem ser engolidas inteiras e tomadas no início ou durante as refeições. - Lactentes podem ingerir os grânulos misturados com leite ou papa de frutas. Crianças incapazes de engolir cápsulas: abertas e misturadas com hidróxido de alumínio. Não mastigar ou esmagar. - Se o horário da refeição for longo pode ser benéfico administrar a enzima no início e durante a refeição. REPOSIÇÃO ENZIMÁTICA Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 Consenso de Fibrose Cística, 2004 Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 REPOSIÇÃO ENZIMÁTICA https://www.epocrates.com/pillimages/SVY12050.jpg Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 - 20% dos adolescentes e 40% dos adultos - Todo paciente com fibrose cística acima de 10 anos de idade deve realizar anualmente a triagem para DM, com coleta da glicemia em jejum de 8 h e TOTG de 2h. - O tratamento do diabetes relacionado à fibrose cística é o uso de insulina. DM Relacionado a FC Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 - Calorias e carboidratos não devem ser restringidos. - Optar por carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico, distribuí-los em porções e intervalos menores (2-3 h). DM Relacionado a FC http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.vidyayoga.org/vegetarianismo/receitas/imagens/paointegral.gif&imgrefurl=http://www.vidyayoga.org/vegetarianismo/receitas/&h=218&w=231&sz=19&hl=pt-BR&sig2=lSnhU-dX8rEMIx-lZQHqZw&start=1&tbnid=fftZW9UhcwOBgM:&tbnh=102&tbnw=108&ei=dkFoRe_cHJKwaLqb1PUB&prev=/images%3Fq%3DPAO%2BINTEGRAL%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://epoca.globo.com/edic/306/saude04.jpg&imgrefurl=http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT704310-1880-2,00.html&h=152&w=200&sz=11&hl=pt-BR&sig2=S7jFZrZmDxk4RSdn_Dl2MQ&start=33&tbnid=LTjx2lL0UeHc1M:&tbnh=79&tbnw=104&ei=oUFoRbaQIMbkaIOelPQB&prev=/images%3Fq%3DPAO%2BINTEGRAL%26start%3D20%26ndsp%3D20%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D%26sa%3DN http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.aboi.org.br/cereais.jpg&imgrefurl=http://www.aboi.org.br/alimentacao.html&h=112&w=140&sz=3&hl=pt-BR&sig2=e_Vhwbwpj-yB4y69eIB5zw&start=20&tbnid=IOeYyjqwknET7M:&tbnh=74&tbnw=93&ei=c0JoRam_J8bkaIOelPQB&prev=/images%3Fq%3DCEREAIS%2BINTEGRAIS%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 - A baixa densidade mineral óssea é comum na fibrose cística, podendo ocorrer desde a infância. - Densitometria óssea = Padrão ouro = 8 – 10 anos de idade. - Para a prevenção da perda de massa óssea, recomenda-se manter o estado nutricional adequado, praticar exercícios físicos de baixo impacto e evitar uso de corticosteroide inalatório ou oral. OSTEOPENIA NA FC Diretriz Brasileira para Tratamento da Fibrose Cística, 2017 - Osteopenia: Suplementação de vitamina D, vitamina K e cálcio. - Osteoporose: acrescentar bifosfonatos. OSTEOPENIA NA FC DROGAS MODULADORES DA FUNÇÃO DA PROTEÍNA CFTR • As alterações no gene CFTR podem resultar em maior ou menor expressão da proteína CFTR nas células epiteliais, e em maior ou menor comprometimento de sua função. A expressão clínica do paciente depende, portanto, dessa resultante – quantidade e função da proteína • NOVAS DROGAS que atuam na causa da doença, e não apenas nas consequências • os potenciadores (que aumentam a função da proteína), • os corretores (que interferem no processamento protéico e resultam em aumento da expressão da proteína na superfície apical das células) Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC) Recomendações para uso de drogas moduladores da função da proteína CFTR 1a versão, 21 de agosto de 2019 DROGAS MODULADORES DA FUNÇÃO DA PROTEÍNA CFTR Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC) Recomendações para uso de drogas moduladores da função da proteína CFTR 1a versão, 21 de agosto de 2019 https://unidospelavida.org.br https://unidospelavida.org.br/ cartilhas/