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31 Lição 3 - Compra e Venda: Certidões Pessoais e Imobiliárias. Tributos, Registro e Locação de Imóveis 1. Compra e Venda de Imóvel A compra e venda é instrumento contratual pelo qual o contratante obriga-se a passar o domínio de um bem mediante o pagamento de valor monetário a título de preço. Em vez de uma compra e venda, o contrato será de troca ou permuta se o adimplemento da transação não for em dinheiro. VENDE-SE VENDIDO Pelo contrato de compra e venda, o vendedor se obriga a transferir ao com- prador o domínio de certa coisa, mediante uma remuneração denominada preço. Em decorrência disso, conforme bem anota a doutrina, trata-se de um contrato translativo que traz o comprometimento da transmissão da proprie- dade. Sendo assim, a compra e venda por si só não transmite a propriedade, con- forme o art. 482, do CC, ou seja, este contrato somente verifica o compromisso da entrega do bem, pois tal hipótese – transmissão da propriedade – somente ocorrerá, em regra, pelo registro (art. 1.227 do CC), que é realizado, para bens imóveis, no Cartório de Registro de imóveis (1.245 do CC). Este contrato visa à alteração da propriedade do imóvel, que é o mais amplo dos direitos que uma pessoa pode exercer sobre um bem, isto porque nela se concentram todas as possibilidades a serem exercidas sobre este. Ou seja, a propriedade contempla os direitos de usar, gozar, dispor e reivindi- car o seu bem de quem injustamente o detenha. Nesta esteira, conceitua-se 32 propriedade como o estado da coisa, que pertence exclusivamente ao seu titular em seu patrimônio e à sua disposição, sujeitando-se, portanto, à sua vontade. A propriedade está consagrada no artigo 5º, inciso XXII, da Constituição Fe- deral como um direito fundamental que deve atender à sua função social em prol da coletividade. Entretanto, apenas o “Contrato de Compra e Venda”, “Compromisso de Com- pra e Venda” ou a “Escritura Pública de Compra e Venda” não são documentos aptos para transferirem a propriedade. Somente o Registro no competente Cartório de Registro de Imóveis tem essa força. Enquanto não registrados os documentos de transferência, estes são apenas um indício de uma obrigação legal de proceder à transferência do imóvel. Logo, sozinhos não transferem nada. Este ponto será melhor discutido no item “Registro de Imóveis” dentro deste mesmo capítulo de estudo. Nesse contexto, é importante salientar que o Código Civil, em seu Art. 108, explicita que: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essen- cial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-mínimo vigente no País”. 1.1 Elementos Constitutivos do Contrato de Compra e Venda a) As partes: são tidos como vendedor e comprador, devendo as partes ser capazes e existir uma vontade livre entre elas sob pena de anulação da compra e venda por vícios do consentimento (Art. 171, incisos I e II, do Código Civil). Porém, as partes não devem ser somente capazes, estas devem ainda ser le- gitimadas para realização da compra e venda, ou seja, a legitimação é uma capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Como exemplo, temos o Art. 1647, inciso I, do CC, que exige para venda de imó- vel a outorga conjugal, sob pena de anulação da compra e venda. Neste caso, o prazo decadencial para anulação é de 2 (dois) anos, salvo na separação ab- soluta de bens. 33 Outorga conjugal (legitimação: plano da vakidade, pois não se trata de capa- cidade, plano da existência) Outorga Uxória (esposa) Outorga Marital (marido) Em regra, exige-se a outorga conjugal para os atos e negócios jurídicos, com exceção do regime da separação absoluta. Todavia, quanto à questão do regi- me da separação legal, tida situação é tormentosa, uma vez que ainda existe parte da doutrina que defende a aplicação da Súmula 377 do STJ, que admite a comunicação dos bens em determinadas situações. b) Coisa: bem imóvel Diante da boa-fé objetiva, recomenda-se que o vendedor já tenha a coisa a sua disposição, ou seja, tenha a propriedade do imóvel (Registro no CRI em seu nome) que pretende vender. Além disso, a coisa deve ser alienável. A regra é a alienabilidade, sendo a ina- lienabilidade exceção retirada da lei ou da vontade das partes. Exemplos de bem com inalienabilidade legal: decorre do bem de família voluntário ou convencional (cláusula de inalienabilidade) que pode constar de testamento ou doação. c) Preço É a remuneração da compra e venda, devendo ser em moeda nacional cor- rente pelo valor nominal, pelo princípio do nominalismo, bem como tem as seguintes regras gerais: • Em regra, são nulas as estipulações em moeda estrangeira ou em ouro. Exceção deve ser feita para compra e venda internacional. • O preço pode ser cotado em moeda estrangeira, pois trata-se de um parâmetro, devendo, porém, constar o correspondente em reais (preço por cotação). • É possível o preço arbitrado por terceiro que tenha confiança das partes – preço por avaliação). Por exemplo: avaliação de um imóvel por um especialista da área. • O preço também pode ser cotado por taxa de mercado ou bolsa de certo dia e lugar. Na variação da taxa de mercado do dia, será o preço o valor médio da oscilação. Na compra e venda sem totalidade ou fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as 34 partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, pre- valecerá o termo médio. Não havendo preço convencionado, deve ser seguida a ordem do dispositivo: a) haverá eventual preço tabelado (tabelamento oficial – ordem pública); b) valerá eventual preço de costume; c) não havendo costume nem tabelamen- to, valerá um preço médio, a ser fixado pelo juiz. Por fim, há vedação do estabelecimento do preço unilateral deixado à escolha do valor a apenas uma das partes, prevendo nulidade absoluta do contrato. ► 1.1.1 Restrições à Compra e Venda Na compra e venda, há algumas restrições: a) Venda de coisa comum ou venda de bem em condomínio protegida pelo direito de preferência, direito de preempção ou prelação legal: não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos se outro a quiser. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. b) Venda de ascendente para descendente: é anulável a venda de ascendente para descendente não havendo autorização dos demais descendentes e do cônjuge do vendedor. Quanto à autorização dos descendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, ou seja, devem autorizar apenas os descendentes mais próximos (filhos, e não os netos). O prazo para ação de anulação, conforme doutrina atual, é de dois anos, a contar da celebração. Tal posição está firmada no Art. 179 do CC, o qual dispõe: “Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato”, sendo este o prazo decadencial. c) Compra e venda entre cônjuges: nos termos do Art. 499, do CC, é lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão, ou seja, somente é possível a venda de bens excluídos da comunhão. Se um bem que já fizer parte da comunhão for vendido, a venda é nula, por impossibilidade do objeto. Este dispositivo pode ser aplicado por analogia à união estável (que adota, como regra geral, o regime da comunhão parcial de bens). A venda poderá ocorrer mesmo no caso da adoção do regime da comunhão universal, pois há bens excluídos nesse regime (imóvel adquirido pelo trabalho unilateral de um dos cônjuges).Sobre algumas cláusulas especiais de compra e venda, de acordo com o Art. 505 do Código Civil: “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direi- to de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o 35 preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias”. O contrato de permuta utiliza as mesmas regras do contrato de compra e venda. O que muda é que nesse contrato não há o pagamento em dinheiro, mas a transferência mútua de bens, sendo que as despesas são igualmente partilhadas entre as partes. A compra e venda de bens imóveis necessita de todo um cuidado especial voltado para a documentação imobiliária pertinente. Cumpre-nos a impor- tante tarefa de realizar a solicitação, a verificação e, por vezes, até o preparo de alguns documentos, como a elaboração do contrato de compra e venda, no qual devem ser observados os seguintes elementos: a) Descrição da matrícu- la; b) Condição suspensiva; c) Arras; d) Lavratura da escritura (multa comina- tória); e) Cláusula penal; f) Cláusula resolutiva expressa; g) Imissão na posse (multa cominatória); h) Evicção. ► 1.1.2 Compromisso de Venda e Compra de Imóvel Atualmente, tem previsão de Direito Real de Aquisição (Art. 1.225, inciso VII), bem como tem todos os elementos de pré-contrato ou contrato preliminar. Deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. No referido caso, a venda de imóveis por pessoa casada exige a outorga uxó- ria, exceção – regime da separação absoluta, bem como é anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge anuírem expressamente. Concluído o contrato preliminar e desde que dele não conste cláusula de ar- rependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do contrato definitivo. Registrado o título, ele passa a ter eficácia contra terceiros. Caso o compromissário vendedor se recuse a assinar a Escritura Definitiva, sua vontade poderá ser suprimida pelo juiz, caso seja esgotado o prazo con- ferido no contrato, mediante a propositura da ação de adjudicação compul- sória. As principais características são: oponível contra terceiros (caso registrado); transmissível, seja por ato inter vivos ou causa mortis; pode ser objeto de ga- rantia real. Para a segurança jurídica de uma transação imobiliária de compra e venda, faz-se necessário que todos os documentos e certidões sejam levantadas e analisadas, porque apenas dessa maneira é que se pode verificar quais os ris- cos que envolvem determinada operação de imóveis. 36 2. Certidões Pessoais Certidões imobiliárias são a única forma segura de identificar a situação real do imóvel, no que se refere à existência de débitos (do imóvel, das partes) e à confirmação da titularidade da propriedade, gravames e ônus reais que podem recair sobre o imóvel, assim como regularização perante os órgãos públicos. Enfim, é inafastável a necessidade de levantamento das certidões referentes ao imóvel e às pessoas envolvidas na negociação (vendedores, in- quilinos e fiadores). As certidões que devem ser exigidas numa compra e venda não são as mes- mas que são solicitadas numa locação. Contudo, exigências comuns a ambos os negócios são as certidões pessoais referentes aos envolvidos na operação imobiliária (se oficialmente casados, precisam ser levantadas de ambos os cônjuges): • Certidão negativa de protestos de títulos (emitida pelo serviço central de protesto de títulos); 37 • Certidão negativa de existência de ações cíveis e da Fazenda Pública Estadual e Federal (emitida pelos cartórios distribuidores dos respectivos fóruns); • Certidões negativas trabalhistas (emitidas pelo cartório distribuidor do fórum trabalhista); • Certidões negativas criminais e de execuções criminais (emitidas pelos respectivos cartórios distribuidores); • Certidão de casamento atualizada (ou nascimento, se solteiros). Caso uma das partes seja pessoa jurídica, além de todas as certidões acima mencionadas, que devem ser providenciadas em nome da empresa (CNPJ), como também dos sócios (CPFs), serão necessárias ainda: 38 • Certidão negativa do INSS para os casos em que se obrigam pessoas naturais e jurídicas (expedida pela repartição previdenciária); • Certidão de regularidade de recolhimentos do FGTS; • Certidão comprovando que a associação ou sociedade civil se acha formalizada diante do Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, quando for o caso; • Certidão comprovando e regularizando a firma comercial ou sociedade anônima perante o Registro do Comércio. 3. Certidões Imobiliárias No que se refere às certidões referentes ao imóvel transacionado, o que ocor- re em doação, compra e venda, permuta, promessa de venda e compra, den- tre outros, o corretor deve sempre exigir do proprietário do imóvel a apre- sentação das certidões abaixo descritas: • Certidão de Matrícula do Imóvel em nome do vendedor (emitida pelo Cartório de Registro de Imóveis – RGI); • Certidão vintenária atualizada (emitida pelo RGI); • Certidão negativa de tributos municipais (dívida de IPTU); • Certidão negativa de multas por taxa de recolhimento de resíduos sólidos (taxa do lixo), muro, passeio e limpeza (emitida pela prefeitura), caso haja essas cobranças no Município em que o imóvel está localizado; • Certidão negativa de débitos condominiais (emitida pelo atual síndico do condomínio), acompanhada da ata de eleição do síndico; • Documentos comprobatórios de não existência de ações em curso contra o condomínio bem como da sua situação fiscal; • Certidão atestando se o imóvel está ou não sujeito à área de recuo ou investidura ou se está sujeito à zona de influência do metropolitano-metrô (emitida pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos); • Documento legal, se o imóvel estiver alugado, provando a desistência do inquilino quanto ao direito de preferência de aquisição; • Antes de se lavrar o instrumento, verificar a necessidade ou não de algumas providências, tais como: a) Averbação da construção; b) Averbação da demolição; 39 c) Averbação da alteração do nome da rua, do número e demolição do imóvel; d) Averbação da reconstrução; e) Averbação de desmembramento; f) Averbação de alteração do nome do vendedor e/ou de seu cônjuge; g) Averbação do estado civil do vendedor e/ou de seu cônjuge; h) Reconhecimento das firmas dos vendedores e Testemunhas (duas são recomendadas) em títulos de instrumento particular. Certidões específicas para imóvel rural: a. Certidão Negativa de Débito Florestal do IBAMA; b. Certificado de Cadastro de Imóvel Rural – CCIR; c. Recibo da declaração do último ITR; d. Comprovante de pagamento do Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR; e. Certidão Negativa de Débitos do Imóvel Rural. 4. Tributos Imobiliários e Tributos Cobrados do Profissional Corretor de Imóveis no Exercício de sua Atividade Profissional Acerca dos tributos, duas considerações precisam ser realizadas sobre este assunto e dividiremos nosso estudo neste tópico em duas temáticas: a) tri- butos imobiliários, que recaem sobre o imóvel ou nas operações imobiliárias quando estes são negociados; b) tributos cobrados do profissional corretor de imóveis no exercício de sua atividade profissional. 4.1 IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano 40 O Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) se trata daquele exigido sobre a propriedade predial e territorial urbana, cuja competência de cobrança, re- gulamentação e recolhimento é do Município, ou seja, ele é o ente federativo responsável pela arrecadação e destinação dos valores de IPTU. Portanto, existindo questionamentos sobre existência de eventuais débitos de IPTU, basta que seja realizada a pesquisa junto ao órgão da Prefeitura da região onde o imóvel se encontra, podendo-se, inclusive, requerer a emissão da respectiva certidão,que, se negativa, atestará a inexistência de dívidas de IPTU para aquele imóvel. Quando positiva, comprovará que o imóvel encon- tra-se devedor deste imposto. Este imposto é composto pelos três elementos abaixo: • Fato gerador: consiste no fato gerador do IPTU a existência da propriedade, o domínio útil ou a posse do imóvel. • Sujeito Ativo (quem cobra/recebe): são os Municípios, ente federativo arrecadante. • Sujeito Passivo (quem deve/paga): o contribuinte é o sujeito passivo deste tributo, ou seja, o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título tem o dever de pagar este imposto. Além disso, deve-se tratar de bem imóvel, situado na área urbana, pois, se for área rural, o imposto devido será o ITR. Portanto, para que haja incidência de IPTU, mister se observar conformidade com os conceitos abaixo: a) Bem imóvel por natureza ou acessão física – é o solo com a superfície, os seus acessórios e adjacentes naturais, compreendendo as árvores e os frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo. Tudo quanto o homem incorporar ao solo, como a semente lançada à terra, os edifícios e construções, de modo que não possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano (Código Civil, Art. 43, inciso I). b) Zona urbana – é definida em lei municipal, observando o requisito mínimo da existência de dois dos seguintes melhoramentos, constituídos ou mantidos pelo Poder Público, a saber: meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; abastecimento de água; sistema de esgotos sanitários; rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; escola primária ou posto de saúde a uma distância mínima de três quilômetros do imóvel considerado (Código Tributário Nacional, Art. 32). c) Área urbanizável ou de expansão urbana – é a área constante de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas, como tal definidas em lei. d) Área urbana por equiparação – é o caso de “sítio de recreio”, no qual a eventual produção não se destine ao comércio (Decreto-lei nº 57 de 18/12/66, Art. 14). 41 Existe previsão de não incidência de IPTU, mesmo presentes seus elementos configuradores, nos casos previstos pela legislação nacional, restando evi- dente que não incide nas seguintes hipóteses: a) Imunidade – é decorrente da imunidade tributária do patrimônio da União, dos Estados, Distrito Federal e dos outros Municípios e suas autarquias (CF. 1969, Art. 19, inciso III); templos de qualquer culto; partidos políticos; instituições de educação e assistência social. b) Por Lei Ordinária – é o complemento da incidência, ou explicitamente casos como o do imóvel comprovadamente utilizado em exploração vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (Decreto-lei nº 57/66, Art. 15). Além da previsão de não incidência, a lei cuidou de prever possibilidades de isenção, que pode ocorrer por lei ordinária emanada pelo sujeito ativo (que é o mais frequente) ou pela União, através de Lei Complementar, atendendo a relevante interesse social ou econômico nacional: uma das limitações cons- titucionais do poder de tributar. É a isenção um caso de exclusão ou, melhor dizendo, de dispensa do crédito tributário (Art. 175, inciso I, do Código Tribu- tário Nacional – CTN). A base de cálculo do imposto é o valor do imóvel (Código Tributário Nacio- nal, Art. 33). São excluídos os valores dos bens móveis mantidos, em caráter permanente ou temporário, no imóvel, para efeito de utilização, exploração, aformoseamento ou comodidade. Para o imposto territorial urbano, a base é o valor venal, que depende de avaliação periódica, e esse acréscimo não cons- titui majoração do tributo. A alíquota, ou percentual de cálculo de imposto, aplicada sobre a base de cál- culo, é fixada por lei, conforme o princípio da legalidade, limitação constitu- cional ao poder de tributação. 4.2 ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural O Imposto Territorial Rural é de competência da União, porém o produto des- ta arrecadação pertence ao Município onde esteja situado o imóvel. Consideram-se imunes desse imposto os sítios com áreas que não excedam a 25 hectares e quando os cultive, só ou com a família, desde que o proprietá- rio não tenha outro imóvel. Excluem-se do Imposto Territorial Rural todos os imóveis que se enquadrem no Art. 322 do Código Tributário Nacional. A base de cálculo deste imposto é o valor fundiário, isto é, o valor do solo nu, sem qualquer intervenção humana. O fato gerador é a propriedade, o domí- nio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localiza- do fora da zona urbana do Município. 42 4.3. INSS – Encargos Previdenciários Em caso de obra, o construtor deve recolher encargos previdenciários ao INSS. O proprietário do imóvel e o condômino de uma unidade imobiliária, seja qual for a forma de contrato de execução de obra de construção, acrés- cimo ou reforma do imóvel, são igualmente responsáveis (solidários) com o construtor para cumprimento das obrigações que nela constam, a menos que tenha havido, por parte deles, alguma retenção de importância, para garantia dessas obras até a expedição de Certificado de Quitação. Quando a prestação de serviços for feita “por tarefa” ou “sob empreitada”, es- tarão isentos, proprietário e construtor, dessas obrigações, desde que obri- guem o subempreiteiro a recolher previamente, fixado pelo INSS como con- tribuição previdenciária, inclusive o seguro de acidentes de trabalho. Não será devida a contribuição previdenciária, se a construção for feita em regime de “mutirão”, ou seja, sem mão de obra assalariada. ► 4.4.4. ITBI – Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis e ITCMD – Imposto Causa Mortis e Doação Quando houver transferência de titularidade de bens imóveis, haverá inci- dência de imposto de duas espécies, conforme o caso. Em se tratando de ato “inter vivos”, ou entre vivos (pessoas vivas), incidirá o ITBI. No sentido contrário, quando se tratar de alteração de propriedade por oca- sião de “doação” ou “causa mortis” (por causa de morte – herança), recairá o ITCMD – Imposto Causa Mortis e Doação. De acordo com o Código Tributário Nacional, em seu Art. 35: Art. 35 O imposto, de competência, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador: I – a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis, por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil; II – a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia; III – a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II. Parágrafo único – nas transações causa mortis ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários. O Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (“ITBI”) incide sobre a transmis- são entre vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por na- tureza ou acessão física e de direitos reais sobre bens imóveis, exceto os de garantia e as servidões, bem como sobre a cessão, por ato oneroso, de direitos relativos à aquisição de bens imóveis (Lei nº 11.154, de 30/12/91, regulamentada pelo Decreto nº 31.134, de 24/01/92, e Lei nº 13.107, de 29/12/2000). 43 Também, com relação ao ITBI, são regulamentadas algumas previsões de não incidência, não recaindo sobre a transmissão de bens ou direitos: • decorrente de mandato em causa própria, quando outorgado para o mandatário receber a escritura definitiva do imóvel; • quando o bem ou direito voltar ao domínio do antigo proprietário, por força de retrovenda, de retrocessão ou pacto de melhor comprador; • incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital; • aos mesmos alienantes, em decorrência de sua desincorporação do patrimônio das pessoas jurídicas a que foram conferidos; • decorrentes defusão, incorporação, cisão ou extinção da pessoa jurídica. Nas três últimas hipóteses, haverá a incidência do imposto se o adquirente tiver como atividade preponderante a compra e venda de imóveis ou de di- reitos a eles relativos, a sua locação ou arrendamento mercantil. O ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) deve ser pago por quem recebe bens ou direitos, por heran- ça ou doação. O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é um tributo de competência dos Estados e do Distrito Federal, cujo fato gerador é a transmis- são causa mortis de imóveis e a doação de quaisquer bens ou direitos, confor- me Constituição Federal (Art. 155, inciso I e § 1º) e CTN Art. 35 a 42). Trata-se de um imposto que recai sobre o valor venal da transmissão de qual- quer bem ou direito havido: I – por sucessão legítima ou testamentária, inclusive a sucessão provisória; II – por doação. Em se tratando de divisão de patrimônio comum entre cônjuges ou convi- ventes ou ao herdeiro, na partilha ou adjudicação, será aplicado o ITCMD so- bre a respectiva meação ou quinhão hereditário. São contribuintes do imposto: I – na transmissão “causa mortis”: o herdeiro ou o legatário; II – no fideicomisso: o fiduciário; III – na doação: o donatário; IV – na cessão de herança ou de bem ou direito a título não oneroso: o cessionário. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I – o tabelião, escrivão e demais serventuários de ofício, em relação aos atos tributáveis praticados por eles ou perante eles, em razão de seu ofício; 44 II – a empresa, instituição financeira e bancária e todo aquele a quem couber a responsabilidade do registro ou a prática de ato que implique na transmissão de bem móvel ou imóvel e respectivo direito ou ação; III – o doador, o cedente de bem ou direito, e, no caso do parágrafo único do artigo anterior , o donatário; IV – qualquer pessoa física ou jurídica que detiver o bem transmitido ou estiver na sua posse, na forma desta lei; V – os pais, pelos tributos devidos pelos seus filhos menores; VI – os tutores e curadores, pelos tributos devidos pelos seus tutelados ou curatelados; VII – os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; VIII – o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio. Ambos os impostos, ITBI e ITCMD, se tratam de encargos que recaem sobre a operação imobiliária, devendo o corretor de imóveis conhecer tais impostos e alertar as partes negociantes sobre o necessário recolhimento desses en- cargos de natureza fiscal que decorrem das transações imobiliárias. ► 4.4.5 Tributos Cobrados do Profissional Corretor de Imóveis no Exercício de sua Atividade Profissional 4.4.5.1 Profissional autônomo O profissional que trabalhe de forma autônoma com vínculo formal com o tomador do serviço poderá realizar seus recebimentos de honorários de cor- retagem através da emissão de RPA – Recibo de Pagamento a Autônomo. O RPA, que é um documento que formaliza o vínculo estabelecido entre um profissional autônomo (prestador de serviço) e o seu contratante (tomador de serviço), pode ser emitido pela fonte pagadora, ou seja, quem contratou o serviço de algum profissional pessoa física que não esteja regido pelo sistema CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) ou pelo próprio corretor. Ser corretor no âmbito desta prestação de serviço por RPA tem como van- tagens a possibilidade de amplificação das prestações de serviços, cobertura previdenciária com direito à aposentadoria e auxílio-doença, além de con- tribuições simplificadas, na medida em que a contabilidade referente aos recolhimentos fiscais é realizada diretamente pela empresa tomadora dos serviços de corretagem. Porém, a contratação por RPA não pode servir para tentar mascarar a exis- tência de uma relação trabalhista, mas expressar, fielmente, a relação de pres- tação de serviço por um profissional autônomo e sem vínculo de emprego. 45 Quais tributos devem constar no RPA? • IRRF - Imposto de Renda Re�do na Fonte; • INSS - Contribuição Previdenciária; • ISS - Imposto Sobre Serviços. Diversificação O autônomo pode aumentar seu leque de prestações de serviço Cobertura previdenciária Aposentadoria - auxílio-doença Contribuições simplificadas A contabilidade é elaborada pela empresa Portanto, esta modalidade de contratação servirá para remunerar a presta- ção de tarefas esporádicas, ou seja, trabalhadores que não trabalhem com ha- bitualidade nem subordinação com aquele tomador de serviço. Além disso, estes autônomos não podem ter empresas em seu nome nem emitirem notas fiscais. A obrigação de emitir o RPA é do tomador do serviço do corretor, a contratante empresa (imobiliária/construtora) ou pessoa física. A RPA permite ao autônomo realizar o recolhimento ao INSS como contri- buinte individual, viabilizando a aposentadoria futura deste profissional pe- rante a Previdência Social. Ademais do INSS, que consiste na Contribuição Previdenciária, na RPA serão recolhidos o IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física) e o ISS (Imposto Sobre Serviços), todos retidos diretamente na fonte pagadora, o que significa dizer que a tomadora do serviço já realizará estes cálculos e descontará do valor bruto da comissão do corretor estes impostos, repassando, ao profissional, o valor da comissão líquido. 4.4.5.2 Prestação de Serviço como MEI Microempreendedor Individual (MEI) é uma possibilidade através da qual o profissional corretor de imóveis pode prestar seu serviço a diversos toma- dores de maneira formal, o que propicia uma série de benefícios: além de receber um CNPJ, passa a ter acesso à previdência e a estímulos como linhas de crédito do governo. 1. MEI 46 A principal vantagem para o MEI consiste no fato de a carga tributária não se alterar com o volume de vendas, ou seja, mesmo realizando mais operações imobiliárias, o valor do recolhimento dos tributos é unificado e fixo, não au- menta nem diminui. Existem alguns requisitos legais que precisam ser cumpridos pelo profissio- nal que deseja trabalhar como MEI, como os a seguir discriminados: – O exercício profissional deve constar da lista de ocupações permitidas como MEI1; – É possível realizar a contratação de no máximo um empregado ou empregada, que receba o piso da categoria ou 1 salário-mínimo; – Não pode ser ou se tornar titular, sócio ou administrador de outra empresa; – Não pode ter ou abrir filial; – Poderá ter um faturamento anual de até R$ 81.000,00 por ano, ou proporcional* no ano de abertura. No ano de abertura, o limite será proporcional ao número de meses em que a empresa atuar, levando em consideração a média de faturamento de R$ 6.750,00 por mês. Por exemplo, caso a formalização seja no mês de junho, o limite de faturamento até o final do ano será de até R$ 47.250,00 (7 meses x R$ 6.750,00 por mês). Em contrapartida, a formalização enquanto MEI pode ocasionar a suspensão ou cancelamento definitivo de benefícios que foram concedidos por ocasião da ausência de renda para subsistência, entre outros. Note que benefícios pre- videnciários serão cancelados (aposentadoria por invalidez, auxílio-doença ou salário-maternidade) e benefícios assistencialistas podem ser cancelados (seguro-desemprego, BPC/LOAS, Prouni, FIES, Bolsa Família). Além disso, funcionários públicos federais não podem ser MEI e os munici- pais ou estaduais precisam verificar seus respectivos estatutos para análise de impedimento. De outro lado, existem benefícios que, via de regra, não são cancelados após a formalização como MEI, tais como: – Aposentadoria especial por insalubridade, idade ou por tempo de contribuição; – Fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS); – Programa de integração social (PIS); – Pensão por falecimento do cônjuge/filho; –Pensão por falecimento dos pais; – Pensão recebida por tutor de menor de idade, por morte do responsável. Para tornar-se MEI, basta realizar o cadastro no Portal do Empreendedor ( ), não sendo necessário contador. O cor- 47 retor deve preencher o relatório mensal de receitas, realizar o pagamento da DASN-MEI (Declaração do Simples Nacional) e emitir nota fiscal. O MEI recolhe o imposto INSS (Contribuição Previdenciária), que lhe possi- bilitará aposentadoria, auxílio-doença e salário-maternidade, além do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços e Imposto Sobre Servi- ço), com a vantagem de ser um valor fixo de recolhimento mensal para o ano calendário de prestação de serviço. 4.4.5.3 Prestação de Serviço enquanto Empresa com Regime de Tributação pelo Simples Nacional Caso receba comissões que ultrapassem o teto estabelecido pelo MEI e não queira ser tributado como RPA, o corretor pode abrir uma empresa, ter CNPJ, emitir Nota Fiscal e adequar-se ao Regime de Tributação do Simples Nacional. 2. http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/ 48 O Simples Nacional consiste em regime tributário facilitado e simplificado para micro e pequenas empresas, que permite o recolhimento de todos os tributos federais, estaduais e municipais em uma única guia. Regulamentado pela Lei Complementar nº 123, de 14 de Dezembro de 2006, é facultativo e irretratável para todo o ano calendário e abrange os seguintes tributos: IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica), CSLL (Contribuição So- cial sobre Lucro Líquido), PIS/Pasep (Programa de Integração Social/ Progra- ma de Formação do Patrimônio do Servidor Público), COFINS, IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Circulação de Merca- dorias e Serviços), ISS (Imposto Sobre Serviços) e a Contribuição para a Segu- ridade Social destinada à Previdência Social a cargo da pessoa jurídica (CPP)2. Por compreender recolhimento à previdência social, possibilita o direito à aposentadoria e auxílio-doença e tem como vantagens redução de custos com relação a outras formas de regime de tributação e contribuição simpli- ficada. Todos os impostos serão gerados, calculados e pagos no mesmo docu- mento fiscal (guia DAS para pagamento). 5. Registro do Imóvel O registro do documento de transferência de propriedade no Registro de Imóveis é o único ato que transfere a titularidade de um bem imóvel segundo a legislação imobiliária. Isto porque, para a aquisição da propriedade imóvel no direito brasileiro, a existência de um contrato perfeito e acabado não é suficiente, conforme o Art. 481 do Código Civil disciplina: “pelo contrato de compra e venda, um dos con- tratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa e o outro, a pagar-lhe o preço em dinheiro”. A propriedade é considerada um direito fundamental da pessoa, previsto no Art. 5, inciso XXII, da Constituição Federal, de caráter erga omnes (oponível contra todos), mas deve receber especial atenção a sua função social, confor- me Art. 1.228, parágrafo 1º, do Código Civil, que estabelece: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. Neste sentido, resta claro que a efetivação da transferência da propriedade só ocorre pelo REGISTRO DO TÍTULO TRANSLATIVO, conforme o Art. 1245 do Código Civil exige: “Da Aquisição pelo Registro do Título Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. 49 § 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente con- tinua a ser havido como dono do imóvel. Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo. Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interes- sado reclamar que se retifique ou anule. Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adqui- rente”. Portanto, quando se trata de um aperfeiçoamento de transmissão de proprie- dade imóvel por compra e venda, devem ser formalizadas a compra e a venda em escritura pública, sendo esta, obrigatoriamente, levada para registro do Cartório do Registro de Imóveis. Nem sempre o título que representa a transmissão da propriedade será uma Escritura Pública, pois existem outras formas de transferência de proprieda- de sem ser por compra e venda. Neste sentido, temos, por exemplo, a transferência proveniente da herança ou divórcio, o título aqui será um “formal de partilha”; de leilão judicial, no qual o título é uma “carta de arrematação”; havendo ainda a “doação”, “carta de adjudicação”, enfim, muitas outras possibilidades de “títulos translativos” registráveis. Ainda no caso da compra e venda, existem situações em que a Escritura de Venda e Compra pode ser dispensada, ficando a critério das partes negocian- tes realizá-la ou não, como na disposição prevista no Art. 108 do Código Civil, que prevê que a compra e venda de imóveis acima de 30 salários-mínimos deve ser feita por escritura, ou seja, faculta a sua realização para transações abaixo desse valor. Portanto, se a compra é de imóvel superior a 30 salários-mínimos, então é necessária a escritura. Caso não seja observado tal requisito, não será possível registrar a compra e venda. Portanto, não haverá a transferência da proprie- dade, que só se perfaz com o Registro no Cartório de Registro de Imóveis. Existem outras exceções nas quais, ainda que as operações imobiliárias de venda e compra sejam superiores ao critério de 30 salários-mínimos, dispen- sa-se a realização de Escritura. Contudo, NUNCA se dispensa a realização do Registro. Hipóteses de dispensa de Escritura: – Compromisso de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de lote urbano quitado, Art. 26, § 6º da Lei 6.766/79; – Compra e venda no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) e Alienação Fiduciária, Art. 38 da Lei nº 9.514/97; 50 – Compra e venda no Sistema Federal de Habitação (SFH), Art. 61, § 5º da Lei nº 4.380/64; – Termos, contrato e título emitidos pela União, Estado ou Municípios sobre terras públicas rurais, Art. 7º do Decreto-lei 2.375/87; – Programa de arrendamento residencial, Art. 8º da Lei 10.188/01; – Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), Art. 79-A da Lei nº 11. 977/04. De toda forma, o registro permanece obrigatório. A lei que regulamenta os registros públicos nacionalmente é A Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos) e tudo o que se refere ao imóvel deve, obrigatoria- mente, ser registrado junto à Matrícula ou Transcrição no Cartório de Registro de Imóveis competente para aquela localidade na qual o imóvel se encontra. Por isso que se deve, para se aferir a situação de regularidade do imóvel, con- ferir seu proprietário, verificar se existem encargos instituídos, se faz neces- sária a busca no Registro de Imóveis, levantando-se as Certidões respectivas para a análise de isenção de ônus reais (hipoteca, penhora, enfiteuse, servi- dão, condomínio, execução por dívidas e tributos referentes a impostos, taxas, contribuições de melhoria e constituição de usufruto). As despesas de Escrituração e Registro, salvo convenção em contrário, quan- to ao reembolso espontâneo, correm por parte do adquirente e devem ser satisfeitas junto ao Tabelião e Registro de Imóveis da localidade, ou seja, quem tem a obrigação de pagar as despesas cartorárias é sempre o comprador. O comprador, como regra, custeará gastos com o ITBI (Imposto sobre Trans- missão de Bens Imóveis), o Registro e a Escritura, bem como o Registro do financiamento na matrícula do imóvel, a obtenção de certidões negativas e, quando necessária avaliaçãoimobiliária, o custo deste serviço também. Em se tratando da compra do primeiro imóvel pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), a Lei 6015/73 estabelece o direito a um desconto de 50% (cin- quenta por cento) para registro deste. Além desses valores, o próprio contrato de compra apresentará custos, tais como os honorários para a contratação de um advogado para elaborar o tex- to, o reconhecimento de firmas das partes negociantes e a abertura de firma no Cartório de Registro de Notas. 6. Locação de Imóvel Locação é o contrato pelo qual alguém, chamado de locador, mediante remu- neração, denominando de aluguel, se compromete a ceder, durante certo lap- so de tempo, o uso e o gozo de uma coisa infungível, a outrem, denominado de locatário, de acordo com o Art. 565, do CC. 51 O contrato de locação possui expressa previsão legal no Código Civil em seu Art. 565, caracterizando-se, por esta razão, em um contrato típico. Possui ainda expressa previsão legal nas Leis nº 12.112 de 2009 e nº 8.245 de 1991. É importante ter em vista que, diante da economicidade do contrato de loca- ção, o preço deve ser real, isto é, não pode ser simbólico, para que não se tenha por configurado o contrato de comodato, que é gratuito. Pode-se inserir a “Cláusula de opção de compra”, que não desconfigura o con- trato de locação, transformando-o em promessa de compra e venda ou em contrato preliminar. Trata-se de uma cláusula especial que pode ser aposta ao contrato de locação, assegurando ao locatário o direito de, ao final do período de locação, optar pela compra do bem, deduzindo do preço final, as parcelas pagas a título de locação. Essa cláusula se insere nos domínios da liberdade de contratar bem como da função social do contrato e da autonomia privada. Ainda, nos contratos de locação, encontra-se a “Cláusula de venda”, segundo a qual o imóvel alugado pode ser vendido ainda durante a vigência do contrato de locação e, como regra geral, a venda interrompe a locação. Normalmente, o comprador do imóvel alugado não é obrigado a respeitar os termos do contrato vigente, seja este por tempo determinado ou não. Tal regra é positiva, mas as partes (locador e locatário) podem prever no contrato de compra e venda que a relação ex locato (locação) será mantida para o loca- tário em caso de alienação. Para ter validade contra terceiros, que não participaram do contrato de loca- ção, como o comprador do imóvel alugado, será necessário que o contrato de locação seja registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Quando o contrato é registrado, este passa a ser público, não podendo o com- prador alegar que não sabia da obrigatoriedade de respeitar o contrato de locação, pois teve acesso a esta informação na matrícula do imóvel, quando tinha o dever de levantar e analisar, antes de comprar o imóvel, a Certidão de Registro de Imóvel atualizada. Portanto, não serve de justificativa legal a mera alegação de que não sabia, quando tinha o dever de saber. Ademais, o contrato de locação pode prever garantias locatícias, sendo que, apesar de prever 3 (três) possibilidades de garantias, ferramentas que asse- guram o pagamento do aluguel em caso de inadimplemento, só pode haver a escolha de uma delas por locação. 52 São modalidades de garantias da locação a caução, a fiança e o seguro fiança. No caso da caução, o locador pode exigir a quantia equivalente a três aluguéis depositados antecipadamente, porém não pode usar este dinheiro, tendo a obrigação legal de deixá-lo depositado. § 2º A caução em dinheiro, que não poderá exceder o equivalente a três meses de aluguel, será depositada em caderneta de poupança, autoriza- da, pelo Poder Público e por ele regulamentada, revertendo em benefício do locatário todas as vantagens dela decorrentes por ocasião do levanta- mento da soma respectiva. O montante deve ser depositado após o contrato firmado. A poupança precisa ser conjunta no nome do locador e do locatário. Todo movimento financeiro feito tem que ser comunicado oficialmente. Sendo que, quando finalizada a locação, a quantia depositada e todas as suas vantagens (seus rendimentos) deverão ser revertidas ao locatário. Possíveis multas aplicáveis no Contrato de Locação nos interessam com- preender em termos gerais, o que se entende juridicamente como multa. Multa é a sanção econômica decorrente da violação de uma norma jurídica impositiva, ou seja, é uma forma de sanção diante de uma conduta de fazer ou de não fazer algo em patente contrariedade à disposição normativa. A multa contratual, também conhecida como multa rescisória, tem lugar quando ocorre a quebra de contrato por opção do locatário que devolve o imóvel antes do prazo acordado. O assunto encontra-se disciplinado no arti- go 4º caput, e § Único da Lei 8.245/91, e teve alterações recentemente em sua redação pela Lei nº 12.744/2012, como bem se observa a seguir: Art. 4º Durante o prazo estipulado para a duração do contrato, não po- derá o locador reaver o imóvel alugado. Com exceção ao que estipula o § 2º do art. 54-A, o locatário, todavia, poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada, proporcional ao período de cumprimento do contrato, ou, na sua falta, a que for judicialmente estipulada. Parágrafo único. O locatário ficará dispensado da multa se a devolução do imóvel decorrer de trans- ferência, pelo seu empregador, privado ou público, para prestar serviços em localidades diversas daquela do início do contrato, e se notificar, por escrito, o locador com prazo de, no mínimo, trinta dias de antecedência. Para a compreensão da multa renovatória, serão necessários alguns concei- tos basilares sobre a previsão legal da ação renovatória na Lei nº 8.245/91. A referida “Ação Renovatória” trata-se de uma ação judicial proposta pelo locatário em face do locador para que um contrato de locação comercial seja renovado de modo forçado, mesmo contra a vontade do locador, permitin- do-lhe a permanência naquele ponto comercial. Assim, nas situações espe- cíficas previstas na lei, os contratos de locação comercial podem ser renova- dos ainda quando o proprietário do imóvel não deseje tal renovação. 53 Ocorre, porém, que o locador do imóvel tem o direito ao exercício do con- traditório e da ampla defesa nos termos do Art. 72, podendo apresentar sua defesa adstrita às matérias taxativamente lá descritas. São elas: I – não preencher o autor os requisitos estabelecidos nesta lei; II – não atender, a proposta do locatário, o valor locativo real do imóvel na época da renovação, excluída a valorização trazida por aquele ao ponto ou lugar; III – ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores; IV – não estar obrigado a renovar a locação (incisos I e II do Art. 52). A previsão da multa aqui mencionada conhecida como “Multa Renovatória” se fixa pelo cumprimento do comando dado pelo legislador no Art. 75 da re- ferida lei, o qual bem estabelece que, na hipótese de o locador ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores, terá cabimento tal multa por ocasião da sentença que fixará desde logo a indenização devida ao locatário em consequência da não prorrogação da locação, solidariamente devida pelo locador e o proponente. Por fim, para a compreensão da multa revisional necessária se faz a elucida- ção do cabimento da “Ação Revisional de Aluguel”. A matéria encontra-se disciplinada nos Art. 68 e ss. da Lei 8.425/91. Trata-se de procedimento em que se busca a fixação de um novo valor de aluguel quer pelo locador, quer pelo locatário. A lei fixa como parâmetro que, caso a ação seja ajuizada pelo locador, o aluguel provisório fixado pelo juízo não poderá superar 80% do pedido, de outro lado, se a ação é ajuizada pelo locatário, o aluguel provisório fixado pelo juízo não poderá ser inferior a 80% do aluguel já vigente inter partes. Tem cabimento a produção de prova pericial no deslinde da demanda. O rea- justamento do aluguel em um valor diverso daquele previsto no contrato re- visado consubstancia-seem uma verdadeira sanção econômica ao vencido na demanda, razão pela qual os valores devidos são classificados como multa revisional.