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Indaial – 2020 Química Geral Prof. José Edson Reinert 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. José Edson Reinert Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: R367q Reinert, José Edson Química geral. / José Edson Reinert. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 268 p.; il. ISBN 978-65-5663-293-3 ISBN Digital 978-65-5663-294-0 1. Química. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 540.7 apresentação Caro acadêmico, seja muito bem-vindo à disciplina de Química Geral! Este livro didático auxiliará seus estudos para que você compreenda melhor os principais tópicos da química. As orientações têm como objetivo contribuir de forma positiva o direcionamento do seu processo de ensino e aprendizagem. Este livro tem como finalidade proporcionar a você embasamento teórico a respeito de conceitos base da Química para que possam no futuro estabelecer uma relação com as demais disciplinas do seu curso. Assim, o livro didático ordena os conteúdos e aspectos teóricos que auxiliarão no seu desenvolvimento integral, aprimorando seus conhecimentos e possibilitando, no final do curso, sua inserção no mercado de trabalho. A fim de lhe familiarizar de forma breve com a disciplina, apresentamos a seguir cada uma das unidades que serão abordadas neste livro. Na Unidade 1, você compreenderá os aspectos que levaram à evolução dos modelos atômicos e como as interpretações de dados experimentais contribuíram com as características de cada modelo. Nesta unidade, você conhecerá a forma como a tabela periódica é organizada atualmente e as propriedades que são observadas através desta organização. Além do mais será capaz de diferenciar e identificar as ligações químicas que mantêm os átomos unidos. Na Unidade 2, trabalharemos com as funções inorgânicas, que são grupos de substâncias que apresentam algum tipo de semelhança, sendo elas, ácidos, bases, sais e óxidos. Além disso, será apresentada a forma como se realiza a nomenclatura dessas substâncias e suas características. Esta unidade apresentará também as reações inorgânicas. Na Unidade 3, trataremos sobre alguns fundamentos da físico- química, dentre eles as grandezas químicas e estequiometria das reações. Outro ponto a ser tratado serão as classificações e características das dispersões com ênfase nas soluções e seus processos de separação. A radioatividade será outro tópico a ser discutido nesta unidade. Nesse contexto, apresentamos assuntos de suma importância para sua formação e que devem ser conhecidos, portanto, convidamos você a se inteirar e assimilar todo esse conhecimento. Desejamos uma ótima leitura! Bons estudos! Prof. José Edson Reinert Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 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LEMBRETE sumário UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA .................................................................................. 1 TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA ................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 UMA BREVE HISTÓRIA DA QUÍMICA ....................................................................................... 3 2.1 MÉTODO CIENTÍFICO ................................................................................................................. 5 3 MODELOS ATÔMICOS .................................................................................................................... 6 3.1 OS GREGOS E A CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA .................................................................. 6 3.2 TEORIA ATÔMICA DE DALTON ............................................................................................... 8 3.3 TEORIA ATÔMICA DE THOMSON ........................................................................................... 9 3.4 TEORIA ATÔMICA DE RUTHERFORD ................................................................................... 11 3.5 TEORIA ATÔMICA DE BOHR ................................................................................................... 15 3.6 MODELOS ATÔMICO ATUAL .................................................................................................. 17 4 ESTRUTURA ATÔMICA ................................................................................................................. 18 4.1 NÚMERO ATÔMICO, NÚMERO DE MASSA E MASSA ATÔMICA ................................. 19 4.1.1 Elementos químicos e sua representação ......................................................................... 20 4.2 ÍONS................................................................................................................................................ 21 4.3 SEMELHANÇAS ATÔMICAS .................................................................................................... 23 4.4 DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA ................................................................................................. 24 4.5 NÚMERO QUÂNTICOS ............................................................................................................. 28 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 32 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................34 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 36 TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA .................................................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 EVOLUÇÃO DA TABELA PERIÓDICA ....................................................................................... 39 3 ORGANIZAÇÃO DA TABELA PERIÓDICA .............................................................................. 44 3.1 GRUPOS ......................................................................................................................................... 44 3.2 PERÍODOS ..................................................................................................................................... 45 3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ...................................................................................... 46 3.3.1 Classificação quanto à estrutura eletrônica ...................................................................... 46 3.3.2 Classificação quanto às características e propriedades .................................................. 49 3.3.3 Classificações complementares .......................................................................................... 52 4 PROPRIEDADES PERIÓDICAS .................................................................................................... 53 4.1 RAIO ATÔMICO ........................................................................................................................... 53 4.2 ELETRONEGATIVIDADE .......................................................................................................... 55 4.3 ENERGIA DE IONIZAÇÃO ....................................................................................................... 57 4.4 AFINIDADE ELETRÔNICA ....................................................................................................... 58 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 61 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63 TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES ................. 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 LIGAÇÕES QUÍMICAS ................................................................................................................... 66 2.1 TEORIA DO OCTETO .................................................................................................................. 66 2.2 LIGAÇÕES IÔNICAS ................................................................................................................... 67 2.2.1 Fórmula unitária ou mínima .............................................................................................. 69 2.2.2 Fórmula de Lewis ou eletrônica ........................................................................................ 69 2.2.3 Características dos compostos iônicos .............................................................................. 70 2.3 LIGAÇÕES COVALENTES ......................................................................................................... 71 2.3.1 Fórmula de Lewis ou Eletrônica ........................................................................................ 72 2.3.2 Fórmula estrutural ............................................................................................................... 73 2.3.3 Fórmula molecular .............................................................................................................. 76 2.3.4 Ligações covalentes coordenadas ...................................................................................... 76 2.3.5 Características dos compostos moleculares/covalentes ................................................. 78 2.4 LIGAÇÕES METÁLICAS ............................................................................................................ 78 2.4.1 Características dos compostos metálicos ........................................................................ 79 2.4.2 Ligas metálicas ..................................................................................................................... 79 3 POLARIDADE E GEOMETRIA...................................................................................................... 80 3.1 GEOMETRIA MOLECULAR ...................................................................................................... 80 3.2 POLARIDADE DAS LIGAÇÕES ................................................................................................ 84 3.3 POLARIDADE DAS MOLÉCULAS ........................................................................................... 85 4 INTERAÇÕES INTERMOLECULARES ....................................................................................... 86 4.1 DIPOLO INSTANTÂNEO – DIPOLO INDUZIDO ................................................................. 87 4.2 DIPOLO PERMANENTE – DIPOLO INDUZIDO ................................................................... 88 4.3 DIPOLO PERMANENTE – DIPOLO PERMANENTE ........................................................... 88 4.4 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO................................................................................................... 88 4.5 ÍON – DIPOLO .............................................................................................................................. 89 4.6 IMPLICAÇÕES DAS INTERAÇÕES INTERMOLECULARES .............................................. 90 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 95 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS ................................... 97 TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES ....................................................................................................... 99 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 99 2 TEORIAS ÁCIDO-BASE .................................................................................................................. 99 2.1 TEORIA DE ARRHENIUS ......................................................................................................... 100 2.2 TEORIA DE BRONSTED-LOWRY ........................................................................................... 101 2.3 TEORIA DE LEWIS .................................................................................................................... 102 3 POTENCIAL HIDROGÊNIÔNICO (pH) ................................................................................... 103 3.1 INDICADORES ÁCIDO-BASE ................................................................................................. 105 3.2 ÍONS COMUNS E SOLUÇÃO-TAMPÃO ............................................................................... 108 4 NÚMERO DE OXIDAÇÃO (NOX) .............................................................................................. 111 5 ÁCIDOS ............................................................................................................................................. 113 5.1 CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................................................114 5.1.1 Quanto ao número de elementos .................................................................................... 114 5.1.2 Quanto à presença de oxigênio ........................................................................................ 114 5.1.3 Quanto ao número de hidrogênios ionizáveis .............................................................. 115 5.1.4 Quanto à volatilidade ........................................................................................................ 116 5.1.5 Quanto à força .................................................................................................................... 116 5.2 NOMENCLATURA .................................................................................................................... 121 5.3 APLICAÇÕES .............................................................................................................................. 123 6 BASES ................................................................................................................................................ 125 6.1 CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 126 6.1.1 Quanto ao número de hidroxilas ..................................................................................... 126 6.1.2 Quanto à solubilidade ....................................................................................................... 126 6.1.3 Quanto à força .................................................................................................................... 127 6.2 NOMENCLATURA .................................................................................................................... 128 6.3 APLICAÇÕES .............................................................................................................................. 130 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 132 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 134 TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS ................................................................................. 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 SAIS .................................................................................................................................................... 137 2.1 CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 139 2.1.1 Quanto ao número de elementos químicos constituintes ............................................ 139 2.1.2 Quanto à solubilidade em água ....................................................................................... 140 2.1.3 Quanto à presença de água .............................................................................................. 141 2.1.4 Quanto à natureza dos íons .............................................................................................. 141 2.1.4.1 Sal neutro ......................................................................................................................... 142 2.1.4.2 Sal ácido ........................................................................................................................... 142 2.1.4.3 Sal básico .......................................................................................................................... 142 2.1.4.4 Sal misto ........................................................................................................................... 143 2.2 NOMENCLATURA .................................................................................................................... 143 2.3 APLICAÇÕES .............................................................................................................................. 144 3 ÓXIDOS ............................................................................................................................................. 145 3.1 CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 148 3.1.1 Quanto ao tipo de elemento ligado ao oxigênio ........................................................... 148 3.1.2 Quanto à propriedade ácido-base. .................................................................................. 149 3.1.3 Outros compostos derivados do oxigênio...................................................................... 150 3.2 NOMENCLATURA .................................................................................................................... 151 3.3 APLICAÇÕES .............................................................................................................................. 152 4 HIDRETOS ........................................................................................................................................ 154 4.1 CLASSIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 155 4.1.1 Hidretos iônicos ou salinos .............................................................................................. 155 4.1.2 Hidretos covalentes ou moleculares ............................................................................... 155 4.1.3 Hidretos metálicos ou intersticiais .................................................................................. 156 4.1.4 Hidretos intermediários .................................................................................................... 156 4.2 NOMENCLATURA .................................................................................................................... 157 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS ............................................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161 2 CONCEITOS GERAIS SOBRE REAÇÕES QUÍMICAS .......................................................... 161 3 INDICATIVOS DE REAÇÃO QUÍMICA ................................................................................... 163 4 LEIS DAS REAÇÕES QUÍMICAS ............................................................................................... 164 4.2 LEI DA CONSERVAÇÃO DAS MASSAS ............................................................................... 166 4.1 LEI DA COMBINAÇÃO DE VOLUMES ................................................................................ 166 4.3 LEI DAS PROPORÇÕES DEFINIDAS ..................................................................................... 167 5 BALANCEAMENTO DE REAÇÕES............................................................................................ 168 6 CLASSIFICAÇÕES DAS REAÇÕES QUÍMICAS .................................................................... 170 6.1 REAÇÃO DE SÍNTESE OU ADIÇÃO ...................................................................................... 171 6.2 REAÇÃO DE ANÁLISE OU DECOMPOSIÇÃO ................................................................... 171 6.3 REAÇÃO DE DESLOCAMENTO OU SIMPLES TROCA .................................................... 173 6.4 REAÇÃO DE DUPLA-TROCA ................................................................................................. 174 RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................176 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 180 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA ....................................................... 183 TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE ................................................................................................. 185 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 185 2 HISTÓRICO DA RADIOATIVIDADE ....................................................................................... 186 3 EMISSÕES RADIOATIVAS .......................................................................................................... 189 3.1 PARTÍCULAS ALFA ................................................................................................................... 191 3.2 PARTÍCULAS BETA ................................................................................................................... 191 3.3 RADIAÇÃO GAMA ................................................................................................................... 192 3.4 COMPARATIVO DA EMISSÕES RADIOATIVAS ................................................................. 193 4 REAÇÕES NUCLEARES ................................................................................................................ 196 4.1 LEIS DA RADIOATIVIDADE ................................................................................................... 197 4.1.1 Primeira lei da radioatividade ......................................................................................... 197 4.1.2 Segunda lei da radioatividade ......................................................................................... 198 4.2 SÉRIES RADIOATIVAS .............................................................................................................. 199 5 CINÉTICA RADIOATIVA ............................................................................................................. 201 5.1 DECAIMENTO RADIOATIVO ................................................................................................ 201 5.2 ATIVIDADE ................................................................................................................................. 202 5.3 MEIA-VIDA ................................................................................................................................. 203 5.4 VIDA MÉDIA .............................................................................................................................. 207 6 FISSÃO E FUSÃO ............................................................................................................................ 208 7 APLICAÇÕES ................................................................................................................................... 210 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 215 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 217 TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS ...................................................................................... 219 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 219 2 UNIDADE DE MASSA ATÔMICA ............................................................................................. 220 2.1 MASSA DE UM ELEMENTO ................................................................................................... 221 2.2 MASSA MOLECULAR E MASSA FÓRMULA ...................................................................... 221 3 MOL .................................................................................................................................................... 222 3.1 CONSTANTE DE AVOGADRO ............................................................................................... 222 3.2 MASSA MOLAR ......................................................................................................................... 223 3.3 VOLUME MOLAR ..................................................................................................................... 224 4 CÁLCULO ESTEQUIOMÉTRICO ............................................................................................... 225 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 229 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 230 TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS ........................................................................................... 233 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 233 2 SUBSTÂNCIA PURA E MISTURA .............................................................................................. 233 2.1 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS .................................................................... 235 3 CLASSIFICAÇÃO DAS DISPERSÕES ....................................................................................... 241 3.1 SUSPENSÃO ................................................................................................................................ 241 3.2 COLOIDE ..................................................................................................................................... 242 3.3 SOLUÇÃO.................................................................................................................................... 244 4 ESTUDO DAS SOLUÇÕES ........................................................................................................... 244 4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES ....................................................................................... 245 4.1.1 De acordo com o estado físico da solução ...................................................................... 245 4.1.2 De Acordo com a natureza do soluto ............................................................................. 246 4.1.3 De acordo com a solubilidade do soluto ........................................................................ 247 4.2 UNIDADES DE CONCENTRAÇÃO DAS SOLUÇÕES ....................................................... 251 4.2.1 Título.................................................................................................................................... 251 4.2.2 Concentração comum ........................................................................................................ 252 4.2.3 Concentração em quantidade de matéria por volume ................................................. 253 4.2.4 Concentração em quantidade de matéria por massa ................................................... 253 4.2.5 Relacionando as concentrações ........................................................................................ 254 4.3 VARIAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ...................................................................................... 254 4.3.1 Diluição e concentração de soluções ............................................................................... 254 4.3.2 Mistura de soluções com o mesmo soluto ..................................................................... 255 4.3.3 Mistura de soluções com solutos diferentes que não reagem entre si ....................... 256 4.3.4 Mistura de soluções com solutos diferentes que reagem entre si............................... 257 LEITURA COMPLEMENTAR.......................................................................................................... 261 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 263 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 265 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 267 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À QUÍMICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar as unidades fundamentais da matéria; • diferenciar os modelos atômicos e reconhecer as observações que levaram a sua evolução; • realizar a distribuição eletrônica utilizando o Diagrama de Linus Pauling assim como identificar os quatro números quânticos; • reconhecer a organização atual da tabela periódica e os elementos que a compõe; • compreender a estabilidade química dos elementos através da Regra do Octeto; • identificar e diferenciar as ligações iônicas, covalentes e metálicas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresen- tado. TÓPICO 1 – CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA TÓPICO 2 – TABELA PERIÓDICA TÓPICO 3 – LIGAÇÕES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULA- RES Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 —UNIDADE 1 CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 1 INTRODUÇÃO Olá, caro acadêmico! Iniciamos nossos estudos em Química Geral com a constituição da matéria, portanto, reflita sobre o que é apresentado a seguir. Tudo que está a nossa volta, que podemos tocar, que possui massa e ocupa um lugar no espaço, ou seja, possui volume, é denominado matéria. A matéria foi algo que sempre intrigou pensadores e cientistas ao longo dos séculos. Nos dias atuais, sabemos que os átomos são responsáveis pela constituição da matéria, porém esta ideia pode ser considerada “recente”. Neste tópico vamos abordar a evolução dos modelos atômicos e da ideia do que constitui a matéria, assim como características e classificações dela. Para isso iremos dos filósofos gregos até os maiores cientistas da história da Química e suas contribuições para esta área. 2 UMA BREVE HISTÓRIA DA QUÍMICA Os seres humanos começaram a estabelecer seu conhecimento sobre a química das coisas na pré-história com o domínio do fogo. O domínio desse recurso permitiu a diversas civilizações a manipulação de metais e consequen- temente o desenvolvimento de diversos utensílios, objetos e armas. Além disso, aprender a “produzir” fogo proporcionou a estas civilizações iluminação e pro- teção contra o frio. A GUERRA DO FOGO Título: A Guerra do Fogo (La Guerre du Feu) Direção: Jean-Jacques Annaud Ano: 1981 Duração: 125 minutos Sinopse: Esse filme franco-canadense, bastante premiado, conta a história de uma batalha entre duas tribos da Pré-História em torno da posse e da produção do fogo, tecnologia de grande importância na evolução humana. DICAS UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 4 Com o avanço dos conhecimentos a respeito da natureza e mesmo antes da química se estabelecer como ciência, houve a alquimia. A alquimia surgiu por volta do século IV a.C. e foi a precursora da química. Ela era uma mistura de arte, ciência e magia, e apresentava uma forma mais mística e misteriosa de observar a natureza. Vários povos se destacaram pelos estudos alquímicos, como egípcios, gregos, chineses, árabes etc. A alquimia possuía dois objetivos principais a serem alcançados, sendo eles: • A pedra filosofal: ela seria capaz de realizar a transmutação de materiais comuns em ouro. • O elixir da vida: material que teria a propriedade de garantir cura das enfermidades do corpo, assim como, juventude e vida eterna. Apesar de nenhum dos dois objetivos terem sido alcançados, a alquimia, durante seu auge, permitiu a descoberta de diversos elementos e substâncias, a elaboração de várias técnicas e vidrarias de laboratórios que fazem parte da Química atual. FIGURA 1 – LABORATÓRIO ALQUÍMICO FONTE: <https://bit.ly/2yByxiY>. Acesso em: 8 abr. 2020 A química, como uma das áreas das ciências naturais, é recente e tem seu início datado por volta do final do século XVIII e marcado por trabalhos de dois estudiosos: Robert Boyle (1627-1691) e Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794). TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 5 Tanto Robert Boyle quanto Antoine-Laurent de Lavoisier aplicaram o uso de experimentos planejados com o propósito de responder a um questionamento, para isso realizavam observações e medidas assim como elaboraram hipóteses e testaram-nas. Isso permitiu a generalização de muitos conceitos. A partir deste ponto a análise da matéria e suas transformações adquiriu um caráter mais científico e deixou de lado o misticismo da Alquimia. 2.1 MÉTODO CIENTÍFICO A forma de trabalho de Boyle e Lavoisier são conhecidas atualmente como o método científico. O método científico estabelece uma sequência a ser seguida a fim de se comprovar uma hipótese, para isso há uma estrutura bem definida que pode ser seguida em qualquer área das ciências e até mesmo no cotidiano. Veja a estrutura a seguir: FIGURA 2 – ESTRUTURA DO MÉTODO CIENTÍFICO FONTE: O autor UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 6 Note que a química atual está embasada na experimentação, então após observar algum fenômeno, caracterizar um problema a ser solucionado e fazer um levantamento de dados deve-se elaborar uma hipótese que possa responder ao questionamento ligado ao problema. A verificação da hipótese se dá através de um experimento. Ao comparar os resultados obtidos com a hipótese formulada dois ca- minhos podem ser seguidos, caso os dados indiquem que a hipótese é verdadeira en- tão teremos uma lei ou teoria. Caso a experimentação refute a hipótese nós voltamos ao ponto de elaboração para uma nova hipótese até que a mesma seja verdadeira. 3 MODELOS ATÔMICOS A química possui como objetivo estudar a matéria a suas transformações. No entanto, do que a matéria é constituída? Essa é uma pergunta que sempre intrigou muitos filósofos e cientistas ao longo dos anos. O conceito do que constitui a matéria é algo que evoluiu com o passar dos anos, principalmente pelo fato de que a ciência é algo em constante construção. A descoberta de novas tecnologias levou ao desenvolvimento dos conhecimentos ligados à interpretação da constituição da matéria. Atualmente, muito se fala sobre os átomos e a pesquisa constante para desvendar cada mistério do seu interior, mas até chegarmos neste nível de conhe- cimento a humanidade caminhou um longo caminho, iniciado com os filósofos gregos. 3.1 OS GREGOS E A CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA Há pouco mais de 2500 anos, os filósofos gregos foram os primeiros a sugerir e discutir sobre qual seria a constituição da matéria. Podendo-se destacar as seguintes ideias: • Tales de Mileto (c.624 a.C. – c.558 a.C.) – Propôs que todo o universo era com- posto de água. • Anaxímenes (c.585 a.C. – c.524 a.C.) – Acreditava que a base de tudo era o ar. • Heráclito (c.540 a.C. – c.475 a.C.) – Este filósofo propôs que tudo era composto de fogo. • Empédocles (c.490 a.C. – c.435 a.C.) – Unificou os elementos água, ar e fogo ao elemento terra, propondo a teoria dos quatro elementos, para ele essa teoria era regida por amor (união) e ódio (separação). Todavia, entre todas as concepções gregas a que merece certo destaque é a proposta por Leucipo (c.480 a.C. – c.420 a.C.) e defendida por seu pupilo Demó- crito (c.460 a.C. – c.370 a.C.). Para eles, por hipótese, ao fragmentar uma porção de matéria sucessivas vezes ao meio chegaríamos em uma unidade imaginária, invisível e indivisível, o átomo.TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 7 Posteriormente, a Leucipo e Demócrito tivemos a influência de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Ele criticou a teoria atomística e retomou os conceitos da teoria dos quatro elementos, expandindo-a. Para Aristóteles, os quatro elementos mantinham uma relação entre si através de amor e ódio e essa relação seria responsável pelas características seco, quente, úmido e frio. FIGURA 3 – TEORIA DOS QUATRO ELEMENTOS FONTE: <https://bit.ly/2zlA0ur>. Acesso em: 9 abr. 2020. A palavra átomo vem do grego ἄτομος, sendo a = não e tomos = partes, ou seja, sem partes, melhor traduzido como indivisível, uma forma de expressar o conceito abordado pelos filósofos Leucipo e Demócrito. NOTA UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 8 É importante destacar que não se deve comparar os conhecimentos adqui- ridos pelos filósofos gregos com os trabalhos sobre a constituição da matéria di- fundidos a partir do Século XVIII, pois estes estavam embasado na experimenta- ção, já as ideias dos filósofos gregos valorizavam as atividades mentais, visto que trabalhos manuais eram característicos de escravos (NOVAIS; ANTUNES, 2016). 3.2 TEORIA ATÔMICA DE DALTON O primeiro modelo atômico de destaque que surge após o século XVIII é o modelo proposto pela teoria atômica do químico inglês John Dalton (1766- 1844). Não se pode estabelecer ao certo quais foram os tópicos que levaram ao desenvolvimento desta teoria, visto que muitas eram as influências sobre ela, porém, segundo Melzer e Aires (2015), dois pontos podem ser destacados: • Dalton baseou sua proposta em uma teoria ligada a seus estudos acerca da física proposta por Isaac Newton, ancorada no corpuscularismo newtoniano; • E através de seus estudos sobre misturas gasosas, com todas as discussões e críticas feitas pelos seus contemporâneos que o fizeram analisar e conceber uma união entre a proposta Newtoniana de partícula com as propostas de afinidade química, ambas apresentadas em sua época. O corpuscularismo é uma teoria física, estudada principalmente pelo cientista inglês Isaac Newton (1643-1727), que propõe que a matéria é composta por partículas minúsculas, denominadas corpúsculos. Essa teoria é similar à teoria atomística, porém, se difere no fato de que, no caso dos corpúsculos, eles poderiam, em princípio, ser divididos. NOTA Além disso, outra influência observada por Dalton para elaboração de sua teoria foram as leis ponderais de Lavoisier (Lei da Conservação das Massas) e Proust (Lei das Proporções Definidas). Por fim a teoria atômica de Dalton, apresentada através de publicações do cientista entre os anos de 1804 e 1827, apresenta as seguintes características: • O átomo é formado por uma esfera corpuscular maciça e indivisível. • Os elementos químicos são a junção de átomos com a mesma massa, tamanho e propriedades. • Os elementos químicos diferentes possuem propriedades diferentes, tais como tamanho e massa. • A combinação de átomos de elementos diferentes forma “átomos compostos” (atualmente chamados de moléculas). TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 9 • Durante uma reação química os átomos não são criados, nem destruídos, são reorganizados, formando novas substâncias. O modelo atômico de Dalton proveniente de sua teoria atômica era imaginado como sendo uma esfera maciça, indivisível e indestrutível, sendo que esta representação do átomo ficou conhecida como Modelo da Bola de Bilhar. FIGURA 4 – MODELO ATÔMICO DE DALTON FONTE: O autor 3.3 TEORIA ATÔMICA DE THOMSON A evolução das teorias atômicas é algo natural, visto que o avanço da ciência permite chegar a conclusões que eram experimentalmente impossíveis no passado. Segundo Novais e Antunes (2016, p. 85): Apesar de a teoria atômica de Dalton, divulgada no início do século XIX, ter sido importante para os avanços da Química e de ainda hoje valer para a compreensão de inúmeros fenômenos que estudamos, ela não permite explicar uma série de fatos experimentais, alguns dos quais passaram a ser conhecidos durante o século XIX. Dentre os fenômenos não explicados pela teoria atômica de Dalton, podemos destacar o fato de ela não explicar a eletrização de corpos por atrito e as reações químicas provocadas por passagem de corrente elétrica, ou seja, a teoria de Dalton não explicava a natureza elétrica da matéria. O responsável por introduzir a natureza elétrica da matéria foi Joseph John Thomson (1856-1940), mas para que possamos entender seu trabalho, precisamos falar sobre as pesquisas que ocorreram ao longo do século XIX. Ao longo do século XIX, vários cientistas buscavam entender os fenômenos elétricos e para isso realizavam experimentos com tubos de descarga elétrica. Armazenados a baixas pressões, gases eram contidos nestes recipientes nos quais eram realizadas descargas elétricas. A diminuição da pressão era realizada com o uso de uma bomba de vácuo e o dentro dos tubos de vidro havia duas placas metálicas (cátodo e ânodo) ligadas por fios a fontes de alta tensão, conforme o esquema a seguir: UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 10 FIGURA 5 – TUBO DE DESCARGA ELÉTRICA FONTE: <https://bit.ly/2VOd12I>. Acesso em: 9 abr. 2020. Um dos cientistas que realizou estes estudos foi William Crookes (1832- 1919). Ele realizou seus testes em baixíssimas pressões, e ao fazer isso, observou que certa luminosidade aparecia na parede do tubo em frente ao cátodo. Então, esses raios, que partiam em linha reta do cátodo na direção oposta a ele, foram denominados de raios catódicos. Thomson, ao trabalhar com raios catódicos, realizou algumas observações importantes a respeito deles: • eles possuíam massa, pois ao inserir dentro do tubo de vidro uma pequena hélice se movia com a incidência dos raios catódicos; • uma pequena cruz dentro do tubo de vidro era capaz de deter os raios catódicos, formando uma sombra sobre na parede de vidro; • os raios catódicos mudavam de direção ao serem colocados entre duas placas carregadas, desviando-se em na direção da placa positiva; • independentemente do gás utilizado no tubo de vidro a relação entre carga e massa era sempre a mesma. Assim, Thomson concluiu que: • os raios catódicos são formados por feixes de partículas carregadas negativa- mente; • todos os átomos da matéria possuem estas partículas (conhecidas como elé- trons). • como os corpos são neutros, Thomson propôs que o átomo deveria ser formado por uma massa de carga positiva de mesmo valor, porém de sinal contrário a soma das cargas dos elétrons (cargas negativas) que estavam incrustados nele. O modelo atômico proposto por Thomson ficou conhecido como Modelo do Pudim de Passas e se assemelha ao que é apresentado na imagem a seguir: TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 11 FIGURA 6 – MODELO ATÔMICO DE THOMSON FONTE: O autor 3.4 TEORIA ATÔMICA DE RUTHERFORD O modelo atômico de Thomson foi bem aceito por muitos anos, porém, depois do início do século XX, Ernest Rutherford (1871-1937) e alguns colaborado- res, através de alguns experimentos realizados na Inglaterra, propuseram um novo modelo atômico que levaria à substituição do modelo de Thomson (RUSSEL, 2002). A descoberta da radioatividade Em 1890, descobriu-se que certos elementos são radioativos. Isto significa que eles emitem radiação de alta energia, da qual há três tipos: partículas alfa (α), partículas beta (β)e raios gama (γ). FONTE: RUSSELL, J. B. Química geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2002. v. 1. ESTUDOS FU TUROS Rutherford, junto aos cientistas E. Marsden e H. Geiger, realizaram uma experiência em que um fluxo de partículas alfa, emitida por uma amostra de polônio radioativo, atingia folhas finas de diversos materiais. Os cientistas observaram, segundo Russel (2002, p.236), que [...] embora muitas partículas atravessassem as folhas em linha reta, algumas foram espalhadas ou desviadas da linha reta. Os três cientistas ficaram intrigados pelo espalhamento da partícula alfa (o que causou o desvio e por que somente algumas das partículasforam desviadas?) e projetaram um aparelho para medir o ângulo do desvio sofrido pelas partículas alfa, quando estas passavam através de uma folha extremamente fina de ouro. O experimento descrito é apresentado na figura a seguir. UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 12 FIGURA 7 – EXPERIMENTO DE RUTHERFORD FONTE: <https://bit.ly/3f4Gzlq>. Acesso em: 11 abr. 2020. Note que o experimento consiste em (1) uma amostra de polônio den- tro de (2) um bloco de chumbo provido de uma abertura estreita e partindo da amostra dentro do bloco há (3) um feixe de partículas alfa que vão em direção (5) a uma finíssima lâmina de ouro (0,0001 mm de espessura). Ao atingir a lâmina no ponto 6, observa-se que (7) grande parte das partículas alfa atravessa a lâmina com pouco ou nenhum desvio e atinge (4) um anteparo revestido por uma cama- da de sulfeto de zinco (ZnS) fosforescente onde é detectada com a formação de uma marcação. Os resultados eram interessantes, pois, mesmo como pouquíssimos desvios ocorridos, a amplitude dos ângulos ia de valores muito pequenos até valores acima de 90°. Fato que intrigou os cientistas, pois de acordo com o modelo de Thomson, as partículas alfa deveriam atravessar sem desvio (Figura 8). FIGURA 8 – RESULTADO ESPERADO PARA O MODELO DE THOMSON FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2W6DCYS>. Acesso em: 11 abr. 2020. TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 13 De acordo com o modelo de Thomson, Rutherford já esperava que as partículas alfa atravessassem sem sofrer desvio: Ele raciocinou que isto ocorreria se a massa e carga elétricas positiva e negativa estivessem espalhadas mais ou menos ao acaso através de cada átomo na folha. Tal distribuição difusa de massa poderia significar que nada seria muito sólido para uma partícula alfa atravessar, e a carga positiva carregada pela partícula não seria influenciada por nenhuma concentração alta de carga positiva ou negativa localizada na folha (RUSSEL, 2002, p. 237). A partir dos dados obtidos, em 1911, Rutherford propôs um novo modelo atômico baseado nas interpretações dos resultados observado na experiência, conforme a Tabela 1. TABELA 1 – DADOS DA EXPERIÊNCIA DE RUTHERFORD OBSERVAÇÃO INTERPRETAÇÃO A maioria das partículas alfa (α) atravessou a folha de ouro sem sofrer nenhuma deflexão. O átomo é principalmente espaço vazio. Algumas partículas alfa (α) foram defletidas com pequenos ângulos. Há um núcleo carregado com carga positiva, assim como as partículas alfa (α) Ocasionalmente, uma partícula alfa (α) retorna ao atingir a folha de ouro. O núcleo do átomo concentra praticamente toda sua massa. FONTE: O autor Para Rutherford, o átomo então possuía duas regiões distintas, o núcleo que possuía carga positiva e concentrava praticamente toda massa do átomo e a região em volta dele, chamada de eletrosfera, em que os elétrons de carga negativa circulavam. FIGURA 9 – MODELO ATÔMICO DE RUTHERFORD FONTE: O autor UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 14 Afinal de contas, do que é composto o núcleo atômico? Em 1914, Rutherford demonstrou a existência de uma partícula que tem uma massa muito maior do que o elétron e tem a carga igual em gran- deza à de um elétron, mas de sinal oposto, isto é, positivo ao invés de negativo. Rutherford sugeriu que a carga positiva de um núcleo atômi- co se deve à presença de um número destas partículas, que em 1920 ele denominou prótons (RUSSEL, 2002, p. 238-239, grifo do autor). Rutherford observou que os prótons descreviam apenas cerca de metade da massa nuclear. Ele sugeriu a existência de outra partícula, também presente no núcleo, de massa aproximada ao dos prótons e sem carga. Todavia, essa partícula só foi descoberta em 1932 pelo físico britânico James Chadwick (1891-1974) e denominada nêutron (BRADY; HUMISTON, 1986). O modelo de Rutherford é ainda útil nos dias de hoje, de forma didática, porém, ele acabou apresentando uma contradição que levou a modificação deste modelo. Essa contradição consiste no fato de que, se elétrons de carga negativa circulam um núcleo de carga positiva, eles deveriam perder energia na forma de radiações eletromagnéticas e percorrer uma trajetória espiralada até atingir o núcleo, fato que não ocorre. FIGURA 10 – CONTRADIÇÃO DO MODELO DE RUTHERFORD FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/35nXVoQ>. Acesso em: 11 abr. 2020. Para que você tenha uma ideia da relação entre o tamanho do átomo e o tamanho do núcleo, imagine o seguinte: se aproximássemos a visualização do átomo ao ponto de que o núcleo atômico possuísse o tamanho de uma bola de tênis, o diâmetro do total átomo seria de aproximadamente 6,4 km. INTERESSANTE TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 15 3.5 TEORIA ATÔMICA DE BOHR Apesar de ser revolucionário, o modelo atômico de Rutherford não pôde explicar o comportamento dos elétrons que circulavam o núcleo atômico. Esse comportamento só foi explicado em 1913, pelo físico dinamarquês Niels Henrik David Bohr (1885-1962). Segundo Nahra (2018), Bohr propôs alguns postulados que fundamentavam seu modelo atômico, sendo eles apresentados a seguir: • Os elétrons percorrem órbitas circulares ao redor do núcleo, denominadas órbitas estacionárias. • Cada órbita circular apresenta uma energia constante. Logo, os elétrons não absorvem nem emitem energia ao descreverem uma órbita estacionária. • Os elétrons são capazes de ocupar apenas os níveis que contêm uma certa quantidade bem definida de energia, levando em conta valores exatos de energia de acordo com a órbita estacionária na qual se encontram. Os elétrons não possuiriam, portanto, a capacidade de ocupar estados intermediários de energia. • Os elétrons localizados em órbitas mais afastadas do núcleo possuiriam maiores valores de energia. • Ao absorver certa quantidade de energia, o elétron deve saltar para uma órbita mais energética. Ao retornar à sua órbita original, o elétron libera o mesmo valor de energia que foi absorvido no salto quântico. A liberação de energia, conhecida como fóton, ocorre na forma de onda eletromagnética. Essa energia apresenta um valor idêntico à diferença de energia entre as órbitas circulares em questão. Postulado é uma afirmação ou fato que se toma como ponto de partida de uma argumentação e que não possui necessidade de demonstração. NOTA Considerando os postulados, o modelo de Bohr pode ser representado pela Figura 11. UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 16 FIGURA 11 – MODELO ATÔMICO DE BOHR FONTE: <https://bit.ly/2KRDw21>. Acesso em: 11 abr. 2020. Bohr introduziu o conceito de energia quantizada ao átomo, ou seja, os elétrons só poderiam ocupar determinados níveis de energia. Estes níveis, numerados de 1 a 7, são representados pelas letras, K, L, M, N, O, P e Q. Os níveis mais internos possuem menor energia e os mais externos, maior energia. Assim, ao saltar de um nível mais interno para um mais externo o elétron precisaria absorver energia, este estado é denominado de estado excitado. Quando este mesmo elétron retorna para seu nível de origem ele precisa liberar esta energia, na forma de radiação eletromagnética, sendo este estado denominado estado fundamental. Os saltos quânticos realizados pelos elétrons explicam a coloração dos fogos de artifícios e das cores das luzes de letreiros luminosos. Cada elemento químico possui órbitas com diferentes valores de níveis de energia, consequentemente ao retornar para o estado fundamental, os elétrons irão liberar uma quantidade de energia na forma de luz visível que será característica do átomo. Você pode saber mais sobre este assunto acessando https://bit.ly/2KRDw21 e/ou https://bit.ly/2SLnCe0. DICAS O modelo de Bohr, apesar de uma contribuição importante, também apresentou limitações. Segundo Tenfen e Tenfen (2017, p. 227) há: [...] uma falha séria no poder descritivo do modelo atômico de Bohr: a incapacidade de descrição quantitativa dos espectros de emissão para átomos com mais de um elétron. Ainda que o modelo possua grande mérito na descrição dasenergias de estados fundamentais e energias de ionização para átomos com poucos elétrons, a referida falha surge de forma natural, pois a mecânica clássica, utilizada fortemente no modelo de Bohr, limita a descrição dos estados estacionários dos átomos. TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 17 Didaticamente, os modelos de Rutherford e Bohr são comumente utilizados como modelo Rutherford-Bohr em sala de aula, a fim de simplificar a compreensão do modelo atômico. Todavia, o modelo atual leva em consideração a contribuição de outros cientistas. 3.6 MODELOS ATÔMICO ATUAL O modelo atômico atual é uma grande colaboração entre os cientistas Erwin Schrödinger (1887-1961), Louis Victor de Broglie (1892-1987) e Werner Hei- senberg (1901-1976). A partir de uma nova visão, denominada de mecânica ondu- latória, eles reuniram todos os conhecimentos já adquiridos por outros cientistas, como os citados até agora, e desenvolveram uma nova teoria do modelo atômico. A mecânica quântica estabelece que só é possível estudar o comportamento de sistemas microscópicos em termos de “probabilidades”. Assim, não é permitido utilizarmos expressões, como a trajetória de um elétron, mas sim a região de maior probabilidade de se encontrar um elétron, que é o orbital atômico, passando esses sistemas a serem descritos por uma função de onda, representada pela letra grega Ψ (Psi). FONTE: OLIVEIRA, Ótom Anselmo de; FERNANDES, Joana D’arc Gomes. Arquitetura Atômica e Molecular: o modelo atômico atual e os números quânticos. Natal: EDUFRN, 2006. 280 p. Disponível em: https://docente.ifrn.edu.br/denilsonmaia/o-modelo-atomi- co-atual. Acesso em: 8 maio 2020. IMPORTANTE Basicamente, este modelo leva em consideração o princípio da incerteza de Heisenberg e o princípio de dualidade de Broglie, onde qualquer corpúsculo atômico teria um comportamento de onda ou partícula. Enquanto isso, [...] Schrödinger formulou uma equação de onda para descrever o com- portamento de sistemas microscópicos, em que considerava o comporta- mento dualístico de uma partícula se movimentando em três dimensões de se encontrar num instante qualquer um dado elétron numa determina- da região do espaço (OLIVEIRA; FERNANDES, 2006, p.2). Assim, a ideia que se tinha sobre as órbitas acabou ficando incoerente e foi substituída pelo conceito de probabilidade, em que se podia determinar uma região provável para encontrar os elétrons. UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 18 FIGURA 12 – MODELO ATÔMICA ATUAL FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2A5ikU1>. Acesso em: 8 maio 2020. A composição da matéria passou por diversas transformações, indo da teoria dos quatro elementos ao átomo indivisível, passando pela apresentação de um átomo carregado eletricamente e até mesmo se tornando descontínuo, mas to- das as contribuições levaram ao que é o átomo atualmente, uma estrutura regida por mecânica quântica extremamente complexa. Lembre, acadêmico, as ciências estão em constante transformação e quanto mais avançamos em termos de conhe- cimento e tecnologia, a concepção de átomo poderá acompanhar este avanço se transformar em algo diferente no futuro. É importante saber que podemos ir além de prótons, nêutrons e elétrons na representação do átomo. Sabemos que existem estruturas ainda menores e mais elementares, chamadas de quarks e léptons, estudadas pela Física de Par- tículas. Estas partículas elementares são responsáveis pela estrutura de prótons e nêutrons. Os elétrons são a mais conhecida representação dos léptons. Não se conhece algo além desse ponto em nível subatômico. Para saber mais sobre este assunto veja a leitura complementar ao final deste tópico. 4 ESTRUTURA ATÔMICA O átomo de forma didática, como foi descrito anteriormente, é trabalhado com o modelo Rutherford-Bohr, portanto, é importante relembrar algumas informações: TABELA 2 – COMPOSIÇÃO DO ÁTOMO REGIÃO PARTÍCULA SÍMBOLO CARGA ELÉTRICA RELATIVA MASSA RELATIVA MASSA (kg) Núcleo Próton p+ 1 1 1,6725.10-27 Nêutron n 0 1 1,6748.10-27 Eletrosfera Elétron e- -1 1/1836 9,1096.10-31 FONTE: O autor TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 19 Através destas informações, é possível de se obter outros dados impor- tantes, como número atômico, número de massa e massa atômica. 4.1 NÚMERO ATÔMICO, NÚMERO DE MASSA E MASSA ATÔMICA O número atômico, representado por Z, é igual à quantidade de prótons presentes num determinado átomo. Este número é uma espécie de “impressão digital” do átomo, sendo que cada um deles possuirá um número diferente. Dessa forma nunca existirá dois átomos de elementos diferentes que possuam o mesmo número atômico. Z = nº de prótons (p⁺) O símbolo Z atribuído ao número atômico deve-se à palavra alemã “Zahl”, que significa “número”. Este número corresponde à ordem dos elementos químicos na Tabela Periódica. NOTA O número de massa, representado por A, indica a soma do número de prótons (p+) e nêutrons (n) presentes no núcleo atômico. A = p++n Considerando que o número atômico é igual ao número de prótons, a equação poderia ser reescrita assim: A = Z + n Note que isolando o n na equação é possível chegar ao número de nêutrons do átomo. A massa atômica (MA), que representa a massa de um átomo, normalmente é “expressa pelo uso de uma unidade extremamente pequena, chamada de unidade de massa atômica, abreviada u [...]” (RUSSEL, 2002, p. 74), sendo que a unidade de massa atômica (u) equivale a 1/12 avos da massa do isótopo de carbono-12 (O conceito de isótopos será trabalhado mais a frente). A título de conhecimento, 1u equivale aproximadamente a 1,66.10-24g. UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 20 A massa atômica apresentada na tabela periódica é obtida por uma média ponderal, considerando a abundância e as massas de todos os isótopos do elemento presentes na natureza, veja o exemplo a seguir: TABELA 3 – ABUNDÂNCIA DOS ISÓTOPOS DE OXIGÊNIO ISÓTOPO MASSA ATÔMICA (u) ABUNDÂNCIA (%) Oxigênio – 16 15,9949 99,76 Oxigênio – 17 16,9991 0,03 Oxigênio – 18 17,9991 0,21 FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3dw3Xa2>. Acesso em: 8 maio 2020. Considerando os dados, podemos calcular a média ponderal da seguinte forma: Para o nosso exemplo: Cuidado para não confundir a massa atômica com o número de massa. Apesar de os números coincidirem, a massa atômica também considera a massa dos elétrons presentes no átomo. Lembre-se, porém, de que os elétrons possuem massa praticamente desprezível dessa forma não interferem significativamente no valor da massa atômica, o que justifica a coincidência de valores. 4.1.1 Elementos químicos e sua representação Os elementos químicos são definidos como grupos de átomo que pos- suem no seu núcleo o mesmo número de prótons, ou seja, o mesmo número atô- mico. Sob outra perspectiva, os átomos são a menor representação de um elemen- to químico. A União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC – Internatio- nal Union of Pure and Applied Chemistry) determina a forma correta de representar um elemento químico, conforme é apresentado na imagem a seguir. TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 21 FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO DOS ELEMENTOS FONTE: O autor O nome dos elementos tem várias origens, alguns derivam de palavras em latim, outro de nomes de planetas, cientistas ou até mesmo locais de descoberta. Consequentemente seus símbolos têm base nos seus nomes e são representados por uma ou duas letras, sendo que a primeira letra está sempre em maiúsculo e a segunda em minúsculo. Estes símbolos são encontrados na Tabela Periódica. Para saber mais sobre a história dos elementos químicos, acesse os dois infográficos criados pelo site Compound Interest (www.compoundchem.com) que são disponibilizados a seguir: Descoberta dos Elementos – https://bit.ly/3cb8tcL Origem dos Nomes dos Elementos – https://bit.ly/2XG5ofr DICAS 4.2 ÍONS Naturalmente, os átomos tendem a ganhar ou perder elétrons devido à necessidade de adquirirem estabilidade. Esta estabilidade, no geral, está ligada a Teoria do Octeto,que será abordada ainda nesta unidade, mas que de forma resumida indica que para um átomo estar estável ele precisa possuir 8 elétrons na camada mais externa da sua eletrosfera, denominada Camada de Valência. Quando átomos neutros ganham ou perdem elétrons eles são denominados íons, de forma mais específica, ao ganharem elétrons eles se tornam ânions e ao perderem se tornam cátions. Ânions são frutos de átomos neutros que ganharam elétrons e são representados com a utilização de uma carga de sinal negativo, conforme é UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 22 apresentado na Figura 14. O que geralmente causa grande confusão é: se eles ganham elétrons porque o sinal da carga é negativo? Veja a figura a seguir: FIGURA 14 – ÁTOMO DE OXIGÊNIO PERDENDO ELÉTRONS FONTE: O autor Note que no átomo neutro há uma igualdade de cargas positivas e negativas, ou seja, o número de prótons é igual ao número de elétrons. Quando este átomo ganha 2 elétrons o balanceamento de carga se torna diferente. A carga que se encontra em excesso é a negativa, mas especificamente 2-. Neste caso o átomo de oxigênio será representado como . Para os cátions, onde há perda de elétrons, temos a representação como o sinal positivo, o que acaba gerando uma pergunta similar: se há perda de elétrons, qual o motivo do sinal positivo? 2-16 8O 16 8O TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 23 FIGURA 15 – ÁTOMO DE SÓDIO GANHANDO ELÉTRONS FONTE: O autor Assim como os ânions, os cátions apresentam uma diferença entre cargas positivas e negativas. Neste caso, há um excesso de cargas positivas. No nosso exemplo apresentado na Figura 15, o cátion de magnésio apresenta dois prótons a mais que elétrons, sendo assim, o átomo ao perder elétrons será represen- tado como . 4.3 SEMELHANÇAS ATÔMICAS Ao apresentar a determinação da massa atômica a palavra isótopo apareceu, porém não foi definida. Portanto, antes de defini-la vamos abordar um pouco este tema. Segundo Bustillos (2019, p. 42), “o primeiro cientista que descobriu a existência dos isótopos foi J. J. Thomson em 1912. Ele mesmo construiu um espectrômetro de massas e explorou os íons positivos de Neônio, ele descobre a existência de dois isótopos Ne-20 e Ne-22”. É importante destacar, porém, que a denominação isótopo só foi introduzida em 1913 por Frederick Soddy (1877- 1956), químico inglês que ganhou o Nobel de química em 1921 por seus trabalhos envolvendo isótopos radioativos. Outro grande nome por trás do estudo dos isótopos foi o físico e químico britânico Francis William Aston (1877-1945), ganhador do Nobel de química de 1922, pela descoberta de isótopos de grande número de elementos não radioativos (MEDEIROS, 1999). 21 12Mg2+ 21 12Mg UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 24 Afinal de contas, o que são isótopos? Isótopos são átomos que possuem o mesmo número de prótons, porém apresentam diferentes números de massa. A iso- topia não é a única semelhança atômica que pode se apresentar entre dois ou mais átomos, além dela podemos falar sobre isóbaros, isótonos e isoeletrônicos. Na tabela a seguir, você pode verificar cada uma das semelhanças atômicas e suas definições. TABELA 4 – SEMELHANÇAS ATÔMICAS FONTE: O autor 4.4 DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA Os elétrons são distribuídos na eletrosfera por níveis (K, L, M, N, O, P e Q) e subníveis (s, p, d e f), respeitando a ordem de aumento da energia, de acordo com um diagrama de distribuição proposto pelo químico estadunidense Linus Carl Pauling (1901-1994). Este diagrama é conhecido como Diagrama de Linus Pauling, ou simplesmente Diagrama de Pauling. Para saber mais sobre a descoberta dos isótopos leia o artigo Aston e a descoberta dos Isótopos, escrito por Alexandre Medeiros e publicado pela revista Química Nova na Escola. Acesse pelo link https://bit.ly/3bpgM4b. DICAS TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 25 Antes de apresentar o diagrama proposto por Pauling, é importante destacar que este diagrama considera uma quantidade máxima de elétrons que cada nível e subnível comporta. TABELA 5 – NÚMEROS MÁXIMOS DE ELÉTRONS POR NÍVEL FONTE: O autor TABELA 6 – NÚMEROS MÁXIMOS DE ELÉTRONS POR SUBNÍVEL FONTE: O autor Considerando o aumento de energia de níveis e subníveis, o Diagrama de Pauling se organiza da seguinte maneira: UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 26 FIGURA 16 – DIAGRAMA DE LINUS PAULING FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2T2rhEd>. Acesso em: 10 maio 2020. A distribuição eletrônica deve seguir a sequência apresentada pela seta do diagrama. Conforme os níveis e subníveis de menor energia são preenchidos a sequência segue para os de maior energia. Ao fazer a distribuição eletrônica para átomos neutros devemos lembrar que o número de elétrons é igual ao número de prótons, e este é igual ao número atômico. Portanto, por exemplo, para o elemento níquel (28Ni) teríamos a seguinte distribuição: FIGURA 17 – DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA DO NÍQUEL FONTE: O autor TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 27 A partir desta distribuição podemos fazer algumas observações: • Seguindo o Diagrama de Linus Pauling, deve-se preencher cada subnível até que se atinja a quantidade de elétrons desejada, porém, lembre-se que cada um dos subníveis possui um limite de elétrons que eles comportam (veja novamente a tabela 5). O subnível pode ser preenchido com uma quantidade inferior ao limite, mas nunca com uma quantidade superior. • O maior nível de energia apresentado na distribuição representa a Camada de Valência. Ela se refere à camada mais externa de um átomo. • O último subnível no qual foram distribuídos elétrons é chamado de subnível mais energético. Ao distribuir elétrons para íons deve-se se tomar cuidado, pois, para os ânions há a adição de elétrons, consequentemente estes elétrons também deverão ser distribuídos, apenas continuando a sequência do diagrama. Já para os cátions, onde há perda de elétrons, devemos nos ater ao fato de que os elétrons devem ser retirados da camada de valência. Vamos verificar um exemplo de cátion utilizando o elemento níquel, já apresentado anteriormente. O níquel perde elétrons e se torna um cátion com carga trivalente, ou seja, se torna 28Ni31 . FIGURA 18 – DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA DO CÁTION DE NÍQUEL FONTE: O autor UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 28 Note que, ao remover os 3 elétrons do átomo de níquel, primeiramente retiramos da camada de valência, porém, ela só possuía 2, consequentemente, a camada mais externa passou a ser a camada 3, sendo assim o elétron que ainda precisava ser retirado foi removido dela. 4.5 NÚMERO QUÂNTICOS Segundo Brady e Humiston (1986, p. 91), “cada orbital em um átomo possui uma energia característica e é visto como uma descrição da região em torno do núcleo onde se espera poder encontrar os elétrons”. Lembre-se de que, conforme foi apresentado anteriormente, estes orbitais estão em consonância com o modelo atual, portanto, são representados por funções de onda. Já estas funções de onda que descrevem os orbitais são caracterizadas por três números quânticos com a adição de um outro número quântico decorrente do comportamento do elétron no orbital. TABELA 7 – NÚMEROS QUÂNTICOS NÚMERO QUÂNTICO SÍMBOLO DEFINIÇÃO Número Quântico Principal n Refere-se ao nível. Número Quântico Secundário ou Azimutal Refere-se ao subnível. Número Quântico Magnético m Refere-se ao orbital. Número Quântico de Spin s Refere-se ao comportamento de giro do elétron. FONTE: Adaptado de Brady e Humiston (1986, p. 91) O número quântico principal possui valor máximo igual a 7, já que os elementos conhecidos até o momento possuem no máximo essa quantidade de níveis de energia, que são representados pelas letras K, L, M, N, O, P e Q, indo da camada mais próxima ao núcleo para a mais distante. Cada uma destas camada correspondem, respectivamente, aos números 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. O número quântico secundário está vinculado aos quatro subníveis conhecidos, sendo que cada umdeles é representado por um número, conforme a tabela a seguir. TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 29 TABELA 8 – NÚMERO QUÂNTICO SECUNDÁRIO SUBNÍVEL NÚMERO QUÂNTICO SECUNDÁRIO s 0 p 1 d 2 f 3 FONTE: O autor Já o número quântico magnético está relacionado ao orbital no qual o elétron se encontra. O número de orbitais está diretamente relacionado ao subnível, veja a tabela a seguir. TABELA 9 – NÚMERO QUÂNTICO MAGNÉTICO SUBNÍVEL NÚMERO DE ORBITAIS NÚMERO QUÂNTICO MAGNÉTICO s 1 p 3 d 5 f 7 FONTE: O autor O número quântico de spin refere-se ao sentido de rotação do elétron dentro do orbital, sendo que cada orbital comporta no máximo dois elétrons. Lembre-se de que os elétrons possuem carga negativa, porém, como dois elétrons podem ficar confinados num orbital se possuem cargas de mesmo sinal? A explicação está no fato de cada um deles girarem em sentidos opostos, o que gera uma força de atração magnética. O que fundamenta o comportamento destes elétrons é o Princípio da Exclusão de Pauli. O Princípio da Exclusão de Pauli “estabelece que num mesmo átomo, dentro de um orbital, não há elétrons com mesmos números quânticos, ou seja, UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 30 que férmions idênticos não ocupam o mesmo estado quântico” (BARRETOS; BARROS, 2019, p.1). Assim, os elétrons podem ter os mesmos números de n, , e m, porém apresentarão s diferente quando ocuparem o mesmo orbital. Os elétrons dentro dos orbitais são representados por setas. Por convenção adotaremos que o número quântico de spin para cima como sendo +½ e para baixo –½. FIGURA 19 – NÚMERO QUÂNTICO DE SPIN FONTE: <https://bit.ly/2Z4M6Tp>. Acesso em: 10 maio 2020. Quanto à ordem de preenchimento dos orbitais, devemos seguir a Regra de Hund, que diz o preenchimento dos orbitais de um subnível deve ser feito de uma forma que contenha o maior número possível de elétrons isolados (desemparelhados). Por este motivo, deve-se preencher primeiro os orbitais, colocando somente as setas para cima, e depois voltamos preenchendo as setas para baixo. FIGURA 20 – APLICAÇÃO DA REGRA DE HUND FONTE: O autor TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 31 Os números quânticos serão sempre utilizados para identificar o elétron mais energético da distribuição eletrônica, portanto, vamos aplicar estas informações em um exemplo: identificar os números quânticos do 26Fe. • Primeiramente devemos fazer a distribuição eletrônica seguindo o Diagrama de Linus Pauling. Como o átomo de ferro está neutro, então o número de prótons é igual ao número de elétrons e o número atômico é igual ao número de prótons, portanto, Z – p+– e⁻ . Como o número atômico é 26, então, o número de elétrons a ser distribuídos é 26. Fazendo a distribuição temos: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6. Lembre-se de que o elétron mais energético é o último na sequência da distribuição, neste caso, é o que pertence ao 3d6. • Sabendo onde está o elétron mais energético podemos identificar os números quânticos. Veja a figura a seguir. FIGURA 21 – IDENTIFICAÇÃO DOS NÚMEROS QUÂNTICOS DO FERRO FONTE: O autor Utilizando a lógica contrária, ao saber os números quânticos você determina nível, subnível, número de elétrons e sentido de rotação do elétron e pode fazer a distribuição eletrônica até chegar aos valores obtidos, assim identificando o elemento ao qual estes números quânticos pertencem. UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 32 O MODELO PADRÃO DA FÍSICA DE PARTÍCULAS Marco Antonio Moreira O chamado Modelo Padrão das partículas elementares não é propriamente um modelo, é uma teoria. E das melhores que temos. Aliás, na opinião de muitos físicos, a melhor de todas sobre a natureza da matéria. Por exemplo, segundo Gordon Kane (2003, p. 58), um físico teórico da Universidade de Michigan: ...o Modelo Padrão é, na história, a mais sofisticada teoria matemática sobre a natureza. Apesar da palavra "modelo" em seu nome, o Modelo Padrão é uma teoria compreensiva que identifica as partículas básicas e específica como interagem. Tudo o que acontece em nosso mundo (exceto os efeitos da gravidade) resulta das partículas do Modelo Padrão interagindo de acordo com suas regras e equações. De acordo com o Modelo Padrão, léptons e quarks são partículas verdadeiramente elementares, no sentido de não possuírem estrutura interna. Partículas que têm estrutura interna são chamadas de hádrons; são constituídas de quarks: bárions quando formadas por três quarks ou três antiquarks, ou mésons quando constituídas por um quark e um antiquark. Há seis léptons (elétron, múon, tau, neutrino do elétron, neutrino do múon e neutrino do tau) e seis quarks [quark up (u) quark down (d), quark charme (c), quark estranho (s), quark bottom (b) e quark top (t)]. Todavia, os quarks têm uma propriedade chamada cor e podem, cada um, apresentar três cores (vermelho, verde e azul). Há, portanto, 18 quarks. Contudo, como a cada partícula corresponde uma antipartícula, existiriam no total 12 léptons e 36 quarks. O elétron é o lépton mais conhecido e o próton e o nêutron os hádrons mais familiares. A estrutura interna do próton é uud, ou seja, dois quarks u e um d; a do nêutron é udd, isto é, dois quarks d e um u. O méson π+ é formado por um antiquark d e um quark u, o méson π- é constituído por um antiquark u e um quark d. E assim por diante, ou seja, a grande maioria das chamadas partículas elementares são hádrons e estes são formados por três quarks ou três antiquarks (bárions) ou por um quark e um antiquark (mésons). Em princípio, a teoria dos quarks, a Cromodinâmica Quântica, não proíbe a existência de partículas com estrutura mais complexa do que três quarks, três antiquarks ou um par quark-antiquark. Todavia, apenas recentemente físicos experimentais têm apresentado evidências de partículas com cinco quarks, ou seja, pentaquarks, como o teta mais, formado por quatro quarks e um antiquark. Mas isso ainda depende de resultados experimentais adicionais. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 —CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA 33 Uma característica peculiar dos quarks é que eles têm carga elétrica fracionária, (+2/3e) para alguns tipos e (-1/3e) para outros. No entanto, quarks nunca foram detectados livres, estão sempre confinados em hádrons, de tal modo que a soma algébrica das cargas dos quarks que constituem um determinado hádron é sempre um múltiplo inteiro de e. O próton, por exemplo, é formado por dois quarks de carga (+2/3e) e um quark de carga (-1/3e) de modo que sua carga é (+2/3, +2/3, -1/3)e, ou, simplesmente, e. Quer dizer, o quantum da carga elétrica continua sendo e (1,6 x 10-19 0). Resumindo, segundo o Modelo Padrão a grande quantidade de partículas elementares até hoje detectadas, cerca de 300, em aceleradores/colisores de partículas ou em raios cósmicos, pode ser agrupada em léptons, quarks e hádrons ou em léptons e hádrons, visto que os quarks são constituintes dos hádrons ou, ainda, em léptons, bárions e mésons, pois os hádrons podem ser divididos em bárions e mésons. FONTE: MOREIRA, Marco Antonio. O modelo padrão da física de partículas. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 31, n. 1, p. 1306.1-1306.11, abril 2009. Disponível em: https://bit.ly/302dke4. Acesso em: 29 maio 2020. 34 Neste tópico, você aprendeu que: • O estudo sobre a química das coisas inicia na pré-história com o domínio do fogo. • A Alquimia foi precursora da Química e tinha como objetivos principais desenvolver a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida. • De acordo com Aristóteles, se tinha a ideia inicial de que a matéria era constituída pelos elementos fogo, ar, terra e água e que estes elementos mantinham uma relação através das características quente, frio, seco e úmido. • Dalton apresentou a matéria como sendo constituída por átomos que, na sua concepção, eram esferas maciças, indestrutíveis e indivisíveis. • O modelo atômico de Thomson introduziu a natureza elétrica da matéria ao propor que os átomos são esferas de cargas positivas que possuemelétrons incrustados, semelhante a um pudim de passa, nome pelo qual o modelo ficou conhecido. • Rutherford, em seu modelo atômico, propôs que os átomos possuíam duas regiões distintas, núcleo (de carga positiva e que concentrava praticamente toda massa do átomo) e eletrosfera (região onde se encontram os elétrons). • Bohr apresentou postulados para um modelo atômico no qual a eletrosfera possuía níveis de energia quantizada, ou seja, apresentavam somente valores específicos de energia no qual os elétrons poderiam orbitar. Os elétrons poderiam saltar de um orbital para outro ao receber ou ceder energia. • O modelo atômico atual é uma contribuição de diversos cientistas e apresenta conceitos de mecânica quântica, ondulatória e probabilidade. • Átomos são representados utilizando o número atômico, que indica o número de prótons, e o número de massa, que é a soma de prótons e nêutrons. • Átomos neutros podem se tornar íons quando sua quantidade de elétrons é modificada. Ao ganhar elétrons eles se tornam ânions (carga negativa) e ao perder elétrons se tornam cátions (carga positiva). • Átomos podem apresentar semelhanças atômicas. Dentre estas semelhanças temos isótopos (mesmo número de prótons), isóbaros (mesmo número de massa), isótonos (mesmo número de nêutrons) e isoeletrônicos (mesmo número de elétrons). RESUMO DO TÓPICO 1 35 • Os elétrons são distribuídos de acordo com o Diagrama de Linus Pauling que respeita a ordem energética dos níveis e subníveis, assim como, seus limites de elétrons. Nesta distribuição é possível identificar a camada de valência e o subnível mais energético. • O último elétron distribuído pode ser representado através de quatro números quânticos, sendo eles: número quântico principal (nível), número quântico secundário (subnível), número quântico magnético (orbital) e número quântico de spin (sentido de rotação do elétron). 36 1 O método científico foi um dos marcos que representou a transição entre a alquimia e a química. Considerando a importância da aplicação do método científico e sua versatilidade para ser aplicado em diversas situações, proponha uma situação cotidiana na qual possa aplicá-lo e destaque cada um dos passos. 2 A Química faz parte de uma grande área, conhecida como Ciências da Natureza, assim como a Biologia e a Física. Todas essas áreas estão em constante evolução, visto que todos os dias novas descobertas são realizadas, e essas descobertas complementam algo que já conhecemos ou refutam ideias anteriores. Na Química, um grande exemplo de algo que a cada dia intriga mais os cientistas e que os instiga a realizar novas pesquisas é o átomo. Considerado a menor parte da matéria, ele já foi objeto de estudo de muitos químicos e físicos. Dessa forma, indique as principais contribuições ao modelo atômico propostas por Rutherford, assim como a forma como ele chegou a estas definições. 3 As semelhanças atômicas permitem aos cientistas descobrir cada vez mais informações sobre os elementos. Muitas vezes, em laboratório, podemos criar isótopos de elementos que anteriormente não existiam na natureza e buscar aplicações para ele. Considerando as semelhanças atômicas, determine o número atômico e o número de massa e identifique os átomos A e B, que são isóbaros e apresentam a seguinte representação: 4 Conhecer o número de elétrons de determinado elemento permite estabelecer algumas relações entre os tipos de ligação que este pode realizar e suas propriedades. É importante saber realizar a distribuição eletrônica, pois assim podemos identificar os elétrons de valência, responsáveis por estabelecer ligações. Portanto, realize a distribuição eletrônica das espécies químicas a seguir: 5 Ao informar seu endereço para qualquer pessoa, normalmente, quatro informações são essenciais para que você seja localizado: estado, cidade, rua e número. Imagine que para o último elétron de uma distribuição eletrônica isso também seja possível. Para isso, é comum o uso dos números quânticos, AUTOATIVIDADE 37 sendo eles: o principal, o secundário, o magnético e o spin. Considerando seus conhecimentos sobre este tema, indique os quatro números quânticos das espécies químicas apresentadas na questão anterior. 6 Os números quânticos surgiram inicialmente com Bohr, através de seus postulados, porém, só foram realmente compreendidos com advento da mecânica quântica e as contribuições de Schrödinger e Dirac. Enquanto os números principal, secundário e magnético são utilizados para descrever um orbital, o número spin serve para definir completamente o estado de energia do elétron no átomo. Conhecendo o valor desses números, é possível identificar certo elemento, fazendo a distribuição eletrônica até atingir a configuração desejada. Portanto, determine o elemento que possui os seguintes números quânticos, 38 39 TÓPICO 2 —UNIDADE 1 TABELA PERIÓDICA 1 INTRODUÇÃO Caso você, acadêmico, tenha como passatempo colecionar algum tipo de objeto, provavelmente já se deparou com a necessidade de criar uma ordem para que sua coleção ficasse organizada, assim podendo encontrar qualquer item da coleção sem problemas. Desde quando o ser humano começou a moldar matéria e buscou compreender a constituição dela, elementos foram descobertos. Muitos deles foram descobertos e isolados pela alquimia, e com a química atual, esse número só aumentou. Dessa forma, essa coleção de elementos, assim como qualquer outra coleção, precisava de uma organização. Portanto, várias foram as tentativas de organizar os elementos químicos até que se chegasse à organização atual. Essa organização dos elementos químicos foi nomeada como Tabela Periódica. O uso da palavra “periódica” não é em vão, pois, ao organizar os elementos seguindo um determinado padrão, foi possível identificar propriedades que se repetiam periodicamente. Este conhecimento permite a qualquer cientista prever característica de compostos químicos e buscar a melhor aplicação para eles, baseado nestas características. Ao longo deste tópico iremos abordar cada uma dessas propriedades periódicas para que você possa compreender a importância da construção da tabela para a área da Química. Vamos iniciar nossos estudos com a evolução da organização dos elementos. Assim, você pode compreender quais características foram essenciais para cada tentativa e qual a contribuição deixada por ela para o modelo atual. 2 EVOLUÇÃO DA TABELA PERIÓDICA Segundo Oliveira et al. (2015, p. 169), a Tabela Periódica, [...] é um marco no desenvolvimento da capacidade humana em buscar arranjar de forma organizada, sistematizada, crítica, prática e concisa aquilo que é considerado relevante para todos, a fim de tornar mais acessível as informações consideradas indispensáveis ao entendimento de fatos, fenômenos ou acontecimentos. Esta é sem dúvida a principal fonte de pesquisa e informação quando se deseja buscar conhecer as características e propriedades dos elementos químicos, e a forma como estes estão organizados é um facilitador na obtenção destas informações. 40 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA No entanto, antes de se obter a organização atual da tabela periódica, ela passou por alguns modelos diferentes. As tentativas iniciais de organização dos elementos químicos surgiram no século XVIII e levavam em consideração características e propriedades destes elementos, foi neste período que Lavoisier, em seu livro intitulado Tratado Elementar de Química, apresentou uma tabela contendo 33 substâncias elementares, isto é que não podiam ser decompostas em reações químicas, e das quais muitas fazem parte da tabela atual. Lavoisier classificou tais elementos em quatro grupos: substâncias simples, metálicas, não metálicas e salificáveis ou terrosas (OLIVEIRA et al., 2015). Posteriormente, Johann W. Döbereiner (1780-1849), em 1829, tentou organizar os elementos em grupos de três elementos, conhecidos como Tríades de Döbereiner, considerando os valores aproximadosde massa atômica dos elementos que já haviam sido determinados (BATISTA, 2019). FIGURA 22 – TRÍADES DE DÖBEREINER FONTE: O autor Na organização de Döbereiner, a massa atômica do elemento central era a média das massas dos outros dois elementos. O problema desta organização estava no fato de que muitos elementos não podiam ser agrupados desta maneira. Outra tentativa de organizar os elementos foi feita pelo geólogo francês Alexandre-Emile Béguyer de Chancourtois (1820-1886), em 1862. O modelo de Chancourtois ficou conhecido como Parafuso Telúrico e consistia em organizar 16 elementos químicos por ordem crescente de massa atômica. Nesta organização os elementos verticalmente alinhados possuíam propriedades semelhantes. TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 41 FIGURA 23 – PARAFUSO TELÚRICO DE CHANCOURTOIS FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3e4qomD>. Acesso em: 15 maio 2020. Em 1863, John Alexander Reina Newlands (1837-1898) propôs uma nova classificação para os elementos conhecido como as Oitavas de Newlands. Esta classificação organizava os elementos em ordem crescente de massa atômica e a cada 8 elementos as propriedades se repetiam. Surge então uma relação periódica bem interessante. Mesmo apresentando certas restrições, a classificação de Newlands apresentou as ideias de grupos e períodos, e foi precursor do modelo de Mendeleiev (BATISTA, [201-]). TABELA 10 – OITAVAS DE NEWLANDS FONTE: O autor OITAVAS 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª H F Cl Co/Ni Br Pd I Pt/Ir Li Na K Cu Rb Ag Cs Os G Mg Ca Zn Sr Cd Ba/V Hg Bo Al Cr Y Ce/La U Ta Tl C Si Ti In Zr Sn W Pb N P Mn As Di/Mo Sb Nb Bi O S Fe Se Ro/Ru Te Au Th 42 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Perceba que a tabela proposta por Newlands apresenta alguns símbolos que, atualmente, não aparecem na Tabela Periódica. Como o passar dos anos alguns elemen- tos tiveram alteração de seu símbolo, um exemplo é o Berílio (Be). Na tabela de Newlands ele é representado por “G”, pois compostos com Berílio costumam possuir sabor adocica- do, e por esse motivo chegou a ser chamado de glucinum ou glucinium. IMPORTANTE Julius Lothar Meyer (1830-1895) foi um químico alemão que fez contribuições importantes para construção da tabela periódica. Segundo Batista (2019, n.p.), Meyer, [...] baseando-se principalmente nas propriedades físicas dos elementos, fez uma nova distribuição segundo as massas atômicas. Ele observou que entre elementos consecutivos, a diferença das massas era constante e concluiu a existência de relação entre massa atômica e propriedades de um grupo. Através do estudo proposto por Meyer foi possível comprovar a existência de periodicidade, ou seja, ocorrência de propriedades semelhantes em intervalos regulares. Dmitri Ivanovic Mendeleiev (1834-1907) foi um químico e físico russo que, em 1869, apresentou uma nova organização da Tabela Periódica. Apesar de serem realizados em locais diferentes os trabalhos de Mendeleiev e Meyer apresentavam semelhanças na organização dos elementos químicos. O diferencial da organização da tabela de Mendeleiev estava nas lacunas que previram elementos químicos até então ainda desconhecidos. Mendeleiev organizou 63 elementos químicos conhecidos em colunas com base em suas massas atômicas. Seu trabalho foi o mais completo, pois organizou os elementos de acordo com suas propriedades e pôde reunir várias informações de forma simples. FIGURA 24 – TABELA PERIÓDICA DE MENDELEIEV FONTE: Leite (2019, p. 704) TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 43 “Até então, nada se sabia a respeito da constituição dos átomos, mas a organização proposta por Meyer-Mendeleiev originou inúmeras investigações para justificar a periodicidade dos elementos e constitui a base da atual Tabela Periódica” (BATISTA, 2019, n. p.). A organização atual da Tabela Periódica é fruto do trabalho do físico britânico Henry Gwyn Jeffreys Moseley (1887-1915). Moseley, em 1913, atribuiu números inteiros aos elementos químicos, que, posteriormente, corresponderiam ao número de prótons no núcleo atômico. Assim, ele organizou a tabela de Mendeleiev de acordo com os números atômicos e com isso removeu algumas falhas que persistiam. Além disso, esta organização evidenciou a periodicidade de propriedades químicas e físicas dos elementos. A Tabela Periódica é constantemente atualizada com novas informações e com acréscimo de novos elementos que são descobertos. Atualmente ela contém 118 elementos químicos, organizados em grupos e períodos. As mais recentes adições a ela foram os elementos Nihonium (Nh), Moscovium (Mc), Tennessine (Ts) e Oganesson (Og), que completaram a sétima linha da tabela. FIGURA 25 – TABELA PERIÓDICA ATUAL FONTE: <https://bit.ly/3bHeihL>. Acesso em: 15 maio 2020. 44 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA A construção da Tabela Periódica talvez nunca chegue a um final, porém, somente o futuro dirá qual será o elemento mais pesado que ser humano será capaz de criar. Para saber mais sobre os novos elementos e sobre o futuro da Tabela Periódica leia o artigo Quatro Novos Elementos na Tabela Periódica de Mendeleev: o que muda na prá- tica?, escrito por Caroline Deckmann Nicoletti e publicado na Revista Virtual de Química, disponibilizado através do link: https://bit.ly/3bFIKJi. DICAS 3 ORGANIZAÇÃO DA TABELA PERIÓDICA Os elementos da Tabela Periódica podem ser organizados de acordo com seus grupos e períodos, e ainda podem ser classificados quanto a suas propriedades. 3.1 GRUPOS A Tabela Periódica possui 18 colunas que são denominadas grupos, sendo eles numerados de 1 a 18 por recomendação da IUPAC, porém é possível ver em algumas publicações a utilização de subgrupo A e B que são acompanhados de números romanos. No entanto, esta terminologia está em desuso. FIGURA 26 – IDENTIFICAÇÃO DOS GRUPOS DA TABELA PERIÓDICA FONTE: O autor Alguns grupos recebem nomes especiais em virtude das características dos elementos que o compõem. Veja a tabela a seguir: TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 45 TABELA 11 – GRUPOS DA TABELA PERIÓDICA FONTE: O autor Os elementos que pertencem a um mesmo grupo possuem propriedade semelhantes. 3.2 PERÍODOS A Tabela Periódica atual possui ao todo 7 linhas, cada uma destas linhas é chamada de período, ou seja, ela possui 7 períodos. Os períodos indicam o número de camadas que os átomos que os compõem possuem, ou seja, um elemento que esteja no 6º período possuirá elétrons até a 6ª camada (Camada P). FIGURA 27 – PERÍODOS DA TABELA PERIÓDICA FONTE: O autor GRUPO NOME DO GRUPO 1 Metais Alcalinos 2 Metais Alcalino-Terrosos 13 Família do Boro 14 Família do Carbono 15 Família do Nitrogênio 16 Calcogênios 17 Halogênios 18 Gases Nobres 46 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Note que existem duas linhas deslocadas para a parte inferior da Tabela Periódica, esse deslocamento é realizado com o objetivo de encurtá-la. No 6º período temos os lantanídeos, grupo que engloba os elementos de números atômicos 57 a 71, e no 7º período os actinídeos com elementos de números atômico 89 a 103. 3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS Os 118 elementos da Tabela Periódica podem ser classificados de acordo com alguns quesitos e dentre as classificações possíveis temos: • Quanto à estrutura atômica • Quanto às características e propriedades • Complementares 3.3.1 Classificação quanto à estrutura eletrônica Os elementos químicos podem ser divididos em representativos e de transição. Os elementos representativos terminam sua distribuição eletrônica nos subníveis s ou p, já os de transição terminam em d (transição externa) ou f (transição interna). Os lantanídeos também são conhecidos como “terras-raras” devido ao fato deste grupo possuir elementos de grande importância em aplicações tecnológicas. Para saber mais leia o artigo Terras raras: aplicações industriais e biológicas, escrito por Tereza S. Martins e Paulo Celso Isolani e publicado pela revista Química Nova. Você pode acessar o artigo pelo link https://bit.ly/2LIy8Pe. DICAS TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 47 FIGURA 28– ELEMENTOS REPRESENTATIVOS E DE TRANSIÇÃO FONTE: O autor Dentre estas duas grandes classificações, podemos destacar que os grupos de elementos representativos possuem o mesmo número de elétrons na sua camada de valência. Como exemplo, podemos avaliar a distribuição de alguns elementos do grupo 2: Note que todos possuem dois elétrons na camada de valência e terminam sua distribuição com o subnível mais energético sendo s, como previsto pela Figura 28. Na tabela a seguir, você pode verificar o número de elétrons na camada de valência de elementos representativos de acordo com o grupo em que se encontram. 48 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA TABELA 12 – NÚMERO DE ELÉTRONS NA CAMADA DE VALÊNCIA DOS ELEMENTOS REPRESEN- TATIVOS FONTE: O autor Você pode localizar um elemento através da sua distribuição eletrônica, o primeiro passo é determinar se ele é representativo ou de transição. Para elementos de representativos você verifica o número de elétrons da última camada (que indica o grupo) e qual a camada de valência (que indica o período), veja o exemplo a seguir: Como o elemento fósforo (P) termina sua distribuição em p então ele é representativo, sua camada mais externa é a 3, então está no 3º período, e o número de elétrons na camada de valência é 5 (3s², 3p³), então está no grupo 15. Para elementos de transição externa, o grupo será indicado pela soma dos elétrons da camada de valência com os elétrons do subnível mais energético, já o período é indicado pela camada de valência. Veja o exemplo: Somando os elétrons da camada de valência com o subnível mais energético (5s2, 4d9), temos 11, que indica o grupo da prata, e a camada de valência é 5, indicando o 5º período. Para os elementos de transição interna, os quais a distribuição termina em f, identificamos o período pela camada de valência e a casa, que é a posição na fila de lantanídeos e actinídeos, pelo número de elétrons no subnível mais energético. GRUPO Nº DE ELÉTRONS CAMADA DE VALÊNCIA 1 1 2 2 13 3 14 4 15 5 16 6 17 7 18 8 (Exceto He que possui 2) TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 49 FIGURA 29 – CASAS DOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO INTERNA FONTE: O autor Veja o exemplo: A camada de valência do urânio é a 7, então o elemento está no 7º período, e como possui 4 elétrons no subnível mais energético então está na casa 4. 3.3.2 Classificação quanto às características e propriedades Os elementos químicos se reúnem em grupos que apresentem características e propriedades bem semelhantes. Estes grupos são dividido em: • Hidrogênio • Metais • Não Metais • Semimetais • Gases nobres 50 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA FIGURA 30 – DIVISÕES POR PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DA TABELA PERIÓDICA FONTE: O autor O hidrogênio, apesar de se localizar no grupo 1 por possuir 1 elétron na sua camada de valência, não faz parte do grupo dos metais. Ele possui características singulares e que se aplicam apenas a ele, assim, não se enquadra em nenhum outro grupo: • Ponto de Fusão: -259,2°C; • Ponto de Ebulição: -252,9°C; • Pode formar cátion ou ânion monovalente; • Pode realizar ligação covalente ou iônica; • É um forte agente redutor; • Em condições normais é pouco reativo, porém, sob condições favoráveis reagem com a maioria dos elementos. Os metais compõem a maioria dos elementos da Tabela Periódica. Para que um elemento se enquadra na definição de metal ele deve apresentar algumas das seguintes características: • São sólidos a temperatura ambiente (Exceção: Mercúrio [líquido]); • Apresentem brilho metálico; • Apresentam altos pontos de fusão e ebulição (Exceção: Mercúrio [PF: -38,8°C PE: 356,7°C]); • Formam cátions; • São maleáveis; • São dúcteis; • São bons condutores de calor e eletricidade. TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 51 Os não metais (ou ametais) representam uma parcela bem menor da Tabe- la Periódica quando comparados aos metais. Apesar disso apresentam elementos de grande importância, como carbono (presente nos hidrocarbonetos) e oxigênio (na forma de gás oxigênio é essencial para vida). Eles apresentam características opostas aos metais, sendo elas: • São opacos, ou seja, não apresentam brilho (Exceção: Iodo); • Não são dúcteis nem maleáveis; • São maus condutores de calor e eletricidade (Exceção: Carbono); • Formam ânion; • São encontrados nos três estados físicos; • Apresentam baixos pontos de fusão e ebulição. Os semimetais representam um grupo intermediário entre metais e não metais, possuem características intermediárias entre os metais e os não metais. No geral, suas características são as seguintes: • Apresentam pouco brilho; • São semicondutores elétricos, ou seja, conduzem parcialmente a eletricidade; • São semicondutores térmicos, ou seja, conduzem parcialmente o calor; • Possuem a tendência de se fragmentar. A maleabilidade e a ductibilidade são características interessantes dos metais e estão relacionadas à capacidade de deformação plásticas destes elementos. Ser maleá- vel indica a possibilidade de transformar um metal em lâminas extremamente finas devido a sua capacidade de se deformar sem se romper quando submetido à compressão. Já ser dúctil indica a possibilidade de transformar um metal em fios extremamente finos e longos sem que se rompam ao serem submetidos à tração. ATENCAO Dos semimetais podemos dar atenção ao silício (Si), ele é um material semi- condutor muito abundante, é amplamente utilizado na indústria tecnológica para a pro- dução de transistores para chips, células solares e em diversas variedades de circuitos eletrônicos. Sua importância para esta área é tão grande que deu nome a uma região na Califórnia, Estados Unidos, conhecida como Vale do Silício. Esta região reúne as maiores empresas do ramo, como Google, Facebook, HP, Intel, Netflix, entre outras. INTERESSANTE 52 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Por fim, temos os gases nobres. O grupo recebe este nome devido ao fato de os elementos que o compõem apresentarem alta estabilidade e consequentemente baixa reatividade nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Devido a esta estabilidade, os gases nobres são encontrados de forma isolada na natureza, porém em condições muito específicas podem formar compostos. Seus elementos possuem 8 elétrons na camada de valência, com exceção do hélio (He) que possui 2. 3.3.3 Classificações complementares Os elementos podem ser classificados ainda segundo a sua origem, assim temos elementos naturais e artificiais. Os elementos naturais são, como o próprio nome sugere, encontrados na natureza, sendo o urânio (U), elemento de número atômico 92, seu último representante na Tabela Periódica. Já os elementos artificiais são sintetizados em laboratório através da colisão e junção de átomos num processo conhecido como fusão. Geralmente, estes elementos são extremamente instáveis e se desintegram em questão de milésimos de segundos. Os elementos artificiais podem ser classificados ainda em cisurânicos e transurânicos. Os cisurânicos são os elementos artificiais que estão antes do urâ- nio (último elemento natural da Tabela Periódica), sendo eles: tecnécio , promécio , astato e frâncio (SYNTHETIC... 2017). Os transurânicos são todos os elementos após o urânio, sendo que todos são artificiais. 4 PROPRIEDADES PERIÓDICAS A organização dos elementos através da Tabela Periódica permitiu observar que algumas de suas propriedades apresentam variações periódica em função de seus números atômicos (RUSSEL, 2002). Neste item, iremos tratar das seguintes propriedades periódicas: • Raio atômico • Eletronegatividade • Energia de ionização • Afinidade eletrônica TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 53 4.1 RAIO ATÔMICO O raio atômico representa a medida média da distância de seu núcleo até o “final” da eletrosfera. Todavia, realizar esta medida considerando o “final” da eletrosfera seria complicado, sendo que ela é uma nuvem de probabilidade sem uma demarcação de fim. Dessaforma, a determinação do raio atômico é feita experimentalmente utilizando a distância de ligação ou comprimento de ligação (indica a distância entre os núcleos de dois átomos ligados). FIGURA 31 – DETERMINAÇÃO DO RAIO ATÔMICO FONTE: O autor Note que, através da figura, o raio atômico será obtido por: O aumento do raio atômico é ilustrado pela figura a seguir: 54 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA FIGURA 32 – AUMENTO DO RAIO ATÔMICO FONTE: O autor O aumento do raio atômico de cima para baixo em um grupo ocorre devido ao fato de que quanto mais para baixo maior o número de camadas nos elementos e, consequentemente, maior o será raio atômico. Já o aumento do raio atômico em um período não se relaciona ao número de camadas, já que, em um período, todos possuem a mesma quantidade de camadas. Ele aumenta da direita para esquerda, pois os elementos da direita possuem números atômicos maiores, ou seja, possuem um maior número de prótons em seu núcleo. Esse aumento de cargas no núcleo faz com que a atração eletrostática entre prótons e elétrons seja maior, e assim, fazendo com que o raio seja menor. Em comparação, num mesmo período, um elemento localizado a esquerda terá um número atômico menor e a atração entre núcleo e eletrosfera será menor. Quando um elemento vira um íon, seu raio atômico é modificado e podemos tratar como raio iônico. Ao se transformar em um cátion (perda de elétrons), ocorre uma diminuição do raio, já que pode ocorrer diminuição do número de camadas e aumento da atração eletrostática, contrariamente ao se transformar em um ânion (ganho de elétrons) há um aumento do raio. Veja a comparação de alguns raios atômicos e iônicos, medidos em angstroms (1Â = 1.10-10m), a seguir: TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 55 FIGURA 33 – RAIOS ATÔMICOS X RAIOS IÔNICOS FONTE: <https://bit.ly/2ZsOSC9>. Acesso em: 19 maio 2020. 4.2 ELETRONEGATIVIDADE A eletronegatividade é definida, segundo Usberco e Salvador (2002, p. 87), como “a força de atração exercida sobre os elétrons de uma ligação”. Na Tabela Periódica, o aumento da eletronegatividade ocorre de forma contrária ao aumento do raio atômico. Veja a figura a seguir: FIGURA 34 – AUMENTO DA ELETRONEGATIVIDADE FONTE: O autor 56 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA O aumento da eletronegatividade é oposto ao raio atômico, pois quanto menor o raio maior a força de atração eletrostática do núcleo sobre os elétrons. Essa propriedade é capaz de explicar alguns fatores que diferenciam as ligações químicas que veremos mais à frente. Através de alguns experimentos, Linus Pauling, em 1931, buscou quantificar esta tendência de atrair elétrons e criou uma escala de eletronegatividade (SANTOS; SILVA; WARTHA, 2011, p. 1846). Essa escala normalmente é apresentada em muitas Tabelas Periódicas. FIGURA 35 – VALORES DE ELETRONEGATIVIDADE FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3gj7330>. Acesso em: 20 maio 2020. Alguns valores de eletronegatividade são apresentados, porém, note que não são apresentados valores de eletronegatividade para os gases nobre. De acordo com Campos e Santos (2000, n. p.): A configuração eletrônica característica do todos os gases nobres [...] e o fato que até 1961, nenhum composto estável de gases nobres era conhecido, dava a entender que os gases nobres não apresentavam eletronegatividade (EN). Por isso, as escalas de EN propostas até 1961 não consideravam estes elementos. Alguns autores inclusive, chegaram a sugerir que a EN dos gases nobres fosse considerada como sendo ‘zero’. No entanto, a síntese de compostos estáveis de gases nobres conduziu ao reconhecimento que estes elementos também possuem eletronegatividade. Diante do exposto, as EN’s dos gases nobres, têm sido intensamente pesquisadas, com o propósito de que, seus valores possam explicar e até prever fatos experimentais, além de elucidar a natureza das ligações envolvendo esses elementos. Como as condições para se obter valores de eletronegatividade para gases nobres são muito específicas, iremos apenas ater nossos estudos para os demais elementos, considerando o flúor (F) o elemento mais eletronegativo. TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 57 4.3 ENERGIA DE IONIZAÇÃO A energia de ionização é a mínima energia necessária para remover um elétron de um átomo isolado, no seu estado fundamental. Quando um átomo isolado, em seu estado fundamental, absorve energia, o elétron pode se transferir de um nível energético quantizado para outro. Se a energia fornecida for suficiente, o elétron pode ser completamente removido do átomo [...] originando um íon positivo. (O elétron mais facilmente removível é aquele menos firmemente preso ao núcleo, e o de mais alta energia) (RUSSEL, 2002, p. 334). A energia de ionização está diretamente ligada ao fato de o núcleo exercer uma força de atração sobre os elétrons, portanto, assim como a eletronegatividade, o aumento da energia de ionização é contrário ao aumento do raio atômico. Assim, para elementos que possuem raios maiores, o núcleo exerce uma força menor sobre o elétron que se encontra mais afastado e este pode ser mais facilmente removido. FIGURA 36 – AUMENTO DA ENERGIA DE IONIZAÇÃO FONTE: O autor A primeira energia de ionização é a de menor valor, essa energia se refere à energia para remover o elétron mais afastado do núcleo e que sofre menor atração eletrostática, conforme os elétrons vão sendo retirados os valores de energia de ionização vão aumentando significativamente. Veja o exemplo do elemento cloro (C ) e compare as energias para remover o 1º elétron e o 17º elétron de um átomo isolado de cloro, o salto de energia é absurdamente alta. Note que o aumento dos valores não obedece a uma linearidade. De forma generalizada, esse comportamento também é visto nos demais elementos. 58 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA FIGURA 37 – ENERGIAS DE IONIZAÇÃO DO ELEMENTO CLORO FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2zr5Iql>. Acesso em: 20 maio 2020. 4.4 AFINIDADE ELETRÔNICA A afinidade eletrônica (ou eletroafinidade) é definida como a quantidade de energia envolvida no processo em que um átomo isolado gasoso, no seu estado fundamental, recebe um elétron, formando um ânion, ou seja, é o oposto da energia de ionização. Caso tenha interesse em verificar os valores de energia de ionização para os demais elementos, consulte no site do National Institute of Standards and Technology (NIST), digitando o símbolo do elemento, através do link: https://bit.ly/3lTeiBC. DICAS TÓPICO 2 —TABELA PERIÓDICA 59 Este processo é normalmente acompanhado por uma liberação de energia, e tal quantidade mede o quão fortemente o elétron se liga ao átomo. [...] Quando um átomo tende a ganhar um elétron, energia é liberada e, assim, a quantidade ΔH [variação de energia] para o processo é negativa. Quanto mais negativo o valor da afinidade eletrônica, maior a tendência do átomo em receber elétrons (RUSSEL, 2002, p. 339). Esta propriedade aumenta de baixo para cima em um grupo e da esquerda para direita em um período, conforme é apresentado a seguir: FIGURA 38 – AUMENTO DA AFINIDADE ELETRÔNICA FONTE: O autor Como a afinidade eletrônica representa a energia liberada quando um átomo gasoso, em seu estado fundamental, recebe um elétron, quanto maior a atração que o núcleo exerce sobre os elétrons maior será a energia liberada. Isso explica o comportamento do aumento dessa propriedade, já que, ao diminuir o raio atômico consequentemente há aumento da atração eletrostática. FIGURA 39 – AFINIDADE ELETRÔNICA DOS ELEMENTOS REPRESENTATIVOS FONTE: <https://bit.ly/2X1zQBT>. Acesso em: 20 maio 2020. 60 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Na figura são apresentados alguns valores de afinidade eletrônica para os elementos representativos em kJ/mol, quanto mais negativo o valor, maior a energia liberada na formação de um ânion. Note que, pelo seu comportamento estável, não são apresentados valores de afinidade eletrônica para os gases nobres. “É importante entender as diferenças entreenergia de ionização e afinidade eletrônica: a energia de ionização mede a facilidade com que um átomo perde um elétron, enquanto a afinidade eletrônica mede a facilidade com que um átomo ganha um elétron” (BROWN et al., 2005, p. 231). 61 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O surgimento da Tabela Periódica se deu pela necessidade de organizar os elementos já conhecidos como forma facilitar o acesso a suas informações. • Em 1829, Johann W. Döbereiner, tentou organizar os elementos em grupos de três elementos, conhecidos como Tríades de Döbereiner, considerando os valores aproximados de massa atômica dos elementos. O elemento central da tríade possuía um valor de massa próximo a média das massas dos outros dois elementos. • Em 1862, Alexandre-Emile Béguyer de Chancourtois propôs uma organização conhecida como Parafuso Telúrico e consistia em organizar 16 elementos químicos por ordem crescente de massa atômica, sendo que os elementos que se alinhavam verticalmente possuíam propriedades semelhantes. • Em 1863, John Alexander Reina Newlands propôs uma nova classificação para os elementos conhecido como as Oitavas de Newlands. Esta classificação organizava os elementos em ordem crescente de massa atômica e a cada 8 elementos as propriedades se repetiam. • Em 1869, Dmitri Ivanovic Mendeleiev apresentou uma nova organização da Tabela Periódica. Ele organizou 63 elementos em colunas e previu a descoberta de alguns elementos que representam lacunas na sua organização. • A Tabela Atômica atual organiza os elementos em ordem crescente de seus números atômicos possui 18 linhas verticais (grupos) e 7 linhas horizontais (períodos). • Elementos de um mesmo período possuem o mesmo número de camadas. • Elementos de um mesmo grupo possuem um mesmo número de elétrons na camada de valência. • Os elementos químicos podem ser classificados quanto a sua estrutura atômica em representativos (terminam a distribuição eletrônica em s ou p) ou de transição (terminam a distribuição eletrônica em d [transição externa] ou f [transição interna]). • Os elementos químicos se reúnem em grupos que apresentam características e propriedades bem semelhantes. Estes grupos são divididos em: hidrogênio, metais, não metais, semimetais e gases nobres. 62 • Os elementos podem ser classificados em naturais, encontrados na natureza, e artificiais, sintetizados em laboratório. Os artificiais se dividem em cisurânicos, localizados antes do urânio (último elemento natural da Tabela Periódica) e transurânicos, localizados depois do urânio, sendo todos artificiais. • O raio atômico é uma propriedade periódica que aumenta de cima para baixo em um grupo (pelo aumento de camadas), e da direita para esquerda em um período (pela diminuição da força de atração eletrostática entre núcleo e eletrosfera). • A eletronegatividade é definida como a força de atração exercida sobre os elétrons de uma ligação. Ela aumenta contrariamente ao aumento do raio atômico. • Energia de ionização é a mínima energia necessária para remover um elétron de um átomo isolado, no seu estado fundamental. Ela aumenta contrariamente ao aumento do raio atômico. • Afinidade eletrônica representa o oposto da energia da ionização e definida como como a quantidade de energia, envolvida no processo em que um átomo isolado gasoso, no seu estado fundamental, recebe um elétron, formando um ânion. Assim como a eletronegatividade e a energia de ionização ela aumenta contrariamente ao aumento do raio atômico. 63 1 Leia o texto a seguir: Sabe-se, por fatos experimentais que os elétrons se distribuem em níveis em torno do núcleo (os quais também podem ser chamados de camadas). Estes números são infinitos, mas só existem átomos na natureza que precisam de, no máximo, sete níveis para acomodar seus elétrons. Em cada nível há um número máximo de elétrons que podem ser acomodados. Muito além de apenas identificar a quantidade de elétrons em cada nível (ou camada) e subnível, a distribuição eletrônica carrega com si as informações que indicam a posição dos elementos na Tabela Periódica. Dessa forma, determine a localização e símbolo dos elementos que tem subnível mais energético: a) 5d4 b) 4f² c) 5p² FONTE: https://docplayer.com.br/4335589-Nivel-1-2-3-4-5-6-7-camada-k-l-m-n-o-p-q-nu- mero-maximo-de-eletrons-2-8-18-32-32-18-2.html. Acesso em: 6 set. 2020. 2 Ao longo dos anos, a Tabela Periódica evoluiu tanto na busca por prever propriedades dos elementos quanto para comportar novos integrantes que surgiram com o avanço da área das ciências. Atualmente, ela conta com 118 elementos distribuídos por 18 grupos e 7 períodos. Indicar um grupo e um período para um elemento na tabela é similar a indicar uma posição geográfica para uma pessoa ou lugar em um mapa. Considere um elemento que se encontra no grupo 13 e no 4º período e identifique-o com o auxílio da Tabela Periódica. 3 Várias são as classificações que podemos fazer através da observação dos elementos na Tabela Periódica, porém, uma das mais relevantes se trata da classificação através das características dos elementos. Portanto, relacione as colunas a seguir, indicando a respectiva classificação para as propriedades apresentadas: 4 Além de permitir uma melhor organização dos elementos, a Tabela Periódica atual conseguiu prever várias propriedades que se repetem, por esse motivo utiliza-se o termo “periódica”. Dentre essas propriedades está o raio atômico, AUTOATIVIDADE I. Metais ( ) São opacos, maus condutores de calor e eletrici- dade, e apresentam baixos pontos de fusão e ebulição. II. Semimetais ( ) Possuem brilho característico, são maleáveis e dúcteis, são bons condutores de calor e eletricidade. III. Não Metais ( ) São semicondutores, quebradiços e apresentam pouco brilho. 64 que de certa forma ajuda a compreender as demais propriedades e indica a medida média da distância de seu núcleo até o “final” da eletrosfera. Com relação ao raio atômico: a) De que forma os tamanhos dos átomos variam ao longo de um período? b) De que forma os tamanhos dos átomos variam ao longo de um grupo? c) Coloque os seguintes átomos em ordem crescente de raio atômico: Na, F, C , Co. 5 O raio atômico indica a medida média da distância de seu núcleo até o “final” da eletrosfera, porém, a eletrosfera pode sofrer modificações quando determinado átomo se torna um íon, ganhando ou perdendo elétrons. Essa modificação irá interferir diretamente nas demais propriedades periódicas da espécie química que se forma. Com relação à formação de íons e a alteração no raio atômico, explique: a) Por que os cátions possuem raios iônicos menores que seus átomos neutros correspondentes? b) Por que os ânions possuem raios iônicos maiores que seus átomos neutros? 6 Os elementos químicos apresentam diversas características que os definem, e isso é importante, por exemplo, numa análise qualitativa, quando se busca determinar uma espécie desconhecida em uma amostra. Suponha que em um quis, um aluno recebeu as seguintes dicas a respeito de um determinado elemento químico: I. É produzido em laboratório. II. É classificado como cisurânico. III. É classificado como não metal. A partir das caraterísticas apresentadas, qual dos elementos a seguir representa as características apresentadas pelas dicas? a) ( ) U. b) ( )Tc. c) ( ) At. d) ( ) Pm. 7 A formação de um cátion envolve um processo no qual elétrons devem ser retirados e, para isso, certa quantidade de energia deve ser fornecida ao átomo original. Essa energia é chamada de energia de ionização. Essa propriedade apresenta um valor crescente, pois conforme um elétron é retirado, mais energia é necessária para remover o próximo. Sendo assim, por que a segunda energia de ionização de um átomo é sempre maior que sua primeira energia de ionização? 65 TÓPICO 3 —UNIDADE 1 LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 1 INTRODUÇÃO No Tópico anterior nos dedicamos a entender como oselementos se organizam na Tabela Periódica e quais as propriedades que podemos prever através deles. Todavia, um ponto muito importante é que são raros os casos em que um átomo de um elemento químico é encontrado de forma isolada na natureza. Geralmente, eles estão associados a outros elementos, formando substâncias compostas, ou até mesmo associados a átomos do mesmo elemento, formando substâncias simples. Essa interação entre átomos ocorre através das ligações químicas, além disso, elas justificam algumas características das substâncias formadas. No Tópico 1 nos preocupamos em realizar a distribuição eletrônica dos átomos e analisar suas camadas de valência, e isso não foi em vão, pois quando átomos estabelecem uma ligação química, esta é feita através dos elétrons que se encontram nessa camada. A quantidade de elétrons que se mantem ali e certas propriedades periódicas são essenciais na determinação do tipo de ligação que ocorre. Buscaremos ao longo deste Tópico compreender como cada ligação química ocorre e quais suas possíveis representações. Apesar de as ligações químicas indicarem a relação entre os átomos, precisamos falar também sobre interações intermoleculares. Elas são responsáveis pela interação entre os compostos químicos e explicam várias propriedades, como estado físico, pontos de fusão e ebulição, densidade, entre outras. Na identificação do tipo de interação intermolecular, dois pontos são essenciais e serão objetos do nosso estudo, sendo eles: a polaridade das ligações e a geometria da molécula. Essas características nos ajudam na definição da polaridade da molécula, que, por fim, irá determinar o tipo de interação que ocorrerá. 66 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 2 LIGAÇÕES QUÍMICAS Segundo Covre (2001, p. 109), “ligação química é o nome dado às formas de associação existentes entre os átomos”. Estas ligações ocorrem através da interação entre as eletrosferas dos átomos, ou seja, são determinadas pela relação entre os elétrons. As ligações químicas podem ser chamadas também de interações intramoleculares. Brown et al. (2005, p. 252) traz como apresentação das ligações químicas a seguinte situação, Sobre a mesa da maioria dos restaurantes você pode encontrar duas substâncias brancas cristalinas: sal de cozinha e açúcar refinado. Apesar de suas similaridades na aparência, sal e açúcar são espécies de substâncias bem diferentes. Sal de cozinha é cloreto de sódio, , que consiste em íons sódio, Na+, e íons cloreto, . A estrutura é mantida unida pelas atrações entre íons com cargas de sinais contrários, que podemos chamar de ligações iônicas. Por outro lado, o açúcar refinado não contém íons sob qualquer condição. Consiste em moléculas de sacarose, C12H22O11, nas quais as atrações chamadas ligações covalentes mantêm os átomos unidos. No entanto, quais são as condições para que uma ligação química mantenha estável determinada substância? A resposta está na Teoria do Octeto. 2.1 TEORIA DO OCTETO Como citado anteriormente, são raros os casos de átomos de elementos que são encontrados de forma isolada na natureza, sendo estes casos representados pelos elementos do grupo 18, os gases nobres. Todos os demais se ligam a outros átomos, formando substâncias simples (substância formada por átomos de um mesmo elemento, como O2 [gás oxigênio]) ou substâncias compostas (substâncias formadas por átomos de elementos diferentes, como CO2 [dióxido de carbono]). As ligações químicas fazem com que os átomos adquiram estabilidade, ou seja, sejam mais estáveis do que em seus estados fundamentais. Todavia, os gases nobres já apresentam esta estabilidade em seus estados fundamentais, o questionamento de o porquê isso ocorre levou o físico alemão Walther Ludwig Julius Kossel (1888-1956) a analisar a relação entre a estabilidade e a configuração eletrônica destes elementos. Kossel percebeu que os gases nobres apresentavam exatamente oito elétrons na sua camada de valência, tendo como única exceção o elemento hélio (He) que possui somente dois elétrons já que o seu nível mais externo é o primeiro. TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 67 FIGURA 40 – DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA DOS GASES NOBRES FONTE: O autor Assim, Kossel relacionou a estabilidade dos gases nobres a suas configurações eletrônicas e consequentemente para que outro elemento também atingisse a estabilidade precisaria possuir a configuração de um gás nobre. A dedução de Kossel foi aperfeiçoada posteriormente pelos físico- químicos estadunidenses Gilbert Newton Lewis (1875-1946) e Irving Langmuir (1881-1957). Langmuir nomeou esta relação entre a configuração eletrônica e a estabilidade de teoria do octeto (ou regra do octeto). Segundo Brown et al. (2005, p. 253), a teoria do octeto diz que “os átomos tendem a ganhar, perder ou compartilhar elétrons até que eles estejam circundados por oito elétrons de valência”. É importante destacar, por fim, que “existem muitas exceções à regra do octeto, mas ela fornece uma estrutura útil para introduzir muitos conceitos importantes de ligação” (BROWN et al., 2005, p. 253). 2.2 LIGAÇÕES IÔNICAS As ligações iônicas são formadas pela atração eletrostática entre íons de cargas opostas. Neste tipo de ligação um elemento de baixa energia de ionização (possui grande tendência a perder elétron), neste caso, os metais, se ligam a elementos com alta afinidade eletrônica (possui uma grande tendência em ganhar elétron), neste caso, os não metais, formando os compostos iônicos. Em resumo, metais tendem a formar cátions (+) e perder elétrons e os não metais tendem a formar ânion (-) e ganhar elétrons. Veja, a seguir, o exemplo do composto iônico (Cloreto de Sódio): 68 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA FIGURA 41 – FORMAÇÃO DO COMPOSTO IÔNICO NaC FONTE: O autor Note que tanto o íon sódio quanto o íon cloro possuem, após a interação, oito elétrons na camada de valência. “[...] um sólido iônico é constituído por um aglomerado de cátions e ânions organizados com formas geométricas bem definidas, chamadas de retícu- los ou reticulados cristalinos” (FOGAÇA, 2012, n. p.). Para o exemplo do devemos observar que ele é formado por uma “[...] transferência definitiva de um elétron do sódio para o cloro, originando o cátion sódio (Na+) e o ânion cloreto ( )” (FOGAÇA, 2012, n. p.), porém, essa reação não envolve somente dois átomos, mas um número enorme e indeterminado de átomos que formam um retículo cristalino de forma cúbica. FIGURA 42 – RETÍCULO CRISTALINO DO CLORETO DE SÓDIO FONTE: <https://bit.ly/2X4juYZ>. Acesso em: 22 maio 2020. TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 69 Existem duas maneiras de representar um composto iônico: • Fórmula unitária ou mínima • Fórmula de Lewis ou eletrônica 2.2.1 Fórmula unitária ou mínima A Fórmula unitária ou mínima representa a menor proporção entre cátions e ânions que compõem o retículo cristalino, sendo que, a carga total do composto deve ser nula e para que isso ocorra é necessário que o número de elétrons cedidos por um átomo seja igual ao número de elétrons recebidos pelo outro átomo. Para montar a fórmula unitária basta combinar os íons conforme é apresentado na imagem a seguir. FIGURA 43 – FÓRMULA UNITÁRIA FONTE: O autor Note que o cátion deve ser na frente e o ânion atrás. Como exemplo, podemos aplicar a fórmula unitária para uma combinação entre os íons Mg2+ e , neste caso, obteríamos o composto iônico MgC 2 (Cloreto de Magnésio). A fórmula MgC 2 indica que são necessários dois átomos de cloro para um átomo de magnésio. Tenha em mente o seguinte, o íon cloro é representado por portanto, ele recebe apenas um elétron, no entanto,00 o íon magnésio, representado por Mg2+, doa dois, sendo assim, ao duplicar a quantidade de íons cloro o balanço de elétrons doados e recebido será nulo. 2.2.2 Fórmula de Lewis ou eletrônica A Fórmula de Lewis ou eletrônica apresentao símbolo do elemento, chamado de tronco ou cerne, que representa o núcleo e todos os elétrons que não fazem parte da camada de valência, circundado por pontos (•) ou xises (x), 70 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA que representam os elétrons da camada de valência, chamados de elétrons de valência. Estes elétrons de valência geralmente são representados em pares que são posicionados em volta do cerne. Considerando o composto iônico utilizado anteriormente, vamos fazer a representação dele através da fórmula de Lewis: FIGURA 44 – FÓRMULA DE LEWIS CLORETO DE MAGNÉSIO FONTE: O autor Algumas informações importantes com relação aos íons são as denominações usadas em relação ao número de elétrons que eles ganham ou perdem, conforme é apresentado na tabela a seguir. TABELA 13 – DENOMINAÇÃO DOS ÍONS EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE ELÉTRONS CEDIDOS OU RECEBIDOS FONTE: O autor 2.2.3 Características dos compostos iônicos A formação de íons e do retículo cristalino determinam as principais características dos compostos iônicos, sendo elas: VARIAÇÃO DE ELÉTRONS REPRESENTAÇÃO GENÉRICA NOMENCLATURA 1 Monovalente 2 Bivalente ou Divalente 3 Trivalente 4 Tetravalente 5 Pentavalente TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 71 • Possuem aspecto cristalino (formam cristais); • São quebradiços; • Apresentam elevados pontos de fusão (PF) e ebulição (PE); • São sólidos nas condições ambientais de temperatura e pressão (CATP, 25°C, 1atm); • Quando fundidos ou dissolvidos em água, conduzem corrente elétrica (são eletrólitos). 2.3 LIGAÇÕES COVALENTES De acordo com Brown et al. (2005, p. 259, grifo nosso), A grande maioria das substâncias químicas não tem as características de materiais iônicos. Muitas das substâncias com as quais temos contato em nosso dia-a-dia, como a água, tendem a ser gases, líquidos ou sólidos com baixos pontos de fusão. Muitas, como a gasolina, vaporizam-se rapidamente. Outras são maleáveis nas formas sólidas - por exemplo, sacolas plásticas e parafina. Para a grande classe de substâncias químicas que não se comportam como substâncias iônicas, precisamos de um modelo diferente para a ligação química entre os átomos. [...] Lewis inferiu que os átomos poderiam adquirir uma configuração eletrônica de gás nobre pelo compartilhamento de elétrons com outros átomos. [...] uma ligação química formada desse modo é chamada ligação covalente. Este tipo de ligação é a que ocorre entre os átomos de elementos que tendem a receber elétrons, em geral não metais e, em alguns casos, semimetais. Ela ocorre também entre não metais e hidrogênio na formação de ácidos. O exemplo mais simples de ligação covalente ocorre entre dois átomos de hidrogênio na formação do gás hidrogênio (H²). As ligações covalentes podem ser representadas por três fórmulas diferentes, sendo elas: “Compostos formados por ligações covalentes podem ser divididos em dois grupos: moleculares e covalentes. Quando átomos se ligam por meio de ligações cova- lentes, originando moléculas de número determinado, tem-se um composto molecular. Entretanto, para um número muito grande e indeterminado de átomos, tem-se um com- posto covalente ou sólido de rede covalente”. FONTE: BATISTA, Fábio Roberto. Química. Curitiba: Positivo, v. 2, 2015, p. 9. Livro do Pro- fessor: Orientações Metodológicas. IMPORTANTE 72 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA • Fórmula de Lewis ou eletrônica • Fórmula estrutural • Fórmula molecular 2.3.1 Fórmula de Lewis ou Eletrônica A fórmula de Lewis segue a mesma ideia já apresentada para compostos iônicos. Lembre-se de que a representação de Lewis considera o símbolo do elemento como cerne ou tronco, que representa o núcleo atômico e os elétrons que não pertencem à camada de valência, e os elétrons de valência, que são aqueles pertencentes à camada de valência, que são representados por pontos (•) ou xises (x). Para apresentar todas as fórmulas vamos trabalhar com o exemplo do gás cloro, portanto, vamos começar com a fórmula de Lewis: FIGURA 45 – FÓRMULA DE LEWIS PARA O GÁS CLORO FONTE: O autor Note que após o compartilhamento ser estabelecido, ou seja, a ligação covalente ser formada, ambos os átomos de cloro possuem 8 elétrons na camada de valência. É importante destacar que o hidrogênio (H) se assemelha ao hélio (He) em questão de estabilidade pelo fato de possuir somente a primeira camada da eletrosfera, ou seja, ele se estabiliza somente com 2 elétrons. Esta ressalva é importante visto que o hidro- gênio reage com a maioria dos elementos da Tabela Periódica e geralmente é apresentado em exemplo e questões. ATENCAO TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 73 FIGURA 46 – OUTROS EXEMPLOS DA FÓRMULA DE LEWIS FONTE: <https://bit.ly/2Xz0tgp>. Acesso em: 22 maio 2020. 2.3.2 Fórmula estrutural A fórmula estrutural substitui cada compartilhamento por um traço, que representa a ligação covalente, vejamos para o nosso exemplo do gás cloro: FIGURA 47 – FÓRMULA ESTRUTURAL PARA O GÁS CLORO FONTE: O autor Cada compartilhamento é representado por um traço, assim, deve-se ter em mente que dois átomos podem estabelecer um, dois ou três compartilhamentos entre si. TABELA 14 – LIGAÇÕES COVALENTES FONTE: O autor NÚMERO DE COMPARTILHA- MENTOS TIPO DE LIGAÇÃO REPRESENTAÇÃO 1 Simples 2 Dupla 3 Tripla 74 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Analisando as ligações covalentes sob a perspectiva de orbitais atômicos, deve-se ressaltar que ocorre a interpenetração de dois orbitais atômicos, formando um orbital molecular. Essa interpenetração pode ocorrer no mesmo eixo, de forma linear, e ser chamada de ligação sigma (σ) ou através de eixos paralelos, de forma paralela, formando uma ligação pi (π). FIGURA 48 – LIGAÇÕES σ E π ENTRE OS ORBITAIS p E ORBITAL HÍBRIDO sp FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2UWeCU3>. Acesso em: 19 maio 2020. Note que a ligação frontal entre o orbital híbrido sp forma uma ligação sigma (ligação “A”), enquanto os dois orbitais de p se ligam paralelamente, formando duas ligações pi (OBS: A ligação “B” representa uma ligação pi e a ligação “C” outra). A primeira ligação estabelecida entre dois átomos será sempre sigma e as demais serão ligações pi. Assim: TABELA 15 – LIGAÇÕES SIGMA E PI FONTE: O autor Pode-se prever as ligações possíveis para determinado grupo considerando o número de elétrons de valência. TIPO DE LIGAÇÃO REPRESENTAÇÃO SIGMA (σ) PI (π) Simples 1 0 Dupla 1 1 Tripla 1 2 TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 75 TABELA 16 – GRUPOS X LIGAÇÕES COVALENTES FONTE: O autor FIGURA 49 – OUTROS EXEMPLOS DE FÓRMULAS ESTRUTURAIS FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2Xz0tgp>. Acesso em: 22 maio 2020. ELEMENTOS LIGAÇÕES FÓRMULA ESTRUTURAL ELETRONS DE VALÊNCIA Hidrogênio 1 simples 1 elétron Grupo 14 4 simples 4 elétrons2 simples e 1 duplas 1 simples e 1 tripla 2 duplas Grupo 15 3 simples 5 elétrons1 simples e 1 dupla 1 tripla Grupo 16 2 simples 6 elétrons 1 dupla Grupo 17 1 simples 7 elétrons 76 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 2.3.3 Fórmula molecular A fórmula molecular indica o símbolo dos elementos acompanhado de um índice inferior que representa a quantidade deste elemento no composto. Para o exemplo do gás cloro, teremos: FIGURA 50 – FÓRMULA MOLECULAR PARA O GÁS CLORO FONTE: O autor FIGURA 51 – OUTROS EXEMPLOS DE FÓRMULAS MOLECULARES FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2Xz0tgp>. Acesso em: 22 maio 2020. 2.3.4 Ligações covalentes coordenadas As ligações covalentes normais não podiam explicar algumas moléculas e na tentativa de formular uma ideia que pudesse dar suporte a estrutura dessas moléculas, sugiram as ligações covalentes coordenadas (pode-se encontrar através do nome ligação covalente dativa). Diferentemente das ligações covalentes normais, onde cada átomo cede um elétron para estabelecer um compartilhamento, nas ligações covalentes coordenadas um único átomo cede um par de elétrons para ser compartilhadoentre ele e outro átomo. Este par de elétron é chamado de par de elétrons isolados. A ligação covalente coordenada pode ser representada por um traço (–) ou uma seta (→). Para facilitar a diferenciação, neste material procuraremos utilizar a seta. O dióxido de enxofre (SO 2) é um exemplo clássico de uma molécula onde há uma ligação covalente coordenada. Lembre-se, tanto o enxofre (S) quanto o TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 77 oxigênio (O) são elementos que pertencem ao grupo 16 da tabela periódica e de acordo com a Tabela 16, cada um deles deve fazer duas ligações para adquirir estabilidade, ou seja, bastava uma ligação dupla entre eles, porém há um outro átomo de oxigênio para formação do dióxido de enxofre. FIGURA 52 – DIÓXIDO DE ENXOFRE FONTE: O autor A tabela a seguir indica o número de ligações covalentes coordenadas possíveis para alguns grupos da Tabela Periódica. TABELA 17– GRUPOS X LIGAÇÕES COVALENTES COORDENADAS FONTE: O autor GRUPO CAMADA DE VALÊNCIA NÚMERO DE LIGAÇÕES COVALENTES SIMPLES NÚMERO DE LIGAÇÕES COVALENTES COORDENADAS POSSÍVEIS 14 4 elétrons 4 Não faz coordenada 15 5 elétrons 3 1 18 6 elétrons 2 1 ou 2 17 7 elétrons 1 1, 2 ou 3 78 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 2.3.5 Características dos compostos moleculares/ covalentes Apesar de receberem nomes diferentes, os compostos formados por ligações covalentes apresentam características semelhantes: • São encontrados na natureza nos três estados físicos na CATP (Ex: Sólido – Açúcar e Diamante; Líquido – Água e Etanol; Gasoso – Gás Hidrogênio e Gás Cloro); • Pontos de fusão e ebulição menores quando comparados aos compostos iônicos (compostos covalentes possuem PF e PE maiores que os compostos moleculares); • Quando puros, não conduzem corrente elétrica; • São quebradiços. 2.4 LIGAÇÕES METÁLICAS As ligações metálicas ocorrem, como o próprio nome sugere, entre os metais. Esse tipo de ligação é aplicado através do modelo chamada de mar de elétrons (ou nuvem de elétrons), em que os núcleos positivos dos metais formam uma rede e compartilham seus elétrons de valência. Esse mar de elétrons se forma devido ao fato de os metais possuírem baixas energias de ionização, ou seja, tendem a perder facilmente seus elétrons de valência (TRO, 2017). “Estes elétrons “livres” não estão mais localizados em um único átomo, mas deslocalizados sobre o metal inteiro. Os átomos do metal positivamente carregados são, então, atraídos para o mar de elétrons, mantendo o metal unido” (TRO, 2017, p. 385). FIGURA 53 – LIGAÇÃO METÁLICA X MAR DE ELÉTRONS FONTE: O autor TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 79 2.4.1 Características dos compostos metálicos As características dos compostos metálicos (ou metais) são explicadas pela formação do mar de elétrons. Assim, podemos destacar que: • Eles são bons condutores de eletricidade, pois diferentemente dos compostos iônicos onde os elétrons estão confinados a um íon, nos compostos metálicos eles estão livres para circular. • São bons condutores de calor, pelo mesmo motivo anterior, os elétrons ajudam a dispersar a energia térmica. • Possuem pontos de fusão e ebulição extremamente altos, com exceção do mercúrio (Hg); • São maleáveis e dúcteis, pois, como não há nenhuma “ligação” específica, “podemos deformá-lo com relativa facilidade forçando os íons do metal a passar um pelo outro. O mar de elétrons acomoda facilmente deformações fluindo para a nova forma” (TRO, 2017, p. 415-416). 2.4.2 Ligas metálicas As ligas metálicas são misturas de pelo menos dois metais diferentes com o objetivo de obter um produto ofereça propriedades que os metais isoladamente não possuem, dessa forma as ligas metálicas possuem diversas finalidades. Geralmente, as propriedades melhoradas estão relacionadas a uma maior resistência mecânica, maior dureza, maior resistência a corrosão e melhor condutividade térmica e elétrica. Veja as principais ligas metálicas e suas aplicações na tabela a seguir. 80 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA LIGA METÁLICA COMPONENTES APLICAÇÕES Latão Cobre (Cu) [67%] + Zinco (Zn) [33%] Latões, parafusos, vál- vulas, bijuterias, tubos Bronze Cobre (Cu) [90%] + Estanho (Sn) [10%] Moedas, instrumentos musicais, medalhas Aço Comum Ferro (Fe) [98,5-99,9%] + Carbono (C) [0,1-1,5%] Peças, estruturas, fios Aço Inox Aço [74%] + Níquel (Ni) [8%] + Crômio (Cr) [18%] Talheres, utensílios domésticos Amálgama Mercúrio (Hg) [50%] + Prata (Ag) [35%] + Estanho (Sn) [15%] Obturações odontológicas, mineração de ouro Ouro 18 Quilates Ouro (Au) [75%] + Prata (Ag) [12,5%] + Cobre (Cu) [12,5%] Joias, ornamentos Solda Comum Chumbo (Pb) [67%] + Estanho (Sn) [33%] Solda elétrica Níquel-Crômio Níquel (Ni) [60%] + Crômio (Cr) [15%] + Ferro (Fe) [25%] Fios de resistência elétrica Duralumínio Alumínio [95%] + Cobre (Cu) + Magnésio (Mg) + Manganês (Mn) [5%] Peças de automóveis e aviões FONTE: O autor 3 POLARIDADE E GEOMETRIA Uma frase bem comum de se ouvir em um laboratório quando se fala de solubilidade das substâncias é: semelhante dissolve semelhante. Esta semelhança a qual a frase se refere está relacionada à polaridade das moléculas, ou seja, substâncias polares tendem a dissolver substâncias polares, e substâncias apolares tendem a dissolver substâncias apolares. Esta polaridade pode ser definida ao se analisar a polaridade e a geometria das moléculas. 3.1 GEOMETRIA MOLECULAR A geometria molecular define a forma espacial assumida pelos átomos de uma molécula a partido do momento em que eles se unem. Segundo Batista (2015, p. 45), “quando ocorre uma ligação química, os átomos formam ângulos entre si, adotando determinada geometria. Existem várias teorias que permitem fazer uma previsão sobre a geometria das moléculas [...]”, porém, a mais confiável é a Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR, sigla em inglês para Valence Shell Electron Pair Repulsion). “Esse modelo TABELA 17 – PRINCIPAIS LIGAS METÁLICAS E SUAS APLICAÇÕES TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 81 foi proposto, em 1940, por Nevil Vincent Sidgwick (1873-1952) e desenvolvida por Ronald Sydney Nyholm (1917-1971), autor que publicou em 1957. O modelo foi aperfeiçoado e divulgado novamente, em 1970, por Ronald James Gillespie (1924)” (BATISTA, 2015, p. 45, grifo do autor). Essa teoria considera os pares de elétrons ligantes e isolados que estão envoltos do átomo central da molécula. Estes pares de elétrons ocupam espaço e tendem a se distanciar o máximo possível, se arranjando numa geometria molecular que mantenha a molécula o mais estável possível. A tabela a seguir ajuda na predição das geometrias moleculares considerando os pares ligantes e isolados. TABELA 18 – GEOMETRIA MOLECULAR (VSEPR) NCT PL PNL GEOMETRIA ÂNGULO MODELO MOLECULAR EXEMPLO 2 2 0 Linear 180° CO2, BeH2 3 3 0 Trigonal Plana 120° BF3, 2 1 Angular ~119° H2S, SO2 4 4 0 Tetraédrica 109,5° , CH4 3 1 Piramidal Trigonal ~107° NH3, H3O+ 2 2 Angular ~104,5° H2O, 82 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 5 5 0 Bipiramidal Trigonal 90°/120° PC 5, PBr3F2 4 1 Gangorra <90°/<120° SF4, SeC 4 3 2 Forma de T 90° C F3, C Br3 2 3 Linear 180° XeF2, I3 - 6 6 0 Octaédrica 90° SF6, PF6 5 1 Piramidal Quadrada ~90° BrF5, TeF5 4 2 Quadrática Plana 90° XeF4, BrF4 TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 83 3 3 Forma de T 90° - 2 4 Linear 180° - NCT = Número de Coordenação Total (número total de pares de elétrons) PL = Pares Ligantes PNL = Pares Não Ligantes (pares isolados) FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3gTyG1I>. Acesso em: 26 maio 2020. OBSERVAÇÃO: somente os pares de elétrons das ligações sigma (σ) são contados como pares ligantes, assim, quando dois átomos estabelecem uma ligação dupla ou tripla, esta será considerada apenas um par de elétrons ligantes. Pares isolados ocupam mais espaço do que pares ligantes.Note que nos modelos das moléculas são apresentados três tipos de “ligações” que são representados pelos símbolos a seguir. Estas representações estão associadas à posição da ligação em relação ao plano no qual a molécula se encontra. A representação A indica que a ligação está alinhada ao plano, a representação B indica que a ligação está posicionada para frente do plano e a representação C para trás do plano. FIGURA 54 – REPRESENTAÇÃO DAS LIGAÇÕES NA GEOMETRIA FONTE: O autor 84 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 3.2 POLARIDADE DAS LIGAÇÕES Ao tratar sobre as propriedades periódicas foi apresentada a eletronegatividade, uma propriedade que está relacionada à força de atração exercida sobre os elétrons de uma ligação. A diferença de eletronegatividade entre os átomos participantes de uma ligação é essencial para definir qual tipo de ligação está estabelecida e poder identificar se o composto apresenta características iônicas ou covalentes, geralmente, temos que: FIGURA 55 – ELETRONEGATIVIDADE X POLARIDADE DAS LIGAÇÕES FONTE: O autor Quando dois átomos do mesmo elemento estabelecem uma ligação através do compartilhamento de elétrons, temos a formação de uma ligação covalente apolar, pois ambos possuem a mesma eletronegatividade, ou seja, atraem o par de elétrons com a mesma intensidade. Já quando átomos de elementos diferentes estabelecem esse compartilhamento, temos a formação de uma ligação covalente polar. Neste caso, o elemento mais eletronegativo atrai mais fortemente o par de elétrons para si, formando um polo negativo (δ -) enquanto o outro átomo, de menor eletronegatividade, apresenta-se como o polo positivo (δ +), deficiente de elétrons. Quanto maior a diferença de eletronegatividade mais polar é a ligação. Quando a diferença de eletronegatividade extrapola o valor de 1,7, temos uma ligação iônica. Para este caso, a diferença entre os valores de eletronegatividade dos átomos é tão grande que os elétrons são arrancados de um átomo e transferidos para o outro, formando íons. TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 85 3.3 POLARIDADE DAS MOLÉCULAS As moléculas podem ser polares ao apolares, porém, não se engane achando que se uma molécula apresenta ligações polares ela será polar. Em muitos casos uma molécula com ligações polares pode ser apolar, isso dependerá do momento dipolar resultante . O momento dipolar resultante é um vetor obtido pela soma dos momentos dipolares das ligações. Vetores são símbolos matemáticos utilizados na representação de grandezas vetoriais, estas grandezas são bem definidas quando são atribuídos a elas intensidade (módulo), direção e sentido. Os vetores são representados por setas. A intensidade é representada por um valor, no caso do momento dipolar, é a diferença de eletronegatividade entre os átomos. Em muitos casos o tamanho do vetor (seta) indica sua intensidade. A direção, indicada pela reta suporte, está associada a horizontal, vertical ou diagonal. Já o sentido, representado pela ponta da seta, está associado com alguns dos seguintes termos, para direita, para esquerda, para cima e para baixo. FIGURA 56 – REPRESENTAÇÃO DE VETORES FONTE: O autor Moléculas formadas por apenas ligações apolares são moléculas apolares. E ainda, para moléculas diatômicas, ou seja, formada apenas por dois átomos, o tipo de ligação estabelecida entre os átomos indica a polaridade da molécula. Já as moléculas que apresentam ligações polares podem ser polares ou apolares, e isso dependerá do momento dipolar resultante. Este momento por sua vez estará relacionado à orientação dos vetores de cada ligação e com a geometria da molécula. Quando a molécula é apolar e quando a molécula é polar. Veja alguns exemplos a seguir. 86 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA FIGURA 57 – MOLÉCULAS POLAR E APOLAR FONTE: O autor A molécula de dióxido de carbono possui ligações polares entre os átomos de carbono e oxigênio, como o oxigênio é mais eletronegativo o momento dipolar é apontado para ele, porém, note que a molécula é linear e temos dois momentos dipolares de mesma intensidade apontados para sentidos diferentes, assim, um anula o outro. Para facilitar, imagine essa situação como um cabo de guerra, se duas pessoas iguais puxassem a corda cada uma de um lado ninguém sairia do lugar, ou seja, não haveria polos, que é o que ocorre para esta molécula. Já a molécula de água possui ligações polares entre hidrogênio e oxigênio, sendo este último mais eletronegativo, porém, note que ela tem geometria angular e os dois momentos dipolares estão voltados para cima, gerando um momento dipolar resultante diferente de zero. Isso faz com que a água seja uma substância polar, tendo seu polo negativo (δ –) próximo ao oxigênio e o polo positivo (δ +) próximo ao hidrogênio. 4 INTERAÇÕES INTERMOLECULARES Assim como os átomos, que interagem entre si através de ligações químicas, as substâncias químicas também estabelecem interações. Estas interações são chamadas de interações intermoleculares (ou forças intermoleculares) apesar de haver algumas interações que ocorrem entre um íon e uma molécula. Segundo Tro (2017, p. 488), A estrutura das partículas que constituem uma substância determina a intensidade das forças intermoleculares que mantêm a coesão da substância, o que, por sua vez, determina se a substância é um sólido, um líquido ou um gás a uma dada temperatura. À temperatura ambiente, forças intermoleculares moderadas a intensas tendem a formar líquidos e sólidos (altos pontos de fusão e ebulição) e forças intermoleculares fracas tendem a formar gases (baixos pontos de fusão e ebulição). As forças intermoleculares têm origem nas interações entre cargas, cargas parciais e cargas temporárias nas moléculas (ou nos átomos e íons) [...]. TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 87 Muitas vezes, algumas das interações intermoleculares são agrupadas e chamadas de forças de Van der Waals, uma homenagem ao físico neerlandês Johannes Diderik Van der Waals (1837-1923) o primeiro a teorizar e descrever essas interações. As forças de Van der Waals são classificadas como: • Dipolo Instantâneo – Dipolo Induzido • Dipolo Permanente – Dipolo Induzido • Dipolo Permanente – Dipolo Permanente Além das forças de Van der Waals, podemos destacar ainda mais dois tipos de interações: • Ligações de Hidrogênio • Íon – Dipolo 4.1 DIPOLO INSTANTÂNEO – DIPOLO INDUZIDO Esse tipo de interação é conhecido também como forças de London (ou força de dispersão). Esta interação foi explicada pelo físico alemão naturalizado norte-americano Fritz Wolfgang London (1900-1954), durante os seus estudos sobre a atração entre átomos de gases nobres. “As forças de London estão presentes em todas as interações moleculares, sendo as moléculas polares ou não. No caso das moléculas apolares, é a única força presente” (LIMA, 2014, s.p.). Além disso, este é o tipo de interação que ocorre entre átomo de gases nobres. Essa interação é explicada pelo fato de os elétrons de um átomo ou uma molécula poderem, a qualquer instante, ficar desigualmente distribuídos. Essa distribuição desigual leva à formação de polos positivo e negativo, consequentemente essa formação de polos induz o átomo ou molécula próximo a formar polos também e assim estabelecer uma interação. FIGURA 58 – FORÇA DE LONDON NO HÉLIO (He) FONTE: Adaptado de: TRO, Nivaldo J. Química: uma abordagem molecular. 3. ed. Rio de Janei- ro: LTC, 2017, p. 489-490. 88 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA 4.2 DIPOLO PERMANENTE – DIPOLO INDUZIDO As interações de dipolo permanente-dipolo induzido podem ser chamadas de forças de Debye, em homenagem a Petrus Josephus Wilhelmus Debye (1884- 1966), um físico-químico estadunidense de origem neerlandesa, que com seus estudos fez descobertas e descreveu matematicamente a formação de dipolos. Esta interação dá-se quando uma molécula polar se aproxima de uma molécula apolar. Uma extremidadecom excesso de carga da molécula polar pode fazer deslocar elétrons da molécula apolar para uma das extremidades, conduzindo à formação de um dipolo momentâneo (induzido), resultando assim uma atração entre os dois dipolos (LIMA, 2014, s.p.). 4.3 DIPOLO PERMANENTE – DIPOLO PERMANENTE As interações dipolo permanente–dipolo permanente, ou simplesmente, dipolo–dipolo, também são conhecidas como forças de Keesom, em tributo ao físico holandês Willem Hendrik Keesom (1876-1956), que desenvolveu o modelo matemático para explicar esse fenômeno. As forças de Keesom ocorrem entre moléculas polares, ou seja, moléculas que possuem dipolos permanentes. O polo positivo de uma molécula polar atrai o polo negativo de outra molécula a assim sucessivamente. FIGURA 59 – FORÇA DE KEESOM PARA NO HC FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2AqlbHi>. Acesso em: 28 maio 2020. 4.4 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO As ligações de hidrogênio, antigamente denominadas pontes de hidrogênio, são um tipo específico de interação dipolo – dipolo. Nessa interação um átomo de hidrogênio de determinada molécula polar interage com flúor (F), TÓPICO 3 —LIGAÇOES QUÍMICAS E INTERAÇÕES INTERMOLECULARES 89 oxigênio (O) ou nitrogênio (N) de outas moléculas. Talvez a situação mais clássica em que a ligação de hidrogênio se estabelece é entre as moléculas de água (H2O). FIGURA 60 – LIGAÇÃO DE HIDROGÊNIO ENTRE MOLÉCULAS DE ÁGUA FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/2AqlbHi>. Acesso em: 28 maio 2020. 4.5 ÍON – DIPOLO Esse tipo de interação geralmente é estudado com as forças intermoleculares apesar de elas serem, na verdade, uma interação entre íon e molécula ao invés de molécula com molécula (BIOLOGIA TOTAL, 2019). Esse tipo de interação é extremamente forte e ela explicar a grande capacidade de solubilização de sais. Na figura a seguir é possível verificar a interação íon – dipolo quando o cloreto de sódio (NaC ), composto iônico, é dissolvido em água. FIGURA 61 – INTERAÇÃO ÍON – DIPOLO ENTRE ÁGUA E CLORETO DE SÓDIO FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3gCJW3Q>. Acesso em: 29 maio 2020. 90 UNIDADE 1 —INTRODUÇÃO À QUÍMICA Quando um composto iônico ou substância polar é dissolvido em uma substância polar sem formar uma nova substância chamamos esse fenômeno de solvatação. Nesta situação, moléculas do solvente envolvem moléculas ou íon do soluto. IMPORTANTE 4.6 IMPLICAÇÕES DAS INTERAÇÕES INTERMOLECULARES Dependendo do tipo de interação que ocorra, seja entre moléculas ou entre íon e molécula, devemos saber que esta interação irá influenciar em propriedades das substâncias nas CNTP, por exemplo, estado físico, solubilidade, volatilidade, densidade, temperatura de ebulição etc. Assim, a primeira análise a ser feita é a respeito da intensidade de cada uma das interações. FIGURA 62 – INTENSIDADE DAS INTERAÇÕES INTERMOLECULARES FONTE: O autor No geral, conclui-se que, ao aumentar a intensidade da interação, mais forte serão as ligações entre as moléculas ou entre as moléculas e íons, e, consequentemente, maior serão os pontos de ebulição e maior será a densidade. Quanto aos estados físicos, o aumento da intensidade da interação faz com que tenhamos estados mais condensados, ou seja, sólidos apresentam interações mais fortes enquanto gases apresentam interações mais fracas. Com relação à solubilidade, como já foi citado anteriormente, substâncias polares tendem a dissolver substâncias polares enquanto apolares tendem a dissolver apolares devido à interação que ocorre entre elas. Por último, mas não menos importante, temos a volatilidade, quanto mais fraca a interação maior é a volatilidade de determinada substância. 91 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Para adquirir estabilidade os átomos estabelecem ligações químicas entre si. • As ligações iônicas são ligações químicas que ocorrem através da transferência de elétrons, onde temos átomos doam elétrons e formam cátions e átomos que recebem elétrons e formam ânion. • As ligações covalentes ocorrem através do compartilhamento de pares de elétrons. Na ligação covalente normal cada átomo cede um elétron para que a ligação seja estabelecida, já na ligação covalente coordenada um único átomo cede o par de elétrons. • A diferença de eletronegatividade entre os átomos determina se a ligação é iônica, covalente polar ou covalente apolar. • A fórmula de Lewis usada para representar os compostos é indicada pelo símbolo do elemento, que corresponde ao núcleo e os elétrons que não fazem parte da camada de valência, circundado por pontos (•) ou xises (x), que correspondem aos elétrons de valência. • O número de pares de elétrons compartilhados entre dois átomos indica se eles estabelecem uma ligação simples, dupla ou tripla, sendo que, a primeira ligação estabelecida é a sigma (σ) e as demais são pi (π). • Na ligação metálica há a formação de um “mar de elétrons”, onde os núcleos positivos ficam distribuídos em forma de rede enquanto os elétrons de valência circulam livremente entre esses núcleos. • A criação de ligas metálicas tem como objetivo melhorar alguma propriedade apresentada pelo metal isolado. • Considerando a Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR) é possível determinar a geometria das moléculas. • Considerando a geometria molecular a polaridade das ligações é possível caracterizar a substância como polar (quando o momento dipolar é diferente de zero) ou apolar (quando o momento dipolar é igual a zero). 92 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • As substâncias interagem através de interação intermoleculares, sendo elas: dipolo instantâneo – dipolo induzido, dipolo permanente – dipolo induzido, dipolo permanente – dipolo permanente, ligações de hidrogênio e interação íon – dipolo. 93 1 O elemento cloro ( ) é um dos mais conhecidos da Tabela Periódica. Na forma de substância simples ele se apresenta como um gás de coloração amarelo esverdeada, porém, ele também forma compostos com carbono, cálcio, hidrogênio e sódio. Monte as fórmulas de Lewis para os compostos formados entre cloro e os outros elementos e classifique-os como covalentes ou iônicos. Utilize a Tabela Periódica como apoio. 2 O gás nitrogênio (N2) ocupa cerca de 78% da composição da atmosfera terrestre. Além disso, ele é um gás incolor, inodoro e insípido. Monte as fórmulas de Lewis e estrutural do gás e indique que tipo de ligação se estabelece entre os átomos: simples, dupla ou tripla? Polar ou apolar? 3 A determinação de propriedades das substâncias, como pontos de fusão e ebulição, dureza, solubilidade, entre tantas outras, é resultado da estrutura interna da substância no momento em que os átomos estão se ligando. Essa estrutura, chamada de geometria da molécula, em junção com a polaridade da molécula, irá permitir analisar o comportamento da substância e prever as propriedades citadas anteriormente. Considerando a importância do conhecimento sobre este assunto, determine a geometria e a polaridade das seguintes substâncias: a) ( ) NH₃ b) ( ) HCN c) ( ) CC ₄ d) ( ) SF₆ 4 As bases nitrogenadas são compostos químicos responsáveis pela composição do DNA e do RNA, sendo estes os ácidos nucleicos encontrados nas células. Essas bases nitrogenadas são moldes para as proteínas que proporcionaram as características do indivíduo. Considerando o exposto, observe a imagem a seguir: FONTE: <https://bit.ly/2ApkDBN>. Acesso em: 29 maio 2020. AUTOATIVIDADE 94 Na imagem são apresentadas as bases nitrogenadas que formam as duas fitas de dupla hélice que formam o DNA. Note que há uma interação que ocorre entre as duas fitas e que é destacada através da linha pontilhada. Assim, determine qual o tipo de interação intermolecular está ocorrendo. Justifique sua resposta. 5 Algumas propriedades como ponto de fusão, pontode ebulição e condução de corrente elétrica permitem determinar o tipo de ligação de prevalece entre os átomos de determinado composto. Essa avaliação é útil principalmente quando falamos de Química Analítica Qualitativa, um ramo da Química que tem como objetivo avaliar amostras e determinar seus constituintes. Considerando o exposto, imagine que em uma análise qualitativa foram encontradas as substâncias A, B e C em uma amostra e suas propriedades foram definidas de acordo com a tabela a seguir. Dessa forma, determine o tipo de ligação que prevalece para cada uma das substâncias e preencha na tabela. SUBS- TÂNCIA PONTO DE FUSÃO PONTO DE EBULIÇÃO CONDUÇÃO DE CORRENTE ELÉTRICA TIPO DE LIGAÇÃO QUÍMICASólido Líquido A 1856°C 2550°C Sim Sim B 80°C 203°C Não Não C 1547°C 1992°C Não Sim 95 REFERÊNCIAS BARRETO, P. G.; DE BARROS, A. E. A. Os principais tipos de materiais magné- ticos e o princípio de exclusão de PAULI. Revista do Professor de Física, v. 3, n. Especial, p. 1-2, 5 jul. 2019. BATISTA, C. História da tabela periódica. [201-]. Disponível em: https://www. todamateria.com.br/historia-da-tabela-periodica/. Acesso em: 12 maio 2020. BATISTA, F. R. Química: Ensino Médio. Curitiba: Positivo, 2015. v. 2. BIOLOGIA TOTAL (Org.). Forças intermoleculares: o que são e o que causam? 2019. Disponível em: https://blog.biologiatotal.com.br/forcas-intermoleculares/. Acesso em: 29 maio 2020. BRADY, J. E.; HUMISTON, G. E. Química geral. 2. ed. São Paulo: LTC, 1986. BROWN, T. L. et al. 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TÓPICO 1 – ÁCIDOS E BASES TÓPICO 2 – SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS TÓPICO 3 – REAÇÕES QUÍMICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 98 99 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, chegamos a uma nova unidade do nosso livro didático, e nela pretendemos abordar grupos de substâncias que apresentam características semelhantes entre si, são as funções químicas. Mais especificamente trataremos das funções inorgânicas, que comtemplam muitas das substâncias utilizadas no nosso cotidiano. Começaremos abordando ácidos e bases, que são substâncias muito utilizadas em laboratório e geralmente estão envolvidos processos extremamente importantes. Segundo Zapp et al. (2015, p. 278), O conhecimento de ácidos e bases faz parte de muitas situações cotidianas [...] como, por exemplo, a ingestão de um antiácido utilizado para amenizar a acidez estomacal, a ocorrência de chuvas ácidas ou ainda a partir de determinações políticas, econômicas e sociais que envolvem as indústrias e o seu consequente impacto ambiental. Além disso, o aspecto primordial dessas funções químicas vai mais além, pois muitas reações químicas que ocorrem no nosso organismo envolvem ácidos e bases, e conhecer essas reações e todas as características dessas funções ajuda, de forma geral, na fundamentação de outros conceitos relacionados à Química (BRUNIG e SÁ, 2013). É válido ressaltar que o conhecimento sobre essas substâncias já data de muito tempo, sendo que “os termos ‘ácido’ e ‘sal’ datam da Antiguidade, ‘álcali’, da Idade Média e ‘base’ do século XVIII” (CHAGAS, 1999, p. 28). 2 TEORIAS ÁCIDO-BASE Afinal de contas, o que define um ácido? E uma base? Quais são as características que fazem com que estas substâncias se definam como funções? É isso que pretendemos entender com as teorias ácido-base. Com o intuito de compreender o comportamento destas substâncias ácidas e básicas (ou alcalinas) e as reações características dessas funções, muitos estudos foram realizados a fim de defini-los. Estes estudos levaram à elaboração das teorias ácido-base. “As teorias ácido-base, ou seja, as teorias que procuram explicar o comportamento dessas substâncias baseando-se em algum princípio TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 100 mais geral, são [...] bastante antigas, porém vamos considerar apenas as do século XX” (CHAGAS, 1999, p. 28). Dentre as teorias formuladas para explicar o comportamento de ácidos e bases, destacaremos as seguintes: •Teoria de Arrhenius (1887) • Teoria de Bronsted-Lowry (1923) • Teoria de Lewis (1923) É importante destacar que estas teorias não se anulam. Na realidade, cada uma delas aborda fenômenos e reações diferentes ampliando consideravelmente o conceito de ácidos e bases nas mais diversas situações (FOGAÇA, 2011). 2.1 TEORIA DE ARRHENIUS Iniciamos nosso estudo sobre as teorias ácido-base com a teoria proposta pelo químico sueco Svante August Arrhenius (1859-1927). Esta teoria é a mais utilizada quando comparadas as demais, sendo o principal objeto de estudo, por exemplo, no ensino médio. Para Arrhenius: • Ácido: toda substância que em solução aquosa libera como único cátion o íon H⁺(em alguns casos pode ser representado por pelo íon hidrônio (H³O⁺)). • Base: toda substância que em solução aquosa libera como único ânion o íon OH– (hidroxila). É importante que você tenha em mente que dois processos distintos ocorrem com ácidos e bases quando em solução aquosa. Bases, quando dissolvidas em água, sofrem um processo denominado dissociação, processo no qual compostos iônicos têm seus íons separados. Já os ácidos passam por um processo diferente chamado de ionização. Esse processo permite que um composto molecular adquira uma carga negativa ou positiva ao ganhar ou perder elétrons. Inclusive, estes fenômenos foram formulados por Arrhenius em seus estudos que levaram a elaboração de sua teoria ácido-base. Para saber mais sobre outras teorias ácido-base você pode fazer a leitura do artigo Teorias Ácido-Base do Século XX, escrito por Aécio Pereira Chagas e publicado pela revista Química Nova na Escola. Acesse através do link https://bit.ly/2AWLZPC. DICAS TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 101 Veja a seguir os exemplos genéricos de ácido e base segundo Arrhenius: FIGURA 1 – ÁCIDO E BASE DE ARRHENIUS FONTE: O autor “Esta teoria foi muito importante, pois além de dar conta de um grande número de fenômenos já conhecidos, provocou o desenvolvimento de várias linhas de pesquisa, inclusive contribuindo para estabelecer as bases científicas da química analítica” (CHAGAS, 1999, p. 28). 2.2 TEORIA DE BRONSTED-LOWRY Proposta em 1923, de forma independente, pelos cientistas Johannes Nicolaus Brønsted (1879-1947) e Thomas Martin Lowry (1874-1936), essa teoria ácido-base aumenta a definição de como determinar um ácido e uma base. Diferente da teoria de Arrhenius, estes cientistas definiram ácidos e bases na ausência de água. Assim, para eles: Ácido: é qualquer substância capaz de doar um próton. Base: é qualquer substância capaz de receber um próton. É importante destacar que se considera como próton o íon hidrogênio (H⁺). Ao doar um próton o ácido irá se transformar em sua base conjugada e a base ao receber um próton se tornará seu ácido conjugado. Veja o exemplo apresentado na Figura 2. FIGURA 2 – ÁCIDOS E BASES DE BRONSTED-LOWRY FONTE: O autor UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 102 Note que as reações estão em equilíbrio ( ), assim, os pares conjugados podem fazer o caminho oposto e se tornarem os ácidos e bases que lhes deram origem. 2.3 TEORIA DE LEWIS Em 1923, mesmo ano que a Teoria de Bronsted-Lowry foi publicada, o químico americano Gilbert Newton Lewis (1875-1946) desenvolveu outra teoria para explicar o comportamento de ácidos e bases, e que leva o seu nome. Para ele: Ácido: é toda espécie química capaz de receber um par de elétrons. Base: é toda espécie capaz de doar um par de elétrons. Segundo Fogaça (2011, s. p.), Essa teoria introduz um conceito novo, é mais abrangente, mas não invalida a teoria de Bronsted-Lowry. Pois todo ácido de Lewis é um ácido de Bronsted, e consequentemente toda base de Lewis é uma base de Bronsted. Isto ocorre porque um próton recebe elétrons, ou seja, um ácido de Lewis pode unir-se a um par solitário de elétrons em uma base de Lewis. Veja um exemplo da teoria ácido-base de Lewis na Figura 3. A teoria ácido-base de Lewis é muito utilizada na Química Orgânica, princi- palmente no que diz respeito às reações orgânicas. Nelas, o ácido de Lewis e a base de Lewis são chamados, respectivamente, de reagentes eletrófilos e reagentes nucleófilos. • Reagentes eletrófilos: são grupos que necessitam de um par de elétrons e, durante uma reação orgânica, sempre atacam a parte negativa de uma molécula; • Reagentes nucleófilos: são grupos capazes de doar um par de elétrons e, durante uma reação orgânica, sempre atacam a parte positiva de uma molécula. FONTE: DIAS, Diogo Lopes. Teoria ácido-base de Lewis. 2016. Disponível em: <https://bit. ly/2Z5yfKO>. Acesso em: 23 jun. 2020. NOTA TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 103 FIGURA 3 – ÁCIDOS E BASES DE LEWIS FONTE: O autor Esta teoria é extremamente abrangente, mas pode-se destacar sua aplicação no estudo de mecanismos de reações orgânicas e no campo da química de coordenação. Quanto à abrangência dos conceitos de ácidos e bases desta teoria podemos relacioná-la as demais teorias utilizando um diagrama de Venn. FIGURA 4 – DIAGRAMA DE VENN DAS TEORIAS ÁCIDO-BASE FONTE: O autor Como citado anteriormente, uma teoria não exclui a outra, na realidade elas se complementam, ampliando os conceitos de ácidos e bases. 3 POTENCIAL HIDROGÊNIÔNICO (pH) Cotidianamente, a identificação qualitativa e/ou quantitativa de um ácido ou uma base pode ser feita com o uso de uma escala numérica adimensional chamada de potencial hidrogeniônico ou simplesmente pH. O valor do pH de uma substância é definido com um logaritmo da concentração de íons H⁺, conforme é apresentado na fórmula a seguir. UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 104 FIGURA 5 – FÓRMULA PARA DEFINIÇÃO DO pH FONTE: O autor Caro acadêmico, as principais propriedades logarítmicas utilizadas para reso- lução da fórmula do pH são apresentadas a seguir: IMPORTANTE A escala de pH varia de 0 a 14 a 25°C, através dela podemos observar três situações diferentes: • pH < 7 o meio é ácido, sendo a [H+] > [OH–] • pH = 7 o meio é neutro, sendo a [H+] = [OH–] • pH > 7 o meio é básico (ou alcalino), sendo a [H+] < [OH–] A escala é apresentada na Figura 6, com algumas substâncias e seus respectivos valores de pH. TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 105 FIGURA 6 – ESCALA DE pH E EXEMPLOS FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3duv6cN>. Acesso em: 25 jun. 2020. 3.1 INDICADORES ÁCIDO-BASE A natureza nos apresenta várias plantas, flores e frutas que possuem substâncias coloridas em sua formação e que podem sofrer modificação dessa coloração dependendo do pH do meio em que se encontram. Estes indicadores naturais de pH são, muitas vezes, utilizados como recurso didático nas escolas por sem de fácil acesso (CUCHINSKI; CAETANO; DRAGUNSKI, 2010). Veja alguns exemplos desses indicadores na Figura 7, apresentada a seguir: A escala de pH varia em função da temperatura, porém, na maioria dos casos, trabalha-se com a escala a 25°C, como neste livro didático. Se quiser saber mais sobre o assunto, acesse o link bit.ly/2Z6PH1R, em que é apresentada uma comparação entre a escala a 25°C e a 45°C. IMPORTANTE UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 106 FIGURA 7 – INDICADORES NATURAIS DE pH FONTE: <https://bit.ly/2VifgeX>, <https://bit.ly/2YyhskL>. Acesso em: 26 jun. 2020. Segundo Cuchinski, Caetano e Dragunski (2010, p.17), [...] os indicadores são substâncias capazes de mudar de cor dependendo das características físico-químicas da solução na qual estão contidas. [...] Os indicadores ácido-base, ou indicadores de pH, são substâncias orgânicas fracamente ácidas (indicadores ácidos) ou fracamente básicas (indicadores básicos) que apresentam cores diferentes para as suas formas protonadas e desprotonadas. A mudança de coloração ocorre numa estreita, porém, bem definida faixa de pH. Dentre os diversos indicadores utilizados para determinação da faixa de pH das soluções, podemos destacar alguns, que são apresentados no Quadro 1. A propriedade relacionada à mudança de coloração em função do pHdo meio recebe o nome de Halocromismo. Para saber mais sobre essa mudança de cor e o uso de flores como indicadores de pH, leia a publicação Indicadores de pH a partir das flores das espécies Macroptilium atropurpureum, Centrosema brasilianum e Ipomoea asa- rifolia, disponível através do link: bit.ly/3g4zzVt. NOTA TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 107 QUADRO 1 – INDICADORES ÁCIDO-BASE FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2ZeAFHc>. Acesso em: 26 jun. 2020. É comum o uso da Tira Universal de pH (Figura 8) para determinação do pH em diversas situações. Esse tipo de medição é a mais frequente em laboratórios, porém é aplicada ainda no campo da agronomia, medicina, biologia, química, nutrição, tratamento de água, entre outros. As tiras de pH não necessitam de nenhuma calibração, manutenção e são muito práticas para aplicar em qualquer rotina. As tiras de pH consistem num filtro de papel impregnado com um indicador ou uma mistura de indicadores, que aponta a escala de pH – do ácido ao básico – através de uma variedade de cores. Ou seja, existe uma cor diferente para cada número na escala do pH e através dessa diferenciação é possível classificar a solução em análise (KASVI, 2016, s. p.). Indicador Coloração abaixo da faixa de Viragem Faixa de Viragem de pH Coloração acima da faixa de Viragem Azul de Tornassol vermelho 1,0 – 6,9 azul Amarelo Metanil vermelho 1,2 – 2,4 amarelo Azul de Timol (1ª transição) vermelho 1,2 – 2,8 amarelo Azul de Bromofenol amarelo 3,0 – 4,6 violeta Vermelho do Congo azul 3,0 – 5,2 vermelho Laranja de Metilo vermelho 3,1 – 4,4 amarelo Vermelho de Metila vermelho 4,4 – 6,2 amarelo Azul de Bromotimol amarelo 6,0 – 7,6 azul Vermelho de Fenol amarelo 6,6 – 8,0 vermelho Azul de Timol (2ª transição) amarelo 8,0 – 9,6 azul Fenolftaleína incolor 8,2 – 10,0 rosa-carmim Amarelo de Alizarina R amarelo 10,1 – 12,0 vermelho Carmim de Indigo azul 11,4 – 13,0 amarelo Verde de Bromocresol amarelo 3,8 – 5,4 azul Vermelho de Bromofenol amarelo 5,2 – 7,0 púrpura Vermelho Neutro vermelho 6,8 – 8,0 amarelo Vermelho de Cresol vermelho 7,2 – 8,8 amarelo UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 108 FIGURA 8 – TIRA UNIVERSAL DE pH FONTE: <https://bit.ly/2H9ypM7>. Acesso em: 6 jul. 2020. 3.2 ÍONS COMUNS E SOLUÇÃO-TAMPÃO No laboratório de Química é comum encontrar substâncias que atuam de forma a impedir a variação de pH de determinada solução. Estas são chamadas de soluções-tampão. Para que possamos verificar como uma solução-tampão funciona, precisamos compreender o efeito do íon comum. Tudo começa com o Princípio de Le Châtelier, desenvolvido pelo químico e metalurgista francês Henri Louis Le Châtelier (1850-1936) durante seus estudos sobre equilíbrio químico. Segundo Skoog et al. (2005, p. G-11), este princípio afirma que “[...] a aplicação de uma perturbação a um sistema químico em equilíbrio resultará em uma mudança na posição do equilíbrio no sentido de minimizar o efeito da perturbação”. Ao ser adicionado um íon comum em uma reação que já se encontra em equilíbrio, provocamos um deslocamento desse equilíbrio, isso fará com que o íon adicionado seja consumido, dando a esse fenômeno o nome de efeito do íon comum. Veja a figura 9. FIGURA 9 – EFEITO DO ÍON COMUM SOBRE O EQUILÍBRIO FONTE: O autor TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 109 “O efeito do íon comum é responsável pela capacidade que as soluções- tampão possuem de quase não sofrer variação de pH [...] com a adição de pequenas quantidades de ácidos fortes ou bases fortes em seu meio” (PRIETO, 2019, s. p.). Prieto (2019, s. p.) afirma que: Uma solução tampão pode ser formada por um ácido de natureza fraca e por um sal formado da reação entre esse ácido e uma base forte (ou seja, um sal de base forte). A solução tampão também pode ser formada por base fraca e por um sal formado pela reação dessa base com um ácido forte (sal de ácido forte). Esta solução é dita “tamponada” e pode ser preparada através da dissolução das substâncias em água. Para entender como funciona o efeito tampão, fenômeno no qual uma solução-tampão mantém praticamente inalterado o valor de pH da solução com adição de pequenas quantidades de ácido ou base fortes, vamos ver um exemplo. Exemplo: Imagine uma solução-tampão formada por ácido cianídrico (HCN) [ácido fraco] e cianeto de sódio (NaCN) [sal solúvel], teremos duas reações em equilíbrio: Note que o íon comum é o cianeto (CN–), assim, por ser um sal solúvel, o NaCN se dissocia facilmente e aumenta a disponibilidade desse íon em solução fazendo com que o equilíbrio representado em “a” seja deslocado ainda mais para esquerda, mantendo o ácido sob forma molecular. Se a esta solução for adicionada uma pequena quantidade de uma base forte, como hidróxido de potássio (KOH), esta sofre a seguinte dissociação: Os íons hidroxila (OH–) serão neutralizados pelos íons hidrogênio (H⁺) presentes no equilíbrio representado em “a”, dessa forma, novamente, o equilíbrio representado em “a” será deslocado, só que agora será para direita, a O efeito do íon comum pode ser utilizado para diminuir o grau de ionização de um ácido, o grau de dissociação de uma base ou a solubilidade de um sal. NOTA UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 110 fim de produzir mais íons hidrogênio e compensar o que foi consumido. Assim, a variação do pH da solução será pequena, pois enquanto a reação expressa em “b” faz com que o H⁺ seja consumido com o íon comum, a reação expressa em “c” faz com que ele seja formado. A adição sucessiva da base forte continuará deslocando o equilíbrio da reação expressa em “a” até que todo o ácido tenha sido ionizado, e neste momento se encerra o efeito tampão da solução. Agora, se adicionarmos um ácido forte, com por exemplo, ácido clorídrico ( ) a solução-tampão, observamos que este ácido se ioniza da seguinte maneira: Como o ácido cianídrico é um ácido fraco, ele tende a se manter na forma molecular, sendo assim, os íons H+ liberados na pelo ácido forte na reação “d” reagem com o íon cianeto (CN–) liberado no equilíbrio representado por “b” formando ácido cianídrico (HCN) e mantendo a variação de pH pequena. O efeito tampão irá cessar quando todo o sal da reação “b” tiver sido dissociado. A mesma lógica é aplicada quando temos uma solução tampão formada por uma base fraca e um sal que possua o mesmo cátion da base. O sangue humano possui uma solução-tampão muito importante, pois ele deve se manter com um pH entre 7,35 e 7,45 mesmo com a ingestão de pequenas quan- tidades de ácidos forte ou bases fortes. A manutenção do pH do sangue em níveis normais é fundamental para a manutenção das células, que são recobertas por sangue. Quando há variação nesse índice, as células não se comportam como o esperado, podendo morrer mais cedo e causar diversas complicações de saúde (MEDPREV, 2020, s. p.). A solução tampão do sangue é formada por ácido carbônico (H2CO3) e bicarbonato de sódio (NaHCO3) e quando o efeito tampão cessa dois fenômeno podem ser observados, a acidose, que faz com que o pH do sangue diminua, geralmente por problemas respira- tórios que impedem a expiração de gás carbônico (CO2), ou a alcalose, que faz com que ocorra um aumento do pH provocado principalmente por hiperventilação pulmonar. INTERESSANTE TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 111 4 NÚMERO DE OXIDAÇÃO (NOX) Segundo Ribeiro (2014, s. p.), O número de oxidação é um conceito convencional usado em química em variadas situações, inclusive na nomenclatura. O número de oxidação de um elemento em qualquer espécie química é a carga que ficaria no átomo desse elemento se os elétrons em cada ligação formada por esse átomo fossem atribuídos ao átomo mais eletronegativo. Ou seja, o número de oxidação, ou simplesmente NOX, representa a carga elétrica adquirida por um elemento quando este faz parte de um íon ou de uma substância. Mas você deve se perguntar, qual é o objetivo de aprender este tema antes de falarmos deácidos e bases? Na realidade, conhecer o número de oxidação é algo importante para Química. Através dele podemos determinar a nomenclatura de compostos (como faremos mais a frente), balancear reações de oxirredução e determinar fórmulas químicas. Antes de determinar o NOX de um elemento devemos conhecer algumas informações: • Para uma substância simples (Ex: ), o NOX do elemento será sempre zero; • Para íons monoatômicos (Ex: ) a carga do respectivo íon representa o valor do NOX; • A soma dos NOXs dos elementos que compõem uma substância será sempre igual a zero. • A soma dos NOXs dos elementos que compõem um íon poliatômico (Ex: SO₄2-) será sempre igual a carga do próprio íon. Alguns elementos possuem valor de NOX fixo: QUADRO 2 – ELEMENTOS COM NOX FIXO FONTE: O autor ELEMENTO NOX Grupo 1 (Li, Na, K, Rb, Cs, Fr) +1 Grupo 2 (Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Ra) +2 Zinco (Zn) +2 Prata (Ag) +1 Alumínio +3 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 112 • Na maioria dos compostos o hidrogênio (H) possui NOX igual a +1 (Exceto em hidretos metálicos, que são compostos binários no qual o hidrogênio se liga a um metal, como o hidreto de sódio [NaH]). Nesses casos ele possui NOX -1); • Na maioria dos compostos o oxigênio (O) possui NOX igual a -2 (Exceto nos peróxidos ( ), que é –1, nos superóxidos ( ), que é – ½, e no fluoreto de oxigênio (OF2), que é +2). Conhecendo estas informações é possível determinar o NOX dos demais elementos quando estes fazem parte de uma substância ou de um íon, dessa forma, são apresentados quatro passos que podem auxiliar nesta determinação: 1º) Identifique os NOXs de elementos já conhecidos. 2º) Multiplique o valor do NOX de cada elemento pelo seu índice. 3º) Some os NOXS resultantes e iguale a zero (se for uma substância) ou a carga (se for um íon poliatômico). 4º) Calcule o valor do NOX do elemento a ser descoberto. A seguir são apresentadas duas situações nas quais os passos descritos anteriormente são utilizados na determinação do NOX do elemento cloro ( ). Os índices indicam a quantidade de átomos do elemento que compõem a substância ou íon, quando nenhum número é apresentado subentende-se que se trata do número 1. NOTA TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 113 FIGURA 10 – EXEMPLOS DE DETERMINAÇÃO DO NOX FONTE: O autor 5 ÁCIDOS Ácidos são substâncias amplamente encontradas em nosso cotidiano, seja em medicamentos, produtos de limpeza ou alimentos. Como vimos anteriormente, eles podem ser identificados de acordo com algumas teorias, porém, para fins didáticos trabalharemos com o conceito de ácidos apresentados por Arrhenius: “Toda substância que em solução aquosa libera como único cátion o íon (em alguns casos pode ser representado por pelo íon hidrônio (H₃O⁺))”. Considerando o conceito de Arrhenius devemos estar atentos à forma como será montada a fórmula molecular desta ácido. Veja a Figura 11 apresentada a seguir. FIGURA 11 – FÓRMULA MOLECULAR DOS ÁCIDOS FONTE: O autor UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 114 Note que as cargas do cátion (que no caso dos ácidos de Arrhenius será sempre H+) e do ânion se tornam os índices um do outro. Com relação à representação dos ânions, você pode consultar o Quadro 3, disponível no item 5.2, e fique tranquilo, pois com o tempo, essas informações acabam sendo gravadas na memória e se tornam mais práticas de usar. 5.1 CLASSIFICAÇÃO As características gerais dos ácidos, como sabor azedo, estado líquido e ionização em água são aspectos que estão relacionados com a sua classificação, sendo assim, é muito importante que possamos conhecê-la. Dessa forma é necessário saber que os ácidos podem ser classificados de acordo com alguns parâmetros sendo eles: • Quanto ao número de elementos; • Quanto à presença de oxigênio; • Quanto ao número de hidrogênios ionizáveis; • Quanto à volatilidade; • Quanto à força. Portanto, vamos iniciar a classificação quanto ao número de elementos. 5.1.1 Quanto ao número de elementos Como relação ao número de elementos constituintes do ácido, ele pode ser classificado como: • Binário: formado por dois elementos. Ex.: Ácido Clorídrico (H ). • Terciário: formado por três elementos. Ex.: Ácido Nítrico (HNO₃). • Quaternário: formado por quatro elementos. Ex.: Ácido Tiocianoico (HSCN). 5.1.2 Quanto à presença de oxigênio Com relação à presença de oxigênio, os ácidos podem ser classificados como: • Oxiácido: possuem oxigênio em sua estrutura. Ex.: Ácido Perclórico (H O₄) • Hidrácido: não possuem oxigênio em sua estrutura. Ex.: Ácido Fluorídrico (HF) TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 115 5.1.3 Quanto ao número de hidrogênios ionizáveis Para realizar esta classificação, primeiramente precisamos definir “hidrogênio ionizável”. Todo hidrogênio ionizável é aquele, que em solução aquosa, é capaz de sofrer o processo de ionização e formar o cátion H+ (ou H₃O⁺). Assim, quanto ao número de hidrogênios ionizáveis, os ácidos podem ser classificados como: • Monoácido (ou monoprótico): apresentam apenas um hidrogênio ionizável. Ex.: Ácido Bromídrico (HBr) • Diácido (ou diprótico): apresentam dois hidrogênios ionizáveis. Ex.: Ácido Sulfúrico (H2SO₄) • Triácido (ou triprótico): apresentam três hidrogênios ionizáveis. Ex.: Ácido Fosfórico (H₃PO₄) • Tetrácido (ou tetraprótico): apresentam quatro hidrogênios ionizáveis. Ex.: Ácido Ortossilícico (H₄SiO₄) Ao classificar um ácido considerando o número de hidrogênios ionizáveis, é importante considerar algumas informações: Para hidrácidos o número de hidrogênio na molécula é o próprio número de hidrogênios ionizáveis, já para oxiácidos o número de hidrogênios ionizáveis será igual ao número de hidrogênios ligados diretamente a átomos de oxigênio. Veja o exemplo do Ácido Fosforoso (H₃PO₃) na figura a seguir. FIGURA 12 – HIDROGÊNIOS IONIZÁVEIS DO ÁCIDO FOSFOROSO (H₃PO₃) FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3g7mTwW>. Acesso em: 29 jun. 2020. Note que apesar de o ácido fosforoso possuir 3 hidrogênios em sua molécula ele será classificado como um diácido, pois apenas os hidrogênios ligados diretamente aos átomos de oxigênios sofrerão processo de ionização. Dessa forma, no caso de oxiácidos, é importante verificar sua fórmula estrutural antes de definir sua classificação. UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 116 5.1.4 Quanto à volatilidade Quando um frasco de vinagre é aberto, imediatamente sentimos seu cheiro, isso se deve a uma propriedade chamada de volatilidade. A volatilidade é uma grandeza relacionada à facilidade que um líquido tem para passa para o estado gasoso. Quanto a esta característica os ácidos podem ser classificados como: • Voláteis: possuem baixos pontos de ebulição, portanto, passam facilmente para o estado gasoso. Ex.: ácido Iodídrico (HI) [PE: -35,36 °C] • Fixos: possuem elevados pontos de ebulição, portanto, apresentam dificuldade para transitar para o estado gasoso. Ex.: ácido Bórico (H₃BO₃) [PE: 300 °C] De forma geral, todos os hidrácidos, ácido nítrico (HNO₃), ácido metanoico (HCOOH) e ácido acético (CH₃COOH) são voláteis, já os demais ácidos são fixos. 5.1.5 Quanto à força A fim de identificar a força de um ácido, é necessário determinar o grau de ionização (α), para isso contamos com a seguinte fórmula: O grau de ionização representa uma grandeza adimensional, ou seja, sem unidade de medida, porém é comum transformar este valor em porcentagem ao multiplicá-lo por 100. Imagine, por exemplo, que em um recipiente seja preparada uma solução 1 mol/L de ácido clorídrico ( ) e que a cada 1000 moléculas que se dissolvem somente 920 sofram o processo de ionização e o restante se mantém da forma molecular, dessa forma, poderíamos calcular o grau de ionização da seguinte forma: Multiplicando este resultado por 100 teríamos um grau de ionização igual a 92%. Porém, o que este resultado representa para a força de um ácido? Veja as relações a seguir: • Ácido forte:possui grau de ionização maior que 50% (α > 50%). • Ácido Moderado: possui grau de ionização maior ou igual a 5% e menor ou igual a 50% (5% ≤ α ≤ 50%). • Ácido fraco: possui grau de ionização menor que 5% (α < 5%). TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 117 Para o nosso exemplo apresentado anteriormente, possuir α = 92% indica que o ácido clorídrico é um ácido forte. Há uma regra prática para a determinação da força dos ácidos, sendo que, para hidrácidos: • Ácidos fortes: • Ácido moderado: HF. • Ácidos fracos: demais hidrácidos. Já para oxiácidos usamos a Regra de Pauling que nos diz que devemos analisar o resultado da seguinte subtração: x = (nº de oxigênios da molécula) – (nº de hidrogênios ionizáveis) Sendo, • Ácido forte: aqueles em que a diferença for maior ou igual a 2 (x ≥ 2). • Ácido moderado: aqueles em que a diferença for igual a 1 (x = 1). • Ácido fraco: aqueles em que a diferença for igual a zero (x = 0). A única exceção que merece destaque para esta regra é o Ácido Carbônico (H₂CO₃), no qual a diferença entre oxigênios e hidrogênios ionizáveis é 1, porém, este ácido é classificado como fraco. Ao aplicar a regra de Pauling para oxiácidos, você pode se perguntar, numa comparação, qual oxiácido é mais forte. Para isso, há duas dicas a serem seguidas: (1) Quanto maior for o número de átomos de oxigênio ligados ao átomo central, mais forte será o ácido; (2) Nos casos onde o número de oxigênios ligados ao átomo central for o mesmo, verifique a eletronegatividade de átomo central, aquele que possuir maior eletro- negatividade mais forte será. FONTE: WALLAU, Wilhelm Martin. Química inorgânica I: aulas teóricas. Aulas Teóricas. 2014. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Disponível em: https://bit.ly/3ghtWD9. Acesso em: 30 jun. 2020. IMPORTANTE UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 118 Um dos assuntos que merece destaque ao se trabalhar com ácidos e bases (e também sais) é sua classificação quanto à força. Lembre-se que quanto maior o grau de ionização/dissociação, mais forte será a substância. No entanto, há outra propriedade ligada a essa força, o fato de esta substância ser ou não um eletrólito, o que, de forma direta, irá interferir em outra propriedade, a condutividade. Buscando abordar este assunto, é apresentado a seguir um trecho da apresentação da disciplina de Fundamentos de Química Analítica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escrita por Ione Maria F. de Oliveira, Maria José de S. F. da Silva, Simone de F. B. Tófani, sendo que, para fins didáticos, algumas alterações foram realizadas. IMPORTANTE ELETRÓLITOS Uma propriedade físico-química importante das soluções é a sua condutivi- dade elétrica. Condutividade elétrica é a capacidade das soluções de conduzir uma corrente elétrica devido ao movimento relativo de íons presentes na solução. A água pura exibe uma pequena condutividade elétrica devido à baixa concen- tração dos íons hidrogênio, H+, e hidróxido, OH–. As soluções aquosas, em geral, podem exibir condutividades maiores ou iguais à da água pura, dependendo da natureza do soluto. Substâncias que, em solução aquosa, não alteram a condutividade da água são denominadas de não eletrólitos. Os não-eletrólitos usualmente são solúveis em água, mas não formam íons em solução. Por exemplo, a sacarose (açúcar), C 12 H 22 O 11 , ou o etanol (álcool comum), C2H6O, comportam-se como não-eletrólitos ao serem dissolvi- dos em água, Por outro lado, substâncias que, em solução aquosa, aumentam a condutivida- de da água, são denominadas eletrólitos. Os eletrólitos são responsáveis pela condução de eletricidade em uma solução aquosa e essa condução é feita pelos íons formados. Por exemplo, o ácido clorídrico, , cloreto de sódio (sal de cozinha), Na e hidró- xido de sódio, NaOH, são exemplos comuns de substâncias que se comportam como eletrólitos em água: TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 119 Numa análise microscópica verificaríamos que uma solução possui eletrólitos fracos ou fortes, conforme a figura a seguir, que apresenta dois ácidos, sendo o Ácido Cianídri- co (HCN) fraco (condutividade menor) e o Ácido Clorídrico ( ) forte (condutividade maior). ELETRÓLITOS FORTES E FRACOS FONTE: <https://bit.ly/38qbXI7>. Acesso em: 30 jun. 2020. Além de ser um indicador da condutividade elétrica, a presença de eletrólitos é de vital importância para o funcionamento do corpo humano. Dessa forma, é apresentado a seguir um texto escrito pelo médico nefrologista James L. Lewis e publicado no site Manual MSD. A medida da condutividade de uma solução reflete o grau de dissociação ou de ionização do soluto. No entanto, a condutividade também depende da concentra- ção da solução. Baseado na condutividade das soluções, os eletrólitos são classificados como eletrólitos fortes e eletrólitos fracos. ELETRÓLITOS FORTES E FRACOS Independentemente do conhecimento das medidas de condutividade de uma solução, um analista deve ter a habilidade de reconhecer se uma dada substância é um eletrólito e, também, de reconhecer se um eletrólito é fraco ou forte. Esse conheci- mento possibilita escrever corretamente as equações químicas das reações que esses eletrólitos podem sofrer em solução aquosa. Eletrólitos fortes: são substâncias que se dissociam ou se ionizam totalmente em so- lução aquosa. Eletrólitos fracos: são substâncias que se dissociam ou se ionizam parcialmente em solução aquosa. FONTE: Adaptado de SILVA, Maria José de S. F. da; TÓFANI, Simone de F. B.; OLIVEIRA, Ione Maria F. de. Fundamentos de Química Analítica: Aula 1. Belo Horizonte: Universi- dade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2009. Disponível em: <https://bit.ly/3dQ3LSF>. Acesso em: 30 jun. 2020. UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 120 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE ELETRÓLITOS Mais da metade do peso do corpo é composto por água. Os médicos consi- deram que a água do corpo fica confinada em vários espaços, denominados comparti- mentos de líquidos. Os três compartimentos principais são: • Líquido no interior das células • Líquido no espaço em torno das células • Sangue Para funcionar normalmente, o corpo deve evitar que os níveis de líquido variem muito nessas áreas. Alguns minerais – principalmente os macrominerais (minerais de que o corpo precisa em quantidades relativamente grandes) – são importantes, tais como os eletrólitos. Eletrólitos são minerais que carregam uma carga elétrica quando estão dissolvidos em um líquido, como o sangue. Os eletrólitos do sangue – sódio, potássio, cloreto e bicarbonato – ajudam a regular as funções dos nervos e músculos e manter um equilíbrio ácido-base e um equilíbrio hídrico. Os eletrólitos, sobretudo o sódio, ajudam o corpo a manter os níveis de líqui- do normais nesses compartimentos de líquidos, uma vez que a quantidade de líquido contida em um compartimento depende da quantidade (concentração) de eletrólitos contida nele. Se a concentração de eletrólitos for alta, o líquido se move para este compartimento (um processo chamado osmose). Do mesmo modo, se a concentra- ção de eletrólitos for baixa, o líquido se move para fora deste compartimento. Para ajustar os níveis de líquidos, o corpo pode mover ativamente os eletrólitos para dentro ou para fora das células. Assim, ter eletrólitos nas concentrações corretas (um estado denominado equilíbrio eletrolítico) é importante para manter o equilíbrio líquido entre os compartimentos. Os rins ajudam a manter as concentrações de eletrólitos através da filtragem de eletrólitos e água do sangue, devolvendo alguns para o sangue e excretando qual- quer excesso pela urina. Assim, os rins ajudam a manter um equilíbrio entre o consumo diário e a excreção de eletrólitos e água. Alguns distúrbios podem surgir se esse equilíbrio de eletrólitos for perturbado. Por exemplo, um desequilíbrio eletrolítico pode ser causado por: • Ficar desidratado ou hiper-hidratado • Tomar certos medicamentos • Distúrbios específicos do coração,rim ou fígado • Recebimento de hidratação ou alimentação por via intravenosa em quantidades inadequadas FONTE: Adaptado de LEWIS, James L. Considerações gerais sobre eletrólitos. [S. l.]: Manual MSD, 2018. Disponível em: <https://msdmnls.co/3inRPL9>. Acesso em: 30 jun. 2020. TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 121 5.2 NOMENCLATURA A nomenclatura dos ácidos geralmente representa certa dificuldade aos acadêmicos, porém, com um pouco de prática e com as dicas a seguir esse processo pode ficar mais fácil. Assim, vamos começar com a forma geral de dar nome aos ácidos e para isso é importante ter em mãos uma tabela de ânions, igual a apresentada a seguir: QUADRO 3 – ÂNIONS FONTE: O autor MONOVALENTE SbO₂– Metantimonito MnO₄2– Manganato H+ Hidreto BiO₃– Bismutato FeO₄2– Ferrato OH– Hidróxido BIVALENTE Zn₂²– Zincato F– Fluoreto O²– Óxido MoO₄²– Molibdato BF4 – Fluoborato O₂²– Peróxido SnO₂²– Estanito Cloreto S²– Sulfeto SnO₃²– Estanato Hipoclorito SO₃²– Sulfito WO₄²– Tungstato Clorito SO₄²– Sulfato PbO₂²– Plumbito Perclorato S2O₃²– Tiossulfato PbO₃²– Plumbato Cloroaurato S₂O₇2– Pirossulfato TRIVALENTE Brometo S₂O₈2– Persulfato N³– Nitreto Hipobromito SO₅2– Monopersulfato p³– Fosfeto Bromato S₂O₄2– Hipossulfito PO₄³– Fosfato Iodeto S₂O₅2– Pirossulfito PO₃³– Fosfito Hipoiodito Se²– Seleneto PO₂³– Hipofosfito Iodato SeO₃2– Selenito AsO₃³– Arsenito Periodato SeO₄2– Selenato AsO₄³– Arsenato Metaborato Te2– Telureto SbO₃³+ Antimonito H₃C – COO– Acetato TeO₃2– Telurito SbO₄³– Antimonato CN– Cianeto B₄O₇2– Tetraborato BO₃³– Borato OCN– Cianato CO₃2– Carbonato Fe(CN)₆³– Ferricianeto SCN– Tiocianato C₂O₄2– Oxalato TETRAVALENTE NO₂– Nitrito N₂O₂2– Hiponitrito P₂O₆⁴– Hipofosfato NO3 – Nitrato SiF²– Fluossilicato P₂O₇⁴– Pirofosfato Aluminato SiO₃2– Metassilicato As₂O₇⁴– Piroarsenato PO₃– Metafosfato (Hexa) cloroplatinato Sb₂O₇⁴– Piroantimonato MnO₄– Permanganato CrO₄2– Cromato SiO₄⁴– Silicato FeO₂– Ferrito Cr₂O₇2– Dicromato Fe(CN)₆⁴– Ferrocianeto AsO₂– Metarsenito MnO₃2– Manganito - UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 122 Para nomear, basta utilizar a palavra “Ácido” seguida pelo radical do ânion e sua terminação apropriada. ÁCIDO + RADICAL DO ÂNION + TERMINAÇÃO Para identificar o radical basta retirar as terminações “ito”, “ato” e “eto” do nome do ânion e adicionar a nova terminação, conforme é apresentado no Quadro 4. QUADRO 4 – ALTERAÇÃO DA TERMINAÇÃO DO NOME DO ÂNION FONTE: O autor Por exemplo, se quiséssemos nomear o ácido HNO₃, o ânion que deu origem a ele é o NO₃–, chamado de nitrato, substituindo a final ato por ico ficaria, nítrico, portanto, o nome deste ácido será Ácido Nítrico. Como toda regra possui uma exceção, esta não seria diferente. Para ânions compostos com enxofre (S) e oxigênio (O), o radical utilizado não será “sulf”, mas sim “sulfur”. Outras dicas que podem ajudá-lo na nomenclatura dos ácidos são: • Para hidrácidos, a terminação será sempre “ídrico”, ou seja, de forma geral teremos sempre: ÁCIDO + RADICAL + ÍDRICO • Para os oxiácidos, pode-se considerar o NOX (número de oxidação) do átomo central e buscar as informações no Quadro 5. Perceba que eles terão a terminação “ico” e “oso”. TERMINA EM... SUBSTITUI POR... ITO OSO ATO ICO ETO ÍDRICO TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 123 POSSÍVEIS NOX DO ELEMENTO CENTRAL REGRA DE NOMENCLATURA EXEMPLOSGrupo Prefixo Radical do Elemento Central SufixoGrupo 17 ( ) 16 (S) 15 (N, P) 17 16 15 +7 - - per F (Fluor) (Clor) Br (Brom) I (Iod) S (Sulfur) N (Nitr) P (Fosfor) ico +5 +6 +5 - ico +3 +4 +3 - oso +1 +2 +1 hipo oso QUADRO 5 – NOMENCLATURA DE OXIÁCIDOS FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2Bu5iki>. Acesso em: 1 jul. 2020. 5.3 APLICAÇÕES Como citado anteriormente, os ácidos são extremamente utilizados no dia a dia para as mais diversas aplicações. Dessa forma, são apresentados a seguir os principais ácidos e suas aplicações. QUADRO 6 – PRINCIPAIS ÁCIDOS E SUAS APLICAÇÕES FÓRMULA MOLECULAR NOME APLICAÇÃO H Ácido Clorídrico É utilizado na limpeza de peças metálicas e como importante reagente laboratorial. HF Ácido Fluorídrico É utilizado para fazer marcações e gravações no vidro e no aço, já que causa corrosão nesses tipos de material. UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 124 H₂SO₄ Ácido Sulfúrico Possui extrema importância, principalmente industrial, para a produção de diversos materiais, como baterias de automóvel, corantes, tintas, explosivos, papel e fertilizantes. HNO₃ Ácido Nítrico É bastante utilizado na fabricação de explosivos, principalmente o TNT e a nitroglicerina, fertilizantes agrícolas e salitre. HCN Ácido Cianídrico É um ácido utilizado na produção de plásticos, corantes, pesticidas e fertilizantes. Por ser encontrado na forma de um gás, foi usado para executar pessoas em câmaras de gás durante a Segunda Guerra Mundial, marcando a história pelo grande número de mortos, o que ficou conhecido como holocausto. H₃PO₄ Ácido Fosfórico Ácido presente na formação de alguns sais (fosfatos), os quais são utilizados na produção de fertilizantes, além de ser utilizado na indústria alimentícia e farmacêutica. H₂CO₃ Ácido Carbônico É utilizado na produção de água mineral gaseificada e dos refrigerantes, sendo fundamental no realce de sabor e aparência. H₂S Ácido Sulfídrico Ácido bastante utilizado em laboratórios de análises quantitativas, é fundamental na precipitação de metais, principalmente os denominados metais pesados. H O₃ Ácido Clórico Na forma de solução, esse ácido é capaz de oxidar madeira. Sua maior utilização, porém, é na produção de sais denominados cloratos, os quais são empregados na produção de fogos de artifício, fósforos de segurança, produção de gás oxigênio e pastilhas para garganta. H₂CrO₄ Ácido Crômico Ácido utilizado na limpeza de vidrarias de laboratório, na cromação de peças metálicas, na produção de vidros e cerâmicas e na formação de sais de cromo, muito utilizados como reagentes em laboratório. H O₄ Ácido Perclórico Ácido utilizado na fabricação de explosivos, herbicidas, na precipitação de mucoproteínas (presentes no sangue ou em líquidos sinoviais) e em análises clínicas laboratoriais. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3iD6dPZ>. Acesso em: 5 jul. 2020. TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 125 6 BASES Assim como os ácidos, as bases (ou hidróxidos) representam uma função química, ou seja, um grupo de substâncias que possuem características semelhantes. Considerando essa informação, para fins didáticos, trabalharemos com a Teoria Ácido-Base de Arrhenius, portanto, bases podem ser definidas como: “Toda substância que em solução aquosa libera como único ânion o íon OH–(hidroxila)”. As bases (ou hidróxidos) apresentam pH básico (ou alcalino), ou seja, na escala irão apresentar valor superior a 7. Além disso, possuem sabor adstringente e tato escorregadio. Diferente dos ácidos, as bases sofrem dissociação ao invés de ionização, pois são compostos iônicos, já que a maioria de seus cátions são metais (a única exceção é o hidróxido de amônio [NH₄OH], uma base formada por um não metal e que sofre ionização). Considerando o conceito de Arrhenius devemos estar atentos à forma como será montada a fórmula unitária das bases. FIGURA 13 – FÓRMULA UNITÁRIA BASES FONTE: O autor O hidróxido de amônio na realidade representa o borbulhamento e solubilização de gás amônia (NH 3 ) em água (H 2 O), conforme é apresentado na equação química a seguir: IMPORTANTE UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 126 6.1 CLASSIFICAÇÃO As bases podem ser classificadas perante alguns quesitos sendo eles: • Quanto ao número de hidroxilas; • Quanto à solubilidade; • Quanto à força. 6.1.1 Quanto ao número de hidroxilas Quanto ao número de hidroxilas (OH–) presentas na substância podemos classificar as bases como: 6.1.2 Quanto à solubilidade A solubilidade poder ser definida como a capacidade de uma substânciase dissolver em outra. Quanto a essa capacidade, as bases podem ser classificadas como: Precipitado, corpo de fundo ou corpo de chão é o sólido insolúvel que se deposita no fundo do recipiente ao final de uma reação ou quando a solução já apresenta a quantidade máximo de soluto dissolvido. NOTA TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 127 Esta classificação está vinculada ao cátion, que se liga à hidroxila, sendo: • Solúveis: todas as bases formadas por metais alcalinos (Grupo 1) e hidróxido de amônio (NH₄OH). ). • Pouco solúveis: todas as bases formadas por metais alcalinos terroso (Grupo 2), exceto as formadas por berílio (Be) e magnésio (Mg). • Praticamente insolúveis: todas as demais bases. Veja no Quadro 7 a solubilidade algumas bases em água a 20 °C: QUADRO 7 – SOLUBILIDADE DE BASES FONTE: O autor 6.1.3 Quanto à força Assim como os ácidos, a força das bases está associada ao seu grau de dissociação (α). Dessa forma, podemos classificar as bases como: • Base forte: são bases que possuem um grau de dissociação superior a 50% (α > 50%). • Base fraca: são bases que possuem um grau de dissociação igual ou menor que 5% (α≤ 5%). FÓRMULA UNITÁRIA NOME SOLUBILIDADE (g/L) Fe (OH)₂ Hidróxido de Ferro II 0,001 Hidróxido de Alumínio 0,008 Mg (OH)₂ Hidróxido de Magnésio 0,009 Ca (OH)₂ Hidróxido de Cálcio 1,7 Sr (OH)₂ Hidróxido de Estrôncio 4,0 Ba (OH)₂ Hidróxido de Bário 39,0 NaOH Hidróxido de Sódio 1090,0 KOH Hidróxido de Potássio 1120,0 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 128 Lembre-se de que ao falar de ácidos identificamos como sendo o grau de ionização, essa mudança de nomenclatura ocorre devido ao fato de ácidos serem compostos moleculares, que sofrem ionização, enquanto bases são compostos iônicos e sofrem dissociação, portanto, se fala em grau de dissociação. NOTA O grau de dissociação está associado à solubilidade. Portanto: • Bases fortes: são todas formadas pelas pelos metais alcalinos (Grupo 1) e metais alcalinos terrosos (Grupo 2), exceto as formadas por berílio (Be) e magnésio (Mg). • Bases fracas: todas as demais e Hidróxido de Amônio. Aqui é importante salientar que o hidróxido de amônio (NH₄OH), apesar de ser uma base solúvel, é considerada fraca, isso ocorre pois na reação entre amônia (NH₃) e água (H2O) o equilíbrio da reação está direcionada para esquerda, ou seja, há mais reagentes do que produtos, portanto, há uma pequena quantidade de hidroxilas (OH–) em solução. Lembre-se, o hidróxido de amônio só existirá em solução (amônia dissolvida em água). Reveja a reação: 6.2 NOMENCLATURA Para nomear as bases devemos relembrar os nossos conhecimentos sobre NOXs. Portanto, nos quadros a seguir (Quadros 8 e 9) são apresentados os principais cátions e seus valores de carga (para íons monoatômicos o valor da carga é igual ao NOX). TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 129 ELEMENTO CARGA A lc al in os (G ru po 1 ) Lítio Li+ Sódio Na+ Potássio K+ Rubídio Rb+ Césio Cs+ Frâncio Fr+ A lc al in os Te rr os os (G ru po 2 ) Magnésio Mg²+ Cálcio Ca²+ Estrôncio Sr²+ Bário Ba²+ Rádio Ra²+ Prata Ag+ Zinco Zn²+ Alumínio QUADRO 8 – CÁTIONS DE NOX FIXO FONTE: O autor QUADRO 9 – CÁTIONS DE NOX VARIÁVEL FONTE: O autor ELEMENTO CARGA / NOME Cobre Cu⁺ Cu²⁺ Cuproso Cúprico Mercúrio (Hg2)²⁺ Hg²⁺ Mercuroso Mercúrico Ouro Au⁺ Au³⁺ Auroso Áurico Ferro Fe²⁺ Fe³⁺ Ferroso Férrico Cobalto Co²⁺ Co³⁺ Cobaltoso Cobáltico Níquel Ni²⁺ Ni³⁺ Niqueloso Niquélico Cromo Cr²⁺ Cr³⁺ Cromoso Crômico Estanho Sn²⁺ Sn⁴⁺ Estanoso Estânico Chumbo Pb²⁺ Pb⁴⁺ Plumboso Plúmbico Manganês Mn²⁺ Mn⁴⁺ Manganoso Mangânico UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 130 Conhecendo os valores de NOX podemos nomear as bases considerando se o elemento possui NOX fixo ou variável. Para bases de formadas por cátions de NOX fixo basta seguir a forma geral apresentada a seguir: Hidróxido de + Nome do Cátion Por exemplo, para a base formada por estrôncio (Sr(OH)2), teríamos Hidróxido de Estrôncio. Já para bases formadas por cátions com NOX variável podemos utilizar duas formas diferentes: 1ª) Hidróxido de + Nome do Cátion + Carga em Números Romanos Ex.: a base Mn(OH)₂ seria nomeada como Hidróxido de Manganês II. 2ª) Hidróxido + Nome do Cátion + Terminação “oso” (menor carga) Ex.: A base Mn(OH)₂ seria nomeada como Hidróxido Manganoso. ou Hidróxido + Nome do Cátion + Terminação “ico” (maior carga) Ex.: A base Mn(OH)₄ seria nomeada como Hidróxido Mangânico. No Quadro 9 são apresentados os nomes dos cátions com a terminação “oso”, para os de menor carga, e “ico”, para os de maior carga. 6.3 APLICAÇÕES As bases possuem diversas aplicações no cotidiano, portanto, o Quadro 10 apresenta algumas das mais importantes e seus principais usos e curiosidades. QUADRO 10 – PRINCIPAIS BASES E SUAS APLICAÇÕES FÓRMULA UNITÁRIA NOME APLICAÇÃO NaOH Hidróxido de Sódio Conhecida como soda cáustica, essa base é um sólido branco bastante solúvel em água. Ela é utilizada em limpezas pesadas e em produtos para desentupir pias e ralos. Também é utilizada em uma das etapas da fabricação de papel, no tratamento de efluentes e na indústria têxtil. Além do mais, esta base tem um alto poder corrosivo podendo destruir tecidos vivos. TÓPICO 1 — ÁCIDOS E BASES 131 FONTE: O autor KOH Hidróxido de Potássio Esta base pode ser encontrada como potassa cáustica sendo um sólido branco, cristalino e extremamente tóxico. É usada na fabricação de sabões, na produção de biodiesel e na produção pilhas alcalinas. Ca(OH)₂ Hidróxido de Cálcio O hidróxido de cálcio também leva o nome de cal hidratada, cal extinta ou cal apagada. Quando essa substância é misturada com água, ela é chamada de água de cal e na forma de suspensão, como leite de cal. Ela é aplicada principalmente em construções, na preparação de argamassa, no tratamento de água e esgotos, em inseticidas, fungicidas e na redução da acidez do solo. Mg(OH)₂ Hidróxido de Magnésio Esta base é um sólido branco, pouco solúvel em água. A sua principal aplicação se dá na forma de leite de magnésia, que é usado como laxante e antiácido. Além disso, pode ser utilizada na fabricação de papéis no refino de açúcar e na fabricação de retardantes de chamas. Hidróxido de Alumínio Geralmente, esta base pouco solúvel é utilizada para fabricação de desodorantes, no tratamento de água, e como antiácido estomacal. NH₄OH Hidróxido de Amônio Obtido da dissolução de amônia em água, esta base é um líquido incolor de forte odor. O hidróxido de amônio é conhecido comercialmente por amoníaco, sendo muito utilizado na produção de fertilizantes e explosivos, na saponificação de óleos e gorduras e na revelação de filmes fotográficos. 132 Neste tópico, você aprendeu que: • Segundo a Teoria de Arrhenius, ácidos são todas as substâncias que em solução aquosa liberam como único cátion o íon H+ e bases são todas as substâncias que em solução aquosa liberam como único ânion o íon OH–. • De acordo com a Teoria de Bronsted-Lowry, ácido é qualquer substância capaz de doar um próton, enquanto base é qualquer substância capaz de receber um próton (H⁺). • Para a Teoria de Lewis, ácido é toda espécie química capaz de receber um par de elétrons e base é toda espécie capaz de doar um par de elétrons. • A acidez e basicidade (ou alcalinidade) de uma solução é medida através da escala de pH. Substâncias ácidas terão pH inferior a 7, substâncias neutras terão pH igual a 7, e substâncias básicas terão pH acima de 7. • É comum o uso de indicadores ácido-base tanto em laboratório quanto em algumas atividades cotidianas. Estes indicadores mudam de cor dependendo do meio em que se encontram. • O número de oxidação, ou simplesmente NOX, indica a carga de um elemento quando este faz parte de um íon ou substância. É importante conhecer essa numeração ao realizar a nomenclatura dos compostos. • Ácidos são substâncias que sofrem ionização, liberam H⁺ e possuem sabor azedo. Podemser classificados quanto ao número de hidrogênios ionizáveis, quanto ao número de elementos, quanto à força, quanto à volatilidade e quanto à presença de oxigênios. • Para nomear um ácido usamos “Ácido + Nome do Ânion + Terminação”. Seguindo a regra de que cátions que terminem em “ito” tem a terminação substituída por “oso”, terminados em “ato” por “ico” e terminados em “eto” por “ídrico”. • Bases são substâncias que sofrem dissociação, liberam OH– e possuem sabor adstringente. Podem ser classificadas quanto à força, a solubilidade e o número de hidroxilas. • Para nomear uma base usamos “Hidróxido de + Nome do Cátion” para cátions de NOX fixo e “Hidróxido de + Nome do Cátion + Carga em Números Romanos” para cátions de NOX variável. RESUMO DO TÓPICO 1 133 • Tanto os ácidos quanto as bases possuem diversas aplicações no nosso cotidiano. • Eletrólitos são substâncias que, ao serem dissolvidos em água, sofrem ionizam ou dissociam com facilidade e aumentam a condutividade da solução. Podem ser classificados como fortes e fracos. • Não eletrólitos são substâncias que ao serem dissolvidos em águam não sofrem ionização e permanecem na forma molecular, não aumentando a condutividade do sistema. 134 1 A amônia (NH₃) é amplamente utilizada nas mais diversas aplicações. Além de formar a base NH₄OH quando borbulhada em água, ela ainda é empregada em outras várias reações, como as apresentadas a seguir: Considerando a Teoria Ácido-Base de Bronsted-Lowry, classifique a amônia em ácido ou base para as reações I e II. 2 A titulação ácido-base é uma técnica utilizada em química analítica a fim de determinar a concentração de determinada solução. Essa técnica envolve o uso de um indicador ácido-base pois ele tem a propriedade de mudar de cor dependendo do meio em que se encontra. Seguindo a mesma ideia da mudança de coloração, foi iniciada uma análise qualitativa com o objetivo de determinar a faixa de pH de uma solução desconhecida, para isso ela foi dividida em três béqueres e a cada um deles foi adicionado um indicador. FONTE: O autor. Considerando as colorações adquiridas pelas soluções, determine a faixa aproximada de pH. 3 Ao medir a concentração de íons H⁺ em uma solução obteve-se o valor de 0,002mol/L. Calcule o valor de pH da solução e determine seu caráter. 4 O Ácido Fluorídrico ( ) possui uma alta reatividade com vidro sendo, por esse motivo, usado em solução aquosa para fazer gravações nessas superfícies. Por esse motivo também, ele deve ser guardado em recipientes polietileno AUTOATIVIDADE 135 ou politetrafluoroetileno. Considerando seus conhecimentos acerca de ácidos, classifique o ácido fluorídrico, quanto ao número de elementos, de hidrogênios ionizáveis, presença de oxigênio, volatilidade e força. 5 Os ácidos são uma das funções químicas mais comuns do nosso cotidiano. Eles estão presentes em situações que, talvez, muitas pessoas não estão tão acostumadas a perceber, como nas baterias dos veículos, ou em situações corriqueiras, como no vinagre utilizado na salada. No entanto, para um químico, conhecer suas fórmulas moleculares e seus nomes é essencial para evitar acidentes em laboratório. Assim, dê nome aos seguintes ácidos: 6 Uma experiência comum no ensino médio é denominada “Sangue do Dia- bo”, mas apesar do nome assustador ela é uma atividade interessante no es- tudo de bases e indicadores, pois a solução é basicamente composta de hi- dróxido de amônio (NH₄OH) e fenolftaleína. Por ser uma base, o hidróxido de amônio faz com que o indicador adquira uma coloração vermelha, daí a origem do nome. Ao jogar essa solução vermelha em um tecido branco logo a coloração desaparece. Considerando seus conhecimentos sobre bases, clas- sifique o hidróxido de amônio e proponha uma explicação para o desapareci- mento da coloração com o passar do tempo. 7 No dia a dia muitos vegetais funcionam como indicadores ácido-base na- turais, como beterrabas, amoras, jabuticabas, além de flores com pétalas co- loridas, como a hortênsia e a azaleia. No entanto, o vegetal mais comum é o repolho roxo. Dentre as funções químicas que reagem com esses indicadores temos as bases. Conhecer seu comportamento químico contribui na compre- ensão de sua interação com esses indicadores. Considerando a importância de conhecer essa função química, dê nome as seguintes bases: 137 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Além de ácidos e bases, outras funções inorgânicas também fazem parte nosso cotidiano, são eles sais, óxidos e hidretos. Eles podem ser observados nas mais diversas situações, indo da presença em alimentos, passando pelo uso como conservantes, pela presença em poluentes até a formação de ferrugem sobre as superfícies de ferro. FIGURA 14 – FERRUGEM FONTE: <https://bit.ly/2WgVbqb>. Acesso em: 8 jul. 2020. 2 SAIS Geralmente, ao se falar de sais, a principal referência se torna o cloreto de sódio ( ) conhecido como sal de cozinha (Figura 15), porém, este grupo de substâncias é muito mais amplo do que aparenta. TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 138 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS FIGURA 15 – SAL DE COZINHA FONTE: <https://bit.ly/2C2YB98>. Acesso em: 08 jul. 2020. Os sais são compostos iônicos obtidos através de reações de neutralização entre um ácido e uma base. ácido + base → sal + água Essa reação também pode ser chamada de reação de salificação. Na figura 16, por exemplo, é apresentada a reação que dá origem ao cloreto de sódio. FIGURA 16 – REAÇÃO DE NEUTRALIZAÇÃO/SALIFICAÇÃO FONTE: O autor Perceba que através dessa reação é possível chegar à definição de sais formulada por Arrhenius: Sais são substâncias que em solução aquosa sofrem dissociação e liberam pelo menos um cátion diferente de H⁺ (ou H₃O⁺) e um ânion diferente de OH–. Lembrando que o cátion será proveniente da base e o ânion proveniente do ácido. TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 139 Da mesma forma como ocorre para os ácidos e as bases, a fórmula de um sal pode ser obtida, genericamente, da seguinte forma: FIGURA 17 – FÓRMULA UNITÁRIA DOS SAIS FONTE: O autor 2.1 CLASSIFICAÇÃO Os sais apresentam uma grande variedade de representantes que podem ser classificados com relação a alguns fatores, sendo eles: • Quanto ao número de elementos químicos constituintes; • Quanto à solubilidade em água; • Quanto à presença de água; • Quanto à natureza dos íons. 2.1.1 Quanto ao número de elementos químicos constituintes Com relação ao número de elementos que continuem um sal ele pode ser classificado como: • Binário: formado por apenas dois elementos. Ex.: Brometo de Potássio (KBr) • Ternário: formado por apenas três elementos. Ex.: Sulfato de Cobre (CuSO₄) • Quaternário: formado por apenas quatro elementos. Ex.: Ferricianeto de Potássio (K₄[Fe(CN)₆]) 140 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 2.1.2 Quanto à solubilidade em água Segundo Batista (2015, p. 23), “A solubilidade de um sal depende da intensidade das interações entre os íons do sal e as moléculas de água a dada temperatura. Como são vários os fatores que influenciam esse critério, é praticamente impossível fazer previsões teóricas sobre a solubilidade desses compostos”. Assim, a fim de verificar a solubilidade dos sais, foi elaborado o Quadro 11, apresentada a seguir, de forma experimental nas condições ambientes (25°C e 1atm). QUADRO 11 – SOLUBILIDADE DOS SAIS FONTE: Adaptado de Batista (2016, p. 23) SOLUBILIDADE SAIS EXCEÇÕES SOLÚVEIS - - Acetatos (H₃CCOO–) Ag⁺ Brometos (Br–) Iodetos (I–) Ca2+,Ba2+,Sr2+, Pb2+ PRATICAMENTE INSOLÚVEIS Sulfetos (S2–) Metais do Grupo 1, 2 e Amônio Metais do Grupo 1 e Amônio Metais do Grupo 1 e Amônio Metais do Grupo 1 e Amônio * Todos os sais que contenham cátions do grupo 1 e o íon amônio são sempre solúveis. Caro acadêmico, no caso dos sais, não é comum analisá-los quanto a sua força, mas quanto a sua solubilidade. Como nenhuma substância é totalmente insolúvel, utilizamos o termo “praticamente insolúvel”para nos referir a substâncias que possuem uma solubilidade extremamente pequena. NOTA TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 141 2.1.3 Quanto à presença de água Quanto à presença de água, os sais podem ser classificados em anidros ou hidratados. Quando o sal possui moléculas de água em sua estrutura cristalina ele é dito hidratado (Ex.: Sulfato de Cobre Penta-hidratado [CuSO₄.5H2O]), porém, quando não houver, ele é dito anidro (Ex.: Sulfato de Cobre [CuSO₄]). 2.1.4 Quanto à natureza dos íons Dependendo do(s) cátion(s) e do(s) ânion(s) presente(s) em determinado sal, ele pode apresentar classificações diferentes. Geralmente pode-se verificar a classificação do sal ao analisar se sua reação de neutralização foi total ou parcial. Um objeto bem curioso e que muitas vezes pode ser encontrado na casa dos brasileiros é o chamado “Galinho do Tempo”. Esse objeto surpreende pelo fato de mudar de cor e indicar o aumento da probabilidade de chuva, porém, o que muitos desconhecem é que há uma explicação química por trás de seu funcionamento. GALINHO DO TEMPO FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2WnZKyJ>. Acesso em: 10 jul. 2020. Esse bibelô é revestido por cloreto de cobalto II ( ), um sal anidro, que apresenta coloração azul e é muito higroscópico (absorve água com facilidade), porém, ao ficar exposto ao clima, como o aumento da umidade (um indicativo de chuva e frio) este sal absorve água e se torno cloreto de cobalto hexa-hidratado ( ), um sal rosa. Ob- viamente, quando o clima fica seco e quente a água de hidratação sai do sal e ele volta a ser azul. INTERESSANTE 142 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS Como exemplo, podemos avaliar a reação entre ácido carbônico (H2CO₃) e hidróxido de sódio (NaOh), começando por uma reação de neutralização total: H2CO₃ + 2NaOH → Na2CO₃ + 2H2O Note que para cada H⁺ há um OH–, resultando em carbonato de sódio (Na2CO₃), um sal neutro, porém essa reação pode ocorrer de forma parcial, como é apresentado a seguir: H2CO₃ + NaOH → NaHCO₃ + H2O Agora, enquanto o ácido possui dois H⁺ a base possui apenas um OH–, resultando em uma neutralização parcial e formando hidrogenocarbonato de sódio (ou bicarbonato de sódio) (NaHCO₃) um sal ácido. Mas enfim, vamos definir esses tipos diferente sais. 2.1.4.1 Sal neutro Sais neutros (ou normais) são provenientes de reações de neutralização total e são formados por um único cátion (exceto H⁺) e um único ânion (exceto OH–). Ex.: Cloreto de Sódio ( ), Sulfato de Potássio (K2SO₄), Fluoreto de Cálcio (CaF2). 2.1.4.2 Sal ácido Os sais ácidos, também chamados de hidrogenossais, são provenientes de reações de neutralização parcial dos ácidos. Nestas reações, o sal formado, apresenta dois cátions, sendo um deles H⁺, e um único ânion (exceto OH–). Ex.: Hidrogenosulfatode Sódio (NaHSO₄), Di-hidrogenofosfato de Potássio (KH2PO₄). 2.1.4.3 Sal básico Sais básicos ou hidroxissais, são formados após uma reação de neutralização parcial da base, portanto, eles possuem um único cátion (exceto H⁺) e dois ânions, sendo um deles OH–. Ex.: Hidroxicloreto de Alumínio ( ), Di-hidroxissulfato de Estanho IV (Sn(OH)2SO₄). TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 143 2.1.4.4 Sal misto Os sais mistos ou duplos serão formados por dois cátions (exceto H⁺) e um ânion ou um cátion e dois ânions (exceto OH–). Ex.: Cloreto-Brometo de Cálcio (CaBr ), Sulfato de Sódio e Potássio (NaKSO₄). 2.2 NOMENCLATURA A nomenclatura de um sal irá depender de sua classificação quanto à natureza dos íons, quanto à presença de água e, além disso, é importante que saibamos o nome do ânion, proveniente do ácido, e do cátion, proveniente da base. Para sais anidros: • Sal Neutro (ou Normal) nome do ânion + de + nome do cátion Ex.: Fe2S₃ – Sulfeto de Ferro III (ou Sulfeto Férrico). • Sal Ácido (ou Hidrogenossal) prefixo* + hidrogeno** + nome do ânion + de + nome do cátion * Este prefixo se refere ao número de hidrogênios presentes na fórmula do sal, podendo ser mono-, di- ou tri-. Para sais com apenas um hidrogênio em sua fórmula é comum suprimir este prefixo iniciando o nome apenas por hidrogeno. ** Para sais que possuem apenas um H⁺ é comum a substituição no termo “mono-hidrogeno” por “bi” (veja o exemplo). Ex.: Na2HPO₄ – Mono-hidrogeno Sulfato de Sódio (ou Bissulfato de Sódio). Para nomenclatura dos sais também é válida a regra da terminação “ico” e “oso” para cátions que possuem carga variável. Você pode optar também pelo uso da representação da carga em números romanos ao invés de usar as terminações. Caso queira relembrar este assunto, consulte o Quadro 9, no Tópico 1 da Unidade 2. IMPORTANTE 144 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS • Sal Básico (ou Hidroxissal) prefixo* + hidroxi + nome do ânion + de + nome do cátion * Este prefixo se refere ao número de hidroxilas presentes na fórmula do sal, podendo ser mono-, di- ou tri-. Para sais com apenas uma hidroxila em sua fórmula é comum suprimir este prefixo iniciando o nome apenas por hidroxi. Ex.: Sn(OH)3I – Tri-hidroxi-iodeto de Estanho IV (ou Tri-hidroxi-iodeto Estânico). • Sal Misto (ou Duplo) nome(s) do(s) cátion(s)* + de + nome(s) do(s) ânion(s)* * Os nomes devem ser colocados em ordem alfabética. Ex.: KagSO3 – Sulfito de Potássio e Prata. Para sais hidratados: Segue-se as mesmas regras apresentadas, porém, deve-se acrescentar no final do nome um prefixo (mono, di, tri, tetra...), que indique o número de moléculas de água presentes na estrutura cristalina acompanhado da palavra “hidratado”. Ex.: Na2SO₄ . 10H2O – Sulfato de Sódio Deca-hidratado 2.3 APLICAÇÕES Os sais são facilmente encontrados na natureza e por causa de sua diversidade acabam possuindo muitas aplicações cotidianas, dessa forma, a fim de sintetizar estes dados, é apresentado o quadro 12. QUADRO 12 – PRINCIPAIS SAIS E SUAS APLICAÇÕES FÓRMULA UNITÁRIA NOME APLICAÇÃO Na Cloreto de Sódio É o principal constituinte do sal de cozinha, é usado na produção de cloro e hipoclorito de sódio. Também é utilizado na conservação de alimentos e produção de sabões e corantes. TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 145 FONTE: O autor 3 ÓXIDOS Os óxidos constituem outra função inorgânica que merece destaque, mas antes de adentrarmos a este assunto leia o texto apresentado a seguir. CaCO₃ Carbonato de Cálcio É encontrado no calcário, na calcita, em cascas de ovos, nas pérolas e nos recifes de corais. Nas siderúrgicas é utilizado como fundente, na indústria é utilizado na fabricação do cimento, vidro, da cal virgem e na agricultura para correção da acidez do solo. NaCO₃ Carbonato de Sódio Chamado também de “soda” ou “barrilha”, é utilizado na fabricação de papéis, detergentes, medicamentos, no tratamento de água de piscina e no tratamento têxtil. NaHCO₃ Bicarbonato de Sódio É utilizado no combate a acidez estomacal, na produção de cremes dentais, extintores, desodorantes e fermento para bolo. NaF Fluoreto de Sódio É utilizado na produção de cremes dentais e na fluoretação de água potável pois é fonte de íons fluoreto, que fortalecem o esmalte dos dentes. KNO₃ Nitrato de Potássio Tem aplicação na produção de ácido nítrico e pólvora negra, além de ser utilizado como conservante para embutidos. NaNO₃ Nitrato de Sódio Este sal, também conhecido como salitre do Chile, é utilizado na fabricação de pólvora negra e de fertilizantes. Possui aplicação também na conservação de alimentos. Na₂SO₃ Sulfito de Sódio É usado na conservação de alimentos, na refinação de açúcar e na indústria de celulose para clarificação do papel. Li₂SO₄ Carbonato de Lítio Na medicina é utilizado como um estabilizador do humor para o tratamento psiquiátrico de estados de mania e distúrbio bipolar, além de ser um antidepressivo. BaSO₄ Sulfato de Bário Ele é usado na fabricação de papéis fotográficos, pigmentos artificiais de marfim e celofane. Na forma de suspensãoé utilizado como contraste em radiografias do sistema digestório. MgSO₄ Sulfato de Magnésio Na agricultura é empregado como corretor da deficiência de magnésio no solo e na medicina é utilizado como laxante e repositor de eletrólitos. 146 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS ÓXIDO NITROSO: UM POLUENTE PERIGOSO As emissões de óxido nitroso (N2O), um gás frequentemente esquecido e potente, podem quase dobrar até 2050 e, portanto, potencialmente minar os ganhos na recuperação da camada de ozônio e agravar as mudanças climáticas. Drawing Down N2O to Protect Climate and the Ozone Layer, um novo relatório do Progra- ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), alerta que o óxido nitroso é agora a emissão mais importante que destrói a camada de ozônio e o terceiro gás de efeito estufa mais potente liberado na atmosfera. Enquanto o N2O existe naturalmente na atmosfera em pequenas quantidades, as ativida- des humanas aumentaram suas concentrações desde a revolução industrial. [...]. "Precisamos de todas as mãos no convés para combater os aumentos sérios e signifi- cativos dos níveis de N2O na atmosfera", disse o subsecretário-geral da ONU e o diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner. "O PNUMA está trabalhando em várias frentes para apoiar os esforços internacionais sob a Convenção do Clima da ONU, desde catalisar a captação de energias renováveis e eficiência energética até projetos de adaptação em muitas partes do globo". [...]. "Embora não seja tão prevalente na atmosfera quanto o CO2 em termos de massa, o N2O – comumente conhecido por muitos como 'gás do riso' – está longe de ser motivo de riso no que diz respeito aos danos causados ao clima e a camada de ozônio, pois tem um im- pacto desproporcional no aquecimento global por causa de suas propriedades radiativas e longa vida na atmosfera, que é em média de 120 anos. As ações sobre essas emissões oferecem mais uma oportunidade para manter o mundo sob um aumento de temperatura de 2°C", acrescentou. A maior parte da depleção da camada estratosférica de ozônio até agora se deve aos in- fames clorofluorocarbonetos (CFCs) e outros produtos químicos halogenados (contendo cloro e bromo). No entanto, esses produtos químicos – diferentemente do N2O – agora são amplamente controlados pelo Protocolo de Montreal, um tratado internacional projetado para proteger a camada de ozônio. A agricultura é de longe a maior fonte de emissões de N2O induzidas pelo homem, re- presentando dois terços dessas emissões. Enquanto isso, outras fontes importantes de N2O incluem indústria e combustão de combustíveis fósseis, queima de biomassa e águas residuais. FONTE: UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. Often-Overlooked yet Potent Pollutant Nitrous Oxide Poses Ozone and Climate Risks. Varsóvia, 21 nov. 2013. Tradução de José Edson Reinert. Disponível em: <https://bit.ly/2ZQRKsd>. Acesso em: 17 jul. 2020. INTERESSANTE TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 147 O planeta vive uma constante batalha contra a poluição do ar. Esta polui- ção traz danos tanto à saúde quanto ao meio ambiente. Nos infográficos a seguir são apresentadas as principais causas da poluição do ar e quais medidas podem ser tomadas a fim de diminuir esse problema. PRINCIPAIS CAUSAS DA POLUIÇÃO DO AR FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/32PuUDv>. Acesso em: 18 jul. 2020. SOLUÇÕES PARA POLUIÇÃO DO AR FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/32PuUDv>. Acesso em: 18 jul. 2020. Se você quiser saber mais sobre o tema ou mesmo encontrar outros infográficos acesse o site oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) através do link https://bit.ly/2ZNF- Qzu. NOTA 148 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS Além do óxido nitroso, diversos outros óxidos são responsáveis por problemas ambientais e consequente representam um perigo para nossa saúde (BATISTA, 2015). Assim, é importante que possamos conhecer um pouco mais sobre essas substâncias e como são classificadas. O primeiro passo é definir um óxido: São compostos binários, ou seja, formados por apenas dois elementos, em que o oxigênio deve ser o elemento mais eletronegativo. 3.1 CLASSIFICAÇÃO Quanto à classificação, os óxidos podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: • Quanto ao tipo de elemento ligado ao oxigênio; • Quanto à propriedade ácido-base; • Outros compostos derivados do oxigênio. 3.1.1 Quanto ao tipo de elemento ligado ao oxigênio Quanto a este critério de classificação os óxidos podem ser definidos como: • Óxidos iônicos: são aqueles formados por oxigênio ligado a um metal. Ex.: Óxido de Cálcio (CaO). • Óxidos moleculares: são aqueles formados por oxigênio ligado a um não metal. Ex.: Dióxido de Carbono (CO2). O oxigênio pode formar compostos binários com o flúor (OF2 e O2F2), porém, estes compostos não são classificados como óxidos, pois o flúor é o elemento mais eletronegativo. Outra curiosidade é que apesar de os gases nobres serem extremamente estáveis, em certas condições, é possível formar óxidos com o elemento xenônio (XeO 3 e XeO 4 ). NOTA TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 149 3.1.2 Quanto à propriedade ácido-base. ÓXIDOS ÁCIDOS São formados por elementos metálicos de alta eletronegatividade, que possuem NOX superior a +4, e por não metais. Quando dissolvidos em água formam seu ácido correspondente, dando a solução caráter ácido. Podem reagir com bases formando sal e água. São chamados também de anidridos de ácidos. ÓXIDOS BÁSICOS São formados por elementos metálicos de baixa eletronegatividade, que possuem NOX +1, +2 e +3. Quando dissolvidos em água formam sua base correspondente, dando a solução caráter básico. Podem reagir com ácidos formando sal e água. ÓXIDOS NEUTROS Segundo Batista (2015, p. 31), esse tipo de óxido “não reage com água, nem com ácido ou base. Do tipo molecular, é conhecido também como óxido indiferente. Os mais importantes são: CO, NO e N2O”. ÓXIDOS ANFÓTEROS Diferente das demais classificações, estes óxidos não reagem com água, porém podem reagir com ácidos e bases. Dentre os óxidos anfóteros cabe destacar: 150 3.1.3 Outros compostos derivados do oxigênio ÓXIDOS DUPLOS OU MISTOS Os óxidos duplos ou mistos são formados pela associação de dois óxidos diferentes formados pelo mesmo cátion. Um exemplo deste tipo de óxido é o tetróxido de chumbo (Pb₃O₄), popularmente conhecido como zarcão e utilizado para proteção de peças de ferro contra ferrugem, na fabricação de baterias e de vidro cristal. Este óxido é formado pela associada de óxido de chumbo IV (PbO2) e óxido de chumbo II (PbO). Pb₃O₄ – PbO2 + 2PbO Outro exemplo de óxido duplo ou misto é óxido de ferro II, III (Fe₃O₄), principal constituinte da magnetita. Ele é formado pela associação entre óxido de ferro II (FeO) e óxido de ferro III (Fe2O₃). Fe₃O₄ = FeO + Fe2O₃ FIGURA 18 – MAGNETITA FONTE: <https://bit.ly/3eLrVy4>. Acesso em: 18 jul. 2020. 151 PERÓXIDOS Nestes compostos há a presença do grupo , onde o oxigênio apresenta carga -1. Na sua maioria são formados por elementos do grupo 1 e do grupo 2, ou seja, são compostos iônicos. A única exceção é o peróxido formado por hidrogênio, conhecido popularmente como água oxigenada, que é um composto molecular. Ex.: Peróxido de Cálcio (CaO2) e Peróxido de Hidrogênio (H2O2). Outra informação a ser considerada é que, ao reagirem com água ou com ácidos diluídos os peróxidos produzem peróxido de hidrogênio. Ex.: Na2O2 + H2O → 2NaOH + H2O2 SUPERÓXIDOS Assim como os peróxidos, nos superóxidos o oxigênio apresenta uma carga diferente, pois o grupo que faz parte da composição dos compostos é o , onde o oxigênio possui carga -½. São formados por cátions do grupo 1 e do grupo 2. Ex.: Superóxido de Sódio (NaO2). 3.2 NOMENCLATURA Para que possamos dar nome aos óxidos é importante que realizemos as classificações, pois dependendo dela teremos uma estrutura de nomenclatura diferente. Para óxidos iônicos: Estes óxidos podem apresentarcátions que possuem carga fixa ou variável, portanto, começando com os de carga fixa temos: óxido de + nome do cátion Ex.: Óxido de Zinco (ZnO). Para os de carga variável pode-se utilizar as terminações “ico” (para o cátion de maior carga) e “oso” (para o de menor carga) ou expressar a carga em números romanos, como já foi apresentado para as outras funções inorgânicas. 152 óxido de + nome do cátion + carga em números romanos ou óxido + nome do cátion + terminação “ico” ou “oso” Ex.: Óxido de Cobre I ou Óxido Cuproso (Cu2O). Para óxidos moleculares: Para nomenclatura destes óxidos é importante a utilização de prefixos que indiquem a quantidade de átomos de oxigênios e a quantidade de átomos do elemento que está ligado a ele. prefixo* + óxido de + prefixo* + nome do elemento *Este prefixo se refere ao número de átomos de oxigênio/elemento presentes na fórmula do óxido, podendo ser mono-, di-, tri-, tetra- e etc. Para óxidos nos quais há a presença de apenas um átomo do elemento ligado ao oxigênio é comum suprimir prefixo mono. Ex.: Dióxido de Carbono (CO2) e Pentóxido de Difósforo (P2O₅). Para peróxidos e superóxidos: O que difere esses compostos dos demais é a substituição do termo “óxido” por “peróxido” ou “superóxido”. peróxido de + nome do cátion e superóxido de + nome do cátion Ex.: Peróxido de Sódio (Na2O2) e Superóxido de Cálcio (CaO₄). 3.3 APLICAÇÕES Como abordado no início deste item, os óxidos estão presentes no ar e representam poluentes responsáveis por vários impactos ambientais, porém existem outras aplicações que são apresentadas através do Quadro 13. 153 FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2CVZD6U>. Acesso em: 18 jul. 2020. QUADRO 13 – PRINCIPAIS ÓXIDOS E SUAS APLICAÇÕES FÓRMULA NOME APLICAÇÃO CaO Óxido de Cálcio Obtido a partir da decomposição do calcário, é usado na agricultura para diminuir a acidez do solo e na preparação de argamassa na construção civil. N2) Óxido Nitroso Conhecido como gás hilariante, esse óxido inalado em pequena quantidade provoca euforia, mas pode causar sérios problemas de saúde; é utilizado como anestésico. SO2 Dióxido de Enxofre É usado para a obtenção de ácido sulfúrico e no branqueamento de óleos alimentícios, entre outras aplicações. É um dos principais poluentes atmosféricos; em dias úmidos, combina-se com o vapor de água da atmosfera e origina a chamada chuva ácida. CO Monóxido de Carbono Usado para obter certos produtos químicos e na metalurgia do aço. É normalmente o principal poluente da atmosfera das zonas urbanas; inalado combina com a hemoglobina das hemácias do sangue, neutralizando-as para o transporte de gás oxigênio no organismo. CO2 Dióxido de Carbono O gás carbônico é encontrado nos refrigerantes e na água mineral gaseificados. Ele reage com a água fazendo com que o meio fique ácido, daí o porquê de os refrigerantes serem ácidos. H2O2 Peróxido de Hidrogênio É um líquido incolor que pode explodir violentamente se for aquecido e, justamente por isso, é utilizado na projeção de foguetes. Este composto também é conhecido como “água oxigenada”, aquela usada para clarear pelos e cabelos. A solução aquosa concentrada a 3 % de peróxido de hidrogênio é vendida em farmácias para uso antisséptico e alvejante. Soluções com concentração superior a 30 % são utilizadas na indústria como alvejante de madeira e fibras têxteis e na propulsão de foguetes. 154 4 HIDRETOS A amônia representa uma das substâncias que fazem parte de outra importante função inorgânica, os hidretos. Basicamente, estes compostos são definidos como: São compostos binários no qual um dos elementos é o hidrogênio e apresentam fórmula geral EHX, onde E pode representar um metal ou um não metal. AMÔNIA A amônia é um gás incolor a temperatura ambiente, que possui um odor extremamente forte e é consideravelmente mais leve que o ar [...]. Apresenta pontos de fusão e ebulição de -77,7°C e -33,35°C, respectivamente, e é bastante solúvel em água, pois a 20°C e 1 atmosfera, um volume de água dissolve 702 volumes de amônia, resultando em uma so- lução alcalina. Apesar disso, pode ser facilmente removida da água levando-se à fervura. No estado líquido, é um dos solventes que mais tem sido usado para o estudo de reações químicas, sendo encontrada comercialmente disponível em solução aquosa [...], com a denominação de amoníaco. Desde a antiguidade a amônia é conhecida. Plínio em sua Historie naturalis mencionou a existência de uma variedade de sal denominado hammoniacum. Robert Boyle, em 1661, escreveu na Sceptical Chymist que o sal de amoníaco é composto de ácido muriático e álcali volátil. J. Priestley (1774) isolou amônia gasosa, que chamou de ar alcalino, e mostrou que ela podia ser decomposta por faísca elétrica em um outro gás combustível. Berthollet encontrou, em 1785, que quando esse gás é decomposto em seus constituintes por meio de faísca elétrica, ele fornece aproximadamente 0,725 volume de hidrogênio e 0,275 volu- me de nitrogênio. Esses dados foram confirmados por outros pesquisadores e permitiram estabelecer a composição do gás. Devido às suas diversas propriedades, a amônia apresenta vasta aplicação, dentre as quais pode-se destacar seu uso como fonte de nitrogênio na fabricação de fertilizantes, agente neutralizador na indústria do petróleo e gás de refrigeração em sistemas industriais, pois seu alto poder refrigerante e baixo potencial de destruição do ozônio estratosférico tor- nam este gás adequado para ser usado em grandes máquinas de refrigeração industrial, evitando assim os usuais compostos orgânicos clorofluorcarbonos (CFC). FONTE: FELIX, Erika Pereira; CARDOSO, Arnaldo Alves. Amônia (NH3) atmosférica: fon- tes, transformação, sorvedouros e métodos de análise. Química Nova, São Paulo, v.27, n.1, p.123, 2004. Disponível em: <https://bit.ly/2CDOvvp>. Acesso em: 19 jul. 2020. INTERESSANTE TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 155 4.1 CLASSIFICAÇÃO Dependendo do elemento ligado ao hidrogênio os hidretos podem ser classificados como: • Hidretos Iônicos ou Salino. • Hidretos Covalentes ou Moleculares. • Hidretos Metálicos ou Intersticiais. • Hidretos Intermediários. 4.1.1 Hidretos iônicos ou salinos Estes compostos são formados por metais alcalinos (Grupo 1) e metais alcalinos terrosos (Grupo 2) mais pesados (Ca, Sr, Ba, Ra) (Veja a Figura 20). Sob outra perspectiva, são formados por metais fortemente eletropositivos. Ex.: Hidreto de Cálcio (CaH2) Estes hidretos reagem com água liberando gás hidrogênio (H2) e formando sua base correspondente. Portanto, apesar de caras, os hidretos iônicos são fontes convenientes desse gás (BROWN et al., 2005). HIDRETO IÔNICO + ÁGUA → BASE + GÁS HIDROGÊNIO Ex.: CaH2 + H2O → Ca (OH)2 + H2 Nos hidretos iônicos o hidrogênio possui carga -1, porém, segundo Atkins e Jones (2012, p. 618), “[...] a carga positiva unitária do núcleo do átomo de hidrogênio é insuficiente para controlar os dois elétrons no íon H– que, por isso, são facilmente perdidos. A pequena energia necessária para que o íon hidreto perca um elétron torna os hidretos iônicos redutores muito poderosos [...]”. 4.1.2 Hidretos covalentes ou moleculares Estes hidretos são formados por metais e semimetais presentes no bloco p da Tabela Periódica, ou seja, com os elementos dos grupos 13, 14, 15, 16 e 17 (Veja a Figura 20). Sob condições padrão, se apresentam como gases ou líquidos (BROWN et al., 2005), além de apresentar o hidrogênio com carga +1. Ex.: Metano (CH₄), Amônia (NH₃) e Água (H2O). 156 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 4.1.3 Hidretos metálicos ou intersticiais “Os hidretos metálicos são formados quando o hidrogênio reage com os metais de transição. Esses compostos são assim chamados porque mantêm sua condutividade metálica e outras propriedades metálicas” (BROWN et al., 2005, p. 812). Mais especificamente, são formados por metais de transição dos grupos 3, 4 e 5, além do Cr, Ni e Pd (Veja a Figura20). Em muitos hidretos metálicos, a razão entre hidrogênio e o elemento metálico não é fixa pois o hidrogênio pode se alocar em “buracos” presentes na estrutura cristalina. Estes buracos são conhecidos por interstícios (Figura 19), daí o nome hidretos intersticiais. FIGURA 19 – INTERSTÍCIOS NA ESTRUTURA CRISTALINA FONTE: O autor Ex.: Hidreto de Titânio (TiH2-x). 4.1.4 Hidretos intermediários Alguns hidretos possuem propriedades intermediárias em relação aos demais, portanto, não se enquadram em nenhuma das demais classificações. São formados por Be, Mg, Cu e Zn. Ex.: Hidreto de Zinco (ZnH2). A figura apresentada a seguir resume a classificação dos hidretos intermediários, assim como, as demais classificações já apresentadas. TÓPICO 2 — SAIS, ÓXIDOS E HIDRETOS 157 FIGURA 20 – CLASSIFICAÇÃO DOS HIDRETOS FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3hqkf68>. Acesso em: 20 jul. 2020. 4.2 NOMENCLATURA Para dar nome aos hidretos devemos analisar sua classificação. Para hidretos iônico, metálicos e intermediários utiliza-se a seguinte regra: hidreto de + nome do elemento Ex.: Hidreto de Potássio (KH) e Hidreto de Sódio (NaH). Já hidretos moleculares podem seguir a mesma regra de nomenclatura em alguns casos, porém são mais conhecidos por seus nomes usuais. Ex.: Fosfina (PH₃) e Arsina (AsH₃). 158 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Sais são substâncias que em solução aquosa sofrem dissociação e liberam pelo menos um cátion diferente de H⁺ e um ânion diferente de OH–. Lembrando que o cátion será proveniente da base e o ânion proveniente do ácido. • Os sais podem ser classificados quanto ao número de elementos químicos constituintes, quanto à solubilidade em água, quanto à presença de água, quanto à natureza dos íons. • Quanto à natureza dos íons, os sais podem ser classificados como: sais neutros (ou normais), sais ácidos (ou hidrogenossais), sais básicos (ou hidroxissais) e sais mistos (ou duplos). • Os sais possuem diversas aplicações cotidianas, sendo seu principal representando o cloreto de sódio ( ), popularmente conhecido como sal de cozinha. • Os óxidos representam compostos binários onde o oxigênio deve ser o elemento mais eletronegativo. • Quanto a suas propriedades ácido-base, os óxidos podem ser classificados como neutros, ácidos, básicos ou anfóteros. • Outros compostos derivados do oxigênio que representam grande importância são os óxidos duplos (ou mistos), os peróxidos e os superóxidos. • Muitos dos óxidos encontrados na natureza se apresentam como vilões quando se trata de poluição do ar, sendo seus principais representantes CO, CO2, N2O e SO2. • Os hidretos são compostos binários no qual um dos elementos é o hidrogênio e apresentam fórmula geral EHx, onde E pode representar um metal ou um não metal. • São classificados como hidretos iônicos (ou salinos), hidretos covalentes (ou moleculares), hidretos metálicos (ou intersticiais) e hidretos intermediários. 159 1 (UCS/RS – Adaptada) Os antiperspirantes funcionam como inibidores da transpiração e mantêm o corpo relativamente seco. O componente ativo mais comum desses produtos é o penta-hidroxi-cloreto de alumínio. Esse sal libera os íons que coagulam as proteínas, formando estruturas bloqueadoras do canal de saída das glândulas sudoríparas. De a fórmula unitária deste sal e a classificação considerando todos os critérios. FONTE: DIAS, Diogo Lopes. Exercícios Sobre O Caráter Dos Sais, 2018. Disponível em: ht- tps://bit.ly/3kuPEpv. Acesso em: 18 set. 2020. 2 Os sais podem ser classificados quanto à natureza dos íons que os formam. Assim, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Sal Neutro. II- Sal Ácido. III- Sal Básico. IV- Sal Misto. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV – II – III – II – I. b) ( ) I – I – III – II – IV. c) ( ) III – IV – II – I – I. d) ( ) III – II – III – IV – I. 3 Ao conhecer as substâncias químicas, as funções as quais pertencem e suas propriedades, podemos, de forma segura, manipulá-las ao nosso favor, produzindo novas substâncias que podem não ser encontradas na natureza, mas que podem possuir uma grande importância comercial. Considerando o exposto, dê o nome dos seguintes compostos e classifique-os de acordo com suas funções inorgânicas: a) FeSO₄ b) GaH₃ c) SO₃ d) Pb₃O₄ e) BeH2 f) (NH₄)2CO₃ 4 O filme “Perdido em Marte” conta a história de um astronauta, vivido pelo ator Matt Damon, que tem que sobreviver nas condições adversas do planeta vermelho. Uma das ações pensadas por ele foi produzir água através de dióxido de nitrogênio (NO₂) e hidrazina (N₂H₄) para cultivar batatas. A AUTOATIVIDADE 160 hidrazina é um hidreto e possui como característica a presença do íon hidreto representado por H–. Considerando seus conhecimentos sobre esta função química, monte a fórmula unitária dos hidretos a seguir e equacione suas reações com água. a) Hidreto de Sódio b) Hidreto de Cálcio 5 Os óxidos possuem diversas classificações e uma delas são os chamados óxidos básicos. Estes óxidos quando dissolvido em água forma sua base correspondente deixando o meio alcalino. Dentre as alternativas a seguir, assinale a alternativa CORRETA que representa somente óxidos básicos: a) b) c) d) e) 6 Nos últimos tempos muito tem se falado sobre os impactos da poluição sobre o meio ambiente. Várias convenções, ONG’s, e instituições buscam maneira de retardar esse avanço da produção de poluentes, principalmente no que se refere a poluição do ar. Um efeito grave deste tipo de poluição é a chuva ácida, pois além de deteriorar monumentos e degradar plantas, solos e lagos, ela ainda pode ser um fator causador de doenças respiratórias. Nesse quesito, os óxidos são os principais responsáveis pelo surgimento da chuva ácida. Dessa forma, assinale a alternativa CORRETA que apresenta o óxido que adicionado à água pode lhe conferir caráter ácido: a) b) c) d) e) 161 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Ao nosso redor e mesmo dentro do nosso organismo tudo está em constante transformações. Essas transformações podem ser consideradas fenômenos físicos, quando envolvem mudanças de estado físico ou deformação, no qual não ocorrer mudança da constituição da matéria, ou fenômenos químicos, quando novas substâncias são formadas. Observamos as transformações físicas nas mais variadas situações, mas no dia a dia podemos usar para exemplificar este fenômeno quando gelo está derretendo dentro de um drinque, quando estamos fervendo água para o café ou quando rasgamos e amassamos uma folha. Os químicos fazem muitas coisas; medem as propriedades físicas de substâncias, analisam misturas para descobrir do que elas são compostas e fazem novas substâncias. O processo de fazer compostos químicos é chamado de síntese. A síntese depende das reações químicas (MOORE, 2008, p. 119). Essas reações químicas, ou transformações químicas, estão presentes em fenômenos que podem nos surpreender um pouco mais, como a mudança de cor de uma flor, a explosão de uma bomba ou mesmo a produção de energia para o nosso corpo. Elas podem ocorrer de forma espontânea na natureza ou podem ser realizadas pelo ser humano. Neste tópico buscaremos conhecer as reações químicas e os fatores que indicam a ocorrência delas, além disso vamos aprender a equacionar e balancear uma reação química. 2 CONCEITOS GERAIS SOBRE REAÇÕES QUÍMICAS Antes de classificarmos as reações químicas é importante que possamos conhecer algumas informações gerais sobre elas a fim de que suas representações sejam feitas da forma correta. Primeiramente, toda reação química é representada por uma equação química, nesta equação são expressas as fórmulas moleculares/unitárias de cada substância participante. A equação possui dois lados separados por uma TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 162 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS seta que indica o sentido da reação, comumente do lado esquerdo da seta é(são) representado(s)o(s) reagente(s) e do lado direito o(s) produto(s). Acompanhado de cada espécie química participante da reação, de forma subscrita, pode-se representar os estados físicos, sólido (s), líquido ( ) e gasoso (g), além disso temos também o estado aquoso (aq), utilizado para substâncias que estão dissociadas/ionizadas em água. Outra simbologia que pode aparecer em alguns casos são setas que apontam para cima (↑) ou para baixo (↓). A seta para cima indica que a formação de uma substância no estado gasoso, já a seta para baixo, a formação de um precipitado (sólido). Na Figura apresentada a seguir, temos a representação de uma equação química de uma reação genérica onde as letras maiúsculas representam as substâncias participantes. Note que, acompanhada delas, há letras minúsculas, estas letras representam os coeficientes estequiométricos que mantém a reação balanceada. Não se preocupe, falaremos sobre balanceamento mais a frente e entenderemos melhor o papel destes coeficientes. FIGURA 21 – REPRESENTAÇÃO DE UMA EQUAÇÃO QUÍMICA FONTE: O autor É importante salientar que a seta que separa os reagentes dos produtos pode também ser apresentada como uma seta dupla ( ). Mas qual é a diferença? A seta simples é utilizada para reações irreversíveis ou reversíveis, porém que o processo inverso (produto formando reagente) seja insignificante. Nesta situação, a reação caminha em um único sentido onde todos ou ao menos um dos reagentes é consumido por completo, imagine uma folha de papel que é queimada, a partir do momento que não houver mais folha a reação para. Já a seta dupla indica que a reação é reversível e um equilíbrio químico é atingido. Neste equilíbrio, a velocidade de formação de produtos (reação direta) se iguala a velocidade de formação dos reagentes (reação inversa). Alguns símbolos podem ser representados sobre a seta a fim de identificar algum fator para que a reação ocorra, dentre estes símbolos temos: • Quando o delta (∆) é representado sobre a seta isso indica que a reação ocorre mediante aquecimento. Ex.: TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 163 • Quando o lambda (λ) é representado sobre a seta isso indica que a reação ocorre mediante presença de luz. Ex.: • Quando o raio ( ) é representado sobre a seta isso indica que a reação ocorre mediante passagem de corrente elétrica. Ex.: • Para reações catalisadas é comum a representação da fórmula da substância que representa o catalisador ou a escrita da palavra “catalisador”. Ex.: Sabendo de todas essas informações há algo que precisamos discutir, quais fenômenos podem ser observados e que indicam a ocorrência de uma reação química? É isso que pretendemos responde no próximo item. 3 INDICATIVOS DE REAÇÃO QUÍMICA “De maneira geral, o reconhecimento de uma reação química pode estar relacionado a evidências que permitam visualizar, de forma simples e direta, a ocorrência de uma transformação” (BATISTA, 2015, p. 46). Dentre estes fenômenos, temos: • Liberação de gás (Figura 22A); • Mudança de cor (Figura 22B); • Formação ou dissolução de sólido (Figura 22C); • Liberação ou absorção de calor (Figura 22D); • Liberação de luz ou eletricidade (Figura 22E). FIGURA 22 – FENÔMENOS QUE INDICAM A OCORRÊNCIA DE REAÇÕES QUÍMICAS FONTE: O autor 164 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS Deve-se ter em mente que a ocorrência de um destes fenômenos não impossibilita a ocorrência de outro deles, na figura 22D você pode observar uma vela queimando onde além de liberação de calor há liberação de luz. 4 LEIS DAS REAÇÕES QUÍMICAS As leis das reações químicas são divididas em dois grupos, as Leis Ponderais e as Leis Volumétricas. As Leis Ponderais levam em conta a relação das massas das substâncias participantes da reação, já as Leis Volumétricas consideram a relação com os volumes. Das Leis Volumétricas podemos destacar a Lei de Gay-Lussac, desenvol- vida pelo químico e físico francês Louis Joseph Gay-Lussac (1778-1850), em 1808. Esta lei também ficou conhecida como Lei da Combinação de Volumes e foi resultado de experimentos no qual Gay-Lussac realizou a medida do volume de gases de reações químicas entre gás oxigênio e gás hidrogênio. Quando se fala em reação que libera ou absorve calor é comum usar os termos reação exotérmica e reação endotérmica, respectivamente. NOTA Que tal experimentar? No laboratório você pode realizar experiências que tem como foco verificar estes fenômenos que indicam a ocorrência de reações químicas. A USP apresenta um roteiro intitulado Evidências de Reações Químicas, que pode ser aces- sado através do link https://bit.ly/30XpBix. DICAS TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 165 No final do século XVIII, os cientistas Antoine Laurent Lavoisier [1743-1794] e Joseph Louis Proust [1754-1826], através de estudos experimentais, concluíram que as reações químicas obedecem a determinadas leis. Essas leis são chamadas de leis ponderais e relacionam as massas das substâncias, reagentes e produtos participantes de uma reação química (PAULA, 2015, s. p., grifo nosso). A Lei de Lavoisier também ficou conhecida como Lei da Conservação das Massas, enquanto a Lei de Proust foi nomeada como Lei das Proporções Definidas. Conhecendo estas informações podemos agora verificar como se comportam as leis das reações químicas. Nos dias de hoje o nome de Gay-Lussac se tornou a unidade de medida °GL (lê-se “grau GL” ou “grau gay-lussac”), usada para medir a o teor de álcool. Essa unidade representa a quantidade de mililitros (mL) de álcool que há em 100mL de uma solução hidroalcoólica (água + álcool). ÁLCOOL COMERCIAL DE 96°GL FONTE: O autor NOTA 166 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 4.1 LEI DA COMBINAÇÃO DE VOLUMES Como já citado anteriormente, a Lei da Combinação de Volumes, ou Lei de Gay-Lussac, leva em conta o volume dos participantes da reação. Gay- Lussac enunciou que: “Quando medidos nas mesmas condições de temperatura e pressão, os volumes dos gases participantes de uma reação têm entre si uma proporção fixa expressa por números inteiros e pequenos” (POSITIVO, 2017, p. 48). Se observarmos, por exemplo, a reação de formação de água, podemos verificar que existe uma relação de 2:1:2 entre os volumes dos participantes da reação. FIGURA 23 – RELAÇÃO ENTRE OS VOLUMES DOS PARTICIPANTES DA REAÇÃO DE FORMAÇÃO DA ÁGUA FONTE: O autor Essa relação estabelece que o volume de gás hidrogênio será sempre o dobro do volume de gás oxigênio na reação, assim como o volume de água será sempre o dobro do volume de gás oxigênio. 4.2 LEI DA CONSERVAÇÃO DAS MASSAS A Lei de Lavoisier, ou Lei da Conservação das Massas, é uma lei ponderal, portanto, leva em consideração a massa dos participantes de uma reação, podendo ser enunciada como: “Em um sistema fechado, a soma das massas dos reagentes deve ser numericamente igual à soma das massas dos produtos” (POSITIVO, 2017, p.47). Popularmente, esta lei é expressa pela célebre frase de Lavoisier: “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, e pode ser verificada, por exemplo, na reação entre cloreto de cálcio ( ) e sulfato de sódio ( ). TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 167 FIGURA 24 – LEI DA CONSERVAÇÃO DE MASSAS SENDO OBSERVADA NA REAÇÃO ENTRE CLORETO DE CÁLCIO E SULFATO DE SÓDIO FONTE: Adaptado de <https://shutr.bz/2DaWEYg>. Acesso em: 25 jul. 2020. Note que a soma da massa dos reagentes é exatamente igual a soma da massa dos produtos, o que comprova a Lei de Lavoisier. 4.3 LEI DAS PROPORÇÕES DEFINIDAS Por volta de 1799 Proust enuncio a Lei das Proporções Definidas, também conhecida como Lei de Proust, que indica que “independente da procedência de uma substância composta, esta é sempre formada pelos mesmos elementos químicos, em uma mesma proporção em massa” (POSITIVO, 2017, p. 47). Veja o exemplo da reação de decomposição da água apresentado no Quadro 14. QUADRO 14 – ANÁLISE DAS PROPORÇÕES SEGUNDO A LEI DE PROUST FONTE: O autor Experimento 1 36g 4g32g Experimento 2 18g 2g 16g Experimento 3 9g 1g 8g Proporção 9 1 8 168 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS Portanto, de acordo com a tabela a relação entre as massas de hidrogênio e oxigênio é de 1:8 na composição da água. Note ainda que a Lei de Lavoisier também é respeitada nos três experimentos. De forma geral esta lei pode ser aplicada para qualquer reação química, pois a proporção em massa das substâncias que participam de uma reação é fixa, constante e invariável. 5 BALANCEAMENTO DE REAÇÕES Seguindo a frase de Lavoisier de que, na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma podemos avaliar as reações químicas. Em uma reação, a quantidade de átomos presentes nos produtos devem ser as mesmas do início da reação presentes nos reagentes. Por isso, as reações devem ser balanceadas: a mesma quantidade de átomos deve estar presente tanto nos reagentes como nos produtos. Isso significa que uma equação química balanceada deve mostrar que os átomos são conservados e todos os átomos dos regentes devem ter correspondentes nos produtos (BARP; SILVA, 2014, s. p.). Veja o exemplo apresentado na figura a seguir: FIGURA 25 – BALANCEAMENTO DE REAÇÕES QUÍMICAS FONTE: O autor Note que na frente de cada substância há um número em destaque, este é o coeficiente estequiométrico, conforme já foi apresentado anteriormente. Ao multi- plicar o coeficiente pelo índice (número subscrito) de cada elemento pertencente as substâncias obtemos o número total de átomo nos reagentes e nos produtos. Para que a reação esteja balanceada, o número de átomos de cada elemento deve ser igual dos dois lados da equação. TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 169 Para realizar o balanceamento iremos utilizar o método de tentativas, para isso há alguns passos que podem facilitar o processo: • 1º Passo: equacione a reação química. • 2º Passo: considerando toda equação, identifique o elemento que aparece uma única vez em cada lado. Procure não começar pelo oxigênio (deixe-o por último). • 3º Passo: verifique em qual das substâncias o elemento possui maior índice e dê a esta substância o coeficiente 1. • 4º Passo: faça o ajuste entre o coeficiente da substância escolhida e o coeficiente da substância do outro lado da equação que contém o elemento para que fiquem com o mesmo número de átomos. • 5º Passo: identifique os coeficientes das demais substâncias. • 6º Passo: busque apresentar os menores coeficiente inteiros para cada substância. Vejamos o exemplo da reação de combustão de butano (C₄H1₀): • 1º Passo: a reação equacionada é representada por C₄H1₀ + O2 → CO2 + H2O • 2º Passo: selecionamos o carbono para trabalhar pois ele só está presente em um dos produtos e um dos reagentes. • 3º Passo: observamos que o butano possui o maior índice de carbono, portanto, o coeficiente 1 será adicionado a ele, resultando em: 1C₄H1₀ + O2 → CO2 + H2O • 4º Passo: para balancear o carbono precisamos colocar o coeficiente 4 na frente do dióxido de carbono (CO2), assim o número de carbonos será o mesmo dos dois lados da equação. 1C₄H1₀ + O2 → 4CO2 + H2O • 5º Passo: agora que já está estabelecido o coeficiente 1 para o butano podemos acertar o hidrogênio. Como há 10 átomos de hidrogênios nos reagentes devemos colocar o coeficiente 5 na água para que tenhamos a mesma quantidade de hidrogênios nos produtos. 1C₄H1₀ + O2 → 4CO2 + 5H2O Por último balanceamos o oxigênio. Como nos produtos temos 13 ((4 x 2) + (5 x 1) = 13) átomos de oxigênio, precisamos colocar o coeficiente 7,5, na forma de fração (13/2) na frente do gás oxigênio presente nos reagentes, assim as quantidades de se igualam. 1C₄H1₀ + 13/2 O2 → 4CO2 + 5H2O • 6º Passo: para apresentar os menores coeficiente inteiros devemos remover a fração multiplicando toda equação por 2. 170 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS 2C₄H1₀ + 13O2 → 8CO2 + 10H2O Por fim, a reação se encontra balanceada, porém, é importante ressaltar que os coeficientes, quando não forem inteiros, devem ser representados na forma de fração. 6 CLASSIFICAÇÕES DAS REAÇÕES QUÍMICAS O nosso cotidiano é repleto de reações químicas que ocorrem tanto dentro do nosso corpo quanto fora dele. Estas reações são responsáveis por manter a vida em curso ao prover energia para os mais diversos sistemas como também fazer a manutenção da morte ao realizarem a decomposição da matéria. “O conceito de reação química está associado à ideia de transformação química, ou seja, à produção de novas substâncias em decorrência do rearranjo dos átomos que formavam as substâncias que deixaram de existir” (BIANCO, 2016, p. 109). Veja a situação a seguir: Você já colocou vinagre em um recipiente com bicarbonato? Se sim, sabe que imediatamente surge uma cascata efervescente de bolhas. As bolhas são formadas pelo dióxido de carbono, que é produzido pela reação entre o bicarbonato de sódio e o ácido acético do vinagre (BROWN et al., 2005, p. 84). Outra forma utilizada para realizar o balanceamento é através da análise da variação do número de oxidação (NOX) dos elementos, chamado de balanceamento por oxirredução ou balanceamento redox. NOTA Acadêmico, o site PhET Colorado disponibiliza diversas simulações que podem ajudar na compreensão de conteúdos de Química, Física, Biologia e Matemática. Uma delas é intitulada “Balanceamento de Equações Químicas” e ajuda a entender, de forma lúdica, como esse processo ocorre. Você pode acessá-la através do link https://bit.ly/3g8UVRO. Aproveite para explorar o site e encontrar outras simulações! DICAS TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 171 A reação descrita, por exemplo, é uma experiência comum no ensino médio quando se deseja estudar este assunto, assim como, diversas outras possibilidades de reações que podem ser realizadas com materiais comuns. De acordo com o rearranjo que ocorre com os átomos na reação, elas podem ser classificadas como: • Reação de Síntese ou Adição; • Reação de Análise ou Decomposição; • Reação de Deslocamento ou Simples Troca; • Reação de Dupla-Troca. E são estas classificações que pretendemos abordar agora. 6.1 REAÇÃO DE SÍNTESE OU ADIÇÃO As reações de síntese ou adição são reações nas quais dois ou mais reagentes forma um único produto. Caso a reação tenha como reagentes apenas substâncias simples teremos uma síntese total, porém, se ao menos um dos reagentes for uma substância composta teremos uma síntese parcial. FIGURA 26 – REAÇÃO DE SÍNTESE FONTE: O autor Ex.: 6.2 REAÇÃO DE ANÁLISE OU DECOMPOSIÇÃO Na reação de análise ou decomposição temos um único reagente que irá se decompor em dois ou mais produtos. Assim como ocorre nas reações de síntese, as reações de decomposição também podem ser totais, quando os produtos formados são apenas substâncias simples, ou parciais, quando ao menos um dos produtos é uma substância composta. 172 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS FIGURA 27 – REAÇÃO DE DECOMPOSIÇÃO FONTE: O autor As reações de decomposição podem receber nomes especiais dependendo da forma como a decomposição ocorre, sendo elas: • Pirólise: decomposição pela presença de calor (∆). • Fotólise: decomposição pela presença de luz (λ). • Eletrólise: decomposição pela passagem de corrente elétrica ( ). E SE NÃO HOUVESSE DECOMPOSIÇÃO? Do cheiro ruim de animais mortos à gasolina do seu carro, muita coisa não existiria. Mas a principal mudança é na alimentação. Comeríamos como astronautas Só lembramos dela quando esquecemos uma maçã no fundo da geladeira. Mas a decom- posição é um processo essencial do ciclo da vida. “Graças a ela, a matéria orgânica, aquela que forma os seres vivos, é degradada e retorna à natureza, tornando-se disponível para que outros organismos a utilizem novamente”, explica a bióloga da USP Ana Maria Gouw. A decomposição é um processo complexo em que, basicamente, matéria orgânica se transforma em minerais. É por meio dela que é possível reciclar a vida noplaneta. Sem esse processo, ela seria linear. Por exemplo, uma floresta usaria os nutrientes do solo para se desenvolver. Mas as árvores morreriam e, como não sofreriam decomposição, o solo não seria enriquecido por seus nutrientes e ficaria pobre para alimentar uma nova geração de árvores e outras formas de vida. “A vida na Terra existe porque há um fluxo de energia e nutrientes entre os seres vivos”, diz Gouw. “Se não houvesse a decomposição, os nutrien- tes ficariam retidos nos cadáveres e nenhuma nova vida poderia ser produzida”. O único jeito de a vida continuar seria fazer essa reciclagem de nutrientes em laboratório. Uma maneira um tanto mais elaborada do que já ocorre com os astronautas, que bebem a própria urina reciclada. Nada apetitoso. Por falar nisso, as refeições não seriam lá muito agradáveis. E a geladeira seria só um frigobar. FONTE: SOEIRO, Raphael. E se não houvesse decomposição? 3 fev. 2013. Disponível em: <https://bit.ly/3hNYmhf>. Acesso em: 28 jul. 2020. INTERESSANTE TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 173 6.3 REAÇÃO DE DESLOCAMENTO OU SIMPLES TROCA As reações de deslocamento ou simples troca ocorrem quando uma substância simples desloca (substitui) um elemento de uma substância composta, formando outra substância simples e outra substância composta. FIGURA 28 – REAÇÃO DE DESLOCAMENTO FONTE: O autor Esse tipo de reação só ocorre quando a reatividade do elemento da substância simples for maior que a reatividade do elemento que está presente na substância composta. Para os metais essa propriedade é apresentada pela fila de reatividade a seguir: FIGURA 29 – FILA DE REATIVIDADE DOS METAIS FONTE: O autor Vamos analisar duas reações distintas: • Reação I: • Reação II: Observe que na reação I, o cobre (Cu) foi substituído pelo zinco (Zn), para que isso aconteça o zinco precisa ser mais reativo que o cobre, o que é comprovado ao observarmos a fila de reatividade, portanto, a reação I ocorre. Já na reação II, note que o magnésio (Mg) é substituído pelo ferro (Fe), porém, segundo a fila de reatividade o magnésio é mais reativo que o ferro, dessa forma, a reação II não ocorre. Ela seria corretamente representada por 174 UNIDADE 2 — FUNÇÕES INORGÂNICAS E REAÇÕES QUÍMICAS A mesma análise de reatividade é feita para os não metais nas reações de simples troca ou deslocamento, para isso os não metais também são organizados por uma fila de reatividade, conforme é apresentado na figura a seguir. FIGURA 30 – FILA DE REATIVIDADE DOS NÃO METAIS FONTE: O autor 6.4 REAÇÃO DE DUPLA-TROCA As reações de dupla-troca ocorrem quando duas substâncias compostas dão origem a outras duas substâncias compostas. Neste tipo de reação há uma substituição mútua de cátions e ânions, conforme é apresentado na figura a seguir. FIGURA 31 – REAÇÃO DE DUPLA TROCA FONTE: O autor As reações de neutralização abordadas no início desta unidade são exemplos de reações de dupla-troca. Na reação entre ácido clorídrico e hidróxido de sódio, por exemplo, o cloro do ácido se junta ao sódio da base para forma o sal, já o hidrogênio do ácido se junta a hidroxila da base para formar a água. No entanto, para que as reações de dupla-troca ocorram é necessário que ao menos um dos produtos, quando comparado aos reagentes, seja: • Menos solúvel; • Mais volátil; • Mais fraco. Quanto à formação de uma substância menos solúvel, visualmente conseguimos observar essa característica quando há o aparecimento de precipitado (sólido) ao longo da reação. Na reação entre nitrato de chumbo (Pb(NO₃)2) e TÓPICO 3 — REAÇÕES QUÍMICAS 175 cromato de potássio (K2CrO₄), por exemplo, há a formação de um precipitado amarelo característico do cromato de chumbo (PbCrO₄). FIGURA 32 – FORMAÇÃO DE UM PRODUTO MENOS SOLÚVEL QUE OS REAGENTES FONTE: O autor Com relação à formação de uma substância mais volátil, consegue-se observar o aparecimento de uma substância gasosa (há o aparecimento de bolhas nas soluções). Quanto à formação de um produto mais fraco é necessário que avaliemos o grau de ionização/dissociação das substâncias. No caso da reação neutralização apresentada anteriormente, o ácido clorídrico possui um grau de ionização de 92% e o hidróxido de sódio um grau de dissociação de 95%, porém a água (um dos produtos formados) se apresenta como uma substância pouco ionizada, ou seja, ela é mais fraca que os reagentes. 176 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Fenômenos físicos envolvem apenas mudanças de estado físico e deformação da matéria, ou seja, não há a formação de novas substâncias. • Fenômeno químicos representam reações químicas, nas quais os átomos são rearranjados dando origem a novas substâncias. • A ocorrência de uma reação química pode ser observada quando há a liberação de gás, mudança de cor, formação ou dissolução de sólido, liberação ou absorção de calor, liberação de luz ou eletricidade. • Inicialmente, numa reação química, há a presença de reagentes que com o passar do tempo se transformam em produtos. • As reações químicas são representadas por equações químicas. • As reações devem ser balanceadas para que a quantidade de átomos dos elementos nos reagentes seja igual a quantidade de átomos nos produtos. • Para realizar o balanceamento devemos acrescente os coeficientes estequiométricos na frente de cada substância da equação química. • A Lei de Gay-Lussac indica que, quando medidos nas mesmas condições de temperatura e pressão, os volumes dos gases participantes de uma reação têm entre si uma proporção fixa expressa por números inteiros e pequenos. • A Lei de Lavoisier indica que a quantidade de massa numa reação é constante, ou seja, a soma das massas dos reagentes deve ser igual a soma das massas dos produtos. • A Lei de Proust indica que independente da procedência de uma substância composta, esta é sempre formada pelos mesmos elementos químicos, em uma mesma proporção em massa. • As reações de síntese ocorrem quando dois ou mais reagentes formam um único produto. • As reações de decomposição ocorrem quando um único reagente forma dois ou mais produtos. 177 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • As reações de simples troca ocorrem quando uma substância simples substitui um elemento em uma substância composta formando uma nova substância simples e uma nova substância composta. • As reações de dupla-troca ocorrem quando há uma troca mútua entre cátions e ânions de duas substâncias compostas formando duas novas substâncias compostas. 178 1 A adição de sódio metálico em água faz com que ocorra uma interação entre estas duas espécies químicas. Essa interação é representada a seguir: Classifique este fenômeno e indique o fator que indica a ocorrência deste fenômeno. 2 Ao nosso redor, diversas transformações estão acontecendo. Observe o orvalho se formando sobre as plantas pela manhã, a água para o café fervendo na chaleira, o pão sendo torrado ou as frutas apodrecendo em uma fruteira. Além dessas, diversas outras podem ocorrer sem que você se dê conta disso. Dentre essas transformações, temos as físicas e as químicas. Portanto, associe os itens, utilizando o código a seguir: 3 Balancear as equações químicas é parte do processo ao se analisar uma reação química. Dessa forma, faça o balanceamento das equações químicas a seguir: a) b) c) 4 De forma geral, reações químicas envolvem o rompimento de ligações que existem nos reagentes para formação de novas ligações nos produtos, porém, isso não expressa toda a magnitude desse tema. Reações podem ser classificadas de acordo com o tipo de reagentes envolvidos, o tipo de produto formado ou até mesmo a quantidade de reagente e produtos envolvidos. Dessa forma, classifique as reações a seguir de acordo com sua estrutura: a) b) c) d) e) AUTOATIVIDADE 179 5 Utilizado naconstrução civil para preparação de argamassa e na agricultura para diminuição da acidez do solo, o óxido de cálcio é obtido através da decomposição do calcário. No processo o calcário é extraído de rochas e depois selecionado, moído e submetido a altas temperaturas em fornos industriais. Considere seus conhecimentos sobre as leis das reações químicas e reação de decomposição do calcário e descubra os valores de A, B e C. 180 REFERÊNCIAS ATKINS, P.; JONES, L. Princípios da química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. BARP, E.; SILVA, E. L. Química geral e inorgânica. São Paulo: Editora Érica, 2014. BATISTA, F. R. Química. Curitiba: Positivo, 2015. v. 3. BIANCO, R. J. F. Química geral. Indaial: Uniasselvi, 2016. BROWN, T. L. et al. Química: a ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Pretince Hall, 2005. BRUNING, V.; SÁ, M. B. Z. de. Uma Abordagem sobre Ácidos e Bases no Cotidiano: Trabalhando com Atividades Experimentais Investigativas na Edu- cação. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Ed- ucação. 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No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RADIOATIVIDADE TÓPICO 2 – GRANDEZAS QUÍMICAS TÓPICO 3 – SISTEMAS QUÍMICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 184 185 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Geralmente, quando se fala em radiação ou radioatividade em um círculo de pessoas leigas neste assunto, tem-se muitas concepções erradas. Esse tema geralmente é associado a desastres ambientais, causa de doenças e muitas vezes morte. No entanto, o estudo das radiações e da radioatividade vai além de fatores negativos e pode ser aplicado na produção de energia elétrica, em tratamentos médicos e na produção de alimentos. Afinal de contas, de onde surge a radiação? Os átomos de alguns elementos apresentam instabilidade nuclear devido à grande quantidade de energia presente em seu núcleo. Com o intuito de diminuir essa energia, os átomos emitem espontaneamente radiações (BRADY, 1986). A esse fenômeno espontâneo foi dado o nome de radioatividade. TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE O símbolo internacional de radiação (também conhecido como trifólio ou trevo de três folhas) apareceu pela primeira vez em 1946, no Laboratório de Radiação da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Na época, o símbolo era magenta sob um fundo azul (Símbolo A). Nos Estados Unidos a versão utilizada atualmente é magenta contra um fundo amarelo (Símbolo B). Já na versão internacional o símbolo é preto sob um fundo amarelo (Símbolo C). SÍMBOLOS DE RADIAÇÃO FONTE: O autor NOTA UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 186 A importância da radioatividade está na essência da Química, pois o desenvolvimento desta área está ligado à evolução dos modelos atômicos, um dos conceitos centrais da Química, que já foi abordado na Unidade 1. Segundo Salgado et al. (2009, p. 3), “a evolução dos modelos atômicos, principalmente no final do século XIX e início do século XX, ocorreu de forma intimamente ligada ao avanço do conhecimento na área da radioatividade”. Com o intuito de verificar as contribuições que o estudo da radioatividade trouxe para a área das ciências, nosso próximo passo é compreender seu histórico. 2 HISTÓRICO DA RADIOATIVIDADE Os primeiros passos em direção a descoberta da radioatividade foram dados em 1895 pelo físico e engenheiro mecânico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923). Segundo Xavier et al. (2007, p. 83): [...] Röntgen trabalhava em uma sala totalmente escura, utilizando uma válvula com a qual estudava a condutividade dos gases. A certa distância da válvula, havia uma folha de papel tratada com platinocianeto de bário usada como tela. Röntgen viu com espanto a tela brilhar, emitindo luz. Achou que esta luz não poderia ser proveniente da válvula, pois a mesma estava coberta por uma cartolina negra e nada (luz ouraio catódico) poderia ter vindo dela. Surpreso, fez várias investigações. Virou a tela, expondo o lado sem o revestimento de platinocianeto de bário, e esta continuava a brilhar. Colocou diversos objetos entre a válvula e a tela e viu que todos pareciam transparentes, mas não demorou a ter uma surpresa maior, quando sua mão escorregou em frente à válvula e viu seus ossos na tela. Registrou em chapas fotográficas suas observações e só então teve certeza de que estava diante de algo novo. Durante seus estudos, Röntgen imobilizou a mão de sua esposa durante alguns minutos em frente aos raios e sobre uma chapa fotográfica e após revelá-la obteve a primeira radiografia da história. TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 187 FIGURA 1 – RADIOGRAFIA DA MÃO DA ESPOSA DE RÖNTGEN FONTE: <https://bit.ly/39YCmxv>. Acesso em: 5 ago. 2020. Historicamente, muito se lê sobre o fato de que por ser algo desconhecido até então estes raios foram nomeados como raios X., No entanto, Embora muitos tenham acreditado que x foi a letra empregada pelo seu significado matemático de "desconhecido", isto é improvável, uma vez que todo o texto original [que Röntgen escreveu sobre o assunto] foi escrito com X maiúsculo, inclusive no seu manuscrito. No texto, Röntgen afirma ter empregado esta letra somente para, de forma sucinta, dar uma denominação a essa nova forma de radiação (ARRUDA, 1996, p. 525). Com relação ao nome dado a essa nova descoberta, pode até haver uma discordância, mas algo é certo, essa descoberta garantiu a Röntgen, em 1901, o Prêmio Nobel da Física. A descoberta dos raios X desencadeou, quase que instantaneamente, diversos estudos, dentre eles houve um que levou à descoberta da radioatividade, os estudos desenvolvidos pelo físico francês Antoine-Henri Becquerel (1852- 1908), em 1896. Becquerel tinha “interesse pelas áreas de fosforescência e a fluorescência moleculares” (XAVIER et al., 2007, p. 83) e a descoberta de Röntgen o levou a questionar se essas substâncias também emitiam raios X. Com experimentos adicionais utilizando urânio, Becquerel chegou à conclusão de que a radiação penetrante era originária do próprio elemento e não tinha relação com o fenômeno da fluorescência. Esta radiação, [...] inicialmente ficou conhecida como raios de Becquerel [...] (XAVIER et al., 2007, p. 83, grifo nosso). UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 188 Mais tarde, os raios de Becquerel foram renomeados como Radioatividade por Marie Skłodowska Curie (1867-1934), uma cientista e física polonesa naturalizada francesa. Marie era casada com o físico francês Pierre Curie (1859- 1906) e os dois formaram um dos casais mais importantes da história da ciência. Em conjunto, eles trabalharam com as radiações observadas por Becquerel no minério de urânio e após a utilização de diversos equipamentos, alguns até mesmo desenvolvidos por Pierre, determinaram que essa radiação era uma propriedade intrínseca do próprio elemento e que dependia da sua quantidade na substância e não de fatores externos, estado de agregação da matéria ou combinação química (XAVIER et al., 2007). Posteriormente, em 1903, Marie, Pierre e Becquerel foram laureados com o Prêmio Nobel de Física por seus estudos sobre a radioatividade. O casal Curie foi além e observou que o urânio não era o único elemento que apresentava essa propriedade. Eles observaram que a pechblenda (Figura 2), um minério do qual é extraído o urânio, era muito mais radioativo que o próprio urânio isolado. Após conseguir uma grande quantidade desse minério, em julho de 1898, anunciaram a descoberta de um novo elemento isolado da pechblenda, que foi nomeado “polônio” em homenagem à terra natal de Marie. No final do mesmo ano, isolaram mais um novo elemento, o rádio. Marie levou quatro anos até conseguir isolar uma quantidade significativa de rádio e determinar sua massa atômica. Por essas descobertas Marie recebeu, em 1911, o Prêmio Nobel de Química (XAVIER et al., 2007). FIGURA 2 – PECHBLENDA FONTE: <https://bit.ly/31xO5iE>. Acesso em: 7 ago. 2020. Outras contribuições importantes para a construção do estudo da Radioatividade vieram em 1900. Segundo Xavier et al. (2007, p. 85, grifo nosso), neste mesmo ano, TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 189 [...] pouco tempo após as descobertas de Becquerel, o físico neozelandês Ernest Rutherford e o físico francês Pierre Curie identificaram, de forma independente e quase simultaneamente, dois tipos distintos de emissões oriundas dos elementos radioativos. Essas radiações foram denominadas de partículas alfa (α) e beta (β). No mesmo ano, o físico francês Paul U. Villard identificou outra espécie de radiação eletromagnética, que também era emitida por esses elementos, que denominou radiação gama (γ). Com seus estudos a respeito da Radioatividade, Rutherford propôs, em 1903, que o átomo possuía um núcleo, como foi abordado anteriormente na Unidade 1. Posteriormente, a essa descoberta, o cientista propôs ainda que era a instabilidade desse núcleo que permitia a ele liberar emissões radioativas transformando um núcleo atômico em outro através de um fenômeno que foi denominado decaimento radioativo. Obviamente, a história da Radioatividade não para por aí, pois ela se estende até os dias de hoje. Neste primeiro momento, nós buscamos apresentar pontos primordiais para o início dessa área tão fantástica. Ao longo do tópico, outros eventos serão apresentados, mas para se aprofundar neste conteúdo tão rico e incrível veja a dica a seguir. 3 EMISSÕES RADIOATIVAS O que torna um núcleo de um átomo estável? Essa é uma questão bem interessante e que talvez exija de você um pouco de atenção. Vamos começar pelo o que aprendemos na Unidade 1: o núcleo é composto por prótons (carga positiva) e nêutrons (carga neutra). Veja bem, se pensarmos em partículas de carga positiva confinadas em um espaço extremamente pequeno como o núcleo, eles deveriam se repelir já que são regidas por forças eletrostáticas e o núcleo deveria se desintegrar, porém isso não ocorre. Os avanços no estudo da matéria levaram à definição de uma forma de interação diferente das forças eletrostáticas, a chamada força forte. A força forte só existe em distâncias extremamente pequenas, na ordem 10-15 m, ou seja, na mesma ordem do tamanho de um núcleo. Essa é uma força atrativa que supera a repulsão eletrostática. Diferente da força eletrostática, a força forte ocorre também entre prótons e nêutrons, ou seja, é independente das cargas. Para saber mais sobre a Radioatividade e as descobertas que mudaram os rumos das ciências, acesse o artigo “Marcos da História da Radioatividade e Tendências Atuais”, uma colaboração de vários autores que pode ser acessada através do link: https:// bit.ly/2PyCl9X. DICAS UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 190 O alcance limitado da força forte exerce um papel primordial na estabilidade do núcleo. Para manter a estabilidade nuclear, é necessário que a repulsão eletrostática entre os prótons seja contrabalançada pela atração entre os prótons e os nêutrons através da força forte. No entanto, devemos destacar que temos duas realidades, a primeira é que um próton repele todos os demais prótons do núcleo, pois a força eletrostática é de longo alcance e a segunda é que através da força forte um próton ou um nêutron só irá atrais seus vizinhos, já que ela tem um alcance extremamente pequeno (USP, 2016). Concluindo, a estabilidade nuclear dependerá da relação entre as quantidades de prótons e nêutrons presentes no núcleo do átomo. Se houver uma grande quantidade de prótons e uma pequena quantidade de nêutrons, a força eletrostática irá prevalecer e o núcleo sofrerá um decaimento radioativo. Através dessa relação foi construído um gráfico chamado de cinturão de estabilidade, que é representado pelos pontos escuro desse gráfico e que pode ser observado na Figura 3. FIGURA 3 – CINTURÃO DE ESTABILIDADE NUCLEAR FONTE: Brown et al. (2016, p. 954). TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE191 Note que o aumento do número de prótons do núcleo cresce até o ponto no qual o aumento do número de nêutrons não é suficiente para compensar a repulsão elétrica, ainda que a razão entre o número de nêutrons e prótons (n/p) não cresce linearmente. O elemento que possui o maior número atômico a ainda é estável é o bismuto (z = 83), depois dele todos os outros elementos emitem partículas, ou seja, são instáveis, o que faz com que eles sofram decaimento até atingir a estabilidade. Durante o processo de decaimento, existem três tipos de emissões radioativas muito comuns que podemos analisar, sendo elas: • Partículas Alfa (α) • Partículas Beta (β) • Radiação Gama (γ) Note que usamos os termos partículas e radiação. Essa distinção ocorre, pois alfa e beta possuem massa, enquanto a emissão gama é representada por uma onda eletromagnética. Veremos mais detalhes a seguir. 3.1 PARTÍCULAS ALFA A partícula alfa (α) é geralmente associada a um núcleo de hélio (He) devido ao fato de também ser formada por 2 prótons e 2 nêutrons, sendo assim, estas partículas possuem carga +2 e massa de 4u, podendo ser representadas da seguinte maneira . 3.2 PARTÍCULAS BETA A partícula beta (β) é formada por um elétron, mas lembre-se de que essas emissões radioativas são provenientes do núcleo atômico, portanto, de onde surge este elétron? A resposta é simples: da decomposição de um nêutron! Na Unidade 1, nós falamos sobre semelhanças atômicas e você se familiari- zou com os isótopos. Na natureza, é comum verificar que um elemento apresenta diver- sos isótopos e alguns deles podem ser radioativos, devido a essa razão entre o número de nêutrons e o número de prótons. Estes isótopos radioativos são chamados de radioisóto- pos ou radionuclídeos. NOTA UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 192 FIGURA 4 – DECOMPOSIÇÃO DO NÊUTRON FONTE: O autor Note que ao se decompor, o nêutron forma um próton ( ), um neutrino ( ) e um elétron ( ), sendo que o neutrino e o elétron são ejetados do núcleo. Este elétron é denominado como partícula beta, que assim como o elétron pode ser representada por . Aqui vale ressaltar alguns pontos: lembre-se de que o elétron possui carga negativa e sua massa é praticamente desprezível, sendo por esse motivo que a massa da partícula beta é 0 e sua carga -1. 3.3 RADIAÇÃO GAMA Diferentemente das outras emissões radioativas, a emissão gama (γ) recebe o nome de radiação ao invés de partícula, pois ela é uma onda eletromagnética de alta frequência que carrega uma grande quantidade de energia. Segundo Brown et al. (2016), a emissão de radiação gama (ou raios gama) não provoca alteração alguma no número atômico ou no número de massa do radioisótopo, pois ela é apenas uma onda eletromagnética, dessa forma, não pos- sui nem massa e nem carga, sendo representada por . “Geralmente, a radiação gama acompanha outra emissão radioativa, pois representa a energia perdida quando, em uma reação nuclear, os núcleons se reorganizam em arranjos mais estáveis” (BROWN et al., 2016, p.952, grifo nosso). Por não possuir nem massa, nem carga e não interferir no número atômico ou de massa, é comum não repre- sentarmos a radiação gama nas equações nucleares. Outra partícula radioativa que pode ser emitida pelo núcleo atômico durante um decaimento é o pósitron, a antipartícula do elétron. Essa partícula possui a mesma massa de um elétron, porém é carregada positivamente, portanto, é representada como . Ela surge quando um próton é convertido em um nêutron dentro do núcleo de um radionuclídeo. A existência do pósitron foi proposta em 1928 físico britânico Paul Dirac (1902-1984), mas ele só foi observado em 1932 pelo físico estadunidense Carl David An- derson (1905-1991), o que conferiu a este último o Prêmio Nobel de Física em 1936. NOTA TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 193 3.4 COMPARATIVO DA EMISSÕES RADIOATIVAS Agora que temos conhecimento sobre algumas características das emissões radioativas, podemos compará-las quanto a algumas propriedades: • Poder de Penetração • Poder Ionizante O poder de penetração de cada uma das emissões é diferente, assim, cada uma delas pode ou não atravessar determinada superfície, veja a Figura 5. FIGURA 5 – PODER DE PENETRAÇÃO DAS EMISSÕES RADIOATIVAS FONTE: Adaptado de <https://www.deviante.com.br/noticias/a-radiacao-das-profundezas/>. Acesso em: 29 maio 2020. Perceba que ao comparar os poderes de penetração, a partícula alfa possui baixo poder, a partícula beta possui poder médio, enquanto a radiação gama possui alto poder, conseguindo atravessar a maioria das superfícies por se tratar de uma onda eletromagnética. Você deve ter percebido que na citação anterior destacamos a palavra núcleons, ela representa partícula presentes no núcleo atômico, ou seja, prótons e nêutrons. NOTA UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 194 A relação entre uma emissão radioativa e seu poder de penetração é algo complexo, mas em resumo, se trata de uma relação entre a energia e a carga dessas emis- sões. Caso queira se aprofundar neste assunto sugerimos a você o material desenvolvido pela International Nuclear Information System (INIS) intitulado INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA, que está disponível através do link: https://bit.ly/2PVcnO9. DICAS Dessa forma, ao analisar o impacto dessas emissões radioativas sobre o corpo humano, Brown et al. (2016, p. 977, grifo nosso) afirmam que: O estrago produzido pela radiação depende da: atividade e da energia da radiação, tempo de exposição e se a fonte está dentro ou fora do corpo. Os raios gama são particularmente prejudiciais fora do corpo, porque penetram o tecido humano com facilidade, exatamente como os raios X. Assim, seus danos não estão limitados à pele. Por outro lado, muitos raios Alfa são bloqueados pela pele, e os raios beta são capazes de penetrar apenas cerca de 1 cm além da superfície da pele. Nenhum deles é tão perigoso quanto os raios gama, a menos que, de alguma forma, a fonte de radiação penetre no corpo. Dentro do corpo, os raios Alfa são especialmente perigosos, porque transferem facilmente suas energias aos tecidos vizinhos, provocando dano considerável. FIGURA 6 – PENETRAÇÃO DAS EMISSÕES RADIOATIVAS NO CORPO HUMANO FONTE: Brown et al. (2016, p. 977). Dependendo da quantidade de energia, que pode ser classificada como ionizante, quando possui grande quantidade de energia, ou não ionizante quando possuem baixa quantidade de energia, as radiações ionizantes, ao serem TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 195 emitidas, passam por átomos ou moléculas e são capazes de remover elétrons dessas espécies químicas e transformá-las em íons. As radiações ionizantes podem ser classificadas como diretamente ionizantes ou indiretamente ionizantes. As diretamente ionizantes “atuam principalmente por meio de seu campo elétrico e transferem sua energia para muitos átomos ao mesmo tempo” (INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, 2018, p. 78) são aquelas que possuem carga, como partículas alfa e beta. Já as indiretamente ionizantes “interagem individualmente transferindo sua energia para elétrons, que irão provocar novas ionizações” (INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, 2018, p. 78), são aquelas sem cargas, como a radiação gama. O poder de ionização das emissões radioativas está relacionado as suas cargas elétricas, portanto, por possuir maior carga as partículas Alfa possuem alto poder ionizante, enquanto as partículas Beta possuem poder médio e a radiação gama possui baixo poder ionizante. Além de analisarmos o impacto das emissões radioativas sobre o corpo humano com relação ao poder de penetração, podemos verificar como o poder de ionização também interfere nas funções normais do organismo. Segundo Brown et al. (2016, p. 977), Quando a radiação ionizante passa pelos tecidos vivos, os elétrons são removidos das moléculas de água, formando íons H2O⁺ altamente reativos. Um íon H2O⁺ pode reagir com outra molécula de água paraformar um íon H₃O⁺ e urna molécula neutra OH: H2O⁺ + H2O → H₃O⁺ + OH A molécula de OH é instável e altamente reativa, sendo classificada como um radical livre, uma substância com um ou mais elétrons desemparelhados [...]. A molécula de OH também é chamada de radical hidroxil, e a presença do elétron desemparelhado costuma ser enfatizada ao escrever as espécies com um único ponto, . OH. Em células e tecidos, esses radicais podem atacar biomoléculas para produzir novos radicais livres, os quais, por sua vez, ainda atacam outras biomoléculas. Portanto, a formação de um único radical hidroxil [...] pode iniciar um grande número de reações químicas que, no fim, são capazes de romper as operações normais das células. Dessa forma, conhecendo as principais emissões radioativas, suas características e propriedades, podemos sintetizar todas as informações de acordo com o Quadro 1. UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 196 QUADRO 1 – EMISSÕES RADIOATIVAS E SUAS CARACTERÍSTICAS EMISSÃO Partícula Alfa Partícula Beta Radiação Gama COMPOSIÇÃO 2 prótons + 2 nêutrons 1 elétron Onda Eletromagnética* MASSA (u) 4 0** 0 MASSA (g) 6,64 x 10-24 9,11 x 10-28 0 CARGA 2 -1 0 REPRESENTAÇÃO PODER DE PENETRAÇÃO Baixo Médio Alto PODER DE PENETRAÇÃO RELATIVO 1 100 10.000 PODER DE IONIZAÇÃO Alto Médio Baixo * De forma mais precisa, a radiação gama é composta por fótons (pacotes de energia) de alta energia. ** A massa da partícula beta é representada como zero, pois ela é formada por um elétron que possui massa praticamente desprezível. FONTE: O autor 4 REAÇÕES NUCLEARES Quando um átomo libera alguma emissão radioativa, o núcleo atômico sofre uma modificação. Essas modificações são chamadas de reações nucleares. As reações nucleares se diferem das reações químicas, pois enquanto a primeira altera o núcleo atômico a segunda faz alterações na eletrosfera. Nestas reações nucleares, o átomo mais instável é chamado de átomo-pai enquanto o átomo formado, que é mais estável, é chamado de átomo-filho. Segundo Scarpellini e Andreatta (2011, p. 324-325, grifo nosso), As emissões alfa e beta promovem o fenômeno da transmutação, isto é, alteram a carga nuclear do átomo e, portanto, transformam um elemento químico em outro. As emissões gama não promovem transmutações. Quando as transmutações ocorrem por emissão de partículas, são denominadas transmutações naturais; quando ocorrem por bombardeamento de núcleos estáveis, são denominadas transmutações artificiais. TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 197 O estudo das transmutações artificiais teve seu início com a descoberta da radioatividade artificial, em janeiro de 1934. Essa descoberta foi realizada pela química francesa, filha de Marie e Pierre Curie, Irène Joliot-Curie (1897- 1956) e seu marido, o físico francês Frédéric Joliot-Curie (1900-1958). Durante um experimento onde bombardearam uma folha de alumínio-27 com partículas alfa ( ) eles observaram a criação do fósforo-30, um radioisótopo até então inexistente na natureza. Esta experiência abriu o caminho rumo à criação de isótopos radioativos que não existiam na natureza através do bombardeamento de núcleos estáveis. Devido a essa descoberta o casal Joliot-Curie foi agraciado com o Prêmio Nobel de Química em 1935 (XAVIER et al., 2007). Considerando as transmutações, as leis da radioatividade, apresentadas a seguir, trazem um panorama mais específico sofre a emissão de partículas alfa e beta nas reações nucleares. 4.1 LEIS DA RADIOATIVIDADE As leis da radioatividade expressam o comportamento de um átomo ao emitir partículas alfa e partículas beta. A primeira lei, que trata da emissão de partículas alfa, foi desenvolvida em 1911 pelo químico inglês Frederick Soddy (1877-1956), já a segunda lei, que trata da emissão de partículas beta, foi proposta em 1913 por Soddy e também pelos físico-químicos Kasimir Fajans (1887-1975) e Alexander Smith Russell (1888-1972). 4.1.1 Primeira lei da radioatividade A primeira lei da radioatividade diz que: Quando um átomo radioativo emite uma partícula alfa (α) ele sofre um decaimento e seu número atômico (Z) diminui em 2 unidades e o seu número de massa (A) diminui em 4 unidades. De forma genérica, a primeira lei é representada da seguinte maneira: “O Prêmio Nobel de Química de 1921 foi concedido a Frederick Soddy ‘por suas contribuições para o nosso conhecimento da química de substâncias radioativas e suas investigações sobre a origem e natureza dos isótopos’” (NOBEL PRIZE, 2017, s. p.). INTERESSANTE UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 198 FIGURA 7 – 1ª LEI DA RADIOATIVIDADE FONTE: O autor Ex.: 4.1.2 Segunda lei da radioatividade A segunda lei da radioatividade diz que: Quando um átomo radioativo emite uma partícula beta (β) ele sofre decaimento e o seu número atômico (Z) aumenta em uma unidade enquanto seu número de massa (A) permanece o mesmo. De forma genérica, a segunda lei é representada da seguinte maneira: Muitas situações que são apresentadas com relação a esse tema solicitam ao leitor descobrir qual a emissão radioativa realizada por determinado elemento. Veja o exemplo a seguir: [Questão Adaptada] (UNESP) Detectores de incêndio são dispositivos que disparam um alarme no início de um incêndio. Um tipo de detector contém uma quantidade mínima do elemento radioativo amerício-241. A radiação emitida ioniza o ar dentro e ao redor do de- tector, tornando-o condutor de eletricidade. Quando a fumaça entra no detector, o fluxo de corrente elétrica é bloqueado, disparando o alarme. Este elemento sofre decaimento de acordo com a equação a seguir: De acordo com a equação de decaimento do amerício-241 determine e emissão X. Resolução: Para resolver essa questão é simples, basta analisar todos os números superio- res como uma equação matemática, sendo que a seta representa a igualdade. Faremos o mesmo para os números inferiores. Número Superiores → 241 = A + 237, isolando A temos, A = 241 – 237, portanto, A = 4. Números Inferiores → 95 = Z + 93, isolando Z temos, Z = 95 - 93, portanto, Z – 2. Dessa forma, nossa partícula X possui a seguinte representação , ou seja, se trata de uma partícula alfa ( ). NOTA TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 199 FIGURA 8 – 2ª LEI DA RADIOATIVIDADE FONTE: O autor Ex: Lembre-se de que a partícula beta é emitida do núcleo atômico e provém de um nêutron instável que se desintegra formando 1 elétron (partícula beta), 1 próton e 1 neutrino. Assim, quando o nêutron se desintegra a massa do núcleo deveria diminuir, porém há a formação de um próton, que fica no núcleo, por esse motivo não há alteração da massa (prótons e nêutrons possuem massa semelhantes) e também por esse motivo há o aumento do número atômico em uma unidade. 4.2 SÉRIES RADIOATIVAS “As séries radioativas são conjuntos de elementos originados na emissão de partículas alfa e beta, tendo como produto final um isótopo estável de chumbo” (SCARPELLINI; ANDREATTA, 2011, p. 324). Existem três séries radioativas naturais, são elas: • Série do Urânio: esta série se inicia com urânio-238 ( ) e após emissões consecutivas de partículas alfa e beta ela termina com o chumbo-206 ( ), um átomo de núcleo estável. • Série do Actínio: acreditava-se que essa série iniciava com o actínio-227 ( ) por isso este nome, porém, na realidade, esta série se inicia com urânio-235 ( ) e após emissões consecutivas de partículas alfa e beta ela termina com o chumbo-207 ( ), um átomo de núcleo estável. • Série do Tório: esta série se inicia com tório-232 ( ) e após emissões consecutivas de partículas alfa e beta ela termina com o chumbo-208 ( ), um átomo de núcleo estável. Veja a representação das séries radioativas na Figura 9. UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 200 FIGURA 9 – SÉRIES RADIOATIVAS NATURAIS FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3kVop8e>. Acesso em: 19 ago. 2020. Segundo Cardoso (2015, p. 22, grifo nosso), Com odesenvolvimento de reatores nucleares e máquinas aceleradoras de partículas, muitos radioisótopos puderam ser “fabricados” (produzidos), utilizando-se isótopos estáveis como matéria prima. Com isso, surgiram as Séries Radioativas Artificiais, algumas de curta duração. Assim, uma dessas séries radioativas artificiais é a Série do Netúnio. Apesar de ter este nome, devido ao fato de o netúnio-237 ( ) possuir a maior meia-vida dentre os átomos da série (veremos o conceito de meia-vida no item Cinética Radioativa), esta série possui como átomo-pai o plutônio-241 ( ) e diferente das séries naturais, ela termina com o átomo estável de bismuto-209 ( ). TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 201 5 CINÉTICA RADIOATIVA Com o passar do tempo e as emissões radioativas acontecendo, radioisótopos vão se transformando em átomos com núcleos cada vez mais estáveis. A análise da velocidade e consequentemente do tempo envolvidos neste processo de decaimento é realizada pela cinética radioativa. Dessa forma, veremos quatro itens muito importantes, sendo eles: • Decaimento radioativo • Atividade • Meia-vida • Vida média 5.1 DECAIMENTO RADIOATIVO Como citado anteriormente, o decaimento radioativo é um processo no qual um núcleo instável se transforma em um núcleo estável. Assim é possível calcular a quantidade de núcleos instáveis remanescentes numa amostra radioativa após determinado intervalo de tempo através da seguinte expressão: Onde: • N = número de núcleos radioativos remanescentes após um tempo t; • N₀ = número de núcleos radioativos na amostra num tempo t – 0; • λ = constante radioativa; • t = tempo. Na fórmula descrita é apresentado o “e”, uma constante matemática que é a base dos logaritmos naturais, ele é comumente chamado de número de Euler e é um número irracional. É muito comum encontrá-lo em funções logarítmicas ou exponenciais. O número de Euler tem a seguinte equivalência e = 2,718281 ... . . NOTA A constante radioativa (λ) ou constante de decaimento indica a probabilidade de um átomo sofre decaimento no intervalo de tempo de 1 segundo, por esse motivo possui como unidade de medida s–1. Ela é característica de cada UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 202 núcleo e no item que trataremos sobre meia-vida será apresentada a você uma forma de encontrar o valor desta constante. A equação do decaimento é uma função exponencial, portanto, graficamente, de forma genérica, pode ser representada pela Figura 10. FIGURA 10 – GRÁFICO GENÉRICO DO DECAIMENTO RADIOATIVO FONTE: O autor 5.2 ATIVIDADE A atividade ou taxa de decaimento representa o número de decaimentos nucleares que ocorrem por unidade de tempo para uma determinada quantidade de substância radioativa. Antigamente, possuía como unidade de medida o curie (Ci), mas atualmente, de acordo com Sistema Internacional de Unidade (SI), tem como unidade padrão o becquerel (Bq). O becquerel representa desintegrações por segundo. A unidade antiga e a nova possuem a seguinte equivalência 1Ci = 3,7 x 1010 Bq, pois a unidade curie levou em conta a atividade de 1g de rádio-226 na sua criação. Imagine que temos uma amostra com 1000 átomos radioativos e destes, 50 sofrem desintegração num intervalo de 5 segundos, dessa forma, ao dividirmos o número de desintegrações pelo intervalo de tempo, teremos 10 desintegrações por segundo, ou seja, 10 Bq. Podemos representar este cálculo através da seguinte fórmula: TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 203 Onde: • A = atividade; • ∆N = número de desintegrações (ou a variação do número de núcleos radioativos); • ∆t = intervalo de tempo; • λ = constante radioativa; • N = número total de núcleos radioativos. Através de algumas deduções matemáticas, utilizando as fórmulas apresentadas anteriormente, chegamos a uma nova fórmula, onde conhecendo atividade inicial de uma amostra podemos prever sua atividade para qualquer intervalo de tempo: A = A0.e–λ.t Onde: • A = atividade no tempo t; • A0 = atividade no tempo t = 0; • λ = constante radioativa; • t = tempo. Note que esta última fórmula também é exponencial, portanto, graficamente irá ser semelhante ao gráfico apresentado na figura 10. 5.3 MEIA-VIDA Durante o processo de decaimento, um radioisótopo de uma amostra irá se transformar em átomo de núcleo estável e com o passar do tempo a quantidade desse radioisótopo na amostra irá diminuir. A meia-vida, semivida ou ainda o período de semidesintegração, representado por , indica o tempo necessário para que uma amostra radioativa diminua pela metade sua quantidade de massa. “Quando a massa de um radioisótopo se reduz à metade, também se reduzem à metade o número de átomos, a quantidade em mols e a atividade radioativa (desintegrações por segundo) desse radioisótopo” (DIAS, 2018, s.p.). Segundo Dias (2018, s. p.), “o tempo de meia-vida é uma característica de cada radionuclídeo e não depende da quantidade inicial do radionuclídeo nem de fatores como pressão, temperatura e composição química do material [...]”. O número de meias-vidas transcorridas para uma amostra pode ser calculado por: UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 204 Onde: • m = massa final da amostra; • m₀ = massa inicial da amostra; • x = número de meias-vidas transcorridas. Vamos ver um exemplo de aplicação da fórmula a seguir. FIGURA 11 – DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE MEIAS-VIDAS TRANSCORRIDAS FONTE: O autor Agora, para calcular o tempo de meia-vida de uma amostra, podemos utilizar a seguinte fórmula: Na forma anterior utilizamos para representar a massa da amostra radioativa, no entanto, podemos substituir o valor de massa por número de mol, atividade ou ainda porcentagem da amostra. NOTA TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 205 Veja que novamente a constante radioativa aparece nesta fórmula. Assim, sabendo essa informação podemos determinar a meia-vida, ou ainda, se soubermos o valor da meia-vida de um radioisótopo poderemos calcular a constante radioativa isolando-a e posteriormente aplicá-la nas demais fórmulas apresentadas. Como uma continuação da situação apresentada na Figura 11, veja agora a Figura 12, que aplica e fórmula da meia-vida na determinação da constante radioativa. FIGURA 12 – DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE RADIOATIVA FONTE: O autor Graficamente, nós podemos representar a passagem de meias-vidas conforme a Figura 13. A constante radioativa representa uma informação bem importante e em muitos casos o tempo de meia-vida acaba sendo deduzido por lógica o que permite posteriormente calcular esta constante. NOTA UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 206 FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA MEIA-VIDA FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3gp2GT6>. Acesso em: 26 ago. 2020. Perceba que conforme os números de meias-vidas vão passando, os átomos pais vão se transformando em átomos filhos e o percentual de átomos pais vai se reduzindo sempre pela metade (100% → 50% → 25% → 12,5% → 6,25% → ... ). Além disso, para o seu conhecimento, no Quadro 2, você encontra alguns radioisótopos e seus tempos de meia-vida. QUADRO 2 – TEMPO DE MEIA-VIDA DE RADIOISÓTOPOS TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 207 FONTE: O autor 5.4 VIDA MÉDIA A vida média, simbolizada pela letra grega tau (τ), indica a média arit- mética do tempo de vida dos átomos radioativos de uma amostra. Imagine uma situação em que um átomo de uma amostra sofre decaimento, após 20 minutos outro, após 1 dia outro, após 1 semana outro e assim sucessivamente, fazendo a média aritmética destes valores obtemos a vida média de um radioisótopo. Para calcular a vida média utilizamos a seguinte fórmula: Onde: τ = vida média λ = constante radioativa Podemos relacionar a vida média e a meia-vida fazendo algumas substituições: UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 208 FIGURA 14 – RELAÇÃO ENTRE VIDA MÉDIA E MEIA-VIDA FONTE: O autor 6 FISSÃO E FUSÃO Por volta de 1934, o físico italiano Enrico Fermi (1901-1954) percebeu que ao bombardear o núcleo dealguns átomos com nêutrons a certa velocidade moderada fazia com que esse nêutron fosse capturado pelo núcleo. Dessa forma, Fermi concluiu que ao bombardear urânio (92U) (último elemento natural da Tabela Periódica) com nêutrons seria possível produzir elementos transurânicos, ou seja, elementos que possuem o número atômico maior que 92. Várias experiências foram feitas por Fermi e sua equipe, porém nenhum novo elemento foi isolado (XAVIER et al., 2007). Realizando experiências similares, os químicos Otto Hahn [1879-1968] e Fritz Stassmann [1902-1980], em 1938, detectaram a presença de bário (Z = 56), após o bombardeamento do urânio com nêutrons moderados. A explicação para o fato foi dada por uma cientista da equipe, a física austríaca Lise Meitner [1878-1968], e por seu sobrinho, o físico Otto R. Frisch [1904-1979]: “O núcleo do átomo de urânio é instável e, ao ser bombardeado com nêutrons moderados, rompe-se praticamente ao meio, originando dois núcleos de massa média e liberando 2 ou 3 nêutrons, além de mais energia”. A esse fenômeno foi dado o nome de fissão nuclear (XAVIER et al., 2007, p.84, grifo nosso). Portanto, a fissão nuclear é um processo que consiste na quebra de um átomo de grande massa ao atingi-lo com um nêutron. Nessa quebra são liberados átomos de menor massa, nêutrons e certa quantidade de energia. Além disso, os nêutrons liberados no processo de fissão podem desencadear uma reação em cadeia, onde atingiram outros núcleos provocando um novo processo de fissão. TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 209 FIGURA 15 – FISSÃO NUCLEAR E A REAÇÃO EM CADEIA FONTE: <https://bit.ly/3dp2TF0>. Acesso em: 28 ago. 2020. Outro processo que envolve reações nucleares é a fusão nuclear, um processo no qual dois núcleos atômicos pequenos são colididos para formar um núcleo de maior massa, esse processo ocorre nas estrelas onde átomo de hidrogênio colidem para formar átomo de hélio. Durante esse processo, uma enorme quantidade de energia é liberada, uma energia muito superior à energia liberada no processo de fissão nuclear. FIGURA 16 – FUSÃO NUCLEAR FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2XTa5D3>. Acesso em: 28 ago. 2020. UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 210 As origens dos estudos da fusão nuclear são encontradas por volta de 1929, quando o físico e astrônomo britânico Robert d'Escourt Atkinson (1898- 1982) e o físico atômico e nuclear holandês-austríaco-alemão Friedrich Georg "Fritz" Houtermans (1903-1966) descobriram qual é a fonte de energia do Sol e começaram a analisar esse tipo de reação. Todavia, os conceitos mais importantes relacionados à fusão nuclear e sua aplicação real foram desenvolvidos a partir de 1942, com os trabalhos de Hans Bethe (1906-2005), Enrico Fermi (1901-1954), Robert Oppenheimer (1904-1967) e Edward Teller (1908-2003), entre outros (PLANAS, 2009). 7 APLICAÇÕES Diversas são as utilizações da radioatividade, seja no cotidiano ou em processos mais complexos, assim, vamos discutir algumas destas aplicações a seguir. Na medicina, a radioatividade é utilizada em radiodiagnóstico, o principal exemplo é o uso de iodo-131 na determinação de problemas associados à tireoide. Esse radioisótopo é absorvido pela tireoide e posteriormente pode ser observado através de um mapeamento (Figura 17) num processo chamado de cintilografia. Ao comparar esse mapeamento com o de uma tireoide normal é possível verificar problemas associados a essa glândula. O radiodiagnóstico também é aplicado no mapeamento de fígado e pulmão. FIGURA 17 – MAPEAMENTO DE TIREOIDE FONTE: <https://bit.ly/34OPmoX>. Acesso em: 31 ago. 2020. Para saber mais sobre a história da energia nuclear, acesse o material desenvolvido pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN) através do link: https:// bit.ly/3oValy0. DICAS TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 211 Além do uso em radiodiagnósticos, a radioatividade é utilizada na radioterapia, onde radiação é utilizada para destruição de células de tumores. Nesse processo, os principais elementos utilizados como fonte de emissões radioativas são césio-137 e cobalto-60. Na agricultura “É possível acompanhar, com o uso de traçadores radioativos, o metabolismo das plantas, verificando o que elas precisam para crescer, o que é absorvido pelas raízes e pelas folhas e onde um determinado elemento químico fica retido” (CARDOSO, 2014, p. 9). Na agricultura, o uso de marcadores radioativos pode ajudar também no estudo sobre insetos. Uma vez que eles ingerem os marcadores presentes nas plantas, passam a emitir radiação, dessa forma é possível verificar seus hábitos e encontrar seus habitats. Com relação a insetos que destroem as lavouras, é possível verificar quais são predadores, pois eles irão emitira radiação. FIGURA 18 – MARCAÇÃO DE INSETOS Um traçador radioativo ou marcador radioativo é um composto químico no qual um ou mais átomos foram substituídos por radioisótopos. Assim, através do de- caimento dessas espécies químicas é possível explorar o mecanismo de reações. NOTA FONTE: O autor É possível fazer o controle de insetos com o uso de radiação. Segundo Patrício et al. (2012, p.256), UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 212 O método usado é o da esterilização dos machos, e consiste no seguinte: insetos são criados em massa e, antes que cheguem à maturidade, são esterilizados por meio de radiação controlada. Em seguida são libertados na região infestada. O acasalamento improdutivo dos machos com as fêmeas que estavam em liberdade acaba por levar a extinção da espécie. Na indústria de alimentos, a principal utilização é na irradiação de alimentos. O processo de irradiação ajuda a evitar que vegetais apodreçam ou germinem por longos períodos. De acordo com Junior e Vital (2016, s.p.), “na preservação de alimentos, a irradiação tem se mostrado como uma ferramenta eficaz para aumentar significativamente a vida útil dos alimentos, reduzir perdas, garantir a segurança alimentar e aumentar a oferta do alimento ao consumidor”. Na indústria e na construção civil, é comum o uso da radiação gama num processo conhecido como gamagrafia. Esse processo permite a impressão da radiação gama em filmes fotográficos a fim de verificar possíveis rachaduras e defeitos em peças e construções. A radiação possui aplicação na produção de energia elétrica através de usina termonucleares. Nessas usinas, o processo de fissão, principalmente de urânio-235, libera uma grande quantidade de energia na forma de calor que aquece a água e a transforma em vapor. Esse vapor movimenta uma turbina que está ligada a um gerador elétrico. Posteriormente, esse vapor é resfriado até a forma líquida e volta para o sistema para ser novamente aquecido mantendo um ciclo. Veja o esquema de uma usina termonuclear a seguir. FIGURA 19 – USINA TERMONUCLEAR FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/32a1pek>. Acesso em: 31 ago. 2020. TÓPICO 1 — RADIOATIVIDADE 213 Por fim, outra aplicação importante da radioatividade está na geocronologia e paleontologia, onde se faz datação radioativa. De acordo com Patrício et al. (2012, p. 256), [...] para determinação de idade e formação e modificação de elementos geológicos como rochas, cristalização, idade de fósseis e formação de petróleo a utilização de radioisótopos é eficaz na datação, os principais isótopos utilizados em geocronologia e paleontologia são: Urânio-238, Tório-232, Rubídio-87, Carbono-14 e Potássio-40. O principal elemento utilizado na datação radioativa é o carbono-14 e na Figura 20 é possível verificar como ele é absorvido pelas plantas e animais. FIGURA 20 – ABSORÇÃO DE CARBONO-14 POR PLANTAS E ANIMAIS FONTE: <https://bit.ly/2DjJSao>. Acesso em: 31 ago. 2020. UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 214 Dessa forma, a quantidade de carbono-14 é constante num organismo até que ele morra. Sabendo essa quantidade, que deveria haver num organismo vivo, é possível compará-la com a quantidade medida num fóssil e determinar sua idade atravésdo tempo de meia-vida do elemento. 215 Neste tópico, você aprendeu que: • A descoberta da radioatividade teve seus primeiros passos com a descoberta dos Raios X por Wilhelm Conrad Röntgen em 1895. • O termo “Radioatividade” foi proposto pela física polonesa Marie Skłodowska Curie. • Átomos que possuem núcleos instáveis emitem radiação através de um processo chamado de decaimento radioativo. • As principais emissões radioativas são: partículas alfa (α) e beta (β) e radiação gama (γ). • Partículas alfa são compostas pode dois prótons e dois nêutrons, dessa forma, possuem massa igual a 4 e carga igual a 2. Possuem alto poder de ionização e baixo poder de penetração. • Partículas beta são compostas por um elétron proveniente da decomposição de um nêutron, possuem poder de ionização e penetração intermediários. Possuem massa insignificante e carga -1. • Radiação gama se trata apenas de energia representada por uma onda eletromagnética, dessa forma, não possui nem massa e nem carga. Possui baixo poder de ionização e alto poder de penetração. • A 1º Lei da Radioatividade indica que ao emitir uma partícula alfa um átomo diminui sua massa em 4 unidade e seu número atômico em 1 unidade. • A 2º Lei da Radioatividade indica que ao emitir uma partícula beta um átomo não tem sua massa alterada, porém seu número atômico aumenta em 1 unidade. • As séries radioativas são conjuntos de átomos que emitem partículas alfa e beta sofrendo decaimento até chegar em um átomo de núcleo estável, normalmente chumbo. • A atividade ou taxa de decaimento representa o número de decaimentos nucleares que ocorrem por unidade de tempo para uma determinada quantidade de substância radioativa. • A meia-vida indica o tempo necessário para reduzir pela metade a atividade RESUMO DO TÓPICO 1 216 ou quantidade de um radioisótopo. • A vida média indica a média aritmética do tempo de vida dos átomos radioativos de uma amostra. • A fissão nuclear ocorre quando um átomo de massa elevada é bombardeado com nêutrons e se divide formando átomos mais leves. • A fusão nuclear ocorre quando dois átomos de massa leve são unidos para formar um átomo de massa mais elevada, geralmente esse processo é analisado através da fusão de hidrogênio para formação de hélio. • A radioatividade tem aplicação na medicina, na agricultura, na indústria de alimentos, na construção civil, na produção de energia elétrica, na geocronologia e na paleontologia. 217 1 A fissão nuclear é um processo muito importante quando se fala da produção de energia elétrica. A seguir é representada uma das principais reações de fissão nuclear que ocorre em usinas termoelétricas: Considerando a reação apresentada, determine os valores de Z e A. 2 Numa série radioativa, o elemento urânio-238 sofre sucessivos decaimentos, no total são 8 emissões alfa ( ) e 6 emissões beta ( ). Dessa forma, monte a equação nuclear que representa essas emissões e determine o elemento estável que se forma indicando seu número atômico, número de massa e símbolo. 3 (Mackenzie-SP – Adaptada) A irradiação é uma técnica eficiente na conservação e esterilização dos alimentos, pois reduz as perdas naturais causadas por processos fisiológicos (brotamento e maturação), além de eliminar ou reduzir microrganismos, parasitas e pragas, sem causar qualquer prejuízo ao alimento. Assim, cebolas, batatas e morangos são submetidos à irradiação, utilizando-se, como fonte, isótopos radioativos, emissores de radiação gama, como elemento químico cobalto-60, que destroem bactérias e fungos responsáveis pela deterioração desses alimentos. O cobalto ( ) pode também sofrer transmutação para manganês ( ), que por sua vez transforma-se em átomos de ferro ( ). Baseado nessas informações determine a sequência de partículas emitidas durante essa transmutação. FONTE: https://bit.ly/35Zu5Ia. Acesso em: 3 nov. 2020. 4 A radioatividade está presente no nosso cotidiano, mesmo que de forma indireta. Você pode encontrar elementos radioativos até mesmo no corpo humano, um exemplo clássico é o carbono-14, usado na datação radioativa. Esses elementos estão constantemente sofrendo decaimento e se transformando em outros átomos. Imagine que uma amostra de um radioisótopo de 68g tem sua atividade reduzida à 25% num período de 12 horas. Assim, determine: a) O tempo de meia-vida do radioisótopo; b) O número de meias-vidas que passaram; c) A vida média do radioisótopo; d) A quantidade restante da amostra em gramas. AUTOATIVIDADE 219 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Grandezas são relacionadas a atributos que podem ser medidos, e “qualquer medida do valor de uma grandeza consiste sempre numa comparação da magnitude da grandeza com uma usada como unidade de medida” (ROCHA- FILHO; SILVA, 1991, p. 300). Diversas são as unidades de medidas utilizadas, porém, a fim de sistematizar o uso dessas unidades, em 1960, a 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM) criou o Sistema Internacional de Unidades (SI). Esse sistema permitiu a padronização das unidades de medida e, dessa forma, facilitou o uso tornando-as acessíveis a qualquer pessoa. Na Química, o conhecimento das grandezas e suas unidades leva à compreensão de diversos temas, mas de forma específica, podemos destacar os cálculos estequiométricos. A compreensão desse tema ajuda na previsão da quantidade de reagentes necessários para obtenção de determinada quantidade de produto. Além disso permite planejar a produção em larga escala com o menor gasto possível. Por esse motivo, é importante que conheçamos as grandezas químicas, suas unidades e os cálculos relacionados a elas. TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS Em 2019, o Sistema Internacional de Unidade sofreu algumas atualizações, para saber mais sobre esse assunto acessa a cartilha “O Novo Sistema Internacional de Unidades (SI)”, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Física e a pela Sociedade Brasi- leira de Metrologia, através do link: https://bit.ly/3biekya. DICAS 220 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA O NOVO SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES SI FONTE: <https://bit.ly/3biekya>. Acesso em: 9 set. 2020. 2 UNIDADE DE MASSA ATÔMICA A unidade de massa atômica representada pela letra u, indica a medida utilizada para expressar a massa de partículas atômicas, assim permite expressar a massa de um átomo, de um elemento ou de uma substância. Essa unidade representa 1/12 (lê-se um doze avos) da massa de um átomo do carbono-12 ( ) em seu estado fundamental. FIGURA 21 – UNIDADE DE MASSA ATÔMICA FONTE: O autor TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS 221 Dessa forma, ao expressar que determinado átomo possui 15u, estamos indicando que ele é 15 vezes mais pesado que 1/12 de carbono-12. 2.1 MASSA DE UM ELEMENTO Conforme foi apresentado na Unidade 1, a massa atômica (MA) de determinado elemento é calculada com base na média ponderal da sua abundância isotópica. De forma geral podemos calcular a massa atômica de um elemento da seguinte forma: Veja o exemplo a seguir: QUADRO 3 – ABUNDÂNCIA DOS ISÓTOPOS DE COBRE ISÓTOPO MASSA ATÔMICA (u) ABUNDÂNCIA (%) Cobre-63 62,96 70,5 Cobre-65 64,96 29,5 FONTE: O autor Considerando os dados podemos calcular a massa do cobre como: Portanto, a massa atômica do elemento cobre é de 63,55u. 2.2 MASSA MOLECULAR E MASSA FÓRMULA A massa molecular (MM) representa a soma das massas atômicas de todos os elementos que constituem determinado composto molecular multiplicados por seus respectivos índices. Por exemplo, se analisarmos a molécula de glicose (C₆H12O₆), ela possui 6 átomos de carbono, 12 átomos de hidrogênio e 6 átomos de oxigênio, conhecendo as massas atômicas de cada um dos elementos ( ) podemos determinar a massa molecular da glicose. 222 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Portando, a massa molecular da glicose será 180,15u ou se fizermos alguns arredondamentos180u. Para compostos iônicos é comum o uso do termo massa fórmula (MF), porém a lógica utilizada na sua determinação é a mesma da massa molecular. 3 MOL O mol, segundo o Sistema Internacional de Unidades (SI), representa a unidade de medida para a grandeza quantidade de matéria, ele é simbolizado apenas por mol. De acordo com Marquardt et al. (2018), 1 mol equivale à exatamente 6,022 140 76 . 1023 entidades elementares, sendo estas entidades: átomos, moléculas, íons, elétrons, qualquer outra partícula ou grupo de partículas especificado. 3.1 CONSTANTE DE AVOGADRO O número apresentado anteriormente como equivalente ao mol é chamado de constante de Avogadro (NA) e possui unidade de medida inversa ao mol, ou seja, NA = 6,022 140 76 . 1023 mol–1. Esse número leva o nome em homenagem ao físico italiano Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776-1856), que durante seus estudos com gases em 1811 determinou que “volumes iguais de dois gases diferentes, desde que eles estejam nas mesmas condições de temperatura e pressão, têm a mesma quantidade de moléculas” (GUIA DO ENSINO, 2020, s.p.), o que levou à dedução do Princípio de Avogadro, que nada mais é do que o número apresentado anteriormente como constante de Avogadro, que indica a quantidade de qualquer entidade em 1 mol. FIGURA 22 – LORENZO ROMANO AMEDEO CARLO AVOGADRO FONTE: <https://bit.ly/3bMyhgH>. Acesso em: 09 set. 2020. TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS 223 Para entender a importância e a relação íntima entre o mol e a constante de Avogadro, vamos ver um exemplo: • Imagine que tenhamos 1 mol de água (H₂O), dessa forma, temos no total quantas moléculas de água? E quantos átomos de hidrogênio e oxigênio? E o total de átomos? FIGURA 23 – O QUE HÁ EM 1 MOL DE ÁGUA? FONTE: O autor A resposta é simples, veja: se 1 mol equivale a 6,022 140 75 . 1023 entidades elementares, então em 1 mol de H₂O teremos 6,002 140 76 . 1023 moléculas de água. Quanto aos elementos, numa molécula de água temos 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio, portanto, basta multiplicar essas quantidades pelo número de moléculas, ou seja, a constante de Avogadro. Assim, no total temos 6,022 140 76 . 1023 átomos de oxigênio e 12,044 281 52 . 1023 átomos de hidrogênio. O total de átomos é dado pela soma dos átomos de hidrogênio e os átomos de oxigênio, portanto, temos 18,066 422 28 . 1023 átomos. 3.2 MASSA MOLAR A massa molar (M) indica a massa em gramas de um mol de qualquer entidade elementar, portanto, é expressa em g/mol. Sob outra ponto de vista, a massa molar se relaciona à constante de Avogadro, dessa forma, indica a massa em gramas de 6,022 140 76 . 1023 entidades elementares. 224 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA A massa molar de um elemento (ou de um composto molecular ou de um composto iônico) será numericamente igual a massa atômica do elemento (ou massa molecular ou massa fórmula), sendo que há a troca da unidade de medida de u para g/mol. 3.3 VOLUME MOLAR O volume molar (Vm) indica o volume ocupado por um mol de qualquer substância. Quando a substância se enquadra como um gás ideal, podemos calcular o volume ocupado por ela através da seguinte expressão matemática: Onde: • V = Volume (L) • n = número de mols (mol) • R = Constante unidversal dos gases (0,082 atm . L/mol . K) • P = Pressão (atm) Substituindo cada uma das variáveis por seus valores nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP) que equivalem a 0°C (273,15K) e 1 atm, obtemos que o volume ocupado por 1 mol equivale a 22,4L. FIGURA 24 – VOLUME MOLAR FONTE: O autor Nas Condições Ambientais de Temperatura e Pressão (CATP), que equivalem a 25 ºC (298,15K) e 1 atm, o volume ocupado por 1 mol sobe para 24,4L. TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS 225 4 CÁLCULO ESTEQUIOMÉTRICO Já vimos na Unidade 2 que uma reação química é expressa através de uma equação química e para que ela esteja corretamente representada devemos realizar o balanceamento e indicar os coeficientes estequiométricos. Segundo Bianco (2016, p. 130), “Estequiometria é a parte da química que trata da relação quantitativa dos constituintes de uma espécie química (átomo ou molécula) e da relação quantitativa entre duas ou mais espécies químicas (átomos ou moléculas) presentes numa transformação química”. A estequiometria está fundamentada na Lei de Conservação de Massas e na Lei das Proporções Definidas. Numa reação química, a quantidade de determinado(s) produto(s), seja em massa, volume, número de mols, número de moléculas etc., está vinculada à quantidade de reagente(s) disponível(is) no início da reação. Em escala industrial, o aproveitamento máximo dos reagentes para obtenção de produtos está relacionado, principalmente, aos lucros que serão obtidos pela empresa, portanto, é fundamental evitar desperdícios e prever corretamente as quantidades que devem ser utilizadas numa reação química através de cálculos estequiométricos. Os cálculos estequiométricos levam em conta os coeficientes apresentados numa equação química, considerando que eles estabelecem uma relação, em mols, entre as espécies químicas que reagem e as que são produzidas. Segundo Batista (2015, p. 22, grifo nosso), para realizar estes cálculos comumente há alguns passos a serem seguidos: I. Escreva a equação química, balanceando, quando necessário. II. Verifique a proporção em quantidade de matéria entre os participantes da reação de acordo com os coeficientes estequiométricos obtidos pelo balanceamento da equação. III. Relacione a quantidade de matéria com as grandezas químicas indicadas no enunciado (massa, volume, número de moléculas etc.). IV. Estabeleça uma relação entre as informações apresentadas na questão. Vamos ver alguns exemplos de aplicação dos cálculos estequiométricos: Exemplo 1: (FUVEST) Pela sequência de reações: C + O₂ → CO₂ CO₂ + NaOH → NaHCO₃ Qual a massa de hidrogenocarbonato de sódio (NaHCO₃) que se pode obter a partir de 1,00 g de carbono? (Dadas as massas molares em g/mol: H=1; C=12; O=16; Na=23) 226 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Para responder a esta questão, primeiramente precisamos estabelecer a relação entre a massa de C e a massa de CO₂ que será produzida para posteriormente estabelecer a relação entre a massa de CO₂ calculada e a massa de NaHCO₃ produzida. Para isso, vamos utilizar os passos propostos anteriormente: FIGURA 25 – CÁLCULO ESTEQUIMÉTRICO DA RELAÇÃO ENTRE C E CO₂ FONTE: O autor Portanto, a partir de 1 g de C iremos obter 3,67g de CO₂. Agora podemos calcular a relação entre essa massa de CO₂ calculada e a massa de NaHCO₃ que será produzida. FIGURA 26 – CÁLCULO ESTEQUIMÉTRICO DA RELAÇÃO ENTRE CO₂ E NaHCO₃ FONTE: O autor TÓPICO 2 — GRANDEZAS QUÍMICAS 227 Assim, estabelecidas as relações estequiométricas entre os participantes de cada reação e fazendo uso dos cálculos estequiométricos, determinamos que 1 g de C acarretará a produção de 7 g de NaHCO₃. No cotidiano de um laboratório, podemos nos deparar com reagentes químicos que não são P.A. (sigla que significa “Para Análise” e indica reagentes com alto grau de pureza), portanto, através de cálculos estequiométricos podemos calcular a pureza de determinado reagente e considerá-la nas reações nas quais este reagente será usado. Exemplo 2: (PUC-MG – Adaptado) O medicamento “Leite de Magnésia” é uma suspensão de hidróxido de magnésio (Mg(OH)₂). Esse medicamento é utilizado para combater a acidez estomacal provocada pelo ácido clorídrico (H ), encontrado no estômago. Sabe-se que, quando utilizamos 12,2 g desse medicamento, neutraliza-se certa quantidade do ácido clorídrico, produzindo 16,0 gramas de cloreto de magnésio ( ). Determine o grau de pureza desse medicamento, em termos do hidróxido de magnésio. (Dadas as massas molares: ) Primeiramente, para responder a esta questão devemos montar a equação química balanceada da reação descrita no enunciado. Agora, podemos aplicaros passos envolvidos nos cálculos estequiométricos e que já utilizamos antes para descobrir qual a real quantidade de hidróxido de magnésio que reage com o ácido clorídrico e produz os 16 g de cloreto de magnésio. FIGURA 27 – CÁLCULO ESTEQUIMÉTRICO DA RELAÇÃO ENTRE Mg(OH)₂ E FONTE: O autor 228 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Assim, na realidade, para que fossem produzidos 16 g de cloreto de magnésio, só havia 9,77g de hidróxido de magnésio nos 12,2 g de medicamento utilizados, portanto, para calcular o grau de pureza, podemos utilizar uma regra de três onde os 12,2 g de medicamento equivalem a 100% e os 9,77 g equivaleram ao grau de pureza . Dessa forma, o “Leite de Magnésia” possui um grau de pureza de 80% em relação ao hidróxido de magnésio. Além dos exemplos apresentados, os cálculos estequiométricos podem ser aplicados em diversas outras situações, basta seguir os passos que foram evidenciados ao longo deste tópico. 229 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Grandezas químicas são atributos que podem ser medidos e expressos em comparação a uma unidade de medida. • As unidades de medida padrão são reguladas pelo Sistema Internacional de Unidade (SI). • A unidade de massa atômica, representada pela letra u, indica a medida utilizada para expressar a massa de partículas atômicas e ela equivale a 1/12 de carbono-12. • A massa atômica (MA) de determinado elemento é calculada com base na média ponderal da sua abundância isotópica. • A massa molecular (MM) representa a soma das massas atômicas de todos os elementos que constituem determinado composto molecular multiplicados por seus respectivos índices. Para compostos iônicos utiliza-se o termo massa fórmula (MF). • O mol é a unidade de medida para quantidade de matéria, ele equivale a 6,022 140 76 . 1023 entidades. • A massa molar (M) indica a massa em gramas de determinada espécie química presente em 1 mol de matéria, ou seja, é expressa em g/mol. • O volume molar indica o volume ocupado por 1 mol de matéria. Na CNTP (0°C e 1 atm) esse valor é de 22,4L e na CATP (25°C e 1 atm) é de 24,4L. • Os cálculos estequiométricos contribuem na determinação das quantidades, da pureza ou do rendimento dos participantes de uma reação química. Para desenvolvê-los há quatro passos a serem seguidos: 1) Montar a equação química e realizar o balanceamento se necessário; 2) Estabelecer a relação em quantidade de matéria; 3) Relacionar a quantidade de matéria com a grandeza apresentada no enunciado; 4) Estabelecer uma relação com as informações apresentadas. 230 1 “A nitração do fenol é um procedimento bastante utilizado em química orgânica experimental, principalmente pelo fato de demonstrar com relativa simplicidade as forças dirigentes em uma reação de substituição eletrofílica de anéis aromáticos [...]” (TENÓRIO et al., 2009, p. 1). A reação de nitração do fenol, descrita anteriormente, está representada a seguir: Calcule a massa de fenol, em gramas, necessária para reagir completamente com 37,8 g de ácido nítrico. (Massas Molares: ) FONTE: TENÓRIO, John Aldson Bezerra et al. Nitração do fenol, procedimento em escala semimicro, e purificação dos componentes através de cromatografia em coluna, utilizando areia como adsorvente. XI Encontro de Iniciação à Docência, João Pessoa, 2009. Disponí- vel em: https://bit.ly/3k6AWVy. Acesso em: 11 set. 2020. 2 (UFCG – Adaptada) Alguns gases como o gás mostarda, o fosgênio etc. são utilizados como arma de guerra devido ao alto grau de toxidez e de letalidade. A ação desses gases se deve à produção do ácido clorídrico, que é responsável pela irritação da pele, dos olhos e do sistema respiratório. No caso do gás mostarda ( ), a produção do ácido clorídrico ( ) ocorre conforme a equação química a seguir: Admitindo que a dose letal deste gás seja de 0,01 mg de por kg de massa corporal, qual seria a quantidade de gás mostarda suficiente para matar uma pessoa com 80 kg, em mg? (Massas Molares: ). FONTE: https://bit.ly/2GtJB6m. Acesso em: 3 nov. 2020. 3 Leia o texto a seguir: Fontes minerais são essenciais para a construção civil, na manufatura de diversos produtos, para a agricultura, ou mesmo como fontes energéticas. Em outras palavras, a disponibilidade, o beneficiamento e o emprego de recursos minerais afetam direta e indiretamente no desenvolvimento sustentável da economia moderna [...]. Dentre os mais diversos produtos advindos de fontes minerais, a cal é, sem dúvida, um dos de maior expressão no mercado, em termos de volume AUTOATIVIDADE 231 consumido e aplicabilidade. A cal é produzida a partir da decomposição térmica dos carbonatos de cálcio e de magnésio obtidos de depósitos de calcário. Sua composição depende da origem da rocha calcária empregada, tendo, como característica geral, o óxido de cálcio (CaO) como componente majoritário. FONTE: SOARES, Bruno Daniel. Estudo da produção de óxido de cálcio por calcinação do calcário: Caracterização dos sólidos, decomposição térmica e otimização paramétrica. Orientador: Humberto Molinar Henrique. 2007, p. 1. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007. Disponível em: https://bit. ly/3kiJDvW. Acesso em: 14 set. 2020. A reação de decomposição térmica do carbonato de cálcio (CaCO₃) [calcário] para produção de óxido de cálcio (CaO) [cal] citada no texto é representada a seguir: Considerando todas as informações apresentadas, determine o grau de pureza do calcário, sabendo que em certa reação 500,0 g de carbonato de cálcio produziram 238,0 g de óxido de cálcio. (Massas Molares: ) 232 233 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A Química é uma ciência em constante transformação, e talvez isso tenha ficado claro para você ao longo deste livro didático, mas para que ela esteja sempre se renovando precisamos pesquisar, nos questionar e buscar soluções para problemas que se apresentem no cotidiano. Sempre que selecionamos determinada porção de matéria para analisar, temos um Sistema Químico. Descobrir suas características, qualificando e quantificando seus componentes, nos ajuda a resolver questões que muitas vezes merecem atenção. No final das contas, esse é o foco da Química, estudar a matéria e suas transformações. Quando falamos de sistemas químicos podemos nos deparar com substâncias, sejam elas simples ou compostas, ou misturas, homogêneas ou heterogêneas. Neste sentido é essencial darmos destaque a necessidade de determinar a concentração dos participantes de um sistema assim como, encontrar o melhor jeito de separá-los. Muitas vezes, você já põe em prática vários desses conhecimentos no seu dia a dia, porém não se deu conta do perfil científico que eles possuem. Dessa forma, vamos investigar esse assunto tão interessante e primordial para Química iniciando com as definições de substâncias puras e misturas. 2 SUBSTÂNCIA PURA E MISTURA “Desde a Grécia antiga os homens se perguntam do que são feitos os objetos que nos rodeiam, ou seja, do que é feita a matéria. A construção do conceito de substância está profundamente ligada à compreensão do que seja matéria” (PANE, 2015, p. 24). A substância pura ou simplesmente substância já foi representada por algumas definições, porém, atualmente, segundo a IUPAC (2014, p. 265), sua definição é “Matéria de composição constante mais bem caracterizada pelas entidades (moléculas, unidades de fórmula, átomos) de que é composta. Propriedades físicas como densidade, índice de refração, condutividade elétrica, ponto de fusão etc. caracterizam a substância química”. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 234 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA De forma resumida, podemos definir a substância pura (sendo ela simples ou composta) como um conjunto de espécies químicas iguais, sendo estas espécies, moléculas (Ex.: H ), unidades de fórmulas (Ex.: Na₂CO₄) ou átomos (Ex.: Ne). Quando falamos demisturas, como o próprio nome sugere, temos a mistura de duas ou mais substâncias. Estas misturas podem ser classificadas de acordo com o número de fases, sendo que uma fase é definida como uma porção de matéria que apresenta propriedades físicas uniformes. Quando uma mistura apresenta uma única fase ela é classificada como mistura homogênea (Ex.: Água + Sal), no entanto, quando ela possui mais de uma fase ela é classificada como mistura heterogênea (Ex.: Água + Óleo). “Fase é o nome dado a cada parte homogênea de um sistema heterogê- neo. No caso de um sistema homogêneo, ele será necessariamente monofásico” (MAIA; BIANCHI, 2007, grifo nosso). NOTA FIGURA 28 – SUBSTÂNCIA PURA E MISTURAS FONTE: O autor TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 235 2.1 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO DE MISTURAS É muito comum encontrarmos na natureza substâncias combinadas formando misturas, é comum também na rotina de um laboratório a obtenção de misturas, mas, geralmente, em ambas as situações, o que se busca é a substância pura, portanto, para que possamos obter essas substâncias de forma isolada podemos utilizar os processos de separação de misturas. Estes processos podem ser químicos ou físicos e se baseiam nas propriedades dos componentes da mistura. Dentre as propriedades que podem ser consideradas nessas separações temos o ponto de fusão, o ponto de ebulição, a densidade, a polaridade, o magnetismo etc. Veja os processos de separação a seguir: • Ventilação: a ventilação leva em conta a diferença de densidade entre os componentes de uma mistura heterogênea. Ao aplicar uma corrente de ar sobre a mistura, o componente de menor densidade é arrastado. Na imagem a seguir é apresentada a ventilação da casca de arroz, enquanto o grão, de maior densidade, desce no equipamento. FIGURA 29 – VENTILAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3454c8X>. Acesso em: 22 set. 2020. • Catação: este processo é manual e é utilizado para separar partículas de tamanho considerável em misturas heterogêneas. Podemos citar como exemplo a seleção de grão de feijão, onde são catados os grãos estragados e separado dos grãos saudáveis. • Levigação: este método é utilizado na separação de misturas heterogêneas de sólidos. Para isso, é utilizada uma corrente de água onde os componentes de menor densidade são arrastados, enquanto os de maior densidade se mantém dentro do recipiente. Esse método é comumente utilizado por garimpeiros na separação de ouro de outros sólidos. 236 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA FIGURA 30 – GARIMPEIRO APLICANDO A LEVIGAÇÃO NA BUSCA POR OURO FONTE: <https://bit.ly/3kIq9kv>. Acesso em: 22 set. 2020. • Peneiração: esta é uma separação de misturas heterogêneas do tipo sólido-sólido baseada no tamanho das partículas. A mistura é passada por uma peneira e as partículas maiores são retidas pela malha enquanto as menores atravessarão. • Flotação: é utilizada na separação de misturas heterogêneas e se baseia na propriedade de flutuação dos componentes. Podemos avaliar essa técnica de duas formas, a primeira seria adicionar água a uma mistura sólido-sólido onde o de menor densidade iria flutuar e poderia ser removido, e a segunda é a “[...] introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas. Com isso, verifica-se que as partículas aderem às bolhas, formando uma espuma que pode ser removida da solução e separando seus componentes de maneira efetiva” (MASSI et al., 2008, p. 20). FIGURA 31 – FLOTAÇÃO COM BOLHAS DE AR FONTE: <https://bit.ly/35XXQL2> (Adaptado). Acesso em: 22 set. 2020. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 237 • Filtração: este processo é utilizado na separação de misturas heterogêneas do tipo sólido-líquido ou gás-sólido ao passar tal mistura por um filtro. Durante a execução, as partículas sólidas são retidas pelo filtro. Em um laboratório, em muitos casos, não possuímos muito tempo para aguardar uma filtração simples ocorrer, portanto, podemos executar a filtração a vácuo. Veja o comparativo dos equipamentos na imagem a seguir: FIGURA 32 – FILTRAÇÃO SIMPLES E FILTRAÇÃO A VÁCUO FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3mLmsfN>. Acesso em: 22 set. 2020. • Decantação: este processo se baseia na densidade dos constituintes de uma mistura heterogênea do tipo sólido-líquido ou líquido-líquido. Na decantação, deixa-se a mistura em repouso para que as fases se separem e posteriormente elas são separadas. Por exemplo, em uma mistura de areia e água, espera-se a areia sedimentar e depois, com auxílio de um bastão de vidro, transfere-se a água para outro recipiente. Na mistura de dois líquidos é comum o uso do funil de separação. FIGURA 33 – DECANTAÇÃO SÓLIDO-LÍQUIDO E LÍQUIDO-LÍQUIDO FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2Enw1Ae> e <https://bit.ly/3i1sJkc>. Acesso em: 22 set. 2020. 238 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA • Separação magnética: a separação magnética utiliza as propriedades magnéticas da matéria para separar misturas heterogêneas do tipo sólido- sólido. Geralmente, aproxima-se um imã de uma mistura e as substâncias metálicas são atraídas por ele. Um exemplo clássico dessa aplicação é a separação de minério de ferro dos demais minérios. FIGURA 34 – SEPARAÇÃO MAGNÉTICA DO MINÉRIO DE FERRO FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/35Ygja9>. Acesso em: 22 set. 2020. • Dissolução fracionada: esse processo é utilizado na separação de misturas do tipo sólido-sólido, em que um destes sólidos é solúvel em determinado solvente enquanto o outro não. Um exemplo seria separar areia e sal, pois o sal é solúvel em água e a areia não. Posteriormente, outros métodos podem ser utilizados para isolar a areia e o sal, como a decantação, a evaporação e a destilação simples. • Evaporação: essa técnica é utilizada para separar misturas homogêneas do tipo sólido-líquido, em que o sólido possua uma alta temperatura de ebulição. Geralmente, é o processo utilizada para separar o sal presente na água do mar nas salinas. Ao reservar água do mar em grandes áreas, a temperatura ambiente, a água começa a evaporar restando apenas o sal, que possui alta temperatura de fusão. • Destilação simples: a destilação simples, assim como a evaporação, se baseia nos pontos de ebulição das substâncias de uma mistura homogênea. Geralmente, esse processo é utilizado na separação de misturas do tipo sólido-líquido ou líquido-líquido, onde os pontos de ebulição das substâncias diferem em mais de 80ºC. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 239 FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3hWESGQ>. Acesso em: 23 set. 2020. Neste processo, a mistura é adicionada dentro do balão, que é aquecido até que esta mistura entre em ebulição. O componente mais volátil, ou seja, o que possui menor ponto de ebulição, se torna gasoso e começa a passar pelo condensador, que é resfriado com um fluxo de água constante. Então, esse componente volta ao estado líquido e é coletado no béquer. A passagem dos componentes pelo sistema é controlada pelo termômetro. Enquanto um dos componentes está passado a temperatura se mantém constante. A partir do momento que a temperatura começa a subir, isso indica a passagem de outro componente. • Destilação fracionada: este processo é utilizado para misturas homogêneas do tipo líquido-líquido, onde a diferença dos pontos de ebulição dos componentes é menor que 80 °C. Quanto ao aparato, a diferença está na presença da coluna de fracionamento, que possui e seu interior bolinhas de vidro ou uma superfície irregular que dificulta a passagem dos compostos no estado gasoso, dessa forma, ela permite que apenas o mais volátil chegue primeiro ao condensador e faz com que os demais condensem na coluna de fracionamento, voltando para o balão. Novamente, o processo é controlado pelo termômetro, ou seja, assim que a temperatura sobe, um novo composto começa a passagem pelo condensador. FIGURA 35 – DESTILAÇÃO SIMPLES 240 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA FIGURA 36 – DESTILAÇÃO FRACIONADA FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3hWESGQ>. Acesso em: 23 set.2020. O petróleo é “um líquido combustível natural composto de centenas de hi- drocarbonetos e outros compostos orgânicos” (BROWN et al., 2016, p. 1150). No entanto, esse material cru não apresenta muita serventia. Assim, ele passa pelo processo de destila- ção fracionada e através deste processo se obtém diversas frações com alto valor econô- mico, podemos destacar a gasolina e o óleo diesel. DESTILAÇÃO FRACIONADA DO PETRÓLEO IMPORTANTE TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 241 3 CLASSIFICAÇÃO DAS DISPERSÕES Anteriormente falamos sobre misturas homogêneas e heterogêneas, porém, segundo Batista (2015, p. 5), “independentemente do tipo de mistura, qualquer sistema em que determinada substância está espalhada em outra na forma de pequenas partículas é conhecido como dispersão. A substância que se encontra disseminada chama-se disperso e a outra é o dispersante”. É importante destacar que tanto o disperso quanto o dispersante podem ser sólidos, líquidos ou gasosos. O estudo das dispersões nos leva à análise dos extremos, em que temos misturas homogêneas (solução) e heterogêneas (suspensão), assim como de um ponto intermediário (coloide), e essa definição está relacionada ao tamanho das partículas de disperso. FIGURA 37 – CLASSIFICAÇÃO DAS DISPERSÕES FONTE: O autor 3.1 SUSPENSÃO As suspensões são aglomerados de átomos, íons ou moléculas que podem ser observados a olho nu ou com microscópios simples. Estes aglomerados possuem diâmetro superior a 1000 nm e podem ser sedimentados pela ação da gravidade ou em uma centrífuga simples. Geralmente, esse tipo de dispersão possui como disperso um sólido e como dispersante um fluido (líquido ou gás). As suspensões se caracterizam como misturas heterogêneas e podem ter suas partículas retidas em um filtro comum. 242 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Muitos medicamentos são apresentados na forma de suspensões orais. Eles podem trazer o frasco com o pó e o líquido separadamente para que seja feita a mistura pelo usuário ou apenas o pó, neste caso utiliza-se água para preparar a suspensão. Se a suspensão já vem pronta é comum ler na embalagem a frase “Agite antes de usar”. As suspensões ajudam a veicular fármacos insolúveis na forma líquida e mascaram o sabor desagradável de fármacos. O químico escocês Thomas Graham (1805-1869) é conhecido por suas pes- quisas envolvendo a difusão de líquidos e gases em coloides e foi o responsável por pro- por o termo coloide, que é proveniente do grego kólla (cola) + eîdos (forma). INTERESSANTE INTERESSANTE 3.2 COLOIDE Segundo Batista (2015, p. 6), “a olho nu, muitos materiais são classificados como homogêneos. No entanto, se forem observados com auxílio de um instrumento óptico mais avançado, é possível enxergar os aglomerados de partículas”. Estas dispersões são classificadas como coloides. Os coloides se caracterizam por uma mistura heterogênea formada por aglomerados de átomos, moléculas e íons, porém, diferentemente das suspensões, esses aglomerados possuem diâmetro de 1 nm a 1000 nm, sendo que só podem ser visualizados com equipamentos ópticos avançados. Devido ao seu tamanho, os aglomerados não sedimentam com a gravidade. Para realizar a filtração de um coloide são necessários filtros especiais. Esse tipo de dispersão espalha a luz por ação de um fenômeno conhecido como efeito Tyndall. Esse fenômeno óptico é observado pelo espalhamento da luz causado pelos aglomerados presentes nos coloides, o que não ocorre nas soluções. Ele permite, por exemplo, visualizar um raio de luz que entra pela janela em um quarto com partículas de poeira no ar. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 243 FIGURA 38 – EFEITO TYNDALL FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/330n61i>. Acesso em: 25 set. 2020. Que tal realizar uma experiência para verificar a ocorrência do efeito Tyndall? INTERESSANTE OBSERVAÇÕES DO EFEITO DA LUZ NAS DISPERSÕES MATERIAIS • 5 béqueres • 1 colher de café • Xampu • Sal de cozinha • Areia • Álcool • Água destilada (ou filtrada) • Laser pointer MÉTODO 1. Numere os béqueres. 2. Adicione água destilada até 1/3 do volume em cada béquer. 3. Ao béquer nº 2, adicione uma colher de café de álcool. 4. Ao béquer nº 3, adicione uma colher de café de sal de cozinha. 5. Ao béquer nº 4, adicione uma colher de café de xampu. 6. Ao béquer nº5, adicione uma colher de café de areia. 7. Agite bem as misturas e, depois, deixe-as em repouso por cerca de 10 minutos. 8. Observe os béqueres de 2 a 5, comparando-os com o béquer que contém apenas água. 9. Com o laser pointer direcione feixe de luz para cada material líquido. 10. Observe o comportamento do feixe de luz ao atravessar o material. RESULTADOS E CONCLUSÃO a) O que foi observado no experimento? b) Classifique os sistemas testados em homogêneos ou heterogêneos. FONTE: BATISTA, F. R. Química: Ensino Médio. Curitiba: Positivo, 2015. v. 5, p. 8. 244 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Os coloides possuem diversas aplicações no cotidiano e podem ser classificados de acordo com a fase do disperso e a fase do dispersante. Veja o quadro a seguir: QUADRO 4 – TIPOS DE COLOIDES TIPO DE COLOIDE DISPERSO DISPERSANTE EXEMPLOS Aerossol Líquido Líquido Gás Nuvens e Nevoeiro Aerossol Sólido Sólido Gás Fumaça e Poeira Espuma Sólida Gás Sólido Pedra-Pomes e Isopor Espuma Líquida Gás Líquido Espuma de Cerveja e Espuma de Sabão Emulsão Líquido Líquido Leite e Maionese Gel Líquido Sólido Margarina e Manteiga Sol Sólido Líquido Pasta de Dente e Geleias Sol Sólido Sólido Sólido Pedras Preciosas e Vidro FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/30aeoLX>. Acesso em: 25 set. 2020. 3.3 SOLUÇÃO As soluções, diferentemente das demais dispersões, são caracterizadas por misturas homogêneas formadas por moléculas ou íons comuns. Elas apresentam partículas de dispersão com diâmetros de até 1 nm. Por formarem mistura homogêneas, as soluções não sedimentam pela ação da gravidade e nem pelo uso de centrífugas. 4 ESTUDO DAS SOLUÇÕES As soluções são tão comuns e importantes para a Química que resolvemos estudá-las de forma individual. Elas são dispersões nas quais uma substância se dispersa uniformemente em outra. Consequentemente por serem dispersões, são formadas por um disperso e um dispersante, no entanto, quando falamos de soluções é mais comum utilizarmos os termos soluto (disperso) e solvente (dispersante). SOLUÇÃO = SOLUTO + SOLVENTE A água é conhecida como solvente universal, por esse motivo, quando o solvente não é identificado ou quando utilizamos o termo solução aquosa, TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 245 subtende-se que temos como solvente a água. No entanto, é válido ressaltar que possuímos soluções nos outros estados físicos, além do estado líquido. 4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES As soluções podem ser classificadas considerando alguns critérios, sendo eles: • Estado Físico • Natureza do Soluto • Quantidade de Soluto Dissolvido 4.1.1 De acordo com o estado físico da solução “Quando pensamos em soluções, geralmente imaginamos líquidos [...]. No entanto, soluções também podem ser sólidas ou gasosas” (BROWN et al., 2016, p. 558). Nas soluções sólidas, o solvente deve ser um componente sólido e as principais representantes desta classificação de soluções são as ligas metálicas. “Por exemplo, a prata esterlina é uma mistura homogênea com cerca de 7% de cobre em prata, portanto, é uma solução sólida” (BROWN et al., 2016, p. 558). Nas soluções líquidas, ao menos um dos componentes se encontra no estado líquido. Elas são as mais comuns, estando presentes nos laboratórios, no corpo humano, na indústria e em situações do cotidiano. A água mineral que bebemos, por exemplo, é uma solução líquida onde temos dissolvidos na água (solvente) diversos sais, veja na figura a seguir a composição característica de uma água mineral. FIGURA 39 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ÁGUA MINERAL FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2ExvLyH> e <https://bit.ly/3j7sntm> (Adaptado). Acesso em: 25 set. 2020. 246 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOSDA FÍSICO-QUÍMICA Qualquer proporção entre gases e vapores que não reagem entre si for- mam uma solução gasosa. “O ar que respiramos [...] é uma mistura homogênea de vários gases, que fazem dele uma solução gasosa” (BROWN et al., 2016, p. 558). No quadro a seguir, você pode verificar alguns exemplos das soluções clas- sificadas de acordo com o estado físico. QUADRO 5 – EXEMPLOS DE SOLUÇÕES DE ACORDO COM O ESTADO FÍSICO FONTE: Maia e Bianchi (2007, p. 204) 4.1.2 De Acordo com a natureza do soluto A natureza do soluto pode gerar dois tipos de soluções diferentes. As soluções moleculares possuem como soluto moléculas e são conhecidas como soluções não eletrolíticas (lembre-se de que discutimos este assunto em um UNI na Unidade 2), que são soluções que não conduzem corrente elétrica. Além das soluções moleculares, temos as soluções iônicas, que possuem como soluto íons e são conhecidas como soluções eletrolíticas, ou seja, conduzem corrente elétrica. TIPOS DE SOLUÇÕES EXEMPLO Gasosa Gás dissolvido em gás Qualquer mistura gasosa (por exemplo, acetileno e oxigênio) Líquida Gás dissolvido em líquido Qualquer gás dissolvido em água (por exemplo, gás carbônico em água) Líquido dissolvido em líquido Etanol dissolvido em água Sólido dissolvido em sólido Sal dissolvido em água Sólida Gás dissolvido em sólido Hidrogênio dissolvido em platina Líquido dissolvido em sólido Mercúrio dissolvido em ouro Sólido dissolvido em sólido Qualquer liga metálica monofásica (por exemplo, carbono dissolvido em ferro – aço) TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 247 FIGURA 40 – SOLUÇÃO MOLECULAR E SOLUÇÃO IÔNICA FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3mT2jEF>. Acesso em: 27 set. 2020. Note que nas soluções moleculares não há a formação de cargas, pois as moléculas estão neutras e, ao serem dissolvidas no solvente, se mantém na forma molecular, dessa forma não há um fluxo de cargas na solução, o que indica a não ocorrência de uma corrente elétrica. Quanto à solução iônica, a formação de uma corrente elétrica é evidenciada pela movimentação de cátions e ânions formados pela dissociação/ionização do composto. 4.1.3 De acordo com a solubilidade do soluto Para que possamos classificar uma solução de acordo com este critério, é necessário verificar qual a capacidade de soluto que o solvente consegue dissolver. Esta propriedade é chamada de solubilidade. A solubilidade, ou ainda o coeficiente de solubilidade, de determinada substância indica qual é o máximo de soluto que poderá ser dissolvido em certa quantidade de solvente. Aqui é importante salientar que esse dado está direta- mente ligado a temperatura e a pressão. Dependendo da substância, a solubilida- de pode aumentar ou diminuir com o aumento da temperatura, de forma geral, podemos tratar que a solubilidade de gases diminui com o aumento da tempe- ratura enquanto a solubilidade de sólidos aumenta. Observe algumas curvas de solubilidade a seguir: 248 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA FIGURA 41 – CURVAS DE SOLUBILIDADE FONTE: <https://bit.ly/3bYN5J9>. Acesso em: 14 set. 2020. Note no gráfico que, normalmente, a solubilidade de determinado soluto é expressa em g/100 g de H₂O, porém, podemos encontrar o valor sendo expresso em g/100 mL de H₂O, pois como a densidade da água é de 1g/mL, isso indica que 1g = 1mL, ainda que tenham substâncias que sofrem grandes variações de solubilidade com o aumento da temperatura, enquanto outras nem tanto. No quadro a seguir você encontra a solubilidade em g/100g de H2O de algumas substâncias entre 0°C e 100°C. QUADRO 6 – SOLUBILIDADE DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS EM g/100g DE H₂O FONTE: Maia e Bianchi (2007, p. 206) Substância Cloreto de Sódio Sulfato de Potássio Nitrato de Potássio Sulfato de Prata Óxido Nítrico Dióxido de Enxofre Fórmula K₂SO₂ KNO₃ Ag₂SO₄ NO SO₂ 0°C 35,7 7,35 13,3 0,573 0,0098 22,83 10°C 35,8 9,22 20,9 0,695 0,0076 16,21 20°C 36,0 11,11 31,6 0,796 0,0062 11,29 30°C 36,3 12,97 45,8 0,888 0,0052 7,81 40°C 36,6 14,76 63,9 0,979 0,0044 5,41 50°C 37,0 16,50 86,3 1,08 0,0038 4,5 60°C 37,3 18,17 110 1,15 0,0032 - 70°C 37,8 19,75 138 1,22 0,0027 - 80°C 38,4 21,4 169 1,30 0,002 - 90°C 39,0 22,8 202 1,36 0,0011 - 100°C 39,8 24,1 246 1,41 - - TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 249 Agora que compreendermos o que significa o coeficiente de solubilidade, podemos classificar as soluções de acordo com a solubilidade do soluto, para isso vamos considerar o cloreto de potássio ( ) que possui solubilidade de 35,5 g/100 g de H2O a 25°C. Imagine um béquer com 100g de água a 25°C, se adicionarmos a ele 30 g de , estaremos colocando uma quantidade inferior ao valor máximo que o solvente pode dissolver, portanto, teremos uma solução insaturada. No entanto, se adicionarmos o valor máximo termos uma solução saturada. Qualquer valor acima do valor máximo que for adicionado à solução saturada irá precipitar e formar o corpo de fundo, formando uma solução saturada com corpo de fundo. FIGURA 42 – SOLUÇÃO INSATURADA E SATURADA FONTE: O autor No entanto, se modificarmos a temperatura de uma solução saturada com corpo de fundo e aumentarmos o coeficiente de solubilidade, isso permitirá que o excesso se dissolva. Ao deixar essa solução em repouso para que retorne à temperatura inicial sem que o excesso precipite, teremos uma solução supersaturada. 250 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA FIGURA 43 – SOLUÇÃO SUPERSATURADA FONTE: O autor Perceba que, no exemplo apresentado na imagem, ao aumentar a temperatura da solução de 25°C para 100 °C, aumentamos a solubilidade de de 35,5 g/100 g de H2O para 56,7 g/100 g de H2O, portanto, a solução se torna insaturada. Ao deixar essa solução em repouso retornar para a temperatura de 25 °C, o corpo de fundo que estava presente antes se mantém dissolvido, formando a solução supersaturada. É importante destacar que as soluções supersaturadas são extremamente instáveis e qualquer perturbação no sistema (grão de soluto, sujidade, impacto etc.) pode provocar a precipitação do excesso de soluto. Conhecendo os valores de solubilidade (ou coeficiente de solubilidade) de certa substância em diversas temperaturas é possível obter a curva de solubilidade (veja a imagem a seguir). Qualquer valor acima da curva representa uma solução saturada com corpo de fundo, sob a curva teremos uma solução saturada e abaixo dela teremos uma solução insaturada. INTERESSANTE TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 251 4.2 UNIDADES DE CONCENTRAÇÃO DAS SOLUÇÕES Segundo Batista (2015, p. 14, grifo nosso), “a relação entre a quantidade de soluto e a quantidade de solução (ou solvente) é conhecida como concentração de uma solução. Essas quantidades podem ser expressas por diferentes grandezas, como massa, volume e quantidade de matéria [...]”. Assim, podemos apresentar diversas maneiras de relacionar essas quantidades. Para que fique claro, neste material, nós iremos adotar algumas representações a fim de identificar a quem a quantidade apresentada se refere, sendo que: • (s) – soluto • (sv) – solvente • (sem símbolo) – solução 4.2.1 Título O título (τ) expressa a concentração de uma solução relacionando a massa do soluto (ms) e da solução (m) ou o volume do soluto (Vs) e da solução (V). O título é adimensional, ou seja, não possui unidade de medida uma vez que ao CURVA DE SOLUBILIDADE DO SAL X FONTE: O autor 252 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA dividir massa por massa ou volume por volume temos as unidades de medida se anulando. Matematicamente, obtemos o título a partir da seguinte fórmula: Geralmente, o título é expresso em porcentagem (τ%), para isso basta multiplicar o valor obtido na fórmula anterior por cem. A química analítica geralmente trabalha com quantidades tão pequenas de soluto que o uso do título ou da porcentagem para expressar a concentração não são adequadas. De acordo com Batista (2015, p 15, grifo nosso), Nesse caso, a relação entre as quantidades pode ser expressaem partes por milhão (ppm), que indica quantas partes (em massa ou em volume) de soluto existem em um milhão de partes de solução. Para concentrações extremamente baixas, utilizam-se também ppb (partes por bilhão) e ppt (partes por trilhão). 4.2.2 Concentração comum Como o próprio nome sugere, a concentração comum (C) é a forma mais comum de expressar a concentração de uma solução. Ela relaciona a massa de soluto (ms) como o volume da solução (V). Matematicamente temos: Você já deve ter se deparado com as seguintes unidades de medida: °INPM ou °GL. Você sabe o que eles representam? Essas unidades são utilizadas na representação do título em porcentagem do título em massa (°INPM) ou do título em volume (°GL). No ano de 2020, o mundo foi assolado pela pandemia de COVID-19 e uma das principais recomendações era o uso de álcool 70 para desinfecção. O álcool 70 é o nome comercial do álcool etílico 70°INPM, que indica que ele possui 70% m/m de álcool etílico em água. Este mesmo álcool pode ser representado como 77°GL, que indica que ele possui 77% v/v de álcool etílico em água. IMPORTANTE TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 253 Geralmente, a concentração comum é expressa em g/L, porém, qualquer relação de unidade de medida de massa de soluto por unidade de medida de volume de solução também é válida (mg/L, kg/m3, g/mL, mg/mL etc.). 4.2.3 Concentração em quantidade de matéria por volume A concentração em quantidade de matéria por volume também é conhecida como concentração mol/L ([ ]). Esse tipo de concentração é muitas vezes utilizado nos cálculos estequiométricos que estudamos no Tópico 2 desta unidade. Essa concentração relaciona o número de mols de soluto (ns) com o volume da solução (V), tendo como principal unidade o mol/L. 4.2.4 Concentração em quantidade de matéria por massa Além de expressar a concentração em quantidade de matéria por volume, podemos expressar por massa. “Essa forma de concentração é especialmente útil ao se trabalhar com soluções que possam sofrer variações de temperatura, o que dificulta a determinação do seu volume” (BATISTA, 2015, p. 16). A concentração em quantidade de matéria por massa (W) relaciona a quantidade de matéria de soluto (ns) com a massa de solvente (msv) e possui como principal unidade de medida o mol/kg. É comum ainda ler em alguns materiais o uso de “concentração molar” ou “molaridade” para se referir à concentração em quantidade de matéria por volume, porém, a IUPAC não recomenda estas terminologias. IMPORTANTE 254 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA 4.2.5 Relacionando as concentrações Através de algumas deduções matemáticas podemos relacionar as formas de expressar a concentração de uma solução, isso nos permite facilmente converter de uma unidade para outra. Veja a expressão geral a seguir: C = τ x d x 1000 = x M Onde: • • • • • 4.3 VARIAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO Quando trabalhamos em um laboratório, dificilmente encontraremos soluções de diversas concentrações de um mesmo soluto. Por esse motivo, é comum fazer o preparo de soluções utilizando uma solução padrão (concentração conhecida), geralmente de concentração elevada, misturando-a com solvente. Fabricantes de reagentes produzem grandes quantidades de soluções para comercializar, porém com um número restrito de variações de concentração. Cabe ao comprador preparar as soluções com as concentrações adequadas à sua necessidade, a partir da(s) solução(ões) fornecida(s) pelo fabricante (MAIA; BIANCHI, 2007, p. 217). . 4.3.1 Diluição e concentração de soluções Vamos começar analisando uma diluição, nela há a adição de solvente à solução, fazendo com que haja uma diminuição da concentração, porém, lembre- se que ao fazer isso a quantidade de soluto se mantém constante. Imagine que tenhamos uma solução de concentração inicial Ci e desejamos preparar uma solução de concentração final Cf. Como relacionar essas duas concentrações? Veja a figura a seguir. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 255 FIGURA 44 – RELAÇÃO ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DAS SOLUÇÕES FONTE: O autor É importante destacar que o volume final é obtido pela soma do volume inicial (Vi) como o volume de solvente adicionado (Vad). Vf = Vi + Vad Utilizando a mesma lógica apresentada na Figura 44, só que para quantidade de matéria, podemos relacionar a concentração mol/L da solução inicial e da solução final através da seguinte fórmula: [ ]i x Vi = [ ]f x Vf Com relação a concentrar uma solução, ou seja, aumentar a concentração, a única diferença apresentada é o fato de que ao invés de ser adicionado solvente, este é retirado, geralmente por evaporação. As fórmulas apresentadas anteriormente também são válidas neste processo, mas fique atento ao volume final (Vf) pois agora ele é obtido pela subtração do volume evaporado (Vev) do volume inicial (Vi). Vf = Vi – Vev 4.3.2 Mistura de soluções com o mesmo soluto Outra forma de se obter uma solução com certa concentração é através da mistura de soluções de concentração conhecida. Quando misturamos soluções que possuem o mesmo soluto, devemos ter em mente que as massas (ms1, ms2, ms3...) ou as quantidades de matéria (ns1, ns2, ns3...) do soluto das soluções irão se somar 256 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA na produção de uma solução final (mf ou nf). Na figura a seguir é apresentada a lógica para obtenção da fórmula para mistura de soluções de mesmo soluto. FIGURA 45 – RELAÇÃO ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DA SOLUÇÃO FONTE: O autor Aplicando a mesma lógica, porém para a concentração mol/L obtemos: [ ]1 x V1 + [ ]2 x V2 = [ ]f x Vf OBS.: Note que estamos misturando apenas duas soluções, porém, podemos aplicar as fórmulas para qualquer número de soluções que são misturadas. Perceba que o volume final (Vf) será obtido pela soma dos volumes das soluções que foram misturadas (V1, V2, V3...). Vf = V1 + V2 + ... 4.3.3 Mistura de soluções com solutos diferentes que não reagem entre si Ao misturar soluções que possuem solutos diferentes, porém que não reagem entre si, devemos tratar esse processo como uma diluição, pois cada soluto deverá ser analisado individualmente. Assim, as fórmulas utilizadas são as mesmas da diluição: TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 257 Apesar de cada soluto ser analisado individualmente, o volume final (Vf) será obtido pela soma dos volumes das soluções (V1, V2, V3 ...) que estão sendo misturadas. Vf = V1 + V2 + ... 4.3.4 Mistura de soluções com solutos diferentes que reagem entre si Quando misturamos soluções que possuem solutos que reagem entre si, devemos recorrer à estequiometria da reação para conseguir determinar a concentração de certo soluto na solução final. Além disso, o conhecimento de estequiometria da reação deve ser aliado a uma técnica de análise química conhecida como titulação. Segundo Batista (2015, p. 23, grifo nosso), “a titulação é uma operação básica de análise do volume de uma solução de concentração conhecida (solução- padrão) que é adicionada lentamente a uma solução-problema, até que os solutos reajam completamente”. O término dessa reação é observado pela adição de um indicador, geralmente colorimétrico. Ao mudar de cor, o indicador indica o ponto final da reação. FIGURA 46 – TITULAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/344NjuU>. Acesso em: 29 set. 2020. 258 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Sobre a titulação, é importante distinguirmos ponto final de ponto de equivalência. O ponto final é o ponto no qual podemos observar, no primeiro excesso de solução-padrão, a mudança de cor. O ponto de equivalência é o ponto teórico que indica a quantidade exata de solução-padrão para reagir com a solução-problema. A escolha do indicador deve levar em consideração esse ponto de equivalência. Neste material, nós vamos considerar que o ponto final é tão preciso que se iguala ao ponto de equivalência. NOTA Vamos conhecer o aparato utilizado para o processo de titulação: FIGURA 47 – APARATO UTILIZADO PARA TITULAÇÃOFONTE: Adaptado de <https://bit.ly/36jMyRy>. Acesso em: 29 set. 2020. Perceba que nesse aparato temos a bureta, que contém a solução-padrão, (ou titulante) e o Erlenmeyer, que contém um volume conhecido da solução- problema (ou titulado). Dentro deste Erlenmeyer também é adicionado o indicador. Conforme a torneira da bureta é aberta, o titulante começa a gotejar sobre o titulado. Na primeira mudança persistente de cor do titulado a torneira é fechada e o volume de titulante gasto é anotado. Essa mudança de coloração indica o nosso ponto final. TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 259 Para que possamos entender os cálculos envolvidos na titulação, vamos abordar um exemplo: Ao titular 20 mL de solução de ácido sulfúrico (H₂SO₄) foram gastos 24 mL de uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) 0,5 mol/L até que fosse observada uma mudança de coloração. Qual a concentração em mol/L da solução de ácido sulfúrico? E em g/L? 1º Passo) Identificar a equação química balanceada da reação que ocorre na titulação. 2º Passo) Identificar a quantidade de matéria de NaOH que reagiu. 3º Passo) Por estequiometria, identificar a quantidade de mols de H₂SO₄ no titulado. 4º Passo) Conhecendo o volume de titulado e o número de mols de soluto do titulado é possível calcular a concentração em mol/L. (OBS: 20mL – 0,02L) 5º Passo) Conhecendo a concentração mol/L é possível converter para a concentração em g/L, para isso basta saber a massa molar do H₂SO₄. (Dados: ). 260 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Dessa forma, finalizamos a disciplina de Química Geral. Não se esqueça de exercitar seus conhecimentos através das autoatividades. Desejo a você bons estudos! TÓPICO 3 — SISTEMAS QUÍMICOS 261 FUNGOS QUE COMEM RADIAÇÃO ESTÃO A PROSPERAR NAS PAREDES DOS REATORES DE CHERNOBYL As paredes abandonadas de Chernobyl não estão assim tão abandonadas. Várias espécies de fungos habitam o ambiente extremamente radioativo que emer- giu do desastre nuclear de 1986. Os cientistas documentaram cerca de 200 espécies de 98 gêneros de fungos – alguns mais resistentes do que outros – que vivem nas ruínas da antiga central nuclear de Chernobyl. Alguns fungos, não só conseguem suportar os altos níveis de radiação, como também se alimentam dessa radiação. Conhecidas como “fungos negros” ou fungos radiotróficos, estas poucas espécies estão armadas com melanina – o mesmo pigmento existente na pele humana que ajuda a proteger da radiação ultravioleta –, o que lhes permite converter a radiação gama em energia química para o cresci- mento. Além disso, também pode ajudar a protegerem-se da radiação prejudicial. “Após o acidente, os fungos foram os primeiros organismos a aparecer e os cientistas queriam entender como conseguiam prosperar num ambiente como este”, disse, em declarações à Motherboard, Kasthuri Venkateswaran, investigado- ra no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA que estudou de perto os fungos, em 2016. “Em muitos reatores nucleares comerciais, a água radioativa fica contami- nada com organismos melanóticos [com pigmentação negra]. Ninguém sabe real- mente o que diabos estão lá a fazer”, disse, em declarações à Scientific American, Arturo Casadevall, microbiologista da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova Iorque, em 2007. LEITURA COMPLEMENTAR 262 UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA FÍSICO-QUÍMICA Uma investigação conduzida por Casadevall revelou que as espécies de fungos que consomem radiação encontrados em Chernobyl – como Cladosporium sphaerospermum, Cryptococcus neoformans e Wangiella dermatitidis – conseguem suportar radiação ionizante aproximadamente 500 vezes mais alta do que os níveis de fundo. Além disso, os fungos parecem crescer mais rapidamente na presença da radiação. Outros estudos observaram ainda a forma como os fungos apontam os seus esporos e hifas para a fonte de radiação como se estivessem à procura de comida. “Os fungos colhidos no local do acidente tinham mais melanina do que os colhidos fora da zona de exclusão”, acrescentou Venkateswaran. “Isso significa que os fungos se adaptaram à atividade de radiação e até 20% eram considerados radiotróficos – o que significa que cresceram em direção à radiação”. Os fungos pretos também são “viajantes”. Em 2016, de acordo com o IFLScience, oito espécies de fungos colhidos de Chernobyl viajaram para a Estação Espacial Internacional a bordo de um foguete SpaceX. A missão pretendia entender a forma como os fungos negros conseguem tolerar níveis tão incríveis de radiação. A perspectiva de fungos que prosperam na presença de radiação levanta a ideia de usá-los como fonte de alimento para os astronautas durante longos voos espaciais ou quando colonizarmos outros planetas. FONTE: Adaptado de ZAP. Fungos que comem radiação estão a prosperar nas paredes dos reatores de Chernobyl. 8 fev. 2020. Disponível em: <https://bit. ly/33EYLyx>. Acesso em: 30 set. 2020. Quer saber mais sobre o desenvolvimento da vida em locais expostos a radiação proveniente de acidentes nucleares? Acesse a matéria desenvolvida pela DW Brasil, intitulada "Toda liberação de radioatividade gera mutações", disponível através do link: https://bit.ly/33AVyQd. DICAS 263 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Um sistema químico é uma porção de matéria selecionada para análise. • Substâncias puras, ou simplesmente substâncias, são formadas pela aglomeração de espécies químicas que possuem a mesma composição. • Misturas são formadas pela mistura de duas ou mais substâncias. • Misturas homogêneas apresentam uma única fase. • Misturas heterogêneas apresentam duas ou mais fases. • Existem diversos processos de separação de misturas, sendo os de maior destaque: filtração, destilação simples e destilação fracionada. • As dispersões, formadas por um disperso e um dispersante podem ser classificados como suspensões, coloides e soluções. • As soluções são misturas homogêneas, enquanto as suspensões são misturas heterogêneas. • A solubilidade ou coeficiente de solubilidade indica a quantidade máxima de soluto que pode ser dissolvido em certo solvente. • As soluções podem ser classificadas, quanto ao estado físico, em sólidas, líquidas e gasosas. • As soluções podem ser classificadas, quanto a natureza do soluto, em moleculares e iônicas. • As soluções podem ser classificadas quanto à quantidade de soluto dissolvido, em insaturadas, saturadas, saturadas com corpo de fundo e supersaturadas. • Podemos expressar a concentração de uma solução através do título, da concentração comum, da concentração em quantidade de matéria por volume e da concentração em quantidade de matéria por massa. • Ao realizar uma diluição, a concentração da solução diminui. 264 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • Ao realizar uma evaporação, a concentração da solução aumenta. • A titulação é utilizada na determinação da concentração de solutos em soluções que reagem entre si. 265 1 A gasolina representa uma fração muito importante do petróleo, comercialmente falando. Para sua obtenção é realizada a destilação fracionada onde o petróleo é aquecido e passa pela torre de fracionamento, esse processo também produz outras frações importantes como o diesel e a querosene. FONTE: <https://bit.ly/34hbSVq>. Acesso em: 30 set. 2020. Num laboratório, a torre de fracionamento é representada pela coluna de fracionamento, uma versão em menor escala. Tendo em vista a importância desse processo e seus conhecimentos a respeito da destilação fracionada, disserte sobre a função e o funcionamento da coluna de fracionamento. 2 O uso de soluções no laboratório é muito comum, porém, muitas vezes não nos damos conta que preparamos soluções no nosso cotidiano também quando preparamos um refresco, um café ou um leite com achocolatado. Muitas vezes percebemosque ao adicionar soluto a um solvente há um ponto onde o solvente não consegue mais dissolver o soluto. Ao atingir este ponto, obtemos qual solução? a) ( ) Diluída b) ( ) Fraca c) ( ) Insaturada d) ( ) Supersaturada e) ( ) Saturada 3 Ao preparar uma solução, devemos estar atentos à temperatura ambiente e ao coeficiente de solubilidade, pois esses dados serão primordiais para identificar a quantidade de soluto que o solvente será capaz de dissolver. AUTOATIVIDADE 266 Considerando que a solubilidade do sulfato de potássio (K₂SO₄) a 20°C é de 11,1g / 100g de H₂O , determine a massa necessária deste sal em gramas para preparar uma solução saturada com 245 mL de água. (Lembre-se 1g de água equivalem a 1mL). 4 O consumo de bebidas alcoólicas pode causar desde uma leve euforia, passando pela perda de julgamento crítico até coma e morte, isso tudo depende de organismo para organismo, mas principalmente quanto de álcool foi ingerido. Comparando bebidas fermentadas e destiladas é constatado que o teor alcoólico das bebidas destiladas é mais elevado. Podemos comparar, por exemplo, a cerveja (bebida fermentada) que possui cerca de 4°GL e a vodca (bebida destilada) que possui cerca de 37,5ºGL. Considere o exposto e analise a situação: Dois amigos vão a uma festa, um deles bebe somente cerveja, enquanto o outro bebe apenas vodca. Com base nos valores de teores alcoólicos apresentados, calcule o volume de cerveja em litros que o indivíduo que está bebendo essa bebida deverá ingerir para alcançar o mesmo volume de álcool ingerido por seu amigo que consumiu 300 mL de vodca. 5 O sistema respiratório pode sofrer por várias patologias que causam infecções e acarretam o comprometimento das vias aéreas. Geralmente, nestes casos é recomendado o uso de expectorantes, como o iodeto de potássio (KI). Ao preparar um xarope expectorante são utilizadas duas soluções de iodeto de potássio (BATISTA, 2015)). São misturados 25 mL de uma solução 21 g/L e 40 mL de uma solução 60 g/L. Considerando a massa molar do KI como sendo MKI = 166 g/mol e os dados apresentados na questão, determine: a) A concentração em g/L da solução final. b) A concentração em mol/L da solução final. FONTE: BATISTA, Fábio Roberto. Química: Ensino Médio. Curitiba: Positi- vo, 2015. v. 5. 6 O processo de titular é uma prática comum em laboratório, além de ajudar na determinação da concentração de soluções, ela ajuda na confirmação das concentrações descritas nos rótulos. Conhecer a concentração correta de uma solução influi diretamente nos resultados obtidos em uma análise quantitativa. Imagine que ao titular 10 mL de solução de ácido bórico (H₃BO₃) foram gastos 40 mL de uma solução de hidróxido de cálcio (Ca(OH)₂) 0,6 mol/L até que fosse observada uma mudança de coloração. Considere o exposto e calcule a concentração em mol/L da solução de ácido bórico. 267 REFERÊNCIAS ARRUDA, W. O. Wilhelm Conrad Röntgen: 100 anos da descoberta do Raio- -x. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 54, n. 3, p. 525-531, 1996. Disponível em: https://bit.ly/2PrGSen. Acesso em: 5 ago. 2020. BATISTA, F. R. Química: ensino médio. Curitiba: Positivo, 2015. BIANCO, R. J. F. Química geral. Indaial: Uniasselvi, 2016. BRADY, J. E.; HUMISTON, G. E. 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