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TEORIA DO ESTADO CAPÍTULO 7 - POLÍTICAS PÚBLICAS E ESTADO Simone Costa 146 Objetivos do capítulo Ao final deste capítulo, você será capaz de: • Conhecer as diferentes abordagens teóricas conceituais do tema “Políticas Públicas”, identificando-os no âmbito do funcionamento do Estado. • Compreender as premissas e o processo de elaboração das Políticas Públicas, identificando-os no âmbito do funcionamento do Estado. • Entender o processo de análise de Políticas Públicas, desenvolvendo as competências necessárias para a realização efetiva dessa análise. Tópicos de estudo • Teorias sobre Políticas Públicas • Segundo Laswell (1936) e Simon (1957) • Segundo Lindblon (1959) e Easton (1965) • Segundo Dagnino (2002) e Cohen (2003) • Segundo Souza (2006) e Matias-Pereira (2010) • Premissas sobre Políticas Públicas • Objetivos • Etapas e classificação • Desenho das políticas públicas • Política pública e decisão política • Processo de Elaboração das Políticas Públicas • Tomada de Decisão • Implementação • Avaliação • Análise de Políticas Públicas • Gestão de políticas públicas • Ferramentas e tipologias de análise • Tomada de decisão – teorias e modelos Contextualizando o cenário A conceptualização das Políticas Públicas como uma área específica é recente, e integra a disciplina de Teoria do Estado e da Ciência Política. Desde o seu surgimento nas primeiras décadas do século XX, e após num contexto de Guerra Fria, a teoria de Políticas Públicas veio desenvolvendo-se. A compreensão do que distingue as Políticas Públicas passa pelo exame dos problemas colocados pelos teóricos considerados como seus fundadores, tais como H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton, até chegar aos contemporâneos. Diante desse cenário, a pergunta que norteia este capítulo é: quais e o que são políticas públicas, em que contexto emergem, e quais as diferentes interpretações teóricas que moldam este debate? • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 147 7.1 Teorias sobre Políticas Públicas O surgimento da teoria de Políticas Públicas foi marcado por um contexto de convulsão social, política e econômica nos países centrais do sistema internacional, tais como as nações europeias e os Estados Unidos, onde se desenvolveriam os Estados de Bem-estar. Os Estados Unidos haviam enfrentado a recessão de 1929, com grandes custos sociais. A Segunda Guerra Mundial ainda não havia se iniciado em 1936, ano em que Harold Dwight Lasswell sociólogo, cientista político e teórico da comunicação estadunidense cunha o termo policy analysis (análise de política pública), mas crescentemente notava-se que a elevação das tensões e contradições levariam à sua deflagração. Assim, as motivações dos primeiros autores das políticas públicas eram apreender os fundamentos da ação dos governos, entendendo-os como algo passível de ser formulado de maneira científica, e analisado por especialistas e pesquisadores não atrelados ao Estado. Fonte: © M-SUR / / Shutterstock CONTEXTO O conceito de análise de políticas públicas de H. Laswell, em 1936, foi uma tentativa de combinação do conhecimento acadêmico com a ação adotada pelos governos, buscando, dessa forma, entabular um debate entre especialistas, como os cientistas políticos e sociais, grupos de interesse e os governos. 148 No Brasil, as reflexões sobre as Políticas Públicas disseminaram-se como um objeto de interesse no período que se abriu, após 1988, com a transição democrática e a adoção de uma nova Constituinte. Embora siga sendo ainda, na interpretação de alguns autores, um campo “bastante incipiente padecendo de grande fragmentação organizacional e temática e tendo uma institucionalização ainda precária” (MELO, 1999, p. 98). A seguir veremos como a questão das políticas públicas se apresentam para os autores Harold D Laswell e Herbert A. Simon. 7.1.1. Segundo Laswell (1936) e Simon (1957) O cientista político e teórico da comunicação, Harold Dwight Laswell (1902-1978), ao lado do economista Herbert Alexander Simon (1916-2001), ambos estadunidenses, são considerados como os primeiros teóricos a pensarem a questão das políticas públicas. Laswell, autor da corrente funcionalista, explica a ação dos atores e instituições sociais a partir de suas funções. Ele definiu, em seu texto (2003) a diferenciação entre o estudo de políticas públicas e a análise dasPolicy Orientation , políticas, distinguindo-as em duas vertentes. A primeira seria dedicada ao estudo sobre os processos que desembocam na política pública, e que envolvem as elaborações de acadêmicos especializados sobre as atividades do Estado. Já a análise das políticas é unicamente dedicada aos estudos para subsidiar as políticas públicas (FARAH, 2016, p. 962). Já Simon, foi o responsável por introduzir o conceito de racionalidade restrita aos tomadores de decisão públicos ( ). Para esse autor, a racionalidade daqueles a quem cabe a tomada das decisões em políticas públicaspolicy makers é limitada por debilidades nas informações disponíveis, escassez de tempo para a tomada de decisão, e predominância dos interesses privados dos próprios decisores. Porém, a racionalidade pode ser se contrapor a essas questões, desde que seja maximizada por meio da criação de estruturas, ordenadas como um conjunto de regras e incentivos, que oriente o comportamento desses atores no sentido da prevalência dos interesses públicos (SIMON, 1979). Agora, passaremos ao exame proposto por Lindblom e Easton. 7.1.2 Segundo Lindblom (1959) e Easton (1965) Edward Lindblom, também cientista político estadunidense e autor de realiza um diálogoThe Policy-Making Process crítico com a ênfase dada ao racionalismo por Laswell e Simon, indicando a necessidade de incorporação de outros elementos para a formulação e a análise das políticas públicas. Dentre esses fatores, Lindblom incorporou o exame das relações de poder e dos distintos grupos que o disputam, e a relevância da leitura sobre as diferentes etapas do processo decisório, cujo início ou fim não teriam sido traçados de forma absolutamente premeditada. Assim, a racionalidade não seria a única dimensão a dar conta da complexidade das políticas públicas, para as quais haveria que considerar também o papel das burocracias, partidos políticos, grupos de interesses e objetivos eleitorais. David Easton, autor de e cientista político estadunidense, elaborou a definição deEnfoques sobre Teoria Política que a política pública deveria ser considerada como um sistema. A adoção de determinadas políticas públicas seria o resultado do recebimento de isto é, , e de ou . A distinção entre inputs, entradas withinputs, taxa de transferência PAUSA PARA REFLETIR A racionalidade que deveria haver nas políticas públicas pode ser considerada de igual maneira para todas as classes, grupos sociais e de interesses? 149 ambos é o que o primeiro se origina no ambiente, internacional ou nacional, e adentra no sistema político, enquanto o segundo emerge do próprio sistema. Os e podem vir de partidos, imprensa, grupos deinputs withinputs interesse sendo de caráter composto por reivindicações, demandas e grupos de apoio. Vejamos agora como a questão das políticas públicas é abordada por alguns autores do século XXI. 7.1.3 Segundo Dagnino (2002) e Cohen (2003) O debate sobre as políticas públicas passa, nas últimas décadas do século XX, a integrar uma nova dimensão constitutiva: a da sociedade civil. O termo sociedade civil data do século XIX, e indica uma transformação nas sociedades ocidentais operada pela diferenciação entre as dimensões econômicas e familiar, com o fim da escravidão, e a distinção entre Estado e sociedade (AVRITZER, 2012). Tanto Evelina Dagnino como Michael Cohen abordam essas questões em suas elaborações, embora com distinções relevantes em suas abordagens. A elaboração de Evelina Dagnino, cientista política brasileira, oferece uma perspectiva crítica e distinta do sentido que as políticas públicas haviam sido tratadas até então. O contexto brasileiro, durante os anos 1990, embora inseridono cenário global marcado pela agenda neoliberal no plano internacional, encontrava-se em uma importante transformação. Isso eleva o associativismo, a reorganização partidária resultante da mudança no regime político com o encerramento da ditadura militar, e a formação de novos movimentos sociais. A pensadora indica que as novas relações sociais se conformam também pelas vias pactuadas, por meio das quais a transição do final da ditadura se deu no Brasil. Dagnino não ignora o legado da estrutura autoritária do Estado brasileiro, traço que teria sido “largamente intocado e resistente aos impulsos participativos” (DAGNINO, 2002, p. 279). Tampouco a sociedade civil e suas organizações podem ser interpretadas como o demiurgo do aprofundamento democrático, já que têm um desenvolvimento contraditório por definição. Assim, a ação conjunta entre Estado e sociedade civil pode ser qualificada por meio de projetos compartilhados, complementares e parcerias. Os que se inserem no primeiro grupo são os que mais teriam possibilidades de elaborar políticas públicas positivas, ainda que isso não exclua a possibilidade de conflitos. O segundo escopo, segundo a autora, é o mais problemático, já que se conforma mediante a adoção de uma política neoliberal de Estado mínimo, em que a participação da sociedade civil está num “terreno minado, onde o que está em jogo é o ” (DAGNINO, 2002, pavanço ou o recuo de cada um destes projetos . 289). CONTEXTO Demiurgo era um termo usado pelos filósofos gregos, em especial por Platão, para designar o deus ou organizador do Universo, criador, fundador ou gerador de absolutamente tudo o que existe no mundo. Portanto, aquele que ordena todas as coisas. 150 Sociedade civil organizada é parte das políticas públicas Fonte: © FernandoPodolski / / iStock Já o cientista político estadunidense Michael Cohen destacou a fluidez da mudança de forças no cenário político, o que interferia de forma aguda nos rumos e agendas adotadas em políticas públicas. Existem muitos problemas a serem encarados, e poucas soluções e recursos disponíveis. A articulação entre sociedade civil e Estado marca-se pela inconsistência dos participantes. Para superar esse gargalo institucional, é necessário adotar um ordenamento em base a um plano de ação da política a ser executada. Assim, em meio a diversas variáveis incertas, muitas vezes as decisões adotadas pelas organizações envolvidas na elaboração das políticas públicas podem parecer irracionais. Isso questiona o paradigma racionalista, segundo o qual os atores e instituições são amplamente capazes de identificar corretamente os problemas (COHEN, 1972). PAUSA PARA REFLETIR Como balizar as agendas de políticas públicas de modo a que essas não se vejam restringidas pela estrutura autoritária do Estado brasileiro? 151 Importância do plano de ação da política Fonte: © M-SUR / / Shutterstock Cohen (1972) indica que, no decorrer do tempo que uma política pública leva para ser elaborada, adequada e executada, muitas respostas são escolhidas, e outras descartadas. As que terminam não sendo utilizadas, tampouco são esquecidas completamente, constituindo-se como uma espécie de memória das organizações. Por este motivo, o modelo elaborado por Cohen recebeu a denominação de “Modelo da Lata de Lixo”. A imagem a seguir indica como é o fluxo do Modelo de Lata de Lixo elaborado por Cohen, Olsen e March em 1972. Tal como indica a Lata de Lixo é onde as soluções das políticas públicas encontram-se, sem que isso seja o produto de qualquer racionalidade. São esferas separadas, desvinculadas, e que não é a indicação de um problema o elemento do qual se deriva a solução. DICA A modelo Lata de Lixo deve considerar que, a despeito do nome, o que Cohen quis indicar é que as organizações tendem a desenvolver múltiplas respostas para um único problema no decorrer de sua ação. O “lixo”, ao contrário de ser um local de descarte absoluto, pode conter as soluções. 152 Fonte: COHEN, OLSEN, MARCH, 1972. (Adaptado). Assim, o processo de decisões em políticas públicas não segue uma racionalidade ordenada. Vejamos agora como essas questões foram abordadas em relação ao contexto brasileiro, com as elaborações de Celina Souza e Matias- Pereira. 7.1.4 Segundo Souza (2006) e Matias-Pereira (2010) Retomando o contexto histórico no qual as políticas públicas se colocaram como problema acadêmico nos Estados Unidos para oferecer uma visão global das questões sociais, de modo a possibilitar a elaboração de políticas oferecidas pelo Estado para respondê-las, cabe ressaltar que o desenvolvimento dessa área no Brasil sofreu a adequação aos preceitos constitucionais adotados pelo país. Isso significa que sua adoção e elaboração buscou consonância com o observado pelo regime formado com o final da ditadura militar, a partir de 1988. Em seu texto elaborado em 2006, , Celina de Souza retoma todas asPolíticas Públicas, uma revisão da literatura principais matrizes teóricas orientadoras do tema de políticas públicas, para destacar os seguintes traços comuns existentes mesmo em abordagens distintas: CONTEXTO A política pública no Brasil exigiu adequações. Isso reforça a ideia de que embora a teoria seja um instrumento para além das fronteiras, demanda revisões críticas. Para conhecer melhor o assunto, leia “Coordenação de Políticas Públicas”, de Celina Souza. 153 Fonte: SOUZA, 2006, p.18. (Adaptado). Já a teoria da escolha pública, tomada por José Matias-Pereira, oferece uma interpretação cética quanto à habilidade dos governos em elaborar políticas públicas, devido ao auto interesse, carência de informações, racionalidade falha, sendo uma abordagem que aponta para as lacunas nos mecanismos de decisão. Fonte: © M-SUR / / Shutterstock Adota-se, assim, um posicionamento de viés liberal, que advoga em nome das decisões de mercado, ou que visem esse interesse. O cientista político brasileiro, José Matias-Pereira (2010), dá relevância ao debate sobre políticas públicas a partir da transferência das iniciativas entre a governança corporativa para o setor público, considerando que as decisões estatais seriam por definição morosas. De acordo com sua interpretação, as políticas públicas deveriam primar pela eficácia conforme os preceitos do mercado. Vejamos agora algumas das premissas fundamentais das Políticas Públicas. 7.2 Premissas sobre Políticas Públicas A democratização foi a responsável por mudar a relação entre o Estado e a sociedade na América Latina em gera, e no Brasil, em particular. Isso aconteceu nas duas últimas décadas do século XX com a adoção de eleições sistemáticas, maior peso da organização da sociedade civil e sua participação nos espaços decisórios. Isso permitiu 154 que, desde 1988, quando culminou o processo de adoção de uma nova Constituinte, houvesse um debate permanente acerca das relações entre Estado e representação da sociedade brasileira na elaboração, execução e avaliação das políticas públicas. Como assinala Souza (2003), as pesquisas em políticas públicas têm sofrido a influência de premissas derivadas de diversos campos do conhecimento, em especial o neoinstitucionalismo, que sublinha o papel fundamental das instituições para a formulação, decisão e execução das políticas públicas. (SOUZA, 2003). As políticas públicas distinguem três conceitos: • a dimensão institucional ‘polity' se refere à ordem do sistema político, delineada pelo sistema jurídico, e à estrutura institucional do sistema político-administrativo; • no quadro da dimensão processual ‘politics' tem-se em vista o processo político, frequentemente de caráter conflituoso, no que diz respeito à imposição de objetivos, aos conteúdos e às decisões de distribuição; • a dimensão material ‘policy' refere-se aos conteúdos concretos, isto é, à configuração dos programas políticos, aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas (FREY, 2000, p. 217). Neste tópico desenvolveremos algumas abordagens a respeito dessas questões, começando pelos objetivos das políticaspúblicas. 7.2.1 Objetivos As definições dos objetivos das políticas públicas mudam de acordo com os contextos. Porém, como foi indicado no tópico que abordou as matrizes teóricas das políticas públicas, considera-se que elas emergem como uma nova dimensão estatal, disseminada ao longo do século XX que consiste na atribuição do Estado em prover bem-estar à população. Na atualidade, uma definição relativamente comum dentre todas as abordagens sobre os objetivos gerais das políticas públicas considera que: [...] com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram. Atualmente, é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem-estar da sociedade. Para tanto, ele necessita desenvolver uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, meio ambiente.[...]Dito de outra maneira, as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público (SEBRAE, 2008, p. 5). DICA Compreender o processo de conformação dos regimes políticos no Brasil é um passo para apreender as premissas de políticas públicas. Os regimes políticos, assim como os governos, estabelecem relações distintas com as políticas públicas. Um bom exercício é avaliar os conceitos no debate anterior e pós 1988. • • • 155 Portanto, observa-se que os objetivos das políticas públicas buscam possibilitar que o Estado atenda aos anseios da sociedade para a promoção de melhorias sociais, e garantia de direitos. Nesse sentido, as políticas públicas são também um campo de conhecimento sobre um determinado problema social, que, uma vez diagnosticado, incide sobre os rumos e decisões dos governos e Estado (SOUZA, 2006 p. 3). Agora, passemos às etapas e classificação das Políticas Públicas. 7.2.2 Etapas e classificação As etapas de políticas públicas, também denominadas como ou ,policy cycle, ciclos das políticas públicas correspondem às diferentes fases pelas quais elas passam até serem executadas sob a forma de programas. Autores como Frey (2000) oferecem uma subdivisão detalhada das etapas envolvidas, que você poderá ver quais são, clicando no recurso a seguir. • Etapa de definição dos problemas Aqui a questão fundamental envolve o processo de definição de uma agenda, questão ou demanda, que emerge socialmente em meio a tantas outras, ser considerada como um problema público e social de relevância ao ponto de entabular uma policy cycle. • Etapa da agenda setting É o momento em que se decide se uma demanda ou tema integrará a agenda política, ou se será descartada, e retomada posteriormente • Etapa da elaboração dos problemas e de decisão Momento em que se define qual das vias de ação é a mais indicada para a resolução de determinada problemática social. • Etapa de implementação de políticas Seria a que segue imediatamente a elaboração dos programas e de decisão correspondente à execução da alternativa selecionada, transformando-a em política concreta. • Etapa da avaliação de políticas e correção de ação Quando se avalia a política pública revendo se a relação entre custo e benefício foi bem realizada, para detectar possíveis debilidades na sua execução, ou mesmo elaboração, de modo a possibilitar uma readequação das ações. Sobre a classificação das políticas públicas, pode-se afirmar que varia de acordo com seus objetivos. Existem as , que são as que visam compensar situações sociais vulneráveis sofridas por parcelasações compensatórias específicas da população. Haveriam também as de , elaboradas visando a distribuição doscunho redistributivo recursos produzidos socialmente, de modo a equilibrar o acesso aos mesmos pelos setores mais vulneráveis da sociedade. Assim, costuma implicar em retirada de bens e serviços, e podem envolver algum grau de conflito (FREY, 2000). • • • • • 156 Há vários tipos de políticas públicas Fonte: Fonte: © M-SUR / / Shutterstock Existem ainda as , que consistem na elaboração de leis visando permitir que ospolíticas públicas regulatórias governos adotem determinadas políticas redistributivas ou compensatórias. (OLIVEIRA 2013). Já as englobam os três outros tipos, quando há uma situação que exige este desenho parapolíticas constitutivas que entrem em vigor, determinando “as regras do jogo e com isso a estrutura dos processos e conflitos políticos, isto é, as condições gerais sob as quais vêm sendo negociadas as políticas distributivas, redistributivas e regulatórias” (FREY, 2000, p. 22). Vejamos como se dá o Desenho da Política Pública. 7.2.3 Desenho da Política Pública Por “desenho de política pública” compreende-se o esforço envolvido no ato “de sistematizar ações eficientes e eficazes, com a aplicação de conhecimento de meios políticos para a adoção de instrumentos que permitam o atingimento de objetivos, resultados e metas dentro de contextos políticos específicos” (HOWLETT et al, 2013, p. 283-284). Este desenho é integrado então por uma gama variada de mecanismos aparentes e não aparentes, que variam de acordo com as escolhas sobre as vias de ação. Assim, o desenho das políticas públicas exige que se responda a algumas questões: [...]o que é formulado, por quem, para quê, para quem e como. A formulação da política envolve um conjunto de instituições e atores na busca de objetivos relacionados a demandas de determinado PAUSA PARA REFLETIR Os tipos existentes de políticas públicas citados aqui dão realmente conta de gerar impactos estruturais em sociedades cuja a separação social é muito drástica? 157 público-alvo envolvido em um problema específico. A implantação da ação pública compreende o uso de meios e mecanismos apropriados, promovendo resultados e cumprindo metas de acordo com os objetivos previstos no desenho original (IPEA, 2018, p.71). Portanto, ele deve atender à sequência a seguir representada: Fonte: IPEA, 2018. (Adaptado). O diagnóstico indica qual o problema será o tema norteador da política. O objetivo é o que se busca reverter e/ou obter com o programa em questão. O público delimita o escopo de ação, por exemplo, se é um programa de distribuição de renda, ou educacional para jovens e adultos, exigindo um mapeamento das características desse público-alvo. Já os meios se referem às estratégias e recursos a serem empregados. Por atores entende-se os elementos organizacionais envolvidos na elaboração, execução e avaliação do programa. E as metas indicam o que se deseja obter como resultado duradouro da ação. O Desenho é fundamental na política pública Fonte: © Alexander Evstigneev / / Dreamstime Para que a política pública não acarrete desperdício de recurso público sem que os objetivos sejam alcançados é importante definir hipóteses e modelos teóricos. Planejamento do ciclo das políticas públicas 158 Planejamento do ciclo das políticas públicas Fonte: IPEA, 2018. (Adaptado). Os insumos representados na figura são os recursos físicos, orçamentários e humanos necessários para a execução da política; as atividades englobam as ações de sua execução; os produtos seriam os frutos diretos e mensuráveis da política pública; resultados as mudanças de curto prazo junto ao público-alvo e os impactos, as de longo prazo. Passemos agora ao exame da relação entre política pública e decisões políticas. 7.2.4 Política pública e decisões políticas As políticas públicas são o resultado de decisões políticas. Mas tais decisões não englobam apenas o momento da formulação, como se faz presente em todas as suas etapas, iniciando-se justamente pela definição da agenda. É então que se delibera, por exemplo, acerca de recursos, cronogramas, escopo e ação da política. Essas deliberações se concretizam sob a forma de leis, normas, decretos, resoluções e outras ações que são caras à gestão pública. Um aspecto relevante nesse processo é definir como serão tomadas as decisões, isto é, qual o caminho a trilhar antes de decidir-se por algo. Esse processo envolve a indicaçãodos atores que integrarão o processo. Para tudo isso é importante estabelecer, com credibilidade, a abrangência da política pública em questão, que pode ser local, regional, nacional e transnacional. Há que ressaltar que as decisões em políticas públicas sempre são alvo de questionamentos, o que cria a noção de que há grupos e interesses favorecidos em detrimento de outros, colocando a necessidade de uma reflexão contínua sobre como os benefícios das novas agendas devem ser compartilhadas. Isso leva ao processo de elaboração das políticas públicas. 7.3. Processo de Elaboração das Políticas Públicas O processo de elaboração de políticas públicas é complexo, dialógico e envolve tomada de decisão política. A primeira iniciativa a ser tomada, quando um problema é relevante o suficiente para suscitar uma política pública, é eleger quais linhas de ação serão utilizadas para responder ao desafio definido. É no processo de elaboração que se colocam quais programas e ações precisam ser estabelecidos. ESCLARECIMENTO O elemento credibilidade das políticas públicas também ganhou relevância para a tomada de decisão, na medida em que se passou a entender que regras pré-anunciadas seriam mais eficazes do que a ação de políticos ou dos setores administrativos compreendidos nas políticas públicas. (SOUZA, 2006, p. 28). 159 Fonte: IPEA, 2018. (Adaptado). Um processo de elaboração de políticas públicas deve considerar algumas etapas, independentemente do marco teórico ao qual se referencie. Essas etapas são a conversão de dados, estatísticas e hipóteses para elaboração de informações relevantes para o enfrentamento de um determinado problema. Em seguida deve-se analisar a preferência dos atores e segmentos sociais sobre a proposta. E, por fim, a definição de quais linhas de ação a serem adotadas em base ao conhecimento adquirido (IPEA, 2018). Uma vez que o programa esteja já em execução, estruturam-se as metodologias para monitoramento e avaliação, considerando que o monitorar envolve avaliações diagnósticas dos efeitos do programa no seu decorrer, enquanto a avaliação é feita a posteriori, de modo a captar os resultados efetivos dos mesmos. 7.3.2. Tomada de decisão A tomada de decisão das políticas públicas é o momento em que uma determinada agenda ou demanda deixa de ser atendida por atores não-governamentais, e passa a ser elaborada sob a forma de políticas públicas. Como já foi dito, é, portanto, um momento de conflitos e disputas, que levam a escolhas, e à rejeição de outras propostas. A tomada de decisão é o momento que origina a política pública (IPEA, 2018). Existem muitos modelos teóricos sobre como o processo decisório funciona, e como pode ser aprimorado. As relações institucionais, os atores envolvidos, as vias de diálogo entre o Estado e a sociedade civil organizada, impactam sobre o processo de tomada de decisão. Como veremos a seguir, existem modelos teóricos que explicam como se dá o processo de tomada de decisão, que possibilitam a implementação da política pública. 160 7.3.3. Implementação O momento da implementação da política pública se define como a articulação de diversos processos envolvendo múltiplos atores, e também de recursos materiais, financeiros, humanos e organizacionais para a obtenção dos objetivos e das metas indicadas na fase do desenho. É o caminho no qual o desenho se concretiza, e no qual se geram os resultados da política pública. A implementação parte da apresentação e sistematização do modelo lógico a ser executado, no qual descreve-se a concatenação entre os meios disponíveis e os resultados almejados. Portanto, para antecipar e evitar imprevistos futuros, a fase de implementação das políticas públicas deve atender à: • definição do modelo de gestão e de governança, explicitando os mecanismos de liderança, estratégia e controle que serão postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a política; • análise das atribuições e dos incentivos dos atores envolvidos na execução da política, verificando se o arranjo institucional proposto é adequado; • análise da base legal da política e da espécie de instrumento que será utilizado para constituir as obrigações e avenças necessárias à sua consecução e dos seus programas e ações; • definição do plano de comunicação a ser executado durante todas as etapas da política; • análise de riscos eventuais ao longo da execução da política pública, com sua identificação, elaboração de estratégias de mitigação, administração e controle, compatível com a matriz Swot (do inglês, strengths, weaknesses, opportunitiesandthreats) (IPEA, 2018, p. 124) Uma vez definidos todos esses passos, há que estruturar as normas e manuais de gestão, os arranjos institucionais para sua implementação, o que significa definir as formas de articulação das várias instâncias, atores e organizações. Também é fundamental considerar que devem estar legalmente inseridas em um marco legítimo. Passemos agora ao tema da avaliação. 7.3.4 Avaliação As políticas públicas precisam tanto de monitoramento quanto de avaliação. Existem três momentos em avaliação e monitoramento das políticas públicas. O primeiro é a avaliação ex ante, isto é, aquela realizada antes da política pública ser executada, que levanta os dados sobre o problema que se quer enfrentar e o público-alvo. (CASA CIVIL, 2018) • • • • • 161 Monitoramento e avaliação indicam os ajustes necessários das políticas públicas. Fonte: © M-SUR / / Shutterstock O segundo é o monitoramento, que se compõe das ações de acompanhamento da execução da política. Essa etapa é a que fornece os elementos necessários para a definição das adequações da política pública durante sua execução. O monitoramento precisa estar alinhado aos traços gerais do modelo lógico, e dos indicadores formulados a partir dele. Por fim, há a etapa da avaliação global dos impactos da política pública, isto é, dos benefícios estruturais e de longo prazo. (CASA CIVIL, 2018) A avaliação das políticas públicas pode dar-se mediante o uso de diversos instrumentais. Questionários, investigações de caráter econômico-sociais, levantamento de dados, entrevistas e formação de equipes internas e externas para monitoramento e avaliação são algumas delas. Esses instrumentos possibilitam a análise das políticas públicas, como veremos a seguir. 7.4 Análises de Políticas Públicas Quando se fala de análise de políticas públicas, normalmente se pensa apenas nas avaliações sobre impactos. No entanto, as análises precisam englobar e dialogar, também, suas inter-relações o marco teórico no qual foi elaborado e as características que concernem aos sistemas econômicos e políticos nos quais se inserem. Pensada dessa maneira, a análise de políticas públicas se mostra como um formador de conhecimento, pesquisa e recursos intelectuais e práticos, que passam a estar disponibilizados para os governos e as organizações da sociedade civil. Dessa maneira, as políticas públicas acabam sendo não apenas respostas a desafios sociais e econômicos postos, como também fonte de conhecimento teórico. Neste tópico trabalhamos algumas questões relativas às análises, como a gestão de políticas públicas, ferramentas e tipologias para a análise, e teorias e modelos que desnudam o processo de tomada de decisão em políticas públicas, começando com a forma como elas são geridas. 162 7.4.1 Gestão de Políticas Públicas A gestão das políticas públicas se refere à forma como são aplicados os recursos, sejam materiais, humanos, ou mesmo teóricos, que envolvem sua execução. Esse é mais um indicador de que as gestões dos programas de políticas públicas demandam o compartilhamento prévio de objetivos, metodologias de execução e indicadores para sua avaliação. Portanto, a definição dos passos tomados pela gestão, e a sua composição é parte fundamental da execução da política. Para cumprir com esse papel, a gestão da política pública também se detém sobre os fatores indicados no modelo lógico, de modo a elaborar soluções técnicas capazes de possibilitar o caminhopara o cumprimento dos cronogramas estabelecidos, sem que a qualidade da execução decaia (IPEA, 2018). Dessa maneira, estabelecem-se as ferramentas e tipologias de análise. 7.4.2 Ferramentas e tipologias de análise A análise de políticas públicas é uma ação social e política (BARDACH, 2000). Isso porque qualquer política pública visa a melhoria de algum aspecto da sociedade, o que implica em uma análise política. Assim, a análise é: [...] utilizada para determinar as estratégias de ação quando um agente tomador de decisão tem diversas alternativas e existem dois elementos presentes que são o risco e a incerteza. Deste modo, a análise vai tentar minimizar os riscos associados à implementação e desenvolvimento de uma política pública devido às incertezas futuras causadas por mudanças políticas, econômicas e sociais (CARVALHO, 2005, s. p.). De maneira geral, para o autor, a análise de políticas públicas estabelece as cinco etapas abaixo: Fonte: CAVALHO, 2005. (Adaptado). Para o auxílio da tomada de decisão, são utilizados alguns modelos teóricos, os quais veremos no próximo subtópico. 163 7.4.3 Tomadas de decisão: teoria e modelos Para avaliar os processos de tomada de decisão das políticas públicas foram desenvolvidos distintos modelos teóricos. Tais modelos podem oferecer um panorama mais amplo para a avaliação das tomadas de decisão nas políticas públicas, orientando os gestores para a compreensão das suas motivações. Clique no recurso a seguir, para saber quais são esses modelos teóricos. Modelo sequencial/ciclo político No , as políticas públicas são interpretadas a partir do resultado de umamodelo sequencial, ou do ciclo político série de momentos, que se repetem em um ciclo político. Assim, para esse enfoque o importante reside na apreensão dos modos de ação pública, indicando as continuidades, rupturas, e normas gerais que regulam o funcionamento das políticas públicas (ARAUJO; RODRIGUES, 2017). Modelo da metáfora dos fluxos múltiplos Já no , da obra Agendas, Alternatives and Public Policies, de Johnmodelo da metáfora dos fluxos múltiplos Kingdon (2011), se busca explicar como os problemas se transformam em questões políticas, ou os mecanismos que fazem com que captem a atenção do público e dos políticos. Para contestar essas perguntas e desnudar as vias de tomadas de decisões são tomadas pelas comunidades políticas, “constituídas por investigadores, deputados, funcionários públicos, analistas, grupos de interesse, cujos membros partilham a preocupação com determinado tema ou problemas e que promovem a construção e a difusão de ideias em diferentes fóruns” (ARAUJO; RODRIGUES, 2017, s.p.). Modelo do equilíbrio interrompido Já o terceiro modelo é o do , tendo sido construído tendo como base a noção de que osequilíbrio interrompido processos políticos são demarcados pela estabilidade, sustentada pelos monopólios políticos. Mas apesar da primazia da estabilidade, as crises ainda assim ocorrem. Portanto, analisar as decisões políticas implica em compreender o que gera, e como se dão, as condições de estabilidade, mudanças e crises. Modelo das coligações de causa/interesse O quarto modelo é o das , elaborado na década de 1980 é um dos referenciaiscoligações de causa ou de interesse mais relevantes para a análise dos processos decisórios. Segundo este modelo os subsistemas políticos, formandos por acadêmicos e especialistas, seriam as formações mais adequadas para avaliação do processo político. Com esse conjunto de modelos teóricos dos processos decisórios encerramos esse capítulo que versou sobre os vários enfoques relativos às políticas públicas, e sua relação com o Estado em meio ao desenvolvimento desse debate. Proposta de atividade Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um Mapa Mental, com o mínimo de 20 e o máximo de 25 conceitos, destacando as principais questões que contextualizaram o surgimento do campo de investigação sobre as políticas públicas no mundo e no Brasil – destacando suas principais definições, objetivos e atores. Ao produzir seu Mapa Mental, considere as leituras básicas e complementares realizadas. 164 Recapitulando Debatemos ao longo deste capítulo o contexto de surgimento das políticas públicas no mundo e no Brasil, suas matrizes teóricas fundamentais, objetivos, principais dificuldades e linhas gerais de articulação entre o Estado, governo e sociedade civil organizada para a sua execução, de maneira a que cumpram com o objetivo a que se propõe. Esses objetivos são em linhas gerais possibilitar que o Estado possa prover melhorias e direitos ampliados as suas populações, mediante o diagnóstico de uma demanda tão relevante, que precisa ser transformada em política pública. Vimos como a área da política pública surgiu nos Estados Unidos em meio a um momento de crise econômica e social, trazendo uma nova abordagem sobre a ação dos governos. Definimos como a política pública é a ação dos governos, associados à sociedade civil para a execução de programas e ações que visam garantir os direitos sociais observados na Constituição. O processo decisório das políticas públicas, sua natureza e função são interpretados de acordo com várias matrizes teóricas, como as teorias da racionalidade de Simon, ou da perspectiva dos grupos de interesses de Lindblom, ou da perspectiva crítica oferecida por Dagnino. Dessa maneira, abordamos como a racionalidade é mais complexa do que a perspectiva que a entende como um mero cálculo, estando sujeita à percepção dos grupos sociais e classes, que têm prioridades distintas. Ao longo deste capítulo também foram elencados os elementos que permitem analisar que as políticas públicas, a escolha de suas agendas e execução, envolvem certo grau de conflito. Isso porque como indica Dagnino a superação dos traços autoritários do Estado brasileiro não é simples, e necessitam da crescente participação social dos estratos, sobretudo mais desfavorecidos da população. Isso indica a necessidade de políticas públicas de cunho não somente compensatório, mas regulatório e constitutivas que sejam capazes de inserir-se como transformações de fundo. Vimos como esse processo decisório não é obvio, e engloba uma série de escolhas, sendo assim um terreno de disputas entre os diferentes atores, grupos de interesses e classes sociais. Debatemos também como existem muitas formas de estruturar uma política pública, e teorias sobre o que condicionam suas escolhas, mas que elas mantêm passos necessariamente comuns mesmo assim. Ademais, foi discutido aqui como analisá-las, quais os instrumentais teóricos e práticos mais usados, de modo a orientar os atores e a sociedade civil sobre o que esperar das políticas públicas. Referências ARAUJO, L. A.; RODRIGUES, M. de L. Modelos de análise das políticas públicas. Sociologia, Problemas e Práticas [Online], n. 83, 2017. Disponível em: < >. Acesso em: 05/08/2019.journals.openedition.org/spp/2662 AVRITZER, L. Sociedade civil e Estado no Brasil: da autonomia à interdependência política. ,Opinião Pública Campinas, v. 18, n. 2, novembro, 2012, p. 383-398. Disponível em: <periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op >. Acesso em: 02/08/2019./article/view/8641425 BARDACH, E. : the eightfold path to more effective problem solving. New York:A practical guide for policy analysis Chatham House Publishers, 2000. BRASIL. Casa Civil. Avaliação de políticas públicas. . Volume 1. 2018. Disponível em:Guia prático de análise ex ante < >. Acesso em: 24/08casacivil.gov.br/central-de-conteudos/downloads/153743_analise-ex-ante_web_novo.pdf /2019. ______. Casa Civil. Avaliação de políticas públicas. Volume 2. Disponível em: <Guia prático de análise ex post. >. Acesso em: 24/08/2019.www.casacivil.gov.br/governanca/avaliacao-de-politicas 165 CARVALHO, M. A. de. Uma introdução à análise de políticas públicas: análise custo-benefício, árvores de decisão e modelos de multiatributos. In: XXIX ENANPAD, 2005. ... Disponível em <Anais eletrônicos www.anpad.org.br/admin >. Acesso em: 02/08/2019./pdf/enanpad2005-apsb-1097.pdfCOHEN, M. D.; MARCH, J. G.; OLSEN, J. P. A garbage can model of organizational choice. Administrative Science , Ithaca, v. 17, n. 1. 1972. Disponível em: <Quarterly fbaum.unc.edu/teaching/articles/Cohen_March_Olsen_1972.pdf >. Acesso em: 02/08/2019. DAGNINO, E. . São Paulo: Paz e Terra, 2002.Sociedade civil espaços públicos no Brasil EASTON, D. . Madri: Amorrortu, 2004.Enfoques sobre teoria política FARAH, M. F. S, Análise de políticas públicas no Brasil: de uma prática não nomeada à institucionalização do “campo de públicas”. , Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <Rev. Adm. Pública www.scielo.br/pdf/rap/v50n6/0034- >. 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Tópicos de estudo • Estado contemporâneo e o processo de governança. • Governança pública X emergência da Democracia Deliberativa. • Eficiência, eficácia e efetividade. • Fortalecimento do Estado de Direito e da democracia. • Abordagens patrimonialista, gerencialista e deliberativa. • Demandas contemporâneas X Problemas complexos. • Problemas complexos e sustentabilidade. • Burocracia. • Transparência pública X fortalecimento do cidadão. • Neoliberalismo X deliberativo. • Inovação no Setor Público. • Inovação Instrumental x Inovação Substantiva. • Desenvolvimento da Inteligência Coletiva. • Implementação da intersetorialidade no âmbito das Políticas Públicas. • A proposição da gestão pública em redes. • Pauta Deliberativa – Centralidade do Diálogo. • Governo e Transparência. • Preponderância dos conteúdos sobre os protocolos. • Fortalecimento da confiança. • Liderança aberta e relacional. Contextualizando o cenário A complexidade da relação entre o Estado, a sociedade, e as políticas públicas, elevou-se no decorrer do tempo. Novas tecnologias emergiram e afetaram a maneira como o Estado é gerido, enquanto demandas modernas passaram a ser colocadas pela sociedade, e problemas mais complexos se inseriram na agenda das políticas públicas. Esse processo reabre o debate sobre a racionalidade na administração do Estado, entabulando um novo diálogo teórico e prático entre as distintas concepções existentes em parte da literatura das ciências sociais. A inovação foi colocando-se para uma gama de autores das tradições teóricas liberais e weberianas como uma questão a ser aplicada para as políticas públicas. Assim, abordagens e interpretações calcadas na ampliação da • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 169 democracia deliberativa passam a relacionar-se com os conceitos de inovação, eficiência, efetividade e eficácia, intersetoralidade e articulação em redes. Diante deste cenário, a pergunta norteadora do capítulo é: como esses conceitos atuam para a formulação das propostas apresentadas pelos autores para responder às novas agendas, observando ainda os preceitos do papel do Estado contido na Constituição de 1988? 8.1 Estado contemporâneo e o processo de governança As relações entre Estado, regimes políticos, governos e sociedade colocam novos desafios. Para Max Weber (2004), o Estado contemporâneo apresenta uma crescente e complexa burocracia, cuja racionalidade assume diversas formas. Para esse enfoque, sublinha-se a importância da diferenciação entre a racionalidade substantiva e a racionalidade instrumental. Para Ramos (1989), a racionalidade instrumental pode ser igualmente definida como ação baseada no cálculo, cujos conteúdos são orientados para alcançar a meta de técnicas ou finalidades que busquem garantir interesses econômicos por meio de objetivos preestabelecidos no que se refere às condutas, vias e objetos para a obtenção de um objetivo determinado. Não se examina, aqui a qualidade das ações para atingir um fim estabelecido. Ramos (1989) também indica que a racionalidade substantiva visa a busca contínua pelo fim de compulsões daninhas ou desnecessárias. Dessa forma, ela se volta para a valorização do indivíduo ou do coletivo como seres humanos, cuja ação se fundamenta em padrões éticos, que norteiam seus julgamentos sobre os acontecimentos. Por governança, entende-se “essencialmente os mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade”(TCU, 2018, s. p.). Entretanto, ainda que essa definição pareça simples, muitas questões teóricas e práticas agregam complexidade ao debate, conforme debateremos a seguir. 8.1.1 Governança pública X emergência da Democracia Deliberativa O conceito de governança pública estabelece a totalidade dos mecanismos e vias através dos quais o Estado exerce a sua gestão, integrando como parte indissociável, para isso, a definição das políticas públicas que serão concretizadas. Dessa forma, a governança pública se orienta pela racionalidade substantiva que se norteia, não apenas pela busca da efetividade das ações, como também pela ética que as envolve. (OLIVEIRA; PISA, 2015). CONTEXTO Para Max Weber, a racionalidade substantiva indica aquele tipo que se dá na esfera ética, referindo-se às normas de avaliação da conduta. Difere-se assim da racionalidade instrumental, que é a busca de um fim por meio do cálculo dos meios e das consequências, e da racionalidade conceitual, que busca generalizações teóricas (SELL, 2012, s. p.). 170 Fonte: © M-SUR / / Shutterstock. Do prisma dessas correntes da ciência política, a governança pública está relacionada às transformações sobre as percepções acerca da própria gestão política. Isso implicaria em uma tendência crescente no século XXI, de recorrência às novas formas de gerir os aspectos econômicos, sociais e políticos, englobando o conjunto dos atores que compõem a sociedade. De acordo com Lubenow (2010), isso se articula ao conceito de democracia deliberativa, como aponta o sociólogo alemão Jurgen Habermas. De acordo com as reflexões desenvolvidas por Habermas, em debate crítico com Weber, a concepção de democracia deliberativa é um intento de elaboração de uma teoria da democracia, que dialogam com duas matrizes teóricas das ciências sociais. Clique na interação e veja do que trata cada uma dessas teorias. Teoriarepublicana Destaca a vontade geral e a soberania popular como as chaves da democracia. Teoriapolítica liberal Enfatiza as liberdades individuais e os interesses particulares. A democracia deliberativa propõe, assim uma, síntese entre as duas perspectivas: [...] O modelo , por sua vez, acolhe elementos de ambos os lados e os integra de umadeliberativo maneira nova e distinta num conceito de procedimento ideal para deliberações e tomadas de decisão. [...] aqui, a sociedade civil, como base social das opiniões públicas autônomas, distingue-se tanto dos sistemas de ação econômicos quanto da administração pública (LUBENOW, 2010, s. p.) 171 Dessa maneira, a democracia deliberativa promoveria resultados racionalmente superiores, ao passo em que se estabelece uma abertura do Estado e espaços de tomadas de decisão. Esse processo passa a ser modulados pela opinião pública e pelos anseios da sociedade, tal como expressa a figura a seguir: Fonte: IPEA, 2009. (Adaptado). Essas expressões são captadas por meio dos movimentos sociais, meios de comunicação, organizações partidárias, e canalizadas para as instituições envolvidas nos processos decisórios do Estado. Isso leva à discussão sobre eficiência, eficácia e efetividade na gestão pública, assunto que veremos no próximo subtópico. 8.1.2 Eficiência, eficácia e efetividade O conceito de eficiência integra a Constituição federal de 1988. Ele tem por objetivo indicar o dever de todo gestor e agente público em executar, o mais rapidamente, e com maior racionalidade possível, o uso dos recursos disponíveis, suas funções e as políticas públicas (BRASIL, 1988). PAUSA PARA REFLETIR É possível estabelecer uma participação social efetiva nas decisões estatais mesmo para os setores mais vulneráveis da população? DICA Para compreender melhor a relação entre eficiência, eficácia e efetividade é interessante retomar como essas definições se apresentam na teoria das políticas públicas. Para isso, leia a obra , Administração e contexto brasileiro. Elementos de uma sociologia especial da administração de Guerreiro Ramos (1989). 172 Já o conceito de eficácia indica uma ação relacionada à possibilidade de atingir determinados objetivos com foco nos seus resultados. Existe uma relação entre eficiência e eficácia, muito embora não signifiquem a mesma coisa. Clique na interação e acompanhe o foco dos três termos. Eficácia Foca nos resultados, não se detendo sobre os meios. Eficiência Atesta que mais importante que os fins são os conhecimentos e mecanismos gerados no decorrer do processo (TORRES, 2004). Efetividade É um conceito mais recente, e versa sobre os benefícios que uma determinada política traz para a população. Trata- se do mais abrangente dentre os três conceitos, na medida em que “a eficácia só indica se o objetivo foi atingido, enquanto a efetividade mostra se aquele objetivo trouxe melhorias para a população visada”. (CASTRO, 2006, p. 5). Na imagem a seguir, podemos visualizar como a relação de abrangência entre os três termos. Articulação entre eficiência, eficácia e efetividade Fonte: TORRES, 2004. (Adaptado). Portanto, existe uma diferença entre a efetividade pensada a partir da racionalidade substantiva e instrumental. A efetividade embasada na racionalidade substantiva considera questões éticas, avaliando a capacidade de uma determinada política, ou gestão pública, em atender as demandas da sociedade. Nesse sentido, é distinta da efetividade pensada a partir dos critérios estabelecidos pela racionalidade instrumental, cuja relevância é dada especialmente na otimização de recursos, desempenho mensurado em índices quantitativos e objetivos. Vejamos agora parte do debate sobre o fortalecimento do Estado de Direito e da democracia. 173 8.1.3 Fortalecimento do Estado de Direito e da democracia As indicações contidas na Constituinte Federal de 1988 indicam que o Brasil enquadrar-se-ia como um Estado . Sendo assim, o Estado de Direito pressupõe uma formação tanto política quanto jurídica,Democrático de Direito no qual essas duas dimensões se combinam e pressupõe garantias constitucionais (BRASIL, 1988). Fonte: © M-SUR / / Shutterstock. A conformação do Estado Democrático de Direito relaciona-se à questão da cidadania, cujo aprimoramento é contínuo e suscita diversas interpretações (DURÃO, 2009). A cidadania, como pressuposto do Estado Democrático de Direito, implica em que: [....] se a cidadania for entendida como a soma dos direitos civis, direitos políticos e direitos sociais conquistados, exatamente nessa ordem, pelos membros de uma sociedade, trata-se, então, de um conjunto de direitos e liberdades que exige reciprocidade de cada indivíduo, sendo, eminentemente, uma construção histórica (datada e geograficamente localizada) (AMORIN, 2009, p.12). O fortalecimento do Estado de Direito e da democracia pressuporia que o provimento a todos os indivíduos de direitos sociais, políticos e humanos, garantidos tanto juridicamente como pela adoção de políticas públicas adequadas. Passemos agora a alguns tipos de abordagens de gestão pública. 8.1.4 Abordagens patrimonialista, gerencialista e deliberativa Existem três abordagens fundamentais em acordo com o referencial da racionalidade substantiva, tal como se colocam nas formulações de Max Weber em relação à teoria do Estado. A primeira, designada como indica um tipo específico de dominação, em que a legitimidade advém de uma relação cujopatrimonialista, símbolo seria a autoridade de contexto patriarcal. Esse entendimento, empregado ao Estado contemporâneo, faz 174 com que o patrimonialismo tenha um sentido arbitrário, em que os grupos ou indivíduos no poder valem-se do Estado como instância máxima do domínio público para satisfazer objetivos privados. (CAMPANTE, 2003, sp). Já a abordagem , dissemina-se internacionalmente com o neoliberalismo dos governosgerencialista estadunidense de Ronald Reagan, e a primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher, na década de 1980. Trata-se de uma tentativa de aplicar a lógica do empreendedorismo e da competitividade das gestões empresariais privadas à esfera da administração pública,isto é, ao Estado (NEWMAN, CLARKE, 2012). No Brasil, a corrente gerencialista se dissemina posteriormente, em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e sua proposta de Reforma do Estado feita por meio do Ministério da Administração e Reforma do Estado, que passa a definir: a) as “atividades exclusivas” do Estado: a legislação, a regulação, a fiscalização, o fomento e a formulação de políticas públicas, que são atividades que pertencem ao domínio do núcleo estratégico do Estado, composto pela Presidência da República e os Ministérios (Poder Executivo), e que seriam realizadas pelas secretarias formuladoras de políticas públicas, pelas agências executivas e pelas agências reguladoras; b) as “atividades não-exclusivas” do Estado: os serviços de caráter competitivo e as atividades auxiliares ou de apoio (PAULA, 2005, p. 38). Já a perspectiva embasada na democracia , pressupõe a ampliação das instâncias participativas, quedeliberativa assumem um caráter permanente como instrumentos de gestão do Estado. Assim, a democracia deliberativa agrupa tanto a burocracia estatal, como a sociedade civil organizada, mediante a formação de ouvidorias, audiências públicas, conselhos, fóruns, grupos de trabalhos dentre outros. O principal objetivo de acordo com os autores é a incorporação da sociedade no debate e elaboração das políticas públicas. (TARRAGÓ, ., 2015, p. 8).et al CONTEXTO O patrimonialismo original remetia-se, por exemplo, ao feudalismo e não tinha necessariamente uma conotação negativa. Essa acepção do patrimonialismo desenvolve-se junto com a Revolução Francesa de 1789 que institui o Estado de Direito. 175 Fonte: © create jobs 51 / / Shutterstock. Analisemos, então, algumas demandas e problemas que emergiram recentemente. 8.2 Demandas contemporâneas X Problemas complexos A complexidade que envolve as políticas públicas, e a administração estatal, ampliou-se ao longo da história do Estado contemporâneo. Diversos autores da ciência política e da administração pública indicam o surgimento de novas demandas, que se combinam a outras, para o aprofundamento dos direitos previstos na Constituição de 1988. A promoção de desenvolvimento econômico sustentável em meio a mudanças cada vez mais rápidas é um exemplo (ROMEIRO, 2012). Questões como a preservação do meio ambiente, desenvolvimento econômico e social e todas as demandas sociais exigem, de acordo com a perspectiva teórica da racionalidade substantiva, a observância de elementos não tangíveis, como a ética na administração dos recursos do Estado. Assim, os autores que abordam essas transformações desde o prisma da racionalidade substantiva indicam que: [...] o Estado pode não ter a capacidade de produzir resultados de acordo com os interesses dos cidadãos em áreas que dependem da cooperação e colaboração de atores não estatais, como desenvolvimento econômico, meio ambiente, segurança pública e outras. A participação e deliberação diretas podem ajudar a transcender as limitações da capacidade do Estado, ao trazer as energias, recursos e ideias de cidadãos e stakeholders para lidar com problemas complexos e definir estratégias e soluções inovadoras (CARNEIRO; MENICUCCI, 2013, p. 179). Dessa maneira, novas demandas emergem da sociedade, que almeja novas respostas do Estado. Vejamos como esses problemas complexos se relacionam com o tema da sustentabilidade. 8.2.1 Problemas complexos e sustentabilidade O termo sustentabilidade se tornou comum na virada do século XX para o XI. Em um sentido geral, para os autores que trabalham com esse conceito, indica-se que os problemas sociais e ambientais precisam ser encarados em pelo menos três dimensões, que devem equilibrar-se: social, econômica e ambiental (DIAS, 2008). Dessa forma, 176 s questões relativas ao debate da sustentabilidade implicam em abordagenspodemos concluir que a multidisciplinares, conforme indica a figura abaixo: Fonte: DIAS, 2008. (Adaptado). Trata-se, portanto, de questões estruturais e complexas, cujos enfrentamentos implicam em abordagens sistêmicas e de longo prazo. Fonte: © VectorMine / / Shutterstock. Assim, as respostas, de acordo com o debate proposto por parte dos autores que trabalham com a perspectiva do desenvolvimento sustentável, indicam que as saídas devem ser buscadas “no próprio sistema social, e não em alguma mágica tecnológica ou de mercado" (GUIMARÃES, 2006, p. 52). Agora, passemos ao exame do conceito de burocracia. 177 8.2.2 Burocracia Burocracia e Estado são entes diretamente relacionados para vários autores como Weber, Habermas, dentre outros. Se no senso comum a burocracia é considerada como o acúmulo de procedimentos, documentações e recursos que causam entraves à administração pública, para Max Weber (2004) isso é a disfunção da burocracia. Na teoria weberiana a burocracia é justamente a esfera responsável por prover a eficiência do Estado por meio da racionalidade, profissionalização, especialização, e impessoalidade que devem reger o corpo envolvido na gestão estatal. Entretanto, mesmo para as abordagens weberianas, a questão da burocracia estatal emerge como um desafio quando as funções que exigem impessoalidade não são exercidas dessa forma. Ou ainda quando os procedimentos se perdem em fluxos que comprometem a eficiência, eficácia e efetividade, acarretando em políticas públicas ineficazes ou desperdício de recursos. Passemos, a seguir, ao debate da relação entre transparência pública e fortalecimento do cidadão. 8.2.3 Transparência pública X fortalecimento do cidadão Para a perspectiva liberal, existe uma diferenciação entre as esferas públicas e privadas. Esta seria a base para que um regime político democrático se consolidasse, implicando na responsabilização dos agentes públicos frente à sociedade, instituindo, assim, uma relação entre governantes e governados, no qual se alega que o exercício da autoridade residiria no segundo. O período eleitoral seria o momento em que o fortalecimento do cidadão se dá, já que é aí que ele exerce seu poder sobre o Estado (PRZEWORSKI, 2001). Fonte: © vepar5 / / Shutterstock. ESCLARECIMENTO A burocracia, para Max Weber, se insere no desenho jurídico e institucional vigente, mas detém autoridade já que tem acesso privilegiado a informações. Também pressupõe hierarquia, especialização e impessoalidade no exercício de suas funções. 178 Fonte: © vepar5 / / Shutterstock. Entretanto, existem críticas à essa perspectiva, tais como a de que esse enfoque “pressupõe o cidadão como consumidor de um mercado político; afeta a noção de privacidade, sendo contraditória, portanto, a alguns direitos fundamentais; [...] não diferencia a conduta individual da questão institucional” (FILGUEIRAS, 2011, s. p.). Assim, na leitura dos autores críticos às noções de que a única via de controle social seriam as eleições, o fortalecimento do cidadão pressupõe o monitoramento, fiscalização, avaliação e ação das organizações da sociedade civil sobre a gestão estatal em todos os períodos. Para isso, a Constituição de 1988 prevê a existência de instrumentos normativos e criação de novos espaços institucionais (SAMPAIO, ., 2013).et al Vejamos agora a concepção neoliberal e deliberativa da gestão pública. 8.2.4 Neoliberalismo X deliberativo Para as correntes teóricas e políticas alinhadas ao neoliberalismo, as políticas públicas devem se dar inspiradas na gestão empresarial privada, e com a menor intervenção estatal possível. Isso porque, como uma derivação do neoliberalismo econômico, essas tendências defendem a [...] supremacia do mercado como mecanismo de alocação de recursos, distribuição de bens, serviços e rendas, remunerador dos empenhos e engenhos inclusive. [...] A intervenção da autoridade pública sobre as iniciativas privadas é vista, primordialmente, como intrusão indevida, no máximo tolerada. Dela só podem resultar distorções naqueles três eixos mencionados (riqueza, eficiência, justiça) (MORAES, 2002, s. p.). Já a perspectiva deliberativa se assenta em uma posição crítica à neoliberal,e à desregulamentação econômica que ela acarreta, inspirando-se na teoria da democracia deliberativa, da qual Habermas é um dos expoentes. Sumariamente, a perspectiva deliberativa [...] concebe os resultados dos processos democráticos como produtos de um sistema de instituições políticas integradas por diversos mecanismos. Assim, o processo democrático é visto como um ‘liga e desliga’ dos múltiplos componentes desse sistema por onde circulam ideias, propostas, interesses e outros elementos que estão envolvidos no processo de construção de decisões políticas. [...] O processo deliberativo não pode ser compreendido se abordado apenas no nível micro. É preciso entender como as diversas instituições políticas influenciam umas às outras (SILVA; RIBEIRO, 2016, s. p.). Dessa maneira, a concepção deliberativa dá as bases para as teorias que indicarão a importância da articulação entre as instituições e atores das políticas públicas, entendendo-as como parte das decisões políticas. Isso implicaria em inovações do setor público, tema do próximo tópico de estudo. 8.3 Inovação no Setor Público A questão da inovação no setor público é um debate recente. Coloca-se para as correntes teóricas que trabalham com esses conceitos vários debates sobre o tipo de inovação que se pode obter, que vão desde os recursos disponíveis, como o papel dos meios técnicos e a de comunicações, até os elementos relacionais que envolvem os atores. 179 Assim, para os teóricos que abordam a questão da inovação, surgem novas formas de organização entre os atores, grupos de interesses e Estado, o que traria impacto para as estruturas construídas no decorrer da execução das políticas públicas. 8.3.1 Inovação Instrumental x Inovação Substantiva As propostas de inovações no setor público variam de acordo com os modelos teóricos, e objetivos organizacionais que as norteiam. A inovação instrumental advém da racionalidade instrumental e prioriza, assim, o cálculo e a perspectiva utilitária da ação humana; os fins; maximização dos recursos entendida como o alcance da eficiência e eficácia; não comportando o questionamento ético no que se refere aos recursos disponíveis. Clique nos ícones e acompanhe o que é priorizado nesse contexto. O êxito. Desempenho. Rentabilidade. E a estratégia interpessoal. (SERVA, 1997) Já para os teóricos da inovação substantiva, esta não se referiria apenas aos meios ou técnicas, mas uma nova lógica de atuação embasada na autorrealização, entendimento, julgamento ético, autenticidade, valores emancipatórios e autonomia. Clique na interação e acompanhe o que diz Serva (1997) a respeito dessas questões. PAUSA PARA REFLETIR A questão da inovação é realmente a resposta para os problemas estruturais que o Estado apresenta, tais como a má distribuição das riquezas, ou a negação da efetividade prática de direitos mesmo que legalmente constituídos? 180 Autorrealização É entendida como processos que realizam o potencial do indivíduo. Entendimento Refere-se às ações voltadas para o estabelecimento de acordos racionais, por meio da comunicação livre. Julgamentoético Envolve deliberações embasadas em valores, como bom ou ruim, certo ou errado, que de modelam a partir do diálogo racional presente nas interações dos indivíduos. Valoresemancipatórios Destacam as transformações e aperfeiçoamento do bem-estar coletivo, considerando as diferenças e as individualidades. Autonomia Prevê a condição plena dos indivíduos em suas ações. Assim, o autor afirma que a inovação substantiva pressupõe uma ampliação do diálogo com a sociedade civil organizada, e suas instituições. Vejamos agora o que é desenvolvimento da inteligência coletiva. 8.3.2 Desenvolvimento da Inteligência Coletiva Outra questão que emerge quando se trata das transformações no setor público é o conceito de inteligência , que advém da Ciência da Informação e da Tecnologia. De acordo Lévy (2003, p. 28), filósofo, sociólogo ecoletiva especialista da área das ciências da informação, a inteligência coletiva é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. Dessa forma, trata-se do reconhecimento das potencialidades e habilidades que estão distribuídas entre os indivíduos que compõem a gestão pública, e podem ser articuladas em prol da sociedade, em um ciclo tal como representado na figura a seguir: AFIRMAÇÃO A questão da inteligência coletiva assume uma perspectiva mais concreta quando se avaliam as transformações trazidas em todos os âmbitos pelas novas relações instituídas pela disseminação da internet. Todas as esferas da sociedade, inclusive os espaços políticos decisórios passaram a ser afetados por ela. 181 Fonte: TARRAGÓ et al., 2015. (Adaptado). Em outras palavras, a inteligência coletiva parte também da “capacidade de aprendizagem institucional decorrente tanto da inteligência coletiva já instalada em nossas repartições públicas como das práticas participativas e deliberativas já em uso no interior destas” (TARRAGÓ , 2015, p. 7).et al Isso daria vazão às novas capacidades na gestão pública, expressando e comunicando de forma melhorada os objetivos, metas e planos, gerando o ambiente favorável, na opinião dos autores, para a melhoria da escuta sobre os anseios coletivos, atingindo o objetivo da administração pública deliberativa (TARRAGÓ, ., 2015). Essa formaet al de gestão pressuporia mais ênfase na criatividade, reflexão crítica e diversidade, por meio da ampliação da capacidade institucional pensada dialogicamente. Analisemos então o tema da intersetoralidade. 8.3.3 Implementação da intersetorialidade no âmbito das Políticas Públicas Por políticas públicas setoriais, entendem-se aquelas destinadas a responder uma demanda cuja motivação está relacionada a uma questão específica, que pode ser econômica, social, saúde ou desenvolvimento. A intersetorialidade das políticas públicas passou a ser um conceito usado conforme se apontava a sua inoperância, tanto em questões relacionadas ao uso de recursos, como no próprio diagnóstico das agendas a serem adotadas (CARMO, GUIZARDI, 2017). AFIRMAÇÃO 182 Portanto, a intersetorialidade pode ser entendida sob o enfoque que engloba aspectos conectados na definição dos problemas, e na ação entre membros de diversas áreas. Assim, busca-se promover a articulação entre saberes técnicos mediante a definição de agendas coletivas, e o compartilhamento de objetivos comuns. Isso leva à problemática gestão em redes, como tratamos a seguir. 8.3.4 A proposição da gestão pública em redes A questão das redes para a gestão pública é uma tentativa de atender às demandas por meio da interdependência entre atores das políticas, com articulações menos estruturadas hierarquicamente. A proposta de gestão pública em redes sublinha a noção de cooperação entre os atores, para promover a mobilização de recursos e os laços institucionais. O intuito é diminuir os impactos dos conflitos por meio da ampliação da negociação, e promover a democratização dos processos decisórios. A partir da lógica de atuação em redes, o governo ou instância estatal envolvido em alguma política pública pode aparecer como mais um ator de uma estruturação composta por várias organizações (MOURA, 1998). Passemos agora à questão da pauta deliberativa e da centralidade do diálogo, pressuposto pela gestão pública em redes. 8.4 Pauta Deliberativa – Centralidade do Diálogo Para os autores que trabalham com a noção da pauta deliberativa, a centralidade para a ampliação da democracia está na capacidade de prover o diálogo: [...] uma sociedade é tão mais democrática quanto maior for sua capacidade de (i) ampliar a participação dos diferentes segmentos sociais na tomada de decisões, principalmente daqueles que sempre estiveram afastados e/ou alijados desses processos políticos; e, ao mesmo tempo, (ii) legitimar as instituições que recebem esses participantes, o que significa, em última instância, legitimar suas decisões (MOREIRA,2016, s. p.). Isso pode se dar por meio de organismos institucionais instaurados pela Constituinte de 1988, tais como os conselhos gestores de políticas públicas, que auxiliam a que se distribua e se descentralize parte do poder decisório (BRASIL, 1988). Vejamos como isso impacta a relação entre governo e transparência. 8.4.1 Governo e Transparência A questão da transparência ganhou importância junto aos autores que debatem a governança, controle social e avaliação da gestão pública, passando a ser considerada como um dos fatores mais relevantes. Quando se tomam obras que tratam da relação entre governo e transparência, é comum ver noções como a de que a democratização da gestão pública é “[...] amparada por critérios tais como transparência, autonomia e responsabilidade compartilhada” (TARRAGÓ, ., 2015, p. 31).et al Como resultante da integração entre as agendas, a intersetorialidade promoveu “a efetividade por meio da articulação entre instituições governamentais e entre essas e a sociedade civil” (NASCIMENTO, 2010, s. p.). 183 Para concretizar essa noção de transparência na administração pública, foram adotadas ainda legislações específicas, tais como a Lei Complementar n. 131/2009 – Lei da Transparência (disponibilização, em tempo real, de informações públicas como: receita, despesa, salário dos servidores públicos, convênios e outros, nos portais eletrônicos nas várias esferas governamentais) e a Lei de Acesso à Informação (LAI) no 12.527 /2011 (regulamenta o direito do cidadão à informação pública) (BAIRRAL, , 2015, s. p.).et al. Tais leis aprofundaram a tendência à mudança na relação existente entre sociedade e gestão pública, já que passaram a determinar a publicitação de toda a informação pública, com a utilização de linguagem de fácil compreensão. Assim, os dados podem ser disponibilizados à sociedade mediante solicitação, ou consultas em portais especificamente criados para esse fim. Além disso, os autores indicam a necessidade de tomarem medidas em termos de governança, avaliação e controle da sociedade sobre as ações dos governos (BAIRRAL, ., 2015).et al Fonte: © Royalty-Free/Corbis / / Shutterstock. Com o tempo, a noção de transparência se estendeu, ainda que sigam havendo conflitos, devido a que os gestores públicos podem desrespeitar tais prerrogativas. Ou ainda porque, apesar da criação de tais mecanismos, segue existindo assimetria no acesso e difusão das informações sobre a gestão pública (CAMPOS, , 2013). Issoet al pressupõe a centralidade dos conteúdos, como discutiremos a seguir. 8.4.2 Preponderância dos conteúdos sobre os protocolos Os protocolos nas administrações públicas são todas as formas processuais que envolvem a sua execução. Embora a observância dos protocolos seja importante, muitas vezes, ela se sobrepõe aos conteúdos, podendo debilitar os objetivos que motivaram as iniciativas. Isso porque, quando há um foco excessivo nos processos, acaba-se desconsiderando que “o êxito das políticas públicas depende de diversos fatores. Entre esses, é fundamental o conhecimento da realidade para a definição do conteúdo e da gestão dos programas de utilidade pública” (SAWAYA, 2006, s. p.). Assim, a predominância dos conteúdos sobre o protocolo é importante, porque, dessa forma, evita-se que a política pública distancie-se de seus objetivos. Isso porque 184 [...] conteúdo das normas que estruturam as políticas públicas não será recebido de forma acrítica em espaços vazios. Pelo contrário, será inserido em processos estabelecidos e adaptado às concepções e capacidades das instâncias de governo e das burocracias implementadoras (LIMA; D’ACENSZI, 2013, p. 103). Dessa maneira, faz-se com que os agentes públicos não se esqueçam de que a política pública sofre uma reelaboração constante, para a qual a preponderância dos conteúdos é fundamental. O que nos leva ao fortalecimento da confiança na gestão pública, tema do próximo subtópico. 8.4.3 Fortalecimento da confiança O problema da confiança assume, para os autores que analisam as políticas, um sentido muito relevante, já que sua ausência reflete nos resultados da gestão pública considerada como um todo. Assim: O primeiro passo para gerar confiança é a transparência, por isso temos de construir administrações que por dentro sejam de cristal – e abrir as cortinas para que tal nitidez seja vista também de fora. Temos de explicar os nossos objetivos, e tornar acessível toda a informação aos demais departamentos e funcionários da instituição (TARRAGÓ ., 2015, p. 29).et al Para os autores, isso pressupõe clareza na comunicação, mas também nos processos decisórios e de execução de todas as ações da gestão pública. Assim, essa perspectiva indica que a “adesão à democracia [...] está associada com indicadores tanto de cultura política como de desempenho de instituições democráticas” (MOISES, 2010, p. 298). Portanto, para prover a melhoria da confiança, de acordo com o autor, haveria que adotar-se uma estratégia analítica capaz de compreender os diversos fatores que influenciam a articulação das políticas públicas. Para isso é preciso que a liderança seja adequada, como veremos a seguir. 8.4.4 Liderança aberta e relacional Os estudos sobre a liderança também sofreram impactos do debate da inovação. A liderança considerada aberta é aquela em que o líder das organizações e instituições exerce mais o papel de catalizador, que estimula os atores a unirem seus esforços para atingir um determinado fim. Assim, o papel da liderança seria definir os objetivos, agendas e as vias necessárias para obter os resultados almejados, mas com um processo de compartilhamento das informações e das decisões mais amplos. (MOURÃO; SILVA, 2015) Outra mudança, é o foco da liderança, que anteriormente centrava-se numa figura responsável pela liderança de um grupo, e agora passaria a ser entendida a partir da natureza relacional. Na ótica relacional, a liderança seria o resultado de uma influência mútua entre os liderados e aqueles considerados como liderança, afetando a realidade organizacional e institucional. (SOBRAL, FURTADO, 2019, s. p.). As reflexões trazidas por esse capítulo encerram diversos temas e discussões relativamente novos, que vêm ganhando importância para o estudo da gestão pública. Tratam-se de concepções e conceitos que ainda estão em transformação, e que indicam novos paradigmas para a relação entre todos os atores, incluindo em primeiro lugar a sociedade. 185 Proposta de atividade Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um Mapa Mental com 20 conceitos em caixas, destacando as principais diferenças entre a visão de eficácia, efetividade e eficiência à luz dos debates da racionalidade substantiva. O mapa deverá apresentar os conceitos aplicados para ao menos quatro dos temas estudados nos subtópicos – quatro caixas destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu Mapa Mental, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Recapitulando Observamos, ao longo deste capítulo, que o conceito da racionalidade substantiva orientou a elaboração sobre os regimes democráticos e Estados contemporâneos. De acordo com o avanço dos conceitos que esse debate implica, foram repensados temas como a inoperância da gestão estatal no que se refere às políticas públicas, o papel das burocracias, um exame sobre algumas interpretações teóricas acerca dessas questões, e as relações que os governos e Estados estabelecem com as organizações que integram a sociedade. Dessa forma, foi retomado como no decorrer das últimas décadas determinados autores operaram uma tentativa de incorporação de conceitos e lógicas da gestão privada, para a gestão pública. As inovações foram tomadas por essas vertentes com um arcabouço conceitual próprio, sublinhando aspectos organizacionais e relacionais para tratar do processo de gestão e execução das políticas públicas. Novas pautas e desafios foram colocados para os Estados. Para os autores e enfoques trabalhados nesse capítulo,aspectos como a ampliação da transparência e o papel dos governos, a relação entre a sociedade e o Estado, estão ligados às noções de ampliação da participação organizada daqueles setores, e da busca pelo que é considerado nessa literatura como inovações. Referências AMORIN, R. L. A CF/88: economia e sociedade no Brasil. , 2009. Disponível: <IPEA www.ipea.gov.br/portal/images >. Acesso em: 14/08/2019./stories/Livro_ConstituicaoBrasileira1988_Vol1.pdf BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília, DF: PresidênciaConstituição da República Federativa do Brasil de 1988 , [2016].da República Disponível em: < >www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em: 30/08/2019. ______. Lei complementar n. 131, de 27 de maio de 2009.Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp >. Acesso em: 01/09/2019./lcp131.htm BAIRRAL, M. 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