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1 Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado Unidade I – Comportamento do Consumidor Prof. Erik Guttmann GUTTMANN, Erik Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado (livro-texto I) / Erik Guttmann. São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 22 p. 1. Comportamento do consumidor. 2. Teorias de comportamento de consumidor. 3. Fatores de influência. 4. Tipos de compra. 5. Processo de decisão. 6. Comportamento de compra organizacional. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. 3 Erik Guttmann É Provisional Teaching Member em Análise Transacional da I.T.A.A. – San Francisco – USA. Formado em Engenharia Mecânica pela PUC - RJ e em Positive Psychology Coaching, além de possuir diversos diplomas de cursos complementares. Larga experiência profissional em cargos de gerência, decisão e direção de planejamento de produção, manufatura e desenvolvimento de recursos humanos em empresas como: Vicunha S/A, Paramount, Norton S/A, Telesp e Ernst & Young. Especialista em planejamento e gestão estratégica; gestão da mudança; modelos de governança; gestão, melhoria e redesenho de processos; capacitação de pessoas e educação. Vivência no planejamento e coordenação de eventos nacionais e internacionais. Analisa, prepara, desenvolve e ministra cursos de treinamento, atendendo necessidades específicas de clientes. Alguns temas ministrados: gestão de mudança, gestão de incertezas, gestão de processos, empreendedorismo interno e externo, negociação, vendas complexas e consultivas. Atende diversos setores de mercado, tendo em seu portfólio clientes como Rede Ford de Distribuidores, Rede GM de Distribuidores, Santander, Bradesco Seguros, Whirlpool, J&J, Unilever, Bamberg Imoveis, GSI, Prosegur, Cosan, ABAV, Aurora Alimentos, Penske, Clariant, Bayer, Goodyear, AG, entre outros. Coautor dos livros Consultoria Empresarial, editado pela Saraiva em 2005, já em terceira edição revista e ampliada (2017) e Comportamento Ideal em Vendas, editado pela Benvirá (2018). É professor em consultoria empresarial, capital humano, estratégia empresarial, eficiência operacional, gestão e planejamento comercial, liderança e equipes, planejamento de vendas e gestão de canais e prática consultiva, entre outras disciplinas. 4 INTRODUÇÃO Este livro-texto foi elaborado para auxiliar os alunos matriculados no curso de MBA em Gestão em Vendas, na disciplina de Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado. Ele foi elaborado a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica, buscando ofertar diversos conceitos, técnicas e ferramentas que servirão como base teórica da disciplina. Esperamos que este material possa contribuir para um amplo entendimento sobre este relevante tema da área de marketing. 5 1. O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR O estudo do comportamento do consumidor visa compreender como pessoas e grupos definem o que irão comprar ou usar em termos de produtos e serviços, visando atender suas necessidades e desejos. Através deste estudo, profissionais de marketing definem suas estratégias, tendo como objetivo desenvolver produtos/serviços e campanhas para estimular e influenciar as decisões de compra. Para obter vendas lucrativas, uma organização necessita da satisfação dos seus clientes e, para isso, é primordial que ela os conheça muito bem, identificando suas necessidades, expectativas e principalmente como estes se comportam. Ter clareza de como o consumidor se comporta não é uma tarefa simples, visto que o comportamento do consumidor é considerado um campo de estudo científico e, em função disso, sua análise sempre deve se basear no uso de pesquisas executadas segundo as melhores práticas estatísticas. Além disso, é necessário que as empresas cuidem de maneira correta da clientela. Richard (2001) aponta que as organizações que demonstram foco no cliente devem ter as seguintes características: credibilidade, acessibilidade, confiabilidade e excelência. Para satisfazer e manter seus clientes, é fundamental conhecer o máximo possível sobre eles. Por isso é importante avaliar suas preferências, hábitos, além dos históricos de compra dos clientes. É preciso se manter sempre atento às necessidades e desejos dos clientes. Entender o comportamento do consumidor atualmente implica na compreensão dos novos tempos, que são de constantes mudanças, de incertezas e de inovações. Os consumidores atuais vivem em um contexto cultural que preza a inovação; eles processam informações de maneiras novas e diversas e desejam interagir com as marcas e empresas de forma mais pessoal. Neste novo mundo, cada vez mais impactado pelas redes sociais, a reação do consumidor está mais rápida e implacável. Este consumidor já percebeu sua força, sua capacidade de causar sérios danos às marcas. O Procon não é mais o único canal para reclamações e provavelmente nem seja, atualmente, o mais eficaz. Marcas que não atendem as necessidades dos consumidores podem ser altamente rejeitadas por conta da influência das redes sociais, da mesma forma que marcas que agradam os consumidores podem ganhar mais confiança do público também por conta dessa influência. 6 2. TEORIAS DA RACIONALIDADE ECONÔMICA, COMPORTAMENTAL, PSICANALÍTICA, ANTROPOLÓGICA E COGNITIVISTA De acordo com Pinheiro et al. (2006), as teorias sobre o comportamento do consumidor advêm de uma perspectiva histórica. As pesquisas relacionadas ao comportamento do consumidor foram inicialmente realizadas na avaliação das interações entre consumidores e produtores em um determinado mercado. Essas pesquisas apontaram que a frequência de compra de um determinado bem, seja ele um produto ou um serviço, leva à redução da percepção de valor por parte do consumidor. Isso significa que quanto mais se consome, existe uma tendência a diminuir o nível de satisfação por parte do consumidor. Essa percepção é denominada de “taxa de utilidade marginal” e está relacionada a quando o consumidor faz uso prolongado de um determinado produto/serviço. Kano (1984) explica melhor esse fenômeno da taxa de utilidade marginal. Tomando por base a relação entre funcionalidade de características e satisfação, ele demonstra três possibilidades iniciais: a) Proporcional, que mostra claramente caso determinada característica de produto ou serviço que foi determinante para a compra não funciona; o cliente fica insatisfeito e, à medida em que ela funciona, gera satisfação, mas não a ponto de encantar ou fidelizar o cliente. b) Mandatório, que mostra a insatisfação do cliente caso a característica não funcione e não gera satisfação pela funcionalidade dela. c) Atrativo, que mostra alta satisfação pela funcionalidade da característica e não gera insatisfação pela não funcionalidade. É a surpresa, o inesperado. Kano também conclui que o atrativo se torna mandatório com o passar do tempo e com a compra recorrente, pois o cliente já espera por aquela funcionalidade. Pinheiro et al. (2006) consideram as seguintes teorias relacionadas à evolução do comportamento do consumidor: 2.1 Teoria da racionalidade econômica Baseia-se na busca da maximização dos benefícios com o menor dispêndio financeiro ou sacrifício para obtenção do bem. Neste caso, o comportamento do consumidor busca as melhores vantagens para si, a maior satisfação pelo menor custo. Trata-se de uma abordagem focada na máxima utilidade, ou seja, a maximização da satisfação psicológica e prazer obtidos com o uso dos produtos e serviços adquiridos. Contudo, segundo Pinheiro et al. (2006), a teoria da racionalidade econômica apresenta limitações, pois não permite um entendimento aprofundado dos processos psicológicos relacionados ao comportamento de compra em função da sua subjetividadeem relação a utilidade do consumidor, já que é difícil mensurar em números a experiência e o prazer do consumidor ao adquirir um produto ou serviço. 7 Por fim, a teoria da racionalidade econômica não leva em consideração as diferenças individuais, sociais e culturais que permeiam o comportamento de consumo. Mas, apesar dessas limitações, pode-se apurar diversas questões relevantes para o entendimento do processo de compra estimulado pelas ações de marketing que buscam influenciar o decisor na hora da compra. Pinheiro et al. (2006) descrevem que a teoria da racionalidade econômica é limitada em relação ao entendimento aprofundado da mente do consumidor. A psicologia viabiliza a compreensão dos fatores emocionais e motivações e de aspectos cognitivos, racionais que estão presentes nos processos de escolha e decisão de compra. 2.2 Teoria comportamental Tem como ênfase os comportamentos observáveis, gerados por estímulos localizados no meio ambiente. A influência no comportamento de compra considera os incentivos visuais ou auditivos presentes no espaço do consumo, que despertam no consumidor, o interesse pelas ofertas disponíveis no ambiente. Esta teoria não tem foco no que se passa na mente do consumidor, pois prioriza os estímulos de fatores ambientais no comportamento de consumo dos clientes. 2.3 Teoria psicanalítica De acordo com Pinheiro et al. (2006), essa teoria foi introduzida pelo neurologista austríaco Sigmund Freud (1956-1939) no final do século XIX e início do século XX. Para Freud, a mente humana divide-se em uma dimensão consciente e outra inconsciente. Esta última tem grande influência sobre a primeira. Por outro prisma, a teoria psicanalítica considera que os comportamentos demonstrados na consciência são uma expressão distorcida de desejos oprimidos que estão na esfera do inconsciente. Dessa forma, o entendimento de um determinado comportamento não deve ser buscado no plano consciente, mas sim nas motivações implícitas, localizadas na dimensão do inconsciente. A teoria psicanalítica considera não apenas as motivações inconscientes do momento da compra, mas também seu caráter expressivo, visto que os consumidores expressam seus desejos nas ofertas disponibilizadas a ele. A decisão de compra se configura a partir da capacidade da oferta de atender as necessidades e desejos manifestados na dimensão do seu inconsciente. Dessa forma, é tarefa dos profissionais de marketing criarem estratégias que enfatizem os benefícios gerados por atributos do produto ou serviço que despertem o desejo inconsciente dos consumidores. 8 2.4 Teorias sociais e antropológicas Este conjunto de teorias dá ênfase ao consumo como um processo social, isto é, que deve ser analisado considerando elementos históricos, sociais e culturais; uma avaliação que aponta diversas variáveis que levam aos padrões de consumo. Pinheiro et al. (2006) destacam que as teorias sociais e antropológicas se dividem em dois aspectos: um de inspiração marxista e outro inspirado nas pesquisas sobre os hábitos de consumo nas sociedades contemporâneas. As abordagens sociais e antropológicas trazem um olhar mais denso sobre a dinâmica social e cultural que determina os processos de consumo. 2.5 Teoria cognitiva Trata-se da teoria mais utilizada pelos pesquisadores do comportamento do consumidor por integrar produto, consumidor e ambiente à visão de consumo como um processo de tomada de decisão. As teorias até então apresentadas demonstram o comportamento do consumidor, observando-se que a persuasão no momento da compra está relacionada com o estudo dos estímulos presentes no local de consumo, levando o consumidor a tomar a decisão por um bem de consumo, ou não. Para tanto, o consumo é baseado na teoria psicanalítica, que, por sua vez, está relacionada à expressão de desejos inconscientes. Assim, inconscientemente desejamos algo a fim de satisfazer as nossas necessidades e desejos. Em relação às teorias cognitivas, Pinheiro et al. (2006) demonstram que a teoria cognitiva considera o comportamento do consumo como um processo de tomada de decisão influenciado por fatores cognitivos, entre eles: percepção, motivação, memória, atitudes, valores e personalidade, assim como os socioculturais: influência de grupo, família, cultura e classe social e ainda os situacionais, como os estímulos alocados no ambiente da compra. 9 3. FATORES QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DE COMPRA 3.1 Fatores culturais Uma forma poderosa para alavancar a percepção de marcas e produtos e consequentemente aumentar as vendas é compreender a cultura dos consumidores. Kotler (1998, p.162) afirma: “os fatores culturais exercem a mais ampla influência sobre o comportamento do consumidor”. A história, os rituais, as crenças e o hábitos de um grupo de pessoas de uma determinada região, determinam uma série de valores, percepções, preferências e comportamentos no âmbito familiar e em outros contextos que influenciam seus hábitos de consumo presentes e futuros. O papel dos profissionais de marketing é decodificar a cultura presente para que possam fazer uma análise preditiva em relação à aceitação dos produtos ou serviços pelos consumidores e definir estratégias para estimular o consumo. Diversos autores dissertam sobre o poder dos fatores culturais no comportamento do consumidor. A cultura tem um profundo efeito em como e por que as pessoas compram e consomem produtos e serviços. Ela afeta os produtos específicos que as pessoas compram, assim como a estrutura de consumo, a tomada de decisão e comunicação na sociedade. (BLACKWELL, MINIARD e ENGEL, 2005, p. 3). 3.2 Fatores sociais Consideram a influência do grupo, da família, a classe social e os efeitos da cultura e das subculturas no comportamento de compra. Neste plano, é como um ser social que reage e é transformado pelo contexto no qual será inserido. O termo “classe social” classifica, de forma genérica, como uma pessoa está inserida na sociedade. Normalmente pessoas com uma mesma posição social, costumam ser muito parecidas em termos de ideias e valores. Essas semelhanças acabam por determinar como alguns produtos e serviços serão direcionados a uma determinada classe social. Além disso, a posição social de uma pessoa também determinará o quanto ela é capaz de consumir e a forma como irá empregar o seu dinheiro. Decerto a classe social é muito influente no comportamento de consumo, mas além disso há que se considerar outros fatores sociais, como o grupo de referência. Para Solomon (2002, p. 257), grupo de referência é um indivíduo ou grupos reais ou imaginários concebidos como tendo relevância significativa sobre as avaliações, aspirações ou comportamento de um indivíduo. 10 Considerando isso, os grupos de referência são formadores de opinião e exercem influência sobre os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos do consumidor. Os grupos são subdivididos e Kotler (1998) os divide em primários e secundários. Os grupos primários são constituídos pela família, pelos amigos, pelos vizinhos e pelos colegas de trabalho. Com estes, a pessoa interage mais continuamente e age de maneira informal. Já os grupos secundários são constituídos pelas religiões, sindicatos e profissões, os quais tendem a ser mais formais e exigem interação menos contínua. Existem ainda grupos aos quais uma pessoa gostaria de pertencer, chamados de grupos de aspiração. Da mesma forma, existem aqueles grupos repudiados, denominados grupos de negação (KARSAKLIAN, 2008). Os membros da família constituem o grupo primário de referência com mais poder de influência. Pode-se distinguir entre duas famílias na vida do comprador: a de “orientação”, que é formada pelos pais, e a de “procriação”, formada por esposa e filhos. Há que se considerar que surge na sociedade uma estrutura mais flexível, diferente da tradicional família,legitimamente representada por um casal heterossexual, vivendo na mesma casa. Essa nova estrutura familiar formada por amigos íntimos, casais homoafetivos, são novos personagens que servem como companhia e apoio social. Essa mudança, causadas pelos divórcios, por padrões sociais até então rejeitados, mulheres com protagonismo profissional e fazendo muitas vezes o papel de arrimo familiar e o crescimento dos solteiros representam oportunidades para profissionais do marketing à medida que os padrões “normais” de compra são diluídos e modificados. 3.3 Fatores pessoais Os fatores pessoais referem-se a aspectos individuais, momentos e situações pelas quais um indivíduo está passando que interferem nas suas decisões de compra. Kotler (1998) apresenta cinco elementos que constituem os fatores pessoais: idade e estágio do ciclo de vida, ocupação, condições econômicas, estilo de vida e personalidade. Idade: O comportamento de compra se altera de acordo com o estágio de vida de uma pessoa. À medida que a idade vai aumentando, as necessidades e os desejos vão se modificando. Isso determina que o consumo será diferente para cada fase da vida. Ocupação: O cargo que o consumidor possui ou a profissão que exerce dizem muito a respeito de seus hábitos de compra. O diretor de uma empresa provavelmente irá optar por marcas renomadas, produtos mais caros, que reflitam seu status profissional. Condições econômicas: Quanto maior a renda, patrimônio ou poupança, maior será a disponibilidade de crédito e de recursos financeiros próprios para se 11 adquirir bens de consumo e serviços. Estes são fatores que determinam e afetam os padrões de consumo. Estilo de vida: refere-se às atividades, interesses e opiniões. É comum que estratégias comerciais sejam definidas a partir do estilo de vida dos consumidores e que empresas se posicionem no mercado através de associações entre seus produtos e o estilo de vida dos consumidores reais e potenciais. Personalidade: De acordo com Diltz (2017), a personalidade de uma pessoa também está relacionada aos níveis neurológicos: ambiente, comportamento, capacidades, valores e crenças, identidade e propósito. O primeiro nível é o ambiente, considerando locais de convivência pessoal ou profissional. Este ambiente influencia o comportamento de um indivíduo, afetando suas capacidades. As capacidades percebidas determinam valores e crenças que, por sua vez, fazem com que uma pessoa tenha a percepção sobre si mesma, ou seja, sua identidade. Através dessa autopercepção, o indivíduo afere seu papel em relação ao meio em que vive, assumindo assim seu propósito. Esses níveis impactam diretamente na personalidade de uma pessoa. O nível neurológico relacionado a valores e crenças exerce forte influência no comportamento de consumo. 3.4 Fatores psicológicos São relacionados ao pensamento, comportamento e sentimentos advindos do processo de compra envolvendo o estudo da percepção, da aprendizagem, da memória, das atitudes, dos valores, das crenças, da motivação, da personalidade e dos estilos de vida dos consumidores. Nos fatores psicológicos, o consumidor é visto de maneira isolada, tomando decisões de acordo com suas características pessoais. A motivação, de acordo com Kotler (1998), está relacionada a uma vontade que tem força suficiente para levar uma pessoa à ação. A percepção é a forma como as pessoas estabelecem sua visão de mundo. É importante considerar o consumidor como um “indivíduo único”, pois ele percebe a mesma situação de maneiras diferentes. A percepção é construída a partir do significado que o cérebro atribui a pessoas, fatos, produtos etc. Essa visão de mundo é estabelecida a partir de histórico e vivências passadas. Através da percepção, um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio, que consistem na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos. O aprendizado refere-se a experiências anteriores que podem ou não influenciar decisões futuras. São convicções fruto de vivências que determinam como os consumidores entendem determinadas situações, o que pode exercer forte influência na sua decisão de compra. O processo de aprendizagem pode ser definido, de forma sintética, como o modo pelo qual as pessoas adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Contudo, a complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas através de recortes do todo. Já a crença é uma condição psicológica que se define pela sensação de veracidade relativa a uma determinada ideia a despeito de sua procedência ou possibilidade de verificação objetiva. Logo, pode não ser fidedigna ao que representa 12 o elemento subjetivo do conhecimento. Pode também ser entendida como sinônimo de fé e, assim como qualquer manifestação de fé, acompanha absoluta abstinência à dúvida pelo antagonismo inerente à natureza destes fenômenos psicológicos e à lógica conceitual. 3.5 Fatores situacionais Relacionam-se a uma série de circunstâncias no momento da compra. São situações que consideram a ambientação de loja, displays nos pontos de venda, disposição dos corredores de prateleiras, posição dos produtos nas gôndolas e outros. Esta é uma das áreas em que mais cresce a pesquisa atual a respeito das ações de compra, destacando-se os estudos da antropologia dos ambientes varejistas desenvolvidos por Underhill (1999). Este destaca que a loja, os gostos e o comportamento do consumidor estão sempre mudando e os varejistas devem buscar entender seus clientes para atendê-los. O planejamento e o esforço mercadológico dos estabelecimentos comerciais devem estar baseados em alguns pontos, como, por exemplo, o tempo que um cliente passa em uma loja. Talvez o mais importante fator individual na determinação da quantidade que ele comprará; o tempo que ele fica esperando é determinante para sua satisfação. Dessa forma, existem três fatores que influenciam o comportamento da compra: psicológicos, socioculturais e situacionais. Sendo assim, o cliente decide a compra em função das características envolvidas, considerando os três fatores citados. 3.6 Os hólons Buscando dar mais amplitude ao entendimento sobre o funcionamento dos fatores influenciadores de compra, Koestler (1951) traz um conceito que joga luz sobre as forças intervenientes na influência, que são os “hólons”. Essa é uma palavra que vem do radical grego: holus significa “todo” e “on” significa “parte”. Logo, hólon é um todo em si mesmo e simultaneamente é parte de algo mais. De maneira genérica existem quatro hólons interagindo nas relações humanas. Em primeiro lugar vem o indivíduo, um ser completo em si mesmo, com seu modo de pensar, de sentir e de agir. Esses modos foram introduzidos desde o nascimento e estão constantemente sendo impactados pelos relacionamentos que esse indivíduo tem. É seu conjunto de princípios e valores, sua estrutura de referência, afetando as interações e comunicação com os demais hólons. Em seguida vem o grupo social: é o segundo hólon, formado por um conjunto de indivíduos comungando princípios e valores semelhantes (em sua maioria). Em seguida vem a organização, o conjunto de grupos sociais afins. A determinação de políticas, procedimentos e práticas empresariais é realizada por determinado grupo de indivíduos chamado de “liderança”. Finalmente o ambiente, formado pelos mais diferentes tipos de organizações e exercendo força de mudança e impacto sobre qualquer uma das outras relações. As relações comerciais, as pressões para a preservação ambiental ou ações de responsabilidade social são exemplos das forças atuantes nesse hólon. 13 Cada um dos hólons exerce e sofre pressão por meio de forças com intensidade inicialmente diferente até conseguir equilíbrio, reequilibrando todo o sistema em outro patamar. A resistência às mudanças podeser explicada por meio desse modelo, pois elas somente poderão atingir o primeiro hólon, o indivíduo, e ele perceber a força dessa mudança como positiva comparada com a sua estrutura de referência, passando a provocar pressão no hólon seguinte e assim por diante. 14 4. TIPOS DE COMPRAS Mesmo que as motivações durante o processo de compra tenham um caráter individual e muitas vezes subjetivo, profissionais de marketing podem determinar uma estratégia a partir dos tipos de compra. Cada tipo de compra tem características relevantes para o consumidor no ato da compra. Alguns dos principais autores relacionados ao marketing e ao comportamento do consumidor classificam os tipos de compra como: compra habitual ou rotineira, compra complexa, compra ocasional ou em busca da variedade. 4.1 Compra habitual ou rotineira A compra rotineira acontece quando o bem ou serviço que está sendo adquirido tem características ou atributos simples, mais baratos, em que os consumidores se sentem bastante confortáveis por, geralmente, já conhecerem a marca ou o fornecedor com quem estão negociando. 4.2 Compra complexa Kotler (2000) explica que o tipo de compra complexo ocorre quando os consumidores estão envolvidos em um processo em que existe um risco maior devido à complexidade do bem a ser adquirido, ao montante do investimento e às diferenças entre as marcas e fornecedores. É o caso da compra de um produto caro: realizada com pouca frequência, envolve algum risco e é expressiva. 4.3 Compra ocasional Dias (2003) explana sobre a compra ocasional, exemplificando que pode ser compra de carros, joias, presentes, bens duráveis, planos de saúde etc. Quanto maior for o conhecimento da marca e melhores forem as referências de amigos, maior é o número de informações e menor é o custo psicológico associado à compra. Outros tipos de compra também podem ser considerados. 4.4 Compra planejada Como exemplo de uma compra planejada, podemos citar aquela em que o consumidor prepara, antecipadamente, uma lista dos produtos a serem adquiridos na loja. Pesquisas realizadas por supermercadistas mostram que mais de 75% das compras não são planejadas. Este tipo de compra é bastante racional e, desta forma, leva muito em consideração a necessidade de consumo, o local onde será feita a compra, a data, o horário, a disponibilidade dos produtos, seus preços e condições de pagamento. 15 4.5 Compra por impulso A compra por impulso ocorre quando um consumidor, por alguma razão, resolve adquirir algo que ele não havia planejado comprar. Isso geralmente ocorre em função de algum estímulo externo, seja uma vitrine, uma promoção ou algo que, de alguma forma, tenha chamado a atenção do consumidor e o levado a realizar a compra. Normalmente a compra por impulso envolve produtos e serviços que não envolvem alto custo e/ou risco para o consumidor; desta forma, ele toma a decisão sem necessariamente pesquisar preço, marca, loja, condição de pagamento e alternativas do bem a ser adquirido. 4.6 Compra por sugestão ou influência do vendedor Neste tipo de compra, ocorre a interatividade do consumidor com o vendedor, agente que oferta um serviço ou produto. Este último busca convencer o cliente a adquirir um determinado bem ou serviço, contido ou não em uma lista prévia, por meio de argumentos consistentes e técnicas de vendas. Cabe esclarecer que um profissional de vendas pode e deve usar da influência, ou seja, através da verdade, levar uma pessoa a tomar uma decisão consciente e da qual não se arrependerá posteriormente. O contrário, chamado de manipulação, não deve e nem pode fazer parte do processo da venda. Um consumidor ser levado a decidir por uma compra em função de informações imprecisas ou mentirosas, que provavelmente trará grande arrependimento futuro, foi influenciado por um indivíduo maquiavélico e imoral. 4.7 Compra comparada Diz respeito a produtos, geralmente, com ciclo de consumo mais longo. Dá-se dentro de uma mesma loja, comparando marcas ou especificações técnicas diferentes, porém, que visam atender a uma mesma necessidade do consumidor. Um exemplo de compra comparada é a de produtos de puericultura, como mamadeiras, chupetas e acessórios, mas também podemos citar escovas para cabelos, alicate de unha, prendedores etc. Este tipo de compra exige mais tempo para o comprador; desta forma, a colocação dos produtos deve ser planejada para evitar problemas de fluxo dentro da loja. 16 5. PROCESSO DE DECISÃO DE CONSUMO Conhecer o processo de decisão de compra é fundamental para o marketing ser capaz de atender aos anseios dos consumidores, segundo Kotler e Keller (2006). Diferentes modelos surgiram para explicar este processo, sendo que esses foram propostos por diferentes autores. Engel, Blackwell e Miniard (2000), por exemplo, afirmam que o processo de decisão de compra é composto por sete etapas. 5.1 Reconhecimento de necessidade No estágio de reconhecimento da necessidade, o indivíduo percebe a existência de um problema a ser resolvido seja por desejo ou necessidade. A necessidade é algo fundamental, indispensável, muitas vezes fisiológico ou sociológico, como se alimentar, vestir, morar e se deslocar. Já o desejo encontra-se no campo psicológico; trata-se de uma aspiração, uma expectativa de possuir algo, como ter um carro, uma bicicleta, fazer uma viagem. O desejo geralmente é causado por um estímulo externo, que pode ser passageiro dependendo do momento de vida da pessoa. 5.2 Busca de informações Após reconhecer uma necessidade ou desejo, o próximo passo é buscar informações sobre as opções disponíveis. De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001), três elementos caracterizam a fase de busca de informação do processo decisório: Elemento 1 – Fontes de informação: podem ser fontes empresariais e não empresariais; Elemento 2 – Estratégias de busca: ou seja, padrão de aquisição de informação que os clientes utilizam para resolver seus problemas: implica custos em termos de tempo, esforço físico e mental; isto é levado para a decisão de quanta informação devem adquirir e de que fontes; Elemento 3 – Quantidade de busca: mostra quanta informação o cliente irá realmente buscar. Essa quantidade depende de vários fatores: risco percebido: definido como uma expectativa subjetiva de perda; envolvimento: definido como a relevância percebida de um objeto por uma pessoa baseada em necessidades inerentes, valores e interesses – o grau de envolvimento varia de acordo com os produtos e/ou serviços; familiaridade e perícia: relação entre a experiência anterior e a busca de informações externas, que é, em geral, inversamente proporcional, ou seja, quanto maior a experiência anterior, menos informações exteriores são buscadas – pressão do tempo; sobrecarga de informações: representa o comportamento do consumidor sob influência de um número de informações maior do que pode processar. 17 5.3 Avaliação das alternativas pré-compra Nesse processo, os clientes avaliam e definem a melhor alternativa dentre as opções pesquisadas, fazendo uso de critérios de avaliação. Este critério depende de fatores pessoais, sociais, culturais e psicológicos e pode sofrer influências externas, ambientais e situacionais. 5.4 Compra Após a avaliação das alternativas e escolha da mais adequada, ocorre a compra propriamente dita, sendo esta, segundo (Sheth, Mittal e Newman, 2001), subdividido em três partes: identificação da escolha, intenção de compra e implementação da compra. Algumas vezes a decisão de compra pode não ser implementada. 5.5 Consumo É o momento no qual o consumidor utiliza o produto ou serviço adquirido a partir de suas primeiras experiências. Neste momento pode ocorrer a satisfação relacionada ao atendimento das necessidades do consumidor, tornado assim a experiência positiva ou o contrário, caso em que esteficará insatisfeito e poderá fazer reclamações, exigir a devolução do dinheiro, a troca ou a devolução, no caso de mercadorias. 5.6 Avaliação pós-compra Sheth, Mittal e Newman (2001) dividem a experiência pós-compra em quatro: – Confirmação da decisão: depois que um cliente toma uma decisão importante, ele experimenta uma intensa necessidade de confirmar a sensatez dessa decisão. – Avaliação da experiência: os consumidores podem experienciar produtos/serviços de forma rotineira ou não, e disto vai depender a forma como a avaliação de consumo é realizada. Isso depende também do nível de envolvimento e com a finalidade da compra. – Satisfação/insatisfação: vista como o processo de avaliação resultante da comparação entre expectativa e desempenho e da experiência de consumo ao longo do tempo. – Resposta futura (abandono, reclamação ou lealdade): abandono: se os clientes estão insatisfeitos com uma experiência com determinado produto/serviço, podem decidir jamais comprá-lo de novo; reclamação: definida como um set de respostas de insatisfação dos consumidores tais como requisição para reembolso ou 18 trocas, boca a boca negativo, saída (ou redução no número de compras), sabotagem e, mais recentemente, postagem em websites; lealdade: definida como um compromisso profundamente firmado para recomprar ou favorecer constantemente um produto/serviço preferido no futuro, por meio disso, realizando a compra de uma mesma marca ou de um mesmo jogo repetidamente, apesar de influências situacionais e esforços de marketing terem o potencial para causar a mudança no comportamento. 5.7 Descarte Por fim, a última etapa proposta por Engel, Blackwell e Miniard (2000) é a de descarte. A preocupação com o descarte do produto surgiu como foco de pesquisa e estratégia de marketing, principalmente por causa das graves preocupações ambientais. 19 6. O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL Para Siqueira (1992), a compra organizacional é um processo complexo, e não um ato de impulso. Em uma organização, para se cumprir a determinação da necessidade de comprar produtos ou serviços, são necessários, muitas vezes, uma série de eventos e interações entre membros da empresa que se acham envolvidos na compra ou que usarão o produto ou o serviço em questão. A busca de informação e a avaliação de ações alternativas para as compras costumam ser processos decisórios mais longos e bastante racionais, uma vez que precisam atender uma série de requisitos estabelecidos para que se garanta a segurança de todo o processo de compra. Tudo isso ocorre no transcurso do tempo e envolve diversos membros e relacionamentos com outras organizações (SIQUEIRA, 1992). O comportamento do consumidor organizacional está inserido no contexto corporativo (indústria, comércio, serviços, governo, instituições agrícolas), em que se estabelece a necessidade de produtos e serviços que serão adquiridos, que identifica, avalia e escolhe entre as diversas marcas e fornecedores. Siqueira (1992) descreve que a compra no ambiente corporativo é bastante técnica e racional, um processo, na maioria dos casos, metódico e objetivo. O comprador organizacional busca maximizar os lucros de sua empresa e obter a melhor relação custo-benefício, qualidade e atendimento em relação aos produtos que adquirem, o que não significa que isso aconteça em todas organizações. Muitos compradores se deixam levar por interesses pessoais (autopromover-se, adquirir poder junto ao vendedor e até mesmo buscar vantagens financeiras), que em nada visam defender os interesses das organizações a que pertencem. Este comportamento foge ao modelo ideal do contexto da compra organizacional. Em relação ao estudo dos modelos de compra dos compradores organizacionais, existe uma questão crítica, que é a superposição dos objetivos individuais do comprador com os da empresa. Moreira (1998) descreve que o comprador organizacional tem duas metas: melhorar sua posição na companhia (interesse individual) e de favorecer os objetivos da empresa (lucros, vendas, imagem, reputação, luta com a concorrência). Nem sempre essas metas são compatíveis, e, por vezes, elas entram em conflito. A compra nas organizações é realizada por seus integrantes, que consideram suas percepções a partir da sua realidade para tomada de decisão. Essa realidade percebida busca atender uma série de necessidades, objetivos e metas e envolve as experiências individuais, a situação da compra e as influências dos ambientes, que irão nortear todo o comportamento no processo da compra que atenda aos anseios da organização. Segundo Siqueira (1992), é a personalidade do comprador, ou seja, o conjunto de papel, a motivação e o conhecimento, e não somente a forma de interpretação das informações externas assim como a aprendizagem que afetam a sua resposta à definição das situações de compra e estímulos de marketing dos fornecedores. A ética nas compras organizacionais é fundamental, pois desvios de comportamentos por parte do comprador organizacional podem gerar prejuízo financeiro e para a imagem da empresa. Em função disso, as organizações devem estabelecer regras e controles sobre o processo de compra para que sejam evitados benefícios pessoais em detrimento dos interesses da empresa, quantidades maiores 20 ou com preços superfaturados. Como prevenção para que esse tipo de relação não ocorra, além do estabelecimento de normas, as empresas proíbem seus compradores de receber brindes ou benefícios dos seus fornecedores para que não seja possível que tirem vantagem da posição que ocupam. 21 REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2009. BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DIAS, Sérgio Roberto. Gestão de marketing. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. DILTZ, Robert. De coach a awakener. São Paulo: Learder, 2017. ENGEL, J. F.; BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P. W. Comportamento do consumidor. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, 2000. GOMES, Isabela Motta. Manual de como elaborar uma pesquisa de mercado. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2005. KANO, Noriaki; NOBUHIKU Seraku; FUMIO, Takahashi; SHINICHI Tsuji (April, 1984). Attractive quality and must-be quality. 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