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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS FACULDADE DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA HOSPITALAR 1 RESUMO: PSICOLOGIA HOSPITALAR – PROF.ª DR.ª BELLKISS ROMANO DIALOGANDO COM PSICOLOGIA DA SAÚDE X PSICOLOGIA HOSPITALAR: Definições e possibilidades de Inserção Profissional. Aluna: Ádria Pimentel Silva Matrícula: 21853084 A entrevista com a Profª Drª Bellkiss Romano visa tirar dúvidas sobre um ramo da Psicologia que vem conquistando cada vez mais notoriedade nos núcleos hospitalares, a Psicologia Hospitalar. Para isso, ela começa definindo os tipos de atuação que o psicólogo pode estar realizando nos hospitais, são eles: 1. Psicologia Organizacional, no qual o trabalho será voltado para os Recursos Humanos; 2. Psicologia Clinica que atende somente os funcionários que trabalham nessa instituição; 3. Psicologia voltada ao conhecimento e aperfeiçoamento das instituições; e 4. Psicologia Hospitalar atua no atendimento aos pacientes e familiares formando a tríade inseparável no processo de adoecimento hospital-indivíduo-família. Já Castro e Bornholdt (2004) abordam sobre as discussões e possibilidades que envolvem a Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar se enveredando para isso no contexto histórico mundial e no Brasil. No que diz respeito às formas de atuação do Psicólogo nessa área as autoras sintetizam em 6 tarefas baseadas em Rodriguez-Marín (2003): 1. Coordenação que vai atuar em atividades voltadas aos funcionários do contexto hospitalar; 2. Ajudante na adaptação de um paciente internado; 3.Consultoria com profissionais para atuação com pacientes; 4. Função de elance que visa o trabalho multiprofissional para modificar ou instalar comportamentos mais adequados aos pacientes; 5. Assistência direta que trabalha diretamente com o paciente; 6. Recursos humanos para aperfeiçoamento dos serviços dos trabalhadores da organização. Interessante pontuar que apesar de trazerem pontos complementares, ambos ressaltam o desafio do psicólogo delimitar seu papel dentro do hospital, ao passo que o hospital também não sabe o que esperar dessa área. No decorrer da entrevista, o enfoque se dá para o último tópico, a Psicologia Hospitalar, em que Romano vai explicando, dessa maneira, a importância em delimitar os papéis da Psicologia e de como deve ser o posicionamento do profissional frente às demandas dadas pelos superiores. Isso porque muitos administradores hospitalares acreditam que o papel do psicólogo é atender os funcionários da recepção até a família dos pacientes. Por isso, observa-se a importância de conhecer os direitos que têm para não acabar sofrendo esgotamento físico, ou até mesmo a síndrome de burnout. É válido ressaltar que dúvidas do fazer psicoterápico não se limitam a alguns “psis” ou a outras profissões. A problemática surge no próprio desenvolvimento das psicoterapias no Brasil oriundo nas mãos de médicos, cabendo à psicologia “solucionar problemas de ajustamento” como afirma Holanda (2012). No momento de se posicionar e limitar os papéis da área o que se fez foi incumbir à comunidade científica a esse papel, ocasionando um desmonte da própria classe, fortalecendo caixas dogmatizadas, e favorecendo uma abertura para que outras áreas fizessem seu papel, bem reconhecidas atualmente pelos coaches quânticos. Segundo Castro e Bornholdt (2004), não se pode ainda sim, confundir as atuações na área da saúde que a Psicologia no Brasil se dispõe atualmente: Clínica busca um trabalho amplo na saúde mental em todos os níveis de atendimento da saúde; Psicologia da Saúde também se baseia nessa definição, contudo se difere pela ampliação sanitarista, ou seja, voltada para o biopsicossocial junto as questões físicas da saúde e da doença do sujeito; e a Psicologia Hospitalar segue os preceitos da anterior mas reduzida ao âmbito hospitalar. Uma dúvida que muitos têm no Brasil é sobre a afirmação de que não existe o psicólogo hospitalar e sim o da saúde. Afinal, diferente de outros países, o Brasil é o único que desmembra a atuação da psicologia nessa área. Para explicar a diferença, se pautará nas definições de Castro e Bornholdt (2004) e de Romano. Para Castro e Bornholdt (2004) esse fenômeno se deve as políticas públicas construídas no Brasil na década de 40, pautada na atenção secundária (modelo clínico/assistencialista) frente à saúde coletiva (modelo sanitarista). O tempo passou, um modelo mais sanitarista foi ganhando força, mas ainda hoje, o hospital é visto como o ponto de partida para o atendimento em saúde. E por isso a definição Hospitalar, termo considerado inadequado por alguns, visto que valoriza o local em que se trabalha e não às atividades desenvolvidas como normalmente o é. Na perspectiva da entrevistada não se pode abordar sobre o assunto sem antes compreender como Sistema Único de Saúde é estruturado, em: 1. Atenção primária (com Unidades Básicas de Saúde – UBS, próximo à moradia do indivíduo); 2. Atenção secundária (o indivíduo já se encontra em adoecimento e possui um acompanhamento); Atendimento terciário (o sujeito necessita de internação) e; 4. Atendimento quaternário (pacientes crônicos, que farão o processo de transplante e etc.). Com essa definição ela buscou demonstrar que não é cabível comparar os conhecimentos de um psicólogo que trabalha no atendimento primário com um que trabalha no atendimento quaternário; tal como não se pode falar que não existe psicólogo hospitalar porque as definições circundam com os locais de trabalho de cada profissional. Portanto, demonstra um posicionamento antagônico ao que os outros autores abordam à medida que assume como ponto principal o local de atuação, não vendo problemática na identidade como profissional do Psicólogo. Uma exemplificação pertinente para esse posicionamento foi de comparar o trabalho de um psicólogo clínico que atua no seu consultório com a de um psicólogo clínico que trabalha no ambiente hospitalar. O primeiro recebe um cliente/paciente que vai até ele andando, a realidade tratada advém apenas do que esse trás consigo. Já no segundo caso, é o psicólogo que vai até o paciente, consegue recolher dados para além do que o indivíduo coloca ao falar com os outros profissionais que estão atuando junto à equipe de saúde, podendo assim confrontar a realidade que o indivíduo aborda com as que os outros trazem. Dessa maneira, o fazer clínico hospitalar é mais dinâmico, em que ambos, profissional-paciente, estão inseridos no mesmo ambiente junto com familiares e demais profissionais. Ademais, diferente do consultório, o impacto promovido no hospital pelo profissional tem que ser sentido não só pelo paciente, mas pela Instituição, o que engloba a família do paciente, colegas de outras áreas, superiores e etc. Portanto, o psicólogo hospitalar é um funcionário que necessita saber fazer, entre outras funções: uma boa anamnese, observando a todo o momento a relação do paciente consigo, com o mundo ao seu redor e com o futuro; ser o mais resolutivo possível no menor espaço de tempo, visto que o paciente pode receber alta a qualquer instante ou ter outros tipos de agravamento; deve saber lidar com os imprevistos do hospital, visto que os pacientes não têm data certinha para chegar, o que leva a pensar que para os que não gostam de monotonia é um ótimo lugar para se trabalhar – bem Grey’s Anatomy; e ter uma boa inter-relação com a equipe que trabalha, muitas vezes multiprofissional, para poder conseguir desenvolver o trabalho de forma mais dinâmica e facilidade. Em seguida, ela mostra a profundidade em que se encontra trabalhar na Psicologia Hospitalar, é preciso lidar com as problemáticas trazidas, saber os procedimentos realizados pelas outras áreas, e ter que lidar com questionamentos bioéticos que nos perseguem desde nossa origem, tais quais: Ressuscitar a que preço? Qual opinião se tem sobre eutanásia? Posso abraçar um familiar que acabou de perder um ente querido? Quais os limites e como isso afeta o profissional como ser-no-mundo que têm limitações? A respeito de qual abordagem é recomendada para atuar nessa área é preciso entendero que a Instituição Hospitalar busca. Para Romero ela quer: ótima qualificação profissional, em que o mesmo tenha domínio da linha teórica que segue; ter domínio dos instrumentos que utiliza na sua prática; que contribua para a melhora ao seu redor, sendo objetivo e resolutivo nas demandas que surgirem. Por isso, ela concluiu que qualquer abordagem teórica pode ser desenvolvida nessa área se seguir esses critérios objetivos em que os resultados não se darão de forma polarizada – melhores ou piores -, mas sim, em resultados pragmáticos. Esses resultados pragmáticos são definidos como o produto entre: identificar exatamente a atuação; trabalhar com uma proposta que deve ser mensurada antes e depois da atuação do psicólogo hospitalar; e aperfeiçoar o atendimento com foco e contribuição efetiva. Feita a pergunta: “Como ingressar na Psicologia Hospitalar?”, Romero afirma que é necessário se especializar, fazer residência, e mesmo após conseguir emprego na área permanecer se aprimorando. E que o “pulo do gato” se faz buscando cursos que levarão a prática. Ela fala da importância de ter a prática à medida que o trabalho hospitalar envolve majoritariamente exatamente isso, prática. Não fazendo sentido, por exemplo, um profissional terminar a graduação e ir para uma especialização que não envolve esse contato direto com pacientes. Junto a isso, é de suma importância ter um supervisor que esteja presente nessa atuação para poder realmente haver um desenvolvimento de fato entre teoria e prática. Na pergunta “Como o Psicólogo faz a avaliação de transplante?”, pergunta bem específica por sinal, Romano fala da importância de conhecer todos os procedimentos que os pacientes precisam enfrentar nesse processo, ou seja, o que ocorre antes, durante e depois do transplante. Junto a isso, é de suma importância não ser deixado de lado às nuances características em cada tipo de transplante, sendo fundamental para um trabalho efetivo. Nesse contexto, foram relatados alguns apontamentos que facilmente podem ser experenciadas na atuação, e por isso merecem ser descritos: é necessário que o psicólogo hospitalar perceba que pacientes que fizeram transplante de coração sentem sentimentos antagônicos como culpa e felicidade, principalmente culpa, culpa por ter sido preciso outra pessoa falecer para poder viver, e felicidade justamente por estar vivo; “Como manejar um caso no qual se depara com um familiar que se recusa doar um dos rins para o seu familiar e que é seu paciente?”; “De que maneira os medicamentos atuam no corpo e podem afetar a autoestima do paciente?”. Ou ainda, “Como o transplante afeta um paciente com distúrbio psiquiátrico?”. As relações trabalhistas estão cada vez mais dinâmicas e a tendência é continuar no que se encontra hoje, o contrato não se faz com o funcionário, contratam-se empresas que prestam serviços terceirizados. Contratam-se profissionais que possuem CNPJ, o que leva a um tratamento totalmente diferenciado quando comparado a uma pessoa física. Por fim, na última pergunta realizada, a de como conciliar a carreira pessoal e profissional (atualização, reciclagem, discutindo com colegas e etc.), Romero fala que é subjetivo, dependendo de como cada um se comporta nas instituições, quais papeis fora dela possui como no caso das mulheres que culturalmente costumam ter mais encargos que homens, cuidando da casa dos filhos, do trabalho, e dificultando assim, de conseguir se dedicar com afinco a vida profissional como ocorre com os homens. REFERÊNCIAS CASTRO, E.K.; BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia Ciência e Profissão, v. 24, n. 3, p. 48-57, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000300007&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 12 de set. de 2021. FALA PRA PSICO. Psicologia Hospitalar – Profª Drª Bellkiss Romano. Youtube. Disponpivel em: https://www.youtube.com/watch?v=Cw5U-c-SEYc. Acesso em 10 de set. de 2021. HOLANDA, A.F. Reflexões sobre o campo das psicoterapias: do esquecimento aos desafios contemporâneos. In: HOLANDA, A.F. Campo das Psicoterapias: Reflexões Atuais. Juruá Editora, 2012, p. 71-99.