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Prévia do material em texto

SEGURANÇA PÚBLICA
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Me. Iverson Kech Ferreira
Indaial - 2021
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
F383s
 Ferreira, Iverson Kech
 Segurança pública. / Iverson Kech Ferreira. – Indaial: UNIAS-
SELVI, 2021.
 165 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-299-8
 ISBN Digital 978-65-5646-298-1
1. Segurança pública. - Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
CDD 341.37
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA
E PARADIGMAS ..............................................................................7
CAPÍTULO 2
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA ....................................59
CAPÍTULO 3
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA
DA SEGURANÇA PÚBLICA .........................................................109
APRESENTAÇÃO
Diariamente, o tema segurança pública está em pauta na imprensa nacional, 
por motivos que demonstram tanto sua importância quanto suas mazelas e 
dificuldades de acompanhar o exponencial crescimento dos grandes centros 
urbanos, com as enormes distâncias que separam e dividem o quinto maior país 
do mundo em extensão. 
Diante dessas situações que envolvem dimensões distintas, a segurança 
pública possui a árdua tarefa de estar em todos os lugares, tanto na ostensiva 
participação da vida social quanto em investigações diversas. É com essa 
imensa responsabilidade que iniciamos o estudo referente às diversas relações 
da segurança com a sociedade, com a democracia e com o bem-estar social. 
Entretanto, muitos são os desafios para se fazer uma política de segurança 
que consiga atender a todos os anseios e repreender todas as afrontas contrárias 
ao bem-estar geral. É nesse sentido que as discussões sobre o tema aumentaram 
consideravelmente nos últimos anos, evidenciando a importância de profissionais 
que entendam e discutam a segurança pública a partir de novas ferramentas, 
fontes de uma interpretação atual e responsável das políticas a serem aplicadas 
para uma exitosa campanha em benefício da defesa de todos. 
Problemas relacionados ao aumento exponencial da taxa de criminalidade, 
a ineficiência do sistema preventivo de proteção, a violência policial, a corrupção 
generalizada crescente nos órgãos públicos, a superlotação carcerária, o 
sucateamento das instituições e a falta de investimentos em novas tecnologias 
acarretam enormes impasses para o fortalecimento da organização democrática 
no país, sobretudo, quando se trata da dualidade segurança/sociedade. A 
discussão acerca da segurança pública deve ser respaldada por um Estado 
capaz de gerenciar as políticas públicas de segurança estimulando a atuação da 
sociedade civil.
Com a extensão dos temas agravantes de segurança, há a necessidade 
de qualificar o debate a partir da inclusão de novos personagens e atores que 
possam distinguir, pela vivência prática, os novos paradigmas e possibilidades 
para as modernas políticas públicas. A partir daí, a necessidade de se entender 
a problemática da segurança pública só é possível através do entendimento de 
que ela não deve estar restrita somente ao direito e às instituições de justiça, mas 
passa pelo fortalecimento da competência do Estado na retomada das ações, 
bem como na ampliação do debate de uma parceria entre as instituições públicas 
e a sociedade ao redor na busca pela qualidade de vida.
CAPÍTULO 1
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL:
HISTÓRIA E PARADIGMAS
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Conhecer, por intermédio da História, o nascimento da segurança pública no 
Brasil, considerando os seus diversos padrões e referencias legais.
• Analisar o surgimento dos sistemas policiais no País.
• Apresentar as diversas normas formais que originaram a legitimidade do 
monopólio da segurança pública pelo Estado. 
• Identifi car nos ditames constitucionais a interpretação magna da segurança 
pública atual.
• Apresentar os diversos padrões de segurança pública.
• Interpretar a origem do monopólio Estatal da segurança do cidadão, respaldado 
pela legalidade temporal até os dias hodiernos. 
Articular os diferentes paradigmas frente aos problemas e situações sociais 
enfrentadas pela população brasileira.
Articular o pensamento crítico em prol da humanização da segurança pública, 
lastreado pela Constituição de 1988.
8
 SEGurANÇA PÚBLiCA
9
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O estudo da segurança pública está constantemente relacionado à evolução 
histórica e social de determinada coletividade, o que inclui a sua evolução e 
desenvolvimento, sempre em contínua transformação. Desde que as pessoas se 
uniram para a vida em coletivo em uma experiência de convivência que altera as 
percepções de coabitação, a harmonia entre os conviveres dessa sociedade deve 
se pautar por virtudes essenciais para a melhor sobrevivência do trato social. 
Ocorre que, historicamente, em todas as coletividades mundo afora, os problemas 
sociais enfrentados se pautam por variantes que não podem ser defi nidas por 
meros estudos estatísticos, mas pelas próprias raízes que estruturam essa 
sociedade (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 64).
Por esse motivo, a importância de se entender os primeiros passos, a 
segurança pública no Brasil se consolida com o ideal primordial de conhecer as 
bases que alicerçaram o sistema vigente e como este pode ser melhorado diante 
das imensas difi culdades e diferenças, tanto territoriais quanto culturais que 
envolvem o Brasil. 
Numa visão geral, neste capítulo, devemos viajar até as Ordenações Filipinas, 
entendendo os primeiros passos da polícia no país e como a Constituição do 
Império foi capaz de moldar, naquela época, a essência do Exército e da Guarda 
Nacional. Com o passar dos anos e a evolução social brasileira, principalmente 
decorrente dos grandes centros urbanos em constante expansão, as mudanças 
na maneira que a segurança pública é percebida pelos cidadãos e pelo Estado 
são moldadas pela transição de determinados padrões e modelos de se enxergar 
a proteção estatal. Determinados paradigmas e referencias surgem para indicar 
as mudanças e quais os próximos passos que a política de segurança deve tomar 
para buscar um melhor e mais efetivo resultado. 
Entender a genealogia das instituições de segurança pública signifi ca 
reescrever o próprio conhecimento, infl ar-se de informações que podem vir a ser 
diferenciais no momento de compreender para onde estamos indo e realizar a 
crítica se o caminho a ser tomado é o mais correto. Somente pela história podemos 
interpretar os caminhos da passeidade e refl etir seus erros e discórdias, para que, 
quando oportuno e preciso, possamos nos posicionar diante das mudanças, das 
difi culdades e, até mesmo, nas tomadas de decisões tão importantes para a vida 
em coletivo. 
10
 SEGurANÇA PÚBLiCA
2 HISTÓRIA DA SEGURANÇA 
PÚBLICA NO BRASIL
Prezado aluno! Faremos uma breve análise do essencial desenvolvimento 
histórico da segurança pública em nosso país. Observaremos que a criação 
das polícias não atentava para a interpretação que hoje temos doque signifi ca 
segurança de todos, mas pautada somente na proteção dos grandes latifúndios, 
lutando contra invasões e protegendo as capitanias hereditárias que estavam em 
formação. O conceito polícia tomou uma semelhança ao que hoje conhecemos 
somente a partir da Independência do Brasil e com as Constituições Republicanas 
que foram escritas, com grande ênfase para a Constituição da República de 1988. 
Ainda assim, você verá que a real importância desse setor, tão ativo em nossa 
sociedade, era mitigada e atenta apenas ao poderio dos mais ricos e infl uentes 
do Estado.
Para a época do descobrimento, o décimo quinto rei de Portugal, D. João III, 
teve a incumbência de manter a colonização e proteger o reino recém-descoberto 
na América Latina. Lembre-se de que Portugal era uma potência militar marítima e 
seu império se estendia pelo Oriente, África e Américas. Em 1530, estabeleceu a 
ocupação do litoral brasileiro, autorizando Martin Afonso de Souza, capitão-mor e 
governador das terras do Brasil, a outorgar sesmarias para a agricultura na então 
Vila de São Vicente, criando uma das mais importantes capitanias do território 
brasileiro (HERMANN, 2000, p. 76).
Você se lembra das sesmarias e das capitanias hereditárias? 
Pois bem, as sesmarias eram terras pertencentes ao governo de 
Portugal, divididas aos que poderiam cultivar a agricultura, teve seu 
início em 1530 até 1822. Sesmaria signifi ca dividir, sesmar, fracionar. 
Daí a origem das capitanias hereditárias, divididas em 14 grandes 
lotes de terra e doadas aos importantes fi gurões da Corte, para 
que as protegessem contra os invasores inimigos e cultivassem as 
riquezas do solo.
Com a divisão das terras para pessoas infl uentes na Corte Portuguesa, muitas 
foram as etnias indígenas absorvidas pelos novos donos de territórios, bem como 
inúmeras as normas criadas para a proteção tantos dos bens quanto das pessoas 
que faziam parte de uma sesmaria. Com diferentes tipos de pessoas, como 
11
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
índios, escravos (o primeiro navio escravo chegou ao Brasil em 1535) e nobres, 
um código de leis e normas deveria ser seguido para a busca da segurança de 
todos. Ficou combinado junto a D. João III, que cada dirigente possuidor de terras 
fi caria responsável pela segurança dos seus, facilitando a compra de armas para 
a proteção. Assim, cada donatário de cada capitania organizava a sua defesa e a 
proteção do território por suas próprias forças. 
Nessa época, era comum a distribuição e trocas de armas de fogo e munição 
entre os donos de sesmarias. Assim, a administração pública não apenas sugeria, 
mas também dirigia um amplo domínio dos grandes donos de terras nas vidas e 
nas sociedades que se formavam a partir das capitanias. Note que, no início, a 
segurança de todos e o seu sistema vigente era, acima de tudo, privado, uma vez 
que não havia a participação do Estado. Havia então uma descentralização da 
responsabilidade estatal, que transferia aos particulares seus afazeres no sentido 
da segurança. 
Imagine a situação cuja segurança pública seja controlada, 
organizada e gerenciada pelos particulares, proprietários de grandes 
porções de terra, como na época das sesmarias. Daí, podemos 
lembrar as grandes obras escritas por Graciliano Ramos (Grande 
sertão veredas, de 1956) e de João Cabral de Melo Neto (Morte e 
vida severina, de 1955), em que, quem comanda tudo e todos são 
os grandes latifundiários, conhecidos como “Coronéis”. Foi o que 
aconteceu naquele período e que, curiosamente, vinha acontecendo 
até bem pouco tempo, como relatam os escritores das modernas 
obras citadas anteriormente. Há uma imortal passagem em Morte e 
vida severina, cujo personagem principal se depara com um cortejo 
de um defunto, que soube ter sido assassinado por um grande 
proprietário de terras que desejava as posses do moribundo, para, 
assim, ter mais terras para plantar (MELO NETO, 2000, p. 64). 
Existe, então, a desforra e a justiça com as próprias mãos, em que os 
fi ns são justifi cados pelos meios na falta de um controle do Estado. É 
possível, ainda, termos, nos dias de hoje, resquícios desse sistema 
patriarcal e colonial de controle das resoluções políticas acerca das 
tomadas de decisões que envolvam a Segurança Pública?
FONTE: MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina. 4. ed. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
12
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Entretanto, foi com as Ordenações Filipinas e seu texto legal que as normas 
para a proteção, prisão e segurança começaram a ter um rumo, levando o Brasil 
Colônia a aderir às normas que já se faziam presentes na Europa.
2.1 BRASIL COLÔNIA E AS 
ORDENAÇÕES FILIPINAS
 
As forças que regiam a Europa do período da colonização do Brasil 
infl uenciaram os primeiros passos das normas e leis que passaram a vigorar 
em território latino-americano. As Ordenações Filipinas, em seu Livro V, são de 
grande valia aos nossos estudos, pois regulamenta o Direito Penal da época. 
Vemos, então, que com intuito de unir os aparatos legais, tanto portugueses 
quanto os de seus súditos no além-mar, o Rei de Portugal, Filipe I, em 1603, 
promulgou as Ordenações. Suas leis e normas, sejam penais ou civis, seguiam 
os costumes da época. Como o império vigorava em Portugal e em muitos outros 
países europeus, é natural o monarca instituir sua infl uência para instrumentalizar 
sua ação política e suas vontades por intermédio legal. Da mesma forma, lembre-
se de que havia outro poder, além do monarca e que contribuiu, com a escrita das 
Ordenações, a Igreja Católica. 
É correto dizer que as Ordenações Filipinas marcaram a história do 
nosso Direito Penal, asseverando as disposições dos preceitos medievais que 
suportavam a tirania dos monarcas e da igreja numa época em que os direitos 
humanos inexistiam e o próprio homem poderia ser considerado sem nenhum 
direito devido a sua posição ou etnia (PEREIRA, 1980 apud SOUZA, 1872, p. 80).
Para entender melhor a abrangência sinistra das Ordenações 
Filipinas, que apregoava o poder do monarca e da igreja em primeiro 
lugar, contra tudo e contra todos, Pereira (1980 apud SOUZA, 1872, 
p. 94) trouxe sua infl uente interpretação: 
[...] eram espelhos onde se refl etiva, com inteira 
fi delidade, a dureza das codifi cações contemporâneas, 
era misto de despotismo e de beatice, uma legislação 
híbrida e feroz, inspiradas em falsas ideias religiosas 
e políticas, que invadindo as fronteiras da jurisdição 
divina, confundia o crime com o pecado, absorvia o 
indivíduo no Estado fazendo dele um instrumento. Na 
previsão de conter o mau pelo terror, a lei não media a 
13
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
pena pela gravidade da culpa; na graduação do castigo, 
obedecia, só, o critério da utilidade.
FONTE: SOUZA, B. H. de. Lições de direito criminal. 2. ed. Recife: 
Livraria Econômica de José Nogueira de Souza: 1872.
Isso trouxe uma infl uência signifi cativa para o direito da época, quando 
o dever de punir externalizava ditames que não poderiam ser julgados ou 
observados pelas provas legais, mas sim pela fé e pelas normas tratadas por 
tribunais eclesiásticos numa mistura entre pecados e crimes. Isso confi rma que a 
real motivação das Ordenações seria a manutenção do poder, tanto do soberano 
quanto da igreja, na conservação da ordem social e da escravidão. Perceba que 
esse período pós-medieval ainda é arraigado pela violência, tão característica 
daquela época. No Brasil que se colonizava, com seus personagens tidos como 
selvagens pela Coroa, somente a violência poderia pacifi car os corpos 
daqueles que poderiam se rebelar.
Essa foi uma marca da segurança pública daqueles dias, a caça e 
a destruição do mal e do bandido, seja ele quem for, que incomode as 
pretensões da Coroa ou as propensões dos grandes proprietários de terra. 
O grande número de escravos e uma possível revolta, os desajustados 
sociais que se faziam presentes,precisavam de uma repressão por parte 
do poder legal. Ocorre que a segurança pública passou a ser mais um 
instrumento de viabilização dos poderes institucionalizados, bem como de 
manutenção das coisas como elas estavam. 
Ocorre que a 
segurança pública 
passou a ser mais 
um instrumento 
de viabilização 
dos poderes 
institucionalizados, 
bem como de 
manutenção das 
coisas como elas 
estavam.
O medo na cidade do Rio de Janeiro, escrito por Vera Malaguti 
Batista, explica como o medo pode ser o carro-chefe para a caça e 
esteriotipação de atores no trato social. Com intuito de demonstrar 
como a revolta dos escravos Malês na Bahia, em 1835, conseguiu 
unir todo o aparato do sistema de segurança contra todos os 
escravos e como esse medo perdurou até os dias da modernidade, 
trazendo um mal-estar na sociedade carioca. A infl uência do medo 
do outro pode contagiar órgãos de repressão e controle do Estado 
contra qualquer pessoa/cidadão que possua o estereótipo a ser 
considerado causador desse medo.
FONTE: BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro. Rio 
de Janeiro: Editora Revan, 2014.
14
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Nesse contexto, as polícias não eram profi ssionais, mas cidadãos escolhidos 
por determinados períodos para garantir a segurança. Estabelecida pelo Livro I 
das Ordenações, os inquéritos ou as investigações criminais eram conduzidas por 
juízes de fora que eram nomeados pelo próprio rei. Na falta dessa ordenação, 
os juízes poderiam ser eleitos pelos próprios moradores locais, e isso somente 
viria a mudar com a promulgação do Código Criminal de 1830, sob a égide da 
Constituição do Império.
Todavia, os primeiros passos da polícia no Brasil são destacados no Período 
Imperial e, como vimos, seguem uma tendência escravocrata, autoritária e 
continuamente interligados às forças da igreja. 
2.2 OS PRIMEIROS PASSOS DA 
POLÍCIA
Você sabia que a origem da palavra polícia é grega? Politeia! Com o passar 
do tempo, passou ao latim como politia, mas sem alterar o sentido da palavra, 
entretanto, assumindo a interpretação de proteção da segurança pública por 
intermédio do governo. Note que, desde 1500, no Brasil, já havia uma organização 
criada por D. João III, quando estabeleceu as capitanias hereditárias. Os relatos 
podem ser comprovados a partir de 1530 (HERMANN, 2000, p. 85). Veja também 
que as primeiras polícias no país foram criadas antes mesmo da Independência. 
Os documentos guardados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e datados 
de 1530 indicam que, com a chegada de Martin Afonso de Souza (1530-1532), 
primeiro governador e colonizador do Brasil, criou-se a primeira guarda militar, 
no início do século XVI (FAORO, 1997). Entretanto, alguns estudiosos entendem 
que não se caracterizava a função policial naquele corpo militar, pois não havia a 
pretensão de segurança a toda a comunidade, atividade exemplar e característica 
da polícia. 
Somente com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, é que se intentou 
repetir aqui as instituições que já existiam no país português, objetivando a 
característica da atividade policial. 
A partir desse ponto, foi criada a primeira Intendência Geral da Polícia 
da Corte e do Estado do Brasil, situada no Rio de Janeiro. A função a ser 
desempenhada por esses policiais tinha a missão de estabelecer e fi scalizar as 
punições, bem como diversos serviços urbanos da cidade, entre eles a iluminação 
pública e o abastecimento de água. O intendente geral era o desembargador que 
atuava com poderes de juiz, julgando pessoas que eram acusadas por pequenos 
delitos, atuando, assim, como Polícia Judiciária. 
15
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
Polícia Judiciária – Trata-se da polícia investigativa que realiza 
atos do inquérito criminal, como diligências de investigação, tomada 
de testemunhos etc. Enquanto a Polícia Militar tem a função ostensiva 
e a preservação da Ordem Pública (A rt. 144 da Constituição de 1988, 
§ 5º), as polícias federal e civil possuem a incumbência de polícia 
investigativa da União e dos Estados, respectivamente (Art. 144 da 
Constituição de 1988, § 1 º, I e 144, § 4º da CF de 1988). Voltaremos 
a esses assuntos em breve!
FONTE: BRASIL. Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 3 jun. 2021.
A Intendência Geral de Polícia da Corte deu origem ao que se conhece como 
Polícia Civil hoje em dia ou Polícia Judiciária. Veremos mais sobre a sua atuação 
e sua previsão legal nas próximas páginas, no decorrer de nossos estudos. 
Nessa época, a chefi a da intendência era desempenhada por um desembargador, 
chamado de Intendente Geral de Polícia. A ele era dada a possibilidade de escolher 
pessoas para que representem o seu poder nas províncias distantes umas das 
outras. Esse escolhido fi cou conhecido como delegado e exercia as funções de 
autoridade policial, seja investigativa, administrativa ou judicial (ZACCARIOTTO, 
2005).
Foi somente em 1841, com a Lei nº 261, que iniciou a previsão pelo 
ordenamento pátrio das atribuições policiais, incluindo, de forma ofi cial, o cargo 
de delegado de polícia. 
Ao continuarmos nossa viagem pela história, deparamo-nos com a criação de 
outra importante instituição, que viria a ser a origem da Polícia Militar no país. Vale 
destacar para nossos estudos que, em 1809, foi criada e organizada de forma 
militar, a Guarda Real de Polícia, que tinha amplos poderes para a manutenção 
da ordem. Essa guarda respondia diretamente ao intendente geral de polícia 
ou, como vimos, o desembargador. Essa fase ainda estava sobre o domínio das 
Ordenações Filipinas, ou seja, todo o direito penal, bem como seu processo, ainda 
amargava os ditames autoritários de tal preceito de normas.
Ocorre que, em 17 de julho de 1831, a Guarda Real foi extinta, 20 anos 
depois de sua criação, para o seu lugar, foi criado o Corpo de Guardas Municipais, 
logo após o término de seus trabalhos. Alguns de seus soldados se juntaram ao 
16
 SEGurANÇA PÚBLiCA
exército criado em 1648, formado para travar batalhas locais contra invasores 
e índios. Foi com a Independência do Brasil que começa a ganhar corpo a 
Constituição do Império, e, a partir dela, algumas infl uências que vemos até os 
dias de hoje perduram.
A Guarda Real Militar de Polícia foi criada em maio de 1809 
com intuito de auxiliar o Intendente Geral de Polícia da Corte e 
Estado do Brasil. Ficou sendo responsável, também, por diversas 
atividades, desde atribuições relacionadas diretamente à segurança 
pública, bem como outras não tão interligadas à segurança, como o 
embelezamento da cidade, salubridade e a urbanização. Sua principal 
função era a manutenção da ordem e o patrulhamento ostensivo em 
determinadas áreas da cidade do Rio de Janeiro, sede do Império 
(CABRAL, 2011). Extinta em julho de 1831, foi substituída pelo Corpo 
de Guardas Municipais. A extinção da Guarda Real se deu devido a 
uma importante rebelião ocorrida logo após a abdicação de D. Pedro 
I ao trono, em abril de 1831, quando a guarda reivindicava, de forma 
veemente, o fi m dos castigos físicos aplicados nas forças armadas.
FONTE: CABRAL, D. Intendente/Intendência de Polícia da Corte e do 
Estado do Brasil. In: Dicionário on-line da administração pública 
brasileira do Período Colonial (1500-1822). 2011. Disponível em: 
https://goo.gl/JiygwJ. Acesso em: 9 jun. 2021.
2.3 A CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO, 
A ORIGEM DO EXÉRCITO E DA 
GUARDA NACIONAL
A Independência do Brasil, em setembro de 1822, estabeleceu o novo status 
para o reino, que deixaria de ser colônia de Portugal, mas seria reconhecido como 
Reino Integrante e Soberano. Entretanto, ainda mantinha o sistema da Monarquia 
em sua confi guração política mais importante. Acontece que, logo após Dom 
Pedro I imortalizar o Dia do Fico, o país teria que demonstrar os novos caminhos a 
serem seguidos em busca de sua hegemonia. Assim, uma novaCarta de Direitos 
foi estabelecida: A Constituição do Império do Brasil.
17
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
Em 25 de março de 1824, Dom Pedro I outorgou a Constituição Brasileira 
do Império, confi rmando-se imperador. Como você sabe, essa foi a primeira 
Carta Magna nacional, que garantia autonomia às províncias, criava os poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como um poder moderador, exercido 
pelo próprio imperador. Veja que é a partir dessas divisões que se começa a 
esquematizar a Constituição atual. Um importante passo para a época foi a 
criação do Código Criminal de 1830, que veio a substituir o defasado Livro V das 
Ordenações Filipinas, uma vez que a Constituição determinou a organização de 
um Código Civil e Criminal, “fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade”, 
abolindo “os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as mais penas 
cruéis” (Art. 179, Parágrafos 18 e 19) (LARA, 1999, p. 38).
Foi a partir daí que as normas passaram a dispor de uma organização política 
e administrativa, com o intuito de instruir todo o poder das leis por intermédio de 
uma Constituição única e, exclusivamente, nacional. Por certo, você lembra do 
que conversamos algumas páginas atrás, a respeito dos grandes latifundiários e 
sua proteção pela lei devido ao seu poder e riqueza. Isso, entretanto, continuou. 
Ficou conhecida como uma Constituição que prezava pelos mais abastados, tanto 
que, somente teriam direito ao voto, homens livres e com uma renda anual de 
mais de 100 mil réis (voto censitário). Da mesma forma, para participação política 
em uma eleição como candidato, essa soma subia para 200 mil réis a 400 mil 
réis, dependendo o cargo que se iria concorrer. Da mesma forma, para fazer parte 
da Guarda Real, somente cidadãos com renda mínima seriam escolhidos. Esse 
tipo de divisão acentuava cada vez mais as desigualdades sociais que já existiam 
naquela época no país, e, quanto maior o desequilíbrio, maiores são os problemas 
para a segurança pública.
Como sabemos, o exército existe desde 1648, para a proteção da Colônia, 
principalmente contra invasores estrangeiros. A Guarda Nacional, criada sob 
a égide da Nova Constituição, tratava-se de uma organização paramilitar 
independente do exército, que possuía a importante atribuição de defender a 
Constituição e a integridade do Império, bem como na manutenção da ordem 
interna. A importância da criação da Guarda Nacional para a história do país é 
simbólica, pois, é a partir dela que surge o personagem do coronelismo. Sua 
criação veio com intuito de aumentar a autonomia das províncias dentro do 
país e, dessa forma, contrabalançar a força do exército, que tinha suas próprias 
convicções políticas e de vontades.
Assim, note que o Imperador Dom Pedro I cercava-se de uma força que não 
poderia ser considerada milícia, uma vez que possuía seu aparato legal para 
travar suas batalhas se preciso fosse. Essa Guarda Nacional de Elite, como fi cou 
conhecida, era formada por civis e distribuída aos grandes proprietários de cada 
região. Cada grande latifundiário poderia alcançar o cargo máximo de coronel, por 
18
 SEGurANÇA PÚBLiCA
isso, o fenômeno do coronelismo, prática que tanto infl uenciou a política brasileira 
e os seus famosos autores de livros e grandes histórias, como a indicada logo a 
seguir!
Escrito por João Guimarães Rosa em 1946, o livro é Sagarana.
Sagarana é uma obra dividida em nove contos, mas a 
desventura de Nhô Matraga é a que mais chama a atenção, em 
uma luta contra o Coronel Joãozinho Bem Bem e tudo o que seu 
poderio representava. O conto em questão é intitulado A hora e a 
vez de Augusto Matraga, (lançado no cinema em 1966 pelo diretor 
Roberto Santos e regravado, em 2012, por Vinícius Coimbra), trata 
de um mundo cercado por jagunços, cangaceiros, vaqueiros e 
coronéis do mato. Nesse universo real do sertão esquecido, mas 
latente do Nordeste e Centro Oeste do Brasil, a ordem é a valentia 
e a bravura em desafi ar o sol a pino todos os dias das semanas e 
de manter-se vivo todas as horas do dia. Não se pode vacilar em 
lugar de leis criadas e mandadas pelos coronéis e fanfarrões do lugar 
(FERREIRA, 2019, p. 142).
FONTE: FERREIRA, I. K. Crime, arte e literatura. Porto Alegre: Ed. 
Canal Ciências Criminais, 2019.
Percebeu a jogada de Dom Pedro I com a criação da Guarda Nacional? Não 
podendo confi ar no Exército, que possuía alguns desgarrados da infl uência do 
imperador e até contrários a ele, uniu forças aos fi éis súditos da Coroa, aqueles 
que receberam as terras do Império, tempos atrás. As capitanias hereditárias, 
mesmo após sua extinção, ainda geravam frutos ao imperador. Adeptos da 
Monarquia que os havia enriquecido, era comum os coronéis da Guarda Nacional 
fazer uso da força, para a defesa do sistema. 
Imagine só a situação! O governante não deveria utilizar da 
força de proteção nacional, de segurança pública, para garantir os 
seus desejos e vontades, ou deveria? Em Utopia, livro publicado em 
1516, Thomas Morus indicava uma sociedade igualitária e tolerante, 
19
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
iluminada pelas luzes do conhecimento e das liberdades, governada 
pela razão, rechaçando qualquer possibilidade de absolutismo. 
FONTE: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/utopia.pdf>. Acesso 
em: 9 jun. 2021.
A Guarda Nacional foi extinta em 1922 pelo presidente Artur Bernardes, após 
a Proclamação da República.
2.4 AS CONSTITUIÇÕES 
REPUBLICANAS
Prezado aluno! Nessa última parte histórica de nossos estudos acerca da 
segurança pública no Brasil, vamos nos debruçar sobre as Constituições que o 
país teve ao longo de sua história.
Como já visto, a Constituição de 1824 teve um importante papel para a 
história da segurança pública, uma vez que ordenava determinados padrões para 
a ascensão social, para ocupar cargos políticos e, principalmente, pertencentes 
à segurança da nação. Entretanto, como tratava-se de uma Carta Imperialista, 
apesar de abrir possibilidades como a divisão dos poderes e o direito ao voto, 
ainda que censitário, sua função primordial era a manutenção do Império. Foi 
a constituição que maior vigência teve, durando 66 anos. Esse período fi cou 
conhecido como Período Imperial, que teve seu término com a Proclamação da 
República em 15 de novembro de 1889. Dentre os períodos perpassados pela 
Monarquia brasileira (Brasil Império entre 1822-1889, Período Regencial 1831-
1840 e Segundo Reinado 1840-1889), a instituição das Forças Armadas perdura 
até os dias atuais, com mudanças pontuais.
Cerca de 4,8 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil como 
escravos entre 1550 e 1888, quando se deu o fi m da escravidão no 
país (ALENCASTRO, 2018). Ao serem libertos, não foram conferidos 
direitos, nenhuma medida de suporte ao liberto foi realizada pelo 
governo, sendo jogados ao meio de uma sociedade patriarcal, 
dominada por elites e que teria que conviver com os diferentes. A 
20
 SEGurANÇA PÚBLiCA
forma de coexistência escolhida foi o preconceito, a estigmatização, 
segregação e violência contra os alforriados. Sofrendo com a falta 
de oportunidades e acesso ao estudo ou à saúde, essa violação de 
direitos e anulação do povo africano seguiu seu curso e, infelizmente, 
pode ser vista até os dias de hoje. Negros, pobres e indígenas (os 
índios que não foram massacrados na colonização/invasão sofrem 
estigmatização até hoje também), perfazem o objeto de marcação 
serrada das forças de repressão do Estado, historicamente. 
FONTE: ALENCASTRO, F. África, números do tráfi co atlântico. In: 
BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
Com a queda do sistema monárquico, a primeira Constituição do Brasil pós-
império nasceu em fevereiro de 1891, dois anos após a Proclamação da República 
pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Essa constituição foi infl uenciada pelo 
positivismo francês, portanto, defendia o federalismodo governo republicano. Isso 
retirava o poder moderador, dado a uma pessoa apenas, o imperador, e aprovava 
o Presidencialismo. 
A importância da mudança de ares foi sublime para a legalização, 
concretização e profi ssionalização das polícias no Brasil. Entre os anos de 1902 
a 1916 ocorreu uma reformulação organizacional na área da segurança pública e 
entre seus agentes. Após a constituição e a federalização, os Estados passaram 
a ter maior autonomia, uma vez que abandonavam a alcunha de província. Isso 
fez com que pudessem organizar os seus efetivos, padronizando as polícias 
(COSTA, 1989 apud FERNANDES; COSTA, 1998, p. 315). A Polícia Militar, por 
exemplo, já teve a alcunha de Regimento de Segurança e Brigada Militar, sendo 
convencionada Polícia Militar apenas em 1946, com a Constituição do Estado 
Novo. 
Já a Constituição de 1934 fi cou conhecida pelos primeiros anos da Era 
Getulista, vigorando até 1937, mas trouxe algumas peculiaridades e direitos, 
como o direito ao voto para as mulheres, de caráter obrigatório a partir dos 18 
anos, trazendo como pauta questões trabalhistas como o salário-mínimo e a 
jornada mínima de trabalho, férias remuneradas e o repouso semanal. Toda essa 
mudança na estrutura mexia com a segurança pública, que se transformava com 
o passar dos tempos, precisando evoluir junto às leis que eram criadas. 
Notou que a República e o Presidencialismo passavam por essas 
Constituições que acabamos de ver? Observe agora que a próxima Carta Magna 
do Brasil trouxe a Ditadura, mudando tudo o que estava sendo organizado e, com 
21
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
isso, a maneira de agir e de pensar a segurança pública. Em novembro de 1937, a 
nova Constituição fundava a Ditadura, dissolvendo o Congresso Nacional, Getúlio 
Vargas apresentava uma carta de direitos de cunho autoritário e centralizador, 
suprimindo partidos políticos e concentrando todo o poder nas mãos do mandatário 
do país, o presidente. O Estado Novo durou até a Constituição de 1946.
Com a deposição de Getúlio Vargas, seu antigo ministro de guerra e 
agora presidente, Eurico Gaspar Dutra, retomava a possibilidade de uma 
redemocratização no país. O importante da Carta Magna de 1946 foi o 
estabelecer das atribuições, bem como a independência dos três poderes: 
Executivo, Legislativo e Judiciário. De cunho presidencialista, retornava os direitos 
trabalhistas de greve e acabava com a possibilidade da pena de morte, restaurada 
pela Constituição anterior. Reforçava alguns direitos do cidadão, principalmente 
os direitos de liberdade e os direitos do voto. Novamente, alterava-se a maneira 
de pensar e estruturar a segurança pública, agora retornando aos ares de uma 
democracia.
Como você já deve ter notado, isso durou pouco. Com o golpe militar de 
1964, que depôs o Presidente da República João Goulart, foi escrita e promulgada 
a sexta Constituição que tivemos no país. Veja que essa tratava-se de uma carta 
de direitos escrita exclusivamente pela censura militar, abdicando os direitos 
coletivos e individuais mais prementes. O autoritarismo e a centralização política 
dos poderes (como na época da Monarquia, quando apenas a ele era dado o 
poder moderador, aqui seria apenas ao líder militar) trouxeram novamente a 
pena de morte, a caça aos inimigos políticos apelidados de inimigos da nação ou 
contrários ao governo que se formava, a limitação dos direitos trabalhistas, num 
retrocesso dos direitos já conquistados pelo cidadão através das cartas anteriores. 
O fechamento do Congresso Nacional, a censura dos meios de comunicação e 
a centralização do poder nas mãos dos militares, possuíam, segundo eles, uma 
importância extrema para o Brasil, que era a defesa do território contra os ataques 
dos inimigos, que seriam os opositores do governo e, assim, da Nação. Perceba 
que, mais uma vez, a segurança pública, em meio a todo esse redemoinho que 
se formava, teria que se reinventar aos mandos e desmandos de novos regimes e 
novas ordens que se formavam.
22
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Se você achou interessante o tema acerca do inimigo que 
deveria ser combatido pelas instituições do governo, como a polícia e 
o direito penal, sugerimos o livro O inimigo no Direito Penal.
Boa leitura!
FONTE: ZAFFARONI, E. R. O inimigo no Direito Penal. 3. ed. Rio 
de Janeiro: Revan, 2013.
Com a queda do Regime Militar, a Nova República chegava com a 
Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã. É certo que, com os 
últimos governos militares, já se acenava um período de redemocratização no país, 
reconhecido como abertura. Foi a partir desse processo que se começou a pensar 
em uma Carta de Direitos que estabelece os direitos da pessoa, as garantias 
individuais e novos direitos trabalhistas. Em outubro de 1988, foi promulgada 
a Constituição que temos até os dias de hoje, apresentando ao país uma nova 
realidade, democrática e inclusiva. Para isso, determinantes movimentos de ação 
da sociedade civil já se solidifi cavam e lutavam por uma ordem que elevasse 
os ideais de evolução social, contidos nos princípios iluminados pela liberdade 
e pelos ideais democráticos. Movimentos contrários ao militarismo e às ações 
ditatoriais tiveram extrema importância na garantia dos direitos fundamentais que 
foram acolhidos pela nova constituinte. 
Foi através dessa Carta Magna que as instituições passaram por uma 
permanente organização e a segurança pública teve, pela primeira vez, a real 
possibilidade de publicização, ou seja, seus atos e ordens se tornaram públicos, 
ordenados e planejados. 
Veja que o Art. 6º da Constituição já abriga a segurança pública como direito 
fundamental aos cidadãos e a sociedade: “São direitos sociais a educação, 
a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma 
desta Constituição” (SARLET, 2012, p. 66). O autor ainda afi rma que:
A acolhida dos direitos fundamentais sociais em capítulo 
próprio no catálogo dos direitos fundamentais, ressalta, por 
sua vez, de forma incontestável sua condição de autênticos 
direitos fundamentais, já que nas cartas anteriores os direitos 
sociais encontravam-se positivados no capítulo da ordem 
23
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
econômica e social, sendo-lhes, ao menos em princípio 
e ressalvadas algumas exceções, reconhecido caráter 
meramente programático (SARLET, 2012, p. 66).
Prezado aluno! Vimos, nesse primeiro momento, a importância 
dos acontecimentos históricos para a formação da cultura brasileira, 
e com esse conhecimento, podemos identifi car as raízes que 
estabeleceram a maneira de pensar, agir e de determinar a segurança 
pública no Brasil contemporâneo. 
Entendemos que o país, desde o momento de sua primeira 
colonização, teve um aspecto patriarcal e de dominação, interligados 
a um líder ou conquistador. Isso demonstra a rigidez e a obediência 
de determinadas instituições que são formadas historicamente. 
O Período Colonial foi uma época de violentos confl itos, e até meados da 
Nova República, com a Constituição de 1988, esses confl itos se avolumaram, 
intercambiando seus personagens vez ou outra. A segurança pública no Brasil 
perpassa todos os períodos na história, não como mera coadjuvante, mas como 
personagem essencial para a manutenção ou para a substituição entre um ou 
outro sistema. Você percebeu quantas vezes no decorrer da linha de tempo 
trazida aqui, nesse breve texto cronológico, os atores da segurança pública 
surgiram como subterfúgio para um ou outro governo ou administração? Sendo 
usada como estratagema para diversas vontades, inclusive, os desejos pessoais 
do imperador ou de algum premente golpe de Estado?
A segurança pública não existe para esse fi m. Como sua própria 
nomenclatura já sugestiona, serve para preservar e manter ordem e paz onde 
há caos e guerra. Com as Constituiçõessendo alteradas, algumas vezes em 
tom de vanguarda, outras de retrocesso, a necessidade era constante de uma 
legalização e ordenamento que fi zesse prevalecer os reais intuitos da instituição. 
A partir de 1988, com a Nova República e os princípios de uma norma geral que 
norteiam as entidades, regulamentando-as e, ao mesmo, apoiando-as, o sistema 
de segurança passou a fi car mais claro.
Para que isso ocorresse, você aprendeu que passamos por várias fases, 
desde a Monarquia, Republicanismo e Presidencialismo até a Ditadura. Isso acaba 
moldando a argamassa que constitui um povo e forma uma nação. Da mesma 
24
 SEGurANÇA PÚBLiCA
forma, as idiossincrasias se repetem dentro das instituições, replicando, em geral, 
o discurso do comando e dos detentores do poder, mesmo que seja um discurso 
de segregação e caça aos inimigos, como em épocas de Ditadura. Portanto, a 
maneira que se constitui uma nação, constitui também as suas instituições, como 
a segurança pública. Com o processo evolutivo da nossa sociedade e de suas 
normas, entendemos que o processo de profi ssionalização e normatização dos 
agentes e das organizações de segurança transformam não apenas o instituto 
em si, mas também todo o entendimento da sociedade sobre a sua importância 
e sobre os seus anseios em meio à vida social. Quebrar toda a rigidez desumana 
de sistemas monárquicos e ditatoriais, bem como dispor de normas que enfatizem 
a necessidade e a importância das instituições, signifi ca realocar o conceito da 
segurança pública elevando-a em prol da sociedade ao redor, que deve ter sua 
busca social pautada no respeito ao próximo e na promoção humana.
Muito bem! Finalizamos as Constituições Republicanas, bem como 
realizamos um breve estudo acerca daquilo que afeta a construção da identidade 
da nossa segurança pública, ajudando a entender como enxergamos a instituição 
atualmente. É sempre importante lembrar as palavras da historiadora Emília 
Viotti da Costa (2012, p. 1), que disse, certa vez: “Um povo sem memória é um 
povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente 
e no futuro, os mesmos erros do passado”. É com esse intuito de obtenção do 
conhecimento e sensibilidade para acertamos cada vez mais os passos futuros, 
observando erros e acertos do passado, que você deve ter notado a importância 
das normas que regiam, cada qual a seu tempo, a segurança pública. 
Ocorre que, como se trata de instituições que tem por fi nalidade a saudável 
convivência social, é comum a alteração de suas próprias perspectivas, ao passar 
dos tempos e da história. Isso acontece porque as mudanças de pensamento e 
atitudes são essenciais no ciclo evolutivo social, quando novas nuances, antes 
não imaginadas, por exemplo, a tecnologia e a globalização surgem como 
inovações que também se alteram constantemente, mudando a sociedade 
ao redor. No próximo subtópico, vamos entrar na discussão das mudanças de 
modelos e dos padrões que se alteram, mudando as perspectivas, tanto sociais 
quanto das próprias instituições que estamos estudando agora. 
3 PARADIGMAS DA SEGURANÇA 
PÚBLICA
Prezado aluno! Como conversamos no subtópico anterior, você viu que as 
mudanças ocorrem e são, na maioria das vezes, essenciais para o desenvolvimento 
tanto da sociedade quanto de suas próprias instituições. Imagine, você, se não 
25
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
tivéssemos alterações na maneira de pensar e nenhum desenvolvimento nos 
institutos políticos. Estaríamos, agora, conversando, muito provavelmente, a 
respeito do direito hierárquico do próximo monarca ou sobre a possibilidade da 
pena perpétua para aqueles que possuem o pensamento diferente do imperador. 
Por certo, a evolução nos trouxe uma maneira de passarmos pelos obstáculos de 
forma mais democrática. Isso condiz com a Constituição da República de 1988, 
considerada uma Carta Cidadã, devido aos direitos que observa como essenciais. 
Direitos de liberdade de expressão e de igualdade são prezados pela Carta Magna 
e essenciais para a busca da justiça. 
Como vimos, para chegarmos até esse ponto, as mudanças vieram de forma 
paulatina, devagar e se moldando com o passar dos tempos. Ainda assim, elas 
chegaram. Motivadas pela nova maneira de enxergar a sociedade e o trato social, 
pela nova ordem social pautada na globalização, seja econômica ou social, na 
tecnologia e em novos conhecimentos, tivemos que nos transformar para nossa 
sobrevivência. Assim também ocorreu com as instituições.
Um dos fi lmes mais envolventes sobre as mudanças de 
paradigmas e que consegue explicar bem as alterações dos padrões, 
é o famoso 2001, uma odisseia no espaço, com direção de Stanley 
Kubrik, baseado no livro homônimo de Arthur C. Clarke. A cena em 
que o primata reconhece um osso como arma, e não apenas mais 
como objeto inanimado, altera a sua percepção de poder sobre os 
outros, subjugando-os com sua nova descoberta. Isso também pode 
ser considerado uma mudança de paradigmas. 
FIGURA – FILME 2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO
FONTE: <HTTPS://F.I.UOL.COM.BR/
FOTOGRAFIA/2018/04/01/15225919375AC0E8C1BD73D_1522591937_3X2_
MD.JPG>. Acesso em: 3 jun. 2021.
26
 SEGurANÇA PÚBLiCA
“Uma mudança de paradigma signifi ca o dispensar das formas usuais 
que foram estimadas como uma verdade globalizada e o refazer dessas 
formas perante o novo ciclo que se apresenta à frente” (KUHN, 2006, p. 23). 
Então, podemos considerar que quando há uma crise na maneira de pensar e 
realizar determinados atos, deve haver uma alteração, uma transformação que 
chamamos mudança de paradigma. Vamos apresentar um exemplo da mudança 
de paradigma que hoje estamos acostumados: uma infl uente mudança de padrões 
surgiu da insustentável maneira a qual utilizávamos a natureza ao redor. Para 
atenuar essa crise, surgiu o sistema do desenvolvimento sustentável. Entretanto, 
nem sempre a mudança signifi ca que o paradigma anterior deixou de existir por 
completo, podendo ainda sobreviver resquícios de sua forma anterior mesmo no 
novo paradigma. Veja que em nosso exemplo as indústrias mais poluentes nunca 
deixaram de existir. Isso comprova que até mesmo na mudança dos padrões, 
costumes e idiossincrasias possuem o elo de conexão com o antigo, podendo 
infl uenciar tanto para o bem quanto para o mal o paradigma porvir. 
Mudança de paradigma – Termo criado por Thomas Kuhn, 
fi lósofo norte-americano que conceitua o paradigma de forma 
objetiva. Ele explica que “o conhecimento não se desenvolve de 
maneira uniforme e cumulativa, estabelece as situações difusas da 
existência, ou seja, a experiência humana pode transformar novos 
modelos para substituição e a entrada de novas regras” (KUHN, 
2006, p. 218).
Os três paradigmas que serão apresentados a você, a seguir, demonstram a 
maneira que se enxerga a segurança pública em seus determinados momentos 
de existência. Afi nal, qual a importância maior da defi nição do paradigma ou 
padrão? Os padrões, ou paradigmas, servem para determinar a agenda de uma 
política criminal e defi nir alternativas de políticas públicas contra a violência e o 
crescimento da criminalidade.
27
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
Política Criminal – É o “conjunto sistemático de princípios e 
regras através dos quais o Estado promove a luta de prevenção e 
repressão das infrações penais. Compreende também os meios 
e métodos aplicados na execução das penas e das medidas de 
segurança, visando o interesse social e a reinserção do infrator” 
(DOTTI, 1999, s.p.).
FONTE: DOTTI, R. A. A crise do sistema penal. Revista dos Tribunais, 
n. 768, out. 1999.
Os paradigmas apresentados representam as constantes mudanças na área 
de segurança. Isso nos demonstra que os objetivos e estratégias ao longo dos 
anos também são variáveis, conforme o paradigma que conceitua determinada 
época e que estimula cada iniciativa e cada estratégia. Veja que essas três 
maneiras de seenxergar a segurança pública retratam os mais importantes e 
contemporâneos modelos. Vamos estudar, aqui, as suas principais características. 
São eles:
• Paradigma da Segurança Nacional – que compreende o período da 
Ditadura Militar.
• Paradigma da Segurança Pública – consolidado com a promulgação da 
Constituição Federal de 1988.
• Paradigma da Segurança Cidadã – perspectiva que infl uência a América 
Latina e o Brasil a partir do ano 2000.
 Vamos estudá-los?
3.1 PARADIGMAS DA SEGURANÇA 
NACIONAL
Esse conceito existia no Brasil durante o período da Ditadura Militar, que 
vigorou entre 1964 até 1985. Nessa ótica, priorizava-se a defesa do Estado e 
a ordem política e social. Como vimos, a Ditadura freou os ímpetos e ideais 
iluministas de liberdade e igualdade, brecando também os direitos constitucionais. 
Não à toa, foi uma época de supressão, censura e perseguição política. Essas 
características infl uenciaram a maneira qual o Estado brasileiro conceituava a 
28
 SEGurANÇA PÚBLiCA
área da segurança pública, que tinha seus fundamentos formada pela Doutrina 
de Segurança Nacional, formada pela Escola Superior de Guerra. Assim, você 
percebe que qualquer política de segurança pública passaria, então, pelo crivo 
de uma instituição que possui, em sua característica mais originária, a 
guerra, o combate e o confl ito (OLIVEIRA, 1976).
A primeira Constituição do Regime Militar de 1967 previa o 
princípio da defesa do Estado expressamente, incluindo as Forças 
Nacionais como preponderantes e essenciais para a execução da 
segurança pública. Centros de inteligência e de informação, como 
o serviço Nacional de Informação prestavam a função de informar 
qualquer intenção de ameaça ou, até mesmo, opiniões contrárias ao 
Estado de Segurança Nacional. Isso recrudesceu a política de caça aos 
considerados inimigos do Estado, que os interligava principalmente à 
corrente do comunismo (BORGES, 2003, p. 33). 
Nessa época que moldou o paradigma, a repressão por meio das 
Forças Armadas e dos órgãos de controle e repressão eram o foco 
principal do governo, a prioridade para o sistema de segurança pública. 
Esse padrão da supremacia do interesse nacional conseguiu justifi car 
o uso da força excedente quando houvesse qualquer tipo de risco à 
segurança e à ordem do sistema de governo então empregado. Agora 
veja, a Constituição de 1967, não defi ne o que é a segurança pública 
nem quem são os seus agentes. Consegue trazer um relevante aspecto 
interpretativo quando realça, em seu Art. 89 que “toda pessoa natural ou jurídica 
é responsável pela Segurança Nacional, nos limites defi nidos em lei” (BRASIL, 
1967). Notou que a frase descreve, de fato, o real propósito da segurança pública? 
E qual seria ela? Seria a defesa do Estado, mas não a defesa da sociedade, uma 
vez que não há analogia alguma que indique no texto a coletividade social. Assim, 
as pessoas físicas e jurídicas (empresas) são consideradas corresponsáveis pela 
segurança, porém nunca suas benefi ciárias, e isso não nos lembra a posição dos 
Coronéis e seus comandados nas capitanias hereditárias? Nos dias atuais, as 
próprias atuações das Forças Armadas no cenário da segurança pública nacional, 
vez ou outra, recebendo chamados para reforçar a proteção de um ou outro 
ambiente, é um resquício deste paradigma nas políticas modernas.
3.2 PARADIGMA DA SEGURANÇA 
PÚBLICA
O segundo paradigma que conhecemos destaca-se pela nomeação 
das instituições de segurança pública, bem como de seus afazeres e tarefas 
Centros de 
inteligência e de 
informação, como 
o serviço Nacional 
de Informação 
prestavam a função 
de informar qualquer 
intenção de ameaça 
ou, até mesmo, 
opiniões contrárias 
ao Estado de 
Segurança Nacional.
As pessoas físicas e 
jurídicas (empresas) 
são consideradas 
corresponsáveis 
pela segurança, 
porém nunca suas 
benefi ciárias
29
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
principais, realizada pela nova Carta Magna, que abria essa mudança de padrões. 
Essa alteração se deve à promulgação da Constituição de 1988 como um marco 
legal na construção de uma redemocratização no Estado nacional. Mesmo não 
estabelecendo um conceito básico do que seja segurança pública, defi niu seus 
afazeres diferentemente de sua antecessora quando “a segurança pública, 
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos” (BRASIL, 1988, Art. 144, 
caput). Da mesma forma, prevê a funcionalidade do instituto quando celebra “a 
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” 
(BRASIL, 1988). A partir daí, a Constituição nomeia e respalda legalmente todas 
as instituições que perfazem o sistema, demarcando, dividindo e determinando 
suas funções, competências e jurisdições. Isso signifi ca segurança jurídica, tanto 
ao cidadão quanto aos agentes que laboram na segurança pública, uma vez que 
estão respaldados por uma lei suprema, que os dota de direitos, mas também de 
deveres. 
Você percebeu a importância do novo paradigma que se abria com a Nova 
República? Além disso, padronizou a atuação das polícias judiciárias, seja a Polícia 
Federal ou Polícia Civil, bem como defi niu estruturalmente os órgãos ostensivos, 
que patrulham preventivamente na prevenção da sociedade e na prevenção de 
delitos da Polícia Militar e Corpo De Bombeiros. Através dos órgãos elencados 
no Art. 144, a CF/1988, expressou-os e determinou-os como responsáveis pela 
manutenção da segurança interna, são eles:
• Polícia Federal. 
• Polícia Rodoviária Federal.
• Polícia Ferroviária Federal. 
• Polícias Civis. 
• Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
O Art. 142 defi niu o papel das Forças Armadas como responsáveis pela 
manutenção da Segurança Nacional e sua soberania, na defesa da Pátria e na 
garantia dos poderes constitucionais. Isso demonstra um conceito diferente para 
as duas instituições, tendo cada uma âmbitos diferentes, enquanto a Segurança 
Pública volta-se para a preservação da harmonia interna, a Segurança Nacional, 
por intermédio das Forças Armadas, é atribuída ao exercício da soberania 
nacional e da defesa do território. Nessa nova perspectiva e seus atuais padrões, 
podemos notar que houve uma descentralização administrativa, e o novo princípio 
conferia, então, aos Estados e Municípios uma maior participação na execução da 
segurança pública, que passam a ter responsabilidades pelo gerenciamento de 
suas polícias civil e militar. 
Isso proveu aos Estados uma autonomia frente à implementação da 
segurança, podendo, assim, trabalhar com suas estatísticas próprias e com 
30
 SEGurANÇA PÚBLiCA
seus mapas de criminalidade elaborados a partir das coletas de dados. Para 
minimizar um possível rompimento entre Estados e Nação, o Governo Federal 
criou secretarias nacionais que pudessem quantifi car o controle da violência e 
da criminalidade, com intuito de implementar uma política nacional de segurança 
pública. O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), aprovado recentemente, 
e o Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) são duas importantes 
formas de secretariar o instituto. A primeira tem a função de articular a troca de 
informações entre as secretarias federais, estaduais e municipais, com intuito de 
aperfeiçoamento das estratégias de combate ao crime, respeitando a autotomia 
das instituições. Já a SENASP compete assessorar o Ministério de Estado da 
Justiça no desenvolvimento de políticas, estudos e campanhas para implementar 
a política nacional de segurança pública no país, coordenada pelos órgãos 
respectivos de segurança de cada região, estado e município. A realização desse 
feito somente pode ser possível com a análise dos dados estatísticos de violência 
de cada localidade. 
Prezado aluno! Percebeu que a perspectiva aqui é outra? Agora, transfere a 
missão de controle da violência e da segurança das mãos das Forças Armadas, 
que passam direto para as polícias responsáveis, cada uma em sua área. Não 
se preocupe,pois mais para frente esmiuçaremos os artigos da Constituição de 
1988 que tratam da segurança pública, principalmente de suas competências e 
jurisdição. Por ora, é importante que você entenda que o paradigma da segurança 
pública surgiu para alterar uma visão ultrapassada e arcaica de controle das 
Forças Armadas. Agora a perspectiva é outra, como bem enfatizou Freire (2009, 
p. 52):
[...] a perspectiva da Segurança Pública desloca o papel de 
prevenção e controle da violência das Forças Armadas para 
as instituições policiais. Nesse sentido, no paradigma da 
Segurança Pública, cabe primordialmente às instituições 
policiais a responsabilidade pelo controle e prevenção da 
violência. No entanto, enquanto na perspectiva da Segurança 
Nacional a violência era representada como as ameaças aos 
interesses nacionais, no arcabouço da segurança pública está 
é caracterizada como ameaça à integridade das pessoas e do 
patrimônio.
Acontece que, com a constante globalização e as novas tecnologias que 
surgiam, outra forma de se enxergar as sociedades, a partir de suas próprias 
carências, analisadas a partir de estudos locais, um novo paradigma ou modelo 
surgia. Vamos conhecê-lo? 
31
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
Se quiser pesquisar a respeito das secretarias, fi ca a dica dos 
sites respectivos! A SUSP pode ser encontrada aqui: https://legado.
justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/projetos/susp.
Enquanto a SENASP, pode ser encontrada aqui:: https://www.novo.
justica.gov.br/sua-seguranca-2/seguranca-publica/senasp-1/a-senasp.
Boa Leitura!!
3.3 PARADIGMA DA SEGURANÇA 
CIDADÃ
A perspectiva desse paradigma realça o panorama local, destacando as 
experiências vividas nas comunidades da América Latina, desenvolvendo suas 
análises a partir do cotidiano das sociedades que se deseja interpretar. Para isso, 
prezado aluno, uma quebra de vínculo perante as análises estrangeiras, que não 
conhecessem das mazelas e intempéries das comunidades latinas, precisou ser 
imposta. A mais signifi cativa mudança ocorrida nesse paradigma, além de utilizar-
se de pesquisas caseiras, foi a alteração dos sujeitos tutelados, ou protegidos, 
pela Segurança Pública do Estado. Como vimos, é dever estatal a proteção e 
segurança de seus citadinos. Agora, o núcleo central deve reger a ampla cidadania. 
Em uma época de globalização e modernidade, o indivíduo somente consegue 
atingir os seus ideais sociais a partir da cidadania. Considerar-se e ser visto como 
cidadão, dotado de direitos, igualdade, mas também de responsabilidades sociais, 
signifi ca fazer parte da cidade, pertencer a uma comunidade. Para isso, políticas 
públicas de segurança devem caminhar em conjunto às outras essenciais áreas, 
como lazer, cultura, esporte, saúde, educação etc. Esse envolvimento de várias 
instituições prevê a efetivação de ações planejadas em nível social, permitindo 
que na sociedade possa participar de suas realizações e programações, com 
intuito de focar para o envolvimento comunitário, diminuindo os índices de 
violência social. 
O chamado Paradigma da Segurança Cidadã surgiu na década de 1990 
e passou a implementar em alguns países da América Latina, em especial a 
Colômbia, a integração de políticas em setores diversos, alcançando êxito na 
diminuição da criminalidade. Assim, você notou que é preciso o envolvimento de 
várias instituições em conjunto para que o conceito desse paradigma possa vir 
32
 SEGurANÇA PÚBLiCA
a se realizar? Podemos defi nir que isso não seria possível sem a participação 
das pessoas que fazem parte da comunidade. Dessa forma, entendemos que a 
participação popular, o engajamento social, possui um papel preponderante para 
a saúde da vida comunitária. Esse participar, expressa o sentido de cidadania. 
Devido às enormes distâncias entre os Estados e pelas próprias características 
da divisão federativa no Brasil, esse modelo está presente com maior veemência 
em determinados locais do que em outros. Ainda assim, a Secretaria Nacional de 
Segurança Pública iniciou o programa Segurança Cidadã. 
 
Nesse padrão, enfatiza-se a importância da gestão local, dos estados 
e municípios, pois a implementação de políticas locais aproxima o cidadão 
das atividades, ocasionando um maior envolvimento e até mesmo uma maior 
legitimidade às ações, uma vez que são realizadas em seu próprio local, em sua 
própria comunidade. Uma importante caraterística desse arquétipo incentiva que 
as ações comunitárias participem da construção da cidadania, na convivência e 
na resolução pacífi ca dos confl itos que existam, sendo um dos princípios para a 
prevenção de atos de violência (FREIRE, 2009).
A participação das polícias também possui um aspecto diferencial. Com a 
formação da polícia comunitária, com agentes aptos para atender casos diversos, 
na sua localidade de guarda, criou-se um vínculo entre os operadores da 
segurança e os moradores. Só que o paradigma da Segurança Cidadã possui 
outras determinações que diferem o conceito das responsabilidades do agente de 
segurança dos tempos de outrora. Aqui, devemos entender que não se trata apenas 
do serviço policial em sua participação ostensiva e preventiva, mas também em 
identifi car as raízes de confl itos diversos que existam nas comunidades. Dessa 
forma, não atua perante as consequências das divergências e contendas apenas, 
mas procura absorver as causas motivadoras em cada interação social realizada. 
Em um desafogo do poder judiciário, sempre em elevados e crescentes números 
de causas a serem julgadas, a polícia do paradigma atual deve tentar pela 
conciliação, num primeiro momento ao identifi car essa possibilidade, podendo 
atuar de forma extrajudicial ao resolver os problemas da comunidade nos locais 
onde eles ocorrem. 
O conceito que determina a Segurança Cidadã envolve outras dimensões 
que não apenas a policial, mas outras instituições civis e de estudos acadêmicos e 
estatísticos, reconhecendo, então, uma diversidade das causas da violência, bem 
como a heterogeneidade de suas ações. Por esse prisma, você pode perceber 
que políticas públicas locais integradas à segurança pública, por intermédio 
das instituições públicas e da sociedade civil, podem ser implementadas a 
partir de ações planejadas e que são identifi cadas como essenciais para a 
redução da violência e do crime. Para isso, o Programa das Nações Unidas 
para o Desenvolvimento – Brasil (PNUD), criou o Guia do Marco Conceitual 
33
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
da Convivência e Segurança Cidadã, em que aponta cinco principais formas 
de intervenção das políticas de segurança públicas que devem mecanizar o 
paradigma (PNUD, 2016). São consideradas maneiras de intervenção para o 
sucesso da aplicação do paradigma da Segurança Cidadã:
• As dirigidas ao cumprimento voluntário de normas (minimizando, assim, 
a persecução penal).
• As que buscam a inclusão social e a diminuição de fatores de risco 
(álcool, drogas, armas etc.).
• As que têm como propósito a melhoria dos contextos urbanos associados 
ao medo e ao perigo real (recuperação de espaços públicos).
• As que facilitam o acesso dos cidadãos a mecanismos institucionais e/ou 
alternativos de resolução de confl itos. 
• As que possuem foco na construção de capacidades institucionais, 
melhoria da efi cácia policial e das autoridades executivas ou judiciais e 
da confi ança dos cidadãos em tais instituições.
Policiamento comunitário – “É uma fi losofi a de policiamento que 
ganhou força nas décadas de 1970 e 1980, quando as organizações 
policiais em diversos países da América do Norte e da Europa 
Ocidental começaram a promover uma série de inovações na sua 
estrutura e funcionamento e na forma de lidar com o problema da 
criminalidade. Em países diferentes, as organizações policiais 
promoveram experiências e inovações com características 
diferentes. Algumas dessas experiências e inovações sãogeralmente 
reconhecidas como a base de um novo modelo de polícia, orientada 
para um novo tipo de policiamento, mais voltado para a comunidade, 
que fi cou conhecido como policiamento comunitário” (BAYLEY; 
SKOLNICK, 2001). Surgiu com força nos anos 1990 na América 
Latina, após o Paradigma da Segurança Cidadã, por envolver a 
comunidade em seus planejamentos.
É pelo termo comunitário que se abre a possibilidade de mudanças, 
ocasionadas pela diversifi cação das comunidades em sua própria convivência. 
Você pode notar, então, que uma política de segurança pública envolvente e de 
qualidade precisa, pelo que vimos dos três padrões apresentados, da participação 
dos atores mais importantes no contexto: o próprio povo e as instituições civis.
34
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Vamos treinar um pouco o que vimos aqui?
1 Várias são as atividades que se modulam e se alteram, como 
os padrões antes aceitos, que são substituídos por novos 
paradigmas, por inúmeras situações. Isso molda também a 
maneira que enxergamos a Segurança Nacional, as Políticas 
Públicas e a Política Criminal. Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Mudanças de paradigmas envolvem uma transformação total 
do antigo padrão, sendo incompatível à manutenção de qualquer 
resquício do anterior.
b) ( ) Não pode ser considerado mudança de paradigma da 
Segurança Pública para a Segurança Cidadã, uma vez que 
o próprio cidadão é personagem principal das atividades de 
segurança pelo Estado, nos dois modelos. 
c) ( ) A proteção dos interesses nacionais oportunizou um amplo 
crescimento da soberania nacional quando a Segurança Nacional 
idealizou o cidadão como personagem essencial a ser tutelado.
d) ( ) Política criminal é o conjunto sistemático de princípios e 
regras através dos quais o Estado promove a luta de prevenção e 
repressão das infrações penais.
2 A maneira de se fazer o policiamento é, por si só, considerado 
através da forma que fazemos políticas criminais. Nesse sentido, 
classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) Policiamento comunitário não se envolve com as mazelas da 
comunidade.
b) ( ) Policiamento comunitário é defi nido pela política criminal.
c) ( ) O paradigma da Segurança Pública surgiu para alterar uma 
visão ultrapassada e arcaica, de controle das Forças Armadas.
d) ( ) O paradigma da Segurança Cidadã compreende a 
participação dos profi ssionais de diversas instituições, o que não 
envolve a atividade da comunidade.
Assinale a alternativa que apresenta a sentença CORRETA:
a) ( ) F – V – V – F. 
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.
35
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
Vamos visualizar os diferentes aspectos entre os três paradigmas?
QUADRO 1 – DIFERENTES ASPECTOS ENTRE OS TRÊS PARADIGMAS
Itens analisados Segurança Nacional Segurança Pública Segurança Cidadã
Objetivos principais
Proteger os interesses 
nacionais que são 
relacionados à manu-
tenção do poder
Preservação da ordem 
pública e incolumidade 
das pessoas e patrimô-
nio (Art. 144, CF/ 88)
Oportunizar e oferecer 
a cidadania e a convi-
vência comunitária, na 
busca da prevenção 
de crimes
Quando ocorreu?
Ditadura Militar Redemocratização 
com a CF de 1988 – 
Estado Novo
Com o crescimento da 
violência, paradigma 
atual
O que faz o Estado?
Elimina ameaças con-
trárias aos interesses 
nacionais e às Forças 
Armadas
Providencia a seguran-
ça às pessoas e seu 
patrimônio
Concretiza políticas 
setoriais visando o 
âmbito local, com 
participação das insti-
tuições policiais e das 
políticas sociais
Como fi ca o cidadão?
Submisso à elite que 
compreende o poder, 
sem direitos individuais
Direitos restabeleci-
dos. São favorecidos 
pela segurança, que é 
dever do Estado
Sua participação 
auxilia na redemocrati-
zação e na prevenção 
da violência. É o 
personagem central 
desse paradigma
Como é a Política 
Pública?
Serviço de inteligência 
para caçar os inimigos 
dos interesses nacio-
nais. Instituições são 
elaboradas unicamen-
te para a repressão
Estratégias de controle 
da criminalidade, po-
líticas de segurança 
estaduais
Políticas setoriais 
integradas, prevenção 
por ações focalizadas 
na comunidade. Parti-
cipação
Expectativas
Sem direitos não há 
perspectiva/expectati-
va alguma
Possibilidade de uma 
política pública central
Possibilidades de 
diminuição da crimina-
lidade pela convivência 
social e policial
FONTE: O autor
Você percebeu as diferenças? Entre uma e outra existem grandes saltos de 
perspectivas e de possibilidades. As expectativas são grandes para o paradigma 
que experenciamos hoje em dia. Todavia, vivemos em uma sociedade muito 
complexa. As articulações entre os institutos e entre esses e as pessoas devem 
ser comuns, ocasionadas no dia a dia. Se isso não ocorrer, perde-se o amálgama 
36
 SEGurANÇA PÚBLiCA
que une a coletividade, que é a própria convivência, tão complicada atualmente. 
Essas análises nos permitem observar de onde vieram as políticas públicas e 
qual caminho devemos tomar de agora em diante. Notamos que a Segurança 
Cidadã possui um grande aporte de grandes virtudes. Ocorre que, para que possa 
existir, ela depende do envolvimento da sociedade, que vive épocas difíceis. É 
responsabilidade do poder público, por intermédio das políticas sociais, trazer de 
volta os desgarrados para o discurso e para a vida social, incrementar políticas 
saudáveis de educação, lazer, saúde e trabalho, para que a vida comunitária siga 
o paradigma proposto. Quais são as concepções para o futuro da Segurança 
Pública em nosso país? Vamos ver a mais à frente!
Se você se interessou ou deseja entender mais sobre a 
complexidade da sociedade que vive o período conhecido como 
Pós-Modernidade, indicamos os livros do sociólogo polonês Zygmunt 
Bauman. Como são mais de 30 obras, recomendamos as seguintes:
BAUMAN, Z. O mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro, 
Ed. Zahar, 1998.
BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 
Uma excelente leitura para você!
3.4 AS NOVAS PERSPECTIVAS 
PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE 
SEGURANÇA NO BRASIL
Todas as perspectivas e fi chas para o futuro da segurança pública no Brasil 
são jogadas nas possibilidades trazidas e abertas pelo Paradigma da Segurança 
Cidadã. Sua experiência de envolvimento com a comunidade, por intermédio da 
abrangência das políticas públicas para o fi m de participação comunal e de todos, 
é um apelo ao sentido de convivência e auxílio mútuo, que parte não somente 
entre as pessoas em si, mas entre os cidadãos e as instituições. A partir daí, 
o sentido de democracia somente pode ser entendido com a cidadania total, 
fazendo parte de uma sociedade de forma intensa e satisfatória. 
37
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
A busca pela diminuição da violência, por intermédio dos padrões aceitos 
atualmente, prevê a educação e o comprometimento da política local com medidas 
de suporte ao seu cidadão com possibilidades de oportunidades diversas para 
o seu crescimento. A segurança pública também agradece e faz parte de atos 
que valorizam a pessoa ao invés de estigmatizá-la. A falta de oportunidades e 
possibilidades, bem como o afastamento das comunidades dos setores públicos 
da vida cotidiana, realça a segregação de comunidades inteiras, de pessoas e 
famílias. As perspectivas para a segurança pública para o futuro somente podem 
vir com o olhar atento para o passado, ao não cometermos os erros anteriores de 
deixar uma parte da população que vive em uma grande vulnerabilidade social 
a sua sorte e desgarrados de qualquer atividade pelo Estado, que proporcione 
convivência e alteridade.
“O Paradigma da Segurança Cidadã vem sendo discutido desde 
meados da década de 1990 e tem forte infl uência de organismos 
internacionais. Na América Latina, destaca-se o exemplo da cidade 
de Bogotá que, em pouco mais de dez anos, alcançou efetivos 
resultados na reduçãode homicídios e crimes patrimoniais, 
articulando ações preventivas e repressivas com forte participação 
dos entes locais. No Brasil, o paradigma vem sendo instrumentalizado 
por sucessivos planos e programas de segurança pública desde o 
ano 2000. Sinteticamente, o objetivo deste novo paradigma consiste 
na promoção da convivência e cidadania, prevenindo e controlando 
a violência. Ademais, reconhece-se a criminalidade como um 
fenômeno multicausal, genericamente dividido em violência incidental 
e crime organizado. Na segurança cidadã, busca-se não somente a 
preservação da incolumidade e do patrimônio dos cidadãos, mas a 
consolidação dos direitos, da cidadania, da participação social e da 
maior atuação da sociedade civil. 
Dentre os instrumentos que buscam implementar esse novo 
conceito nas políticas públicas de segurança, foram destacados os 
I e II PNSP e o Programa Nacional de Segurança com Cidadania 
(Pronasci) que, apesar dos poucos avanços práticos, demonstram 
o interesse do Estado em repensar o tema, desvinculando-se das 
medidas exclusivamente repressivas e reativas que marcam as 
ações estatais nessa área. A evolução paradigmática da segurança 
pública no Brasil não está alheia aos fatos históricos, ao contrário, é 
guiada por eles e concentra-se principalmente no reconhecimento e 
38
 SEGurANÇA PÚBLiCA
ampliação dos direitos sociais, bem como na busca da democracia 
plena, em que o monopólio do uso da força pelo Estado seja ao 
mesmo tempo efi caz e guiado pela razoabilidade e proporcionalidade. 
Os desafi os que envolvem essa evolução e, especialmente, 
a consolidação do paradigma atual são imensos. Trata-se de uma 
mudança cultural, em que se busca redefi nir o que é e quem deve 
participar da formulação e implementação das políticas de segurança 
pública. Nesse sentido, as resistências intelectual e acadêmica são 
fundamentais, assim como o entrosamento com os órgãos e agentes 
da área de segurança visando não somente avançar na consolidação 
do paradigma, mas principalmente evitar o retrocesso das conquistas 
já alcançadas” (LIMA; COLVERO, 2017). 
FONTE: LIMA, A. R. A. de; COLVERO, R. B. Os Paradigmas e as 
novas perspectivas para as políticas públicas de segurança no Brasil. 
REBESP, v. 10, n. 2, 2017. Disponível em: https://revista.ssp.go.gov.
br/index.php/rebesp/article/view/284. Acesso em: 3 jun. 2021.
A seguir, que tal analisarmos o que a nossa atual Constituição expressa 
sobre a Segurança Pública no Brasil?
4 A CONSITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
E A SEGURANÇA PÚBLICA
Prezado aluno! Após termos passado tanto pela parte histórica quanto 
pelos paradigmas que infl uenciaram os modelos de segurança pública, devemos 
nos ater a sua disposição legal a partir da Constituição de 1988. Como você já 
sabe, tivemos um total de sete Constituições no país, cada uma possuía a sua 
peculiaridade a partir dos movimentos políticos que se apresentavam no cenário 
nacional. Entretanto, em questão de segurança pública, notamos que essa área 
era utilizada de forma genérica e sem alguma serventia ao real signifi cado de 
proteção pública. Vimos que chegou, inclusive, a ser retratada como uma força 
das elites que controlavam o poder para dar garantias e suporte ao seu controle. 
Entretanto, a Constituição Federal de 1988, promulgada em outubro daquele 
ano, contribuiu para solidifi car legalmente a segurança pública dentro das bases 
que estruturam a política e a regulamentação do serviço. Para o processo de 
redemocratização que se realizava, todas as áreas envolvendo os serviços 
públicos, que são prestados à população, deveriam possuir clareza a partir da 
publicização de seus atos, exercida por sua defi nição constitucional. 
39
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
O texto constitucional inicia a partir do Título V, intitulado Da Defesa do 
Estado e das Instituições Democráticas, a delinear os serviços de segurança 
pública, pelos Arts. 142 e 144. Respectivamente, Exércitos e demais policiais 
são sancionados legalmente a respeito de sua jurisdição e competência. Ainda 
assim, a Carta Magna não especifi ca o signifi cado de Segurança Pública, mas 
aponta o titular da obrigação da incolumidade geral, bem como os benefi ciados 
por sua proteção, o que a torna muito diferente de suas outras antecessoras. Vale 
destacar o que você certamente já deve ter percebido: que a Constituição é a 
principal diretriz das estruturas dos profi ssionais de Segurança Pública, devendo 
ela apontar a jurisdição de cada organização que componha a segurança, bem 
como a competência. Nesse sentido, o Art. 22, transcrito a seguir, declara:
Art. 22. Compete privativamente à União o legislar sobre:
[...] XXI - normas gerais de organização, efetivos, material 
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias 
militares e corpos de bombeiros militares; 
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária 
e ferroviária federais (BRASIL, 1988). 
Percebeu que somente a União, por intermédio do Poder Legislativo, pode 
legislar a respeito dos institutos elencados no artigo anterior, não possuindo 
os Estados capacidade legislativa sobre esses entes? Isso é decorrente da 
capacidade de competência que é atribuída a cada entidade, no caso, a União. 
Competência signifi ca o exercício da função jurisdicional, o que legitima a sua 
autoridade. A seguir, veremos a função de cada instituto de segurança, bem como 
a quem elas são diretamente vinculadas.
Vamos nos aprofundar nos estudos do Art. 144, que elenca as 
polícias em seu ordenamento: 
Capítulo III
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos 
seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares; 
40
 SEGurANÇA PÚBLiCA
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
se a: 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou 
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de 
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como 
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou 
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
II - prevenir e reprimir o tráfi co ilícito de entorpecentes e drogas afi ns, 
o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e 
de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de 
fronteiras; 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da 
União. 
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e 
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma 
da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e 
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma 
da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. 
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, 
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia 
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação 
da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das 
atribuições defi nidas em lei, incumbe a execução de atividades de 
defesa civil. 
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do 
sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a 
segurança dos estabelecimentos penais. 
 § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, 
forças auxiliares e reserva do Exércitosubordinam-se, juntamente 
com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos 
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças 
auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as 
polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Territórios. 
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos 
responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a 
efi ciência de suas atividades. 
41
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas 
à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser 
a lei. 
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos 
relacionados neste artigo será fi xada na forma do § 4º do Art. 39. 
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias 
públicas: 
I - compreende a educação, engenharia e fi scalização de trânsito, 
além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao 
cidadão o direito à mobilidade urbana efi ciente; e 
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e 
seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei 
(BRASIL, 1988).
Algumas considerações devem ser feitas ao artigo que você leu. Você 
reparou o que Art. 144, em seu início ou caput, traz a questão responsabilidade. 
Aqui, é dever do Estado a Segurança Pública, mas não se limita apenas a ele. 
Ao escrever a norma, quis o legislador original incluir toda a sociedade, ou seja, 
a questão segurança não é apenas referenciada para as polícias, mas a todos 
os cidadãos. Isso signifi ca que todos, a partir de sua conduta e de suas ações, 
são responsáveis por uma convivência saudável e pela minimalização de atos 
criminosos a partir dela. A partir daí, você pode perceber que, como dever de todos, 
a responsabilidade pela segurança é compartilhada entre os poderes, e cada 
esfera de governo possui a sua incumbência para o aperfeiçoamento do setor. 
Assim, estados e municípios também estão incluídos nessa responsabilidade. 
Quanto à ordem pública, citada no texto constitucional, você deve se 
familiarizar a ela quando consegue exercer todas as suas atividades do cotidiano, 
sem interferências causadas por qualquer tipo de desordem. A preservação da 
ordem pública parte dos entes de segurança do Estado, evitando o caos ou o 
desarranjo social, que como você sabe, pode ser causado por inúmeras situações, 
por exemplo, enchentes, alta taxa de criminalidade, incêndios etc. 
A Polícia Federal é um órgão autônomo, e mesmo sendo subordinado ao 
Ministério da Justiça e ao Poder Executivo, esse órgão não deve sofrer as 
suas interferências. Ela exerce atividades administrativas quando visa prevenir 
o tráfi co de drogas e contrabando por exemplo, e atividades judiciárias, quando 
executa a função de auxiliar a Justiça Federal em crimes contra a ordem política 
e social. 
42
 SEGurANÇA PÚBLiCA
À União cabe, como você viu no Art. 144, realizar o policiamento e segurança 
das fronteiras da Nação e, ainda, o combate ao tráfi co de drogas, seja internacional 
ou interestadual, desempenhado pela Polícia Federal. Já as estradas e rodovias 
federais são asseguradas pela Polícia Rodoviária Federal, da mesma forma que 
as ferrovias são fi scalizadas pela Polícia Ferroviária Federal. 
A Polícia Rodoviária Federal e a Ferroviária Federal são mantidas e 
organizadas pela União, ou seja, pelo Governo Federal, e possuem características 
de polícia ostensiva. Já os policiais civis, policiais militares e bombeiros, são 
condicionados pelos Estado, esses últimos, prestam suas forças de defesa 
como forças auxiliares e reservas do Exército. As Polícias Militares e Civis têm 
designação diferente uma da outra, a saber: presta a Polícia Militar o serviço de 
policiamento ostensivo, preventivo e repressivo, no patrulhamento e na garantia 
da segurança pública. Segundo confi rma o Art. 42 da nossa Constituição, “os 
membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições 
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Territórios” (BRASIL, 1988). 
Já a Polícia Civil possui a característica da Polícia Judiciária, auxiliando a 
justiça nas investigações de crimes, por intermédio de ações controladas pelo 
delegado de polícia. Cabe a ela a apuração dos desvios criminais, mas não a 
investigação de crimes causados por militares, pois a esses, existe o Direito Penal 
Militar e a repreensão do próprio instituto. Você sabia que cada ente da federação 
possui o seu Estatuto próprio da Polícia Civil? É só você entrar no site da Polícia 
Civil de seu estado para conferir o seu Estatuto!
Assim, podemos considerar o seguinte: se a Polícia Civil possui a competência 
para exercer a função de Polícia Judiciária dos Estados, por consequência, a 
Polícia Federal tem a competência para exercer, exclusivamente, as funções de 
Polícia Judiciária da União!
Quando se trata de interpretação das normas constitucionais, devemos 
entender que o constituinte original, aquele que escreveu a lei primeiro, preencheu-a 
com dispositivos que considerassem a futura possibilidade de disposições legais 
sobre determinados assuntos, seja pelos estado e municípios, seja pela efetiva 
passagem do tempo e pelas situações que não podiam ser previstas à época da 
escrita. Assim, quando a norma diz, no § 8º, que os municípios poderão constituir 
Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens e serviços, é essencial 
que uma instituição dessa importância possua também sua regulamentação. Essa 
é a Lei Federal nº 13.022/2014, o Estatuto das Guardas Municipais. Não tem 
problema que ela tenha sido escrita somente em 2014, 26 anos após a CF/1988, 
desde que siga estritamente os preceitos e princípios constitucionais. Assim, a 
43
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
lei posterior disciplina nesse caso, o § 8º, constituindo as atribuições da Guarda 
Municipal. Então, você pode entender que qualquer município pode criar, por lei, a 
sua Guarda Municipal, que fi ca subordinada diretamente ao prefeito.
A Guarda Municipal possui competências muito específi cas, 
como a proteção de bens, serviços, logradouros públicos 
municipais e instalações do município. Entretanto, ela também 
atua preventivamente para a proteção da população que utiliza dos 
bens e das instalações municipais. Ainda, colabora com os órgãos 
de segurança pública na pacifi cação de confl itos e cooperação 
nas atividades comunitárias das políticas públicas. Como todas as 
outras instituições, as contratações são realizadas por intermédio de 
concurso público.
Você notou que abaixo do Parágrafo 5° existe o 5-A°? Funciona 
do mesmo jeito. Aqui, havia a necessidade da criação de outro tipo de 
serviço de segurança pública. Assim, o § 5º-A cria a fi gura da Polícia 
Penal. A inovação legislativa se deu pela necessidade em equiparar os 
agentes de segurança penitenciaria à categoria de segurança pública e 
policial, possuindo, assim, unifi cação na carreira no que diz respeito a 
treinamento, estrutura, remuneração, direitos e garantias etc. A Emenda 
Constitucional nº 104/2019, que foi realizada para esse fi m, ressalta 
que a Polícia Penal será vinculada ao órgão administrador do sistema 
penal do Estado a que pertencer. As Polícias Penitenciárias, ou Polícia 
Penal, contam, também, com o Departamento Penitenciário Nacional 
(DEPEN), órgão que controla a aplicação da Lei de Execuções Penais, 
sendo responsável pelo sistema penitenciário nacional. Como você viu, 
foi somente a partir da emenda que “completou” a Constituição que a 
Polícia Penal teve sua real legalização e reconhecimento de carreira.As Polícias 
Penitenciárias, 
ou Polícia Penal, 
contam, também, 
com o Departamento 
Penitenciário 
Nacional (DEPEN), 
órgão que controla 
a aplicação da 
Lei de Execuções 
Penais, sendo 
responsável pelo 
sistema penitenciário 
nacional.
Que tal você entender um pouco do serviço do DEPEN? Vamos 
ver o que a Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1984, também 
conhecida por LEP) discorre sobre o DEPEN? Vamos lá! 
44
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Art. 71. O Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao 
Ministério da Justiça, é órgão executivo da Política Penitenciária 
Nacional e de apoio administrativo e fi nanceiro do Conselho Nacional 
de Política Criminal e Penitenciária.
 Art. 72. São atribuições do Departamento Penitenciário Nacional: 
I - acompanhar a fi el aplicação das normas de execução penal em 
todo o Território Nacional; 
II - inspecionar e fi scalizar periodicamente os estabelecimentos e 
serviços penais; 
III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação 
dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei; 
IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convênios, na 
implantação de estabelecimentos e serviços penais; 
V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização 
de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino 
profi ssionalizante do condenado e do internado. 
VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, 
o cadastro nacional das vagas existentes em estabelecimentos 
locais destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade 
aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em especial para 
presos sujeitos a regime disciplinar. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 
2003) 
Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação 
e supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento 
federais.
Esses artigos estão previstos na LEP, que é a lei utilizada após a 
sentença, transitada em julgado, que condena o réu, sentenciando-o 
à uma pena privativa de liberdade. Nesses casos, a Lei de Execuções 
Penais é a aplicação legal dos direitos do detento, dos seus deveres 
e das condições a que deve se realizar a pena (BRASIL, 1984).
FONTE: BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a 
Lei de Execução Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 3 jun. 2021.
A seguir, na Figura 1, você pode visualizar o resumo das funções policiais.
45
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
FIGURA 1 – FUNÇÕES POLICIAIS
FONTE: <https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2018/06/u00f3rg_u00e3os-
de-seguran_u00e7a-p_u00fablica_Prancheta-1.jpg>. Acesso em: 9 jun. 2021.
46
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Você deve estar se perguntando, mas e as Forças Armadas? 
Elas foram elaboradas pelo legislador no Título V, que trata da 
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, pois, segundo a 
Constituição (1988), a eles também é dado esse papel de defesa. 
Vamos ao seu ordenamento?
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo 
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes 
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, 
sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-
se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por 
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. 
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem 
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças 
Armadas. 
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares 
militares. 
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, 
aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fi xadas em lei, as 
seguintes disposições: 
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, 
são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em 
plenitude aos ofi ciais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes 
privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os demais 
membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; 
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego 
público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no Art. 37, 
Inciso XVI, alínea c, será transferido para a reserva, nos termos da 
lei; 
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, 
emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que 
da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no Art. 37, 
Inciso XVI, alínea c, fi cará agregado ao respectivo quadro e somente 
poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por 
antiguidade, contando-se lhe o tempo de serviço apenas para aquela 
promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos 
de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos 
termos da lei; 
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; 
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar fi liado a 
partidos políticos; 
47
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
VI - o ofi cial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do 
ofi cialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de 
caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em 
tempo de guerra; 
VII - o ofi cial condenado na justiça comum ou militar à pena privativa 
de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em 
julgado, será submetido ao julgamento previsto no Inciso anterior; 
VIII - aplica-se aos militares o disposto no Art. 7º, Incisos VIII, XII, 
XVII, XVIII, XIX e XXV, e no Art. 37, Incisos XI, XIII, XIV e XV, bem 
como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no Art. 
37, Inciso XVI, alínea c; 
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites 
de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do 
militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as 
prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas 
as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas 
por força de compromissos internacionais e de guerra. 
FONTE: BRASIL. Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 jun. 2021.
Você viu quantas diferenças? Uma delas é que ao militar não é dada 
a liberdade sindical, nem de greve, diferente dos agentes da Polícia Civil e do 
DEPEN que você viu anteriormente. Sendo forças auxiliares e reservas das 
Forças Armadas, e por sua própria natureza militar, isso também é vedado 
aos bombeiros e aos policiais militares! Outro ponto importante é que, para os 
crimes militares, a investigação fi ca sob a competência do Código Penal Militar, 
o Decreto-Lei nº 1001/1969. Também não pode, o militar que estiver na ativa, ser 
fi liado a nenhum partido político. Aqui surgiu uma dúvida! A lei, como essa que é 
de 1969, não difere dos preceitos da Constituição, uma vez ter sido ela escrita em 
1988? Vamos ver esse tema agora!
4.1 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO PELA 
CARTA MAGNA DE 1988
Você já viu que a Constituição traz o rol das polícias, delineadas a partir 
de sua competência e jurisdição. É a partir da atribuição legal, realizada pela 
norma maior, que são determinados os valores que delineiam todos os outros 
48
 SEGurANÇA PÚBLiCA
regulamentos. As leis que você conhece como Código Civil, que estabelece os 
contratos entre os particulares; o Código Tributário, que controla os impostos 
cobrados e a forma de arrecadação diversa; e o Direito Penal, por exemplo, são 
consideradas normas infraconstitucionais. Elas são reconhecidas assim por não 
estarem escritas no texto original da Constituição. Todas as leis escritas, após ou 
antes da CF/1988, que não sejam parte de uma emenda constitucional, ou seja, 
que não se insiram no próprio texto constitucional, são leis infraconstitucionais. 
A Constituição possui uma forçamuito grande, trazendo o norteamento para 
toda a regulação nacional. Então, é importante entender que, uma vez sendo ela 
a norma fundamental, todas as outras normas devem seguir os seus preceitos 
basilares. Princípios constitucionais devem ser considerados por qualquer diretriz 
legal escrita, seja por Estados, Municípios, Câmara dos Deputados ou Senado 
Federal. Constitucionalização, então, signifi ca que todo o ordenamento jurídico 
nacional deve ser entendido através do entendimento e da expectativa da 
Constituição. Isso ocorre para que novas normas não colidam aos princípios e aos 
valores reconhecidos como fundamentais. E até mesmo as leis infraconstitucionais 
que foram escritas antes da própria Constituição devem ser norteadas a partir 
dela. Veja que nosso Código Penal foi escrito em 1940. Faz-se, dessa forma, uma 
reinterpretação das normas anteriores sob o crivo da Carta Magna. 
O que é um princípio, afi nal de contas? Nas palavras de Luís 
Roberto Barroso (1999, p. 147), “são o conjunto de normas que 
espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e 
seus fi ns. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as 
normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualifi cações 
essenciais da ordem jurídica que institui”. Celso Antônio Bandeira 
de Mello (2000, p. 747) adverte que: “violar um princípio é muito 
mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao 
princípio implica ofensa não apenas a um específi co mandamento 
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave 
forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade [...]”.
Os princípios adotados da separação de poderes (não pode haver 
intervenção entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, mas harmonia 
e independência), a indissolubilidade do vínculo federativo (Estados e Municípios 
não podem se separar da Nação), o pluralismo político e a dignidade da pessoa 
49
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
humana não podem ser menosprezados por qualquer outra norma que venha 
a ser escrita. Também não devem ser ignorados os princípios da soberania, da 
cidadania, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. A Constituição 
traz, em seu Parágrafo 1º, o princípio da soberania popular, conferindo ao País 
o sistema democrático de direito, quando diz que “todo o poder emana do povo, 
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” nos termos da 
Constituição (BRASIL, 1988).
Vamos ver o que o Art. 3° da Constituição considera objetivos fundamentais 
a serem seguidos? Veja que esses são apontados como essenciais, assim, 
nenhuma norma, lei ou, até mesmo, Política Pública (como de Segurança Pública) 
pode trazer qualquer ponto contrário a eles. Vejamos o que nos conta o artigo:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação (BRASIL, 1988).
A redução das desigualdades, por exemplo, segue os mais basilares 
princípios de direitos humanos. Você já conhece a política de aplicação desses 
princípios no país, reconhecidamente pelas Cotas Raciais, Bolsa Família e Luz 
Fraterna. Não se trata aqui de preconceito ou subjugo, mas uma ação afi rmativa 
do Estado. O Estado, através de ações afi rmativas e que buscam assegurar o 
progresso e a promoção humana, de grupos e indivíduos que necessitam da 
atenção estatal, para garantia de seus direitos fundamentais, deve combater à 
vulnerabilidade de pessoas e grupos considerados de risco. Você conseguiu notar 
que esse é um dos requisitos do Paradigma da Segurança Cidadã, estudado 
anteriormente?
Você sabe o que acontece caso alguma norma vá contra o que manda a 
Constituição e seus princípios atribuídos? Ocorre a inconstitucionalidade da 
norma, ou seja, a lei é inconstitucional. A importância da constitucionalização do 
direito vai de encontro à fi nalidade política, de promoção humana e até ideológica 
do país. Para nós, nossos estudos revelam que se os institutos de segurança 
pública não tiverem um marco legal, nem mesmo sua publicidade perante os 
cidadãos e perante o próprio sistema, não há formas de controle e nem mesmo 
haveria qualquer política de segurança pública. 
Você notou como o sistema legal faz prevalecer os princípios nele 
estabelecidos? Então, signifi ca que nenhuma política de segurança pública 
50
 SEGurANÇA PÚBLiCA
pode, da mesma forma que as leis infraconstitucionais, ser contrária a qualquer 
princípio. Isso nos demonstra que: a política pública, nos moldes tradicionais 
utilizados desde a CF/1988, não deve fazer prevalecer o uso intenso da força 
desproporcional, da tortura, dos meios insidiosos, do desrespeito à dignidade da 
pessoa. Da mesma forma, não deve pressupor que todos não são iguais perante 
a lei, sem um julgamento determinado pela ampla defesa e pelo contraditório. 
A política pública que será a base do sistema brasileiro necessita contemplar 
a construção de uma “sociedade justa e solidária”, entender as desigualdades 
sociais e regionais, e, enfi m, “promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
 
Você se lembra dos padrões estudados no ponto anterior, certo? De todos os 
paradigmas que você estudou, o paradigma da Segurança Cidadã é um marco e 
o que mais se assemelha aos princípios da nossa Constituição. Isso porque ele 
foi escrito sob sua égide, e por esse mesmo motivo é considerado o precursor 
de novos ares e novos modelos que, consequentemente, virão a ser instalados 
no futuro. Ainda que surjam inovações, os princípios que evoluíram em prol de 
sentidos mais humanitários devem ser respeitados e seguidos para que não haja 
retrocessos nos avanços que já obtivemos. 
4.2 SEGURANÇA PÚBLICA: DEVER 
DO ESTADO
 
O Art.144 da CF/1988, como você já sabe, inicia-se com a seguinte frase: 
“A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é 
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e 
do patrimônio [...]”. Assim, você já percebeu que é dever do Estado a segurança 
pública, por intermédio do rol descrito no próprio artigo, das instituições de 
segurança responsáveis por essa atividade. 
Entretanto, você estudou que nem sempre foi assim e a partir da nova 
Constituição e dos novos paradigmas, as possibilidades e responsabilidades 
foram destacadas. Dessa maneira, de nada vale ter uma Constituição Cidadã se 
você não conseguir transformar suas belas palavras em atitude, em uma política 
pública que defenda o que preza a própria CF. Assim, é necessário um Estado 
forte, que se faz por intermédio de uma democracia forte, que se fortalece a 
medida da participação de todos. Um Estado fraco se forma ao realizar os desejos 
do mercado globalizado e não mais que isso (BAUMAN, 2000). 
Ao atentar apenas os desejos do mercado e do lucro, que se concretizam a 
partir das grandes empresas e do sonho consumidor de uma sociedade complexa, 
51
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
o Estado aposta suas fi chas na segurança contra qualquer situação que possa vir 
a interferir na arte do consumir e nas atuações dos conglomerados comerciais, 
geralmente estrangeiros (FERREIRA, 2020). 
Você já entendeu o que isso pode acarretar, não é mesmo? Isso pode 
fazer com que o Estado se torne fraco, deixando de lado as políticas públicas 
de inclusão, de educação e saúde, de ressocialização etc., acarretando um 
distanciamento social, contrário a tudo o que previu a Constituição e, até mesmo, o 
paradigma da segurança cidadã, em prol da segurança dos locais de consumismo 
e dos interesses das grandesempresas.
Assim, caro aluno, é preciso cada vez mais a participação popular na 
democracia, a sua e a nossa participação, cobrando de nossos governantes 
políticas públicas que tenham a real participação do povo, que respeitem as 
instituições, não as sucateando, mas infl ando-as com a real importância que 
elas possuem, pois sua principal missão é a defesa do cidadão. As políticas 
públicas de inclusão, educação e de ordem comunitária, como você viu, afastam 
a criminalidade e possuem a intenção de unir a comunidade e as instituições. 
Você notou que, se isso tudo for deixado de lado, pode haver uma involução das 
conquistas já realizadas? 
É dever do Estado a Segurança Pública. Portanto, somente seus institutos 
podem garanti-la a partir de seus efetivos. Não pode o Estado transferir essa 
obrigação para o particular, o que nos difere dos tempos e políticas das capitanias 
hereditárias, que vimos num primeiro momento. Você já deve ter visto nos últimos 
anos o crescimento da procura das pessoas por segurança privada. Todavia, isso 
não retira a responsabilidade estatal. Mesmo que exista um grande efetivo de 
segurança privada, sempre será dever do Estado a Segurança Pública e a criação 
de políticas públicas, e mesmo os agentes de segurança privada, não possuem 
os mesmos deveres e direitos dos agentes de segurança pública, e não são vistos 
pela norma legal como agentes de segurança popular. Nesse sentido, você deve 
estar se perguntando: quando um cidadão comum poderia efetuar uma prisão?
Você já deve ter ouvido falar na prisão realizada por cidadão, não é mesmo? 
Vamos esclarecer esse ponto? Uma vez que a segurança de todos é dever do 
Estado, poderia a pessoa comum (que não faz parte dos quadros das instituições 
de segurança) agir por conta própria? O Art. 301 do Código de Processo Penal 
diz assim: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes 
deverão prender quem quer que seja encontrado em fl agrante delito” (BRASIL, 
1941). 
Essa previsão legal diz respeito à prisão em fl agrante, de alguém que esteja 
cometendo algum ato criminoso e que, ofereça capacidade do cidadão normal 
52
 SEGurANÇA PÚBLiCA
(não policial) de realizar a prisão. Não confunda esse dever legal com dever de 
fato. O que o texto legal quer dizer, é que, se a pessoa, mesmo a vítima, tomar 
atitudes contra o malfeitor, essa estará diante do exercício regular de direito, 
em sua proteção ou mesmo na proteção de outrem. Assim, exclui a ilicitude de 
qualquer ato de defesa própria ou de defesa de terceiro que esteja em perigo. 
Os atos praticados para que fi que caracterizada a exclusão da ilicitude, ou 
seja, o comportamento que passa a ser considerado lícito, devem ser comedidos 
e moderados, com intuito de frear a injusta agressão recebida. Para que isso 
ocorra, deve existir o que conhecemos por fl agrante delito, descrito no Art. 302 do 
Código de Processo Penal (1941): 
Considera-se em fl agrante delito quem: 
I- está cometendo a infração penal; 
II- acaba de cometê-la; 
III- é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou 
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor 
da infração; 
IV- é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, 
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Nesse caso, a prisão pode ser realizada, se possível for, por qualquer um 
do povo. Até mesmo a vítima pode realizar a prisão se conseguir, durante o ato 
criminoso. De outra forma, fi ca caracterizado a vingança e, com isso, o nosso 
ordenamento jurídico não concorda. 
Assim, somente para a segurança pública cabe a responsabilidade da 
incolumidade, das pessoas, dos bens públicos e particulares, do Estado-Nação 
e de suas fronteiras, mas também é nossa responsabilidade, a partir de nossos 
atos, a manutenção da segurança de todos!
Agora, acerca de tudo o que vimos nesse primeiro capítulo, que tal 
se você revisar realizando algumas atividades? Vamos lá!
1 Importante uma norma maior, defi nida como Constituição, para 
que, através dela, exista segurança jurídica. Tendo em vista as 
normas legais, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As Constituições são responsáveis pela maneira que 
determinamos as políticas de segurança pública no Brasil.
b) ( ) O patrulhamento ostensivo é adequado conforme o paradigma 
de segurança adotado pela política de segurança pública, aos 
agentes da Polícia Militar, Bombeiros e Polícia Civil.
53
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
c) ( ) A norma inconstitucional é assim considerada ao declarar 
válidos os princípios abarcados pela Carta Magna.
d) ( ) O Paradigma da Segurança Cidadã se destaca pela 
capacidade de centralizar os poderes das políticas públicas e 
suas ações aos profi ssionais competentes para a realização da 
segurança pública.
e) ( ) A Constituição não gera obrigações quanto às leis anteriores 
a ela. 
2 Como entidade maior, o Estado possui sua função bem defi nida 
quanto à realização e aplicação das políticas públicas. 
Considerando as suas atribuições e competências, classifi que V 
para as sentenças verdadeiras e F para as Falsas:
a) ( ) Consideramos Estado fraco aquele que não atende aos 
âmbitos constitucionais de promoção humana e progresso social, 
atentando-se apenas ao mercado, lucro e ao consumismo.
b) ( ) Ao Estado cabe a incumbência de realizar as políticas de 
segurança pública conforme os padrões evidenciados pela 
Constituição. 
c) ( ) É dever do Estado a Segurança Pública, entretanto, ela pode 
ser terceirizada as agências de segurança privada que atuam na 
área a ser repassada.
d) ( ) O Estado deve promover a segurança de todos, porém ações 
afi rmativas não signifi cam, no contexto do paradigma atual, a 
promoção da seguridade geral.
e) ( ) É função do Estado atentar para uma política de redução 
de desigualdades e acesso a oportunidades para todos, e isso 
pode ser defi nido como um aspecto dos padrões e modelos de 
segurança pública.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
( ) V – V – F – V – F. 
( ) F – F – V – V – V.
( ) V – V – F – F – V. 
( ) V – V – F – V – V.
3 Quanto á competência na segurança pública, analise as sentenças 
a seguir:
I- Compete à Polícia Civil as apurações dos crimes administrativas 
e de tráfi co de drogas internacionais.
II- Compete à Polícia Civil a atribuição de Polícia Judiciária dos 
Estados.
54
 SEGurANÇA PÚBLiCA
III- É de competência dos Estados e Distrito Federal a criação e 
manutenção das Guardas Municipais
IV- A Polícia Federal tem a competência para exercer com 
exclusividade a função de Polícia Judiciária da União.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.
e) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Você viajou até o período do Império, das Ordenações Filipinas e 
compreendeu os primeiros passos das polícias no Brasil. Até aqui, você viu 
a criação do instituto que tratava da segurança pública que abrangia, desde o 
início, diversas formas e maneiras de operações. Podemos identifi car que em 
algum período, desde muito antigos como mais modernos, a segurança pública 
foi estipulada e utilizada a partir de ideologias que não contemplam o seu intuito. 
Vimos que ela serviu para apoiar tanto o monarca quanto o sistema do militarismo. 
Da mesma forma, você refl etiu a respeito do real signifi cado de segurança, que se 
diz pública. Aqui, no início do seu estudo, você conseguiu identifi car a infl uência 
de uma lei, como as Ordenações, e a ingerência de comandos que preveem 
apenas a manutenção do poder e, para isso, utilizam-se de toda força possível. 
Com o passar dos tempos e as mudanças infl uenciadas por um crescente 
iluminismo, pela economia mundo afora e pela passagem do tempo rumo ao 
desenvolvimento, você deve ter percebidouma mudança muito atuante. Essas 
passagens da forma de governar, necessidade de uma evolução política, as 
novas nuances e possibilidades que se abriam, alteraram também a forma de se 
enxergar o mundo. Os padrões foram se remodelando. 
Aqui você conheceu os três paradigmas da segurança pública, entendendo 
as diferenças entre eles, que são compelidas tanto pelo tempo em que se vive 
quanto pela maneira de enxergar a sociedade ao redor, política e culturalmente. 
A mudança de paradigma signifi ca que não se fi ca parado, em lugar algum, e 
era necessário, preciso e importante termos uma norma maior que defi nisse 
os padrões que se quer seguir, para alcançar os rumos determinados para a 
sociedade. Por esse motivo, a Constituição de 1988 conferiu, a partir de princípios 
55
A SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL: HISTÓRIA E PARADIGMAS Capítulo 1 
norteadores e basilares, não apenas de direito, mas de convivência, o padrão a 
seguir. 
Mesmo com imensos ganhos legais a partir da Carta de 1988, ainda temos 
muito o que trilhar. Como você pôde notar, é preciso mais. O envolvimento do 
povo e da comunidade somente será possível com políticas que envolvam as 
necessidades mais prementes de toda a população, ou seja, saúde, educação, 
lazer, cultura, trabalho e a ampla cidadania. Sem isso, não há novo paradigma ou 
arquétipos modernos que atendam aos anseios de qualquer Política De Segurança 
Pública. Note que, na história, os modelos trazidos até aqui conseguem demonstrar 
que as piores mazelas ocorrem quando a população não é considerada pelo seu 
governo. As possibilidades de diminuição da criminalidade são maiores a partir 
da vida comunitária e da convivência. Não se combate criminalidade com mais 
crimes, mas com educação e possibilidades.
Você percebeu, prezado aluno, que foi a legalização, a publicidade e a 
transparência trazida pela Carta Magna de 1988 que conseguiu determinar 
não apenas a importância das polícias, mas também conferiu a elas direitos, 
oportunidades e deveres específi cos. Da mesma forma que outorgou as suas 
capacidades, também trouxe sua jurisdição e sua competência. Veja que tudo isso 
deve ser realizado a partir dos princípios que modernizam a lei geral brasileira. 
Terminamos esse primeiro momento da nossa viagem pela matéria, 
identifi cando que a segurança pública, da mesma forma que é dever da União, dos 
Estados e dos Municípios, depende de todos nós, na maneira a qual convivemos 
em sociedade e do jeito que tratamos um ao outro. 
REFERÊNCIAS
BARROSO, L. R. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de 
uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo, Saraiva, 1999.
BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
BAYLEY, D. H.; SKOLNICK, J. H. Nova polícia: inovações nas polícias de seis 
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 SEGurANÇA PÚBLiCA
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CAPÍTULO 2
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Favorecer a compreensão do exercício da atividade de Segurança Pública 
sendo a prática da cidadania, de participação profi ssional, social e política sob 
a perspectiva de um Estado Democrático de Direito.
• Conhecer a Segurança Pública como ramifi cação constitucional. 
• Defi nir os conceitos do sistema de Defesa Social de maneira crítica, 
fundamentado pela Criminologia Crítica e Sociologia Criminal.
• Apresentar os conceitos de Polícia Comunitária e seus desafi os.
• Analisar a forma e a essência do policiamento no Brasil. 
• Propiciar um estudo da formação da esfera pública e do sistema político 
moderno, considerando a relação entre cidadania, Estado e direitos. 
• Examinar e defi nir o conceito de Defesa Social em uma análisecrítica, tendo 
como contraponto as enormes mazelas sociais.
• Estimar os conceitos da Polícia Comunitária.
• Avaliar o Estado Democrático e a participação das polícias frente às Garantias 
dos Direitos Fundamentais. 
60
 SEGurANÇA PÚBLiCA
61
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Prezado aluno! Você percorreu pela passagem do tempo e identifi cou a 
formação das estruturas que balizaram todo o entendimento e a identidade dos 
órgãos de segurança púbica no Brasil. As normas foram se alterando e, como 
você viu, nem sempre em busca de uma evolução. Tivemos também retrocessos, 
percalços que precisavam ser corrigidos. A partir da Constituição de 1988, você 
percebeu que a lei evidenciava a segurança pública a partir de suas próprias 
responsabilidades e deveres com o povo. Daquele ponto até os dias de hoje, 
a democracia fundou-se como principal e única forma de governo no Estado 
Nacional em que prevalece o poder do povo, que elege os seus representantes 
por intermédio de uma eleição. Ainda assim, é importante um Estado que esteja 
realmente comprometido aos ideais democráticos, da mais autêntica interpretação 
do que signifi ca democracia. 
Democracia só se faz com a participação popular. Lembra das restrições 
históricas quanto ao voto, trabalho e liberdade de algumas classes e minorias? 
Isso, de fato, não representa evolução democrática. Por esse motivo, dizemos 
democracia quando se respeita a pessoa, pela sua evidente qualidade de cidadão 
dentro da sociedade, dotado de direitos e deveres. A ordem democrática alcança 
seu valor com a ampla cidadania. Isso só se faz reconhecendo as semelhanças 
e respeitando as diferenças, mas acima de tudo, convivendo em harmonia dentro 
de uma sociedade plural como a nossa. Esse participar é direito de todos. 
A participação da segurança pública, que foi se alterando com o tempo, 
destaca a proteção da sociedade como um todo, de seus bens, das novas 
confi gurações do Estado e dos valores que passou a abarcar. Sabemos que as 
mudanças ocorrem vagarosamente, e mesmo assim, resquícios dos vícios antigos 
podem sobreviver, como você estudou nos paradigmas da segurança. Com 
as alterações na forma de governo e na maneira de socialização, a sociedade 
também evoluiu, tanto em números quanto em conhecimento. O crescimento 
populacional, as imensas diferenças sociais que criam um abismo fenomenal 
entre mais ricos e mais pobres, a falta de uma política pública de qualidade de 
vida, os grandes problemas da distribuição de renda, a alta taxa tributaria, a 
escassez em oportunidades de educação, trabalho e saúde, tornam o país um 
dos mais desiguais no mundo. 
As políticas sociais não conseguem atingir seus compromissos e se tornam 
cada vez mais raras. Pessoas que fazem parte de uma comunidade de risco, 
seja pela pobreza, seja pelo local de moradia, envolto em violências, fi cam 
abandonadas por qualquer sistema de inclusão social competente, pela falta de 
políticas inclusivas que atendam aos reais problemas de fato. Não bastasse isso, 
62
 SEGurANÇA PÚBLiCA
a crescente criminalidade e a violência policial fazem entender que somente a 
segurança pública é a solução para todos os problemas da população, sendo 
realçada pelos governos como uma guerra contra o crime. Você notou que deixar 
uma população de lado, sem estrutura e sem respaldo, não acarreta cidadania, 
mas em exclusão? Por esse motivo, o paradigma da Segurança Cidadã, como 
você viu, é o mais aplicável em um país democrático. Através dele, há a tentativa 
de inclusão, em um realçar da ampla cidadania. 
Cidadania expressa “um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade 
de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem 
cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, 
fi cando numa posição de inferioridade dentro do grupo social” (DALLARI, 1998, 
p. 14). Dessa forma, para que exista a ampla cidadania, deve haver políticas 
públicas de inclusão. Para defi nir o paradigma da Segurança Cidadã e as demais 
perspectivas de segurança que surgem, todos os setores (de segurança pública) 
devem fazer parte dessa busca pela cidadania inclusiva, que é realizado a partir 
das políticas públicas. Essas políticas precisam estar alinhadas à resolução dos 
problemas sociais imensos existentes no país, principalmente nas comunidades 
mais carentes. 
Nesse segundo capítulo, traremos um objeto pautado nos estudos e ensaios 
da criminologia, essencial para defi nirmos os motivos e ações dos atores sociais 
diversos espalhados em nossa sociedade. A defi nição de crime e criminoso foi, 
com o passar dos tempos, interpretada de inúmeras formas, partindo desde as 
diferenças físicas entre as pessoas até diferenças sociais. Essa compreensão 
ultrapassada ainda toma forma, principalmente quando o sistema de segurança 
pública de defesa social privilegia apenas o seu olhar, que determina o direito 
penal e toda sua força persecutória como o modelo essencial a ser utilizado, em 
detrimento de outros, como as políticas de inclusão.
No entanto, essa forma de olhar e identifi car os problemas sociais diversos, 
que também são causas da criminalidade, bem como o poder penal como única 
solução, não age em conformidade com os padrões aludidos pelo conceito de 
Polícia Cidadã, atuante em um Estado Democrático de Direito. 
Assim, vamos estudar quais são os principais sistemas de defesa social no 
país, e, a partir de suas bases, veremos as funções e as atribuições das polícias 
em um Estado Democrático, quando os próprios agentes de segurança e atores 
envolvidos nessa atividade possuem grande responsabilidade em defender 
e proteger os direitos fundamentais garantidos da pessoa, como você já viu, 
constitucionalmente. Essa incumbência signifi ca a quebra de uma idiossincrasia 
presente historicamente nas polícias, a partir de suas próprias estruturas. Vamos 
passar um olhar atento à estratégia e fi losofi a da polícia cidadã, que é criada 
63
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
através da visão comunitária, ou seja, pela consciente vivência e participação em 
sociedade, assim como quais os seus desafi os e possibilidades no atual cenário 
nacional. Vamos lá?!
2 SISTEMAS DE DEFESA SOCIAL NO 
BRASIL CONTEMPORÂNEO 
Chegamos até aqui por intermédio da história e dos estudos 
que fi zemos acerca dos importantes padrões de segurança pública 
conhecidos em nosso país. Você já deve ter ouvido falar do sistema de 
defesa social, seja nas mídias ou em seus estudos sobre segurança 
pública. Precisamos conversar sobre seus aspectos práticos, políticos e 
jurídicos, e qual a sua importância e infl uência para os sistemas atuais 
de compreensão da segurança de todos. Veja que o Art. 144 da CF 
trata a segurança como direito e dever de todos, e, por esse prisma, 
a interpretação que se faz é que cabe tanto aos estados, municípios, 
governo federal e até mesmo aos cidadãos a segurança pública. Vimos 
que, para o cidadão, a sua participação é efetivamente importante na 
vida comunitária, seja apoiando ou mesmo criticando, mas que possa 
levar a sua experiência de vida comunitária para as pesquisas do setor segurança, 
bem como auxiliar na produção de políticas públicas a partir de suas próprias 
carências. Aos entes públicos, cabem a produção de políticas de segurança e a 
sua efi caz aplicação. Entretanto, como você já estudou, as políticas de segurança 
criadas pelo Estado precisam, pelo prisma do atual paradigma da Segurança 
Cidadã, estar sempre em harmonização às políticas públicas diversas, que devem 
almejar a inclusão e a participação popular.
É aí que você verá que encontramos alguns grandes desafi os do nosso 
sistema de segurança pública. A partir de conceitos e exemplos considerados 
ultrapassados e que se tornam obsoletos com o passar do tempo, sempre em 
constante evolução, é que interpretamos como a atual organização deve agir em 
busca da consonância aos sistemas mais modernosde segurança no mundo. 
Mudanças são, muitas vezes, difíceis de serem realizadas. Alterar o aspecto 
histórico cultural das organizações é uma tarefa árdua, que somente se faz 
possível rompendo os grilhões que nos une às vicissitudes passadas. 
Você pode perceber, no capítulo anterior, de onde vieram os sentidos de 
domínio, patriarcalismo e violência que permeiam o processo histórico e o ciclo 
evolutivo do país e da sua segurança pública. Fazer brotar um novo paradigma sem 
resquícios viciosos dos padrões passados é uma custosa, mas benéfi ca causa. 
As políticas de 
segurança criadas 
pelo Estado 
precisam, pelo prisma 
do atual paradigma 
da Segurança 
Cidadã, estar sempre 
em harmonização 
às políticas públicas 
diversas, que devem 
almejar a inclusão e a 
participação popular.
64
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Como nós estudamos no capítulo anterior, foi a partir da Constitucionalização 
do Direito, das Políticas Públicas e das normas gerais, que passaram a ser 
denominados todos os objetivos e planejamentos diversos, em busca dos 
princípios constitucionais. Até mesmo as atribuições da própria polícia e de suas 
diversas atividades para a garantia da ordem pública passam por esse mesmo 
crivo, pela interpretação das premissas que consideram os direitos humanos e os 
direitos fundamentais. 
No próximo subtópico, será essencial discutirmos acerca do signifi cado de 
defesa social, tanto de sua ideologia quanto da aplicação seu sistema. 
2.1 CONCEITO DE DEFESA SOCIAL
Representante de concepções iluministas, a Escola Clássica do Direito Penal 
trazia conceitos acerca do que signifi cava a defesa social. Para seus componentes, 
como Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Ludwig Feuerbach, a defesa social 
teria imensa participação na garantia dos indivíduos, contra o poder punitivo do 
Estado (BARATTA, 2011). Para essa escola, a teoria da defesa social era a proteção 
que as pessoas tinham contra o poder arbitrário de punir do agente estatal, grosso 
modo, servia como um freio às intenções punitivas do direito penal, que somente 
poderia agir quando as outras instâncias do direito fossem inefi cientes para atender 
o caso concreto. Então, para eles, a defesa social signifi cava de fato a defesa das 
pessoas da sociedade, contra as ações do Estado, que para iniciar sua persecução 
penal, teria que demonstrar os motivos e causas de tal litígio. Foi com a Escola 
Positiva Italiana que o direito e a segurança pública receberam a função de defesa 
da sociedade contra os criminosos, que a nomenclatura sofreu signifi cativas 
alterações em sua concepção (BARATTA, 2011).
A ideologia da defesa social ganhou robustez nos últimos anos quando as 
forças de segurança norte-americanas passaram a agir contra os problemas 
causados pelos ataques terroristas nas torres gêmeas do Word Trade Center 
em setembro de 2001. Incentivados pelo medo e pela busca de uma segurança 
efetiva, reafi rmaram e modelaram o seu sistema interno de segurança a partir 
dessa ideologia. Ela existe há muito mais tempo, sendo trazida pelas iniciais 
análises da Escola Positiva do Direito Penal. Tendo em Lombroso, Ferri e Garofalo 
seus principais exponenciais, a Escola Penal Positiva ocupou-se com o composto 
fi siológico do homem (BARATTA, 2011).A partir de seus estudos iniciais, que se 
basearem biopsicologicamente, esses autores criaram, pelas suas experiências 
de vida e estudos científi cos, uma determinação própria para o que seja crime e 
criminoso. Veja que eles vão além quando designam quais os sujeitos viventes 
na sociedade seriam capazes de praticar crimes, por intermédio das análises de 
mensuração biológica e predisposições psicológicas (BARATTA, 2011).
65
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
A Escola Positiva pôs na discussão central a ideologia da defesa social no Direito 
Penal, que trará consequências analisadas pelo estudo da Criminologia. Adeptos à 
teoria da evolução de Charles Darwin, os pensadores dessa escola acreditavam 
que a responsabilidade das pessoas não está inserida em um livre arbítrio, mas em 
um determinismo biológico ou sociológico que defi ne a periculosidade do sujeito 
criminoso. Assim, o sujeito está predisposto a ser um criminoso, pois evoluiu a 
isso. Cesare Lombroso (1835-1909), como médico que era, acreditava que existem 
pessoas fi siologicamente determinadas a cometer crimes mais que outras, e no fi m 
do século XIX, realizou uma pesquisa nos centros penitenciários do norte da Itália, 
medindo os cativos em busca de algo que conectasse aqueles que ele considerava 
como homem defeituoso (BARATTA, 2011).
Nessa mesma escola, Enrico Ferri (1856-1929) acreditava na comprovação 
da ciência para suas análises criminológicas, quando estudou determinados 
padrões que considerava marcantes para a maldade do criminoso. Esses padrões 
indicam, para Ferri, que algumas pessoas, mais que outras, são adversas ao 
bem-estar comum por determinações genéticas e causas patológicas (BARATTA, 
2011). Na mesma mão, Raffaele Garofalo (1851-1934) afi rmava que o crime era 
um delito normal, existente independentemente da existência de qualquer tipo de 
lei, declarando que nascia com o homem e de acordo com a degeneração de 
seus valores, torna-se perigoso para o convívio em sociedade (BARATTA, 2011). 
Essa perigosidade do sujeito, impulsiva da delinquência e de toda a maldade 
humana, faz menção ao determinismo psicológico que pode ser hereditariamente 
repassado de pai para fi lho. Dessa forma, para ele, a violação das normas postas 
era como uma violação aos sentimentos de piedade e de probidade, presentes 
em todos os seres humanos normais e ausentes naqueles defi nidos criminosos 
(FERREIRA, 2020).
O alienista, de Machado de Assis, escrito em 1882, demonstra 
o exemplo da infl uência de uns sobre os outros, quando determinado 
psicólogo se muda para uma pequena cidade, passando a estudar 
os problemas psicológicos dos moradores. Para se aprofundar 
no assunto loucura, começa a trancafi ar todos em seu hospício, 
acusando-os de alienação, tomando, assim, a liberdade das 
pessoas. No conceito que estamos estudando, quem teria o poder de 
decidir quem é o inimigo e por quais razões escolhe um inimigo em 
particular?
FONTE: ASSIS, M. O alienista. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. 
(Volume II).
66
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Para os integrantes dessa escola que transformou a ideologia da defesa 
social, você notou que há um pensamento em comum, carregado por suas 
doutrinas? Essa concepção é que o homem é um ser em evolução e que se não 
é capaz de evoluir ao ponto de conviver em sociedade, esse personagem pode 
ser tirado de circulação. Defi nem também que os homens ditos criminosos trazem 
consigo, numa herança hereditária, grosso modo, a predisposição para a violação 
de normas, e contra esse a força do Estado deve agir retirando sua liberdade. 
Como os pensamentos da Escola Positiva do Direito Penal são analisados a partir 
de características físicas e psicológicas das pessoas, você reparou que pode 
haver uns mais criminosos que outros a partir da formação de seu biotipo? 
O que é Criminologia? 
Seguidor dos princípios construídos por Lombroso, o magistrado 
Raffaele Garofalo (1851-1934) foi dentre os que fi zeram parte da 
Escola Positiva em sua fase inicial, aquele que trouxe aos estudos a 
palavra Criminologia em sua obra de 1855, intitulada com o próprio 
termo que havia inventado. Criminologia, para o entendimento de 
Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (2015, p. 37), 
“é a disciplina que estuda a questão criminal do ponto de vista 
biopsicossocial, ou seja, integra-se com as ciências da conduta 
aplicadas às condutas criminais”. Para Edwin H. Sutherland (2015), 
a criminologia é como um conjunto de conhecimentos que estudam 
o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do 
delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocialização.
Alessandro Baratta (2011) ensina a ideologia da defesa social por meio de 
alguns princípios queconstroem as matrizes constitutivas dessa doutrina penal. A 
defesa social surgiu na época da Revolução Burguesa, sendo herdada pela escola 
clássica positivista, afi rmando a práxis penal utilizada nos dias modernos. Em seus 
preceitos essenciais, a teoria confi rma a legitimidade do Estado, como “expressão 
da sociedade”, para a repreensão da criminalidade por meio de suas instâncias 
ofi ciais de prevenção e controle social. Afi rma também que o delinquente é um 
ser danoso para a sociedade, “um elemento negativo” e disfuncional em ação no 
trato social e que deve ser imobilizado, contido, pois fi gura o mal. De toda forma, 
a reação contra o ato desviante reafi rma os valores e as normas impostas pela 
sociedade e pelo Estado. Assim, o desviante e o desvio (criminoso e o crime) 
são atitudes reprováveis, pois contrariam os preceitos tidos como valorosos pela 
67
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
coletividade. Dessa forma, a pena possui ampla fi nalidade em seu sentido dualista 
de retribuir o injusto causado ao delinquente e a de prevenção de futuros crimes, 
servindo também em sua função pedagógica. A ressocialização é um de seus 
intuitos. Possui também o caráter de igualdade entre todos, pois afi rma serem 
todos iguais perante a lei, ao julgar qualquer criminoso que atente contra os 
valores difundidos pelo interesse de proteção penal, que são os valores comuns a 
todos os cidadãos (BARATTA, 2011).
Todas as teorias anteriores afi rmam o direito penal e o direito de punição do 
Estado, o que justifi cam uma ampliação do poder punitivo, confi rmando o sistema 
de Defesa Social. Os princípios da ideologia da defesa social são:
• Princípio da legitimidade: cabe ao Estado reprimir a 
criminalidade a partir de seus diversos meios de repressão que 
representam a legítima reação da sociedade na reprovação de 
condutas criminosas e na reafi rmação dos bons valores e das 
normas sociais. 
• Princípio do bem e do mal: “o delito é um dano para 
a sociedade. O delinquente é um elemento negativo e 
disfuncional do sistema social”. Assim, o crime é o mal que 
ocorre na sociedade que representa o bem.
• Princípio da culpabilidade: o delito é a pura demonstração de 
uma atitude reprovável do sujeito criminoso, que é contrária aos 
valores e normas que estão presentes no âmbito social como 
princípios de boa convivência que não devem ser atacados.
• Princípio da fi nalidade ou da prevenção: indica a pena em 
uma função dualista – a de retribuir ao criminoso o mal por ele 
causado por intermédio da penalização, e, em segundo plano, 
em sua natureza de prevenção de novos crimes. Aqui há a 
função de ressocializar o indivíduo através da pena.
• Princípio da igualdade: há a igualdade entre todos quanto à 
lei penal, quando a penalização deve ser aplicada de modo 
igual aos infratores.
• Princípio do interesse social e do delito natural: “o direito 
penal, em sua persecução, deve agir em casos em que o 
interesse social seja realmente fundamental para a boa 
coexistência social. Assim, devem ser interesses comum a 
todos” (BARATTA, 2011, p. 42). 
O sistema de defesa social é o sistema que vivemos hoje e que condiciona 
as atividades policiais e de persecução penal. A crítica que se faz ao sistema cabe 
diretamente no olhar que ele faz da sociedade. Nesse ponto, ele apenas destaca a 
importância do direito penal e de seus mecanismos, mas não interpreta as diversas 
mazelas sociais, estudo esse realizado pela Sociologia Criminal, Criminologia e 
Criminologia Crítica. Essas áreas trouxeram para o debate a análise da Reação 
Social, em contrapartida ao sistema de Defesa Social. Os estudos da Reação 
Social demonstram que o crime não é uma qualidade intrínseca ao criminoso, 
mas composto por variantes diversas, entre elas, os complexos processos de 
interação social. 
68
 SEGurANÇA PÚBLiCA
No texto Estado, polícias e segurança pública no Brasil, Renato 
Sérgio de Lima, Samira Bueno e Guaracy Mingardi (2016) trazem 
uma análise acerca da infl uência que teria no âmbito da segurança 
pública, as reformas institucionais que observem a modernização 
dos estudos da criminalidade, da criminologia e dos novos conceitos 
sociais latentes em nossa sociedade, como a reação social. O texto 
indicado para você pode ser encontrado no site: https://www.scielo.
br/pdf/rdgv/v12n1/1808-2432-rdgv-12-1-0049.pdf.
O paradigma da reação social desloca as causas do comportamento tido 
como criminoso para as condições defi nidas pela sociedade a certos grupos de 
pessoas selecionáveis para o uso da etiqueta e do rótulo constante no crescente 
processo de criminalização. Tais confl itos partem da defi nição de desvio e crime, 
e como é realizado este entendimento, questionando a rotulação constante e a 
estigmatização desnecessária, muitas vezes, imposta em algum ato inerte ou 
insignifi cante para o direito (FERREIRA, 2020).
Algumas nomenclaturas foram utilizadas em nossas refl exões. 
Dessa forma, vamos analisar algumas, sempre com a indicação do 
livro ou obra que originou sua formação intelectual, assim, você pode 
buscar a leitura apontada para acrescentar conhecimento aos seus 
estudos: 
• Sociologia criminal: formulada no século XX pelo sociólogo 
francês Émile Durkheim, em seu livro As regas do método 
sociológico, apresenta a defi nição do que seja crime. Para 
o pensador gaulês, o crime se trata de uma funcionalidade 
social, presente em toda sociedade, mas não uma patologia 
como era antes considerado. Em seus estudos, o delito seria 
parte da vida em coletividade, um elemento fi siológico, mas 
não patológico. O crime reforça os valores da sociedade e suas 
tradições, provocando uma reação social que coletivamente 
sustenta os valores e normas atacadas pelo desvio. 
• Criminologia crítica: também conhecida como Criminologia 
Radical, enfoca a dualidade criminalidade/sociedade a partir de 
69
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
análises marxistas. Seu marco teórico é o italiano Alessandro 
Baratta e sua obra Criminologia crítica e Crítica do direito 
penal: introdução à sociologia do direito penal, observa as 
ideologias e as teorias do controle social e do crime, fundando 
a Criminologia crítica e a sociologia penal.
• Reação social ou Labeling Approach: é um estudo derivado 
da Criminologia crítica que altera os padrões de interpretação 
da criminalidade e criminoso, a partir das relações sociais 
diversas como a interação social e a estigmatização social. 
Essa teoria também é chamada de Labeling Approach 
ou Etiquetamento Social, foi desenvolvida pelo sociólogo 
americano Howard Becker em seu livro Outsiders, estudos da 
sociologia do desvio, de 1963.
A grande importância dos estudos de criminologia se revela na 
seguinte ordem: Criminologia → Realidade Social = Política Criminal
2.2 OS PROTAGONISTAS DO 
SISTEMA DE DEFESA SOCIAL
Como vimos, pela ordem estabelecida na Constituição de 1988, todos, desde 
cidadãos, estados, municípios e nação devem realizar sua parte no acordo em 
prol da segurança pública. Entretanto, como você já percebeu, isso somente seria 
possível a partir de uma norma de procedimentos, avaliados a partir dos desígnios 
que convalidem a vontade coletiva. Esse mecanismo é realizado pela política de 
segurança pública nacional. 
O último plano escrito em 2018 com validade até o ano de 2028, defi ne a 
Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social. A partir dele, a disposição 
de uma ordenação que visa o combate contra a criminalidade prevê a importância 
de um plano único e centralizado, mas que ao mesmo tempo descentralize as 
tomadas de decisões que devem ser realizadas pelas bases e dados estatísticos 
de cada região. 
70
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Se quiser aprender mais sobre o atual Plano Nacional de 
Segurança Pública e Defesa Social, você pode acessá-lo neste site:
https://www.justica.gov.br/news/copy_of_PlanoePolticaNacional 
deSeguranaPblicaeDefesaSocial.pdf. 
Nele, você pode ter acesso aos últimos estudos acercados 
grupos criminosos atuantes em cada estado do país e quais os 
planejamentos estruturais de combate ao crime organizado.
Assim, temos os protagonistas do sistema de defesa social, trazidos pelo 
Plano Nacional de Segurança Pública, visto a seguir:
FIGURA 1 – SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA (SUSP)
FONTE: Marcondes (2021, s.p)
Veja que o sistema de defesa social atende a uma ideologia formulada 
antes mesmo de sua aplicação pelas instituições de segurança pública, as 
quais conhecemos hoje. Então, é a partir da análise inicial acerca do que trata 
a ideologia que podemos entender o sistema em si. Existem diferenças entre a 
terminologia sistema e ideologia de defesa social. Entretanto, o sistema se traduz 
em um conjunto de elementos que têm a sua produção realizada de maneira 
intelectual, ou seja, gerado pela intelecção do homem. O sistema da defesa social, 
71
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
ainda que utilizado em um paradigma considerado moderno, como o paradigma 
da segurança cidadã, pode, como você sabe, trazer resquícios da ideologia que 
primeiro trouxe essa compreensão para o mundo, determinando polêmicas acerca 
do próprio sistema adotado pelas políticas de segurança pública. Então veja as 
defi nições desses conceitos trazidas pelo dicionário Aurélio (2021, s.p.).
• “Ideologia: origem das ideias humanas às percepções sensoriais do 
mundo externo.
• Sistema: “conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente 
organizados”, que podem sofrer infl uências das diversas ideologias 
existentes.
 Assim, você pode defi nir que todos os institutos de segurança pública são 
protagonistas do sistema de defesa social, pois tanto ideologicamente quanto na 
prática é o sistema utilizado. Por mais que estejamos vivenciando uma mudança 
de paradigma e padrões para a realização das políticas públicas de segurança, 
o modelo utilizado ainda é o da Defesa Social. Esse sistema também sofre com 
algumas defi ciências próprias de modelos originados em situações distantes da 
democracia.
Aqui, trazemos como sugestão de leitura o livro de Bartira 
Macedo de Miranda Santos, Defesa social: uma visão crítica. A 
seguir, um trecho do livro:
“A defesa social constitui uma armadilha discursiva acerca 
dos fundamentos do poder punitivo. O Direito Penal e o Processo 
Penal servem para defender a sociedade contra o crime e os 
criminosos? Juristas e população, em geral, acreditam que sim, 
que ambos são instrumentos de defesa social. Este livro ambiciona 
mostrar os perigos dos discursos de defesa social, tomando-os em 
sua perspectiva histórica e relações de poder, desde a chamada 
Escola Clássica do Direito Penal, em que a defesa social era a 
proteção do indivíduo contra o poder punitivo arbitrário, até a Escola 
Positiva Italiana, em que o Direito Penal ganhou a função concreta 
de defender a sociedade contra os indivíduos criminosos. Aborda-
se, ainda, a reconfi guração das ciências penais da Escola Técnico-
Jurídica, que expulsa a defesa social do Direito Penal e a acomoda na 
Política Criminal, elaborando o modelo de ciência penal mais apto à 
realização concreta dos ideais dos estados autoritários. Essa Escola 
extraía dos juristas a função de questionar o ordenamento jurídico 
72
 SEGurANÇA PÚBLiCA
que aplicavam, dando-lhes a função de proteger a sociedade de uma 
forma mais ampla: eliminando não apenas os criminosos, mas todo 
indivíduo considerado perigoso para a manutenção da ordem social. 
Muito mais que simples alterações semânticas, as várias concepções 
de defesa social e seu ajustamento discursivo às novas relações de 
poder e respectivas formas de controle social repressivo, de cada 
momento histórico, apresentam-se como um conjunto de ideias” 
(MIRANDA, 2015, p. 12).
FONTE: Adaptado de SANTOS, B. M. de M. Defesa social: uma 
visão crítica. São Paulo: Estúdio Editores, 2015.
2.3 A PROBLEMÁTICA DO SISTEMA 
DE DEFESA SOCIAL
Existem grandes problemas para a ideologia e consequente sistema de 
Defesa Social, quando, desde seu nascimento, indica que as pessoas podem ser 
diferenciadas pelas suas qualidades físicas, que são carregadas hereditariamente. 
Com o passar dos tempos, essas diferenças foram se avolumando na sociedade, 
quando se estuda e interpreta um grupo considerado como criminoso. Veja 
que nos Estados Unidos, após o fatídico 11 de setembro de 2001, as políticas 
de segurança incluíram, a partir de táticas de guerra, o vigoroso combate 
contra determinados grupos do Oriente Médio, considerados terroristas. Para o 
imaginário comum e para o fundamento da ideologia da defesa social, traços e 
caracteres originários das arábias e Ásia poderiam indicar um provável terrorista. 
Nesse sistema, é comum a verifi cação antes do indivíduo e de sua genealogia, 
sem mesmo ele ter cometido qualquer crime. 
Aqui há a defi nição de direito penal do inimigo, que deve ser cassado pelas 
suas diferenças. 
Para Baratta (2011), a ideologia da defesa social perpetua as diferenças e 
ressalta as desigualdades, pois não interage com as transformações da realidade. 
Para o autor italiano, é necessária uma visão crítica aos operadores do direito 
e segurança pública, ao julgar os casos conforme a visão do que há de real na 
sociedade e sua complexidade, para não perpetuar as desigualdades sociais e 
não preservar a atuação seletiva do sistema. O mito é de que a lei protege a 
todos, igualando-os, trazendo o direito penal como um epiteto da igualdade, que 
infelizmente não prevê as diferenças sociais e econômicas (BARATTA, 2011).
73
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
A prática policial ligada a essa teoria afi rma a seletividade do sistema em sua 
atividade de prevenção, sempre contra os pobres e os estigmatizados que vivem 
na sociedade. O discurso do sistema da defesa social está diretamente vinculado 
numa concepção de direito penal do autor, transformando os etiquetados de 
criminosos e os estigmatizados por qualquer situação como inimigos sociais. 
Esses, então, precisam ser combatidos pela defesa social e seu aparato de 
segurança pública e: 
Em nome desta defesa social, justifi cam-se toda sorte de 
violações dos direitos humanos que marcam a segurança 
pública no Brasil. Não raro, as violações dos direitos humanos 
estão acompanhadas de um discurso justifi cador que invoca a 
necessidade de defesa social no combate ao crime (SANTOS; 
CARDOSO, 2020, p. 6). 
Isso pode acarretar políticas públicas que atentem para estereótipos e 
estigmas que carregam determinados grupos e pessoas e, por esse motivo, há 
a mobilização da força de proteção social contra alguns personagens tidos como 
criminosos, sem mesmo terem cometido algum crime. 
O sistema penal baseado na defesa social, possui suas bases fundadas nos 
estudos do que seja crime, em um plano que não considera as evoluções sociais 
e as diferenças gritantes que ocorrem na sociedade, principalmente no âmbito 
econômico. Entretanto, o sistema confi rma o direito penal e seus institutos de 
repressão.
É nesse sentido que há o distanciamento das políticas públicas para com o 
paradigma da Segurança Cidadã, que manifesta a democratização aos órgãos de 
segurança, com planejamento direcionado às garantias e direitos fundamentais. O 
medo da violência crescente e a incapacidade das agências de segurança pública 
em lidar com a criminalidade confi rma o crescimento da ideologia da Defesa 
Social, que não considera em seus estudos as enormes diferenças sociais no 
país, bem como as desigualdades e faltas de oportunidades. Pelo mesmo prisma, 
faz vigorar o direito penal do autor, considerado quando apenas o autor do fato 
criminoso é estudado, mas não os motivos para a composição do crime. Isso nos 
leva a interpretar o crime apenas pela pessoa que o comete, não interessando 
situações justifi cantes ou a própria interação social da pessoa em meio ao 
ambiente em que vive.
74
 SEGurANÇA PÚBLiCA
O que é o Direito Penal do Inimigo? 
Criado em 1985 pelo alemão GhunterJacobs, o Direito Penal do 
Inimigo, também reconhecido como direito penal do autor, trouxe à 
discussão os indesejáveis em sociedade, que deveriam ser extirpados 
sem as garantias de um cidadão comum. Nessa perspectiva, o 
inimigo não recebe garantias nem benefícios do Direito. Para ele, 
terroristas, mafi osos, integrantes de crime organizado, entre outros, 
fazem parte do inimigo a ser combatido. Dessa forma, a repressão do 
Estado pode vir contra o inimigo se baseando em condutas futuras 
que ele possa realizar contra o Estado, ou seja, é preventiva quanto 
ao delito que possa vir a ser cometido. É, então, uma alternativa que 
previne a ocorrência de crimes, demonstrando o caráter punitivo 
da justiça penal ao determinar a ruptura dos direitos individuais do 
cidadão tido como inimigo. A crítica a essa ideologia é oportuna 
quando questiona quem deve dizer quem é inimigo, quem teria esse 
poder. Outro argumento válido diz respeito ao uso do direito penal 
como instrumento preventivo, atuando contra determinadas minorias, 
muitas vezes, já estigmatizadas como pobres e negros. A ascensão 
das normas de higienização nazista contra o povo judeu encontrou 
uma forma de identifi cá-los como inimigos do Estado, cerceando 
seus direitos de todas as maneiras. Esse exemplo é um passo 
fundamental para a teoria que viria em seguida.
No próximo subtópico, faremos uma análise de fundamental importância para 
a segurança pública e os meios de garanti-la em uma sociedade democrática. 
Democracia, acima de tudo, traduz-se pela afi rmação dos direitos fundamentais 
que deve ser realizada por todos os institutos, inclusive os de segurança pública.
3 AS FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES 
DA POLÍCIA NUMA SOCIEDADE 
DEMOCRÁTICA
Prezado aluno, vimos que, historicamente, a polícia ostensiva possui qualidades 
inerentes à prática e estrutura militar. A militarização nas polícias preventivas da 
segurança pública partiu, a princípio, para a proteção do monarca ou dos grupos 
75
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
controladores da sociedade, até chegar aos dias de Constituição e democratização 
de toda a política brasileira. Entretanto, são comuns a permanência do pensamento 
e a doutrina patriarcal e rígida da organização, movida tradicionalmente pelas 
matrizes constitutivas do próprio exército e da cultura social. Daí tiramos a infl uente 
questão de como fazer funcionar os valores da soberania popular no interior dessas 
matrizes, para que possam responder à altura da evolução ocorrida. Aqui, temos 
mais um paradigma que precisa ser vencido.
Para que se altere um padrão, deve haver uma crise nos modelos utilizados 
até que esse passe a ser questionável ao ponto de uma ruptura. Nesse caso, a 
ruptura precisa partir de dentro para fora, ou seja, do interior da instituição que 
se pretende alterar. Para isso, os valores devem ser dispostos como meta a 
ser atingida. As atribuições da polícia, órgão da segurança pública, devem ser 
manejadas a partir da garantia dos direitos fundamentais e dos direitos humanos. 
É certo que isso somente pode ocorrer em uma ordem democrática. 
A transição do regime autoritário para o democrático fi cou conhecida 
por diversas denúncias de abuso policial (ADORNO, 1998). Isso signifi ca o 
distanciamento de uma incorporação válida dos princípios que regem a vida social 
em prol dos direitos da pessoa, que muitas vezes não se fazem presentes nas 
atividades práticas da polícia. Isso se deve a uma ausência de “mecanismos de 
controle democrático sobre as polícias” e a presença de um “padrão cultural muito 
difundido e incontestado que identifi ca a ordem e a autoridade ao uso da violência” 
(CALDEIRA, 2003, p. 136). Nesse sentido, as violações de direitos humanos 
cometidas pelos agentes estatais se relacionam a um autoritarismo socialmente 
implantado que tem como prisma central o uso da violência para a resolução dos 
confl itos diversos (PINHEIRO, 1991). Esse padrão de ação não se relaciona com 
o sistema de Polícia Comunitária nem com o paradigma da Segurança Cidadã. 
Todavia, como você pode observar, o crescimento exponencial da população, 
das cidades e da criminalidade evidenciam ainda mais as responsabilidades dos 
agentes estatais de segurança. Assim, tem-se a ideia de que o agente policial 
tem a determinação e efi ciência ao impor determinados valores morais que fazem 
parte do ideal de ordem e, por outro lado, que suas ações sejam realizadas de 
acordo com as regras formais que limitam a atuação policial dentro da legalidade. 
Nesse sentido, caro aluno, existem elementos inerentes ao próprio ambiente do 
trabalho policial e que são determinantes para suas ações: o perigo, a autoridade 
e as pressões por efi ciência (SKOLNICK, 2002).
Verifi ca-se que a exposição constante ao risco, bem como a premência de 
efetivar a autoridade do Estado por intermédio de suas ações podem estimular 
refl exos conservadores e comportamentos reacionários, confi rmando a 
estereotipação, assim como o isolamento social do agente policial e uma forte 
solidariedade interna com os seus iguais. Nesse sentido, segundo Skolnick 
76
 SEGurANÇA PÚBLiCA
(2002), policiais podem desenvolver algumas atitudes estigmatizadoras para sua 
defesa própria perante pessoas desconhecidas e perante incertezas que encontra 
em sua lide. Esse estigma parte do profi ssional contra pessoas que ele interpreta 
ser um risco para si próprio. 
O isolamento social se deve pela sua própria função, que evita contato com 
determinados grupos da sociedade considerados pelos próprios policiais como 
perigosos e que podem realçar atitudes hostis contra eles. Esse afastamento do 
convívio público e social é a causa do desenvolvimento de uma solidariedade 
interna, desenvolvedora do pragmatismo e do conservadorismo da instituição 
(SKOLNICK, 2002). 
Nesse sentido pragmático do serviço policial, as pressões por efi ciência, 
que partem tanto da sociedade e seus meios de comunicação quanto de seus 
superiores, induziriam os policiais à ideia de valorização às prisões efetuadas e à 
resolução de crimes, em detrimento às regras que impõem limites no desemprenho 
de suas funções. 
Para o cientista Reiner (2004), essas pressões diversas por resultados, 
aliadas aos perigos certos da profi ssão, podem causar a desvalorização de 
princípios legalistas e normas que visam à proteção dos direitos humanos, pois a 
garantia da defesa social é a ação a ser laureada.
Entretanto, regras, atitudes e vícios da função devem ser percebidos também 
através de diferentes contextos. Reiner (2004, p. 135) afi rmou que as forças policiais 
presentes nas democracias modernas mundo afora “veem-se frente a frente com as 
mesmas pressões básicas similares que modelam uma cultura distinta e característica 
em muitas partes do mundo, mesmo tendo ênfases diferentes no tempo e no espaço, 
e variações subculturais internas”. Isso signifi ca que as características das culturas 
policiais necessitam de uma interpretação que considere todo o contexto político 
e social ao seu entorno e como as organizações de segurança pública podem ser 
infl uenciadas por acontecimentos externos a ela, a ponto de desvalorizar a proteção 
aos direitos humanos para a garantia da ordem e da defesa social.
No atual paradigma, como você viu, é mister a inclusão da comunidade, de 
seus anseios e difi culdades na escala a ser analisada pelos órgãos de segurança 
pública. Dessa forma, uma mudança precisou e ainda precisa ser realizada 
dentro de instituições tão antigas e tradicionais como a Polícia Militar e sua 
ordem miliciana. Veja que a Segurança Cidadã não apenas presta o habitual 
sistema repressivo e ostensivo, mas precisa saber resolver problemas e confl itos 
diversos, de uma maneira extrajudicial, se possível for; identifi cando a origem 
dos antagonismos que venham a causar o crime. Para isso, mudanças precisam 
ser realizadas, tanto na cultura interna das instituições quanto na maneira de se 
enxergar policial, isso também parte da comunidade.77
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Você já deve ter visto em sites de notícias e jornais televisivos o 
número crescente de suicídio entre policiais de todas as instituições. 
A pressão da função, o encontro iminente com a violência, o perigo 
e a preocupação com sua própria segurança e de seus familiares 
causam uma agressão psicológica, muitas vezes, irreversível aos 
policiais. Para combater essa taxa de suicídio alargada no Brasil, 
as Secretarias de Segurança Pública de cada Estado informam, a 
partir de cursos e palestras, as possibilidades de auxílio dentro da 
corporação contra casos de depressão e ansiedade causados pelo 
ambiente de labor policial e que podem levar ao suicídio. Auxílios 
como esses ainda são poucos no Brasil. Veja a importante análise 
feita por Cleber Souza e Luís Adorno, publicada no site de notícias 
da UOL em setembro de 2019: 
“Em 2017 e 2018, 17 policiais civis do estado de São Paulo 
tiraram a própria vida. Segundo a ouvidoria da corporação, trata-se 
de uma taxa média de 30,3 suicídios a cada 100 mil policiais, por ano 
– três vezes o índice aceitável pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS), que considera situação de epidemia a partir de 10 suicídios 
a cada 100 mil. A polícia civil tem 28 mil homens e mulheres. Sem 
auxílio psicológico, policiais civis morrem mais por suicídio em SP: 
a taxa de suicídios entre policiais civis é seis vezes maior do que 
a taxa dos mortos em serviço (5 a cada 100 mil). Os dados foram 
divulgados pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo na manhã de 
hoje, com o objetivo de apresentar ao estado, com recomendações, 
para que haja políticas de segurança pública que reduzam o índice. 
Apesar de o índice ser alto, a Polícia Civil não tem programa nem 
suporte para a saúde mental, segundo o ouvidor Benedito Mariano. 
“Precisa começar do zero na Polícia Civil. O sucateamento dialoga 
com o estresse do policial, porque tem que fazer o serviço de dois 
ou três. Existe uma negligência com relação à saúde mental dos 
policiais civis de São Paulo”. 
FONTE: Adaptado de <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2019/09/25/suicidio-e-principal-causa-de-morte-de-policiais-
civis-em-sao-paulo.htm#:~:text=Segundo%20a%20ouvidoria%20
da%20corpora%C3%A7%C3%A3o,28%20mil%20homens%20e%20
mulheres.>. Acesso em: 20 jun. 2021.
78
 SEGurANÇA PÚBLiCA
3.1 O POLÍCIAMENTO DEMOCRÁTICO
Quando se pensa em policiamento, a ideia de repressão e uso da força física 
surgem logo à mente. O problema está no uso da força excessiva, que gera uma 
violência, muitas vezes, desproporcional. Em um sistema político democrático, 
podemos entender que há uma limitação ao uso de uma força agressiva e 
extrema, pois a ação policial está limitada às normas que regem tanto o estatuto 
interno policial quanto a composição da lei e ordem. Note que o uso excessivo 
da força nunca foi uma característica apenas de regimes autoritários, mas de 
democráticos também (PINHEIRO, 1991).
O que se observa é que o discurso da democracia não garante por si só 
o estímulo para um policiamento democrático. Isso ocorre principalmente nos 
países como o Brasil, que passaram uma transição entre regime autoritário e 
democrático marcada por graves confl itos sociais, cujas forças de segurança 
pública possuíam a função da manutenção da ordem adotando os padrões 
dos governos autoritários, que se faziam presentes nas instituições policiais 
(ZACCONE, 2016).
Em uma democracia, o policiamento democrático tem uma importância muito 
bem defi nida na produção da viabilidade da ordem e dos valores que determinam 
a lógica democrata (BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Nesse objetivo, a polícia não 
necessariamente deixa de usar a força em suas atividades quando necessário, 
mas se utiliza desse mecanismo no sentido de afi rmar o exercício da ampla 
cidadania e no fortalecimento das premissas democráticas. 
Entretanto, como nós vimos, existem concepções que defi nem a segurança 
pública no Brasil por intermédio de ações formuladas pela própria política de 
segurança. Uma dessas concepções é idealizada no combate direto, em que os 
órgãos de segurança pública se percebem em meio a uma missão bélica contra 
os inimigos, conforme apresenta Souza Neto (2008, p. 3):
• A Primeira Concepção:
Seu papel é “combater” os criminosos, que são convertidos 
em “inimigos internos”. As favelas são “territórios hostis”, 
que precisam ser “ocupados” através da utilização do “poder 
militar”. A política de segurança é formulada como “estratégia 
de guerra”. E, na “guerra”, medidas excepcionais se justifi cam. 
Instaura-se, então “uma política de segurança de emergência” 
e um “direito penal do inimigo”. O “inimigo interno” anterior – 
o comunista – é substituído pelo “trafi cante”, como elemento 
de justifi cação do recrudescimento das estratégias bélicas de 
controle social.
79
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Como você pôde perceber, esse é um padrão reminiscente do paradigma da 
Segurança Nacional, que evidenciava o Regime Militar. Esse modelo passou a 
ser internalizado pelas instituições de segurança pública, a partir da ideologia da 
defesa social, aceita em grande parte do mundo como essencial. O que o torna tão 
prestigiado faz parte de um discurso infl uente dos meios de comunicação social, 
que afi rma o populismo penal em que qualquer situação contra a lei e ordem deve 
ser repreendida pelo uso da força física, ainda que excessiva. Você pode notar 
que se trata de um resquício do paradigma anterior que ainda vive latente em 
nosso sistema, seguindo os trejeitos do autoritarismo e patriarcalismo calçados 
em nossa história, residente na cultura policial (SOUZA NETO, 2008). 
Ainda há uma segunda concepção do pensamento a respeito da segurança 
pública, que mais se assemelha ao policiamento numa construção democrática, 
defi nindo a segurança como um serviço público prestado pelo Estado, mas 
não uma aventura bélica a ser travada em que os fi ns podem ser justifi cados pelos 
meios. Nesse sentido, veja:
• A Segunda Concepção:
O cidadão é o destinatário desse serviço. Não 
há mais “inimigo” a combater, mas cidadãos para 
servir. A polícia democrática, prestadora de serviço 
público, em regra, é uma polícia civil, embora possa 
atuar uniformizada, sobretudo no policiamento 
ostensivo. A polícia democrática não discrimina, 
não faz distinções arbitrárias: trata os barracos 
nas favelas como “domicílios invioláveis”, respeita 
os direitos individuais, independentemente de 
classe, etnia ou orientação sexual; não só se atém 
aos limites inerentes ao Estado democrático de direito, como 
entende que seu principal papel é promovê-lo. A concepção 
democrática estimula a participação popular na gestão da 
segurança pública; valoriza arranjos participativos e incrementa 
a transparência das instituições policiais (SOUZA NETO, 2008, 
p. 6).
 
A segunda concepção substitui o combate pela prevenção e expõe a inserção 
de políticas sociais por intermédio de “medidas administrativas de redução 
de riscos”, enfatizando a investigação criminal e sua importância no resguardo 
do crime (SOUZA NETO, 2008, p. 6-7). Note que aqui há a demonstração dos 
padrões aceitos pelo paradigma da Segurança Cidadã, que você estudou no 
capítulo anterior. 
De fato, em nenhum momento o constituinte original optou por um ou outro 
modelo, todavia, devemos ter em mente que exista a harmonização entre os 
institutos diversos, ao princípio democrático de direito, aos direitos fundamentais e 
à dignidade da pessoa. Nesses termos, o que se apresenta é que o policiamento 
democrático somente pode vir a existir no fortalecimento do próprio regime 
A concepção 
democrática 
estimula a 
participação popular 
na gestão da 
segurança pública; 
valoriza arranjos.
80
 SEGurANÇA PÚBLiCA
democrático e de seus princípios. O resultado disso é a mudança na própria 
ideologia e lógica policial, bem como na maneira a qual os institutos de segurança 
pública se relacionam com a sociedadeao redor. Essa forma de relacionamento, 
a partir da base estrutural do paradigma da segurança cidadã, não se sustenta 
pelo uso de violência desmedida, pelas difi culdades ao acesso à justiça ou de 
políticas públicas inefi cientes.
Para complementar os nossos estudos, indicamos a você um 
texto muito infl uente de Vera Regina Pereira de Andrade (2013), 
em que a pesquisadora demonstra os passos a serem tomados na 
consolidação das formas democráticas e de seus valores em diversos 
setores, em especial, na segurança pública. Em suas palavras: 
Para que a própria mudança preconizada ocorra, o 
princípio vertebral a sustentar todos os demais deve ser 
o princípio de proteção integral de direitos humanos, 
erigido como o objeto e limite do poder de punir e no 
qual o direito à segurança (sobretudo a segurança da 
pessoa, da vida e dos corpos, antes que dos bens) seja 
um deles, libertando-se do paradigma da segurança 
“contra” a criminalidade. Isso faz a passagem do 
modelo de segurança pública focado na ordem e em 
nome da ordem, violando seletivamente direitos da 
pessoa, para um modelo de segurança pública focado 
no sujeito – Segurança Cidadã; faz ainda a passagem 
do paradigma repressivo (negativo e desconstrutor) de 
luta contra a criminalidade para uma cultura positiva e 
construtora de uma nova concepção de segurança e 
controle democrático dos problemas e confl itos sociais 
(ANDRADE, 2013, p. 349). 
FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/seq/n67/13.pdf>. Acesso em: 13 
jun. 2021.
Você deve ter percebido uma questão infl uente em nossos estudos 
acerca das possibilidades de um policiamento democrático. Essa questão está 
diretamente ligada à interpretação do conceito de defesa social. 
O entendimento que se faz desse conceito é o de que a defesa do Estado, 
de determinadas classes sociais ou de grupos de pessoas mais selecionáveis que 
outros, presente tanto na ideologia da defesa social quanto em seu sistema de 
segurança, deve sofrer severas alterações interpretativas e de análises. A partir 
81
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
de sua base, a defesa social deve servir como a defesa de todas as pessoas e 
de todas as classes, isso será possível através de normas de procedimentos e 
regras técnicas, lançadas aos modernos padrões operacionais que possibilitem 
uma atual cultura organizacional e de governança da atividade da polícia através 
dos novos modelos de conduta na interação social (BARATTA, 2011).
Então, a proposta inicial da Escola Clássica do Direito Penal e sua tendência 
iluminista em usar o conceito de defesa social como uma garantia do cidadão 
contra o poder de punir do Estado, passou a ser visto por intermédio da Escola 
Positivista como a defesa da sociedade contra o criminoso. Esse infrator começou 
a ser visto pelas suas diferenças, sendo rotulado e taxado como transgressor 
ou futuro transgressor. Foi a partir desse ponto que se iniciou os estudos acerca 
da pessoa criminosa, e não dos atos causados por ela ou, até mesmo, da 
sociedade ao redor e de sua convivência social, como motivos socioculturais e 
socioeconômicos. Como você viu, até medição dos corpos dos criminosos foram 
realizados por Lombroso (2013), caracterizando aqueles propensos ao crime por 
uma simples medida fi siológica. Na concepção que estudamos anteriormente, 
em que o belicismo toma as rédeas da segurança pública numa guerra contra o 
inimigo, pode ocorrer a mesma marcação, só que de forma distinta, contra grupos, 
pessoas diferentes e minorias. É essa concepção que o policiamento democrático 
tenta mudar. 
3.2 AS POLÍCIAS E AS GARANTIAS 
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Como você estudou, o panorama acerca do objeto de proteção da segurança 
pública se alterou com a redemocratização do Brasil e com a Constituição de 
1988. Quando antes era o Estado a ser veementemente protegido, agora são os 
seus cidadãos, seus bens e uma ordem que se baseia na convivência. 
Sob a égide dos direitos fundamentais e do princípio da dignidade da pessoa, 
as polícias do paradigma que se intenta cumprir, devem executar determinadas 
ações com intuito de promover esses direitos. No fi m, o novo padrão sempre 
seguirá as bases que o estabeleceu, cabe aos profi ssionais envolvidos levarem a 
cabo seus sentidos. Para que isso ocorra de forma positiva e reconhecida, alguns 
instrumentos podem ser usados a seu favor, e um dos mais importantes em um 
Estado Democrático de Direitos é a legalização normativa desses preceitos. 
Nesse intento, o Decreto nº 1.904 de 13 de maio de 1996 é o principal arcabouço 
regulamentário desse tema. O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) 
objetiva:
82
 SEGurANÇA PÚBLiCA
• A identifi cação dos principais obstáculos à promoção e defesa 
dos diretos humanos no país.
• A execução, a curto, médio e longo prazos, de medidas de 
promoção e defesa desses direitos. 
• A implementação de atos e declarações internacionais, com a 
adesão brasileira, relacionados com direitos humanos. 
• A redução de condutas e atos de violência, intolerância e 
discriminação, com refl exos na diminuição das desigualdades 
sociais. 
• A observância dos direitos e deveres previstos na Constituição, 
especialmente os dispostos em seu Art. 5°.
• A plena realização da cidadania (BRASIL, 1996).
Todas essas medidas elencadas destacam a promoção humana, 
principalmente no que diz respeito ao indivíduo, suas liberdades e a busca por 
uma isonomia social ao intentar a diminuição das desigualdades sociais em um 
sentido de equidade. 
Direitos fundamentais – São considerados direitos enunciados 
constitucionalmente, ou seja, fazem parte de uma ordem jurídica que 
declara uma prerrogativa que é fundamental para o cidadão viver em 
sociedade. Por esse motivo, diferenciam-se de direitos humanos, 
que são direitos de todas as pessoas, de todos os povos e em todos 
os tempos, em caráter universal, inviolável e perdurável. A CF/1988 
elenca, em seu Título II, os Direitos e Garantias Fundamentais 
referentes à educação, saúde, trabalho, previdência social, lazer, 
segurança, proteção à maternidade e assistência aos desamparados. 
Estão dispostos assim:
• Direitos e deveres individuais e coletivos (Art. 5º, CF).
• Direitos sociais (Art. 6º ao art. 11, CF).
• Direitos da nacionalidade (Art. 12 e art. 13, CF).
• Direitos políticos (Art. 14 ao art. 16, CF).
O PNDH fi ca ao encargo do Ministério da Justiça, mas com a participação 
da Administração Pública Federal. Isso desenvolve uma descentralização 
nas atribuições de cada ente, principalmente no que diz respeito na coleta de 
informações para a produção de uma política criminal de qualidade. Elaborado por 
várias entidades, o PNDH propõe políticas públicas que enfatizem a proteção dos 
direitos humanos e dos direitos fundamentais da CF/1988, bem como a criação 
83
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
de engrenagens jurídicas para a diminuição do tempo dos processos penais. 
Entretanto, uma segunda edição foi elaborada em maio de 2002, ampliando o 
alcance de proteção dos direitos que urgiam na sociedade, como os direitos dos 
povos ciganos, dos povos indígenas, da livre orientação sexual e identidade de 
gênero. 
Em dezembro de 2009, foi elaborado um novo PDNH, instituído através do 
Decreto nº 7.037, o terceiro e último até então, que se baseia nos princípios e 
atribuições elaborados pelo primeiro PDNH, que estudamos anteriormente. Para 
nossos estudos, o importante é que as políticas criminais para segurança pública 
são baseadas no Plano Nacional de Direitos Humanos e seus conceitos. Em uma 
de suas diretrizes (12), a “transparência e participação popular no sistema de 
segurança pública e justiça criminal” enfoca a democratização (BRASIL, 2009). 
Ainda, dá a devida atenção ao Programa Nacional de Segurança Pública com 
Cidadania (Pronasci) aduzindo aos:
Investimentos já realizados pelo Governo Federal na 
montagem de rede nacional de altos estudos em segurança 
pública, que têm benefi ciado milhares de policiais em cadaEstado, simbolizam, ao lado do processo de debates da 
1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, acúmulos 
históricos signifi cativos, que apontam para novas e mais 
importantes mudanças (BRASIL, 2009). 
Esse mecanismo legal enfoca os direitos humanos e a atuação da segurança 
pública ao atentar pela realização de seus preceitos, como a plena cidadania, 
entre outros.
O que é o PRONASCI? 
“Desenvolvido pelo Ministério da Justiça, o Programa Nacional 
de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) marca uma 
iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O 
projeto articula políticas de segurança com ações sociais, prioriza 
a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem 
renunciar às estratégias de ordenamento social e segurança pública. 
Entre os principais eixos do Pronasci, destacam-se a valorização 
dos profi ssionais de segurança pública; a reestruturação do sistema 
penitenciário; o combate à corrupção policial; e o envolvimento da 
comunidade na prevenção da violência. Além dos profi ssionais de 
segurança pública, o Pronasci tem, também, como público-alvo 
jovens de 15 a 29 anos à beira da criminalidade, que se encontram 
84
 SEGurANÇA PÚBLiCA
ou já estiveram em confl ito com a lei; presos ou egressos do sistema 
prisional; e, ainda, os reservistas, passíveis de serem atraídos pelo 
crime organizado em função do aprendizado em manejo de armas 
adquirido durante o serviço militar. O Programa está instituído nas 
11 regiões metropolitanas brasileiras mais violentas, identifi cadas 
em pesquisa elaborada pelos ministérios da Justiça e da Saúde. 
São elas: Belém, Belo Horizonte, Brasília (entorno), Curitiba, Maceió, 
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Vitória, 
Fortaleza e Santa Catarina. A execução do Pronasci se dará por 
meio de mobilizações policiais e comunitárias. A articulação entre 
os representantes da sociedade civil e as diferentes forças de 
segurança – Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, Guarda 
Municipal, Secretaria de Segurança Pública – será realizada pelo 
Gabinete de Gestão Integrada Municipais (GGIM). O Pronasci 
será coordenado por uma secretaria-executiva em nível federal e 
regionalmente dirigido por uma equipe que atuará junto aos GGIM e 
tratará da implementação das ações nos municípios. Para garantir a 
realização das ações no país, serão celebrados convênios, contratos, 
acordos e consórcios com estados, municípios, organizações 
não governamentais e organismos internacionais. A instituição 
responsável pela avaliação e acompanhamento do Programa 
será a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além da verifi cação dos 
indicadores, ainda será feita a avaliação do contexto econômico 
e social. O controle mais abrangente do Programa contará com a 
participação da sociedade”. 
O Pronasci é composto por 94 ações que envolvem a União, 
estados, municípios e a própria comunidade, sendo exemplos de ações 
relevantes como as Mulheres da Paz, a Formação Policial (qualifi cação 
das polícias nas práticas de segurança cidadã), entre outros. 
FONTE: Adaptado de <https://carceraria.org.br/wp-content/
uploads/2012/07/PRONASCI.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2021.
Claro que de nada adianta toda essa estrutura normativa sem antes 
qualifi car os profi ssionais de segurança pública para o novo paradigma, que deve 
partir de dentro da instituição. Para isso, o discurso deve ser utilizado tanto em 
treinamentos quanto na atuação em conjunto dos policiais. O PNDH desenvolve 
o treinamento e a capacitação para os profi ssionais. Veja que a importância vai 
desde a polícia ostensiva em sua abordagem e patrulhamento até o delegado que 
recebe e coordena o inquérito policial, bem como nas investigações realizadas 
85
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
por investigadores da polícia civil, que devem estar calcadas em valores balizados 
pelos direitos humanos. Assim nasce o real intento para a Polícia Comunitária, 
ou também conhecida por Polícia Cidadã, já destacada no paradigma que você 
estudou no capítulo anterior.
1 De acordo com a Escola Clássica do Direito Penal, a Defesa 
Social teria amplo sentido de proteção ao indivíduo, frente ao 
poder punitivo do monarca, do Estado ou das forças controladoras 
do poder. Nesse sentido, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Num contexto democrático de direito, o encargo de garantir 
os direitos fundamentais partem da premissa de que o Estado 
não deve se assegurar das forças de segurança pública para 
assegurar os privilégios sociais adquiridos. 
b) ( ) O sistema de Defesa Social difere daquele contextualizado 
pela ideologia da Defesa Social, uma vez que representa valores 
adotados pela Carta Magna de 1988.
c) ( ) A inexistência de diferente interpretação entre as 
terminologias de sistema e ideologia de defesa social fez com que 
a defesa social se traduzisse apenas na proteção da sociedade e 
seus valores comuns. 
d) ( ) É da teoria da evolução das espécies de Charles Darwin o 
pensamento da criminologia da Escola Positiva do Direito Penal, 
ao desenvolver o determinismo biológico ou psicológico em 
detrimento do livre arbítrio.
2 Quanto ao policiamento democrático, enfatizado no Estado 
moderno e seus novos padrões, classifi que V para as sentenças 
Verdadeiras e F para as Falsas:
( ) A democracia por si só é capaz de engendrar o estímulo sufi ciente 
para o policiamento democrático, alterando os alicerces culturais 
presentes nas instituições policiais.
( ) Entre as duas concepções analisadas dos modelos de segurança 
pública, o legislador original optou expressamente pelo modelo 
da segurança democrática na Carta Magna de 1988.
( ) A primeira concepção adota o direito penal do inimigo, em uma 
defesa social pautada no submetimento e domínio de um inimigo 
em comum.
( ) Uma das críticas ao PDNH é que ele está submetido diretamente 
ao Ministério da Justiça, havendo uma centralização inócua que 
inibe a possibilidade de análises estatísticas do crime in loco.
86
 SEGurANÇA PÚBLiCA
( ) A Segurança Cidadã não sugere apenas o conhecido sistema 
ostensivo e repressivo, mas também está apta para a resolução 
de confl itos de forma extrajudicial se possível. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – F – V – F – V. 
b) ( ) V – V – F – F – V.
c) ( ) F – V – F – V – F.
d) ( ) V – V – V – F – F.
3 Quanto aos direitos fundamentais, descritos na Constituição de 
1988, analise as sentenças:
I- A democratização dos direitos fundamentais, que são direitos de 
todas as pessoas, em caráter universal, inviolável e perdurável, 
alterou a noção dos aspectos policiais aceitos até então, 
iniciando uma mudança de paradigma na maneira de se pensar a 
segurança pública.
II- Os direitos fundamentais que estão declarados no Título II da 
CF/1988 destacam a segurança e demais direitos do cidadão, 
que tornam o paradigma da segurança nacional ultrapassado.
III- Os direitos fundamentais e seus enunciados constitucionais fazem 
parte de uma ordem jurídica declarante de uma prerrogativa do 
cidadão essencial para a vida social e sua cidadania. 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
4 POLÍCIA COMUNITÁRIA 
Reconhecida como uma fi losofi a, a Polícia Comunitária, ou Cidadã, é uma 
nova interação entre as estratégias policiais que se redefi nem e os diversos 
problemas oriundos da criminalidade na sociedade e no Estado moderno. A 
prática das ações e a interação com a sociedade deve ser concretizada visando 
a vivência cotidiana e a partir dela defi nir os problemas de segurança mais 
prementes na sociedade. 
87
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Nesse capítulo, prezado aluno, entenderemos a fi losofi a da Polícia 
Comunitária e qual é a base para sua organização operacional. Para esse intuito, 
o Plano Nacional de Polícia Comunitária eos desafi os da polícia cidadã em uma 
crescente criminalidade serão analisados. Como você já deve ter percebido, as 
mudanças de padrões e de ações são estabelecidas por um sincronismo com a 
CF/1988, em que a segurança pública passou a ser evidenciada de fato como 
protetora do cidadão. 
Para alguns estudiosos e especialistas de segurança pública, como 
Zaccone (2016) e Mendes (2012), a cultura da polícia militarizada não está 
aberta aos sentidos e ensinamentos do padrão da Polícia Comunitária, e esse é 
considerado o maior desafi o para a prática do paradigma atual com o crescimento 
das desigualdades sociais e o ritmo acelerado da violência em centros urbanos 
(MENDES, 2012). O simples fato de as ações militares policiais estarem 
historicamente ligadas aos confl itos mais militares do que policiais, são motivos 
de uma rígida cultura de militarização baseada na violência (MENDES, 2012).
É necessária uma mudança na cultura organizacional das instituições de 
segurança pública para o necessário desenvolvimento de uma polícia cidadã, 
intentadas nas democracias da América Latina, como no Brasil, geralmente 
oriundas de ditaduras e uso da força para manutenção do poder.
O modelo da segurança comunitária ainda parte de uma via de mão dupla, 
quando se intenta o vínculo interativo entre instituições, a partir das pessoas que 
fazem parte dessa vivência, de um lado os agentes de segurança e de outro a 
população. 
Nesse sentido, essa dualidade deve se transformar em um único consenso 
em busca da melhor maneira de ação, almejando encontrar não somente “a 
forma dos policiais se relacionarem com a sociedade, é necessário também que a 
sociedade saiba se relacionar com os policiais” (ZACKSESKI; DUARTE, 2012, p. 
78), sendo fundamental o desenvolvimento da interação social entre ambos.
4.1 POLÍCIA COMUNITÁRIA E 
CIDADÃ: FILOSOFIA E ESTRATÉGIA 
ORGANIZACIONAL
Agora que você já se familiarizou para a construção do padrão da Polícia 
Comunitária, e como chegamos a essa reinterpretação das ações policiais, 
importante destacar a defi nição mais usual utilizada em conceitos acadêmicos do 
que realmente signifi ca Polícia Comunitária:
88
 SEGurANÇA PÚBLiCA
A Polícia Comunitária é uma fi losofi a de policiamento 
personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial 
patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente, 
a partir de um local descentralizado, trabalhando numa 
parceria preventiva dos cidadãos para identifi car e resolver os 
problemas (TROJANOWICZ; BUCQUEROX, 1994, p. 10).
Veja que a defi nição dada anteriormente inclui toda importância na parceria 
preventiva (no plano fi losófi co que serve como base de ensino) e na interatividade 
com os cidadãos, que labora com o poder legitimador da entidade e sua base 
ideológica. Para Fernandes (1994, p. 10), trata-se de um:
[...] serviço policial que se aproxime das pessoas, com nome 
e cara bem defi nidos, com um comportamento regulado pela 
frequência pública cotidiana, submetido, portanto, às regras de 
convivência cidadã, pode parecer um ovo de Colombo (algo 
difícil, mas não é). A proposta de Polícia Comunitária oferece 
uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a 
polícia, faça dela uma presença também comum.
Entretanto, o autor supracitado enfatiza que a fi losofi a para o labor policial 
do novo paradigma encontra certas difi culdades, justamente na “cultura instalada 
nas corporações policiais e legitimada pelo cidadão em decorrência do estímulo 
da imprensa sensacionalista, do uso abusivo da força na coação à prática da 
desordem, da violência e do crime” (FERNANDES, 1994, p. 10).
Essa alternativa ao modelo tradicional de segurança pública altera todo o 
entendimento do que sejam os sintomas do crime, quando a posição da polícia 
não se isola, mas integra parte da população que intenta defender. Nesse sentido, 
prezado aluno, veja que a polícia cidadã apresenta, em suas formas, a importante 
função multidisciplinar, que acentua a resolução de confl itos da comunidade em 
sua raiz, ou seja, no próprio local confl ituoso. Muitas vezes, o desvio, ou crime, 
pode ser solucionado pelo próprio agente policial, de maneira extrajudicial, mas 
junto à própria coletividade.
Se Deus quiser que venha armado, fi lme dirigido por Luís Dantas 
em 2015, demonstra a participação de duas forças antagônicas, 
que se colidem no cotidiano, em meio à vida social. A infl uência do 
Primeiro Comando da Capital (PCC) nas vidas dos detentos, bem 
como a violência policial sem limites, demonstrada na película e 
aplicada nas comunidades, é totalmente o inverso do intentado 
paradigma da Segurança Cidadã.
89
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Após a segunda grande guerra, o Japão do século XX implantou diversos 
postos de polícia conhecidos como Koban, que possuíam uma vigilância voltada 
aos ideais democráticos. A Polícia Comunitária nipônica era muito assídua 
em seu trabalho e mantinha um consistente convívio com os cidadãos. Visitas 
comunitárias nos lares japoneses eram frequentes e denominavam-se junkai 
renraku, que tinham a fi nalidade de levantar dados e informações que revelassem 
distúrbios nos bairros, bem como suas motivações de ocorrerem na comunidade 
(BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Foi apenas no fi nal da década de 1970 e início 
nos anos 1980, que se tornou internacionalmente conhecida, sendo adotada 
em diversos países da América do Norte e Europa Ocidental. Com intuito de 
apresentar novos valores nas práticas policiais e uma mudança na cultura 
organizacional, diversas inovações na maneira de se lidar com a criminalidade 
surgiram (BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Assim, foram traçados quatro elementos 
inovadores que desencadeiam o policiamento comunitário e que devem estar 
sempre presentes, são eles: 
• Organização da prevenção do crime tendo como base a 
comunidade: em uma inclusão com a sociedade da qual faz 
parte o policial e seu labor, prestando serviço que se orienta 
pelas bases comunicativas. 
• Reorientação das atividades de policiamento para 
enfatizar os serviços não emergenciais e para organizar 
e mobilizar a comunidade para participar da prevenção do 
crime: identifi car os problemas a partir de análises realizadas 
pela própria comunidade, objetivando diminuir a incidência 
dos crimes, muitas vezes enfatizando um serviço público mais 
operante para determinadas situações que o próprio direito 
penal.
• Descentralização do comando da polícia por áreas: o que 
favorece tanto a comunicabilidade entre os cidadãos e a polícia 
quanto as análises estatísticas de crimes e desvios por local.
• Participação de pessoas civis, não policiais, no 
planejamento, execução, monitoramento e/ou avaliação das 
atividades de policiamento: signifi ca engendrar mecanismos 
que demonstrem as prioridades de determinada população, a 
partir da participação popular. A parceria entre comunidade e 
segurança pública deve tratar em conjunto dos problemas de 
segurança, bem como avaliar e melhorar a qualidade de vida 
social do local. Signifi ca os ideais de democratização, dando 
voz a própria comunidade que se intenta proteger (BAYLEY; 
SKOLNICK, 2001, p. 224-232, grifo nosso). 
Entretanto, esses quatro essenciais e primordiais elementos são bases para 
a fundação do policiamento comunitário. Ainda é preciso mais. Como você viu, 
para que um novo paradigma surja, além da crise no sistema usual, é necessário 
que a real vontade ou pulsão para a mudança seja estabelecida, motivada pelos 
próprios personagens que fazem parte do sistema que se intenta mudar (KUHN, 
2006, p. 32). Assim, para consolidar a implantação desse tipo de policiamento, 
90
 SEGurANÇA PÚBLiCA
os estudiosos Bayley e Skolnick (2001, p. 233-236) nos apontam quatro fatores 
essenciais. São eles: 
• Envolvimento enérgico e permanente do chefe com os 
valores e implicações de uma polícia voltada para a prevenção 
do crime.
• Motivação dos profi ssionais de polícia por parte do chefe de 
polícia.
• Defesa e consolidação das inovaçõesrealizadas.
• Apoio público, da sociedade, do governo e da mídia.
O envolvimento daqueles que estão no topo da hierarquia deve ser evidente 
para que seus exemplos sejam seguidos e motivem a equipe profi ssional para 
esse intuito. De nada adianta se não se verifi car a defesa das inovações, uma 
vez que a partir daí teremos a consolidação dos mecanismos projetados. Você 
viu que um dos destaques dado pelos estudiosos citados anteriormente é o 
apoio público de toda a sociedade e dos seus governantes, bem como da mídia. 
Uma grande adversidade nos tempos atuais é o jornalismo de espetáculo e o 
grande sensacionalismo que aciona um populismo penal, criando um sentido 
de que apenas a penalização, a violência e as penas capitais seriam ideais 
contra a crescente criminalidade. O espetáculo da mídia está presente “em toda 
a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção” 
(DEBORD, 1997, p. 34), que são apresentadas como uma enorme atração. Tal 
representação é capaz de formular os gostos e de converter os valores antes 
tidos como essenciais por intermédio da teatralidade e da ilusão, que o espetáculo 
desenvolve.
4.2 AS CARACTERISTICAS DA 
POLÍCIA COMUNITÁRIA
Originariamente, o Decreto Federal nº 88.777, de 30 de setembro de 1983 
regulamenta as funções das Polícias Militares e dos Bombeiros. O patrulhamento 
de maneira ostensiva também foi expresso como uma das funções policiais que 
passou, com a forma comunitária de ação, a atentar para determinados princípios. 
Não apenas a constitucionalização do direito que você já conhece, mas com o 
advento de normas e regras que intensifi caram a formação da Polícia Comunitária, 
passaram a moldar a nova fi losofi a nas organizações policiais. São princípios que 
caracterizam e padronizam a Polícia Comunitária:
•Reciprocidade entre polícia e população: a legitimidade 
do Estado em produzir ordem por intermédio de seus 
mecanismos de defesa e proteção é incontestável, mas a sua 
capacidade ainda sofre inúmeras carências, precisamente 
com o crescimento do crime organizado, da corrupção, e dos 
91
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
novos modelos de crimes apresentados pelas crescentes 
tecnologias, como a internet. A reciprocidade entre os 
atores é um processo lento, de extrema necessidade para o 
policiamento comunitário, uma vez que apresenta caminhos 
não tão longos para o reconhecimento dos problemas sociais 
das dinâmicas apresentadas por determinadas comunidades. 
Nesse sentido, prezado aluno, aqui pode haver um aumento 
da capacidade de proteção, por intermédio de um serviço de 
inteligência chamado convivência social. 
• Ação com diferentes órgãos: a integração com os órgãos 
que compõe o sistema de segurança pública, num objetivo 
comum com o Sistema de Segurança Pública, atende à 
principal missão desse novo padrão, que é o atendimento 
qualifi cado do cidadão. Para isso, você percebe a importância 
da união não apenas desses objetivos, que são validados 
por lei. De nada adianta se não os levar em frente. Para isso, 
o desenvolvimento de ações com grupos organizados da 
sociedade civil, como ONGS, órgãos menores de auxílio às 
comunidades carentes e até mesmo envolvimento com as 
atividades ecumênicas da região, são ações de integração. Só 
que essas ações devem ser realizadas no próprio ambiente 
policial, entre as polícias que precisam agir de forma integrada 
para o sucesso do paradigma. 
• Transparência e controle das atividades: a transparência 
é a base para a confi ança, não apenas entre os envolvidos 
diretamente, mas também para indicar a importância da polícia 
comunitária e suas alterações nas comunidades, com seu 
novo pensar. De fato, é com a interação que se consegue essa 
limpidez das ações de todos, desenvolvidas aqui em conjunto.
• Valorização do profi ssional em segurança pública: ao 
realizar ações de formação continuada em treinamentos e 
capacitação do profi ssional de segurança pública, este torna-
se pronto para o novo padrão, desempenhando sua função 
em comunidade. É compromisso latente da Corporação 
a promoção da defesa dos direitos dos policiais militares, 
fi rmando convênios e parcerias com as defensorias públicas 
e outros órgãos de importância, com intuito de facilitar a 
assistência aos policiais (BAYLEY; SKOLNICK, 2001, p. 234).
Esses princípios apresentados por David Bayley e Jerome Skolnick (2001) 
aos estudos de ações coletivas dos policiais nesse novo padrão apresentado, 
juntam-se aos ideais da gestão participativa e de defi nições mais amplas 
do que antes se considerava o trabalho policial, apontadas por Rosenbaum 
(2002, p. 31-32):
a) uma defi nição mais ampla de ‘trabalho policial’;
b) um reordenamento das prioridades da polícia, dando maior 
atenção ao crime ‘leve’ e a desordem;
c) um enfoque na solução de problemas e prevenção, mais do 
que no policiamento direcionado ao incidente;
d) o reconhecimento de que a ‘comunidade’, qualquer que 
seja sua defi nição, executa um papel crítico na solução dos 
problemas da vizinhança;
92
 SEGurANÇA PÚBLiCA
e) o reconhecimento de que as organizações policiais devem 
ser reestruturadas e reorganizadas para serem responsáveis 
pelas reivindicações deste novo enfoque e para encorajar um 
novo tipo de comportamento policial.
As características apresentadas nos demonstram que o principal caractere da 
fi losofi a policial do novo padrão é a que ressalta ser incomum aos órgãos policiais 
até então, ser reconhecida pelo cidadão, mas fazendo parte da comunidade e, 
ainda, reconhecendo-se como prestador de serviços. Esse envolvimento se 
perfaz notoriamente além do estrito cumprimento do determinado em lei, mas 
contribui para orientar as mudanças de comportamentos nas sociedades perante 
as patrulhas policiais (ROLIM, 2006). Age, assim, preventivamente, ao entender 
a cultura e as idiossincrasias inerentes ao bairro que está sob sua proteção, 
podendo causar maiores impactos aos pequenos incidentes, como a desordem, 
dirigindo suas ações às raízes motivacionais daquele problema, naquela região. 
Prestando o serviço de auxiliador da comunidade, não apenas como o policial 
ostensivo e patrulheiro do local, o profi ssional recebe importante atenção e passa 
a ser um controlador das ações sociais ao redor.
Os pensadores aqui transcritos, como Bayley, Skolnick (2001) e Rosenbaum 
(2002) são assertivos em defi nir que a participação social é o fator de sucesso ou 
não do policiamento comunitário:
O amplo papel do Policial Comunitário exige um contato 
contínuo e sustentado com as pessoas da comunidade, 
respeitadoras da lei, de modo que possam, em conjunto, 
explorar novas soluções criativas para as preocupações 
locais, servindo os cidadãos como auxiliares e voluntários 
(TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994, p. 11).
Prezado aluno, trazemos o exemplo das patrulhas escolares que devem, 
na prática, estar presentes em todas as comunidades. Suas rondas ostensivas 
amplifi cam o contato com as famílias e preservam os locais de grande intensidade 
de trânsito dos cidadãos, que são as escolas. Esse é um planejamento e uma das 
diretrizes primordiais do Plano Nacional de Polícia Comunitária, o qual trazemos 
seus apontamentos mais importantes a seguir. Vamos lá!
4.3 O PLANO NACIONAL DE POLÍCIA 
COMUNITÁRIA 
A Portaria nº 43, de 12 de maio de 2019, institui a Diretriz Nacional de Polícia 
Comunitária e cria o Sistema Nacional de Polícia Comunitária, determinando o 
Manual da Polícia Comunitária no país. Veja que em suas principais diretrizes o 
93
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
conceito de visão sistêmica da polícia se estende à fi losofi a desse novo modelo, 
que inspira toda a instituição policial por meio de uma estratégia organizacional 
moderna. 
É importante, prezado aluno, entender as diretrizes que enfocam 
as características dessa fi losofi a que se estende por todo o conceito 
de polícia, alterando a maneira qual o entendíamos. Então, vamos às 
principais instruções de procedimento organizacional.São diretrizes 
nacionais para o novo padrão:
Diretriz 1 – Visão sistêmica da Polícia Comunitária: entendida 
como fi losofi a e estratégia organizacional que deve permear 
toda a instituição policial e não apenas constituir um programa de 
policiamento ou fração de efetivo.
Diretriz 2 – Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos 
cursos de formação e aperfeiçoamento: conteúdo obrigatório nas 
malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento 
com aulas a serem ministradas por multiplicadores formados nas 
capacitações estaduais, nacionais ou internacionais.
Diretriz 3 – Preferência pelo emprego de todos os policiais 
recém-formados na atividade de Policiamento Comunitário: fi xação 
de seu emprego por período que propicie o estabelecimento de laços 
de confi ança com a comunidade local.
Diretriz 4 – Utilização de ações policiais sociais como meio de 
aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento 
comunitário e não como fi m: utilização de ações policiais sociais 
como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o 
policiamento comunitário e não como fi m, e por prazo certo, dentro da 
dinâmica operacional de cada instituição, tendo em vista que estas 
oneram efetivo profi ssional imprescindível para a atividade policial 
e devem ter sua continuidade preferencialmente empreendida por 
voluntários oriundos da comunidade, prática que deve ser incentivada 
e valorizada na sociedade. Entende-se ação policial social aquela 
empreendida em prol da comunidade local, mas que não demande 
para sua implementação de profi ssional com formação e experiência 
na área de segurança pública, por exemplo, o ministério de aulas de 
música ou esportes. Não estão inclusas nesta classifi cação as ações 
94
 SEGurANÇA PÚBLiCA
de policiais em escolas quanto à conscientização da prevenção do 
uso de drogas (PROERD) e outras similares, as quais requerem 
expertise em segurança pública por parte do agente, a fi m de que 
seja propiciado ao público-alvo um completo panorama do problema 
sob perspectiva institucional. Destaca-se que, neste programa, 
os policiais atuam realizando, concomitantemente, policiamento 
comunitário escolar, aplicação de lições em salas de aula e constante 
interação junto às comunidades locais atendidas, sendo, portanto, 
considerado atividade de policiamento comunitário.
Diretriz 5 – Estruturação e normatização dos Conselhos 
Comunitários de Segurança: importância da estruturação e 
normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança, ou 
organismo congênere, para a integral implementação do Sistema, 
por meio de fórum de comunicação presencial entre os gestores de 
segurança pública, municipalidade e a comunidade, de forma que 
seus anseios sejam ouvidos e levados em consideração quando do 
planejamento e ação operacional das instituições, bem como seja 
incentivada a consciência de corresponsabilidade na construção de 
uma sociedade segura, meta a ser alcançada pela ação sinérgica de 
todos os atores envolvidos.
Diretriz 6 – Colaboração federativa: implementação de 
mecanismos de inter-relação e colaboração federativa para 
multiplicação de boas práticas e aperfeiçoamento do Sistema, por 
intermédio de mecanismos como as visitas técnicas e os seminários.
Diretriz 7 – Disseminação e uniformização da fi losofi a de polícia 
comunitária: disseminação e uniformização da fi losofi a de polícia 
comunitária entre todos os atores do Sistema de Segurança Pública 
brasileiro, preferencialmente a partir de profi ssionais multiplicadores 
capacitados. Devem as unidades da federação primar por manter 
uma identidade mínima de policiamento comunitário que mantenha, 
como princípio básico de atuação norteadora de toda estrutura, 
a fi xação do efetivo na área de atuação, a realização de visitas 
comunitárias e solidárias, a realização de reuniões comunitárias, 
a mobilização comunitária e, sobretudo, que se dê autonomia de 
ação ao policial comunitário dentro de sua esfera de atribuições. 
Cabe destacar que a presente diretriz deve ser entendida como uma 
meta a ser alcançada por meio de esforços institucionais de todos 
os atores envolvidos na área de segurança pública, não constituindo 
obrigação exclusiva de uma instituição.
95
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Diretriz 8 – Mobilização e ação sinérgica com os atores 
responsáveis pela implementação de Políticas Sociais: participação 
de Organizações Sociais, Instituições Públicas e/ou Privadas de 
todas as esferas para criar e fortalecer, de forma transversal, o 
sistema com foco no cidadão.
Diretriz 9 – Mensuração das ações de Polícia Comunitária: 
sistematizar modelos de mensuração das ações de Polícia 
Comunitária, proporcionando a valorização de ações preventivas e 
melhorando a motivação do profi ssional de segurança pública, com 
reconhecimento e/ou premiação periódica.
Diretriz 10 – Comunicação ágil entre as esferas federal, estadual 
e municipal: comunicação ágil das esferas de poder, propiciando 
o fl uxo de informações pelo canal técnico, devendo ser mantido 
atualizado o nome do Coordenador Estadual de Polícia Comunitária 
junto à SENASP.
Diretriz 11 – Efi cácia da polícia é medida pela percepção de 
segurança e ausência de crime e de desordem: efi cácia da polícia 
é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de 
desordem e não, tão somente, por meio de quantifi cações de prisões, 
apreensões de produtos ilícitos, operações, dentre outras.
Diretriz 12 – Retroalimentação da gestão operacional: 
avaliações periódicas alicerçadas não só em dados estatísticos 
criminais, mas também com as contribuições advindas da interação 
com a comunidade.
Diretriz 13 – Cidadão cliente: o cidadão é o “cliente” por 
excelência das instituições de segurança pública, que devem manter 
seu esforço e foco em prol da sociedade, materializando o conceito 
de que a Segurança Pública é um bem imaterial.
Diretriz 14 – Prestação de contas: o policial presta contas de 
seu trabalho aos respectivos superiores hierárquicos e a instituição 
policial à comunidade por meio de reuniões comunitárias.
Diretriz 15 – Manutenção permanente de desafi os: visão 
interacionista deve ser enfatizada como mudança de foco dos 
confl itos, encorajando-os com vistas a estabelecer grupos 
harmoniosos, pacífi cos e cooperativos, controlando comportamentos 
estáticos e apáticos.
96
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Diretriz 16 – Respeito mútuo: o relacionamento institucional 
junto às comunidades deverá pautar-se por meio de características 
fundamentais que permeiam o processo de comunicação e mútuo 
respeito devidos, por meio da empatia, alteridade, bom senso, 
cooperação, probidade, dentre outros aspectos que agreguem 
valores positivos necessários às instituições policiais envolvidas.
Diretriz 17 – Responsabilidade territorial: o policiamento 
comunitário, no âmbito das instituições policiais envolvidas, será 
implementado aproveitando-se quaisquer processos de policiamento 
desenvolvidos in loco de forma a garantir a fi xação do efetivo e a 
responsabilidade territorial, adaptável a cada realidade local no 
âmbito das Unidades da Federação.
Diretriz 18 – Engajamento dos mais altos níveis: as altas 
direções deverão primar pela continuidade dos serviços prestados 
com foco voltado à aproximação institucional com a sociedade, por 
meio de tecnologias administrativas e operacionais sustentáveis. 
Bem como incentivar seus subordinados ao desenvolvimento 
contínuo de práticas de polícia comunitária. 
FONTE: BRASIL. Portaria nº 43, de 12 de maio de 2019. Institui a 
Diretriz Nacional de Polícia Comunitária e cria o Sistema Nacional de 
Polícia Comunitária. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/
portaria-n-43-de-12-de-abril-de-2019-72119348. Acesso em: 6 jun. 
2021.
A partir desse planejamento legalizado por lei, surge a Diretriz Nacional 
de Polícia Comunitária, que traz o enfoque principal do modelo a ser utilizado, 
em três principais objetivos: a padronização dosfundamentos e dos conceitos 
de Polícia Comunitária; a divulgação das diretrizes gerais do Plano Nacional 
de Polícia Comunitária; e inspirar e basear a institucionalização de políticas e 
estratégias organizacionais de Polícia Comunitária no âmbito das instituições de 
Segurança Pública.
Para a implantação de um policiamento como o intentado, as funções precisam 
ser analisadas antes, com a utilização de pesquisas elaboradas que propiciem 
o real cenário em que será pavimentado a organização do policiamento social. 
Nesse conjunto de diretrizes existem alguns passos iniciais do planejamento que 
não podem passar em branco. Imagine a instalação de uma polícia nos moldes 
comunitários em locais de amplo risco social, controlado pelas facções do tráfi co 
97
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
de drogas com violência e hostilidade. A ameaça seria maior para os profi ssionais 
e para as famílias que se pretende proteger. Por isso, as análises evidenciam qual 
a melhor estratégia a ser tomada, para uma mais benéfi ca experiência dos novos 
modelos policiais. São passos iniciais e essenciais:
QUADRO 1 – PASSOS INICIAIS PARA O PLANEJAMENTO
FONTE: Adaptado de <https://https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/
Kujrw0TZC2Mb/content/id/72119545>. Acesso em: 21 jun. 2021.
Primeiro passo Identifi cação do problema
Segundo passo Análise do problema
Terceiro passo Planejamento das ações
Quarto passo Implementação das ações
Quinto passo Avaliação das ações implementadas
Você pode acessar todo o conteúdo da Diretriz Nacional de 
Polícia Comunitária pelo endereço: https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/72119545
Entretanto, diversos são os desafi os dos profi ssionais da segurança pública 
na aplicação da polícia comunitária na sociedade. Veja que algumas adversidades 
podem partir, tanto de dentro da corporação como da própria comunidade que se 
projeta a proteção pelos novos modelos. 
4.4 DESAFIOS E PROBLEMAS DA 
POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL
Prezado aluno! Como você notou, uma mudança de paradigma não é algo 
considerado fácil, mesmo os padrões anteriores estando sufocados em crises e 
conceitos superados, ainda assim há resiliência. Isso, por si só já gera um desafi o 
imenso ao novo modelo que se instala. Um modelo de segurança pública implica 
em alterações mais severas em todo o contexto, principalmente na participação 
do Estado na vida das pessoas. A maneira que o ente maior participa no percurso 
da sociedade é por intermédio das políticas públicas. O jeito com o qual se faz 
políticas públicas é a forma que o novo padrão se molda nos alicerces estruturais 
das comunidades. Para esse intento, padronizar os modelos em conjunto ainda 
parece carecer de muitas coisas. 
98
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Convidamos você, caro aluno, a apreciar o artigo Tensões 
e desafi os de um policiamento comunitário em favelas do Rio de 
Janeiro: o caso do grupamento de policiamento em áreas especiais. 
As autoras Albernaz, Caruso e Patrício (2007) apresentam a 
dimensão das tensões e dos desafi os na implantação do policiamento 
comunitário em favelas do Rio de Janeiro, trazendo casos concretos, 
importantes para o estudo. Vamos lá!
FONTE: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v21n02/
v21n02_04.pdf>. acesso em: 20 jun 2021.
Como já vimos, as gritantes diferenças sociais e o abismo que existe entre 
as classes estruturam um tipo de sociedade em constante desigualdade. Esse 
contraste implica em diversas características espalhadas cidades afora, que 
devem ser pensadas antes de se produzir uma política pública. Por exemplo, 
diversos são os locais dentro de uma cidade grande que não há água encanada, 
saneamento básico ou energia elétrica. Dessa forma, é impossível uma 
padronização do serviço policial comunitário, quando as mazelas que explodem 
em comunidades carentes são ligadas às mais intrínsecas condições de 
sobrevivência. Assim, percebemos que o sucesso desse sistema de segurança 
pública está intimamente conectado aos órgãos públicos externos ao serviço 
policial.
Os serviços de infraestrutura básicas no país são prestados de maneira 
precária em algumas comunidades, desde o transporte público à ausência de 
escolas de educação básica, tornam o ambiente com características mais hostis, 
o que sugere um maior descontentamento com qualquer atividade de polícia que 
venha a ser instalada. A maneira precária que são prestados os serviços públicos 
mais básicos à comunidade, especialmente a mais carente, danifi ca o potencial 
de atuação do policiamento comunitário (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 
1994). Nesse ponto:
Vale lembrar que o policiamento comunitário tem como objetivo 
a resolução de problemas e que a noção de ‘’problema’’ se 
amplia consideravelmente quando são levados em conta, 
além de crimes e delitos, outros sintomas de desordem numa 
comunidade, ou quando se passa de uma atuação meramente 
reativa e repressiva a outra que enfatiza a prevenção de 
distúrbios e a negociação de confl itos. Logo, os propósitos 
desse policiamento necessariamente ultrapassam o estoque 
de recursos das instituições policiais, por melhor equipadas e 
99
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
efi cientes que elas possam ser. Para incrementar a ‘’qualidade 
de vida’’ e para prevenir o crime num ambiente de médio 
ou longo prazo, quase sempre requer-se a mobilização de 
serviços externos à polícia, devendo-se presumir que os 
órgãos responsáveis não se recusarão a fornecê-los (MUNIZ 
et al., 1997, p. 201).
Além disso, outros são os problemas que enfrenta o novo padrão e as 
difi culdades de transpor o pensamento de polícia clássica para consolidação do 
modelo por nós analisado. 
Bayley e Skolnick (2001) ampliaram os estudos das principais difi culdades 
para implantar o policiamento comunitário, os problemas vão de estruturais e 
corporativos até os confl itos externos a ele, como o próprio apoio da sociedade 
em geral:
• Deve haver uma reestrutura cultural no comportamento 
tradicional policial, acostumado numa pronta resposta ao crime 
mediante o uso da força.
• Reestrutura do próprio pensamento da sociedade em sua 
expectativa da pronta resposta policial pelo uso da força para 
manutenção da lei e ordem para garantir assim a segurança 
pública. 
• Há limitação dos recursos disponibilizados aos profi ssionais 
de segurança pública para o atendimento das ocorrências e 
nas investigações policiais.
• Há o corporativismo dos policiais, expresso principalmente 
através das suas associações profi ssionais que temem a 
erosão do monopólio da polícia na área da segurança pública 
e, consequentemente, a redução do emprego, do salário e 
dos benefícios dos policiais, além daquele decorrente do 
crescimento da segurança privada, e também o aumento 
de responsabilização dos profi ssionais de polícia perante a 
sociedade.
• Há a incapacidade de monitoramento e avaliação do trabalho 
policial realizada por suas organizações, levando em conta 
efi cácia, legitimidade e efi ciência.
• Existem as divisões e confl itos entre os policiais da direção e 
os da ponta da linha, entre policiais experientes e os policiais 
novos – e, no caso do Brasil, uma difi culdade adicional 
seria a divisão e confl ito entre os policiais responsáveis pelo 
policiamento ostensivo na polícia militar e aqueles responsáveis 
pela investigação criminal na polícia civil.
• Existem as divisões e confl itos entre a polícia e outros setores 
da administração pública.
• Existem as divisões e confl itos entre grupos e classes sociais 
no interior da comunidade (BAYLEY; SKOLNICK, 2001, p. 238-
239).
Além desses problemas que devem ser solucionados, alterar valores e 
princípios pré-constituídos é outra árdua missão. Bayley e Skolnick (2001, p. 202) 
100
 SEGurANÇA PÚBLiCA
afi rmam que “o policiamento comunitário deve antecipar e facilitar uma mudança 
de valores. Isso não é fácil de ser realizado. Para aqueles que de fato tentarem 
fazer tal mudança é quase certoque vão encontrar limitações identifi cáveis e 
persistentes que resistirão a ela”. Nesse sentido, o papel a ser desempenhado 
pelas lideranças policiais é primordial para afetar a ordem estabelecida com as 
inovações e experiências do policiamento social ou comunitário. 
Outro enfoque desencadeador de problemas é referente às difi culdades 
observadas aos aspectos legais envolvidos. O modelo de gestão proposto 
tende a descentralizar. Entretanto, à proporção que se descentraliza o poder, 
mais complicada é a forma da manutenção do controle gerencial das atividades 
policiais. Para isso, Skogan (2004, p. 48) afi rma que os “sistemas de registro 
de ocorrências devem ser melhorados e aprimorados, fi scalizações periódicas 
e inopinadas devem ser implantadas e mecanismos de punição devem ser 
aperfeiçoados para permitir rapidez, efi ciência e respostas à comunidade”.
Tudo isso ainda se inicia no treinamento e na capacitação do profi ssional 
de segurança pública. A reestruturação da polícia deve ter seu início a partir da 
primeira formação profi ssional, com o desenvolvimento dos ideais da polícia 
comunitária e de promoção humana já no principiar do treinamento policial.
Prezado aluno! Vamos revisar as importantes normas básicas 
para uma melhor experiência do policiamento comunitário? São elas: 
organizar a prevenção do crime com base na comunidade; enfatizar 
os serviços não emergenciais nas atividades de patrulhamento; 
aumentar a responsabilidade das comunidades locais; descentralizar 
as estruturas de comando e controle (BAYLEY; SKOLNICK, 2001).
1 Dentre as concepções que defi nem a segurança pública no 
Brasil, formuladas por ações balizadas pela política de segurança 
pública, existe uma compreensão mais atenta aos direitos sociais 
e que contempla medidas administrativas de redução de riscos. 
Sobre esse tema, assinale a alternativa CORRETA:
101
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
a) ( ) O padrão reminiscente do paradigma da Segurança Nacional 
possui pretensões que jazem internalizadas nas instituições 
de segurança pública, como os princípios mais comuns do 
policiamento comunitário, portanto, é o padrão a ser adotado.
b) ( ) O sentido descentralizador do controle do policiamento 
comunitário carece de normatizações acerca de seus institutos, 
pois à proporção que se descentraliza o poder, mais complicada 
é a forma da manutenção do controle gerencial das atividades 
policiais.
c) ( ) As concepções defi nidoras do interpretar da segurança no 
Brasil são condizentes às políticas públicas implantadas no país, 
independente do paradigma que se vivencie.
d) ( ) Os direitos fundamentais são aqueles implementados pelo 
constituinte para contemplar a ampla cidadania da pessoa, 
estando à disposição de mudança em prol da segurança pública, 
conforme a concepção adotada pelo paradigma usual.
2 Quanto ao fl uxo das análises para uma melhor estratégia 
que deve ser tomada para a proteção comunitária, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) Análise do Problema -> Identifi cação do Problema -> 
Implementação das ações -> Avaliação das Ações -> Planejamento.
b) ( ) Planejamento inicial -> Identifi cação do problema -> Análise do 
Problema -> Implementação das ações -> Avaliação.
c) ( ) Identifi cação do problema -> Análise do Problema -> 
Planejamento das ações.
d) ( ) Implementação das ações -> Avaliação -> Análise.
3 A padronização do policiamento se dá por treinamento específi co 
e por normas que se defi nam através de princípios, e os 
mandamentos que se segue no paradigma da Polícia Comunitária 
são aqueles apregoados pela CF/1988. Nesse sentido, classifi que 
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) As diretrizes para a Polícia Comunitária são essenciais 
para a confecção do plano que moderniza o novo padrão, não 
evidenciando, entretanto, novas interpretações para o sistema do 
policiamento. 
b) ( ) Direitos Fundamentais são primordiais para o sucesso da 
polícia comunitária, pois dependem das políticas públicas para ter 
sua realização no plano concreto. 
102
 SEGurANÇA PÚBLiCA
c) ( ) O uso da força deve ser sempre comedido, porém deve 
também ser priorizado para o sucesso da polícia cidadã. 
d) ( ) Políticas públicas tendem a padronizar o policiamento 
comunitário e a respaldar sua fi losofi a, alicerçando seus motivos 
e princípios. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – F – V – F. 
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) F – V – V – F. 
d) ( ) V – F – V – V.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Prezado aluno! Determinamos, nesse capítulo, que o sistema de Defesa 
Social somente pode ser capaz de protagonizar o novo paradigma da Segurança 
Cidadã se cumprir sua funcionalidade original. A interpretação da Escola Clássica 
do Direito Penal (século XVIII, movimento iluminista) acerca da defi nição e 
aplicação do conceito, busca por garantias que defendem o cidadão dos poderes 
dos governantes, tão elevados naquelas épocas de mudanças na Europa.
Você estudou que a ideologia da defesa social empresta seus conceitos 
mais intrínsecos ao sistema de defesa social, que é utilizado em grande parte 
das organizações da segurança pública no mundo. Esses princípios surgiram 
maculados a partir da Escola Positivista do Direito Penal (século XIX), que 
assegurou maior importância de teses biológicas e psicológicas, em detrimento 
de um estudo mais analítico do que seja crime. Analisar e afi rmar o criminoso 
por marcas, medições físicas ou por problemas que possam ser hereditários 
é alterar a motivação do estudo do que é crime e quais seus motivos para a 
pessoa do criminoso. Nesse sentido, estuda-se então a pessoa e seus trejeitos. 
Isso pode ser perigoso, pois além de abrir possibilidades de marcação daqueles 
considerados hostis, pode servir para propósitos higienistas, que venham a ser 
balizados pelo sistema que se adota, criando e desenvolvendo concepções de 
inimigos ideologicamente. Essa estigmatização perdura até hoje, cada vez mais 
descomedida, seja exercida pela diferença da cor da pele, pelo nível social e 
econômico, pelo credo e até mesmo pelas diferenças culturais. 
A perspectiva após a redemocratização do país é a de respaldo ao direito da 
dignidade da pessoa, acentuada pelos direitos humanos e descritos pelos direitos 
fundamentais. Nesse sentido, para impulsionar o conceito de Polícia Cidadã ou 
103
SEGURANÇA PÚBLICA E DEMOCRACIA Capítulo 2
Comunitária, não há conteúdo jurídico de leis melhor. Só que fazer valer as normas 
legais pelos princípios corretos é o mais urgente. As premissas que destacam o 
poder democrático ainda engatinham quando as políticas públicas estão longe de 
atingir seu potencial e seus mais necessitados personagens. 
Caro aluno, nesse capítulo, você estudou que, para a real transformação 
do paradigma da segurança social, as políticas públicas de qualidade são 
importantes. Sem elas, qualquer manejo diferente por parte de adventos da 
segurança pública será visto como mais uma intervenção legal à base da força, 
do controle e da marcação dos órgãos penais do Estado. Por esse motivo, é 
importante a promoção e efetivação das políticas públicas, em principal destaque 
nas comunidades mais carentes do olhar e do cuido estatal, para se ir alterando 
as concepções históricas já moldadas nas mentes e na experiência de todos. 
Ao aplicar a Polícia Comunitária, após o primordial passo citado anteriormente, 
é preciso envolvimento. Nenhum grande projeto sai do papel e ganha destaques 
positivos se não tiver comprometimento dos atores principais. Para isso, todos 
os personagens precisam estar a par de seus papéis: os comandantes devem 
obedecer às normas do novo modelo, repassando e transmitindo confi ança no 
inédito padrão a ser utilizado; os treinamentos ao policial deve se iniciar desde 
cedo, enfatizando os direitos de cidadania e direitos humanos e a sua ação 
perante isso tudo; os governantes precisam divulgar o novo olhar da segurança 
para a comunidade abrindo oscaminhos por intermédio das políticas públicas, 
os sindicatos e organizações de proteção ao policial devem valorizar sobretudo o 
profi ssional e seus anseios; e aos policiais cabe se aprofundar no modelo utilizado, 
entendendo-se como essencial parte da sociedade que pretende defender. 
Todos os passos que você viu para a tomada das ações do policiamento 
comunitário envolvem diversas organizações, o que, por sua vez, abrangem 
muitas pessoas. A importância do agente policial é fundamental para o sucesso 
da missão comunitária. É a partir dele que haverá ou não aceitação e sucesso. 
Portanto, assim como a população, o profi ssional é peça essencial nesse tabuleiro 
contra o crime. Sua presença nas comunidades altera a rotina, mas sua aceitação 
capacita a sociabilidade. Entretanto, inúmeros são os problemas sociais e diversas 
as adversidades causadas pelo crime, principalmente o crime que se organiza. 
Para o policiamento comunitário, deve-se dar um passo de cada vez, e o principal 
movimento em um país com tantas desigualdades sociais e difi culdades inúmeras 
das populações mais carentes deve ser dado pelos nossos governantes. 
Lembre-se de que a corrupção é crime que se organiza em benefício de 
poucos e em detrimento de muitos. Num país em que uma criança de comunidade 
carente vai à escola para ter sua primeira refeição do dia, quem sabe a única, a 
Polícia Comunitária é muito bem-vinda, pois se faz parte da comunidade, sente 
104
 SEGurANÇA PÚBLiCA
como as pessoas comunais, degusta seus problemas e por que não auxilia na 
remoção desses mesmos obstáculos. 
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108
 SEGurANÇA PÚBLiCA
CAPÍTULO 3
PLANEJAMENTO E GESTÃO:A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA
 A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Identifi car as estratégias de segurança pública que permitem uma análise dos 
sistemas de gestão.
• Conhecer os processos de gestão relacionados aos direitos humanos.
• Criticar modelos de gestão dissonantes dos mandamentos constitucionais. 
• Descrever uma visão estratégica de administração na defi nição de projetos 
e políticas orientadas ao atendimento dos interesses do cidadão e das 
organizações de segurança pública.
• Refl etir sobre os diversos planejamentos estratégicos possíveis e adotar um 
modelo de governança comum a uma política de segurança pública efi ciente e 
humanizada, organizando os saberes desenvolvidos pelas normas legais. 
• Articular a construção de conhecimentos e domínio na utilização dos diferentes 
instrumentos e técnicas de gestão de segurança pública.
• Organizar o modelo de gestão orientado pela capacidade de informação por 
sistemas interligados de análises de dados, quantitativos e qualitativos. 
• Mapear pontos críticos de anomia e violência.
110
 SEGurANÇA PÚBLiCA
111
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO 
Prezado aluno! Você viu que garantir a segurança de todos é uma 
árdua missão que implica diversas difi culdades específi cas das imensas 
responsabilidades que são colocadas nas mãos de pessoas, que, como nós, 
possuem seus próprios dilemas e medos pessoais, anseios e desejos. O agente 
profi ssional de segurança pública passa por treinamentos específi cos em sua 
carreira, para atender à essencialidade de sua atividade, que é proteger. Com o 
novo modelo de polícia comunitária, essa capacitação foi alterada e reiniciada a 
partir dos padrões que se deseja seguir. A preparação do profi ssional passou a 
ser mirada para a sociabilidade e o encontro comunitário, não sendo mais uma 
preparação para a guerra contra o inimigo. Isso somente é possível por intermédio 
de diversas estratégias de organização do tempo, estudo e da qualifi cação dos 
atores responsáveis pela proteção de todos. 
Não se refere apenas a uma estratégia de treinamento. A mudança de um 
paradigma, fundado em suas crises intermináveis e em vícios inexauríveis para 
um novo conceito norteador dos valores a serem aplicados, exige que a crise seja 
superada. Ainda assim, é constante a batalha contra os resquícios do passado, 
remanescentes de uma era que suprimia direitos e liberdades. Como você viu 
no capítulo anterior, a segurança pública vem se direcionando na defesa desses 
ideais, ao alavancar as convicções mais características da cidadania. Ao mudar 
o foco de proteção do Estado para as pessoas, há uma alteração derivada das 
normas legais que antes eram carentes na identifi cação do labor e importância 
policial, não há como o instituto de segurança ter outro enfoque de proteção que 
não sejam os direitos fundamentais e os direitos humanos.
 
Contudo, você verifi cou que os problemas do nosso país, tais quais a 
estereotipação do outro e o desprezo do Estado pelos direitos fundamentais são 
grandes vilões para a segurança pública, uma vez que ela não depende apenas 
das suas próprias mudanças de conceitos, padrões ou paradigmas. Depende 
também de ações externas a ela, como aquelas que competem ao Estado na 
proteção dos direitos fundamentais. Não há nada que a polícia e seus padrões, 
que se tornam novos, possam fazer contra o afastamento do Estado às políticas 
públicas inclusivas para as populações mais carentes de nossa sociedade. Isso 
porque segurança pública e políticas públicas estão intermitentemente ligadas. 
Dessa forma, você percebeu que a mudança não parte apenas de um lado do 
tabuleiro, mas de todas as peças, de todos os lados. 
Não se trata apenas de uma transição de pensamento, o que por si só se 
esvai com o tempo. É uma mutação na forma com a qual se governa e se aplica 
a estratégia ao planejamento para o novo sentido, em busca da excelência. Essa 
112
 SEGurANÇA PÚBLiCA
estratégia deve ser planejada em virtude do paradigma da Segurança Cidadã. Por 
esse motivo, também é novo o modelo que atualiza a governança da segurança 
pública, tendo os seus exemplos retirados das grandes companhias e empresas 
de sucesso no mundo dos negócios, de uma robusta obediência às analises 
estatísticas qualitativas, e uma imersão na busca pelo êxito dos princípios do novo 
padrão, como se fosse uma empresa no mundo capital em busca de seu sucesso 
econômico. Esses sentidos alteraram não apenas a maneira de se estruturar 
as básicas funções atribuídas aos nossos policiais, mas também a forma pela 
qual suas ações devem ser realizadas para refl etir a aspiração da administração. 
Esses números a ser atingidos devem ser vistos com responsabilidades inerentes 
ao padrão que se vive.
Fazer segurança pública, então, passou a ser um encontro entre a 
reestruturação e o antigo. Cabe aos agentes profi ssionais demonstrar por suas 
atitudes a nova administração dessa instituição que não busca lucro, mas deve 
estar sempre à procura de certifi car a cidadania de todos.
Nesse derradeiro capítulo de nossa saga nos estudos da segurança do 
Estado ao seu cidadão, analisaremos como o planejamento estratégico passou 
a ser aplicado à luz dos conceitos de uma governança corporativa no sentido de 
buscar a melhor estratégia que atente aos ideais do novo padrão. Dessa forma, 
veremos como os planos nacionais de segurança públicas, seja ele Estadual ou 
Nacional, assistem essa nova visão e se eles alcançam os modelos de gestão 
atuais. Alguns modelos de gestão policial podem ser utilizados para afastar os 
conceitos do novo paradigma, como o famoso modelo da Tolerância Zero e qual 
seria a forma de combater esses ideais em relação à polícia comunitária, por 
intermédio de uma gestão de qualidade, orientada pela inteligência.
Vamos lá! 
2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 
APLICADO À SEGURANÇA PÚBLICA
Prezado aluno, você verá que o conceito de estratégia e planejamento, 
apesar de serem ambos expressos nos dicionários e terem seus conceitos 
descritos a partir de adjetifi cações similares, para a segurança pública essas 
palavras possuem signifi cados ímpares. A princípio, planejamento se defi ne 
como a “ação de preparar um trabalho, ou um objetivo, de forma sistemática” ou 
a “ação de planejar e elaborar um plano” (DICIO, 2021, s.p.). Ainda, seu conceito 
mais desenvolvido invoca a “determinação das etapas, procedimentos ou meios 
que devem ser usados no desenvolvimento de um trabalho, festa, evento” (DICIO, 
113
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
2021, s.p.). Já estratégia traz a ideia de “meios desenvolvidos para conseguir 
alguma coisa, forma ardilosa que se utiliza quando se quer obter algo” ou 
“habilidade e astúcia na coordenação militar, política econômica e moral feita com 
intuito de defender uma nação de seus possíveis invasores” (DICIO, 2021, s.p.).
Planejamento signifi ca todo um processo decisório que determina “o que 
deve ser feito e como deve ser feito” (ACKOFF, 1976, p. 103). Porter e Kramer 
(2006) desenvolvem o conceito de estratégia para qualquer organização que 
dela se utilize, como a busca pelas melhores práticas, realizando atividades de 
forma diferentes que os seus competidores, colocando-se em uma posição única 
e exclusiva.
Foi com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) que cinco básicas defi nições 
de estratégias passaram a reinterpretar o sentido, englobando seu signifi cado a 
partir de planos elaborados:
Estratégia como plano: direção, guia, curso de ação ou planos 
para se atingir resultados consistentes com as missões e 
objetivos da organização.
Estratégia como padrão de comportamento: consistência de 
comportamento ao longo do tempo.
Estratégia como posição: localização de determinados 
produtos em determinados mercados.
Estratégia como perspectiva: a maneira fundamentalde uma 
organização fazer as coisas.
Estratégia como truque: uma manobra específi ca para enganar 
um oponente ou concorrente (MINTZBERG; AHLSTRAND; 
LAMPEL, 2000, p. 392).
Para a segurança pública, a diferença entre os signifi cados se apresenta 
justamente quando planejamento e estratégia são colocados na questão ou 
no planejamento do que é público. Nesse sentido, prezado aluno, a clareza, 
publicidade dos atos e a transparência possuem infl uências no conceito dessas 
palavras. 
A partir dessas defi nições, o planejamento estratégico, para a área da 
segurança pública, não se confunde com planejamentos de empresas diversas 
oriundas do sistema capitalista de produção. Entretanto, diversas são as 
infl uências que se destacam, como o padrão de comportamento dos profi ssionais 
que se alteram e buscam consistência ao longo das etapas históricas defi nidas 
pelo paradigma que se utiliza. A estratégia empresarial não pode ser aplicada 
por completo na segurança pública, se seus atores possuírem diferenças bem 
realçadas, como alerta Huertas (2016). Um exemplo de dessemelhança é a 
busca pelos lucros das empresas, que especifi cam determinadas estratégias, 
incentivando seus protagonistas somente para esse fi m.
114
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Ainda, por mais diferenças que existam, uma qualidade que pode 
ser aplicada ao planejamento público advém dos planos estratégicos 
corporativos. Aqui, a diferença está nos atores ligados diretamente 
à política. Assim, as estratégias se defi nem a partir de métodos 
complacentes à questão pública. Para Pfeiffer (2000), o planejamento 
estratégico para o setor público serve como um “instrumento de 
gerenciamento”, capaz de tornar mais efi ciente o propósito específi co 
acentuado pela gestão. Nesse setor, valorizar a assistência às 
necessidades da população é o principal foco a ser atendido. Para isso, 
instituir a missão, a visão, a organização, a clientela, o propósito de atuação e a 
forma de atuação são condições imprescindíveis (PFEIFFER, 2000). O principal 
propósito para uma política pública fundamenta-se na promoção do bem-estar 
social ao sanar problemas que, fi ncados na sociedade, causam algum distúrbio.
Você já sabe que quando se fala em segurança pública, essas políticas 
devem estar coadunadas para a diminuição dos índices de criminalidade, em 
busca de ambientes seguros. Assim, o planejamento necessita estar balizado por 
decisões técnicas, na escolha de objetivos “bem determinados e que determine 
os meios mais apropriados para atingi-los” (CAMARGOS; DIAS, 2003, p. 133).
Quando consideramos os níveis hierárquicos para as tomadas de decisão, 
bem como para a realização do que foi decidido, pensamos em uma pirâmide 
organizacional. Essa deve estar estabelecida em um patamar que possa distinguir 
os três principais níveis do planejamento, são eles:
• Nível estratégico: na organização, seria o nível institucional, 
em que os gestores avaliam, em todos os sentidos, as 
possibilidades de um planejamento.
• Nível tático: aqui, no planejamento tático, há a interpretação 
da missão repassada pelo nível acima, transformando-os em 
planos de ação concreta.
• Nível operacional: a condução do plano traçado pelos 
departamentos acima, deve ser certa e precisa (CAMARGOS; 
DIAS, 2003, p. 133).
Prezado aluno, vamos nos ater às pesquisas de Chiavenato e Sapiro (2003), 
quando eles defi nem o planejamento estratégico como o mais amplo e abrangente 
a ser utilizado por qualquer organização, tendo características bem defi nidas:
• Horizonte temporal: o plano deve ser projetado para o longo prazo 
obtendo respostas, efeitos e consequências que se estendam por vários 
anos à frente.
• Abrangência: envolve cada tarefa ou atividade preocupando-se com o 
alcance das metas específi cas, repassadas pelos níveis hierárquicos 
superiores.
• Conteúdo: deve ser claro e preciso nesse ponto, detalhado, específi co e 
O principal propósito 
para uma política 
pública fundamenta-
se na promoção do 
bem-estar social ao 
sanar problemas 
que, fi ncados na 
sociedade, causam 
algum distúrbio.
115
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
analítico.
• Defi nição: é estabelecida em cada nível operacional, focada em cada 
tarefa e em cada atividade.
Por possuir planos a longo prazo e efeitos estendidos por vários anos, o 
planejamento estratégico é o melhor a ser utilizado pelas políticas públicas, 
quando seus efeitos e consequências permanecem. Na pirâmide apontada por 
Chiavenato (2004), conseguimos distinguir os três níveis, sua importância e 
missão específi ca: 
FIGURA 1 – INTERLIGAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO 
ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL
FONTE: Chiavenato (2004, p. 312)
O planejamento evidencia o caminho a ser tomado pela organização, ao 
coordenar todas as suas unidades potenciais em busca dos objetivos através 
de sinergia. O planejamento se faz pelo intermédio de um plano, ou seja, metas 
traçadas a longo prazo. A governança da segurança pública ainda é um tema 
muito discutido e um dos grandes desafi os, uma vez tratar-se de assegurar os 
direitos e deveres tanto de profi ssionais de segurança quanto dos cidadãos.
As enormes mudanças sociais advindas ao longo da história fi zeram com 
que a administração pública se capacitasse a fi m de atender às novas demandas 
116
 SEGurANÇA PÚBLiCA
produzidas. Essa necessidade revelou que a modernização na gestão pública, 
por intermédio de doutrinas, práticas e conceitos que superassem os problemas 
causados pela burocratização dos órgãos do governo, partissem de princípios 
advindos da nova gestão pública (JONES; KETTEL, 2003). Como você viu, esse 
novo pensar da governança modifi cou determinadas ideias de gerenciamento 
estratégico, tanto de empresas particulares quanto de uma estratégia situacional. 
O Policiamento Comunitário é considerado uma dessas mudanças, na gestão 
pública da segurança, a partir do desenvolvimento de seus princípios. A 
atividade somente pode ser considerada validada a partir do seu ensinamento 
e encorajamento, mas, ainda, da exteriorização desses preceitos que ocorre na 
ação dos agentes responsáveis pela segurança, ou seja, os próprios policiais, 
considerados extremamente importantes, senão a parte mais elementar para toda 
a mudança.
Como estamos estudando sobre a estratégia, queremos indicar 
dois livros. O primeiro é o nosso marco teórico nesse capítulo, 
Idalberto Chiavenato (2004). Sua obra Teoria geral da administração 
foi muito importante por apresentar uma postura inovadora, 
fl exível e sustentável. A obra indicada é Planejamento estratégico: 
fundamentos e aplicações, um importante marco para os estudos 
sobre estratégia, seja ela voltada para as empresas privadas ou para 
a área da administração pública. Inclusive, é indicada para novos e 
futuros empreendedores. A segunda obra indicada é um clássico da 
literatura. Quem nunca ouviu por aí a famosa frase “a suprema arte 
da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”? Ela é de Sun Tzu, em sua 
obra A arte da guerra, que pode não atingir os gostos de todos, mas 
consegue defi nir o nível de competição numa guerra pautada pela 
melhor estratégia: A arte da guerra, de Sun Tzu, foi escrita por volta 
de 500 a.C.
2.1 A BUSCA PELA MELHOR 
ESTRATÉGIA
Seja ela como for, a estratégia é a arte de formular artifícios que encaminhem o 
seu plano ao caminho pretendido, passando por atalhos mais benéfi cos para seus 
objetivos. De todos os conceitos de estratégia, seja para empresas capitalistas 
117
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
que, em busca de lucro, deparam-se com a competividade e problemas pessoais 
internos ou em modelos públicos de gestão sempre em busca de aprimorar a 
qualidade e a celeridade de seus serviços, aquele plano que considera pontos 
específi cos para a delineação de um objetivo é o mais apropriado (CHIAVENATO, 
2004). O planejamento pode ser visto a partir de uma visão mais espacialquanto 
situacional, uma vez que é realizado de uma maneira macro, atendendo a todos 
de forma igualitária. Por esse motivo, existem dois planejamentos: o Nacional e o 
Estadual. Podemos, então, a partir de já deduzir que o Plano Nacional considera 
o macroambiente numa visão espacial, enquanto o Estadual leva em conta o 
microambiente em uma visão situacional.
O economista chileno Carlos Matus (1931-1998) criou uma fórmula para 
o pensamento estratégico que fi cou conhecida por Planejamento estratégico 
situacional. Em seu artigo intitulado O Plano como aposta, o economista disse: 
“Os jogadores escolhem seu plano de jogo, mas não as circunstâncias em que 
devem realizá-lo” (MATUS, 1991, p. 2).
Leia o artigo completo de Carlos Matus sobre o Plano 
estratégico situacional aqui: https://docs.google.com/fi le/d/0Bxlq-
EuCzSofd1pPV0xqXzA0UDg/edit. 
FONTE: MATUS, C. O plano como aposta. São Paulo em perspectiva, 
v. 5, n. 4, p. 28-42, out./dez. 1991.
Matus (1991) explica que a diferença entre o plano estratégico convencional 
e o plano situacional é elaborada a partir dos diferentes cenários encontrados 
e que podem fazer parte da nova estratégia. Assim, não há determinismo para 
Matus (1991), ou seja, os atores do plano não possuem condições para controlar 
ou dominar as situações que são colocadas pela realidade quando o plano está 
sendo efetivado. No caso da segurança pública, a sociedade, assim como seus 
problemas, está sempre em constante evolução e desenvolvimento, alterando, 
muitas vezes, de forma e de contexto. Com o paradigma da tecnologia, por 
exemplo, inúmeros são os crimes impensados anos atrás, quando da realização 
do planejamento anterior ao atual. Por esse motivo, para Matus (1991), a 
improvisação subordinada faz parte do plano traçado. Assim, deve existir 
uma margem de manobra para o uso de atitudes não programadas nas ações 
propostas pelo plano inicial. O planejamento tradicional impede a possibilidade 
118
 SEGurANÇA PÚBLiCA
de improviso e o delineamento de novas estratégias (MATUS, 1991). O plano, 
nesse sentido, deve se ater ao intuito original e às bases que estruturam seus 
princípios. Contudo, deve estar aberto à possibilidade de um improviso em seu 
desenvolvimento.
Entretanto, prezado aluno, a formação do planejamento, ao se pensar na 
melhor estratégia a ser defi nida, deve refl etir nos grandes desafi os de nosso 
tempo, mas ainda considerar os personagens que fazem parte desses problemas 
e por qual motivo estão envolvidos (MATUS, 2005).
A estratégia defi nida pelo Plano de Segurança Pública Nacional segue a 
partir do planejamento estratégico, quando esboça seu programa a longo prazo, 
tendo consequências a curto prazo em nível operacional. Signifi ca dizer que a 
competência originária da criação do plano, que é a Secretária Nacional de 
Segurança Pública, planeja a partir do macroambiente para o microambiente, 
oportunizando aos Estados que delimitem o seu plano dentro de suas fronteiras. 
Através de suas diretrizes especiais e que desenvolvem uma programação espacial 
e uniforme a todos os entes federados, também propõe a descentralização de 
ações e tomada de ações, o que proporciona segurança, tanto normativa quanto 
operacional, para qualquer escolha de decisões no decorrer do jogo, desde que 
siga os basilares princípios abrigados pelo plano. Isso oportuniza que os Estados, 
a partir de seu planejamento ambientado em seus domínios, crie um plano 
estratégico situacional, conforme Matus (1991) identifi cou.
No próximo ponto, você estudará o essencial dos planos de segurança, 
tanto nacional quanto estadual, percebendo a importância que se dá ao plano 
estratégico na tomada das decisões das inúmeras operações policiais espalhadas 
Estados afora, como de qualquer ação a ser tomada. Os princípios da segurança 
cidadã e da polícia comunitária já estão apregoados em sua doutrina e devem ser 
respeitados.
Na indicação de livro que fazemos aqui, indicamos para você 
também o fi lme que faz referência à obra escrita. Tropa de Elite 
(2007) e sua continuação de 2010, ambas sob a direção de José 
Padilha, baseado nos livros homônimos escritos por dois ex-policiais 
civis, demonstram uma polícia militar abandonada por qualquer 
comando e controle estatal, tomada de uma corrupção latente e 
usada por membros de altos cargos políticos no país para realizar 
os seus atos corruptivos. Aqui, podemos ver o tipo de instituição sem 
119
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
nenhuma estratégia, sem nenhum objetivo ou planejamento tático ou 
operacional e sem qualquer controle ou comando.
FONTE: SOARES, L. E. et al. Elite da tropa. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 2006. 
FONTE: SOARES, L. E. et al. Elite da tropa II. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 2010.
É com a famosa frase de Sun Tzu (2006, p. 34) que demonstramos a 
importância do planejamento: “Com planejamento cuidadoso e detalhado, pode-
se vencer; com planejamento descuidado e menos detalhado, não se pode 
vencer. A derrota é mais do que certa se não se planeja nada. Pela maneira como 
o planejamento antecipado é feito, podemos predizer a vitória ou a derrota”. 
A seguir, vamos analisar os Planos Nacionais e Estaduais de Segurança 
Pública e suas estratégias, sua organização e metas!
2.2 PLANO NACIONAL DE 
SEGURANÇA PÚBLICA
Em seu caput, o Art. 144 da CF, que nós vimos algumas páginas atrás, trouxe 
a fi nalidade que deve ser a mesma em qualquer Plano Nacional de Segurança 
Pública que venha ser elaborado: “Art. 144. A segurança pública, dever do 
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]” (BRASIL, 
1988, p. 134, grifo nosso). É nesse sentido que cada um dos planos realizados 
até hoje teve especifi cidades próprias de seu tempo, mas pautados na norma 
constitucional. Veja que o plano escrito no ano 2000 possuía intuito claro de 
afi rmar uma interação entre as políticas de segurança, as políticas sociais e as 
ações comunitária. Previa também, em sua redação e planejamento, a repressão 
e prevenção da criminalidade, bem como a redução da impunidade e aumento 
da segurança dos cidadãos e dos espaços públicos (NATAL, 2016). Assim como 
os direitos fundamentais prescritos, o Plano Nacional de Segurança não deve 
retroceder. Os próximos planos, por mais que tragam outras possibilidades de 
organização, não devem menosprezar aqueles pontos considerados inovadores 
no âmbito dos direitos fundamentais e humanos, nem deixar de seguir políticas 
públicas de inclusão.
120
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Em 2003, o plano escrito então visava o fortalecimento institucional da 
segurança pública, que apresentou o projeto de lei que criava o Sistema Único de 
Segurança Pública (SUSP), instituído somente em 2018 pela Lei nº 13.675 em junho 
de 2018. Foi com o plano de 2007 que o Programa Nacional de Segurança Pública 
(PRONASCI) foi fundado, cujo intuito consistia na prevenção, controle e repressão 
da violência crescente, como vimos nos capítulos anteriores. Seu plano sucessor 
veio em 2012, quando o Ministério da Justiça lançou o novo Plano Nacional de 
Segurança Pública, instituindo os seguintes passos (IPEA, 2017, p. 22):
• Um Plano Estratégico de Fronteiras;
• O programa Crack, é possível vencer;
• Ações de combate às organizações criminosas;
• Um Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional; 
• Um Plano Nacional de Segurança para Grandes Eventos; 
• Um Programa de Enfrentamento à Violência.
Todos esses foram planejados para intuitos específi cos e, em 2017, o plano 
até então tinha a fi nalidade de integrar e coordenar as ações entre o Governo 
Federal, os Estados e a sociedade em geral, propondo a modernização do 
sistema penitenciário e o combate às organizações criminosas. O crescimento da 
violência contra a mulher e o aumento do número de homicídios dolosos junto ao 
intenso tráfi co de drogas e armas, fez com que os planos do Ministérioda Justiça 
recrudescessem a força das investigações para esses tipos de delitos.
 
Ao analisarmos o Plano de 2017, logo substituído pelas ações do 
planejamento de 2018, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertava, em suas 
análises, sobre diversos pontos específi cos e importantes que devem constar em 
um Plano Nacional, repreendendo o plano em vigor e advertindo o plano porvir. 
Ao verifi car as irregularidades, o TCU (2017, s.p.) apontou que é incumbência do 
plano evidenciar:
• Prazo de vigência do plano: no último plano, esse prazo é dilatado e 
incumbe o período de 2018-2028, não fi cando, assim, comprometido a 
um só mandato político.
• Indicadores e metas para as ações a serem implementadas.
• Critérios de priorização de ações.
• Instrumentos jurídicos para formalizar a cooperação entre os entes 
envolvidos na implementação do PNSP que contenham, claramente, 
obrigações e responsabilidades dos atores envolvidos.
• Processo de gestão dos riscos envolvidos na implementação do plano.
• Sistema de avaliação e monitoramento do plano.
• Defi nição das instâncias responsáveis por seu acompanhamento 
contínuo.
121
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
O Plano Nacional deve ser aprovado por lei para atestar a segurança jurídica, 
gerar responsabilidade pública dos entes envolvidos e para que seja, em qualquer 
caso, possível de se exigir o implementar das ações previstas.
Em 2018, o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) 
foi instaurado, e pelo princípio estratégico em suas ações, já se inicia pelo longo 
prazo da tomada e aplicação das suas intervenções, quando seu planejamento 
possui um período mais estendido de tempo: de 2018 a 2028.
Na apresentação do novo plano, em junho de 2018, o então Ministro da 
Segurança, Raul Jungmann, em sua apresentação, declara a criação do Sistema 
Único de Segurança Pública: 
A Política Nacional de Segurança Pública que ora se inicia com 
a implantação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), 
para ser submetida à sociedade e aos órgãos envolvidos na sua 
implementação, nasce para se consolidar como instrumento de 
Estado. Aprovado pelo Congresso Nacional depois de anos de 
estudo, o SUSP é um primeiro e largo passo para o resgate do 
imenso passivo que o país construiu por mais de um século na 
segurança pública (BRASIL, 2018a, p. 7).
Ainda, em suas palavras, esclarece os ideais específi cos para o planejamento 
que se idealiza contra o crime organizado, como uma das principais atribuições 
do plano apresentado: “Nossas extensas fronteiras com dez países incluem 
quatro produtores mundiais de drogas, que têm, no Brasil, o segundo mercado 
consumidor mundial. O crime organizado tornou-se, assim, um fl agelo insuportável 
para toda a sociedade” (BRASIL, 2018a, p. 7).
Por se tratar de um plano realizado em pleno ápice do paradigma tecnológico, 
sua estrutura é especifi cada a partir do conceito de uma polícia moldada pelos 
novos aparatos da engenharia digital: 
O SUSP tem capacidade de desenvolver essa governança 
através da padronização de dados, integração tecnológica, de 
inteligência e operacional, 8 encontrando no Conselho Nacional 
de Segurança Pública um colegiado com competência para 
debater e validar uma política nacional para o setor e promover 
o acompanhamento social das atividades de segurança 
pública e defesa social, respeitadas as instâncias decisórias e 
as normas de organização da administração pública (BRASIL, 
2018, p. 7-8).
Segundo relatado, no plano, eram estimados, para o ano de 2018, recursos 
na ordem de 1 bilhão de reais para a segurança pública. Para o ano de 2022, 
fi cou projetado a quantia de 4,3 bilhões “para investimento e custeio destinados 
aos estados e municípios – preferencialmente mediante indicadores objetivos, 
públicos e verifi cáveis” (BRASIL, 2018a, p. 8).
122
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Um dos principais intuitos do plano é a produção de estatísticas criminais que 
sejam confi áveis, na responsável “produção de dados, informações e análises 
indispensáveis à formulação de uma política pública setorial e seu monitoramento 
por parte da sociedade e do Parlamento” (BRASIL, 2018a, p. 8).
O modelo de governança proposto, e em uso atualmente, visa à criação da 
Escola Nacional de Segurança Pública com intenção de formação de gestores 
para o setor. Ao analisarmos o projeto e sua proposta, notamos a presença de um 
forte federalismo compartilhado contra, nas palavras do então ministro da justiça 
“um federalismo acéfalo” (BRASIL, 2018a, p. 9). Note que aqui, prezado aluno, 
deve haver o vínculo aos ideais de união dos entes situados no âmbito da justiça 
e da segurança pública.
Quer saber mais sobre o SUSP?
A criação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) 
é um marco divisório na história do país. Implantado pela Lei nº 
13.675/2018, o SUSP dá arquitetura uniforme ao setor em âmbito 
nacional e prevê, além do compartilhamento de dados, operações 
e colaborações nas estruturas federal, estadual e municipal. Com 
as novas regras, os órgãos de segurança pública, como as Polícias 
Civis, Militares e Federal, as Secretarias de Segurança e as Guardas 
Municipais serão integrados para atuar de forma cooperativa, 
sistêmica e harmônica. 
Como já acontece na área de saúde, os órgãos de segurança 
do SUSP já realizam operações combinadas. Elas podem ser 
ostensivas, investigativas, de inteligência ou mistas e contar com 
a participação de outros órgãos, não necessariamente vinculados 
diretamente aos órgãos de segurança pública e defesa social – 
especialmente quando se tratar de enfrentamento a organizações 
criminosas. 
O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) tem como órgão 
central o Ministério da Segurança Pública e é integrado pelas polícias 
Federal, Rodoviária Federal; Civis, Militares, Força Nacional de 
Segurança Pública e Corpos de Bombeiros Militares. Além desses, 
também farão parte do SUSP: Agentes Penitenciários, Guardas 
Municipais e demais integrantes estratégicos e operacionais do 
segmento da Segurança Pública. 
123
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
A lei do SUSP cria também a Política Nacional de Segurança 
Pública e Defesa Social (PNSPDS) para fortalecer “as ações de 
prevenção e resolução pacífi ca de confl itos, priorizando políticas 
de redução da letalidade violenta, com ênfase para os grupos 
vulneráveis”. A Política será estabelecida pela União e está prevista 
para valer por dez anos. Caberá aos estados, ao Distrito Federal e 
aos municípios estabelecerem suas respectivas políticas a partir das 
diretrizes do Plano Nacional. A segurança pública continua atribuição 
de estados e municípios. 
A partir de agora, a União criará as diretrizes que serão 
compartilhadas em todo o país. As unidades da Federação assinarão 
contratos de gestão com a União, que obrigará o cumprimento das 
metas como a redução dos índices de homicídio e a melhoria na 
formação de policiais. 
FONTE: <ht tps : / /www. jus t ica .gov.br /news/co l lec t ive-n i t f -
content-1544705396.44>. Acesso em: 21 jun. 2021.
O Plano atual instituiu o Sistema Único de Segurança Pública e a Política 
Nacional de Segurança Pública e Defesa Nacional, promovendo, em suas 
diretrizes, a Polícia Comunitária, enfatizando determinados princípios importantes, 
que são essenciais para o atual Plano e que devem ser seguidos pelo próximo 
plano. São eles:
• respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos e garantias 
individuais e coletivos;
• proteção, valorização e reconhecimento dos profi ssionais 
de segurança pública;
• proteção dos direitos humanos, respeito aos direitos 
fundamentais e promoção da cidadania e da dignidade da 
pessoa humana;
• efi ciência na prevenção e repressão das infrações penais;
• redução de riscos em situações de emergência e desastres;
• participação e controle social;
• resolução pacífi ca de confl itos;
• uso comedido e proporcional da força;
• publicidadedas informações não sigilosas;
• simplicidade, informalidade, economia procedimental e 
celeridade no serviço prestado (BRASIL, 2018b, grifo nosso). 
Prezado aluno, você se lembra das essenciais diretrizes e princípios 
apontados pelos pesquisadores como primordiais para a possibilidade da atividade 
124
 SEGurANÇA PÚBLiCA
da Polícia Comunitária? São os princípios em destaque na citação anterior. Entre 
suas diretrizes, as linhas do Plano nos trazem como uma importante defi nição até 
então inédita dentro dos planos da segurança pública anteriores, que é a atuação 
de todos os entes federativos no combate efetivo à destruição do meio ambiente. 
Notamos também a ênfase ao policiamento de proximidade, que realça uma 
forma de gestão traçada na resolução dos problemas em suas raízes, não apenas 
na repressão, mas na identifi cação junto à comunidade das mazelas sociais do 
local. Assegura, ainda, a cultura da paz, a segurança comunitária e a integração 
das políticas de segurança com as políticas sociais.
O incentivo ao crescimento profi ssional dentro das corporações também é 
reafi rmado quando enfoca os planos de carreira para os agentes de segurança 
pública, seja qual for a sua instituição, a fomentar a designação desses 
profi ssionais para cargos de responsabilidade e chefi a. Entretanto, uma de suas 
diretrizes engloba parcerias com agências de segurança privada, respeitada a lei 
de licitações sempre que for necessário o ato. Tais parcerias servem ao intento 
de preencher dados estatísticos, a princípio, das localidades e comunidades onde 
atua a criminalidade. Essas estatísticas poderão infl uenciar a forma de gestão 
para aquela localidade no que diz respeito ao planejamento das ações, que 
também é um ponto importante para a realização da Polícia Cidadã.
Seus principais objetivos, segundo a Lei nº 13.675, de 11 de junho de 2018 
(Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social) são:
• ações estratégicas e operacionais, em atividades de 
inteligência e em gerenciamento de crises e incidentes;
• ações de manutenção da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas, do patrimônio, do meio ambiente e de bens e 
direitos;
• incentivar medidas para a modernização de equipamentos, da 
investigação e da perícia e para a padronização de tecnologia 
dos órgãos e das instituições de segurança pública;
• estimular e apoiar a realização de ações de prevenção à 
violência e à criminalidade, com prioridade para aquelas 
relacionadas à letalidade da população jovem negra, das 
mulheres e de outros grupos vulneráveis;
• promover a interoperabilidade dos sistemas de segurança 
pública;
• estimular o intercâmbio de informações de inteligência de 
segurança pública com instituições estrangeiras congêneres;
• fomentar medidas restritivas de direito e penas alternativas 
à prisão;
• estimular a criação de mecanismos de proteção dos agentes 
públicos que compõem o sistema nacional de segurança 
pública e de seus familiares;
• priorizar políticas de redução da letalidade violenta;
• fortalecer as ações de prevenção e repressão aos crimes 
cibernéticos (BRASIL, 2018b).
125
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Uma importante característica que não apenas se manteve, mas foi estendida, 
é a capacitação e valorização do profi ssional de segurança pública, com o intuito 
de aprimorar a educação gerencial, técnica e operacional. Os estudos pautados no 
princípio educacional da andragogia fornece uma grade curricular evidenciada nos 
direitos humanos e fundamentais, validando as diretrizes da polícia comunitária, 
que o tipo de ação que intenta. Também há o Programa Pró-vida, que se levado 
a sério, servirá para os propósitos mais carentes das nossas instituições policiais, 
que são a atenção psicológica e de saúde no trabalho ao desenvolver projetos 
competentes no setor (BRASIL, 2018a, p. 74).
Criado em 2010, o Programa Nacional de Qualidade de Vida dos 
Profi ssionais da Segurança Pública, reconhecido como Pró-vida, tem 
como objetivo a valorização do profi ssional da área de segurança, 
reduzindo os riscos de morte como também atuar na prevenção da 
saúde durante o exercício de suas relevantes funções.
Importante destacar a sua transparência e seu controle, realizado pelas 
corregedorias (órgãos internos) e pelo acompanhamento público (ouvidorias). 
Para que possam laborar de maneira independente na adoção de suas ações, as 
corregedorias são dotadas de autonomia, possuindo competência para apurar a 
responsabilidade funcional pelo intermédio de processos administrativo disciplinar 
e sindicâncias: “Fomentar a criação e o fortalecimento das Corregedorias de 
Polícia, Corpos de Bombeiros Militares, das Guardas Municipais e do Sistema 
Penitenciário, dotando-as dos equipamentos necessários ao seu funcionamento e 
capacitando seu corpo de profi ssionais” (BRASIL, 2018a, p. 65).
Já o acompanhamento público se faz por intermédio das ouvidorias, 
também dotadas de autonomia e independência para realizar as suas funções. É 
através dela que são feitas as representações contra os agentes de segurança, 
as sugestões e elogios: “Fomentar a criação e o funcionamento de Ouvidorias 
de Polícia, de Bombeiros Militares e de Ouvidorias Penitenciárias autônomas e 
conduzidas por Ouvidores com mandato” (BRASIL, 2018a, p. 65).
Quais seriam as diretrizes para os planos estaduais de segurança 
pública? Podemos afi rmar, prezado aluno, que o plano que confi rma as diretrizes 
estaduais deve seguir o planejamento estruturado pelo estudo nacional. Há 
a conformação da norma maior e o acompanhamento dos princípios que 
126
 SEGurANÇA PÚBLiCA
dão a essência à estratégia. A descentralização é importante numa análise 
do planejamento estratégico, uma vez certifi cadora e afi rmadora dos dados 
empíricos retirados da região que se pretende analisar, para, assim, aplicar as 
ações de segurança pública em âmbito estadual. As análises estatísticas que 
são desenvolvidas em microrregiões demonstram as diferenças entre os diversos 
distritos e localidades espalhadas em um país de imensas dimensões.
Prezado aluno, a matéria a seguir foi escrita um ano após do 
lançamento do Plano de Segurança Nacional de 2017, e tem o intuito 
de demonstrar quais os objetivos traçados pelo planejamento foram 
cumpridos após esse período. O plano destacado na entrevista se 
iniciou em 2017, tendo por escopo a grande violência nos presídios 
nacionais. Após esse plano, surgiu o Plano Nacional de Segurança 
Pública e Defesa Social, com prazo entre 2018/2028. Entretanto, 
vale conhecermos o que havia sido produzido um ano após sua 
efetivação. Note que o Plano de 2017 foi um plano de segurança 
nacional elaborado a curto prazo, mas foi somente com o Plano de 
2018 que houve o envolvimento estratégico a longo prazo.
Um ano após lançar Plano Nacional de Segurança, 
confi ra o que o governo cumpriu e o que não cumpriu
Guilherme Mazui 
Apresentado há um ano pelo governo federal, durante uma crise 
que se instalou em diversos presídios do país, o Plano Nacional de 
Segurança tinha como objetivo reduzir homicídios, combater o crime 
organizado e modernizar o sistema prisional. Descrito como “realista” 
pelo então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o plano foi 
considerado à época genérico por especialistas. O conjunto de ações 
completa seu primeiro aniversário com avanços tímidos em relação 
ao anunciado pelo governo. A meta de reduzir em 7,5% os homicídios 
dolosos nas capitais aguarda o envio dos dados dos estados para 
ser checada, por exemplo. A construção de cinco presídios federais 
também não saiu do papel. 
Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, órgão 
do Ministério da Justiça, o plano deveria ter alcançado 17 estados 
no ano passado, mas, em razão de restrição orçamentária, fi cou em 
quatro: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e Rio Grande do 
Norte. 
127
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3À reportagem, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, 
reconheceu que o plano foi lançado no “calor” da “convulsão” 
provocada por chacinas em presídios de Amazonas e Roraima. No 
momento, o governo trabalha na defi nição de uma política nacional 
de segurança pública, com foco no longo prazo. “Estamos tentando, 
agora, concluir uma política nacional, que vem antes do plano. 
O plano foi concebido no calor daquela convulsão toda, aquelas 
tragédias todas, mas agora vamos ter uma política em mais largo 
prazo”, disse Torquato. Conforme o secretário-adjunto da Senasp, 
almirante Alexandre Mota, o Plano Nacional passa por uma revisão, a 
fi m de ser adequado a futura política nacional, que deve ser lançada 
ainda em 2018. De acordo com Torquato, a “grande lição” do plano 
até o momento está nas ações inteligência e na integração entre 
órgãos federais e as polícias militares e civis dos estados. Para ele, o 
plano teve “os resultados que foram possíveis”. Veja abaixo o que foi 
feito em um ano de plano: 
Efetivo da Força Nacional (avançou): o plano previu ampliar 
de forma “gradativa” o efetivo da Força Nacional de Segurança 
para realização de operações conjuntas com as policiais Federal, 
Rodoviária Federal e estaduais. De acordo com o Ministério da 
Justiça, a força dispunha de 934 homens em janeiro de 2017 e 
passou a contar com 2.492 em maio.
Ampliação de radares (em andamento): o plano defi niu a 
ampliação do número de radares, com mais 837 câmeras da PRF 
nas rodovias, totalizando 935 unidades. Segundo o MJ, o sistema já 
tem 35 pontos em funcionamento e, no fi nal de 2017, a PRF assinou 
contrato para instalar mais 274 pontos, totalizado 309 pelo país. A 
previsão do governo é ter o sistema em “funcionamento pleno” no 
segundo semestre de 2018. 
Polícia Rodoviária Federal (não foi feito): o plano estabeleceu 
que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deveria fi rmar acordos de 
cooperação com as polícias militares rodoviárias para otimizar a 
fi scalização em rodovias e principais rotas viárias. O governo está 
reavaliando a medida.
Radiocomunicação digital (em andamento): em janeiro de 
2017, o governo anunciou que pretendia ampliar a área de cobertura 
para a comunicação via rádio digital. O plano ainda indicou ampliar 
a cobertura e a intercomunicação com os órgãos de segurança 
dos estados. Segundo o governo, os sistemas estão em fase de 
128
 SEGurANÇA PÚBLiCA
implementação. Estão em fase de execução convênios com estados 
de áreas de fronteira (Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio Grande 
do Sul, Rondônia e Roraima. 
Ampliação do banco de DNA (em andamento): o governo 
estabeleceu como meta ampliar a inclusão de perfi s genéticos no 
banco de dados de DNA do governo federal. Conforme o MJ, em 
novembro de 2016 o banco nacional de perfi s genéticos tinha 7.523 
amostras e, em maio de 2017, passou para 8.916. O plano ainda 
indicou o compartilhamento nacional desse banco de impressões 
digitais com IMLs do país. A Secretaria Nacional de Segurança 
Pública discute com a Polícia Federal um acordo de cooperação 
técnica para viabilizar a ação.
Laboratórios de perícias (em andamento): outra ação do plano 
foi a instalação de laboratório central de perícia criminal, para apoio 
aos estados, além de ampliação de laboratórios da Polícia Federal. 
De acordo com o governo, as ações estão sendo reavaliadas. 
Também havia previsão de fortalecimento de laboratórios estaduais, 
que passariam a exercer papel regional em perícias. O “centro de 
excelência” do Rio Grande do Sul está em fase de execução e o do 
Distrito Federal em processo de licitação. Há previsão de centros no 
Nordeste, Sudeste e Norte.
Informações do sistema penitenciário (em andamento): 
o plano colocou entre suas metas ter informações completas e 
detalhadas em tempo real de todo o sistema penitenciário. Conforme 
o ministério, os dados estão sendo coletados, mas as informações 
do cadastro nacional da área dependem de integração com os 
sistemas estaduais. Três estados iniciaram os testes com o Sistema 
de Informações do Departamento Penitenciário Nacional (Sisdepen). 
A intenção é concluir a integração no país todo até o fi nal de 2018.
Combate ao tráfi co e segurança nas fronteiras (em andamento): 
em janeiro de 2017, o ministério indicou como meta o combate ao 
crime organizado com foco no tráfi co internacional de drogas e 
de armas. O plano trabalhou com a cooperação entre políticas e, 
conforme o ministério, essa parceria ocorre, bem como intercâmbio 
de policiais. O plano previu ampliar acordos países vizinhos para 
tornar mais rígido o controle das fronteiras, mas a medida está sendo 
reavaliada.
129
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Mapeamento de homicídios (não foi feito): o Ministério da 
Justiça anunciou há um ano que seria feito um mapeamento dos 
locais onde ocorrem homicídios dolosos e violência contra a mulher, 
levantamento que começaria pelas capitais e depois seria expandido 
para as regiões metropolitanas. Segundo a pasta, a medida está 
sendo “repactuada”. Também será reavaliada a previsão de identifi car 
locais com “desordens físicas e social”, com falta de iluminação e 
veículos abandonados, bem como o controle de estabelecimento 
irregulares e da venda indiscriminada de bebidas alcoólicas. 
Patrulha Maria da Penha (em andamento): o governo 
anunciou a instalação de grupos da “Patrulha Maria da Penha”, que 
deveriam fazer visitas periódicas a mulheres em situação de violência 
doméstica. A promoção de cursos de capacitação profi ssional 
também era prevista. Segundo o governo, a ação contempla criação 
de diretrizes para implementar o projeto, capacitação de agentes 
e equipamentos. Em 2017, foram criados materiais teóricos. Em 
outubro foi concluída a construção do “Curso Nacional de Patrulha 
Maria da Penha”. A primeira edição do curso ocorreu no Rio Grande 
do Sul e contou com a formação de 17 profi ssionais multiplicadores. 
O governo também pretendia estabelecer um procedimento padrão 
de atendimento à mulher vítima de homicídios dolosos. A medida foi 
implementada para ações na patrulha, segundo o ministério.
Apreensão e controle de armas (em andamento): entre as 
metas do plano para 2017 estava aumentar em 10% a quantidade de 
armas e drogas apreendidas. O ministério aguarda o envio dos dados 
pelos estados para verifi car se a meta foi cumprida. O governo ainda 
informou que implantaria normais mais rigorosas para segurança da 
guarda e depósito de armas de fogo das empresas de segurança 
privada. A medida está sendo reavaliada. Também havia previsão 
de avanço no projeto DNA das Armas, voltado para identifi cação 
de armas de fogo e munição. Segundo o MJ, um grupo de trabalho 
“defi nirá as diretrizes, os padrões e as especifi cações técnicas, 
a fi m de viabilizar a aquisição dos equipamentos, capacitação 
e implementação” do sistema. Já a PF, por meio do centro de 
rastreamento de armas, cataloga apreensões de armas de fogo mais 
relevantes realizadas.
Construção de presídios (não foi feito): o governo anunciou 
cinco presídios federais, voltados para lideranças de “alta 
periculosidade”. Um ano depois, nenhuma obra começou. Uma 
unidade será em Charqueadas (RS) e o Ministério da Justiça negocia 
130
 SEGurANÇA PÚBLiCA
com o governo de Pernambuco para assumir a conclusão de um 
presídio, que seria administrado pelo estado. Depois de concluída, a 
unidade será gerida pela União.
Investimentos no sistema penitenciário (avançou): o plano 
previu a liberação de recursos para os estados a fi m de criar vagas 
no sistema prisional e permitir a compra de equipamentos, como 
scanners, raio X, tornozeleiras eletrônicas e armamentos. Por meio 
do Fundo Penitenciário Nacional, foram repassados em 2016, para 
uso até 2018, R$ 1,2 bilhão aos estados. Conforme o Ministério da 
Justiça, o percentual de execução dos recursos chega a 4% do total 
repassado pelo fundo. Cada estado recebeu R$ 31,9 milhões para 
ampliação,conclusão ou construção de unidades prisionais, R$ 4 
milhões para custeio e R$ 8,8 milhões para compra de equipamentos.
Núcleos de inteligência (em andamento): o plano previu a 
instalação de núcleos de inteligência que reuniriam forças policiais 
e de investigação nos 26 estados e no Distrito Federal. Os núcleos 
contariam com a participação conjunta da Polícia Rodoviária Federal, 
da Polícia Federal, das polícias militar e civil dos estados, da Abin e 
de agentes penitenciários. O objetivo era integrar as forças e agilizar 
a circulação e a troca constante de informações entre as autoridades. 
Segundo o Ministério da Justiça, os núcleos estão estruturados nos 
estados. Contudo, no Rio Grande do Sul, por exemplo, a Secretaria 
de Segurança informou que o núcleo está parado, no aguardo do 
“estabelecimento de uma estratégia, por parte da União”.
Cursos de capacitação (avançou): o governo defi niu uma 
série de cursos de capacitação, entre os quais, o de “mediador 
de confl itos”. Conforme o ministério da Justiça, o curso mediador 
pacifi cador social capacitou cerca de 3 mil pessoas em 11 estados 
da federação. 
Registros de ocorrências (avançou): o governo apontou no 
plano a padronização nacional dos principais tópicos de Registros 
de Ocorrências (PPe) e informatização de todos os dados, com 
atualização constante dos locais com maior incidência criminal. As 
padronizações dos campos mínimos e obrigatórios dos sistemas de 
registros de ocorrências e atendimentos, estabelecidas pelo governo 
em conjunto com os Estados, foram implementadas e se encontram 
à disposição dos estados.
131
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Presos provisórios (em andamento): no lançamento do plano, 
foi indicado o desejo da realização de força tarefa com as defensorias 
públicas para analisar a situação de presos provisórios por crimes 
sem violência. O Ministério da Justiça assinou termo de cooperação 
em janeiro de 2017 com o Colégio Nacional de Defensores Públicos 
Gerais, a Defensoria Pública Da União, a Associação Nacional dos 
Defensores Públicos e a Associação Nacional Dos Defensores 
Públicos Federais. 
Estatísticas de atividade de polícia judiciária (não foi feito): o 
governo pretendia elaborar estatísticas de mensuração de efi cácia da 
atividade de polícia judiciária. De acordo com o Ministério da Justiça, 
a ferramenta responsável pela produção de estatísticas dispõe dados 
dos Boletins Eletrônicos de Ocorrências estaduais atualmente e não 
tem informações dos Procedimentos de Polícia Judiciária, que são as 
fontes primárias para a mensuração da efi cácia da atividade policial.
FONTE: <https://g1.globo.com/politica/noticia/um-ano-apos-lancar-
plano-nacional-de-seguranca-confi ra-o-que-o-governo-cumpriu-e-
o-que-nao-cumpriu.ghtml>. Acesso em: 25 jun. 2021.
2.3 PLANO ESTADUAL DE 
SEGURANÇA PÚBLICA
Para qualquer Plano Estadual, prezado aluno, tudo aquilo que foi tratado no 
Plano Nacional, vale. O que traz a diferença entre eles é o âmbito da atuação, 
enquanto o primeiro possui seu âmbito nacional, o segundo é estadual. Mesmo 
percebendo e recebendo infl uências do Plano Nacional, o Plano Estadual possui 
determinadas particularidades, e essas você já sabe que podem ser percebidas 
através das diversas características de cada região.
A criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) em 
1997, demonstra a preocupação com os estudos acerca da segurança pública, 
percebendo que, com o crescimento da criminalidade, a abordagem deveria ser 
realizada de forma sistêmica e holística. A Secretaria Nacional de Segurança 
Pública assevera a autonomia dos entes federativos, mas assume o importante 
papel de condução do plano elaborado nacionalmente, induzindo as políticas 
públicas de segurança aos planos estaduais, bem como ressaltando o princípio 
da cooperação entre os governos federais e estaduais. De acordo com a Senasp 
em seu Relatório Final, sua relação com os Estados a partir do Plano Nacional de 
132
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Segurança Pública deve se pautar não apenas pelo “mero fi nanciamento passivo 
de projetos específi cos, mas passa a propor uma dinâmica de maior parceria 
e cooperação em torno da elaboração e implantação de planos estaduais de 
segurança pública sistêmicos, isto é, abrangentes e integrados” (BRASIL, 2005, 
p. 4).
A Senasp realiza uma orientação geral que se adeque ao amplo universo 
de cada realidade cujas ações estratégicas venham a ser utilizadas. No âmbito 
estadual, relaciona quais são os objetivos estratégicos a serem atingidos pelas 
secretarias estaduais de segurança, são eles (BRASIL, 2005, p. 6-8): 
• Direitos humanos e efi ciência policial são compatíveis entre si 
e mutuamente necessários. 
• Ação social preventiva e ação policial são complementares e 
devem combinar-se na política de segurança.
• Polícias são instituições destinadas a servir os cidadãos, 
protegendo direitos e liberdades, inibindo e reprimindo, 
portanto, suas violações.
• Às Polícias compete fazer cumprir as leis, cumprindo-as. 
• Policiais são seres humanos, trabalhadores e cidadãos, 
titulares, portanto, dos direitos humanos e das prerrogativas 
constitucionais correspondentes as suas funções.
• O Sistema de Justiça Criminal deve ser democrático e justo, 
isto é, orientado pela equidade, acessível a todos e refratário 
ao exercício violento e discriminatório do controle social.
Os objetivos estratégicos são os alvos ou situações concretas que se 
pretende atingir, para alcançar os objetivos de uma organização. No presente 
caso, os objetivos estratégicos a atingir com a implementação dos Planos 
Estaduais de Segurança são: 
• Reduzir a criminalidade e a insegurança pública, em 
especial os crimes contra a vida.
• Controlar o crime organizado.
• Reduzir a corrupção e a violência policiais.
• Promover a expansão do respeito às leis e aos direitos 
humanos.
• Bloquear a dinâmica de recrutamento pelo tráfi co de 
crianças e adolescentes. 
• Eliminar o poder armado de criminosos que impõem 
sua tirania territorial a comunidades vulneráveis e 
a expandem sobre crescentes extensões de áreas 
públicas.
• Valorizar as polícias e os policiais, reformando-as e 
requalifi cando-os, levando-os a recuperar a confi ança 
popular e reduzindo o risco de vida a que estão 
submetidos;
• Ampliar a efi ciência da organização policial. 
133
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
• Aplicar com rigor e equilíbrio as leis no sistema 
penitenciário, respeitando os direitos dos apenados e 
eliminando suas relações com o crime organizado. 
• Contribuir para a democratização do Sistema de Justiça 
Criminal (BRASIL, 2005, p. 5). 
Você quer saber mais sobre a Senasp? Então vamos lá! No site 
do governo federal, você encontra a Senasp e seus institutos desde 
diretrizes aos planos estaduais de segurança pública: https://www.
gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/agenda-de-autoridades/senasp.
Como a Senasp possui importante presença na validação dos planos 
estaduais e na confi rmação de sua estrutura a partir de fi nanciamento federal aos 
Estados para que eles implantem os programas de segurança recomendados por 
ela, é ela quem defi ne os novos convênios. Entretanto, Estados que não implantem 
as recomendações ou planejamentos do Senasp não são desqualifi cados pela 
secretária para novos futuros convênios, mas advertidos sobre a utilização da 
verba no emprego de tais estratégias. 
Cada Estado, portanto, possui seu próprio plano de Segurança Pública, 
que pode ser estudado e analisado a partir de seus sites de informação. É 
imprescindível que o plano de segurança estadual, além de seguir os preceitos 
do Plano Nacional para ser considerado, deve possuir um planejamento com 
ações fi rmadas aos propósitos elencados nos princípios do paradigma que se 
experimenta, ou seja, o paradigma da Segurança Cidadã.
 Agora que você já estudou acerca dos Planos Nacionais e 
Estaduais de SegurançaPública, que tal se praticarmos nosso 
conhecimento?
1 - Os signifi cados de estratégia e planejamento se alteram em sua 
concepção quando tratados e apresentados no manejar das 
situações públicas. Você viu que alguns princípios são cruciais 
para a efetivação das políticas públicas. Quanto a essa afi rmação, 
classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
134
 SEGurANÇA PÚBLiCA
 ( ) No delimitar das ações públicas entre Estados e União, os 
planos de segurança devem seguir primordiais princípios como 
a transparência e publicidade a fi m de demonstrar o seu real 
objetivo em todos os setores e localidades. 
 ( ) A transparência não é um conceito permitido ao Plano de 
Segurança, uma vez concebido para combater a criminalidade, 
e por esse prisma, qualquer informação a respeito dos passos 
do plano devem ser publicizadas apenas aos integrantes da 
segurança pública. 
 ( ) Os direitos humanos são relativos quando se trata de combate 
à criminalidade, por esse prisma, o princípio da transparência 
deve ser abrandado em prol da diminuição do crime. 
 ( ) Um plano de segurança pública se realiza após limitação da 
atuação da segurança pública e de seus agentes, respeitando, 
assim, os princípios da Segurança Cidadã quanto ao exercício da 
persecução policial somente em caso estritamente necessário. 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F – V. 
b) ( ) V – F – F – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – F – V – V.
2 - Os planos estratégicos são importantes para defi nir objetivos 
a longo prazo e assegurar seus propósitos a curto prazo 
por intermédio de ações organizadas. A respeito dos Planos 
Nacionais e Estaduais de Segurança Pública, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) Ao Plano Estadual de Segurança Pública cumpre desenvolver 
os objetivos do Plano Nacional, mas a partir de suas análises 
estatísticas regionais.
b) ( ) O Planejamento Estratégico Situacional é aquele em que se 
considera o macroambiente, análise esta que carece de mais 
estudos planejados ao microambiente. 
c) ( ) O Planejamento Estratégico deve ser pensado em um curto 
período de tempo, efetivando um prazo dentro de um determinado 
mandato para cumprir seus objetivos.
d) ( ) O Plano Nacional de Segurança Pública realça as estruturas 
principiológicas do paradigma da Segurança Cidadã e da Polícia 
Comunitária.
135
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
3 - A Secretária Nacional de Segurança Pública, órgão subordinado 
ao Ministério da Justiça, possui sua relação direta com os Estados 
anunciando o Plano Nacional e suas bases a serem seguidas. 
Sobre uma de suas putas, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O objetivo é fi nanciar ações em âmbito estadual para diminuir 
a incidência da violência em determinados setores da sociedade.
b) ( ) O objetivo não é apenas fi nanciar projetos específi cos, mas 
também abranger os padrões do Plano Estadual, que devem 
seguir estritamente o Plano Maior.
c) ( ) O objetivo é não apenas fi nanciar os projetos específi cos do 
Estado em âmbito de segurança, mas também redigir o Plano 
Estadual mais benéfi co.
d ( ) O objetivo não preza apenas pelo mero fi nanciamento, 
mas assume uma parceria mais dinâmica, propondo parceria e 
cooperação na implantação dos planos estaduais.
3 MODELOS DE GESTÃO E 
POLÍTICAS DE SEGURANÇA 
PÚBLICA
A consolidação da segurança pública no país, a partir dos critérios 
que adota o novo paradigma, necessita do envolvimento de todos os 
agentes presentes na sociedade civil e nas instituições de proteção e 
defesa. O sentido do ideal comunitário reconhece a centralidade da 
comunidade em detrimento do conceito usual de Estado/Mercado 
(SCHMIDT, 2006). Para a governança de um modelo que se amplia na 
medida em que é utilizado, envolvendo cada vez mais protagonistas em 
suas engrenagens, é preciso conservar a sua forma de ação e de fi losofi a. As 
inúmeras metodologias que estrategicamente complementam a gestão devem 
estar em conformidade aos seus ditames estruturais, pois sistemas antagônicos 
entre si, se colocados juntos, podem causar mais danos que acertos. Evitar 
confl itos organizacionais é o ideal de qualquer instituição que pretende atingir as 
metas traçadas.
Uma das grandes difi culdades que causam até hoje adversidades para 
o sucesso da gestão da segurança pública e sua padronização ao modelo 
comunitário, pode vir de setores da sociedade e até mesmo da própria organização 
Evitar confl itos 
organizacionais é 
o ideal de qualquer 
instituição que 
pretende atingir as 
metas traçadas.
136
 SEGurANÇA PÚBLiCA
policial, que afi rmam ser o novo paradigma incompleto à real função da polícia. 
Veja, prezado aluno, que o lançamento do primeiro Plano Nacional de Segurança 
Pública no ano 2000 era considerado mais como um documento político do que 
mesmo estratégico, quando fi cou caracterizado pela sua “elevada capacidade de 
formulação de políticas e baixa capacidade de implementação”, deixando à deriva 
projetos que o próprio poder público se mostra incapaz de aplicar (ADORNO, 
2003, p. 130). Isso ocorre pelo fato de que, para a instauração de um novo modelo 
ou paradigma, a ruptura com as viciantes incongruências do anterior devem ser 
superadas, mas ainda estamos presenciando essa parte da mudança, o momento 
da superação do antigo. A lógica e o discurso de que a segurança pública deve ser 
pautada pelo uso da força e pela penalização, em um recrudescimento do direito 
penal, ainda é latente em nossa sociedade e em grupos que perfazem a própria 
segurança pública que se pretende alterar (ADORNO, 2003). Não fosse apenas 
isso, o poder público apresenta incapacidade em instaurar algumas importantes 
concepções do novo modelo, por exemplo, o policiamento comunitário nas 
escolas.
Os programas de gestão precisam, para o saudável fl uxo de sua 
operacionalidade, ter uma centralização para que outros braços do instituto se 
adequem aos seus comandos. No que se refere à segurança, muitas organizações 
espalhadas Brasil afora possuem suas próprias lógicas de desenvolvimento 
e performance, intervindo na composição da política pública ao estruturar uma 
cultura autônoma de difícil articulação com o planejamento centralizado (ROLIM, 
2007).
Por esse prisma, caro aluno, você percebe que planejamentos estratégicos 
diversos ou planos de gestão, mesmo os mais elaborados como aqueles exemplos 
retirados de grandes conglomerados que visam os resultados positivos, não se 
adequam a um plano nacional enquanto velhas ideologias e antigos modelos não 
forem superados. 
3.1 O COMPSAT 
Considerada uma infl uente metodologia de gestão estratégica, Compsat, 
sigla para análises estatísticas computadorizadas, tem a intenção de integrar um 
banco de dados inteligente capaz de impulsionar a transparência e a prestação 
de contas das instituições policiais desenvolvidas por metas que devem ser 
atingidas pelos administradores regionais e pela disseminação dos resultados que 
se atinge. Esse tipo de estratégia foi iniciado pelo Departamento de Polícia de 
Nova Iorque, quando o uso de dados estatísticos de crimes diversos ajudou ao 
implantar de solução de problemas que se faziam presentes (BOBA, 2009).
137
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Entretanto, para uma técnica de gestão que evidencia a estratégia, seja ela 
qual for, é importante determinados sentidos que Compsat não considerou.
A promoção de mudanças não pode ser meramente enfatizada pela severa 
análise de dados estatísticos, que não infl uenciam nem possuem força para a 
realização de um novo sistema de gestão que se intenta implantar (BECKER, 
2008). Nesse sentido, o que se busca é a organização das ações policiais que 
devem ser desligadas de sua forma mais tradicional.
É certo que o serviço de qualquer polícia no globo está fortemente ligado aos 
indicadores de análises estatísticas. O diferencial destetipo de análise é o seu 
propósito inicial. Temos aqui uma ferramenta que demonstra quais números devem 
ser melhorados dentro da segurança pública, atento às metas e tendências. Esse 
sistema possui a pretensão de que se siga à risca todos os seus números a fi m de 
atingir as metas estabelecidas, alertando sobre melhorias e sobre pioras também.
O grande problema de um sistema fechado em seus resultados, gerados por 
análises estatísticas e focado no sucesso que deve ser compartilhado por e para 
todos, é que os números positivos devem continuar crescendo, não importando 
como. Isso abre determinados precedentes à atividade policial, como um possível 
retorno à polícia tradicional que o policiamento comunitário e a segurança cidadã 
pretende mudar, pois agora age em busca de melhores números (BOBA, 2009).
Em vias de estabelecer uma visão clara dos dados, todas as informações 
devem ser repassadas em sua forma mais fi el, para toda a comunidade, assim 
como é transmitida aos institutos diversos, atendendo ao princípio da publicidade. 
Nesse ponto específi co, quando uma empresa particular busca o Compsat,
toda a sua base fi losófi ca é estruturada para as metas e números que pretende 
melhorar. Ao atender os apelos combinados por números que buscam o sucesso, 
a empresa efetiva real possibilidade de obter o triunfo pretendido inicialmente. E 
todos estão vendo seu crescimento e afi rmando o sistema. Na área da segurança 
pública, entretanto, os números são um tanto diferentes. Cada caso de violência 
registrado, bem como cada análise estatística da criminalidade levaria apenas a 
uma solução propícia para a ação policial determinar o seu sucesso e asseverar 
o sistema. Essa ação não é planejada pelo Compsat, mas por pessoas, que, 
como o sistema, pretendem demonstrar em números e em dados estatísticos o 
sucesso da ação tomada. Esse foi o passo inicial para a tomada de atitudes que 
138
 SEGurANÇA PÚBLiCA
desencadearam o modelo de segurança conhecido como Tolerância Zero.
3.2 A TOLERÂNCIA ZERO COMO 
MODELO DE GESTÃO POLICIAL
Iniciado em Nova Iorque nos anos 1990 pelo então prefeito Rudolph Giuliani, 
tinha a intenção de conter o que fi cou conhecido como epidemia de crimes na 
cidade. O prefeito apresentou uma proposta infl exível contra qualquer desvio 
ou conduta delitiva, e fez isso aumentando o policiamento e a repressão. Não 
seriam tolerados nenhum tipo de crime, até mesmo infrações mais leves seriam 
consideradas pelos órgãos de segurança pública que pretendiam diminuir os 
números da criminalidade. O ditado “quem furta um osso furta um boi” indicava a 
intolerância mesmo aos pequenos desvios, que seria zero. 
As medidas extremas e enérgicas tomadas pelos policiais e atestadas pela 
prefeitura fi zeram suas primeiras vítimas. Como a estratégia aqui tomada era a 
diminuição pela força dos casos de crimes, e a gestão utilizada seria a liberdade 
aos organismos punitivos do estado para atingir o sucesso, a busca por esses 
números somente poderia ser maior em lugares desprovidos, como os bairros 
mais carentes. Pobres, negros, imigrantes e usuários de drogas foram os primeiros 
a serem cooptados pela força de punição e, assim, aumentavam o número do 
sucesso policial de Giuliani.
O modelo conhecido como Tolerância Zero, para Wacquant (2001, p. 29), 
signifi ca o “processo de criminalização da pobreza, iniciados nos Estados Unidos 
e que avança para a Europa com força, surgiu com intuito de vigilância aos pobres 
e miseráveis que agora convivem no novo Estado, que se ocupa de um aumento 
de seus recursos ao sistema penal e de segurança”.
Pretendendo atingir um sucesso que saltasse aos olhos, a gestão escolheu 
os números que preencheriam as estatísticas ao informar a diminuição de 
crimes. De fato, houve uma exponencial atenuação dos delitos, entretanto, um 
crescimento massivo do número de encarcerados. Muitos presos eram provisórios, 
ou seja, aguardavam seu primeiro julgamento, outros eram réus primários em 
delitos conceituados como de menor potencial lesivo. O grande problema do 
encarceramento em massa ordenado pelo conceito de tolerância zero, além do 
espaço prisional ser utilizado ao extremo, é evidenciar um programa de segurança 
pública que acentua a penalização acima de tudo, e de colocar em risco a vida de 
pessoas que cometeram um pequeno delito, sendo que existem possibilidades de 
não cometerem um segundo desvio em toda a sua vida (BECKER, 2008).
O conceito tolerância zero partiu de outro fenômeno anterior, que realça a 
139
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
teoria de George Kelling, criminalista norte-americano que em anos anteriores 
concebeu a Teoria das Janelas Quebradas, dissertando sobre os exemplos e atos 
sociais que fazem com que os níveis de criminalidade aumentem (WACQUANT, 
2001). Sua tese consiste no simples exemplo de que se uma janela quebrada 
não for trocada, no dia posterior outras amanheceram quebradas por conta do 
vandalismo. Na teoria, trocar esse objeto trincado é essencial para assegurar 
a segurança das outras janelas. Numa adaptação ao nível social, para Kelling, 
interpretado pelo sociólogo francês Louic Wacquant (2001), os pequenos atos de 
vandalismo, encorajados pelo abandono do local podem incentivar que crimes 
maiores ocorram. Assim, a presença policial constante e os sistemas de limpeza 
e organização da cidade podem ser essenciais para a diminuição tanto dos 
pequenos quanto dos crimes considerados maiores.
Ao levar esse conceito ao pé da letra, contra os criminosos que tenham 
cometido crimes de menor potencial lesivo, por exemplo, atravessar fora da faixa 
ou, até mesmo, crimes de maior potencial ofensivo, afi rmando um sistema que 
pretende observar suas melhoras produzidas em números estatísticos, confi rma 
a gestão do modelo de Tolerância Zero. Seu principal ponto, então, como você 
pode notar, é garantir que os números de prisões para a manutenção da defesa 
social e da ordem estejam em constante crescimento. Isso não vai de encontro 
com o paradigma de segurança pública que vivemos ou com as condições mais 
estruturais da Polícia Comunitária ou Cidadã.
Esse tipo de policiamento tem sua orientação a partir do crime ocorrido e 
no sucesso da empreitada, além de afi rmar o direito penal e a persecução penal 
como única garantidora de uma lei e ordem. Se o planejamento modifi car o método 
com o qual se entende as situações ao redor, será que ele não poderia ser melhor 
aproveitado na questão segurança de todos? A partir desse questionamento, o 
policiamento orientado aos problemas, servindo-se de métodos assertivos na 
identifi cação dos obstáculos a serem enfrentados, passou a ser utilizado pela 
inteligência policial como estruturante de suas ações. Isso confi rma a Polícia 
Comunitária, uma vez que pretende resolver as situações antes mesmo que elas 
ocorram.
3.3 POLICIAMENTO ORIENTADO AO 
PROBLEMA: O MÉTODO IARA
A Polícia Comunitária ou Cidadã entendeu que seu trabalho não se perfaz 
somente na abrangência do crime, mas também em comportamentos diversos 
que não se envolvem imperiosamente com o desvio ou com o direito penal, sendo 
possível outras táticas de operação que não a repressão (BRODEUR, 2000). As 
140
 SEGurANÇA PÚBLiCA
soluções para esses casos podem ser diversas, mas somente são tomadas a partir 
de uma gestão que estabeleça esse tipo de ação, menos invasiva (MARCINEIRO, 
2009). O patrulhamento preventivo e agressivo, comumente operado por policiais, 
precisava, a partir dos novos moldes de integração que se formavam, ser extinto, 
dando espaço a uma teoria de solução de problemas junto à comunidade.
No sentido de se antecipar aos acontecimentos, o policiamento orientado ao 
problema complementa o modelo de Polícia Cidadã, em ações que orientam a 
prática do convívio policial meio às comunidades, numa ação proativa e preventiva. 
Guiada pela identifi cação e análises robustas dos problemas identifi cados na 
sociedade, opoliciamento possui maiores chances de efetivar uma resposta 
positiva (OLIVEIRA, 2006).
Em congruência ao desenvolvido pelo policiamento comunitário e contra 
ações agressivas, o policiamento orientado ao problema é uma forma de gestão 
estratégica para a evolução do policiamento. Sendo assim, o seu foco é atuar em 
parceria com a comunidade, gerenciando as informações de maneira inteligente, 
estando nos locais considerados bruscos para o crime, empregando medidas 
preventivas e, se preciso, medidas repressivas para minimizar qualquer contenda. 
O foco inicial é agir com antecedência: “é preciso procurar o que está acontecendo 
antes daquele ponto da correnteza” (ROLIM, 2009, p. 84).
Em 1987, John e William Spelman implementaram um novo modelo 
determinando uma orientação guiada ao problema e aplicada no departamento de 
polícia de Newport News, EUA. Batizada por Model Scanning, Analysis, Response 
e Assentment (SARA), passou a ser utilizado naquela jurisdição, espalhando-se 
logo mais em outras partes do país (GOLDSTEIN, 1990). No Brasil, o método foi 
denominado IARA, referindo-se a cada uma de suas etapas: Identifi car, Analisar, 
Responder e Avaliar.
Começou então a ser desenvolvida e disseminada pela Secretaria Nacional 
de Segurança Pública, que reconfi gura a inteligência de seus atos a partir de 
normas programadas. Veja que a etapa inicial do método é identifi cação do 
problema, que geralmente são interpretados por ações repetitivas em um local 
em comum e devem constituir um obstáculo para a comunidade ao redor. Tipos 
de infração reiteradamente praticadas nas análises estatísticas da identifi cação, 
como o furto e roubo, possuem uma forma de comportamento idiossincrático, um 
modus operandi de sua operação, tal qual, horário de maior incidência, vítimas 
preferidas, locais de risco para essas incidências ocorrerem (GOLDSTEIN, 
1990). Esse tipo de estudo estatístico é válido para uma ação de prevenção dos 
crimes diversos ao antecipar suas ações. A mudança das atividades policiais, 
movimentadas pelas análises de informações das mais variadas sobre o crime 
e o comportamento desviante em determinada área ou local, incentivou ações 
preventivas realizadas por rondas ostensivas e a constante presença do policial 
141
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
nessas regiões. Essa modifi cação metodológica surte efeito na prevenção da 
ocorrência de crimes locais.
Veja que o personagem essencial para a prática dessa identifi cação não 
poderia ser mais bem escolhido que a própria polícia comunitária, uma vez que 
sua tarefa consiste em uma associação à comunidade. Da mesma forma que a 
identifi cação, faz-se a análise, importante para que se entenda o problema com 
intuito de determinar sua causa. Essa análise pode ser concebida de várias formas 
inclusive, segundo Goldstein (1990), por pesquisas científi cas e acadêmicas, 
registros policiais, agência não governamentais, ONGS, entre outros, ou seja, 
com a participação de um maior número de instituições civis espalhadas pela 
coletividade.
A partir desses estudos iniciais, o método IARA é complementado com as 
soluções que melhor se adequam aos problemas interpretados, respondendo as 
suas causas com respostas mais abrangentes do que aquelas antes praticadas 
pelo padrão anterior. Entretanto, note que essas respostas, ao evitar o antigo 
modelo, devem se estruturar pela prevenção ao crime de uma forma inteligente, 
pela vigilância constante, inclusive de habitantes do local nas informações 
repassadas à central policial, a visualização do ambiente e a padronização de 
rondas ostensivas pelos agentes policiais (BONDARUK, 2007). Observe o ciclo 
do método IARA:
FIGURA 2 – CICLO DO MÉTODO IARA
FONTE: Silva (2015, p. 123)
142
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Como as respostas necessitam de um planejamento estruturado no que 
diz respeito à viabilidade econômica do projeto, a elaboração de ações criativas 
de baixo custo e a fl exibilização das rondas, realizadas de forma a abranger 
determinada localidade apenas, uma ferramenta conhecida por “5W2H”
consegue responder algumas questões iniciais (CAMARGO, 2014). Para Silva 
(2015, p. 123, esse método representa uma evolução:
Este modelo de gestão, ao mesmo tempo que busca resgatar 
a confi ança da comunidade em sua polícia, através da 
participação da população na identifi cação dos problemas a 
serem enfrentados, ao agregar outras fontes de informação, 
inclusive estatísticas, bem como por se preocupar em avaliar os 
resultados obtidos, representa, quando analisado sob o prisma 
das duas principais correntes modernas de administração 
pública, uma tentativa de conciliar a busca pela efi ciência 
característica da Nova Gestão Pública com a importância da 
participação da comunidade reconhecida pelo Novo Serviço 
Público.
A seguir, apresentaremos a você a tabela que caracteriza a ferramenta
“5W2H”, utilizada pela Polícia Cidadã, e que pode ser manejado também em 
empresas particulares ou instituições públicas diversas:
TABELA 1 – O USO DA FERRAMENTA 5W2H
FONTE: Camargo (2014, p. 27)
143
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
As questões “quando fazer”? “Por que fazer”? “Quem fará”? podem ser 
esclarecidas através do método anterior ao adotar uma solução propícia a cada 
problema ao invés de não se ter uma ação prática planejada. E isso se perfaz em 
gestão e em governança, não apenas do ambiente policial, mas também de toda 
sua estrutura, seguindo os padrões do modelo que se pretende efetivar.
Nesse sentido, trazemos no quadro a seguir as diferenças entre as polícias 
comunitária e tradicional dentro da governança do método IARA, utilizando-se dos 
questionamentos do modelo 5W2H. Esse é um exemplo de como se utilizar os 
métodos propostos pelo artifício.
QUADRO 1– O MÉTODO IARA E O MODELO 5W2H: 
ANALISANDO OS MODELOS DE POLÍCIA
Questão no
modelo 5W2H
Modelo de Polícia
Tradicional
Modelo de Polícia
Comunitária
O que faz o agente 
policial?
Segue o informado pelos sistemas 
de informações que dispõe, como 
a radiopatrulha. Atende com tempo 
minimizado de resposta; é efi caz e 
procura atender crimes de maior 
potencial.
Intensifi ca abordagens que visam 
solucionar problemas, em coopera-
ção com os líderes comunitários. É 
efi caz pois procura evitar a ocorrên-
cia de crimes.
Quem é o agente 
policial?
Representa sua agência governa-
mental aplicando a lei. É anônimo 
e desconhece a sua comunidade 
atendida.
A atenção é para a comunidade, e a 
ela cede atenção integral, reconhe-
cida como sua e conhecido por ela.
Quando age o agen-
te?
Age logo após a ocorrência do de-
lito tendo uma resposta repressiva.
Age proativamente, de maneira pre-
ventiva.
Quanto custa o servi-
ço policial
Há um alto investimento no siste-
ma da segurança pública e suas 
atividades repressivas, prisionais e 
de investigação.
O investimento público realizado é 
baixo, onde se atende as Compa-
nhias, delegacias distritais, postos 
policiais e locais de atendimento 
comunitário.
Por que o agente 
assim age?
Age para a resolução de crimes 
violentos e desvios com alto valor 
social de reprovabilidade. 
Onde estiver o problema que per-
turbe a paz de uma comunidade, o 
policial age.
Onde se realiza o 
serviço?
Com sua gestão concentrada, é 
realizado a partir das próprias es-
truturas da instituição; tais quais 
seus quartéis e delegacias que co-
ordenam as normas e as diretrizes.
Toda a estrutura organizacional é 
base para a realização do serviço, 
desde suas bases institucionais, até 
postos de Policiamento Comunitá-
rio espalhados pela comunidade. 
Sua gestão é descentralizada.
144
 SEGurANÇA PÚBLiCA
Como é realizado o 
serviço?
O agente sempre prioriza o con-
fl ito, depois de ser chamado; seu 
foco é na resolução dos crimes.
O agente procura identifi car o que 
causa os problemas com o intui-
to de evitá-los, para que não mais 
ocorram e em uma resolução con-
juntacom os protagonistas.
FONTE: Adaptado de Peak e Glensor (1999, p. 85)
Por certo, o modelo pode ser adaptado pela governança ao conferir a forma 
de administração a ser utilizada, ou melhor, os questionamentos realizados dentro 
do sistema IARA podem ser estruturados a partir do objeto que se pesquisa.
Após a aplicação da fase estratégica de solução dos problemas, temos o 
estágio da avaliação, que se propõe a conferir os efeitos que a estratégia apontada 
produziu na resolução dos problemas (OLIVEIRA, 2006). Essa fase é muito 
importante para o acompanhamento de tudo o que foi realizado, reconhecendo 
a efetividade das estratégias policiais desenvolvidas, servindo como um fator 
benéfi co identifi cando o que pode ser melhorado e o que deve ser descartado 
(HIPÓLITO; TASCA, 2012). Para a excelência da análise, é imperiosa a límpida 
percepção do problema, a transparência do efetivo trabalho policial realizado nas 
bases empregadas pelo padrão utilizado e a convicção de que a atividade foi 
realizada de forma prudente, legal e conforme os objetivos estabelecidos.
4 - Caro aluno, você viu até aqui um sistema de gestão que confl ita 
com o modelo utilizado atualmente e outro que reafi rma o 
paradigma. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O modelo de planejamento 5W2H não incide no método IARA, 
uma vez que seus questionamentos podem ser estruturados a 
partir de qualquer ideologia.
b) ( ) A tolerância zero foi uma ideologia e um modelo de trabalho 
policial que assegura a paz social por intermédio da resolução 
dos confl itos, desde pequenos ou daqueles considerados de 
maior potencial ofensivo.
c) ( ) A teoria das janelas quebradas foi precursora do pensamento 
da tolerância zero, pois eleva o pensamento de que toda 
desordem, seja ela qual for, deve ser combatida pela força de 
penalização para que sirva como exemplo pedagógico.
d) ( ) A publicidade não é saudável para o método IARA, uma vez 
que tende a aplicar um combate intenso contra o crime. 
145
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
5 - Verifi cando os modelos de gestão pública, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) Evitar confl itos organizacionais molda o interesse maior da 
instituição de segurança pública.
b) ( ) Confl itos organizacionais são evitados para que se atinja com 
maior rapidez as metas traçadas.
c) ( ) O método Compsat é capaz de articular através de números e 
por eles mostrar na realidade que deve ser feito pelas polícias.
d) ( ) O método Compsat é efi ciente em demonstrar uma realidade 
social em uma forma inovadora, para a aplicação da polícia 
comunitária.
6 - A respeito dos procedimentos policiais e suas ações, analise as 
sentenças a seguir:
I- ( ) Numa ação policial qualquer, a publicização dos atos não se 
perfaz em importante causa, podendo inclusive o agente policial 
advertir se houver alguém do povo gravando à ação.
II- ( ) Publicidade das ações policiais signifi ca incentivar a gravação 
dos atos dos agentes profi ssionais de segurança, sempre que 
ocorrerem.
III- ( ) O princípio da publicidade é um princípio constitucional que 
signifi ca que os atos da administração pública devem ser também 
públicos, para que não haja arbítrio. Assim, é correto dizer por 
analogia que os planejamentos policiais para a tomada das ações 
contra o crime também devem ser publicizados. 
IV- ( ) O princípio da economia é respeitado pela gestão do método 
IARA, pois suas ações são planejadas obtendo auxílio do modelo 
de polícia comunitária para realizá-las. 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
146
 SEGurANÇA PÚBLiCA
4 O POLICIAMENTO ORIENTADO 
PELA INTELIGÊNCIA (POI)
A partir dos modelos de gestão mais efi cientes, você viu que a governança 
ou administração da segurança pública não se realiza sem uma estratégia.
Variadas técnicas são utilizadas com intuitos diferentes, mas seguindo a 
ideologia que se pretende, no caso, a Polícia Comunitária. O paradigma da 
Segurança Cidadã trouxe com ele outra forma de se olhar a comunidade, feita 
agora pela segurança como sendo parte dela.
Entretanto, você também verifi cou que se há estratégia, há uma inteligência 
que une o sucesso das pesquisas relacionadas ao efetivo trabalho policial 
de qualidade. E se orientar pela inteligência nos dias de crescente tecnologia, 
signifi ca obter todos os dados que estão aí disponíveis para nós, dentro do 
universo digital e tecnológico. 
Dirigido por José Eduardo Belmonte e lançado em 2014, o 
fi lme Alemão signifi ca o interpretar de uma inteligência policial, 
por intermédio de ações de infi ltragem no ambiente inóspito para 
assegurar a investigação. Será que a inteligência realizada por 
pesquisas e análises sobre o local funcionou bem com a estratégia 
escolhida para a ação? Assista e descubra!
A segurança, ao manejar uma ordem estabelecida pela inteligência consegue 
enxergar adiante, e mais à frente percebe os melhores atos a serem tomados em 
determinadas regiões.
Tendo seu início nos anos 1990 no Reino Unido, e ampliando-se logo após 
os atentados das Torres do Gêmeas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 
2001, o POI efetivava uma estratégia diferente das demais, pois gerenciava a 
inteligência investigativa em prol de um impacto mais assertivo nas ações contra 
o crime, diminuindo problemas nas comunidades. A identifi cação de crimes e seus 
autores, dos personagens que se envolvem em crimes típicos de cada região, 
agora fazem parte dos estudos da inteligência policial, pois seus esforços estão 
dirigidos para onde apontar a inteligência e, geralmente, acaba encontrando 
autores específi cos em lugares de atuação constante (RATCLIFFE, 2011). 
147
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Vale destacar, prezado aluno, que a metodologia desse trabalho desenvolvido 
pelas agências de inteligência, visa coletar o maior número possível de informação 
sobre determinado local ou área considerada volátil ao crime e ao criminoso. 
Nesse sentido, você notou que podemos interpretar as ações da POI pelo objetivo 
da prevenção dos crimes ao invés de entrar em combate contra ele. Importante a 
declaração do cientista a seguir, enfatizando a melhoria nas tomadas de decisão 
do policiamento quando se baseia no conhecimento:
O policiamento liderado pela inteligência enfatiza a análise 
e a inteligência como essenciais para uma estrutura de 
tomada de decisão objetiva que priorize zonas quentes de 
criminalidade, vítimas recorrentes, infratores contumazes 
e grupos criminosos. Facilita o crime e a redução de danos, 
a interrupção e a prevenção por meio de gerenciamento, 
implantação e fi scalização estratégica e tática (RATCLIFFE, 
2011, p. 66).
Dessa forma, o gestor pode fazer prevalecer as ações de seus policiais 
através de decisões que demonstram onde essas atividades devem ser realizadas, 
fundamentadas por pesquisas e investigações. Assim, o POI otimiza a tomada de 
decisão do gestor, que consegue antecipar ações por intermédio das pesquisas 
qualitativas trazidas por seu serviço de informações. Esse modelo proativo de 
análise das situações pela inteligência, que toma decisões mais qualifi cadas, 
proporciona aos mecanismos de gestão policial um planejamento calculado, e isso 
é importante para a economia perante os recursos que são utilizados pelo instituto 
policial. Por certo, é mais barato prevenir do que remediar. E a prevenção aqui se 
faz pela inteligência. Através de uma abordagem moderna para o reconhecimento 
dos atos desviantes e criminosos, o POI sugere que tanto o controle do crime 
comum (furtos, roubos) quanto o do crime organizado são possíveis, pois sua 
ação independe dos mecanismos usuais utilizados pelo crime, sejam eles quais 
forem (RATCLIFFE, 2011).
O modelo sugere a redução da criminalidadebaseando-se em análises 
interpretativas do ambiente criminal e de sua formação. Para Ratcliffe (2011, 
p. 10), a base central para esse tipo de inteligência observa-se pelos “três Is: 
Interpretação, Infl uência, Impacto”.
Podemos determinar, através da especifi cação do autor, que as funções 
de análise da criminalidade e seus trejeitos, o conhecimento acerca o ambiente 
criminal na comunidade e as decisões tomadas são funções do sistema POI, 
defi nidas pela interpretação das informações coletadas.
Aqui há uma perspectiva ampliada do que é crime e quais os problemas e 
possibilidades da comunidade ao redor. Para sua aplicação numa unidade de 
polícia, é preciso a interação aos ambientes de inteligência e mecanismos de 
148
 SEGurANÇA PÚBLiCA
coleta de informações. Isso faz priorizar a pesquisa e seus dados analíticos e 
estatísticos, mas se faz imprescindível todo apoio possível dos órgãos federais 
para a instalação de modernos equipamentos de comunicação e pesquisa, para 
que o efeito determine maiores chances de sucesso. O paradigma da informação 
e da tecnologia que vivemos agora, como a internet e suas possibilidades, abrem 
um panorama favorável para esse tipo de policiamento, mas é preciso investir.
Entretanto, para implementar o POI, há a necessidade de etapas que 
evidenciam o projeto: um plano de gerenciamento e o material necessário para 
a coleta dos dados, criar uma estrutura para o serviço e a implementação do 
sistema (CARTER, 2009).
Nesse sentido, a orientação para um plano gerencial foi realizada pelo 
professor californiano David Carter (2009, p. 101-103), a partir de alguns passos 
essenciais: 
a) Defi nição das estratégias prioritárias: aqui deve-se pensar 
em quais problemas deve a segurança pública priorizar, em 
cada região. 
b) Defi nição dos requisitos de inteligência: como interpretar da 
melhor forma as informações que chegam, quais as causas 
dos problemas vividos na região?
c) Plano de coleta: qual local é o melhor para coletar meus 
dados? Onde consigo informações e pormenores dos 
problemas? 
d) Análise: essas informações têm qual signifi cado? Elas 
podem ser utilizadas?
e) Produto de inteligência: dessas informações, devo escolher 
quais devem ser repassadas para o agente policial em 
atividade de rotina e qual delas indica que devemos combater 
ou prevenir uma situação problema?
f) Resposta operacional: que recursos são necessários para 
minimizar os problemas através da inteligência? Há atividade 
policial que possa ser aqui implantada para essa melhora? 
Qual? 
g) Revisão do processo: o pragmatismo da própria ação da 
inteligência, as ações serviram ao contexto prevenção ou 
combate ao crime? Será que podemos ter melhorias no 
processo de obtenção das informações, caso a resposta para 
a questão anterior seja negativa?
Veja que essas informações devem se realizar a partir da realidade de 
cada comunidade. Nesse prisma, Carter (2009) intervém ao unir o policiamento 
comunitário às práticas do POI, quando um é potencializado pelo outro: 
Como o policiamento comunitário, o POI requer um investimento 
de esforço de todos os componentes da organização, bem 
como da comunidade. Já se foram os dias em que as unidades 
de inteligência operavam em anonimato. [...] inteligência policial 
149
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
é uma responsabilidade de toda a organização que depende 
de uma relação simbiótica com os residentes (CARTER, 2009, 
p. 88).
E é assim que o Secretária Nacional de Segurança Pública (SENASP) defi ne 
a atividade da inteligência no Brasil, como um mecanismo primordial para a 
tomada de decisões engenhosas: 
A atividade de inteligência, no campo da segurança pública, 
é importante ferramenta de resposta e apoio ao combate ao 
crime em geral, sobretudo aqueles de alta complexidade, 
procurando identifi car, entender e revelar os aspectos ocultos 
da atuação criminosa que seriam de difícil constatação 
pelos meios clássicos de investigação policial, servindo, 
concomitantemente, no assessoramento das autoridades 
governamentais e na elaboração de Planos de Segurança 
Pública (BRASIL, 2005, p. 10).
Para termos uma ideia de sua importância, o serviço de inteligência conhecido 
por Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), criado pela Lei nº 9.883 de setembro 
de 1999, planeja a agência especial nas atividades de coordenação, planejamento 
e execução dos procedimentos envoltos em serviços de informações, pautados na 
defesa coletiva. Ao ser estruturado pelo novo Estado de Direito, que se formava a 
partir da Constituição de 1988, seu objetivo se diferenciava das demais agências 
criadas no Regime Militar, como o Serviço Nacional de Informação, que visava a 
repressão e execução de opositores ao regime ditatorial (FIGUEIREDO, 2005). A 
criação das agências de inteligência, historicamente movimentou o interessante 
mercado de tecnologias de informação a partir das novas sensações tecnológicas 
que surgiam. Veja que, a partir da internet, todos estão. de alguma forma, 
conectados, seja pela vigilância constante que esse mecanismo capacita, seja 
pelas informações repassadas em velocidades insuperáveis.
Prezado aluno! No site da ABIN, você encontra importantes 
informações sobre as atividades de inteligência da Secretaria de 
Segurança Pública. Há também a Revista Brasileira de Inteligência, 
trazendo artigos interessantes de conceituados pesquisadores e 
cientistas brasileiros! Veja: https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-
conteudo/revista-brasileira-de-inteligencia.
150
 SEGurANÇA PÚBLiCA
4.1 A TECNOLOGIA EM PROL DA 
SEGURANÇA PÚBLICA
Quando se entende a tecnologia e sua utilização na área de segurança, 
percebemos que o seu motivo maior é a prevenção. Câmeras de segurança 
espalhadas enfocam a atitude preventiva contra a criminalidade, que justifi cam a 
quebra do ditado famoso que diz: “a ocasião faz o ladrão”. Para prevenir, a Polícia 
Comunitária encontra na tecnologia um poderoso parceiro. E não é para menos, 
como você percebeu ao analisar as situações em que o policiamento orientado 
pela inteligência são adotadas, são necessárias tecnologias diversas que facilitam 
a interação entre os agentes em busca da prevenção.
Como seria evidente desde o início da era tecnológica, a cada dia que passa 
estamos cada vez mais munidos de aparatos tecnológicos diversos. Veja que, 
nos EUA, um dos primeiros auxiliares nesse aspecto que fi zeram sucesso foi o 
drone. Várias ações contra o tráfi co de drogas nos últimos anos foram realizadas 
em fazendas e em fronteiras, auxiliando a segurança pública na identifi cação do 
crime. A discussão a respeito do uso de drones nos leva ao direito de privacidade, 
gerando confl itos. Com os drones, ainda há a possibilidade de buscas em 
territórios particulares que não possuam um mandado judicial para tal ação. 
Entretanto, são discussões que devem ser realizadas para o completo uso da 
tecnologia na defesa do cidadão, mas preservando seus direitos. 
FIGURA 4 – OS DRONES POLICIAIS
FONTE: <https://img.ibxk.com.br/2017/03/21/21134224858126.
jpg>. Acesso em: 25 jun. 2021.
151
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Veja o exemplo, na prática, do uso da tecnologia na segurança 
utilizada pela segurança pública do Estado do Ceará: 
Ferramenta que mapeia manchas criminais encorpa 
rol de tecnologias da Segurança Pública no Ceará 
A “Era da Tecnologia” na Segurança Pública do Ceará começou 
em 2017, com Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia)
O futuro da Segurança Pública no Ceará também passa pela 
tecnologia. O último lançamento da Secretaria da Segurança Pública 
e Defesa Social (SSPDS), com o intuito de sufocar o crime organizado 
e melhorar os índices de violência, foi o Sistema Tecnológico para 
Acompanhamento de Unidades de Segurança (STATUS). 
A ferramenta passou a encorpar o rol de tecnologias da 
Segurança Pública no início deste mês de fevereiro.Policiais civis e 
militares ainda passam por treinamento, mas o aplicativo já está em 
uso. A tecnologia foi desenvolvida no projeto Inteligência Científi ca e 
Tecnológica Aplicada à Segurança Pública, que é parte do Programa 
Cientista Chefe, fomentado pela Fundação Cearense de Apoio ao 
Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (FUNCAP), em parceria 
com a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança 
Pública (SUPESP), da SSPDS. 
O secretário da Segurança Pública do Ceará, Sandro Caron, 
explica que a ferramenta Status “permite aos dirigentes da Polícia 
Civil e da Polícia Militar terem, em tempo real, as chamadas manchas 
criminais. Ou seja, são apontados os locais que há maior incidência 
de crimes graves no Estado, chamados microterritórios, já com a 
indicação de dias e horários que costumam ocorrer. Para que, com 
base nesses dados científi cos, direcionem melhor a estrutura de 
policiais e equipamentos”. 
Segundo a SSPDS, as principais funções do Sistema consistem 
no uso de estatísticas qualitativas das ocorrências importadas 
por semana, mês e ano; uso de cenários a partir de cadastros de 
indicadores criminais; apresentação visual do ambiente por meio 
da realização das análises de mapas; e análise de estatísticas por 
principais tipos criminais. 
152
 SEGurANÇA PÚBLiCA
A agilidade promovida pelo Status, com o uso de dados 
atualizados, tenta combater o deslocamento do crime. Especialistas 
em Segurança Pública já afi rmaram que a instalação de bases 
policiais fi xas, por exemplo, diminui a ação de uma facção criminosa 
naquele ponto, mas a leva para outra área. Desta vez, a tentativa é 
acompanhar e sufocá-la. 
Inovação
A “Era da Tecnologia” na Segurança Pública do Ceará começou 
em 2017, com Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia), 
desenvolvido em uma parceria da Polícia Rodoviária Federal 
(PRF) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) com a SSPDS. A 
ferramenta virou destaque nacional e atraiu o interesse do governo 
de outros estados e Federal, pela inovação. 
O Spia é uma Inteligência Artifi cial que, aplicada ao Sistema 
de Videomonitoramento do Estado – com mais de 3 mil câmeras 
– consegue realizar a leitura de placas de veículos e identifi car 
se um automóvel possui restrição de roubo ou furto ou se existe 
uma suspeita de clonagem. A ferramenta ampliou e acelerou a 
recuperação de veículos roubados e furtados e, consequentemente, 
a captura de suspeitos, no Estado. 
Uma das últimas ações do Spia foi a prisão de um motorista de 
aplicativo e outro homem por suspeita de roubar um carro modelo 
Chevrolet Onix, no bairro Parquelândia, no dia 2 de fevereiro último. 
Pouco tempo depois, o Sistema de Videomonitoramento da SSPDS 
localizou o veículo, e a Polícia Militar foi acionada para realizar a 
abordagem e a detenção da dupla. 
Em 2018, a SSPDS ampliou o combate à “mobilidade do crime” 
com o Portal do Comando Avançado (PCA), um aplicativo presente 
nos dispositivos móveis dos agentes de segurança, que permite a 
consulta do nome de suspeitos, da identifi cação facial e de placas 
veiculares, no banco de dados do Estado. A ferramenta permite 
ainda acesso ao Botão do Pânico, que pode ser acionado pela 
população em situações de risco iminente. Segundo a Secretaria 
da Segurança Pública, a tecnologia “passa por melhorias contínuas 
para atualização de sua funcionalidade visando aperfeiçoamento do 
algoritmo”. 
153
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Em 2019, foi a vez do Cerebrum, um painel analítico para acesso 
a diversos sistemas e bases de dados de órgãos de segurança do 
Ceará e instituições parceiras. Por meio do cruzamento de dados, 
o sistema fornece informações em tempo real e facilita o processo 
de investigação, inteligência e tomada de decisão. De acordo com a 
Pasta, é possível analisar e processar milhares de dados diferentes, 
em um curto intervalo de tempo. 
No ano seguinte, a tecnologia se voltou para a atuação do Corpo 
de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), com a criação do Sistema 
de Georreferenciamento Operacional (Sigo). A ferramenta permite 
os bombeiros militares localizarem as ocorrências de incêndio e as 
unidades do próprio Corpo de Bombeiros e de hidrantes próximos do 
sinistro. 
Também no ano passado, a SSPDS ampliou a utilização da 
Delegacia Eletrônica (Deletron) para registrar ocorrências não 
delituosas - como o extravio de documentos; e mais oito tipos de 
crimes, passando de 11 tipifi cações para 19. As medidas tiveram os 
objetivos de diminuir a procura da população pelas delegacias físicas 
e, consequentemente, evitar a propagação da Covid-19, além de 
otimizar o trabalho do policial civil. 
Questionado sobre a importância das tecnologias, Caron afi rma 
que “o mais importante, para ter resultado, é o fator humano. Nós 
termos homens e mulheres da Segurança Pública bem selecionados, 
capacitados, motivados e valorizados, com boas condições de 
trabalho. As tecnologias vêm para somar a isso”. 
Futuro
Outras tecnologias devem ser encorpadas ao rol da Segurança 
Pública do Ceará nos próximos meses e anos. Pelo menos duas 
ferramentas estão em desenvolvimento, na parceria da SSPDS 
com o Programa Cientista Chefe: o ID Ceará, que pretende permitir 
visualizar a identidade em formato digital, em dispositivos móveis, 
com facilidade; e o Human Nerd, que tem o objetivo de realizar o 
reconhecimento automatizado de informações em Boletins de 
Ocorrências (BOs). 
“Você desenvolve uma tecnologia e, depois de um tempo, o 
mundo do crime acaba buscando alternativas para tentar escapar 
da utilização dela. Portanto, o nosso trabalho é o permanente 
desenvolvimento de tecnologias. Temos outras ferramentas para 
154
 SEGurANÇA PÚBLiCA
serem lançadas e nosso trabalho é estar sempre aprimorando”, 
conclui Caron. 
FONTE: Adaptado de <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
seguranca/ferramenta-que-mapeia-manchas-criminais-encorpa-rol-
de-tecnologias-da-seguranca-publica-no-ceara-1.3052819>. acesso 
em: 25 jun. 2021.
As discussões acerca do uso de tecnologias consideradas mais invasivas, 
como os drones, são importantes para defi nir qual a sua função na segurança 
pública e quando podem ser utilizados. Imaginem equipar drones com armas 
não letais para que possam, a partir dos comandos do controlador, combater a 
criminalidade. O que se discute é a segurança dos envolvidos e, nesse caso, a 
percepção da real situação que o agente tem quando a observa por telas que 
transmitem imagens captadas pelos drones. Segundo Cava (2015), isso já vem 
sendo utilizado no Estado norte-americano da Dakota do Norte, que teve o uso 
regularizado por uma lei local. A questão do mandado judicial também é infl uente, 
uma vez que o mandado signifi ca também a proteção do agente policial e da 
própria comunidade ao redor. Expedido por juiz competente, o mandado realça o 
olhar da segurança para aquela ação, tornando-a mais segura para os envolvidos, 
e impede que todo o procedimento depois de realizado seja considerado ilegal 
pelo processo penal, pois foi pedido pelo próprio magistrado.
No Brasil, o uso dessa tecnologia é defendido pela Força Aérea Brasileira, 
que incentiva a discussão conjunta de entidades diversas a respeito do assunto: 
Com tantos atrativos e facilidades, está justifi cado o crescente 
número de aeronaves remotamente pilotadas. Surgiu daí a 
necessidade de regular o uso de forma conjunta com outros 
órgãos públicos. No Brasil, as primeiras discussões voltadas 
para regulação do uso dos drones originaram-se em 2011, 
após demanda do Departamento da Polícia Federal que tinha 
interesse em usar uma aeronave não tripulada de grande porte 
em suas operações (FAB, 2017, p. 1).
O projeto de Lei nº 9.425, de 2017, autoriza e disciplina o uso dos Veículos 
Aéreos não Tripulados (VANTs), ou drones, sob o nº 167, que prevê também a 
habilitação dos profi ssionais para manejar o equipamento, que foi aprovado 
recentemente. Nele, está inseridoa possibilidade de cada Estado fazer uso ou 
não da tecnologia.
155
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Claro que a película de Steven Spielberg Minority Report, 
a nova lei, de 2002, se passa em um futuro não tão distante e 
utiliza alguns métodos de prevenção de crime que fomentam 
discussões acaloradas. Repare as tecnologias que são usadas 
no fi lme, estrelado por Tom Cruise: aranhas espiãs, o pré-crime, o 
reconhecimento da íris, os jetpacks utilizados pelos policiais para 
alçarem voos, os e-papéis, que se movem conforme a notícia ocorre, 
o colar paralisante, são todas criações da mente sagaz de Spielberg. 
Ou não estão tão longe assim, conforme a ciência vai evoluindo dia 
a dia? 
Já aproveitando que estamos falando do uso dos drones, 
imagine uma rede de satélites que pode encontrar você em qualquer 
lugar do mundo! Esse fato é retratado no excelente fi lme do diretor 
Tony Scott, de 1998, Inimigo do estado. Com atuação de Gene 
Hackman e Will Smith, o enredo potencializa o uso indiscriminado 
da tecnologia e abre uma infl uente questão: Quais os limites para o 
uso das parafernálias tecnológicas que devem ser impostos? Pegue 
a pipoca e responda à questão assistindo aos fi lmes!
Existem outras possibilidades que estão sendo estudadas. Veja, por exemplo, 
o aparelho conhecido por Gunshot Detection System (GDS), implantado em 
várias cidades norte-americanas. O sistema em questão possui a característica 
de identifi car sons de tiros. Quando ativado, envia um sinal para os módulos 
policiais que tendem a realizar a patrulha no local. Esse sistema intensifi ca a ação 
policial, que não precisa esperar pelas informações da radiopatrulha, normalmente 
repassadas por reclamações de moradores locais. Então, ao agir e indicar os 
sons de armas de fogo em uso, indica à central policial a possível ocorrência de 
um crime. De fato, não estrutura na prevenção, mas cede aos agentes uma maior 
autonomia, pois não precisam aguardar o chamado do cidadão para vasculhar a 
área. Muitas vezes, motivados pelo medo da criminalidade em locais considerado 
de risco, não há nem mesmo o registro da ocorrência,que é realizada pelo cidadão.
156
 SEGurANÇA PÚBLiCA
FIGURA 5 – O GUNSHOT DETECTION SYSTEM (GDS)
FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/Gunfi re_locator#/media/File:Boomerang_3_
Gunfi re_Acoustic_Detection_System_MOD_45153048.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2021.
De fato, devem ser consideradas as polícias em suas atividades mais 
essenciais. A Polícia Militar, por exemplo, em seu enfrentamento e em sua 
prevenção com o crime, deve estar munida de armamentos tecnológicos, que 
ativem a facilidade de comunicação, movimentação e controle da criminalidade 
in loco. Já aos Policiais Civis, que preparam e condicionam toda a persecução 
penal, por via de seus atos investigativos, devem ser municiados por instrumentos 
que efetivem essa função tão importante para a polícia judiciária. Só que de nada 
adianta se não existir a coesão entre os institutos policiais. É imprescindível que 
estejam conectados Polícia Militar e Polícia Civil para evitar qualquer situação que 
onere danos ao planejado. 
Mesmo com todas as novas possibilidades, prezado aluno, no Brasil, ainda 
engatinhamos no sentido de assegurarmos aos nossos agentes policiais, a 
inteligência das tecnologias. Um importante passo para isso, seriam programas 
do governo federal em comum com os governos dos estados, viabilizando a verba 
necessária para armar os policiais com essas novas artilharias. Desde pequenos
tablets, computadores de mão e celulares, até os mais modernos auxiliadores da 
segurança pública na elucidação e investigação de crimes, devem ser pensados 
e utilizados em benefício de uma segurança modernizada e que precisa de toda 
ajuda possível para efetivar seus planejamentos.
157
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
7 - As tecnologias trouxeram inúmeras possibilidades, entre elas, 
a facilidade com a qual as investigações podem ser realizadas 
através de aparelhos antes inexistentes, mas também, é capaz 
de trazer o vilipêndio de determinados direitos da pessoa, como a 
privacidade. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir:
I- A tecnologia pode ser utilizada de indistintamente, quando a luta 
contra o crime organizado é essencial.
II- Os direitos das pessoas não são feridos pelo uso indiscriminado 
pela tecnologia, pois a segurança de todos é um bem mais 
precioso que qualquer direito individual.
III- Devem ser respeitados os direitos de privacidade e para a entrada 
de policiais em ambiente particular o mandado judicial serve 
também como proteção da sociedade e do policial 
IV- O mandado judicial signifi ca que o procedimento realizado é 
determinado, correto e legal.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 
b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. 
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. 
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 
8 - Como vimos, o Policiamento Orientado pela Inteligência (POI) é 
fundamental para traçar qualquer plano na segurança pública, 
pois defi ne estratégias engenhosas. Sobre o exposto, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) O POI não aplica pesquisas nas zonas consideradas quentes 
para a criminalidade, pois não age para combater, mas para 
prevenir.
b) ( ) É uma essencialidade do POI a prevenção por intermédio 
do gerenciamento e fi scalização estratégica da tática que se 
pretende tomar.
c) ( ) Para a inteligência policial, as análises estatísticas de grupos 
desviantes não desvendam os problemas a serem solucionados 
pelos policiais em suas ações.
d) ( ) O POI facilita o gerenciamento de dados de crimes, mas não 
consegue provocar a tomada de decisões para o planejamento 
das atividades policiais.
158
 SEGurANÇA PÚBLiCA
9 - A orientação para um plano gerencial de inteligência para 
implementação do POI depende de alguns passos primordiais. 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A análise signifi ca o passo em que as informações podem ser 
utilizadas.
b) ( ) Defi nir os requisitos de inteligência não se orienta na 
interpretação dos dados, mas da estrutura policial a ser utilizada.
c) ( ) O produto de inteligência negligencia opções como a escolha 
das informações que precisam ser passadas aos agentes.
d) ( ) Se defi ne, pela estratégia do POI, priorizar uma macrorregião 
para se iniciar toda a operação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Prezado aluno! Encaramos juntos a missão de conhecer como a Segurança 
Pública se concretiza no Brasil. Desde o início de nossa conversa, você identifi cou 
os caminhos tomados historicamente pela segurança pública, antes não tão 
participativa assim na proteção coletiva, fato que se alterou conforme a mudança 
de paradigma se tornou necessária.
A partir da história, você viu os primordiais passos da segurança no 
país, identifi cando que se tratava de uma força para a proteção do imperador, 
seu governo e sua elite. As capitanias hereditárias, com o passar do tempo, 
absorveram a questão da segurança, tomando para si a atividade de proteção de 
seu território. Nessa época de coronéis e grandes latifundiários – donos das terras 
mais propensas à riqueza, herdadas e doadas pelo trono –, o comando e controle 
das comunidades viventes dentro das margens das capitanias eram realizados 
ao mando e desmando das elites. Com o surgimento de uma restauração do 
Estado e os pensamentos mais iluministas de Estado Moderno e com o fi m do 
Império, pensava-se em uma segurança pública de todos, que fi cou apenas no 
papel. As difi culdades para a manutenção da ordem no próprio ambiente político 
nacional, cenário de antagonismos diversos mesmo entre as instituições policiais 
e de segurança, formou uma seguridade da paz que confi rmava apenas proteger 
o Estado. Nisso se encontrava, como você viu, a proteção do sistema político que 
vigorava então. Com o militarismo em ascensão a partirde 1964, a segurança 
tomou moldes ditatoriais até meados de 1985, quando uma abertura para a 
redemocratização no Brasil passou a ser vista como necessária, abrindo-se aí 
mais um novo padrão.
159
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
Esse modelo se confi rmou com a ordem democrática no país, reafi rmada 
pela Constituição de 1988, que realçava os direitos fundamentais e a necessária 
harmonia aos direitos humanos e aos tratados internacionais sobre o tema.
A partir desse prisma, você viu que uma mudança de paradigma é 
necessária quando o vício no sistema, ou quando a crise é tão intensa, que 
não há mais formas de convivência saudável com o padrão em desequilíbrio. 
Com a constitucionalização do direito, em que todas as normas passam a ser 
interpretadas pelos princípios constitucionais, o paradigma, para a segurança 
pública somente poderia ser interpretado pelos modelos da Polícia Cidadã e da 
Segurança Comunitária, padronização essa que foi representada pela CF/1988. 
A partir de sua regulação no Brasil, realizada pelos institutos políticos, pela 
Secretária de Segurança Pública e pelo Ministério da Justiça e Defesa, o novo 
modelo passou a ser incentivado.
Claro que mudanças necessárias custam e levam um tempo para serem 
realmente implementadas ao ponto de se tornarem parte da normalidade. Para 
isso, você viu que ainda há a necessidade de um maior envolvimento do poder 
público, principalmente nas políticas de qualidade que determinem o novo padrão. 
E é nesse sentido que estudamos que políticas públicas são necessárias para 
evitar a criminalidade e oferecer oportunidades às comunidades. Políticas de 
educação, inclusão social ao invés de exclusão são fomentadoras do próprio 
conceito de cidadania. Esse método de administrar com bases nos direitos 
fundamentais elencados constitucionalmente, a partir de um Estado mais dialógico 
e pautado pelos princípios da cidadania, é capaz de contribuir para a essencial 
busca da real cidadania pelo cidadão. Defi nimos, então, que as políticas públicas 
sociais de inclusão e integração social e política são fundamentos para a nova 
polícia que se deseja ter nas ruas protegendo toda a sociedade.
A polícia comunitária, através do padrão da Segurança Cidadã, apresenta 
diferenças entre a polícia tradicional, pois entende que defesa social e todo o seu 
conceito deve ser defi nida como a busca pela pacifi cação em prol da convivência 
e da presença policial, ao invés das ações violentas e invasivas do modelo policial 
tradicional. Também, como você estudou, a prevenção é constituída como fonte 
primordial para o novo estilo policial, nesse sentido, até economicamente se 
percebe que não há necessidade de gastos excessivos para a implantação de 
programas que tem a função de evitar e precaver em detrimento de estratégias 
que apenas coíbem e surgem depois, somente para aparar as arestas do 
crime ocorrido. É dever, conforme estudamos, da Polícia Comunitária agir com 
veemência, se preciso, mas também deve estar preparada para interagir com os 
confl itos, auxiliar a sua comunidade a dirimi-los, perceber que o direito penal e 
toda a força de sua persecução devem ser chamados ao problema somente em 
último caso e se realmente necessário.
160
 SEGurANÇA PÚBLiCA
É aqui que o planejamento estratégico se solidifi ca na polícia comunitária. A 
partir dele, se consegue o essencial contato com a comunidade. O conceito de 
Polícia Cidadã já trouxe, em seu âmago, a convivência e a inserção do policial 
na comunidade que se pretende proteger. Nesse sentido, a estratégia também 
diz que o policial bem informado pela própria comunidade sobre as suas mazelas 
poderá tomar atitudes de defesa contra o crime e contra o desvio, fazendo parte 
dela, sendo parte da sociedade.
Para que o policiamento democrático, que reconhece os direitos diversos do 
cidadão e que labora como ampla defensora dos direitos humanos e fundamentais, 
possa realizar suas atividades com maior assertividade, é preciso uma gestão que 
entenda e saiba administrar.
Você viu que a busca pela melhor estratégia é como um jogo de xadrez, 
cujas peças devem ser mexidas com segurança e conhecimento. Cada peça 
movimentada errada ou mesmo deixada omissa no tabuleiro vai gerar alguma 
inconstância. Para que isso não ocorra, o planejamento precisa da segurança 
que somente uma gestão de qualidade pode conferir. Essa gestão, como você 
identifi cou, é realizada de forma centralizada, mas ainda assim, respeitando as 
decisões de cada local, de cada comunidade espalhada por esse país continente. 
Para defi nir o plano, possuir uma Estratégia de longo prazo é essencial para que o 
planejamento possa ser cumprido. O Plano Estratégico Situacional para ambientes 
sociais e comunidades é interessante no sentido de se vincular ao modelo social 
vivido naquele ambiente, bem como em suas mazelas mais características, que 
são formadoras da criminalidade.
Nos dias atuais, pensar em segurança pública é entender o conjunto de ações 
e planos tomados utilizando-se do artifi cio da tecnologia. Nesse prisma, caro 
aluno, você viu que a busca por uma tecnologia interessante para a segurança 
pública, às vezes esbarra nos direitos das pessoas, como o direito à privacidade. 
Para isso, discussões, conversas entre a administração pública e a sociedade civil 
devem ser realizadas para defi nir o melhor para a segurança de todos.
Só que segurança pública se faz também com boa vontade política. É 
obrigação das políticas públicas de segurança, mas, muitas vezes, a situação 
apolítica do país faz com que não nos preocupemos, e isso é um sinal vermelho 
para a sociedade, que deixa de se preocupar e de manter seu senso crítico 
aguçado. Isso signifi ca que devemos cobrar cada vez mais de nossos políticos, 
buscando fomentar e incentivar as políticas públicas de inclusão social no 
país e de segurança pública comunitária. O policial que está nas ruas precisa 
desse nosso apoio, da luta que devemos travar por todos, necessita de todo o 
treinamento, aparato técnico e especializado para manter sua lide diária, muitas 
vezes dolorosa perante as ações do crime que se organiza. Enquanto políticas 
161
PLANEJAMENTO E GESTÃO: A GOVERNANÇA DA SEGURANÇA PÚBLICA Capítulo 3 
públicas sociais de qualidade como educação e saúde não estiverem na agenda 
de discussões dos nossos governantes, haverá o abandono gradativo de todas as 
conquistas realizadas pela Carta Constitucional e pelas lutas travadas em prol da 
dignidade.
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Pública (Susp); altera a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, a 
Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e a Lei nº 11.530, de 24 de outubro 
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