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ESCLEROSE SISTÊMICA (ES) CONCEITO → Doença autoimune crônica, caracterizada por ACOMETIMENTO VASCULAR principalmente da MICROCIRCULAÇÃO e VASOS DE PEQUENOS CALIBRES, que evolui para ENDARTERITE PROLIFERATIVA ISQUÊMICA, associada a FIBROSE CUTÂNEA e VISCERAL. EPIDEMIOLOGIA → Mais comum em MULHERES (3:1) entre a 3° e 6° década de vida. → O curso clínico nos homens costuma ser mais agressivo → costuma se iniciar mais tardiamente. → É pouco frequente em crianças e adolescentes, e sua gravidade está relacionada ao acometimento de órgãos internos. → Afro – americanos apresentam maior incidência de ES com doença mais grave e precoce. ETIOPATOGÊNESE A PATOGÊNESE ENVOLVE TRÊS ALTERAÇÕES PRINCIPAIS: ▪ Ativação do sistema imune ▪ Alterações vasculares (vasculopatia) ▪ Aumento da deposição de matriz extracelular e colágeno na pele e em órgãos internos (fibrose) SUSCEPTIBILIDADE GENÉTICA → A história familiar de Esclerose sistêmica é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento da doença. → GATILHOS AMBIENTAIS: exposição a solventes orgânicos (tolueno, benzeno), sílica, uso de inibidores de apetite (Sibutramina), L – triptofano, pentazocina, trauma local, vacinas, radioterapia. → A ES tem associação com locus do complexo HLA → o complexo principal de MHC localizado no braço curto do cromossomo 6 é caracterizado por alelos HLA extremante polimorfos. → A região do gene HLA – DQB1 está fortemente associado a susceptibilidade para Esclerose sistêmica. VASCULOPATIA EVENTOS INICIAIS DA VASCULOPATIA NA ESCLEROSE SISTÊMICA: ▪ Anormalidades vasculares principalmente da microcirculação (↑ tônus e permeabilidade vascular) ▪ Ativação das células endoteliais ▪ Hiper-reatividade vascular ▪ Ativação plaquetária → O tônus vascular é controlado por uma complexa interação entre: células endoteliais, musculatura lisa da parede vascular e estimulo neuronal. → Os receptores alfa-2C-adrenérgicos são importantes mediadores da vasoconstrição induzida pelo frio na microcirculação cutânea → o aumento da atividade dos receptores alfa-2C-adrenérgico leva a um aumento da resposta contrátil induzida pelo frio. FENÔMENO DE RAYNAUD É um VASOESPASMO REVERSSÍVEL de extremidades que ocorre com exposição ao frio ou estresse emocional → é o sintoma inicial mais evidente e frequente nos pacientes com ES. Os mediadores envolvidos na regulação do tônus vascular, produzidos pelas células endoteliais são importantes na patogênese da doença (desbalanço entre as substâncias vasoconstritoras x vasodilatadoras): SUBSTÂNCIAS VASOCONSTRITORAS SUBSTÂNCIAS VASODILATADORAS ↑↑↑↑ ENDOTELINA 1 (ET-1) ↓ PROSTACICLINA ↑ANGIOTENSINA II ↓ÓXIDO NÍTRICO (NO) ↑TROMBOXANO A2 ENDOTELINA-1 (ET-1): está aumentado nos pacientes com ES, possui potente ação vasoconstritora, além de estar envolvida na inflamação, fibrose vascular e aumento da proliferação de células musculares lisas. → Os defeitos no reparo vascular e na angiogênese levam a progressão da vasculopatia com acúmulo de matriz extracelular na camada miointimal (colágeno/fibrose) e a consequente endarterite obliterativa e estado de isquemia crônico. → Em pacientes com ES, alterações microvasculares com redução do número de alças capilares, presença de áreas avasculares e desorganização da arquitetura capilar podem ser visualizadas em fases precoces da doença. FIBROSE → A FIBROSE CUTÂNEA e de ORGÃOS INTERNOS é PATOGNOMÔNICA da ES e ocorre por ATIVAÇÃO DOS FIBROBLASTOS. → Achados no tecido fibrótico e pele dos pacientes com ES: tecido acelular, rico em deposição de colágenos (I, III, V, VII), além de acúmulo de miofibroblastos expressando alfa – SMA associada a rarefação de vasos sanguíneos e linfáticos. → Uma série de citocinas e fatores de crescimento, promovem o acúmulo de colágeno, proteoglicanos, fibronectina e outros componentes da matriz extracelular, como: ▪ TGF-beta (induz a transdiferenciação de fibroblastos em miofibroblastos capaz de aumentar a matriz extracelular e aumenta a produção de citocinas pro - fibróticas) ▪ CTGF (fator de crescimento do tecido conjuntivo) ▪ PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas) ▪ VEGF (fator de crescimento vascular endotelial) ▪ ET – 1 (endotelina – 1) ALTERAÇÕES DO SISTEMA IMUNE → ↑ produção de autoanticorpos, ativação de linfócitos e infiltração de células mononucleares nos órgãos afetados. → Infiltrado inflamatório composto principalmente por células mononucleares/macrófagos e linfócitos T(CD4) é encontrado na pele e órgãos internos. → INTERLEUCINAS AUMENTADAS: IL – 4 (estimula a produção de TGF – beta na pele principalmente), IL – 6, IL– 10, IL– 13. → As células TH17 é implicada na patogênese da doença e no desenvolvimento da fibrose, pois induz a produção de IL- 17 que promove ativação de fibroblastos e também induz a produção de IL – 6 e IL – 1. Os níveis de células Th17 foram relacionados com a atividade doença. → ANTICORPOS ALTAMENTE ESPECÍFICOS PARA ES: antitopoisomerase I (anti – Scl – 70), anti – RNA – polimerase III e anticentrômero → fazem parte dos critérios classificatórios para ES (ACR/EULAR) 2013. CLÍNICA → O fenômeno de Raynaud (disfunção vascular) costuma ser a primeira manifestação de doença. → A fibrose da pele (esclerodermia) é a manifestação clínica mais visível de doença já estabelecida. → A Esclerose sistêmica faz parte das Doenças Mistas do Tecido Conjuntivo (LES, AR, miopatias inflamatórias, Síndrome de Sjogren). FORMAS CLÍNICAS ESCLERODERMIA LOCALIZADA (RESTRITA A PELE) → Morfeia → Esclerodermia linear → Esclerodermia em golpe de Sabre ESCLEROSE SISTÊMICA ESCLEROSE SISTÊMICA CUTÂNEA LIMITADA/ SÍNDROME CREST ▪ Espessamento cutâneo é restrito as extremidades dos membros e face. ▪ Hipertensão pulmonar (fases tardias) → anticorpo: anticentrômero → FAN: padrão CENTROMÉRICO. ▪ SÍNDORME CREST → calcinose, raynaud, esclerodactilia, esofagopatia, telangiectasias. ESCLEROSE SISTÊMICA CUTÂNEA DIFUSA ▪ Espessamento cutâneo ocorre precocemente e se estende a região proximal dos membros e tronco/abdome. ▪ Doença intersticial pulmonar (PINE) → anticorpo: anti-SCL70 (antitopoisomerase I) → FAN: padrão NUCLEOLAR. ▪ Crise renal esclerodérmica → anticorpo: anti-RNA polimerase III → FAN: padrão NUCLEOLAR. ESCLEROSE SISTÊMICA VISCERAL PURA (SINE ESCLERODERMA) ▪ É uma doença rara, caracterizada pelo acometimento visceral (geralmente gastrointestinal, pulmonar ou vascular periférico), na ausência da característica fibrose cutânea. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO ACR/EULAR 2013 → AVALIA: manifestações clínicas, presença de autoanticorpos e capilaroscopia periungueal. → DEFINIÇÃO DIAGNÓSTICA: ≥ 9 pontos. → A pesquisa dos autoanticorpos específicos e a capilaroscopia subungueal são os exames complementares mais importantes no diagnóstico da doença. QUADRO CLÍNICO → Quando pensar em ES → mulheres com fenômeno de Raynaud, espessamento cutâneo, fadiga, artralgia, mialgia, disfagia e dispneia. → O fenômeno de Raynaud é a manifestação isolada e inicial que, associada a presença de autoanticorpos e/ou capilaroscopia anormal, configura a fase precoce ou muito precoce da doença. MANIFESTAÇÕES VASCULARES FENÔMENO DE RAYNAUD FASES DO FENÔMENO DE RAYNAUD: ▪ PALIDEZ: ocorre pelo vasoespasmo. ▪ CIANOSE: resulta da remoção do oxigênio do sangue venoso estático. ▪ RUBOR: hiperemia reativa que acompanha o retorno do fluxo sanguíneo (fase mais dolorosa). ATENÇÃO: O fenômeno de Raynaud antecede anos as manifestações cutâneas e viscerais na esclerose sistêmica limitada; na esclerose sistêmica difusa o fenômeno de Raynaud surgem concomitantemente as manifestações cutâneas e viscerais. → Manifestação vascular mais comum (> 95% dos pacientes). → É definidocomo isquemia digital, classicamente trifásica, provocada pelo frio e estresse emocional. → COMPLICAÇÕES DO FENÔMENO: cicatrizes de úlceras digitais (digital pitting scars), úlceras digitais, gangrena e amputação dos dedos. → DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: acrocianose, eritromelalgia. CAPILAROSCOPIA PERIUNGUEAL ▪ Útil para DIAGNÓSTICO e PROGNÓSTICO. ▪ As alterações da microvasculatura podem ser observadas na capilaroscopia peringueal, como: dilatação capilares, capilares ectasiados, micro -hemorragias e áreas avasculares (padrão SD – casos mais tardios). MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS → O espessamento da pele (esclerodermia) PROXIMAL as articulações metacarpofalangianas é o suficiente para classificar o paciente como portador de ES (9 pontos pelo critério). → OUTRAS MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS: calcinose, fácies de esclerodermia, telangiectasias, úlceras, cicatrizes de úlceras digitais, lesão em sal e pimenta (hipocromia alternadas com zonas de hipercromia - leucomelanodermia). FASES DO ENVOLVIMENTO CUTÂNEO ▪ EDEMATOSA: é a fase inflamatória, caracterizada por edema difuso, depressível, incialmente em mãos e pés (puffy fingers), que pode durar meses. ▪ FIBRÓTICA/INDURATIVA: com a regressão do edema, começa a ocorrer endurecimento progressivo da pele, iniciando em extremidades e progredindo em sentido proximal. ▪ ATRÓFICA: é o estágio final, quando a pele torna atrófica, fina e aderidas a planos profundos, deixando aparente os estigmas da doença, como a garra esclerodérmica, microstomia, afilamento do nariz e perda progressiva dos anexos. ESCORE CUTÂNEO DE RODNAN MODIFICADO ▪ É utilizado para avaliar de forma periódica o espessamento cutâneo nos pacientes esclerodérmicos. ▪ Avalia o espessamento da pele em 17 áreas, graduando o envolvimento em 0 (pele normal), 1 (espessamento leve), 2 (espessamento moderado) e 3 (espessamento importante). ▪ Pontuação varia de 0 – 51 → não avalia palma das mãos e plantas dos pés. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS → O envolvimento do TGI é observado em > 90% dos pacientes. → Todo TGI pode ser envolvido (orofaringe ao ânus) e decorre da atrofia da musculatura lisa secundária a lesão vascular e neurogênica. ESÔFAGO (MANIFESTAÇÃO MAIS COMUM) → Dismotilidade esofágica → está presente em praticamente todos os pacientes mesmo que assintomáticos. → Disfagia BAIXA (para sólido) → dano da musculatura lisa nos terços médio e distal do esôfago. → Refluxo gastroesofágico (relaxamento do EEI) → esofagite → estenose esofágica → Metaplasia de Barret EXAMES PARA AVALIAR O ESÔFAGO: ▪ Manometria → avalia dismotilidade. ▪ Endoscopia digestiva alta ▪ EED (estudo contrastado do esôfago-estômago-duodeno) ESTÔMAGO → Dispepsia → dor epigástrica em queimação, náuseas, vômitos, saciedade precoce e empachamento. → Ectasia vascular do antro gástrico (“estômago em Melancia”) → anemia ferropriva e melena (fezes escuras e fétidas). INTESTINO (DELGADO e GROSSO) → Síndrome de má absorção → decorrente da dilatação e da atonia das alças intestinais (dismotilidade) e consequente supercrescimento bacteriano. → Supercrescimento bacteriano → decorrente da dismotilidade intestinal, levando a alternância de períodos de diarreia e obstipação → diagnosticado com teste respiratório de hidrogênio. → Telangiectasias → podem levar a perda de sangue oculto nas fezes → diagnóstico com EDA/colonoscopia. → Manifestações menos frequentes: pseudo-obstrução intestinal, pneumatose cística intestinal, incontinência esfincteriana anal. MANIFESTAÇÕES PULMONARES → A pneumopatia intersticial e a hipertensão pulmonar são as principais CAUSA DE MORTALIDADE na ES. PNEUMOPATIA INTERSTICIAL/ALVEOLITE (PINE) → É o acometimento pulmonar mais frequente, sendo mais comum na esclerose sistêmica cutânea DIFUSA. → QUADRO CLÍNICO: dispneia progressiva aos esforços e tosse seca. → ACHADOS DA AUSCULTA: estertores crepitantes principalmente em bases pulmonares (“estertor em velcro”). EXAMES COMPLEMENTARES → Anticorpo associado a fibrose pulmonar grave: antitopoisomerase 1 (anti-SCL-70). → TCAR (Tomografia computadorizada de alta resolução (+ sensível)): apresenta lesões geralmente bilaterais e pode haver grande alteração do parênquima pulmonar → finas opacificações reticulares subpleurais e septais, padrão em vidro fosco, faveolamento (PIU), bronquiectasias de tração nódulos e cistos. → Raio X de tórax: não é um bom exame, pois só apresenta alterações nas fases tardias do comprometimento intersticial pulmonar. → ESPIROMETRIA: apresenta padrão restritivo (VEF1/CVF < 0,7), e a capacidade vital forçada (CVF) é a principal variável a ser acompanhada evolutivamente. → DLCO (teste de difusão do monóxido de carbono): avalia o grau de eficácia da troca gasosa entre os alvéolos e os capilares sanguíneos → valores inferiores a 50% indicam um mau prognóstico. → ANÁLISE HISTOLÓGICA (ACHADO MAIS COMUM): Pneumonia intersticial não específica (PINE). HIPERTENSÃO ALTERIAL PULMONAR → A hipertensão pulmonar pode ocorrer como uma vasculopatia primária (associada a própria ES – GRUPO I), ou secundária: ▪ Doença cardíaca ▪ Hipóxia pelo acometimento pulmonar ▪ Tromboembolismo crônico. → A hipertensão arterial pulmonar ocorre principalmente na esclerose sistêmica cutânea LIMITADA, após longo tempo de evolução, a presença do ANTICORPO ANTICENTRÔMERO aumenta o risco para essa complicação. → QUADRO CLÍNICO: assintomático, ou nas formas graves, pode apresentar dispneia rapidamente progressiva aos esforços e IC direita → sinais de sobrecarga de VD: insuficiência tricúspide, turgência jugular, hepatomegalia e edema. EXAMES COMPLEMENTARES → Pesquisa do ANTICORPO ANTI-CENTRÔMERO. → ECOCARDIOGRAMA BIDIMENSIONAL COM DOPPLER: é realizado como método de rastreamento, estimando a pressão sistólica da artéria pulmonar → o diagnóstico de hipertensão pulmonar é considerado quando a medida estimada da pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) é > 40 mmHg. → CATETERISMO DE CÂMARAS DIREITA (PADRÃO OURO): é MANDATÓRIO para confirmar os achados do ECO e confirmar hipertensão pulmonar → o diagnóstico de hipertensão da artéria pulmonar é confirmado quando a medida da pressão da artéria pulmonar média é > 25 mmHg em repouso e a pressão capilar pulmonar em cunha é < 15 mmHg. → DOSAGEM DO BNP: é um marcador cardíaco e pode ser utilizado para avaliar se há acometimento das câmaras direita em pacientes com ES. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS → O envolvimento cardíaco indica mau prognóstico e pode acometer pericárdio e miocárdio. → PERICARDITE → DERRAME PERICÁRDICO → geralmente assintomático, é um fator de risco para crise renal esclerodérmica e tem incidência aumentada na doença intersticial com evidencia cardiográfica de hipertensão pulmonar. → TAMPONAMENTO CARDÍACO (RARO) → ACOMETIMENTO DO MIOCÁRDIO → pode evoluir com insuficiência cardíaca, está associado a paciente com esclerose sistêmica cutânea difusa. O exame histopatológico revela miosite e fibrose. → ARRITMIAS ATRIAIS E VENTRICULARES → associado a fibrose nas vias de condução. → ACOMETIMENTO VALVAR → incomum. Ressonância cardíaca e ECO podem ser utilizados para avaliar o comprometimento cardíaco. MANIFESTAÇÕES RENAIS CRISE RENAL ESCLERODÉRMICA (CRE) → Resulta da microangiopatia, semelhante ao observado em outros órgãos e cursa com ELEVAÇÃO SIGNIFICATIVA DOS NÍVEIS DE RENINA. FATORES DE RISCO PRA CRISE RENAL: ▪ Extensão do acometimento cutâneo ▪ Presença de crepitação tendínea ▪ Positividade do anti-RNA-polimerase III ▪ Anemia de início recente ▪ Derrame pericárdico ▪ Corticoide em dose alta (> 15 mg/dia) → QUADRO CLÍNICO: sinais e sintomas de HIPERTENSÃO MALIGNA dominam o quadro (dispneia, cefaleia, distúrbios visuais, congestão pulmonar, IR rapidamenteprogressiva), anemia, presença de esquizócitos no sangue periférico (anemia microangiopática), plaquetopenia, IR, proteinúria e sedimento ativo. → Quando a apresentação clínica é CLÁSSICA não é mandatória a realização de biópsia renal para o diagnóstico. INDICAÇÕES DE BIÓPSIA RENAL ▪ Para diagnóstico diferencial de outras formas de acometimento renal: pacientes com sobreposição com lúpus ou glomerulonefrite crescêntica associada ao ANCA. ▪ Casos de crise renal esclerodérmica normotensiva. ACHADOS DA BIÓPSIA RENAL ▪ As alterações histológicas primárias no rim estão nas artérias arqueadas e interlobulares dos glomérulos. ▪ Os trombos de fibrina e as áreas de necrose fibrinoide são observados agudamente. MANIFESTAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO → Cefaleia, convulsões e comprometimento cognitivo. → Neuropatia trigeminal, polineuropatia sensoriomotora periférica e síndrome do túnel do carpo. MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICOS → Fadiga, mialgia, artralgia, artrite. → GARRA ESCLERODÉRMICA: contratura em flexão dos dedos das mãos → diagnósticos diferenciais: artrite reumatoide, hanseníase, neuropatia diabética, síndrome do túnel do carpo. → CREPITAÇÃO TENDÍNEA: comum na ES cutânea difusa, é FATOR DE MAU PROGNÓSTICO associando-se aos acometimentos renal e cardíaco. → ACROSTEÓLISE: reabsorção ósseas das extremidades distais. SAÚDE MENTAL E SXUALIDADE → Sintomas depressivos → Dor crônica → Disfunção erétil NEOPLASIAS → Neoplasia pulmonar → na presença de fibrose pulmonar. → Metaplasia de Barret → câncer de esôfago. → Síndrome paraneoplásica → quando a esclerose sistêmica assume um curso mais grave. LABORATÓRIO DE AUTOANTICORPOS → FAN PADRÃO NUCLEOLAR POSITIVO (MAIS COMUM): é esperado na maioria dos pacientes, e sua ausência implica a necessidade de outros diagnósticos diferenciais, como: ▪ Fasciíte eosinofílica ▪ Fibrose sistêmica nefrogênica ▪ Escleromixedema → ANTICENTRÔMERO: está associado a ES cutânea limitada e hipertensão arterial pulmonar. → ANTITOPOISOMERASE I (anti-scl-70): fator de risco para doença intersticial pulmonar e ocorre mais frequente na ES cutânea difusa. → ANTI – RNA – TOPOISOMERASE III: é marcador de doença cutânea grave e crise renal esclerodérmica. Autoanticorpos específicos para Esclerose Sistêmica AUTOANTICORPO FORMA CLÍNICA ASSOCIAÇÃO CLÍNICA Centrômero Cutânea Limitada HAP Topoisomerase I (Scl-70) Cutânea Difusa DIP progressiva RNA polimerase III Cutânea Difusa CRE e malignidade U1 Ribonucleoproteína (U1RNP) Cutânea Limitada DMTC Fibilarina (U3RNP) Cutânea Difusa HAP e Miosite PM-Scl Cutânea Limitada Miosite Th/To Cutânea Limitada HAP e DIP CRE: crise renal esclerodérmica; DIP: doença intersticial pulmonar; DMTC: doença mista do tecido conjuntivo; HAP: hipertensão arterial pulmonar. FATORES DE PIOR PROGNÓSTICO NA ESCLEROSE SISTÊMICA → Envolvimento cardíaco, renal ou pulmonar → Forma cutânea difusa → Sexo masculino → Elevação de VHS → Anemia → Proteinúria → Escores elevados de áreas avasculares na capilaroscopia periungueal. TRATAMENTO ACOMETIMENTO CUTÂNEO → Objetivo: evitar/retardar esclerodermia (fibrose cutânea). → METOTREXATO (10 – 25 mg/semana VO): é a primeira opção nos casos de espessamento cutâneo difuso precoce, em casos sem comprometimento visceral significativo. → CICLOFOSFAMIDA ou MICOFENOLATO MOFETIL: é utilizado nos casos de acometimento cutâneo grave ou associado a pneumopatia intersticial. → RITUXIMABE: casos refratários. → TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO: casos refratários. → TRATAMENTO DA CALCINOSE: bifosfonatos, ácido zoledrônico, colchicina, reparação cirúrgica. TRATAMENTO DO FENÔMENO DE RAYNAUD → MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS: evitar exposição ao frio e mudanças abruptas de temperatura, cessar tabagismo e evitar estresse emocional, evitar betabloqueador. → MEDICAÇÃO DE 1° LINHA (BLOQUEAOR DE CANAL DE CÁLCIO): NIFEDIPINO 20 – 60 mg/dia VO → efeitos adversos: hipotensão e piora do refluxo gastroesofágico pelo relaxamento do IEI. → OUTRAS OPÇÕES: Anlodipino, Diltiazem, Losartana, Fluoxetina, Estatinas, Hidralazina. → MEDICAMENTO PARA PREVINIR ÚLCERAS DIGITAIS: Bosentana (antagonista da endotelina). → MEDICAMENTO PARA TRATAR ÚLCERAS DIGITAIS: Sildenafila/ Tadalafila (inibidores da 5-fosfodiesterase) e Iloprosta EV (análogo da prostaciclina – não tem no Brasil). → TRATAMENTO CIRÚRGICO (CASOS REFRATÁRIOS): SIMPATECTOMIA DIGITAL → para pacientes não responsivos ao tratamento clinico, com isquemia intensa que ameaça o dedo acometido. ACOMETIMENTO PULMONAR PNEUMOPATIA INTERSTICIAL → Principal causa de morte nos pacientes com ES. → 1° opção: Ciclofosfamida 15 mg/kg ou 600 mg/m2 IV pulsos mensais ou VO na dose de 1 – 2 mg/kg/dia por 12 meses. → Doses baixas de Prednisona (20 mg/dia) podem ser associada nos pacientes com pneumopatia intersticial ativa. → Outras opções: Azatioprina (2 – 3 mg/kg/dia), Micofenolato Mofetil (1 – 3 g/dia), Rituximabe → NINTEDANIBE: antifibrótico. → TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO: casos refratários. HIPERTENSÃO PULMONAR → Antagonista dos receptores de endotelina: Bosentana (na dose de 62,5 mg, 2 vezes/dia, durante 4 semanas, seguido de 125 mg, 2 vezes/dia) ou a Ambrisentana (na dose de 5 mg/dia, que pode subir até 10 mg/dia). → Inibidor da 5 fosfodiesterase: Sildenafila, na dose de 20 mg, 3 vezes/dia Terapia combinada desses fármacos pode ser realizada → Análogos da prostaciclina EV: Epoprostenol, Iloprosta, Treprostinil → iniciados nos casos mais graves e não tem no Brasil. → Tratamento de suporte para IC direita: diuréticos, oxigenoterapia, anticoagulação oral. ACOMETIMENTO RENAL → Uso precoce de IECA, objetivando controle rápido dos níveis da pressão arterial e de função renal. → CAPTOPRIL (até 300 mg/dia) → rápido início de ação, meia vida – curta, permite melhor controle da terapêutica. → Outra opção: Enalapril 10 – 20 mg/dia. → Em caso de insuficiência renal instalada a diálise deve ser realizada até a recuperação da função renal. ACOMETIMENTO DO TUBO DIGESTIVO ESÔFAGO → É o órgão mais acometido na ES (90% dos casos). → Apresentações: Refluxo gastroesofágico, Hipomotilidade esofágica, Esofagite crônica e Esôfago de Barret. → Medidas não farmacológicas: manter o peso adequado, fracionar as refeições, elevar a cabeceira da cama, evitar posição supina nas 3h após as refeições, interromper tabagismo e diminuir ingesta de álcool. → 1° escolha - Inibidores de bomba de prótons: Omeprazol 20 mg (até 40 mg, 2x ao dia). → Bloqueadores de receptores H2: Ranitidina → pode ser usado em associação com os IBP, essa classe é menos efetiva. → Pró-cinéticos (Domperidona, Metoclopramida, Bromoprida): pode ser usado em pacientes com distúrbios de motilidade esofágica sintomática (disfagia, doença do refluxo e empachamento pós prandial). → Tratamento estenose de esôfago: dilatação endoscópica → pensar em estenose do esôfago quando o paciente apresentar disfagia intensa e regurgitação de líquidos. ESTÔMAGO → Sensação de plenitude gástrica, associada a lentidão do esvaziamento esofágico, pode ser referida por um número menor de pacientes → tratamento: pró – cinéticos. → Ectasia vascular gástrica (“estômago em melancia”): é uma manifestação rara e cursa com anemia e sangramentos gástricos de repetição → tratamento: uso endoscópico de plasma de argônio. INTESTINO DELGADO → Principal manifestação: diarreia crônica → Síndrome de má absorção (decorre do supercrescimento bacteriano associado a lentidão da motilidade intestinal) → tratamento: Ciprofloxacino 250 mg 12/12h ou Metronidazol 250 mg 12/12h por 4 semanas, alternadamente a períodos de 4 semanas sem antibiótico. → Pseudo – obstrução intestinal → tratamento: Octreotida 50 mg SC ao deitar.ANORRETAL → O acometimento do cólon pode acarretar em constipação intestinal, por causa do retardo da motilidade colônica → tratamento: dieta rica em fibras + uso de pró – cinéticos. → Incontinência fecal → reparação cirúrgica. ACOMETIMENTO MUSCULOESQUELÉTICO → Artralgia/artrite → pode ser tratado com AINES, Metotrexato, Leflunomida, Hidroxicloroquina, Azatioprina. → Casos refratários: Tocilizumabe (inibidor de IL-6). DOENÇA DE RAYNAUD (FENÔMENO DE RAYNAUD PRIMÁRIO) → É quando o fenômeno de Raynaud (palidez → cianose → eritema) surge de forma isolada e idiopática, apresentando bom prognóstico. → Acomete mulheres mais jovens (< 30 anos) → Ausência de gangrena digital ou alterações no exame físico. → Autoanticorpos negativos ou em baixos títulos, com VHS normal. → Capilaroscopia normal. DOENÇAS QUE CURSAM COM FENÔMENO DE RAYNAUD ▪ Esclerose sistêmica ▪ Doença mista do tecido conjuntivo ▪ LES ▪ Dermatomiosite/ polimiosite ▪ Síndrome de Sjogren RESUMO GERAL DO TRATAMENTO DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DIFERENÇA ENTRE ESCLERODERMIA LOCALIZADA X ESCLEROSE SISTÊMICA CARACTERÍSTICAS ESCLERODERMIA LOCALIZADA/ MORFEIA ESCLEROSE SISTÊMICA ACHADOS CUTÂNEOS Distribuição linear ou placas com pele espessada Esclerodactilia + espessamento cutâneo proximal FENÔMENO DE RAYNAUD Ausente Presente ALTERAÇÕES ISQUÊMICAS DIGITAIS Ausente Geralmente presentes (úlceras digitais, perda da polpa digital) DOENÇA DE ORGÃOS INTERNOS Ausente Presente FAN Presente ≥ 50% Presente ≥ 85% AUTOANTICORPOS ESCLERO- ESPECÍFICOS Ausentes Presente em 60% ACHADOS DA BIÓPIAS Fibrose dérmica Fibrose dérmica