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FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL Unidade 3 Crises políticas e a instabilidade no Brasil-República CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA RITA DE CÁSSIA ELEUTÉRIO DE MORAES 4 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A U TO RI A Rita de Cássia Eleutério de Moraes Olá. Sou graduada em Letras, com habilitação em Tradução e Interpretação. Além disso, possuo mestrado em Letras e especializações na área. Minha experiência técnico-profissional abrange a docência, autoria, revisão, edição e curadoria para cursos de educação a distância. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 5FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ÍC O N ES 6 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 SU M Á RI O A República e a Constituição das primeiras instituições políticas brasileiras ................................................................... 9 Emergência da República no Brasil .................................................................. 9 Elaboração da Constituição de 1891 .............................................................16 Criação do sistema de representação política ............................................. 21 A Crise da República Velha do Brasil ..................................... 26 Causas e consequências da crise da República Velha no Brasil ............... 26 Causas da crise da República Velha ................................................ 27 Consequências da crise da República Velha .................................. 28 Surgimento de novos movimentos sociais ...................................................32 Luta por direitos civis, políticos e sociais ......................................................33 O Estado Novo e o autoritarismo no Brasil .......................... 36 Características do Estado Novo no Brasil .....................................................36 Natureza do autoritarismo estabelecido durante este período ............... 40 Repressão aos movimentos operários e sindicais ........................ 47 Impactos do Estado Novo na sociedade brasileira ..................................... 49 Redemocratização e a consolidação das instituições democráticas brasileiras ........................................................ 53 Contextualização da redemocratização ........................................................ 54 Consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente .................................................................................................................60 Principais desafios enfrentados durante o processo de redemocratização ..............................................................................................67 Principais eventos relacionados à história política brasileira ..... 71 7FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A PR ES EN TA ÇÃ O Você sabia que a história do Brasil-República foi marcada por crises políticas, momentos de instabilidade, mas também por grandes conquistas sociais e políticas? Na Unidade 3 do nosso e-book sobre a Formação sócio- histórica do Brasil, iremos juntos desbravar esses momentos-chave e suas repercussões na formação da sociedade brasileira. A unidade está cuidadosamente dividida em quatro capítulos, cada um focado em uma etapa crucial da nossa história republicana. Desde a ascensão turbulenta da República no Brasil após o golpe militar que depôs Dom Pedro II em 1889, até os desafios e vitórias da consolidação das nossas instituições democráticas. Nosso primeiro passo nessa viagem será compreender as circunstâncias que moldaram a elaboração da Constituição de 1891. Investigaremos os debates e conflitos que cercaram essa constituição pioneira e como se deu a criação do sistema de representação política que continua a orientar nosso processo democrático até hoje. Depois, mergulharemos na crise da República Velha do Brasil, um período de intensa agitação social e política. Aqui, daremos ênfase especial ao surgimento de novos movimentos sociais que apareceram em resposta à crise e à luta tenaz por direitos civis, políticos e sociais que definiram esta era. Seguiremos então para o período do Estado Novo, o controverso governo de Getúlio Vargas. Durante essa fase, exploraremos as características únicas do Estado Novo no Brasil e a natureza do autoritarismo que se estabeleceu durante esse período. Analisaremos também como esse regime afetou a sociedade brasileira e as formas de resistência que surgiram em resposta. Finalmente, voltaremos nossos olhos para o período recente, à medida que contextualizamos a redemocratização e a consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente. Este capítulo incluirá uma análise da Anistia, da Constituição de 1988 e do desafio contínuo de construir uma democracia inclusiva e participativa. Então, estão prontos para essa viagem no tempo? Com o apoio do conhecimento acadêmico e uma perspectiva crítica, vamos juntos nessa descoberta. Acredito que ao compreendermos nosso passado, nos tornamos mais equipados para construir um futuro melhor. 8 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender as circunstâncias que levaram à emergência da República no Brasil, incluindo a elaboração da Constituição de 1891 e a criação do sistema de representação política. 2. Discernir sobre as causas e consequências da crise da República Velha no Brasil, com ênfase no surgimento de novos movimentos sociais e na luta por direitos civis, políticos e sociais. 3. Identificar as características do Estado Novo no Brasil, bem como a natureza do autoritarismo que se estabeleceu durante este período. 4. Contextualizar a redemocratização e a consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente. 9FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A República e a Constituição das primeiras instituições políticas brasileiras OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funciona a emergência da República no Brasil, incluindo a elaboração da Constituição de 1891 e a criação do sistema de representação política. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Neste capítulo, vamos explorar as circunstâncias históricas que levaram à emergência da República no Brasil. Vamos analisar em detalhes a elaboração da Constituição de 1891, que foi um marco importante na consolidação das primeiras instituições políticas brasileiras. Além disso, vamos compreender como foi criado o sistema de representação política, que teve um papel fundamental na estruturação do novo regime republicano. Ao compreender esses aspectos, você estará preparado para entender melhor o contexto político e institucional do Brasil nesse período. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Emergência da República no Brasil A emergência da República no Brasil foi um marco histórico que resultou de um processo complexo, influenciado por diversos fatores interligados. Um desses fatores fundamentais foi a crise do sistema monárquico brasileiro, que se intensificou após a abolição da escravatura em 1888. 10 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A abolição da escravatura teve um impacto profundo na estrutura social e econômicado Brasil da época, pois era uma base fundamental do sistema monárquico, e a sua extinção gerou uma série de tensões e desafios para a monarquia. A classe dominante, que era composta principalmente por latifundiários escravocratas, viu seus privilégios e poderes ameaçados pela perda do trabalho escravo. Além disso, a libertação dos escravos gerou uma grande massa de mão de obra desempregada, o que contribuiu para a instabilidade social. Figura 1 – A abolição da escravatura impactou a estrutura social e econômica do Brasil Fonte: Freepik 11FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 SAIBA MAIS A Lei Áurea, promulgada em 13 de maio de 1888, foi a legislação que oficialmente aboliu a escravidão no Brasil. Antes dela, outras leis foram implementadas, como a Lei Eusébio de Queirós, a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários, que gradualmente buscaram a emancipação dos escravizados. A Lei Áurea foi o desfecho desse processo e concedeu liberdade completa e imediata a todos os escravizados, sem compensação aos proprietários. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. O dia 13 de maio é considerado uma data cívica, embora o feriado tenha sido revogado em 1930. A Lei Áurea representa um importante marco na história brasileira e na luta pelos direitos humanos e igualdade. Figura 2 - Lei Áurea, de 1888 Fonte: Wikimedia Commons 12 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Outro fator importante foi a influência do positivismo, uma corrente filosófica e política que teve impacto significativo no Brasil daquela época. O positivismo defendia a ideia de “ordem e progresso”, buscando um sistema político baseado na ciência, no progresso material e no desenvolvimento social. Essa corrente de pensamento ganhou adeptos entre os intelectuais e militares brasileiros, que passaram a defender a substituição do regime monárquico por uma república positivista. VOCÊ SABIA? O lema “Ordem e Progresso” presente na bandeira do Brasil tem sua inspiração no lema positivista “Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta”. Essa conexão entre o positivismo e o lema presente na bandeira ocorre devido à influência de seguidores das ideias de Auguste Comte na Proclamação da República no Brasil. Figura 3 – Bandeira Nacional Fonte: Freepik Além disso, a atuação de grupos políticos e sociais que defendiam a mudança de regime foi crucial para a emergência da República. Diversas associações, clubes e sociedades foram 13FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 formados com o objetivo de promover o republicanismo e o fim da monarquia. A Maçonaria, por exemplo, teve um papel significativo na articulação política e na disseminação das ideias republicanas. A combinação desses fatores culminou na Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, quando um grupo de militares liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca destituiu o imperador Dom Pedro II e estabeleceu um novo sistema político no Brasil. Vale ressaltar que a emergência da República não foi um processo linear e pacífico. Houve resistência por parte daqueles que apoiavam a monarquia, especialmente entre os setores mais conservadores da sociedade. A transição para a república também trouxe desafios significativos, como a consolidação do novo sistema político, a definição das instituições republicanas e a busca por uma identidade nacional. Quadro 1 – Fatores que contribuíram para a emergência da República no Brasil Fatores que contribuíram para a emergência da República no Brasil Crise do sistema monárquico Influência do positivismo Atuação de grupos políticos que defendiam a mudança de regime Características da Primeira República Instabilidade política Concentração de poder nas mãos das oligarquias Presidencialismo de coalizão Atuação dos militares Fraudes eleitorais Fonte: Elaborado(a) pela autoria (2023). 14 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 IMPORTANTE No Brasil, houve duas repúblicas: a Primeira República e a República Federativa do Brasil. A Primeira República refere-se ao período que se estendeu de 1889 a 1930. Foi estabelecida após a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, quando o regime monárquico foi substituído pelo regime republicano. Essa fase da história brasileira é caracterizada pela descentralização do poder político em relação ao governo central, com grande influência das oligarquias estaduais e dos cafeicultores paulistas. Durante a Primeira República, o poder político era predominantemente centralizado nas mãos do presidente da República. Esse modelo de governo era caracterizado pelo presidencialismo de coalizão, no qual o presidente buscava apoio político e estabilidade governamental por meio da negociação de cargos e favores. No presidencialismo de coalizão, o presidente dependia da formação de alianças com outros partidos políticos e líderes regionais para conseguir uma maioria no Congresso Nacional e, assim, garantir a governabilidade. Essas alianças frequentemente envolviam a distribuição de cargos governamentais, como ministérios e cargos de confiança, em troca do apoio político necessário para aprovar projetos de interesse do governo. No entanto, esse modelo de governo também apresentava desafios e consequências negativas. A necessidade de formar coalizões muitas vezes levava a acordos e negociações que priorizavam interesses pessoais e partidários em detrimento do interesse público. A distribuição de cargos e favores muitas vezes era baseada em critérios políticos, clientelistas e nepotistas, em vez de mérito e competência. 15FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Essa dinâmica de negociação e troca de favores no presidencialismo de coalizão contribuiu para a instabilidade política durante a Primeira República. Os acordos e alianças eram muitas vezes frágeis e instáveis, sujeitos a mudanças de apoio e traições políticas. Isso levou a uma alta rotatividade de ministros e governantes, o que dificultava a implementação de políticas consistentes e a continuidade administrativa. Além disso, o presidencialismo de coalizão também foi associado à corrupção na Primeira República. A distribuição de cargos e favores como moeda de troca criava um ambiente propício para o nepotismo, o patrimonialismo e o favorecimento de interesses particulares em detrimento do bem-estar coletivo. A corrupção permeava as estruturas do governo e contribuía para o desvio de recursos públicos, a falta de transparência e a falta de prestação de contas. A combinação da instabilidade política e da corrupção enfraqueceu a legitimidade do governo e gerou descontentamento social. Esses fatores foram importantes para a eclosão de movimentos políticos e sociais que questionavam a ordem estabelecida, culminando na Revolução de 1930 e no fim da Primeira República. A República Federativa do Brasil é o atual sistema político do país, em vigor desde 1930. Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder e instaurou um governo provisório, posteriormente consolidando um regime autoritário conhecido como Estado Novo (1937-1945). Em 1946, foi promulgada uma nova Constituição, estabelecendo o sistema democrático com eleições regulares, separação dos poderes e garantias individuais. Desde então, o Brasil tem sido uma república federativa, com governantes eleitos por meio do voto popular. O país passou por diferentes governos e regimes políticos ao longo do período 16 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 republicano, incluindo ditaduras militares, como a ocorrida entre 1964 e 1985, e períodos de redemocratização e estabilidade democrática. Elaboração da Constituição de 1891 A Constituição de 1891 foi a primeira Constituição republicana do Brasil e marcou o início da República Velha. Sua elaboração foi resultado de um processo constituinte que teve início logo após a Proclamação da República, em 15 de novembrode 1889. A Constituição de 1891 foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, estabelecendo as bases do novo sistema político e institucional do país. Figura 4 – Assinatura da Constituição de 1891, de Eliseu Visconti Fonte: Wikimedia Commons 17FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A elaboração da Constituição de 1891 no Brasil foi influenciada por diversas correntes de pensamento que estavam em voga na época. Essas correntes incluíam o positivismo, o liberalismo e o republicanismo, que exerceram influência significativa na formulação dos princípios e das estruturas da nova Constituição. Quadro 2 – Influências na elaboração da Constituição de 1891 O positivismo, filosofia criada por Auguste Comte, defendia a aplicação dos princípios científicos na organização da sociedade. No contexto da Constituição de 1891, o positivismo influenciou a ideia de ordem e progresso, que se tornou o lema do país. Esse lema refletia a busca por uma sociedade baseada na ciência, no desenvolvimento e na harmonia social. O liberalismo também exerceu influência na Constituição de 1891, representando os ideais de liberdade individual, igualdade perante a lei e limitação do poder estatal. O liberalismo político defendia a participação popular, a proteção dos direitos individuais e a separação de poderes. Esses princípios foram incorporados na Constituição, garantindo direitos civis e políticos fundamentais. O republicanismo, por sua vez, foi uma corrente de pensamento central na transição da monarquia para a república. Defendia a substituição da forma de governo monárquica por um regime republicano, baseado na soberania popular e na eleição de representantes. A Constituição de 1891 refletiu esses ideais republicanos, estabelecendo a forma federativa de governo e garantindo direitos de cidadania. Fonte: Elaborado(a) pela autoria (2023). Além das influências ideológicas, a Constituição de 1891 também foi inspirada por modelos estrangeiros, principalmente a Constituição dos Estados Unidos da América. Os constituintes brasileiros estudaram diversas Constituições estrangeiras para embasar a elaboração do texto constitucional. A Constituição dos Estados Unidos, em particular, serviu como referência para a estrutura do governo e para a consolidação dos princípios republicanos e democráticos. 18 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Lynch e Neto (2012) explicam que [nenhuma] das constituições brasileiras foi cercada de tantas expectativas e considerações como aquela que primeiro serviu de marco legal à República. Quando, no fim do Império, os republicanos democratas volviam os olhos para a vizinha Argentina, ficavam extasiados com o seu crescimento econômico e o atribuíam ao seu modelo constitucional, elaborado à imagem e semelhança dos Estados Unidos. Para eles, a Constituição do Império continha um vício de origem: o fato de ter sido outorgada por Pedro I depois da dissolução da Constituinte. Agora tudo seria diferente. Derrocada a monarquia unitária que supostamente entravava o progresso e adotada a república federativa, legitimada por uma Constituição elaborada pelos representantes do povo, o País seria refundado; tudo seria diferente. Para esses entusiastas, a Constituição de 24 de fevereiro de 1891 (pois era assim que ela era conhecida) preparava o País para uma era de verdadeira democracia, grandeza e prosperidade, que nos associava definitivamente ao movimento do continente americano. (LYNCH; NETO, 2012, p. 86) Ao tomar como base essas influências ideológicas e modelos estrangeiros, a Constituição de 1891 estabeleceu um novo sistema político e institucional no Brasil. Ela refletiu a busca por uma sociedade moderna, fundamentada em princípios científicos, liberdades individuais, igualdade perante a lei e participação política. Essa Constituição marcou o início da República Velha no país e teve impacto duradouro nas transformações políticas e sociais subsequentes. 19FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Assim, a Constituição de 1891 estabeleceu a forma federativa de governo, com a divisão de poderes entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Também estabeleceu a separação entre Igreja e Estado, garantindo a liberdade religiosa, e estabeleceu o princípio da igualdade perante a lei. Ademais, a Constituição de 1891 assegurou direitos individuais, como a liberdade de expressão, a liberdade de associação e a liberdade de imprensa. Portanto, a Constituição de 1891 foi um marco na organização política e jurídica do Brasil, estabelecendo princípios fundamentais e estruturas governamentais que moldaram a República Velha. Vamos analisar em detalhes os pontos destacados: Quadro 3 - Dispositivos da Constituição de 1891 Forma federativa de governo e divisão de poderes: A Constituição de 1891 adotou a forma federativa de governo, dividindo o poder entre os níveis federal, estadual e municipal. Essa divisão visava equilibrar o poder central e assegurar autonomia política e administrativa para os estados e municípios. Além disso, a Constituição estabeleceu a divisão de poderes entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, em consonância com o princípio da separação dos poderes. Separação entre Igreja e Estado: A Constituição de 1891 estabeleceu a separação entre a Igreja e o Estado, consagrando o princípio da laicidade do Estado. Isso significava que o Estado brasileiro não teria uma religião oficial e que todas as religiões seriam igualmente livres e protegidas. Essa separação foi um importante avanço na garantia da liberdade religiosa e na neutralidade do Estado em questões religiosas. Princípio da igualdade perante a lei: A Constituição de 1891 estabeleceu o princípio da igualdade perante a lei, assegurando que todos os cidadãos brasileiros seriam tratados de maneira igual perante a justiça. Isso representou uma ruptura com o passado de privilégios sociais e a adoção de um princípio democrático de igualdade de direitos e oportunidades para todos. Garantia de direitos individuais: A Constituição de 1891 também assegurou uma série de direitos individuais e liberdades civis fundamentais. Entre esses direitos, destacam-se a liberdade de expressão, que garantia a liberdade de opinião e manifestação; a liberdade de associação, que permitia a formação de associações e entidades sem intervenção estatal; e a liberdade de imprensa, que garantia a liberdade de imprensa e a circulação de ideias. Fonte: Elaborado(a) pela autoria (2023). 20 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Esses dispositivos da Constituição de 1891 buscavam estabelecer uma base sólida para o novo regime republicano no Brasil, com uma estrutura governamental equilibrada e a garantia de direitos individuais e liberdades civis. No entanto, é importante ressaltar que, apesar desses avanços, nem todos os setores da sociedade brasileira foram beneficiados igualmente por essas garantias, e a realidade social e política da época estava longe de ser plenamente democrática e inclusiva. Lynch e Neto (2012) afirmam que a Constituição de 1891 no Brasil, apesar de ter durado quase 40 anos, não conseguiu cumprir plenamente suas promessas e foi considerada inefetiva. O poder das oligarquias regionais, a instabilidade política, as fraudes eleitorais e a falta de um sistema judicial eficiente foram fatores que contribuíram para essa inefetividade constitucional. (...) as promessas da Constituição de 1891 não se realizaram. Apesar da excelência de seus autores e de sua relativa longevidade para os padrões nacionais – quase 40 anos –, a primeira Carta republicana entrou para a história brasileira como o símbolo da inefetividade constitucional, do ideal frustrado pela realidade, do liberalismo sabotado pelo conservadorismo. (LYNCH; NETO, 2012, p. 87) Ou seja, o conservadorismo prevaleceu sobre o ideal liberal, resultando em uma lacuna entre as intenções da Constituição e a realidade vivida nopaís. 21FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Criação do sistema de representação política Após a Proclamação da República, o Brasil passou por uma transição do sistema político monárquico para o sistema republicano. Nesse contexto, houve a criação do sistema de representação política, que tinha como objetivo garantir a participação política da população e a representatividade dos interesses da sociedade. Esse sistema de representação política estabelecido pela Constituição de 1891 adotou o sufrágio universal masculino, permitindo que todos os homens adultos, com exceção dos analfabetos, tivessem direito ao voto. Esse foi um avanço significativo em relação ao período monárquico, quando o direito ao voto era restrito a uma pequena parcela da população. Paes (2019) explica que (...) a Constituição de 1891 estipulou a idade mínima de vinte e um anos para ser eleitor; a Constituição de 1824 foi ainda mais rígida definindo a idade mínima em vinte e cinco anos para o alistamento eleitoral; as Constituições posteriores estipularam a idade mínima em dezoito anos, exceto a Constituição de 1988 que estipulou a idade mínima em dezesseis anos para inscrever-se como eleitor, sendo facultativo o voto até os dezoito anos de idade. [...] As Constituições de 1891 e 1824 restringiam, ainda, o sufrágio aos religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe a renúncia da liberdade Individual. [...] (PAES, 2019, p. 124) 22 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Além disso, (...) ocorreu, também, restrição ao sufrágio em razão do gênero, pois as mulheres só conquistaram o direito de votar a partir de 1932, através do Decreto 21.076. Porém, inicialmente só as mulheres casadas, com autorização do marido, viúvas, e solteiras com renda própria podiam votar. Todavia, tal restrição somente permaneceu em nosso ordenamento jurídico até a Constituição de 1934. (PAES, 2019, p. 125) A Constituição de 1891 estabeleceu o sistema bicameral no Legislativo, criando a Câmara dos Deputados e o Senado Federal como órgãos representativos do poder legislativo do país. Essa estrutura bicameral foi adotada com o objetivo de equilibrar os interesses das diferentes unidades federativas e garantir uma representação mais ampla. Figura 5 – Congresso Nacional Fonte: Freepik 23FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Os representantes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal eram eleitos por meio de eleições diretas, o que permitia que a população participasse ativamente na escolha de seus representantes. Essa forma de eleição direta buscava fortalecer a legitimidade do poder legislativo e conferir uma maior representatividade aos cidadãos. Além disso, a Constituição de 1891 estabeleceu que o número de representantes de cada estado seria proporcional à sua população. Isso significava que estados mais populosos teriam mais representantes, garantindo uma distribuição equitativa do poder legislativo e levando em consideração a densidade demográfica de cada unidade federativa. No contexto desse sistema de representação política, os partidos políticos ganharam um papel fundamental na organização e na articulação dos interesses políticos e ideológicos. Com o advento da República, surgiram diferentes partidos políticos que representavam diferentes correntes de pensamento e interesses regionais. Entre os principais partidos da época, destacavam-se o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM). Esses partidos, embora representassem oligarquias regionais, exerciam grande influência política e eram importantes atores na construção e na manutenção do sistema político da República Velha. 24 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Figura 6 – Cartaz do PRP Fonte: Wikimedia Commons Os partidos políticos desempenhavam um papel na articulação de interesses regionais, na organização das campanhas eleitorais e na busca por apoio político. Eles se tornaram instrumentos fundamentais para a defesa de determinadas pautas e para a formação de alianças políticas. No entanto, é importante ressaltar que o sistema de representação política da República Velha também foi marcado por limitações e exclusões. Apesar do voto masculino universal, o acesso ao poder político continuava restrito a uma elite econômica e social, e os interesses das camadas populares e das minorias muitas vezes eram marginalizados. 25FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Apesar dessas limitações, a Constituição de 1891 estabeleceu uma estrutura de representação política e partidária que moldou o sistema político brasileiro durante a República Velha. Ela trouxe avanços na participação popular e na distribuição de poder, embora ainda houvesse desafios significativos para alcançar uma representatividade mais ampla e inclusiva. RESUMINDO Então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você aprendeu sobre a emergência da República no Brasil, incluindo a elaboração da Constituição de 1891 e a criação do sistema de representação política. Compreender esses aspectos é fundamental para entender o contexto político e institucional do Brasil nesse período. Ao compreender a relação entre a política e a democracia ateniense, você estará preparado para compreender melhor as bases da formação das primeiras instituições políticas brasileiras. Além disso, você também aprendeu sobre a importância do princípio da reserva do possível para o direito à saúde no Brasil. 26 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A Crise da República Velha do Brasil OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de discernir sobre as causas e consequências da crise da República Velha no Brasil, com ênfase no surgimento de novos movimentos sociais e na luta por direitos civis, políticos e sociais. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Neste capítulo, vamos mergulhar na análise da crise da República Velha no Brasil. Vamos investigar as causas que levaram a essa crise e entender as consequências que ela teve para a sociedade brasileira. Daremos destaque ao surgimento de novos movimentos sociais que emergiram nesse contexto, bem como à luta por direitos civis, políticos e sociais. Ao compreender esses aspectos, você estará preparado para compreender melhor as transformações sociais e políticas que ocorreram durante a República Velha. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Causas e consequências da crise da República Velha no Brasil A República Velha, ou Primeira República, foi um período marcado pela hegemonia política das oligarquias agrárias, em especial as cafeicultoras, e pela exclusão da grande parte da população do cenário político. Durante esse período, houve uma forte concentração de poder nas mãos das elites rurais, que controlavam as principais decisões políticas e econômicas do país. 27FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Enquanto as oligarquias se beneficiavam do modelo econômico baseado na produção de café, as camadas populares enfrentavam dificuldades para ter voz e participação efetiva na política nacional. Essa dinâmica de poder e exclusão marcou a essência da República Velha. Causas da crise da República Velha • Descontentamento popular: a exclusão política da maioria da população, a concentração de poder nas mãos das oligarquias e a falta de representatividade levaram a um crescente descontentamento popular. As camadas mais baixas da sociedade, como os trabalhadores urbanos e rurais, não tinham voz no processo político e sofriam com as desigualdades socioeconômicas. • Fraudes eleitorais e coronelismo: durante a República Velha, as eleições erammarcadas por fraudes e manipulações, especialmente por meio do coronelismo. Os coronéis, líderes locais influentes, exerciam controle sobre as eleições em suas regiões, garantindo a vitória dos candidatos de sua preferência. Isso minava a legitimidade do processo eleitoral e a confiança da população nas instituições políticas. • Crise econômica e modernização: no final do século XIX e início do século XX, o Brasil enfrentou crises econômicas, como a queda nos preços do café, principal produto de exportação do país. Além disso, o processo de industrialização e modernização trouxe desafios e mudanças significativas, criando tensões entre as antigas oligarquias agrárias e as novas forças econômicas emergentes. 28 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Consequências da crise da República Velha • Movimentos tenentistas: a crise da República Velha estimulou o surgimento de movimentos políticos, como o tenentismo, formado por jovens oficiais militares descontentes com a situação política e social do país. Os tenentes buscavam reformas e se opunham à corrupção e ao domínio oligárquico. Esses movimentos foram fundamentais para desestabilizar o regime e abrir caminho para mudanças políticas mais profundas. Segundo Ferreira e Pinto (2006), O tenentismo recebeu esta denominação uma vez que teve como principais figuras não a cúpula das forças armadas, mas oficiais de nível intermediário do Exército – os tenentes e os capitães. O alto comando militar do Exército manteve-se alheio a uma ruptura pelas armas, assim como a Marinha. O movimento, que tomou proporções nacionais, empolgou amplos setores da sociedade da época, desde segmentos oligárquicos dissidentes aos setores urbanos (camadas médias e a classe operária das cidades). O grande mal a ser combatido eram as oligarquias, já que segundo os tenentes, elas haviam transformado o país em “vinte feudos” cujos senhores eram escolhidos pela política dominante. (FERREIRA; PINTO, 2006, p.12) • Revolução de 1930: a crise política e econômica culminou na Revolução de 1930, um movimento liderado por diversos setores insatisfeitos com a República Velha. Getúlio Vargas, apoiado por diferentes 29FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 grupos, assumiu o poder e estabeleceu um governo provisório, marcando o fim da Primeira República e o início de uma nova fase na história brasileira. Ferreira e Pinto (2006) apontam que (...) a revolução de trinta se transforma numa espécie de evento matriz que serve de catalisador para se captar a cultura política, o comportamento, as aspirações e demandas dos diferentes segmentos integrantes do sistema político brasileiro. Em compensação entre os inconvenientes estão a perigosa tendência de se transferir para o acontecimento uma dimensão que não é intrínseca à sua e sobretudo induzir à conversão do que pode ser apenas uma simultaneidade de fenômenos em nexos fortes entre eles (MARTINS, 1980, p. 671). O resultado da Revolução de trinta mais do que as propostas do movimento em si é que transformaram 1930 em um marco histórico importante. (FERREIRA; PINTO, 2006, p. 22) Assim, a Revolução de 1930 foi um evento marcante na história do Brasil, servindo como um catalisador para compreender a cultura política, o comportamento e as demandas dos diferentes segmentos do sistema político brasileiro. No entanto, é importante ter cautela ao atribuir a esse acontecimento uma dimensão que não é intrínseca a ele e evitar criar conexões fortes entre fenômenos apenas simultâneos. Portanto, a revolução representou uma ruptura significativa no curso político do país, estabelecendo um marco histórico que impulsionou transformações profundas e redefinições no sistema político e social brasileiro. 30 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Figura 7 – Revolução de 30 Fonte: Wikimedia Commons • Era Vargas: o governo de Getúlio Vargas trouxe consigo profundas transformações políticas e sociais. Vargas estabeleceu um governo autoritário, conhecido como Estado Novo, que perdurou de 1937 a 1945. Durante esse período, foram implementadas políticas trabalhistas, como a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e medidas de cunho nacionalista e industrializante. • Processo de redemocratização: após o fim do Estado Novo, o Brasil passou por um processo de redemocratização. Em 1946, uma nova Constituição foi promulgada, estabelecendo um sistema democrático com eleições regulares. No entanto, o país ainda enfrentou instabilidades políticas, como golpes militares, até alcançar uma estabilidade democrática mais consolidada a partir da década de 1980. 31FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Portanto, a crise da República Velha no Brasil foi resultado de uma série de fatores interligados, incluindo a exclusão política, as fraudes eleitorais, a crise econômica e as mudanças sociais. Esses elementos combinados desencadearam um colapso no sistema político vigente e abriram espaço para transformações significativas no país. A exclusão política, com a predominância das oligarquias agrárias no poder, limitou a participação das camadas populares e de outros setores da sociedade no processo político, gerando insatisfação e descontentamento generalizados. Além disso, as frequentes fraudes eleitorais minaram a legitimidade das instituições e reduziram a confiança da população no sistema democrático. A crise econômica, marcada pela queda dos preços do café e pela falta de diversificação da economia, afetou gravemente as condições socioeconômicas do país. A dependência excessiva do setor agrícola e a falta de investimentos em outros setores contribuíram para a instabilidade e o descontentamento social. Ao mesmo tempo, mudanças sociais significativas estavam ocorrendo no Brasil. O crescimento das cidades, a industrialização incipiente e a emergência de novos grupos sociais trouxeram demandas por maior participação política, igualdade de direitos e melhorias nas condições de vida. As consequências dessa crise foram profundas e moldaram o curso da história brasileira nas décadas seguintes. Ela provocou a queda do sistema oligárquico da República Velha e abriu caminho para novos movimentos políticos e sociais. O período pós-crise testemunhou a ascensão de movimentos como o Tenentismo e a luta por direitos civis, políticos e sociais, que buscavam reformas estruturais e uma maior inclusão social. 32 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Assim, a crise da República Velha não apenas expôs as deficiências do sistema político e econômico existente, mas também impulsionou um processo de mudanças profundas na sociedade brasileira. As lutas e transformações desencadeadas por essa crise foram essenciais para a construção de uma nova ordem política e social no país, deixando um legado duradouro na história brasileira. Surgimento de novos movimentos sociais Durante a história do Brasil, houve o surgimento de diversos movimentos sociais que desempenharam um papel importante na luta por mudanças sociais, políticas e culturais. Esses movimentos representaram a mobilização de diferentes grupos da sociedade que buscavam reivindicar direitos, combater injustiças e promover transformações nas estruturas vigentes. Alguns exemplos significativos são: O movimento LGBTQ+ surgiu nas últimas décadas como uma força importante na luta pelos direitos e pela igualdade das pessoas com diversas orientações sexuais e identidades de gênero. Buscando o reconhecimento legal, o combate à discriminação e a promoção de uma sociedade inclusiva, o movimento tem desempenhado um papel fundamental na conscientização e na conquista de avanços legais e sociais para a comunidade LGBTQ+. No entanto, ainda enfrenta desafios persistentes, como a discriminação e a violência, enquanto continua a trabalhar por uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas. 33FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICADO BRASIL U ni da de 3 Luta por direitos civis, políticos e sociais A luta por direitos civis, políticos e sociais tem sido uma constante na história do Brasil, com diversos momentos e movimentos que buscaram promover a igualdade, a justiça e a cidadania. Essas lutas abarcam uma série de demandas e pautas, algumas das quais incluem: • Direitos civis: a luta por direitos civis envolve a busca pela igualdade de todos os cidadãos perante a lei, independentemente de sua raça, gênero, religião ou orientação sexual. Isso inclui o combate à discriminação racial, de gênero, religiosa e outros tipos de discriminação, bem como a garantia do acesso igualitário à educação, saúde, moradia e outros direitos básicos. • Direitos políticos: a luta por direitos políticos tem como objetivo garantir a participação igualitária de todos os cidadãos no processo político. Isso envolve o direito ao voto, a representação política justa e proporcional, a transparência nas eleições, a liberdade de expressão e de organização política, entre outros aspectos fundamentais para a democracia. • Direitos sociais: a luta por direitos sociais busca assegurar condições dignas de vida para todos os cidadãos. Isso inclui o acesso a serviços públicos de qualidade, como saúde, educação, segurança, assistência social e previdência. Também envolve a luta por igualdade de oportunidades, distribuição justa de renda, combate à pobreza e políticas de inclusão social. 34 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ACESSE O site “Letras.mus.br” oferece um blog dedicado ao tema das canções de protesto. Nesse blog, é possível encontrar um rico conteúdo sobre as músicas que foram utilizadas como forma de expressão e luta por direitos civis, políticos e sociais ao longo da história. O blog aborda uma variedade de gêneros musicais, como o folk, o rock, o rap e o punk, apresentando análises e reflexões sobre as letras e o contexto em que essas canções foram criadas. Além disso, o site oferece informações sobre artistas e movimentos musicais que se destacaram nesse campo, como U2, Elis Regina, Chico Buarque, dentre outros. Ao explorar o conteúdo de “Canções de Protesto” no site “Letras.mus.br”, você pode se aprofundar nas mensagens políticas e sociais transmitidas por meio da música. As canções de protesto têm o poder de mobilizar, conscientizar e inspirar as pessoas, e o blog fornece um espaço para apreciar e compreender essa forma de expressão artística. É uma plataforma interessante para aqueles que desejam explorar a conexão entre a música e os movimentos sociais, além de descobrir novas músicas e artistas que têm desafiado as injustiças e lutado por mudanças positivas em suas sociedades. Acesse https://www.letras.mus.br/blog/cancoes-de-protesto/ 35FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Essas lutas por direitos civis, políticos e sociais têm sido conduzidas por movimentos sociais, organizações da sociedade civil, ativistas e indivíduos engajados, buscando transformar a realidade e promover uma sociedade mais justa e igualitária. Esses esforços são fundamentais para promover mudanças sociais e alcançar um país mais democrático e inclusivo. RESUMINDO Então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você aprendeu sobre as causas e consequências da crise da República Velha no Brasil, com ênfase no surgimento de novos movimentos sociais e na luta por direitos civis, políticos e sociais. Compreender esses aspectos é fundamental para entender as transformações sociais e políticas que ocorreram durante a República Velha. Além disso, você também aprendeu sobre a importância de olhar mais para as pessoas e menos para os líderes na construção de uma sociedade mais justa e democrática. 36 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 O Estado Novo e o autoritarismo no Brasil OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar as características do Estado Novo no Brasil, bem como a natureza do autoritarismo que se estabeleceu durante este período. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Neste capítulo, vamos explorar as características do Estado Novo no Brasil, um período marcado pelo autoritarismo e pela concentração de poder nas mãos do governo. Vamos analisar como esse regime se estabeleceu, quais foram suas principais características e como ele impactou a sociedade brasileira. Ao compreender esses aspectos, você estará preparado para compreender melhor o autoritarismo e suas consequências para a história política do Brasil. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! Características do Estado Novo no Brasil O Estado Novo foi um período autoritário da história brasileira que ocorreu entre os anos de 1937 e 1945, liderado por Getúlio Vargas. Durante esse período, diversas características marcaram o regime e sua forma de governança. Uma das principais características do Estado Novo foi o centralismo político e a concentração de poder nas mãos de Getúlio Vargas. O regime foi estabelecido por meio de um golpe de Estado, que resultou na suspensão da Constituição de 1934 e no fechamento do Congresso Nacional. Vargas, então, assumiu 37FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 a presidência e governou de maneira autoritária, concentrando em si grande parte das decisões políticas e governamentais. Figura 8 – Retrato oficial do Presidente do Brasil Getúlio Vargas, 1930 Fonte: Wikimedia Commons Outra característica importante do Estado Novo foi o nacionalismo exacerbado e a valorização do Estado como agente centralizador e regulador da economia e da sociedade. Nesse sentido, o Estado interveio de forma intensa na economia, implementando políticas de desenvolvimento industrial, controle de preços e regulamentação do trabalho. Vargas utilizou o Estado como instrumento para promover a industrialização e fortalecer setores estratégicos da economia nacional. 38 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Além disso, durante o Estado Novo, foi estabelecido um forte controle da imprensa e da liberdade de expressão. O governo restringiu a atuação política de opositores, censurou jornais e perseguiu críticos ao regime, garantindo uma visão unificada e controlada da realidade. De acordo com Santos (2016), [com] a Revolução de 1930, movimento que depôs o então Presidente da República Washington Luis, Getúlio Vargas foi nomeado chefe do Governo Provisório. Feita por uma Assembleia Constituinte eleita em 1933, a referida Constituição foi inspirada na Constituição de Weimar de 1919 e na Constituição Espanhola de 1931. O sufrágio feminino e o voto secreto foram suas grandes inovações. (SANTOS, 2016, p. 109) Porém, Santos (2016) explica que Em seu capítulo II que tratava dos Direitos e Garantias Individuais, assim preceituou: Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 9) Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido anonimato. É segurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos independe de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda, de guerra ou de processos violentos, para subverter a ordem política ou social. (SANTOS, 2016, p. 109) 39FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Assim, observa-se nesse trecho que o referido dispositivo da Constituição mantém em grande parte o mesmo caráter da Constituição anterior, incluindo algumas proteções adicionais, como odireito de resposta e a dispensa de licença para a publicação de livros e periódicos. No entanto, é possível perceber a inserção de uma disposição que vai contra a plena liberdade de expressão, permitindo a censura de espetáculos e diversões públicas. A Constituição de 1937, portanto, foi caracterizada por seu caráter nitidamente antidemocrático, que limitou o direito amplo à liberdade de expressão. Através do artigo 122, inciso 15, a Carta estabelecia que todo cidadão tinha o direito de manifestar seu pensamento, porém sujeito a condições e limites prescritos em lei. Essa lei permitia medidas como a censura prévia da imprensa, teatro, cinematógrafo e radiodifusão, além de possibilitar a proibição da circulação, difusão ou representação de determinados conteúdos. Dessa forma, teve início um dos sistemas mais rigorosos de censura prévia ao direito de expressão na história do Brasil que negava, na prática, a liberdade de opinião, essencial para um regime democrático. Além disso, o Estado Novo também se caracterizou pela exaltação do culto à personalidade de Getúlio Vargas. Vargas era apresentado como um líder carismático e providencial, responsável por conduzir o Brasil rumo ao desenvolvimento e ao progresso. Sua figura era cultuada e reverenciada, estando presente em diversos aspectos da vida pública, como a música, a literatura e as comemorações oficiais. Outra marca importante do Estado Novo foi a criação de instituições que fortaleceram o aparato estatal e o controle do governo sobre a sociedade. Destacam-se, nesse sentido, a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável 40 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 pelo controle da informação, e a formação de organizações como a Ação Integralista Brasileira (AIB), que defendiam uma visão nacionalista e autoritária do país. Portanto, o Estado Novo foi um período marcado pelo autoritarismo político, centralismo do poder, nacionalismo econômico e controle governamental sobre a sociedade. Suas características moldaram profundamente a forma de governar do período, deixando um legado impactante na história política e social do Brasil. Natureza do autoritarismo estabelecido durante este período Durante o período do Estado Novo no Brasil, estabeleceu- se um autoritarismo de natureza intensa e centralizada. Getúlio Vargas, por meio de um golpe de estado, assumiu o controle absoluto do governo e concentrou em si o poder político e governamental. Essa concentração de poder resultou em um regime autoritário que restringiu as liberdades civis e políticas da população. Durante o Estado Novo, a supressão da participação política e o enfraquecimento das instituições democráticas foram características centrais do autoritarismo estabelecido. Com o fechamento do Congresso Nacional, Getúlio Vargas anulou o espaço de debate e deliberação política, consolidando sua posição como líder autocrático e centralizador. Ao fechar o Congresso Nacional, Vargas eliminou o principal órgão legislativo do país, responsável por representar os interesses da população e garantir a discussão e aprovação de leis. Essa ação significou a negação do princípio democrático de 41FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 divisão e equilíbrio de poderes, fundamental para a promoção de uma sociedade participativa e plural. Com a supressão da participação política por meio do fechamento do Congresso, o poder passou a ser exercido de forma centralizada nas mãos de Vargas e de seus aliados mais próximos. As decisões políticas e governamentais passaram a ser tomadas de forma autoritária, sem a devida representação da diversidade de interesses e opiniões da sociedade. Essa concentração de poder e a ausência de espaços para a participação popular resultaram em um regime de governo marcado pela falta de prestação de contas e pela limitação das liberdades civis e políticas. O Estado Novo impôs restrições severas à liberdade de expressão, cerceando a manifestação do pensamento crítico e o debate público. Dessa forma, o autoritarismo do Estado Novo não apenas eliminou a participação política e enfraqueceu as instituições democráticas, mas também minou os fundamentos da democracia representativa e da pluralidade de vozes na tomada de decisões. A concentração de poder nas mãos de Vargas e a falta de mecanismos de controle e responsabilização contribuíram para um ambiente político autoritário e centralizado, em que a participação e a diversidade de opiniões foram restringidas. 42 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Figura 9 – Artistas protestam contra a Ditadura Militar - Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker Fonte: Wikimedia Commons Além disso, o Estado Novo impôs um controle rígido sobre a sociedade e suas manifestações. A censura e a repressão foram amplamente utilizadas para limitar a liberdade de expressão e o direito à manifestação do pensamento. A Constituição de 1937, por exemplo, permitiu a censura prévia da imprensa, teatro, cinematógrafo e radiodifusão, concedendo à autoridade competente o poder de proibir a circulação, difusão ou representação de conteúdos considerados indesejáveis pelo regime. 43FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 SAIBA MAIS O Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) foi um órgão de repressão e controle durante o período da ditadura militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985. O DOPS desempenhou um papel central na perseguição e repressão de opositores políticos ao regime autoritário. O objetivo principal do DOPS era manter a ordem política e social de acordo com os interesses do regime militar. Para isso, o departamento realizava atividades de vigilância, investigação, interrogatórios, prisões arbitrárias e tortura contra aqueles considerados subversivos ou que representavam ameaças à segurança nacional, segundo a perspectiva do governo. O DOPS tinha atuação em diferentes estados do Brasil, possuindo representações regionais. Sua atuação incluía identificar, monitorar e neutralizar indivíduos e organizações considerados inimigos do regime. Isso envolvia militantes políticos, estudantes, sindicalistas, artistas, intelectuais e qualquer pessoa suspeita de atividades contra o governo. As práticas do DOPS frequentemente envolviam violações graves dos direitos humanos, como tortura física e psicológica, detenções ilegais e desaparecimentos forçados. O objetivo era intimidar e silenciar qualquer forma de oposição ao regime militar. O impacto do DOPS na sociedade brasileira foi profundo, deixando marcas de repressão e violência que persistem até hoje. Suas práticas afetaram diretamente a vida de milhares de pessoas, causando sofrimento, trauma e perdas irreparáveis. 44 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Com o fim da ditadura militar, o DOPS foi extinto e seus arquivos foram preservados. A abertura desses arquivos e a busca por justiça e memória são importantes para compreender e confrontar os abusos cometidos durante aquele período sombrio da história brasileira. Acesse o Memorial da Resistência de São Paulo para mais informações. O controle autoritário não se restringiu apenas à política e à liberdade de expressão, mas também se estendeu para a esfera econômica. Vargas implementou uma intervenção estatal significativa na economia, com o objetivo de fortalecer o Estado e impulsionar o crescimento econômico do país. No âmbito econômico, o Estado Novo adotou políticas de desenvolvimento industrial e controle dos setores estratégicos da economia. Vargas acreditava que o fortalecimento do Estado e a promoção de um setor industrial nacional seriam fundamentais para impulsionar o desenvolvimento econômico e a autonomia do país. Essa intervenção estatal incluiu a criação de empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale do Rio Doce, que tiveram o objetivo de impulsionara industrialização e garantir a exploração dos recursos naturais do país sob controle governamental. Essas empresas estatais tinham um papel estratégico na economia e contribuíram para a concentração de poder nas mãos do governo. http://memorialdaresistenciasp.org.br/lugares/deops-sp/ 45FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Além disso, o Estado Novo impôs um controle rigoroso sobre a economia, regulando setores-chave e estabelecendo restrições e diretrizes para as atividades econômicas. Essas medidas visavam direcionar o desenvolvimento econômico de acordo com os interesses do Estado e do governo, restringindo a liberdade econômica e a iniciativa privada. Embora a intervenção estatal na economia tenha tido como objetivo promover o crescimento econômico e fortalecer o Estado, ela também contribuiu para a concentração de poder nas mãos do governo. A centralização do controle econômico nas mãos do Estado Novo limitou a liberdade econômica e a competição de mercado, restringindo a atuação do setor privado e a diversidade de agentes econômicos. Portanto, durante o Estado Novo, o controle autoritário estendeu-se para além da esfera política e da liberdade de expressão, alcançando a economia. A intervenção estatal na economia, por um lado, teve o objetivo de fortalecer o Estado e promover o desenvolvimento econômico, mas, por outro lado, resultou na concentração de poder nas mãos do governo e na limitação da liberdade econômica e da iniciativa privada. SAIBA MAIS • Durante o Estado Novo, vários artistas e intelectuais brasileiros enfrentaram perseguições políticas e restrições à liberdade de expressão. Muitos deles foram forçados a se exilar em outros países para escapar da censura e da repressão do regime. Entre os artistas que se exilaram estão nomes como o escritor Graciliano Ramos, o pintor Cândido Portinari e o compositor Heitor Villa-Lobos. 46 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 • O Estado Novo também teve impacto na produção artística brasileira. A censura e a pressão política resultaram em uma produção cultural mais conservadora, que refletia os ideais do regime. Obras de cunho social ou político crítico eram rejeitadas ou fortemente controladas, enquanto obras com temáticas alinhadas ao nacionalismo e à exaltação do regime eram incentivadas. • O exílio de artistas e intelectuais durante o Estado Novo contribuiu para a disseminação de suas obras e influências em outros países. Muitos artistas brasileiros estabeleceram-se em locais como Argentina, México, Estados Unidos e Europa, onde tiveram a oportunidade de desenvolver suas carreiras e estabelecer contatos com outros artistas internacionais. O pintor Cândido Portinari foi um dos artistas brasileiros que se destacaram no exílio. Durante esse período, ele produziu obras marcantes, retratando cenas da vida cotidiana do povo brasileiro e denunciando as injustiças sociais. Seus trabalhos exibiam forte crítica à opressão e à desigualdade. • Além dos artistas, muitos intelectuais e pensadores também buscaram refúgio no exterior. Destacam-se nomes como o sociólogo Florestan Fernandes e o filósofo Paulo Freire, que encontraram em outros países espaço para desenvolver suas ideias e contribuições para suas respectivas áreas de estudo. O período do Estado Novo no Brasil deixou um legado de repressão e perseguição, levando à saída de artistas e intelectuais do país em busca de liberdade e oportunidades. O exílio desses artistas contribuiu para a disseminação da cultura brasileira além das fronteiras, fortalecendo conexões e influências internacionais. 47FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Repressão aos movimentos operários e sindicais Durante o período da ditadura militar no Brasil, que teve início em 1964 e durou até 1985, os movimentos operários e sindicais enfrentaram intensa repressão e perseguição por parte do regime autoritário. O governo militar via esses movimentos como potenciais ameaças à estabilidade e ao controle político. Com a implantação do regime, diversas garantias e direitos trabalhistas foram enfraquecidos, e as atividades sindicais passaram a ser rigorosamente controladas. Muitos líderes sindicais foram presos, torturados, exilados ou tiveram suas atividades restringidas. Apesar das adversidades, alguns movimentos operários e sindicais continuaram a lutar por melhores condições de trabalho, direitos trabalhistas e justiça social. Greves e manifestações ocorreram em diferentes setores da economia, com destaque para a indústria metalúrgica, os trabalhadores rurais e os estudantes. Um exemplo emblemático desse período é a greve dos metalúrgicos de Osasco, em 1968, que resultou em uma grande mobilização e enfrentamentos com as forças de segurança. Essa greve se tornou um marco na resistência dos trabalhadores contra as políticas repressivas do regime. Apesar das dificuldades e da repressão, os movimentos operários e sindicais desempenharam um papel importante na resistência à ditadura, mantendo acesa a chama da luta por direitos e justiça social. Essa resistência foi fundamental para a abertura política e o retorno da democracia no Brasil. 48 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Com o processo de abertura política a partir da década de 1980, os movimentos operários e sindicais recuperaram sua força e voltaram a desempenhar um papel relevante na defesa dos direitos trabalhistas e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É importante destacar que a história dos movimentos operários e sindicais durante a ditadura militar é marcada por desafios e sacrifícios, mas também por coragem e perseverança na defesa dos direitos dos trabalhadores. Seus esforços foram fundamentais para a conquista de avanços e para a consolidação dos direitos trabalhistas que temos hoje no Brasil. ACESSE No primeiro episódio da série “Incontáveis”, intitulado “Trabalhadores na ditadura”, produzida pela Comissão da Memória e Verdade da UFRJ, é explorado um aspecto fundamental e muitas vezes negligenciado da ditadura militar no Brasil: o impacto que esse período teve sobre os trabalhadores. A narrativa é conduzida por Jardel Leal, que além de ser o narrador, também é uma testemunha viva desses acontecimentos. Jardel Leal é um ex-operário naval e economista do DIEESE que foi preso durante a ditadura. Sua experiência pessoal agrega um elemento emocional e humano ao relato, permitindo uma compreensão mais profunda das vivências dos trabalhadores durante esse tempo. O episódio aborda uma série de temas relevantes relacionados aos trabalhadores do campo e da cidade durante a ditadura. Entre eles, estão a política econômica adotada pelo regime, que resultou em arrocho salarial e precarização das condições de vida da classe trabalhadora. https://www.youtube.com/watch?v=euVCQwNJxIk 49FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Também são discutidos os casos de vigilância política, intervenções e repressão direta contra sindicatos, movimentos de trabalhadores, lideranças camponesas e operárias. Além disso, o vídeo destaca a importância de compreender a luta dos trabalhadores durante esse período histórico. Ao divulgar pesquisas acadêmicas recentes e relatórios das comissões da verdade, a série “Incontáveis” busca dar voz aos trabalhadores e preservar sua memória. Por meio dessas histórias menos conhecidas, a série contribui para uma visão mais completa e autêntica dos impactos da ditadura militar na sociedade brasileira. Acesse. Impactos do Estado Novo na sociedade brasileira O Estado Novo teve impactos significativos na sociedade brasileira, abrangendo diversos aspectos da vida cotidiana e das estruturas sociais do país. Vejamos alguns exemplos: • Restrição da liberdade de expressão: a censura prévia imposta pelo Estado Novo limitou a liberdade de imprensa, teatro, cinema e radiodifusão. O governo exercia controle sobreo conteúdo divulgado, proibindo ou restringindo a circulação de informações e ideias consideradas contrárias aos interesses do regime. • Centralização do poder político: com o fechamento do Congresso Nacional, o Estado Novo concentrou o 50 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 poder nas mãos de Getúlio Vargas, enfraquecendo as instituições democráticas e diminuindo a participação popular na tomada de decisões políticas. O regime passou a ser caracterizado pela autoridade centralizada, com Vargas exercendo controle sobre o país. • Ideologia nacionalista: o Estado Novo promoveu uma ideologia nacionalista que buscava unificar o país em torno da figura de Vargas. Propagandas e discursos exaltavam a brasilidade e a importância do Estado para o desenvolvimento nacional. Esse discurso contribuiu para a construção de uma identidade nacional, mas também reforçou uma visão de conformidade e submissão ao regime. • Intervenção estatal na economia: Vargas implementou políticas de desenvolvimento industrial e controle dos setores estratégicos da economia. Criou-se empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale do Rio Doce, e regulamentou- se a atividade econômica. Essa intervenção estatal restringiu a liberdade econômica e a iniciativa privada, concentrando o controle nas mãos do governo. • Educação sob controle estatal: o Estado Novo também exerceu controle sobre o sistema educacional, buscando alinhar a educação aos princípios do regime. O ensino foi moldado de acordo com a ideologia nacionalista e os valores promovidos pelo governo. A educação passou a ser um instrumento de disseminação das ideias do Estado Novo. 51FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ACESSE A música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, tornou-se um dos símbolos mais marcantes do período da ditadura militar no Brasil. Composta e apresentada no Festival Internacional da Canção de 1968, durante o regime autoritário, a canção teve um impacto significativo e despertou reações intensas das autoridades. Durante a performance da música, Geraldo Vandré cantou o refrão olhando diretamente para os militares presentes, transmitindo uma mensagem de resistência e descontentamento com o regime. Essa atitude desafiadora logo chamou a atenção das autoridades, resultando na proibição da música e em consequências severas para o compositor. Após a apresentação, Vandré enfrentou perseguição por parte das autoridades e foi submetido à tortura. Posteriormente, ele foi forçado ao exílio, afastando-se do Brasil para escapar da repressão do regime. Durante esse período, a música foi banida das rádios e apresentações públicas. Somente em 1979, com o processo de abertura política, a música “Pra não dizer que não falei das flores” pôde ser tocada novamente e ganhou destaque na voz de Vandré. A canção se tornou um hino de resistência e de protesto contra a ditadura militar, refletindo o desejo de mobilização da população para enfrentar o regime autoritário. https://www.youtube.com/watch?v=1KskJDDW93k 52 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 A letra da música, de forma contundente, convida as pessoas a não ficarem em silêncio e a se unirem na luta contra a ditadura. Ela evoca a necessidade de resistência e de expressão de insatisfação diante das injustiças e repressões impostas pelo regime militar. “Pra não dizer que não falei das flores” é um exemplo significativo da importância da música como forma de expressão artística e resistência política durante os anos de ditadura no Brasil. A canção permanece como um símbolo emblemático desse período da história brasileira, relembrando a coragem e a determinação de artistas e da população em lutar por liberdade e democracia. Acesse. RESUMINDO Então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você aprendeu sobre as características do Estado Novo no Brasil, um período marcado pelo autoritarismo e pela concentração de poder nas mãos do governo. Compreender esses aspectos é fundamental para entender o autoritarismo e suas consequências para a história política do Brasil. Além disso, você também aprendeu sobre a importância do pluralismo político para a consolidação das instituições democráticas brasileiras. 53FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Redemocratização e a consolidação das instituições democráticas brasileiras OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de contextualizar a redemocratização e a consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. Neste capítulo, vamos contextualizar a redemocra- tização e a consolidação das instituições democrá- ticas na história recente do Brasil. Vamos analisar os eventos e processos que levaram à redemocra- tização do país, bem como as principais transfor- mações políticas e sociais que ocorreram nesse período. Vamos entender como as instituições democráticas foram consolidadas e quais foram os desafios enfrentados nesse processo. Ao com- preender esses aspectos, você estará preparado para compreender melhor a história política recen- te do Brasil e sua importância para a construção de uma sociedade democrática. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! 54 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Contextualização da redemocratização O Brasil passou por um processo histórico marcante durante a transição da ditadura militar para a democracia, um período conhecido como redemocratização. Depois de mais de duas décadas sob regime autoritário, a insatisfação popular com o autoritarismo ganhou força, exigindo a abertura política e a garantia de direitos fundamentais. Um momento crucial desse período foi a sanção da Lei de Anistia, em 28 de agosto de 1979, durante o governo do presidente João Figueiredo, último presidente do regime militar que governou o país de 1964 a 1985. Essa lei, que concedeu anistia a todos os cidadãos atingidos por atos de exceção entre 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, marcou o início do processo de abertura política que culminaria na redemocratização do Brasil. A Lei de Anistia teve o poder de beneficiar tanto os que se opuseram ao regime militar, incluindo os que foram presos, exilados ou demitidos de seus empregos, quanto os que serviram ao regime, incluindo os responsáveis por torturas e outras violações dos direitos humanos. Porém, ao longo dos anos, a lei tornou-se objeto de controvérsia. Enquanto alguns argumentam que ela permitiu uma transição pacífica para a democracia, evitando conflitos e vinganças violentas, outros criticam a impunidade que proporcionou a muitos responsáveis por graves violações dos direitos humanos durante o regime militar. Enquanto esses debates ocorriam, a transição para a democracia foi impulsionada pela massiva mobilização popular que surgiu na década de 1980. Movimentos sociais, sindicatos, estudantes e diversos setores da sociedade civil se organizaram 55FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 em protestos e manifestações, demandando o restabelecimento das liberdades democráticas e a realização de eleições diretas para presidente. Um marco histórico dessa luta foi o movimento “Diretas Já” de 1984. Ele agiu como um catalisador para a conscientização política, despertando na população brasileira o desejo de participar ativamente na condução do país. Este movimento reflete o papel fundamental que a sociedade civil desempenhou nessa época, contribuindo para moldar o rumo da história do Brasil em sua jornada para a redemocratização. IMPORTANTE O movimento das “Diretas Já” foi um importante marco na história política do Brasil, ocorrido durante a década de 1980. Esse movimento foi umamanifestação popular que tinha como objetivo principal lutar pela volta das eleições diretas para presidente, após mais de duas décadas de regime militar. O contexto político do país na época era de transição e abertura política. O regime autoritário da ditadura militar estava perdendo força e a sociedade brasileira ansiava por mudanças e pela retomada da democracia plena. As “Diretas Já” tornaram-se um símbolo dessa luta, mobilizando pessoas de diferentes setores e ideologias em todo o país. O movimento ganhou grande apoio popular e contou com a participação de políticos, artistas, intelectuais, sindicalistas e cidadãos comuns. Manifestações, comícios e passeatas foram realizados em diversas cidades brasileiras, demonstrando a força e a determinação do povo em reivindicar seu direito de escolher seus representantes de forma direta e democrática. 56 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Apesar de não ter alcançado seu objetivo imediato de eleições diretas para presidente, o movimento das “Diretas Já” foi fundamental para o processo de redemocratização do Brasil. Ele fortaleceu o sentimento de participação política e cívica na população, abrindo caminho para a posterior promulgação da Constituição de 1988 e para a realização de eleições presidenciais livres e democráticas. O movimento das “Diretas Já” deixou um legado importante para a história brasileira, reafirmando a importância da participação popular na consolidação das instituições democráticas e mostrando que a mobilização da sociedade civil pode ser um poderoso instrumento de transformação política. Figura 10 – Passeata no centro de São Paulo, em 16 de abril de 1984 Fonte: Wikimedia Commons 57FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Após esse período de intensa mobilização social e luta política, o Brasil conseguiu efetivamente consolidar suas instituições democráticas com a promulgação da Constituição de 1988, um marco inegável na história do país. Essa nova Carta Magna não apenas consagrou a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei, a separação dos poderes e a proteção dos direitos humanos, mas também estabeleceu a estrutura do Estado brasileiro, definindo as funções e limites dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Além disso, a Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”, reconheceu uma vasta gama de direitos sociais, como saúde, educação, trabalho e moradia, reafirmando o compromisso do país com a justiça social e econômica. Esse avanço legal é um testemunho da resistência e determinação do povo brasileiro em sua busca por democracia e direitos fundamentais, consolidando as conquistas das décadas de lutas e mobilizações. SAIBA MAIS Ulysses Guimarães foi um importante político brasileiro que desempenhou um papel fundamental durante o processo de redemocratização do país. Nascido em 6 de outubro de 1916, Guimarães foi um destacado líder político e jurista, sendo um dos principais articuladores do movimento das “Diretas Já”. Guimarães foi presidente da Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”. Ele teve um papel crucial na defesa dos princípios democráticos e dos direitos fundamentais no texto constitucional, lutando contra retrocessos e buscando garantir uma base sólida para a democracia brasileira. 58 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Figura 11 – 22/09/1988 - Encerramento das votações da nova carta constitucional, com o discurso do Presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) Deputado Ulysses Guimarães. No dia 22 de setembro, o plenário da ANC, na 1.021ª votação, aprova o Projeto de Constituição Fonte: Wikimedia Commons O político foi conhecido por sua oratória eloquente e pela defesa incansável da democracia. Um de seus discursos mais famosos foi proferido na promulgação da Constituição de 1988, no qual ele afirmou: “A Constituição é a única arma do cidadão na paz e na guerra, para a conquista da democracia, da justiça, do desenvolvimento e do bem-estar”. Ulysses Guimarães também foi presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), uma das principais forças políticas da época, e exerceu mandatos como deputado federal por várias legislaturas. Ele foi um dos líderes mais respeitados e admirados do cenário político brasileiro, sendo considerado um dos ícones da redemocratização e da consolidação das instituições democráticas no Brasil. 59FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Infelizmente, Ulysses Guimarães faleceu em um trágico acidente aéreo em 12 de outubro de 1992, aos 76 anos. Sua morte foi uma grande perda para o país, mas seu legado de luta pela democracia e pelos direitos dos cidadãos continua vivo e inspirando gerações de brasileiros. No entanto, o processo de redemocratização enfrentou desafios significativos. A resistência por parte de setores autoritários, que tentavam preservar seus interesses e limitar a participação popular, gerou obstáculos ao avanço democrático. Além disso, a consolidação das instituições democráticas demandou a superação de desigualdades sociais e a busca pela inclusão de todos os segmentos da sociedade. Ao longo das décadas seguintes, o Brasil buscou fortalecer suas instituições democráticas, promovendo eleições livres e periódicas, garantindo a independência do Judiciário e a proteção dos direitos humanos. A consolidação das instituições democráticas foi um processo contínuo, exigindo a participação ativa da sociedade civil na defesa dos princípios democráticos e na superação de desafios como a corrupção, a desigualdade social e a exclusão política. Apesar das dificuldades e dos obstáculos enfrentados, a redemocratização representou um importante avanço na história brasileira, estabelecendo as bases para uma sociedade mais justa, inclusiva e participativa. A consolidação das instituições democráticas é um trabalho em andamento, que requer o engajamento de todos os cidadãos na defesa dos valores democráticos e na construção de um país mais igualitário e democrático. 60 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente A consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente é um processo contínuo e em constante evolução. Após a redemocratização, houve a consolidação de mecanismos e instituições que sustentam o sistema democrático do país. Um marco importante foi a promulgação da Constituição de 1988, que estabeleceu as bases do Estado democrático de direito no Brasil. A Constituição garantiu direitos fundamentais, como liberdade de expressão, liberdade de imprensa, igualdade perante a lei, direito de voto e separação dos poderes. Além disso, ela definiu a estrutura do Estado brasileiro, com um sistema presidencialista, eleições periódicas e a proteção dos direitos humanos. Ao longo das décadas seguintes, ocorreu um fortalecimento gradual das instituições democráticas no Brasil. Foram realizadas eleições livres e diretas, com alternância de poder entre diferentes partidos políticos, o que demonstra a consolidação do processo democrático. O sistema judiciário também ganhou mais autonomia e independência, garantindo a aplicação da lei e a proteção dos direitos individuais e coletivos. Porém, como aponta Nervo Codato (2005), é importante ressaltar que esse fortalecimento das instituições democráticas no Brasil foi acompanhado de desafios e limitações. Feitas as contas, observamos que o processo de transição foi conduzido por uma associação de políticos profissionais e generais autoritários, resultando em uma reacomodação no universo das 61FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 elites políticas. A tríade Arena-PDS-PFL dominou a cena política, demonstrando que não houve uma verdadeira substituição dos grupos ligados à ditadura, mas sim umacontinuidade com transformismo político. O governo Sarney, por exemplo, representou esse cenário de controle da mudança política no Brasil, no qual a “conciliação” e o “pacto social” neutralizaram os movimentos de oposição ao regime ditatorial e até mesmo a campanha pelas eleições diretas. Esse processo resultou em uma forma política denominada por Florestan Fernandes como uma “democracia forte”, que não se configurava como uma ditadura explícita, mas também não era plenamente democrática e liberal. A década de 1980 consumou assim os sonhos dos generais: uma “democracia relativa”, na curiosa expressão de Geisel. Logo, seria mais correto caracterizar o governo Sarney não como um governo “de transição” para a democracia ou um governo “misto” (semidemocrático ou semiditatorial), mas o último governo, no caso, civil, do ciclo de governos não-democráticos no Brasil. (NERVO CODATO, 2005, p. 99) Portanto, apesar do fortalecimento das instituições democráticas, a história política do Brasil pós-ditadura carrega traços de continuidade e reacomodação de grupos de poder, o que pode representar um desafio para a plena consolidação da democracia e a ampliação da participação popular. 62 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ACESSE O site “Observatório da Democracia” conta com uma série de publicações, estudos e relatórios produzidos por especialistas e pesquisadores renomados. Esses materiais abordam temas como eleições, participação popular, transparência, accountability, Estado de Direito, entre outros aspectos fundamentais para a consolidação do regime democrático. Além disso, o “Observatório” disponibiliza dados e indicadores sobre a democracia no Brasil, permitindo uma análise aprofundada sobre o funcionamento das instituições e os desafios enfrentados. Esses recursos on-line fornecem uma visão ampla e embasada sobre a evolução das instituições democráticas no país, possibilitando uma reflexão crítica e informada sobre o tema. Acesse. Nesse contexto, a imprensa livre e atuante desempenha um papel fundamental na consolidação das instituições democráticas, exercendo o papel de fiscalização e de ampliação do debate público. A sociedade civil organizada também tem contribuído para a consolidação da democracia, por meio de movimentos sociais, ONGs e grupos de defesa dos direitos humanos, que atuam como contraponto ao poder estatal e lutam pela inclusão social, pela igualdade e pela justiça. 63FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Além disso, é importante destacar que a consolidação das instituições democráticas no Brasil envolve também o fortalecimento da participação cidadã e o aprimoramento dos mecanismos de representação política. A democracia não se resume apenas a eleições periódicas, mas também à participação efetiva da população na tomada de decisões e na formulação de políticas públicas. Do mesmo modo, os avanços tecnológicos e o crescimento das redes sociais têm proporcionado novas formas de engajamento cidadão, permitindo que os indivíduos se manifestem, expressem suas opiniões e participem ativamente do debate público. A democratização do acesso à informação e a promoção de espaços de diálogo e deliberação são essenciais para fortalecer a democracia e ampliar a participação de diferentes setores da sociedade. No entanto, a consolidação das instituições democráticas também enfrenta desafios. A corrupção, a desigualdade social, a polarização política e a violação dos direitos humanos são questões que ainda demandam atenção e esforços contínuos. Além disso, a necessidade de uma representatividade mais ampla e diversificada, que reflita a pluralidade da sociedade brasileira, é um desafio a ser enfrentado. 64 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 SAIBA MAIS As instituições democráticas nasceram na Grécia Antiga juntamente com a democracia e são estruturas e organizações que sustentam o funcionamento da democracia e garantem a participação cidadã, a proteção dos direitos individuais e coletivos, a representatividade política e a separação de poderes. Elas incluem órgãos governamentais, como o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, além de partidos políticos, eleições livres e justas, imprensa livre, organizações da sociedade civil e mecanismos de controle e fiscalização. São essas instituições que asseguram a estabilidade e a preservação dos princípios democráticos em uma sociedade. Figura 12 – Clístenes, considerado o pai da democracia ateniense, foi um reformador ateniense que ampliou o poder da assembleia popular Fonte: Wikimedia Commons 65FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 É fundamental, portanto, que as instituições democráticas estejam abertas ao diálogo, à transparência e à prestação de contas, fortalecendo a confiança da população. A educação cívica e a conscientização política também desempenham um papel relevante na consolidação das instituições democráticas, capacitando os cidadãos para o exercício pleno de seus direitos e responsabilidades. A consolidação das instituições democráticas é um processo contínuo, que requer vigilância e participação ativa de todos os setores da sociedade. A história brasileira recente nos mostra a importância de preservar e fortalecer as conquistas democráticas, ao mesmo tempo em que enfrentamos os desafios e construímos uma sociedade mais justa, igualitária e participativa. VOCÊ SABIA? Desde o início da Nova República, em 1985, até 2019, os presidentes do Brasil foram os seguintes: • José Sarney (1985-1990): José Sarney assumiu a presidência em 15 de março de 1985, sendo o primeiro presidente eleito após o regime militar. Ele governou durante um período de transição política e enfrentou desafios econômicos, políticos e sociais significativos. • Fernando Collor de Mello (1990-1992): Fernando Collor de Mello foi eleito presidente em 1989 e tomou posse em 15 de março de 1990. Seu governo foi marcado por polêmicas, escândalos e pelo processo de impeachment que culminou em sua renúncia em 1992. 66 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 • Itamar Franco (1992-1995): Itamar Franco assumiu a presidência em 2 de outubro de 1992, após a renúncia de Fernando Collor. Durante seu mandato, enfrentou desafios econômicos, implementou medidas de estabilização e contribuiu para a transição democrática do país • Fernando Henrique Cardoso (1995-2002): Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente em 1994 e reeleito em 1998. Seu governo ficou conhecido pelo Plano Real, que controlou a inflação, e por reformas econômicas e sociais importantes. • Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010): Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, foi eleito presidente em 2002 e reeleito em 2006. Seu governo foi marcado por programas sociais, crescimento econômico e políticas de inclusão social. • Dilma Rousseff (2011-2016): Dilma Rousseff, sucessora de Lula, foi eleita a primeira presidente mulher do Brasil em 2010 e reeleita em 2014. Seu governo enfrentou desafios econômicos, protestos sociais e um processo de impeachment que resultou em sua destituição em 2016. • Michel Temer (2016-2018): Michel Temer assumiu a presidência em 31 de agosto de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Seu governo foi marcado por medidas de ajuste fiscal e reformas estruturais. 67FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Principais desafios enfrentados durante o processo de redemocratização O processo de redemocratização no Brasil enfrentou diversos desafios ao longo de sua trajetória. Alguns desses desafios incluíram: • Estabelecimento da estabilidade política: a transição para a democracia exigiu a superação de tensões políticas e a construção de um ambiente de diálogo e consenso entre as diferentes forças políticas do país. A negociação e o compromisso foram essenciais para evitar rupturas e conflitos mais profundos. • Garantia dos direitoshumanos: a redemocratização envolveu a necessidade de enfrentar e lidar com as violações de direitos humanos cometidas durante o período da ditadura militar. Isso incluiu a busca pela verdade, justiça e reparação para as vítimas, bem como a implementação de políticas de memória, verdade e justiça. • Fortalecimento das instituições democráticas: foi necessário consolidar as instituições democráticas e garantir sua independência, transparência e eficácia. Isso envolveu a construção de um sistema judiciário robusto, a promoção de uma imprensa livre e a transparência nas instituições governamentais. • Participação cidadã e inclusão social: a redemocratização trouxe o desafio de promover uma maior participação cidadã e a inclusão de diferentes grupos sociais no processo político. Isso implicou em superar desigualdades estruturais, promover a 68 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 participação popular e garantir a representatividade de diferentes segmentos da sociedade. • Desafios econômicos e sociais: o Brasil enfrentou desafios significativos no campo econômico e social durante o processo de redemocratização. A estabilidade econômica, a redução da pobreza, a promoção da igualdade social e a melhoria das condições de vida foram questões prioritárias que precisaram ser enfrentadas para fortalecer a democracia e garantir o bem-estar da população. Ao longo dos anos, o país avançou na superação desses desafios, embora muitos deles ainda persistam. A consolidação das instituições democráticas requer esforços contínuos e a participação ativa da sociedade na defesa e promoção dos princípios democráticos, visando construir uma sociedade mais justa, inclusiva e participativa. Cumpre aos educadores atuais romper com essa cultura, ofertando aos seus estudantes um amplo conhecimento acerca do que ocorreu nesse período e de como se deu o processo de redemocratização, conquistada pelo povo nas ruas. Sem o conhecimento dos fatos pretéritos, sem o aprendizado com os erros cometidos, estaremos sempre vulneráveis às reincidências. Devemos aprender e ensinar pela formação de uma consciência crítica em torno das graves violações aos direitos das pessoas, pelo apreço às liberdades e pela certeza de que é preciso cuidar para que o autoritarismo diminua cada vez mais em nossa sociedade. Conhecer a verdade e ter acesso à história é, portanto, um direito de todos. Mas ofertar especialmente aos jovens 69FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 o conhecimento histórico de acontecimentos que marcam nosso passado repressivo (e que ainda condicionam nosso presente) é certamente um ato político. Pois se trata de lembrar não apenas para que haja justiça com as vítimas, mas também para que toda a sociedade se envolva na consolidação da nossa cultura democrática. Damos assim, passos efetivos para fortalecer um modelo de sociedade cada vez mais ativa e exigente com o respeito aos direitos humanos. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça. Brasília, setembro de 2013. Paulo Abrão Presidente da Comissão de Anistia Ministério da Justiça (ARAÚJO; SANTOS; SILVA, 2013, p. 7) 70 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ACESSE “O Dia que Durou 21 Anos” é um documentário brasileiro dirigido por Camilo Galli Tavares e lançado em 2012. O filme foca na influência dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 no Brasil, que levou a uma ditadura militar que durou 21 anos. O documentário é notável por seu uso extensivo de áudios inéditos de conversas na Casa Branca, assim como de entrevistas e documentos dos serviços de inteligência e diplomacia americana, muitos deles classificados até pouco tempo antes da produção do filme. Esses materiais ajudam a esclarecer a profundidade do envolvimento do governo dos EUA na preparação e execução do golpe. Camilo Galli Tavares investigou por seis anos, e o resultado é uma crônica detalhada dos eventos que levaram ao golpe, proporcionando uma visão mais completa dos eventos. Ele argumenta que a administração de John F. Kennedy e, posteriormente, a de Lyndon B. Johnson, foram diretamente responsáveis por planejar e executar o golpe, contradizendo a narrativa de que os EUA apenas apoiaram um movimento já em andamento. O documentário foi muito bem recebido, venceu diversos prêmios e é considerado um recurso valioso para entender a dinâmica da Guerra Fria na América Latina e o impacto das políticas externas dos EUA na região. Acesse. https://www.youtube.com/watch?v=ltawI64zBEo 71FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Principais eventos relacionados à história política brasileira Emergência da República no Brasil (1889): Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, marcando o fim do regime monárquico no Brasil e a emergência de uma república federativa. Elaboração da Constituição de 1891: a primeira constituição republicana do Brasil foi elaborada e promulgada, estabelecendo a forma de governo federalista. Criação do sistema de representação política (final do séc. XIX – início do séc. XX): definição dos mecanismos e instituições que configurariam o novo sistema político republicano. Crise da República Velha (1930): período de instabilidade política e social que culminou com a Revolução de 1930 e o fim da República Velha. Surgimento de novos movimentos sociais (décadas de 1920 e 1930): movimentos sociais emergem com reivindicações diversas, como direitos trabalhistas e direitos das mulheres. O Estado Novo (1937-1945): início do Estado Novo com Getúlio Vargas, caracterizado por um regime autoritário, centralizador e nacionalista. Repressão aos movimentos operários e sindicais (1937- 1945): durante o Estado Novo, houve uma intensa repressão aos movimentos operários e sindicais. Redemocratização (1945): fim do Estado Novo e início de um processo de redemocratização, com a elaboração da Constituição de 1946. 72 FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 Governo General Geisel (1974-1979): dentro do contexto da Ditadura Militar, o governo de Ernesto Geisel representou uma fase de abertura política, ainda que gradual e controlada, que culminou na Lei da Anistia em 1979. Consolidação das instituições democráticas (1985-presente): com o fim da Ditadura Militar e o início da Nova República, há um processo de consolidação democrática, com a Constituição de 1988 marcando um ponto crucial neste processo. RESUMINDO Então? Gostou do que lhe mostramos? Agora, para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você aprendeu sobre a redemocratização e a consolidação das instituições democráticas na história recente do Brasil. Compreender esses aspectos é fundamental para entender a história política recente do Brasil e sua importância para a construção de uma sociedade democrática. Além disso, você também aprendeu sobre a organização político- administrativa da República Federativa do Brasil e seus fundamentos, como a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 73FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL U ni da de 3 ARAÚJO, M. P.; SANTOS, D. dos R.; SILVA, I. P. da. (orgs.) Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho. Rio de Janeiro: Ponteio, 2013. Disponível em: https://www.gov.br/ mj/pt-br/central-de-conteudo_legado1/anistia/anexos/ditadura- militar-_-versao-final.pdf. Acesso em: 20 jul. 2023. FERREIRA, M. de M.; PINTO, S. C. S. A Crise dos anos 20 e a Revolução de Trinta. Rio de Janeiro: CPDOC, 2006. 26f. LYNCH, C. E. C.; NETO, C. P. de S. O Constitucionalismo da inefetividade: a Constituição de 1891 no cativeiro do Estado de Sítio/ The ineffectiveness of Constitutionalism: the Constitution of 1891 in jail of the State of Siege. Revista quaestio iuris, [S.l.], v. 5, n. 2, p. 85-136, dez. 2012. ISSN 1516-0351.Disponível em: <https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/9874>. Acesso em: 19 jul. 2023. NERVO CODATO, A. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia. Revista de Sociologia e Política, [S.l.], n. 25, p. 83-106, 2005. ISSN: 0104-4478. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23802508. Acesso em: 19 jul. 2023. PAES, J. P. L. Sufrágio e voto no Brasil: direito ou obrigação? Revista Populus, Salvador, n. 6, 2019. Disponível em: https://eje.tre-ba.jus. br/mod/page/view.php?id=2833. Acesso em: 19 jul. 2023. SANTOS, T. A Liberdade de Expressão na República Federativa do Brasil: Aspectos destacados acerca da ratificação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos Pelo Brasil. Revista DIREITO UFMS, Campo Grande, MS, v. 2, n. 1, p. 101 – 119, 2016. RE FE RÊ N CI A S https://www.gov.br/mj/pt-br/central-de-conteudo_legado1/anistia/anexos/ditadura-militar-_-versao-final.pdf https://www.gov.br/mj/pt-br/central-de-conteudo_legado1/anistia/anexos/ditadura-militar-_-versao-final.pdf https://www.gov.br/mj/pt-br/central-de-conteudo_legado1/anistia/anexos/ditadura-militar-_-versao-final.pdf https://www.e-publicacoes.uerj.br/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=fed9351df92b97caca46055c3b150a94&estudante=0&nome=&licao=&sessao=7cvcbepug03mttsecudl8r446t/quaestioiuris/article/view/9874 https://www.e-publicacoes.uerj.br/https://scorm.onilearning.com.br/scorm.php?scorm=fed9351df92b97caca46055c3b150a94&estudante=0&nome=&licao=&sessao=7cvcbepug03mttsecudl8r446t/quaestioiuris/article/view/9874 https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23802508 https://eje.tre-ba.jus.br/mod/page/view.php?id=2833 https://eje.tre-ba.jus.br/mod/page/view.php?id=2833 A República e a Constituição das primeiras instituições políticas brasileiras Emergência da República no Brasil Elaboração da Constituição de 1891 Criação do sistema de representação política A Crise da República Velha do Brasil Causas e consequências da crise da República Velha no Brasil Causas da crise da República Velha Consequências da crise da República Velha Surgimento de novos movimentos sociais Luta por direitos civis, políticos e sociais O Estado Novo e o autoritarismo no Brasil Características do Estado Novo no Brasil Natureza do autoritarismo estabelecido durante este período Repressão aos movimentos operários e sindicais Impactos do Estado Novo na sociedade brasileira Redemocratização e a consolidação das instituições democráticas brasileiras Contextualização da redemocratização Consolidação das instituições democráticas na história brasileira recente Principais desafios enfrentados durante o processo de redemocratização Principais eventos relacionados à história política brasileira