Prévia do material em texto
História da assistência à saúde no Brasil - parte I SST Jesus, D. V.; Costa, S. N. História da assistência à saúde no Brasil - parte I / Danila Vedovello de Jesus; Sabrine Nayara Costa - Ano: 2021 nº de p. : 10 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. História da assistência à saúde no Brasil - parte I 3 Apresentação O avanço das políticas de saúde deu-se não somente no Brasil, mas em toda a humanidade, de acordo com o desenvolvimento e a evolução de indivíduo e sociedade. Especificamente no Brasil, a saúde pública foi marcada por constantes reorganizações administrativas, sendo que seu início objetivava a proteção ao patrimônio financeiro e não a proteção e prevenção da saúde do indivíduo ou ambiente. Veremos, a seguir, o histórico das políticas de saúde do país. Porém, será somente após conhecermos dois importantes conceitos, que percorreremos o caminho histórico e evolutivo dessas políticas. Brasil Colônia e Império (1500 – 1889) A colonização do Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e durou da primeira metade do século XVI até a primeira metade do século XIX. O país deixou de ser colônia portuguesa quando, em 1822, foi proclamada a independência, com a aclamação do imperador D. Pedro I e a outorga da Constituição Política do Império do Brasil, chamada de Constituição de 1824 (SENADO FEDERAL, 2017). O Brasil foi colonizado principalmente por exilados e aventureiros, ao contrário do que ocorreu na colonização dos Estados Unidos pela Inglaterra. Os colonizadores portugueses tinham intenções claras de explorar as terras e as riquezas naturais do Brasil, enquanto que os ingleses não tinham a intenção de voltar para a Europa – e fizeram dos EUA uma “Nova Inglaterra”. 4 Por quase 300 anos, as leis praticadas na colônia eram as mesmas vigentes em Portugal: a função que hoje é do médico era prestada pelo Físico-Mor e pelo Cirurgião-Mor do Reino, que poderiam ser representados por Delegados-Comissários. Ao Físico-Mor e ao Cirurgião-Mor cabia a aplicação de multas e outras penalidades em caso de infração. Ao Físico-mor era também dada a autorização do exercício das disciplinas e artes de curar e a fiscalização das boticas e das atividades do boticário. Aos almotacéis, era dada a função de fiscalizar os alimentos e aplicar multas em casos de infrações relacionadas à qualidade dos alimentos estocados. Atenção Em 1782, ainda em Portugal, a Rainha D Maria I reestruturou a organização existente quando criou a Junta do Protomedicado, formada por deputados que tinham função semelhante à do Físico-mor: fiscalizar a atividade dos boticários (BAPTISTA, 2007). Em 1808, a corte portuguesa foi transferida para o Brasil e trouxe consigo alguns avanços, como a criação da primeira organização nacional de saúde pública, que, alguns anos depois (1829), instaurou no país a primeira medida protetiva, a “Inspetoria Sanitária de Portos”, com a função de barrar a entrada e a saída de possíveis produtos contaminados. Ainda em 1808, foram criadas duas importantes escolas de Medicina: a Escola de Cirurgia da Bahia, criada em 18 de fevereiro; e a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, criada em 2 de abril (BERTOLDI FILHO, 2000). Explore a Memória da Administração Pública Brasileira (MAPA). O projeto MAPA é uma reunião sistematizada de informações sobre a administração pública desde o período colonial até os tempos atuais. Disponível em: http://mapa.an.gov.br. Saiba mais http://mapa.an.gov.br 5 Após a declaração da independência (em 7 de setembro de 1822) e a posse de Dom Pedro I como Imperador, foi promulgada a Lei de Municipalização dos Serviços de Saúde, que concedeu às Juntas Municipais as funções que antes eram do Físico- Mor e do Cirurgião-Mor do Reino. Nesse período, intensificaram-se os cuidados em relação às epidemias de doenças como varíola, tuberculose, malária e febre amarela. A luta contra epidemias impulsionou a criação do Instituto Vacínico do Império, em 1837, cujo regulamento tinha como objetivo o estudo, a prática, o melhoramento e a propagação da vacina contra o vírus da varíola para todo o Império do Brasil (FIOCRUZ, 2017). Epidemia: “aumento fora do comum do número de pessoas contaminadas por uma doença em determinada localidade e/ou região: epidemia de dengue (RIBEIRO, 2020). Curiosidade A situação da saúde no Rio de Janeiro era precária; as funções de inspeção da saúde foram transferidas para as Câmaras Municipais, que apresentavam enorme desorganização e não foram eficientes nos serviços de saúde pública e polícia médica (BAPTISTA, 2007). Por meio do Ministério do Império, via diversos decretos, o governo autorizou tomou medidas emergenciais para tentar encerrar a propagação das epidemias, principalmente da tuberculose, que havia encontrado um ambiente propício à sua transmissão. As medidas relacionavam-se com a liberação de recursos para o socorro de enfermos, a liberação de créditos extraordinários para melhorar o estado sanitário da capital e, por fim, com a criação da Junta Central de Higiene Pública, em 1851, que exerceu o controle médico de estabelecimentos, embarcações e residências. 6 República Velha – Primeira República (1889 – 1934) O regime de Império encerrou-se no Brasil em 15 de novembro de 1889, por meio de um golpe de estado que culminou na adoção do primeiro governo republicano do Brasil, historicamente denominado República Velha. O período da República Velha teve dois momentos importantes: a República da Espada, dominada por setores do Exército com apoio dos republicanos; e a República Oligárquica, que se estende de 1894, passando pela promulgação da Constituição de 1891, até a Revolução de 1930 – revolução esta que depôs o presidente Washington Luís (SENADO FEDERAL, 2017). A República foi organizada com base em interesses capitalistas e com controle político sendo exercido pelos grandes proprietários de capital, predominantemente agrários (o coronelismo). Nesse período, ainda não existia um modelo sanitário no país e politicamente não havia uma estrutura formada. Os serviços e cuidados relacionados à saúde encontravam-se na jurisdição do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores, incluídos na Diretoria Geral de Saúde Pública. Atenção A situação das epidemias continuava a ser uma constante preocupação das autoridades e, por essa razão, em 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Federal (1900), hoje denominado Fundação Oswaldo Cruz, e que passou por diversas transformações de caráter político. Mesmo sem tradição nos investimentos na pesquisa científica, outros institutos de pesquisa foram criados nesse período, empenhados principalmente na produção das vacinas (FIOCRUZ, 2017). Em 1903, o médico sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado Diretor Geral de Saúde Pública e iniciou numerosas campanhas de vacinação. Inicialmente, tais campanhas foram voltadas ao controle da febre amarela; em um segundo momento, ao controle da varíola. As campanhas de Oswaldo Cruz seguiam princípios rigorosos, prevendo vacinação para crianças menores de seis meses de idade e para todos os militares. Previam também a revalidação da vacina após sete anos de sua aplicação e a obrigatoriedade de atestado de vacinação para cargos e funções públicas, viajantes e noivos. 7 Essas medidas rigorosas acarretaram uma revolta na população, que não aceitou a obrigatoriedade da vacinação. Mesmo com as críticas recebidas da população brasileira, Oswaldo Cruz recebeu uma medalha de ouro por seu trabalho de saneamento no Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, em 1907. Em 1920, Carlos Chagas reestruturou os serviços de saúde no Brasil, criando o Departamento Nacional de Saúde Pública, e instituiu a Reforma Carlos Chagas, ampliando a cooperação entre os estados. Os serviços de saúde pública que antes eram assistidos pelo Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores passaram a ser administrados pelo novo Ministériodos Negócios da Educação e Saúde Pública, criado pelo então presidente Getúlio Vargas. Era Vargas e Estado Novo – Segunda e Terceira Repúblicas (1934 – 1945) Com a destituição do presidente Washington Luís pelos militares, deu-se o fim da República Velha e o início do Estado Novo, período que compreende a segunda e terceira repúblicas, governadas por Getúlio Vargas por 15 anos e de forma contínua (de 1930 a 1945). Nesse momento histórico, a Constituição de 1891 foi revogada, o Congresso Nacional foi dissolvido e Getúlio Vargas foi firmado como presidente (SENADO FEDERAL, 2017). Ainda no início do governo de Vargas, Evandro Chagas liderou pesquisas médicas e científicas de doenças regionais como malária, leishmaniose e a filariose no estado do Pará, e assim surgiu o Instituto Evandro Chagas, centro de referência do estudo de doenças tropicais, inicialmente com o nome de Instituto de Patologia Experimental do Norte (IPEN) (FONSECA, 2007). Atenção 8 O processo de industrialização e modernização do Estado, iniciado em 1930, produziu novas demandas sociais, tornando os modelos assistenciais mais complexos. Foi justamente no governo de Vargas que foi instituída grande parte dos direitos ligados à seguridade social e grande parte do aprimoramento das ações em Políticas de Saúde Pública, como a institucionalização da Previdência Social pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) e das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs); e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (FONSECA, 2007). Porém, nesse período, o direito à saúde era assegurado apenas aos que trabalhavam. Não eram todos que tinham direito à saúde Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Imagem de uma pessoa mostrando a mão aberta. Na palma da mão, há um desenho representando vírus. A saúde pública foi institucionalizada por meio da criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930, que se organizou no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) e englobou o Instituto Evandro Chagas sob a condição de Laboratório Central. 9 A participação pública e coletiva foi grande aliada na evolução das políticas de saúde da Era Vargas. Em 1941, ocorreu a Primeira Conferência Nacional de Saúde (1ª CNS), cujos temas principais de discussão foram a organização sanitária (estadual e municipal), a ampliação e a sistematização de campanhas contra a hanseníase e a tuberculose, a determinação de medidas básicas de saneamento e o plano de desenvolvimento de proteção à maternidade, infância e adolescência. A partir dessa primeira conferência de saúde, o governo passou a compreender a necessidade de inclusão de toda da população nas ações de Saúde Pública, e não apenas os trabalhadores ajustados à CLT. Fechamento Conhecemos a trajetória da assistência à saúde e das políticas públicas relacionadas à saúde no Brasil. Compreendemos o processo crescente das políticas em saúde e suas fragilidades e contribuições para o sistema atual. Estudamos, ainda, a importância das vacinas para a prevenção das epidemias e como as ações vinculadas à saúde pública ao longo do tempo estiveram relacionadas ao processo produtivo e à economia brasileira. Além disso, percebemos a importância de institutos e órgãos na consolidação das Políticas de Saúde do Brasil. 10 Referências BAPTISTA, T. W. F. História das Políticas de Saúde no Brasil: a trajetória do direito à saúde. In: MATTA, G. C. Políticas de saúde: organização e operacionalização do sistema único de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. BERTOLDI FILHO, C. História da saúde pública no Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática, 2000. FONSECA, C. M. O. Saúde no Governo Vargas (1930-1945): dualidade institucional de um bem público. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Fiocruz, 2017. Disponível em: http://www. dichistoriasaude.coc.fiocruz.br. Acesso em: 26 jul. 2021. RIBEIRO, D. Epidemia. Dicio, abr. 2020. Disponível em: https://www.dicio.com.br/ epidemia/. Acesso em: 26 jul. 2021. SENADO FEDERAL. Institucional – Arquivos. Brasília: Senado Federal, 2017. Disponível em: http://www12.senado.leg.br/institucional/arquivo. Acesso em: 26 jul. 2021. http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br http://www12.senado.leg.br/institucional/arquivo