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<p>CENTRO COLABORADOR EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO</p><p>ESCOLAR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (CECANE/UFS)</p><p>CURSO EAD Formação em:</p><p>Garantia da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), realização do Direito</p><p>Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e sua exigibilidade no contexto</p><p>do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).</p><p>TRANSCRIÇÃO DOS PODCASTS – Módulo II</p><p>PODCAST 2.1 (aula 1) - Conceito de Direito Humanos</p><p>Esse é o podcast de apoio do curso Garantia da Segurança Alimentar e Nutricional,</p><p>realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e sua exigibilidade no contexto do</p><p>Programa Nacional de Alimentação Escolar.</p><p>A aula da vez é: O Conceito de Direito Humano à Alimentação Adequada.</p><p>Você já se perguntou o que é Direito Humano à Alimentação Adequadas? Será que basta</p><p>ter comida para ter esse direito realizado? Vamos um pouco além... Você sabe quais são os seus</p><p>direitos desde o dia que você nasceu? Em algum momento da sua vida certamente você já falou</p><p>“eu tenho direito a isso!” “É meu direito!”.</p><p>Bom, vamos iniciar essa aula falando primeiramente como surgiu esse chamado de</p><p>Direito Humano à Alimentação Adequada, e qual é o seu significado.</p><p>A convivência em sociedade foi de extrema importância para o crescimento e</p><p>desenvolvimento da raça humana. E com seu contínuo crescimento, foi necessária a criação de</p><p>códigos morais (que seriam algo semelhante ao que hoje se conhece como direitos humanos).</p><p>Na história, o primeiro código que se tem registro é o código de Hamurabi, e então, com o</p><p>passar do tempo as leis foram evoluindo e ficando cada vez mais complexas, tentando sempre</p><p>trazer a velha e clássica imagem de "justiça" dentro da nossa sociedade humana. Porém foi só</p><p>depois da declaração universal dos direitos humanos, em 1948, logo depois da segunda guerra</p><p>mundial, que foram estabelecidas certas metas para os países, metas essas que tinham como</p><p>objetivo instalar um conjunto de direitos que garantisse a dignidade humana em todas as esferas</p><p>sociais.</p><p>Mas vale aqui um ponto importante: apesar da declaração universal dos direitos</p><p>humanos representar um passo importante, o conceito de Direito Humano à Alimentação</p><p>Adequada (o DHAA) só foi mais bem discutido no ano de 1966, com o Pacto Internacional</p><p>sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que fez com que os países que assinassem o</p><p>pacto teriam que assegurar às suas populações abrigo contra a fome, por meio de programas,</p><p>métodos de produção, distribuição de alimentos, entre diversas outras ferramentas para garantir</p><p>o direito à alimentação.</p><p>Agora vamos falar do conceito: Direitos Humanos são todos aqueles que são garantidos</p><p>a todas as pessoas desde o seu nascimento, sem distinção de gênero, raça ou etnia, como</p><p>também não podem ser retirados ou cedidos por nenhuma lei nacional, estadual e municipal.</p><p>Além do mais, a todas as pessoas são assegurados direitos básicos, essenciais para a</p><p>sobrevivência, como: acesso à liberdade, igualdade, trabalho, saúde, educação, moradia,</p><p>alimentação, água, terra e informação.</p><p>Mas aí você se pergunta, é dever de quem garantir tudo isso para cada um de nós? O</p><p>Estado, será ele, tanto em âmbito federal, quanto estadual e municipal o responsável por garantir</p><p>que todos tenham uma condição de vida adequada, incluindo o direito à alimentação adequada</p><p>e saudável sem comprometer outras necessidades básicas por meio de políticas públicas.</p><p>Então, até aqui podemos concluir o seguinte: os direitos são interdependentes, ou seja,</p><p>não é possível realizar algum destes direitos sem realizar os demais! Se tivéssemos uma</p><p>alimentação balanceada todos os dias em nossa mesa, mas morássemos em uma casa com água</p><p>de má qualidade, sem escoamento apropriado do esgoto, nós poderíamos dizer que temos uma</p><p>alimentação adequada e saudável? A resposta é não! Se para termos o nosso Direito Humano à</p><p>Alimentação Adequada somente fosse preciso uma alimentação balanceada bastava só tomar</p><p>uma cápsula de nutrientes e estaria tudo certo. Mas não é bem assim, para que nossa alimentação</p><p>seja adequada e saudável ela precisa ser produzida de forma sustentável, justa, sem prejudicar</p><p>o meio ambiente, sem explorar as pessoas; tem que ser composta por alimentos da nossa cultura</p><p>e que nos deem prazer. Por isso precisamos entender um pouco melhor o que esse direito tão</p><p>necessário à nossa vida e ao nosso bem-estar quer dizer.</p><p>E esse conceito foi escrito em 1999, quando a Organização das Nações Unidas para a</p><p>Alimentação e a Agricultura definiu que o direito à alimentação é realizado, abre aspas, “quando</p><p>cada homem, mulher e criança, sozinho ou em companhia de outros, tem acesso físico e</p><p>econômico, ininterruptamente, à alimentação adequada ou aos meios para sua obtenção”, fecha</p><p>aspas.</p><p>Esse é um podcast produzido pelo CECANE – UFS com colaboração da ASCOM/ rádio</p><p>e TV UFS.</p><p>Edição: Victor Santos. Apoio técnico: Roberto Cesar Ramos e Cleiton Cavalcante. Voz: Silvia</p><p>Voci.</p><p>PODCAST 1.2 (aula 1) - Reflexão sobre os direitos humanos</p><p>Olá, aqui é a Silvia Voci. Agora iremos para o momento reflexão da aula onde farei</p><p>algumas perguntas, daremos um tempo para você pensar e em seguida contextualizamos o</p><p>assunto. Vamos lá?</p><p>O que significa ter acesso físico e econômico a alimentos? (dar uma pausa para o</p><p>participante pensar) Se você imaginou que o acesso físico diz respeito ao fato de o alimento</p><p>estar disponível fisicamente para seu consumo, estamos no caminho certo. Eu digo que tenho</p><p>acesso físico ao alimento quando por exemplo eu recebo uma doação de cesta de alimento.</p><p>Aquele alimento chegou até mim sem eu precisar pagar por ele. Ou quando, por exemplo, eu</p><p>consegui coletar o alimento, pescar, ou extraí-lo da natureza. Mas e o acesso econômico, o que</p><p>seria? Se você pensou na possibilidade financeira para comprar o alimento, você tá correto.</p><p>Aquelas pessoas que não têm acesso físico diretamente ao alimento, seja porque não plantam,</p><p>seja porque não recebem doações ou refeições distribuídas pelo governo, vão precisar de</p><p>dinheiro para poderem comprar os alimentos que são compatíveis com suas necessidades, sua</p><p>cultura, suas preferências. Quando alguém trabalha e tem renda para comprar seus alimentos,</p><p>essa pessoa está tendo acesso econômico ao alimento. Se uma pessoa não tem trabalho, mas</p><p>recebe dinheiro de programas de transferência de renda, ela está tendo a possibilidade de</p><p>adquirir alimentos. Então, seja tendo o acesso físico ou econômico, eu só posso afirmar que</p><p>meu direito está sendo realizado se eu tiver estas condições garantidas para que o acesso seja</p><p>todos os dias, sem interrupção.</p><p>Não é tão complicado, não é? Mas ainda há outros detalhes importantes! Não basta ter</p><p>acesso a qualquer tipo de alimento! A definição dada pela ONU, lá em 1999, também disse que,</p><p>abre aspas, “o direito à alimentação adequada não deverá, portanto, ser interpretado em um</p><p>sentido estrito ou restritivo, que o equaciona em termos de um pacote mínimo de calorias,</p><p>proteínas e outros nutrientes específicos”, fecha aspas. Agora vamos pensar o que isso significa?</p><p>Para facilitar o entendimento vamos exemplificar. Se nós tivéssemos apenas o</p><p>necessário em relação aos nutrientes para nosso corpo em um único tipo de alimento ou até</p><p>poucos alimentos, então um suplemento garantido pelo Estado, garantiria o meu direito? A</p><p>resposta, é não”! Nós seres humanos somos seres sociais. Nós não comemos apenas os</p><p>alimentos porque precisamos de energia e nutrientes. Nós nos alimentamos também pra festejar,</p><p>pra confraternizar, ter prazer. Nossa alimentação tem uma dimensão simbólica para</p><p>determinadas ocasiões, por exemplo. A diversidade no “cardápio” que temos em nosso dia a dia</p><p>nos traz bem-estar, saúde não apenas biológica, mas psicossocial também. Logo, para que nosso</p><p>Direito Humano à Alimentação Adequada seja realizado, o Estado precisa garantir as condições</p><p>necessárias para a produção dos alimentos que tradicionalmente são importantes</p><p>para seu povo.</p><p>Embora o direito à alimentação adequada tenha de ser resolvido de maneira progressiva,</p><p>ou seja, o Estado deve ir implementando suas ações de forma planejada, nós não podemos</p><p>esquecer que o Estado tem a obrigação de implementar as ações necessárias para mitigar e</p><p>aliviar a fome, mesmo em épocas de desastres, naturais ou não, como estipulado no parágrafo</p><p>2 do artigo 11, da declaração da ONU. Isso quer dizer que primeiro o Estado deve garantir que</p><p>seu povo não passe fome e então na sequência suas políticas devem ser aprimoradas para</p><p>garantir outros aspectos do direito humano à alimentação adequada.</p><p>Tudo isso já estava assim compreendido no final da década de 1990, mas ainda no Brasil</p><p>este direito não aparecia na nossa Constituição. Após intensa mobilização da sociedade civil e</p><p>grandes debates e discussões no âmbito das políticas públicas, em 2010 o DHAA é incorporado</p><p>ao artigo 6º da nossa Carta Magna, passando a figurar da seguinte forma, novamente abrindo e</p><p>fechando aspas: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,</p><p>o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência</p><p>aos desamparados, na forma desta Constituição".</p><p>Esse é um podcast produzido pelo CECANE – UFS com colaboração da ASCOM, rádio</p><p>e Tv UFS.</p><p>Edição: Victor Santos. Apoio técnico: Roberto Cesar Ramos. Voz: Silvia Voci.</p><p>Chegamos ao fim da primeira aula do segundo módulo do seu curso, espero que esteja gostando.</p><p>A gente se reencontra já na próxima aula/ até já!</p><p>PODCAST 2.4 (aula 2) - Trajetória histórica do Direito Humano à Alimentação</p><p>Adequada (DHAA).</p><p>Olá, esta é a segunda aula do módulo 2 do curso garantia da Segurança Alimentar e</p><p>Nutricional, realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e sua exigibilidade no</p><p>contexto do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Eu sou a professora Silvia Voci do</p><p>Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar do Departamento de Nutrição da</p><p>Universidade Federal de Sergipe, o CECANE/UFS.</p><p>A aula da vez é: Trajetória histórica do DHAA.</p><p>Pouco antes do início do século 20, onde viria a surgir o Direito Humano à Alimentação</p><p>Adequada (o DHAA), a população brasileira e do mundo foi assolada por inúmeras catástrofes</p><p>e condições econômicas que facilitaram a desigualdade, resultando assim, na escassez de</p><p>comida, principalmente no que hoje se conhece como segundo e terceiro mundo. Índia, Sudão,</p><p>Brasil, entre outros países ao redor do mundo sofreram com este mal. Estima-se que mais de</p><p>100 milhões de mortos tenham ocorrido apenas na China durante o século 19. No Brasil a fome</p><p>também foi muito presente durante todo esse período, vale lembrar que foi nessa época que</p><p>houve a libertação dos escravos, porém sem o devido amparo, e aí somado a alta expansão</p><p>demográfica e o crescimento exponencial do sistema capitalista, os preços dos alimentos</p><p>cresceram e muito.</p><p>Na aula passada você descobriu que o Direito Humano à Alimentação Adequada teve</p><p>início ali por volta do fim da segunda guerra mundial, período que diante de tanta barbáries</p><p>ocorridas acabou incentivando a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos,</p><p>declarada no ano de 1948 pela Organização das Nações Unidas, a famosa ONU. Assim, tivemos</p><p>o primeiro reconhecimento da dignidade humana, baseada em justiça, paz e liberdade, e com o</p><p>direito ao acesso à alimentação sendo reconhecido em tamanha escala.</p><p>Entretanto, por mais que a declaração dos direitos humanos tenha sido um marco</p><p>importante para a garantia de uma melhoria na vida das pessoas, nota-se que não foi o suficiente</p><p>para que esses direitos fossem aplicados. Deste modo, foi necessário incentivar outros</p><p>mecanismos de controle, e nesse contexto, surgiu o Pacto Internacional sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), criado em 16 de dezembro de 1966, cujo objetivo</p><p>era, por meios jurídicos, assegurar que os assinantes desse pacto não violassem os temas já</p><p>abordados durante a Declaração dos Direitos Humanos de 48, com metas sendo estabelecidas</p><p>de maneira gradual aos países que concordassem em fazer parte.</p><p>No Brasil, o DHAA começou a dar passos curtos em 1988 com a nova constituição</p><p>nacional, inserindo a saúde como um direito social e dando abertura para futuras diretrizes e</p><p>políticas que pudessem ajudar na alimentação nacional. Então em 1992, o Brasil enfim validou</p><p>o PIDESC, instituindo então as quatro principais obrigações do pacto, sendo elas: respeitar,</p><p>proteger, promover e prover esse direito.</p><p>Respeitar no sentido do cuidado na tomada de decisões por parte do Estado, para que</p><p>não prive nenhum grupo de uma alimentação adequada. O Estado precisa proteger, cuidando</p><p>para que terceiros não causem risco à população. Também é necessário promover o DHAA a</p><p>partir da criação de ações e atividades. E por fim o Estado precisa prover alimentos ou</p><p>benefícios a partir da distribuição para a população que não tem condições de conseguir esses</p><p>alimentos e benefícios por conta própria.</p><p>No ano de 1996 foi realizada a Cúpula Mundial da Alimentação, promovida pela</p><p>Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) com a finalidade de</p><p>estimular a sociedade civil acerca do tema. A FAO passou a envolver-se diretamente na</p><p>promoção do DHAA, por meio de discussões de como realizá-lo. Dois anos depois, em 1999,</p><p>o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU lança o Comentário Geral n.º</p><p>12 em que aborda o DHAA, interpretando o artigo 11 do PIDESC. Ainda em âmbito</p><p>internacional, a FAO lança em 2004 as “Diretrizes Voluntárias em apoio à realização</p><p>progressiva do direito à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar e</p><p>nutricional”, de modo a apoiar os Estados membros na implementação de abordagens baseadas</p><p>nos direitos.</p><p>Internamente, o retorno do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), que</p><p>aconteceu em janeiro de 2003, também representou um grande marco no que diz respeito ao</p><p>monitoramento e avaliação das políticas públicas relacionadas à alimentação, sendo</p><p>reconhecido tanto nacional como internacionalmente. Logo após, em 2006, houve a criação do</p><p>SISAN (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) por meio da Lei Orgânica de</p><p>Segurança Alimentar e Nutricional, ela visava principalmente assegurar o direito adequado à</p><p>alimentação da população brasileira e deu os primeiros passos para o primeiro plano de</p><p>segurança alimentar e nutricional do país. Porém, somente com a emenda constitucional nº 64</p><p>de 2010 a alimentação se tornou um direito social, com o foco do país agora voltado a garantir</p><p>a aplicação desse direito.</p><p>Esse podcast recebeu a colaboração da rádio e TV da Universidade Federal de Sergipe,</p><p>a produção é do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar do Departamento de</p><p>Nutrição, CECANE, da UFS.</p><p>Edição: Victor Santos. Apoio técnico: Roberto Cesar Ramos e Cleiton Calvacante.</p><p>Voz: Silvia Voci.</p><p>Fechamos aqui nossa segunda aula do módulo 2, o próximo podcast será na aula 6. Tchau,</p><p>tchau!</p><p>PODCAST 2.4 (aula 6) - Interligação e a convergência entre SAN, Soberania Alimentar e o</p><p>DHAA e o papel do PNAE para estes elementos de cidadania.</p><p>Olá, eu sou a professora Silvia Voci do CECANE-UFS. Seja bem vindo e bem vinda a</p><p>aula 6 do podcast do curso Garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, realização do Direito</p><p>Humano à Alimentação Adequada e sua exigibilidade no contexto do Programa Nacional de</p><p>Alimentação Escolar.</p><p>A aula da vez é: Interligação e a convergência entre SAN, Soberania Alimentar e o</p><p>DHAA e o papel do PNAE para estes elementos de cidadania.</p><p>Já discutimos em aulas passadas os conceitos tanto de Segurança Alimentar e</p><p>Nutricional quanto do Direito Humano à Alimentação Adequada e de suas respectivas</p><p>importâncias para a criação e manutenção de um país forte. Deixamos por último, porém não</p><p>menos importante, o conceito de soberania</p><p>alimentar e como esses termos se interligam e</p><p>convergem.</p><p>Lembremos: É o Estado por meio de programas e políticas públicas o responsável pela</p><p>garantia da segurança alimentar e nutricional, sempre visando os 4 pontos: respeitar, proteger,</p><p>promover e prover o DHAA. Já entendemos que esse é um direito intrínseco a todos os seres</p><p>humanos. O conceito de soberania alimentar surge como um dos valores complementares da</p><p>SAN, Segurança Alimentar e Nutricional e enquadra-se no artigo nº1 do PIDESC que diz</p><p>respeito ao direito de autodeterminação de todos os povos. A soberania alimentar também</p><p>implica que a população de um país deve ter autonomia protegida durante toda a cadeia</p><p>alimentar (produção ao consumo), ou seja, que os povos possam ter acesso tanto na produção</p><p>quanto ao consumo de gêneros alimentícios que supram suas condições socioeconômicas e</p><p>culturais e necessidades nutricionais.</p><p>Na realidade, o que acontece é que, como o atual modelo de produção acaba sendo</p><p>baseado nos moldes agrícolas do agronegócio industrial, focando principalmente em</p><p>monoculturas e produção em larga escala para exportação, não é dada a devida atenção ao</p><p>mercado nacional. Como exemplo desse processo de crescimento da agroindústria e de seu</p><p>impacto, é possível analisar os números da área de monocultivos, em que se observa que em</p><p>1990 a soja, milho, cana-de-açúcar e algodão, já ocupavam o dobro da área de cultivo de outras</p><p>21 culturas destinadas ao consumo interno juntas. E entre os anos de 1990 e 2008 a diferença</p><p>cresceu 125% para as áreas destinadas ao monocultivo.</p><p>E é justamente nessa brecha deixada pelo agronegócio que entra a importância da</p><p>agricultura familiar. Será ela que irá garantir a soberania alimentar da população, tendo seus</p><p>moldes baseados em propriedades menores, produção diversificada visando o consumo interno</p><p>e valorizando e respeitando a cultura local.</p><p>Nesse aspecto é que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) reforça ainda</p><p>mais sua importância. O PNAE é a política pública mais antiga ainda em atividade no Brasil,</p><p>surgindo na década de 50 e perdurando até os dias atuais, sempre funcionando e se adaptando</p><p>com atualizações na legislação. Em sua reformulação de 2009 com a lei nº 11.947, foram</p><p>incorporados nas diretrizes do programa que o cardápio deveria apresentar uma alimentação</p><p>saudável e que respeitasse a cultura do local onde ela fosse empregada, oferecendo</p><p>oportunidade para o fornecimento desses alimentos serem adquiridos por meio de agricultores</p><p>locais, em uma quantidade que atendesse a um mínimo de 30% do repasse financeiro total das</p><p>escolas, favorecendo, assim, a manutenção de um ecossistema mais culturalmente diverso,</p><p>economicamente positivo e saudável para as populações locais, diversificando a produção e</p><p>apoderando as pessoas, que terão mais escolhas na hora de produzir e consumir seus alimentos.</p><p>Agora vamos falar da interligação do DHAA e SAN no contexto do PNAE.</p><p>O PNAE é uma ação do Estado para prover e promover o Direito Humano à</p><p>Alimentação Adequada, pois o programa fornece uma alimentação saudável e adequada sem</p><p>distinção, de forma universal, para todos os alunos matriculados na rede pública de ensino</p><p>básico (isso é: na creche, na pré-escola, no ensino fundamental, na educação de jovens e adultos,</p><p>e até no ensino médio).</p><p>A alimentação ofertada pelo PNAE deve ser segura e de qualidade, de forma contínua e</p><p>permanente durante os 200 dias letivos, para todos os alunos matriculados, sem nenhum tipo</p><p>de discriminação, seja econômica, psicossocial, cultural. Inclusive os cardápios elaborados</p><p>precisam levar em consideração as especificidades culturais das comunidades indígenas e/ou</p><p>quilombolas, assim como as necessidades alimentares especiais dos alunos. Essas definições</p><p>têm uma relação direta de Segurança Alimentar e Nutricional, a SAN.</p><p>A educação alimentar e nutricional (EAN) é uma estratégia para o alcance da SAN e</p><p>realização do DHAA, uma vez que engloba ações de conhecimento e de prática contínua e</p><p>permanente, promovendo assim a autonomia alimentar. Através da aprendizagem ainda é</p><p>possível estimular práticas alimentares saudáveis no âmbito escolar, sensibilizando os</p><p>estudantes a identificar todo o processo alimentar, para terem autonomia, participação crítica e</p><p>consciente no processo das suas escolhas alimentares.</p><p>Desde 2009 há a obrigatoriedade do uso de 30% dos recursos federais do programa para</p><p>a compra direta da agricultura familiar. Com isso, o programa ampliou seu papel no</p><p>desenvolvimento local, fomentando a agricultura familiar e a produção de alimentos regionais</p><p>e compatíveis com a cultura local, propiciando a geração de renda no campo, melhorando as</p><p>condições de vida dos agricultores familiares. Também permitiu ações de educação para que</p><p>esses agricultores, povos e comunidades tradicionais e indígenas pudessem ser inseridos no</p><p>programa, dando oportunidades iguais a partir da dispensa de licitação e possibilidade de</p><p>realizar compra direta através de chamadas públicas. Por outro lado, aumentou também a</p><p>disponibilidade de alimentos in natura produzidos localmente nos cardápios da alimentação</p><p>escolar, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional dos agricultores e dos escolares.</p><p>No ano de 2020 a Resolução CD/FNDE nº 06/2020 trouxe novas reformulações para os</p><p>cardápios da alimentação escolar, restringindo a presença de alimentos ultraprocessados.</p><p>Nesta perspectiva, o programa promoveu benefícios para o sistema alimentar, atuando</p><p>no processo de valorização da cultura alimentar, sustentabilidade do planeta e promoção da</p><p>alimentação adequada dos estudantes das escolas públicas do Brasil.</p><p>Conseguiu entender? Estes foram apenas alguns aspectos que mostram o porquê o</p><p>PNAE é tão importante e estratégico para a política de segurança alimentar e nutricional, para</p><p>além da distribuição de alimentos dentro da escola.</p><p>Esse podcast é desenvolvido pelo Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição</p><p>Escolar do Departamento de Nutrição (CECANE) da Universidade Federal de Sergipe. Com</p><p>colaboração da ASCOM rádio e TV UFS.</p><p>Edição: Victor Santos. Apoio técnico: Roberto Cesar Ramos. Voz: Silvia Voci.</p><p>Até o módulo 3! Tchau, tchau!</p>