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<p>1</p><p>PRINCÍPIOS TEÓRICOS E CIENTÍFICOS DA</p><p>NEUROPSICOPEDAGOGIA</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de</p><p>empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de</p><p>Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como</p><p>entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua</p><p>formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,</p><p>científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o</p><p>saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>3</p><p>Sumário</p><p>PRINCÍPIOS TEÓRICOS E CIENTÍFICOS DA</p><p>NEUROPSICOPEDAGOGIA .............................................................................. 1</p><p>NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2</p><p>PRINCÍPIOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA ....................................... 4</p><p>METODOLOGIA E INTERVENÇÃO PARA O TRABALHO COM</p><p>PRINCÍPIO NA COLETIVIDADE, POR MEIO DE OFICINAS TEMÁTICAS E</p><p>PROJETO DE TRABALHO ................................................................................ 5</p><p>FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA ............. 8</p><p>A NEUROPSICOPEDAGOGIA .............................................................. 12</p><p>Princípios teóricos e ciêtíficos da Neuropsicopedagogia ....................... 14</p><p>FUNDAMENTOS DA APRENDIZAGEM ............................................... 16</p><p>DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM .......................................... 22</p><p>MARCOS DO DESENVOLVIMENTO .................................................... 26</p><p>Dos 6 aos 8 anos: aprendendo a conviver em grupo ............................ 28</p><p>Dos 9 aos 11 anos: “Sou ou não competente?” .................................... 30</p><p>NEUROCIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO...................................................... 32</p><p>O que é Cérebro? .................................................................................. 32</p><p>O sistema nervoso central ..................................................................... 37</p><p>Tecido nervoso ...................................................................................... 41</p><p>O neurônio ............................................................................................. 41</p><p>Neurotransmissores............................................................................... 44</p><p>AS UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA NA APRENDIZAGEM .......... 48</p><p>REFERÊNCIAS ..................................................................................... 52</p><p>file://///192.168.0.2/v/Pedagogico/SAÚDE%20E%20BEM-ESTAR/NEUROPSICOPEDAGOGIA%20INSTITUCIONAL,%20CLINICA%20E%20HOSPITALAR/PRINCÍPIOS%20TEÓRICOS%20E%20CIENTÍFICOS%20DA%20NEUROPSICOPEDAGOGIA/PRINCÍPIOS%20TEÓRICOS%20E%20CIENTÍFICOS%20DA%20NEUROPSICOPEDAGOGIA.docx%23_Toc147388483</p><p>file://///192.168.0.2/v/Pedagogico/SAÚDE%20E%20BEM-ESTAR/NEUROPSICOPEDAGOGIA%20INSTITUCIONAL,%20CLINICA%20E%20HOSPITALAR/PRINCÍPIOS%20TEÓRICOS%20E%20CIENTÍFICOS%20DA%20NEUROPSICOPEDAGOGIA/PRINCÍPIOS%20TEÓRICOS%20E%20CIENTÍFICOS%20DA%20NEUROPSICOPEDAGOGIA.docx%23_Toc147388483</p><p>4</p><p>PRINCÍPIOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA</p><p>Com a união da neurociências, da psicologia e da pedagogia originou-se</p><p>uma nova ciência transdisciplinar, a Neuropsicopedagogia, cujo objetivo é</p><p>compreender as funções cerebrais para o processo de aprendizagem, com</p><p>intuito na reabilitação e prevenção dos eventuais problemas detectados nos</p><p>indivíduos. Temos o objetivo de analisar e discutir o papel da</p><p>neuropsicopedagogia no processo de ensino e aprendizagem na Educação</p><p>Básica, com uma proposta de implementação desse profissional em todas as</p><p>escolas do país, como ferramenta para a inclusão e sucesso escolar.</p><p>A partir do exame do referencial bibliográfico, constatou-se que o fracasso</p><p>escolar está agregado a inúmeros fatores, como: biológico, social, histórico e</p><p>econômico, a qual influenciam diretamente na aprendizagem dos alunos,</p><p>principalmente daqueles reincidentes com históricos de insucesso escolar.</p><p>Como método, recorreu-se a revisão bibliográfica. Para dar ênfase a essa</p><p>pesquisa, Almeida (2012), Beauclair (2014), Consenza e Guerra (2011),</p><p>Tabaquim (2003), Mantovanini (2001) e Patto (1999), que por sua vez permeiam</p><p>as questões da neurociência, psicologia, pedagogia e do/no/sobre o cotidiano</p><p>escolar respectivamente contribuíram para uma maior compreensão da</p><p>temática.</p><p>Como resultado, ao examinar o arcabouço teórico, percebeu-se que as</p><p>produções de estado da arte ou do conhecimento, ainda permanecem em</p><p>“passos lentos”, o que marcam uma lacuna entre a teoria e a prática sobre a</p><p>temática da neuropsicopedagogia, a falta de políticas públicas e a relação entre</p><p>a saúde e a educação.</p><p>5</p><p>METODOLOGIA E INTERVENÇÃO PARA O TRABALHO</p><p>COM PRINCÍPIO NA COLETIVIDADE, POR MEIO DE OFICINAS</p><p>TEMÁTICAS E PROJETO DE TRABALHO</p><p>A nuance entre a neurociências, a psicologia e a pedagogia vem</p><p>adquirindo espaços cada vez mais significativo no Brasil, a qual originou-se em</p><p>uma nova ciência transdisciplinar. Assim, o Centro Nacional de Ensino Superior,</p><p>criou em 2008, o primeiro curso de Pós-graduação em Neuropsicopedagogia no</p><p>país (SBNPp, 2016), cujo objetivo foi compreender as funções cerebrais para o</p><p>processo de aprendizagem, com intuito na reabilitação e prevenção dos</p><p>eventuais problemas detectados em alunos de escolas no país.</p><p>A partir daí, diversos pesquisadores como: Pedagogos, Psicopedagogos,</p><p>Psicólogos, Neuropsicólogos, Pediatras, Psiquiatras, Fonoaudiólogos,</p><p>Neurolinguistas, Terapeutas Ocupacionais, Fisioterapeutas e Neurocientistas,</p><p>se reuniram diretamente e indiretamente para melhor entender a forma como o</p><p>cérebro se processa nos processos cognitivos e emocionais dos indivíduos. E</p><p>definiram que:</p><p>[...] a neuropsicopedagogia procura reunir e integrar os</p><p>estudos do desenvolvimento, das estruturas, das funções</p><p>e das disfunções do cérebro, ao mesmo tempo que estuda</p><p>os processos psicocognitivos responsáveis pela</p><p>aprendizagem e os processos psicopedagógicos</p><p>responsáveis pelo ensino” (FONSECA, 2014, p.1).</p><p>Desse modo, a neuropsicopedagogia se caracteriza na área de</p><p>conhecimento, voltada principalmente para os processos de ensino e</p><p>aprendizagem, que se compõe na avaliação de indivíduos em defasagem. A</p><p>saber, esses indivíduos não se desenvolvem fora dos contextos históricos,</p><p>sociais, culturais, econômicos e educacionais, e o funcionamento do cérebro é</p><p>justamente uma interação dos impulsos nervosos ao transmitir por meio das</p><p>sinapses a liberação de substâncias químicas chamadas de neurotransmissores</p><p>(RAQUEL ARAUJO, 2010, p.149).</p><p>6</p><p>Para que haja o processo cognitivo do aluno no cotidiano escolar, uma</p><p>ampla inter-relação de desenvolvimento deve agregar-se aos fatores</p><p>psicológicos, biológicos e culturais, esses por sua vez, precisam estar</p><p>sintonizados para alcançar o sucesso escolar dos envolvidos nesse contexto.</p><p>Com isso, o professor no século XXI, tem a difícil tarefa de educar alunos por</p><p>meio do processo de ensino e aprendizagem metódicos e ultrapassados que</p><p>remetem ao fracasso escolar.</p><p>Contudo, é notório que a aprendizagem não é assimilada igualmente</p><p>pelos mesmos alunos da Educação Básica, devido aos fatores genéticos</p><p>dos músculos para organizar os comportamentos</p><p>(KOLB, 2002). Cabe aos neurônios, também, guardar as instruções de nosso</p><p>comportamento, isto é, eles devem codificar as memórias e originar nossos</p><p>pensamentos e emoções.</p><p>Ao mesmo tempo, é necessário regular todos os vários processos do</p><p>organismo com os quais raramente nos preocupamos, como respiração,</p><p>batimentos cardíacos, temperatura corporal e ciclo sono-vigília. Essa é uma</p><p>tarefa difícil, mas aparentemente desempenha com facilidade por estruturas</p><p>pequenas como os neurônios.</p><p>Os neurônios são células altamente excitáveis, que se comunicam entre</p><p>si ou com as células efetuadoras, por meio de modificações no potencial de</p><p>membrana. As cargas elétricas dentro e fora da célula são responsáveis pelo</p><p>estabelecimento de um potencial de membrana (ROTTA, 2006).</p><p>Os neurônios possuem três regiões responsáveis por funções</p><p>especializadas: corpo celular, dendritos e axônio.</p><p>Imagem: 6</p><p>• Corpo celular: é a parte principal da célula nervosa, local onde está</p><p>situado o núcleo, que permitem a elaboração do estímulo elétrico</p><p>43</p><p>ou impulso nervoso em respostas às sensações recebidas por sua</p><p>membrana citoplasmática e seus prolongamentos. No retículo</p><p>endoplasmático rugoso e nos ribossomos são produzidas</p><p>substâncias químicas, os neurotransmissores, elementos ativo nas</p><p>sinapses.</p><p>• Dendritos: são prolongamentos citoplasmáticos curtos, ricamente</p><p>ramificados, que desempenham a função de ampliar a área de</p><p>captação da membrana neuronal dos estímulos nervosos externos</p><p>à célula, para que sejam avaliados no corpo celular. Quanto maior</p><p>a quantidade de dendritos, maior será a coleta de informações,</p><p>permitindo ao corpo celular a elaboração de uma resposta mais</p><p>completa e complexa. Podemos dizer que a “inteligência” de um</p><p>neurônio é proporcional às ramificações (dendritos) que possui,</p><p>pois quanto mais informações forem colhidas, mais precisas serão</p><p>as respostas motoras.</p><p>• Axônio: geralmente único, é a via de resposta, de expressão da</p><p>célula nervosa, servindo como fio condutor para que o estímulo</p><p>elétrico criado no corpo celular como resposta aos estímulos</p><p>recebidos chegue ao destino ou órgão efetor. Para que possa</p><p>desempenhar esta função de condutibilidade deve ser recoberto</p><p>por uma camada varável de substância ricamente gordurosa</p><p>denominada bainha de mielina.</p><p>• Os neurotransmissores produzidos no corpo celular têm que atingir</p><p>as sinapses situadas nas terminações distais dos axônios. Para</p><p>facilitar esse transporte existe inúmeros micro túbulos que se</p><p>originam no corpo celular e percorrem toda a extensão do axônio.</p><p>Sinapses</p><p>A sinapse é a unidade processadora de sinais do sistema nervoso. Trata-</p><p>se da estrutura de contato entre um neurônio e outra célula, através da qual se</p><p>dá a transmissão de mensagens entre as duas. Ao serem transmitidas, as</p><p>mensagens podem ser modificadas no processo de passagem de uma célula</p><p>44</p><p>outra, e é justamente nisso que reside a grande flexibilidade funcional do sistema</p><p>nervoso.</p><p>Os neurônios precisam se comunicar uns com os outros para que as</p><p>informações possam ser transmitidas. É o local onde ocorre a transformação do</p><p>estímulo elétrico (gerado no corpo celular) em estímulo químico, mediada pelos</p><p>neurotransmissores.</p><p>As sinapses podem ser elétricas ou químicas. A transmissão sináptica no</p><p>sistema nervoso humano é química, e a comunicação entre os elementos em</p><p>contato depende da liberação de substâncias químicas, que são os</p><p>neurotransmissores. As sinapses do sistema nervoso central podem ser</p><p>classificadas em duas categorias gerais, com base na morfologia das</p><p>diferenciações das membranas pré e pós-sinápticas. Uma sinapse química</p><p>interneuronal compreende o elemento pré-sináptico, que armazena e libera o</p><p>neurotransmissor; o elemento pós-sináptico, que contém receptores para o</p><p>neurotransmissor e enzimas; e uma fenda sináptica.</p><p>Imagem: 7</p><p>Neurotransmissores</p><p>Quando uma sinapse está ativa e transmite informações, supostamente</p><p>ocorre a fusão das vesículas na terminação pré-sináptica e a membrana pré-</p><p>sináptica libera seu conteúdo de neurotransmissor no espaço sináptico. As</p><p>45</p><p>moléculas transmissoras difundem-se pela estreita fenda sináptica e ligam-se a</p><p>moléculas receptoras químicas específicas na superfície da membrana pós-</p><p>sináptica, o que ativa a célula-alvo pós-sináptica (THOMPSON, 2005).</p><p>O GABA (ácido gama-aminobutírico) é o neurotransmissor inibitório no</p><p>cérebro. Os receptores GABA estão nos corpos celulares do neurônio e detritos.</p><p>Ele desempenha um papel importante na regulação da excitabilidade neuronal</p><p>ao longo de todo o sistema nervoso. Nos seres humanos, o GABA também é</p><p>diretamente responsável pela regulação do tônus muscular.</p><p>Como resultado da falta da regulação da excitabilidade neuronal no</p><p>cérebro, acontecem os distúrbios da aprendizagem, ansiedade, bem como as</p><p>psicoses como a esquizofrenia e a depressão.</p><p>Evidências recentes relatam que a neurose da ansiedade, é um distúrbio</p><p>cerebral de base, por falta do neurotransmissor GABA. Duas formas importantes</p><p>de neurose da ansiedade são as crises de pânico e a ansiedade generalizada.</p><p>No distúrbio do pânico, a pessoa sofre crises repentinas e aterradoras de medo,</p><p>episódicas e de ocorrência imprevisível. Os sintomas de uma crise de pânico são</p><p>pupilas dilatadas, batimento cardíaco rápido, sensações de náusea, desejo de</p><p>urinar, sufocação, tontura e sensação de morte iminente.</p><p>A atividade do sistema nervoso aumenta e o hormônio do estresse,</p><p>cortisol, é liberado. O distúrbio da ansiedade generalizada é uma sensação</p><p>persistente de medo e ansiedade não associados a um fato ou estímulo</p><p>específico (THOMPSON, 2005).</p><p>A dopamina é um neurotransmissor que desempenha um papel</p><p>importante na regulação do movimento. É o sistema que se encontra deficiente</p><p>na doença de Parkinson. Por razões desconhecidas, os neurônios que contêm</p><p>dopamina morrem gradualmente e desaparecem, à medida que a doença</p><p>progride. Os resultados são os sintomas da doença de Parkinson: tremores e</p><p>movimentos repetitivos das mãos, movimento de “rolar a pílula” com os dedos,</p><p>e maior dificuldade para ficar em pé e iniciar os movimentos corporais gerais,</p><p>como andar. O sistema neurotransmissor dopaminérgico parece participar de</p><p>maneira crítica da esquizofrenia.</p><p>46</p><p>As pessoas que sofrem da esquizofrenia perdem o contato com a</p><p>realidade. Elas têm falsas crenças e processos de pensamentos perturbados.</p><p>Muitas vezes te alucinações auditivas, vozes que se dirigem a elas</p><p>pessoalmente e as instruem a fazer coisas. Algumas vezes, podem manter</p><p>conversações ativas e em voz alta (THOMPSON, 2005). Quando a dopamina é</p><p>liberada nas sinapses e liga-se aos receptores dopaminérgicos, ela ativa os</p><p>neurônios que a recebem.</p><p>Imagem: 8</p><p>Algumas de suas funções notáveis estão em: movimento, memória,</p><p>recompensa agradável, comportamento e cognição, atenção, sono, humor e</p><p>aprendizagem. A Dopamina nos lóbulos frontais do cérebro controla a circulação</p><p>da informação de outras áreas do cérebro. As Desordens da dopamina nesta</p><p>região conduzem para diminuir em funções cognitivas especialmente memória,</p><p>atenção, e resolução de problemas.</p><p>A serotonina é um neurotransmissor que é responsável em elevar o</p><p>humor e produzir uma sensação de bem-estar, sua falta no cérebro ou</p><p>anormalidades em seu metabolismo tem sido relacionada a condições</p><p>neuropsíquicas bastante sérias. A falta de serotonina no organismo pode resultar</p><p>em carência de emoção racional, sentimentos de irritabilidade e menos valia,</p><p>crises de choro, alterações do sono e uma série de outros problemas</p><p>emocionais.</p><p>47</p><p>Sem serotonina no organismo, pode causar a depressão. A depressão é</p><p>uma condição que a maioria das pessoas já experimentaram. Às vezes a pessoa</p><p>fica triste, chateada ou melancólica. As pessoas normais ficam tristes</p><p>e</p><p>deprimidas por boas razões: perda do amor de alguém, uma dificuldade</p><p>financeira, etc. Entretanto, a depressão psicótica ocorre sem uma boa razão,</p><p>pelo menos nada que seja aparente a ninguém a não ser para a própria pessoa</p><p>deprimida.</p><p>Os sintomas de depressão psicótica são os mesmos da depressão normal</p><p>e somente um pouco mais. O indivíduo deprimido tipicamente só fica sentado</p><p>num lugar e sente-se infeliz. Ao contrário da esquizofrenia, os processos de</p><p>pensamento são normais, com exceção de sentimentos irracionais ou de</p><p>inutilidade (THOMPSON, 2005).</p><p>48</p><p>AS UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA NA APRENDIZAGEM</p><p>Outra forma de se entender a organização da neuroanatomia da</p><p>aprendizagem é fundamentada no esquema proposto pelo neurologista russo</p><p>Luria. Apesar de cada hemisfério cerebral ter suas peculiaridades, o cérebro</p><p>funciona como um todo, no que se refere à cognição e conduta do indivíduo.</p><p>A base da aprendizagem se localiza nas modificações estruturais e</p><p>funcionais do neurônio e suas conexões. As funções cerebrais são executadas</p><p>por um conjunto de neurônios formando sistemas funcionais. Luria em 1976,</p><p>dividiu os sistemas funcionais em três:</p><p>• Primeira unidade funcional ou de vigília: a principal função é manter</p><p>o estado de alerta do córtex cerebral, controlando o ciclo sono-</p><p>vigília. As estruturas cerebrais envolvidas são a substância</p><p>reticular ascendente e o córtex pré-frontal; neles encontramos</p><p>núcleos colinérgicos, noradrenérgicos, dopaminérgicos e</p><p>serotonérgicos. Como se relaciona com a atenção, a disfunção</p><p>deste sistema leva à distratilidade.</p><p>• Segunda unidade funcional ou de recepção, análise e</p><p>armazenamento: localiza-se no córtex temporal, parietal e</p><p>occipital.</p><p>Podem ser distinguidas áreas primárias, secundárias e terciárias.</p><p>As áreas primárias são aquelas onde terminam as fibras sensitivas que</p><p>vêm do tálamo. No lobo temporal, as áreas 41 e 42 recebem as mensagens</p><p>auditivas; no lobo parietal, nas áreas 3, 1 e 2 se projetam as fibras relacionadas</p><p>à somestesia; no lobo occipital, a área 17 corresponde à área visual.</p><p>49</p><p>Imagem: 9</p><p>As áreas secundárias se localizam junto às primárias. A principal função</p><p>destas áreas é de processar a informação e dar significado, integrando dessa</p><p>forma as percepções e gnosias. No lobo temporal se localiza a área 22, no lobo</p><p>parietal as áreas 5 e 7, e no occipital as áreas 18 e 19.</p><p>As áreas terciárias são de associação entre áreas corticais para</p><p>elaboração de funções complexas; neste processo intervém várias modalidades</p><p>perceptivas onde se alcança o nível simbólico e conceitual, como a linguagem</p><p>oral e escrita, a noção de esquema corporal e a dominância hemisférica. A</p><p>localização no sistema nervoso central não é tão precisa.</p><p>• Terceira unidade funcional de programação, regulação e</p><p>verificação da atividade; está representada pelos lobos frontais,</p><p>que possibilitam a intencionalidade, a planificação e a organização</p><p>da conduta em relação a percepção e ao conhecimento do mundo.</p><p>As unidades funcionais de Luria se referem às funções cognitivas, mas</p><p>não se pode esquecer a afetividade, podendo se incorporar uma quarta unidade</p><p>funcional, localizada no sistema límbico para selecionar os estímulos e a porção</p><p>orbitária do lobo frontal, para planificar a conduta no aspecto afetivo.</p><p>As unidades funcionais do cérebro estão organizadas de forma</p><p>hierárquica. A teoria do desenvolvimento neurológico sequencial leva em conta</p><p>as modificações anatômicas, funcionais e as habilidades intelectuais de</p><p>adaptação da criança. Podemos dividi-la em cinco etapas:</p><p>• Primeira etapa: corresponde ao desenvolvimento da substância</p><p>reticular ascendente. Ela já está em atividade no nascimento, mas</p><p>adquire ação plena aos 12 meses de idade. A lesão desta área leva</p><p>a distúrbios da atenção.</p><p>• Segunda etapa: se relaciona com o desenvolvimento da área</p><p>motora primária e das áreas sensitivas primárias. As áreas</p><p>sensitivas se conectam com as motoras, tornando possível uma</p><p>50</p><p>atividade sensório-motora, que se desenvolve nos dois primeiros</p><p>anos de vida. Corresponde ao período sensório-motor de Piaget.</p><p>• Terceira etapa: corresponde à maturação funcional das áreas</p><p>secundárias. Esta etapa inicia com as anteriores, principalmente</p><p>aos dois anos, mas se estende até os cinco anos.</p><p>Estas áreas recebem informação das primárias e de estruturas</p><p>subcorticais, tornando possível processos motores e perceptuais complexos.</p><p>Nesse período, inicia o desenvolvimento da linguagem e a lateralização dos</p><p>hemisférios cerebrais, o que explica o fato de que lesões cerebrais antes dos</p><p>dois anos de idade levam o desenvolvimento da linguagem e localizar-se no</p><p>hemisfério não dominante. É o período de transição para o pensamento</p><p>representativo de preparação para as operações concretas da teoria de Piaget.</p><p>• Quarta etapa: ocorre com o desenvolvimento das áreas terciárias</p><p>da segunda unidade funcional, localizadas na região parietal,</p><p>permitindo a produção de atividades mentais complexas</p><p>relacionadas com o nível simbólico e conceitual. Coincide com o</p><p>período das operações concretas de Piaget. O máximo de</p><p>desenvolvimento deste sistema funcional acontece entre os 5 e 12</p><p>anos de idade.</p><p>As alterações destas áreas podem levar a disfunção que vão desde</p><p>dificuldades na leitura e em matemática até o retardo mental.</p><p>• Quinta etapa: corresponde ao desenvolvimento das áreas da</p><p>terceira unidade funcional; portanto, da região pré-frontal, que do</p><p>ponto de vista ontogenético e filogenético é a última que se</p><p>desenvolve. Esta área faz conexões com todas as áreas corticais,</p><p>com as estruturas subcorticais, o sistema límbico e o tronco</p><p>encefálico. Há controvérsias quanto ao seu início de</p><p>funcionamento, que poderia ser aos quatro anos ou somente a</p><p>partir da adolescência.</p><p>Esta etapa corresponde ao período das operações concretas de Piaget,</p><p>que inicia aos doze anos de idade.</p><p>51</p><p>Para finalizar, podemos dizer que, segundo a literatura considera que o</p><p>impacto do ambiente, incluindo o social e escolar, é determinado pelo</p><p>desenvolvimento interno, o que abrange a maturação física e anatômica do</p><p>cérebro da criança. Por sua vez, as diferentes formas de influências sociais na</p><p>criança determinam a formação mental das funções e estimulam a maturação</p><p>das estruturas cerebrais. Em outras palavras, a atividade da criança, em</p><p>colaboração do ambiente, leva a um funcionamento do cérebro fortalecido, de</p><p>forma que contribui para uma aprendizagem consolidada.</p><p>52</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABREU, L.C. A, et al. A epistemologia genética de Piaget e o</p><p>construtivismo. Rev. Bras. Cresc. E Desenv. Hum. 2010.</p><p>ALMEIDA, G. P. Plasticidade cerebral e aprendizagem. In: RELVAS, M.</p><p>P.(org.). Que cérebro é esse que chegou à escola?: as bases neurocientíficas</p><p>da aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK, 2012.</p><p>ANTUNES, Celso, Jogos para estimulação das múltiplas inteligências.</p><p>Petropólis: Vozes, 1998.</p><p>ASSENCIO-FERREIRA, V. J. O Que Todo Professor Precisa Saber Sobre</p><p>Neurologia. São José dos Campos: Pulso, 2005.</p><p>BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A.</p><p>Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,</p><p>2002.</p><p>BEAUCLAIR, J. Neuropsicopedagogia: inserções no presente, utopias e</p><p>desejos futuros. Rio de Janeiro: Essence All, 2014.</p><p>BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2003.</p><p>BELSKY, J. Desenvolvimento humano: experienciando o ciclo de vida.</p><p>Trad. Daniel Bueno. Porto Alegre: Artmed, 2010.</p><p>BRASIL. 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É justamente no cotidiano escolar que</p><p>são trabalhados a atenção, a memória, a linguagem, a emoção e cognição, o</p><p>que traz valiosas contribuições para se alcançar a educação plena, dentro e fora</p><p>do ambiente escolar.</p><p>O cérebro é o órgão principal do sistema nervoso e consequentemente o</p><p>responsável pelo controle do corpo e do processo de aprendizagem. Assim, o</p><p>estudo da neurociências por educadores ajudam a evitar o fracasso escolar e</p><p>frustações futuras ao longo da Educação Básica. A saber, a plasticidade neural</p><p>são encarregadas da aprendizagem do indivíduo, ativadas pela área do córtex</p><p>cerebral. Desse modo, educadores ao conhecerem o processo de</p><p>funcionamento do cérebro, se apoderam de uma ferramenta importantíssima no</p><p>processo de ensino e aprendizagem que remetem ao sucesso escolar tão</p><p>almejado no Brasil.</p><p>É notório que a neuropsicopedagogia, tem se apresentado no contexto</p><p>educacional como promissora ao relacionar saberes, que vão desde os mais</p><p>diversos comportamentos, pensamentos, emoções, movimentos e</p><p>principalmente a efetividade, ao fornecer melhorias na qualidade de vida do</p><p>indivíduo. Assim, a função geradora do profissional em neuropsicopedagogia é</p><p>buscar tratamentos efetivos para variados distúrbios, transtornos ou doenças,</p><p>que prejudicam principalmente sonhos de alunos, pais e professores na</p><p>Educação Básica.</p><p>7</p><p>Contudo, para Herculano-Houzel (2004), cabe ao neuropsicopedagogo</p><p>avaliar as necessidades cognitivas do aluno, para que haja uma intervenção</p><p>estimuladora e a possibilidade de entender como se processa o desenvolvimento</p><p>de aprendizagem, com atividades diferenciadas, respeitando o ritmo de</p><p>desenvolvimento de cada aluno no cotidiano escolar. Segundo Lima (2017), ao</p><p>longo da Educação Básica, os processos cognitivos precisam ser analisados em</p><p>todas as concepções, não apenas com os fracassos, ao qual ficam impregnados</p><p>em alguns indivíduos. Mas, como oportunidade dos envolvidos no processo de</p><p>ensino e aprendizagem ao encontrar um víeis, na busca de um ensino de</p><p>qualidade e a realização dos projetos de vida dos alunos.</p><p>Com pouco mais de dez anos de abordagem da neuropsicopedagogia no</p><p>Brasil, observou-se que especialistas estiveram preocupados em redigir</p><p>pesquisas científicas. Porém, ao examinar revistas especializadas, percebeu-se</p><p>que as produções de estado da arte ou do conhecimento, ainda permaneceram</p><p>em “passos lentos”, o que marca uma lacuna entre a teoria e a prática sobre a</p><p>temática da neuropsicopedagogia.</p><p>Pois, diante do exposto encontrar e analisar as pesquisas no cotidiano</p><p>escolar da Educação Básica não é uma tarefa muito fácil, justamente porque</p><p>esse especialista vem buscando espaços em um viés, clínico e institucional</p><p>paralelamente. A partir do exame do referencial teórico, analisou-se que o</p><p>fracasso escolar está agregado a inúmeros fatores, como: biológico, social,</p><p>histórico e econômico, a qual influenciam diretamente na aprendizagem dos</p><p>alunos, principalmente daqueles reincidentes com históricos de insucesso</p><p>escolar.</p><p>Para dar luz a essa pesquisa bibliográfica, recorreu-se ao arcabouço</p><p>teórico de Almeida (2012), Beauclair (2014), Consenza e Guerra (2011),</p><p>Tambaquim (2003), Mantovanini (2001) e Patto (1999), que por sua vez</p><p>permeiam as questões da neurociência, psicologia, pedagogia e cotidiano</p><p>escolar.</p><p>Portanto, temos o objetivo de analisar e discutir o papel da</p><p>neuropsicopedagogia no processo de ensino e aprendizagem na Educação</p><p>8</p><p>Básica, com uma proposta de implementação desse profissional em todas as</p><p>escolas do país devido à importância nesse processo educacional, ratificado</p><p>pelas pesquisas.</p><p>Como método, recorreu-se a revisão bibliográfica a partir de autores que</p><p>examinam e compreendem a neuropsicopedagogia como ferramenta no</p><p>processo de desenvolturas no/do/sobre o cotidiano escolar, em prol do sucesso</p><p>escolar.</p><p>FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA</p><p>Refletindo sobre a relação da neuropsicopedagogia e sua contribuição</p><p>para o desenvolvimento da aprendizagem, ajuda a compreender também outros</p><p>aspectos nesse mesmo contexto como: a neuropsicopedagogia e o</p><p>conhecimento, o desenvolvimento cerebral, o desenvolvimento neuropsicomotor</p><p>e sua influência no processo de aprendizagem e o desenvolvimento da memória.</p><p>Ressaltando que o desenvolvimento da aprendizagem e da memória é um</p><p>processo que ocorre desde o nascimento até a idade adulta. E assim, o</p><p>desenvolvimento humano ocorre durante toda vida e resulta de uma inter-relação</p><p>complexa de fatores biológicos, psicológicos, culturais e ambientais, sendo</p><p>definido com as mudanças na vida de um indivíduo desde a concepção até a</p><p>morte.</p><p>Segundo Antunes (1998), a aprendizagem é uma combinação de 3</p><p>fatores: como você capta as informações - aprendiz visual, auditivo, sinestético</p><p>ou tátil; como você organiza e processa as informações - quer seja ou não com</p><p>dominância cerebral ou ainda, condições para compreendê-la e a armazenar as</p><p>informações que está aprendendo - emocional, social, física e ambiental.</p><p>Além de que é uma importante interface com a Psicologia e Ventura</p><p>(2010) a define do seguinte modo:</p><p>9</p><p>A neurociência compreende o estudo do sistema nervoso</p><p>e suas ligações com toda a fisiologia do organismo,</p><p>incluindo a relação entre cérebro e comportamento. O</p><p>controle neural das funções vegetativas – digestão,</p><p>circulação, respiração, homeostase, temperatura-, das</p><p>funções sensoriais e motoras, da locomoção, reprodução,</p><p>alimentação e ingestão de água, os mecanismos da</p><p>atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e</p><p>comunicação, são temas de estudo da neurociência e da</p><p>neuropsicopedagogia. (VENTURA, 2010, p.123).</p><p>A neurociência pode ajudar muito a todos os indivíduos, contribuindo com</p><p>um olhar especialmente para aqueles com transtornos, síndromes e dificuldades</p><p>de aprendizagem, uma vez que se tem o entendimento da plasticidade cerebral,</p><p>da busca de novos caminhos para a aprendizagem, das múltiplas inteligências</p><p>propostas por Gardner.</p><p>Gardner afirma que a Inteligência não é uma propriedade única da mente</p><p>humana, mas a interação entre as competências diversas – as inteligências.</p><p>Cada competência tem sua própria história de desenvolvimento e é</p><p>relativamente independente das outras.</p><p>Inicialmente este desenvolvimento ocorre apenas ¼ no ventre da mãe,</p><p>pois muito antes do nascimento, o cérebro do bebê começa a funcionar por</p><p>determinação de uma ordem genética, e a forma como os humanos se</p><p>desenvolvem. Mesmo antes de nascer, o sistema nervoso dos bebês</p><p>apresentam funções sensoriais e motoras elementares, como: mover-se</p><p>espontaneamente, reagirem à luz e a sons, demostrando assim, inclusive</p><p>sistema de memória.</p><p>Fora do ventre, é contemplado o desenvolvimento dos ¾ restantes em</p><p>sua relação com o ambiente para aprender, depende, crítica e continuamente,</p><p>da interação entre a herança genética e o meio, a nutrição, o cuidado, a</p><p>estimulação, as oportunidades e os ensinamentos que são oferecidos.</p><p>As partes do cérebro denominadas de tronco encefálico já estão bem</p><p>desenvolvidas ao nascer. Ficam na porção inferior do crânio regulando funções,</p><p>como: sono, vigília, eliminação de urina e fezes. O córtex, que regula funções,</p><p>como: percepção, movimentos corporais, o complexo de linguagem e</p><p>pensamento é a parte do cérebro menos desenvolvida ao nascer. (BEE, 2003).</p><p>10</p><p>Não menos importante no desenvolvimento do sistema nervoso é a</p><p>mielinização. Mielina é uma proteína que reveste cada neurônio, isolando-os do</p><p>contato com outras células nervosas, facilitando a transmissão do pulso nervoso.</p><p>(BELSKY, 2010). O tônus muscular corresponde à capacidade de resistência e</p><p>elasticidade dos músculos. Ao nascer, uma série de mecanismos inatos que lhe</p><p>auxiliarão a lidar com o meio, os</p><p>reflexos. Esses, irão se adaptar mediante as</p><p>interações da criança com o meio ampliando as possibilidades de</p><p>comportamentos.</p><p>Nesse contexto, a neuropsicopedagogia vem contribuindo numa</p><p>perspectiva do conhecimento da gênesis da aprendizagem. Uma das áreas que</p><p>vem abrindo um grande espaço de conhecimento é a Neuropsicopedagogia, que</p><p>no Brasil teve a sua entrada, através do Centro Nacional de Ensino Superior,</p><p>Pesquisa, Extensão, Graduação e Pós Graduação (CENSUPEG) no ano de</p><p>2008, no estado de Santa Catarina.</p><p>Sua primeira descrição no campo científico se deu através de Jennifer</p><p>Delgado Suárez, no artigo intitulado “Desmistificación de la</p><p>neuropsicopedagogia” onde apresentou uma composição histórica da trajetória</p><p>neuropsicopedagógica e ressaltou sua importância para o contexto educativo.</p><p>Fernandez (2010) aponta para três pontos elucidativos da</p><p>Neuropsicopedagogia, abordada por Suárez: 1º Educação; 2º Psicologia e 3º</p><p>Neuropsicologia.</p><p>Educação no intuito de promover a instrução, o treinamento e a educação</p><p>dos cidadãos. A Psicologia com os aspectos psicológicos do indivíduo. E,</p><p>finalmente, a Neuropsicologia com a teoria do cérebro trino, sendo que aqui</p><p>oportunizou a teoria das múltiplas inteligências, propostas por Gardner.</p><p>Conforme as autoras colombianas, a Neuropsicopedagogia traz importantes</p><p>contribuições à educação, pois existe a possibilidade de se perceber o indivíduo</p><p>em sua totalidade. (POHLMANN, 2010).</p><p>É através desse campo que possibilita conhecer o processo de</p><p>aprendizado de cada sujeito, propondo metodologias e estímulos apropriados e</p><p>assim, compreendendo que o aprendizado acontece para todos,</p><p>11</p><p>necessariamente, no entanto, devem-se aplicar os processos metodológicos que</p><p>estimularão de forma a obter respostas positivas.</p><p>Nesse contexto, vale ressaltar que a “Plasticidade é a capacidade</p><p>apresentada pelo sistema nervoso de alterar o funcionamento do sistema motor</p><p>e perceptivo baseado em mudanças no ambiente da conexão, através da</p><p>conexão e (re) conexão das sinapses nervosas, organizando e (re) organizando</p><p>as informações dos estímulos motores e sensitivos” (Relvas, 2005: 69-70)</p><p>De acordo com os estudos de Bear (2002) sobre a Inteligência Humana e</p><p>a Plasticidade Cerebral, não existem limites para o desenvolvimento do ser</p><p>humano. O que chamávamos de deficiência, agora pode ser considerada uma</p><p>mera especulação para padronização da anormalidade.</p><p>Neuropsicopedagogia contribui efetivamente para o conhecimento do</p><p>cérebro humano e a sua relação com a aprendizagem. Segundo Falcão (2005,</p><p>p.54) “o cérebro possui bilhões de neurônios, e cada neurônio pode ter até 100</p><p>mil contatos.”</p><p>Essas áreas de contato entre neurônios através de partículas de sódio,</p><p>potássio, cálcio e cloreto é conhecida como área sináptica onde ocorre a</p><p>sinapse, isto é local onde ocorrem ligações entre neurônios através de impulsos</p><p>nervosos ou eletroquímico chamado de potenciais de ação. (FALCÃO 2005,</p><p>p.54).</p><p>Nessa perspectiva, voltada para uma constante busca de conhecimentos</p><p>sobre os transtornos, síndromes, patologias e distúrbios a qual o indivíduo possa</p><p>estar relacionado, o Neuropsicopedagogo terá condições de identificar nos</p><p>indivíduos tais sintomalogias, procurar identificar quais competências e</p><p>habilidades que tais indivíduos possuem.</p><p>Esse profissional, ao sugerir a intervenção, se fará acompanhada junto</p><p>aos familiares, professores e equipe pedagógicos e demais profissionais que se</p><p>fazem presentes na vida destes indivíduos.</p><p>12</p><p>A NEUROPSICOPEDAGOGIA</p><p>Com as transformações percebidas ao longo dos anos, o campo da</p><p>Neurologia, Psicologia e Pedagogia, áreas que estabeleceram relações com a</p><p>Neurociências, consequentemente tornando-se em Neuropsicopedagogia, tem</p><p>buscado fomentar em estudos e pesquisas em prol das funções desse</p><p>profissional e de indivíduos que sofrem com distúrbios neuronais. Numa visão</p><p>mais abrangente, pode-se dizer que essa união tornou-se em uma ciência que</p><p>analisa o sistema nervoso e sua atuação no comportamento humano, tendo</p><p>como principal enfoque, a aprendizagem por meio da práxis.</p><p>Assim, procura fazer inter-relações entre os estudos das neurociências</p><p>com os conhecimentos da Psicologia Cognitiva e da Pedagogia. As áreas do</p><p>conhecimento que antes agiam independentes uma das outras, começaram a</p><p>fazer relações, denominado neuroeducação, promovendo desta forma a</p><p>identificação, diagnóstico, reabilitação e prevenção frente às dificuldades e</p><p>distúrbios das aprendizagens dos estudantes da Educação Básica.</p><p>Representação de entretenimentos e jogos que promovam a motivação e</p><p>interesse da criança a participar de forma ativa; conter elementos de</p><p>diferenciação que possam prender a atenção da criança durante o processo;</p><p>possibilitar a estimulação das áreas mais comprometidas da criança, utilizando-</p><p>se das mais desenvolvidas a fim de tornar a intervenção mais completa possível;</p><p>eliminação de fatores inibitórios que possam bloquear a estimulação programada</p><p>(PERUZZOLO; COSTA, 2015, p.7).</p><p>Diante do que foi mencionado até o momento sobre a temática é</p><p>fundamental abraçar todas as possibilidades de avanços nas pesquisas sobre a</p><p>aprendizagem, para que a educação na contemporaneidade se torne cada vez</p><p>mais reflexiva e digna de orgulho na sociedade. Sendo assim, percebe-se que a</p><p>neuroeducação pode trazer inúmeras contribuições a todos envolvidos com uma</p><p>educação escolar de qualidade.</p><p>O surgimento deste campo de conhecimento em âmbito escolar, traz</p><p>consigo uma gama de possibilidades, principalmente no que tange educação</p><p>13</p><p>inclusiva, contudo, de fato, precisa ser melhorado dia após dia. Inúmeras ações</p><p>precisam ser tomadas em relação a aprendizagem, políticas públicas, formação</p><p>de professores e apoio psíquico, econômico e social aos familiares em prol dos</p><p>alunos.</p><p>Conforme Cosenza e Guerra (2011, p.139): As neurociências não</p><p>propõem uma nova pedagogia e nem prometem solução para as dificuldades da</p><p>aprendizagem, mas ajudam a fundamentar a prática pedagógica que já se</p><p>realiza com sucesso e orientam ideias para intervenções, demonstrando que</p><p>estratégias de ensino que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a</p><p>ser mais eficientes.</p><p>Em um primeiro momento é necessário reforçar na base da formação dos</p><p>educadores, nos cursos de licenciaturas e manter a formação continuada, pois</p><p>a relação da teoria e prática, deverá ser capaz de trabalhar a individualidade dos</p><p>alunos, nos pontos de fragilidades e dos pontos positivos, e saber agir sobre</p><p>elas. Para Cosenza (2011, p. 136) é de suma importância que: Os avanços das</p><p>neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo ensino-</p><p>aprendizagem, fundamentada na compreensão dos processos cognitivos</p><p>envolvidos.</p><p>Devemos ser cautelosos, ainda que otimistas em relação às contribuições</p><p>recíprocas entre neurociências e educação[...]Descobertas em neurociências</p><p>não autorizam sua aplicação direta e imediata no contexto escolar, pois é preciso</p><p>lembrar que o conhecimento neurocientífico contribui com apenas parte do</p><p>contexto em que ocorre a aprendizagem. Embora ele seja muito importante, é</p><p>mais um fator em uma conjuntura cultural bem mais ampla.</p><p>Extremamente ligada a neurociência, a neuropsicopedagogia busca por</p><p>meio do funcionamento do cérebro, os recursos para a aprendizagem,</p><p>considerando os métodos didáticos e avaliativos uma interferência significativa</p><p>nesse processo. Para compreender basicamente esse órgão, ele é dividido em</p><p>três partes fundamentais: o hipotálamo que é um pequeno órgão que controla as</p><p>funções de sobrevivência, como a fome, a sede, e também o impulso sexual; já</p><p>o sistema límbico, tem a função de prover ao indivíduo as emoções; por fim, o</p><p>14</p><p>córtex que controla os movimentos do corpo, a percepção dos sentidos e o</p><p>pensamento. (BEAR; CONNORS, 2008)</p><p>A maior parte das transformações no cérebro ocorre</p><p>logo nos primeiros</p><p>anos de vida, e é justamente nesse período que a criança aprende os sons,</p><p>coordenação motora, cores, sentimentos, etc. Mas, tudo depende do convívio</p><p>familiar e das questões fisiológicas e biológicas, a qual deve-se levar em</p><p>consideração a faixa etária.</p><p>Por isso, cabe aos pais e professores, estimular as crianças nos primeiros</p><p>anos de vida a pensar, estudar, comunicar, movimentar, memorizar e resolver</p><p>situações problemas do cotidiano, ou seja, as habilidades e competências</p><p>necessárias para a vida adulta. Percebe-se que muitos jovens e adultos não</p><p>estão sendo preparados para essa fase da vida, pois não foram estimulados</p><p>pelos pais e professores, e quando se deparam com situações problemas, não</p><p>conseguem resolver e avançar, transformando-os em jovens e adultos frustrados</p><p>com a vida e com a escola. É de suma importância apontar que a criança é um</p><p>ser social, afetivo, psicomotor e perceptivo, antes mesmo de ser considerado um</p><p>ser aprendiz.</p><p>Sendo assim, deve-se levar em conta os quatros pilares da educação o</p><p>aprender a ser, conviver, fazer e conhecer (DELORS, 2012), visando sempre o</p><p>desenvolvimento humano acima de tudo. Assim, esses quatros pilares</p><p>educacionais, em seu conjunto, como princípio organizador nesse processo de</p><p>construção buscam ampliar as competências e habilidades dos indivíduos ao</p><p>longo de sua história, algo que educadores precisam colocar em pratica</p><p>diariamente.</p><p>Princípios teóricos e ciêtíficos da Neuropsicopedagogia</p><p>Um dos grandes referenciais da mudança educacional da última década</p><p>está pautado nos avanços neurocientíficos, representados pela palavra</p><p>“Neurociências”, que conforme Herculano-Houzel (2004), ainda é uma ciência</p><p>nova, tendo em torno de 150 anos, mas que a partir da década de 90 alcançou</p><p>15</p><p>um maior auge e vem proporcionando mudanças significativas na forma de</p><p>perceber o funcionamento cerebral. Estes avanços ocorreram devido a</p><p>neuroimagem, ou seja, o imageamento do cérebro. As contribuições provindas</p><p>das Neurociências despertaram interesse de vários seguimentos e entre estes a</p><p>Educação, no sentido da maior compreensão de como se processa a</p><p>aprendizagem em cada indivíduo.</p><p>Dentro dessa abordagem, se procurará mostrar o que é Neurociências,</p><p>suas possíveis contribuições para a área educacional, bem como a</p><p>contextualização da Neuropsicopedagogia e sua relação com o processo ensino</p><p>e aprendizagem.</p><p>Tabaquim (2003) destaque que:</p><p>O cérebro é o órgão privilegiado da aprendizagem. Conhecer sua</p><p>estrutura e funcionamento é fundamental na compreensão das</p><p>relações dinâmicas e complexas da aprendizagem. Na busca pela</p><p>compreensão dos processos de aprendizagem e seus distúrbios, é</p><p>necessário considerar os aspectos neuropsicológicos, pois as</p><p>manifestações são, em sua maioria, reflexo de funções alteradas.</p><p>As disfunções podem ocorrer em áreas de input (recepção do</p><p>estímulo), integração (processamento da informação) e output</p><p>(expressão da resposta). O cérebro é o sistema integrador,</p><p>coordenador e regulador entre o meio ambiente e o organismo,</p><p>entre o comportamento e a aprendizagem.</p><p>Uma das áreas que vem abrindo espaço dentro âmbito de conhecimento</p><p>é a Neuropsicopedagogia. Fernandez (2010) afirma que a Neuropsicopedagogia</p><p>traz importantes contribuições à educação, pois existe a possibilidade de se</p><p>perceber o indivíduo em sua totalidade. Para Hennemann (2012) a</p><p>Neuropsicopedagogia apresenta se como um novo campo de conhecimento que</p><p>através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da</p><p>pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-</p><p>aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem e</p><p>que estão inseridos no processo de inclusão.</p><p>Através dos conhecimentos neuropsicopedagógicos existe a</p><p>possibilidade de entender como se processa o desenvolvimento de</p><p>aprendizagem de cada indivíduo, proporcionando-lhe melhoras nas perspectivas</p><p>16</p><p>educacionais e dessa forma desmistificar a ideia de que a aprendizagem não</p><p>ocorre para alguns; na verdade sempre acontecerá a aprendizagem, entretanto</p><p>para uns ela vem acompanhada de muita estimulação, atividades diferenciadas,</p><p>respeitando o ritmo de desenvolvimento do indivíduo.</p><p>FUNDAMENTOS DA APRENDIZAGEM</p><p>Onde se dá aprendizagem? Não restam dúvidas de que o processo da</p><p>aprendizagem se dá no sistema nervoso central (SNC), que é uma estrutura</p><p>complexa.</p><p>No que se refere ao processo de aprendizado, existe uma interface entre</p><p>duas áreas de atuação: a educação e a saúde. Na primeira, agem os</p><p>educadores, orientadores educacionais, pedagogos e psicopedagogos; na</p><p>segunda, atuam pediatras, neurologistas, neuropediatras, psicólogos,</p><p>psiquiatras da infância e adolescência, fonoaudiólogos, psicomotricistas,</p><p>fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, entre outros. A rigor, essa interface</p><p>entre saúde e educação, na qual o assunto é a aprendizagem e seus principais</p><p>problemas, poderia ser denominada neuropedagogia (ROTTA, 2006).</p><p>As informações vindas das neurociências e da área médica, em especial</p><p>da neurologia, são de suma importância para o entendimento do processo da</p><p>aprendizagem e dos seus distúrbios, que em última análise são funções</p><p>corticais. Dentro da abordagem médica, o neuropediatra é o profissional em</p><p>melhores condições para bordar os fundamentos psiconeurológicos do</p><p>aprendizado.</p><p>O processo de aprendizagem é foco constante das pesquisas em</p><p>psicologia, educação e neurociências, a preocupação não envolve apenas como</p><p>se aprende, mas como se ensina também. Os conhecimentos sobre como esses</p><p>dois processos podem ser implementados fazem parte do universo de</p><p>educadores e de estudiosos da área, isto é, que tipo de métodos, estratégias,</p><p>17</p><p>perspectivas e contextos diferenciados, além dos estilos de ensinar e de</p><p>aprender, servem de base para o processo educacional.</p><p>Neste sentido, Coll (2003) enfatiza que as práticas educativas são</p><p>fenômenos complexos, mesmo que aparentemente classificadas como mais</p><p>simples. Doyle, citado por Coll (2003) reafirma o nível de complexidade que é</p><p>inerente aos processos de ensino e aprendizagem, sublinhando que as relações</p><p>professo-aluno se evidenciam pela multidimensionalidade (vários eventos estão</p><p>presentes), simultaneidade (sucessão de tópicos e condições), imediação</p><p>(rapidez que os eventos se sucedem), imprevisibilidade (elementos não</p><p>esperados e não planejados que ocorrem), publicidade (as atividades que</p><p>envolvem os sujeitos da aprendizagem são públicas e reconhecidas), história (há</p><p>uma continuidade das ações e atos pedagógicos relacionados às aulas ou</p><p>situações anteriores). Acrescentam-se ainda, os fatores afetivos, os interativos</p><p>e os de comunicação que interferem no processo ensino-aprendizagem.</p><p>Por essas condições, percebe-se que o conceito de aprendizagem é</p><p>multifacetado, pois ela se inicia pela inserção da pessoa no mundo de relações,</p><p>em que o aprendiz é produto e produtor de conhecimento e de transformações</p><p>em nível cognitivo, afetivo, social e histórico. Marques (2000) ressalta que toda</p><p>aprendizagem tem sentido quando se repercute nas práticas cotidianas dos</p><p>indivíduos e grupos, reconstruindo os seus significados e possibilitando novas</p><p>situações e experiências.</p><p>Fonseca (1995) destaca que a aprendizagem resulta em uma mudança</p><p>de comportamento oriunda da experiência que paralelamente é consolidada no</p><p>próprio cérebro indivíduo. Envolve uma dupla condição: a de assimilação e a de</p><p>conversação do conhecimento que conecta com o controle e mudança no</p><p>ambiente, retratando a experiência humana e sua história.</p><p>Vygotsky (2004) afirma que o ser humano nasceu com uma</p><p>potencialidade de aprender, sendo, então, a condição básica do psiquismo</p><p>humano, afinal a consciência pressupõe uma condição intencional, organizada,</p><p>sistematizada, ilustrando o dinamismo das funções mentais superiores. Na</p><p>perspectiva</p><p>histórico-cultural, aprendizagem se constitui como um processo</p><p>18</p><p>dinâmico da apreensão da experiência humana, sendo sempre mediada pelo</p><p>seu meio físico e social.</p><p>A aprendizagem então deve se antecipar ao desenvolvimento, e para isso</p><p>a mediação de indivíduos mais capazes se faz essencial. Piaget (2001) destaca</p><p>que os processos de equilibração e desequilibração são mecanismos auto</p><p>reguladores que propiciam a interação contínua do sujeito com o seu meio</p><p>ambiente.</p><p>Quando o aprendiz entra em contato com o objeto de conhecimento,</p><p>esses dois mecanismos se alternam, gerando, então, os processos de</p><p>assimilação e acomodação, imprescindíveis à aprendizagem.</p><p>Em síntese, na abordagem piagetiana, o equilíbrio cognitivo depende das</p><p>inter-relações entre a acomodação do conhecimento, nas estruturas de</p><p>pensamentos, e de sua conservação. Assim, se o sujeito apenas assimilasse,</p><p>19</p><p>desenvolveria somente alguns esquemas cognitivos que não permitiriam, então,</p><p>que ele desenvolvesse a capacidade de diferenciação, por exemplo, não</p><p>conseguir distinguir o sentido da palavra manga fruta da manga parte da camisa.</p><p>No caso de ocorrer apenas acomodação, haveria uma restrição significativa no</p><p>tocante aos processos de generalizações imprescindíveis ao aprender, por</p><p>exemplo, a dificuldade em empregar a noção de mamíferos aos animais como</p><p>cachorro, gato, baleia e morcego.</p><p>A abordagem de Wallon (2005) é que o projeto de sociedade define o</p><p>projeto de educação. O objetivo da Educação é formar indivíduos históricos,</p><p>autônomos, democráticos, críticos que possam interferir na sociedade voltada à</p><p>justiça social. E, por isso, os métodos e práticas educacionais devem alternar</p><p>momentos de aprendizagem individual e coletiva. Os processos interativos em</p><p>sala de aula e a forma como o conhecimento é desenvolvido devem atender as</p><p>necessidades no plano motor, afetivo, cognitivo sempre assegurando uma</p><p>unidade entre eles. Por isso, ao selecionar uma atividade, o professor deve</p><p>refletir como ela interfere nesses planos, além de avaliar como ela contribui para</p><p>o desenvolvimento do aluno.</p><p>20</p><p>A aprendizagem é um processo que se direciona do sincretismo à</p><p>diferenciação, devendo, então, os professores estarem atentos e planejarem</p><p>atividades que contemplem essa passagem. Para Wallon (2003), os conflitos</p><p>gerados da relação do sujeito com o seu ambiente dinamizam tanto o processo</p><p>de desenvolvimento quanto os de aprendizagem, porque possibilitam a busca de</p><p>uma maior e melhor diferenciação no que tange a relação eu e outro enquanto</p><p>que os conhecimentos adquiridos promovem as transformações e a evolução da</p><p>pessoa.</p><p>Dessa forma, ao interagir com o conhecimento formal, o indivíduo</p><p>apreende as diferenciações que são oriundas da organização do conhecimento</p><p>pela cultura que, paralelamente, contribuem para que a pessoa possa então</p><p>realiza-la. O aspecto cognitivo entrelaça um conjunto de funções que possibilita</p><p>a aquisição manutenção e ampliação do conhecimento por meio de imagens,</p><p>noções, ideias e representações. Por meio dele, há a integração do passado,</p><p>presente e futuro. Quanto ao primeiro, a condição de rever e reconhecer os fatos,</p><p>21</p><p>o segundo, analisar como eles se programam, e o terceiro, a projeção do futuro</p><p>que implica a possibilidade de transformação deles (ALMEIDA, 2005).</p><p>A aprendizagem se incrementa por meio da interação do aprendiz com o</p><p>seu mundo físico e social, pela mediação dos procedimentos de ensino, pelas</p><p>formas de intervenção no mundo, por meio das diversas linguagens e dos</p><p>conhecimentos elaborados culturalmente, considerando a sua função coletiva, a</p><p>sua organização dentro das suas potencialidades e especificidades em cada</p><p>momento histórico.</p><p>Para Skinner, citado por Carrara (2004), aprendizagem implica em</p><p>mudança de comportamento, o organismo aprende, em relação a sua história e</p><p>sua experiência de vida, frente aos reforços que recebe do ambiente, podendo</p><p>inibir a sua manifestação ou aumenta-la. No entanto, ressalta Coll (2003) que</p><p>nem todas as teorias psicológicas e nem todas as teorias de ensino oferecem</p><p>princípios explicativos, recursos conceituais e metodológicos que possam</p><p>permitir uma análise completa e orientar de maneira ampla as práticas</p><p>educativas. Esse desafio pressupõe, então, uma visão multirreferencial do</p><p>processo educativo, na medida em que o conhecimento interdisciplinar é que</p><p>possibilita a compreensão análise e intervenção do fenômeno educacional, bem</p><p>como assegurar a sua inter-relação. Por isso, os educadores, professores e</p><p>outros interessados em se envolver num fenômeno de tal complexidade devem</p><p>realizar a interlocução das diversas disciplinas educativas, entre as quais</p><p>podemos citar a psicologia da educação, do desenvolvimento, da aprendizagem,</p><p>entre outras.</p><p>Na realidade, o processo ensino-aprendizagem deve ser sempre</p><p>analisado como uma unidade, sobressaindo não apenas a relação de</p><p>conhecimento, mas a interpessoal, professor-aluno e aluno-aluno que estão em</p><p>constante aprendizagem e fomentando o desenvolvimento. Por isso, o processo</p><p>educativo não pode ser compreendido de forma isolada, mas integrando todos</p><p>os seus aspectos (cognitivos, afetivos, sociais, históricos, contextuais), abarcam</p><p>a escolarização e a dialética teoria e prática, como o processo ensino-</p><p>aprendizagem, os métodos de ensino, as formas de avaliação que refletem o</p><p>sistema educacional e seus paradigmas vigentes. A partir desses componentes,</p><p>22</p><p>é que a práxis (a práxis é a ação de aplicar, usar, exercitar uma teoria; é uma</p><p>ação objetiva que, superando e concretizando a crítica social meramente teórica,</p><p>permite ao ser humano construir a si mesmo e o seu mundo, de forma livre e</p><p>autônoma) se conduz, refletindo o momento político, o contexto histórico e o</p><p>social que interferem nas relações professor-aluno, aluno-aluno, escola-família</p><p>e na seleção dos conteúdos e na maneira de implementá-los.</p><p>DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM</p><p>O desenvolvimento humano é um processo extraordinariamente</p><p>complexo que tem início assim que o embrião é concebido. A partir desse</p><p>momento, uma sucessão incontável de eventos transforma uma única estrutura</p><p>celular em um ser humano completo, capaz de pensar, sentir e interagir com o</p><p>mundo a sua volta. Durante essa longa trajetória, observam-se parâmetros –</p><p>também chamados de marcos do desenvolvimento – que, mesmo admitindo</p><p>variações de uma pessoa para outra, permitem uma compreensão global e</p><p>esquematizada desse conjunto de transformações.</p><p>O desenvolvimento humano é basicamente contínuo, podendo alternar-</p><p>se entre momentos de “pico” – em que muitas habilidades são adquiridas em um</p><p>breve período de tempo – e momentos de maior ou menor evolução. Porém, nem</p><p>sempre o desenvolvimento é progressivo.</p><p>23</p><p>Eventualmente a criança pode aparentar ter perdido habilidades que</p><p>havia conquistado e “regredir”. Essa regressão pode ser considerada normal</p><p>quando é temporária e não impede o desenvolvimento de ouras áreas.</p><p>É comum que períodos de regressão normal aconteçam enquanto a</p><p>pessoa está “se preparando” para um momento de pico de desenvolvimento em</p><p>uma determinada área.</p><p>Por exemplo, um pouco antes do estirão de crescimento físico da</p><p>puberdade, é comum que o púber apresente um período de irritabilidade e</p><p>“regressão psicológica”.</p><p>Em algumas ocasiões, entretanto, um jovem pode apresentar o que se</p><p>chama de regressão neurótica, que é caracterizada por isolamento, afastamento</p><p>dos estímulos e interrupção do desenvolvimento de diversas áreas</p><p>simultaneamente. Uma pessoa que demonstra um estado de regressão</p><p>neurótica está em risco e merece atenção, a fim de ser reconduzida ao caminho</p><p>do desenvolvimento normal.</p><p>O desenvolvimento humano é determinado em parte pela bagagem</p><p>genética que o indivíduo</p><p>herda e em parte por influência do ambiente que o</p><p>cerca. Assim, podemos entender que uma criança nasce com uma série de</p><p>potenciais que herdou dos pais e pode desenvolvê-los ou inibi-los de acordo com</p><p>o padrão de estímulos que recebe.</p><p>O desenvolvimento humano é marcado por extraordinárias</p><p>transformações cerebrais. Tais transformações possibilitam a aprendizagem de</p><p>inúmeras habilidades que se desenvolvem Pesquisas na área do</p><p>24</p><p>desenvolvimento têm demonstrado que, apesar de cada um dos marcos</p><p>evolutivo amadurecer de forma independente, o sucesso ou o fracasso de um</p><p>deles pode influenciar na evolução dos demais. Por exemplo, uma criança com</p><p>dificuldades na área cognitiva pode apresentar problemas para fazer amigos</p><p>(desenvolvimento social) ou se controlar (desenvolvimento emocional).</p><p>Diz-se que uma criança apresenta um atraso no desenvolvimento quando,</p><p>por algum motivo, ela não esteja apresentando a maturidade esperada em uma</p><p>ou mais das áreas citadas. Pelo aperfeiçoamento dos sistemas sensoriais,</p><p>motores e das funções cognitivas. Assim, a partir do amadurecimento do</p><p>cérebro, o ser humano torna-se gradativamente mais capaz de centrar sua</p><p>atenção, de compreender e utilizar a linguagem e de formar relacionamentos</p><p>sociais complexos.</p><p>Durante os dois primeiros anos de vida, desenvolvemos bilhões de</p><p>conexões entre os neurônios (chamadas sinapses) ante um mundo cheio de</p><p>novidades, a ponto de um bebê ter um número bem maior dessas conexões do</p><p>que um adulto. Ao longo do tempo, sinapses não utilizadas vão sendo “podadas”,</p><p>enquanto outras vão sendo criadas e reforçadas, gerando redes de</p><p>comunicações neuronais mais concentradas e eficientes. O processo de</p><p>conexão, “posa” e mielinização neuronal está associado a períodos de</p><p>“reorganização” do cérebro que coincidem com momentos de grandes</p><p>aquisições no desenvolvimento.</p><p>Por exemplo, com aproximadamente 2 anos de idade as crianças</p><p>ampliam de maneira impressionante seu vocabulário após um período de</p><p>mielinização rápida das regiões do cérebro envolvidas com a linguagem. Aos 5</p><p>anos, uma criança já tem 90% do volume do cérebro de um adulto. Atingir esse</p><p>volume tão cedo, no entanto, não significa que a maturidade cerebral da criança</p><p>seja igual à de um adulto. Pelo contrário, nessa idade ela é um processo em</p><p>construção que ao longo dos anos permite a aquisição de habilidades conforme</p><p>o amadurecimento de áreas específicas do cérebro. Nesse sentido, acredita-se</p><p>que o processo de maturação siga uma sequência.</p><p>Por exemplo: as regiões frontais do cérebro que determinam as</p><p>chamadas “funções executivas” – ou seja, nossa capacidade de planejamento,</p><p>autocontrole e raciocínio – amadurecem mais tarde do que as áreas mais</p><p>posteriores do cérebro, como as que determinam nossas funções sensório-</p><p>25</p><p>motoras. Esse fenômeno é bastante conveniente para a vida escolar, na qual</p><p>habilidades básicas vão possibilitando aquisições cada vez mais refinadas.</p><p>Imagem: 1</p><p>A figura acima demonstra os lobos cerebrais, as funções e direção do</p><p>amadurecimento cerebral. Todo o processo de desenvolvimento cerebral é</p><p>influenciado pela herança genética da pessoa e pelas experiências de vida pelas</p><p>quais ela passa. Um tema de bastante importância para a compreensão do</p><p>desenvolvimento infantil é a plasticidade cerebral, que é a capacidade que o</p><p>cérebro tem de modificar sua estrutura ante experiências de vida e, assim,</p><p>possibilitar a aprendizagem.</p><p>O cérebro humano apresenta mais plasticidade durante o período pré-</p><p>natal tardio e a primeira infância, porém segue “sendo plástico” ao longo de toda</p><p>a vida, mesmo que com menor maleabilidade. O ambiente escolar é um papel</p><p>26</p><p>decisivo sobre o desenvolvimento cerebral de um individuo, uma vez que boa</p><p>parte do processo de “escultura” do cérebro acontece até o fim da adolescência.</p><p>MARCOS DO DESENVOLVIMENTO</p><p>As brincadeiras de “faz de conta”, que começam entre 2 e os 3 anos, nas</p><p>quais as crianças representam o mundo utilizando a imaginação, fazendo um</p><p>objeto se passar por outro (um galho de árvore passe a ser uma espada, por</p><p>exemplo) e imitando situações do dia a dia, ficam cada vez mais complexas até</p><p>os 4 ou 5 anos, quando passam a ser construídas em conjunto com outras</p><p>crianças. Dramatizações como brincar de casinha, de médico e de super-herói</p><p>são consideradas muito ricas para o desenvolvimento por fortalecerem as</p><p>capacidades cognitivas e socioemocionais.</p><p>O pré-escolar consegue armazenar diversos itens na memória, e a</p><p>capacidade de prestar atenção melhora significativamente em relação aos anos</p><p>anteriores, embora ainda esteja longe do ideal. Uma criança de 5 anos pode ser</p><p>observada assistindo à televisão durante meia hora, mas ainda pode ter</p><p>dificuldade para manter a atenção em tarefas escolares se escuta outras</p><p>crianças brincando do lado de fora da sala de aula.</p><p>A orientação em relação ao tempo e à organização espacial ainda é</p><p>bastante limitada, por isso ficam perguntando a todo momento sobre um passeio</p><p>planejado para a semana seguinte e geralmente não conseguem diferenciar</p><p>direita de esquerda. A busca dos pais ainda é estratégica de resolução de</p><p>problemas mais utilizada. Enquanto na primeira infância a resolução de</p><p>problemas era baseada em tentativas e erros, na préescola a criança usa sua</p><p>capacidade intelectual associada a experiência anteriores para esses fins. Nesse</p><p>momento, ela já pode se utilizar de uma fala interna, dialogando consigo mesma,</p><p>pensando e planejando seu comportamento.</p><p>A grande maioria das crianças de 5 anos já pronuncia corretamente todos</p><p>os sons da língua nativa (fonemas) e apresenta um vocabulário de cerca de 2</p><p>mil palavras. Com isso, interagem de forma mais clara e coerente, fazendo</p><p>27</p><p>perguntas quando querem entender melhor uma coisa ou comunicando suas</p><p>vontades.</p><p>Nessa fase, a maioria já reconhece os números e o alfabeto, e o</p><p>conhecimento dos sons e do nome das letras pode predizer a capacidade da</p><p>criança de se alfabetizar. Nesse sentido, a influência do ambiente familiar nas</p><p>competências linguísticas infantis também está altamente correlacionada ao</p><p>sucesso do processo de leitura e escrita nos primeiros anos escolares.</p><p>As explosões de birra que normalmente ocorriam em resposta a</p><p>frustação, cansaço ou fome, bem como os comportamentos agressivos de</p><p>morder e bater, são menos frequente por volta dos 4 ou 5 anos de idade. Em</p><p>seu lugar, surgem conflitos verbais (discussões), mais calculados e voltados a</p><p>um objetivo. As crianças podem se tornar bastante resistentes em atender aos</p><p>desejos dos pais, passando a confrontá-los com seu próprios desejos. Se, em</p><p>relação aos pais, a agressividade vai se transformando em debate, entre os</p><p>amigos, ela passa a ser canalizada frequentemente para a competição.</p><p>A mudança nesses comportamentos acontece devido à aquisição de uma</p><p>maior habilidade de autocontrole físico, associada a um aumento da</p><p>autoconsciência e da capacidade de verbalizar o que pensa e sente. As mesmas</p><p>capacidades de autoconsciência e autocontrole são muito importantes para o</p><p>amadurecimento emocional. Por meio delas, os pré-escolares tornam-se mais</p><p>seguros e precisos na avaliação de suas emoções, dos comportamentos</p><p>relacionados às suas emoções e da maneira mais apropriada de exibi-las</p><p>socialmente.</p><p>Aprendem, por exemplo, o momento para rir (ao ouvir uma piada) e para</p><p>ficar quieto (se a mãe está no telefone). Este período é marcado pelo surgimento</p><p>das primeiras amizades significativas, que ganham cada vez mais importância</p><p>até que atinja a idade escolar. Compreendendo melhor suas emoções e as</p><p>emoções dos outros, a criança, desenvolve características emocionais mais</p><p>complexas, como o sentimento de simpatia e a empatia, que é a habilidade que</p><p>uma pessoa pode ter de se identificar com as emoções e as preocupações soa</p><p>demais. A empatia é a base para a compaixão</p><p>e o cuidado com os outros, além</p><p>28</p><p>de ser fundamental para que se estabeleçam parâmetros morais adequados,</p><p>como o que é certo ou errado.</p><p>Conceitos de certo e errado, bem e mal já estão se estruturando, bastante</p><p>influenciados pela opinião dos pais e pelo contexto cultural no qual a criança está</p><p>inserida. Regras e leis são vistas como inflexíveis e seguidas pelo medo de</p><p>punição externa, não pelo senso de justiça e da autoconsciência que se</p><p>manifesta posteriormente. Jogos de tabuleiro com regras sistemáticas e claras</p><p>são bastante requisitados nessa idade por reproduzirem a crescente</p><p>necessidade de adequação a regras.</p><p>Dos 6 aos 8 anos: aprendendo a conviver em grupo</p><p>Dos 6 aos 8 anos, com o amadurecimento gradual do lobo frontal do</p><p>cérebro, a criança desenvolve mais autocontrole. Com isso, passa a respeitar</p><p>melhor as regras de convívio social (como ficar sentado na sala de aula) e a</p><p>ampliar seu círculo de amigos (o autocontrole é um trunfo para que se falam</p><p>novas amizades).</p><p>Com a consolidação das habilidades básicas de leitura, escrita e</p><p>aritmética, a criança passa a ter a possibilidade de buscar novos conhecimentos,</p><p>como, por exemplo, explorar sua cultura. Com a evolução do autocontrole entre</p><p>29</p><p>os 6 e aos 8 anos, a maioria das crianças passa a se manter mais atenta em</p><p>sala de aula e a ser capaz de ignorar a maioria dos estímulos distratores.</p><p>Quando a distração acontece, aprendem a redirecionar sua atenção para</p><p>o foco anterior rapidamente. Poder prestar mais atenção possibilita o</p><p>aprendizado de uma série de novas informações e permite que se desenvolva</p><p>um raciocínio crítico sobre as coisas. Além disso, a maior capacidade de</p><p>memorização.</p><p>Com isso, uma criança de 6 a 8 anos, ainda que não consiga memorizar</p><p>várias coisas ao mesmo tempo, passa a conseguir relembrar situações que viveu</p><p>utilizando-se de elementos centrais dos acontecimentos. Por volta dos 7 ou 8</p><p>anos, as criança desenvolvem maior orientação espacial e temporal. Com isso,</p><p>já conseguem distinguir direita de esquerda em si próprias e nos outros e</p><p>lembrar-se do dia do seu aniversário.</p><p>Com essa idade passam a antever melhor e esperar por intervalos curtos</p><p>de tempo, como “esperar 15 minutos para o almoço estar pronto” ou “aguardar</p><p>até amanhã para irmos para a casa da vovó”. Intervalos mais extensos ainda</p><p>podem ser difíceis de assimilar, portanto, quando estabelecemos um</p><p>planejamento a longo prazo para uma criança dessa idade (preparação para um</p><p>trabalho com muita antecedência ou castigos muito duradouro), é possível que</p><p>os resultados não sejam os melhores.</p><p>Capacidades ainda não consolidadas são “portas abertas” para</p><p>estímulos. No caso do estímulo à orientação temporal, podemos utilizar como</p><p>estratégia incentivar a criança a fazer uma pequena “poupança” de moedas e</p><p>registrar seus resultados ao longo do tempo ou plantar um pé de feijão e registrar</p><p>o tempo de seu crescimento. A aquisição de mais autocontrole nesse período</p><p>está associada ao aumento da autorreflexão, ao desenvolvimento da capacidade</p><p>de espera por recompensas e ao controle dos impulsos.</p><p>Enquanto criança muito pequenas tem muita dificuldade de aguardar uma</p><p>possível gratificação, do 6 aos 8 anos, elas aprendem a esperar por uma</p><p>recompensa enquanto se engajam em outra atividade. Em parte, isso é facilitado</p><p>pela observação de colegas que conseguem ter autocontrole, embora essa</p><p>30</p><p>capacidade também varie de acordo com o temperamento de cada criança. A</p><p>fase de alfabetização é um período crucial para o desenvolvimento da</p><p>autoestima.</p><p>Como é nesse momento que as criança começam a se comparar com os</p><p>demais e a receber maior (ou menor) reconhecimento dos professores e de</p><p>outros adultos, a autoestima é posta à prova e, muitas vezes, apresenta uma</p><p>queda se comparada ao seu nível elevado dos anos pré-escolares. A criança</p><p>fica muito sensível a críticas, e é possível que a comparação com os outros a</p><p>faça desistir de atividades que gostava até então, por julgarse incompetente.</p><p>A maturação social evolui à medida que a atenção que antes era devotada</p><p>quase exclusivamente à família passa ser um pouco mais direcionada para os</p><p>amigos. Ao distanciar-se um pouco dos pais, a criança passa a ter uma</p><p>percepção um pouco mais clara de suas qualidades e defeitos e, em última</p><p>instância, de quem ela é.</p><p>Dos 9 aos 11 anos: “Sou ou não competente?”</p><p>Nessa idade, a criança redireciona cada vez mais o foco da atenção de si</p><p>para os outros, passando a compreender que o outro pensa, sente e se comporta</p><p>de maneiras diferentes da sua. “Olhar” para o outro pode levar a comparações e</p><p>submeter a autoestima a um risco maior. Durante esse período, como resultado</p><p>de tudo que foi desenvolvido até então, o jovem passa a se auto definir como</p><p>competente (e, portanto, independente) com relação a seus desafios ou como</p><p>dependente de outras pessoas para enfrenta-los.</p><p>Nessa fase, a capacidade de memória segue aumentando. A criança</p><p>entrando na puberdade é capaz de se lembrar de uma série de coisas</p><p>simultaneamente, seguindo instruções com maior competência e fazendo relatos</p><p>mais ricos em detalhes. Com o raciocínio mais rápido e eficiente, as habilidades</p><p>de resolução de problemas também evoluem.</p><p>31</p><p>O pensamento torna-se mais criativo, e a metacognição, ou “o ato de</p><p>pensar, sobre os próprios pensamentos”, se desenvolve, melhorando muito a</p><p>capacidade crítica em relação às coisas e, portanto, a aprendizagem. A pessoa,</p><p>por meio do autocontrole cognitivo, passa a monitorar melhor pensamentos e</p><p>ações para superar desafios. Mesmos com todos esses avanços, o padrão de</p><p>pensamento segue sendo concreto.</p><p>Com o avanço da atenção e da memória, os jovens seguem expandindo</p><p>seu vocabulário, que chega a aproximadamente 10 mil palavras por volta dos 10</p><p>anos. Ao dialogar, o préadolescente passa a ser mais espontâneo, aprende a</p><p>modificar o tema da conversa e passa a entender palavras e mensagens de</p><p>duplo sentido. No entanto, essas habilidades linguísticas dependerão das</p><p>habilidades intelectuais da pessoa e apresentarão variações de acordo com o</p><p>contexto cultural e o ambiente no qual a criança está inserida.</p><p>Embora emoções mais complexas, como orgulho, vergonha e culpa, já</p><p>sejam conhecidas durante os anos pré-escolares, a consciência dessas</p><p>emoções torna-se mais refinada na pré-adolescência. Com isso, os</p><p>comportamentos que surgem como respostas às emoções sentidas tendem a</p><p>ser mais adequados à medida que as crianças desenvolvem mais maturidade.</p><p>Por exemplo, um menino que antes referia ter raiva dos colegas diante de</p><p>diversas situações, começa, com o tempo, a ter uma compreensão mais correta</p><p>dessas mesmas situações, passando a classifica-las como eventualmente</p><p>causadoras de tristeza ou frustação (até por vezes assumindo a maior parte da</p><p>culpa pelo evento), o que leva a comportamentos mais adequados e resolutivos.</p><p>Dos 9 aos 11 anos, meninos e meninas passam a se comparar em tudo.</p><p>Portanto, usar roupas de marcas conhecidas ou ter um telefone moderno passa</p><p>a ser uma maneira de se auto afirmar. Nessa fase, a autoestima se baseia na</p><p>auto percepção de competência em tarefas, no retorno que os amigos e outras</p><p>pessoas possam oferecer e na identificação com pais, professore ou outros</p><p>adultos próximos. Nesse momento, o grupo de amigos começa a ser tão</p><p>importante quanto a família.</p><p>32</p><p>As amizades são formadas com base na confiança e no prazer mútuo por</p><p>meio de hobbies como esportes ou jogos eletrônicos. As crianças de 9 a 11 anos</p><p>passam a se interessar mais pelos pensamentos e sentimentos alheios, a</p><p>direcionada para pessoas desconhecidas (por exemplo, a vontade de doar</p><p>coisas ou participar de uma festa beneficente).</p><p>Nessa faixa etária, leis e regras são vistas como mais flexíveis ou</p><p>negociáveis e passam a se sustentar pelo senso de justiça e da autoconsciência,</p><p>e não mais pelo medo de punição externa, como ocorria anteriormente. O senso</p><p>de moral e ética, ou seja, a percepção interna do que é certo e errado, passa por</p><p>refinamento a partir do momento em que se adquire melhor compreensão do</p><p>ponto de vista do outro.</p><p>Muitos estudiosos advogam que o desenvolvimento da moral depende de</p><p>aspectos pessoais de desenvolvimento e da instrução dos adultos, que podem</p><p>estimulá-lo por meio de demonstrações de generosidade, altruísmo e prontidão</p><p>para ajudar os outros. Nesse sentido, a percepção que a criança tem sobre o</p><p>que são comportamentos adequados ou não pode variar muito com base na sua</p><p>exposição a comportamentos agressivos ou desviantes.</p><p>NEUROCIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO</p><p>O cérebro e o comportamento são muito diferentes, mas estão ligados. O</p><p>cérebro é um objeto físico, um tecido vivo, um órgão do corpo. O comportamento</p><p>é uma ação, momentaneamente observável, porém passageira. Ainda sim, um</p><p>é responsável pelo outro, e assim por diante. Começamos definindo o cérebro,</p><p>que faz parte do sistema Nervoso Central. Depois o comportamento e sua</p><p>relação com o processo da aprendizagem.</p><p>O que é Cérebro?</p><p>Cérebro é a palavra para tecido encontrado dentro do crânio. O cérebro</p><p>tem duas metades relativamente simétricas, chamadas hemisférios, uma no lado</p><p>33</p><p>esquerdo e outra no lado direito (KOLB, 2002). Apesar da aparente semelhança</p><p>anatômica entre os dois hemisférios, as diferenças funcionais são bem grandes.</p><p>Os hemisférios cerebrais são dois, o esquerdo e o direito, e estão</p><p>separados e ao mesmo tempo unidos por estruturas de conexão. A mais</p><p>importante é chamada corpo caloso. Para as funções mais complexas, tais como</p><p>a linguagem, ambos os hemisférios atuam juntos, mas existe o que chamamos</p><p>de dominância hemisférica, ou seja, um trabalha melhor certos aspectos daquela</p><p>função enquanto que o outro trabalha melhor com outros aspectos da mesma</p><p>função (ROTTA, 2006).</p><p>Imagem: 2</p><p>HEMISFÉRIO ESQUERDO</p><p>1 Em 98% das pessoas se localiza a função da linguagem, fala e escrita;</p><p>2 Os neurotransmissores dominantes são: dopamina e acetilcolina, que</p><p>proporcionam o controle motor fino tanto manual como para a fala;</p><p>3 É responsável pela sintaxe e semântica do idioma;</p><p>4 Permite a compreensão literal das palavras;</p><p>5 Favorece a praticidade nas ações, a ser prático nas atividades e nas</p><p>conclusões;</p><p>34</p><p>6 Permite a interpretação linear e sequencial dos acontecimentos;</p><p>7 Procura por detalhes;</p><p>8 Reduz algo complexo em partes simples;</p><p>9 Classifica e ordena estímulos;</p><p>10 Faz a interpretação e justificação dos acontecimentos;</p><p>11 Realiza a observação focada, dirigida do acontecimento;</p><p>12 Segue um padrão lógico;</p><p>13 É objetivo;</p><p>14 Estima o tempo cronologicamente, hora a hora, dia a dia;</p><p>15 Encara os fatos como verdadeiro ou falso, branco ou preto;</p><p>16 Retém a memória recente;</p><p>17 Tem espírito criativo e “vocação pessimista”.</p><p>HEMISFÉRIO DIREITO</p><p>1-O neurotransmissor dominante é a norepinefrina que estimula a</p><p>percepção de novos estímulos visio-espaciais;</p><p>2-Avalia o contexto, entonação e ritmo da fala (prosódia);</p><p>3-Capta o simbolismo, a metáfora do texto e da fala;</p><p>4-Percebe o humor e a estética do acontecimento;</p><p>5-Permite uma visão holística da situação; 6- Percebe o todo e o padrão</p><p>do acontecimento;</p><p>7-Oferece a percepção de profundidade, reconhecimento do rosto e do</p><p>estado emocional;</p><p>8-Oferece a sensação de antipatia, mesmo imotivada, sem ter certeza da</p><p>razão, do porque;</p><p>9-Avalia o acontecimento de forma global, sem se deter em detalhes;</p><p>10-Segue a intuição;</p><p>11-Estabelece padrões sem seguir um processo etapa por etapa;</p><p>12-É subjetivo;</p><p>13-Vê o tempo como um todo-um projeto, uma carreira;</p><p>14-Pensa positivamente, sem preocupar-se com ideias preconcebidas;</p><p>15-Pergunta-se “porque não?” e quebra as regras.</p><p>35</p><p>A camada externa do cérebro consiste em um tecido pregueado. As</p><p>pregas são chamadas giros. Essa camada externa é conhecida como córtex</p><p>cerebral (chamado simplesmente de córtex). A palavra córtex que significa</p><p>“casca “ em latim, é uma escolha adequada em razão da aparência rugosa do</p><p>córtex e também porque ele recobre a maior parte do restante do encéfalo</p><p>(KOLB, 2002).</p><p>A ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, provoca</p><p>alterações também em outras áreas, pois o cérebro não funciona como regiões</p><p>isoladas. Isto ocorre devido a existência de um grande número de vias de</p><p>associação, precisamente organizadas, atuando nas duas direções</p><p>(ASSENCIO-FERREIRA, 2005). O córtex de cada hemisfério é dividido em</p><p>quatro lobos, denominados a partir dos ossos cranianos localizados acima deles,</p><p>que são: lobo occipital, lobo parietal, lobo temporal e o lobo frontal.</p><p>Imagem: 3</p><p>O lobo occipital realiza a integração visual à partir da recepção do</p><p>estímulos que ocorre nas áreas primárias. Processam os estímulos visuais</p><p>recebidos do exterior, esta região é especializada na visão da cor, do movimento,</p><p>da profundidade e da distância. Depois de passarem por está área, chamada</p><p>36</p><p>área visual primária, as informações são direcionadas para a área de visão</p><p>secundária, onde são comparadas com dados anteriores, permitindo assim que</p><p>o indivíduo identifique, por exemplo, um gato, uma moto ou uma maça. Todo</p><p>aprendizado de conteúdo visual necessita passar pelo lobo occipital.</p><p>O lobo parietal está localizado na região superior do cérebro,</p><p>constituídos por duas subdivisões, a anterior e a posterior. A primeira, também</p><p>chamada de córtex somatossensorial, tem a função de possibilitar a percepção</p><p>de sensações como o tato, a dor e o calor. Por ser a área responsável em receber</p><p>os estímulos obtidos com o ambiente exterior, representa todas as áreas do</p><p>corpo humano. É a zona mais sensível, logo ocupa mais espaço do que a zona</p><p>posterior, uma vez que tem mais dados a serem interpretados, captados pelos</p><p>lábios, língua e garganta. A zona posterior é uma área secundária e que analisa,</p><p>interpreta e integra as informações recebidas pela anterior, que é a zona</p><p>primária, permitindo o indivíduo se localizar no espaço, reconhecer objetos</p><p>através do tato.</p><p>O lobo temporal também é sensitivo e tem várias funções. Esta área está</p><p>envolvida com a vida de relação social, visto que recebe as informações</p><p>auditivas. Quando a área auditiva primária é estimulada, os sons são produzidos</p><p>e enviados à área auditiva secundária, que interage com outras zonas do</p><p>cérebro, atribuindo um significado e assim permitindo ao indivíduo reconhecer</p><p>ao que está ouvindo.</p><p>Imagem: 4</p><p>37</p><p>A área de Wernicke situada no lobo temporal é um processador de sons</p><p>que os reconhece para que sejam interpretados como palavras e sejam</p><p>utilizados, posteriormente, para evocar conceitos. É a área de compreensão da</p><p>linguagem onde as regras gramaticais são utilizadas para elaborar mensagens</p><p>significativas. É também a região que nos permite adquirir novas informações.</p><p>A área de Broca contém um circuito necessário para a formação da</p><p>palavra. Esta área está localizada parcialmente no córtex pré-frontal e</p><p>parcialmente na área pré-motora. É onde ocorre o planejamento dos padrões</p><p>motores para a expressão de palavras individuais.</p><p>O lobo frontal é localizado na parte da frente do cérebro (testa), acontece</p><p>o planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato. Nele</p><p>estão incluídos o córtex motor e o córtex pré-frontal. O córtex motor controla e</p><p>coordena a motricidade voluntária. A aprendizagem motora e os movimentos de</p><p>precisão são executados pelo córtex pré-motor, que fica mais ativa do que o</p><p>restante do cérebro quando se imagina um movimento sem executá-lo. A</p><p>atividade no lobo frontal de um indivíduo aumenta somente quando este se</p><p>depara com uma tarefa difícil em que ele terá que descobrir uma sequência de</p><p>ações que minimize</p><p>o número de manipulações necessárias para resolvê-la. A</p><p>decisão de quais sequências de movimento ativar e em que ordem, além de</p><p>avaliar o resultado, é feito pelo córtex-frontal. Suas funções incluem o</p><p>pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem,</p><p>respostas afetivas capacidade para ligações emocionais, julgamento social,</p><p>vontade e determinação para ação e atenção seletiva.</p><p>O sistema nervoso central</p><p>O sistema nervoso coordena todas as atividades do organismo,</p><p>integrando sensações a respostas motoras, adaptando-o às condições (internas</p><p>ou externas) vigentes no momento, permitindo melhores oportunidades de</p><p>38</p><p>sobrevivência. Isto só é possível graças a estruturas altamente capacitadas nas</p><p>funções de excitabilidade e condutibilidade – as células nervosas ou neurônios.</p><p>O aprendizado não está localizado a um único local no cérebro. Nesse</p><p>evento ocorre uma modificação estrutural do sistema nervoso através dos</p><p>circuitos formados pelas conexões entre os neurônios.</p><p>A compreensão da natureza das mudanças estruturais do cérebro no</p><p>processo da aprendizagem passa pelo conhecimento das características</p><p>bioquímicas e funcionais dos neurônios, das sinapses e dos circuitos formados</p><p>por eles.</p><p>Relvas (2008) desenvolveu um novo olhar dirigido à formação cerebral, a</p><p>fim de refletir melhor sobre as várias maneiras que o cérebro pode se apresentar</p><p>e realizar tarefas. Desta forma, fica mais fácil conversar sobre múltiplas</p><p>eficiências para melhor incluir o sujeito que aprende. Eficiências, tais como:</p><p>• O cérebro individual é o órgão que temos dentro da caixa craniana, é</p><p>“meu” e ninguém “tira”, formado põe várias estruturas anatômicas e</p><p>dividido em regiões, como frontal, parietal, temporal, occipital, cada uma</p><p>com suas especificidades, que vimos anteriormente. É responsável pela</p><p>cognição, memória, tarefas intelectuais, decisões e escolhas;</p><p>• O cérebro social é o responsável pelas relações com o meio, a cultura, a</p><p>sociedade, os conflitos, e todos precisam conviver em harmonia. É claro</p><p>que o cérebro social depende do cérebro individual para realizar tal tarefa</p><p>que é tão árdua e difícil. Ele está representado nas regiões do pré-frontal,</p><p>pois requer atenção e habilidades nas atitudes positivas da</p><p>personalidade;</p><p>• O cérebro motor é representado pelos movimentos do corpo, localiza-se</p><p>na região parietal, e é responsável pelas destrezas e pelos refinamentos</p><p>dessas habilidades. Ele é o conjugado ao cerebelo que nos dá a</p><p>possibilidade de nos tornarmos ereto e bípedes, mantendo, assim, o tônus</p><p>ou a rigidez muscular. Ao entendermos os movimentos dos músculos do</p><p>corpo, compreendemos sua dinâmica e sua multiplicidade. Ao</p><p>compreender a dimensão motora do sujeito, pode-se perceber o quanto é</p><p>39</p><p>importante conhecer a Neurofisiologia muscular, pois, em muitos dos</p><p>casos, alterações nesses comandos aconteceram, trazendo então</p><p>transtornos na locomoção que, muitas vezes, atrapalham ou não a</p><p>aprendizagem. Isto dependerá de como esse sujeito será estimulado para</p><p>realização de suas atividades. O importante é sempre integrar o sujeito</p><p>em sua plenitude biológica, psicológica e social. É necessário que todos</p><p>os aspectos promovam a qualidade de vida e a autonomia dio humano, e</p><p>a acolhida sempre será primordial para o sujeito construir a sua</p><p>autoestima.</p><p>• O cérebro afetivo-emocional – Esse é inseparável e fundamental para a</p><p>realização e a manutenção de nossas vidas. São sistemas que organizam</p><p>as emoções positivas ou negativas, controlando e equilibrando o</p><p>comportamento humano. O córtex frontal tem um papel crucial no</p><p>refreamento da explosão impulsiva, enquanto que o córtex cingulado</p><p>anterior ativa outras regiões para responder ao conflito. As amigdalas</p><p>cerebrais são pequenas porém são importantes porção do cérebro, pois</p><p>estão envolvidas na produção de uma resposta ao medo e a outras</p><p>emoções negativas.</p><p>• O cérebro criativo, inventivo, genial – É esse que nós humanos estamos</p><p>buscando, ou seja, usar todas as potencialidades do hemisfério direito</p><p>para resolver problemas e, por meio dele, expressar melhor os nossos</p><p>desejos, vontades e sentimentos. O fascínio pelas descobertas das</p><p>pesquisas em neurociências aumentou com grande estímulo advindo da</p><p>década do cérebro. O principal ensinamento dessa década é que o</p><p>cérebro tem muito mais capacidade de sofrer modificações do que se</p><p>pensava até alguns anos atrás. Hoje está claro que, antes mesmo, o</p><p>cérebro adulto, o qual se pensava ser imutável, pode ser desse de</p><p>renovação, a partir de algumas áreas com capacidade para gerar novas</p><p>células. Essa possibilidade abre inúmeras portas em pesquisas para o</p><p>estudo de novas drogas com efeito sobre o desenvolvimento do sistema,</p><p>bem como para a utilização de técnicas de reabilitação que usam as</p><p>janelas de oportunidades para o desenvolvimento de determinadas</p><p>funções.</p><p>40</p><p>Outras regiões do Cérebro</p><p>• Hipocampo – Responsável pelos fenômenos da memória de longa</p><p>duração. Quando ocorre lesão nos hipocampos, não há registros de</p><p>experiências vividas. O hipocampo intacto possibilita o indivíduo a lembrar</p><p>e comparar as reações vividas anteriormente, permitindo a melhor opção</p><p>e garantindo, assim, a perpetuação da espécie.</p><p>• Tálamo – Tem como função a reatividade emocional do homem e dos</p><p>animais. O tálamo conecta-se com as estruturas corticais da área pré-</p><p>frontal, com o hipotálamo, com o hipocampo e o giro cingulado.</p><p>• Hipotálamo – Região do sistema límbico mais importante, pois controla o</p><p>comportamento emocional, como várias condições internas do corpo. Por</p><p>exemplo: a temperatura e a vontade de comer e beber são denominadas</p><p>funções neurovegetativas internas do cérebro. O hipotálamo é a via de</p><p>comunicação com todos os níveis do sistema límbico e desempenha</p><p>também o papel das emoções especificamente, sendo que as partes</p><p>laterais parecem ser envolvidas com o prazer, e a raiva encontra-se na</p><p>porção mediana e está ligada ao desprazer e à tendências das</p><p>“gargalhadas incontroláveis”.</p><p>Imagem: 5</p><p>41</p><p>A via dos estímulos emocionais, tomando o hipotálamo como referência,</p><p>ocorre de duas maneiras: os estímulos entram pelos receptores sensoriais,</p><p>passam pelo hipotálamo, vindo sistema límbico (amigdala), e se dirigem às</p><p>glândulas; porém, retornam ao sistema límbico, vindo do próprio hipotálamo para</p><p>os centros límbicos e destes aos núcleos pré-frontais, aumentando, por um</p><p>mecanismo denominado de retroalimentação ou feedback negativo, a</p><p>ansiedade, podendo até chegar a um estado de pânico.</p><p>Tecido nervoso</p><p>O tecido nervoso compreende dois tipos celulares: os neurônios e as</p><p>células gliais ou neuroglia. O neurônio é a unidade fundamental, com a função</p><p>básica de receber, processar e enviar as informações. A neuroglia compreende</p><p>células que ocupam os espaços entre os neurônios, com funções de</p><p>sustentação, revestimento ou isolamento, modulação da atividade neuronal e</p><p>defesa.</p><p>O neurônio</p><p>O neurônio é a unidade funcional do cérebro. Ele recebe informações nos</p><p>dendritos e no corpo celular e envia-as para os outros neurônios e células ao</p><p>longo de seu axônio. Em geral, o axônio divide-se em várias fibras pequenas,</p><p>que acabam em terminações, formando cada uma delas a chamada sinapse com</p><p>outras células.</p><p>A sinapse é a conexão funcional entre a terminação do axônio e outro</p><p>neurônio, e o ponto onde as informações são transmitidas de um neurônio a</p><p>outro. Outro espaço muito pequeno, chamado fenda sináptica, separa a</p><p>terminação do axônio e o corpo celular ou dendrito da célula com a qual se une</p><p>em sinapse (THOMPSON, 2005).</p><p>Como unidades processadoras de informação do cérebro, os neurônios</p><p>precisam desempenhar muitas tarefas. Eles devem adquirir informações a partir</p><p>42</p><p>dos receptores sensoriais, passá-las adiante para outros neurônios e</p><p>desencadear o movimento</p>