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lhe deres: Trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade Nesta parte deste trabalho apresentaremos os resultados das pesquisas que encontramos e relacionaremos as contribuições para o entendimento deste fenômeno. Vale ressaltar o fato de que as contribuições vieram quase que exclusivamente da Psicologia. Em parte, isto foi muito produtivo, pois chamou a atenção para a gravidade das conseqüências sobre o indivíduo, sua saúde e seu emprego e conseguiu atingir grandes repercussões, no entanto, em muitos estudos, este tema ficou preso a buscas de culpados individuais ou atrelado a condições intrínsecas das organizações, ignorando o contexto em que estes atos ocorriam. 1 Assédio moral como processo 1.1 Incidência Há poucos estudos longitudinais sobre assédio moral, a pesquisa de Eriksen-Jensen (2004) mostra que as ocorrência de assédio moral estão aumentando na Dinamarca, pois em 1991 eram uma por semana e em 2001 eram 1 por dia e a tendência de aumento continua. O estudo de Merllié e Paoli (2000) sobre incidência de casos de assédio moral entre os países membros da União Européia concluiu que, em 1999, 8% dos trabalhadores eram vítimas e, em 2000, 9%. Os resultados dos inúmeros estudos empíricos disponíveis atestam que este não é um problema isolado, que afeta apenas uma região ou a que determinados países estariam imunes; sua incidência pode variar dependendo da definição usada, do critério e da metodologia de coleta de dados que são considerados. 64 Um estudo extenso e bastante representativo foi conduzido no começo da década de 1990 por Leymann (SALIN 2003b). Neste trabalho foram entrevistados mais de 2400 trabalhadores suecos, uma amostra representativa de toda população trabalhadora da Suécia, e concluiu-se que 3,5% destes trabalhadores haviam sido assediados nos 12 meses anteriores à pesquisa. A pesquisa de Einarsen e Skogstad (1996) entrevistou quase 8000 trabalhadores noruegueses de diversos setores de atividades e, embora usasse uma metodologia distinta de Leymann, descobriu que 1,2% sentiam que haviam sido assediados semanalmente e 3,4% ocasionalmente nos últimos seis meses. Um extenso estudo, conduzido por Hoel e Cooper no Reino Unido, detectou que um em cada dez empregados havia sofrido situações de assédio moral nos últimos seis meses e que 47% dos empregados haviam testemunhado situações de assédio moral no trabalho. (Hoel e Cooper, 2000) Apresentamos a seguir uma síntese de algumas das pesquisas empíricas realizadas sobre este item. Tabela 2- Comparação dos resultados dos estudos sobre incidência de assédio moral Fonte Compilado pela autora País Ano Incidência (%) Amostra N Referência EUROPA e outros países 2001 9.0% Trabalhadores de 16 países 21500 Merllié, D; Paoli, P. 2000 EUROPA e outros países 2007 5.0% Trabalhadores de 31 países 29766 Parent-Thirion et al 2007 Alemanha 2000 3% Funcionários administrativos 1989 Mackensen von Astfeld, 2000 in Di Martino et al, 2003 Alemanha 2002 3% a 6% ND 1317 Meschkutat et al, 2002 in Di Martino et al, 2003 Áustria 1996 7.80% Funcionários de hospital 368 Niedl, 1996 Áustria 1996 26.60% Funcionário de instituto 63 Niedl, 1996 Bélgica 2002 11.50% Amostra população ND Garcia et al 2002 in Garcia et al, 2005 Bélgica 2006 3% a 20% Funcionários 6175 Notalears, Einarsen, de Witte, Vermunt, 2006 Dinamarca 2001 2% Estudantes 90 Mikkelsen & Einersen 2001 Dinamarca 2001 3% Funcionário de hospital 158 Mikkelsen & Einersen 2001 Dinamarca 2001 4,1% Empregados manufatura 224 Mikkelsen & Einersen 2001 Dinamarca 2001 3,3% Loja de departamento 215 Mikkelsen & Einersen 2001 Dinamarca 2001 2% Trabalhadores 1857 Hogh & Dofradottir, 2001 Espanha 2002 11.5% Amostra população trabalhadora 2410 Pinuel y Zabala, 2002 in Lahoz, 2004 Espanha 2005 12% a 16% ND ND Cisneros I y II in Prieto-Orzango, 2005 Finlândia 1996 10.1% Funcionários públicos 949 Vartia, 1996 Finlândia 1997 3.0% Amostra população 2956 Haapmaniemi e Kinunen, 1997 in Di Martino et al, 2003 Finlândia 2002 11.0% Funcionários de prisão 896 Vartia and Hyyti, 2002 in Di Martino et al, 2003 Finlândia 2001 8.8% Executivos 377 Salin, 2001 Holanda 2001 4.0% Funcionários escritório e produção 427 Hubert et al, 2001 in Di Martino et al, 2003 Holanda 2001 1.0% Funcionários de int. financeira 3011 Hubert et al, 2001 in Di Martino et al, 2003 Holanda 2001 1% a 4.3% Amostra mista 66764 Hubert & van Veldhoven, 2001 Irlanda 2001 7% Amostra aleat. 5252 HSA, 2001 in Di Martino et al, 2003 Irlanda 2000 17% Amostra aleat. 1009 O'Moore, 2000 in Di Martino et al, 2003 Noruega 1994 2.7% Empregados sindicalizados 2215 Einarsen, Raknes & Matthiesen 1994 Noruega 1989 6.0% Enfermeiras 99 Matthiesen, Rakknes & Rhokun, 1989 Noruega 1995 7.0% Trabalhadores 460 Einarsen & Raknes, 1995 Noruega 1996 8.6% 14 amostras diferentes 7986 Einarsen & Skogstad 1996 Noruega 1990 3.0% Enfermeiras 745 Matthiesen, 1990 Portugal 2000 34.0% Empresa multinacional 221 Cowie et al, 2000 in Di Martino et al, 2003 Reino Unido 1997 18% Empregados sindicalizados 761 Unison, 1997 in Rayner, 1999 Reino Unido 1999 38% Funcionários públicos 1100 Quine, 1999 Reino Unido 1997 53% Estudantes 581 Rayner, 1997 in Di Martino et al, 2003 Reino Unido 1999 18% Funcionários públicos 761 UNISON 1997 in Rayner, 1999 Reino Unido 2000 15% Empregados multinacional 386 Cowie et al, 2000 in Di Martino et al, 2003 Reino Unido 2000 10.6% Empregados 70 empresas 5288 Hoel, Cooper, 2000 Reino Unido 2006 13.6% Empregados organizações 1041 Hoel & Giga, 2006 Reino Unido 2003 3.90% Funcionários públicos 288 Conie, Chong, Seigne & Randall 2003 Suécia 1989 4% Trabalhadores de siderúrgica ND Leymann & Tallgren, 1989 in Einarsen & Skogstad, 1996 Suécia 2004 4.1% População 20-34 anos 863 Vaez, Eckberg & laflamme, 2004 Suécia 1996 3.5% Amostra população 2400 Leymann, 1996 Suiça 2002 7.60% Amostra população 3220 Seco, 2002 Brasil 2007 7% ND ND Guimaraes et al., 2007 Canadá 2002 10.9% Funcionários sindicalizados 660 Soares, 2002 Canadá 2005 15% ND ND Ins Estat Quebec, 2004 in Leclerc, 2005 Estados Unidos 2006 9.4% Voluntários 403 Lutgen-Sandvik, Tracy & Alberts, 2006 Estados Unidos 2006 50% Funcionários públicos 868 Hoobler & Swanberg, 2006 Coréia 2005 9.8% Professores 359 Shin, 2005 Austrália 2005 21.9% Professores 296 Shin, 2005 Austrália 2004 42.80% Funcionários de cadeia 158 Knott, 2004 66 Embora os resultados apontem diferenças profundas na incidência de país a país, ou mesmo dentro de um mesmo país, alertamos que é preciso ter cautela ao interpretar estes dados. Isto porque, além das diferenças culturais e geográficas há grandes diferenças metodológicas na maneira de conduzir as pesquisas. Primeiramente, há o problema já citado da falta de uma definição única do que seria assédio moral, além disto, pesquisadores seguiram diferentes estratégias para identificar as vítimas, alguns pesquisadores usam o critério objetivo e outros o critério subjetivo (seriam vítimas apenas aqueles que se considerassem vítimas). Na pesquisa de Prieto-Orzango (2005) 80% das vítimas (segundo um critério objetivo) desconheciam o que era assédio e não se consideravam vítimas. Há também diferenças no entendimento do que deveria ser aceito como duração mínima e freqüência, alterando bastante os índices de ocorrência de assédio moral. A terceira ressalva é que há muita diferença no perfil das amostras usadas, a tabela contida no Anexo 2 deste trabalho detalha o perfil das amostras de alguns estudos . Portanto, as pesquisas apresentam diferenças na composição das amostras, nos tamanhos de amostra, no perfil, nas diferenças culturais e no ano (pode haver evolução). Com isto em mente, podemos notar que as situações de assédio moral podem variar desde 3,5%, no caso da população trabalhadora da Suécia, até 42,8%, no caso dos funcionários