Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Formação 
Econômica do Brasil
Professora Doutora
Ariane Maria Machado de Oliveira
AUTORA
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
●	 Doutora	em	Administração	Estratégica	pela	PUC/PR	(2018).	
●	 Mestre	em	Teoria	Econômica	pela	Universidade	Estadual	de	Maringá	(2005).
●	 Graduada	em	Ciências	Econômicas	 pela	Universidade	Estadual	 de	 Londrina	
(2002).	
●	 Coordenadora	do	curso	a	distância	de	Economia,	Gestão	Financeira	e	Comércio	
Exterior	da	Kroton	Educacional	S/A.
Atua	como	docente	de	Economia/Finanças	há	13	anos.	No	ano	de	2013	foi	Pro-
fessora	Colaboradora	na	Universidade	Tecnológica	Federal	do	Paraná	(Campus	CP).	Por	
dois	 anos	 foi	 coordenadora	dos	Cursos	Superiores	de	Tecnologia	 em	Gestão	Pública	e	
Negócios	Imobiliários	no	NEAD	-	UniCesumar.	Atuou	como	Coordenadora	Geral	e	Coor-
denadora	do	Curso	Superior	de	Tecnologia	em	Processos	Gerenciais	e	Coordenadora	do	
projeto	de	pesquisa	Consultoria	Júnior	na	Faculdade	de	Tecnologia	e	Ciências	do	Norte	do	
Paraná	-	UniFatecie	(2008	-	2011).	
Área	acadêmica	de	atuação:	Economia	e	todas	as	subáreas	e	Administração	Fi-
nanceira/Empresarial.
Link lattes: http://lattes.cnpq.br/7783844445395674
http://lattes.cnpq.br/7783844445395674
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja	muito	bem-vindo(a)!
Prezado(a)	aluno(a),	é	com	 imenso	prazer	que	 lhe	apresento	nosso	material	de	
estudos	da	disciplina	de	Formação	Econômica	do	Brasil.	Ao	longo	desta	apostila	você	terá	
um	contato	profundo	com	conteúdo	de	formação	histórica,	imprescindível	para	que	você,	
enquanto	aluno(a),	construa	uma	base	cultural	indispensável	à	expressão	de	um	posiciona-
mento	reflexivo,	crítico	e	comparativo,	acerca	da	formação	econômica	do	Brasil.	Ao	final	da	
apostila	você	terá	desenvolvido	competências	e	habilidades	que	lhe	permitirão	compreender	
as	diferentes	fases	da	economia	brasileira	e	seu	processo	de	formação	econômica,	desde	a	
economia	colonial,	passando	pela	formação	do	estado	nacional,	pela	economia	escravista,	
pelo	início	da	formação	do	capital	industrial,	até	a		crise	de	1929	e	a	revolução	de	1930.		
	Na	Unidade	I	começaremos	nosso	bate-papo	analisando	o	contexto	mundial	diante	
do	período	chamado	Grandes	Navegações.	Serão	apresentados	a	você	os	principais	as-
pectos	da	empresa	agrícola	no	período	colonial	e	como	essa	obteve	êxito.	O	processo	de	
colonização	e	o	estabelecimento	de	colônias	espanholas	e	portuguesas	serão	debatidos	
no	intuito	de	demonstrar	sua	importância	no	processo	de	ocupação	territorial	brasileiro	e	
suas	consequências	econômicas.	O	processo	de	desenvolvimento	da	indústria	açucareira	
e	o	uso	da	mão-de-obra	escrava	será	também	tema	central	desta	unidade,	para,	por	fim,	
abordarmos	a	pecuária	como	atividade	de	subsistência.
Já	na	Unidade	II	você	irá	saber	mais	sobre	a	expansão	da	colonização.	Primeira-
mente	você	conhecerá	mais	sobre	o	funcionamento	do	sistema	administrativo	na	colônia,	
para,	em	seguida,	compreender	o	processo	de	formação	do	complexo	econômico	nordesti-
no.	Em	seguida	veremos	a	respeito	do	período	chamado	era	do	ouro,	quando	a	descoberta	
de	metais	preciosos	fez	deslocar	o	centro	dinâmico	da	economia	do	nordeste	para	a	região	
centro-sul.	Ainda	nesta	unidade	será	abordado	o	renascimento	da	agricultura	e	o	fim	da	era	
colonial.
Na	sequência,	na	Unidade	 III	 falaremos	a	 respeito	do	processo	de	 transição	da	
economia	escravista	para	a	economia	de	trabalho	assalariado.	O	primeiro	assunto	da	uni-
dade	será	o	chamado	passivo	colonial,	que	 foram	as	dívidas	deixadas	por	Portugal	que	
acabaram	por	gerar	crise	financeira	e	instabilidade	política.	Veremos	então	o	que	levou	ao	
declínio	da	renda	na	primeira	metade	do	Século	XIX,	bem	como	os	problemas	ocasiona-
dos	pela	falta	de	mão-de-obra	e	a	pressão	abolicionista	internacional.	Quanto	à	segunda	
metade	do	século	XIX,	veremos	como	a	transição	para	a	economia	assalariada	levou	a	um	
crescimento	e	à	geração	de	um	fluxo	de	renda.	A	atividade	cafeeira	surge	nessa	unidade,	
como	destaque	no	processo	de	avanço	econômico.
Em	nossa	Unidade	IV	vamos	finalizar	o	conteúdo	dessa	disciplina,	com	aspectos	
da	transição	para	o	sistema	industrial.	Primeiramente,	veremos	como	a	crise	cafeeira	preju-
dicou	o	processo	de	desenvolvimento	da	economia	brasileira	e	quais	foram	os	mecanismos	
de	defesa	adotados.	A	crise	de	1929,	que	levou	ao	período	chamado	de	Grande	Depressão,	
também	será	vista	nesta	unidade.	Por	fim,	veremos	como	se	deu	o	processo	de	transição	
da	economia	brasileira	para	os	primeiros	sinais	de	industrialização.
Com	tudo	isso	que	veremos,	poderemos	interpretar	e	analisar	a	evolução	da	eco-
nomia	brasileira,	centradas	nas	transformações	ocorridas	na	estrutura	econômica	do	país	
entre	o	período	colonial	até	o	final	dos	anos	de	1930.	Convido	você	a	mergulhar	no	processo	
de	formação	da	economia	brasileira,	para	que	possa	compreender	como	chegamos	onde	
estamos	nos	dias	de	hoje.	
Desejo	sucesso	profissional	e	pessoal	para	você.	
Obrigada e bons estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE	I	...................................................................................................... 6
Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das 
Grandes Navegações e Ocupação Territorial
UNIDADE	II	................................................................................................... 27
Expansão da Colonização
UNIDADE	III	.................................................................................................. 52
Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
UNIDADE	IV	.................................................................................................. 70
Economia de Transição para um Sistema Industrial
6
Plano de Estudo:
●	 Grandes	navegações	e	ocupação	territorial	do	continente	americano;
●	 O	processo	de	ocupação	territorial	brasileiro;
●	 Fatores	de	êxito	da	empresa	agrícola;
●	 Colônias	Espanholas	x	Colônias	Portuguesas;
●	 As	Colônias	de	Povoamento	do	Hemisfério	Norte;
●	 Economia	Escravista	de	Agricultura	Tropical;
●	 Capitalização	e	Nível	de	Renda	na	Colônia	Açucareira;
●	 Projeção	da	Economia	Açucareira:	a	Pecuária.
Objetivo de Aprendizagem:
●	 Fornecer	subsídios	necessários	aos	alunos	para	a	montagem	de	um	referencial	
teórico-histórico	sobre	a	evolução	das	forças	capitalistas	na	formação	
socioeconômica	brasileira	até	o	período	de	predominância	do	capitalismo	industrial.
UNIDADE I
Contextualização Mundial – O Mundo 
Durante o Período das Grandes 
Navegações e Ocupação Territorial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
7UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
INTRODUÇÃO
Olá,	caro(a)	aluno(a)!	Dando	início	a	nossa	primeira	unidade	da	disciplina	de	Forma-
ção	Econômica	do	Brasil,	abordaremos	questões	que	nos	levem	a	compreender	o	mundo	
durante	o	período	das	grandes	navegações	e	como	se	deram	as	ocupações	territoriais.	As	
grandes	viagens	marítimas	feitas	pelos	europeus,	no	final	do	século	XV,	nos	despertam	in-
teresse	e	curiosidade	quanto	aos	métodos	e	desafios	enfrentados	pelos	navegadores,	que,	
mesmo	com	pouca	tecnologia	e	ferramentas	ainda	primitivas,	enfrentaram	o	mar,	ainda	em	
parte	desconhecido,	movidos	por	questões	econômicas,	políticas,	religiosas	e	até	mesmo	
pelo	fascínio	que	ele	despertava.	
Além	de	abordarmos	alguns	aspectos	do	período	das	grandes	navegações,	vamos	
buscar	compreender	como	se	deu	o	processo	de	povoamento	do	hemisfério	norte,	pas-
sando	pelas	colônias	espanholas	e	portuguesas,	pelo	período	da	economia	escravista	de	
agricultura	tropical,	pelo	processo	de	capitalização	e	nível	de	renda	na	colônia	açucareira	e	
sua	projeção	até	a	pecuária.
A	primeira	unidade	apresentará,	então,	 inicialmente	uma	análise	do	período	que	
vai	do	pré-colonial	a	meados	do	século	XVI,	abordando	o	processo	de	ocupação	territorial	
das	Américas	em	busca	de	compreender	como	se	deu	a	evolução	econômica	do	Brasil	
pré-colonial	ao	período	colonial.	Em	seguida,	poderemos	constatar,ao	longo	da	unidade,	
que	o	início	do	período	colonial	foi	marcado	pelo	estabelecimento	de	colônias	portuguesas	
de	exploração,	que	tiveram	o	açúcar	como	principal	produto	durante	décadas,	e	mão-de-
-obra	escrava.	Por	fim,	buscaremos	compreender	de	que	maneira	a	 indústria	açucareira	
influenciou	no	surgimento	da	pecuária.
Na	próxima	unidade	exploraremos	a	expansão	da	colonização,	abordando	o	sis-
tema	político	e	administrativo	na	 colônia,	 formação	do	 complexo	econômico	nordestino,	
a	mineração	e	a	ocupação	no	centro-sul,	o	renascimento	da	agricultura	até	o	fim	da	era	
colonial,	em	1822.	Nas	duas	últimas	unidades	do	livro,	estudaremos,	então,	a	economia	de	
transição	para	o	trabalho	assalariado,	bem	como	para	o	sistema	industrial.
8UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1 GRANDES NAVEGAÇÕES E	A OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO CONTINENTE AME-
RICANO
Monarcas	e	nobres	competiam	por	poder	e	recursos	na	Europa	do	século	XV.	Uma	
sociedade	com	pouca	oferta	de	mão	de	obra,	que	ainda	sofria	perturbações	econômicas	e	
sociais	causadas	pelas	devastações	da	Peste	Negra.	Ao	mesmo	tempo,	tratava-se	de	uma	
sociedade	que	tinha	desejo	por	objetos	de	luxo,	iguarias	exóticas	e	de	ouro	que	permitisse	
comprar	esses	artigos	do	Oriente	com	quem	ela	tinha	um	saldo	comercial	permanentemen-
te	desfavorável	(ELLIOT,	2004).	O	autor	destaca	ainda	que	a	sociedade	europeia	se	sentia	
ameaçada	 em	 suas	 fronteiras	 orientais	 pela	 presença	 hostil	 do	 Islã	 e	 pelo	 avanço	 dos	
turcos	otomanos.	Com	o	incremento	do	comércio	interno	durante	o	século	XV	e	as	invasões	
Otomanas	dificultando	em	certa	parte	o	fluxo	de	mercadorias	do	Oriente,	restou	às	nações	
europeias	buscar	novas	fronteiras	para	seu	desenvolvimento	econômico.	
O	desenvolvimento	de	novas	 técnicas	de	cartografia	e	o	surgimento	da	bússola	
forneceram	 aos	 navegadores	 ferramentas	 que	 possibilitaram	 a	 exploração	 do	Atlântico.	
Segundo	Koshiba	&	Pereira	(1996),	instrumentos	de	navegação,	como	embarcações	mais	
resistentes	e	modernas,	a	ampulheta,	a	balestilha,	o	astrolábio,	a	bússola,	o	quadrante	etc.,	
há	muito	tempo	conhecidos	no	oriente,	foram,	nesse	período,	bastante	divulgados	entre	os	
europeus	e	aperfeiçoados	por	eles.
Esse	período	ficou	conhecido	como	Expansão	Comercial	Europeia	e	deu	início	às	
grandes	navegações.	Países	como	Portugal	e	Espanha	se	lançaram	ao	mar	em	busca	de	
9UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
novas	riquezas	e	nesse	processo	descobriram	as	Américas.	Segundo	Di	Carlo	(2015),	tal	
feito	acabou	inserindo	o	reino	espanhol	no	processo	de	expansão	marítimo-comercial	que,	
desde	o	início	daquele	século,	já	havia	propiciado	significativas	conquistas	para	o	Império	
português	ao	longo	de	todo	século	XV.
O	clima	de	disputa	entre	portugueses	e	espanhóis	se	acirrou	com	a	ascensão	dos	
espanhóis	na	exploração	de	novas	terras.	Nesse	contexto,	o	papa	Alexandre	VI	assinou,	
em	1493,	a	Bula	Inter	Coetera,	que	buscava	estabelecer	os	limites	de	exploração	colonial	
entre	as	duas	nações,	evitando,	assim,	um	conflito	de	maiores	proporções.	Segundo	Pinto	
(1979),	Portugal	buscava	garantir	primeiramente	seu	monopólio	na	costa	africana	e	a	Es-
panha	preocupava-se	em	legitimar	a	exploração	nas	terras	localizadas	a	oeste.	
No	ano	de	1494,	o	rei	português	Dom	João	II	exigiu	a	revisão	do	primeiro	acordo	
assinado	pelo	papa	Alexandre	VI,	pois,	segundo	ele,	tal	divisão	não	satisfazia	os	interesses	
lusitanos.	Alguns	historiadores	 relatam	que	havia	 fortes	 indícios	de	que	os	portugueses	
tinham	conhecimento	de	outras	terras	localizadas	na	porção	sul	do	continente	descoberto,	
o	que	veio	a	ser	confirmado	por	documentos	encontrados	séculos	mais	tarde.	Para	evitar	
o	desgaste	de	um	conflito	militar,	os	espanhóis	aceitaram	a	revisão	dos	acordos	com	uma	
nova	intermediação	do	papa.	
Pouco	tempo	depois	do	Tratado	de	Tordesilhas	(1494)	ser	assinado,	nações	eu-
ropeias	 incipientes	 no	 processo	 de	 expansão	marítima,	 questionavam	 sua	 legitimidade,	
por	ser	um	acordo	 restrito	aos	países	 ibéricos	 (Portugal	e	Espanha).	O	sucesso	de	na-
vegadores	 como	Cristóvão	Colombo	 e	Pedro	Álvares	Cabral	 forneceu	 as	 duas	 nações,	
Portugal	e	Espanha,	terras	a	serem	exploradas.	A	descoberta	das	novas	terras	não	gerou,	
no	entanto,	uma	ação	imediata	das	duas	nações	no	intuito	de	colonizar	os	territórios,	os	
portugueses,	por	exemplo,	não	ocuparam	imediatamente	o	extenso	território	de	que	tinham	
tomado	posse.	
Segundo	 Prado	 Júnior	 (1981),	 até	 quase	 meados	 do	 século	 XVI,	 portugueses	
e	 franceses	 traficavam	ativamente	na	 costa	brasileira	 o	 pau-brasil.	Era	uma	exploração	
rudimentar	que	não	deixou	 traços	apreciáveis,	a	não	ser	na	destruição	 impiedosa	e	em	
larga	escala	das	florestas	nativas	de	onde	se	extraía	a	preciosa	madeira.	Não	se	criaram	
estabelecimentos	 fixos	 e	 definitivos.	 Limitaram-se	 a	 organizar	 algumas	 expedições	 e	 a	
erguer	 construções	 precárias	 em	alguns	 pontos	 do	 litoral,	 as	 feitorias,	 para	 organizar	 a	
extração	e	o	embarque	de	pau-brasil	para	a	Europa	(BERNAND;	GRUZINSKI,	1997).	Este	
foi	o	primeiro	produto	explorado	em	nosso	território.
10UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
Para	darmos	sequência	ao	nosso	estudo,	é	importante	que	você	compreenda	como	
se	deu	o	processo	de	evolução	da	economia	brasileira,	analisando	a	Tabela	1.
Tabela 1 -	Períodos	da	história	do	Brasil	e	principais	produtos	produzidos
Fonte:	a	autora.
A	partir	da	Tabela	1	você	pode	compreender	a	cronologia	dos	fatos	associando-a	
à	evolução	histórica	econômica	do	Brasil.	A	tabela	apresenta	os	principais	fatos	e	produtos	
explorados	desde	o	período	pré-colonial	até	o	período	republicano.	Em	especial	até	a	era	
do	café,	cuja	crise	se	deu	em	meados	dos	anos	de	1930.	
1.1 Processo de Ocupação Territorial Brasileiro
Segundo	Furtado	(2007),	o	início	da	ocupação	econômica	do	território	brasileiro	é	
em	boa	medida	uma	consequência	da	pressão	política	exercida	sobre	Portugal	e	Espanha	
pelas	 demais	 nações	 europeias.	 	A	 França,	 por	 exemplo,	 organizava	 suas	 expedições	
marítimas	ao	Brasil	 como	 forma	de	questionar	o	Tratado	de	Tordesilhas,	 argumentando	
que	a	legitimação	da	exploração	colonial	deveria	se	basear	no	princípio	da	posse	útil,	ou	
seja,	que	as	terras	deveriam	estar	sendo	exploradas	economicamente.	A	ocupação	se	fazia	
necessária,	portanto,	para	garantir	a	posse	e	a	questão	econômica	passou	a	ter	também	
caráter	político.	
Os	espanhóis	eram	capazes	de	financiar	a	defesa	de	 tais	áreas	com	o	sucesso	
da	 exploração	 de	metais	 preciosos	 nos	 novos	 territórios	 descobertos	 e	 a	Portugal,	 que	
ainda	não	havia	encontrado	metais	preciosos	em	suas	terras,	restou	buscar	alternativa	à	
mineração	e	através	da	exploração	agrícola	 fomentar	a	defesa	de	seus	 territórios.	Para	
11UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
executar	tal	plano,	Portugal	envia	ao	Brasil	Martim	Afonso	de	Sousa,	para	fundar	a	primeira	
colônia	de	exploração,	em	1530.
Para	proteger	a	extensa	costa	brasileira	de	outros	povos	europeus	que	desembarca-
vam	no	Brasil,	a	coroa	portuguesa	implantou,	em	1534,	o	sistema	de	capitanias	hereditárias.	
Para	Prado	Júnior	(1981),	o	plano,	em	suas	linhas	gerais,	consistia	no	seguinte:	dividiu-se	
a	costa	brasileira	 (o	 interior,	 por	enquanto,	era	para	 todos	os	efeitos	desconhecido)	em	
doze	setores	lineares,	com	extensões	que	variavam	entre	30	e	100	léguas.	Tratava-se	de	
um	sistema	no	qual	as	terras	eram	cedidas	a	donatários,	pessoas	de	confiança	do	rei	de	
Portugal,	que	se	comprometiam	a	povoar	a	terra	com	portugueses	e	fomentar	a	atividade	
econômica.
Mesgravis	(2015)	destaca	que	as	obrigações	e	direitos	dos	donatários	para	com	
a	Coroa	estavam	definidos	emum	documento	chamado	Regimento,	que	acompanhava	a	
Carta	de	Doação	assinada	pelo	rei.	Tal	documento	preservava	os	privilégios	do	rei,	ou	seja,	
a	Coroa	mantinha	a	autoridade	final	sobre	todos	os	assuntos	coloniais	e	o	donatário	tinha	
obrigações	militares	e	econômicas.
REFLITA
Você	sabia	que	nesse	sistema,	os	donatários	podiam	distribuir	lotes	de	terras	denomina-
dos	sesmarias,	criar	vilas,	cobrar	tributos	e	escravizar	indígenas?	Em	troca	eram	obriga-
dos	a	pagar	ao	governo	português	um	décimo	de	tudo	o	que	produzissem	e	ganhassem.	
Na	realidade,	as	capitanias	pertenciam	ao	rei	e	não	aos	donatários,	porém	eram	heredi-
tárias,	pois	passavam	de	pai	para	filho.
Fonte:	a	autora.
https://escola.britannica.com.br/artigo/tributo/482640
12UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
Segundo	Nieuhof	(1981),	eram	15	capitanias	em	que	o	território	brasileiro	foi	dividido	
e	que	foram	doadas	para	12	donatários,	sendo	que	alguns	receberam	mais	de	uma.	Eram	
elas:	Maranhão	(dois	quinhões,	isto	é,	duas	porções),	Ceará,	Rio	Grande,	Itamaracá	(mais	
tarde	 recriada	com	o	nome	de	Paraíba),	Pernambuco,	Baía	de	Todos-os-Santos,	 Ilhéus,	
Porto	Seguro,	Espírito	Santo,	São	Tomé,	São	Vicente	(dois	quinhões,	um	dos	quais,	mais	
tarde,	 foi	 rebatizado	como	Rio	de	Janeiro),	Santo	Amaro	e	Santana.	Podemos	observar	
tal	divisão	por	meio	da	Figura	1,	que	apresenta	as	capitanias	definidas	a	partir	da	 linha	
imaginária	do	tratado	de	Tordesilhas.
Figura 1 –	Capitanias	Hereditárias	do	Brasil
Fonte:	Cintra	(2013).
Historiadores	destacam	alguns	dos	obstáculos	ao	sistema	de	capitanias	hereditárias	
que	levaram	a	seu	fracasso.	Mattos,	Innocentini	e	Benelli (2012)	citam	que	a	maioria	dos	
donatários	não	tinham	recursos	para	investimentos,	e	alguns	não	demonstravam	interesse	
em	ocupar	suas	terras.	Outro	fator	levado	em	conta	era	a	distância	entre	a	colônia	e	a	me-
trópole	portuguesa,	que	dificultava	o	transporte	de	pessoas	para	a	povoação	dos	territórios.	
13UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
A	falta	de	produtos	de	abastecimento,	o	clima	e	os	frequentes	ataques	indígenas	reagindo	
contra	a	escravização	e	a	invasão	de	suas	terras	dificultavam	ainda	mais	o	desenvolvimento	
das	capitanias	hereditárias.
Segundo	Mattos,	Innocentini	e	Benelli (2012),	apenas	as	capitanias	de	Pernambu-
co	e	de	São	Vicente	se	firmaram,	com	a	produção	açucareira	e	a	criação	de	gado,	e	nelas	
foram	fundados	povoados.	Estabelecida	em	1532	por	Martim	Afonso	de	Sousa,	dois	anos	
antes	até	de	a	capitania	ser	criada	e	ele	se	tornar	seu	donatário,	São	Vicente	foi	a	primeira	
cidade	fundada	no	Brasil.
Ao	constatarem	que	o	sistema	de	capitanias	não	estava	alcançando	seu	propósito,	
em	 1549	Portugal	 implanta	 uma	 outra	 forma	 de	 governo,	 que	 centralizava	 as	 decisões	
políticas	e	econômicas.	No	chamado	governo-geral	a	coroa	portuguesa	passa,	então,	a	
retomar	o	controle	sobre	as	capitanias,	dando	origem	às	províncias,	que	passaram	a	cons-
tituir	os	atuais	estados	brasileiros.
https://escola.britannica.com.br/artigo/cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar/483152
https://escola.britannica.com.br/artigo/gado/480928
https://escola.britannica.com.br/artigo/Martim-Afonso-de-Sousa/483570
14UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1.2 Fatores do Êxito da Empresa Agrícola
Quase	30	anos	após	a	descoberta	de	Pedro	Álvares	Cabral	o	Brasil	ainda	desper-
tava	pouco	interesse	em	Portugal,	que	se	concentrava	no	comércio	de	especiarias	vindas	
da	Índia.	A	redução	do	comércio	com	as	Índias	coincidiu	com	os	ataques	que	passaram	a	
acontecer	na	costa	Brasil.	O	surgimento	da	empresa	agrícola	açucareira	vem	da	necessida-
de	de	Portugal	financiar	a	defesa	dos	novos	territórios.	Ao	contrário	da	Espanha	que	obteve	
resultados	imediatos	com	o	ouro	e	a	prata,	Portugal	dependia	do	sucesso	das	empresas	
coloniais	para	a	ocupação	e	financiamento	da	defesa	das	áreas.	Os	 fatores	de	sucesso	
estão	relacionados	com	uma	grande	demanda	por	açúcar	vindo	da	Europa,	e	parcerias	com	
nações	como	Holanda,	que	dominavam	toda	navegação	comercial	da	época.
Segundo	Furtado	(2007),	um	conjunto	de	fatores	particularmente	favoráveis	tomou	
possível	o	êxito	dessa	primeira	grande	empresa	colonial	agrícola	europeia.	Os	portugueses	
haviam	já	iniciado	há	algumas	dezenas	de	anos	a	produção,	em	escala	relativamente	gran-
de,	nas	ilhas	do	Atlântico,	de	uma	das	especiarias	mais	apreciadas	no	mercado	europeu:	
o	açúcar.	Essa	experiência	resultou	ser	de	enorme	importância,	pois,	além	de	permitir	a	
solução	dos	problemas	técnicos	relacionados	com	a	produção	do	açúcar,	fomentou	o	de-
senvolvimento,	em	Portugal,	da	indústria	de	equipamentos	para	os	engenhos	açucareiros.	
Esse	conhecimento	foi	preponderante	para	a	montagem	dos	novos	engenhos	na	colônia,	
bem	como	para	a	produção	de	todo	o	maquinário	necessário.
15UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
	É	 importante	 salientar	 que	os	esforços	 iniciais	 da	 coroa	portuguesa	 foram	pre-
ponderantes	para	o	sucesso	da	empresa	agrícola.	Portugal	 reconhecia	que	a	ocupação	
e	 torná-los	viáveis	economicamente	eram	as	únicas	maneiras	de	garantir	 tais	 territórios.	
Outro	 fator	que	deve	ser	observado	é	a	exploração	de	escravos,	no	princípio	nativos	e	
posteriormente	vindos	da	África,	que	forneceram	a	mão-de-obra	para	os	engenhos	e	que,	
sendo	não	remunerada,	viabilizava	e	aumentava	em	muito	a	lucratividade	do	negócio.
Todavia	de	nada	adiantava	produzir	muito	açúcar	e	não	ter	mercados	para	escoar	
tal	produto.	Inicialmente	a	superprodução	gerou	uma	queda	de	preço	no	mercado	interna-
cional,	 tendo	em	vista	a	dificuldade	de	encontrar	mercados	para	consumir	 tais	volumes.	
Nesse	ponto,	os	holandeses	foram	fundamentais,	pois	já	dominavam	o	comércio	dentro	da	
Europa	e	conseguiram	os	mercados	que	Portugal	necessitava	para	o	seu	produto.	Segundo	
Furtado	(2007),	os	holandeses	contribuíram	não	somente	com	sua	experiência	comercial.	
Parte	substancial	dos	capitais	requeridos	pela	empresa	açucareira	viera	dos	Países	Baixos.	
Existem	indícios	abundantes	de	que	os	capitalistas	holandeses	não	se	limitaram	a	financiar	
a	refinação	e	comercialização	do	produto.	Tudo	indica	que	capitais	flamengos	participaram	
no	 financiamento	 das	 instalações	produtivas	 no	Brasil,	 bem	como	no	da	 importação	da	
mão-de-obra	escrava.
O	êxito	da	empresa	agrícola	açucareira	 foi	o	que	proporcionou	aos	portugueses	
se	fixar	nas	longas	extensões	de	terra	que	possuíam	nas	Américas,	de	tal	maneira	que	no	
século	seguinte,	quando	o	Tratado	de	Tordesilhas	passou	a	ser	mais	fortemente	questiona-
do	por	outras	nações,	Portugal	já	estava	fixado	de	tal	maneira	nestas	áreas	que	dificultava	
muito	possíveis	invasões.
16UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
SAIBA MAIS
Como você imagina que funcionavam os engenhos de açúcar no período colonial? 
O	historiador	Jefferson	Evandro	Machado	Ramos	descreve	as	etapas	do	processo	de	
produção	de	açúcar	no	Brasil	Colônia	com	base	nos	trabalhos	de	Furtado	(2005)	e	Skid-
more	(2003).	
	1º	-	A	cana-de-açúcar	era	plantada,	pelos	escravos,	em	extensos	canaviais.	
	2º	 -	Os	escravos	cortavam	a	cana-de-açúcar	e	carregavam	em	carros	de	bois	até	a	
moenda,	que	ficava	na	parte	interior	do	engenho.	
	3º	-	Nas	moendas	(grandes	máquinas	movidas	por	moinho	d’água,	força	humana	ou	por	
bois),	a	cana-de-açúcar	era	esmagada.	O	caldo	de	cana	era	obtido	nessa	etapa.	
	4º	-	O	caldo	de	cana	era	colocado	em	grandes	caldeiras	para	passar	por	um	processo	
de	fervura.	O	resultado,	depois	de	horas,	era	um	caldo	bem	grosso	(pastoso).	
	5º	-	O	caldo	grosso	era	levado	até	a	casa	de	purgar,	onde	era	colocado	em	recipientes	
de	barro,	em	formato	de	cone,	com	um	furo	na	parteinferior.	Esse	furo	possibilitava	o	
escorrimento	do	restante	da	água.	O	caldo	ficava	nesse	local	de	3	a	5	dias,	até	que	toda	
água	escorresse.	
	6º	-	No	final	da	etapa	anterior,	o	resultado	era	uma	espécie	de	bloco	de	açúcar,	em	for-
mato	de	cone	e	de	cor	amarelada.	Esses	“pães	de	açúcar”,	como	eram	chamados,	eram	
transportados	para	a	Europa,	local	em	que	seriam	clareados	(refinados)	e	vendidos	aos	
comerciantes	locais	e	consumidores	finais.
Fonte: Ramos	(2010).
Para	mais	informações	leia:	FERLINI,	V.	L.	A.	A civilização do açúcar. São	Paulo:	Brasiliense,	1994.
17UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1.3 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas
A	principal	diferença	entre	as	colônias	espanholas	e	portuguesas	é	que	a	Espanha	
encontrou,	em	seus	territórios,	povos	altamente	desenvolvidos,	com	sistemas	de	hierarquia	
e	conhecimentos	profundos	acerca	de	seus	mundos,	tais	como	os	Incas	e	Astecas.	Portugal,	
no	entanto,	encontrou	uma	população	nativa	muito	mais	dispersa,	que	ainda	não	apresen-
tava	uma	organização	social	tão	elaborada.	Outra	grande	diferença	eram	os	números	de	
habitantes.	As	colônias	espanholas	possuíam	muito	mais	população	nativa	que	a	Espanha	
pôde	utilizar	como	mão-de-obra	na	mineração,	através	de	acordos	com	as	elites	nativas.
O	grande	sucesso	da	 indústria	açucareira	portuguesa	poderia	 ter	despertado	nos	
espanhóis	algum	interesse	em	replicar	 tal	empreendimento	em	seus	domínios	que	tinham	
um	solo	melhor	que	o	do	litoral	brasileiro	e	gozavam	de	posição	geográfica	mais	próxima	da	
Europa	que	o	Brasil,	o	que	facilitaria	a	exportação.	O	grande	sucesso	obtido	na	mineração	de	
metais	preciosos,	no	entanto,	fez	com	que	os	espanhóis	não	se	voltassem	para	tal	atividade.
O	sucesso	espanhol	na	exploração	de	metais	preciosos	acabou	gerando	problemas	
internos	na	economia	da	Espanha,	pois	a	riqueza	trazida	com	o	ouro	e	a	prata	gerou	uma	
forte	inflação.	Setores	produtivos	de	manufatura	também	foram	afetados,	pois	a	população	
local	preferia	viver	direta	ou	indiretamente	de	subsídios	fornecidos	pelo	governo.	Isto	fez	
com	que	a	Espanha	tivesse	que	passar	a	importar	cada	vez	mais	produtos,	o	que	afetou	
diretamente	a	balança	comercial	espanhola.	Tudo	isto	combinado	gerou	grande	crise	inter-
na	que	teve	também	desdobramentos	políticos	e	impactou	na	administração	das	colônias.
Todos	esses	problemas	 internos	que	afetaram	a	Espanha	e	a	administração	de	
suas	colônias	fez	com	que	não	se	tornassem	um	concorrente	ao	açúcar	brasileiro.		Se	as	
18UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
colônias	espanholas	 tivessem	se	concentrado	 também	na	produção	de	açúcar	e	gerado	
uma	concorrência	para	as	colônias	portuguesas	isso	poderia	ter	um	impacto	muito	profundo	
no	empreendimento	português.
1.3.1 As colônias de povoamento do hemisfério Norte
O	acontecimento	mais	 impactante	para	o	Brasil	no	século	XVII	 foi	o	surgimento	
de	uma	 forte	 concorrência	 para	 os	 produtos	que	o	Brasil	 produzia.	 Inicialmente,	 países	
como	França,	Holanda	e	Inglaterra	invadiram	e	passaram	a	estabelecer	colônias	nas	Anti-
lhas	e	Caribe,	com	o	objetivo	de	ocupar	posições	estratégicas	para	uma	possível	invasão	
das	colônias	espanholas	da	América	Central	e	do	Sul,	que	passavam	por	uma	forte	crise	
junto	com	a	coroa.	Plano	que	nunca	chegou	a	se	concretizar	devido	às	rivalidades	entre	
Inglaterra	e	França.	Por	conta	do	caráter	político	de	tais	ocupações,	o	sistema	adotado	foi	
o	de	pequenas	propriedades	cedidas	a	europeus.	A	Inglaterra	teve	mais	facilidade	que	a	
França	para	povoar,	pois	tinha	um	excedente	interno	de	população	desocupada,	resultado	
de	mudanças	na	agricultura,	que	acabou	por	gerar	uma	forte	turbulência	política,	religiosa	
e	social,	de	tal	modo	que	alguns	grupos	preferiam	encarar	o	desafio	de	uma	vida	nova	nas	
Américas.
Segundo	Furtado	 (2007),	 as	 tentativas	de	 colonização	da	América	do	Norte	ha-
viam	 sido	 um	 fracasso,	 pois	 o	 clima	 propiciava	 a	 produção	 dos	mesmos	 produtos	 que	
se	produziam	na	Europa,	tendo	em	conta	o	custo	de	transporte	de	tais	produtos	para	os	
mercados	consumidores	e	a	mão-de-obra	barata	que	a	Europa	dispunha	à	época,	ficava	
economicamente	inviável	manter	tais	colônias.	Nas	Antilhas	e	Caribe,	no	entanto,	devido	ao	
clima,	era	possível	produzir	uma	gama	muito	maior	de	produtos,	sobretudo	usando	peque-
nas	propriedades.	Produtos	como	café,	anil,	tabaco	e	algodão	tinham	grande	potencial	de	
mercado	na	Europa	e	geraram	grandes	lucros	para	as	companhias	colonizadoras.
Esse	sucesso	comercial	de	tais	produtos	passou	a	demandar	um	número	cada	vez	
maior	de	mão-de-obra	europeia	e	isso	se	tornou	uma	grande	dificuldade,	mesmo	usando	o	
sistema	de	servidão	temporária,	em	que	condenados	poderiam	substituir	sua	condenação	
por	trabalhos	em	tais	colônias,	não	foi	o	suficiente	para	suprir	 toda	a	necessidade.	Para	
solucionar	tal	problema,	a	ideia	foi	 introduzir	escravos	vindos	da	África,	mas	isso	alterou	
também	os	produtos	produzidos	e	até	mesmo	as	propriedades,	desta	forma,	elas	passaram	
a	se	dividir	em	dois	 tipos:	as	pequenas	propriedades,	que	empregavam	europeus,	e	as	
grandes	propriedades,	que	empregavam	escravos.
Desta	maneira,	surge	uma	grande	concorrência	entre	as	pequenas	propriedades	
produtoras	de	produtos	tropicais	e	as	grandes	propriedades	que	empregavam	mão-de-obra	
19UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
escrava.	O	aumento	da	produção	ocasionou	também	redução	no	preço	de	tais	produtos	
no	mercado	 internacional,	o	que	gerou	uma	crise	e	 impactou	diretamente	no	modelo	de	
colonização	dessa	região.	A	partir	desse	momento	o	Brasil	passa	também	a	ser	impactado,	
o	modelo	inicial	de	colonização	do	Caribe	e	Antilhas	com	pequenas	propriedades	garan-
tia	ao	Brasil	quase	que	um	monopólio	na	produção	do	açúcar,	que	dependia	de	grandes	
propriedades	 para	 ser	 produzido.	 Com	 as	 novas	 grandes	 propriedades,	 que	 utilizavam	
mão-de-obra	escrava,	viabilizou-se	a	produção	de	açúcar	no	Caribe	e	Antilhas.
Um	fator	que	acelerou	este	processo	foi	a	expulsão	dos	holandeses	do	território	
brasileiro	em	Pernambuco,	detentores	de	técnicas	e	equipamentos	para	a	produção.	Após	
a	expulsão	eles	preferiram	se	associar	a	 ingleses	e	 franceses	 já	 instalados	a	montarem	
suas	próprias	propriedades.	Dessa	maneira,	apenas	uma	década	após	a	expulsão	dos	ho-
landeses	do	Brasil	uma	pujante	economia	açucareira	se	estabeleceu	na	região.	Isto	gerou	
uma	outra	consequência,	que	foi	a	migração	dos	povos	de	origem	europeia,	tanto	ingleses	
quanto	franceses,	para	dar	 lugar	aos	escravos,	que	foram	em	sua	maioria	para	colônias	
no	Hemisfério	Norte,	 que,	 como	 citamos	 foram	 inicialmente	 um	 fracasso,	 porém	 com	o	
aumento	da	população	o	mercado	interno	se	fortaleceu,	se	tornando	quase	auto	suficiente	
e	dependendo	minimamente	de	importações.	
A	recente	monocultura	açucareira	estabelecida	nas	 Ilhas	do	Caribe	 fez	com	que	
alguns	produtos	agrícolas	deixassem	de	ser	produzidos	e	passassem	a	ser	 importados.	
Isso	beneficiou	as	colônias	da	América	do	Norte,	que	passaram	a	fornecer	tais	suprimentos.	
Mas	não	eram	só	de	suprimentos	básicos	que	necessitavam	as	Ilhas,	era	preciso	madeira	
para	encaixotar	o	açúcar,	bem	como	animais	para	mover	as	moendas	dos	engenhos	etc.	
Para	fazer	o	transporte	de	todas	estas	mercadorias	entre	América	do	Norte	e	Caribe	eram	
necessários	muitos	 navios	 e	 isso	 fez	 florescer	 uma	 indústria	 naval	 no	Norte.	Tudo	 isso	
fortaleceu	a	região	que	detinha	um	forte	mercado	interno	e	que	ainda	possuía	um	grande	
cliente	nas	Antilhas	e	Caribe	para	as	suas	exportações.
Com	isso	inicia-se	a	terceira	etapa	da	exploração	das	Américas.	Na	primeira	etapa	
temos	viagens	extrativistas	se	utilizando	de	mão-de-obra	nativa,	visando	metais	preciosos	
e	produtos	como	o	Pau-Brasil,	emsegundo	momento	se	estabelecem	grandes	empresas	
agrícolas,	utilizando	força	de	trabalho	escrava	importada.	Já	na	terceira	etapa,	sobretudo	
no	Hemisfério	Norte,	 temos	o	surgimento	de	uma	economia	mais	próxima	do	que	era	a	
economia	europeia,	focada	primeiramente	no	mercado	interno	e	sem	uma	separação	clara	
entre	as	atividades	para	exportação	e	para	o	mercado	interno.
20UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
2 ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL 
Encontrar	toda	força	de	trabalho	necessária	para	tocar	a	colonização	foi	o	grande	
problema	encontrado	pelos	colonos	portugueses	no	início.	O	clima	hostil	para	os	padrões	
europeus,	as	condições	precárias	e	todas	as	incertezas	ligadas	a	tal	aventura	afugentava	
um	número	maior	de	portugueses.	Dentro	desse	cenário	os	colonos	utilizaram	como	primei-
ra	alternativa	a	captura	e	escravização	de	nativos.	
Essa	atividade	foi	tão	importante	que	algumas	comunidades	tinham	como	principal	
atividade	econômica	a	captura	e	comercialização	de	indígenas.	Os	nativos	tiveram	papel	
fundamental	nessa	primeira	etapa,	auxiliando	na	 instalação	dos	engenhos	e	construindo	
as	bases	do	que	viria	a	ser	a	 indústria	açucareira	no	Brasil.	Os	escravos	africanos	são	
introduzidos	posteriormente	em	um	momento	em	que	os	engenhos	já	funcionavam	e	eram	
capazes	de	arcar	a	importação	e	compra	de	escravos.	
	Prado	Júnior	(1981)	cita	que	o	processo	de	substituição	do	índio	pelo	negro	pro-
longou-se	até	o	fim	da	era	colonial.	Contra	o	escravo	negro	havia	um	argumento	muito	
forte:	seu	custo.	Não	tanto	pelo	preço	pago	na	África,	mas	em	consequência	da	grande	
mortalidade	a	bordo	dos	navios	que	faziam	o	transporte.	Mal	alimentados,	acumulados	de	
forma	a	haver	um	máximo	de	aproveitamento	de	espaço,	suportando	longas	semanas	de	
confinamento	e	as	piores	condições	higiênicas,	somente	uma	parte	dos	cativos	alcançavam	
seu	destino.	Calcula-se	que,	em	média,	apenas	50%	chegavam	com	vida	ao	Brasil,	destes	
21UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
muitos	estropiados	e	inutilizados.	O	valor	dos	escravos	foi,	assim,	sempre	muito	elevado,	e	
somente	as	regiões	mais	ricas	e	florescentes	podiam	suportá-lo.
Essa	estrutura	de	agricultura	tocada	por	escravos	foi	a	base	do	início	da	colonização	
do	Brasil.	Com	mão-de-obra	sem	custos	de	salário	e	em	grande	quantidade,	era	possível	
operar	 as	 fazendas	 e	 os	 engenhos	 que	 dependiam	de	 um	número	 alto	 de	 funcionários	
e	o	não	pagamento	de	 salários	maximizava	ainda	mais	os	 lucros	e	 tornava	a	atividade	
altamente	rentável.
2.1	Capitalização	e	Nível	de	Renda	na	Colônia	Açucareira
Passada	a	dificuldade	inicial	em	se	estabelecer,	a	indústria	açucareira	tem	cresci-
mento	vertiginoso	no	final	do	século	XVI	com	um	investimento	de	cerca	de	1,8	milhão	de	
libras	esterlinas	e	um	acréscimo	de	20	mil	escravos	trazidos	da	África.
Segundo	Furtado	(2007),	não	se	pode	afirmar	com	precisão	sobre	a	renda	gerada	
por	 essa	 economia,	mas	 estima-se	 que	 podia	 chegar	 até	 2	milhões	 de	 libras	 em	 anos	
favoráveis,	 o	 que	 representava	muito	 para	 uma	 população	 de	 aproximadamente	 30	mil	
habitantes	europeus	que	viviam	na	colônia.	Mas	cabe	destacar	que	toda	essa	riqueza	era	
concentrada	nas	mãos	dos	proprietários	de	engenho.
A	atividade	açucareira	se	mostrava	tão	rentável	que	chegava	a	fornecer	um	retorno	
de	aproximadamente	90%	ao	senhor	do	engenho,	o	que	é	facilmente	explicado	pelo	baixo	
custo	de	produção.	Segundo	Furtado	(2007),	apenas	5%	eram	gastos	com	o	pagamento	de	
transporte	e	armazenamento,	2%	eram	pagos	para	alguns	assalariados:	homens	de	vários	
ofícios	e	supervisores	do	trabalho	dos	escravos	e	outros	3%	eram	gastos	na	compra	de	
gado	para	tração	e	de	lenha	para	as	fornalhas.
Os	dados	apresentados	demonstram	a	grande	capacidade	de	geração	de	renda	
da	atividade	açucareira	no	final	do	século	XVI.	Furtado	(2007)	cita	que	os	ganhos	com	a	
produção	açucareira	eram	capazes	de	promover	uma	duplicação	em	sua	capacidade	de	
produção	a	cada	dois	anos.	Havia	também	um	grande	volume	de	absorção	da	produção	de	
açúcar	pelos	mercados	demandantes,	o	que	evitou	uma	crise	de	superprodução.
22UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
REFLITA
Se	a	plena	capacidade	de	autofinanciamento	da	indústria	açucareira	não	era	utilizada,	
que	destino	tomaram	os	recursos	financeiros	que	sobravam?
Fonte:	a	autora.
Nas	palavras	de	Furtado	(2007),	é	óbvio	que	os	recursos	advindos	do	açúcar	não	
eram	utilizados	 dentro	 da	 colônia,	 onde	 a	 atividade	 econômica	 não-açucareira	 absorvia	
ínfimos	capitais.	O	autor	supõe	então	que	parte	do	capital	investido	na	economia	açuca-
reira	pertencesse	aos	comerciantes	europeus	e	que	grande	parte	da	 renda	gerada	com	
tal	atividade	retornava	para	a	Europa,	pois	era	advinda	de	um	capital	que	pertencia	aos	
comerciantes	europeus.	
Sitima	(2014)	relata	que	a	atividade	açucareira	tinha	dimensões	suficientes	para	in-
fluenciar	o	desenvolvimento	de	outras	regiões	da	colônia,	porém	esse	potencial	sempre	foi	
desviado	para	o	exterior	por	decisões	políticas	de	evitar	uma	concorrência	com	o	mercado	
metropolitano.
23UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
SAIBA MAIS
Plantation	é	o	nome	dado	a	um	modelo	de	exploração	econômica	em	que	se	destacam	
como	aspectos	principais:	a	concentração	da	propriedade	da	terra,	a	monocultura,	con-
trole	de	grande	número	de	trabalhadores	escravos	e	produção	voltada	para	o	mercado	
externo.	Durante	o	período	colonial	brasileiro,	esse	foi	o	modelo	adotado	em	larga	es-
cala,	sendo	a	cana-de-açúcar	o	principal	produto	cultivado	até	meados	do	século	XVIII.
Fonte:	Diégues	Júnior	(1958).
2.2 Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária
Na	 segunda	metade	 do	 século	XVI	 a	 atividade	 agrícola	 para	 exportação	 tomou	
tamanho	vulto	que	um	mercado	paralelo	se	formou	para	abastecer	as	grandes	fazendas	de	
suas	necessidades.	Os	lucros	com	o	açúcar	eram	tão	elevados	que	inclusive	a	própria	pro-
dução	para	subsistência	foi	abandonada	por	muitas	delas,	pois	era	antieconômico	destinar	
áreas	de	produção	de	cana	a	tal	fim.		
	Furtado	(2007)	destaca	que	era	no	setor	de	bens	de	produção	que	o	suprimento	
local	encontrava	maior	espaço	para	expandir-se,	pois	as	duas	principais	fontes	de	energia	
dos	engenhos	–	a	lenha	e	os	animais	para	tração	–	podiam	ser	supridas	localmente	com	
grande	vantagem.	Sendo	assim,	o	autor	cita	que	a	separação	das	duas	atividades	(açuca-
reira	e	criatória)	no	Nordeste	foi	que	impulsionou	a	criação	de	gado	na	região	e	promoveu	
a	penetração	e	ocupação	do	interior	do	território	brasileiro.
De	acordo	com	Prado	Júnior	(1981),	a	pecuária	se	destinava	a	satisfazer	as	ne-
cessidades	alimentares	da	população.	Mas	a	pecuária,	apesar	da	importância	relativa	que	
atinge	e	do	grande	papel	que	representa	na	colonização	e	ocupação	de	novos	territórios,	
continuava	sendo	uma	atividade	visivelmente	secundária	e	acessória,	 tendo	sempre	um	
lugar	se	segundo	plano,	estando	subordinada	às	atividades	principais	da	grande	lavoura	e	
sofrendo	de	grande	incerteza.
24UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O	 objetivo	 desta	 unidade	 foi	 o	 de	 fornecer	 a	 você,	 aluno(a),	 a	 capacidade	 de	
desenvolver	 um	 referencial	 teórico-histórico	 sobre	 a	 evolução	das	 forças	 capitalistas	 na	
formação	socioeconômica	brasileira	até	o	período	de	avanço	da	economia	açucareira,	para	
a	pecuária.	Para	tal,	primeiramente	abordamos	o	processo	de	colonização	do	território	bra-
sileiro,	bem	como	o	sucesso	da	empresa	agrícola	neste	contexto.	As	colônias	espanholas	
e	portuguesas	foram	destacadas	como	fundamentais	ao	avanço	da	atividade	econômica.	
Ao	abordarmos	acolonização	do	hemisfério	norte,	vimos	como	um	processo	que	
havia	fracassado	no	começo	obteve	sucesso	posteriormente	devido	à	criação	de	um	merca-
do	interno	fortalecido,	e	clientes	externos,	como	a	indústria	açucareira	das	Antilhas.	Desta	
forma,	 pudemos	 conhecer	 as	 primeiras	 três	 etapas	 da	 colonização	 americana,	 focadas	
primeiramente	na	economia	extrativista,	 em	seguida	na	 indústria	agrícola	e,	 por	 fim,	no	
fortalecimento	do	mercado	interno,	com	um	sistema	econômico	mais	parecido	com	o	que	
estava	em	vigor	na	Europa.
Em	seguida,	foram	apresentados	aspectos	da	economia	escravista	de	agricultura	
tropical,	em	que	as	rendas	geradas	nos	engenhos	de	açúcar	se	mostravam	expressivas,	
mas	que	não	 foram	suficientes	para	gerar	um	 reinvestimento	que	 levasse	ao	desenvol-
vimento	econômico.	O	surgimento	da	atividade	pecuária	 foi	o	último	 tópico	abordado	na	
unidade,	considerando	ser	esta	uma	atividade	de	subsistência,	sendo	fonte	quase	única	de	
alimentos	e	de	matéria-prima	(couro)	que	se	utilizava	praticamente	para	tudo.
Na	próxima	unidade	exploraremos	a	expansão	da	colonização,	abordando	o	siste-
ma	político	e	administrativo	na	colônia,	a	formação	do	complexo	econômico	nordestino,	a	
mineração	e	a	ocupação	no	centro-sul,	até	o	fim	da	era	colonial,	em	1822.
25UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
LEITURA COMPLEMENTAR
Para	complementar	os	assuntos	discutidos	ao	longo	da	primeira	unidade,	acesse	
os	conteúdos	a	seguir:
Título:	 Capitanias	Hereditárias	e	desenvolvimento	econômico:	herança	colo-
nial	sobre	desigualdade	e	instituições
Autor(es):	 Enlinson	Mattos	
Thais	Innocentini	
Yuri	Benelli		
Resumo:	 Este	trabalho	tem	como	objetivo	analisar	os	eventuais	efeitos	da	heran-
ça	colonial	na	formação	dos	municípios	brasileiros	sobre	suas	condi-
ções	atuais	de	desigualdade	de	distribuição	de	terra	e	renda	e	sobre	a	
qualidade	das	instituições.	Em	particular,	empregam-se	área,	latitude,	
longitude	e	a	data	de	fundação	para	identificar	os	municípios	perten-
centes	aos	territórios	das	Capitanias	Hereditárias	(CHs).	Em	seguida,	
busca-se	estimar	se	essa	característica	histórica	dos	municípios	está	
correlacionada	 com	 suas	 instituições	 atuais,	 considerando	 diversos	
controles,	tais	como:	área	proporcional	da	capitania;	haver	pertencido	
aos	ciclos	da	cana	e	do	ouro;	estar	no	litoral;	sua	distância	em	relação	
a	Portugal;	 tipo	 de	 solo;	 quantidade	 de	 chuva;	 altitude;	 temperatura	
média;	e	as	variáveis	socioeconômicas	municipais.	Os	resultados	su-
gerem	de	 forma	robusta	que	o	município	que	pertenceu	à	área	des-
tinada	às	CHs	(um	aumento	de	um	desvio-padrão)	está	associado	a	
uma	concentração	maior	de	terras	(Censo	Agrícola	de	1996),	medida	
pelo	índice	de	Gini	(aumento	de	meio	desvio-padrão),	a	menores	gas-
tos	 públicos	 locais	 e	 a	menor	 persistência	 política.	 No	 entanto,	 não	
se	encontrou	associação	robusta	sobre	os	seguintes	indicadores	dos	
municípios	brasileiros:	desigualdade	de	renda,	Produto	 Interno	Bruto	
(PIB)	municipal	per	capita,	número	de	agências	bancárias	públicas,	de	
cartórios	e	empresas	públicas	no	município,	nem	na	governança	local	
e	no	acesso	à	justiça	local.
Disponível	em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/5081
Título:	 Economia	brasileira:	uma	visão	histórica
Autor(es):	 Eustáquio	José	Reis	
Resumo:	 Esta	resenha	sobre	Economia Brasileira: uma visão histórica	reúne	ar-
tigos	 sobre	 uma	 enorme	 variedade	 de	 temas	 da	 história	 econômica	
brasileira.	Exceto	por	uma	contribuição	de	demógrafos	e	duas	outras	
de	historiadores,	as	demais	são	assinadas	por	economistas.	Apesar	
das	contribuições	que	alguns	dos	artigos	trazem	para	a	pesquisa	e	o	
ensino	da	nossa	história	econômica,	o	livro	deixa	a	desejar	pelas	defi-
ciências	e	negligências	no	trabalho	de	organização	e	editoração.
Disponível	em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7129
26UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: História	do	Brasil	Colônia
Autor:	Laima	Mesgravis
Editora:	Contexto
Sinopse: Escravidão,	 exploração	 colonial,	 choque	 de	 culturas,	
pau-brasil,	 cana-de-açúcar,	 minas	 de	 ouro,	 bandeirantes,	 jesuí-
tas...	São	muitos	os	temas	associados	ao	Brasil	no	período	colo-
nial.	Todos	eles	estão	presentes	neste	livro,	pequeno	apenas	em	
extensão,	uma	vez	que	é	rico	em	informações	e	interpretações.	A	
historiadora	Laima	Mesgravis,	da	USP,	consegue	a	proeza	de	ser	
sucinta	 e	abrangente,	 utilizando	 como	base	 textos	de	 cronistas,	
religiosos	 e	 autoridades	 da	 época,	 além	 de	 trabalhos	 históricos	
produzidos	nos	séculos	XX	e	XXI.	O	leitor	atento	ficará	surpreso	ao	
encontrar,	já	na	Colônia,	traços	da	diversidade	do	povo	brasileiro,	
assim	como	a	base	de	nosso	sistema	hierárquico.	É	no	passado	
colonial	que	podemos	encontrar	os	melhores	e	piores	 traços	da	
nossa	cultura.	Obra	destinada	a	professores	e	estudantes	da	área,	
assim	como	a	todos	que	se	interessam	pelas	nossas	raízes	pro-
fundas.
FILME/VÍDEO
Título: Vermelho	Brasil 
Autor: Sylvain	Archambault
Ano:	2014
Sinopse:	A	 história	 da	 expedição	 de	 Villegagnon	 ao	 Brasil	 por	
volta	de	1555	e	sua	luta	para	criar	uma	colônia,	a	chamada	França	
Antártica,	 nas	 terras	 conquistadas	 pelos	 portugueses.	 Filmado	
em	Paraty,	no	Rio	de	Janeiro,	o	filme	comete	deslizes,	entre	eles,	
ser	falado	em	inglês	(e	não	em	francês,	a	língua	dos	invasores).	
A	brasileira	Giselle	Motta	vive	a	 índia	Paraguaçu	e	Pietro	Mário,	
brasileiro	 de	 origem	 italiana,	 aparece	 em	 dois	 papéis:	 o	 de	 um	
marinheiro	e	o	de	um	francês	que	vive	entre	os	índios.	O	ator	por-
tuguês	Joaquim	de	Almeida	interpreta	João	da	Silva,	um	lusitano	já	
perfeitamente	integrado	com	os	indígenas	e	que	representa	o	seu	
país	colonizador.
Link do vídeo:	https://www.youtube.com/watch?v=6IAcEAV7hAM
27
Plano de Estudo:
●	 Sistema	Político	e	Administrativo	colonial;
●	 O	estabelecimento	do	Governo-Geral;
●	 Formação	do	complexo	econômico	nordestino;
●	 Expansão	territorial;
●	 A	Mineração	e	a	Ocupação	no	Centro-Sul;
●	 O	Renascimento	da	Agricultura;
●	 O	fim	da	era	colonial;
●	 A	independência	do	Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Contextualizar	a	evolução	do	sistema	político	e	administrativo	da	colônia,	desde	as	
capitanias	hereditárias	até	a	instauração	do	Governo-Geral;
●	 Estabelecer	a	importância	da	mineração	no	processo	de	ocupação	no	centro-sul	e	
a	mudança	do	centro	econômico	do	Nordeste	para	Minas	Gerais;
●	 Fazer	com	o	que	o(a)	aluno(a)	compreenda	como	se	deu	o	ressurgimento	da	
agricultura	pós	crise	da	mineração	e	como	se	deu	o	fim	da	era	colonial.
UNIDADE II
Expansão da Colonização
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
28UNIDADE II Expansão da Colonização
INTRODUÇÃO
Daremos	início	aqui	ao	conteúdo	da	segunda	unidade	da	disciplina	de	Formação	
Econômica	do	Brasil.	Nesta	unidade	poderemos	aprofundar	nossos	conhecimentos	acerca	
do	processo	de	expansão	da	colonização	brasileira.	Cabe	lembrar	que	o	projeto	de	colo-
nização	surgiu	efetivamente	devido	às	pressões	dos	outros	países	europeus,	que	também	
estavam	em	busca	de	nossas	riquezas.	Na	unidade	I	vimos	que	o	sistema	de	capitanias	
hereditárias,	que	até	então	comandava	a	administração	da	colônia,	havia	fracassado	de-
vido	à	grande	extensão	territorial	para	administrar	(e	suas	obrigações),	a	falta	de	recursos	
econômicos	e	os	constantes	ataques	indígenas.	Nesta	unidade	veremos,	então,	que	o	fim	
desse	sistema	foi	marcado	pelo	estabelecimento	do	Governo	Geral	no	ano	de	1548,	cujo	
objetivo	era	centralizar	a	administração,	tendo	mais	controle	da	Coroa	Portuguesa.	
Veremos	 também	 nesta	 unidade	 a	 necessidade	 que	 os	 portugueses	 tinham	 de	
encontrar	ouro	e	prata,	a	exemplo	da	Espanha,	pois	apenas	o	comércio	de	especiarias	no	
Oriente	já	não	era	suficiente	para	a	obtenção	de	receitas.	Veremos	também	como	a	desco-
berta	do	ouro	alterou	o	centroeconômico	da	colônia	do	Nordeste,	para	a	região	centro-sul.
	Você	verá	também	que,	ao	longo	da	história	brasileira,	ciclos	sucessivos	de	cres-
cimento	econômico	antes	da	industrialização,	como	a	produção	de	cana-de-açúcar	no	Nor-
deste	no	século	XVII,	o	ciclo	do	ouro	em	Minas	Gerais	no	século	XVIII,	e	a	produção	do	café	
no	Sudeste	nos	séculos	XIX	e	XX,	foram	criados	e	deixaram	características	 importantes	
do	subdesenvolvimento	brasileiro:	baixa	produção	e	 falta	de	diversidade	de	exportação,	
bem	como	estrutural	 	heterogeneidade,	especificamente,	um	vasto	setor	subempregado	
existente	lado	a	lado	com	um	setor	moderno	de	alta	produtividade.	Abordaremos	então	o	
estabelecimento	do	governo-geral,	para,	em	seguida,	constatarmos	como	se	deu	o	proces-
so	de	colonização	do	centro-sul,	em	especial	com	a	descoberta	do	ouro.	Por	fim,	o	término	
da	era	 colonial	 será	 abordado	na	última	 seção,	 a	 partir	 da	 chegada	da	 família	Real	 ao	
Brasil,	seu	estabelecimento,	até	o	processo	de	independência	do	Brasil,	no	ano	de	1822.
https://www.infoescola.com/historia/governo-geral-do-brasil/
29UNIDADE II Expansão da Colonização
1 EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO
1.1 Sistema Político e Administrativo da Colônia
Para	analisarmos	como	se	deu	processo	de	desenvolvimento	do	sistema	político	e	
administrativo	no	Brasil	colonial,	vamos	relembrar	alguns	fatos	importantes	vistos	na	primeira	
Unidade	da	disciplina.	Cabe	lembrarmos	que	embora	a	Coroa	Portuguesa	tenha	declarado	
rapidamente	a	sua	posse	do	novo	território	nos	termos	do	Tratado	de	Tordesilhas,	ela	não	
mostrou,	no	início,	desejo	de	incorrer	em	quaisquer	despesas	para	criar	uma	administração	
colonial	ou	para	imitar	a	Espanha	e	embarcar	em	uma	grande	missão	civilizatória	no	Novo	
Mundo.	Segundo	Prado	Junior	 (2012),	nessas	condições,	colonizar	ainda	era	entendido	
como	aquilo	que	dantes	se	praticava:	fala-se	em	colonização,	mas	o	que	o	termo	envolve	
não	era	mais	do	que	o	estabelecimento	de	feitorias	comerciais,	como	os	italianos	vinham	
de	longa	data	praticando	no	Mediterrâneo.	
Apesar	da	atitude	geral	de	indiferença,	no	entanto,	vimos	que	o	Brasil	não	foi	com-
pletamente	negligenciado.	Embora	não	houvesse	ouro	e	prata	de	fácil	acesso,	a	monarquia	
portuguesa	reconheceu	que	lucros	respeitáveis	poderiam	ser	obtidos	a	partir	do	comércio.	
Como	havia	 sido	a	prática	na	África	Ocidental,	 a	maioria	 das	despesas	decorrentes	da	
montagem	de	navios	e	realização	de	comércio	foram	arcadas	por	indivíduos	privados.	Isso	
era	conseguido	pelas	concessões	da	corte	para	criar	feitorias	e	negociar	com	a	população	
local.	Segundo	Furtado	 (2007),	em	 troca,	os	comerciantes	concordavam	em	pagar	uma	
30UNIDADE II Expansão da Colonização
parte	fixa	de	seus	lucros	à	Coroa	e	manter	a	estação	comercial	como	um	posto	avançado	
do	império	português.
	Em	1502,	foi	dado	o	monopólio	do	comércio	de	madeira	brasileira	ao	novo	comer-
ciante	cristão,	Fernando	de	Noronha,	que	se	comprometeu	a	organizar	a	defesa	do	litoral	
e	 enviar	 novas	missões	 exploratórias.	 Feitorias	 foram	estabelecidas	 ao	 longo	 da	 costa,	
mas	os	comerciantes	portugueses	tinham	pouco	incentivo	para	avançar	para	o	interior.	Em	
contraste	com	a	América	Espanhola,	não	havia	sinais	da	proximidade	de	metais	preciosos	
nem	populações	nativas	numerosas	ou	civilizações	avançadas.	Além	disso,	o	avanço	para	
além	do	litoral	foi	seriamente	impedido	pela	proximidade	de	floresta	e	selva	densas,	altas	
cadeias	de	montanhas	além	de	rios	com	fortes	corredeiras.	Além	disso,	havia	a	ameaça	
de	 índios	 hostis,	 animais	 selvagens,	 insetos	 venenosos	 e	 cobras.	As	 feitorias	 no	Brasil	
provaram,	portanto,	ser	precárias	e	inicialmente	não	tiveram	muita	importância.	
O	descuido	da	Coroa	Portuguesa	em	 relação	ao	Brasil	 foi	afetado	pela	 invasão	
de	 concorrentes	 franceses	 que	 também	 foram	 atraídos	 pela	 disponibilidade	 e	 potencial	
econômico	 do	 comércio	 de	madeira	 no	Brasil.	 Um	navio	 francês	 teria	 chegado	 à	 costa	
brasileira	 em	 1504,	mas	 eles	 não	 costumavam	 estabelecer	 feitorias	 em	 terra,	 e	 faziam	
negócios	diretamente	com	os	índios.	Isso	não	só	representava	um	desafio	para	a	reivindi-
cação	portuguesa	de	monopolizar	o	comércio	de	madeira	no	Brasil,	como	também	levou	a	
um	aumento	no	fornecimento	para	a	Europa,	o	que	ocasionou	redução	nos	preços	e	nos	
lucros	portugueses.	Segundo	Smith	 (2002),	o	Rei	português	denunciou	os	comerciantes	
franceses	como	piratas	e	enviou	navios	para	patrulhar	as	águas	brasileiras.	Consciente	de	
que	o	rei	da	França	não	reconhecia	as	reivindicações	portuguesas	e	espanholas	previstas	
no	Tratado	de	Tordesilhas,	o	Rei	João	III	(1521	a	1557)	decidiu	antecipar	possíveis	inter-
ferências	de	outras	nações,	afirmando	seu	próprio	controle	sobre	o	Brasil.	Para	 isso,	no	
entanto,	exigiu	a	provisão	de	uma	presença	militar	e	civil	portuguesa	permanente	no	novo	
território.
Foi	então	que	deu	início	à	primeira	tentativa	da	Coroa	portuguesa	de	organizar	a	
ocupação	e	colonização	do	Brasil,	por	meio	do	sistema	de	capitanias	que	vimos	na	Unidade	
I.	Você	lembra	que	em	tal	sistema,	havia	um	acordo	semelhante	a	um	pacto	feudal,	feito	
entre	o	rei	e	cada	donatário	no	qual	este	último	e	seus	herdeiros	recebiam	a	terra	(carta	
de	doação)	e	em	troca	se	comprometiam	não	só	a	pagar	impostos	ao	rei,	mas	também	a	
estabelecer	e	desenvolver	a	terra	e	a	prover	sua	defesa	contra	os	índios	e	invasores	es-
trangeiros?	Com	os	arrendamentos	para	o	comércio	de	madeira	brasileira,	os	donatários	e	
seus	herdeiros	assumiram	todos	os		custos	para	estabelecer	as	capitanias.	O	donatário,	no	
31UNIDADE II Expansão da Colonização
entanto,	exercia	poderes	de	jurisdição	civil	e	criminal	e	também	foi	autorizado	a	subdividir	
sua	capitania	em	lotes	menores	e	separados	de	terras	não	cultivadas	conhecidas,	como	
sesmarias.	 Inicialmente	 havia	 tanta	 terra	 disponível	 que	 algumas	 sesmarias	 individuais	
eram	enormes.	O	maior	variou	de	40	a	100	milhas	quadradas	e	estabeleceu	um	precedente	
para	a	 criação	de	grandes	propriedades	que	 seriam	uma	característica	proeminente	da	
futura	distribuição	de	terras	no	Brasil.
Logo	ficou	evidente	que	o	sistema	de	capitania	era	muito	ambicioso	e	impraticável.	
Não	havia	aristocratas,	comerciantes	ou	camponeses	portugueses	suficientes	dispostos	a	
emigrar	para	um	país	tão	vasto	e	subdesenvolvido	como	o	Brasil.	Em	contraste,	a	África	e	a	
Índia	ainda	permaneciam	mais	atraentes	e	destinos	menos	perigosos.	Smith	(2002)	cita	que	
apenas	as	capitanias	de	São	Vicente	e	Pernambuco	foram	inicialmente	bem-sucedidas.	As	
outras	capitanias	estavam	em	estado	de	caos.	Segundo	historiadores,	donatários	enviavam	
súplicas	ao	Rei	João	III,	em	1548,	dizendo	que	se	o	Rei	não	ajudasse	as	capitanias,	perderia	
suas	terras.	No	entanto	o	sucesso	da	indústria	açucareira	em	São	Vicente	e	Pernambuco	
demonstrou	potencial	para	produzir	renda	regular	e	bons	lucros	(SMITH,	2002).	O	sonho	de	
encontrar	metais	preciosos	também	permaneceu.
SAIBA MAIS
Nenhum	representante	da	grande	nobreza	se	 incluía	na	 lista	dos	donatários,	pois	os	
negócios	na	Índia,	em	Portugal	e	nas	ilhas	atlânticas	eram,	por	essa	época,	bem	mais	
atrativos.
A	atribuição	de	doar	sesmarias	deu	origem	à	formação	de	vastos	latifúndios.	A	sesma-
ria	foi	conceituada	no	Brasil	como	uma	extensão	de	terra	virgem,	cuja	propriedade	era	
doada	a	um	sesmeiro,	com	a	obrigação	–	raramente	cumprida	–	de	cultivá-la	no	prazo	
de	cinco	anos	e	de	pagar	o	tributo	devido	à	Coroa.	
A	herança	dos	sistemas	de	capitanias	hereditárias	pode	ser	sentido	até	hoje	através	do	
coronelismo	e	das	famílias	que	seguem	mantendo	o	poder	em	certos	estados.
Fonte:	Fausto	(1996,	p.	25).
32UNIDADE II Expansão da Colonização
1.2 O Estabelecimento do Governo-Geral
O	rei	João	III	reconheceu	que	a	intervenção	real	era	oportuna	e	necessária	para	
evitar	o	colapso	do	sistema	de	capitanias	e	a	possível	perda	de	seu	império	americano	para	
rivais	estrangeiros.	Em	1548	anunciou	a	nomeaçãode	Tomé	de	Sousa	como	governador-
-geral	residente	da	colônia.	A	capitania	da	Bahia	também	foi	reivindicada	como	terra	real.	
Tomé	de	Sousa	chegou	ao	Brasil	em	março	de	1549	com	uma	poderosa	frota	de	seis	navios	
e	mais	de	1.000	soldados.	
Segundo	Araújo	(2000),	Salvador	surgiu	com	o	foro	de	cidade	–	uma	prerrogativa	
exclusiva	do	rei	de	Portugal	–,	e	a	sua	construção	foi	ordenada	por	D.	João	III	em	1548,	no	
regimento	dado	a	Tomé	de	Souza,	que	iniciou	as	obras	da	cidade.	Também	por	determi-
nação	regimental,	Salvador	foi	erguida	em	outro	lugar,	no	alto	de	uma	colina	e	mais	para	
dentro	da	baía	de	Todos	os	Santos,	onde	hoje	se	encontra	o	Centro	Histórico.
Embora	algumas	capitanias	 individuais	 tenham	sobrevivido	até	o	século	XVIII,	a	
fundação	de	Salvador	como	capital	da	colônia	e	sede	do	novo	governo	central	marcou	a	
afirmação	direta	e	visível	da	autoridade	real	pela	primeira	vez	no	Brasil	e,	consequentemen-
te,	significou	o	abandono	do	sistema	de	capitania	como	o	modelo	preferido	da	Coroa	de	
governo	colonial.	Na	verdade,	os	donatários	foram	obrigados	a	abrir	mão	de	seus	poderes	
exclusivos	em	relação	à	arrecadação	de	 impostos,	administração	da	 justiça	e	defesa	do	
território.
O	envio	 de	 reforços	militares	mostrou-se	 sensato,	 porque	Sousa	 e	 seus	 suces-
sores,	mais	notavelmente	Mem	de	Sá,	que	foi	governador-geral	de	1558	a	1572,	tiveram	
que	combater	as	tentativas	francesas	de	tomar	posse	do	território	brasileiro.	Prado	Júnior	
(2012)	relata	que	durante	mais	de	dois	séculos	despejaram	na	América	todo	o	resíduo	das	
lutas	político-religiosas	da	Europa.	A	ameaça	mais	grave	surgiu	em	1555,	quando	uma	frota	
francesa	comandada	pelo	almirante	Nicolas	Durand	de	Villegagnon	entrou	na	Baía	de	Gua-
nabara	e,	em	aliança	com	os	índios	Tamoios,	fundou	uma	pequena	comunidade	conhecida	
como	 “Antártica	Francesa”	na	 Ilha	de	Sergipe.	O	objetivo	ostensivo	era	estabelecer	um	
refúgio	para	os	Huguenotes	franceses1.	A	resposta	portuguesa	ao	empreendimento	brasi-
leiro	de	Villegagnon	foi	intransigente.	Após	uma	série	de	ataques	das	forças	portuguesas	a	
partir	de	1565,	os	franceses	foram	finalmente	expulsos	em	1567.	
Operações	militares	dirigidas	contra	os	franceses	resultaram	então	no	estabeleci-
mento	de	novos	assentamentos	portugueses	ao	longo	do	litoral	brasileiro	que	se	estende	
1	 	Huguenotes	era	o	nome	dado	aos	protestantes	franceses	durante	as	guerras	religiosas	na	França.
33UNIDADE II Expansão da Colonização
de	São	Vicente	até	o	Vale	do	Amazonas.	Nesse	processo	houve	conflito	 frequente	com	
índios	locais,	resultando	em	sua	submissão	e	expulsão.	Esforços	foram	feitos,	no	entanto,	
para	converter	os	índios	ao	cristianismo.	Na	verdade,	seis	jesuítas	chegaram	com	a	frota	
de	Tomé	de	Sousa	em	1549.	Liderados	pelo	padre	Manoel	da	Nóbrega,	desempenharam	
um	papel	importante	na	promoção	da	política	de	pacificação	e	no	aculturamento	dos	índios.	
Nas	palavras	 de	Fausto	 (1996),	 vieram	com	o	governador-geral	 os	 primeiros	 jesuítas	 –	
Manuel	da	Nóbrega	e	seus	cinco	companheiros	–,	com	o	objetivo	de	catequizar	os	índios	e	
disciplinar	o	ralo	clero	de	má	fama	existente	na	Colônia
	A	autoridade	e	influência	da	Igreja	foi	consideravelmente	reforçada	pela	criação	da	
diocese	da	Bahia	em	1551.	Na	segunda	metade	do	século	XVI,	as	atitudes	portuguesas	
em	 relação	 ao	 Brasil	 haviam	mudado	 significativamente.	 Embora	 o	 vasto	 interior	 ainda	
permanecesse	praticamente	 inexplorado	e	desconhecido	para	os	europeus,	o	Brasil	não	
era	mais	apenas	uma	coleção	de	feitorias,	mas	uma	colônia	contendo	vários	assentamen-
tos	fortificados	permanentes,	um	governo	central	e	uma	diocese	localizada	no	capital	de	
Salvador	e	o	início	de	uma	indústria	açucareira	fluorescente.
SAIBA MAIS	
O	que	foi	a	União	Ibérica,	conhecida	também	como	Dupla	Monarquia?
A	chamada	União	Ibérica	ocorreu	após	a	crise	dinás-
tica	iniciada	com	a	morte	do	rei	D.	Sebastião	de	Por-
tugal,	na	famosa	Batalha	de	Alcácer-Quibir,	em	4	de	
agosto	de	1578.	Com	a	debilidade	do	último	dos	Avis,	
D.	Enrique,	e	com	a	agressiva	reclamação	ao	trono	
feita	pelo	rei	espanhol	Felipe	II	(1555-1598),	bem	res-
paldado	por	seu	exército	sob	o	comando	do	duque	
de	Alba	(1507-1582),	tem	início	a	maior	“união	de	rei-
nos”	da	história	moderna.	Durante	60	anos,	Portugal	
e	Espanha	deram	novo	sentido	à	Monarquia	Católica,	
controlando,	além	das	possessões	europeias,	gran-
des	áreas	ultramarinas	na	América,	África	e	Ásia.	As-
sim,	nas	primeiras	duas	décadas	do	século	XVII	o	objetivo	central	da	burocracia	hispa-
no-lusa	era	assegurar	a	posse	das	imensas	regiões	de	ultramar,	nas	quatro	partes	do	
mundo	conhecido,	constantemente	ameaçadas	pelos	concorrentes	oceânicos:	França,	
Inglaterra	e	principalmente	Holanda.	No	caso	do	Estado	do	Brasil	essa	política	iria	tra-
duzir-se	na	criação	de	novas	unidades	administrativas	que	desembocariam	na	criação	
do	Estado	do	Maranhão	e	Grão-Pará	em	1621.
Fonte:	Cardoso	(2011).		
34UNIDADE II Expansão da Colonização
O	excelente	porto	e	a	 localização	estratégica	da	Baía	de	Guanabara	 levaram	os	
portugueses	a	estabelecer	uma	nova	cidade	que	se	chamava	(São	Sebastião	do)	Rio	de	
Janeiro.	Embora	as	ameaças	francesas	persistissem,	especialmente	no	Norte,	onde	Daniel	
de	La	Touche2	fundou	o	assentamento	de	São	Luís,	em	1612,	eles	nunca	foram	militarmente	
poderosos	o	suficiente	para	minar	o	controle	português	do	Brasil.
Straforini	 (2008)	cita	em	seus	estudos	sobre	a	 formação	 territorial	brasileira	nos	
dois	primeiros	séculos	de	colonização,	que	a	criação	do	Estado	do	Maranhão,	em	1621,	
não	impediu	a	consolidação	e	avanço	dos	portugueses	pelo	vale	do	rio	Amazonas,	pois,	
durante	o	período	da	Monarquia	Dual	(União	Ibérica),	a	administração	do	Brasil	e	do	Ma-
ranhão,	na	prática,	cabia	ao	conselho	formado	pelo	clero	e	pela	aristocracia	lusitana,	logo,	
pelos	portugueses.
Apesar	da	tentativa	de	centralização	do	governo	colonial	em	Salvador	e	São	Luís,	
um	sistema	descentralizado	permaneceu	firme	durante	a	maior	parte	do	período	colonial,	
pois	a	distância	geográfica	e	as	dificuldades	de	comunicação	fizeram	com	que	a	capacida-
de	do	governador-geral	de	interferir	nos	assuntos	locais	fosse	muito	limitada.	Além	disso,	
o	Brasil	colonial	proporcionou	um	contraste	acentuado	com	a	América	Espanhola	ao	não	
desenvolver	grandes	cidades	e	centros	administrativos,	como	a	Cidade	do	México	e	Lima,	
de	onde	irradiavam	poder	real	e	autoridade.
De	fato,	historiadores	relatam	que,	principalmente	por	razões	econômicas	e	de	se-
gurança,	a	população	do	Brasil	preferiu	se	reunir	em	municípios	compostos	por	pequenas	
cidades	e	vilas,	muitas	das	quais	estavam	localizadas	próximas	a	grandes	plantações	de	
açúcar.	Os	municípios	eram,	portanto,	o	foco	do	governo	local.	Os	poderosos	latifundiários	e	
plantadores	locais	conhecidos	como	“homens	bons”	serviram	como	conselheiros	(vereado-
res)	no	Senado	ou	câmara	municipal	que	era	o	equivalente	ao	cabildo3	hispano-americano.	
A	composição	exata	dos	conselhos	variava,	mas	eram	geralmente	presididas	por	um	juiz	
ordinário	que	também	atuava	como	oficial	de	justiça	permanente.
1.3 Formação do Complexo Econômico Nordestino
No	Nordeste	brasileiro	duas	atividades	se	destacavam:	a	açucareira	e	a	pecuária.	
Ambas	tinham	sistemas	de	produção	que	não	sofriam	grandes	modificações,	isso	fazia	com	
2	 Daniel	 de	 La	Touche,	 sob	 o	 título	 de	 Senhor	 de	 La	Ravardière,	 foi	 um	 experiente	 Lugar-tenente	
General	da	Marinha	Francesa	do	século	XVII.	Nobre,	de	religião	protestante,	liderou	a	expedição	francesa	
que,	em	1612,	deu	início	as	pretensões	de	colonização	no	Norte	do	Brasil.
3	 Cabildo	era	uma	corporação	municipal	 instituída	na	América	Espanhola	durante	o	período	colonial	
que	se	encarregava	da	administração	geral	das	cidades	coloniais.
35UNIDADE II Expansão da Colonização
que	não	houvesse	investimentos	para	aumentar	produtividade	ou	reduzir	custos.	Porém,	
devido	ao	baixo	investimento	e	custos	baixos,	tais	atividades	se	adaptavam	muito	bem	aalterações	no	preço	de	seus	produtos.	Era	 lucrativo	continuar	produzindo	mesmo	que	o	
preço	caísse	muito.
A	 atividade	 canavieira	 dependia	 da	 compra	 de	 equipamentos	 e	 importação	 de	
mão-de-obra,	já	a	pecuária	não,	nela	o	aumento	do	rebanho	acontecia	de	forma	natural,	
assim	como	a	incorporação	de	terras	e	a	mão	de	obra,	pois	considerando	que	a	atividade	
era	capaz	de	prover	alimento	em	abundância,	isso	causava	um	aumento	ainda	maior	da	
população	nestas	atividades.
A	queda	no	preço	do	açúcar	na	segunda	metade	do	século	XVII	reduziu	a	lucra-
tividade	do	setor,	mas	não	a	ponto	de	 torná-lo	 inviável,	 a	atividade	continuou	operando	
mesmo	vendo	seus	lucros	caírem	fortemente.	A	situação,	porém,	se	complicou	ainda	mais	
no	século	XVIII	com	o	aumento	do	preço	dos	escravos	e	a	transferência	de	parte	da	força	
de	trabalho	para	as	minas	de	ouro	em	Minas	Gerais.	No	caso	da	pecuária,	a	redução	da	
demanda	de	seus	produtos	não	parou	a	proliferação	do	rebanho	e	mão-de-obra,	seja	a	que	
crescia	naturalmente	no	seu	entorno	ou	a	que	abandonava	os	engenhos	que	passavam	
por	dificuldades,	sempre	encontrava	 trabalho.	Mesmo	que	fossem	atividades	 limitadas	à	
subsistência.
Toda	essa	redução	na	lucratividade	da	indústria	açucareira	e,	por	consequência,	
na	pecuária	que	era	fornecedora	dos	engenhos,	fez	com	que	a	renda	diminuísse	na	região	
Nordeste	a	ponto	de	ter	início	algumas	atividades	de	manufatura	local,	destinadas	a	forne-
cer	produtos	que	em	outras	épocas	eram	importados.	Nesse	cenário,	o	couro	teve	papel	
importante	como	matéria-prima.
Fica	claro,	no	entanto,	que	do	fim	século	XVII	até	começo	do	século	XIX	a	economia	
nordestina	passou	por	um	processo	no	qual	as	atividades	mais	especializadas	e	industriais	
foram	dando	lugar	a	uma	economia	de	subsistência	que	causou	um	retrocesso	em	relação	
ao	nível	de	renda	e	desenvolvimento.	De	toda	forma,	houve	um	grande	aumento	popula-
cional	devido	às	atividades	de	subsistência,	uma	população	cada	vez	maior	e	com	renda	
cada	vez	mais	baixa	ou	inexistente.	Esse	processo	de	crescimento	e	empobrecimento	do	
Nordeste	brasileiro	tem	consequências	que	podemos	observar	até	os	dias	de	hoje	quando	
pensamos	em	todos	os	problemas	financeiros	que	a	região	atravessa.
36UNIDADE II Expansão da Colonização
2 EXPANSÃO TERRITORIAL
A	União	Ibérica	facilitou	a	exploração	territorial	e	a	colonização	do	Brasil,	porque	
retirou	 as	 restrições	 de	 fronteira	 que	 dividiam	o	 continente	 que	 havia	 sido	 estabelecido	
pelo	Tratado	de	Tordesilhas	em	1494.	Mas	o	principal	motivo	para	a	exploração	europeia	
no	interior	ainda	era	a	busca	por	metais	preciosos.	Soma-se	a	isso	o	desejo	de	capturar	
índios	para	 trabalhar	como	escravos	nas	plantações	de	açúcar	em	rápida	expansão.	As	
expedições	mais	celebradas	foram	as	organizadas	pelos	bandeirantes	de	São	Paulo.	Os	
bandeirantes	eram	uma	combinação	de	 índios	e	europeus,	muitos	dos	quais	eram	uma	
mistura	de	origem	branca	e	indígena,	conhecidos	como	mamelucos.	Eles	ganharam	seu	
nome	a	partir	das	bandeiras	distintas	que	eles	carregavam	para	identificar	a	si	mesmos.	
Percorrendo	enormes	distâncias	a	pé	por	semanas,	meses	e	até	anos,	os	bandeirantes	
adquiriram	uma	reputação	formidável	e	heroica.	Um	padre	jesuíta	comentou:	“Eles	vão	sem	
Deus,	sem	comida,	nus	como	os	selvagens,	e	sujeitos	a	todas	as	perseguições	e	misérias	
do	mundo.	Os	homens	se	aventuram	por	200	ou	300	léguas	no	sertão,	servindo	ao	diabo	
com	um	martírio	tão	incrível,	a	fim	de	negociar	ou	roubar	escravos”	(SKIDMORE,	2002,	p.	
15).	Expedições	variavam	muito	em	tamanho	e	duração.	Uma	expedição	em	1628	incluiu	
69	brancos,	900	mamelucos	e	2.000	índios.	Os	bandeirantes	foram	pioneiros	implacáveis,	
cujas	 incursões	 ajudaram	 a	 disseminar	 o	 domínio	 e	 a	 autoridade	 portuguesa	 e,	 assim,	
estimularam	mais	assentamentos	e	o	desenvolvimento	comercial	do	interior.
37UNIDADE II Expansão da Colonização
A	exploração	e	o	assentamento	também	foram	influenciados	pela	preocupação	de	
impedir	que	outras	nações	europeias	invadissem	o	território	português,	especialmente	ao	
longo	do	litoral	norte.	Pontos	fortificados	foram	fundados	na	Filipeia	(atual	João	Pessoa),	
em	 1585,	Natal,	 em	 1599	 e	 Fortaleza,	 em	 1611.	 São	 Luís	 foi	 resgatada	 dos	 franceses	
em	1614	e	 tornou-se	a	 primeira	 capital	 do	Estado	do	Maranhão,	 criada	em	1621.	Uma	
importante	base	militar	foi	criada	em	Belém,	em	1616,	para	controlar	a	foz	do	rio	Amazonas.	
Uma	expedição	organizada	por	Pedro	Teixeira	saiu	de	Belém	em	1637	e	passou	dois	anos	
navegando	pelo	vasto	rio.	Embora	Portugal	 tenha	reivindicado	a	soberania	sobre	todo	o	
Vale	do	Amazonas,	o	assentamento	português	foi	restringido	durante	grande	parte	do	sé-
culo	XVII	às	cidades	de	São	Luís	e	Belém.	Além	das	cidades	costeiras,	a	autoridade	real	foi	
representada	pelo	estabelecimento	de	postos	militares	e	pelas	atividades	missionárias	das	
Ordens	Religiosas.	Franciscanos,	 jesuítas	e	carmelitas	estabeleceram	aldeias	nas	quais	
comunidades	 de	 índios	 locais	 foram	 reunidas	 para	 fins	 de	 conversão	 ao	 cristianismo	 e	
aculturação.
No	Nordeste,	a	maior	parte	da	população	europeia	estava	localizada	próxima	às	
plantações	de	açúcar,	localizadas	na	faixa	litorânea.	Como	vimos	na	Unidade	I,	a	crescente	
exigência	de	alimentos	e	de	transporte	para	a	indústria	açucareira	estimulou	o	desenvol-
vimento	da	pecuária.	Durante	o	século	XVII,	os	rebanhos	de	gado	gradualmente	se	espa-
lharam	para	além	do	litoral	e	para	as	pradarias	circundantes	do	interior	ou	“sertão”,	e	mais	
especificamente	na	Bahia	e	em	Pernambuco.	A	expansão	para	o	interior	foi	desencorajada	
pela	falta	de	estradas	e	trilhas,	pelo	clima	extremamente	seco	e	pela	hostilidade	dos	índios.	
Foi	só	na	descoberta	do	ouro	em	Minas	Gerais,	no	final	do	século	XVII,	que	houve	um	
grande	e	sustentado	movimento	de	pessoas	vindas	do	litoral	para	o	sertão.
Mais	 ao	 sul	 da	 colônia,	 a	 cidade	do	Rio	 de	 Janeiro	 aproveitou	 suas	 excelentes	
instalações	 portuárias	 naturais	 para	 se	 desenvolver	 como	 um	 grande	 porto.	 São	 Paulo	
também	 emergiu	 como	 uma	 importante	 base	 para	 o	 intercâmbio	 comercial	 e	 ponto	 de	
partida	para	os	bandeirantes	organizarem	suas	expedições	ao	interior.	Poucos	europeus	
se	aventuraram	mais	ao	sul.	As	exceções	foram	missões	jesuítas	criadas	para	proteger	e	
aculturar	os	índios	e	alguns	pontos	fortificados,	como	Laguna,	em	Santa	Catarina,	e	Colônia	
do	Sacramento,	no	Rio	da	Prata,	que	foram	destinados	principalmente	postos	militares	para	
afirmar	reivindicações	portuguesas	para	posse	do	território.
38UNIDADE II Expansão da Colonização
2.1 A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul
Os	portugueses	sempre	se	interessaram	por	metais	preciosos.	Eles	queriam,	acima	
de	tudo,	encontrar	o	ouro,	a	moeda	mais	suprema	no	comércio	mercantilista	da	Europa.	
Em	1695	foram	descobertas	reservas	de	ouro	em	Minas	Gerais,	e	depois	de	quase	dois	
séculos	de	exploração	infrutífera	de	metais	preciosos,	parecia	que	o	Brasil	finalmente	havia	
se	tornado	outro	el dorado4.	A	fronteira	da	mineração	atraiu	um	enorme	fluxo	de	migrantes	
que	buscavam	fazer	fortunas.	
A	descoberta	do	ouro	desencadeou	uma	corrida	imediata	de	migrantes	de	todo	o	
Brasil,	especialmente	do	Nordeste,	já	que	Minas	Gerais	rapidamente	se	tornou	a	região	que	
mais	crescia	no	Brasil	do	século	XVIII.	Prado	Júnior	(2012)	relata	que	as	primeiras	desco-
bertas	positivas	de	ouro	no	centro	de	Minas	Gerais	ocorreram	em	meados	de	1696.	Houve	
também	um	aumento	repentino	nos	recém-chegados	de	Portugal.	Essa	saída	da	juventude	
portuguesa	tornou-se	tão	grande	que,	em	1705,	a	Coroa	até	tentou	(sem	sucesso)	retardar	
o	fluxo.	Em	décadas,	o	Brasil	tornou-se	o	maior	produtor	de	ouro	do	mundo.	
Na	década	de	1720,	o	Brasil	também	começou	a	produzir	diamantes.	Finalmente,	
Portugal	poderia	desfrutar	do	tipo	de	bonança	que	a	Espanha	havia	ganhado	séculos	antes.	
Essa	produção	de	ouro	e	diamante	teve	um	resultado	muito	positivo,	financiandoo	surgi-
mento	de	uma	rica	cultura	no	Centro-Sul	do	Brasil.	
Depois	de	ser	praticamente	desabitada	pelos	europeus,	a	população	mineira	subiu	
de	30.000,	em	1709,	e	para	300.000,	em	1775,	um	número	que	equivalia	a	20%	da	popula-
ção	estimada	da	colônia.	As	cidades	mineiras	do	século	XVIII	viram	a	construção	de	igrejas	
cristãs	em	um	estilo	barroco	brasileiro	único.	Antonio	Francisco	Lisboa	(“Aleijadinho”)	se	
destacou	pelas	igrejas	que	projetou	em	Ouro	Preto,	Sabará	e	São	João	Del-Rei,	e	por	suas	
esculturas	em	tamanho	real	dos	profetas	em	Congonhas	do	Campo.	Ele	superou	o	estigma	
de	sua	cor,	sem	mencionar	a	hanseníase,	para	se	tornar	um	dos	gigantes	da	história	da	
arte	brasileira.
4	 El dorado	 é	 uma	 antiga	 lenda	 indígena	 da	 época	 da	 colonização	 da	América	 que	 atraiu	 muitos	
aventureiros	europeus.	A	lenda	falava	de	uma	cidade	que	foi	toda	feita	de	ouro	maciço	e	puro.
39UNIDADE II Expansão da Colonização
SAIBA MAIS
No	fim	de	sua	vida,	Aleijadinho	realiza	as	12	esculturas	intituladas	Os Profetas	na	pe-
quena	cidade	de	Congonhas	do	Campo.	O	material	usado	é	a	pedra-sabão,	caracterís-
tica	em	muitas	obras	do	escultor.	Executadas	entre	1796	e	1805,	momento	em	que	o	
artista	está	debilitado	por	sua	doença,	são	feitas	com	ajuda	de	outros	artesãos	subordi-
nados	a	Aleijadinho,	o	que	explica	as	diferenças	entre	seus	estilos	e	leva	a	crer	que	nem	
todas	foram	feitas	pelo	próprio	escultor.	Todos	os	profetas	têm	cabelos	encaracolados,	
cobertos	por	turbantes,	e	olhos	levemente	puxados	–	traço	recorrente	nas	esculturas	do	
artista.	Os	profetas,	localizados	no	adro	do	Santuário	de	Bom	Jesus	de	Matosinhos,	têm	
caráter	monumental	e	mesclam	“realismo	e	caricatura”,	como	ressalta	o	historiador	da	
arte	inglês	John	Bury.
Fonte:	Bury	(2006,	p.	39).
O	grande	crescimento	demográfico	refletiu	o	 fato	de	Minas	Gerais	 ter	deslocado	
do	Nordeste	o	centro	econômico	da	colônia.	Minas	Gerais	também	foi	usada	como	base	
para	 exploração	 e	 assentamento	 à	medida	 que	 os	 garimpeiros	 se	mudaram	para	 fazer	
novas	descobertas	de	ouro	e	diamantes	em	Mato	Grosso,	em	1719,	e	Goiás,	em	1725.	
Inicialmente,	a	maioria	dos	garimpeiros	viajou	para	a	 região	mineira	em	árduas	viagens	
que	duravam	semanas	e	meses	pelas	rotas	interiores	de	São	Paulo	ou	ao	longo	do	rio	São	
Francisco,	mas	a	 rota	preferida	e	mais	 rápida	passou	a	ser	a	 “Estrada	Nova”	do	centro	
administrativo	de	mineração	de	Ouro	Preto	até	o	porto	do	Rio	de	Janeiro.	Isso	aumentou	
muito	a	crescente	importância	geográfica	e	econômica	do	Rio	de	Janeiro	e	contribuiu	para	
a	decisão	de	transferir	a	capital	de	Salvador	para	o	Rio	de	Janeiro,	em	1763.
A	abertura	de	novas	áreas	no	interior	resultou	em	uma	grande	reorganização	do	
governo	colonial	e	na	vigorosa	afirmação	da	autoridade	real.	O	envio	de	um	grande	número	
40UNIDADE II Expansão da Colonização
de	oficiais	e	soldados	reais	mostrou-se	necessário	para	garantir	a	cobrança	de	impostos,	
a	prevenção	do	contrabando	e	a	manutenção	da	lei	e	da	ordem	em	uma	região	que	expe-
rimentou	frequente	escassez	de	alimentos	e	violência	endêmica.	Uma	causa	particular	da	
agitação	social	foi	a	atitude	dos	paulistas,	que	compunham	a	maior	parte	da	primeira	leva	
de	garimpeiros.	O	conflito	resultou	em	um	breve	período	de	hostilidade	aberta	e	violência	
conhecida	como	a	“Guerra	dos	Emboabas”	–	um	confronto	travado	de	1707	a	1709	pelo	
direito	de	exploração	das	recém-descobertas	jazidas	de	ouro	na	região	do	atual	estado	de	
Minas	Gerais,	no	Brasil.
A	 perturbação	 forneceu	 à	Coroa	 uma	 justificativa	 para	 impor	 sua	 autoridade	 na	
região	mineira.	Estradas	foram	construídas	para	o	transporte	seguro	de	ouro	e	foram	guar-
dadas	por	uma	rede	de	tropas	militares.	A	interferência	direta	dos	funcionários	reais	foi	mais	
acentuada	em	suas	tentativas	de	supervisionar	e	registrar	a	produção	de	ouro,	a	fim	de	
garantir	o	pagamento	do	imposto	conhecido	como	quinto	(“o	quinto	real”).	
Segundo	Prado	Júnior	(2012),	o	sistema	estabelecido	era	o	seguinte:	para	dirigir	
a	mineração,	fiscalizá-la	e	cobrar	tal	tributo,	criou-se	uma	administração	especial,	a	Inten-
dência de Minas, sob	a	direção	de	um	superintendente.	Tal	sistema	deveria	vigorar	em	
cada	capitania	onde	 fosse	descoberto	o	ouro,	sendo	que	 tais	 intendências	 independiam	
inteiramente	de	governadores	e	quaisquer	outras	autoridades	da	colônia,	sendo	subordina-
das	unicamente	ao	governo	metropolitano	de	Lisboa.
O	ressentimento	local	se	transformou	em	uma	breve	revolta	armada	na	(Vila	Rica	
do)	Ouro	Preto,	em	1720,	que	foi	brutalmente	reprimida.	A	autoridade	real	foi	ainda	mais	
rigorosa	no	Distrito	Diamantina,	no	norte	de	Minas	Gerais.	Considerando	que	a	Coroa	tinha	
sido	reativa	em	sua	política	para	os	ataques	sobre	o	ouro,	agiu	rapidamente	ao	saber	da	
descoberta	de	diamantes	em	1729.	
O	Distrito	de	Diamantina	foi	declarado	propriedade	real	e	foram	impostas	restrições	
ao	movimento	de	pessoas	que	entravam	e	saíam	da	área.	A	extração	e	venda	de	diamantes	
foram	estritamente	regulamentadas.	A	indústria	foi	declarada	como	um	monopólio	real	em	
1771.	No	entanto	o	contrabando	não	podia	ser	eliminado	e	era	frequentemente	conduzido	
com	o	conluio	das	autoridades	 locais.	Em	contraste	com	a	habitual	aplicação	 frouxa	do	
domínio	português	no	Brasil,	no	entanto,	a	indústria	de	diamantes	deu	um	exemplo	da	ten-
tativa	de	implementação	do	sistema	mercantilista	no	qual	o	tesouro	foi	extraído	da	colônia	
em	benefício	do	país-mãe.
As	minas	de	ouro	e	diamante,	como	as	plantações,	dependiam	do	trabalho	escravo	
africano	—	necessitando	de	uma	mudança	de	escravos	africanos	de	outros	lugares	do	Bra-
41UNIDADE II Expansão da Colonização
sil,	bem	como	de	novas	entregas	do	comércio	de	escravos	do	Atlântico	Sul.	O	que	o	boom	
da	mineração	não	fez	foi	mudar	o	padrão	básico	do	desenvolvimento	econômico	colonial	
brasileiro.	Assim	como	os	produtos	agrícolas	tropicais	(como	açúcar,	algodão	e	tabaco),	a	
mineração	de	ouro	e	diamante	não	estimulou	o	crescimento	econômico	amplamente	neces-
sário	para	a	industrialização.	As	riquezas	minerais	foram	para	Portugal,	onde	resgataram	
um	reino	em	declínio.	Portugal	estava	com	um	déficit	constante	no	seu	comércio	com	a	
Inglaterra,	 e	grande	parte	do	ouro	brasileiro	 foi	 para	 cobrir	 as	dívidas	portuguesas	 com	
a	Inglaterra.	Esse	ouro	também	foi	para	manter	o	estilo	de	vida	da	corte	real	e	as	ordens	
religiosas.
A	capacidade	de	produção	limitada	das	jazidas,	a	falta	de	aprimoramento	da	ati-
vidade	e	a	falta	de	preparo	técnico	foram	os	principais	elementos	que	contribuíram	para	o	
rápido	esgotamento	das	minas.	Além	disso,	as	ações	políticas	adotadas	pelos	portugueses	
contribuíram	ativamente	para	a	crise	da	atividade	mineradora.	Incidentes	entre	minerado-
res	e	autoridades	portuguesas	começam	a	acontecer	devido	ao	aumento	da	fiscalização	
e	a	cobrança	de	impostos,	a	medida	que	os	metais	começam	a	faltar.	Foi	assim	que	em	
1789	ocorreu	o	fato	chamado	Inconfidência	Mineira,	um	levante	anticolonialista	que	marcou	
efetivamente	a	crise	da	atividade	mineradora	no	Brasil.
SAIBA MAIS
A	Inconfidência	Mineira	foi	abordada	por	estudiosos	de	várias	maneiras	diferentes.	Há	
quem	a	defina	como	um	movimento	que	buscava	a	 liberdade	da	colônia	portuguesa	
frente	à	metrópole.	Outros	já	esboçam	contornos	mais	regionais	atribuindo	sua	“quase”	
eclosão	ao	descontentamento	da	população	de	Minas	para	com	o	excesso	da	carga	
tributária	 imposta	pelo	governo	português.	Teremos	ainda	pesquisadores	que	 tomam	
os	interesses	particulares	como	propulsores	do	movimento.	É	fácil	perceber	que	o	tema	
é,	ainda	hoje,	polêmico,	principalmente	no	que	diz	respeito	ao	papel	de	cada	um	dos	
envolvidos.
Fonte:	Almeida	(s.d.).
Após	a	crise	do	ouro,	no	final	do	século	XVIII,	ressurgem	as	atividades	agrícolas.	
Produtos	como	açúcar,	algodão	e	tabaco	voltam	a	ser	valorizados,	principalmente	devido	
ao	advento	da	revolução	industrial.
42UNIDADE II Expansão da Colonização
2.2 O Renascimento da AgriculturaVocê	 já	 sabe	 que	 o	 açúcar	 esteve	 até	 o	 final	 do	 século	XIII	 entre	 os	 principais	
produtos	de	exportação	depois	 que	a	madeira	 do	Brasil	 foi	 praticamente	extinta,	 sendo	
cultivado	em	grande	parte	dentro	da	zona	úmida	no	litoral	nordestino	e	exportado	para	o	
comércio	europeu,	dominado	pelos	holandeses.
Os	preços	 internacionais	do	açúcar	 caíram	entre	1670	e	1680,	 à	medida	que	o	
aumento	da	produção	nas	Antilhas	cortou	a	participação	de	mercado	mundial	do	Brasil.	
Porém,	a	busca	portuguesa	pelo	ouro	foi	finalmente	satisfeita	no	início	da	década	de	1690	
e,	como	vimos	na	seção	anterior,	os	achados	(que	mais	tarde	incluíam	diamantes)	foram	
localizados	nos	atuais	estados	de	Minas	Gerais,	Mato	Grosso,	Goiás	e	sul	da	Bahia.
Ainda	durante	o	período	colonial,	no	século	XVIII,	o	Brasil	passou	por	uma	 fase	
de	transição	entre	a	mineração	e	o	advento	do	café.	Na	realidade,	a	passagem	da	colônia	
para	o	Estado	Nacional,	surgiu	com	a	independência	do	Brasil,	em	1822.	Nessa	fase,	que	
abrange	o	final	do	século	XVIII	e	as	primeiras	décadas	do	século	XIX,	a	mineração	entrou	
em	crise,	 ao	mesmo	 tempo	em	que	a	 economia	 colonial	 se	 reorganizava	 com	base	na	
grande	lavoura	mercantil	exportadora,	dando	origem	ao	renascimento	agrícola.
A	Figura	1	apresenta	informações	sobre	os	principais	produtos	de	exportação	da	
colônia	nos	séculos	XVII	e	XVIII.	Como	podemos	observar,	o	açúcar	prevalece	como	prin-
cipal	produto	de	exportação	até	a	segunda	metade	do	XVIII.	Quanto	ao	ouro,	ganha	sua	
importância	no	século	XVIII	e	já	aponta	seu	declínio	na	participação	do	mercado	externo,	
no	início	do	século	XIX,	quando	ressurge	a	agricultura.
Figura 1 –	Exportações	da	colônia	-	1600	a	1800
Fonte:	Blog	do	ENEM	(2018).
43UNIDADE II Expansão da Colonização
Com	o	declínio	da	mineração,	ressurgiu,	então,	novamente	a	agricultura,	que	voltou	
a	ocupar	a	posição	dominante	que	prevaleceu	nos	dois	primeiros	séculos	da	colonização.	
Mas	 segundo	Prado	 Júnior	 (2012),	 o	 que	 estimulou	 a	 volta	 para	 o	 cultivo	 da	 terra	 não	
foi	apenas	a	crise	do	ouro,	mas	novos	mercados	para	seus	produtos	que	surgiram	com	
o	 incremento	 das	 atividades	 econômicas	 e	 das	 relações	 comerciais,	 com	o	 advento	 da	
Revolução	Industrial.
44UNIDADE II Expansão da Colonização
3 O FIM DA ERA COLONIAL
3.1 A Chegada da Família Real ao Brasil
Depois	de	durar	três	séculos,	as	colônias	portuguesas	e	espanholas,	impérios	no	
Novo	Mundo,	 entraram	em	 colapso	 no	 início	 do	 século	XIX.	Enquanto	 a	 libertação	 das	
colônias	espanholas	envolveu	15	anos	de	guerra	civil	de	1810	a	1825,	o	mesmo	resultado	
no	Brasil	foi	obtido	de	forma	muito	menos	traumática,	em	apenas	um	ano	de	luta.	Foi	uma	
transição	relativamente	pacífica	e	rápida	que	se	deveu	muito	à	influência	das	forças	diplo-
máticas	e	militares	na	Europa,	começando	com	a	inesperada	vinda	da	família	real	portu-
guesa	para	o	Brasil.	Napoleão	Bonaparte,	imperador	francês,	impôs	o	Bloqueio	Continental	
que	visava	proibir	 todo	o	comércio	entre	a	Europa	continental	e	a	Grã-Bretanha,	sendo	
que	Portugal	também	recebeu	um	ultimato	para	cumprir,	mas	postergou	sua	execução.	A	
resposta	caracteristicamente	indecisa	de	Dom	João	refletia	um	medo	da	França	misturado	
com	relutância	em	prejudicar	a	estreita	relação	comercial	que	tinha	com	a	Grã-Bretanha.	
Em	retaliação,	as	forças	francesas	sob	o	comando	do	general	Andoche	Junot,	invadiram	
Portugal	em	novembro	de	1807.
Diante	da	perspectiva	iminente	de	captura	pelo	exército	invasor	francês,	Dom	João	
optou	por	deixar	Lisboa	e	buscar	exílio	temporário	no	Brasil.	A	ideia	da	família	real	residente	
nos	trópicos	parecia	radical,	mas	não	era	inteiramente	nova.	No	século	XVIII,	o	diplomata	
veterano	Luís	da	Cunha,	havia	previsto	que	a	importância	econômica	e	política	do	Brasil	
45UNIDADE II Expansão da Colonização
acabaria	resultando	na	realocação	da	sede	do	governo	real	para	o	Novo	Mundo.	De	re-
pente,	a	ideia	tornou-se	realidade	em	1807,	por	uma	questão	de	conveniência,	ao	invés	de	
um	cuidadoso	planejamento.	A	evacuação	também	foi	fortemente	apoiada	pelos	ingleses,	
tradicionais,	parceiros	comerciais	de	Portugal.
O	embarque	foi	marcado	por	grande	confusão.	Muitas	dificuldades	foram	encon-
tradas	durante	a	viagem,	como	uma	tempestade	que	dividiu	a	frota.	Navios	superlotados	
ficaram	sem	comida	e	água.	Uma	infestação	de	piolhos	exigia	que	as	mulheres	raspassem	
suas	cabeças.	Em	22	de	janeiro	de	1808,	parte	da	frota	em	que	o	príncipe	regente	viajou	
chegou	à	Bahia.	Quando	Dom	João	desembarcou	em	Salvador,	ele	foi	o	primeiro	monar-
ca	europeu	a	colocar	os	pés	no	solo	do	Novo	Mundo.	Sua	curta	estadia	em	Salvador	foi	
memorável	devido	à	assinatura	de	um	importante	ato	comercial	para	o	Brasil.	O	príncipe	
regente	emitiu	um	decreto	em	28	de	janeiro,	abrindo	os	portos	do	Brasil	para	comercializar	
com	nações	amigas.	A	medida	foi	importante,	pois	significava	o	fim	oficial	do	sistema	mer-
cantilista	que	havia	impactado	o	Brasil	por	três	séculos,	indo	em	direção	a	uma	economia	
mais	liberal,	sob	influência	dos	ingleses.
Apesar	de	Dom	João	ter	ficado	grato	com	a	ajuda	britânica,	o	decreto	não	foi	so-
mente	um	agradecimento	aos	comerciantes	britânicos,	pois	a	decisão	de	abrir	os	portos	foi,	
em	grande	parte,	uma	resposta	de	emergência,	influenciada	pela	necessidade	eminente	de	
aumentar	receita	proveniente	de	direitos	aduaneiros	e	impedir	comerciantes	locais	de	pra-
ticar	contrabando	em	larga	escala.	Além	disso,	a	medida	foi	agradável	para	os	interesses	
brasileiros,	especialmente	aqueles	que	produziram	açúcar	e	algodão	para	o	comércio	de	
exportação.
Dom	João	finalmente	chegou	ao	Rio	de	Janeiro,	em	7	de	março	de	1808.	Os	mem-
bros	do	tribunal	e	os	funcionários	do	governo	viajaram	com	o	príncipe	regente,	para	que	
ficasse	evidente	que	o	Rio	de	Janeiro	se	tornaria	instantaneamente	a	capital	e	o	centro	do	
império	português.	Os	ministérios	do	governo	foram	rapidamente	estabelecidos	juntamente	
com	um	exército,	academia,	faculdade	de	medicina,	imprensa	e	instituições	financeiras.	O	
crescente	prestígio	e	importância	do	Brasil	ficou	evidente	em	dezembro	de	1815,	quando	
Dom	João	criou	o	Reino	Unido	de	Portugal,	Brasil	e	Algarves	que	alterava	o	status	do	Brasil	
de	colônia	para	reino.	Isso	colocava	Brasil	e	Portugal	em	pé	de	igualdade.
Apesar	de	seus	privilégios	políticos	e	econômicos,	muitos	portugueses	cortesãos	e	
especialmente	Carlota	Joaquina	ansiavam	por	retornar	a	Portugal.	Expressaram	abertamen-
te	seu	desprezo	pelo	Brasil	e	pelos	brasileiros	e	provocaram	o	sentimento	anti-português	
em	todos	os	níveis	da	sociedade	brasileira.	Nenhum	brasileiro	nato	foi	nomeado	ministro	do	
46UNIDADE II Expansão da Colonização
governo	ou	membro	do	Conselho,	o	órgão	de	prestígio	que	assessorou	o	rei	em	questões	de	
estado.	Ressentimento	contra	a	arrogância	e	a	influência	portuguesa	foi	uma	característica	
da	Revolução	Pernambucana,	a	única	revolta	separatista	que	ocorreu	durante	o	período	de	
Dom	João.	A	rebelião	começou	em	Recife,	em	março	de	1817,	com	a	proclamação	de	uma	
república	que	exigia	maior	autonomia	local,	incluindo	a	expulsão	de	todos	os	portugueses	
da	província.	O	movimento	atraiu	amplo	apoio	da	elite,	incluindo	alguns	oficiais	do	exército,	
proprietários	de	terras,	comerciantes	e	muitos	sacerdotes,	razão	pela	qual	ficou	conhecida	
como	a	“revolução	dos	sacerdotes”.	A	repressão	foi	violenta	com	várias	mortes	e	prisões,	
e	o	receio	português	era	de	que	revoltas	similares	fossem	incentivadas	por	Pernambuco.
A	vinda	da	família	real	para	o	Brasil	sempre	foi	vista	como	uma	medida	temporária.	
A	perspectiva	de	um	retorno	seguro	a	Portugal	começou	a	se	tornar	possível	a	partir	de	
1811,	quando	as	tropas	francesas	foram	forçadas	a	recuar	da	região	da	Península	Ibérica.	
Mesmo	após	a	derrota	final	de	Napoleão,	em	1815,	e	apesar	dos	desejos	de	muitos	dos	
seus	cortesãos,	Dom	João	relutava	pessoalmente	em	empreender	a	longa	viagem	marítima	
do	Rio	de	Janeiro	a	Lisboa.Dom	João	temia,	no	entanto,	perder	seu	trono	se	ele	não	retornasse	a	Portugal,	
sobretudo	após	as	 revoltas	do	Porto	em	1820,	 quando	se	estabeleceram	as	 chamadas	
Cortes	Constituintes.	Em	face	disso,	Dom	João	partiu	do	Brasil	em	26	de	abril	de	1821,	
deixando	seu	filho	Pedro,	de	23	anos,	como	príncipe	regente.	Dom	João	acreditava	que	o	
Brasil	logo	buscaria	a	independência.	
O	 retorno	 do	 rei	 a	 Lisboa,	 em	 julho	 de	 1821,	 não	 desviou	 a	 determinação	 das	
Cortes	 em	 restaurar	 a	 relação	 colonial	 entre	Portugal	 e	Brasil.	As	Cortes	 votaram	para	
privar	o	Brasil	de	seu	status	de	reino	e	exigir	que	o	herdeiro	do	trono,	o	príncipe	Pedro,	re-
tornasse	a	Portugal.	Antecipando	a	resistência	colonial,	foram	preparadas	tropas	para	envio	
ao	Rio	de	Janeiro	e	Pernambuco.	A	obediência	às	Cortes	se	asseguraria	colocando	todas	
as	províncias	sob	o	controle	de	um	governador	militar	que	seria	diretamente	responsável	
pelas	instruções	de	Lisboa.
47UNIDADE II Expansão da Colonização
REFLITA
Qual	a	importância	da	vinda	da	família	real	para	o	Brasil,	em	seu	processo	de	indepen-
dência?
Fonte:	A	autora,	2020.
3.2 A Independência do Brasil
A	 atitude	 de	 confronto	 adotada	 pelas	 Cortes	 despertou	 o	 criticismo	 e	 oposição	
no	Brasil.	A	elite	brasileira,	representada	pelos	grandes	proprietários	de	terras,	principais	
plantadores	e	comerciantes	urbanos,	teve	posicionamento	igual	aos	vizinhos	da	América	
espanhola	ao	se	opor	à	tentativa	de	restabelecimento	de	áreas	metropolitanas	ao	controle	
da	Europa.	Eles	temiam	a	restauração	de	privilégios	para	os	europeus	e	o	restabelecimento	
de	monopólios	comerciais	anteriores.	A	estadia	da	Corte	no	Rio	de	Janeiro	não	apenas	
elevou	o	prestígio	e	status	do	Brasil,	mas	 também	proporcionou	benefícios	econômicos	
que	a	elite	brasileira	relutava	em	perder.	A	recusa	em	submeter-se	à	autoridade	das	Cortes,	
no	entanto,	fez	surgir	a	ideia	de	separação	de	Portugal	e	do	estabelecimento	de	um	Brasil	
independente.	
A	resistência	brasileira	à	legislação	aprovada	em	Lisboa	foi	influenciada	pela	lenti-
dão	nas	comunicações	causadas	pela	distância	geográfica	e	pela	incapacidade	de	Portugal	
em	ameaçar	o	Brasil	com	uma	força	militar	forte	o	suficiente.	Também	pesou	a	presença	
real	no	Brasil	do	príncipe	Pedro,	membro	da	realeza	e	herdeiro	do	trono.	A	elite	brasileira,	
que	 liderou	 o	movimento	 pela	 independência,	 pediu	 que	 ele	 rejeitasse	 a	 exigência	 das	
Cortes	de	que	ele	deveria	regressar	a	Portugal.
Em	famosa	declaração,	feita	em	9	de	janeiro	de	1822,	Pedro	recebeu	uma	petição	
do	Conselho	Municipal	do	Rio	de	Janeiro,	pedindo	que	ele	ficasse	no	Brasil,	o	que	resultou	
no	conhecido	“Dia	do	Fico”.	Embora	nascido	em	Portugal	e	preferindo	a	companhia	dos	
portugueses	a	brasileiros	para	cargos	do	governo,	Dom	Pedro	agradou	aos	brasileiros	ao	
indicar	José	Bonifácio	de	Andrada	e	Silva,	nascido	no	Brasil,	para	atuar	como	seu	principal	
consultor	político,	com	o	 título	de	Ministro	do	Reino.	Educado	na	Universidade	Coimbra	
48UNIDADE II Expansão da Colonização
e	um	estadista	 de	 considerável	 intelecto	 e	 discernimento	 político,	 José	Bonifácio	 ficaria	
conhecido	como	o	“Patriarca	da	Independência”.	
Guiado	por	 José	Bonifácio,	 o	 príncipe	decretou,	 em	maio,	 que	nenhum	ato	 das	
Cortes	 teria	 força	 legal	no	Brasil	 sem	a	sua	aprovação.	Dom	Pedro	 também	assumiu	o	
título	de	Defensor	Perpétuo	do	Brasil.	O	título	foi	significativo	e	teve	importância	o	uso	do	
termo	“perpétuo”,	pois	implicava	que	o	príncipe	pretendia	permanecer	no	Brasil.	No	dia	7	de	
setembro,	a	caminho	de	Santos	para	São	Paulo,	ele	recebeu	notícias	que	as	Cortes	o	con-
sideravam	um	traidor	e	insistiam	em	seu	imediato	regresso	a	Portugal.	Uma	carta	de	José	
Bonifácio	explicou	ao	príncipe	que	o	compromisso	era	impossível	e	disse	ele:	“de	Portugal	
só	podemos	esperar	escravidão	e	horror,	volte	e	tome	uma	decisão”	(SMITH,	2002).	Nesse	
cenário	foi	que	Dom	Pedro	sacou	sua	espada	e,	desafiadoramente,	deu	sua	resposta	às	
Cortes	com	o	grito	de	“independência	ou	morte”.	O	“Grito	do	Ipiranga”	proclamou	a	inde-
pendência	do	Brasil	depois	de	mais	de	três	séculos	como	colônia	de	Portugal.	A	data	de	7	
de	setembro	seria	comemorada	a	partir	daí,	anualmente,	como	o	Dia	da	Independência	do	
Brasil.
49UNIDADE II Expansão da Colonização
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A	 economia	 colonial	 brasileira	 começou,	 como	 discutido	 no	 início	 da	 unidade,	
como	uma	série	de	postos	comerciais,	conhecidos	como	feitorias,	espalhados	pelo	litoral	
brasileiro.	Quando	o	aumento	do	compromisso	português	na	década	de	1530	deu	origem	
às	capitanias,	vimos	que	a	principal	cultura	foi	o	açúcar,	cultivado	em	enormes	plantações,	
com	economias	de	escala.	Com	o	fracasso	das	capitanias	hereditárias,	vimos	que	Portugal	
implantou	o	chamado	Governo-Geral,	que	marcou	a	afirmação	direta	e	visível	da	autoridade	
real	pela	primeira	vez	no	Brasil,	significando,	então,	o	abandono	do	sistema	de	capitania	
como	modelo	preferido	da	Coroa	Portuguesa.
Em	seguida,	vimos	como	o	Nordeste	chegou	a	ser	o	centro	econômico	da	colônia,	
com	a	atividade	açucareira	sendo	 foco	para	exportação	e	a	pecuária	se	desenvolvendo	
como	atividade	secundária	e	de	subsistência.	Posterior	a	isso,	abordamos	a	chamada	era	
do	ouro	e	vimos	como	a	fase	da	mineração	alterou	o	centro	dinâmico	da	economia	para	a	
região	centro-sul	do	Brasil.	Foi	destacado	também	que,	assim	como	os	produtos	agrícolas	
tropicais	(como	açúcar,	algodão	e	tabaco),	a	mineração	de	ouro	e	diamante	não	estimulou	o	
crescimento	econômico	suficientemente	necessário	para	a	industrialização.	Nesse	contex-
to,	abordamos	como	ocorreu	o	ressurgimento	da	agricultura,	após	o	declínio	da	atividade	
mineradora.	
Por	fim,	vimos	nesta	unidade	que	a	vinda	da	família	real	alterou	a	vida	no	Brasil	
colônia	e	 também	o	status	do	Brasil,	 que	passou	a	ser	 reconhecido	como	 reino.	Vimos	
em	seguida	que,	em	face	das	pressões	vindas	de	Portugal,	Dom	João	decide	retornar	a	
Lisboa,	deixando	seu	filho	Dom	Pedro	como	príncipe	regente.	Após	a	partida	da	família	real,	
as	exigências	vindas	de	Portugal	desagradavam	os	brasileiros	e	geravam	medo	de	que	
antigas	práticas,	como	o	monopólio	e	cobranças	de	impostos,	retornassem.	Tudo	isso	fez	
nascer	rapidamente	o	desejo	de	se	separar	de	Portugal.	Pesava	ainda	o	fato	de	Dom	Pedro	
ter	tomado	partido	na	causa	brasileira	e	se	rebelado	contra	Portugal.	Com	o	apoio	de	José	
de	Bonifácio,	o	Patriarca	da	Independência,	homem	de	grande	intelecto	e	brasileiro	nato,	
declarou	a	Independência	do	Brasil	1822.
50UNIDADE II Expansão da Colonização
LEITURA COMPLEMENTAR
Brasil	500	anos
Para	 complementar	 seus	estudos,	 acesse	o	 canal	 “Brasil	 500	anos”	do	 Instituto	
Brasileiro	de	Geografia	e	Estatística	que	apresenta	um	breve	panorama	sobre	o	processo	
de	ocupação	do	território	brasileiro,	com	ênfase	nas	contribuições	prestadas	por	distintos	
grupos	étnicos.
Acesse:	https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf
A FORMAÇÃO TERRITORIAL BRASILEIRA NOS DOIS PRIMEIROS SÉCULOS 
DE COLONIZAÇÃO 
	
Resumo
A	leitura	da	formação	territorial	brasileira	nos	dois	primeiros	séculos	de	colonização	
sempre	esteve	pautada	nos	tratados	de	fronteira	e/ou	nos	ciclos	econômicos,	produzindo	
a	compreensão	de	que	a	sua	principal	característica	foi	uma	ocupação	filiforme	e	em	ar-
quipélago.	Torna-se	necessário	superar	essa	compreensão,	uma	vez	que	novos	estudos	
têm	evidenciado	intensa	articulação	política,	econômica	e	social	entre	os	primeiros	núcleos	
coloniais,	entre	esses	com	a	metrópole,	com	a	bacia	do	Rio	da	Prata	e	com	África,	num	
processo	de	solidariedade	espacial	(territorial).	
	Palavras-chave:	Formação	territorial,	Brasil	Colônia,	ocupação	em	arquipélago	
Leia	o	artigo	completo	em:
	https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/1379/1169
51UNIDADE II Expansão da Colonização
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
• Título:	Boa	Ventura!	A	corrida	do	ouro	no	Brasil	(1697-1810)• Autor:	Lucas	Figueiredo
• Editora: Amazon
•	 Sinopse:	 Lucas	 Figueiredo	 traz	 à	 vida,	 pela	 primeira	 vez,	 a	
trajetória	 dura	 e	 demorada	 em	 direção	 à	 descoberta	 de	 nossas	
riquezas	minerais	—	e	suas	consequências.	A	América	Portuguesa	
estava	entre	as	nove	províncias	gemológicas	do	mundo.	Com	um	
solo	impregnado	de	pedras	preciosas,	sobretudo,	diamantes.	Mas	
foram	mais	de	dois	séculos	até	a	Coroa	ver	algum	sinal	de	riqueza.	
E	apenas	a	metade	do	tempo	para	dilapidar	esses	recursos.	Em	
cem	anos,	Portugal	torrava	mais	de	metade	do	metal	precioso	pro-
duzido	no	mundo	naquele	período.	Uma	sucessão	de	monarcas	
perdulários,	administradores	corruptos	e	sonegadores	de	impostos	
desfilam	nas	páginas	de	Boa	Ventura	com	a	familiaridade	nascida	
da	boa	pesquisa.	Lucas,	com	vários	Prêmios	Esso	na	bagagem,	
segue	 as	 pegadas	 fincadas	 nas	 picadas	 da	mata	 por	 gerações	
de	 aventureiros.	 E	 traça	 um	 painel	 da	 grande	 transformação	
brasileira:	estimulada	pela	corrida	do	ouro,	a	imigração	contribuiu	
para	transformar	uma	colônia	esquálida	de	300	mil	habitantes	em	
robusta	colônia	de	3,6	milhões.	A	busca	pelo	metal	ajudou	a	ocu-
par	e	proteger	as	fronteiras	do	Brasil,	a	desenvolver	a	agricultura	
e	até	mesmo	as	artes.	Só	uma	coisa	não	restou	desse	período...	
Seu	principal	protagonista:	o	ouro	brasileiro.	Pulverizado	por	toda	
Europa.
FILME/VÍDEO
• Título:	República	Guarani
• Ano:	1982
• Sinopse:	Através	de	imagens	de	arquivos	e	depoimentos	de	cé-
lebres	historiadores	das	mais	diversas	nacionalidades	e	linhas	de	
pesquisa,	Sylvio	Back	remonta	os	passos	das	missões	jesuíticas	
que	aportaram	no	Brasil	e	na	América	do	Sul	no	século	dezessete	
para	compreender	as	 formações	e	os	costumes	das	antigas	co-
munidades	 indígenas	nativas	 que	 foram	dizimadas	pelo	 homem	
branco.
•	Link do vídeo:	https://www.youtube.com/watch?v=2lW528AXLKI
52
Plano de Estudo:
●	 Passivo	Colonial	-	Crise	financeira	e	instabilidade	política;
●	 	Declínio	a	longo	prazo	do	nível	de	renda	na	primeira	metade	do	século	XIX;
●	 Economia	cafeeira;
●	 Problemas	de	mão	de	obra;
●	 Nível	de	renda	e	ritmo	de	crescimento	na	segunda	metade	do	século	XIX;
●	 Fluxo	de	renda	na	economia	de	trabalho	assalariado.
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Conceituar	e	contextualizar	o	passivo	colonial	e	o	período	de	crise	financeira;
●	 Abordar	o	surgimento	da	economia	cafeeira	e	os	problemas	ocasionados	pela	falta	
de	mão-de-obra;
●	 	Estabelecer	a	importância	do	rompimento	do	trabalho	escravo	e	os	incrementos	de	
renda	do	trabalho	assalariado.
UNIDADE III
Economia de Transição para o Trabalho 
Assalariado
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
53UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
INTRODUÇÃO
Nesta	unidade	poderemos	analisar	o	chamado	passivo	colonial	que	nada	mais	é	
do	que	uma	dívida	externa	portuguesa	que	foi	transferida	para	o	Brasil.	Junto	a	isso,	co-
nheceremos	um	pouco	mais	sobre	a	crise	financeira	enfrentada	pelo	Brasil	e	a	instabilidade	
política	do	início	do	Século	XIX.
A	estagnação	nas	exportações	e	os	gargalos	 internos	que	 impediam	o	Brasil	de	
alcançar	progresso	técnico	e	econômico	serão	analisados	ao	longo	da	unidade.	O	surgi-
mento	da	indústria	cafeeira	também	será	abordado,	levantando	aspectos	importantes	deste	
ciclo	econômico	de	destaque.
Outro	ponto	 importante	que	será	visto	ao	 longo	da	unidade	está	 relacionado	ao	
processo	de	transição	da	economia	escravista	para	assalariada,	o	que	veio	a	gerar	maior	
dinamismo	para	a	economia,	aumentando	seu	fluxo	de	renda.	Veremos	porque	esse	siste-
ma	econômico	voltado	ao	mercado	externo,	possibilitado	pela	geração	de	renda	do	trabalho	
assalariado	no	mercado	interno,	acabou	levando	a	um	desequilíbrio	externo.	
Na	próxima	unidade	veremos	as	causas	dessa	tendência	ao	desequilíbrio	externo,	
bem	como	a	concentração	de	renda	gerada.	Em	seguida	estudaremos	a	crise	cafeeira	e	
seus	mecanismos	de	defesa,	até	a	chegada	da	Grande	Depressão	e	o	início	do	processo	
de	industrialização	brasileiro.
54UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
1 ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA O TRABALHO ASSALARIADO
1.1 Passivo Colonial - Crise Financeira e Instabilidade Política
No	fim	do	século	XVIII	e	começo	do	século	XIX,	a	Europa	passava	por	uma	grande	
efervescência	política	e	econômica,	isso	fortaleceu,	de	certa	forma,	os	movimentos	políticos	
no	Brasil,	enquanto	europeus	resolviam	seus	problemas	internos.	De	toda	forma,	tudo	isso	
também	prolongou	a	instabilidade	financeira	que	havia	se	iniciado	com	o	começo	da	crise	
do	ouro.	Essa	crise	iniciou-se	por	volta	de	1785,	quando	as	minas	de	ouro,	após	anos	de	
intensa	mineração,	começaram	a	se	esgotar.	
Outro	ponto	para	o	Brasil	eram	os	acordos	assinados	em	1808	e	1810.	A	Abertura	
dos	Portos	em	1808,	assinado	por	D.	João	VI,	em	Salvador,	depois	de	fugir	de	Portugal,	
permitiu	 que	 outras	 nações	 pudessem	 fazer	 negócios	 diretamente	 com	 produtores	 bra-
sileiros	e,	assim,	quebrava	o	monopólio	português.	Em	1810,	o	Tratado	de	Cooperação	
e	Amizade	 fortaleceu	essa	posição	e	ampliou	benefícios	dos	 ingleses,	 também	mostrou	
uma	mudança	de	rumo	em	direção	a	uma	política	econômica	mais	 liberal	substituindo	o	
mercantilismo.	Esses	tratados	retiraram	poder	de	influência	de	Portugal	sobre	a	colônia	e	
iniciaram	o	processo	que	culminou	com	a	Independência.	
Segundo	Furtado	(2007),	esses	acontecimentos,	em	uma	perspectiva	ampla,	dei-
xam	mais	ou	menos	evidente	que	os	privilégios	concedidos	à	Inglaterra	constituíram	uma	
consequência	natural	da	forma	como	se	processou	a	independência.	Não	houve	pagamen-
55UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
tos	para	Portugal,	mas	devia	o	Brasil	assumir	a	responsabilidade	de	parte	do	passivo	que	
portugueses	contraíram	para	sobreviver	como	potência	colonial,	 isso	é	o	que	chamamos	
de	Passivo	Colonial.
Apesar	do	rumo	supostamente	liberal	que	portugueses	sob	influência	dos	ingleses	
tentaram	estabelecer	na	economia	do	Brasil,	ficava	claro	que	esse	não	 foi	o	caso,	pois,	
mesmo	com	os	privilégios	que	ingleses	detinham	para	os	seus	produtos,	eles	não	se	preo-
cuparam	em	abrir	mercado	para	os	produtos	brasileiros,	como	o	açúcar,	que	concorria	com	
o	açúcar	inglês	produzido	nas	Antilhas.	
Tal	fato	trouxe	problemas	para	a	economia	brasileira,	pois	os	ingleses	tentavam,	de	
todas	as	formas,	proibir	a	importação	de	escravos	africanos	que	barateavam	a	produção	
dos	produtos	brasileiros.	Além	disso,	os	 ingleses	ansiavam	por	mercados	consumidores	
para	seus	produtos	oriundos	da	Revolução	Industrial.	Isso	colocou	em	confronto	a	classe	
dominante	brasileira	que	eram	os	grandes	produtores	agrícolas	e	os	 ingleses.	Segundo	
Fausto	(1996),	é	comum	associar	essa	tendência	antiescravista	ao	interesse	britânico	em	
ampliar	mercados,	que	conseguiram	vantagens	sobre	os	concorrentes	com	a	Revolução	
Industrial.	 Entretanto	 essa	 associação	 contém	 apenas	 parte	 da	 verdade.	 O	movimento	
abolicionista	tem	influência	também	dos	novos	movimentos	surgidos	nos	países	mais	avan-
çados	da	Europa,	influenciados	pelo	pensamento	ilustrado	e	até	religioso,	como	é	o	caso	
da	Inglaterra.	A	isso	se	soma,	no	caso	francês,	a	revolta	de	negros	libertos	e	escravos	nas	
Antilhas.	Em	fevereiro	de	1794,	a	França,	durante	a	Revolução	Francesa,	decretou	o	fim	da	
escravidão	em	suas	colônias;	a	Inglaterra	fez	o	mesmo	em	1807.	
Segundo	Furtado	(2007),	é	impossível	afirmar	se	o	Brasil	teria	tido	melhores	resul-
tados	se	tivesse	mais	liberdade,	de	qualquer	forma	os	benefícios	oferecidos	aos	ingleses	
atrapalharam	em	muito	a	economia	brasileira.	A	estagnação	do	mercado	interno	gerou	uma	
redução	no	volume	de	importações	e	era	taxando	essas	importações	que	o	estado	arre-
cadava	boa	parte	dos	seus	recursos.	Desta	forma	surgiu	o	dilema	de	taxar	as	exportações	
e	atingir	os	senhores	da	grande	agricultura.	Diante	disso	debateram	sobre	aumentar	os	
impostos	sobre	as	importações	ou	ver	seus	lucros	reduzidos,	taxandoas	exportações.
Com	toda	essa	dificuldade	financeira	o	recém-criado	governo	brasileiro	vê	seu	po-
der	diminuir	em	uma	época	em	que	as	insatisfações	surgiam	de	todas	as	partes	do	país,	no	
Norte	e	Nordeste	havia	crise	com	a	queda	do	preço	do	açúcar	e	do	algodão	que	caiu	ainda	
mais.	A	região	Sul	passava	também	por	dificuldades	com	o	declínio	do	ouro,	tendo	em	vista	
que	era	o	ouro	que	criava	mercado	para	a	produção	de	bovinos	do	Sul.	 Isso	despertou	
várias	revoltas	armadas	no	Norte	e	uma	longa	guerra	civil	no	Sul.	
56UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
Nesse	contexto	conturbado	surge	um	novo	produto	agrícola	com	potencial	para	es-
timular	a	enfraquecida	economia	brasileira,	o	café,	que	será	visto	mais	a	fundo	nas	próximas	
seções.	A	partir	de	1820	a	produção	de	café	se	concentrou	no	entorno	da	capital	e	sede	do	
Império	e	isso	fortaleceu	o	governo	contra	as	revoltas	políticas	que	vinham	acontecendo	no	
Norte	e	no	Sul.	Apesar	disso,	o	governo	não	conseguia	equacionar	as	suas	contas.	
Apesar	de	após	a	independência	o	novo	governo	ter	conseguido	aumentar	a	arreca-
dação	sem	ter	que	destinar	parte	destes	recursos	a	Portugal,	ainda	assim	havia	um	enorme	
déficit	entre	o	que	o	governo	arrecadava	e	o	que	necessitava	para	manter	o	recém-criado	
aparato	de	estado.	Havia	pouco	espaço	para	aumento	de	arrecadação	de	tributos	antes	que	
todos	os	acordos	com	a	Inglaterra	deixassem	de	estar	em	vigor,	todavia	isso	só	aconteceria	
em	1844.	A	alternativa	encontrada	foi	imprimir	mais	dinheiro	para	financiar	o	Império.	Isso	
teve	efeito	na	moeda	brasileira,	que	viu	o	seu	câmbio	se	desvalorizar	em	relação	às	moedas	
estrangeiras,	o	que	causou	o	encarecimento	de	importações	e	impactou	diretamente	uma	
economia	que	ainda	dependia	da	importação	para	fornecimento	de	muitos	produtos.	Essa	
consequência	 foi	mais	 sentida	 pelas	 populações	 urbanas,	 os	 grandes	 produtores	 rurais	
conseguiam	ser	 quase	que	autossuficientes	 e	 não	eram	 tão	atingidos	pelo	 aumento	de	
preços	nas	importações.
Segundo	Furtado	(2007),	os	efeitos	se	concentravam	sobre	as	populações	das	ci-
dades	compostas	de	pequenos	comerciantes,	servidores	públicos	e	do	comércio,	militares	
etc.	Como	consequência,	a	 inflação	causou	um	empobrecimento	dessas	classes,	o	que	
ajuda	a	entender	a	origem	urbana	das	revoltas	da	época	e	o	aumento	da	animosidade	con-
tra	os	portugueses,	os	quais,	sendo	boa	parte	dos	comerciantes,	eram	responsabilizados	
pelos	males	que	o	aumento	dos	preços	causava	para	o	povo.
57UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
1.2 Declínio a Longo Prazo do Nível de Renda na Primeira Metade do Século XIX
Um	aumento	das	exportações	era	a	condição	básica	para	o	desenvolvimento	da	
economia	 brasileira	 na	 primeira	 metade	 do	 século	 XIX,	 segundo	 Furtado	 (2007).	 Sem	
apoio	para	ampliar	sua	capacidade	de	importação,	seria	impossível	o	Brasil	fomentar	sua	
industrialização,	devido	a	total	carência	de	base	técnica.	Ou	seja,	para	que	o	Brasil	tivesse	
se	 desenvolvido	 no	mesmo	 ritmo	 que	 os	 EUA,	 precisaria	 de	 uma	 demanda	 intensa	 de	
exportações,	mas,	no	entanto,	o	Brasil	não	possuía	uma	indústria	desenvolvida	para	tal.	
Nesse	processo	de	busca	pelo	desenvolvimento	e	pela	industrialização	brasileira,	
Dom	João	VI	tentou	estabelecer	uma	indústria	siderúrgica,	que,	não	por	falta	de	protecio-
nismo,	 fracassou,	 pois	 o	mercado	para	 tais	 produtos	era	 praticamente	 nulo	 e	 nenhuma	
indústria	criaria	mercado	para	si	mesma,	nas	palavras	de	Furtado	(2007).	
Simonsen	(2005)	destaca	que	o	declínio	da	mineração	levou	o	Centro-Sul	à	sua	
primeira	grande	crise	por	falta	de	uma	produção	rica	e	exportável,	em	uma	sociedade	atra-
sada,	com	baixa	capacidade	técnica,	em	que	a	alta	proporção	da	população	escrava	não	
permitia	um	comércio	interno	suficientemente	rico	para	o	seu	progresso.
Para	que	houvesse	o	processo	de	industrialização,	este	deveria	ter	início	na	pro-
dução	de	produtos	que	já	tinham	um	considerável	mercado,	como	os	tecidos,	por	exemplo,	
que	eram	a	única	manufatura	que	até	mesmo	a	população	escrava	tinha	acesso.	Porém	a	
queda	nos	preços	dos	tecidos	ingleses	tornou	praticamente	impossível	a	defesa	da	indús-
tria	local,	não	fosse	pelo	estabelecimento	de	cotas	de	importação,	o	que	não	seria	viável,	
58UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
pois	 reduziria	substancialmente	a	 renda	 real	da	população,	que	 já	passava	por	grandes	
dificuldades.	
O	Brasil	estava	sobrevivendo	essencialmente	da	produção	e	do	consumo	interno,	
pois	os	ciclos	econômicos	estavam	em	decadência.	Nesse	sentido,	Furtado	(2007)	destaca	
que	o	principal	motivo	do	declínio	da	economia	foi	a	queda	no	volume	de	exportações.	Du-
rante	esse	período,	a	taxa	de	crescimento	médio	anual	do	valor	em	libras	das	exportações	
brasileiras	não	excedeu	0,8%,	enquanto	a	população	crescia	a	uma	taxa	anual	de	cerca	
de	1,3%.	Levando	em	consideração	qualquer	margem	de	erro,	o	autor	considera	que	este	
foi	o	período	em	que	a	renda	per	capta	foi	a	mais	baixa	em	todo	o	período	da	colônia.	O	
mesmo	autor	considera	ainda	que	a	principal	causa	do	grande	atraso	relativo	da	economia	
brasileira	na	primeira	metade	do	século	XIX	pode	ser	 considerado	o	estancamento	das	
exportações.
59UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
2 A ECONOMIA CAFEEIRA
A	exaustão	das	minas	de	ouro	e	diamante	na	segunda	metade	de	século	XVIII	tor-
nou	a	economia	brasileira	novamente	dependente	de	exportações	agrícolas,	com	algodão	
e	agora	complementando	com	tabaco	e	açúcar.	Em	1830,	um	novo	produto	havia	surgido:	
o	café,	uma	exportação	que	abasteceria	a	economia	exportadora	do	Brasil	pelos	próximos	
140	anos.	O	café	foi	comercializado	pela	primeira	vez	com	sucesso	no	final	do	século	XVIII,	
no	Brasil,	na	província	do	Rio	de	Janeiro,	onde	o	solo	era	altamente	adaptável	ao	mato	de	
café.	Nas	décadas	de	1830	e	1840,	essa	província	se	tornou	o	centro	do	cultivo	de	café,	
com	a	cidade	do	Rio	como	centro	de	exportação.	O	Rio	de	Janeiro	abrigava	bancos,	corre-
toras	e	docas	que	ligavam	o	Brasil	ao	mercado	mundial	de	café	na	Europa	Ocidental	e	na	
América	do	Norte.	Os	escravos	eram	a	principal	fonte	do	trabalho	necessário	para	plantar	
os	pés	de	café,	cultivá-los	e	colher	o	que	se	tornariam	os	grãos	de	café.	Alguns	escravos	
foram	 adquiridos	 do	 tráfico	 de	 escravos,	 que,	 embora	 tecnicamente	 ilegal	 desde	 1826,	
continuou	até	1850.	Outros	foram	comprados	nas	plantações	de	açúcar	menos	rentáveis,	
especialmente	no	Nordeste.
Os	solos	da	província	do	Rio	de	Janeiro	foram	progressivamente	esgotados	com	
o	cultivo	 intensivo	de	café,	pois	a	 topografia	montanhosa	ajudou	a	acelerar	a	erosão	do	
solo.	Mas	o	Brasil	não	tinha	escassez	de	terras	não	utilizadas	(ou	subutilizadas).	Embora	a	
produção	no	Rio	tenha	permanecido	alta,	em	meados	do	século	XIX,	o	centro	de	cultivo	de	
café	estava	se	movendo	para	o	sul	e	oeste	do	Rio,	espalhando-se	por	São	Paulo	e	Minas	
Gerais,	onde	o	solo	mostrou-se	tão	produtivo	ou	melhor	que	o	solo	do	Rio.
A	marcha	do	café	para	o	sul	e	o	rápido	aumento	da	produção	brasileira	geraram	
uma	demanda	crescente	por	mão-de-obra.	Com	o	fim	do	comércio	de	escravos	em	1850,	os	
produtores	de	café	foram	forçados	a	comprar	de	escravos	dentro	do	Brasil.	Isso	criou	uma	
mudança	demográfica	para	o	Sudeste,	semelhante	(embora	em	menor	escala)	à	mudança	
do	século	XVIII	em	direção	a	Minas	Gerais	durante	o	boom	da	mineração.	Os	fazendeiros	
nordestinos	que	venderam	seus	escravos	receberam	pagamento.	Fato	que	não	impediu	os	
políticos	nordestinos	de	denunciarem	a	“perda”	de	sua	força	de	trabalho	que	migrou	para	o	
sul	mais	próspero.
60UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
2.1 Os Problemas da Mão-de-Obra
Em	1830,	o	Brasil	era	a	maior	economia	escravista	do	mundo,	com	mais	escravos	
do	que	pessoas	livres.	Mas	a	população	escrava	do	Brasil	não	se	sustentava,	exigindo	que	
o	Brasil	dependesse	 fortementedas	 importações	de	escravos.	Segundo	Furtado	(2007),	
pela	metade	do	século	XIX,	a	força	de	trabalho	da	economia	brasileira	estava	basicamente	
constituída	por	uma	massa	de	escravos	que	talvez	não	alcançasse	2	milhões	de	indivíduos.	
O	primeiro	censo	demográfico	realizado	em	1872	indicava	que	existiam,	no	Brasil,	aproxi-
madamente	1,5	milhão	de	escravos.	Considerando	que	no	começo	do	século	havia	pouco	
mais	de	1	milhão	de	escravos	no	Brasil,	e	que	nos	primeiros	50	anos	do	século	XIX	se	
importou	muito	provavelmente	mais	de	meio	milhão,	conclui-se	que	a	taxa	de	mortalidade	
era	superior	à	de	natalidade.
Skidmore	 (1999)	 cita	 que	 havia	 basicamente	 três	 razões	 principais	 para	 essa	
dependência	 brasileira	 da	 importação	 de	 mão-de-obra.	 Primeiro	 era	 que	 devido	 à	 sua	
dependência	histórica	do	tráfico	de	escravos,	havia	muito	mais	homens	do	que	mulheres	
escravas	no	Brasil.	Segundo,	os	escravos	brasileiros	eram	mantidos	em	condições	de	vida	
tão	sombrias	que	sua	saúde	era	comprometida,	reduzindo	ainda	mais	a	taxa	de	natalidade	
dos	escravos.	E,	por	fim,	a	expectativa	de	vida	de	um	brasileiro	escravo	era	de	apenas	
dois	terços	da	expectativa	de	um	homem	branco	brasileiro,	em	contraste	com	os	Estados	
Unidos,	no	período	escravista,	em	que	um	escravo	chegava	a	alcançar	90%	da	expectativa	
de	vida	de	seus	senhores.
Cabe	destacar	que	qualquer	empreendimento	que	se	pretendesse	realizar	no	Bra-
sil	 teria	de	enfrentar	a	 inelasticidade	da	oferta	de	trabalho,	sendo	que	a	necessidade	de	
importações	brasileiras	de	mão-de-obra	no	decorrer	do	século	chegaram	a	ser	três	vezes	
maiores	do	que	as	norte-americanas.
61UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
SAIBA MAIS
As pressões abolicionistas europeias
Os	britânicos,	como	os	outros	colonos	europeus	do	Novo	Mundo,	 tinham,	é	claro,	 lu-
crado	com	a	escravidão	africana	por	séculos	através	de	suas	colônias	de	escravos	na	
América	do	Norte	e	no	Caribe.	Eles	também	lucraram	com	investimentos	no	comércio	
de	escravos	em	si.	E	foi	um	distinto	político	ou	clérigo	britânico	que	encontrou	qualquer	
lógica	moral	convincente	contra	a	escravização	antes	do	século	XVIII.	No	final	do	século	
XVIII,	no	entanto,	a	opinião	pública	britânica	em	geral	havia	se	tornado	abolicionista.	As	
ideias	iluministas	levaram	a	novas	atitudes	sobre	às	relações	humanas,	onde	a	redução	
dos	seres	humanos	ao	status	subumano	para	ganho	econômico	começou	a	despertar	
oposição	apaixonada	na	Grã-Bretanha	como	princípio	imoral	e	anticristão.
Essa	mudança	moral	tornou-se	tão	poderosa	que	em	1833	o	Parlamento	britânico	proi-
biu	a	escravidão	nas	colônias	atlânticas	britânicas.	A	opinião	pública	também	pressiona-
va	o	governo	britânico	a	suprimir	o	florescente	comércio	de	escravos	da	África	Ocidental	
para	o	resto	do	Novo	Mundo.	A	principal	motivação	para	a	ação	britânica	era	de	fato	
moral	e	ideológica,	mas	uma	dimensão	econômica	também	entrou	no	cálculo	político.	
Os	Estados	Unidos	 já	haviam	proibido	o	comércio	em	1807.	 Isso	deixou	as	Colônias	
do	Caribe	sem	comércio	de	escravos,	colocando-as	em	um	ambiente	de	desvantagem	
competitiva	devido	aos	custos	de	mão-de-obra,	em	relação	às	economias	escravistas,	
como	Cuba	e	Brasil.	Acabar	com	o	comércio	de	escravos	em	todo	o	mundo	teria	a	van-
tagem	coincidente	de	corrigir	esse	desequilíbrio	competitivo.
Então,	os	britânicos	pressionaram	cada	vez	mais	o	Brasil,	o	que	foi	sentido	de	várias	
maneiras.	Primeiro,	em	1826,	a	Grã-Bretanha	pressionou	o	Brasil	a	assinar	um	tratado	
concordando	em	acabar	com	o	comércio	de	escravos	dentro	de	três	anos.	Embora	não	
houvesse	apoio	a	essa	medida	entre	a	elite	brasileira,	eles	dificilmente	poderiam	resistir	
explicitamente	aos	britânicos,	a	quem	eles	estavam	 fortemente	endividados,	politica-
mente	e	financeiramente.	Os	sucessivos	governos	brasileiros	lidaram	com	o	problema	
simplesmente	negligenciando	a	aplicação	do	tratado	de	1826.	Negligenciaram	também	
uma	lei	de	1831	que	declarou		que	todos	os	escravos	entrando	no	Brasil	estariam	auto-
maticamente	livres.	Navios	escravos	continuaram	descarregando	suas	cargas	humanas	
na	costa	brasileira,	desafiando	abertamente	a	proibição	legal.
A	Marinha	Real	britânica,	a	principal	força	naval	do	mundo,	partiu	interceptar	os	navios	
negreiros	e	libertar	as	cargas	negras.	Embora	eles	tenham	tido	algum	sucesso,	um	fluxo	
maciço	continuou	a	chegar	entre	os	anos	de	1830	e	1840.	Apesar	da	indignação	expres-
sa	na	imprensa	e	no	parlamento	ingleses,	cerca	de	712.000	novos	escravos	invadiram	
o	Brasil	durante	esses	dois	décadas,	com	média	de	35.000	por	ano.	(Como	o	comércio	
era	tecnicamente	ilegal	após	1831,	esses	números	são	apenas	estimativas).
Fonte:	Skidmore	(1999,	p.	67-72).
62UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
A	pressão	britânica	para	acabar	com	o	comércio	de	escravos	acabou	agravando	
uma	situação	já	precária,	e	com	a	impossibilidade	de	imigração	africana,	o	déficit	de	mão-
-de-obra	precisava	ser	sanado	o	mais	rápido	e	possível.	A	mão-de-obra	disponível	além	da	
escrava	era	advinda	de	uma	complexa	relação	entre	proprietário	de	terras,	trabalhadores	
livres	e	economia	de	subsistência.	Para	sanar	os	problemas	enfrentados	pelos	produtores	
de	café,	quanto	à	escassez	de	mão-de-obra,	a	alternativa	que	parecia	mais	possível	seria	
a	imigração	europeia.
Sabendo-se	que	a	ausência	de	mão-de-obra	seria	um	grande	empecilho	para	o	
desenvolvimento	da	economia	cafeeira	e	o	governo	sozinho	não	daria	conta	de	sanar	esse	
problema,	a	classe	dirigente	desta	economia	resolveu	buscar	soluções,	sendo	assim,	em	
1842	o	senador	Vergueiro	decidiu	 ir	diretamente	à	Europa	contratar	 imigrantes	para	 tra-
balharem	em	suas	terras	(SITIMA,	2014).	Com	o	sucesso	das	primeiras	iniciativas,	outros	
fazendeiros	resolveram	seguir	seu	exemplo.	Portanto,	fica	visível	que	essa	nova	estrutura	
que	atraía	europeus,	logo	se	transformaria	em	um	regime	de	semiescravidão.
Com	efeito,	o	custo	real	da	imigração	corria	totalmente	por	conta	do	imigrante,	
que	era	a	parte	financeiramente	mais	fraca.	O	Estado	financiava	a	operação,	
o	colono	hipotecava	o	seu	futuro	e	o	de	sua	família,	e	o	fazendeiro	ficava	com	
todas	as	vantagens.	O	colono	devia	firmar	um	contrato	pelo	qual	se	obrigava	
a	não	abandonar	a	fazenda	antes	de	pagar	a	dívida	em	sua	totalidade.	É	fácil	
perceber	 até	 onde	 poderiam	 chegar	 os	 abusos	 de	 um	 sistema	 desse	 tipo	
nas	condições	de	isolamento	em	que	viviam	os	colonos,	sendo	o	fazendeiro	
praticamente	a	única	fonte	do	poder	político	(FURTADO,	2007,	p.	185).
REFLITA 
A	forma	como	os	imigrantes	europeus	vieram	ao	Brasil	para	trabalhar	nas	plantações	de	
café	pode	ser	considerado	um	regime	de	semiescravidão	devido	a	suas	características?
Fonte:	a	autora.
63UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
SAIBA MAIS 
Leia	a	dissertação	de	mestrado	intitulada:	A substituição da mão-de-obra escrava e a 
opção pela grande imigração no estado de São Paulo. 
Esta	dissertação	constitui	um	estudo	sobre	o	processo	de	substituição	da	mão-de-obra	
escrava	pela	mão-de-obra	livre	no	Estado	de	São	Paulo.	Para	tanto	se	propõe	a	discutir	
o	problema	enfrentado	pelos	fazendeiros	de	café,	a	quem,	a	iminente	perda	da	mão-de-
-obra	escrava	constituía-se	num	verdadeiro	desastre	do	ponto	de	vista	operacional	das	
fazendas,	na	medida	em	que	estes	empresários	dependiam	inteiramente	deste	modo	
de	produção	não-remunerado	para	auferir	 o	 lucro	previsto	nas	suas	 fazendas.	Pare-
ceu-nos	muito	intrigante	a	opção	feita	pelos	fazendeiros	e	pelo	governo	do	Estado	de	
São	Paulo	em	buscar	uma	alternativa	aparentemente	mais	cara	e	logisticamente	mais	
difícil,	qual	seja,	de	financiar	e	trazer	trabalhadores	europeus,	lançando	mão	da	valo-
rização	da	mão-de-obra	livre	nacional.	Os	motivos	que	levaram	a	esta	opção	serão	o	
alvo	desta	dissertação.	Para	efeito	didático	dividimos	este	trabalho	em	quatro	capítulos.	
No	primeiro	capítulo	faremos	um	breve	estudo	sobre	as	origens	do	Estado	de	São	Pau-
lo,	mostrando	sua	conjunturade	poucas	oportunidades	na	segunda	metade	do	século	
XVIII	e	início	do	século	XIX.	No	segundo	capítulo	estudaremos	os	trabalhadores	livres	
nacionais,	veremos	como	encontravam	saída	para	sobrevivência	no	sistema	binomial	
da	colônia,	bem	como,	entraremos	um	pouco	no	seu	convívio	social,	muitas	vezes	vio-
lento	e	de	constante	desejo	de	afirmação	por	meio	da	força.	No	terceiro	capítulo	entra-
remos	no	estudo	da	legislação	trabalhista,	estudaremos	as	leis	trabalhistas	do	período	
imperial	de	1830,	1837	e	1879,	com	isso,	mostraremos	que	a	questão	legal	foi	mais	um	
subterfúgio	para	elites	paulistas	imporem	seu	desejo	pela	vinda	do	europeu.	No	quarto	
capítulo	capítulo	abordaremos	a	questão	do	imigrante	nas	fazendas	de	café	do	Estado	
de	São	Paulo;	os	sistemas	de	trabalho	empregados,	os	problemas	enfrentados	pelos	
constantes	endividamentos	dos	imigrantes,	os	conflitos	gerados	pelos	maus-tratos	dos	
fazendeiros,	o	aumento	das	populações	e	a	ocupação	do	interior	do	Estado,	e	por	fim,	o	
impacto	financeiro	trazido	para	o	caixa	de	São	Paulo	com	a	imigração	subsidiada.	Nas	
considerações	finais	apresentaremos	uma	síntese	das	conseqüências	geradas	com	a	
opção	pelo	imigrante,	enfatizando	que	esta	opção	teria	um	impacto	econômico	funda-
mental	nos	anos	que	se	seguiram,	não	apenas	no	Estado	de	São	Paulo,	mas	no	país	
inteiro.
Leia	na	íntegra	em:
https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/9346/1/Thiago%20de%20Novaes%20Franca.pdf
https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/9346/1/Thiago%20de%20Novaes%20Franca.pdf
64UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
3 NÍVEL DE RENDA E O RITMO DE CRESCIMENTO NA SEGUNDA METADE DO 
SÉCULO XIX
O	principal	motor	da	economia	brasileira	na	segunda	metade	do	século	XIX	eram	
as	 exportações.	 Nesse	 período,	 segundo	 Furtado	 (2007),	 a	 economia	 brasileira	 estava	
dividida	em	três	setores	principais.	O	primeiro	era	formado	pelo	açúcar	e	algodão	e	pela	
vasta	zona	de	economia	de	subsistência	a	eles	ligado	no	Norte.	O	segundo,	formado	pela	
economia	principalmente	de	subsistência	do	sul	do	país.	O	terceiro,	tendo	como	centro	a	
economia	cafeeira	na	região	Sudeste.	
O	primeiro	setor	era	formado	pelo	Nordeste	e	ia	do	Maranhão	a	Sergipe,	sendo	que	
na	área	litorânea	estavam	localizadas	as	grandes	propriedades	produtoras	de	açúcar	para	
exportação	e	no	entorno	as	áreas	de	subsistência	(a	Bahia	não	está	incluída,	pois	estava	
vivendo	uma	situação	particular	com	o	aparecimento	do	cacau	e	do	fumo).	Na	região	Nor-
deste,	Furtado	(2007)	descreve	um	aumento	populacional	de	80%	ante	a	um	incremento	
de	54%	no	faturamento	com	as	exportações.	Tendo	em	vista	esse	crescimento	despropor-
cional	entre	população	e	renda,	fica	claro	que	para	se	manter	a	renda	per	capita	na	região	
na	segunda	metade	do	século	XIX,	em	relação	à	primeira	metade,	era	necessário	haver	
um	aumento	significativo	da	produção	de	subsistência,	o	que	é	sabido	que	não	ocorreu.	De	
tal	forma	que	fica	claro	que	houve,	apesar	do	aumento	em	volume	das	exportações,	uma	
redução	na	renda	per	capita	dessa	região.
65UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
No	segundo	setor,	o	de	subsistência	no	Sul	do	país,	houve	um	aumento	considerá-
vel	de	população.	O	aumento	das	exportações	em	outras	regiões	do	Brasil	criava	mercado	
interno	para	os	produtos	produzidos	nessa	região	e	atraía	população.	No	Paraná,	o	sur-
gimento	da	cultura	da	erva-mate	e	a	sua	exportação	contribuíram	para	um	incremento	de	
renda,	mais	ao	Sul	a	dinâmica	atividade	pecuária	tinha	grande	mercado	interno	e	externo	
para	a	carne	em	forma	de	charque.	De	tal	forma	que	houve	um	considerável	aumento	na	
renda	per	capita	dessa	região.
O	terceiro	setor	no	Sudeste	era	o	cafeeiro	que	passou	por	um	aumento	substancial	
das	exportações	durante	esse	período	e	viu	o	preço	do	café	subir	no	mercado	internacional,	
o	que	gerou	diversas	transformações	e	fez	a	cafeicultura	ser	uma	atividade	determinante	
economicamente	 para	 o	Brasil	 a	 partir	 desse	 ponto.	Tudo	 isso	 causou	 um	aumento	 na	
renda	per	capita	dessa	região.
Havia	 também	duas	regiões	que	devemos	mencionar.	A	primeira	é	a	Bahia,	que	
encontrou	no	cacau	um	novo	produto	para	exportação,	todavia	o	mercado	para	tal	produto	
ainda	era	pequeno.	Outro	produto	que	produziu	resultados	melhores	para	os	baianos	na	
segunda	metade	século	XIX	foi	o	fumo.	De	qualquer	forma,	o	sucesso	de	algumas	áreas	
se	contrastava	com	o	empobrecimento	de	outras,	o	que	faz	com	que,	de	forma	geral,	não	
houvesse	 um	aumento	 de	 renda	 per	 capita.	A	 última	 região	 e	 que	 ganhou	 extrema	 im-
portância,	sobretudo,	no	fim	do	século	foi	a	Amazônia,	onde	a	produção	de	látex	a	partir	
das	seringueiras	passou	a	representar,	segundo	Furtado	(2007),	em	1890,	cerca	de	15%	
do	 volume	 em	 dinheiro	 gerado	 pelas	 exportações	 brasileiras.	 Boa	 parte	 desse	 dinheiro	
era	gasto	em	 importações,	pois	a	produção	de	borracha	causava	o	abandono	de	certas	
produções	locais,	o	que	levava	a	importar	um	grande	número	de	artigos	que	antes	eram	
feitos	ali,	mesmo	assim	a	renda	per	capita	na	Amazônia	aumentou	substancialmente.
Com	exceção	do	Nordeste,	a	maioria	das	regiões	do	Brasil	experienciou	um	au-
mento	na	renda	per	capita,	se	analisarmos	os	números	 totais	para	o	país,	veremos	que	
também	foram	positivos.	Tivesse	o	Brasil	mantido	o	mesmo	ritmo	de	crescimento	no	século	
XX,	teríamos	nível	de	desenvolvimento	comparável	às	nações	europeias.		
3.1 Fluxo de Renda na Economia de Trabalho Assalariado 
A	partir	do	fim	do	sistema	escravocrata,	nos	últimos	20	anos	do	século	XIX,	cresce	
relativamente	o	setor	assalariado,	que	pode	ser	considerado	o	principal	acontecimento	na	
economia	da	segunda	metade	do	século	XIX.	Para	que	possamos	compreender	as	trans-
66UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
formações	estruturais	que	levariam	o	Brasil	a	se	tornar	uma	economia	de	mercado	interno	
na	primeira	metade	do	século	XX,	é	preciso	analisar	o	mecanismo	de	geração	de	renda	
promovido	pelo	novo	sistema	de	trabalho	assalariado.	Sistema	esse	que	apresenta	muitas	
diferenças	da	anterior	economia	de	subsistência,	que	era	estável	e	sem	dinamismo.
A	nova	economia	cafeeira	baseada	no	trabalho	remunerado	também	era	constituída	
por	diversas	unidades	produtoras	ligadas	ao	mercado	externo.	Segundo	Furtado	(2007),	o	
processo	de	fluxo	de	renda	começava	a	partir	do	momento	em	que	a	produção	é	vendida	
ao	exportador.	Essa	renda	cobriria	a	depreciação	do	capital	e	a	remuneração	dos	demais	
fatores	de	produção	(terra	e	trabalho,	essencialmente).	O	autor	divide,	então,	a	análise	em	
dois	tipos	de	renda:	a	do	assalariado	e	a	do	proprietário.	
	Tal	fluxo	de	renda	acontecia	da	seguinte	maneira:	a	renda	dos	assalariados	era	
revertida	praticamente	apenas	para	seu	autossustento	e	a	 renda	dos	proprietários,	 cujo	
excedente	era	destinado	ao	acúmulo	de	capital.	Desta	forma,	o	fluxo	de	renda	gerado	pelo	
setor	exportador	 impulsiona	de	 forma	ampla	a	economia	 interna.	Furtado	(2005,	p.	153)	
explica	que
os	gastos	de	consumo	[...]	vê	constituir	a	 renda	dos	pequenos	produtores,	
comerciantes	e	etc.	[...]	a	soma	de	todos	esses	fatos	terá	necessariamente	
de	exceder	de	muito	a	 renda	monetária	criada	pela	atividade	exportadora.	
[...]	Crescendo	a	massa	de	salários	pagos,	aumentaria	automaticamente	a	
procura	de	artigos	de	consumo	.
Sendo	assim,	um	aumento	no	 impulso	externo	 levava	a	um	aumento	de	ganhos	
salariais	 e,	 consequentemente,	 no	 aumento	 de	 itens	 de	 consumo	movimentando	 ainda	
mais	a	economia.	Ou	seja,	os	salários	seriam	o	núcleo	da	economia	de	mercado	interno.	
Na	próxima	unidade	entenderemos	o	porquê	desse	sistema	baseado	em	exportações	ter	
provocado	uma	tendência	ao	desequilíbrio	externo.
67UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta	unidade	pudemos	ver	como	a	economia	brasileira	se	desenvolveu	desde	a	
independência;	como	os	acordos	com	os	ingleses	que	ficaram	como	passivode	Portugal	
dificultaram	a	economia	brasileira;	as	quedas	de	exportações	na	primeira	metade	do	sé-
culo	e	o	agravamento	da	crise	que	havia	se	iniciado	com	o	declínio	do	ciclo	do	ouro;	os	
movimentos	abolicionistas	que	europeus	abraçaram,	baseados	em	um	pensamento	mais	
esclarecido	e	motivos	religiosos	tentaram	interromper	a	escravidão	no	Brasil.	Após	anos	
conseguiram	interromper	a	importação	de	escravos	e	forçar	o	Brasil	a	buscar	mão-de-obra	
assalariada.	
Vimos	 como	 o	 nível	 de	 renda	 aumentou	 em	 quase	 todo	 país,	 com	 exceção	 do	
Nordeste,	com	o	 fortalecimento	do	café,	ciclo	do	 látex	na	Amazônia	e	 fortalecimento	da	
Região	Sul.	Abordamos	também	como	a	renda	do	trabalho	assalariado	era	destinada	a	des-
pesas	de	sustento,	enquanto	proprietários	de	terra	destinavam	recursos	para	acumulação	
de	capital.	
Na	próxima	unidade	abordaremos	como	essas	características	levaram	a	um	dese-
quilíbrio	externo	e	a	concentração	de	renda.	Estudaremos	a	crise	da	economia	cafeeira	e	
seus	mecanismos	de	defesa	e,	por	fim,	abordaremos	a	crise	de	1929	e	a	sua	consequência	
na	formação	econômica	do	Brasil.
68UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
LEITURA COMPLEMENTAR 
Capitalismo, escravidão e a economia cafeeira no Brasil no longo século XIX 
Autor:	Rafael	de	Bivar	Marquese
Resumo:	O	artigo	examina	as	descontinuidades	das	relações	entre	a	economia-
-mundo	capitalista	e	a	escravidão	negra	nas	Américas	a	partir	do	exame	da	economia	do	
café	no	longo	século	XIX.	No	período	de	1790	a	1888,	é	possível	identificar	três	momentos	
distintos	nessas	relações,	nos	quais	as	interações	entre	forças	globais	e	forças	locais	pas-
saram	por	transformações	substantivas.	O	primeiro	momento	(décadas	de	1790	a	1820)	foi	
marcado	pela	crise	da	economia	cafeeira	construída	na	base	caribenha	durante	o	século	
XVIII;	o	segundo	momento	(décadas	de	1820	a	1860)	testemunhou	o	arranque	do	comple-
xo	cafeeiro	no	Brasil,	diretamente	conectado	à	consolidação	da	nova	ordem	industrial	no	
Atlântico	Norte;	o	terceiro	momento	foi	travejado	pela	crise	da	economia	escravista	cafeeira	
brasileira,	resultante	da	Guerra	Civil	norte-americana	(1861-1865)	e	da	reorganização	da	
economia-mundo	capitalista	durante	a	chamada	Grande	Depressão	(1873-1896)
Leia	na	íntegra	acessando:	http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/srh/article/view/19825	
69UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
• Título:	1822
• Autor: Laurentino	Gomes
• Editora:	Globo	Livros
	• Ano:	2015
• Sinopse:	Em	1822	o	escritor	compara	diferentes	relatos	sobre	o	
dia	7	de	setembro,	que	redefiniu	os	rumos	do	nosso	país.	Mais	do	
que	desmistificar	o	grito	da	independência	às	margens	do	Ipiranga,	
o	escritor	analisa	como	D.	Pedro	conseguiu,	apesar	de	todas	as	
dificuldades,	fazer	do	Brasil	uma	nação	de	proporções	monumen-
tais.	Laurentino	observa	como	as	mudanças	provocadas	pela	fuga	
da	família	real	portuguesa,	em	1808,	deram	início	a	um	processo	
de	maior	autonomia,	que	pressionou	o	príncipe	regente	a	declarar	
a	independência	do	Brasil.	O	autor	mostra	como	as	Guerras	Na-
poleônicas,	a	Revolução	Francesa	e	a	independência	dos	Estados	
Unidos	influenciaram	as	ideias	de	brasileiros	que	defendiam	o	fim	
da	 submissão	 à	 metrópole,	 formando	 um	 ambiente	 favorável	 à	
criação	 de	 um	 novo	 país.	 No	 entanto	 declarar	 a	 independência	
foi	 apenas	o	 começo.	Com	os	 cofres	brasileiros	esvaziados	por	
D.	João	VI	em	seu	retorno	a	Portugal,	D.	Pedro	se	viu	diante	do	
desafio	de	reduzir	os	gastos	do	governo,	construir	a	ideia	do	que	
é	“ser	brasileiro”	e	reprimir	as	revoltas	internas.	Para	alguns	bra-
sileiros,	era	necessário	romper	radicalmente	com	os	portugueses	
e	proclamar	a	 república,	 enquanto	outros	não	 viam	motivo	para	
ser	parte	do	país	que	estava	surgindo.	Além	das	proporções	con-
tinentais	 representarem	uma	dificuldade	ao	projeto	de	preservar	
a	unidade	do	território	colonial,	em	1822	o	Brasil	 já	apresentava	
um	cenário	de	extrema	desigualdade.	Enquanto	cidades	como	Rio	
de	Janeiro	e	Salvador	contavam	com	uma	população	urbana,	uni-
versidades	e	 instituições	governamentais,	em	outras	regiões	era	
praticada	apenas	a	agricultura	de	subsistência.	Foi	necessário	um	
esforço	de	vários	personagens	para	estabelecer	uma	nova	nação.	
Laurentino	une	a	pesquisa	a	um	texto	leve	e	saboroso,	que	trata	
história	como	um	assunto	cativante,	que	nos	leva	a	compreender	
melhor	as	origens	do	Brasil	e	como	problemas	estruturais	ainda	
influenciam	a	nossa	realidade.
Vencedor	 do	 Prêmio	 Jabuti	 de	Melhor	 Reportagem	 e	 aclamado	
como	Livro	do	Ano	de	Não	Ficção,	1822	é	uma	leitura	essencial	
para	todos	que	desejam	compreender	melhor	o	nosso	país.
FILME/VÍDEO
• Título: Independência	ou	Morte
• Ano: 1972
• Sinopse:	Tendo	como	ponto	de	partida	o	dia	da	abdicação	de	
D.	Pedro	I	(Tarcísio	Meira),	é	traçado	um	perfil	do	monarca	desde	
quando	ainda	menino	veio	da	Europa,	enquanto	sua	família	fugia	
das	 tropas	napoleônicas,	até	sua	ascensão	à	Príncipe	Regente,	
quando	D.	João	VI	(Manoel	da	Nóbrega)	retorna	para	Portugal.	Em	
pouco	tempo	a	situação	política	torna-se	insustentável	e	o	regente	
proclama	a	 independência,	mas	 seu	envolvimento	extraconjugal	
com	a	futura	Marquesa	de	Santos	(Glória	Menezes)	provoca	oposi-
ção	em	diversos	setores,	gerando	um	inevitável	desgaste	político.
70
Plano de Estudo:
●	 As	tendências	ao	desequilíbrio	externo,	nível	de	emprego	e	concentração	de	renda	
no	final	do	século	XIX;
●	 A	crise	da	economia	cafeeira;
●	 Mecanismos	de	defesa	e	a	crise	de	1929;
●	 As	raízes	da	industrialização.	
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Conceituar	e	contextualizar	o	processo	de	desequilíbrio	das	contas	externas	e	seus	
impactos	para	a	economia;
●	 Compreender	as	causas	da	crise	da	economia	cafeeira;
●	 Entender	as	causas	da	crise	de	1929	e	qual	foi	o	impacto	no	processo	de	
industrialização	brasileiro.
UNIDADE IV
Economia de Transição para um 
Sistema Industrial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
71UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
INTRODUÇÃO
Relembrando	a	última	unidade,	vimos	aspectos	econômicos	como	renda,	oferta	de	
mão-de-obra,	exportações,	relacionadas	à	economia	brasileira	do	século	XIX.	O	surgimento	
da	economia	cafeeira	foi	abordado,	bem	como	a	dinâmica	da	economia	de	trabalho	assala-
riado	e	o	fluxo	circular	da	renda.	Nesta	unidade	abordaremos	inicialmente	as	características	
que	levaram	a	um	desequilíbrio	externo	e	à	concentração	de	renda	no	Brasil.	
Em	 seguida	 veremos	 como	 foi	 o	 processo	 que	 levou	 à	 crise	 cafeeira	 e	 de	 que	
maneira	mecanismos	de	defesa	criados	pelo	setor	causaram	uma	superprodução	de	café	
a	longo	prazo.	Abordaremos	também	como	a	crise	de	1929	foi	o	golpe	final	para	o	período	
de	altos	preços	do	café.	
Analisaremos	como	a	crise	de	1929	atingiu	o	Brasil	e	de	que	maneira	o	café,	 já	
com	preços	mais	baixos	ainda	assim	foi	capaz	de	fomentar	a	retomada	da	economia.	Para	
finalizar,	veremos	como	se	deu	o	início	do	processo	de	industrialização	do	Brasil.
72UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
1 ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA UM SISTEMA INDUSTRIAL 
1.1 As Tendências ao Desequilíbrio Externo no Final do Século XIX
Na	unidade	anterior	 vimos	a	dinâmica	de	 funcionamento	da	economia	brasileira	
na	segunda	metade	do	século	XIX,	em	que	o	trabalho	assalariado	passou	a	ser	o	motor	
do	 crescimento	 e	 da	 geração	 de	 renda.	 Vimos	 também	 como	 se	 propagava	 o	 fluxo	 de	
renda	criado	pelas	exportações.	Esse	novo	sistema	econômico	porém,	apresentava	alguns	
problemas,	dentre	eles	estava	a	dificuldade	em	atender	as	regras	do	padrão-ouro,	que	era	
um	princípio	da	economia	internacional,	em	que	cada	país	deveria	dispor	de	uma	reserva	
metálica	suficientemente	grande	para	cobrir	os	déficits	ocasionais	de	sua	balança	de	pa-
gamentos	(FURTADO,	2007).	Nesse	processo	de	financiamento	das	trocas	internacionais,	
cada	país	deveria	contribuir	de	acordo	com	suaparticipação	no	comércio	internacional	e	da	
extensão	das	flutuações	de	sua	balança	comercial.
SAIBA MAIS
Você	sabe	o	que	é	Balança	Comercial	e	para	que	ela	serve?	E	o	que	significa	superávit	
e	déficit	na	balança	comercial,	você	sabe?
Balança	comercial	é	um	registro	econômico	que	representa	as	importações	e	exporta-
ções	de	bens	entre	os	países.	Dizemos	que	a	balança	comercial	de	um	determinado	
país	está	com	superávit	quando	ele	exporta	mais	do	que	importa.	Quando	o	país	importa	
mais	do	que	exporta,	dizemos	que	a	balança	comercial	está	com	déficit,	negativa	ou	
desfavorável.
Fonte:	a	autora.
73UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
O	problema	de	tal	sistema	era	que	o	Brasil	era	exportador	de	produtos	primários,	
ou	 seja,	 tínhamos	uma	elevada	participação	 no	mercado	 internacional,	mas	uma	 renda	
monetária	 com	 tal	 comércio,	 relativamente	 baixa.	 Nas	 palavras	 de	 Furtado	 (2007),	 seu	
intercâmbio	per	capita	era	relativamente	muito	maior	que	sua	renda	monetária	per	capita.	
Como	nossa	necessidade	de	 importação	 também	era	elevada,	 tal	 desequilíbrio	abalava	
nossa	economia,	pois	exigia	uma	retirada	significativa	de	circulação	monetária	do	mercado	
interno.	O	problema	do	desequilíbrio	externo	se	agravou	com	a	crise	que	se	instalou	nos	
centros	industriais,	em	que	os	preços	caíram	no	mercado	externo,	diminuindo	em	muito	a	
entrada	de	divisas	no	país.
1.1.1 Nível de emprego e concentração de renda
Nesse	novo	sistema	com	mão-de-obra	assalariada,	a	economia	de	subsistência	
se	 transformava	 em	 economia	 exportadora,	 o	 que	 beneficiava	 os	 cafeicultores,	 que	 re-
vertiam	o	lucro	em	seu	favor.	O	aumento	do	salário	médio	no	país	refletia	o	aumento	de	
produtividade	que	se	ia	alcançando	através	da	transferência	de	mão-de-obra	da	economia	
de	subsistência	para	a	economia	exportadora.	Nesse	contexto,	o	empresário	podia	reter	
as	melhoras	de	produtividade	obtidas	nas	exportações,	pois	não	havia	pressão	alguma	no	
sistema	que	os	forçasse	a	transferir	renda	aos	assalariados.
O	proprietário	da	terra	precisava	aperfeiçoar	seus	processos	de	cultivo	ou	 inten-
sificar	 a	 capitalização	para	que	 conseguisse	aumentar	 sua	produtividade	 física,	 seja	 de	
mão-de-obra	ou	de	terra,	aplicando	maior	quantidade	de	capital	por	unidade	de	fator	de	
produção.	O	empresário	não	 tinha	estímulos	para	aumentar	a	produtividade	de	 terra	ou	
mão-de-obra	devido	às	condições	em	que	se	desenvolvia	a	cultura	do	café.	Essa	era	a	
forma	racional	de	crescimento	de	uma	economia	em	que	existia	capacidade	ociosa		de	terra	
e	mão-de-obra,	e	onde	era	escasso	o	capital.
Por	sua	própria	natureza,	a	plantação	de	café	significa	uma	inversão	a	longo	
prazo	com	grandes	imobilizações	de	capital.	[...]	O	abandono	da	plantação	de	
café	significaria	para	o	empresário	um	grande	prejuízo,	dado	o	montante	do	
capital	imobilizado.	[...]	Dada	a	natureza	da	atividade	econômica,	a	única	for-
ma	de	lograr,	a	curto	prazo,	aumentos	de	produtividade	física	seria	cortando	
na	folha	de	salários,	o	que	não	constituía	uma	solução	do	ponto	de	vista	do	
conjunto	da	coletividade	(FURTADO,	2005,	p.	168).	
Nesse	sentido,	em	períodos	de	crise	o	mais	importante	era	manter	os	níveis	estáveis	
de	empregabilidade,	com	a	consequente	geração	de	renda	e	aquecimento	da	economia.
74UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
2 A CRISE DA ECONOMIA CAFEEIRA
Ao	final	do	século	XIX	e	começo	do	século	XX	uma	série	de	fatores	acabou	por	
criar	um	ambiente	extremamente	favorável	à	economia	cafeeira.	Um	dos	primeiros	fatores	
foi	a	falta	de	oferta	no	mercado	externo.	Produtores	asiáticos,	sobretudo	do	Ceilão,	atual	
Sri	Lanka,	passavam	por	uma	grande	crise	após	verem	suas	lavouras	serem	devastadas	
pela	ferrugem-do-café,	fungo	que	matava	as	plantas.	O	problema	da	mão-de-obra	já	estava	
resolvido	com	os	imigrantes	que	procuravam	trabalho	no	Brasil.	Outro	fator	importante	foi	a	
Proclamação	da	República,	que,	ao	descentralizar	o	poder	e	dar	mais	poder	aos	estados,	
deu	também	mais	poder	e	autonomia	para	os	produtores	de	café	que	controlavam	a	política	
de	seus	estados.
O	fato	da	grande	maioria	da	produção	mundial	de	café	no	final	do	século	XIX	ter	
se	concentrado	no	Brasil	deu	aos	cafeicultores	brasileiros	a	oportunidade	de	controlar	o	
mercado	internacional.	Bastaria	reserva	financeira	para	reter	parte	da	produção	e	diminuir	
a	 oferta	 no	mercado	 internacional	 e,	 assim,	 forçar	 a	 alta	 do	 preço.	Porém,	 em	1893,	 a	
crise	da	economia	americana,	que	era	destino	de	boa	parte	do	café	do	Brasil,	acabou	por	
causar	 uma	queda	no	preço	 internacional	 da	mercadoria,	 essas	quedas	de	preço	eram	
compensadas	para	os	produtores	através	da	desvalorização	da	moeda	nacional,	alterar	o	
câmbio	fazia	com	que	os	cafeicultores	recebessem	os	mesmos	valores	se	considerarmos	a	
moeda	nacional	ao	valorizar	as	moedas	estrangeiras.	Isso	não	foi	capaz	de	absorver	todas	
75UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
perdas,	pois	causava,	todavia,	o	encarecimento	das	importações	e	em	uma	economia	sub-
desenvolvida	gerava	também	pressão	inflacionária.
Após	a	crise	de	1893	outro	problema	se	estabelece,	a	superprodução.	Contando	
com	uma	vasta	área	de	terras	para	ser	explorada,	abundância	de	oferta	de	mão-de-obra	e	a	
alta	lucratividade	da	atividade,	a	expansão	das	culturas	foi	uma	consequência	lógica.	Sem	
poder	controlar	o	câmbio	e	com	um	excesso	de	produto	no	mercado	interno,	isso	poderia	
derrubar	os	preços	no	mercado	externo.	Diante	desse	cenário,	a	oligarquia	cafeeira	dotada	
de	todo	poder	conquistado	com	o	sucesso	financeiro	e	com	os	fundamentos	da	República	
que	dava	autonomia	aos	estados,	reúne-se	em	1906	no	Convênio	de	Taubaté	para	definir	
um	plano	de	assistência	à	economia	cafeeira.	O	resultado	desse	encontro	foi	resumido	nas	
quatro	diretrizes	estabelecidas:
1.	 Ficou	acertado	que	o	governo	compraria	e	armazenaria	o	excedente	da	produ-
ção	a	fim	de	reduzir	a	oferta	no	mercado	mundial.
2.	 Definiu-se	que	o	governo	financiaria	essas	compras	com	empréstimos	interna-
cionais.
3.	 O	pagamento	dos	 juros	e	amortização	desses	empréstimos	ocorreria	com	di-
nheiro	proveniente	de	um	novo	imposto	indexado	em	ouro	sobre	a	exportação	
do	café.
4.	 Que	os	governos	estaduais	das	regiões	produtoras	desestimulariam	a	abertura	
de	novas	áreas	de	produção	a	fim	de	conter	o	aumento	de	oferta.	
O	acordo	demonstrou	a	força	dos	cafeicultores	e	fez	com	esse	acordo	vigorasse	
até	a	grande	crise	de	1929.	A	efetividade	do	sistema	matinha	o	preço	do	café	sempre	alto,	
mas	 isso	ocasionava	um	outro	problema	constante,	a	 lucratividade	alta	atraía	 cada	vez	
mais	 investimentos	em	produção	que,	por	consequência,	aumentavam	cada	vez	mais	a	
produção.	Apesar	do	Convênio	de	Taubaté	ter	estabelecido	que	uma	das	medidas	era	coibir	
a	criação	de	novas	lavouras	na	prática,	tal	medida	era	impossível	de	ser	cumprida	pelos	
estados,	 pois	 estes	 não	 eram	 capazes	 de	 oferecer	 alternativas	 de	 investimento	 que	 se	
equiparavam	aos	lucros	obtidos	com	o	café.
No	fim	da	década	de	20	a	exportação	era	capaz	de	absorver	apenas	2/3	da	produ-
ção	nacional.	Os	mecanismos	de	proteção	criados	pelos	cafeicultores,	como	o	de	Taubaté,	
eram	tão	eficientes	que	mantinham	os	preços	sempre	altos,	isso	atraía	mais	investidores.	
Caliari	e	Bueno	(2010)	mencionam	que	a	situação	piorou	depois	de	1922,	quando	as	novas	
medidas	 de	 estímulo	 eliminaram	as	 políticas	 (que	 não	 já	 eram	 ineficientes)	 de	 redução	
76UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
da	área	plantada.	Com	isso,	se	produzia	cada	vez	mais	num	círculo	vicioso,	que	tornou	
impraticável	absorver	1/3	de	uma	produção	tão	grande.	
A	procura	por	café	aumentava	de	maneira	lenta	e	constante,	mas	não	a	ponto	de	
demandar	tais	volumes	de	produção	durante	a	década	de	20,	mesmo	com	todo	crescimento	
da	economia	americana.	Ficava	evidente	que	todo	café	comprado	e	estocado	pelo	governo	
não	tinha	grandevalor,	pois	não	havia	mercado	para	tal,	a	partir	de	1927	um	grande	volume	
de	capital	privado	vindo	exterior	começa	a	entrar	no	Brasil,	da	mesma	maneira	entravam	
empréstimos	para	o	governo	para	comprar	a	grande	produção	excedente.	
Já	passando	por	uma	crise	interna	causada	pela	superprodução	de	café,	o	Brasil	e	
o	mundo	são	atingidos	pela	Depressão	de	1929.	Com	ela	todo	o	capital	privado	que	tinha	
ingressado	 no	 Brasil	 desapareceu,	 levando	 todas	 as	 reservas	 em	 ouro	 obtidas	 através	
de	empréstimos	que	davam	 lastro	ao	dinheiro.	O	país	encontrava-se	endividado	e	 sem	
reservas,	toda	essa	crise	resultou	na	Revolução	de	1930.
SAIBA MAIS
Você	sabe	o	que	é	Balança	Comercial	e	para	que	ela	serve?	E	o	que	significa	superávit	
e	déficit	na	balança	comercial,	você	sabe?
Balança	comercial	é	um	registro	econômico	que	representa	as	importações	e	exporta-
ções	de	bens	entre	os	países.	Dizemos	que	a	balança	comercial	de	um	determinado	
país	está	com	superávit	quando	ele	exporta	mais	do	que	importa.	Quando	o	país	importa	
mais	do	que	exporta,	dizemos	que	a	balança	comercial	está	com	déficit,	negativa	ou	
desfavorável.
Fonte:	a	autora.
77UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
2.1 Mecanismos de Defesa e a Crise de 1929
Em	meio	 à	 crise	mundial,	 a	 produção	 de	 café	 se	 encontrava	 em	 altos	 níveis	 e	
continuava	crescendo	devido	às	grandes	plantações	de	1927-1928.	Porém,	segundo	Fur-
tado	 (2007),	era	 impossível	obter	crédito	no	exterior	para	financiar	a	 retenção	de	novos	
estoques, pois	o	mercado	internacional	de	capitais	se	encontrava	em	profunda	depressão	e	
o	crédito	do	governo	havia	desaparecido	com	o	fim	das	reservas.	Nesse	contexto,	não	seria	
justo	abandonar	os	cafezais	e,	então,	a	classe	dirigente	cafeeira	optou	pela	baixa	no	preço	
do	produto,	sendo	que	todos	juntos	assumiriam	a	perda.
A	estratégia	 lógica	encontrada	 foi	a	da	destruição	dos	excedentes	de	produção,	
como	já	vimos,	pois	a	demanda	se	mantinha	menor	do	que	a	oferta.	Além	disso,	os	preços	
do	café	baixavam	seguidamente	nos	anos	30,	enquanto	outros	produtos	primários	tendiam	
a	aumentar.	As	estratégias	que	o	Brasil	adotava	foram	consideradas	eficientes,	chegando	
a	 ser	melhores	 do	 que	 as	 de	 países	mais	 avançados.	Segundo	Sitima	 (2014),	 a	 renda	
nacional	 em	 1933	 já	 dava	 sinais	 de	 recuperação,	 enquanto	 que	 nos	 EUA	 os	 sinais	 de	
melhoras	só	começaram	a	aparecer	em	1934.	
Furtado	(2007)	explica,	em	sua	obra,	como	funcionava	o	mecanismo	clássico	de	
defesa	através	da	taxa	cambial.	A	acumulação	de	estoques	de	1929,	a	ligeira	liquidação	das	
reservas	metálicas	brasileiras	e	as	precárias	perspectivas	de	financiamento	das	grandes	
safras	previstas	para	o	futuro	aceleraram	a	queda	do	preço	internacional	do	café,	que	havia	
começado	com	a	de	todos	os	produtos	primários	em	fins	de	1929.	
78UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
Essa	queda	assumiu	proporções	catastróficas,	pois,	de	setembro	de	1929	a	
esse	mesmo	mês	de	1931,	a	baixa	foi	de	22,5	centavos	de	dólar	por	libra	para	
8	centavos.	Dadas	as	características	da	procura	do	café,	cujo	consumo	não	
baixa	durante	as	depressões	nos	países	de	elevadas	rendas,	essa	tremenda	
redução	de	preços	 teria	sido	 inconcebível	sem	a	situação	especial	que	se	
havia	criado	do	lado	da	oferta.	Basta	ter	em	conta	que	o	preço	médio	pago	
pelo	consumidor	norte-americano,	entre	1929	e	1931,	baixou	apenas	de	47,9	
para	32,8	centavos	por	libra	(FURTADO,	2005,	p.	184).
Furtado	(2007)	afirma	que	o	preço	do	café	era	dado	por	fatores	da	oferta	e	não	da	
procura,	uma	vez	que	ele	observa	que	os	preços,	durante	a	década	de	30,	se	mantiveram	
sem	variações,	apesar	da	recuperação	dos	países	industrializados.	Além	disso,	o	consumo	
de	café	por	esses	países	também	se	manteve	constante.
A	garantia	do	preço	mínimo	de	compra	do	café	era	ao	mesmo	tempo	garantia	de	
manutenção	da	taxa	de	emprego	no	setor	cafeeiro	e	nos	setores	ligados	a	este.	Grandes	
colheitas	evitavam	a	queda	da	 renda	no	setor,	mesmo	com	a	desvalorização	da	moeda	
nacional.	Esses	dois	fatores,	combinados,	evitavam	pressões	de	desemprego	em	cenários	
de	preços	em	queda,	como	foi	entre	1931	e	1939.	A	política	de	defesa	do	setor	cafeeiro	fun-
cionou	como	um	verdadeiro	programa	de	fomento	da	renda	nacional	anticíclica	e	colaborou	
para	amenizar	as	quedas	de	inversões	da	economia	brasileira	no	começo	da	década	de	30.	
Em	1933,	período	de	maior	colheita,	por	exemplo,	as	receitas	brasileiras	foram	de	1	milhão	
de	contos,	mas,	por	conta	dos	estoques	de	café,	que	somavam	1,1	milhão	de	contos,	o	
total	foi	de	2,1	milhões,	valor	próximo	aos	2,3	milhão	de	1929.	Sendo	assim,	Furtado	(2007)	
conclui	que	a	recuperação	da	crise	internacional	se	deu	por	esses	fatores	internos.
REFLITA
Será	que	os	estímulos	oferecidos	pelo	governo	para	a	produção	de	café	beneficiaram	ou	
prejudicaram	a	economia	brasileira	no	final	do	século	XIX,	início	do	século	XX?
Fonte:	a	autora.
79UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
3 AS RAÍZES DA INDUSTRIALIZAÇÃO
O	Brasil	já	criava	sua	indústria	em	pequena	escala	desde	o	início	do	século	XIX.	Sua	
tática	era	fabricar	para	consumo	doméstico	aqueles	produtos	cujos	custos	eram	inferiores	
às	importações	concorrentes.	Em	geral,	eram	produtos	cujo	valor	era	baixo	proporcional-
mente	ao	seu	peso	–	 tornando	o	preço	das	 importações	particularmente	exorbitante	em	
relação	ao	seu	verdadeiro	valor.	Sabão,	materiais	de	construção	e	bebidas	foram	os	princi-
pais	exemplos.	Os	têxteis	eram	outra	área	para	a	industrialização	precoce,	uma	vez	que	o	
equipamento	de	capital	necessário	era	relativamente	barato	para	importação.	A	maioria	dos	
bens	de	capital	e	produtos	intensivos	em	tecnologia	–	como	trilhos	de	trem,	locomotivas,	
turbinas	e	artilharia	de	campo	–	continuaram	sendo	 importados	por	muitos	anos,	pagos	
pelos	ganhos	de	exportação,	principalmente	de	café	e	borracha	natural.	
A	 industrialização	ocorreu	em	grande	parte	sem	o	apoio	do	governo	até	1930,	a	
maioria	da	elite	política	acreditava	que	a	industrialização	era	contra	os	interesses	econômi-
cos	de	longo	prazo	do	Brasil.	Aqui	eles	estavam	repetindo	as	doutrinas	de	seus	credores	na	
Europa	e	na	América	do	Norte,	que	ainda	eram	instruídas	nas	doutrinas	do	liberalismo	de	
Manchester	–	isto	é,	uma	crença	na	economia	de	mercado	livre,	com	intervenção	mínima	
do	governo	e	uma	dependência	do	livre	comércio.	
As	tarifas	brasileiras,	por	exemplo,	tinham	como	objetivo	principal	produzir	receitas	
e	não	proteger	a	indústria	doméstica	(aproximadamente	70%	da	receita	federal	vinha	de	
impostos	de	 importação	entre	1890	e	1910).	Segundo	Villela	 (2009),	durante	a	Primeira	
República	o	comércio	internacional	teve	um	peso	significativo	para	a	economia	brasileira.	
O	total	de	exportações	e	importações	chegou	a	atingir	36%	do	PIB	no	ano	de	1895,	com	
a	média	de	28%	entre	1889	e	1930.	Ainda	segundo	Villela	(2009),	em	termos	absolutos,	
as	exportações	partiram	de	28,5	milhões	de	libras,	em	1889	e	alcançaram	65,7	milhões	de	
libras,	em	1930,	com	um	pico	de	117,4	milhões	de	libras,	em	1919.	Já	as	importações	au-
mentaram	de	24	milhões	de	libras	para	53,6	milhões	de	libras	entre	1889	e	1930,	atingindo	
seu	maior	valor	em	1928	(97,4	milhões	de	libras).	
Além	da	crença	 liberal,	não	havia	uma	forte	burguesia	 industrial	para	pressionar	
suas	reivindicações	junto	aos	políticos.	Mesmo	quando	presidentes	como	Floriano	Peixoto,	
na	década	de	1890,	ou	Afonso	Pena,	no	 início	do	século	XX,	se	engajavam	em	retórica	
pró-indústria,	estavam	longe	de	estar	prontos	para	adotar	medidas	abrangentes,	como,	por	
exemplo,	uma	política	monetária	forte,	necessária	para	efetivação	de	seus	discursos.	
80UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
Apesar	das	crenças	doutrinárias,	no	entanto,	a	industrialização	prosseguiu,	ainda	
que	modestamente,	em	grande	parte	como	consequência	não	intencional	de	outras	políti-
cas	governamentais(especialmente	sobre	taxas	de	câmbio),	as	quais,	embora	usualmente	
projetadas	para	proteger	o	setor	de	exportação	de	bens	primários,	ajudavam	as	indústrias	
domésticas.	É	verdade	que	uma	tarifa	ostensivamente	alta	foi	instituída	em	1895,	seguida	
por	uma	tarifa	mais	modesta	em	1900,	que	permaneceu	em	vigor	até	1930.	Mas	as	tarifas	
nunca	 foram	destinadas	 a	 pôr	 em	 risco	 a	 “vocação	agrícola	 e	 cultural”	 do	Brasil,	 como	
gostavam	os	cafeicultores	e	seus	apologistas.	Uma	política	ambiciosa	de	industrialização	
exigiria	muito	mais	do	que	tarifas	mais	altas.	Exigiria	amplo	crédito,	um	sistema	financeiro	
eficiente,	incentivos	à	importação	de	bens	de	capital	e	aumento	do	investimento	em	capital	
humano	 (especialmente	educação)	e	 infraestrutura.	Uma	política	 tão	abrangente,	 que	a	
Alemanha	e	o	Japão	estavam	seguindo,	nunca	foi	um	questionamento	para	a	grande	maio-
ria	da	elite	brasileira.	No	entanto,	em	1910,	São	Paulo,	por	exemplo,	estava	no	caminho	
que	o	tornaria,	na	década	de	60,	o	maior	parque	industrial	do	mundo	em	desenvolvimento.	
Como	líder	em	modernização,	São	Paulo	também	está	na	vanguarda,	medida	por	
esses	critérios	de	modernização,	como	educação	pública,	instalações	sanitárias	e	transpor-
te.	Isso	deu	aos	paulistas	um	senso	de	superioridade	em	relação	ao	resto	do	Brasil.	De	fato,	
porém,	outras	partes	do	Brasil	estavam	progredindo	lentamente	na	frente	da	industrializa-
ção,	principalmente	os	estados	do	Centro-Sul,	do	Rio	de	Janeiro	e	Minas	Gerais,	e	algumas	
regiões	fora	dessa	área,	principalmente	a	Bahia,	no	Nordeste.
Cano	(2012)	considera	que	a	década	de	20	representa	para	o	Brasil	um	processo	
de	transição	econômica	e	social,	a	partir	do	chamado	modelo	primário	exportador,	rumo	a	
novo	padrão	de	acumulação	–	o	do	crescimento	para	dentro	–,	que	seria	desencadeado	a	
partir	da	Crise	de	1929	e	da	Revolução	de	1930.	
Até	então,	o	setor	exportador	era	o	centro	dinâmico	da	economia;	adicionalmente,	
apresentava	alta	 rentabilidade	e	especializava-se	em	um	número	 reduzido	de	produtos,	
tendo	como	característica	o	plantation	(latifúndio,	mão	de	obra	escrava,	monocultura	e	ex-
portação).	A	atividade	industrial	reduzida,	juntamente	com	o	setor	agrícola	de	subsistência,	
era	incapaz	de	dar	à	economia	interna	um	dinamismo	próprio.
As	 razões	 que	 levaram	à	 substituição	 desse	modelo	 pelo	 “modelo	 de	 industria-
lização	por	 substituição	de	 importações”	decorrem	da	Crise	norte	americana	de	1929	e	
coincide	com	o	colapso	da	economia	cafeeira,	decorrente	da	ocorrência	de	uma	sequência	
de	supersafras	ao	final	da	década	de	1920/início	de	1930,	provocando	a	queda	de	2/3	dos	
preços	internacionais	do	produto.
81UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
O	novo	modelo	adotado	de	industrialização	por	substituição	de	importação,	consis-
tia	na	produção	interna	de	um	bem	antes	importado.	Setores	industriais	são	desenvolvidos	
especificamente	para	o	atendimento	do	mercado	interno,	sem	preocupação	nenhuma	com	
exportação,	e	são	protegidos	da	concorrência	internacional	através	de	medidas	típicas	de	
proteção	da	indústria	nacional.
SAIBA MAIS
Para	melhor	compreender	o	processo	de	industrialização	brasileiro,	leia	o	artigo	intitula-
do:	O processo de industrialização no Brasil: um retrospecto a partir da dinâmica 
da dualidade brasileira
Ana Paula Camilo Pereira, Márcio Rogério Silveira
	
O	artigo	é	composto	de	algumas	considerações	sobre	o	processo	de	 industrialização	
brasileira.	Para	isso,	contextualizamos	a	industrialização	e	organização	do	espaço	bra-
sileiro	em	articulação	com	as	fases	expansivas	e	recessivas	da	economia	mundial,	a	
partir	dos	ciclos	de	Kondratieff	e	de	Juglar,	bem	como	dos	pactos	de	poder	estabeleci-
dos	no	País.	Consideramos,	para	tanto,	as	análises	de	Ignácio	Rangel	sobre	a	econo-
mia	brasileira,	tendo	como	parâmetro	a	dinâmica	da	dualidade	brasileira	e	a	proposta	
de	retomada	do	crescimento	econômico	a	partir	do	planejamento	e	do	princípio	da	con-
cessão	de	serviços	públicos	à	 iniciativa	privada,	ou	seja,	a	 transferência	de	 recursos	
destinados	às	empresas	que	dispõem	de	capacidade	produtiva	excedente	para	setores	
estrangulados	da	economia	e	que	necessitam	de	investimentos.	Dessa	forma,	o	artigo	
analisa	o	contexto	histórico	e	econômico	do	Brasil	admitindo	a	evolução	e	o	desenvolvi-
mento	industrial,	a	atuação	estatal	e	as	repercussões	atuais	para	a	economia	brasileira.
Fonte:	Pereira,	A.	P.	C.;	Silveira,	M.	R.	O	processo	de	industrialização	no	Brasil:	um	retrospecto	a	partir	da	
dinâmica	da	dualidade	brasileira.	Revista	Ensaios	FEE.	v.	31,	n.	2,	p.	321-344,	dez.	2010.	Disponível	em:	
https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2229
https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2229
82UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos	ao	 longo	desta	unidade	que	a	explosão	na	produção	de	café	que	causou	
o	boom	da	economia	brasileira	em	meados	do	final	do	século	XIX	se	transformou	em	um	
problema	no	 início	do	século	XX,	quando	o	mercado	mundial	de	café	 teve	um	excesso	
de	oferta,	principalmente	por	conta	da	superprodução	brasileira.	O	lucro	das	exportações	
declinou	com	a	queda	dos	preços	do	café	no	exterior,	um	declínio	que	foi	agravado	por	um	
aumento	desde	1898	no	valor	câmbio	da	moeda	brasileira	(devido	ao	aumento	da	entrada	
de	capital	estrangeiro).	Como	o	Brasil	era	de	longe	o	maior	produtor	mundial	de	café	(75%	
da	produção	mundial	em	1900-1901),	era	natural	que	os	brasileiros	usassem	seu	poder	de	
mercado	para	tentar	manipular	o	preço.	O	termo	usado	para	isso	era	“valorização”.	
Vimos	que	os	cafeicultores	estabeleceram	sistemas	de	estímulo	à	cafeicultura,	mas	
esses	mesmos	estímulos	forçaram	uma	superprodução	e	que,	com	a	crise	de	1929,	ficou	
insustentável	manter	 o	 preço	 alto	 como	 estava.	 Vimos	 também	 como	 a	 crise	 causou	 a	
fuga	de	capital	estrangeiro	e	o	fim	das	reservas	e	como	as	novas	políticas	de	estímulo	à	
cafeicultura	ajudaram	o	país	a	se	recuperar	da	crise.	Por	fim,	abordamos	aspectos	iniciais	
sobre	 o	 processo	 de	 industrialização	 brasileiro	 e	 como	 nossa	 economia	 passou	 de	 um	
modelo	primário	exportador	rumo	ao	novo	padrão	de	acumulação.
83UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
LEITURA COMPLEMENTAR
A MODERNIDADE REPUBLICANA
Maria Tereza Chaves de Mello
Professora	do	Departamento	de	História	da	PUC/RJ
Resumo
A	difusão	de	uma	cultura	democrática	e	científica	no	final	do	 Império	criou	uma	
disponibilidade	mental	e	afetiva	à	 idéia	de	 república	no	Brasil.	Este	 termo,	por	sua	vez,	
permitiu	aos	contemporâneos	experimentar	o	processo	histórico,	já	que	nele	se	congregava	
uma	oposição	ao	passado	e	a	expectativa	social	de	futuro.
Leia	o	artigo	na	íntegra	em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-77042009000100002&script=sci_arttext
DA DÉCADA DE 1920 À DE 1930: TRANSIÇÃO RUMO À CRISE E À INDUS-
TRIALIZAÇÃO NO BRASIL
Wilson Cano 
Professor	Titular	do	Instituto	de	Economia	da	Unicamp,	São	Paulo,	Brasil
Resumo 
O	artigo	discute	a	transição	econômica	e	social	pela	qual	passa	o	Brasil	na	década	
de	1920,	quando	prevalecia	o	modelo	primário	exportador	em	direção	a	novo	padrão	de	
acumulação,	 com	a	 industrialização	e	a	urbanização,	 iniciado	após	a	 “Crise	de	1929”	e	
da	Revolução	de	1930.	A	análise	das	principais	 transformações	econômicas	e	sociais	é	
acompanhada	por	um	tópico	que	trata	da	importante	–	e	controversa	–	questão	teórica	de	
Base	e	Superestrutura,	expondo	algumas	das	limitações	deste	enfoque	teórico.
Leia	o	artigo	na	íntegra	em:
https://anpec.org.br/revista/vol13/vol13n3bp897_916.pdf
84UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
• Título: O	Romance	do	Café
• Autor: Beatriz	Garcia
• Editora: Alfa	Ômega
• Sinopse:	O Romance do Café,	de	Beatriz	Garcia,	resultado	de	
um	trabalho	que	durou	dez	anos,	é	um	livro	histórico-literário,	que	
aborda	a	origem,	aevolução	da	cafeicultura	no	Vale	do	Paraíba	
fluminense	 e	 paulista,	 a	 Depressão	 Periférica,	 o	 Nordeste	 Pau-
listano	 e	 o	 Planalto	 Ocidental,	 Estado	 de	 São	 Paulo.	Analisa	 a	
importância	econômica	e	sociocultural	do	ciclo	dessa	planta,	que	
sacudiu	 a	 estrutura	 da	 sociedade	 brasileira	 no	 limiar	 do	 século	
XIX	até	os	primeiros	anos	da	Era	Vargas,	quando	na	conturbada	
vida	nacional	ocorreram	o	processo	de	estatização	da	economia	
brasileira	e	a	crise	agrícola,	com	a	decadência	da	rubiácea,	assim	
como	o	fenômeno	que	hoje	se	repete:	a	queda	do	preço	da	terra.	
Apaixonada	pela	 terra,	Beatriz	Garcia	envereda	pelos	 caminhos	
da	geografia	e	do	ecossistema	das	 regiões	abordadas	antes	do	
período	cafeicultor,	para,	em	seguida,	abordar	o	conteúdo	socioe-
conômico,	chegando	à	conclusão	de	que	a	agricultura	monocul-
tora,	como	a	do	café,	voltada	para	o	comércio	exterior,	traz	como	
consequência	grandes	dificuldades	para	o	País,	que	–	segundo	a	
autora	–	necessita	de	“uma	agricultura	diversificada,	voltada	para	
o	mercado	interno	e	externo,	com	o	homem	assentado	à	terra,	com	
uma	agricultura	viável,	pois	a	terra	não	vale	apenas	pelo	dinheiro,	
mas,	muito	mais,	pelo	que	produz.	Afinal,	 terra	é	sempre	 terra!”	
A	Editora	Alfa-Omega	–	coerente	com	seus	25	anos	de	 luta	por	
um	Brasil	mais	 reflexivo	–	sente-se	honrada	ao	 lançar	este	 livro	
que	se	tornará	imprescindível	na	biblioteca	de	quem	se	preocupa	
com	 as	 pungentes	 questões	 brasileiras.	 Este	 livro,	 o	 segundo	
lançamento	de	Beatriz	Garcia,	apresenta	consistente	bibliografia	
sobre	 o	 período	 cafeeiro.	 Seu	 primeiro	 livro	 –	Uma História de 
Amor Entre-Guerras	–	recebeu	o	prêmio	literário	da	Secretaria	da	
Cultura	de	Ribeirão	Preto.
FILME/VÍDEO 
•	Título:	Revolução	de	30
•	Ano:	1980
•	Sinopse:	Documentário	que	reúne	mais	de	trinta	documentários	
e	 filmes	de	 ficção,	 fotografias	e	 registros	 sonoros	mostrando	os	
momentos	que	antecederam	o	conflito,	 seu	desenrolar	e	conse-
quências.	Seu	fio	condutor	é	o	documentário	Pátria Redimida,	rea-
lizado,	na	época,	por	João	Batista	Groff,	com	cenas	filmadas	em	
zonas	de	combate:	 Itararé,	Ribeira	e	Catiguá.	 Inclui	comentários	
críticos	de	Boris	Fausto,	Edgar	Carone	e	Paulo	Sérgio	Pinheiro.	
A	 trilha	 sonora	 traz	 antigas	 gravações	 de	 discursos	 e	 músicas	
do	 período,	 algumas	 compostas	 especialmente	 para	 celebrar	 a	
revolução:	hinos	a	João	Pessoa,	a	Miguel	Costa	e	Juarez	Távora.	
Direção	de	Sylvio	Back.	Brasil,	1980.
85UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
WEB
Como	o	foco	desta	apostila	foi	o	de	abordar	a	formação	econômica	do	Brasil,	cabe	
também	 destacarmos	 fatos	 históricos	 importantes	 para	 a	 compreensão	 e	 absorção	 do	
conteúdo.
A seguir estão alguns fatos importantes para você pesquisar e conhecer mais!
	♦ O	Primeiro	Reinado	(1822	–	1831)
	♦ Constituição	de	1824
	♦ Abdicação	de	Dom	Pedro	I
	♦ O	Período	Regencial	(1831	–	1840)
	♦ Reformas	institucionais
	♦ O	Segundo	Reinado	(1840	–	1889)
	♦ Guerra	do	Paraguai
	♦ Crise	do	Segundo	Reinado
	♦ A	Primeira	República	(1889	–	1930)
	♦ A	Revolução	de	1930
Conheça	mais	sobre	o	assunto	lendo	o	livro:
FAUSTO,	B.		A História do Brasil.	São	Paulo:	Edusp,	1996.	
Disponível	em:	https://mizanzuk.files.wordpress.com/2018/02/boris-fausto-historia-do-brasil.pdf
86UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
REFERÊNCIAS
ALMEIDA,	R.	R.	A inconfidência mineira de 1789.	s.d.	Disponível	em:	http://www.fafich.ufmg.br/
pae/apoio/ainconfidenciamineirade1789.pdf.
ARAÚJO,	U.	C.	A	baía	de	Todos	os	Santos:	um	sistema	geo-histórico	resistente.	Bahia Análise & 
Dados,	Salvador,	v.	9,	n.	4,	2000.
BERNAND,	C.;	GRUZINSKI,	S.	História do Novo Mundo.	V.	1:	da	descoberta	à	conquista.	São	
Paulo:	EDUSP,	1997.
BLOG	DO	ENEM.	Revoltas coloniais nativistas do século XVIII 	 -	História	Enem	e	vestibular.	
2018.	Disponível	em:	https://blogdoenem.com.br/revoltas-coloniais-nativistas-seculo-xviii/	
BRASIL.	Decreto nº 5.108, de 18 de dezembro de 1926.	Altera	o	systema	monetário	e	estabelece	
medidas	 econômicas	 e	 financeiras.	 Rio	 de	 Janeiro,	 1926.	 Disponível	 em:	 https://www2.camara.
leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-5108-18-dezembro-1926-564612-republicacao-88572-pl.
html.
BURY,	J.	Arquitetura e Arte no Brasil Colonial.	Brasília:	Iphan,	2006.
CALIARI,	T.;	BUENO,	N.	P.	O ciclo do café durante a República Velha:	uma	análise	com	a	abor-
dagem	de	dinâmica	de	sistemas.	Belo	Horizonte:	Nova	Economia,	2010.
CANO,	W.	Da	Década	de	1920	à	de	1930:	Transição	Rumo	à	Crise	e	à	Industrialização	no	Brasil.	
EconomiA,	Brasília,	v.	13,	n.	3b,	p.	897–916,	set/dez	2012.
CARDOSO,	A.	A	conquista	do	Maranhão	e	as	disputas	atlânticas	na	geopolítica	da	União	Ibérica	
(1596-1626).	Revista Brasileira de História,	São	Paulo,	v.	31,	n.	61,	2011,	p.	317-338.		
CINTRA,	J.	P.	O	Mapa	das	Capitanias	Hereditárias.	Anais do Museu Paulista,	São	Paulo:	Museu	
Paulista,	v.	21,	n.	2,	2013.
DI	CARLO,	R.	F.	História da América Colonial.	São	Paulo:	Editora	Sol,	2015.
DIÉGUES	JÚNIOR,	M.	Propriedade e uso da terra na “Plantation” Brasileira.	In:	Sistemas	de	
Plantaciones	en	el	Nuevo	Mundo.	Washington:	União	Panamericana,	1964.	
ELLIOT,	J.	H.	A	conquista	espanhola	e	a	colonização	da	América.	In:	BETHEL,	L.	(Org.).	A América 
Latina Colonial,	v.	1.	São	Paulo:	Edusp;	Brasília:	Fundação	Alexandre	de	Gusmão,	2004.	
FAUSTO,	B.	História do Brasil.	São	Paulo:	Edusp,	1996.
FERLINI,	V.	L.	A.	A civilização do açúcar. São	Paulo:	Brasiliense,	1994.
FRANÇA,	T.	de	N.	A substituição da mão-de-obra escrava e a opção pela grande imigração no 
estado de São Paulo.	2008.	158	f.	Dissertação	(Mestrado	em	Economia)	-	Pontifícia	Universidade	
Católica	de	São	Paulo,	São	Paulo,	2008.
FURTADO,	C.	Formação Econômica do Brasil.	32	ed.	São	Paulo:	Companhia	Editora	Nacional,	
2005.
FURTADO,	C.	Formação econômica do	Brasil.	34.	ed.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	2007.
FURTADO,	C.	Formação Econômica do Brasil.	São	Paulo:	Companhia	Editora	Nacional,	2005.
KOSHIBA,	L	&	PEREIRA,	D.	M.F.	História do Brasil.	São	Paulo:	Atual,	1996.	
87UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
MARQUESE,	R.	de	B.	Capitalismo,	escravidão	e	a	economia	cafeeira	no	Brasil	no	longo	século	XIX.	
Sæculum -	Revista	de	História,	João	Pessoa,	n.	29,	p.	289-321,	2013.	
MATTOS,	E.;	INNOCENTINI,	T.;	BENELLI,	Y.	Capitanias Hereditárias e desenvolvimento econô-
mico:	herança	colonial	sobre	desigualdade	e	instituições.	2012.
MELLO,	M.	T.	C.	de.	A	modernidade	republicana.	Tempo,	v.13,	n.	26,	2009.
MESGRAVIS,	L.	História	do	Brasil	Colônia.	1	Ed.	Editora	Contexto:	2015
NIEUHOF,	J.	Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil.	Belo	Horizonte:	Itatiaia;	São	Pau-
lo:	Editora	da	Universidade	de	São	Paulo,	1981.
PEREIRA,	A.	P.	C.;	SILVEIRA,	M.	R.	O	processo	de	 industrialização	no	Brasil:	um	retrospecto	a	
partir	da	dinâmica	da	dualidade	brasileira.	Ensaios FEE,	v.	31,	n.	2,	p.	321-344,	dez.	2010.
PINTO,	V.	N.	1929 - o ouro brasileiro e o comércio anglo-português:	uma	contribuição	aos	estu-
dos	da	economia	atlântica	no	século	XVIII.	São	Paulo:	Ed.	Nacional;	Brasília:	INL,	1979.
PRADO	JÚNIOR,	C.	História Econômica do Brasil.	26.	ed.	São	Paulo:	Brasiliense,	1981.
RAMOS,	J.	E.	M.	Produção de açúcar no Brasil Colonial.	2010.	Disponível	em:	https://www.his-
toriadobrasil.net/brasil_colonial/producao_acucar.htm.
SIMONSEN,	R.	C.	História econômica do Brasil 1500-1820.	São	Paulo-Rio	de	Janeiro-Recife:	
Companhia	Editora	Nacional,	2005.	
SITIMA,	M.	V.	C.	Formação Econômica do Brasil	-	Uma	resenha	da	obra	de	Celso	Furtado.	Curi-
tiba:	Universidade	Federal	do	Paraná,	2014.
SITIMA,	M.	V.	C.	Formação econômica do Brasil:	uma	resenha	da	obra	de	Celso	Furtado.	2014.	
77	f.	Trabalho	de	Conclusão	de	Curso	(Graduação	em	Ciências	Econômicas)	–	Universidade	Fede-
ral	do	Paraná,	Curitiba,	2014.
SKIDMORE,	T.	E.	Brazil:	Five	centuries	of	change.	Oxford:	Oxford	university	Press,	1999.
SKIDMORE,	T.	Uma história do Brasil.	Rio	de	Janeiro:	Paz	e	Terra,	2003.SMITH,	J.	A History of Brazil.	Abingson:	Routledge,	2002.
STRAFORINI,	R.	A	formação	territorial	brasileira	nos	dois	primeiros	séculos	de	colonização.	Geo 
UERJ,	Rio	de	Janeiro,	v.	1,	n.	18,	p.	63-88,	1.	sem.,	2008.	
VILLELA,	A.	Política	tarifária	no	II	Reinado:	evolução	e	impactos,	1850-1889.	Nova Economia,	v.	
15,	n.	1,	jun.	2009.
88UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
CONCLUSÃO
Prezado(a)	aluno(a),
Neste	material	observamos	de	que	forma	se	deu	a	formação	da	economia	brasileira	
até	os	anos	30.	Para	tanto,	abordamos	como	se	deu	a	descoberta	e	o	início	da	exploração	
territorial	 brasileira.	No	 início	 vimos	 também	que	as	atividades	extrativistas	 formavam	a	
única	atividade	econômica	brasileira	no	 início	do	período	colonial.	Vimos	como	a	cobiça	
por	parte	de	outras	nações	europeias	pelo	território	brasileiro	forçou	Portugal	a	colonizar	o	
Brasil	e	ocupar	as	terras	descobertas.	Aprendemos	que	a	primeira	estratégia	de	Portugal	
foi	a	de	estabelecer	as	capitanias	hereditárias	para	a	ocupação	e	exploração	econômica	
do	 território	 brasileiro.	 Porém	 vimos	 que	 esse	modelo	 fracassou,	 o	 que	 forçou	 a	 coroa	
portuguesa	a	estabelecer	o	Governo-geral,	em	que	o	estabelecimento	de	uma	capital	e	a	
presença	de	uma	autoridade	real	transformaram	o	Brasil,	de	fato,	em	uma	colônia	e	não	
apenas	uma	simples	área	de	exploração.	Com	isso,	observamos	o	nascimento	da	indústria	
açucareira,	que	foi	uma	das	mais	importantes	atividades	econômicas	para	o	Brasil	até	o	
final	do	século	XVIII.
Destacamos	também	que	o	sucesso	da	indústria	açucareira	alimentou	outras	ati-
vidades	a	sua	volta,	 como	a	pecuária.	Observamos	que	a	expulsão	dos	holandeses	do	
território	brasileiro	criou	nas	Antilhas	e	Caribe	um	outro	polo	produtor	de	açúcar	que	passou	
a	concorrer	com	o	açúcar	brasileiro,	causando	uma	queda	no	preço	do	produto	no	mercado	
internacional.	Essa	queda	gerou	uma	mudança	na	dinâmica	da	economia	nordestina,	fa-
zendo	aumentar	a	atividade	de	subsistência	e	causando	uma	desindustrialização	da	região.	
Tudo	 isso	associado	a	 um	aumento	 populacional	 que	 causou	uma	queda	na	 renda	per	
capita,	 sendo	 que	 os	 efeitos	 dessa	 crise	 e	 o	 empobrecimento	 da	 população	 nordestina	
podem	ser	sentidos	até	os	dias	de	hoje.
Acompanhamos	 também,	 ao	 longo	 da	 apostila,	 o	 processo	 de	 descoberta	 e	 de	
crescimento	 da	mineração	 no	 final	 do	 século	XVII.	 Vimos	 então	 como	essa	 descoberta	
alterou	o	fluxo	de	mão-de-obra	escrava	no	Brasil,	trazendo	para	Minas	Gerais	muitos	es-
cravos	africanos	que	se	encontravam	nas	lavouras	açucareiras	do	nordeste.	Esse	processo	
alterou	 o	 centro	 dinâmico	 da	 economia	 brasileira	 para	 o	 Sudeste.	 Porém	 a	 exploração	
89UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial
desenfreada	e	sustentada	pela	fartura	de	mão-de-obra	escrava	fez	esgotar	as	jazidas	já	no	
final	do	século	XVIII,	fazendo	com	que	a	agricultura	voltasse	a	ser	novamente	a	principal	
fomentadora	da	economia	brasileira.
Por	fim,	vimos	como	a	chegada	da	 família	 real	portuguesa	ao	Brasil,	 fugindo	de	
guerras	napoleônicas,	mudou	o	status	do	Brasil	de	colônia	para	reino,	dando	início	então	
ao	 fim	da	era	 colonial.	Vimos	 também,	ao	 longo	da	apostila,	 como	a	 crise	do	ouro	e	 o	
renascimento	da	agricultura,	em	especial	com	o	aparecimento	do	café,	levaram	a	um	novo	
impulso	de	crescimento		da	economia	brasileira	na	primeira	metade	do	século	XIX,	com	o	
Brasil	 já	 independente.	Em	seguida	vimos	como	o	sucesso	da	agricultura	cafeeira	gerou	
uma	carência	de	mão-de-obra,	o	que	se	agravou	com	as	pressões	abolicionistas	europeias,	
que,	impulsionadas	por	novas	ideologias	e	pensamentos	religiosos,	lutavam	contra	a	es-
cravidão.	Eis	que	surge	a	mão-de-obra	assalariada,	formada	em	sua	maioria	por	imigrantes	
que	buscavam,	no	Brasil,	novas	oportunidades.	
Finalmente,	analisamos	como	o	sucesso	da	 indústria	cafeeira,	no	final	do	sécu-
lo	 XIX,	 gerou	 um	 excesso	 de	 produção	 e	 de	 que	maneira	 acordos	 estabelecidos	 entre	
cafeicultores	e	governo	brasileiro	acabou	por	estimular	ainda	mais	a	produção,	gerando,	
junto	com	a	crise	de	1929,	a	chamada	crise	da	economia	cafeeira.	Essa	crise	faz	cair	a	
oligarquia	cafeeira	que	comandava	a	política	brasileira	até	então,	com	a	revolução	de	1930.	
O	Brasil	passa	então	a	focar	em	desenvolver	sua	atividade	industrial,	buscando	modernizar	
a	economia	do	país.
	UNIDADE I
	Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
	UNIDADE II
	Expansão da Colonização
	UNIDADE III
	Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
	UNIDADE IV
	Economia de Transição para um Sistema Industrial

Mais conteúdos dessa disciplina