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LINGUAGEM DE SINAIS: o trabalho do intérprete de libras no contexto escolar
Resumo
Este artigo discorre sobre como a inclusão escolar que vem com o desejo de respeitar as diversidades e pluralidades dos alunos, dando espaço de desenvolvimento no ambiente escolar através de um ensino igualitário, acessível e que atenda todas as demandas de pessoas assistidas pela escola. O interprete de LIBRAS deve atuar em conjunto com o professor regente para garantir que os alunos possam se desenvolver completamente. Para tanto é preciso compreender o inicio da língua de sinais no Brasil e como se dá a formação do interprete. A função do intérprete de Libras vai além de uma mera interpretação, pois compreende também a inclusão a ser realizada de forma coerente e não apenas uma inserção do surdo numa sala de aula regular.
 
Palavra-chave: Inclusão. Intérprete. Surdo. Aprendizado.
INTRODUÇÃO
A escola precisa ser um lugar acolhedor, no qual o aluno se sinta confortável para ser ele mesmo, podendo errar e acertar sem que suas características sejam definidas como propulsor de tais dificuldades. Nessa perspectiva a inclusão escolar viabiliza condições para que a escola proponha meios de atender a todos com qualidade e segurança e quando alinhada ao uso das tecnologias, tem maior confiabilidade e receptividade por meio de alunos, pais e comunidade no qual está inserida. 
A inclusão mobiliza a família, os professores, a escola e profissionais de apoio especializado são naturais que diante dessa nova situação possa gerar dúvidas, medo e angústia tanto para a família como para escola, sendo assim, a inclusão de alunos surdos não é fácil, e para que aconteça de fato é preciso que a escola tenha um olhar diferente.
O intérprete de língua de sinais é um profissional que desempenha uma importante função nos diversos contextos em que atua sendo eles educacionais ou não. A presença desse profissional no ensino requer muitas reflexões e cuidados, já que ele atua diretamente no processo de ensino-aprendizagem do sujeito surdo. A relevância da sua atuação se dá principalmente na mediação da comunicação entre surdos e ouvintes. Tendo em vista que a maioria das escolas inclusivas onde existe a presença de alunos surdos não há professores, alunos ou funcionários com fluência necessária para uma boa comunicação. Cabe ao intérprete à função primordial de fazer com que as relações comunicativas aconteçam da melhor maneira possível.
A função do intérprete é processar a informação dada na língua fonte e fazer escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Para que o interprete realize um bom trabalho no ambiente escolar, precisa de apoio do corpo docente e principalmente do professor regente. É possível que aja uma boa relação entre professor regente e interprete sem prejuízo na aprendizagem?
Como objetivo geral é entender como deve ser a atuação do interprete de língua no âmbito escolar. Através dos objetivos específicos, discorrer sobre o inicio da língua de sinais no Brasil, formação do intérprete da língua de sinais e como o aluno surdo é inserido e visto na sala de aula. 
Por muito tempo alunos com deficiências não eram aceitos no ensino regular e quando inseridos, não possuíam um profissional que dessem apoio necessário para sua aprendizagem. Justifica-se o estudo deste tema para compreender como a inclusão através da admissão do interprete de línguas dentro da sala de aula contribui e corrobora para uma educação qualificada e digna para todos sem distinção ou discriminação. 
Este estudo se deu através de pesquisa qualitativa de cunho exploratório. Foi realizada pesquisa bibliográfica, para compreender o que os referenciais teóricos têm a dizer sobre a temática. Também foi realizada pesquisa documental envolvendo documentos oficiais para aprofundar no tema e entender as leis que discorrem sobre o interprete de língua de sinais e suas formas de atuação dentro da escola. 
Quando se trata de educação para surdos e o uso do profissional interprete de línguas na sala de aula, se fala de inclusão escolar, onde as propostas pedagógicas devem respeitar as singularidades de cada aluno. O acesso à educação com qualidade deve ser ofertado a todos, com uso de recursos e com profissionais qualificados no atendimento de qualquer necessidade que o aluno possa ter. Que este artigo possa prover mudanças no olhar critico sobre a educação para todos e no respeito às diferenças. 
 
DESENVOLVIMENTO
INCLUSÃO ESCOLAR
O art. 208, III da Constituição Federal (1998) pondera que é obrigação do estado garantir o ensino de qualidade às pessoas que possuem deficiência sendo em escolas regulares, sejam públicas ou privadas. 
Mantoan (2015, p.24) sobre o ato de incluir, relata que pode ser visto de forma diferente, pois conviver com diferenças na escola faz com que os alunos aprendam a respeitar as diferenças. Sendo um grande passo para formar uma sociedade mais justa e que oportuniza a todos da mesma forma. 
Nos entendimentos de Penha, Silva e Carvalho (2014, p.735) a inclusão dos diferentes no âmbito escolar, demanda uma nova postura, uma nova proposta pedagógica e uma metodologia de ensino abrangente. Os professores e a escola deve ter suporte para suas ações pedagógicas. 
O movimento de inclusão ganhou força a partir da concepção de educação enquanto direito de todos e da proposta de universalização do ensino fundamental, como relata Schuchter (2018): 
O conceito de inclusão veio acompanhado de ideia de universalização do ensino fundamental, da obrigatoriedade da matrícula das pessoas portadoras de deficiência na escola regular, da obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e indígena nos currículos da educação básica, da instituição das modalidades de educação básica – quilombola, indígena, campo, educação e jovens e adultos, Educação Especial -, das políticas de reparação, educação para todos (SCHUCHTER, 2018, p. 45).
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência-LBI (BRASIL, 2015) assegura à pessoa com deficiência o direito de acesso ao sistema educacional inclusivo e aprendizado ao longo da vida, visando ao desenvolvimento de sua habilidade e competências de forma que o sujeito tenha autonomia para exercer sua cidadania e atuar no mercado de trabalho.
Para que a Educação Inclusiva ocorra com qualidade, a Lei de Diretrizes e Bases, em seu Art. 59, destaca como devem ser atendidos os educandos com necessidades especiais, em que destaca as principais diretrizes para o atendimento desses alunos. 
Para isso, a educação tem por base quatro pilares: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; e aprender a ser. Firmar a educação inclusiva em todos esses pilares é garantir que a aprendizagem de crianças e jovens com deficiência aconteça por meio das várias possibilidades de desenvolvimento que se pode encontrar na escola (Ferreira, 2022, p. 4).
Para que o ensino seja inclusivo, a escola necessita mudar paradigmas. O aluno jamais deve ser tratado como diferente e obrigado a se adaptar aos demais alunos. O ambiente que deve ser adaptado para receber os alunos e ajuda-los em suas diversidades e pluralidades. 
A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS-LIBRAS
A Língua Brasileira de Sinais-Libras tem sua origem na Língua de Sinais Francesa. A Língua de Sinais não é universal. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. Como qualquer outra língua, a Libras também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos), o que a legitima ainda mais como língua. Os sinais em Libras são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos.
De acordo com Carvalho e Silva (2014) “É uma língua de modalidade gestual-visual, que inclui movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão”. 
A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (Brasil, 2002) assegura:
Entende-se como LínguaBrasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. [...].
Na educação percebe-se a grande necessidade de compreender a língua dos surdos, pois para compreendê-los é preciso saber como se comunicam e como compreendem por meio dos sinais, de certa forma Libras é algo recente para sociedade geral como no campo da educação, pois a inclusão de pessoas surdas surge em um cenário e contexto nas vivências sociais, de acordo com Santana (2015) às propostas de trabalho direcionadas a surdez tem se preocupado basicamente com as abordagens específicas no campo educacional, contudo emerge a necessidade de uma melhor compreensão por todos os atores sociais. 
Segundo Santana (2015) a cultura surda é ainda muito recente o interesse, de forma mais sistemática, da linguística pelo tema. Antes, a surdez era objeto de estudo de médicos e educadores e, mais recentemente, de fonoaudiólogos. 
A estrutura da Língua Brasileira de Sinais é constituída de parâmetros primários e secundários que se combinam de forma sequencial ou simultânea. Assim como todas as línguas a Libras tem seu léxico criado a partir de unidades mínimas que junto a outros parâmetros formam o sinal (vocábulo), estas unidades mínimas é denominada de CONFIGURAÇÕES DE MÃOS, ou seja, são as formas utilizadas para formação de sinais. Através de algumas dessas configurações de mãos é possível representar o alfabeto de outras línguas orais como a língua portuguesa, por exemplo. 
Configuração de Mão
Fonte: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.palhoca.ifsc.edu.br/materiais/apostila-libras-basico/Apostila_Libras_Basico_IFSC-Palhoca-Bilingue.pdf
Alfabeto Manual
Fonte: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.palhoca.ifsc.edu.br/materiais/apostila-libras-basico/Apostila_Libras_Basico_IFSC-Palhoca-Bilingue.pdf
Números
Fonte: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.palhoca.ifsc.edu.br/materiais/apostila-libras-basico/Apostila_Libras_Basico_IFSC-Palhoca-Bilingue.pdf
FORMAÇÃO DO INTERPRETE BRASILEIRO DE LÍNGUA DE SINAIS
A profissão do tradutor intérprete de Libras no Brasil, segundo Lacerda (2017), demorou a ser reconhecido, o que ocasionou o surgimento de profissionais das diferentes áreas do conhecimento com formação em Libras, atuando no cenário educacional, tal como bacharéis em arquitetura, direito, enfermagem, entre outros, realizando atividades como intérpretes educacionais, muito devido à precariedade na formação de professores com capacitação específica em âmbito superior, assim como a falhas na legislação vigente.
O poder público precisou refletir sobre ações que incluíssem os estudantes surdos, os fluentes em Libras, os com atraso de linguagem e os sem o domínio da língua oral e das Libras, os surdos-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação, ou com outras deficiências associadas para que pudesse ter efetivado o direito à permanência na escola e a equidade de ensino. Portanto, em 2010, com a promulgação da Lei n° 12.319 é que a profissão do Tradutor e Intérprete de Libras passa a ser regularizada, pois, já em seu Artigo 1° traz que essa lei: “[...] regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS” (BRASIL, 2010). A partir da promulgação da lei, em 2012, surge a primeira turma de Bacharéis em Letras-Libras, fazendo com que a formação do intérprete de Libras passasse a ser institucional, com um currículo padrão e não mais informal como vinha ocorrendo no Brasil.
A formação do Intérprete no Brasil, sob o aspecto legal, pode acontecer em nível superior e médio, de acordo com o capítulo V, artigo 17, do Decreto nº 5.626/2005, encontra-se regulamentado que a formação do Intérprete deve acontecer em nível superior por meio de curso de tradução e interpretação.
Já art. 18, determina que formação do Intérprete, poderá acontecer em nível médio, por meio de cursos de educação profissional, cursos de extensão universitária ou cursos de formação continuada, acrescentando-se a esta formação a obtenção de certificação de Proficiência em Libras, fornecido pelo Prolibras. 
A Lei 12.319, de 1º de setembro de 2010, em seu art. 4º, também, regulamenta a formação do Intérprete em nível médio, determinando a sua formação com a mesma modalidade do art. 18 do Decreto 5.626/2005. Tanto a Lei 12.319/2010, como o Decreto 5.626/2005 estabelece prazo de até dezembro de 2015 para vigência do Prolibras, ambos determinam, ainda, que a formação do Intérprete pode ocorrer em organizações civis representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por instituições superior ou instituições credenciadas por secretarias de educação.
A fim de a pessoa seja considerada apta para operar como intérprete, esta deve dominar a língua de sinais e a língua falada do país. A competência em línguas de sinais é essencial para que o intérprete possa ser mediador. Sobre a formação do tradutor intérprete Pagura (2003 apud LACERDA 2009, p. 20) afirma: 
A formação deve contribuir para que os alunos (futuros tradutores e intérpretes) percebam e analisem um texto para além das palavras, apreendendo seus sentidos. Obviamente os modos de realizar essa tarefa são diferentes para tradutores e intérpretes já que envolvem modalidades diferentes de línguas. Após a compreensão ampla da mensagem (percepção dos sentidos), é necessário que o aluno seja capaz de reproduzir a mensagem. Com o foco na manutenção dos sentidos originais, ainda na língua de origem, ele deve ser levado a depreender sentidos. Só então é que deve ser incentivada a reexpressar a mensagem na língua alvo, deixando a correspondência entre palavras e buscando a correlação de sentidos entre as línguas. Esse processo é semelhante tanto para tradutores que atua sobre textos escritos quanto para intérpretes que atuam sobre segmentos orais. A essa vivência prática de modos de versar de uma língua para outra, se deve somar a formação teórica sobre as línguas, sobre aspectos linguísticos e culturais entre outros.
Tradutores e intérpretes estão atuando no ensino fundamental, no ensino médio e no ensino superior. Sabe-se que o nível de linguagem é diferente a depender do nível de ensino e também varia, de profissional para profissional, exigindo conhecimento específico. O intérprete de Libras é importante para promover a interação entre o surdo e o ouvinte de forma eficaz para o processo de comunicação.
Quadro- Terminologia para identidade do profissional em LIBRAS
Fonte: Oliveira, 2022
O PAPEL E A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE BRASILEIRO DE LÍNGUA DE SINAIS
Todas as crianças têm direito à educação com qualidade e ambiente propício à aprendizagem, desse modo, as escolas trabalham para que esse direito seja atendido de modo eficiente. A inclusão do profissional intérprete de Libras, assegurado por uma política de educação e referenciada pelo Decreto federal nº 5.626 (BRASIL, 2005), tem se intensificado no último quinquênio nas escolas públicas, tornando-se realidade a sua atuação em todos os níveis de ensino.
Incluir alunos surdos em salas de aula do ensino comum vai além de modificar a estrutura física da escola; requer o conhecimento sobre as Libras pelo corpo docente; conhecimento da língua de sinais, bem como ensinamento dos conteúdos escolares embasados no aprendizado de uma segunda língua, na modalidade escrita.
O Decreto 5626/05, no seu cap. VI, Art.23, enfatiza que o aluno surdo deve ter o acompanhamento do intérprete para viabilizar o acesso a comunicação, porém não destaca a complexidade das atribuições deste profissional. Lacerda (2009), por exemplo, quando fala da complexidade do papel deste trabalhador que atua na educação em todos os níveis; reconhece a presença deste ator como sendo fundamental na proposta de inclusãoescolar bilíngue de sujeitos surdos ao lado de professores ouvintes em sala de aula (LACERDA, 2009. p.136).
O decreto, portanto, garante a presença desse profissional em vários espaços, dentre esses o escolar, mas não esclarece que as práticas tradutórias deveriam ser percebidas para além da exposição e transição entre duas línguas. Para traduzir o intérprete precisa levar em conta à complexidade dos textos; os conteúdos das mais diversas áreas do conhecimento, muitos dos quais não dominam e as diversas metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula. Isso tudo envolve a compreensão e apreensão de conteúdos, desconhecidos dentre as várias disciplinas em que atua.
Já a Lei 12.319/10, que regulamentou a profissão de intérprete de Libras destaca que a função deste profissional é efetivar a comunicação entre surdos e ouvintes no acesso a diferentes serviços disponíveis nas mais variadas esferas da sociedade. Apesar disso, não deixa claro a atuação deste profissional na educação.
Gesser (2014) afirma que o intérprete não é a voz do surdo, pois ao pensarmos no trabalho deste profissional desta maneira tende-se a colocar os surdos no lugar daqueles que não possuem língua e nem voz para enunciar os seus pensamentos. O intérprete e o acadêmico surdo possuem uma relação dialógica repleta de dizeres e saberes entre ambas as línguas, Libras/Língua Portuguesa e ambos os sujeitos assumem os seus papeis (GESSER, 2014).
Como explica Santos (2013), o tradutor intérprete em sala de aula promove a relação de diálogo entre o aluno e o professor, será ele que fará escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo para que a informação seja, portanto, apropriada ao máximo da sua real mensagem pelo aluno.
De acordo com Shimabuko Junior e Duarte (2016), no desenvolvimento de seu trabalho, não é suficiente apenas o entendimento do ensino da Língua de Sinais, como também, a técnica de traduzir e interpretar a mesma. Vê-se, então, como o tradutor intérprete precisa dominar a Língua Portuguesa e a Libras. Isso porque, a formação é muito específica e técnica, qualquer pessoa pode aprender a Língua de Sinais, entretanto, somente o tradutor intérprete conseguirá em sua atuação entender as técnicas para interpretar a mensagem e dar o sentido que o aluno precisa compreender dentro do conteúdo escolar. 
Ao aluno ter alguma dúvida é o professor que deve ajudar na resolução. O professor precisa entender seu papel e dever como educador e como auxiliar o interprete. A relação entre professor e interprete deve favorecer a educação do aluno, para isso ambos devem se ajudar, o professor regente deve sempre mostrar ao interprete o plano de aula para que o mesmo se prepare com antecedência. 
O ALUNO SURDO 
A surdez é a perda, maior ou menor, da percepção normal dos sons, verifica--se a existência de vários tipos de portadores de deficiência auditiva, de acordo com os diferentes graus da perda da audição. O grau e o tipo da perda de audição, assim como a idade em que esta ocorreu, vão determinar importantes diferenças em relação ao tipo de atendimento que o aluno irá receber.
A surdez sempre existiu, mas antigamente os sujeitos surdos não eram respeitados e nem considerados como seres humanos. Fernandes relata que “atos desumanos foram praticados por diferentes civilizações, as quais consideravam a surdez um castigo.” (Fernandes, 2011 p.21).
De acordo com Fernandes (2011): 
No contexto brasileiro, a expressão necessidades especiais foi oficialmente adotada no art. 58 da LDBEN (Brasil, 1996), acarretando numa interpretação ampliada do alunado da educação especial no contexto da inclusão, uma vez que avançava na ideia de que aplicava apenas aos alunos com deficiências e abrangia os demais alunos excluídos ou marginalizados no contexto escolar. (FERNANDES, 2011, p.139)
Alguns professores não valorizam a presença do aluno surdo, por vezes por não saber lidar com eles e outras vezes por achar que os mesmos inábeis. Sobre o aluno com surdez, em relação às vivências e interações com o mundo é limitante e o diferencia, mas não o impede de ser produtivo, capaz, participativo, colaborativo, criativo, consciente, auto gestor de sua vida pessoal e em sociedade local e global (FALCÃO, 2017, p. 353).
Segundo Olizaroski (2019, p. 5), muitas foram às batalhas durante os séculos para que os surdos conseguissem enfim conquistar o direito à educação, “bem como o reconhecimento de sua própria identidade e cultura. Foram diversas batalhas travadas contra a sociedade, instituições tanto religiosas quanto governamentais e, em alguns casos, até mesmo familiares”. 
“Hoje a sociedade está sendo adaptada para atender melhor a cada deficiência, porém a caminhada ainda é grande e cheia de obstáculos para as pessoas que tem limitações seja visual, auditiva, física ou mental” (SANTOS, 2013, p. 13).
Segundo Albres (2012) por meio de Libras é possível aperfeiçoar os espaços de convivência dos surdos, pois essa linguagem contribui para atuação do professor como orientador oferecendo possibilidades de inclusão, a língua de sinais acaba por oferecer uma possibilidade de legitimação do surdo como sujeito de linguagem, ela é capaz de transformar a “anormalidade” em diferença, muitas pessoas não são preparadas para receber e atuar em conjunto a pessoas que possuem algum tipo de necessidade especial, por pena ou acreditar que não são capazes de se portar como os demais. O aluno surdo precisa de duas línguas: a língua de sinais como primeira língua e a língua oficial do país, e, outras línguas, como segunda língua para interagir com a comunidade ouvinte, por meio de uma relação intercultural assim construirá sua identidade.
Ao inserir alunos surdos na escola, os materiais e profissionais devem estar de acordo com as necessidades, para que sejam ampliados os conhecimentos dos educandos, visto que:
Diferentemente das crianças ouvintes, que chegam à escola falando português, as crianças surdas muitas vezes não têm o domínio adequado da sua língua; assim, a preocupação da escola deve ser criar um ambiente em que essas crianças possam adquirir primeiramente a Língua de Sinais e depois o português (DELGADO; CAVALCANTE, 2011, pág 65-108).
Para a família que possui pessoas com surdez ao inserir os mesmo na escola carece de apoio para alfabetizar seus familiares. Pelo fato da criança não ter acesso a Língua Brasileira de Sinais desde pequena, pode ocorrer atraso de aprendizagem. Com a surdez, a comunicação cria ruídos e para minimizar se faz necessário o uso da LIBRAS para a comunicação (CULAU; LIRA; SPONCHIADO, 2015, p.2438).
O processo de desenvolvimento do surdo ocorre de maneira igual ao ouvinte, por meio das interações sociais e com a aquisição das significações das suas vivencias durante o encontro com o mundo externo, a única diferença é que ele possui a necessidade de um canal linguístico em comum com o outro sujeito com o qual está compartilhando a vivencia, ou seja, ambos devem usar a língua de sinais. 
CONCLUSÃO 
Para que a inclusão escolar seja efetivada de forma correta o convívio social deve ser oportunizado ao aluno. Somente ao conviver com pessoas diferentes que se aprende a respeitar as dificuldades do próximo. É a escola que deve mudar e não o aluno. É a escola que precisa adaptar-se às necessidades do aluno e não o aluno adaptar-se à escola.
A escola e a família desempenham papel fundamental na constituição do aluno surdo, a interação é imprescindível, pois a pessoa está exposta constantemente a diversas barreiras, e essa interação podem contribuir para a sua superação e desenvolvimento. A educação é instrumento essencial para o sujeito enfrentar os desafios do mundo, é muito importante à contribuição de todas as pessoas que rodeiam os surdos. 
As turmas com alunos surdos têm a necessidade de terem em sala de aula a presença do intérprete de Libras e Língua Portuguesa, para efetuar a necessária interpretação da Libras para a Língua Portuguesa e vice-versa. O tradutor intérprete de Libras é o profissional indispensável na intercomunicação,na conversa, na comunicabilidade, no aprendizado e no fazer pedagógico inclusivo na sala de aula e ambiente escolar que tenha estudante surdo.
 É a partir da presença deste profissional que se dará uma comunicação efetiva neste processo de inclusão educacional para o discente surdo, o tornando um estudante com participação igual a seus pares dentro do ambiente escolar, fazendo com que não existam barreiras na comunicação e sim pontes que o levam a qualquer nível da educação. Apesar do papel do intérprete ser de teor ilimitado, esse profissional não pode de maneira alguma querer estar no lugar do professor e vice versa. Os professores são professores e os intérpretes são intérpretes, pois ambos apresentam papéis diferentes com as crianças surdas.
Faz-se necessário promover ações que incentivem a formação continuada para que os professores, gestores e todo âmbito escolar esteja preparado para trabalhar com diferentes níveis de alunos, respeitando suas características. A interação com alunos surdos deve ocorrer com maior frequência e de forma a valorizar e incentivar o desenvolvimento do aluno. O professor e interprete devem trabalhar alinhados para minimizar as dificuldades que os alunos possam enfrentar, pois o objetivo é o desenvolvimento completo do aluno. 
REFERÊNCIAS
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