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<p>Adriano Moura da Fonseca Pinto Luciana Garcia de Oliveira ser educacional A Digital Pages gente criando futuro</p><p>Sumário Unidade 1 - Dos meios gerais de impugnação das decisões judiciais Objetivos da unidade 12 Principiologia: meios de impugnação das decisões judiciais 13 0 direito ao recurso e outros meios de impugnação da decisão judicial 14 Princípios aplicáveis aos recursos e outros meios de impugnação das decisõesjudiciais 17 Conceito e natureza jurídica dos recursos: juízo de admissibilidade e juízo de mérito 21 Conceito e natureza jurídica dos recursos 21 Juízo de admissibilidade e requisitos recursais 21 Juízo de mérito 24 Efeitos dos recursos 25 Teoria geral dos recursos: características e classificações 27 Características 28 Classificações 28 Dos recursos em espécie, em seus respectivos cabimentos, efeitos e procedimentos da apelação 32 Cabimentos 33 Efeitos 33 Procedimentos 34 Sintetizando 36 Referências bibliográficas 37</p><p>Sumário Unidade 2 - Dos agravos, dos embargos de declaração, dos recursos e dos embargos de divergência Objetivos da unidade 40 Introdução ao novo CPC 41 Os embargos de divergência 44 Os embargos declaratórios e os vícios na decisão judicial 45 0 agravo de instrumento e a proposta de taxatividade mitigada 49 Os recursos ordinário, especial e extraordinário 52 As novidades nos recursos excepcionais na nova legislação processual 53 Resolução de demandas e recursos repetitivos no novo Código de Processo Civil...56 Técnicas de distinção de precedentes e recursos repetitivos 57 Sintetizando 61 Referências bibliográficas 63</p><p>Sumário Unidade 3 - Outros meios de impugnação das decisões judiciais Objetivos da unidade 67 Introdução 68 0 pedido de reconsideração: conceito e história 70 Cabimento e procedimento 70 A correição parcial: conceito e procedimento 73 História 75 A remessa necessária: conceito, procedimento e cabimento 76 Exceções 77 A evolução do instituto 77 0 pedido de suspensão nas ações civis públicas 80 0 mandado de segurança e a ampliação do rol do art. 1.015 do CPC/2015 83 Sintetizando 86 Referências bibliográficas 88</p><p>Sumário Unidade4 - Da ação rescisória, da querela nullitatis e da reclamação constitucional Objetivos da unidade 92 Introdução 93 Sobre recursos e ações autônomas 94 A ação rescisória 95 Pressupostos e procedimentos 95 A querela nullitatis 99 Pressupostos e procedimentos 100 A segurança jurídica da querela nullitatis 101 História 103 A reclamação constitucional 106 Cabimento e procedimento 106 Natureza jurídica 107 Preservação da competência 108 Garantia de autoridade 110 Sintetizando 112 Referências bibliográficas 113</p><p>Apresentação acesso à justiça é um direito fundamental previsto no art. 5°, XXXV, da Constituição Federal de 1988, e tem reflexos jurídicos no tempo e no espaço da vida de pessoas naturais e jurídicas, ao passo que nem sempre a primeira res- posta do Poder Judiciário coincide com o ideal de direito e justiça. Aliás, é mais do que comum, esperado e planejado o acesso aos tribunais de instância e aos tribunais superiores no âmbito do direito processual brasileiro. Conhecer a teoria normativa no direito aos recursos e, de um modo geral, da possibilidade de se insurgir em face de decisões judiciais ao longo do curso dos processos é essencial à operação do contencioso judicial no Brasil, inclu- sive com prazos e opções que podem se estender até mesmo após a extinção dos processos, desafiando a segurança jurídica e a pacificação social na prática. Ademais, para além da teorização normativa do direito recursal, o estudo dos recursos em espécie e dos demais meios de enfrentamento do resultado de decisões judiciais nas diversas instâncias do Poder Judiciário é parte inte- grante da continuidade do direito de ação, outrora exercido pelos jurisdiciona- do e até mesmo por terceiros. Portanto, o conhecimento e o aprendizado de tais conteúdos habilitam o profissional do Direito com competências e habilidades inerentes ao exercício da advocacia, da função pública ministerial, da magistratura e de tantas outras atividades essenciais que permitem o funcionamento da justiça na centralida- de ainda existente no Poder Judiciário. Bons estudos! RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 9</p><p>UNIDADE 1 DOS MEIOS GERAIS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS ser educacional</p><p>Objetivos da unidade Conhecer a principiologia recursal e dos meios de impugnação das decisões judiciais; Compreender a teoria geral dos recursos e seus elementos formadores; Assimilar a aplicação dos recursos em espécie, em especial da apelação. Tópicos de estudo Principiologia: meios de impug- Teoria geral dos recursos: nação das decisões judiciais características e classificações O direito ao recurso e outros Características meios de impugnação da decisão Classificações judicial Princípios aplicáveis aos recursos Dos recursos em espécie, em seus e outros meios de impugnação das respectivos cabimentos, efeitos e decisões judiciais procedimentos da apelação Cabimentos Conceito e natureza jurídica Efeitos dos recursos: juízo de admissibi- Procedimentos lidade e juízo de mérito Conceito e natureza jurídica dos recursos Juízo de admissibilidade e ? requisitos recursais Juízo de mérito Efeitos dos recursos RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 13</p><p>Principiologia: meios de impugnação das decisões judiciais O exercício do direito de ação está intrinsicamente ligado ao princípio maior do acesso à justiça e, em especial, à ideia de inafastabilidade do Poder Judiciário, ambos emanados no art. 5°, inciso XXXV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Trata-se do ponto de partida do demandante em busca da tutela preventiva ou reativa em prol de seus direitos via a resposta do Estado-Juiz. A quebra da inércia da jurisdição traz consigo a legalidade para atuação do juiz em convidar demandado à possibilidade de reação, por meio do exercício constitucional do direito de defesa no campo do devido processo legal e seus rolários. Do ponto de vista formal e partindo-se da ideia dos direitos e garantias constitucionais, esse fato é equivalente ao direito do sujeito que se vê provoca- do no Estado de Direito. Tem-se ainda o estabelecimento formal do instituto do processo, assim entendido ao mesmo tempo como um vínculo, uma relação jurídica sui generis que se forma entre o agora autor, juiz e réu e um campo de continuidade do exercício, respectivamente, da ação, da atividade jurisdicional e do direito de defesa. Uma vez, então, estabelecida a relação jurídica processual, tal vínculo somente é rompido por um pronunciamento judicial a respeito dos aspectos formais e ma- teriais do exercício dos atos processuais do autor, juiz e réu, além de outros possí- veis atores que possam integrar e praticar também uma série de atos no processo legal. A finalidade máxima é, via de regra, do ponto de vista formal, a obtenção de um pronunciamento judicial favorável à pretensão do autor ou mesmo sua resis- tência pelo réu, sendo possível e incentivada, a todo tempo, a consensualidade entre as partes. Em apertada síntese fundada nos direitos e garantias constitucionais de natu- reza processual do art. 5° da CF (BRASIL, 1988), códigos e demais fontes normativas infraconstitucionais, tem-se a base normativa para o funcionamento da máquina operacional do acesso à justiça no Brasil via o Poder Judiciário que envolve, entre tantos outros princípios, a ideia do duplo grau de jurisdição. Assim, refere-se ao direito que autor, réu e terceiros, no âmbito de processos judiciais, têm de obter de um órgão colegiado (regra geral), uma nova resposta do Estado-Juiz quando não houver o acolhimento de seus pedidos ou requerimentos originários, seja de ação ou de defesa em diferentes momentos do curso de um processo. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 14</p><p>0 direito ao recurso e outros meios de impugnação da decisão judicial É constante se deparar com textos normativos, doutrinas, trechos de deci- judiciais, reportagens e manifestações jornalísticas com menção expres- sa ao direito de uma pessoa natural ou jurídica de recorrer de uma decisão judicial. Essa ação é corriqueira e inerente ao mundo do processo, pois, entre tantos atos jurídicos praticados, estão os pronunciamentos e as decisões ciais, assim entendidos como as decisões interlocutórias, sentenças, decisões monocráticas e respectivos acórdãos dos colegiados dos Tribunais, conforme o art. 203 do Código Penal Civil CPC (BRASIL, 2015), tomado como regra pro- cessual macro. EXPLICANDO Em face dos pronunciamentos judiciais, de acordo com as especificidades do processo civil, penal e trabalhista, por exemplo, existem diferentes meios, momentos e formas para que autor, réu e até mesmo terceiros interessados possam reagir em face a decisões judiciais tidas por ilegais e/ou inconstitucionais, seja por aspectos formais, ligados ao direito instru- mental, ou seja por questões materiais, ligadas ao mérito de pretensões materiais e respectiva resistência dos autores. Por meio desses atos, entende-se estar diante do exercício do direito de re- correr, assim entendido como uma extensão do direito de ação e defesa como forma de obter, ao menos, uma dupla resposta do Poder Judiciário, quando a primeira não atender no todo ou em parte, os interesses pretendidos ou de- fendidos no processo. O recurso, assim, é exemplificado e tratado por um princípio lógico como uma extensão do direito de ação ou de defesa, pois permite que as partes e terceiros continuem em busca da tutela jurisdicional de 2° grau de jurisdição para reverter o prejuízo formal ou material que possa ter sido causado pela decisão de 1° grau. É, ao me- nos, o direito de tentar, não havendo, por óbvio, uma certeza de ganho ou perda, pois a decisão judicial im- pugnada pode, em tese, estar tecnicamente correta. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 15</p><p>EXEMPLIFICANDO P.D. exerce seu direito de ação e pede, em sede judicial, que o Poder Ju- diciário determine que a Operadora Saúde Viva Ltda. cumpra o contrato entre as partes e custeie o tratamento de câncer que está prescrito pelo médico do próprio convênio. 0 Juiz da Vara Cível da Comarca da Capital do Estado de São Paulo nega a tutela provisória de urgência, de acordo com art. 300 do CPC. P. D. tem, assim, a permissão legal e interesse jurídico de recorrer, por meio de um agravo de instrumento, previsto no art. 1015 do CPC, visando minimamente reverter a decisão anterior (BRASIL, 2015). É possível identificar determinadas condições recursais e pressupostos pro- cessuais para regular o exercício do recurso, a exemplo do que se necessita para o exercício da ação. Isso deriva da própria ideia de extensão e de continui- dade, em face da pretensão ou resistência em momentos e por atos judiciais diversos que podem ocorrer no curso do processo judicial. Para conceber a relação existente entre ação e recursos, o Gráfico 1 apre- senta os números de 2021 do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, com relação aos novos casos. GRÁFICO 1. AÇÕES E RECURSOS NOVOS NO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, EM ABRIL DE 2021 Ações e recursos novos 96.093 1° grau 43,42% TR 6,63% JE 29,84% 2° grau 20,12% Fonte: 2021. (Adaptado). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 16</p><p>É possível perceber que aproximadamente 21% dos casos novos do total de ações propostas têm recursos. O número chama atenção, pois, considerando que são processos abertos no mês de abril de 2021, ainda podem ter no seu curso um número maior de recursos, seja por suas partes, como o Ministério Público (quando atua), ou seja pelos terceiros afetados. Isso confirma a impor- tância da matéria dos recursos na vida dos profissionais de Direito no cotidiano e evidencia que os conflitos não são resolvidos necessariamente em 1° grau. Portanto, pode-se afirmar a existência e identificar, em cada caso concre- to, a legitimidade e o interesse jurídico de um universo grande em recorrer, assim como o pressuposto processual da competência na inexistência da coisa julgada ou litispendência, entre outros. Em alguns casos, ainda, a dou- trina elenca tais elementos (condições e pressupostos) como verdadeiros princípios inerentes ao exercício dos recursos, associados a importantes temas e especificidade. Princípios aplicáveis aos recursos e outros meios de impugnação das decisões judiciais Ainda que o direito de recorrer seja a principal forma de impugnação das decisões judiciais, é importante reconhecer que existem princípios processuais de natureza constitucional e infraconstitucional que são aplicáveis aos recor- rentes e recorridos na prática dos processos judiciais. Alerta-se de que não há unanimidade doutrinária a respeito da quantificação e nomenclatura da principiologia recursal, visto que alguns autores exploram aspectos ligados à própria caracterização e consequências recursais como princípios, enquanto outros tratam como efeitos dos recursos. No entanto, sem prejuízo de divergências metodológicas na apresentação ou rotulação da doutrina clássica e de manuais mais de ordem prática, é pos- sível listar minimamente uma relação de princípios processuais relativos aos recursos, os quais são explicados no Quadro 1. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 17</p><p>QUADRO 1. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS RELATIVOS AOS RECURSOS Princípios processuais Definição As decisões judiciais são, em regra geral, recorríveis a um órgão jurisdicional de instância superior e colegiado. Trata-se de uma garantia derivada da ideia do devido processo legal do art. 1009 Duplo grau de jurisdição do CPC (BRASIL, 2015) e do art. incisos LIV e da CF (BRASIL, 1988). Refere-se a juízo ad quo e juízo ad quem para designar, respectivamente, os órgãos jurisdicionais que prolatam a decisão impugnada e que julgam a admissibilidade e o mérito recursal. Ao contrário da liberdade de forma e peticionamento em geral perante juízes e tribunais, os recursos estão taxativamente previstos no art. 994 do CPC (BRASIL, 2015), sendo eles a apelação, agravo de instrumento, o agravo interno, os embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, Taxatividade recurso extraordinário, o agravo em recurso especial extraordinário e os embargos de divergência. Além disso, toda e qualquer outra fonte de direito processual pode tipificar um recurso como tal. Como exemplo, há o recurso inominado, previsto no art. 41 da Lei n. 9099, sobre Juizados Especiais Estaduais (BRASIL, 1995). Cada recurso tem singularidade e finalidade própria, não havendo duplicidade recursal do ponto de vista objetivo. É possível que ocorram até efeitos desejados em recursos ou remédios constitucionais autônomos, mas isso não Unicidade descaracteriza esse princípio. Por exemplo, de um mesmo acórdão, podem ser interpostos, no prazo comum de 15 dias, recurso especial e recurso extraordinário, cada qual com sua finalidade e vinculação legal. Proibição da exercício do recurso não pode agravar a situação jurídica do recorrente. Se assim fosse, haveria um não incentivo verdadeiro in pejus do cerceamento recursal. É possível, em situações jurídicas mais complexas, haver dúvidas quanto ao recurso a ser manejado. Por conseguinte, de acordo Fungibilidade com parâmetros legais ou mesmo doutrinários e jurisprudenciais, é possível aplicar a ideia do aproveitamento de um recurso por outro, conforme art. 1023, § do CPC (BRASIL, 2015). recurso devolve ao Poder agora a outro órgão, via de Efeito devolutivo regra de instância superior, a legalidade para que seja decidido sobre a pretensão ou resistência já apreciada anteriormente, conforme art. 1008 do CPC (BRASIL, 2015). A interposição do recurso e seu efeito apenas devolutivo não impedem a produção dos efeitos da decisão, salvo se houver, nos Efeito suspensivo/ativo termos da tipicidade recursar ou na previsão geral do art. 300 do a concessão de efeitos suspensivo (decisão concessiva) ou ativo (decisão denegatória). É a inteligência do artigo 997, § do CPC (BRASIL, 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 18</p><p>Por óbvio, tais princípios não são excludentes entre si e podem também sofrer alguma mitigação. Por isso, é preciso associar a correta aplicação prática ao recurso de apelação e agravo de instrumento, entre outros. Assim, apesar da não uniformidade legal ou doutrinária, o importante e um bom ponto de equilíbrio é ter a atenção voltada ao art. 5° da CF (BRASIL, 1988) e seus incisos de natureza processual e aos arts. 994 a 1008 do CPC (BRASIL, 2015). DIAGRAMA 1. BASE PARA A TEMÁTICA RECURSIVA Princípios fundamentais Disposições gerais dos Principais temas e processuais Constituição + recursos Código ocorrências processuais Federal de 1988 Processual Civil relacionadas aos recursos Com relação à dimensão da importância recursiva quando se têm dados gerais sobre a atuação do Poder Judiciário no Brasil, sabe-se que: A recorribilidade no Poder Judiciário é mais usual na instância e nos Tribunais Superiores do que quando comparada com a instância. A recorribilidade interna do 2° grau chega a ser três vezes mais frequente que a do 1° grau [...]. Os embargos de declaração interpostos em 1° grau representam 7,3% das decisões, sendo mais aplicados na Justiça Trabalhista (17,9%). No 2° grau, são os recursos internos: os agravos, os embargos de declaração, as arguições de inconstitucionalidade e os in- cidentes de uniformização de jurisprudência. A recorribilidade interna no 2° grau supera significativamente a do sendo de 21,7% do total do Poder Judiciário. Nos TRFs está a maior recorribilidade interna de 2° grau, com percentual de 32,6% [...]. Das decisões de 2° grau, 25,5% são endereçadas como recursos dos Tribunais Superiores e, das decisões de 1° grau, 9,7% delas são remetidas aos tribunais na forma de recurso. Ou seja, a chance de recorrer do 2° grau para um Tribunal Superior é equivalente a 2,6 vezes a recorribilidade do 1° grau para o respectivo Tribunal [...]. A série história mostra que os índices de recorribilidade interna no 1° e 2° graus reduziram no período de 2012 a 2016, mas posteriormente voltou a Na recorribilidade externa, em ambas as instâncias, houve redução no último ano (CNJ, 2020, p.146). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 19</p><p>Os dados dos TRFs que comprovam a maior recorribilidade interna de 2° grau podem ser observados no Gráfico 2. GRÁFICO 2. RECORRIBILIDADE INTERNA POR TRIBUNAL Estadual Eleitoral 2° grau 1° grau 2° grau 1° grau 18,9% TJSP 10,8% 12,9% TRE-MG 14,4% 18,7% TJMG 7,9% 5,7% TRE-RJ 1,1% 40,0% TJPR 6,0% 9,5% TRE-SP 0,2% 20,5% TJRS 5,1% 8,3% TRE-PR 0,0% 16,4% TJRJ 7,6% TRE-RS 0,0% 14,1% TJBA 11,5% 18,7% TRE-GO 1,5% 17,0% TJDFT 7,4% 22,0% TRE-BA 0,4% 1,8% TJMT 6,5% 26,4% TRE-SC 0,3% 19,7% TJPE 5,1% 16,8% TRE-MA 0,2% 15,0% TJMA 4,4% 8,6% TRE-PE 0,1% 20,5% TJES 4,1% 21,5% TRE-PI 0,0% 16,4% TJCE 2,8% 8,2% TRE-RN 0,0% 8,1% TJPA 2,6% 4,0% TRE-PB 0,0% 3,0% TJGO 0,9% 13,3% TRE-PA 0,0% 17,7% TJSC 0,3% 9,2% TRE-CE 0,0% 7,5% TJAM 7,2% 7,4% TRE-AM 0,0% 24,8% TJPB 5,3% 19,0% TRE-DF 2,0% 11,9% TJRN 4,8% 12,2% TRE-ES 1,0% 22,9% TJAL 4,8% 11,4% TRE-MT 0,9% 12,1% TJTO 4,7% 9,8% TRE-SE 0,3% 12,4% TJAC 3,3% 10,0% TRE-AL 0,3% 13,9% TJRO 2,9% 7,3% TRE-MS 0,3% 20,6% TJRR 2,9% 2,5% TRE-RR 0,2% 10,7% TJAP 0,7% 8,2% 16,1% TJMS 4,4% 11,1% TJPI 0,0% 10,4% 23,7% TJSE 0,0% 3,2% 18,4% Estadual 6,0% 9,9% Fonte: CNJ, 2020, p. 147. (Adaptado). Constantemente, o Conselho Nacional de Justi- ça (CNJ), em seu site e na publicação anual Justiça em números, permite o acesso livre aos dados so- bre a tramitação de processos judiciais, possibili- tando a análise sobre os índices de recorribilidade no Brasil. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 20</p><p>Conceito e natureza jurídica dos recursos: juízo de admissibilidade e juízo de mérito convívio social não se sustenta apenas no dever de ser e muito menos na exis- tência de leis materiais e processuais de acesso à justiça dentro dos países. Assim, uma vez violado o direito, ou mesmo nos casos de ameaças ou exercícios de direitos que dependam da intervenção do poder do estado, o Poder Judiciário é acionado para, como se insiste em idealizar, pacificar conflitos. A resposta a isso, por meio da quebra de inércia pela ação, ocorre no âmbito do devido processo legal, contemplando o contraditório e o exercício da ampla defesa até o momento do pronunciamento judicial, que pode ser uma decisão interlocu- tória, uma sentença ou ainda uma decisão monocrática ou colegiada dos tribunais. Uma vez proferida a decisão, salvo alguma excepcionalidade, aquela parte ou mesmo um terceiro juridicamente interessado pode manejar e praticar atos pro- cessuais que busquem impugná-la, sempre que ela não tiver concedido, no todo ou parte, pedido (pretensão material) ou requerimentos processuais antecedentes a aquele processo. estudo dos recursos, portanto, aponta o exercício instrumental das partes que tiveram já uma primeira resposta judiciária menor ou diferente do que havia sido requerido. Conceito e natureza jurídica dos recursos Para Pinho (2018, p. 1317), "o recurso é um remédio voluntário que objetiva a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial impugnada", não deixando dúvidas a respeito da correlação da ideia mais aber- ta e conceitualmente mais aplicada em relação ao recurso que é uma extensão de atos processuais que podem ser praticados pelas partes, por terceiros e até mesmo pelo Ministério Público. A própria conceituação oferece, no caso concreto, a ideia da natureza jurídi- ca dos recursos. Considerando os recursos como uma extensão da permissão legal de algo, do exercício possível da impugnação (no sentido genérico) e de decisões judiciais que afetam direitos materiais e processuais das partes, ratifi- ca-se no campo metodológico e na construção textual aplicada do exercício da ação a possibilidade para chegar ao exercício recursal. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 21</p><p>recurso tem, então, características que necessariamente derivam do Direito, supondo que do contrário caracteriza-se uma violação de princípios. Nesse âmbito, considerando que A não pode ser B, se os recursos provêm do Direito, eles então contêm seus elementos, ainda que em quantificação dife- renciada, sendo preciso identificar os elementos comuns. Portanto, o recurso é um direito público, constitucional e subjetivo que deve preencher os requisitos de interesse e legitimidade, ainda que forjados na letra da lei, em casos tidos como extraordinários, como no exemplo do Ministério Público e outros terceiros interessados. Se, nos termos do art. 17 do CPC (BRASIL, 2015), é necessário ter interesse e legitimidade para ação, o mesmo aspecto vale para os recursos em espécie. É possível reconhecer no exercício do direito recursal elementos já conheci- dos da ação, pois os recursos podem invariavelmente ser movidos para atacar erros formais ou de julgamento. que se consagra é que o interesse jurídico do recorrente deve estar em alguma falha técnica, de maneira instrumental da decisão impugnada, como uma decisão que cerceia o contraditório, ainda que de modo não dolos; ou alguma falha no julgamento do direito material, como uma decisão que não reconhece a responsabilidade civil objetiva da Adminis- tração Pública como regra geral. Em ambos os casos, o recorrente precisa deixar claro as razões recursais e a nomenclatura utilizada para o peticionamento dos recursos de um modo geral, que parte da decisão judicial (se processual ou material) e afetam seus direitos no caso concreto. Do contrário, não há admissibilidade ou provimento recursal. Juízo de admissibilidade e requisitos recursais O exercício da ação passa pela distribuição da petição inicial e sua análise pelo juiz em cada caso. Havendo o recebimento da petição, com a determina- ção de citação do demandado, espera-se que este se torne réu. Tal caminho é uma expectativa natural e legalmente prevista para o devido processo legal, o que vale, em sentido genérico, para o processo civil, trabalhista e penal, seja no juizado especial cível, nas turmas ou no plenário do Supremo Tribunal Federal. Para os recursos, têm-se as razões recursais e sua admissibilidade formal, prevista nas disposições gerais que afetam todas as espécies recursais. Poste- RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 22</p><p>riormente, o legislador, em atendimento ao princípio da taxatividade e singula- ridade, busca regular o rito e os atos processuais inerentes a cada recurso em espécie de acordo com esses aspectos. Eles possuem, portanto, uma etapa ou juízo primário de admissibilidade, que, independentemente do conteúdo da decisão impugnada, precisa ser su- perado para saber se o Poder Judiciário pode, novamente, com base em per- missão legal, julgar o que já foi julgado. Dessa forma, permitem que um órgão via de regra de hierarquia superior, e preferencialmente colegiado, volte a jul- gar aquilo que previamente foi objeto de análise, cumprindo, assim, o direito de o recorrente obter, minimamente, um duplo grau de jurisdição. Aparentemente, pode parecer burocrático, mas a admissibilidade recursal, quando bem aplicada, evita atos processuais que estão situados no campo do abuso de direito e de medidas manifestamente procrastinatórias, além daque- las que permeiam o campo da ignorância (no sentido do desconhecimento nor- mativo), inclusive na temática da jurisprudência e de outros padrões decisórios vinculantes. Os parâmetros doutrinários e legais para avaliar esse ponto são chamados de requisitos de recursais (requisitos de admissibilidade), assim entendidos como ocorrências positivas e negativas que precisam sem analisadas quando há a prática de um recurso em um processo judicial em andamento. Considera- -se requisitos intrínsecos: Cabimento do recurso: é entendido como a previsibilidade legal e taxati- va para cada recurso em espécie, de acordo com a legislação processual. O art. 1009 do CPC dá legalidade ao cabimento da apelação em face das sentenças judiciais, previstas nos arts. 485 e 487 da mesma legislação (BRASIL, 2015); Legitimidade recursal: é baseada no art. 996 do CPC, que é cristalino sobre tal requisito, a exemplo da ação, mas com uma amplitude maior ao Mi- nistério Público (BRASIL, 2015); Interesse recursal: entende-se que o legitimado do art. 996 do CPC preci- sa ter em seu desfavor uma decisão judicial que tenha negado direito material ou processual, ou ao menos afetado, ainda não constando do processo, direi- tos e interesses do terceiro. tema, no caso do Ministério Público, é ainda mais amplo, considerando sua tutela nos direitos difusos e coletivos. As decisões judiciais estão previstas, no macro, a partir do art. 203 do CPC (BRASIL, 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 23</p><p>Por sua vez, com relação aos requisitos extrínsecos, têm-se: Tempestividade: baseia-se em uma previsão legal e temporal sobre o di- reito do exercício recursal, considerando sua interposição no referido decurso de tempo, sob pena de não ser admissível. Os arts. 997 e 1003, do CPC rati- ficam o prazo recursal geral de 15 dias, salvo disposição normativa em sentido contrário (BRASIL, 2015); Regularidade formal: entende-se que os recursos em espécie têm varia- das características e tipificações próprias de possíveis requisitos especiais. atendimento à forma escrita por petição e o endereçamento (competência) são exemplos que podem variar, como, por exemplo, no caso de uma apelação ao recurso inominado, previsto na Lei n. 9099 (BRASIL, 1995); Preparo ou pagamento das despesas: sabe-se que o acesso à justiça via o Poder Judiciário é, em regra, oneroso na esfera recursal. O preparo é o custeio que o recorrente deve dispor para a correta prática do ato processual, sendo que um recurso sem preparo é considerado deserto e não pode ser ad- mitido, nos termos do art. 1007 do CPC (BRASIL, 2015). Por conseguinte, a esses elemen- tos, a admissibilidade e sua análise por parte do órgão jurisdicional determi- nado na lei são atos primários, ante- cedentes ao juízo que tem por objeto o mérito recursal. Todos os recursos têm, portanto, juízo de admissibilida- de, ainda que seu mérito seja posteriormente analisado pelo relator ou pelo julgamento em colegiado propriamente dito. Juízo de mérito Após a admissibilidade e, partindo da hipótese de que os requisitos intrín- secos e extrínsecos foram atendidos na forma da lei, é preciso compreender o que se convenciona chamar de mérito ou objeto recursal, ou seja, para que serve o recurso interposto pelo recorrente. Existem três possibilidades a respeito do mérito recursal e seu objeto, sendo elas: RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 24</p><p>Primeira possibilidade: ocorre em recursos que têm por objetivo a inva- lidação de uma decisão judicial que contém o chamado error in procedendo, isto é, uma decisão judicial que violou um dispositivo de natureza instrumental e processual. Trata-se de uma insatisfação da parte que entende a decisão ju- dicial impugnada como violadora de um tema do processo, não havendo, em tese, violação de norma material; Segunda possibilidade: cabe a recursos que têm objetivo a invalidação de uma decisão judicial que contém o chamado error in judicando, isto é, uma decisão judicial que violou um dispositivo de natureza material, por exemplo, um artigo do Código Civil, doutrina ou jurisprudência de temas materiais; Terceira possibilidade: recursos que têm por objetivo a invalidação de uma decisão judicial que contém os dois erros, in procedendo e in judicando. Tal situação ocorre quando a decisão viola o ordenamen- to material e processual. A relevância do mérito recursal é de suma im- portância para a elaboração das razões recursais em cada caso concreto, pois ela orienta o recor- rente na identificação da violação da decisão impug- nada e na correta fundamentação de requerimentos recursais. Ademais, permite a melhor avaliação pelo tribunal a respeito dos efeitos, em especial sobre a possibilidade de a decisão recorrida não produzir efeitos de execução. Efeitos dos recursos Sabe-se que o tempo é fundamental na resolução de fatos sociais e confli- tos e, quando há judicialização e instauração de um processo judicial, maior ainda é a expectativa das partes sobre as demoras na tramitação dos casos, havendo, de certo modo, uma frustação grande. Assim, se uma decisão judi- cial desfavorável é proferida no curso do processo, seja uma decisão interlo- cutória ou uma sentença final, além da possibilidade e interesse em recorrer, o que mais interessa às partes é saber quais são os impactos da decisão e do recurso possível. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 25</p><p>Suponha que um segurado de uma operadora de saúde peça em juízo a autorização para fazer exames (negados administrativamente, via aplicativo) e não consegue uma tutela provisória de urgência, medida liminar antecipada nos termos do art. 300 do CPC (BRASIL, 2015). Pode-se, nesse caso, interpor um recurso para tentar modificar tal decisão, considerando a preocupação com o direito de ela custear imediatamente os exames. recurso por ele interposto, para além de devolver ao Poder Judiciário uma nova análise do fato já decidido, pode, ainda que em tese, tentar suspender e dar novo efeito, inclusive via liminar, ao não do juiz de 1° grau. Então, pode-se ratificar a ideia de que todo recurso tem efeito devolutivo, qual seja de novamente proporcionar ao Poder Judiciário a chance de decidir sobre algo. A devolução diz respeito à parte ou à totalidade da decisão, con- forme os limites das próprias razões recursais. Um dos efeitos da atuação recursal, considerando seu impacto ferrenho no tempo e no itinerário processual, é chamado pelos tribunais de taxa de congestionamento. No Gráfico 3, é mostrada a taxa e congestionamento do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro em abril de 2021. GRÁFICO 3. TAXA DE CONGESTIONAMENTO DE 2° GRAU, CONSIDERANDO RECURSOS E PROCESSOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA Fase de conhecimento Fase de execução TR 1° grau 21,55% 76,27% 1° grau JE 74,69% 53,65% grau 40,81% JE 46,11% Turmas recursais Juizados especiais Execuções fiscais 1° grau 2° grau Fonte: 2021. (Adaptado). Nesse caso, observa-se que é notório o impacto do estacionamento dos recursos no 2° grau de jurisdição para o tempo processual. Assim, reconhe- cendo os efeitos práticos da teoria recursal e, certamente, o retardo proces- sual é um deles. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 26</p><p>Dependendo do recurso em espécie, pode haver um efeito suspensivo ativo da decisão, como por exemplo, para impedir que ela produza efeitos perante terceiros enquanto não houver o julgamento por completo. Na prática, em muitos casos, essa tem sido a preocupação maior de quem recorre, pois deseja-se evitar ao máximo as implicações da decisão nos direitos das pessoas. A suspensão da exigibilidade de uma decisão pode a continuidade da prática de direitos antes assegurados, a concessão de novos direitos e normalmente um relevante impacto econômico. Sem prejuízo de tais efeitos, a doutrina cita também a possibilidade da ocorrên- cia de efeito translativo, qual seja a possibilidade de, no âmbito do exame de mérito de um recurso, o tribunal reconhecer a existência de matérias de ordem pública, considerando se tratar de temas que deveriam ser reconhecidos de ofício, a qual- quer tempo e grau de jurisdição. Esse aspecto pode ser observado quando, por exemplo, um tribu- nal recebe o recurso para seu juízo de mérito e percebe a ocorrência de decadência. No caso, mesmo não sendo suscitado nas razões e nas contrarrazões recursais, o relator ou o colegiado pode reconhecer de ofício e, dependendo do caso, gerar inclusive a extinção do processo, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC (BRASIL, 2015). Teoria geral dos recursos: características e classificações Não é incomum que a doutrina dedique tempo e espaço a elencar o que chamam de características dos recursos, havendo um hábito doutrinário de agrupar e diferenciar os recursos mediante critérios oriundos da própria le- gislação ou mesmo da práxis jurídica. A bem dizer, trata-se de uma prática rei- terada da doutrina em seu incansável e importante papel de materializar ao público acadêmico e profissional uma espécie de tradução da norma jurídica escrita de acordo com leis e demais documentos jurídicos. A formação das características e classificações também podem ter origem e definição em decisões judiciais, que muitas das vezes reiteram também au- tores em seus votos singulares e acórdãos. Assim, é importante que, em meio a determinado instituto jurídico, é muito comum a referência a dispositivos legais também fundamentadores de outros tópicos, como elemen- tos recursais, efeitos dos recursos, entre outros. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 27</p><p>Características As características dos recursos são diversas e abordam diferentes aspectos da aplicação prática da teoria recursal e da atuação dos recursos em espécie, sendo possível associar seus efeitos práticos na tramitação dos recursos. A ação recur- siva, por exemplo, apresenta sempre como finalidade a invalidação ou a rever- sibilidade, no todo ou em parte da decisão judicial. Nesse sentido, qualquer que seja a modalidade recursal, o recorrente não consegue fugir de tal caracterização. A derivação, por sua vez, diz respeito ao fato de o recurso não nascer alea- toriamente da vontade de pessoas interessadas ou seus advogados. Ela é uma continuidade do exercício de ação, defesa ou manifestação originária de terceiros, como ocorre com o Ministério Público ou com terceiros que justifiquem interesse (prejuízo real ou ameaça) na decisão judicial a ser impugnada. No caso da vinculação, entende-se que o recurso está sempre atrelado a um pronunciamento judicial, conforme previsão do art. 203 do CPC (BRASIL, 2015), po- dendo ser uma decisão interlocutória, sentença, decisão monocrática ou acórdão. Se não houver vinculação da manifestação que se intitule recurso a uma decisão judicial pretérita, há algum outro instituto processual, mas não de um recurso. Por fim, uma última característica com relação aos recursos é a afetação na execução. Assim, entende-se que a ação recursiva tem efeito imediato de impe- dimento do trânsito em julgado ou de alguma forma de estabilização da decisão judicial impugnada. Em determinados casos, como no recurso de apelação, a in- terposição e o recebimento, em tese, impedem que o credor da decisão (recorrido) exerça de pronto os direitos ali decididos. Em outros casos, como no agravo de ins- trumento, é o inverso. A regra geral, portanto, não concede nenhum outro efeito e o credor (recorrido) pode executar de pronto os direitos ali decididos. Classificação Os recursos podem ser classificados de diversas maneiras. A primeira e mais importante classificação é entre recursos comuns e excepcionais. Dife- renciam-se, dessa forma, pela essencialidade jurídica primária e está mais próxima da percepção do senso comum da utilidade de um recurso para os direitos das pessoas. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 28</p><p>Os recursos comuns são aqueles que garantem ao recorrente o exercício do duplo grau de jurisdição, isto é, o direito de obter uma nova decisão judicial sobre um tema material ou processual que já é objeto de apreciação. É o senti- do mais simples da verificação por outro julgamento, normalmente de ordem hierárquica superior e em colegiado. Na ritualística comum do CPC, são exem- plos a apelação, o agravo de instrumento e o recurso ordinário, sem prejuízo de outras possíveis aplicações, como o caso do recurso inominado que funciona como uma ideia de equivalência à apelação para certo rito especial. Em contrapartida, os recursos excepcionais são previstos no ordenamen- to jurídico processual e não visam garantir diretamente um duplo grau de ju- risdição ao caso concreto. Eles são interpostos para garantir a revisão de situa- ções de fato e de direito no processo em si, mas estão aptos a avaliar violações normativas, no âmbito da legislação infraconstitucional e constitucional, além de serem utilizados como ferramentas de formação e possível modificação da jurisprudência vinculante e orientativa nos tribunais superiores. Como exemplo, o Diagrama 2 apresenta dados do Supremo Tribunal Fe- deral a respeito do julgamento recorde de recursos excepcionais, com tutela direta e indiretamente à constitucionalidade, sem prejuízo de um número sig- nificativo de recursos comuns, dirigidos ao próprio tribunal. DIAGRAMA 2. DADOS DOS JULGAMENTOS DE RECURSOS NO STF EM 2020 753 recursos extraordinários com repercussão geral reconhecida 128 temas julgados 208 temas aguardando 20 temas reconhecidos em 2020 (104 em ambiente virtual) julgamento Fonte: STF, 2020. (Adaptado). Outra classificação possível é entre recursos principais e adesivos, considerada mais interna ao meio jurídico. Demanda extrema aten- ção aos advogados e julgadores, considerando as conse- quências que pode haver em uma ou outra modalidade recursal. Importante ainda destacar que não se trata de uma nova espécie de recursos. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 29</p><p>recurso principal é aquele exercido pelo recorrente, nos estritos termos da tipicidade do art. 994 do CPC (BRASIL, 2015) e de sua regulamentação espe- cífica. Como exemplo, há o recurso de apelação interposto pela parte que teve o pedido julgado parcialmente improcedente por uma sentença judicial. O que a lei prevê no art. 997 do CPC é a possibilidade do recorrido, no prazo que tem para oferecer as contrarrazões, interpor, ele próprio, um recurso de apelação chamado de adesivo, vinculado inicialmente como interposto. É uma espécie de última chance dada a que já até havia se conformado com a estabilidade da decisão, mas que pode ter sido surpreendido pelo recurso parcial da parte contrária. Não há, portanto, inovação no art. 994 do CPC. que ocorre é que o legislador permite a ele reagir e, caso queira, formalizar seu recurso próprio, atento à possibilidade de o credor parcial de uma decisão judicial ser surpreendido, por exemplo, no recurso de apelação, com uma mo- dalidade adesiva, nos termos do art. 997 do CPC (BRASIL, 2015). Os recursos adesivos são permitidos apenas na intercorrência dos recursos de apelação, especial e extraordinário e são sempre dependentes do recurso principal. Se, por alguma razão, o primeiro não tiver seguimento processual, o recurso adesivo também não prospera, voltando-se as partes ao status ante- rior. Ainda é possível classificar os recursos em totais e parciais, uma forma uti- lizada pela doutrina que visa dividir os recursos tipificados no art. 994 do CPC (BRASIL, 2015) com um critério meramente quantitativo no tocante ao conteú- do decisório que se pretende impugnar. Dessa forma, se o recorrente impugnar toda decisão judicial, tal recurso X, seja ele qual for, é classificado como recurso X total. Do contrário, se a impugnação for parcial, tem-se um recurso X parcial sem a possibilidade de modificar toda a decisão judicial im- pugnada (PINHO, 2018). efeito prático dessa classificação reside no fato de que os recursos par- ciais, ainda que obtenham um efeito suspensivo na parte ou no conteúdo ob- jeto da impugnação, permitem, em tese, que se inicie uma execução provisória ou mesmo definitiva do julgado restante não impugnado. Assim, o legislador permite ao credor que queira e possa, por conta e risco, assumir a dianteira e chegar no importante momento de execução ou negocial com a parte contrária com um possível cumprimento voluntário, ainda que parcial. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 30</p><p>Ademais, os recursos podem ser tidos também como de fundamentação livre e de fundamentação vinculada. Trata-se de uma importante classificação doutrinária que leva em consideração aspectos qualitativos da decisão impug- nada por um recurso (BUENO, 2015). No caso dos recursos de fundamentação livre, o recorrente pode ter to- tal liberdade no tocante à construção da impugnação, ou seja, pode livremen- te impugnar seu prejuízo jurídico, processual ou material, sem preocupação a respeito dos fundamentos. Já os recursos de fundamentação vinculada, como no caso dos embargos de declaração, recurso especial e recurso extraor- dinário, o recorrente deve, obrigatoriamente, pontuar suas razões recursais na previsão expressa das hipóteses de cabimento. Superior Tribunal Federal é considerado o local de predomínio de recursos de fundamentação vinculada. Supremo Tribunal Federal Supreme Court Figura 1. Edifício do STF em Brasília, DF. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/06/2021. Para os embargos de declaração deve apontar como uma de suas razões recursais a violação a um dos itens dos incisos do art. 1022 do CPC. No caso do recurso especial, deve apontar formalmente que violação ocorre no caso concreto com base no art. 105, III, da CF, valendo o mesmo raciocínio para o recurso extraordinário, nos termos do art. 102, III, da CF (BRASIL, 1988; 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 31</p><p>Atenta-se que a importância da diferenciação nas classificações se baseia principalmente nas possibilidades relacionadas à admissibilidade ou não ad- missibilidade recursal, tema mais que sensível aos recursos como um todo, em especial a aqueles direcionados aos tribunais superiores. Dos recursos em espécie, em seus respectivos cabimentos, efeitos e procedimentos da apelação princípio da taxatividade recursal, bem caracterizado no art. 994 do CPC (BRASIL, 2015) traz consigo uma outra consequência normativa, qual seja a existência de normas específicas para cada um dos recursos em espécie. Considerando o histórico e a centralidade da sentença como a primeira e principal decisão judicial (e, em muitos casos, a única) que poderia ser objeto de recursos, a apelação é tratada pelo legislador como sendo um recurso em espécie referencial para o sistema recursal como um todo. Em outras palavras, as normas da apelação acabam sendo utilizadas para aplicação dos demais recursos, havendo omissão ou conflito normativo, ainda que em sede de inter- pretação do direito. Tal fato também se justifica na medida em que não se tinha antes nos anos 1990 tantos dispositivos processuais que poderiam conceder tutelas de urgên- cia (instrumental ou material) no curso do processo, por meio de decisões in- terlocutórias. A magistratura, por sua vez, tinha (e, em certos casos, ainda tem) um comportamento mais conservador, reservando o momento da sentença como mais apropriado, após uma instrução com contraditória e ampla defesa mais bem trabalhada para a concessão de tutelas provisórias. Fato é que apesar do cenário hoje ser bem dife- renciado, é mais comum e até mesmo justificável a concessão de diversas medidas provisórias antes da sentença, por meio de decisões interlocutórias. Isso certamente eleva o status do recurso de agravo de instrumento, previsto no art. 1015 a 1020 do CPC, e do recurso de apelação, com previsão no art. 1009 a 1014 do CPC, como o carro-chefe do direito recursal (BRASIL, 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 32</p><p>Cabimentos O CPC é claro ao apontar os cabimentos do recurso de apelação em face das sentenças, nos termos do art. 1009, o que significa que cabe o uso da re- ferida espécie recursal em para sentenças proferidas com e sem a resolução no mérito, atentando às especificidades dos arts. 485 e 487, respectivamente (BRASIL, 2015). Para além da amplitude dos cabimentos da apelação, nos termos do caput do art. 1009, algumas observações se fazem pertinentes, considerando o sis- tema processual como um todo. Um exemplo é o caso das sentenças defini- tivas que homologaram uma transação entre as partes, em que dificilmente cabe um recurso de apelação pelas partes, mas sim ao terceiro juridicamente interessado que queira demonstrar alguma hipótese de simulação entre os envolvidos, gerando prejuízo a ele. Outro caso interessante é a previsão dos §§ 1° e 2° do art. 1009, que au- torizam que o recurso de apelação discuta determinados conteúdos de uma decisão interlocutória no curso do processo, sem sofrer os efeitos da pre- clusão temporal, desde que não se possa interpor o recurso de agravo de instrumento à época. Efeitos Assunto não menos importante são os efeitos quando da interposição do recurso de apelação, considerando as expectativas das partes e dos ad- vogados. Aliás, pode-se dizer que parece incoerente para a sociedade como um todo quando um acadêmico ou operador do Direito tem que explicar a regra geral dos efeitos desse instru- mento recursal. É complicado entender como um juiz pode julgar o caso, dando a procedência do pedido e o beneficiário, em regra, não poder fazer jus ao direito ali decidido, pois a outra parte recorreu. Geralmente, a sensação é uma das piores para as partes, rati- ficando a ideia de que se ganhou, mas não levou, ainda que seja só por algum tempo. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 33</p><p>Isto deriva do recurso de apelação ter como regra geral o recebimento no duplo efeito, devolutivo e suspensivo, nos termos do caput do art. 1012 do CPC (BRASIL, 2015). Enquanto o efeito devolutivo cumpre o papel de permitir ao Poder Judiciário novamente examinar fatos e atos materiais e processuais que são objeto de decisão, o efeito suspensivo funciona como uma espécie de barreira legal para que a parte vencedora, normalmente credora, possa fazer jus ao direito. Assim, somente após o recurso de apelação ter tramitação e julgamento é que, em regra, salvo alguma possível excepcionalidade no caso concreto, é que o credor pode dar início à execução. EXPLICANDO Suponha que um credor tenha direito de cobrar em juízo um devedor que não honrou um boleto de pagamento clássica obrigação de pagar a quantia certa considerando que tinha 60 dias para pagar, como de praxe no ramo comercial. Ocorre que o credor precisou cobrar em juízo. Mas assim, mesmo judicializando o conflito e obtendo uma sentença favorável, se o devedor condenado recorrer, o efeito suspensivo impede início da execução. Diante do alto freio de acesso efetivo e material à justiça que tal dispositi- VO gera, o próprio legislador, conforme §§ 1° a do art. 1012 do CPC (BRASIL, 2015), excepciona regra e permite um alento, qual seja uma espécie de execução provisória, mas que ocorre por conta e risco do credor, inclusive gerando uma responsabilidade civil objetiva para o caso de reversão do recurso. Na prática, esses casos atendem apenas a uma parcela do contencioso de massa de gran- des grupos que, por razões e condições de mercado, têm lastro patrimonial para banca e para assumirem os riscos de uma execução de natureza provisória. Procedimento rito ou procedimento do recurso de apelação passa a ser objeto de análi- se partindo do momento em que a sentença é proferida e publicada às partes. recurso de apelação permite, em tese, a não preclusão de determinados con- teúdos decisórios na fase cognitiva antes mesmo da sentença. Aquele que legi- timado for e que tiver interesse jurídico em impugnar a sentença deve fazê-la por petição escrita dirigida ao juízo prolator da própria, chamado juízo ad quo. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 34</p><p>Tal petição é chamada de razões recursais e contempla, nos termos das hi- póteses de cabimento, o conteúdo formal e material do recurso de apelação, conforme o art. 1015 do CPC (BRASIL, 2015). Uma vez recebidas as razões recursais, o juiz intima a parte contrária, que passa a ganhar a denominação de recorrido para, querendo, no mesmo pra- ZO de 15 dias, oferecer suas contrarrazões de apelação. Após o decurso do prazo, com ou sem apresentação das contrarrazões, o juiz encaminha o recur- so para o tribunal respectivo, que procede sua livre distribuição para o órgão jurisdicional regimentalmente previsto para o julgamento da apelação. A par- tir desse momento, o CPC passa a tratar, de modo mais generalista, o rito de tramitação dos processos nos tribunais, com especial interesse nos arts. 929 e seguintes (BRASIL, 2015). Em especial, com efeito ao recurso, as atenções se encontram nos incisos do art. 932 do CPC (BRASIL, 2015), que contemplam os chamados poderes do relator, sendo o desembargador relator um grande referencial para tramita- ção recursal e, em casos de competência originária, também nos tribunais. Por meio de seus poderes, é possível: Atuar como zelador e responsável pelo caso, avaliando e deferindo provas e proporcionando e homologando, quando possível, a instrumentalização da consensualidade (inciso I); e decidir a respeito de tutelas e efeitos recursais (inciso II); Realizar, diante às mudanças implantadas no CPC 2015, o juízo completo de admissibilidade recursal (inciso III); Aplicar, nos casos previstos, a teoria de precedentes, evitando assim a ida do caso para julgamentos colegiados (incisos IV e V) (BRASIL, 2015). Ainda que pareçam poucas as ações pertinentes, os poderes que o desem- bargador relator hoje exerce na tramitação recursal ditam o rumo do recurso de apelação. Ademais, entende-se que os casos que não se enquadram na seleção formal dos prece- dentes são levados às sessões de julgamento. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 35</p><p>Sintetizando exercício do direito de ação não se esgota com a primeira resposta de jus- tiça proferida pelos juízes e tribunais do Poder Judiciário. Dessa forma, invaria- velmente, o exercício recursal está presente na esmagadora maioria dos proces- judiciais, em especial nos casos de direito público. Entende-se para tal que existem princípios inerentes à atividade recursal que caracterizam seus ritos e é necessário o conhecimento de suas consequências por parte dos juristas. A teoria geral de recursos compreende, assim, as disposições doutrinárias e normativas relacionadas, em tese, ao exercício recursal como um todo, sem preocupação com uma ou outra espécie. São paradigmas que podem ter aplica- ção nos casos concretos, de acordo as legislações processuais específicas. Para além do conceito e natureza jurídica, a admissibilidade recursal e a produção dos efeitos recursais são conteúdos de especial atenção, pois impactam diretamente o fluxo dos ritos processuais. Os recursos em espécie, previstos pela taxatividade legal no ordenamento jurídico, dão vida própria à principiologia e teorização apresentada. A apelação, por exemplo, funciona como um recurso em espécie de referência, em grande parte, para todos os demais recursos. Costuma-se dizer que a apelação traz o sentido maioral do direito recursal e, a partir dela, as demais espécies têm limi- tações de forma, conteúdo e alcance prático. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 36</p><p>UNIDADE 2 DOS AGRAVOS, DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, DOS RECURSOS E DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ser educacional</p><p>Objetivos da unidade Analisar as mudanças em regras do direito processual trazidas pelo novo CPC; Estudar os embargos de divergência e de declaração; Conhecer agravo de instrumento; Estudar os recursos ordinário, especial e extraordinário; Conhecer a resolução de demandas e recursos repetitivos. Tópicos de estudo Introdução ao novo CPC Resolução de demandas e re- cursos repetitivos no novo Código Os embargos de divergência de Processo Civil Técnicas de distinção de prece- Os embargos declaratórios e os dentes e recursos repetitivos vícios na decisão judicial agravo de instrumento e a proposta de taxatividade mitigada Os recursos ordinário, especial e extraordinário As novidades nos recursos excepcionais na nova legislação processual ? RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 40</p><p>Introdução ao novo CPC A Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, que criou o novo Código de Processo Civil, trouxe mudanças importantes no âmbito das impugnações judiciais. De um modo geral, o novo texto legislativo promoveu uma redação mais restritiva na tentativa de influenciar os indicadores de recorribilidade em primeira e se- gunda instância do Poder Judiciário brasileiro. Novo de Figura 1. novo Código de Processo Civil de 2015. Fonte: 2017. As mudanças trazidas pelo novo Código de Processo Civil foram influen- ciadas, sobretudo, pela alta quantidade de críticas direcionadas ao Código de Processo Civil anterior, referente a 1973. A atual versão traz algumas limitações nas modalidades recursais. Uma das modificações de maior relevância foi o es- tabelecimento de uma uniformidade nos prazos para interposição de recursos, a fim de se atingir a tão almejada celeridade na resolução de conflitos judiciais e, consequentemente, propiciar um melhor acesso à justiça no Brasil. relatório anual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2018 apresentou os índices de recorribilidade no Poder Judiciário brasileiro nas categorias de re- corribilidades externas e internas. índice de recorribilidade externa refere-se à quantidade de recursos direcionados às instâncias superiores ou aos órgãos RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 41</p><p>julgadores que possuem competência de revisão de decisões proferidas por ór- gãos de instâncias inferiores. Alguns exemplos de recursos de recorribilidade externa são as apelações, o agravo de instrumento, os recursos especiais e os recursos Por outra parte, o índice de recorribilidade interna é a proporção de recursos direcionados ao órgão jurisdicio- nal que proferiu a decisão. Os exemplos de recursos de recorribilidade interna que po- demos citar são os embargos declaratórios e os agravos internos (CNJ, 2018). De um modo geral, o relatório do CNJ aponta que os índices de recorribilidade externa e interna aumentam conforme intensifica a instância do Poder Judiciário. Nesse passo, os índices de re- corribilidade são, de um modo geral, maiores nas segundas instâncias e nos Tribunais Superiores. TABELA 1. ÍNDICES DE RECORRIBILIDADE INTERNA E EXTERNA NO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO ENTRE os ANOS DE 2009 E 2017 Recorribilidade Recorribilidade Recorribilidade Recorribilidade Período interna no interna no externa no externa no analisado 1° grau 2° grau 1° grau 2° grau 2009 4,2% 23,6% 8,5% 34,4% 2010 4,5% 23,7% 9% 35% 2011 6% 24,3% 9,4% 35,4% 2012 6,6% 24,3% 10,3% 30,9% 2013 6,2% 24,6% 13,6% 36,4% 2014 6,1% 23,4% 12,5% 36,6% 2015 5,4% 23,8% 12,5% 35,8% 2016 4,7% 19,6% 11,1% 28,6% 2017 5,9% 20,7% 9,8% 27,4% Fonte: 2019, p. 7-8. (Adaptado). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 42</p><p>A nova redação do Código de Processo Civil adotou como princípio norteador a diminuição da morosidade processual no Brasil. Embora as mudanças textuais sejam visíveis e importantes, o texto legislativo manteve certa complexidade nos sistemas de recursos. artigo 994 do Código de Processo Civil apresenta nove mo- dalidades, apesar da supressão de algumas espécies recursais, além da limitação de algumas possibilidades existentes. São elas: apelação; agravo de instrumento; agravo interno; embargo de declaração; recurso ordinário; recurso especial; recurso extraordinário; agravo em recurso especial ou extraordinário; e embargos de diver- gência (BRASIL, 2015). Para esta disciplina, serão devidamente estudados o agravo de instrumento; os embargos de declaração e de divergência; e os recursos or- dinário, especial e extraordinário. Conforme mencionado, um dos grandes impactos na dinâmica processual trazi- da pelo novo Código de Processo Civil é a unificação de prazos para a interposição de recursos, de 15 dias úteis, com exceção para os embargos de declaração, que sofreram uma redução no prazo para cinco dias. No que se refere aos efeitos dos recursos de impugnação da decisão judicial, as decisões impugnadas poderão gerar efeitos imediatos. Ademais, a sua eficácia não será mais impedida pela interposição de novos recursos. Além disso, é previsto nos artigos 1.032 e 1.033 do Código de Processo Civil a possibilidade de aplicação do princípio da fungibilidade na interposição de recursos especiais e extraordinários. É importante ressaltar que a fungibilidade dos embargos de declaração permite que esses recursos possam ser utilizados como agravo interno, conforme seja necessá- rio e oportuno (BRASIL, 2015). Outra mudança importante trazida pelo Código de Processo Civil de 2015 é o fim dos chamados embargos infringentes. Em seu lugar, passou a ser utilizado o julga- mento colegiado. Além dos embargos infringentes, o novo Código decretou o fim do agravo retido, pelo bem do prazo do processo a partir de então (BRASIL, 2015). Por fim, entre os artigos 976 e 987 do Código de Processo Civil é prevista a am- pliação do julgamento em casos repetitivos, por meio da inclusão de incidente de re- solução de demandas repetitivas (BRASIL, 2015). Entretanto, apesar das mudanças legislativas e da intenção em otimizar as respostas judiciais, o acesso à justiça segue sendo bastante criticado pela população e pelos meios de comunicação no Muitos usuários ainda consideram que os processos judiciais não findam em prazo satisfatório, como gostariam. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 43</p><p>acúmulo Figura 2. de novo CPC foi idealizado com o objetivo de aliviar a morosidade do Poder brasileiro, advinda do recursos. Fonte: G1, 2017. Os embargos de divergência Os embargos de divergência, disponíveis nos artigos 1.043 e 1.044 do Códi- go de Processo Civil, foram idealizados a fim de resolver os problemas internos dos tribunais. Os embargos de divergência têm a função primordial de unifor- mizar a interpretação das decisões judiciais. o advento do novo Código de Pro- cesso Civil de 2015, por intermédio do artigo 947, trouxe consigo o incidente de assunção de competência, capaz de afetar casos importantes aos colegiados superiores. Nesse passo, esses colegiados decidirão com eficácia erga omnes e efeito vinculante os casos futuros (BRASIL, 2015). A redação do novo Código de Processo Civil não delimita o cabimento da divergência quanto ao seu mérito ou quanto às questões processuais relativas à admissibilidade. Os embargos de divergência possuem uma abrangência bas- tante ampla. Por isso, a divergência entre o acórdão, objeto dos embargos, e o paradigma, ou o objeto de comparação, deverá ser devidamente comprovada, de modo a possibilitar uma verificação adequada desta pelo órgão julgador competente.</p><p>Superior Tribunal de Justiça (STJ) exige a comprovação da divergência, por intermédio da cópia autenticada do suposto paradigma, capaz de compro- var a referida divergência, ou mediante repositório contendo a transcrição dos trechos do dissídio. Nesse passo, não basta referir a decisão divergente, é ne- cessário apresentar o cotejo analítico, capaz de esclarecer os fundamentos de divergência de uma decisão para com a outra. Além disso, a divergência deverá abranger todos os fundamentos do acórdão recorrido. A interposição de embargos de divergência não causa efeito suspensivo. Entretanto, caso haja necessidade de suspensão da decisão judicial, será ne- cessário enviar o pedido por meio de petição endereçada ao relator. Os efeitos gerados pelos embargos de divergência são o direito de obstar a formação da coisa julgada e o efeito devolutivo. Os embargos declaratórios e os vícios na decisão judicial Os embargos de declaração imprimem uma abrangência completa, de modo a garantir a sua plena eficácia. O recurso está previsto no artigo 1.022 do Código de Processo Civil e visa sanar os vícios decorrentes do dever de mo- tivação da jurisdição, por meio de decisões judiciais proferidas sob um texto obscuro, contraditório, omisso e com erros materiais (BRASIL, 2015). A função dos embargos de declaração foi expandida em 2015 e passou a considerar os vícios elencados no artigo 489, § do Código de Processo Civil, mais precisamente nos incisos IV e VI, que são a ausência de enfrentamento decisório e de "enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento" (BRASIL, 2015). Os embargos de declaração obedecem a um preceito constitucional de direito do jurisdicionado a obter uma decisão devidamente fundamentada. Entre os vícios elencados no artigo 1.022 do Código de Processo Civil, está previsto o de decisão obscura (I), ou seja, a decisão que carece de alguns elementos que permitem a parte identificar os fundamentos. Esse é o caso de decisões repletas de termos grifados em língua estrangeira e de decisões contraditórias (I) e sem fundamentação lógica capaz de configurar a conclu- são (BRASIL, 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 45</p><p>erro material (III) ocorre quando a decisão proferida carece de erro de digitação e imprecisão nos dados, facilmente verificáveis. erro de digitação da redação da sentença não condiz com a intenção do juiz que a proferiu (BRASIL, 2015). vício de omissão de decisão judicial (II) ocorre quando o texto da decisão deixa de manifestar alguma tese ou argumento firmado em julgamento. A descrição sobre omissão na decisão judicial está inserida no artigo 489, § do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Além dos vícios na decisão judicial dispostos no artigo 1.022 do Código de Processo Civil, durante o processo de interposição de embargos de de- claração é possível invocar matérias de ordem pública. Os recursos de embargos de declaração geralmente são endereçados ao mesmo juízo que proferiu a decisão judicial impugna- da, de modo a exercer um duplo grau de jurisdição. Os efeitos desse tipo de recurso são os devolutivos e interrup- tivos, de acordo com o artigo 1.026 do Código de Processo Civil. Em alguns casos, os embargos de declaração ge- rarão efeito suspensivo, nos termos do artigo 1.026, § 1°, do Código de Processo Civil, quando houver funda- mento relevante. De modo diverso ao que ocorre com o agravo de instrumen- to, destinado a reformar ou anular decisão interlocutória, neste caso, será julgado por acórdão ou por decisão monocrática do relator (BRASIL, 2015). Os embargos de declaração são destinados a sanar os vícios formais das decisões judiciais. É importante frisar que o novo Código de Processo Civil criou um dispositivo, no artigo 1.026, parágrafos 2°, 3° e 4°, que visa eventuais interposições de recursos com a finalidade de procrastinar o pro- cesso judicial. A pena cominada para esse tipo de intervenção é o pagamento de multa. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 46</p><p>Os embargos de declaração, de um modo geral, visam decisões com um alto grau de fundamentação, capazes de contrapor todos os argumentos mencionados no processo. Nesse passo, de acordo com o artigo 1.022 do Código de Processo Civil, uma decisão não é considerada suficiente- mente fundamentada quando: "Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, enfrentar a conclusão adotada pelo julgador" (BRASIL, 2015), bem como aquela que "deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invo- cado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento" (BRASIL, 2015). Por outra parte, o julgador não é obrigado a responder a todos os pontos de discórdia, caso já tenha motivação suficiente para proferir sua decisão. Quando, porventura, um juiz seleciona um argumento frágil para finalizar sua decisão, acaba por intimidar os possíveis litigantes de fazer o uso do direito ao duplo grau de jurisdição. De acordo com o professor de Direito da Univer- sidade do Estado do Pará, Michel Ferro e Silva, e com o advogado, Leonardo Costa Norat, esse comportamento: Passa a renegar a efetividade da inafastabilidade da prestação ju- risdicional motivada e, mais grave que isso, censura os aplicadores do direito em levantar questões jurídicas mais complexas ou que possam servir para uma mudança de paradigma no futuro, posto que possivelmente tais argumentos ou serão de plano negados e, assim, abdicada a discussão dos demais argumentos, ou sequer se- rão analisados, uma vez escorada a jurisdição em ponto que for mais confortável julgar (SILVA; NORAT, 2020, p. 34). Uma discussão jurídica deve ser fundamentada em caso concreto. Quando bem fundamentada, poderá ser aplicada em outras situações jurídicas seme- sob um caráter de norma geral. Para isso, deverá ser identificada a razão processual que deverá relacionar-se aos fatos relevantes percussores da causa e dos motivos jurídicos determinantes. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 47</p><p>Embargos de declaração Processo penal Recurso posto à disposição de qualquer das partes para esclarecer dúvidas surgidas no acórdão ou sentença, quando configurar: Ambiguidade Obscuridade Contradição Omissão Algo que tem Falta de clareza de Ato de não Procedimento ou diferentes sentidos, inteligência. 0 que mencionar. Deixar atitude oposta ao que desperta dúvida é confuso, de difícil de dizer ou escrever. que se tinha dito. ou incerteza. compreensão. Ato ou efeito de não Falta de nexo ou de fazer 0 que moral lógica. Incoerência. FÁTIMA ou juridicamente se Discrepância. deveria fazer e de ABANDONA ? que resulta ou pode BONNER E ? resultar prejuízo VAI FAZER para terceiro ou PROGRAMA para a sociedade. Apresentadora amada do bancada do comandar novo programa da Globo Competência para julgar Legitimados Efeito Prazo 0 próprio órgão A acusação Interrompe prazo Dois dias após a prolator da decisão. e a defesa. dos outros recursos. publicação da decisão. Para de correr e No STF 0 prazo é depois de decididos de cinco reiniciam do zero a contagem do prazo. No JECRIM efeito é suspensivo, ou seja, 0 prazo volta a correr de onde parou. Figura 3. Roteiro do recurso de embargo de declaração. Fonte: StudyMaps. Acesso em: 27/08/2021. (Adaptado) RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 48</p><p>0 agravo de instrumento e a proposta de taxatividade mitigada Conforme pode ser observado, o novo Código de Processo Civil trouxe mui- tas modificações. Entre as mais destacadas, podemos citar as modificações no sistema recursal e no sistema preclusivo. Dentro do sistema recursal, o legisla- dor estabeleceu um rol taxativo para as hipóteses de cabimento dos recursos de agravo de instrumento, de modo a privilegiar o juízo de primeiro grau e, as- sim, reduzir a elevada quantidade de recursos no sistema judiciário, sobretudo em segundo grau. Frente a isso, alguns questionamentos surgiram a respeito de algumas hi- póteses que não constam no rol taxativo do Código de Processo Civil, mas que precisam ser arguidas em caráter de urgência. A princípio, a doutrina apresen- ta três possíveis soluções: o cumprimento da taxatividade; a interposição de mandado de segurança contra ato judicial; e a possibilidade de uma interpreta- ção extensiva do agravo de instrumento. No final de 2018, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou o entendimento sobre o precedente de arguir agravo de instrumento sob uma taxatividade mi- tigada, sob alegação de demanda urgente. A decisão do STJ, entretanto, acar- retou um amplo debate acerca dos possíveis impactos de uma interpretação aberta da norma jurídica no sistema processual. Antes do Código de Processo Civil de 2015, o agravo de instrumento era utilizado nos casos em que fosse constatado urgência de provimento, com probabilidade de causar dano grave e lesão irreparável à parte interessada. A disposição legal de 1973 tinha natureza altamente subjetiva e era largamente utilizada na prática forense. Foi a partir da Lei n. 13.105 que esse quadro foi alterado. A intenção do legislador competente foi jus- tamente restringir as hipóteses de cabimento desse recurso, tendo em vista a enorme quantidade de agravos de instrumento interpostos, com inter- ferência direta na morosidade da justiça brasi- leira. Foi nesse passo que o Código de Processo Civil de 2015 extinguiu o agravo retido. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 49</p><p>Com relação ao recurso de agravo de instrumento, ele deve ser interposto de acordo com o rol taxativo disposto no artigo 1.015 do Código de Processo Civil. No caso de hipóteses fora do Código de Processo Civil, deverão ser recor- ridas na condição de apelação, algo previsto no artigo 1.009, § do Código de Processo Civil. Essas duas hipóteses promovem dois possíveis cenários: (I) ao tratar de decisão elencada no rol taxativo, o agravo de instrumento deverá ser interposto dentro do prazo sob pena de preclusão imediata e/ou (II) no caso de a decisão não integrar o rol estabelecido, a preclusão não se operará de imediato (BRASIL, 2015). Ocorre que em alguns casos não previstos no artigo 1.015 do Código de Processo Civil, como o caso de indefe- rimento de prova pericial, o autor de- verá interpor apelação sob alegação de cerceamento do direito de defesa. Entretanto, caso o pedido seja acolhi- do, todos os procedimentos realizados até então serão considerados nulos e o processo regressará de modo a en- sejar a repetição de todo o processo de instrução (BRASIL, 2015). Nesse aspecto, muitos debates acadêmicos sobre algumas situações urgentes não acobertadas pelo artigo 1.015 do Código de Processo Civil foram gerados. A primeira hipótese desse dilema residiria na possibilidade de cabimento do mandado de segurança contra ato judicial não citado no rol taxativo do ar- tigo 1.015 do Código de Processo Civil, mas que possuísse uma essência de ur- gência para o reexame do caso que deveria ser imediatamente analisado. Caso o contrário, ensejaria o perecimento do direito. Por outro lado, alguns juristas, como Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2017), afirmam que o uso indiscriminado do mandado de segurança poderia causar um certo desviamento de seu propósito. Apesar disso, a doutrina e a juris- prudência aceitam o uso do mandado de segurança em situações de extrema urgência e contra decisões consideradas absolutamente desproporcionais para a parte e nos casos de proteção imediata ao direito líquido e certo do impetrante. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 50</p><p>Uma segunda hipótese seria a realização de uma interpretação extensiva do rol apresentado no artigo 1.015 do Código de Processo Civil. Nessa hipó- tese, alguns juristas sustentam que a presença de um rol taxativo não im- pediria uma interpretação extensiva, ou analógica, dos casos de cabimento do agravo de instrumento. Porém toda interpretação extensiva da lei acarreta certa insegurança jurídica. Além disso, o objetivo de elencar um rol taxativo para interposição de agravo de instru- mento foi idealizado justamente como um modo de desobstruir a justiça. O desvio à essa regra poderia gerar um efeito contrário, ou seja, acumulá-la ainda mais (BRASIL, 2015). Diante de tantas divergências sobre o assunto, houve a necessidade de o STJ determinar um posicionamento sobre o assunto. Nesse passo, o STJ, por intermédio de uma votação acirrada, chegou ao entendimento de que o rol das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento possui uma taxatividade mitigada, de modo a permitir uma interpretação extensiva da norma em ques- tão. Como já se podia esperar, esse posicionamento do STJ gerou uma série de divergências no meio jurídico e acadêmico. Entre eles, é destacado o posicionamento manifestado pela Ministra Maria Thereza de Assis Moura. CITANDO Em resposta à manifestação da relatora, a ministra Nancy Andrighi, pelo julgado n. 1704520/MT, a ministra Maria Thereza de Assis Moura proferiu seu voto divergente à proposta de interpretação extensiva do artigo 1.015 do Código de Processo Civil: "Vem-me desde logo a dúvida: como se fará a análise da urgência? Caberá a cada julgador fixar, de modo subjetivo, que será urgência no caso concreto? Se for assim, qual a razão, então, de ser da atuação do STJ na fixação da tese, que em princípio, deve servir para todos os casos indistintamente? (....)" (STJ, 2018, p. 65). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 51</p><p>Figura 4. A ministra Maria Thereza de Assis Moura durante o voto de divergência à proposição de uma interpretação extensiva do rol taxativo para as hipóteses de agravo de instrumento. Fonte: Migalhas, 2018. A admissibilidade do agravo baseado em conceitos subjetivos consequente- mente gerará mais recursos para o Poder Judiciário brasileiro. De acordo com o pesquisador do Núcleo de Pesquisas Avançadas em Direito Processual Civil Brasileiro e Comparado (NUPAD), João Victor Carloni de Carvalho, e com a pro- fessora assistente da faculdade de Direito da Universidade Estadual Paulista de Mesquita Filho" (UNESP), Yvete Flávio da Costa, acolhimento da teo- ria da "taxatividade mitigada" gerará um verdadeiro cenário caótico, imprevisí- vel e de insegurança jurídica, deturpando todo um sistema recursal e preclusi- elaborado pela vontade do legislador" (2019, p. 146). Os recursos ordinário, especial e extraordinário Os recursos ordinários não sofreram mudanças significativas com o adven- to da nova legislação processual. Dessa maneira, esse recurso continua sendo interposto em seu tribunal de origem. Posteriormente, o presidente ou vice-presidente do tribunal determinará a intimação do recorrido que, em um prazo de 15 dias, deverá apresentar suas contrarrazões, conforme prescrito pelo artigo 1.028, § 2° do Código de Proces- so Civil. Findo prazo, os autos seguirão para o Tribunal Superior correspondente, independentemente do juízo de admissibilidade. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 52</p><p>As novidades nos recursos excepcionais na nova legislação processual Os recursos excepcionais - especial e extraordinário - são, geralmente, in- terpostos nos Tribunais Superiores. A legitimidade para a interposição de re- curso especial ocorre à medida que há ofensa à lei/norma federal. De modo distinto, o recurso extraordinário deve ser interposto quando há demanda de análise de matéria em âmbito constitucional pertinente. Entretanto, quando surge uma pluralidade de pedidos ou de matérias em um mesmo acórdão e, sobretudo, quando esses pedidos detiverem natureza diversa e autônoma entre si, caberá a concomitância de recursos especiais e extraordinários de uma única vez. Durante a vigência do Código de Processo Civil anterior, de 1973, o juris- dicionado com um caso idêntico per- manecia em um limbo processual sem sequer uma solução possí- vel acerca da recorribilidade correta. Contudo, no novo Código de Processo Civil de 2015, acrescentou-se o princí- pio da fungibilidade entre os recursos excepcionais, ou seja: tanto no caso de interposição de recurso especial na hipótese de recurso extraordinário quanto vice-versa. Cabe ressaltar que a aplicação de fungibilidade será per- mitida tão somente quando houver uma dúvida considerada plausível. De acordo com o professor de Processo Civil da Universidade de Rondônia (FARO), Vinícius Silva Lemos, "pelo princípio da primazia de mérito e a possibi- lidade criada nos art. 1.032 e 1.033, o novel ordenamento imaginou uma saí- da processual para a eventual omissão de um ou ambos Tribunais Superiores, quando houver essa negatividade sobre o cabimento recursal" (2015, p. 384- 385). Em vias de regra, haverá admissibilidade em algum tribunal que julgará o recurso interposto por sua natureza e, em último caso, pela fungibilidade. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 53</p><p>A mutação processual, entretanto, deverá ser completa. Para tanto, há ne- cessidade de complementação e adaptação recursal para que o recorrente possa adequar o recurso à nova situação, através de uma fundamentação de- talhada sobre o requisito de admissibilidade, dentro do prazo de 15 dias. A uti- lização do princípio da complementariedade, além de eficaz será compulsória conforme o ministro-relator, que poderá discordar da eventual fungibilidade com base no parágrafo único do artigo 1.032 do Código de Processo Civil. Caso isso ocorra, o juiz determinará, por fim, a devolução dos autos. Desta maneira, a aplicabilidade do princípio da fungibilidade requer dúvida plausível; caso contrário, incorrerá em erro grosseiro. Conforme preleciona o artigo 1.032 do Código de Processo Civil, quando houver interposição de re- curso equivocado o recorrente, por fim, terá oportunidade de reaproveitar o recurso que será automaticamente direcionado ao respectivo órgão compe- tente. Para tanto, será necessário remetê-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para processamento e julgamento. Todo esse processo poderá ser, do mesmo modo, realizado de maneira in- versa, caso se trate de um recurso extraordinário com vias de ser enquadrado como recurso especial. A decisão caberá ao relator do processo, através de sua discricionariedade, para decidir monocraticamente. Acrescenta-se que a possibilidade de fungibilidade dos recursos excep- cionais, trazida pelo novo Código de Processo Civil, pode ser considerada um avanço legislativo, em vistas a uma priorização do direito material em detri- mento da rigidez formalista e operacional do processo civil. Além de todas as mudanças mencionadas, o novo Código de Processo Civil de 2015 desta- cou a prática de mediação e de conciliação como método de valorização do diálogo, de autocomposição e de participação ati- va das partes e de seus respectivos procu- radores. Assim, a mediação e a conciliação au- xiliam a simplificar a burocracia procedimental, de modo a garantir a rápida solução dos processos judiciais sem desprezar as garantias constitucionais da Carta Magna. RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 54</p><p>Mediação Conciliação Arbitragem 0 mediador facilita X Participação mais efetiva X As partes indicam árbitros, diálogo entre as partes, que irão dar a solução do conciliador, que pode mas são elas que sugerir soluções para caso ao invés apresentam as soluções de levá-lo ao judiciário Figura 5. As diferenças entre as práticas de mediação, conciliação e arbitragem. Fonte: 2018. (Adaptado). TABELA 2. CONCILIAÇÃO DESDE 0 ADVENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL EM 2015 Ano 2015 2016 2017 Total de sentenças 27.586.077 30.732.421 31.440.038 Sentenças 2.997.547 3.602.015 3.737.800 homologatórias Índice de conciliação 11,1% 11,9% 12,1% Índice de conciliação: computa percentual de decisões e sentenças homologatórias de acordo com a relação ao total de decisões terminativas e sentenças Fonte: TRF2R, 2018. (Adaptado). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 55</p><p>Série histórica do índice de conciliação 20% 17,2% 17,0% 17,1% 16,7% 16% 11,9% 12,2% 11,1% 11,5% 12% 8% 6,0% 6,0% 4,8% 3,5% 4% 0,4% 0,4% 0,7% 0,9% 0% 2015 2016 2017 2018 Conhecimento 2° grau Execução Total Figura 6. de desde 2015, até atingir a marca de 4,4 milhões de acordos em 2018. Fonte: 2018. (Adaptado). Resolução de demandas e recursos repetitivos no novo Código de Processo Civil Com a finalidade de melhor adequar o novo Código de Processo Civil à com- plexa sociedade de massas e, consequentemente, ao aumento do acesso à justiça desde o surgimento da Constituição Federal de 1988, a nova legislação processual buscou o máximo de sistematicidade e efetividade nas demandas processuais e nos recursos repetitivos. Nesse sentido, o artigo 522 do Código de Processo Civil sinaliza que o julga- mento de casos repetitivos ocorre por meio de decisão proferida em incidente de resolução de demandas repetitivas (I) e/ou em recursos especiais e extraor- dinários repetitivos (II) (BRASIL, 2015). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 56</p><p>Assim, o incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil prevê o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica em processos que contenham a mesma controvérsia em questões que envolvam direito material e/ou processual. A competência para o julgamento das deman- das repetitivas será dos tribunais ordinários e, nesse passo, a decisão proferida no incidente terá efeito vinculante em relação aos órgãos de jurisdição subordi- nados ao tribunal que proferiu a decisão. Técnicas de distinção de precedentes e recursos repetitivos Para uma melhor compreensão das técnicas de distinção nos precedentes e recursos repetitivos, faz-se necessária uma análise apurada do conceito jurí- dico de "distinção", disposto no novo Código de Processo Civil no artigo 489, VI e no artigo 1.037, DICA 0 livro recém lançado denominado de Recursos no novo Código de Pro- cesso Civil (2021) e de autoria do professor e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Décio Luiz José Rodrigues, disciplina sobre todos os recursos estudados por esta disciplina sob a luz das mu- danças trazidas pela nova legislação processual. O primeiro dispositivo reitera a necessidade de fundamentação da sentença civil, de modo a destacar a hipótese de distinção do precedente judicial alegado no caso concreto, ao passo que o segundo refere-se à hipótese de distinção em relação aos recursos especial e extraordinário repetitivos. As técnicas de distinção estão disponíveis na rede mundial de computado- res e inseridas nos artigos 927, §5° e 979, § 1° do Código de Processo Civil. Nes- se sentido, as regras processuais preveem uma decisão judicial fixadora, com base no precedente e na questão afetada nos casos repetitivos. De acordo com o professor de Processo Civil da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Carlos Fernando de Barros Autran Gonçalves, "esta comuni- cação na rede de informática possibilita a democratização do processo civil, por meio da transparência dos elementos identificadores da vinculação ao pre- cedente e da afetação ao recurso repetitivo" (2018, p. 24). RECURSOS E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL 57</p>