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Teoria Geral 
do Processo
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes 
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
O Direito Processual e a Jurisdição 
O Direito Processual e a Jurisdição 
 
 
• Entender a forma como os litígios são resolvidos;
• Entender o que é a competência e os principais critérios para a sua determinação;
• Conhecer os órgãos jurisdicionais.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Necessidade do Direito;
• Formas de Solução de Litígios;
• Panorama Atual;
• Direito Material e Direito Processual;
• O Direito Processual;
• Jurisdição;
• Competência;
• A Organização Judiciária.
UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Necessidade do Direito
O Direito se firmou desde os primórdios dos tempos como uma necessidade nos 
grupos sociais que historicamente foram se estabelecendo.
Sem normas que criem uma mínima organização social, a convivência humana se 
mostra caótica, pois, naturalmente, em todo grupo social as relações entre seus mem-
bros (relações intersubjetivas) acabam por criar conflitos que precisam ser resolvidos.
Podemos dizer que a “tarefa da ordem jurídica é exatamente a de harmonizar as re-
lações intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos valores humanos com o 
mínimo de sacrifício e desgaste” (CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2012, p. 27).
Esses conflitos intersubjetivos, ou seja, conflitos entre os componentes de um grupo 
social, podem ocorrer em razão de uma série de situações, mas, em geral, eles se esta-
belecem em razão da pretensão de um sujeito em relação a um bem.
Como os conflitos podem ser resolvidos?
Há, basicamente, três possibilidades de eliminação do conflito, ou seja, ele pode ser 
resolvido:
• Por obra de um dos sujeitos em conflito;
• Por obra de ambos os sujeitos em conflito;
• Em razão da atuação de um terceiro.
Vamos conhecer cada uma delas.
Formas de Solução de Litígios
Há três formas básicas de solução: a autotutela, a autocomposição e a heterocomposição. 
Autotutela 
A autotutela, também conhecida como autodefesa, é a forma mais primitiva de re-
solução de um conflito intersubjetivo. Ela foi, particularmente, importante quando não 
havia um Estado capaz de impor suas decisões sobre os indivíduos.
Caracteriza-se pelo uso da força própria para obter a satisfação de suas pretensões, 
ou seja, a questão era resolvida por meio da força e da ameaça, prevalecendo a vontade 
daquele que era mais forte e astuto, sem qualquer consideração sobre o que seria justo 
no conflito.
Autocomposição
Na autocomposição, uma ou as duas partes em conflito concordam em dispor, total 
ou parcialmente, do interesse que gerou o conflito.
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Há três formas:
• Desistência: caracteriza-se pela renúncia à pretensão;
• Submissão: o sujeito renúncia ao bem, deixando de oferecer resistência à preten-
são da outra parte;
• Transação: caracterizada por concessões recíprocas.
Importante!
Antes de continuarmos, é necessário destacar dois pontos de grande interesse: 
• Em nosso sistema jurídico, a autocomposição somente pode ocorrer se a lide recair 
sobre direitos disponíveis, ou seja: 
[...] sempre que não se trate de direitos tão intimamente ligados ao próprio modo 
de ser da pessoa, que sua perda a degrade a situações intoleráveis.
Trata-se dos chamados direitos de personalidade (vida, incolumidade física, liber-
dade, honra, propriedade intelectual, intimidade, estado etc.). Quando a causa ver-
sar sobre interesses dessa ordem, diz-se que as partes não têm disponibilidade de 
seus próprios interesses (matéria penal, direito de família etc.) (CINTRA; GRINOVER; 
DINAMARCO, 2012, p. 37-38).
• A autocomposição pode ocorrer tanto no âmbito exclusivo das partes em confli-
to, sem qualquer forma de atuação estatal ou de terceiros (hipóteses em que será 
classificada como extraprocessual), quanto no interior de um processo judicial 
(enquadrando-se como endoprocessual).
Muito embora seja sempre a melhor solução, a autocomposição não é suficiente para 
resolver todos os conflitos, pois ela é dependente da vontade das partes em discutir a 
questão e abrir mão, ainda que parcialmente, de suas pretensões.
Assim, sem essa vontade em discutir e de chegar a um acordo, não é viável a auto-
composição.
Heterocomposição
Como muitas vezes os sujeitos permanecem intransigentes em relação ao conflito ou 
não conseguem sozinhos chegar a uma solução, o melhor é buscar um terceiro (árbitro 
ou juiz) que resolverá o litígio. 
Nos primórdios, muitas das vezes, o papel de árbitro era desempenhado por sacer-
dotes ou por anciãos, os quais, em geral, tinham maior conhecimento dos costumes 
daquele grupo social e, com esse critério, decidiam a questão que lhes era posta. Pouco 
a pouco, contudo, o Estado se fortalece e passa a assumir o papel de decidir esses con-
flitos, bem como impor suas decisões aos indivíduos.
Essas características decorrem da monopolização do uso da força de que a ordem 
coercitiva, representada pelo Direito, se vale. 
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
O Direito é uma organização da força. Porque o Direito vincula certas 
condições para o uso da força apenas por certos indivíduos e sob certas 
circunstâncias. (KELSEN, 2000, p. 30)
Ao assumir a função de decidir os conflitos, o Estado diminui a importância da autotutela. 
Com essa passagem do poder de julgar para o Estado, passamos a falar em jurisdição.
Como decorrência da jurisdição, o Estado pode decidir imperativamente as pretensões 
a ele apresentadas, bem como impõe suas decisões às partes que estavam em conflito.
Muito embora os costumes ainda tenham destacada importância como fonte de Di-
reito, a passagem da justiça privada para a justiça pública trouxe como consequência o 
aumento da importância da lei como fonte para reger as condutas dos componentes da 
sociedade em suas relações.
Outro ponto que precisamos destacar é que a jurisdição atua mediante um instrumen-
to denominado processo.
Panorama Atual
É importante destacar que não ocorreu um desenvolvimento linear dessas fases em 
todos os lugares, sendo que houve avanços e retrocessos.
Nos dias atuais, em razão da vedação do emprego da autotutela, esse tipo de proce-
der se caracteriza como crime definido no artigo 345 do Código Penal – denominado 
“Exercício arbitrário das próprias razões”.
A despeito dessa regra, excepcionalmente, a autotutela é admitida em nosso sistema 
jurídico, tal como ocorre nas seguintes situações:
O desforço imediato para a defesa da posse:
Código Civil
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se 
tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-
-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, 
ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou 
restituição da posse. [...]
Na legítima defesa:
Código Penal
Legítima defesa
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente 
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direi-
to seu ou de outrem. [...]
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Essas situações excepcionais são admitidas em nosso ordenamento jurídico, em espe-
cial, “pela impossibilidade de estar o Estado-juiz presente sempre que um direito esteja 
sendo violado ou prestes a sê-lo” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 37).
Nas últimas décadas, ocorreu um importante fenômeno de valorização da autocom-
posição e da arbitragem, as quais passaram a ser vistas como destacadas alternativas à 
jurisdição estatal, em razão da total incapacidade do Estado em resolver todos os con-
flitos intersubjetivos, o que acarretou severos prejuízos à sua função de pacificação das 
relações sociais.
Esse movimento fez com que fossem criados mecanismos processuais e extraprocessu-
ais que buscassem a composição dos interesses, tal como ocorreu nas seguintes situações:
• Criação da figura do “conciliador” no Juizado Especial Civil – artigo7º da Lei 
9.099/95;
• Criação da composição civil de danos no Juizado Especial Criminal – artigo 72 da 
Lei 9.099/95;
• Expressa determinação, constante do § 3º do artigo 3º do Código de Processo 
Civil, para que “a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual 
de conflitos” sejam “estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e mem-
bros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”.
A arbitragem ganhou grande impulso em nosso país com a Lei 9.307/96 e, poste-
riormente, com a Lei 13.129/15 passou a ser aplicada também para litígios relativos a 
direitos patrimoniais disponíveis que envolvam a Administração Pública.
Lei 9.307/96
Art. 1º. As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem 
para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
§ 1º. A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbi-
tragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
[...]
Mais recentemente, houve um despertar para a mediação como forma de solução de 
conflitos, o que se materializou, particularmente, com a Lei 13.140/15.
A mediação se caracteriza por ser uma forma de autocomposição em que as tratati-
vas das partes são acompanhadas e incentivadas por um mediador. 
Lei 13.140/15
Art. 4º. [...]
§ 1º. O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as 
partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução 
do conflito. 
A mediação pode ser realizada fora do processo judicial (mediação extrajudicial) ou 
no curso dele (mediação judicial).
Além de particulares, a mediação poderá envolver controvérsias que têm como par-
tes a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações.
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Essas duas formas de resolução de litígios possuem algumas semelhanças e diferen-
ças, sendo que em relação a essas últimas devemos destacar que:
• Na arbitragem o litígio é resolvido por um árbitro;
• Na mediação a lide é resolvida pelas partes, incentivadas e orientadas pelo mediador.
No atual Código de Processo Civil se verifica uma destacada preocupação em se 
incentivar a autocomposição, por meio da mediação, havendo vários dispositivos que 
destacam essa forma de composição de litígios.
Código de Processo Civil
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual 
de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de con-
ciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a 
auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. [...]
Direito Material e Direito Processual
Vamos supor que “A” é proprietário de um anel de diamantes, sendo que esse bem 
cai de seu dedo quando visitava a casa de “B”.
“B” fica sabendo que “A” perdeu a joia em sua casa e, após procurá-la, consegue 
localizar o anel. Como o anel foi achado em sua casa, “B” se diz o novo dono desse bem 
e se nega a devolvê-lo para “A”.
Como não poderia deixar de ser, “A” não concorda com isso e quer o anel de volta.
Diante da pretensão resistida, formou-se uma lide entre “A” e “B”. 
Se verificarmos a nossa legislação, vamos encontrar uma importante norma que rege 
situações como essas.
Código Civil
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao 
dono ou legítimo possuidor. [...]
“B”, contudo não aceita a aplicação dessa norma e ingressa com uma ação judicial na 
qual solicita que o Poder Judiciário declare que ele é o novo dono do anel.
Ao final do processo, o juiz declara a improcedência da ação, pois “B” não é o ver-
dadeiro dono do anel.
Em Síntese 
Diante desse exemplo, podemos chegar à conclusão de que há duas situações distintas 
que não se confundem:
• Há uma norma geral que determina um comportamento das pessoas em sociedade 
(que as coisas perdidas devem ser devolvidas aos donos, por exemplo);
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• Há o direito da parte em litígio de ingressar com uma ação judicial para que sua preten-
são (ou suposta pretensão) seja reconhecida pelo Estado-juiz, em razão da jurisdição.
Assim, temos prescrições normativas sobre a forma como deve ser o comportamento 
das pessoas em suas relações, estipulando direitos e obrigações referentes a bens e utili-
dades da vida. A esse corpo de norma chamamos de Direito Material.
Essas normas encontram-se no Direito Civil, Direito Penal, Direito Tributário, Direito 
Trabalhista etc.
Há, por outro lado, outro complexo de normas e princípios que disciplinam a forma 
como deve a jurisdição atuar, ou seja, qual é o método de trabalho (os prazos, as etapas 
a serem seguidas etc.) para que se reconheça a pretensão fundamentada pelo Direito 
Material. A esse conjunto de princípios e normas chamamos de Direito Processual.
O Direito Processual é veiculado, em especial, pelo Direito Processual Civil, Direito 
Processual Penal, Direito Processual do Trabalho etc.
Apesar de estarem interligados, o Direito Material e o Direito Processual não se con-
fundem.
O direito processual é, assim, do ponto de vista de sua função jurídica, um 
instrumento a serviço do direito material: todos os seus institutos básicos 
(jurisdição, ação, exceção, processo) são concebidos e justificam-se no qua-
dro das instituições do Estado pela necessidade de garantir a autoridade do 
ordenamento jurídico. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 49)
Temos, portanto, que aquele que tem seu direito material violado tem, diante do com-
portamento da outra parte do conflito de interesses, o direito de apresentar ao Estado 
sua pretensão, para que ele, no exercício da jurisdição, resolva a questão.
“O direito ao exercício da função jurisdicional é denominado direito de ação, sendo 
conferido a todas as pessoas, físicas e jurídicas, de direito público e de direito privado” 
(MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 106).
Já o processo “é o instrumento de que se utiliza a parte que exercitou o direito de 
ação na busca de uma resposta judicial que ponha fim ao conflito de interesses instaura-
do ou em via de sê-lo” (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 155). 
O Direito Processual
O direito processual é um ramo do Direito Público, uma vez que trata da atividade 
jurisdicional do Estado.
Mesmo quando trata de direitos disponíveis, o direito processual não perde a sua 
feição publicista, pois a relação de direito material não se confunde com a relação pro-
cessual formada pelas partes da lide, pois esta sempre será de Direito Público.
Particularmente, com a Constituição Federal de 1988, podemos mencionar que esse 
ramo do Direito se apresenta permeado de diversas normas e princípios emanados de 
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
nossa Carta Magna, o que potencializou sua vocação como instrumento de distribuição 
do justo e do equitativo.
Fontes do Direito Processual
A principal fonte do direito processual é a lei, sendo que, nos termos do artigo 22, 
inciso I, da Constituição Federal, compete à União legislar sobre Direito Processual. 
Com isso, as principais normas processuais são:
• O Código de Processo Penal (CPP), estabelecido pelo Decreto-Lei 3.689/41, que 
ao longo dos anos passou por diversas alterações;
• O Código de Processo Civil (CPC), que foi criado pela Lei 13.105, de 16 de 
março de 2015.
Destacando o seu papel como norma mais importante da jurisdição civil, o CPC se 
inicia com a seguinte disposição:
CPC
Art. 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado confor-
me os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da 
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Além da lei, podemos apontar outras fontes do direito processual, em especial as 
seguintes:
• Constituição Federal;
• Tratados e Convenções Internacionais;
• Regimentos Internos de Tribunais.
Nosso país é signatário de vários tratados e convenções internacionais que apresen-
tam regras e princípios processuais, os quais, após o processo de internalização, podem 
ser aplicados na solução de litígios que sãoapresentados ao Poder Judiciário.
Por fim, os tribunais, para regular diversas situações internas de sua estrutura, editam 
regimentos internos, os quais acabam por tratar de algumas questões processuais rela-
cionadas a processos e recursos de suas competências.
Eficácia da Lei Processual no Espaço
As leis processuais obedecem ao Princípio da Territorialidade, ou seja, é a lei proces-
sual nacional, em especial o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal, 
que deve ser aplicada aos processos nos quais atua a jurisdição de nosso país.
Nesse sentido, encontramos as disposições do artigo 13 do Código de Processo Civil 
e o artigo 1º do Código de Processo Penal.
Código de Processo Civil
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasilei-
ras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, conven-
ções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.
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Código de Processo Penal
Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro [...]
Eficácia da Lei Processual no Tempo
A lei processual está sujeita à regra geral de vigência de leis no tempo, a qual está pres-
crita no caput do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou seja, 
a lei, após entrar em vigor, somente será revogada por outra lei posteriormente editada.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que 
outra a modifique ou revogue. [...]
Na sucessão de leis processuais no tempo, ou seja, quando uma lei processual revoga 
uma lei processual anterior, devemos aplicar as seguintes regras:
• A nova lei processual deve ser imediatamente aplicada aos processos em curso;
• Os atos processuais praticados na vigência da lei anterior continuam válidos.
Nesse sentido, dispõe o artigo 2º do Código de Processo Penal que:
Código de Processo Penal
Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da 
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
No Código de Processo Civil, as questões intertemporais estão dispostas, particular-
mente, no seu artigo 14.
Código de Processo Civil
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente 
aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as 
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
Interpretação e Integração da Lei Processual
A lei processual segue as mesmas regras e princípios das leis em geral em relação 
à sua interpretação e integração, ou seja, aqui deve ter plena aplicação o disposto nos 
artigos 4º e 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se 
dirige e às exigências do bem comum.
Seguindo a mesma linha indicada na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasi-
leiro, estabelece o artigo 8º do CPC que:
Código de Processo Civil
Art. 8º. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais 
e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade 
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a 
legalidade, a publicidade e a eficiência.
Também, ao tratar da interpretação e integração de normas processuais, estabelece 
o artigo 3º do Código de Processo Penal a possibilidade da interpretação extensiva, da 
analogia e dos princípios gerais do Direito.
Código de Processo Penal
Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplica-
ção analógica bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
Jurisdição
Considerações Iniciais
Um dos elementos caracterizadores de um Estado é a sua soberania, sendo que dela 
decorre a jurisdição.
Jurisdição é uma das funções estatais que decorre da soberania do Estado, mediante a qual 
este “substitui os titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacifi-
cação do conflito que os envolve, com justiça (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 155).
Como decorrência da jurisdição, o Estado pode decidir imperativamente sobre as pre-
tensões a ele apresentadas, bem como impor suas decisões às partes que estão em conflito.
Seguindo os ensinamentos da escola processual italiana, a jurisdição, pelo seu aspecto 
jurídico, apresenta os seguintes elementos caracterizadores:
• Caráter substitutivo;
• Escopo de atuação do direito;
• Lide;
• Inércia; e
• Definitividade.
Vamos ver cada uma dessas características.
Características da Jurisdição
Caráter Substitutivo
Quando as partes apresentam à jurisdição suas pretensões, esta passará a atuar em 
substituição às atividades daquelas, pois não caberá aos litigantes definir como o conflito 
deve ser resolvido, pois essa missão caberá ao Estado-Juiz.
Assim, não são as partes em litígio que definem qual delas tem sua pretensão am-
parada pelo Direito, bem como não cabe a qualquer delas invadir a esfera jurídica da 
outra para executar a decisão anteriormente proferida. Tudo isso se dará por atuação 
da jurisdição.
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A característica essencial da jurisdição [...] é a substitutividade, porque o 
Estado, por uma atividade sua, substitui a atividade daqueles que estão 
em conflito na lide, os quais, aliás, estão proibidos de ‘fazer justiça com 
as próprias mãos’, tentando satisfazer pessoalmente pretensão, ainda que 
legítima. (GRECO FILHO, 2010, p. 202) 
Como essa atividade estatal atua por meio de pessoas físicas, ou seja, o juiz e seus 
auxiliares, a participação delas somente pode ocorrer se houver a garantia de imparcia-
lidade, sob pena de não haver legitimidade da atuação da jurisdição.
Escopo de Atuação do Direito
Um dos mais importantes objetivos na atuação da jurisdição é fazer com que os con-
flitos intersubjetivos sejam solucionados, sendo que o critério a ser utilizado para isso 
é a aplicação das normas de direito material.
Vamos ver um exemplo dessa situação:
José, proprietário de uma casa, resolve locá-la para Pedro, sendo lavrado um contrato 
com fiel obediência das disposições legais que tratam do assunto.
Dois meses depois, o locador se arrepende do negócio e avisa Pedro que ele tem 
quinze dias para sair da residência.
Pedro, para garantir seu direito de permanecer no imóvel, ingressa com uma 
ação judicial.
Qual é o critério que o juiz deverá utilizar para resolver esse litígio?
O juiz irá verificar o que estipulam as normas legais (direito material) sobre o assun-
to, sendo que, nesse caso, há uma importante regra, no artigo 4º da Lei de Loca-
ções (Lei 8.245/91), que estipula que “Durante o prazo estipulado para a duração do 
contrato, não poderá o locador reaver o imóvel alugado. [...]”. Será com base nessa 
norma que a lide será resolvida.
Dessa forma, por intermédio da jurisdição, as normas de direito material que não 
foram espontaneamente observadas, e que por isso causaram o litígio, são reafirmadas. 
O juiz, em sua decisão, irá declarar, expressamente, qual é a norma de direito material 
que deve regular a relação entre as partes.
Lide
A jurisdição não se presta a realizar uma função consultiva, pois somente pode atuar 
se estiver caracterizada lide. 
Lide [...] é o conflito de interesses qualificados pela pretensão de um dos 
interessados e pela resistência do outro. Ou, mais sinteticamente, lide é 
conflito de interesses qualificados por uma pretensão resistida. (SANTOS, 
2010, p. 9)
Temos dois elementos que formam esse conceito:
• A pretensão de mais de um sujeito em relação a um bem;
• A resistência das pessoas envolvidas, que não desejam “abrir mão” de suas pretensões.
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Devemos destacar que o bem que é o objeto da lide não se restringe a bens materiais, 
podendo abranger bens imateriais e direitos. Assim, por exemplo,podemos ter um li-
tígio que envolva duas pessoas jurídicas dedicadas à produção de macarrão que têm a 
pretensão de usar o nome “Macarrão Gostoso” associado a suas marcas.
Sem que haja a caracterização do litígio, não cabe ao Estado, por intermédio da ju-
risdição, imiscuir-se nas relações que não são conflituosas.
Inércia
São as partes em conflito que devem buscar a jurisdição, nunca o contrário. A ju-
risdição deve permanecer inerte, somente podendo atuar se houver a provocação das 
partes em litígio.
Isso faz com que o juiz não tenha o poder de iniciar o processo (ne procedat iudex 
ex officio), sendo que essa iniciativa cabe ao autor, ficando sempre sujeita à sua vontade 
(nemo iudex sine actore).
Se o juiz agisse sem ter sido provocado pelas partes em conflito, ele estaria psicologi-
camente comprometido com o resultado, o que prejudicaria a sua imparcialidade.
Além disso, não podemos perder de vista que a atuação da jurisdição deve buscar a 
pacificação dos conflitos intersubjetivos. Se o juiz agisse sem provocação, ele poderia 
gerar um conflito ao invés de pacificá-lo.
Há, contudo, situações excepcionais em que o juiz pode atuar de ofício. Nessas ex-
ceções, há fundadas razões de ordem pública que justificam a quebra desse princípio. 
No atual Código de Processo Civil, podemos indicar como situações em que isso ocorre 
a arrecadação judicial dos bens vagos (art. 738) e dos bens que fazem parte da herança 
jacente (art. 744).
Uma vez que o autor tenha apresentado a lide à jurisdição, a inércia deixa de existir, 
cabendo ao juiz determinar a realização dos atos processuais, bem como a adoção de 
outras medidas para que todas as etapas estipuladas no direito processual sejam venci-
das até o final do processo. A essa iniciativa do juiz para que haja o avanço do processo 
chamamos de “Princípio do Impulso Oficial”.
Definitividade
Ao final do processo, a decisão proferida pelo juiz, se houver uma apreciação do 
mérito do litígio, tornar-se-á definitiva, não podendo mais ser alterada – por vontade das 
partes, pela vontade do juiz ou de qualquer outra pessoa.
[...] o poder, a função e a atividade jurisdicional têm o caráter de defini-
tividade, isto é, ao se encerrar o desenvolvimento legal do processo, a 
manifestação do juiz torna-se imutável, não admitindo revisão por outro 
poder. (GRECO FILHO, 2010, p. 202)
Essa característica faz com que haja sempre um ponto final de qualquer litígio, pois a 
decisão tornar-se-á imutável, ou seja, formar-se-á a coisa julgada.
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Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença, em virtude da qual nem as 
partes podem repropor a mesma demanda em juízo ou comportar-se de modo diferente 
daquele preceituado, nem os juízes podem voltar a decidir a respeito, nem o próprio le-
gislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que ficou definitivamente 
julgado (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 160) .
Limites da Jurisdição
Nosso texto constitucional estabelece a impossibilidade de a legislação afastar a juris-
dição na apreciação de lesões a ameaças de direito.
Constituição Federal
Artigo 5º [...]
XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito.
Limites Internos
A Constituição Federal de 1988 estabelece uma única limitação interna para a atua-
ção de nossa jurisdição, a qual se refere à impossibilidade de o Poder Judiciário apreciar 
questões referentes à disciplina e às competições desportivas antes de esgotados os 
recursos da chamada Justiça Desportiva.
Constituição Federal
Artigo 217
§ 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às com-
petições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desporti-
va, regulada em lei.
É importante destacar que esses órgãos da Justiça Desportiva não integram a estru-
tura do Poder Judiciário e nem seus membros são magistrados.
Limites Internacionais
Os limites internacionais da jurisdição brasileira são estipulados por nossa soberania 
com a preocupação de ser importante a convivência de nosso país com os diversos 
Estados nacionais, bem como por critérios de conveniência e viabilidade.
Essas limitações são impostas pelas normas internas de cada Estado, sendo que não 
há grande interesse em aumentar exageradamente a área de abrangência de sua jurisdi-
ção para fora de seu território.
[...] o legislador não leva muito longe a jurisdição de seu país, tendo 
em conta principalmente duas ponderações ditadas pela experiência 
e pela necessidade de coexistência com outros Estados soberanos: a) 
a conveniência (excluem-se os conflitos irrelevantes para o Estado, 
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
porque o que lhe interessa, afinal, é a pacificação no seio da sua própria 
convivência social); b) a viabilidade (excluem-se os casos em que não 
será possível a imposição da autoridade do cumprimento da sentença). 
(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 175, Grifos nossos)
Como decorrência dessas limitações, o legislador brasileiro estabeleceu os limites 
internacionais da jurisdição brasileira no artigo 12 da Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro, ou seja, podem ser propostas ações judiciais em nosso país:
• Quando o réu for domiciliado no Brasil;
• Se a obrigação tiver que ser cumprida em nosso país;
• Se o litígio tiver, por objeto, imóvel aqui situado.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu 
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1º. Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações 
relativas a imóveis situados no Brasil.
[...]
No Código de Processo Civil, essas questões estão disciplinadas nos artigos 21 a 23, que 
seguem, em grande parte, as linhas da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Código de Processo Civil
Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as 
ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado 
no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domi-
ciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial 
ou sucursal.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e 
julgar as ações:
I – de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade 
de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos.
II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver do-
micílio ou residência no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdi-
ção nacional.
As hipóteses dos artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil se referem a ações:
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• Em que a jurisdição do Estado Brasileiro poderá atuar;
• Essas normas indicam hipóteses em que também é possível que a ação possa ser 
proposta em jurisdição de outro país, desde que haja essa possibilidade na legisla-
ção estrangeira.
Assim, são hipóteses denominadas de jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar 
a jurisdição brasileira ou a jurisdição de um Estado estrangeiro, sem que, para o sistema 
jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou defeito.
Situação diversa ocorre nas hipóteses do artigo 23 do Código.
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de 
qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testa-
mento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, 
ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha 
domicílio fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, pro-
ceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titularseja de 
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Nas situações descritas no artigo 23 do Código de Processo Civil, somente a juris-
dição brasileira poderá atuar, não se reconhecendo em nosso país qualquer efeito para 
eventuais decisões ou medidas judiciais que tratem desses temas. Nessas situações, fala-
mos em jurisdição exclusiva.
Devemos destacar, igualmente, que a jurisdição internacional penal é delimitada pelo 
âmbito de aplicação no espaço da lei penal brasileira.
Portanto, quando o direito penal brasileiro for aplicado, também será aplicada a 
legislação processual penal brasileira e sempre atuará um órgão jurisdicional nacional.
A definição da aplicação da lei penal brasileira no espaço encontra-se nos artigos 5º 
a 7º do Código Penal.
Jurisdição Voluntária e Jurisdição Contenciosa
Pelo que já estudamos, podemos constatar que todo litígio apresenta, intrinsecamente, 
uma animosidade, uma relação jurídica contenciosa.
Decorre dessa premissa que a jurisdição carrega em si a ideia de conflito. Sendo as-
sim, falamos de jurisdição contenciosa.
Há, contudo, certas situações em que os juízes são chamados, em razão da lei, a 
participar de relações em que essa contraposição de interesses não existe. Nesses casos, 
não há propriamente o exercício do poder jurisdicional, mas mera administração públi-
ca de interesses privados. Nesses casos, apesar de não haver a aplicação da jurisdição 
propriamente dita, falamos em jurisdição voluntária.
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Para parte da doutrina, esse nome, “jurisdição voluntária”, é de todo impróprio, pois 
não existe o exercício do poder jurisdicional, mas uma atividade administrativa de-
sempenhada pelos juízes.
Alguns doutrinadores afirmam que, na jurisdição voluntária, também 
denominada graciosa ou administrativa, não vislumbramos a presença 
de partes, mas de interessados, nem de processo, mas tão-somente de 
procedimento, que se apresenta como um minus em relação ao primeiro. 
(MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 49)
Um exemplo de jurisdição voluntária ocorre quando um casal com filhos incapazes, 
de forma consensual, resolve se divorciar. Em situações como essa, fica muito clara a 
intenção do legislador em realizar o direto acompanhamento estatal desse importante 
ato da vida pessoal dos interessados, contudo não podemos falar na existência de uma 
lide que precise ser resolvida pelo Poder Judiciário.
Também há jurisdição voluntária na abertura, registro e cumprimento de testamentos 
e codicilos; na arrecadação de bens da herança jacente; na interdição, dentre outros 
diversos exemplos.
Competência
Em razão do Princípio da Aderência, em todos os litígios havidos em nosso território, 
sempre deve haver um órgão jurisdicional que possua o poder de apreciar o conflito que 
lhe está sendo apresentado.
Por outro lado, até mesmo por razões de racionalização e organização na prestação 
dessa importante função pública, seria inconcebível que os juízes pudessem apreciar lití-
gios de todas as naturezas (penais, tributários, previdenciários, empresariais etc.) havidos 
em qualquer parte de nosso território. 
Isso demonstra a necessidade de se estipular uma área material e territorial de aplica-
ção da jurisdição de cada um desses órgãos. Essa estipulação chamamos de competência.
A competência, portanto, é o poder que tem um órgão jurisdicional de 
fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto. Decorre esse poder 
de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo 
critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de 
serviço. (GRECO FILHO, 2010, p. 204)
As principais fontes para a determinação da competência de cada órgão jurisdicional 
são as seguintes:
• Constituição Federal;
• Leis processuais;
• Lei de Organização Judiciária Nacional e Estaduais.
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A Organização Judiciária
Já conhecemos o que é a jurisdição e vimos que, de forma concreta, ela atua por 
meio de órgãos judiciais, juízes e tribunais.
Outro ponto importante de nosso estudo é a necessidade de se organizar, de forma efi-
ciente e racional, o trabalho de cada um desses órgãos, o que se denomina competência.
Conhecer as características e a organização judiciária brasileira é de extrema impor-
tância para o profissional do Direito, pois é com esses órgãos que ele irá, em grande 
parte de seu tempo, se relacionar no desempenho de suas funções. Além disso, esse co-
nhecimento é de extrema importância para a definição da competência de cada um deles.
Em razão do Princípio do Juiz Natural, a existência prévia desses órgãos é uma 
exigência para que as lides sejam resolvidas com justiça e imparcialidade. Dessa for-
ma, todos os órgãos do Poder Judiciário estão previstos em nosso texto constitucional. 
De forma esquemática, podemos representar essa organização da seguinte forma:
STF
Supremo Tribunal Federal
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
TSE
(Trib. Superior Eleitoral)
TST
(Trib. Superior do Trabalho)
STM
(Superior Trib. Militar)
TRF
(Trib. Regionais Federais)
TJ
(Tribunais de Justiça)
TRE
(Trib. Regional Eleitoral)
TRT
(Trib. Regionais do Trab.)
TRIBUNAIS
MILITARES
JUÍZES
FEDERAIS
JUÍZES DE
DIREITO
JUÍZES
ELEITORAIS
JUÍZES DO
TRABALHO
JUÍZES
MILITARES
Figura 1 – Poder Judiciário
Vamos, então, conhecer os principais detalhes de cada um desses órgãos.
Supremo Tribunal Federal
O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição Federal, assim, em 
qualquer processo em que se cogite a aplicação ou não de determinado dispositivo nela 
inserido, é esse tribunal quem tem a palavra final.
Ele é composto por onze ministros, todos brasileiros natos, exigência imposta unica-
mente nesse tribunal – § 3º do artigo 12 do texto constitucional.
A nomeação de seus membros é realizada pelo Presidente da República, sendo necessá-
ria a prévia aprovação do indicado pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal.
Além dos anteriormente apontados, exige-se que o indicado tenha “notório saber 
jurídico” e “reputação ilibada”.
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Sua competência é detalhada pelo artigo 102 da Constituição Federal. 
Outro ponto que deve ser destacado em sua atuação jurisdicional é que esse tribunal 
pode editar as chamadas súmulas vinculantes.
As súmulas representam o entendimento do tribunal que as editou sobre determinada 
matéria. Elas nunca vincularam as instâncias inferiores, contudo, nas súmulas vinculan-
tes a situação é diferente. O chamado “efeito vinculante” se aplica aos demais órgãos do 
Poder Judiciário e à administração pública e estabelece a obrigatoriedade de acatamento 
da interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal para a questão que é objeto de 
seu texto.
Constituição Federal
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por pro-
vocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reite-
radas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir 
de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação 
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e 
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à 
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. [...]
Note que, além das súmulas vinculantes, o Supremo Tribunal Federal edita súmulas 
normais, ou seja, aquelas não vinculantes.
Conselho Nacional de Justiça
O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela Emenda Constitucional 45/2004, 
sendo que ele não é propriamente um órgão jurisdicional, mas um órgão responsável 
pelo controle externo do Poder Judiciário. Esse controle externo não se destina a rever 
decisões judiciais, e sim o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Ju-
diciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.
Justiça Comum
A competência da Justiça Comum é determinada de forma residual, ou seja, ela irá 
processar e julgar as causas que não estejam sob acompetência da Justiça Especial (tra-
balhista, eleitoral e militar), existindo tanto na esfera federal quanto na estadual, sendo 
seu principal tribunal o Superior Tribunal de Justiça.
Superior Tribunal de Justiça
O Superior Tribunal de Justiça é composto por, no mínimo, trinta e três ministros, que 
são nomeados pelo Presidente da República – dentre brasileiros natos ou naturalizados, 
com idade entre 35 e 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada – depois de 
aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Esse tribunal é o guardião da legislação federal, realizando uma unificação na sua 
aplicação, sendo que sua competência é detalhada no artigo 105 da Constituição Federal.
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Justiça Federal 
A Justiça Comum Federal é composta por Tribunais Regionais Federais (em segunda 
instância) e pelos Juízes Federais (em primeira instância).
Há, em nosso país, cinco desses tribunais:
• TRF da 1ª Região: está instalado em Brasília, tem competência para julgar as cau-
sas do Distrito Federal, de toda a Região Norte, de toda a região Centro-Oeste, exce-
to Mato Grosso do Sul, mais os Estados do Maranhão, Piauí, Bahia e Minas Gerais;
• TRF da 2ª Região: com sede no Rio de Janeiro, julga causas oriundas desse Esta-
do e do Espírito Santo;
• TRF da 3ª Região: sediado em São Paulo, julga as causas desse Estado e do Mato 
Grosso do Sul;
• TRF da 4ª Região: sediado em Porto Alegre, julga as causas afetas à Região Sul;
• TRF da 5ª Região: sediado em Recife, julga as causas referentes aos Estados de 
Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Cada um desses tribunais é formado, no mínimo, por sete Desembargadores Fede-
rais, cuja competência está descrita no artigo 108 da Constituição Federal.
Em primeira instância, na Justiça Comum Federal, atuam os juízes federais, cuja 
competência é definida no artigo 109 da Constituição Federal.
A Emenda Constitucional 73, de 6 de ju-
nho de 2013, criou mais quatro Tribunais 
Regionais Federais (6º ao 9º), redistribuin-
do a competência territorial de todos os 
tribunais desse tipo, contudo, esses novos 
órgãos ainda não foram, efetivamente, 
instalados, em razão da Ação Direta de In-
constitucionalidade (ADI) 5017.
Justiça Estadual
Antes de qualquer coisa, devemos observar que a Justiça Comum Estadual possui 
competência residual, ou seja, ela irá processar e julgar aquelas causas que não são da 
competência da Justiça Especializada (Eleitoral, Trabalhista e Militar da União), bem 
como não são da Justiça Comum Federal.
Justiça Comum Estadual
O órgão máximo da Justiça Estadual é o Tribunal de Justiça, no qual os magistrados 
são chamados de Desembargadores.
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Esse órgão jurisdicional tem, essencialmente, uma função recursal, cabe a ele julgar 
os recursos impetrados em razão das decisões proferidas pela primeira instância, a qual 
é composta pelos Juízes de Direito. 
Justiça Especializada
A chamada “Justiça Especializada” é composta por órgãos jurisdicionais que atuam 
em três áreas bem específicas, sendo composta pela: Justiça Eleitoral, Justiça do Traba-
lho e Justiça Militar.
Justiça Eleitoral
A característica mais marcante da Justiça Eleitoral é a de que ela é composta por ma-
gistrados que estão em outros ramos do Poder Judiciário e de advogados que, somente 
temporariamente, fazem parte de seus quadros.
Os órgãos da Justiça Eleitoral são: 
• Tribunal Superior Eleitoral;
• Tribunais Regionais Eleitorais;
• Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais.
O Tribunal Superior Eleitoral é composto por, no mínimo, sete Ministros, sendo que 
essa composição mínima que é a utilizada atualmente.
Cada Estado e o Distrito Federal possuem um Tribunal Regional Eleitoral instalado 
em sua Capital.
Os membros do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais, salvo 
motivo justificado, servirão a esses tribunais por dois anos. Terminado esse prazo, serão 
substituídos por outros, respeitadas as mesmas regras de escolha que acabamos de ver. 
Nenhum deles poderá servir por mais de dois biênios consecutivos.
Em primeira instância na Justiça Eleitoral atuam os Juízes Eleitorais. Esses magis-
trados são Juízes de Direito que acumulam, em suas comarcas, essa função.
Justiça do Trabalho
A Justiça do Trabalho é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho, pelos Tribu-
nais Regionais do Trabalho e pelos Juízes do Trabalho.
O Tribunal Superior do Trabalho tem por principal função uniformizar a jurisprudên-
cia trabalhista. Para tanto, julga recursos de revista, recursos ordinários e agravos de 
instrumento contra decisões de Tribunais Regionais do Trabalho e dissídios coletivos de 
categorias organizadas em nível nacional, além de mandados de segurança, embargos 
opostos a suas decisões e ações rescisórias.
Na segunda instância da Justiça do Trabalho, há vinte e quatro Tribunais Regionais 
do Trabalho, os quais julgam, sobretudo, recursos relativos às decisões da primeira ins-
tância, que é constituída pelos Juízes do Trabalho – que atuam nas Varas do Trabalho.
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Justiça Militar
Esse ramo do Poder Judiciário é composto pelo Superior Tribunal Militar, pelos Tri-
bunais e Juízes Militares.
A Constituição Federal fala de Tribunais Militares, contudo eles não existem, atu-
almente, na estrutura da Justiça Militar da União. Dessa forma, nesse ramo da justiça 
especializada, temos somente duas instâncias: a primeira, composta pelos Conselhos de 
Justiça, e a segunda, composta pelo Superior Tribunal Militar.
Na primeira instância da Justiça Militar da União temos os Conselhos de Justiça, que 
são formados por um Juiz Auditor e quatro Oficiais das Forças Armadas. 
A Constituição Federal define que a Justiça Militar da União é competente para 
processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Esses crimes são definidos no 
Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/69), e o processo na Justiça Militar é regido 
pelo Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei 1.002/69).
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UNIDADE O Direito Processual e a Jurisdição 
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Leitura
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
https://bit.ly/2OImC84
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941
Código de Processo Penal.
https://bit.ly/3mD3JDG
Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015
Código de Processo Penal.
https://bit.ly/3mI448g
Lei 9.307/96, de 23 de Setembro de 1996
Dispõe sobre a arbitragem.
https://bit.ly/3sdv6p5
Lei 13.140/15, de 26 de Junho de 2015
Dispõe sobre a mediação.
https://bit.ly/3daflux
28
29
Referências
CINTRA, A.; GRINOVER, A.; DINAMARCO, C. Teoria geral do processo. 28. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2012.
GRECO FILHO, V. Direito processual civil brasileiro. 23. ed. São Paulo: Saraiva 
2013. v. 1.
KELSEN, H. Teoria geral do direito e do estado. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000.
MONTENEGRO FILHO, M. Curso de direito processual civil: teoria geral do pro-
cesso e processo de conhecimento. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1.
SANTOS, M. Primeiras linhas de direito processual civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 
2010. v. 1.
THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil. 56. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015. v. 1. 
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