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<p>Vivência patológica e evolução clínica das psicopatologias</p><p>Desafio</p><p>O uso do diagnóstico é importante para a prática clínica. No entanto, nem todas as pessoas que chegam ao psicólogo irão apresentar um diagnóstico. Algumas não fecham critérios para o diagnóstico; outras apresentam sintomas, mas como reações a algum evento de vida estressor; outras ainda buscam se conhecer melhor e desenvolver as habilidades pessoais.</p><p>Observe a situação a seguir.</p><p>Com base no seu conhecimento de diagnósticos e transtornos mentais, responda as questões a seguir.</p><p>a) Considerando todas as informações e possibilidades de evolução dos sintomas relatados pela adolescente, ela tem condições para fechar algum critério diagnóstico? Como você entenderia e abordaria esse caso?</p><p>b) O que você buscaria investigar durante o encontro com a paciente, já adulta, sobre a queixa atual?</p><p>Padrão de resposta esperado</p><p>a) Não se pode ter certeza de um diagnóstico, mas a paciente não fecharia critérios para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos ansiosos. Isso se dá por ela ainda estar vivenciando o evento traumático, ou seja, não há tempo necessário para o diagnóstico de TEPT. Para o transtorno de estresse agudo, também é necessário que o evento traumático tenha cessado, e os sintomas se apresentem dentro de três dias a um mês. Ela também não apresenta sintomas suficientes para o diagnóstico de TOC, visto que a "compulsão" apresentada não é explicada por uma obsessão ou preocupação interna, para além de tentar aliviar o desconforto do abuso vivido. As preocupações que a adolescente apresenta também não são consideradas excessivas, como o que seria necessário para o diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada.</p><p>Somado a isso, e com as informações disponíveis, o que é preciso entender são as necessidades de um cuidado ético e humanizado. Mais que buscar um diagnóstico, o profissional deve olhar para a paciente como uma pessoa passando por um momento de extremo sofrimento e tentar considerar e compreender as questões socioculturais envolvidas, para então pensar em um tratamento e uma prevenção. O que ela parece demonstrar é uma resposta esperada ao evento estressor e extremamente traumático pelo qual estava passando. Ela tinha comportamentos em que tentava deixar o ambiente que lhe fazia mal e reações comuns em vítimas de abuso sexual.</p><p>b) Durante o novo encontro com a paciente, poderiam ser investigados se existem comportamentos residuais resultantes do evento traumático passado, como, por exemplo, se ela apresentou sintomas de TEPT ou transtorno do estresse agudo, visto que o TEPT pode se manifestar tanto após o evento como alguns meses ou anos após o trauma. Além disso, é possível buscar entender como é o ambiente atual, de vida e de trabalho, da paciente. Buscar-se-ia uma maior compreensão da queixa e do olhar clínico para perceber se existem indícios de algum tipo de transtorno ou não. Também seria necessária uma atuação ética e humanizada, buscando entender a paciente, que agora é adulta, em sua integralidade. Ou seja, considerar suas necessidades e vontades para além da situação de abuso pela qual passou, para que os atendimentos e tratamentos não se configurem como uma revivência/vivência traumática.</p><p>Exercícios</p><p>1. Os transtornos mentais são condições de saúde mental em que existe uma alteração no funcionamento mental do indivíduo, o que gera prejuízo e sofrimento intenso.</p><p>Sobre os transtornos mentais, assinale a alternativa correta.</p><p>B. Os transtornos mentais têm características multifatoriais, ou seja, diversos fatores agem sobre eles.</p><p>Justificativa: Os transtornos mentais têm características multifatoriais. A maioria não tem causa identificável, e sim um agente ativador. Os fatores identificados nos transtornos mentais são biopsicossociais; por meio do diagnóstico e estudos na área, é possível identificar como eles se desenvolvem ao longo do tempo e como é sua evolução. Quando um transtorno é classificado em um espectro, isso compreende manifestações, de leves a graves, de um mesmo conjunto de sintomas.</p><p>2. A vivência patológica se refere a como as psicopatologias surgem e se desenvolvem. Essas vivências ocorrem dentro de um contexto, em que os sintomas e sinais específicos emergem de forma individualizada no sujeito. Leia as afirmações a seguir.</p><p>I. O desenvolvimento de transtornos mentais geralmente está atrelado aos fatores de predisposição e precipitação.</p><p>II. Os fatores de precipitação dizem respeito aos aspectos do sujeito que já existem antes do início dos sintomas e contribuem para eles.</p><p>III. Os fatores de predisposição dizem respeito aos eventos de vida, situações estressoras que podem vir a ativar um conjunto de sintomas ou transtorno.</p><p>Assinale a alternativa correta com a(s) afirmação(ões) correta(s).</p><p>A. Apenas I.</p><p>Justificativa: O desenvolvimento dos transtornos estará sempre ligado aos fatores múltiplos, de predisposição e precipitação. Após a instalação do transtorno, também podem ser vistos fatores de perpetuação dos sintomas e transtornos. A predisposição diz respeito aos fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento dos transtornos, e a precipitação, ao estressores que podem vir a ativar o transtorno.</p><p>3. As classificações são utilizadas na prática clínica para uma melhor tomada de decisão por parte do clínico. Por meio delas, é possível identificar o desenvolvimento e curso dos transtornos mentais para a criação de planos de tratamento.</p><p>Sobre o uso das classificações na prática clínica, assinale a alternativa correta.</p><p>E. O profissional não irá utilizar listas de critérios para alguém que quer resolver problemas no trabalho, mas estará atento a qualquer manifestação de sintomas que possam configurar um transtorno.</p><p>Justificativa: Mesmo que o profissional tenha um manual de diagnóstico, ele não irá utilizá-lo automaticamente com todo e qualquer paciente, visto que, dentro da prática clínica, nem todos os pacientes terão sintomas e transtornos. Ele será utilizado somente quando necessário. Entende-se que é necessário ter cuidado com o diagnóstico, para que ele seja correto, mas é possível revisá-lo sempre que novos dados surgirem. O diagnóstico não é a única e principal atividade dos profissionais de saúde mental; eles devem identificar, diagnosticar e tratar transtornos e sintomas, mas também orientar pacientes que desejam adquirir habilidades saudáveis para lidar com as adversidades. Pacientes com condições não clínicas podem surgir na prática independentemente de o profissional trabalhar somente com terapia de casal e familiar, podendo ser trabalhado por qualquer clínico habilitado.</p><p>4. A sensibilidade diagnóstica é uma habilidade que deve ser desenvolvida o quanto antes pelo estudante. Isso lhe dará suporte durante as aulas práticas e os estágios na área e nas atividades profissionais futuras. Essa sensibilidade desenvolvida auxilia o profissional a tomar melhores decisões clínicas.</p><p>Leia as afirmações a seguir.</p><p>I. Na prática, o profissional pode se encontrar com formas diversas de manifestação do sintoma de um transtorno. Por isso, é necessário que os sintomas sejam investigados.</p><p>II. Quando o profissional identifica que a demanda do paciente não é uma condição que configura diagnóstico, ele deve conversar com o paciente, para que ele não continue em consulta, visto que não tirará proveito delas.</p><p>III. Alguns sintomas podem ter semelhanças entre transtornos. Cabe ao profissional conhecer o suficiente da área de psicopatologia para saber qual é o diagnóstico mais próximo ou realizar um diagnóstico diferencial.</p><p>Assinale a alternativa com a(s) afirmação(ões) correta(s).</p><p>D. I e III.</p><p>Justificativa: A manifestação dos sintomas deve ser investigada pelo clínico, perguntando ao paciente porque ele acredita que os sintomas surgem ou se ele sabe porque eles ocorrem. O ideal é aprofundar-se ao máximo na sintomatologia e nas manifestações do paciente e os fatores que as influenciam. Alguns transtornos apresentam sintomas muito semelhantes, porém, muitas</p><p>vezes, a causa imediata difere, por isso o profissional deve conhecer a psicopatologia e realizar diagnósticos diferenciais sempre que estiver em dúvida. Quando uma demanda não configura diagnóstico, o paciente e o profissional ainda podem trabalhar para desenvolver habilidades, estratégias de enfrentamento e autoconhecimento.</p><p>5. As classificações utilizadas para criar diagnósticos são úteis, pois organizam a informação sobre os sintomas e síndromes de forma padronizada. Mas as separações realizadas nas classificações são artificiais, ou seja, criadas pelos indivíduos para que consigam manipular ideias e conceitos de forma mais eficiente.</p><p>Leia as afirmações a seguir.</p><p>I. Os transtornos dizem respeito ao agrupamento de síndromes e espectros, de forma que possam ser melhor compreendidos pelos profissionais.</p><p>II. A utilidade de uma classificação só existe enquanto ela tiver a função de auxiliar no avanço do entendimento das condições, por meio de estudos e pesquisas, e para a escolha de tratamentos.</p><p>III. A classificação dos transtornos é baseada nas causas e no desenvolvimento dessas condições; isso faz com que o diagnóstico se dê somente pela coleta de dados clínicos.</p><p>Assinale a alternativa com a(s) afirmação(ões) correta(s).</p><p>B. Apenas II.</p><p>Justificativa: Os diagnósticos só têm validade enquanto estão servindo a um propósito benéfico. Se forem utilizados somente para rotulação, sem estudos ou tratamentos, não têm validade prática e clínica. Os transtornos podem ser classificados como agrupamentos de síndromes, mas os espectros entrariam como uma subclasse dos transtornos, e não uma grande classe anterior a eles. As classificações dos transtornos se dão por meio dos conjuntos de sintomas, e não por sua causa e desenvolvimento. Justamente por essa estrutura, o diagnóstico é feito por meio de dados clínicos.</p><p>image1.png</p>