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Prévia do material em texto

<p>Autoras: Profa. Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira</p><p>Profa. Sueli Aparecida Martins Barberio</p><p>Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado</p><p>Prof. Nonato Assis de Miranda</p><p>Profa. Renata Viana de Barros Thomé</p><p>Profa. Tânia Sandroni</p><p>Política e Organização da</p><p>Educação Básica</p><p>Professoras conteudistas: Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira /</p><p>Sueli Aparecida Martins Barberio</p><p>© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou</p><p>quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem</p><p>permissão escrita da Universidade Paulista.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>N778p Nogueira, Maria Ephigênia de Andrade Cáceres.</p><p>Política e organização da educação básica / Maria Ephigênia de</p><p>Andrade Cáceres Nogueira, Sueli Aparecida Martins Barberio. - São Paulo:</p><p>Editora Sol, 2021.</p><p>180 p., il.</p><p>Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e</p><p>Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.</p><p>1. Política. 2. Educação básica. 3. Planejamento educacional.</p><p>I. Barberio, Sueli Aparecida Martins. II. Título.</p><p>CDU 37.014.5</p><p>U510.31 – 21</p><p>Maria Ephigênia de Andrade Cáceres Nogueira</p><p>Formou-se em Pedagogia pela Faculdade de Educação</p><p>da Universidade de São Paulo – USP, instituição onde</p><p>cursou também mestrado e doutorado. Além disso, realizou</p><p>um curso de especialização em Gestão Educacional na</p><p>Universidade de Campinas – Unicamp. Foi professora</p><p>concursada de Educação Infantil da Secretaria Municipal de</p><p>Educação de São Paulo, de 1979 a 1990. Em 1980 passou</p><p>a ministrar aulas às turmas de 1ª a 4ª séries do Ensino</p><p>Fundamental da Secretaria Estadual de Educação de São</p><p>Paulo. Em 1995, assumiu o cargo de diretora de escola.</p><p>Na direção da escola, desenvolveu trabalhos, em 1996 e</p><p>1997, com o Cenpec, na formação de professores das classes</p><p>de aceleração, para a correção idade/série dos alunos do</p><p>Ensino Fundamental da rede estadual de São Paulo.</p><p>Em 2007, iniciou seu trabalho na Universidade Paulista</p><p>como professora do curso de Pedagogia. Em seguida, assumiu</p><p>a liderança da disciplina Estrutura e Funcionamento da</p><p>Educação Básica e Políticas Públicas de Educação. No ano de</p><p>2012, foi convidada a participar do Grupo de Pesquisas de</p><p>Políticas Públicas e Gestão de Práticas Educativas e a atuar</p><p>nos cursos de pós-graduação de Formação em Educação a</p><p>Distância e Formação de Professores da UNIP, como professora</p><p>e conteudista, atividades que desenvolve até a presente data.</p><p>Sueli Aparecida Martins Barberio</p><p>Possui em sua formação o magistério e a graduação</p><p>em comunicação social com especialização em relações</p><p>públicas, jornalismo, publicidade e propaganda pela</p><p>Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). É licenciada em</p><p>pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Dr.</p><p>Carlos Queirós de Santa Cruz do Rio Pardo (Fafil) e possui</p><p>especialização em educação a distância e psicopedagogia</p><p>institucional pela Universidade Paulista (UNIP).</p><p>Tem experiência profissional como diretora de</p><p>comunicação no jornal A Folha e na Rádio Difusora de Santa</p><p>Cruz do Rio Pardo, professora, coordenadora pedagógica,</p><p>diretora de escola, analista educacional e especialista em</p><p>assuntos educacionais no Serviço Social da Indústria (Sesi).</p><p>Também foi professora no magistério na rede estadual de</p><p>ensino São Paulo e no Ensino Superior na instituição de ensino</p><p>Moura Lacerda em Ribeirão Preto; atuou como supervisora de</p><p>ensino na Secretaria Municipal de Educação e foi presidente</p><p>do Conselho Municipal de Educação em Jardinópolis.</p><p>Atualmente, desenvolve suas atividades profissionais</p><p>como professora de Ensino Superior no curso presencial</p><p>e na Educação a Distância (EaD). Atua como professora</p><p>conteudista e também na Coordenadoria de Estágio em</p><p>Educação (CEE), na UNIP.</p><p>Prof. Dr. João Carlos Di Genio</p><p>Reitor</p><p>Prof. Fábio Romeu de Carvalho</p><p>Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças</p><p>Profa. Melânia Dalla Torre</p><p>Vice-Reitora de Unidades Universitárias</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez</p><p>Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez</p><p>Vice-Reitora de Graduação</p><p>Unip Interativa – EaD</p><p>Profa. Elisabete Brihy</p><p>Prof. Marcello Vannini</p><p>Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar</p><p>Prof. Ivan Daliberto Frugoli</p><p>Material Didático – EaD</p><p>Comissão editorial:</p><p>Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)</p><p>Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)</p><p>Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)</p><p>Apoio:</p><p>Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD</p><p>Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos</p><p>Projeto gráfico:</p><p>Prof. Alexandre Ponzetto</p><p>Revisão:</p><p>Giovanna Oliveira</p><p>Juliana Mendes</p><p>Bruno Barros</p><p>Sumário</p><p>Política e Organização da Educação Básica</p><p>APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7</p><p>INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7</p><p>Unidade I</p><p>1 CONCEPÇÕES DE ESTADO E SOCIEDADE; POLÍTICAS PÚBLICAS; AS POLÍTICAS</p><p>SOCIAIS E A POLÍTICA EDUCACIONAL ......................................................................................................... 11</p><p>1.1 Estado e seu conceito ......................................................................................................................... 11</p><p>1.2 Estado e seu papel .............................................................................................................................. 13</p><p>1.3 Governo e seu conceito ..................................................................................................................... 13</p><p>1.4 Governo e seu papel ........................................................................................................................... 13</p><p>1.5 Conceito de nação ............................................................................................................................... 14</p><p>1.6 Conceito de público ............................................................................................................................ 14</p><p>1.7 Conceito de política ............................................................................................................................ 15</p><p>1.8 Conceito de políticas públicas ........................................................................................................ 17</p><p>2 POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL ....................................................................................................... 22</p><p>2.1 Tendências contemporâneas ........................................................................................................... 22</p><p>2.1.1 Visão liberal ............................................................................................................................................... 22</p><p>2.1.2 Visão social-democrata ....................................................................................................................... 23</p><p>2.1.3 Visão neoliberal........................................................................................................................................ 23</p><p>2.2 Planos e políticas públicas de educação ................................................................................... 24</p><p>2.2.1 Políticas públicas neoliberais.............................................................................................................. 24</p><p>2.2.2 Políticas públicas pós-neoliberalismo............................................................................................. 26</p><p>2.3 Trajetória histórica e redefinições do papel do Estado ......................................................... 28</p><p>2.3.1 A reestruturação produtiva, a delimitação do campo educacional, a função</p><p>social da escola e a lógica do mercado .....................................................................................................</p><p>escola pública, como “garantia da aquisição</p><p>e distribuição equitativa de um bem comum educativo” (BARROSO, 2005, p. 745).</p><p>Canário (2003, p. 150), discutindo as políticas públicas educacionais, dá ênfase ao objetivo maior da</p><p>escola, que está inserida numa comunidade para a qual deve voltar sua ação, contribuindo, assim, para</p><p>a democratização da sociedade por meio da transformação do ensino: “pensar a escola a partir de um</p><p>projeto de sociedade, não a partir dos meios disponíveis, e sim das finalidades a atingir”.</p><p>Na mesma linha de pensamento, Barroso (2005, p. 745) propõe os princípios da escola: “a</p><p>universalidade do acesso, a igualdade de oportunidades e a continuidade dos percursos escolares. Estes</p><p>princípios obrigam que a escola seja sábia para educar, reta para integrar as crianças e os jovens na vida</p><p>social e justa”.</p><p>A discussão da educação como fator de desenvolvimento econômico já percorre algumas décadas</p><p>e vem apresentando modificações em seu enfoque pelo desenvolvimento científico, econômico, social</p><p>e de fenômenos como globalização e urbanização crescentes. Atualmente a escola ainda é considerada</p><p>fator de transformação social – e, dependendo de como esse conceito é entendido, pode estar ou não</p><p>a favor das classes populares e do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a educação</p><p>escolar de todos, com igualdade de condições e equidade, garantindo, assim, o desenvolvimento da</p><p>plena cidadania, bem como da participação social e produtiva do cidadão.</p><p>Alguns teóricos da educação escolar, como Paro, Oliveira, Ferreira e Dourado, defendem o</p><p>conceito de educação escolar como fator de transformação social, como um direito à cidadania e</p><p>à escola. Os responsáveis pelas políticas públicas estão atrelados ao Plano Nacional de Educação,</p><p>assim como aos planos estaduais e aos municipais de educação, para o uso das verbas públicas</p><p>previstas no financiamento da educação. Órgãos administrativos como o MEC e as secretarias</p><p>estaduais e municipais de educação promovem ações que têm como princípio o desenvolvimento</p><p>de competências e habilidades e a construção dos conhecimentos pelas crianças e jovens da</p><p>educação escolar básica, garantindo a eles a plena participação nos processos sociais, produtivos</p><p>e políticos. É direito do aluno da escola pública ter acesso aos conhecimentos necessários que</p><p>o tornem capaz de participar plenamente da vida produtiva, social e política, assim como ter</p><p>domínio desses conhecimentos.</p><p>28</p><p>Unidade I</p><p>Muitos instrumentos legais foram implementados para a garantia desse direito. A decisão política</p><p>tomada foi colocar a escola como o local onde se deve olhar para avaliar a qualidade de ensino</p><p>desenvolvida, ou seja, a aprendizagem do aluno. Para isso, os conceitos de gestão escolar e Projeto</p><p>Político-Pedagógico, bem como os princípios da gestão na escola pública, da participação e da autonomia</p><p>são os que devem ser entendidos para que o processo ocorra a favor das classes populares.</p><p>O entendimento desses conceitos passa pela visão política adotada pelo Estado, e, em função disso,</p><p>exige a compreensão das prioridades nacionais elencadas e das políticas públicas educacionais em</p><p>concordância com um projeto de Estado brasileiro. Destacamos a importância do planejamento em</p><p>todas as áreas e setores da educação escolar.</p><p>Temos de retomar o que Barroso apontou como o mais importante: que a escola pública nunca seja</p><p>desvinculada de seu papel e de sua importância no seio da sociedade.</p><p>2.3 Trajetória histórica e redefinições do papel do Estado</p><p>2.3.1 A reestruturação produtiva, a delimitação do campo educacional, a função social</p><p>da escola e a lógica do mercado</p><p>Dourado (2001), Paro (2002) e Antunes (2000) apontam a influência da reestruturação produtiva na</p><p>educação escolar, principalmente ao discutir a função social da escola nos dias de hoje, em relação à</p><p>lógica do mercado.</p><p>Antunes (2000) analisa a sociedade contemporânea e suas transformações, que são discussões</p><p>presentes diariamente no nosso cotidiano. Sempre nos referimos à escola como instituição transformadora,</p><p>em função de seu papel na formação do cidadão, para a cidadania e a vida social e produtiva. Nesse</p><p>sentido, considerar o novo perfil de cidadão e profissional, o papel de mudanças e avanços tecnológicos,</p><p>da sociedade do conhecimento, da globalização e da mundialização da cultura que essa nova sociedade</p><p>requer significa compreender o neoliberalismo, a reestruturação produtiva, a globalização produtiva e a</p><p>era da acumulação flexível.</p><p>Soares (1997) cita Harvey [s.d.] para tratar das transformações da economia e aponta que:</p><p>As rachaduras nos espelhos refletores da economia são abundantes; com</p><p>grande rapidez bancos eliminam bilhões de dólares de dívidas incobráveis,</p><p>governos ficam inadimplentes, mercados internacionais de divisas se</p><p>mantêm numa perpétua confusão (HARVEY, [s.d.] apud SOARES, 1997).</p><p>O texto citado discute que a reestruturação pós-fordista se define por novas tecnologias, novos</p><p>métodos de gestão e, em função disso, novas maneiras de tratar da utilização da força de trabalho,</p><p>o que levou a novos modos de regulação estatal nomeados, pelo autor, de elementos que definem o</p><p>“modo de acumulação flexível de capitais” (HARVEY, [s.d.] apud SOARES, 1997). Podemos apontar como</p><p>integrantes dessa reestruturação os seguintes aspectos:</p><p>29</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>1) a globalização: produção, troca e circulação de mercadorias estão</p><p>globalizadas, caracterizando o escopo transnacional do capital;</p><p>2) a efemeridade: o turnover da produção e do consumo é extremamente</p><p>veloz; aceleração do tempo de giro na produção (produção flexível: pequenos</p><p>lotes, variedade de tipos de produto e sem estoques) e redução do tempo de</p><p>giro no consumo;</p><p>3) a dispersão: geográfica da produção, feita através de uma mudança na</p><p>estrutura ocupacional; do trabalho (com as novas modalidades de empregos:</p><p>temporários, de tempo parcial e a terceirização); do monopólio, num amplo</p><p>conjunto de produção desterritorializada (SOARES, 1997).</p><p>O texto comenta que globalização, efemeridade e dispersão são aspectos que estão presentes na</p><p>reorganização do sistema financeiro global. Esses elementos tornam essa reorganização uma esfera</p><p>autônoma, responsável pelos fluxos de capital e capaz de desvincular-se das antigas noções de tempo e</p><p>espaço. Suas características, naturalmente, fazem dessa reorganização, um sistema complexo e de difícil</p><p>compreensão para muitas pessoas (HARVEY, [s.d.] apud SOARES, 1997).</p><p>Soares (1997) define a economia pós-moderna como essas novas atividades materiais de produção e</p><p>consumo, como o novo sistema financeiro global, que não é mais uma economia de escala, como a fordista.</p><p>Em consequência, o Banco Mundial/FMI, chamado por ele de “Estado do capital mundial”, atua além da</p><p>autonomia do Estado-Nação. A sociedade capitalista pós-moderna, em que o poder da competição é decisivo</p><p>no sistema de mercado e a corporação transnacional é o tipo de organização produtiva mais atuante, tem na</p><p>informação operacional, que se constitui como bem mais procurado, a possibilidade de exercer a hegemonia.</p><p>Segundo Lévy (2010),</p><p>mais de dois terços dos dados atualmente armazenados no mundo</p><p>representam informações econômicas, comerciais ou financeiras com</p><p>características estratégicas, e o conhecimento das mesmas, devido às</p><p>novas tecnologias, se dá em tempo real, isto é, com a operação ainda em</p><p>andamento. Isto explica por que o fuso horário representa ganho para uns e</p><p>prejuízo para outros. (LÉVY, 2010, p. 59).</p><p>Dessa maneira, o rápido acesso à informação atualizada para a tomada de decisão é a maneira de ser das</p><p>novas corporações transnacionais e o que gera “os riscos e as crises globais (globalização) e a economia de</p><p>transitoriedade, cujo lema é: ‘compre-use-e-descarte’ produtos, pessoas, ideias (efemeridade); e exige de todos</p><p>uma flexibilidade fora do comum em termos de adaptação (dispersão)” (SOARES, 1997).</p><p>Assim, Antunes (2000), tendo como pano de fundo essas transformações,</p><p>afirma que:</p><p>A sociedade contemporânea, particularmente nas últimas décadas, presenciou</p><p>fortes transformações. O neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era</p><p>de acumulação flexível, dotados de forte caráter destrutivo, têm acarretado,</p><p>30</p><p>Unidade I</p><p>entre tantos aspectos nefastos, um monumental desemprego, uma enorme</p><p>precarização do trabalho e uma degradação crescente da relação metabólica entre</p><p>homem e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para</p><p>a produção de mercadorias, que destrói o meio ambiente em escala globalizante</p><p>(ANTUNES, 2000, p. 13).</p><p>O autor chama a atenção para a reestruturação produtiva que acarreta a transformação no trabalho,</p><p>pois algumas ocupações ou postos, devido às grandes transformações no conhecimento e à globalização</p><p>da economia, entraram em processo de extinção. Isso exige do trabalhador uma rápida formação</p><p>para o desempenho de novas tarefas, cargos e funções necessários ao mundo contemporâneo. Essas</p><p>transformações, de acordo com Antunes (2000), atingem ainda o meio ambiente, bem como as relações</p><p>dos homens entre si e com esse ambiente, obedecendo a uma lógica que até então não existia: a</p><p>lógica neoliberal, num modelo toyotista de produção. O autor acrescenta também que essa crise é uma</p><p>tendência mundial, atingindo até os países capitalistas centrais, provocando grande concorrência e</p><p>causando um processo destrutivo dos postos de trabalho, levando à exclusão, do mercado de trabalho,</p><p>de grande quantidade de trabalhadores, bem como à desestruturação da relação homem-trabalho.</p><p>Destaca-se, então, a importância da escola e do seu papel como garantia de aprendizagem e inserção</p><p>social dos alunos. É preciso ressignificar o papel da escola no mundo atual, a favor da conquista da</p><p>cidadania plena para todas as crianças e todos os jovens da educação básica, principalmente os oriundos</p><p>das classes populares. Isso porque a escola, cumprindo seu papel de instituição capaz de promover</p><p>transformação social, empreende uma caminhada rumo a uma sociedade mais democrática e inclusiva,</p><p>em que o cidadão possa se sentir sujeito coletivo e participativo na vida social, econômica e política do país.</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, pesquise os</p><p>seguintes autores:</p><p>ANTUNES, R. Trabalho e precarização numa ordem neoliberal. In:</p><p>GENTILI, P.; FRIGOTTO, G. (org.). A cidadania negada: políticas de exclusão</p><p>na educação e no trabalho. Buenos Aires: CLACSO/Asdi, 2000.</p><p>DOURADO, L. F.; PARO, V. H. (org.). Políticas públicas e Educação Básica.</p><p>São Paulo: Xamã, 2001.</p><p>DOURADO, L. F.; PARO, V. H. Políticas e gestão da educação básica no</p><p>Brasil: limites e perspectivas. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100,</p><p>p. 921-46, out. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/</p><p>a1428100. Acesso em: 24 set. 2013.</p><p>Em suas obras e artigos, esses autores aprofundam os estudos sobre a</p><p>escola e as transformações do mundo contemporâneo.</p><p>31</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Vamos tratar agora do conceito de planejamento e de seus diferentes usos, abrangências e</p><p>especificidades.</p><p>3 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO</p><p>3.1 Atitudes perante a legislação</p><p>Neste tópico vamos estudar a legislação educacional que mais interessa a nós, pedagogos. É difícil</p><p>delimitar o estudo da lei da educação brasileira atual, a Lei n. 9.394/96. Assim, apresentaremos a partir</p><p>de agora um manual que vai trazer a lei e, ao mesmo tempo, apontar os seus pontos principais, para</p><p>aqueles que estão iniciando os estudos. Para isso, alguns assuntos serão apresentados e, a partir destes,</p><p>vamos entender o sistema nacional de educação.</p><p>Lembrete</p><p>A Lei n. 9.394/96 é extremamente importante, pois é o documento legal</p><p>que orienta toda a área educacional no país, além de nossa atuação no</p><p>processo educativo.</p><p>Antes de iniciarmos a discussão da Lei n. 9.394/96 propriamente dita, vamos tratar do que significa</p><p>legislação. O que é lei? Como é escrita, como deve ser consultada, onde a encontramos?</p><p>Segundo Ferreira (1999, p. 1.196), legislação é “o conjunto de leis acerca de determinada matéria;</p><p>ciência das leis, a totalidade das leis de um Estado, ou de um determinado ramo do Direito”.</p><p>E o que é lei? Ainda segundo Ferreira (1999, p. 1.197), é a “regra de direito ditada pela autoridade</p><p>estatal e tornada obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento; norma ou</p><p>conjunto de normas elaboradas e votadas pelo Poder Legislativo”.</p><p>Em decorrência de suas funções e especificidades, a escrita das leis segue um mesmo</p><p>critério: artigos, alíneas, incisos e parágrafos. São exemplos de textos baseados nesses padrões</p><p>a Constituição Federal, as constituições estaduais, leis orgânicas, leis complementares e leis</p><p>ordinárias, que são conhecidas como decretos, resoluções, pareceres, deliberações, indicações</p><p>e regimentos. Quando o texto legal disserta sobre um único tema, não apresenta subdivisões;</p><p>porém, quando trata de vários aspectos de um tema geral, é subdividido em títulos, capítulos,</p><p>seções e subseções.</p><p>Conforme apontado, para a escrita das leis usamos artigos, incisos, parágrafos e alíneas, que são</p><p>descritos por Acquaviva (2000) da seguinte forma:</p><p>Artigo: elemento estrutural da lei que consiste em sua unidade básica.</p><p>[...]</p><p>32</p><p>Unidade I</p><p>Inciso: também denominado de item, é elemento estrutural da lei que divide</p><p>o artigo ou o parágrafo, atuando de forma a discriminar aquele, quando o</p><p>assunto não pode ser condensado nem constituir parágrafos.</p><p>[...]</p><p>Parágrafo: elemento natural da lei que consiste na imediata divisão de um</p><p>artigo, versando assunto complementar ao trecho em que figura, explicando</p><p>a disposição principal.</p><p>[...]</p><p>Alínea: elemento estrutural da lei, consistente numa das subdivisões do</p><p>artigo, assinalada por uma letra, destacada por intermédio de um parêntesis,</p><p>assim: a)... b)... (ACQUAVIVA, 2000, p. 156; 471; 627; 131).</p><p>Saiba mais</p><p>Você pode encontrar mais informações sobre leis no texto a seguir:</p><p>BITTENCOURT, P. O. S.; CLEMENTINO, J. C. Hierarquia das leis. Alumni, v. 2,</p><p>maio 2012. Disponível em: http://fgh.escoladenegocios.info/revistaalumni/</p><p>artigos/edEspecialMaio2012/Hierarquia_das_Leis.pdf. Acesso em: 24 set. 2013.</p><p>3.2 Hierarquia das leis</p><p>A Lei n. 9.394/96 teve como base para sua elaboração os princípios orientadores da Constituição</p><p>Federal de 1988, em primeiro lugar, e depois os do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. A partir</p><p>da Constituição Federal, cada estado e o Distrito Federal devem elaborar suas constituições estaduais,</p><p>e os municípios, suas leis orgânicas. Devem, a partir desses dispositivos legais, definir as regras que</p><p>orientarão seus respectivos sistemas de ensino, seguindo as leis e as orientações do Ministério da</p><p>Educação e do Conselho Nacional de Educação.</p><p>Podemos entender que há diferentes formas de buscar uma legislação. A maneira de encontrar o que</p><p>queremos é conhecer o tipo de legislação de que estamos tratando, qual a esfera do Poder Executivo</p><p>e, neste, qual a secretaria, o departamento. A lei é classificada de acordo com o responsável pela sua</p><p>elaboração (geralmente, os poderes federal, estadual ou municipal). Assim, os diplomas legais federais</p><p>são os mais abrangentes e prevalecem sobre os outros; os estaduais complementam os federais e tratam</p><p>da região estadual e suas necessidades; e os municipais complementam os estaduais na sua esfera de</p><p>atuação, explicitando como deve ser aplicada a legislação no município.</p><p>Assim, a hierarquia das leis emana do poder que as legisla. As esferas que as regulamentam usam</p><p>outras denominações e podem ser encontradas de acordo com o que estas indicam.</p><p>33</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>O Conselho Nacional de Educação, assim como os conselhos estaduais e municipais, para orientar o</p><p>entendimento e a ação na área educacional, usa os seguintes textos:</p><p>• Indicação: geralmente tem o objetivo de apontar maneiras e formas de agir e de entender</p><p>conceitos importantes para</p><p>a comunidade. Trata-se de um assunto proposto pela coletividade,</p><p>expressando dúvida e solicitando orientação e esclarecimentos.</p><p>• Parecer: tem o objetivo de expressar e fundamentar teoricamente posturas que vão esclarecer</p><p>procedimentos cotidianos. O parecer é um documento explicativo e teórico, que subsidia a</p><p>compreensão dos textos legais. É o documento que os conselhos nacionais, estaduais e municipais</p><p>de educação usam para responder e explicitar partes de documentos legais como a Lei n. 9.394/96</p><p>e que resultam em indicações ou resoluções.</p><p>• Deliberação: é um documento explicativo de um tema ou um assunto que tem o objetivo de</p><p>orientar a ação.</p><p>• Resolução: é a tomada de decisão para orientar e coordenar as ideias previstas na Lei n. 9.394/96</p><p>e em outras leis complementares.</p><p>O Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão colegiado do Ministério da Educação (MEC), os</p><p>conselhos estaduais de educação (CEEs), órgãos colegiados das secretarias estaduais da educação</p><p>(SEE), e os conselhos municipais de educação (SMEs), órgãos colegiados das secretarias municipais de</p><p>educação usam como instrumentos para a elaboração das orientações ditadas pela Constituição Federal</p><p>leis complementares como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei n. 9.394/96 (LDB), em</p><p>indicações, pareceres, deliberações e resoluções.</p><p>As secretarias de educação estaduais e municipais e seus órgãos administrativos usam como</p><p>instrumentos de orientação resoluções, portarias e comunicados.</p><p>Observação</p><p>A Portaria e o Comunicado apresentam a normatização do sistema de</p><p>ensino sobre o assunto tratado.</p><p>O Regimento é um documento legal interno que determina as atribuições</p><p>e competências dos integrantes da instituição e as relações desta com a</p><p>comunidade. Instituições de ensino e colegiados elaboram seus regimentos.</p><p>3.3 Princípios e objetivos da educação escolar</p><p>3.3.1 Constituição Federal de 1988</p><p>A Constituição Federal de 1988, chamada por Ulisses Guimarães de “Constituição cidadã”, em seu</p><p>terceiro capítulo, determina os princípios da educação, da cultura e do desporto. Nessa seção, do</p><p>34</p><p>Unidade I</p><p>artigo 205 ao 214, dispõe sobre os fins e princípios da educação nacional, prevendo a sua estrutura e o</p><p>seu funcionamento. Dos textos constitucionais brasileiros, o atual é o que tratou a educação no Brasil</p><p>de forma mais detalhada.</p><p>Podemos reagrupar os nove princípios educacionais citados na Constituição em:</p><p>• Condições de garantia da universalidade do ensino escolar: inciso I – igualdade de condições de</p><p>acesso e permanência na escola; e inciso VI – gratuidade do ensino público.</p><p>• Princípios da expressão da liberdade: inciso II – liberdade de pensamento e de sua expressão;</p><p>inciso III – pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas; inciso IV – respeito à liberdade e à</p><p>tolerância; e inciso V – espaço para a livre-iniciativa na oferta do ensino.</p><p>• Princípios relacionados ao conteúdo do ensino: inciso IX – garantia do padrão de qualidade; e</p><p>inciso X – valorização da experiência humana.</p><p>• Princípios relacionados com o mundo sociocultural: inciso XI – vinculação entre educação,</p><p>trabalho e práticas sociais.</p><p>• Princípio da democratização do poder: inciso VIII – gestão democrática do ensino público.</p><p>A LDBEN n. 9.394/96, seguindo os princípios constitucionais e explicitando-os, apresenta as diretrizes</p><p>e bases da educação nacional em nove títulos e 92 artigos. Apresentaremos a lei fazendo uma síntese</p><p>de seus artigos. Quanto ao assunto, a lei conceitua educação no artigo 1º. Já do artigo 2º ao 7º, dispõe</p><p>sobre os princípios e fins da educação escolar. Descreve, depois, a organização do ensino, nos artigos de</p><p>8º a 20, e aborda, nos artigos de 21 a 60, os níveis da educação básica, que são Educação Infantil, Ensino</p><p>Fundamental e Ensino Médio, além de especificar as modalidades do ensino básico (a saber: Educação</p><p>de Jovens e Adultos, Educação Profissional, Educação Especial e Ensino Superior). Nos artigos de 61 a 67,</p><p>trata das condições dos profissionais da educação; nos artigos de 68 a 77, determina a procedência e</p><p>os critérios de uso dos recursos financeiros destinados à educação; e, por fim, nos artigos de 78 a 92,</p><p>estabelece as disposições gerais e transitórias para a aplicação da lei.</p><p>Saiba mais</p><p>Para consultar a Constituição Federal de 1988, acesse:</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,</p><p>1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/</p><p>constituicaocompilado.htm. Acesso em: 23 out. 2013.</p><p>Note que no site é possível observar todas as alterações que o texto</p><p>sofreu desde sua produção.</p><p>35</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>3.3.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional</p><p>O estudo da LDBEN que vamos realizar passa pela leitura do texto legal e pela exposição dos</p><p>conceitos com o objetivo de deixar a lei clara e objetiva, evitando imprecisões. Também apresentaremos</p><p>as modificações da lei, desde sua homologação até a presente data. A ideia é que possamos acompanhar as</p><p>revisões e alterações a fim de observar que o texto da lei não é imutável e fixo, mas, em vez disso, é</p><p>contextualizado e tem a missão de atender, de forma integral, à educação escolar brasileira e ao ensino.</p><p>Leia este trecho:</p><p>Título I</p><p>Da Educação</p><p>Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem</p><p>na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de</p><p>ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil</p><p>e nas manifestações culturais.</p><p>§ 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,</p><p>predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.</p><p>§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática</p><p>social. (BRASIL, 1996).</p><p>O caput do artigo conceitua educação, que é entendida de forma ampla, como um conjunto de</p><p>processos formativos que se desenvolvem de diferentes maneiras e nas diversas instâncias da sociedade.</p><p>O parágrafo 1º explicita que educação escolar é aquela que ocorre por meio do ensino, em instituições</p><p>próprias. Isso significa que a LDB cuida somente da educação escolar. Os outros processos formativos,</p><p>que ocorrem em outras instâncias sociais, podem ser considerados educação, porém não educação escolar.</p><p>O parágrafo 2º complementa o conceito de educação escolar por meio da definição do princípio que</p><p>deve norteá-la: a vinculação ao mundo do trabalho e à prática social. Podemos entender, assim, como</p><p>o objetivo principal da educação escolar a preparação do aluno para o trabalho e para o convívio social.</p><p>A educação apresenta como novos mapas de referência para a escola e para o processo educativo a</p><p>prática social, o mundo do trabalho, movimentos sociais e manifestações culturais.</p><p>Título II</p><p>Dos Princípios e Fins da Educação Nacional</p><p>Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de</p><p>liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno</p><p>36</p><p>Unidade I</p><p>desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e</p><p>sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996).</p><p>A LDB reproduz de forma mais simplificada o que está no artigo 205 da Constituição Federal de 1988,</p><p>pois não cita que a educação deverá ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, como</p><p>consta na Lei Maior. Podemos afirmar que o Título II da LDB é um dos mais importantes, ao explicitar de</p><p>forma clara os princípios e finalidades da educação brasileira.</p><p>Devemos entender que a educação é um direito de todos e que é dever da família e do Estado</p><p>proporcionar as condições para que esse direito seja usufruído. O Estado, representado pelo governo da</p><p>esfera federal, estadual ou municipal, deve garantir as vagas nas escolas públicas aos alunos. Aos pais</p><p>cabe o dever de matricular seus filhos na escola, e ao aluno cabe o direito de estudar. Nesse sentido,</p><p>dever e direito são conceitos-chave.</p><p>O preparo para o exercício da cidadania está vinculado à qualificação para o trabalho, assim</p><p>como</p><p>a prática social está vinculada ao mundo do trabalho, e ambos constituem os principais elementos da</p><p>concepção de Educação.</p><p>O Título II da LDB, apesar de conter apenas dois artigos, pode ser considerado um dos mais</p><p>importantes, pois expressa de maneira clara os princípios que devem nortear a educação brasileira e</p><p>suas finalidades.</p><p>Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:</p><p>I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;</p><p>II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o</p><p>pensamento, a arte e o saber;</p><p>III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;</p><p>IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;</p><p>V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;</p><p>VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;</p><p>VII – valorização do profissional da educação escolar;</p><p>VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da</p><p>legislação dos sistemas de ensino;</p><p>IX – garantia de padrão de qualidade;</p><p>37</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>X – valorização da experiência extraescolar;</p><p>XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais;</p><p>XII – consideração com a diversidade étnico-racial;</p><p>XIII – garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida</p><p>(Incluído pela Lei n. 13.632, de 2018) (BRASIL, 1996).</p><p>O artigo 3º repete o que está disposto no art. 206 da Constituição e o amplia, apresentando doze</p><p>incisos. Estes são os princípios que explicitam as ideias, os conceitos e as concepções que regem a</p><p>educação brasileira.</p><p>O inciso I repete o inciso I do artigo 206 da Constituição e diz respeito à igualdade de condições para</p><p>acesso e permanência na escola, o que significa criar possibilidade de acesso à escola para os cidadãos,</p><p>por meio de ofertas de vagas nas escolas públicas. A permanência com sucesso na escola torna-se</p><p>tão importante quanto o próprio acesso, e ambos conjugados significam a qualidade de ensino que o</p><p>cidadão deve ter para usufruir integralmente o direito à educação.</p><p>O inciso II repete o inciso II do artigo 206. A colocação desse princípio reflete a coerência do conceito</p><p>de educação para a construção do cidadão com o de uma sociedade democrática: liberdade de aprender,</p><p>ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.</p><p>O inciso III está integrado ao inciso V, e ambos estão contidos no inciso III do artigo 206 da</p><p>Constituição Federal: pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições</p><p>públicas e privadas de ensino, que também fazem parte de uma concepção de educação democrática.</p><p>Isso significa que as instituições privadas de ensino oferecem-no como uma garantia constitucional.</p><p>O inciso IV, respeito à liberdade e apreço à tolerância, revela quais são os valores humanos que</p><p>devem reger o ensino e que são fundamentais à educação e não estão contemplados no artigo 206.</p><p>A LDB n. 9.394/96, lei complementar, pode e deve ampliar as ideias e concepções presentes na</p><p>Constituição, sem que isso signifique ilegalidade ou inconstitucionalidade.</p><p>O inciso VI repete o inciso IV do artigo 206 da Constituição, indicando a gratuidade do ensino</p><p>público em estabelecimentos oficiais como um princípio, e não questão obrigatória – o que não garante</p><p>que todos os níveis de ensino das escolas públicas não sejam privatizados.</p><p>O inciso VII repete, com menor abrangência, o inciso V do artigo 206 da Constituição Federal, falando</p><p>sobre a valorização do profissional da educação escolar – mas significa a exclusão dos trabalhadores não</p><p>docentes da categoria de profissionais da educação.</p><p>38</p><p>Unidade I</p><p>O inciso VIII, gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas</p><p>de ensino, repete o inciso VI do artigo 206 da Carta Magna e é o princípio mais importante para os que</p><p>defendem a educação pública democrática, gratuita e laica.</p><p>O inciso IX está presente no inciso VII do artigo 206, falando sobre a garantia de padrão de qualidade,</p><p>embora não esclareça o que exatamente significa esse padrão.</p><p>O inciso X não aparece na Constituição Federal. Ele trata do reconhecimento à importância das</p><p>diferentes propostas pedagógicas existentes no princípio da valorização da experiência extraescolar. É</p><p>importante reconhecer o papel dos conteúdos sistematizados trabalhados pela escola.</p><p>O inciso XI reforça a ideia já presente no art. 2º como concepção de educação. Apresenta também</p><p>como princípio norteador da educação e do ensino brasileiro preparar o aluno para o trabalho e para a</p><p>convivência em sociedade.</p><p>O inciso XII acrescenta o princípio da diversidade étnico-racial.</p><p>O inciso XIII garante o ensino e a aprendizagem ao longo da vida do sujeito.</p><p>Dando continuidade à leitura da Lei n. 9.394/96, observemos o artigo 4º, que apresenta muitas</p><p>modificações (algumas promovidas pela Lei n. 12.796, de 2013, e pela Lei n. 11.700, de 2008).</p><p>Título III</p><p>Do Direito à Educação e do Dever de Educar</p><p>Art. 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado</p><p>mediante a garantia de:</p><p>I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)</p><p>anos de idade, organizada da seguinte forma:</p><p>a) pré-escola;</p><p>b) Ensino Fundamental;</p><p>c) Ensino Médio;</p><p>II – Educação Infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;</p><p>III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com</p><p>deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades</p><p>ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,</p><p>preferencialmente na rede regular de ensino;</p><p>39</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>IV – acesso público e gratuito aos Ensinos Fundamental e Médio para todos</p><p>os que não os concluíram na idade própria;</p><p>V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação</p><p>artística, segundo a capacidade de cada um;</p><p>VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;</p><p>VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com</p><p>características e modalidades adequadas às suas necessidades e</p><p>disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições</p><p>de acesso e permanência na escola;</p><p>VIII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por</p><p>meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,</p><p>alimentação e assistência à saúde;</p><p>IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a</p><p>variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao</p><p>desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem;</p><p>X – vaga na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental</p><p>mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que</p><p>completar 4 (quatro) anos de idade (BRASIL, 1996).</p><p>Este artigo da LDB determina quais são os deveres do Estado na oferta da educação escolar pública.</p><p>Sete de seus incisos estão apresentados no art. 208 da Constituição Federal e seus três parágrafos finais</p><p>estão contemplados em outras partes da Lei n. 9.394/96.</p><p>Os deveres apresentados são as obrigações que devem ser cumpridas, que estão previstas nos seus</p><p>incisos e representam as garantias mínimas a serem respeitadas na oferta da educação escolar pública.</p><p>O inciso I dispõe que o Estado deve oferecer a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos</p><p>de idade, organizada da seguinte forma:</p><p>• Pré-escola – 2º nível da Educação Infantil;</p><p>• Ensino Fundamental;</p><p>• Ensino Médio.</p><p>O inciso II apresenta a oferta da pré-escola, 2º nível da Educação Infantil obrigatória e da creche</p><p>gratuita às crianças de até cinco anos de idade.</p><p>40</p><p>Unidade I</p><p>O inciso III trata do atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência,</p><p>transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades (ou superdotação), transversal a todos os</p><p>níveis, etapas e modalidades, preferencialmente, na rede regular de ensino.</p><p>O inciso IV fala do atendimento aos jovens e adultos, do acesso público e gratuito aos</p><p>Ensinos</p><p>Fundamental e Médio para todos os que não concluíram os estudos na idade esperada.</p><p>O inciso V, assim como o inciso V do artigo 208 da Constituição Federal, contempla o direito de todas</p><p>as pessoas ao acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, mas limita</p><p>esse direito, quando acrescenta que o acesso se dará “segundo a capacidade de cada um” (BRASIL, 1996).</p><p>O inciso VI coincide com o inciso VI do artigo 208 e dispõe sobre o dever do Poder Público quanto</p><p>à “oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do aluno” (BRASIL, 1996). O problema está</p><p>no entendimento desse princípio, que pode significar um ensino com menos conteúdo que o diurno.</p><p>O inciso VII da LDB não está escrito na Constituição Federal. O cuidado no entendimento desse</p><p>princípio é o da não discriminação da Educação de Jovens e Adultos na forma de ensinar ou na redução</p><p>do conteúdo a ser ensinado.</p><p>O inciso VIII retrata o inciso VII do artigo 208 da Constituição, que cuida das condições objetivas</p><p>da permanência dos alunos na escola quando as condições socioeconômicas são adversas em todas</p><p>as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar,</p><p>transporte, alimentação e assistência à saúde.</p><p>O inciso IX, que não está contemplado na Constituição, disserta sobre padrões mínimos de qualidade</p><p>de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis</p><p>ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Apesar de defender a qualidade de ensino,</p><p>não define objetivamente quais são os critérios para que sejam elencados os padrões mínimos de</p><p>qualidade que, nesse sentido, podem incluir tudo.</p><p>O inciso X apresenta a determinação de disponibilidade da vaga na escola pública de Educação</p><p>Infantil ou de Ensino Fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que</p><p>completar quatro anos de idade.</p><p>O artigo 5º já foi muito alterado e atualmente – com modificações promovidas pela Lei n. 12.796, de</p><p>2013 – determina que:</p><p>Art. 5º. O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo,</p><p>podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária,</p><p>organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e,</p><p>ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo.</p><p>§ 1º O Poder Público, na esfera de sua competência federativa, deverá:</p><p>41</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>I – recensear anualmente as crianças e adolescentes em idade escolar, bem</p><p>como os jovens e adultos que não concluíram a educação básica;</p><p>II – fazer-lhes a chamada pública;</p><p>III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.</p><p>§ 2º. Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em</p><p>primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos deste artigo,</p><p>contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino,</p><p>conforme as prioridades constitucionais e legais.</p><p>§ 3º. Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem</p><p>legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do § 2º do</p><p>art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação</p><p>judicial correspondente.</p><p>§ 4º. Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o</p><p>oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime</p><p>de responsabilidade.</p><p>§ 5º. Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder</p><p>Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino,</p><p>independentemente da escolarização anterior (BRASIL, 1996).</p><p>O parágrafo 1º do artigo 208 da Constituição Federal está explicitado no caput do artigo 5º da LDB,</p><p>explicando de forma mais abrangente o que é “direito público subjetivo”. Trata-se do fato de que está</p><p>capacitado a exigir vaga para o acesso à educação básica, para toda e qualquer criança ou adolescente</p><p>que esteja fora da escola, “[...] qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização</p><p>sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público” (BRASIL, 1996).</p><p>Isso significa que não é necessário ter vínculo com a criança ou o adolescente para solicitar uma vaga na escola.</p><p>O parágrafo 1º do artigo 5º da LDB define, em três incisos, as medidas que devem ser tomadas para</p><p>que o direito de acesso à educação básica obrigatória seja garantido, bem como as competências dos</p><p>estados e municípios, em regime de colaboração e contando com a ajuda da União.</p><p>O inciso I trata de uma das medidas que devem ser tomadas pelo Poder Público, que é o recenseamento,</p><p>em sua região, tanto da população em idade escolar quanto daquela que, embora fora da idade, não</p><p>tenha frequentado a educação básica.</p><p>O inciso II fala de outra medida que é dever do Poder Público: a chamada da população para</p><p>a matrícula. Já o inciso III estabelece que é dever do Poder Público fazer os pais e responsáveis se</p><p>encarregarem da frequência do aluno à escola.</p><p>42</p><p>Unidade I</p><p>Esses três incisos estão agrupados no parágrafo 3º do artigo 208 da Constituição Federal.</p><p>O parágrafo 2º do artigo 5º regulamenta a importância de o Poder Público assegurar, em primeiro</p><p>lugar, o acesso ao ensino obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando, além disso, os demais</p><p>níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais.</p><p>O parágrafo 3º dispõe que qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade</p><p>para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do parágrafo 2º do artigo 208 da Constituição Federal,</p><p>estabelecendo ainda que é gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.</p><p>O parágrafo 4º reafirma a possibilidade de processar a autoridade competente, mas isso só poderá</p><p>ocorrer se houver a comprovação da negligência do Poder Público.</p><p>O parágrafo 5º abre novas possibilidades para que o Poder Público ofereça acesso aos diferentes</p><p>níveis de ensino, como forma de abrir novas possibilidades de atendimento. Um exemplo prático dessas</p><p>possibilidades é a Educação de Jovens e Adultos a distância.</p><p>Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação</p><p>O artigo 5º da Lei n. 9.394/96 traz o conceito de direito público subjetivo como um direito à educação O artigo 5º da Lei n. 9.394/96 traz o conceito de direito público subjetivo como um direito à educação</p><p>irrevogável para o cidadão brasileiro. Para compreender melhor, verifique na sua cidade como as escolas irrevogável para o cidadão brasileiro. Para compreender melhor, verifique na sua cidade como as escolas</p><p>oferecem o ensino obrigatório, que é direito público subjetivo.oferecem o ensino obrigatório, que é direito público subjetivo.</p><p>Dando prosseguimento à análise da lei, observemos o artigo 6º, que também sofreu alterações e</p><p>atualmente apresenta a seguinte redação – com modificações promovidas pela Lei n. 12.796, de 2013:</p><p>“É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos</p><p>4 (quatro) anos de idade” (BRASIL, 1996).</p><p>Esse artigo complementa o artigo 5º, estabelecendo como dever dos pais ou responsáveis efetuar a</p><p>matrícula das crianças na educação básica, já a partir dos quatro anos de idade.</p><p>Art. 7º. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:</p><p>I – cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo</p><p>sistema de ensino;</p><p>II – autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder</p><p>Público;</p><p>III – capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da</p><p>Constituição Federal (BRASIL, 1996).</p><p>O parágrafo 1º do artigo 213 da Constituição Federal abre a possibilidade da destinação de recursos</p><p>públicos às instituições privadas de ensino fundamental em duas situações: não ser possível haver</p><p>43</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>oferecimento pela escola pública devido à inexistência ou falta de vagas na região onde o aluno mora</p><p>ou o aluno demonstrar falta de recursos.</p><p>É importante lembrar aqui que a questão da destinação</p><p>de verbas públicas da educação para as</p><p>instituições privadas de ensino sempre esteve presente nas Constituições brasileiras – em 1934, 1946,</p><p>na elaboração da primeira LDB brasileira, na LDB n. 4.024/61 e na atual Constituição Federal.</p><p>As outras situações discutidas no artigo 213 da Constituição Federal serão retomadas no artigo 77 da LDB.</p><p>4 SINOPSES ESTATÍSTICAS DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Apresentaremos a seguir os dados educacionais brasileiros levantados pelo Instituto de Estudos e</p><p>Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), coletados pelo Censo Escolar, na educação básica brasileira.</p><p>4.1 Número de matrículas na educação básica por dependência</p><p>administrativa – 2007-2013</p><p>A tabela a seguir apresenta o número de alunos matriculados na educação básica brasileira, de 2007</p><p>a 2012, por dependência administrativa, abrangendo matrículas realizadas pelo Poder Público e pela</p><p>iniciativa privada.</p><p>Tabela 1 - Número de matrículas na educação básica por</p><p>dependência administrativa: Brasil – 2007-2013</p><p>Ano Total geral Total pública Federal Estadual Municipal Total privada</p><p>2007 53.028.928 46.643.406 185.095 21.927.300 24.531.011 6.385.522</p><p>2008 53.232.868 46.131.825 197.532 21.433.441 24.500.852 7.101.043</p><p>2009 52.580.452 45.270.710 217.738 20.737.663 24.315.309 7.309.742</p><p>2010 51.549.889 43.989.507 235.108 20.031.988 23.722.411 7.560.382</p><p>2011 50.972.619 43.053.942 257.052 19.483.910 23.312.980 7.918.677</p><p>2012 50.545.050 42.222.831 276.436 18.721.916 23.224.479 8.322.219</p><p>2013 50.042.448 41.432.416 290.796 17.926.568 23.215.052 8.610.032</p><p>Nota: A tabela não inclui matrículas em turmas de atendimento complementar e Atendimento Educacional Especializado (AEE).</p><p>Fonte: Inep (2013, p. 15).</p><p>A partir de 2007, é realizado o Censo Escolar da Educação Básica, que, segundo o Inep (2013),</p><p>é uma pesquisa declaratória realizada anualmente pelo Instituto Nacional</p><p>de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), sendo obrigatório</p><p>aos estabelecimentos públicos e privados de educação básica, conforme</p><p>determina o artigo 4º do Decreto n. 6.425/2008 (INEP, 2013, p. 7).</p><p>44</p><p>Unidade I</p><p>O fato de estabelecer uma data anual para a coleta dos dados permite “a comparabilidade estatística</p><p>dos dados no mesmo ano e em anos diferentes” (INEP, 2013, p. 7). O Censo Escolar é considerado o</p><p>mais abrangente e relevante levantamento estatístico da educação básica no país. O Ministério da</p><p>Educação usa os dados para a formulação de políticas públicas para a educação básica brasileira,</p><p>como programas, planos e ações, assim como para a definição de critérios para a atuação supletiva do</p><p>MEC. O censo é utilizado também para “o cálculo de indicadores como o Índice de Desenvolvimento</p><p>da educação básica (Ideb), que serve de referência para as metas do Plano de Desenvolvimento da</p><p>Educação (PDE)” (INEP, 2013, p. 7).</p><p>Podemos observar que a Tabela 1 apresenta uma tendência de acomodação nos números coletados,</p><p>em função da nova metodologia adotada pela criação do Censo Escolar, de 2007 a 2012.</p><p>Para o Inep (2013, p. 12), os especialistas chamam os dados apresentados de “movimento de fluxo</p><p>escolar”. Do ponto de vista da história, o sistema educacional brasileiro apresentou, por um período</p><p>longo, grandes taxas de reprovação. Isso provocou a defasagem idade/série. Assim, a análise dos dados</p><p>obtidos deve sempre levar em conta essa realidade da educação escolar brasileira.</p><p>A Tabela 1 apresenta os dados do atendimento do sistema escolar brasileiro na educação</p><p>básica, no período de 2007 a 2012, mostrando a tendência proposta pela Lei n. 9.394/96. Assim,</p><p>a municipalização do ensino, que deve responsabilizar-se pela Educação Infantil e pelo Ensino</p><p>Fundamental, está presente, com a oferta do maior número de vagas. A oferta de matrículas pelos</p><p>estados, que deve responsabilizar-se pelo Ensino Médio, é a segunda maior – perde apenas para</p><p>as vagas criadas pelos municípios. Quanto à oferta de Ensino Fundamental, esta deve acontecer</p><p>em regime de colaboração entre estado e município. O atendimento oferecido pela federação,</p><p>que deve ter ação supletiva em relação aos outros sistemas de ensino, é o que ocorre em menor</p><p>incidência na rede pública, como está previsto na legislação educacional. Contudo, é importante</p><p>notar que este é menor até mesmo que o atendimento feito pela rede privada de ensino, a qual</p><p>representa um acréscimo significativo no atendimento de 2007 a 2012.</p><p>No site do Programa Todos pela Educação encontramos os dados do atendimento à educação básica</p><p>brasileira, assim como informações complementares que podem nos dar a visão real do desempenho</p><p>do sistema nacional de educação em 2011. O Brasil apresentou, em 2010, uma população total de</p><p>190.755.799 pessoas, com uma renda média de R$ 668,00. Dessa população, 45.364.276 pessoas</p><p>estavam em idade escolar. A taxa de analfabetismo na faixa de 10 a 14 anos era de 1,9% e na faixa que</p><p>tinha 15 ou mais anos era de 8,6%.</p><p>Observação</p><p>Todos Pela Educação, fundado em 2006, é um movimento da sociedade</p><p>civil brasileira que tem a missão de contribuir para que, até 2022, ano do</p><p>bicentenário da Independência do Brasil, o país assegure a todas as crianças</p><p>e todos os jovens o direito à educação básica de qualidade.</p><p>45</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Em junho de 2013, a Agência Brasil lançou a notícia de que, no país, “3,6 milhões de crianças e jovens</p><p>entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A maioria (2 milhões) tem entre 15 e 17 anos e deveria estar cursando</p><p>o Ensino Médio” (TOKARNIA, 2013). Dados levantados em 2011 apresentaram a informação de que 92%</p><p>das crianças e adolescentes dessa faixa etária estavam na escola. A notícia foi publicada no site Todos pela</p><p>Educação, num relatório que apresenta dados dos diferentes estados brasileiros e diz que, numa análise global,</p><p>houve uma melhora no atendimento; porém, como podemos concluir, ainda é insuficiente.</p><p>Há grande disparidade de atendimento em todo o território nacional. Amazonas e Rondônia,</p><p>com índices pouco acima dos 70% em 2000, conseguiram espaço em uma</p><p>década e tiveram as maiores taxas de crescimento de matrículas. Em 2011,</p><p>o Acre apresentou 88,9% dos jovens e crianças matriculados, o Amazonas,</p><p>88,7% e Rondônia, 86,3% (TOKARNIA, 2013).</p><p>O Estado do Amapá, em termos percentuais, apresentou “os maiores índices de pessoas nessa faixa</p><p>etária fora da escola: de 11% a 13% da população de 4 a 17 anos” (TOKARNIA, 2013).</p><p>Em São Paulo, considerado o estado mais rico da federação, “é onde existe o maior número de jovens</p><p>e crianças fora das salas de aula: 575 mil alunos, o que corresponde a 6,6%” (TOKARNIA, 2013). O estado</p><p>de Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 367 mil alunos (8,3%).</p><p>O relatório De Olho nas Metas, que divulga esses dados, apresenta também a situação que sempre</p><p>devemos observar para entender o fenômeno com mais clareza, ou seja, a entrada das crianças na</p><p>Educação Infantil e a saída dos jovens do Ensino Médio, numa análise do fluxo escolar do período.</p><p>Aponta que houve um crescimento na oferta de vagas no Ensino Fundamental, em resposta à definição</p><p>desse nível de ensino como obrigatório na Lei n. 9.394/96 e ao pouco avanço na Educação Infantil e</p><p>no Ensino Médio. Tendo em vista essa situação, essa lei foi alterada, como estudaremos a seguir.</p><p>Analisando a matrícula, na Educação Infantil, “a cada cinco crianças brasileiras entre 4 e 5 anos de</p><p>idade, uma não encontra vaga. O país precisaria criar 1.050.560 vagas para atender a todas as crianças</p><p>nessa faixa etária” (TOKARNIA, 2013).</p><p>Tokarnia (2013) afirma que, segundo a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz:</p><p>A Educação Infantil passará a ser obrigatória a partir de 2016 e será o desafio</p><p>dos próximos gestores municipais. Os dados não chegam a ser alarmantes,</p><p>mas são preocupantes, existe 1 milhão de crianças para ser incluído no</p><p>sistema de ensino em quatro anos (TOKARNIA, 2013).</p><p>Além disso, a notícia relata que:</p><p>No Ensino Médio, a taxa de evasão de 2010 foi 10,3%, maior que as dos</p><p>anos</p><p>iniciais (1,8%) e finais (4,7%) do Ensino Fundamental. De acordo com dados</p><p>do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) citados no relatório,</p><p>46</p><p>Unidade I</p><p>40,3% dos jovens evadidos deixam o sistema alegando falta de interesse. O</p><p>mesmo estudo mostra que parte considerável dos jovens entre 15 e 17 anos</p><p>ainda não chegou ao Ensino Médio: 31,6% estão no Ensino Fundamental</p><p>(TOKARNIA, 2013).</p><p>Como vimos, o Censo Escolar da Educação Básica é uma pesquisa realizada anualmente pelo Instituto</p><p>Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em articulação com as Secretarias</p><p>Estaduais e Municipais de Educação, sendo obrigatório aos estabelecimentos públicos e privados de</p><p>educação básica, conforme determina o art. 4º do Decreto n. 6.425/2008. As notas estatísticas têm por</p><p>objetivo ser um instrumento inicial de divulgação com destaques relativos às informações de alunos</p><p>(matrículas), docentes e escolas coletadas no Censo Escolar da Educação Básica 2018. Para ampliar o</p><p>potencial de análise, o Instituto também disponibiliza os microdados da pesquisa, a sinopse estatística e</p><p>um resumo técnico com resultados mais detalhados.</p><p>4.2 Número de matrículas na educação básica por dependência</p><p>administrativa – 2014-2018</p><p>Tabela 2 – Número de matrículas na Educação Básica por</p><p>dependência administrativa: Brasil – 2014-2018</p><p>Ano Total geral Total pública Federal Estadual Municipal Total privada</p><p>2014 49.771.371 40.680.590 296.745 17.294.357 23.089.488 9.090.781</p><p>2015 48.796.512 39.738.780 376.230 16.548.708 22.813.842 9.057.732</p><p>2016 48.817.479 39.834.378 392.565 16.595.631 22.846.182 8.983.101</p><p>2017 48.608.093 39.721.032 396.482 16.222.814 23.101.736 8.887.061</p><p>2018 48.455.867 39.460.618 411.078 15.946.416 23.103.124 8.995.249</p><p>Nota: A tabela não inclui matrículas em turmas de atendimento complementar e Atendimento Educacional</p><p>Especializado (AEE).</p><p>Fonte: Inep (2019, p. 7)</p><p>As tabelas anteriores apresentam dados de 2007 a 2018 e estabelecem um comparativo: no ano de</p><p>2018, foram registradas 48,5 milhões de matrículas nas 181,9 mil escolas de educação básica brasileiras,</p><p>1,3 milhão a menos em comparação com o ano de 2014, o que corresponde a uma redução de 2,6% no</p><p>total de matrículas.</p><p>De 2007 – início do Censo Escolar (total de matrículas = 53.028.928) – para 2018 (total</p><p>de matrículas = 48.455.867), a redução do número de matrículas na Educação Básica é de,</p><p>aproximadamente, 5 milhões.</p><p>47</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Lembrete</p><p>Todos Pela Educação é um movimento que atua como produtor de</p><p>conhecimento, fomentador e mobilizador. Seu objetivo é propiciar as condições</p><p>de acesso, de alfabetização e de sucesso escolar, a ampliação de recursos</p><p>investidos na educação básica e a melhora da gestão desses recursos.</p><p>Saiba mais</p><p>Nos sites do IBGE do Inep e do MEC você poderá encontrar mais</p><p>informações sobre dados educacionais brasileiros por região, estado e</p><p>município, dados demográficos sobre a constituição das famílias no Brasil</p><p>e, ainda, informações sobre natalidade, emprego etc.</p><p>Acesse:</p><p>http://www.ibge.gov.br/</p><p>http://www.inep.gov.br/</p><p>http://www.mec.gov.br/</p><p>Resumo</p><p>Nesta unidade, tratamos da política educacional no Brasil, das</p><p>tendências contemporâneas, da trajetória histórica e das redefinições do</p><p>papel do Estado. Discutimos as concepções de Estado, governo, nação e</p><p>políticas públicas: as políticas sociais e a política educacional. O papel do</p><p>planejamento foi estudado como instrumento que viabiliza a implantação</p><p>e a implementação das políticas públicas educacionais, de tal forma que</p><p>permita visualizar o processo de desenvolvimento e aprimoramento da</p><p>educação escolar, possibilitando a sua avaliação. A crise do Estado de bem-</p><p>estar social e as redefinições do papel do Estado, assim como as políticas</p><p>internacionais e os reajustes do mundo capitalista influenciam e modificam</p><p>o papel da educação escolar na formação do cidadão, que deve estar voltado</p><p>para a cidadania, para a vida produtiva e para as práticas sociais. Os planos</p><p>e políticas públicas de educação e a trajetória histórica apontam para a</p><p>importância de políticas públicas sociais afirmativas, incluindo a educação.</p><p>A Lei n. 9.394/96 (LDB), no contexto das políticas públicas, traz o conceito</p><p>de Educação Básica no Brasil. A reestruturação produtiva, a delimitação do</p><p>campo educacional, a função social da escola e a lógica do mercado levam</p><p>à discussão sobre a qualidade social da educação escola.</p><p>48</p><p>Unidade I</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Leia o texto.</p><p>Brasil avança, mas 4 em 10 alunos ainda não sabem o básico</p><p>Exame mede desempenho de jovens de 15 anos em Leitura, Matemática e Ciência; País ainda está</p><p>entre últimos do ranking</p><p>A nota dos estudantes brasileiros de 15 anos teve uma leve melhora na maior avaliação de educação</p><p>básica do mundo, o Pisa. No entanto, 4 em cada 10 adolescentes não conseguem identificar a ideia</p><p>principal de um texto, ler gráficos, resolver problemas com números inteiros, entender um experimento</p><p>científico simples.</p><p>Apesar de já ter tido posições piores, o País também se mantém entre as últimas colocações do</p><p>ranking internacional nas três áreas avaliadas, Leitura, Matemática e Ciência. E ainda é uma das nações</p><p>com maior diferença de desempenho entre estudantes ricos e pobres.</p><p>Os resultados do Pisa foram divulgados nesta terça (3) pela Organização para a Cooperação e</p><p>Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Paris. Participaram da prova, realizada no ano passado, 600 mil</p><p>estudantes em 79 países. O exame é feito desde 2000, de três em três anos, com nações membros da</p><p>OCDE e convidados, como é o caso do Brasil. A China, representada pelas províncias de Pequim, Shangai,</p><p>Jiangsu e Zhejiang, ficou em primeiro lugar dos rankings mundiais das três áreas.</p><p>A nota média do Brasil em Leitura subiu de 407 para 413 pontos, entre 2015 e 2018, a mais alta já</p><p>registrada no Pisa pelo Brasil. Apesar do avanço em relação à última edição não ser estatisticamente</p><p>significativo, a tendência de aumento desde 2000 é considerada relevante pela OCDE.</p><p>Além disso, a amostra de alunos do Brasil cresceu muito nos últimos anos, o que, em geral, tenderia</p><p>a baixar a nota do País. Isso porque o Brasil tem aumentado nos últimos anos o índice de jovens de 15</p><p>anos na escola - idade em que o adolescente deve ingressar no ensino médio. A inclusão leva jovens de</p><p>baixa renda a frequentarem a escola.</p><p>O relatório do Pisa destaca, logo nas primeiras páginas, o Brasil como um dos seis países em que</p><p>“a qualidade da educação não foi sacrificada quando se aumentou o acesso à escola”. Os outros são</p><p>México, Albânia, Indonésia, Turquia e Uruguai.</p><p>“Um aumento na inclusão tende a mascarar eventuais melhoras no desempenho dos alunos, já que</p><p>é possível assumir que os jovens que não estavam no sistema escolar nas edições passadas teriam um</p><p>desempenho relativamente baixo”, disse ao Estado a analista de educação da OCDE Camila de Moraes,</p><p>que é brasileira. “Em países onde a inclusão aumentou, a manutenção dos resultados em um mesmo</p><p>patamar pode ser em si um fato positivo.”</p><p>49</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Além disso, ao comparar os 25% dos jovens de melhor desempenho no Brasil, o relatório mostra um</p><p>aumento de 10 pontos a cada três anos, entre 2003 e 2018, em Matemática. Em Ciência, são oito pontos</p><p>a cada três anos. Ou seja, se não houvesse inclusão, a nota geral do Brasil poderia estar maior.</p><p>Só 2% dos jovens brasileiros conseguem distinguir fato de opinião</p><p>A leitura foi o foco desta edição do Pisa, o que quer dizer que os resultados dessa área são mais</p><p>detalhados. Além de cobrar interpretação e compreensão de texto, a prova incluiu competências</p><p>necessárias para “construir conhecimento, pensamento crítico e tomar decisões bem embasadas”,</p><p>como explicou o relatório da OCDE. “O smartphone transformou a maneira como as pessoas leem e a</p><p>digitalização levou ao surgimento de novas formas de textos”, explicou o documento.</p><p>Os resultados mostram que só 10% dos jovens no mundo</p><p>conseguem distinguir fato de opinião,</p><p>habilidade considerada complexa pelo Pisa. No Brasil, esse grupo representa 2% e não inclui jovens de</p><p>baixa renda.</p><p>Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/brasil-avanca-mas-4-em-10-alunos-</p><p>ainda-nao-sabem-o-basico,fa147fc71cd8e1244a6632b1d872658cg574hjho.html. Acesso em 20 jan. 2020.</p><p>Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas.</p><p>I – O Pisa é um exame internacional que avalia a educação básica em vários países, e a OCDE</p><p>mostra-se contrária à inclusão de estudantes de baixa renda, pois isso faz cair os índices.</p><p>II – Mesmo apresentando leve melhora nos resultados, o Brasil teve desempenho ruim na avaliação</p><p>de 2018.</p><p>III – A dificuldade de distinguir fato de opinião está presente em 98% dos jovens brasileiros e atinge</p><p>especialmente os de baixa renda.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>A) I, II e III.</p><p>B) I e II, apenas.</p><p>C) II e III, apenas.</p><p>D) I e III, apenas.</p><p>E) I, apenas.</p><p>Resposta correta: alternativa C.</p><p>50</p><p>Unidade I</p><p>Análise da questão</p><p>A nota média do Brasil no Pisa (exame que avalia a educação básica de diversos países) subiu de 407</p><p>para 413, resultado que coloca o país entre os mais mal avaliados. Revelou-se, ainda, que apenas 2% dos</p><p>jovens sabem distinguir fato de opinião e esse grupo não inclui jovens de baixa renda. A OCDE não é contra</p><p>a inclusão: o texto afirma apenas que, com a inclusão de mais alunos, a tendência da média seria cair.</p><p>Questão 2. Leia o trecho do sociólogo contemporâneo Zygmunt Bauman, extraído do livro Amor</p><p>líquido, e os quadrinhos do cartunista Quino.</p><p>“A vida consumista favorece a leveza e a velocidade. E também a novidade e a variedade que elas promovem</p><p>e facilitam. É a rotatividade, não o volume de compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens.</p><p>Em geral, a capacidade de utilização de um bem sobrevive à sua utilidade para o consumidor. Mas,</p><p>usada repetidamente, a mercadoria adquirida impede a busca por variedade, e a cada uso a aparência</p><p>de novidade vai se desvanecendo e se apagando. Pobres daqueles que, em razão da escassez de recursos,</p><p>são condenados a continuar usando bens que não mais contêm a promessa de sensações novas e</p><p>inéditas. Pobres daqueles que, pela mesma razão, permanecem presos a um único bem em vez de flanar</p><p>entre um sortimento amplo e aparentemente inesgotável. Tais pessoas são os excluídos da sociedade</p><p>de consumo, os consumidores falhos, os inadequados e os incompetentes, os fracassados – famintos</p><p>definhando em meio à opulência do banquete consumista.”</p><p>BAUMAN, Z. Amor líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2003, p.31.</p><p>Disponível em <https://questoes.grancursosonline.com.br/questoes-de-concursos/sociologia/989548>.</p><p>Acesso em 30 mar. 2020.</p><p>51</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas.</p><p>I – O texto de Bauman enaltece a velocidade e a leveza do modo de vida pós-moderno, em que o</p><p>consumo está disponível a todos.</p><p>II – Os quadrinhos afirmam que a cultura, a educação e os bens materiais devem ser tratados da</p><p>mesma forma na sociedade de consumo.</p><p>III – Os quadrinhos e o texto compactuam com a visão neoliberal da sociedade, pois se centram nas</p><p>necessidades individuais.</p><p>IV – Bauman utiliza o termo “homo consumens” para definir o ser humano e seu modo de vida na</p><p>pós-modernidade e afirma que a capacidade de consumir é o que define o status do indivíduo.</p><p>É correto o que se afirma somente em:</p><p>A) I e IV.</p><p>B) II e IV.</p><p>C) I, II e III.</p><p>D) I, III e IV.</p><p>E) IV.</p><p>Resposta correta: alternativa E</p><p>Análise da questão</p><p>Bauman critica a sociedade de consumidores, em que predomina a descartabilidade. Os quadrinhos</p><p>mostram uma visão crítica na comparação entre um bem de consumo e a cultura. Nenhum dos textos</p><p>compactua com a visão neoliberal.</p><p>28</p><p>3 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO ............................................... 31</p><p>3.1 Atitudes perante a legislação .......................................................................................................... 31</p><p>3.2 Hierarquia das leis ............................................................................................................................... 32</p><p>3.3 Princípios e objetivos da educação escolar ............................................................................... 33</p><p>3.3.1 Constituição Federal de 1988 ............................................................................................................ 33</p><p>3.3.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ......................................................................... 35</p><p>4 SINOPSES ESTATÍSTICAS DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA ............................................ 43</p><p>4.1 Número de matrículas na educação básica por dependência</p><p>administrativa – 2007-2013 .................................................................................................................... 43</p><p>4.2 Número de matrículas na educação básica por dependência</p><p>administrativa – 2014-2018 .................................................................................................................... 46</p><p>Unidade II</p><p>5 SISTEMA DE ENSINO ...................................................................................................................................... 52</p><p>5.1 Conceituação de sistema de ensino ............................................................................................. 52</p><p>5.1.1 O sistema escolar ................................................................................................................................... 52</p><p>5.2 Organização do sistema de ensino brasileiro nos âmbitos federal, estadual e</p><p>municipal: composição, incumbências e organogramas (LDB, artigos 8º a 20) ................. 53</p><p>5.2.1 Estrutura .................................................................................................................................................... 53</p><p>5.2.2 Sistema ...................................................................................................................................................... 54</p><p>5.2.3 Funcionamento ...................................................................................................................................... 54</p><p>5.2.4 Níveis de administração dos sistemas de ensino e a LDB 9.394/96 ................................... 55</p><p>6 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR (LDB, ARTIGOS 21 A 28) .................................................................. 65</p><p>6.1 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ............................................................................. 72</p><p>6.2 Diferentes projetos e seus desdobramentos diante da realidade nacional .................. 76</p><p>6.3 Níveis e modalidades de ensino ..................................................................................................... 77</p><p>6.3.1 Primeira etapa da educação básica: Educação Infantil .......................................................... 77</p><p>6.3.2 Segunda etapa da educação básica: Ensino Fundamental .................................................... 78</p><p>6.3.3 Etapa final da educação básica: Ensino Médio .......................................................................... 81</p><p>6.3.4 Educação Profissional Técnica de Nível Médio ........................................................................... 88</p><p>6.4 Modalidades de ensino ..................................................................................................................... 90</p><p>6.4.1 Educação de Jovens e Adultos .......................................................................................................... 90</p><p>6.4.2 Educação Profissional e Tecnológica .............................................................................................. 91</p><p>6.4.3 Educação Especial ................................................................................................................................... 92</p><p>6.5 Profissionais da educação ............................................................................................................... 95</p><p>6.6 Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia ..........................................101</p><p>Unidade III</p><p>7 POLÍTICA PÚBLICA E FINANCIAMENTO DO ENSINO: FONTES DE RECURSOS E</p><p>VINCULAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS À EDUCAÇÃO ...........................................................106</p><p>7.1 O financiamento da educação escolar nas constituições brasileiras ............................107</p><p>7.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e financiamento da educação ................115</p><p>7.3 Fundef e Fundeb .................................................................................................................................122</p><p>7.3.1 O novo Fundeb ...................................................................................................................................... 124</p><p>8 PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE) E PLANO NACIONAL</p><p>DE EDUCAÇÃO ....................................................................................................................................................127</p><p>8.1 Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE) .................................................................................127</p><p>8.1.1 Todos pela Educação .......................................................................................................................... 129</p><p>8.1.2 Plano de Ações Articuladas ............................................................................................................. 129</p><p>8.2 Plano Nacional de Educação .........................................................................................................136</p><p>8.2.1 Plano Nacional de Educação (PNE) 2001 – 2011 – Lei n. 10.172/01 .............................. 137</p><p>8.2.2 Plano Nacional de Educação – 2011 a 2020 ............................................................................. 139</p><p>8.2.3 Plano Nacional de Educação – 2014 a 2024 – Lei n. 13.005/14 ...................................... 139</p><p>8.2.4 Legislação e Políticas Públicas - 2019 e início de 2020 ....................................................... 154</p><p>7</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Esta disciplina abordará o estudo da política educacional no Brasil e suas tendências contemporâneas,</p><p>como a trajetória histórica e as redefinições do papel do Estado, a organização e o funcionamento</p><p>da educação básica escolar e sua implementação e as concepções e o papel do governo. Os conceitos</p><p>de nação e de política pública também serão estudados. Refletiremos ainda sobre as relações entre as</p><p>políticas sociais e a política educacional. Discutiremos sobre a explicitação dos determinantes de acesso</p><p>e permanência na escola: inclusão e diversidade.</p><p>O financiamento do ensino, com a autonomia das escolas, as fontes e os recursos e a vinculação dos</p><p>recursos financeiros à educação são os temas relacionados a verbas públicas. A cultura das avaliações</p><p>Saeb, Enade, Saresp, Enem e o Ideb introduzidas no Sistema Nacional de Educação. A descentralização</p><p>dos recursos do Fundef e Fundeb. A legislação brasileira: princípios e fins da educação, os sistemas de</p><p>ensino e a organização curricular. O ajuste do currículo da educação básica com a Base Nacional Comum</p><p>Curricular (BNCC), as metas e estratégias presentes no Plano Nacional de Educação são os mecanismos</p><p>apresentados para o desenvolvimento da educação escolar.</p><p>São objetivos específicos da disciplina: relacionar as principais questões políticas com o contexto atual,</p><p>possibilitando o exercício da ação consciente e responsável; refletir sobre a importância dos valores na</p><p>práxis social; estabelecer relações entre a política pública, o planejamento educacional, a democracia e o</p><p>exercício da cidadania; propiciar o exercício da reflexão sobre Estado, governo e</p><p>nação e os instrumentos</p><p>para a compreensão das políticas públicas em educação; possibilitar o exercício da reflexão crítica, por</p><p>meio da análise e da discussão de textos acadêmicos; compreender os fins e princípios da educação, os</p><p>deveres, direitos e objetivos presentes na Lei de Diretrizes e Bases (LDB); conhecer a política educacional</p><p>no contexto da atualidade, a organização curricular e o papel dos profissionais da educação.</p><p>Dessa forma, você será convidado a elaborar diferentes compreensões acerca das políticas públicas</p><p>educacionais no Brasil, partindo da compreensão histórica, da legislação educacional e das inúmeras</p><p>questões apresentadas no contexto da educação formal na contemporaneidade.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O tema de nosso livro-texto é de fundamental importância para você, futuro profissional da educação,</p><p>pois além de estudar a estrutura e o funcionamento da educação básica, pano de fundo de toda a sua atuação</p><p>profissional no futuro, o assunto será abordado a partir das políticas públicas educacionais atuais</p><p>brasileiras. Há assuntos correlatos que permeiam o tema, e será necessário recorrermos a estes com o intuito</p><p>de esclarecer essa questão de tamanha importância para a sua formação e atuação profissional.</p><p>Como é do conhecimento de grande parte das pessoas, o usufruto da educação básica de qualidade</p><p>para todos ainda é uma meta a ser alcançada, apesar de grandes esforços empreendidos nos últimos</p><p>anos. Isso significa dizer que existem inúmeros problemas e desafios a serem superados, no entanto,</p><p>há de se reconhecer a existência de avanços nessa direção, fruto de respostas governamentais às</p><p>reivindicações e demandas advindas da sociedade e dos setores organizados do campo educacional.</p><p>8</p><p>De modo geral, esta disciplina visa propiciar as condições para que você compreenda o embasamento</p><p>legal para sua atuação profissional e as políticas a este associadas, reconhecendo o sistema escolar</p><p>como um elemento de reflexão sobre a realidade educacional brasileira e sentindo-se estimulado a</p><p>acompanhar as atualizações constantes que vêm sendo realizadas por intermédio dos membros do</p><p>Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação, nos estados e municípios, das secretarias</p><p>de educação estaduais e municipais e dos conselhos estaduais e municipais de educação. Em decorrência</p><p>disso, o planejamento educacional está atrelado às decisões das políticas públicas da educação e revelam</p><p>como as prioridades nacionais, expressas no Plano Nacional de Educação e nos planos estaduais e</p><p>municipais de educação, estão sendo e serão desenvolvidas. O planejamento educacional e as políticas</p><p>públicas de educação compõem o cenário, pano de fundo do contexto escolar.</p><p>É preciso que tenhamos a consciência de que, atualmente, a escola é o local de atendimento ao aluno,</p><p>do desenvolvimento da qualidade de ensino por meio do processo educativo, de modo que garanta a</p><p>aprendizagem escolar, com sucesso e permanência dos educandos até o fim da educação básica.</p><p>Mas o que entendemos por contexto escolar? Para entender o conceito, prestemos atenção ao modo</p><p>como o definem Formosinho, Kishimoto e Pinazza (2007):</p><p>É que uma escola articula atores que mantêm relações com outros atores,</p><p>desenvolvendo atividade intencional, criando memória da presença no</p><p>contexto. Um contexto físico, por si só, não faz escola; para que um</p><p>edifício escolar seja uma escola, são necessárias diversas condições.</p><p>Uma escola é um contexto social constituído por atores que partilham</p><p>metas e memórias, por indivíduos em interdependência com o contexto</p><p>que constroem intencionalidade educativa (OLIVEIRA-FORMOSINHO;</p><p>KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 23).</p><p>É no contexto escolar que a educação formal é desenvolvida e tem a finalidade de trabalhar com</p><p>conteúdos sistematizados, social e historicamente desenvolvidos, por professores com intencionalidade,</p><p>em espaços com ambientação própria, com regras, em escolas que são regulamentadas por leis, que</p><p>emitem certificados e são organizadas de acordo com diretrizes nacionais. Os objetivos mais amplos</p><p>estão voltados para a formação plena do cidadão, participativo e ativo, com o desenvolvimento de</p><p>habilidades e competências para a vida social e para o trabalho.</p><p>O contexto escolar significa também a comunidade em que a escola está localizada, sua</p><p>história, o contexto geográfico, histórico, econômico, social e cultural, assim como a história das</p><p>pessoas que nela estão trabalhando, de seus alunos e de suas famílias. Um dos itens importantes</p><p>das políticas públicas de educação é o reconhecimento da diversidade como princípio agregador</p><p>e incentivador das ações e relações humanas. A diversidade requer o olhar direcionado ao local</p><p>específico, sua gente, sua identidade, valores, costumes e hábitos. É nesse sentido que a identidade</p><p>da escola representa o elemento identificador da qualidade de ensino necessária para suas crianças</p><p>e seus jovens.</p><p>9</p><p>Para isso, a educação formal está sistematizada de acordo com o currículo nacional mínimo e com</p><p>uma parte diversificada que permite o desenvolvimento das identidades locais e acontece num tempo</p><p>definido por níveis e modalidades de ensino que têm como objetivo garantir a aprendizagem efetiva</p><p>dos alunos.</p><p>Nesse sentido, o estudo da organização e do funcionamento da educação básica, bem como das</p><p>políticas públicas de educação, tem como meta compreender que as políticas públicas educacionais</p><p>devem garantir a efetiva aprendizagem das crianças e dos adolescentes brasileiros, por meio do</p><p>desenvolvimento de programas, planos e ações que atendam às necessidades educacionais prioritárias</p><p>brasileiras. Em sentido mais amplo, as políticas públicas educacionais revelam-se como a concretude da</p><p>ação política do Estado para garantir a todos o mínimo nacional da educação escolar e do ensino. Nas</p><p>unidades escolares públicas, o Projeto Político-Pedagógico, parte integrante do Plano de Gestão, é que</p><p>vai orientar o desenvolvimento do processo educativo de acordo com as políticas públicas nacionais e</p><p>locais, sob a responsabilidade do diretor/gestor escolar.</p><p>Diante do exposto, este livro-texto está disposto em partes. Primeiramente, será aborda a Política</p><p>Educacional no Brasil e as tendências contemporâneas, a trajetória histórica, as redefinições do papel do</p><p>Estado e a legislação educacional.</p><p>Serão apresentadas a organização da educação nacional, os sistemas de ensino, suas responsabilidades</p><p>e competências, a organização curricular de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).</p><p>Depois, será falado sobre os mecanismos da política educacional, da política pública e sobre o</p><p>financiamento do ensino, da cultura da avaliação, do ajuste do currículo da educação básica no contexto</p><p>da atualidade e das metas do plano nacional de educação vigente de 2014 a 2024.</p><p>Nesse sentido, o estudo desta disciplina tem como finalidade que o aluno compreenda a organização</p><p>e o funcionamento da educação básica e a relação com as políticas públicas de educação, de forma a</p><p>adquirir a capacidade de agir com base em valores eleitos de forma consciente, sendo capaz de responder</p><p>pelos próprios atos e adotar atitudes de respeito pelas diferenças individuais e pela pluralidade cultural</p><p>no processo de humanização, da moral e da vida em sociedade.</p><p>11</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Unidade I</p><p>1 CONCEPÇÕES DE ESTADO E SOCIEDADE; POLÍTICAS PÚBLICAS; AS POLÍTICAS</p><p>SOCIAIS E A POLÍTICA EDUCACIONAL</p><p>Todos nós, brasileiros, independentemente da idade, da classe social, cultural, étnica, ideológica,</p><p>religiosa, temos direito à educação.</p><p>Para compreendermos o que é e como estão organizadas as responsabilidades e competências</p><p>dos setores público e privado da educação no Brasil, temos que, primeiramente, nos atentarmos a</p><p>algumas concepções.</p><p>Nessa perspectiva, serão apresentados o funcionamento e a organização da educação brasileira</p><p>– principalmente da Educação Básica – e discute como as políticas públicas são planejadas para atender</p><p>aos direitos previstos nas legislações</p><p>educacionais. As Constituições brasileiras, ao reconhecerem a</p><p>educação como direito do cidadão, definiram os responsáveis pelo seu provimento. Para atender ao</p><p>direito à educação, o Estado deve estabelecer sua estrutura, seu funcionamento formal e suas fontes de</p><p>financiamento. A política pública em educação traduz-se em ações que dão o alicerce para o atendimento</p><p>aos ideais expressos nas leis. Para entender o conceito de políticas públicas, vamos tratar de alguns de seus</p><p>elementos, com o objetivo de delimitar sua abrangência e seu conteúdo temático, partindo dos conceitos</p><p>de Estado, governo, nação, público e política, com o objetivo de esclarecer seus significados.</p><p>1.1 Estado e seu conceito</p><p>Para Vieira e Albuquerque (2001), muitas são as formas de entender o significado do conceito de</p><p>Estado. Conforme Houaiss (2009, p. 341), Estado é entendido pela noção clássica de “povo social e</p><p>política e juridicamente organizado, que, dispondo de uma estrutura administrativa, de um governo</p><p>próprio, tem soberania sobre determinado território”.</p><p>Para De Cicco e Gonzaga (2013), o conceito de Estado é:</p><p>uma instituição organizada política, social e juridicamente, que ocupa um</p><p>território definido e, na maioria das vezes, sua lei maior é a Constituição.</p><p>É dirigido por um governo soberano, reconhecido interna e externamente,</p><p>sendo responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o</p><p>monopólio legítimo do uso da força e da coerção (DE CICCO; GONZAGA,</p><p>2013, p. 25).</p><p>Segundo Bobbio (2007), os elementos do Estado são de ordem material e formal. Do ponto de vista</p><p>material, temos a população e o território; do ponto de vista formal, o governo. Já de acordo com</p><p>12</p><p>Unidade I</p><p>Kelsen (2000), do ponto de vista material, podemos entender por população o conjunto de todos os</p><p>habitantes do território do Estado. Por povo, o conjunto dos cidadãos que mantêm vínculos políticos e</p><p>jurídicos com o Estado. Território é entendido como o espaço para o qual apenas uma ordem jurídica</p><p>está autorizada a prescrever atos coercitivos e onde podem ser executados.</p><p>Do ponto de vista formal, governo refere-se ao exercício do poder do Estado ou à condução política</p><p>geral. Diz respeito ao povo e pode ser entendido como o órgão ao qual a Constituição atribui o poder</p><p>executivo sobre uma sociedade e que geralmente é formado por um presidente ou um primeiro-ministro</p><p>e alguns ministros, secretários e outros funcionários.</p><p>As características do Estado são a soberania, a nacionalidade e a finalidade. Por soberania podemos</p><p>entender a capacidade de proclamar seu próprio direito positivo de forma incontestável. Para Miranda</p><p>(2004), nacionalidade é o vinculo jurídico-político de direito público interno, em que a pessoa se torna</p><p>um dos elementos da dimensão pessoal do Estado. Atualmente, no Direito Constitucional, nacionalidade</p><p>e cidadania têm sentidos distintos. Nacionalidade está mais ligada à origem, ao local de nascimento. Já</p><p>cidadania está mais ligada às obrigações políticas e jurídicas. Finalidade, segundo Dallari (1990, p. 56),</p><p>“é o bem comum, ou seja, o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam</p><p>o desenvolvimento integral da pessoa humana”.</p><p>O termo é escrito em letra maiúscula e representa um governo próprio que, em seu território,</p><p>tem soberania. As teorias que tratam do Estado estudam as suas funções tradicionais, que estão</p><p>englobadas em três grandes domínios de poder: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder</p><p>Judiciário. Podemos afirmar que as funções desempenhadas pelo Estado são as políticas, as sociais</p><p>e as econômicas.</p><p>Para Acquaviva (2000) e Maluf (1980), a Teoria Geral do Estado faz parte do Direito Constitucional</p><p>e compreende um conjunto de ciências que são necessárias para a compreensão do fenômeno estatal,</p><p>assim, desdobra-se em Teoria Social do Estado, Teoria Política do Estado e Teoria Jurídica do Estado.</p><p>Portanto, o conceito de Estado é inconfundível e apresenta vários sentidos. Conforme Acquaviva (2000,</p><p>p. 4), origina-se do latim status, que, em letra minúscula, significa “a condição pessoal do indivíduo</p><p>perante seus direitos políticos e civis”, e, em letra maiúscula,</p><p>denomina, modernamente, a mais complexa e perfeita das sociedades</p><p>civis, qual seja, a sociedade política, que poderia ser conceituada como ‘a</p><p>sociedade civil politicamente soberana e internacionalmente reconhecida,</p><p>tendo por objetivo o bem comum aos indivíduos e comunidades sob seu</p><p>império’” (ACQUAVIVA, 2000, p. 4).</p><p>Para encontrar um denominador comum às várias definições e suas influências históricas, sociais e</p><p>econômicas, Jellinek (apud ACQUAVIVA, 2000, p. 7) define-o como “corporação de um povo, assentada</p><p>num determinado território e dotada de um poder originário de mando”.</p><p>Assim, Estado pode ser entendido como a unidade administrativa de um território e constitui-se</p><p>pelas instituições públicas que o representam, organizam e que devem atender aos desejos e anseios de</p><p>13</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>seus cidadãos, de suas instituições públicas e privadas. A educação escolar é uma das instituições que</p><p>representam o Estado.</p><p>1.2 Estado e seu papel</p><p>Encontramos duas grandes correntes de pensamento que discutem o papel do Estado para com a</p><p>sociedade: uma de fundamentação liberal e outra de suporte marxista. Cada uma explicita os tipos de</p><p>relação entre os cidadãos de um país, por exemplo, direitos individuais e sociais.</p><p>Para organizar o funcionamento estatal, encontramos três poderes que fazem parte de sua estrutura formal</p><p>para garantir que o Estado cumpra suas funções: Poder Executivo, que administra os órgãos governamentais</p><p>e desenvolve as atividades relacionadas às políticas públicas; Poder Legislativo, que tem a responsabilidade</p><p>de estabelecer as leis regulamentares e ordinárias que regem as atividades e relações entre os cidadãos e as</p><p>instituições; e o Poder Judiciário, que tem a função de distribuir justiça, fazendo respeitar a constituição e</p><p>aplicar as leis, segundo os códigos vigentes. Seu objetivo principal é garantir a efetividade dos direitos e das</p><p>obrigações de todos os cidadãos, bem como de instituições públicas e privadas.</p><p>Sintetizando, podemos afirmar que os fins do Estado são: garantir a segurança de seus cidadãos e de</p><p>suas instituições públicas e privadas, assim como assegurar a justiça e o bem-estar econômico e social.</p><p>1.3 Governo e seu conceito</p><p>No dicionário Novo Aurélio (FERREIRA, 1999, p. 1.000), governo refere-se a “ato ou efeito de governar;</p><p>administração, gestão, direção; e ainda, administração superior, ministério, Poder Executivo e também</p><p>sistema político pelo qual se rege um país”.</p><p>Resumindo, o governo tem o papel de administrar o Estado, com a função executiva, e, nesse sentido,</p><p>caracteriza-se como uma das instituições que compõem o Estado: o Poder Executivo. Essa administração</p><p>é transitória e pode ser representada pelos diversos partidos políticos existentes.</p><p>1.4 Governo e seu papel</p><p>Estamos nos referindo ao Poder Executivo de um país, estado ou município que durante um período de</p><p>tempo administra, chefia. Por isso, quando falamos de governo, identificamos a pessoa que o representa,</p><p>o governante de uma esfera de Poder Executivo (federal, estadual ou municipal) e expressamos nossa</p><p>opinião sobre seu desempenho, por exemplo, dizendo que foi alguém que governou bem no seu tempo,</p><p>que provocou mudanças favoráveis para o povo, e julgando sempre de acordo com o tipo de sociedade</p><p>que o Estado decidiu ser. Atualmente estamos numa sociedade democrática.</p><p>Em nossa sociedade democrática, o governante – presidente na esfera federal, governador na estadual,</p><p>prefeito na municipal – é escolhido por meio de eleições realizadas segundo calendário do Tribunal Superior</p><p>Eleitoral, órgão do Poder Judiciário, que tem, nos estados, como seu representante, o Tribunal Regional Eleitoral.</p><p>14</p><p>Unidade I</p><p>Nesse sentido, não podemos entender como idênticos o papel do Estado e o do governo. O governo</p><p>tem a responsabilidade de</p><p>desenvolver, por meio de planos, programas e projetos, ações com o objetivo de</p><p>atender à sociedade brasileira em todas as suas necessidades, que são apontadas por meio de avaliações</p><p>nos diferentes setores da vida pública e revelam as intervenções necessárias, das mais urgentes àquelas</p><p>que são apenas reflexos de ideais nos diferentes setores da vida da nação brasileira.</p><p>Podemos tratar dos planos do governo que já foram desenvolvidos e avaliá-los, a fim de concluir se foram</p><p>planejados com eficiência, respeitando os interesses dos cidadãos brasileiros. Nessa avaliação, analisamos</p><p>se o governante atuou com lisura, transparência e responsabilidade na administração e no uso dos recursos</p><p>públicos para a implantação e a implementação dos programas, planos e projetos desenvolvidos para o</p><p>atendimento à sociedade brasileira. Estes estão previstos no que podemos chamar de políticas públicas</p><p>nacionais, estaduais ou municipais. Em se tratando da área educacional, chamamos de políticas públicas</p><p>educacionais. Podemos identificar, nas políticas públicas, as áreas em que estas se subdividem e atuam: a</p><p>área educacional faz parte da área social. Quando nos referimos às políticas públicas sociais, estamos nos</p><p>referindo às áreas que estão sob essa denominação, apontada pela atual Constituição Federal de 1988.</p><p>Assim, ao tratarmos das políticas públicas educacionais, estamos abordando as políticas públicas sociais.</p><p>Na área educacional, é o Plano Nacional de Educação o documento que expressa a realidade brasileira</p><p>na área da educação escolar.</p><p>1.5 Conceito de nação</p><p>Por nação entendemos um povo, agrupamento ou organização de uma sociedade cujos membros</p><p>compartilham uma tradição histórica e que, por isso, apresentam uma identidade, uma cultura própria</p><p>que os distingue de outros e que também os une.</p><p>Usamos cotidianamente as palavras Estado, governo e nação como se fossem sinônimas, porém elas</p><p>representam aspectos bem diferentes da realidade social, política e econômica brasileira.</p><p>Chegamos aos conceitos de política e público para entendermos a atuação das políticas públicas</p><p>educacionais brasileiras. Mas o que significa o termo políticas públicas?</p><p>No Dicionário Michaelis (2009), entre outras, encontramos as seguintes definições da palavra política:</p><p>“Arte ou ciência de governar. [...] Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou</p><p>estados. [...] Aplicação desta arte nos negócios internos (política interna) da nação ou nos negócios</p><p>externos (política externa)”.</p><p>1.6 Conceito de público</p><p>De acordo com o Dicionário Michaelis, o vocábulo “público” é utilizado como substantivo masculino</p><p>e como adjetivo.</p><p>Como substantivo masculino: o homem comum; grupo de pessoas com interesses comuns ou que</p><p>estão envolvidas na mesma atividade; audiência de qualquer evento; grupo de pessoas para as quais</p><p>determinada campanha é dirigida, com fins de consumo.</p><p>15</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Como adjetivo: relativo a população, povo ou coletividade; relativo ao governo de uma nação; que</p><p>pertence a todas as pessoas; que pode ser feito diante de todos; do conhecimento de todos; em que não</p><p>há segredo; mundialmente divulgado; diz-se de lugar onde qualquer um pode vê-lo ou ouvi-lo.</p><p>1.7 Conceito de política</p><p>Quando pensamos no termo política, estamos nos referindo àquilo que é próprio do homem, auxilia-o</p><p>a resolver problemas, conflitos e a organizar sua vida social. Para Padilha (2001), há várias definições para</p><p>política, mas o sentido que está mais presente é o das ações e relações humanas. Identificamos, para nossos</p><p>estudos nesta disciplina, as políticas sociais, dentre as quais estão as políticas educacionais.</p><p>No caso da educação escolar, em sentido específico, o termo política “pode representar a administração</p><p>do Estado pelas autoridades e [pelos] especialistas governamentais, ações da coletividade em relação a</p><p>tal governo [...]” (PADILHA, 2001, p. 20) e em relação à educação escolar.</p><p>Estamos tratando do ser humano como ser político, que realiza escolhas, participa da vida familiar,</p><p>produtiva e social, colabora com a comunidade e é por ela envolvido. Ao fazer parte de uma comunidade,</p><p>torna-se um ser político coletivo, pois assume, perante o seu grupo, responsabilidades, compromissos</p><p>relativos à continuidade da vida social, realiza as tarefas que lhes são próprias, aceita as normas e</p><p>costumes comuns, assim como compartilha dos valores morais e éticos do grupo.</p><p>Quando nos referimos ao governo de uma nação, de um estado ou de um município, estamos</p><p>nos referindo às diferentes esferas do Poder Executivo responsáveis pelo desenvolvimento das políticas</p><p>públicas educacionais. A esfera de poder político a ser discutida nesta disciplina é a federal, pois a partir</p><p>das orientações desta as esferas estaduais elaboram as suas, que coordenam as ações para sua região,</p><p>e as esferas municipais especificam-nas para o seu território. O sistema escolar brasileiro, sua estrutura e</p><p>seu funcionamento serão o objeto de análise no desenvolvimento, na implementação e na avaliação das</p><p>políticas públicas.</p><p>O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) publicou, em 2012, a cartilha Noções</p><p>de política e cidadania no Brasil, com a finalidade de estimular a consciência política, resgatar valores</p><p>éticos e de cidadania, contribuir para o aprofundamento da democracia, promover os interesses coletivos</p><p>e públicos, além de defender a participação política dos cidadãos.</p><p>Em relação ao conceito de política, temos que:</p><p>Segundo São Tomás de Aquino, “a política é a arte de governar os homens e</p><p>administrar as coisas, visando ao bem comum, e de acordo com as normas</p><p>da reta razão”. A palavra política possui vários significados, que vão desde</p><p>governar, administrar ou dirigir instituições públicas ou do Estado, passando</p><p>pela arte de conciliar interesses para a conquista e manutenção do poder até a</p><p>promoção do bem comum.</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Originariamente, o termo “política”, conforme Norberto Bobbio em seu</p><p>Dicionário de Política (Ed. UnB, 12ª ed. BSB: UnB, 2002. p. 954-963), é</p><p>derivado do grego (politikós), que significa tudo o que se refere à vida da</p><p>cidade e, consequentemente, compreende toda a sorte de relações sociais, o</p><p>que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social, tanto que “político”</p><p>vem a coincidir com o “social”. O termo se expandiu graças à influência da</p><p>grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que foi o primeiro tratado sobre</p><p>a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo.</p><p>A política – que consiste em tomar decisões e fixar regras destinadas a todos,</p><p>independentemente da condição, status, cargo, formação ou origem – deve</p><p>buscar a legitimação de seus atos. Nessa perspectiva, é o meio mais eficaz para</p><p>organizar a vida em sociedade e garantir o respeito aos direitos humanos.</p><p>O ser humano pratica a política em seu cotidiano, mesmo sem ter</p><p>consciência. Isso porque a política não diz respeito apenas ao exercício do</p><p>poder público, mas também à vida social. A administração do orçamento</p><p>doméstico, a mediação de conflitos familiares ou a forma de se relacionar</p><p>com os vizinhos são exemplos do exercício cotidiano da política.</p><p>Nos regimes democráticos, portanto, a política consiste na escolha, na</p><p>seleção ou na definição de prioridades que, mesmo não sendo as ideais, são</p><p>aceitas por todos, seja na oferta de bens e serviços e na sua regulação, seja</p><p>na solução de conflitos, com o objetivo do bem comum, atingido ou não.</p><p>Sem a política não seria possível a convivência pacífica entre as pessoas e</p><p>os povos.</p><p>É também pela via política que o povo escolhe seus representantes, tanto</p><p>aqueles que, em seu nome, vão administrar as coisas públicas e governar –</p><p>ou executar as políticas ou prioridades, de cujas escolhas a sociedade pode</p><p>participar com mais ou menos intensidade – quanto aqueles que vão fazer</p><p>as leis, acompanhar e fiscalizar os governos.</p><p>O objetivo final da política é, na definição, a dignidade da pessoa</p><p>humana</p><p>em todas as suas dimensões. O atingimento desse objetivo depende dos</p><p>agentes, do envolvimento das pessoas e da qualidade que se dê à política.</p><p>(QUEIROZ, 2012, p. 9).</p><p>Entendemos que a política é essencial na busca de soluções para os problemas coletivos, e que o</p><p>ser humano é um agente político por natureza, porque é o sujeito de sua própria história, portanto, é o</p><p>centro do universo e a razão de existir das instituições políticas. Onde há gente, há política.</p><p>17</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>O exercício de cidadania, que é condição para que a pessoa seja sujeito, e não objeto na vida em</p><p>sociedade, é a principal expressão da política. A prática da cidadania leva à exigência de várias políticas</p><p>voltadas à sobrevivência da espécie humana.</p><p>1.8 Conceito de políticas públicas</p><p>De acordo com o DIAP, políticas públicas são decisões dos Poderes Públicos de fazer ou não fazer</p><p>alguma coisa para a sociedade e o mercado. São ações intencionais, com objetivos a serem alcançados,</p><p>com impactos de curto, médio e longo prazo e que, embora não se limitem a leis e regras, dependem,</p><p>muitas vezes, das leis para serem implementadas.</p><p>Em geral, as políticas públicas traduzem a ideia de valor, de alocação de recursos ou benefícios,</p><p>distribuição de bens e serviços públicos para localidades, indivíduos ou grupos, mas elas também regulam</p><p>a relação entre pessoas e entre estas e as instituições, públicas ou privadas.</p><p>É comum as pessoas confundirem políticas públicas com políticas sociais, quando estas são parte daquelas.</p><p>Mas por que política pública?</p><p>As políticas são públicas, e não privadas ou apenas coletivas, porque estão revestidas da autoridade</p><p>soberana do Poder Público ou porque emanam do Estado, único ente que detém o monopólio legítimo</p><p>do uso da força para fazer valer suas decisões e ações.</p><p>Assim, toda política pública exige uma decisão governamental de fazer ou não fazer algo, mas nem</p><p>toda decisão governamental significa uma política pública. Por exemplo: as leis de homenagens ou</p><p>datas comemorativas.</p><p>Eventuais gastos ou investimentos governamentais em políticas públicas precisam estar disciplinados no</p><p>orçamento que se expressa através de leis que são discutidas e aprovadas ou não pelas casas legislativas.</p><p>No conceito de políticas públicas, o conteúdo temático a ser apresentado é o da política</p><p>educacional e sua relação com as demais políticas adotadas no decorrer da história brasileira.</p><p>Temos de partir da compreensão de que a história brasileira, em todos os seus aspectos (sociais,</p><p>econômicos, culturais), influenciou o desenvolvimento das ideias pedagógicas, assim como as</p><p>práticas sociais realizadas na educação escolar. A elaboração das leis educacionais e as políticas</p><p>públicas estiveram atreladas a essa demanda social brasileira. A partir do que estudaremos nas</p><p>disciplinas do curso de Pedagogia, entenderemos que há muita complexidade e ambiguidade entre</p><p>as discussões teóricas do ideal a ser buscado pelas políticas públicas e a realidade educacional</p><p>revelada pelos dados resultantes das avaliações institucionais que passam a ser desenvolvidas,</p><p>principalmente, após a Lei n. 9.394/96.</p><p>18</p><p>Unidade I</p><p>Saiba mais</p><p>Nos sites a seguir você pode encontrar definições de Estado, governo,</p><p>política e política pública educacional:</p><p>www.unip.br</p><p>http://dicionario.cijun.sp.gov.br/houaiss/</p><p>www.primeiroconceito.com.br</p><p>www.michaelis.uol.com.br</p><p>Na atualidade, são as avaliações institucionais implementadas pelos governos federal, estaduais e</p><p>municipais que revelam os índices de qualidade de ensino, apontados pela aprendizagem dos alunos e</p><p>pelo exame dos contextos educativos.</p><p>O desafio do curso será entender o processo das políticas públicas educacionais, observando sua</p><p>formulação (que envolve a definição de prioridades, responsabilidades, uso e destinação das verbas</p><p>públicas), a implantação e a implementação de ações, planos, programas e projetos, bem como o</p><p>acompanhamento e a avaliação dos resultados.</p><p>Há também a participação dos movimentos populares, no decorrer do processo histórico,</p><p>apontando problemas, situações e alternativas que representam os anseios dos grupos sociais locais</p><p>ou regionais, que, além de influenciar, pretendem decidir as políticas públicas. Esses movimentos</p><p>constituem atitudes cidadãs, solidárias e participativas.</p><p>A luta dos movimentos sociais pela educação nunca teve muita visibilidade, pois, no decorrer</p><p>da história, foi assumida pelos sindicatos de professores, de profissionais da educação ou por</p><p>organizações não governamentais (ONGs). A partir da década de 1990, segundo Gohn (2006), as</p><p>lutas se dirigiram para falta de vagas nas escolas públicas, filas para matrículas, deslocamento</p><p>de filhos de uma mesma família para escolas diferentes, atrasos nos repasses de verbas, entre</p><p>outras causas.</p><p>A discussão sobre os movimentos sociais pela educação escolar já aponta, desde as décadas de 1970</p><p>e 1980, indícios de que ainda não foi superada a fase de reivindicações mais básicas, como discute</p><p>Azanha (1975, p. 17), quando afirma que “a capacidade reivindicatória das comunidades, em matéria da</p><p>educação, não vai além da luta pela abertura de escolas” e acrescenta que “as classes de mais baixa renda</p><p>não conseguem ainda discernir o bom do mau ensino e por isso, em face das sucessivas reprovações de</p><p>seus filhos, apenas se limitam a retirá-los da escola”.</p><p>19</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Devido às diferentes realidades regionais brasileiras, participar do processo demanda a identificação</p><p>das possibilidades e dos espaços existentes, bem como das dificuldades, dos limites e das contradições</p><p>dos projetos historicamente desenvolvidos de descentralização e municipalização, demanda ainda</p><p>aceitar o desafio de construir propostas de políticas articuladas com um desenvolvimento educacional</p><p>brasileiro integrado e sustentável.</p><p>Observação</p><p>Dentre os movimentos sociais por educação escolar, o movimento</p><p>de mães por creches e pré-escolas, relatado pela educadora Maria Malta</p><p>Campos, na década de 1980, resultou na Educação Infantil como primeira</p><p>etapa da educação básica brasileira, apresentada em duas fases: creches de</p><p>0 a 3 anos e pré-escola dos 4 aos 5 anos.</p><p>De acordo com Ferreira (1999), o sentido etimológico da palavra política é</p><p>ciência que trata dos fenômenos referentes ao Estado; ciência política;</p><p>sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos; arte de bem</p><p>governar e conjunto de objetivos que dão forma a determinado programa de</p><p>ação governamental e condicionam sua execução (FERREIRA, 1999, p. 1599).</p><p>Da mesma forma, de acordo com o sentido etimológico, a palavra público (FERREIRA, 1999, p. 1664)</p><p>“é um adjetivo que diz respeito ao que é relativo ou pertencente ou destinado ao povo, à coletividade e</p><p>também relativo ou pertencente ao governo de um país”.</p><p>Para entendermos o que políticas públicas significam, usando as definições apontadas, podemos</p><p>dizer que são diretrizes, princípios norteadores de ação do Poder Público, regras e procedimentos que</p><p>estabelecem as relações entre este e a sociedade, as mediações entre a população e o Estado, ou seja,</p><p>cidadãos que representam a sociedade e o Estado.</p><p>Nesse sentido, as políticas públicas são explicitadas em documentos como leis e programas que</p><p>definem quais as prioridades e as linhas de financiamento que determinam as aplicações de recursos</p><p>públicos em educação.</p><p>Podemos afirmar que as políticas públicas em educação traduzem e sistematizam, em seu processo</p><p>de elaboração, a definição das necessidades educacionais brasileiras e a forma de intervenção a ser adotada;</p><p>a implantação e a implementação de ações, projetos e programas e qual a população a ser atendida; e os</p><p>resultados esperados em curto, médio e longo prazo.</p><p>Nesse processo estão envolvidas as formas de exercício do poder político – uma vez que se trata de</p><p>distribuição e redistribuição do poder – o papel do conflito social nos processos de decisão e a repartição</p><p>de custos e benefícios sociais.</p><p>20</p><p>Unidade I</p><p>É importante esclarecer que as políticas públicas tratam de recursos públicos que serão destinados</p><p>diretamente aos projetos, programas e ações junto à área educacional, ou por meio de isenções ou</p><p>relações que são de interesse público.</p><p>A crescente participação da sociedade civil nas diferentes esferas da vida social faz com que se</p><p>entrecruzem interesses e visões de mundo, e torna difícil a delimitação clara entre o público e o privado.</p><p>Daí surge a importância do debate público, articulado por grupos sociais, em espaços públicos, promovido</p><p>com transparência e visibilidade.</p><p>Ao tratarmos de poder, queremos esclarecer que o conceito deve ser entendido como a relação</p><p>social entre os vários personagens que se interessam direta ou indiretamente pela área educacional, que</p><p>atuam nela ou são seus beneficiários, com projetos ou interesses diferenciados. O interesse por essa área,</p><p>em nosso caso, necessita de mediações sociais e institucionais para que as políticas públicas possam ser</p><p>legitimadas e, assim, tornarem-se eficazes.</p><p>Segundo Teixeira (2002), a natureza de regime político em que o país vive, o grau de organização</p><p>da sociedade civil e a cultura vigente determinam a elaboração de políticas públicas. Dessa maneira, as</p><p>políticas públicas são definidas e sistematizadas, podendo-se, por isso, determinar quem é responsável</p><p>por decidir o que, quando, com que consequências e para quem.</p><p>Os objetivos das políticas públicas sociais estão voltados, principalmente, aos setores marginalizados</p><p>da sociedade, que são considerados vulneráveis. Nesse sentido, as políticas visam a efetivar os direitos</p><p>da cidadania. As demandas da sociedade civil (por mobilização, luta ou pressão social) são apresentadas</p><p>por meio de movimentos sociais. Reconhecidas institucionalmente, geram políticas de atendimento que</p><p>promovem o desenvolvimento, seja para a geração de emprego ou renda, seja para outras políticas de</p><p>cunho mais estratégico.</p><p>Assim, as políticas públicas trazem em seu bojo valores e visões de mundo e os exprimem em suas</p><p>ações. Dessa forma, expressam as visões de mundo dos que controlam o poder. Contudo, para que esse</p><p>poder seja representativo dos interesses de todos os segmentos sociais, depende-se da capacidade de</p><p>organização e negociação dos segmentos sociais dominados.</p><p>Para atingir os objetivos de determinada política pública, é preciso considerar a natureza ou o grau</p><p>de intervenção, a abrangência dos benefícios e os impactos aos beneficiários ou às relações sociais.</p><p>Podemos analisar se a natureza ou o grau de intervenção é estrutural ou conjuntural. É estrutural quando se</p><p>trata de intervir em relações socioestruturais, como renda, e é conjuntural ou emergencial quando procura</p><p>atender a uma situação imediata.</p><p>A abrangência pode ser universal, quando se estende a todos os cidadãos; segmentada, quando</p><p>atende a um fator determinante, como idade, gênero; e fragmentada, quando atende a um determinado</p><p>grupo social, de um segmento específico.</p><p>Quanto aos impactos que podem causar nas relações sociais ou em seus beneficiários, as políticas</p><p>públicas podem ser: distributivas, quando distribuem benefícios individuais; redistributivas, ao buscar</p><p>21</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>equidade redistribuindo os benefícios entre os grupos sociais; e regulatórias, ao definir regras e</p><p>procedimentos para atender aos interesses gerais da sociedade.</p><p>Está presente na Constituição Federal de 1988, no artigo 37, a importância da atitude da</p><p>administração pública no desempenho de sua função com ética, sobriedade, impessoalidade</p><p>e no trato com verba pública, que deve ser empregada com transparência, lisura e eficiência.</p><p>A responsabilidade de atuação governamental voltada para as necessidades apontadas pela</p><p>coletividade social envolve também a cobrança de atitudes de legalidade, de moralidade e</p><p>da publicidade dos atos administrativos, conforme o artigo 37 da Constituição Federal: “A</p><p>administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito</p><p>Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência [...]” (BRASIL, 1988).</p><p>Observação</p><p>Hoje a verba pública é distribuída na educação formal pelo que a lei</p><p>chama de custo-aluno. Anualmente, deve-se elaborar o valor do custo-aluno</p><p>da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. O valor da</p><p>verba a ser recebida pelas escolas é calculado pelo número de alunos nela</p><p>matriculados, em cada nível e modalidade de ensino que a escola oferece</p><p>à comunidade.</p><p>Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação</p><p>Pesquise em seu município ou em seu estado quais são as metas dos planos de educação, sua Pesquise em seu município ou em seu estado quais são as metas dos planos de educação, sua</p><p>abrangência e as prioridades educacionais apontadas, os programas, planos e ações em desenvolvimento, abrangência e as prioridades educacionais apontadas, os programas, planos e ações em desenvolvimento,</p><p>as parcerias com o sistema federal ou estadual e as formas de publicidade dos dados e das verbas as parcerias com o sistema federal ou estadual e as formas de publicidade dos dados e das verbas</p><p>públicas utilizadas.públicas utilizadas.</p><p>É importante atentar para programas criados pelo Ministério da Educação junto às unidades da</p><p>federação e seus sistemas de ensino – federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal –, como o</p><p>PDE (Plano de Desenvolvimento da Escola). Esse plano foi concebido em conformidade com a atual</p><p>legislação educacional, que destaca a importância da escola como agente principal de desenvolvimento</p><p>da educação escolar brasileira e também local em que a relação professor-aluno se realiza – e é</p><p>na qualidade dessa relação que residem, em grande medida, a aprendizagem do aluno e o bom</p><p>desenvolvimento do ensino. O PDE é planejado pelo MEC de acordo com as prioridades educacionais</p><p>brasileiras, e o financiamento das ações nele previstas está presente no planejamento setorial do MEC.</p><p>As unidades escolares públicas podem se tornar parceiras dessas ações, de acordo com seu Projeto</p><p>Político-Pedagógico e suas necessidades locais. Para isso, a participação da comunidade nas decisões</p><p>sobre o desenvolvimento educacional da instituição é importante para definir tanto as prioridades</p><p>locais quanto os objetivos da escola, tendo como meta a aprendizagem escolar com qualidade.</p><p>É também importante discutir a importância da autonomia da escola para decidir sobre quais projetos</p><p>22</p><p>Unidade I</p><p>e ações devem ser desenvolvidos para atingir esse objetivo. Em contrapartida, a legislação educacional</p><p>implantou a cultura das avaliações institucionais na educação escolar brasileira, que ocorrem sob a</p><p>responsabilidade das diferentes esferas administrativas e de seus sistemas de ensino. Por meio das</p><p>avaliações do MEC – como Saeb, Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem –, das avaliações dos sistemas</p><p>estaduais e dos municipais e da instituição do Ideb (Índice de Desenvolvimento da educação básica),</p><p>podemos aferir como está o funcionamento da educação escolar nacional e seus pontos de avanços</p><p>e de fragilidades. O Brasil participa também da avaliação internacional do Pisa, que aponta como o</p><p>país está no desenvolvimento educacional da população comparado aos outros países participantes</p><p>da prova. Como podemos observar, o sistema nacional de educação escolar está implantando e</p><p>implementando ações com o objetivo de garantir a real qualidade de ensino ministrado pelas escolas</p><p>brasileiras, para garantir um dos direitos da cidadania ao cidadão brasileiro.</p><p>2 POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL</p><p>É importante considerarmos as orientações políticas presentes na história brasileira para podermos</p><p>entender as atuais políticas públicas na área educacional, assim com a LDB n. 9.394/96. Para isso,</p><p>apresentamos algumas tendências contemporâneas.</p><p>2.1 Tendências contemporâneas</p><p>2.1.1 Visão liberal</p><p>A visão da política liberal tem no liberalismo seus fundamentos,</p><p>que se traduzem no “conjunto de ideias e</p><p>doutrinas que visam a assegurar a liberdade individual no campo da política, da moral, da religião dentro da</p><p>sociedade” (FERREIRA, 1999, p. 1.209). O liberalismo político resultante da filosofia liberal defende a liberdade</p><p>política do indivíduo em relação ao Estado e à existência de oportunidades iguais para todos. A ideia do Estado</p><p>liberal está centrada na noção de Poder Público com autoridade política dentro de limites precisos, separado</p><p>de governante e governado. Há três tradições na ciência política. A primeira analisa a política liberal como a</p><p>que discute as questões da cultura política da nação e a constituição do cidadão. A segunda discute problemas</p><p>de representação política e responsabilização, propondo que as ações dos indivíduos, das instituições e do</p><p>Estado podem estar sujeitas a controles provenientes dos acordos centrais do pacto democrático. A terceira</p><p>enfatiza o poder do Estado nos aspectos que se referem à obtenção do consenso e à implementação de</p><p>medidas representativas de interesses, defendidos, inclusive, se necessário, com atos de coerção e relações</p><p>sociais de dominação.</p><p>Nesse sentido, a visão liberal defende uma concepção de política pública voltada para interesses</p><p>individuais e que desconsidere as desigualdades sociais. A vida social e econômica é resultante das</p><p>capacidades individuais e do esforço individual de superação para uma melhor qualidade de vida.</p><p>Essa concepção opõe-se à universalidade dos benefícios de uma política social. Para ela, a política</p><p>social não tem papel relevante, pois as desigualdades sociais são resultantes de esforços individuais.</p><p>Como exemplo dessa visão, Azanha (1975, p. 17) afirma: “Geralmente, a escola não é responsabilizada</p><p>pela reprovação, pois o malogro escolar é recebido como resultado de deficiências pessoais das crianças”.</p><p>23</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Dessa maneira, a visão liberal está presente no cotidiano da vida escolar, inclusive de crianças e</p><p>jovens, sem ter presente a importância do atendimento escolar como fator de sucesso no ensino.</p><p>2.1.2 Visão social-democrata</p><p>A visão social-democrata concebe uma política de atuação com benefícios sociais que visem à</p><p>proteção dos mais fracos, como uma maneira de dar igualdade de condições a todos, em decorrência</p><p>das diferenças econômicas promovidas pela sociedade capitalista. O Estado de Bem-Estar Social é o</p><p>sistema que representa a visão social-democrata, na qual as políticas públicas têm um papel regulador</p><p>das relações econômico-sociais. Nesse sentido, representa um acordo social entre o trabalho e o capital</p><p>em que os cidadãos podem aspirar a níveis mínimos de bem-estar social, incluindo educação, saúde,</p><p>seguridade social, salário e moradia.</p><p>Esse sistema cresce e leva a uma relativa distribuição de renda e ao reconhecimento de uma série de</p><p>direitos sociais. Fundos públicos são constituídos e utilizados em investimentos em áreas estratégicas</p><p>para o desenvolvimento e em programas sociais, o que acarreta um controle político e burocrático da</p><p>vida dos cidadãos consumidores de bens públicos.</p><p>Os sistemas liberal e social-democrata executavam políticas públicas com a intervenção do Estado</p><p>em várias áreas de atuação dos indivíduos.</p><p>A partir da década de 1970, esse modelo entrou em crise, devido aos novos padrões introduzidos</p><p>pelas tecnologias nos processos de acumulação e nas relações de trabalho. Essa situação levou à falência</p><p>do Estado protetor e ao agravamento da crise social, em virtude do esgotamento das possibilidades</p><p>de atendimento às necessidades crescentes da população, gerando o burocratismo e a ineficiência do</p><p>aparelho governamental.</p><p>A crítica a essa situação foi de que a política de intervencionismo causou a estagnação econômica</p><p>e o parasitismo social. Foi proposto, então, um ajuste estrutural, que levasse a um equilíbrio financeiro,</p><p>à redução dos gastos sociais e a uma política social seletiva e emergencial.</p><p>2.1.3 Visão neoliberal</p><p>O sistema que historicamente veio responder a essas necessidades sociais e econômicas foi</p><p>o neoliberalismo, que defendia a ação mínima do Estado. O equilíbrio social é resultante do livre</p><p>funcionamento do mercado. As noções de mercados abertos e tratados de livre-comércio, redução do</p><p>setor público e diminuição da intervenção estatal na economia e na regulação do mercado resultaram</p><p>em programas e políticas de ajuste estrutural. Nesse sistema modificam-se as formulações das políticas</p><p>públicas, pois com a ação mínima do Estado é preciso que as regulamentações sejam mínimas e as</p><p>políticas distributivas compensem desequilíbrios graves e passem, então, a ter um caráter seletivo de</p><p>atendimento a todos – ou seja, um atendimento não universal.</p><p>As políticas redistributivas, controladas por tecnocratas, sem a participação da sociedade – presentes</p><p>nas visões anteriores – não são coerentes com a liberdade do mercado e incentivam o parasitismo social.</p><p>24</p><p>Unidade I</p><p>O fenômeno da globalização do capitalismo influencia a elaboração das políticas públicas, e os</p><p>interesses internacionais aparecem com grande poder de interferência nas decisões, às vezes, ditados</p><p>por organismos multilaterais. Cada país tem seu processo de formulação de políticas públicas, e esses</p><p>processos vêm se tornando cada vez mais complexos.</p><p>O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional aparecem como instituições com grande</p><p>poder de influência, por meio de um conjunto de programas e políticas com vistas ao ajuste estrutural</p><p>necessário ao novo modelo econômico e social do Estado. O modelo de ajuste e estabilização proposto é</p><p>baseado numa série de recomendações de políticas públicas que tem como premissa a redução drástica</p><p>do gasto governamental, por meio da privatização das empresas paraestatais, da liberalização dos</p><p>salários e preços e da reorientação das produções industrial e agrícola para exportação.</p><p>É proposta a diminuição da participação financeira do Estado no fornecimento de serviços sociais,</p><p>como saúde, pensões, aposentadorias, transporte público, habitação popular e educação, mediante sua</p><p>transferência para o setor privado. As atividades do setor público são concebidas como improdutivas e</p><p>como desperdício social. Assim também é entendida a educação e sua função social, o que incide nas</p><p>concepções do papel da educação nos dias de hoje e nas políticas públicas na área educacional.</p><p>Educadores brasileiros como Paulo Freire e Moacir Gadotti criticam o pensamento e a prática</p><p>neoliberal, pois consideram o neoliberalismo contrário à ética integral do ser humano, à utopia e à</p><p>educação como ato democrático. O neoliberalismo naturaliza a desigualdade e sustenta a ética do</p><p>mercado. O homem é considerado como força de trabalho. Para o neoliberalismo, a globalização é</p><p>considerada uma realidade definitiva, e não uma categoria histórica.</p><p>2.2 Planos e políticas públicas de educação</p><p>2.2.1 Políticas públicas neoliberais</p><p>A partir do neoliberalismo, temos a sociedade civil chamada a participar do processo de formulação</p><p>de políticas públicas e podemos identificar alguns aspectos que dele fazem parte:</p><p>• Identidade: o processo de formação de identidade coletiva se constrói na medida em que há</p><p>iniciativas de proposições para resolver problemas coletivos.</p><p>• Plataformas políticas: expressam as concepções do papel do Estado e da sociedade civil por meio de</p><p>programas e ações voltados às demandas e carências. As políticas públicas representam o sentido</p><p>do desenvolvimento histórico-social dos atores sociais na disputa para construir a hegemonia.</p><p>• Mediações institucionais: são as políticas públicas que representam as mediações entre os</p><p>interesses e valores de diversos atores sociais que se defrontam em espaços públicos a fim de</p><p>negociar soluções para o conjunto da sociedade ou para determinados grupos sociais.</p><p>• Dimensão estratégica: é representada pelas políticas públicas que são diretamente ligadas ao</p><p>modelo econômico e à constituição de fundos públicos e estabelecem referência</p><p>e base para a</p><p>definição de outras políticas ou programas em determinadas áreas. As inovações tecnológicas</p><p>25</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>e a reestruturação produtiva, acompanhadas de seus efeitos sobre o emprego e o agravamento das</p><p>desigualdades sociais, devem ser consideradas nas opções estratégicas.</p><p>As opções estratégicas devem considerar alternativas que redirecionem o emprego – de maneira</p><p>que tornem seus beneficiários cidadãos ativos, com inserção social – e que contribuam para o</p><p>desenvolvimento da sociedade.</p><p>Podemos definir políticas públicas como um processo dinâmico composto de negociações,</p><p>pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses. Para participar desse processo é preciso o</p><p>estabelecimento de uma agenda. Essa agenda reflete interesses que podem ser ou não dos setores</p><p>majoritários da população. Essa participação vai depender do grau de mobilização da sociedade civil</p><p>e da institucionalização de mecanismos que viabilizem sua participação. Estão envolvidos os conceitos de</p><p>composição de classe, mecanismos internos de decisão dos diversos aparelhos e seus conflitos, e alianças</p><p>internas da estrutura de poder. Esses conceitos estão imersos nas pressões sociais e nos conflitos da sociedade.</p><p>Quando nos referimos à sociedade civil devemos reconhecer a diversidade de interesses e visões presentes.</p><p>Chegar a um consenso exige a realização de uma tarefa complexa, pois é necessário o debate, o confronto e</p><p>a negociação. Esse consenso depende do grau de organização da sociedade civil e de suas organizações, que</p><p>atualmente estão fragmentadas, embora com algumas iniciativas de articulação de alguns setores.</p><p>Teixeira (2002) aponta os passos a serem seguidos para uma participação efetiva e eficaz da</p><p>sociedade civil:</p><p>a) elaboração e formulação de um diagnóstico participativo e estratégico com</p><p>os principais atores envolvidos, no qual se possa[m] identificar os obstáculos</p><p>ao desenvolvimento, fatores restritivos, oportunidades e potencialidades;</p><p>negociação entre os diferentes atores;</p><p>b) identificação de experiências bem-sucedidas nos vários campos, sua</p><p>sistematização e análise de custos e resultados, tendo em vista possibilidades</p><p>de ampliação de escalas e criação de novas alternativas;</p><p>c) debate público e mobilização da sociedade civil em torno das alternativas</p><p>mais entre os atores;</p><p>d) decisão e definição em torno de alternativas; competências das diversas</p><p>esferas públicas envolvidas, dos recursos e estratégias de implementação,</p><p>cronogramas, parâmetros de avaliação;</p><p>e) detalhamento de modelos e projetos, diretrizes e estratégias; identificação</p><p>das fontes de recursos; orçamento dos meios disponíveis e a providenciar;</p><p>mapeamento de possíveis parcerias, para a implementação;</p><p>f) na execução, publicização, mobilização e definição de papéis dos atores,</p><p>suas responsabilidades e atribuições, acionamento dos instrumentos e meios</p><p>de articulação;</p><p>26</p><p>Unidade I</p><p>g) na avaliação, acompanhamento do processo e resultados conforme</p><p>indicadores; redefinição das ações e projetos (TEIXEIRA, 2002, p. 5).</p><p>Atualmente, os conceitos que fazem parte do conteúdo e do processo da estruturação das políticas</p><p>públicas são: sustentabilidade, democratização, eficácia, transparência, visibilidade, diversidade,</p><p>participação e qualidade de vida para a construção de uma nova ética centrada na vida, na solidariedade,</p><p>com vistas a uma cultura da paz. Mas não basta conhecer esses elementos, é preciso que sejam traduzidos em</p><p>parâmetros objetivos para que orientem a elaboração, a implementação e a avaliação das políticas propostas.</p><p>O Estado de Bem-Estar Social, como uma das formas de atuação da política, não deu conta de</p><p>atender a todas as necessidades educacionais que se propôs a oferecer à coletividade social. O governo,</p><p>como responsável pelo desenvolvimento das políticas públicas em educação, não cumpriu as metas de</p><p>universalização da educação escolar obrigatória, da qualidade de ensino, da remuneração do professor</p><p>e da proposta de valorização do magistério; também não resolveu satisfatoriamente os problemas</p><p>relacionados a políticas públicas de formação continuada dos profissionais da educação e ao estado de</p><p>precariedade das instalações dos estabelecimentos de ensino. Isso é visível nos índices de analfabetismo</p><p>e no resultado insatisfatório das avaliações institucionais das diferentes esferas de poder (federal,</p><p>estadual e municipal), que apontam problemas ainda básicos de leitura e interpretação de textos e na</p><p>resolução de problemas de Matemática.</p><p>O conhecimento dos mecanismos envolvidos no estabelecimento de políticas públicas propicia</p><p>informações sobre como executar ações de intervenção a favor dos princípios da Constituição Federal</p><p>de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96. Os textos legais apresentam</p><p>conquistas sobre direitos individuais, coletivos e sociais; o direito à educação escolar é definido como um</p><p>direito social, que se expressa por meio de medidas como o acesso do aluno à escola e sua permanência</p><p>com sucesso escolar, o financiamento da educação, a definição do que são gastos em educação e a</p><p>prestação de contas sobre os gastos realizados. A avaliação do desenvolvimento do processo educativo</p><p>é o instrumento que pretende verificar se programas, planos e ações estão ocorrendo de acordo com</p><p>os preceitos legais, como a permanência do aluno na escola até completar sua escolaridade básica</p><p>e a responsabilização dos poderes públicos e dos órgãos administrativos pela elaboração de políticas</p><p>educacionais que permitam a realização dos anseios sociais presentes na legislação educacional e de</p><p>acordo com as necessidades sociais e educacionais da atualidade.</p><p>2.2.2 Políticas públicas pós-neoliberalismo</p><p>Autores como Barroso (2005) discutem que a proposta neoliberal adotada como fundamentação</p><p>para o desenvolvimento de políticas públicas afirmando que a sociedade civil deve se responsabilizar pelo</p><p>desenvolvimento de ações demandadas por contextos locais é, de certo modo, uma desresponsabilização</p><p>do Estado pelo setor social, especificamente pela educação escolar. Na proposta neoliberal, as políticas</p><p>públicas educacionais que atendiam especificamente à unidade escolar deviam ser desenvolvidas por</p><p>meio de ações, programas e planos envolvendo a parceria entre a sociedade civil e a escola pública,</p><p>mas, mesmo assim, não resultaram na melhoria da qualidade do ensino oferecido à população. Em</p><p>função disso, aponta que está havendo uma recomposição das relações entre “Estado e mercado, no</p><p>que se refere ao fornecimento e financiamento dos serviços púbicos, incluindo, no caso vertente, a</p><p>27</p><p>POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>educação” (BARROSO, 2005, p. 745). No Brasil, as organizações do terceiro setor têm atuado em parceria</p><p>com as instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm o objetivo de atender a cada</p><p>estabelecimento de ensino em ações e programas específicos. Tais ações e programas estão relacionados</p><p>diretamente ao Projeto Político-Pedagógico da escola e têm o objetivo de proporcionar, aos educandos</p><p>da escola, atividades que venham a contribuir para a efetivação da qualidade de ensino que é necessária</p><p>à população. Dessa forma, efetiva-se o objetivo da política neoliberal, que é manter a sociedade civil,</p><p>representada pelo terceiro setor, ou seja, as ONGs, em parceria com as unidades escolares vinculadas</p><p>às redes públicas de ensino municipal ou estadual. Essas organizações do terceiro setor podem buscar</p><p>recursos públicos e privados para o atendimento a esses projetos sociais voltados para a educação</p><p>escolar. Porém, tais projetos geralmente são desenvolvidos por tempo limitado e não conseguem abranger</p><p>toda a coletividade escolar e seu cotidiano, tornando, assim, frágil a relação entre ONGs e escolas, e não</p><p>atingindo o objetivo de melhorar a qualidade do ensino. Em contrapartida, é defendido que qualquer que seja</p><p>a mudança nas questões políticas, é preciso proteger e promover a</p>

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