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22 Abordagem Clínica do Paciente Reumático ..........................485 23 Auto-anticorpos nas Doenças Reumáticas ...........................507 24 Aplicações da Biologia Molecular a Doenças Reumáticas Auto-imunes ....................................................517 25 Diagnóstico por Imagem nas Doenças Reumáticas ..............535 26 Tratamento das Doenças Reumáticas – Introdução ..............565 26.1 Princípios de Terapêutica Reumatológica Medicamentosa .....566 26.2 Tratamento de Reabilitação em Reumatologia .....................602 27 Artrite Reumatóide .............................................................623 28 Artrite Idiopática Juvenil .....................................................637 29 Lúpus Eritematoso Sistêmico .............................................651 30 Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide .................................663 31 Esclerose Sistêmica ..........................................................675 32 Dermatomiosite e Polimiosite .............................................687 33 Síndrome de Sjögren .........................................................699 34 Vasculites – Aspectos Gerais .............................................709 34.1 Poliartrite Nodosa e Poliangeíte Microscópica, Síndrome de Churg-Strauss e Granulomatose de Wegener ...................715 34.2 Doença de Behçet .............................................................726 34.3 Crioglobulinemias ..............................................................732 34.4 Arterite Temporal ..............................................................735 34.5 Arterite de Takayasu .........................................................739 34.6 Púrpura de Henoch-Schönlein .............................................744 34.7 Doença de Kawasaki .........................................................750 35 Lombalgias e Lombociatalgias – Introdução .........................757 35.1 Lombalgias e Lombociatalgias – Características Gerais ........758 35.2 Espondiloartropatias ..........................................................781 36 Doenças Reumáticas Associadas a Infecções – Introdução...795 36.1 Artrites Infecciosas ............................................................796 36.2 Doença de Lyme-símile ......................................................802 36.3 Febre Reumática ...............................................................813 36.4 Manifestações Reumáticas na Infecção pelo HIV .................822 37 Doenças Reumáticas Não-imunológicas – Introdução ...........833 37.1 Artropatias Microcristalinas ................................................834 37.2 Osteoartrite ......................................................................843 37.3 Fibromialgia ......................................................................857 38 Policondrite Recidivante .....................................................863 39 Avaliação da Qualidade de Vida de Pacientes Reumáticos ....867 PARTE II – IMUNOLOGIA CLÍNICA DAS DOENÇAS REUMÁTICAS Voltarelli22.indd 483Voltarelli22.indd 483 30/9/2008 15:59:3830/9/2008 15:59:38 Voltarelli22.indd 484Voltarelli22.indd 484 30/9/2008 15:59:4430/9/2008 15:59:44 Abordagem Clínica do Paciente Reumático Ivan F. de Carvalho Paulo Louzada Jr. Júlio C. Voltarelli Eduardo A. Donadi Capítulo 22 OBSERVAÇÃO CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO “Clinical observations are the alpha and omega of medicine.” Joseph L. Goldstein, acceptance of the Kober Medal. J. Clin Invest. 110: S11-13, 2003. A elaboração de um diagnóstico médico envolve necessariamente duas etapas fundamentais: a coleta e a análise dos dados da história clínica, exame físi- co e exames auxiliares. Na realidade, considera-se a observação clínica como o exercício de uma arte que se consolida somente com a prática contínua. Presume-se que o médico já detenha o conhecimen- to básico (adquirido na graduação e disponível nos livros-textos de medicina) tanto sobre as doenças reumáticas mais comuns como também sobre as infreqüentes. Como a área da medicina evolui ra- pidamente, o clínico, além da prática, precisa fazer revisões dos conceitos doutrinários com freqüência, ou, em outras palavras, sempre estudar. Nessa linha de considerações, vale lembrar que a observação clínica bem feita contribui de maneira muito mais signifi cativa ao diagnóstico do que o mero registro de dados obtidos mecanicamente por questiona- mento monótono, inspirado mais pela rotina do que pelo propósito de esclarecimento. Ainda em nosso meio, na entrevista, é preciso superar a eventual barreira da linguagem presente em várias situações de comunicação difícil, seja por regionalismos, seja por vocabulário defi ciente do paciente. É necessário advertir que não é objetivo deste capítulo reduzir o exame clínico exclusivamente aos modelos sintéticos da disciplina. Ao contrário, pretende integrar a observação clínica dirigida ao paciente reumático nos parâmetros de maior abran- gência da propedêutica médica trabalhada metódica e sistematicamente, mesmo porque o doente deve ser considerado como um todo. Uma análise perfunctória desse roteiro revela detalhamento maior do que habitualmente espera- do, mas a motivação para tal é justifi cada pelo lei- tor-alvo ao qual o texto é destinado: o principiante. A prática inicial de adesão completa a todos os itens assinalados no roteiro oferece ao seguidor um valor heurístico importante: no devido tempo, o iniciante adquire a habilidade desejada e passa a considerar na realização da observação clínica apenas o que é fundamental para a construção do diagnóstico, sejam as informações positivas, sejam as negativas. Assim, abandona os dados irrelevantes e reduz o tempo consumido na elaboração do exame clínico. É pertinente lembrar que a importância da ava- liação clínica não deve ser subestimada frente aos Em uma época permeada por tanta desumanidade praticada pelos homens, este capítulo é dedicado aos vinicultores da região de Barolo, onde é produzido um fabuloso líquido que traz em si o prazer de viver. Voltarelli22.indd 485Voltarelli22.indd 485 30/9/2008 15:59:4430/9/2008 15:59:44 486 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO exames subsidiários como meio de diagnóstico. A literatura de duas décadas atrás registrava na clínica médica geral a obtenção do diagnóstico da doença em 56% dos pacientes já ao fi nal da história clínica, aumentando para 73% ao termo da execução do exame físico, ou seja, fornece ao médico parte signifi cativa das informações necessárias ao diag- nóstico. Apesar das mudanças havidas na medicina, é improvável que os exames subsidiários dispensem a observação clínica. Ainda hoje, muitos ignoram os eventuais erros que podem afetar o signifi cado dos exames subsidiários desde a coleta, o processamento das amostras e a variabilidade biológica inerente aos indivíduos analisados. Toda pessoa que procura assistência médica tem direito a um exame clínico completo. O doente é humano: apresenta-se com receio, mas esperançoso e procura ganhar alento no contexto do signifi cado quase sempre distorcido dos seus sinais e sintomas. Ao médico impõe-se a observância de preceitos de dignidade humana ao lidar com o paciente; dele espera-se tato, empatia, compreensão e largueza de espírito; jamais deve mostrar-se com pressa ou desinteressado. Assim como o domínio do conhe- cimento dos mecanismos básicos das doenças é essencial, o investimento em uma observação clínica solidária e discernente é o melhor meio para criar uma boa relação médico/paciente de ordem ética, profi ssional e emocional. A identifi cação completa do paciente fornece pistas importantes para o diagnóstico. A maioria das doenças reumáticas acomete preferencialmente determinada faixa etária/sexo, de tal modo que esse conhecimento permite dirigir o raciocínio clínico para as doenças que se enquadram no perfi l demográfi co do paciente(Ta- bela 22.1). A atividade profi ssional ou de lazer pode indicar predisposição a osteoartritre ou tendinite/bur- site em trabalhadores braçais, artesões e esportistas. Pacientes com aids podem apresentar poliartralgias e, em menor freqüência, síndromes de Reiter e de Sjögren, artrite psoriásica e vasculites. Curiosamente, a artrite séptica é mais rara do que se esperaria em uma imunodefi ciência tão grave (Capítulo 36.4). Após colher os dados da identifi cação do pa- ciente, deve-se procurar colocá-lo à vontade e ouvir seus problemas desde a primeira manifestação. Alguns pacientes procuram dar ênfase aos proble- mas mais recentes, omitindo dados importantes da história pregressa. Podem negar, por exemplo, um surto de artrite na infância, que auxiliaria no diagnóstico de artrite idiopática juvenil (AIJ) ou de febre reumática aguda (FRA). ANAMNESE Queixa Principal Por que o senhor ou a senhora procurou o mé- dico? Essa pergunta, de forma geral, deve abrir a primeira consulta médica. Tabela 22.1. Incidência Preferencial de Doenças Reumáticas de acordo com a Idade e o Sexo Doença Idade Sexo Artrite reumatóide 25 a 55 Feminino Artrite idiopática juvenil < 16 Feminino* Lúpus eritematoso sistêmico (LES) 15 a 40 Feminino Febre reumática aguda 5 a 15 Sem preferência Esclerose sistêmica 30 a 50 Feminino Dermatopolimiosite 45 a 65 Feminino Doença mista do tecido conjuntivo 30 a 40 Feminino Panarterite nodosa 40 a 60 Masculino Espondiloartropatias 15 a 35 Masculino Gota > 30 Masculino Osteoartrite > 50 Sem preferência** *Certos subgrupos podem mostrar distribuição diferente, ver Capítulo 28. **Nódulos de Heberden nas articulações IFD predominam em mulheres. Voltarelli22.indd 486Voltarelli22.indd 486 30/9/2008 15:59:4530/9/2008 15:59:45 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 487 Procurar descrever os sintomas com as próprias palavras, evitando assumir diagnósticos prévios, mesmo que o médico que avaliou seja considerado uma referência na especialidade. Vale enfatizar o aforismo: “Ninguém é bom o sufi ciente que não possa errar e ninguém é ruim o suficiente que não possa acertar.” Queixa e duração do envolvimento: apresentação sumária dos principais sintomas e suas durações (agudo: < duas semanas; subagudo: duas a seis semanas, crônico: > seis semanas). História da Moléstia Atual Em que pesem os aspectos subjetivos desta parte, a descrição deve ser em linguagem concisa e cronológica dos sintomas da doença atual e sua evolução (sintomas e não diagnósticos). No caso do paciente reumático, ênfase deve ser dada aos seguintes aspectos: início: quando e como começou? (traumático?, abrupto?, gradual?); fatores desencadeantes: trauma, atividade física incomum, infecções, contato sexual, viagem, contato com doença infecciosa, drogas, vacinas, injeções, cirurgia, excesso alimentar ou alcoóli- co, exposição ao sol ou ao frio, crise emocional, depressão; envolvimento articular: os sinais e sintomas permanecem estáveis ou estão se intensifi cando? Articulações afetadas inicialmente e subseqüen- temente, padrão da evolução do envolvimento (episódico, migratório, aditivo, simultâneo). Nú- mero de articulações envolvidas (uma – mono; duas a quatro – oligo, ≥ cinco – poli), simetria ou assimetria, gravidade do envolvimento. Sempre indicar com precisão anatômica a articulação afetada, com preferência pelo comprometimento do esqueleto axial ou apendicular; padrão temporal: indicar a relação com o mo- mento do dia, dor noturna, interferência com o sono (acorda por causa da dor?). Rigidez matinal e a sua duração. Duração dos episódios infl ama- tórios; fatores de alívio e de piora: efeito do repouso e do exercício. Decúbito preferencial: dorsal, ventral ou lateral?; grau de comprometimento: extensão da inca- pacidade sobre tarefas essenciais da vida diária (lavar-se, comer, atividades de higiene no banhei- ro, sentar, levantar, andar, uso de escadas etc.). Capacidade de trabalho, existência de difi culdades particulares (movimentos dolorosos, atividades difíceis etc.); sintomas associados: − gerais: perda de peso, febre, anorexia, mal-estar, fadiga, estado psíquico; − específicos: erupção cutânea, diarréia, dores em outros locais e sintomas associados a outros sistemas; − passado mórbido do aparelho comprometido: houve crises anteriores? (quando, como se ma- nifestou, duração, terapêutica, resolução). Interrogatório sobre os Diferentes Aparelhos Interrogatório sobre todos os outros aparelhos relacionando os dados obtidos com a evolução da doença atual sempre que possível. Pele: prurido, manchas, outras lesões cutâneas, pápulas, nódulos, petéquias, equimoses, eritemas, sufusões hemorrágicas. Fenômeno de Raynaud. Fotossensibilidade. As manifestações cutâneas são encontradas em um grande número de do- enças reumáticas, muitas vezes conduzindo ao seu diagnóstico. É o caso do eritema marginado da FRA, das lesões eritemato-descamantes e un gueais da psoríase, da perda de elasticidade da pele na esclerose sistêmica (ES), do eritema palpebral violáceo (heliótropo) da dermatopoli- miosite (DM-PM) e do eritema malar em “asa de borboleta” e a fotossensibilidade no lúpus erite- matoso sistêmico (LES). Nódulos subcutâneos são comuns em AR, panarterite nodosa (PAN) e gota (tofos). Lesões eritematosas puntiformes nas extremidades dos dedos, com ou sem ulceração, sugerem vasculite. Cabeça: cefaléia, vertigens, tonturas, perda da consciência, alopecia. Esses sintomas são comuns em pacientes com LES e nas vasculites. Olhos: edema palpebral, acuidade visual, escoto- mas, moscas volantes, diplopias, secura nos olhos. Irritação ocular e sensação de corpo estranho ocorrem na síndrome de Sjögren (SS) primária ou secundária à AR e ao LES. As espondiloartro- patias causam iridociclite aguda, cujos sintomas são fotofobia, lacrimejamento, vermelhidão e dor periorbital. Na AIJ oligoarticular em meninas, ao contrário, iridociclite crônica assintomática pode levar à cegueira. Boca: lesões da mucosa, dolorosas ou não, boca seca, comumente observadas em pacientes com LES e S. Sjögren. Voltarelli22.indd 487Voltarelli22.indd 487 30/9/2008 15:59:4530/9/2008 15:59:45 488 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO Nariz: epistaxe, corrimento, obstrução, alterações da olfação, ulcerações, também observados no LES e nas vas culites. Ouvidos: dor, corrimento, acuidade auditiva. Di- minuição aguda da audição pode ser indicativa de vasculite. Garganta: dor, rouquidão, afonia. Esses sintomas podem ser observados em pacientes com derma- tomiosite/polimiosite. Cardiorrespiratório: dor torácica, tosse, ronco, expectoração, hemoptise, palpitação, dispnéia, cia- nose, edema. A dor torácica sugestiva de pleurite ou pericardite é comum no LES; cardite com in- sufi ciência cardíaca, na febre reumática aguda ou crônica; e pneumonite, na esclerose sistêmica. Aparelho digestório: apetite: anorexia, sitiofobia, hiperfagia. Deglutição: disfagia, odinofagia. Re- gurgitação, pirose, dispepsia, má digestão (peso ou desconforto epigástrico), eructações, intole- rância alimentar, náuseas e vômitos, hematêmese, dor abdominal, distensão abdominal, meteorismo, flatulência. Hábito intestinal: freqüência das evacuações e características das fezes. Diarréia, disenteria, urgência retal, tenesmo, incontinência fecal, enterorragia, melena, constipação intestinal, icterícia, hipocolia fecal. A disfagia ocorre em esclerodermia e polimiosite, e vasculites podem causar abdome agudo por infartos mesentéricos e epigastralgia é comum pelo uso de drogas anti- reumáticas. Aparelho genitourinário: dores, polaciúria, oli- gúria, disúria, anúria, poliúria, nictúria, incon- tinência, hematuria, colúria. Tenesmo vesical. Pacientes com LES podem ter amenorréia ou abortamentos repetidos; urina espumosa denuncia proteinúria, mas o comprometimento renal do LES pode ser assintomáticoaté fases avançadas. Corrimentos uretral e vaginal, potência sexual e fertilidade, frigidez, ciclos menstruais. Alterações dos ciclos menstruais são comuns em doenças crônicas, e particularmente freqüentes em pacien- tes com LES. Sistema linfo-hematopoético: palidez, sangramen- tos, infecções freqüentes, adenomegalia. A anemia da doença crônica pode ser observada em muitas doenças auto-imunes mas as alterações mais fre- qüentes desse sistema são observadas no LES. Sistema endócrino-vegetativo: alterações dos pê- los e da voz, polidipsia, intolerância ao frio e ao calor, bócio, polifagia, galactorréia, ginecomastia. Alterações da função da glândula tireóide causa- das por mecanismos auto-imunes estão freqüente- mente associadas com as doenças reumatológicas auto-imunes. Neuropsíquico: irritabilidade, ansiedade, tremo- res, convulsões, parestesias, paralisias. Distúr- bios do sono. Distúrbios cognitivos. Distúrbios de comportamento, convulsões e acidentes vas- culares ocorrem no LES e em vasculites; estas, juntamente com a AR, causam freqüentemente parestesias, fraqueza muscular e outros distúrbios do sistema nervoso periférico. Aparelho locomotor: dor, espasmos musculares, cãibras. Claudicação intermitente, fraqueza mus- cular, fadiga. Dores ósseas (membros, coluna). Manifestações articulares (dor, calor, rubor, au- mento do volume, defi ciência funcional, rigidez matinal, deformações). Fraturas espontâneas, deformidades ósseas, mialgias. A grande maioria das doenças reumatológicas auto-imunes cursa com dor articular e a fraqueza muscular é parti- cularmente observada na dermato/polimiosite. Antecedentes Pessoais Condições de nascimento e desenvolvimento: parto, aleitamento, dentição, deambulação, fala, aprendizado escolar. Passado mórbido: referir todas as doenças, desde o nascimento até a moléstia atual e os tratamentos realizados. Importante saber quais medicações o paciente utilizou durante esse período e se elas proporcionaram benefícios ou efeitos adversos. De forma geral, se o diagnóstico está correto, a medicação indicada como primeira escolha ao tra- tamento geralmente proporciona algum benefício. Se isso não ocorre, o diagnóstico deve ser recon- siderado. Dessa forma, as informações referentes aos tratamentos prévios devem sempre constar na história clínica, pois elas poderão auxiliar no diagnóstico e na proposta terapêutica. Incluir ci- rurgias, traumatismos e transfusões sangüíneas. Febre reumática, psoríase, história de artrite na infância, coréia. Antecedentes reprodutivos: menarca, menopausa, vida sexual, gestações, abortos, partos. Medicações e tratamentos prévios. Condições de vida: casa (tipo de construção, no de cômodos, provisão de eletricidade, água e esgoto). Número de co-habitantes e condições sanitárias. Tipo de trabalho e remuneração, renda familiar. Dieta defi ciente ou incomum. Problemas emocio- nais ou sociais na família. Voltarelli22.indd 488Voltarelli22.indd 488 30/9/2008 15:59:4530/9/2008 15:59:45 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 489 Hábitos: álcool (tipo de bebida, quantidade, du- ração do hábito). Tabagismo, uso crônico de me- dicamentos. Tratamento atual. Uso de tóxicos. Antecedentes imunológicos: vacinações, alergias, reações a medicamentos. Antecedentes relacionados com doenças endêmi- cas e epidêmicas: tripanossomíase, esquistosso- mose, tuberculose, hanseníase, aids, hepatite B e C. Impacto funcional: questionar se os sintomas es- tão limitando a sua capacidade de trabalho, suas atribuições na família e suas atividades de lazer. Tais informações são importantes, pois serão utilizadas para avaliar o grau de funcionalidade articular, graduando a gravidade da doença, e para estabelecer a agressividade da terapêutica e as indicações cirúrgicas. Antecedentes Familiares Estado de saúde e condições de vida dos pais, ir- mãos, cônjuge e fi lhos. Causa mortis dos familiares. Outros casos de doença semelhantes à do paciente. Doença de incidência múltipla na família. Informar- se especifi camente sobre espondilite anquilosante, psoríase, doença de Behçet, gota, artrite reumatóide, colite ulcerativa, doença de Crohn, diabetes, doenças tireoideanas. SINTOMAS MAIS COMUMENTE OBSERVADOS NAS DOENÇAS REUMÁTICAS Dor Articular e Periarticular Muitos pacientes utilizam termos anatômicos inadequados para descreverem a localização da dor. É melhor pedir ao paciente para apontar direta- mente o ponto ou a área envolvida. Se a descrição for inadequada, algumas questões deverão ser di- recionadas para determinar se a dor é constante ou intermitente, generalizada ou localizada, simétrica ou assimétrica. Deve ser incluído na história médica se a dor é limitada às articulações ou se envolve estruturas periarticulares. A dor pode ser predominantemente distal (como na AR), ou proximal (como na fi bro- mialgia ou na polimialgia reumática). Outro ponto importante é se a atividade física melhora ou piora a dor. Movimentos suaves me- lhoram a dor de origem infl amatória, porém pioram quando a dor é de origem traumática, compressiva ou degenerativa. O período em que a dor piora também é im- portante. Pacientes com doenças inflamatórias podem ter rigidez ou dor, principalmente, pela manhã, que gradualmente melhoram durante o dia. Isso se deve ao acúmulo, no líquido sinovial, de substâncias pró-infl amatórias, cuja drenagem está diminuída durante longos períodos de repouso articular. À medida que se realizam movimentos, a velocidade de drenagem do líquido sinovial aumenta, reduzindo a quantidade de substâncias pró-infl amatórias e diminuindo a dor de origem articular. Nos pacientes com osteoartrite, a dor au- menta durante o dia e intensifi ca-se à noite. A dor noturna está geralmente associada, além das lesões infl amatórias, a lesões estruturais avançadas, como as que ocorrem na fase terminal de osteoartritee de joelhos, na ruptura completa do manguito rotador e em neoplasias. Em relação às doenças reumáticas que envolvem a coluna lombar, a lombalgia pode ser classifi cada como infl amatória ou não-infl amatória. De forma geral, a lombalgia infl amatória piora com o repouso, e é mais intensa no início da manhã, melhorando com a movimentação. Ela pode originar dor noturna. A lombalgia não-infl amatória (degenerativa, trau- mática, muscular, compressiva – hérnia de disco ou osteófi to comprimindo raiz nervosa) melhora com o repouso e piora com a movimentação. Pode haver sintomas neurológicos secundários à compressão de raízes nervosas. A dor em queimação, geralmente, está associada a esse tipo de comprometimento neurológico. Rigidez Articular A rigidez é a difi culdade de movimentação das articulações e que nem sempre pode ser distin güida da própria dor articular. Doenças inflamatórias (como AR, as espondiloartites e a polimialgia reu- mática) apresentam rigidez matinal prolongada, com mais de 1 hora de duração, nas áreas envolvidas. A rigidez alivia com a atividade articular. Deve-se ressaltar que no paciente com osteoartrite e avançada de joelho pode ocorrer o fenômeno da gelifi cação, que nada mais é que a difi culdade para reassumir atividade física que envolva a articulação do joelho, após sentar-se. Edema Articular e Periarticular As questões devem ser dirigidas a fi m de esta- belecer se o edema é articular (como na artrite) ou periarticular (tenossinovites), se envolve o membro todo (linfedema) ou se ocorre em algumas áreas es- Voltarelli22.indd 489Voltarelli22.indd 489 30/9/2008 15:59:4530/9/2008 15:59:45 490 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO pecífi cas (lipoma). Outros pontos importantes são se o edema é persistente ou intermitente, se é simétrico ou assimétrico e se é limitado à área dolorosa. Por fi m, é importante caracterizar se o edema é mínimo pela manhã, piorando durante o dia. Fraqueza Muscular Fraqueza é defi nida como perda de força mus- cularque não se recupera com o repouso. Deve ser sempre diferenciada de fadiga, que é a perda de força muscular que se recupera com o repouso. A fraqueza é uma queixa freqüente em pacientes com sintomas músculo-esqueléticos. Pacientes com fraqueza gene- ralizada devem ser questionados a respeito de quais atividades não conseguem realizar. Dificuldades em subir escadas ou em levantar-se após agachar indicam fraqueza da musculatura da cintura pélvica. Por outro lado, difi culdade em pentear os cabelos, estender roupas no varal e escovar os dentes indicam fraqueza da cintura escapular. Essas queixas são observadas em indivíduos que apresentam quadro de miopatia infl amatória (polimiosite). Se a fraqueza envolve um membro, sem evidência de fraqueza em outro lugar, o comprometimento de estruturas do sistema nervoso deve ser considerado (central ou periférico). A utilização do termo fraqueza é comum para de- fi nir sensação de mal-estar, adinamia, prostração, in- disposição e, até mesmo, para indicar que o paciente não se sente bem, mas não sabe precisar o porquê. Esse uso inapropriado do termo fraqueza deve ser sempre checado no exame físico, testando os grupos musculares quanto à força contra resistência ativa e contra a gravidade (passiva). A força muscular pode ser graduada da seguinte forma: grau 0: nenhuma contração muscular; grau 1: contração palpável, com pouco ou ne- nhum movimento; grau 2: movimentos possíveis, mas nenhum mo- vimento contra a gravidade; grau 3: movimentos contra a gravidade, mas nenhum contra resistência; grau 4: movimentos contra resistência natural; grau 5: movimentos contra resistência forçada. Sintomas Constitucionais Pacientes com febre (especialmente com tem- peratura axilar superior a 38,5°C) podem apresen- tar infecção, neoplasia ou doenças inflamatórias auto-imunes, como o LES ou as vasculites. Em contraste, pacientes com síndromes dolorosas crô- nicas, como a fi bromialgia, geralmente se queixam de “febre baixa”, mas esta raramente é persistente e objetivamente determinada. A perda de peso, em geral, acompanha pacientes com febre persistente e o ganho de peso é a norma em pacientes com dor crônica ou fi bromialgia. Sono A história a respeito do sono é importante nos pa- cientes com dor crônica. Pacientes com fi bromialgia e doenças infl amatórias sistêmicas apresentam um sono não-restaurador, entrecortado, superfi cial e, fre- qüentemente, queixam-se de acordarem cansados. Fenômeno de Raynaud O diagnóstico do fenômeno de Raynaud é basea- do na história clínica. Os pacientes se queixam que, ao se exporem ao frio, seus dedos tornam-se brancos ou pálidos e bastante dolorosos. Subseqüentemente à palidez, tornam-se arroxeados e, por fi m, averme- lhados. Essas queixas representam as três fases do fenômeno de Raynaud: vasoconstrição, cianose e hiperemia reativa. A duração do fenômeno de Ray- naud é variável e pode durar de minutos a horas, especialmente a fase de vasoconstrição. O fenômeno é mais bem visualizado nas mãos, é bilateral e pode ser simétrico, ou seja, acometer todos os dedos. Po- rém, enquanto se pode visualizar a palidez no tercei- ro quirodáctilo esquerdo e no segundo quirodáctilo direito, outros dedos podem estar na fase cianótica ou de hiperemia reativa. Nessa condição, o médico pode realizar o diagnóstico de obstrução arterial aguda de forma inadequada. Uma outra condição que pode ocorrer é o paciente estar com o fenômeno de Raynaud, na fase cianótica, acometendo os dedos das mãos e dos pés, fazendo com que o médico sus- peite, inadequadamente, que a causa da cianose seja de origem respiratória. O médico pode mimetizar o fenômeno de Ray- naud pedindo ao paciente para segurar, com a mão esquerda, durante 5 minutos, algumas pedras de gelo (que estão dentro de um saco plástico), e obser- var o fenômeno de Raynaud na mão contralateral. Indivíduos com fenômeno de Raynaud devem ser investigados quanto à presença de doenças auto- imunes, como lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica, doença mista do tecido conectivo, sín- drome de Sjögren, síndrome de CREST (calcinose, Raynaud, envolvimento esofágico, esclerodactilia, telangiectasias). Voltarelli22.indd 490Voltarelli22.indd 490 30/9/2008 15:59:4630/9/2008 15:59:46 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 491 Fatores Moduladores O frio e o estresse emocional pioram a maioria das dores reumáticas; a FRA exibe resposta dramá- tica à aspirina, e a gota, à colchicina. EXAME FÍSICO Exame Físico Geral Aspecto geral: saudável? Reflete a doença? Estado de consciência. Estado de nutrição. Fácies. Atitude: ativa, passiva ou forçada (antálgica, opis- tótono, ortopnéia, genu-peitoral etc.). Pele: cor: normal, pálida, ictérica, cianótica etc. Umidade: seca, úmida. Elasticidade, sensibilida- de, máculas, petéquias, vesículas, bolhas, pápulas, nódulos, tubérculos, úlceras, atrofi a, esclerose. Pesquisar e anotar a sensibilidade das lesões cutâneas. Erupções, lesões vasculíticas. Tofos. Anexos: pêlos (quantidade e distribuição) e unhas (cor, forma, consistência, espessura). Mucosas: cor, umidade, pigmentos anormais, lesões. Tela subcutânea: turgor, grau de desenvolvimento do panículo adiposo (escasso, normal, abundante), distribuição. Edema [localização, consistência, grau de intensidade (+ a ++++), coloração, tem- peratura, sensibilidade]. Circulação colateral (localização, sentido da corrente, tipo). Gânglios linfáticos: gânglios palpáveis (sede, número, tamanho, forma, consistência, sensibi- lidade, coalescência, mobilidade, fistulização, condições da pele adjacente). Musculatura: tonicidade e trofi smo (hipo, hiper ou atrofi a), pontos dolorosos. Peso, altura, temperatura axilar. Exame Físico Especial Cabeça Crânio: simetria, exostoses, pontos dolorosos, couro cabeludo (lesões, cicatrizes). Olhos: pálpebras (ptose, lagoftalmo, edema, infl a- mação, xantelasma), heliotropo. Globos oculares (exoftalmia, enoftalmia, estrabismo, nistagmo, mobilidade). Conjuntivas (cor, umidade, exsudato, hemorragias), xeroftalmia. Escleróticas: íris, pupi- las (iso ou anisocoria, refl exos à luz, consensual e de acomodação). Campo visual. Fundo de olho. Nariz: deformações, fossas nasais. Corrimento. Batimento das asas do nariz. Lesões destrutivas. Ouvido: deformações do pavilhão, sinais infl ama- tórios. Dor. Corrimento. Seios da face e mastóides: dor à pressão e à per- cussão. Boca: lábios, gengivas, lesões infl amatórias, ex- sudatos, piorréia, pigmentação. Dentes: estado de conservação, falhas, raízes, próteses. Língua: coloração, papilas, saburra, desvios, tre- mores, macroglossia, hipotrofi as. Hálito: cetônico, amoniacal, pútrido, alcóolico. Orofaringe: cor, exsudatos, amígdalas (volume, hiperemia, exsudatos, pontos purulentos). Pescoço Forma e volume: relevos musculares. Pulsações arteriais e venosas. Estase jugular. Pulso venoso (estimativa da pressão venosa). Glândula tireóide (forma, consistência, superfície, sensibilidade, sopros). Tórax Aparelho respiratório: − inspeção estática: forma do tórax. Abaulamento e retrações. Circulação colateral. Condições das partes moles e do arcabouço ósseo; − inspeção dinâmica: tipo, freqüência e ritmo respiratório. Expansão respiratória: amplitude, simetria e regularidade. Tiragem; − palpação: condições das partes moles e do arcabouço ósseo (edema, enfi sema subcutâneo, atrofi a e contraturas musculares, sensibilidade). Expansibilidade torácica. Frêmito brônquico e pleural. Frêmito tóraco-vocal; − percussão: topográfi ca e comparada. Percussão da coluna, das clavículas e do esterno; − ausculta: murmúrio vesicular e respiração bronco-vesicular. Ausculta da voz. Ruídos anor- mais (estertores grossos ou fi nos, roncos, sibilos, atrito pleural). Aparelho circulatório: precórdio: − inspeção e palpação: deformidades, abaulamen- tos, retrações. Choque da ponta: localização e extensão.Frêmitos. Atritos; − ausculta: ritmo, freqüência, bulhas (intensidade, desdobramentos, presença de terceira ou quarta bulhas). Ruídos anormais: sopros [local de maior intensidade, fase do ciclo cardíaco, intensidade Voltarelli22.indd 491Voltarelli22.indd 491 30/9/2008 15:59:4630/9/2008 15:59:46 492 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO (1+ a 6+), timbre, irradiação, tipo, comporta- mento durante inspiração e expiração]. Estalidos e cliques. Atritos: localização, fase do ciclo, resposta a manobras posturais e respiratórias; − artérias: elasticidade, estado das paredes. Pul- sos carotídeo, radial, femoral, poplíteo, tibial posterior e pedioso (freqüência, amplitude e simetria). Pressão arterial (membros superiores e inferiores) bilateralmente, deitado, sentado e em pé, manobra de Adson (ver pág. 52). Abdome Percussão: timpanismo, macicez, sinais de ascite. Ausculta: ruídos hidroaéreos. Atritos, sopros. Palpação superfi cial: condições da parede, toni- cidade, sensibilidade e massas. Sinais de perito- nismo. Profunda e deslizante: palpação dos segmentos do tubo gastrintestinal e massas anormais (sede, forma, consistência, dimensões, mobilidade, sen- sibilidade). Fígado: percussão e palpação (hepatimetria). Ca- racteres: tamanho, consistência, superfície, borda, sensibilidade. Pulso hepático. Hepatomegalia. Vesícula biliar: sinal de Murphy. Baço: percussão e palpação. Caracteres (os mes- mos que para o fígado). Esplenomegalia. Rins: percussão das regiões lombares (Giordano). Períneo: doença perineal (fi ssura, fístula). Genitais externos: inspeção. Sistema Nervoso Equilíbrio estático: sinal de Romberg. Equilíbrio dinâmico: marcha (normal, claudica- ção, movimentos difíceis). Funções motoras: atrofi a muscular. Tônus (resis- tência à movimentação passiva das articulações, prova do “balanço” das extremidades, palpação muscular). Força muscular (manobras defi citárias e de contra-resistência). Motricidade voluntária. Paralisias. Coordenação dos movimentos: eupraxia, apraxia. Refl exos profundos: aquileu, patelar, estilo-radial, bicipital e tricipital. Refl exos superfi ciais: cutâneo-plantar, cremasté- rico e cutâneo-abdominal. Funções sensoriais: a avaliação completa não costuma ser executada habitualmente, salvo em situações de dor, formigamento, défi cit motor e ausência de sensibilidade (p. ex., anestesia). Teste de Phalen (Fig. 22.1) e de Tinel (pág. 503). Sensibilidade superfi cial: tátil, térmica e dolorosa. Sensibilidade profunda: segmentar, visceral, do- lorosa à palpação profunda, vibratória, barestesia e esterognóstica. Sinais meníngeos: rigidez nucal, rigidez espi- nhal (opistótono), sinal de Kernig e sinal de Brudzinski. Coluna Vertebral Inspeção: forma. Curvaturas anormais (cifose, es- coliose, lordose) (Fig. 22.1.), mobilidade (fl exão, extensão, movimentos de lateralidade, rotação), dor aos movimentos. Manobra de compressão: dor ao longo das apófi - ses espinhosas. Articulações O exame do sistema músculo-esquelético come- ça com a observação geral do paciente ao adentrar o consultório e quando lhe apertamos a mão. No entanto, a sistematização do exame é indispensá- vel para não se omitir nenhuma das articulações. Estas compreendem o esqueleto periférico (mãos, punhos, cotovelos, ombros, têmporo-mandibulares, quadris, joelhos, tornozelos e pés) e o axial (colu- na cervical, torácica, lombossacra e articulações sacroilíacas). As técnicas semiológicas empregadas serão: inspeção: observar aumento de volume nas arti culações, rubor, deformidades, desvios, assi- metrias, trofi smo muscular, nódulos, alterações cutâneas. Pesquisar força muscular junto com movimentação ativa; palpação: pesquisar calor sobre a articulação (com o dorso de nossas mãos), consistência da cápsula articular, sensibilidade dolorosa à pres- são; diferenciar as tumorações articulares (edema, derrame, proliferação fi brótica ou óssea, nódulos, cistos e tofos); mobilidade: passiva (promovida pelo examinador) ou ativa (promovida pelo paciente). Todas as arti- culações devem ser examinadas, concentrando-se, porém, naquelas referidas pelo paciente na ana- mnese. Pelas suas particularidades e importância diagnóstica, abordaremos a seguir o exame físico das mãos e da coluna vertebral. Voltarelli22.indd 492Voltarelli22.indd 492 30/9/2008 15:59:4630/9/2008 15:59:46 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 493 O Exame das Mãos As articulações das mãos são punho (radio- carpiana), intracarpianas, carpometacarpianas, metacarpofalangianas (MCF) e interfalangianas proximais (IFP) e distais (IFD). Podem-se encon- trar evidências de infl amação (calor, rubor, edema, defi ciência funcional) em qualquer delas. Na artrite reumatóide, a infl amação das IFP com a hipotrofi a muscular associada conduz ao aspecto característico de “dedo em fuso”. A AR pode acometer as outras articulações das mãos, mas poupa as IFD. Estas são acometidas na osteoartrite ou por infl amação na ar- trite psoriásica. Várias deformidades podem ocorrer na mão reumatóide, como desvio ulnar, subluxações, anquiloses, hiperextensão e hiperfl exão. Na esclero- dermia, observa-se redução da elasticidade da pele nas porções mais distais dos dedos. Na síndrome do túnel do carpo, pode haver edema doloroso na super- fície fl exora do punho e a percussão dessa região ou a fl exão do punho (Fig. 22.21) poderá provocar dor e parestesias nos primeiro, segundo e terceiro dedos da mão (território do nervo mediano). O Exame da Coluna Vertebral Com o paciente de tronco despido e na posição vertical, observamos as curvaturas fisiológicas da coluna, ântero-posteriores (cifose e lordose) e laterais (escoliose), anotando as acentuações pato- lógicas. Assimetria na altura dos ombros auxilia a detectar curvaturas anormais. As apófi ses espinho- sas das vértebras devem ser palpadas com o polegar, observando-se ainda curvaturas anormais e pontos dolorosos. A palpação da musculatura paravertebral permite detectar espasmos musculares, presentes em processos infl amatórios e mecânicos, e múltiplos pontos dolorosos ou “zonas de gatilho”, caracterís- ticos da fi bromialgia. A palpação das articulações sacroilíacas é facilitada colocando o paciente de pé com o tronco fl etido sobre uma mesa. Dor sobre essas articulações por palpação direta ou por ma- nobras indiretas (Fig. 22.22) sugere a presença da sacroiliíte, que ocorre nas espondiloartropatias. Os movimentos de extensão, fl exão e rotação de cada segmento da coluna devem ser pesquisados levando em conta que as colunas cervical e a lombar são bastante móveis, ao contrário das torácica e sacral. A AR e a AIJ freqüentemente acometem a coluna cervical, produzindo infl amação e dor nos períodos iniciais e anquilose com perda de mobilidade nas fases avançadas. As espondiloartropatias, ao contrá- rio, iniciam-se por uma sacroiliíte dolorosa e aco- metem a coluna em sentido ascendente, levando à sua imobilização. A presença de sacroiliíte pode ser pesquisada por pressão digital sobre as projeções da articulação na região lombar ou por manobras especiais que causam movimento da articulação e sensação dolorosa nelas (Fig. 22.22). Verifi ca-se o envolvimento da coluna torácica e das articulações costovertebrais medindo a expansibilidade toráci- ca (diferença entre inspiração e expiração maior que 5 cm). A mobilidade da coluna lombar é mais bem avaliada pelo aumento da distância entre dois pontos, produzida por fl exão (teste de Schober), do que pela prova tradicional dos “dedos no chão”. Finalmente, a irritação das raízes do nervo ciático pode ser detectada pela manobra de Lasègue (dor lombar à fl exão da coxa com a perna estendida ou fl etida) (Fig. 22.12). O exame das articulações deve ser sistemático e incluir particularmente: membros: punhos, cotovelos, tornozelos, joelhos, ombros (vide abaixo), coxofemurais; mãos: interfalangianasdistais (IFD), proximais (IFP) e metacarpofalangianas (MCF); pés: interfalangianas (IF), metatarsofalangianas (MTF) e talocalcaneais; ombros: glenoumeral, acromioclavicular e ester- noclavicular; coluna vertebral: cervical, torácica e lombar; sacroilíaca; temporomandibular; inspeção: observar alterações da pele das áre- as afetadas (rubor, brilho). Deformidades da arti culação, inflamação, posição de repouso. Condições das partes moles: inchaço localizado, descoloração, hematomas, abrasão; palpação: consistência da pele, alterações da tem- peratura, umidade, edema infl amatório, presença de crepitação (grosseira, fi na), efusões. A ausên- cia de dor provocada por pressão dos dedos do médico sobre articulações, tendões e superfícies musculares é útil na exclusão de lesões; mobilidade: a movimentação passiva é classica- mente utilizada para avaliar o comprometimento articular por intermédio da extensão do movimen- to próprio de cada articulação, pela provocação de dor e contraturas. Como na manobra de aplicação de pressão pelo dedo do examinador, a ausência de dor na movimentação passiva praticamente afasta a presença de doença articular. Alguns exemplos das manobras utilizadas no exame das articulações são apresentados nas Figs. 22.1 a 22.22, que foram adaptadas das referências 9 e 10. Voltarelli22.indd 493Voltarelli22.indd 493 30/9/2008 15:59:4630/9/2008 15:59:46 494 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO De maneira geral, a relação entre as manobras de movimentação passiva (MP) e ativa (MA) pode ser útil na discriminação da origem do pro- blema: redução da MA e MP (concordância) = problema articular; Fig. 22.1 – Coluna vertebral: deformidades. Fig. 22.2 – Extensão dos dedos: o paciente é solicitado a colocar as faces palmares das mãos e dos dedos juntas, em contato. O contato completo dos dedos é obtido se não houver deformidade em flexão das articulações IFD, IFP e MCF. Fig. 22.3 – Punhos: o médico movimenta a mão do paciente para veri- ficar o ângulo de flexão palmar conseguido passivamente (A) e, em outra manobra, o ângulo alcançado pela dorsoflexão (B). Registrar o aparecimento de dor se for o caso. Fig. 22.5 – Ombros: a abdução e/ou rotação externa da articulação glenou- meral é avaliada solicitando-se ao paciente colocar as mãos atrás da cabeça (A); por outro lado, a extensão e/ou rotação interna é avaliada pedindo-se ao paciente para colocar as mãos atrás, na região inferior da espinha (B). Dificuldade na execução das manobras indica comprometimento dos movimentos da articulação glenoumeral. Dor provocada pelas manobras citadas poderia ser devida à tendinite supra-espinhal/infra-espinhal (A) ou subescapular (B). Fig. 22.4 – Ombros: o paciente é solicitado a elevar os membros superiores tão alto quanto possível. Dificuldade na execução da manobra indica comprometi- mento da articulação glenoumeral (desde que seja excluída a presença de paralisia muscular). O aparecimento de dor pela manobra pode ser devido a tendinite. redução da MA e MP normal (discordância) = problema nas partes moles, salvo a tendinite do supra-espinhoso (veja a seguir). A partir das informações obtidas antecipada- mente pela história clínica, o médico deve prever os locais de maior sensibilidade álgica e com Cifose Escoliose Lordose Normal Anormal 60o a 90o 60o a 90o A B A B Voltarelli22.indd 494Voltarelli22.indd 494 30/9/2008 15:59:4730/9/2008 15:59:47 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 495 Fig. 22.6 – Articulação temporomandibular: a movimentação pode ser avaliada pela extensão da abertura máxima da boca e por desvios laterais da mandíbula. Fig. 22.7 – Coluna vertebral dorsal: rotações laterais direita e esquerda são avaliadas pela movimentação passiva do tronco para o lado direito e, em outra manobra semelhante, para a esquerda, na maior extensão possível. Fig. 22.8 – Coluna vertebral: avaliação do comprometimento na espondilite anquilosante. Ereto e com as costas contra a parede, o paciente é solicitado a mover a cabeça até encostar na parede, manobra executada com facilidade em condições normais, e praticamente impossível no caso da coluna cervical comprometida na espondilite anquilosante avançada (sinal da seta). Fig. 22.9 – Coluna vertebral lombar: flexão. O paciente em pé é solicitado a curvar a coluna para frente e alcançar o piso com a ponta dos dedos sem flexão dos joelhos. Normalmente, o ângulo sacro-tornozelo alcança 80°. cuidado executar as manobras de movimentação sem incitar sofrimento desnecessário ao paciente. Sempre avaliar a amplitude dos movimentos, dor à movimentação, presença de instabilidade articular (hipermotilidade) e crepitação (sentida colocando- se a mão sobre a articulação ao movimentá-la). A presença de crepitação está relacionada com o comprometimento da cartilagem. A força (ou fraque- za) muscular pode ser estimada pela movimentação ativa e contra-resistência. Em uma apreciação fi nal, o médico precisa registrar a sua opinião sobre a capacidade de o paciente reconhecer a realidade, a sua maturidade emocional, bem como o grau de confi ança que merecem as informações prestadas. Particularidades do Exame Articular O exame de uma articulação deve ser sempre comparado com a contralateral. Há várias causas de edema articular. O excesso de líquido intra-articular produz uma protuberância ao longo das margens laterais da articulação, que pode ser facilmente deprimida, determinando a formação de uma outra protuberância, do lado oposto. O edema, ocasiona- do pelo acúmulo de líquido, tende a tornar-se fi rme quando a articulação for fl exionada. Por outro lado, na artrite infl amatória, ocorre hipertrofi a do tecido 45o a 75o Normal Anormal Voltarelli22.indd 495Voltarelli22.indd 495 30/9/2008 15:59:4730/9/2008 15:59:47 496 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO Fig. 22.12 – Manobra de Lasègue: paciente em decúbito dorsal. O médico ergue o membro inferior estendido flexionando a coxa o quanto possível (A). Normal- mente, o ângulo conseguido varia entre 60° a 90° sem provocar dor. Diminuição do ângulo abaixo de 60° sugere tensão na raiz do nervo ciático, com distribuição típica da dor: começa na nádega e irradia-se para baixo posteriormente na coxa, na face póstero-lateral da perna e, ocasionalmente, no maléolo externo. Na extensão máxima da manobra, a dorsoflexão do calcanhar exacerba a dor (B). Fig. 22.11 – Teste para cruralgia: paciente em decúbito ventral. O médico segura o pé e flexiona o joelho o quanto possível. O aparecimento de dor na face anterior da coxa (e não no dorso) é indicativo de compressão das raízes do nervo femoral do mesmo lado. Fig. 22.10 – Ângulo formado pela linha traçada entre C7-sacro e a coluna vertebral lombar: extensão. Em pé, o paciente tenta inclinar as costas para trás o quanto possível. Normalmente, a manobra configura um ângulo de 30° definido por uma linha traçada entre C7 e o sacro. Fig. 22.13 – Membro inferior: flexão. Com o paciente em decúbito dorsal o médico flexiona o joelho e a coxa até onde possível. A extensão normal do movimento é da ordem de 0° a 120°, diminuindo com a idade. sinovial, originando uma edemaciação simétrica, de consistência emborrachada, que não origina protu- berância contralateral, a não ser que também exista excesso de líquido sinovial. As articulações acometidas pela osteoartrite po- dem estar edemaciadas, mas à palpação o aumento articular é devido à hipertrofi a óssea (de consistência endurecida), devido à formação de osteófi tos. Essas alterações são observadas nas articulações interfa- langeanas proximais (nódulos de Bouchard) e nas interfalangeanas distais (nódulos de Heberden). O edema articular pode ser frio, tanto decor- rente de artropatias infl amatórias, como degenera- tivas. Porém, se houver aumento de temperatura, deve-se suspeitar de artropatia infl amatória grave. Se apresentar hiperemia franca,há grande proba- bilidade de estar ocorrendo infecção ou doença por deposição de microcristais (gota ou condro- calcinose). Nesse caso, a punção articular deve ser sempre realizada. A hiperemia também pode ocorrer devido a trauma articular, à hemartrose (comum em hemofílicos) e a comprometimento A B 60o a 90o Normal Anormal Voltarelli22.indd 496Voltarelli22.indd 496 30/9/2008 15:59:4830/9/2008 15:59:48 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 497 Fig. 22.14 – Membro inferior: rotação medial. Com o paciente em decúbito dorsal, a coxa é flexionada passivamente em 90°, como também o joelho (mantido na posição pela mão esquerda do médico). Com a mão direita, o médico dirige para fora o pé do membro examinado. O ângulo formado pela rotação medial da coxa é da ordem de 30° normalmente (A). Rotação lateral: em manobra similar mas dirigindo o pé para dentro, o ângulo formado pela rotação lateral da coxa alcança 60° (B). Fig. 22.15 – Membro inferior: adução. O paciente fica em decúbito dorsal, o médico mantém na posição a crista ilíaca ântero-superior com a mão esquerda e com a mão direita dirige para dentro o membro inferior estendido até onde for possível, observando o ângulo formado pelo membro movimentado e uma linha axial média entre os membros inferiores (A). Normalmente, o ângulo alcança 30° a 40°; (B) abdução: manobra similar mas dirigindo o membro inferior para fora. O ângulo formado pela abdução é da ordem de 25° a 50°. de ligamentos, meniscos e tecidos periarticulares, como tendões, bursas e pele. As articulações sintomáticas devem ser ava- liadas em relação à amplitude de movimento. A doença articular verdadeira determina dor, tanto na movimentação passiva como na ativa. Quando o movimento passivo excede o limite observado durante a movimentação ativa, o pro- blema, geralmente, não é de origem articular, mas sim periarticular (muscular, tendões, bursa). Outra manobra é pedir ao paciente que reprodu- za o movimento da articulação afetada contra uma resistência tal que impeça o movimento articular. Se essa manobra reproduzir dor, lesões A B 30o 60o A B 40o 25o Voltarelli22.indd 497Voltarelli22.indd 497 30/9/2008 15:59:4830/9/2008 15:59:48 498 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO Fig. 22.18 – Tornozelo: flexão plantar. O médico mantém firme a perna com uma das mãos e, com a outra sobre a superfície dorsal do pé, empurra o pé na direção caudal, evitando provocar dor. Normalmente, o ângulo alcançado é em torno de 55°. Fig. 22.17 – Tornozelo: dorsoflexão. O médico coloca uma mão sobre a porção anterior distal da perna para firmá-la e com a outra mão na superfície plantar do pé força a flexão do tornozelo na direção cranial, sem provocar dor. Normalmente, o ângulo alcançado é da ordem de 15°. Fig. 22.16 – Membro inferior: extensão. O paciente em posição prona e o joelho em extensão; o médico coloca a mão sob a porção distal anterior da coxa e eleva o membro inferior em direção ao teto, até onde for possível sem provocar dor. O ângulo alcançado a partir da posição inicial é da ordem de 5° a 20°. Fig. 22.19 – Tornozelo: inversão subtalar (A). Paciente em decúbito ventral e com os pés para fora da mesa de exame. O médico coloca uma das mãos sobre a região média da face posterior da perna para firmá-la e a outra mão na superfície plantar do calcâneo, prendendo-o entre o indicador e o polegar, a seguir movimenta-o medialmente até onde possível sem causar dor. A extensão do movimento é, normalmente, de 0° a 5°. Eversão subtalar (B). Com o paciente colocado na mesma posição utilizada para inversão subtalar, o médico impõe o movimento ao calcâneo na direção lateral. Normalmente, a extensão do movimento é da ordem de 0° a 5°. Fig. 22.20 – Joelho: sinal do abaulamento. O paciente fica em posição supina com o joelho estendido e relaxado. Inicialmente, o médico comprime a superfície medial do joelho e a porção suprapatelar para deslocar o líquido subjacente para o lado externo do joelho (A). Em seguida, com manobra oposta, procura mover o fluido para o lado medial (B). O aparecimento de um abaulamento ínfero-medial- mente à patela sugere a presença de uma efusão de volume pequeno. Normal Anormal Anormal Normal A B A B Normal Anormal Voltarelli22.indd 498Voltarelli22.indd 498 30/9/2008 15:59:4930/9/2008 15:59:49 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 499 musculares ou de tendões adjacentes devem ser fortemente consideradas. O padrão e a localização do comprometimento devem ser cuidadosamente observados, pois podem sugerir diagnósticos específi cos, como da temporo- mandibular na AR, da metatarsofalangiana (MTF) do hálux na gota aguda, da coluna lombossacra nas espondiloartropatias e osteoartrite. Contrariamente, a febre reumática, o LES e a gota raramente acometem a coluna, a osteoartrite poupa as articulações do pu- nho e metacarpofalangianas (MCF), excetuando-se a primeira MTF do hálux e a primeira radiocarpiana, e a AR afeta a coluna cervical, mas não a lombar. A osteoartrite envolve IFP e IFD, com distribuição assimétrica. Em adição, as metacarpofalangianas (MCF) estão freqüentemente poupadas, enquanto a carpometacarpiana da base do polegar é freqüente- mente acometida (rizartrose). Os tornozelos também estão comumente poupados na osteoartrose. Em con- traste, a artrite reumatóide compromete os punhos, as MCF e IFP de modo simétrico. A dor articular pode ser causada por comprome- timento da sinóvia (artrite ou artralgia) ou de estru- turas adjacentes à cápsula articular, como tendões, bursas, vasos e nódulos subcutâneos (periartrite ou reumatismo não-articular). Todas essas estruturas podem tornar-se inchadas e infl amadas, simulando artrite. A presença de grandes derrames articulares é praticamente patognomônica de artrite, embora pequenos derrames possam representar reações simpáticas a uma periartrite ou infecção óssea. O aumento de volume e a dor à palpação associados à periartrite são geralmente limitados a uma parte da articulação, ao contrário da artrite, que acomete toda a articulação. O inchaço articular é mais fi rme na periartrite do que na artrite. Nesta, há limitação da movimentação ativa e passiva, ao passo que na periartrite a movimentação ativa é mais afetada. A diferenciação entre artrite e periartrite é compli- cada pelo fato de muitas doenças poderem produzir ambas as alterações, como é o caso de artrite reu- matóide, espondiloartropatias, gota, artrite gonocó- cica e hepatite viral. Vale ressaltar a contagem das articulações en- volvidas. Essa contagem é feita levando em consi- deração os grupos articulares e não a articulação em si. Exemplifi cando, se o paciente apresentar artrite nos joelhos esquerdo e direito, serão contados dois grupos articulares e caracterizados como oligoartrite, simétrica. Por outro lado, se ele constatar a presença de artrite na IFP do segundo, terceiro e quarto quiro- dáctilos esquerdos e artrite na IFP do quarto e quinto quirodáctilos direitos, serão contados dois grupos articulares (IFP esquerda e direita) e não cinco, bem como o envolvimento será defi nido como simétrico. Dessa forma, a caracterização correta será de oligo- artrite simétrica e não de poliartrite assimétrica. Os grupos articulares são contados da seguinte forma: monoartrite: um grupo articular envolvido; oligoartrite: dois a quatro grupos articulares en- volvidos; poliartrite: cinco ou mais grupos articulares en- volvidos. É sempre importante caracterizar a presença ou não de infl amação articular. A presença dos cinco sinais infl amatórios nem sempre acontece. A dor, o Fig. 22.21 – Teste de Phalen para detecção da síndrome do túnel do carpo. Realizado por posicionamento dos punhos em flexão completa, um contra o outro por 60 segundos ou mais. A posição das mãos deve ser mantida por, pelo menos, um minuto. Caso positivo, o paciente irá referir parestesias na mão, na projeção de inervaçãodo nervo mediano. Fig. 22.22 – Manobra de mobilização das articulações sacroilíacas. Paciente deitado supino e o médico coloca os polegares sobre as projeções ântero-laterais das cristas ilíacas bilateralmente; com as mãos, exerce pressão sobre os arcos ós- seos em direção à linha média. O teste é positivo se o paciente reagir com dor. Crista iliaca ântero-superior Voltarelli22.indd 499Voltarelli22.indd 499 30/9/2008 15:59:4930/9/2008 15:59:49 500 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO calor, o edema, a hiperemia e a perda funcional, que caracterizam o processo infl amatório não necessaria- mente devem estar presentes ao mesmo tempo. Para defi nir infl amação, é necessária a presença de pelo menos três desses sinais. Outro ponto importante é a sua duração. Toda articulação infl amada somente apresenta melhora, inclusive com o uso de medicação antiinfl amatória, após 24 horas, e somente desaparece após 48 a 72 horas. Essa informação é importante, pois é comum o paciente relatar que a articulação estava infl amada ontem à tarde, mas, agora, ela não está mais. Refere que a articulação infl ama em um dia e, no outro, desaparece. Essa não é a história natural de um pro- cesso articular infl amatório. Na verdade, o paciente apresenta difi culdade em caracterizar os seus sintomas e é dever do médico acurar essa caracterização, questionando, de forma detalhada, como foi esse envolvimento articular. É comum também confundir a sensação de edema em mãos e em antebraços, como ocorre em pacientes com síndrome do túnel do carpo ou em pacientes com fi bromialgia, com o edema de origem infl amatória. Por vezes, é útil questionar se está edemaciado agora ou se alguém próximo constatou o edema e quanto tempo durou. Não raramente, observam-se respostas inconsistentes como: “Estava inchado até eu entrar na consulta, durou algumas horas e depois sumiu ou eu acho que estava inchado, mas meu companheiro achou que não.” Não é uma questão de acreditar ou não na queixa do paciente, pois o questionamento existe e está incomodando muito o paciente, mas sim a necessidade de caracterizar o processo infl amatório. É a partir dessa identifi cação que o médico irá desen- volver o seu raciocínio clínico, abrindo um conjunto de possibilidades diagnósticas, direcionadas para do- enças de caráter infl amatório ou não-infl amatório. DIAGNÓSTICO DAS DOENÇAS REUMÁTICAS Uma em cada seis consultas em um ambulatório geral é motivada por um problema músculo-esque- lético. A maioria deles é de condições periarticulares focais, facilmente identifi cáveis e autolimitadas, não oferecendo nenhum risco à saúde do paciente. Devem ser tratados com medidas simples, como repouso, fi sioterapia, analgésicos e, principalmen- te, reafi rmação de que o processo se resolverá sem seqüelas graves. O período usual de resolução de problemas músculos-esqueléticos simples é de duas a seis semanas, dependendo do grau da agressão desencadeante, a qual, na maioria das vezes, pas- sa despercebida. O maior benefício que o médico pode dispensar nesses casos é o de evitar exames subsidiários e terapêuticos desnecessários, propor- cionando o tempo requerido para a cura do processo patológico. Uma minoria de pacientes apresentará proble- mas reumatológicos mais complexos e graves, cuja identifi cação constitui um desafi o para o clínico. Este deverá decidir se o problema requer imediata investigação laboratorial ou se pode ser observado até que o curso e as características da doença fi quem mais evidentes. A cronicidade, isto é, a persistência do problema por mais de seis semanas, constitui a mais freqüente indicação de exames subsidiários. Para a maioria das condições agudas, um período de seis semanas de observação é apropriado, mas as seguintes situações requerem investigação e conduta mais rápidas e elaboradas: inflamação intensa monoarticular (pela possi- bilidade de diagnosticar artrite séptica ou gota aguda); presença de manifestações gerais (febre, emagre- cimento, apatia), acometimento multissistêmico ou neurológico (irradiação ciática, compressão de raízes cervicais, síndrome do túnel do carpo); problema causado por trauma intenso que neces- site de cuidados ortopédicos (fraturas, luxações, ruptura de tendões e ligamentos). Padrões de Acometimento Articular A observação clínica de um paciente com queixa reumática deve ser completa, como qualquer outra, mas possui algumas particularidades que serão abor- dadas a seguir. Ela objetiva determinar se o paciente possui ou não um problema infl amatório nas arti- culações (artrite) e caracterizá-lo o melhor possível como mono, oligo ou poliartrite; aguda, subaguda ou crônica de grandes e/ou pequenas articulações; simé- trica ou assimétrica; migratória ou aditiva; contínua ou episódica; com ou sem deformidades. Na realida- de, a análise desse padrão de acometimento articular possibilita, na maioria dos casos, um diagnóstico bastante provável da doença articular, restringindo a necessidade de exames subsidiários. A Tabela 22.2 reúne as principais doenças, reumáticas ou não, pelo seu padrão de acometimento articular. Embora essa classifi cação se aplique à maioria das situações, não se deve esquecer do aforismo: “Na Medicina como no amor, não existe o sempre ou o nunca.” Em outras palavras, qualquer dessas doen- Voltarelli22.indd 500Voltarelli22.indd 500 30/9/2008 15:59:4930/9/2008 15:59:49 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 501 ças pode fugir de sua apresentação habitual e mani- festar-se com outro padrão. Assim, doenças agudas resultantes de trauma ou infecção, se não tratadas, apresentam-se como artrite crônica. Doenças auto- imunes (DAI) sistêmicas, como a artrite reumatóide (AR) e o lúpus eritematoso sistêmico (LES), podem- se manifestar de modo agudo e/ou monoarticular, e a gota, como poliartrite aguda. Finalmente, as espondiloartropatias, além da sacroiliíte, geralmen- te se apresentam como oligoartrites assimétricas, acometendo grandes articulações dos membros infe- riores (MMII) na espondilite anquilosante (EA) e na síndrome de Reiter, e as articulações interfalangianas distais das mãos na artrite psoriásica. Diagnóstico Diferencial e Orientação Terapêutica Ao término de uma boa observação clínica, o médico deverá ter evidenciado o padrão de acome- timento articular da doença e terá formulado um número restrito de hipóteses diagnósticas em ordem de probabilidade. Decidirá, então, entre solicitar imediatamente exames subsidiários ou proceder a um período de observação dos sintomas e sobre a ne- cessidade ou não de instituir prontamente alguma te- rapêutica. A seguir, mostraremos a utilização desses elementos no diagnóstico diferencial das principais doenças reumáticas citadas na Tabela 22.2. Monoartrite Aguda A monoartrite aguda constitui uma emergência médica, pela grande intensidade dos sintomas e pela possibilidade de a artrite séptica levar rapida- mente à destruição da articulação ou à septicemia. A menos que um trauma seja a causa evidente da artrite, líquido sinovial deve ser aspirado, analisado e cultivado para investigação de artrite infecciosa. A análise do líquido sinovial poderá revelar ainda a presença de cristais, característicos de gota ou pseudogota, ou de sangue, no caso de hemartrose. Embora radiografi as das articulações sejam normais nas fases iniciais de artrite séptica e osteomielite, elas são úteis para o seguimento e podem revelar fraturas ou calcifi cação da cartilagem articular que ocorre na pseudogota. Dosagem de ácido úrico sé- rico, testes de falcização ou de coagulação podem ser indicados dependendo do caso. Finalmente, uma significativa proporção de casos de monoartrite Tabela 22.2. Padrões de Acometimento Articular em Várias Doenças Monoartrite Oligoartrite Poliartrite Agudas Crônicas Agudas Crônicas Agudas Crônicas Artrite séptica AI juvenilArtrite gonocócica Espondillite (AR, FRA. AIJ, LES)* Artrite reumatóide anquilosante Gota Osteoartrose Artrite séptica (20%) Artrite reativa Hanseníase Lúpus eritematoso sistêmico Pseudogota Tuberculose Endocardite Artrite Gonococcemia e Esclerose sistêmica bacteriana psoriásica meningococcemia Trauma Fungos Artrite reativa Doença inflamatória Rubéola Polimiosite intestinal Hidartrose Osteonecrose Febre reumática Artrite reumatóide Hepatite DMTC intermitente asséptica aguda do adulto ou juvenil Anemia Lesão mecânica Doença de Lyme Gota Síndrome de Espondiloartrites falciforme intra-articular Reiter* Hemartrose Sinovite vilonodular Doença de Still Osteoartrose Endocardite Vasculites do adulto bacteriana Doença de Osteomielite Gota Parvovirose* Gota tofácea Lyme para-articular Condrocalcinose Pseudogota Doença do soro Síndrome de Sjögren *Podem cronificar Fonte: modificada de Donadi, Petean e Voltarelli7. Voltarelli22.indd 501Voltarelli22.indd 501 30/9/2008 15:59:5030/9/2008 15:59:50 502 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO aguda não chega a ter um diagnóstico e não recidi- va; muitos casos que recidivam enquadram-se nas síndromes de hidrartrose intermitente (sem dor) ou de reumatismo palindrômico (com dor), que são benignas e não cronifi cam (ver pág. 504). Pacien- tes com artrite séptica são internados e submetidos a uma antibioticoterapia endovenosa associada à drenagem articular, por punções repetidas ou abordagem cirúrgica (vide Capítulo 36.1). Gota e pseudogota aguda são tratadas no ambulatório de urgência com esquema maciço de antiinfl amatórios (colchicina ou outros não-hormonais). Crises de fal- cização são tratadas com hidratação, analgésicos e calor local. Hemartroses traumáticas se benefi ciam com repouso e gelo local e as secundárias a coagu- lopatias requerem aspiração da articulação, após a correção do distúrbio hemostático. Outras formas de monoartrite aguda são tratadas com antiinfl a- matórios não-esteróides (AINE) até se chegar a um diagnóstico defi nitivo. Todas elas se benefi ciam da imobilização local. Monoartrite Crônica O diagnóstico de monoartrite crônica constitui um dos maiores desafi os para o especialista, pois ocorre em um grande número de doenças reumáticas de ca- racterísticas semelhantes. O líquido sinovial poderá apresentar características infl amatórias, afastando osteoartrite, e a sua cultura poderá revelar artrite tuberculosa ou fúngica. Exames radiológicos podem sugerir AR, osteoartrite ou necrose asséptica, mas lesões de ligamentos ou meniscos só são reveladas por artrograma ou artroscopia. Quando não se chega a um diagnóstico por esses métodos, está indicada uma biópsia sinovial, que pode revelar granulomas na artrite tuberculosa e na sarcoidose, proliferação benigna na sinovite vilonodular ou maligna nas neoplasias sinoviais e ósseas e reação infl amatória inespecífi ca na AR. Tratamento sintomático antes do diagnóstico inclui repouso da articulação, exercícios isométricos para preservar a função muscular, antiin- fl amatórios e calor local. Uma vez que um processo infeccioso tenha sido excluído, infi ltração local com corticosteróides pode ser considerada. Osteoartrite é tratada com fi sioterapia, analgésicos ou AINE, redu- ção da carga articular e da obesidade. Oligoartrite Aguda Oligoartrite aguda é, geralmente, causada por um processo infl amatório e uma causa infecciosa deve ser descartada. A artrite gonocócica é a causa mais comum de oligoartrite aguda em indivíduos jovens sexualmente ativos. Artrite séptica não-gonocócica costuma ter apresentação monoarticular, mas en- volve mais de uma articulação em 20% dos casos, o que também ocorre com as artrites microcristalinas agudas (gota e pseudogota). As espondiloartropatias, tipicamente, manifestam-se como oligoartrite, mas, entre elas, a artrite reativa é a que mais comumente tem um curso agudo e, no início da doença, pode ser confundida com a artrite gonocócica. A linha divisória de quatro articulações como critério de classificação de oligo ou poliartrite é bastante arbitrária e muitas doenças incluídas na Tabela 22.2 entre as que se manifestam como poliartrite podem-se manifestar como oligoartrite. Entre elas, podem-se citar as artrites virais, como a parvovirose, a endocardite bacteriana, a febre reu- mática aguda (FRA), que, em adultos, não costuma ter caráter migratório e mesmo as artrites sistêmi- cas clássicas causadas pela AR, LES ou doença de Still do adulto. Oligoartrite Crônica As espondiloartropatias são as causas mais comuns de oligoartrites infl amatórias crônicas. En- tretanto, a distinção entre essas doenças e a artrite reumatóide inicial, principalmente em crianças e adolescentes, pode ser difícil e levar vários meses. Sacroiliíte, com sua típica manifestação de lom- balgia de caráter infl amatório e dactilite (“dedos em salsicha”) não costumam ocorrer na AR, assim como a predileção pelo acometimento dos mem- bros inferiores (> 90% dos casos de AR do adulto acometem as mãos). A artrite tofácea crônica pode, eventualmente, acometer duas a quatro articulações e se apresentar como oligoartrite. As manifestações extra-articulares das espondi- loartropatias ajudam enormemente seu diagnóstico diferencial, mas essas manifestações podem fa- cilmente passar despercebidas (lesões psoriásicas no couro cabeludo, cicatriz umbilical e pavilhão auricular, lesões mucosas na artrite reativa, diarréia intermitente na doença inflamatória intestinal e uveíte em todas elas). A osteoartrite de grandes articulações, por outro lado, provoca um acometimento não-infl amatório dos quadris e dos joelhos e não costuma apresentar grandes difi culdades diagnósticas. Poliartrite Aguda A poliartrite aguda é manifestação comum de muitas doenças reumáticas e não-reumáticas, que requer decisões rápidas do médico em termos de Voltarelli22.indd 502Voltarelli22.indd 502 30/9/2008 15:59:5030/9/2008 15:59:50 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 503 diagnóstico e terapêutica. A maioria desses pacien- tes é internada para esclarecimento diagnóstico. A presença de manifestações extra-articulares fornece as melhores pistas para o diagnóstico das poliar- trites agudas. A FRA em jovens do sexo feminino pode ser muito difícil de diferenciar clinicamente da AIJ e do LES. O perfi l laboratorial do LES é muito bem defi nido (leucopenia, FAN, células LE, C3 baixo), o que não ocorre com a AIJ, em que a antiestreptolisina O também pode estar elevada, a exemplo da FR. A evolução clínica fará a distinção entre AIJ e FRA na maioria das vezes, mas critérios clínico-epidemiológicos terão que ser usados para orientar a decisão de iniciar ou não profi laxia com penicilina benzatina. Terapêutica empírica com AINE é, freqüentemente, utilizada, e a resposta dra- mática a doses antiinfl amatórias de aspirina sugere o diagnóstico de FRA. A cardite reumática aguda sintomática constitui indicação para corticoterapia. A artrite gonocócica costuma cursar com poliartrite migratória antes de se fi xar como monoartrite (pa- drão de ballet), a uretrite na mulher é, muitas vezes assintomática e o gonococo é cultivado no líquido sinovial em apenas 30% dos casos. Nos casos de cultura negativa, a resposta terapêutica à penicilina serve como critério diagnóstico. Além da artrite séptica, a gonococcemia disseminada pode causar poliartrite asséptica associada a imunocomplexos. A tétrade clássica da síndrome de Reiter (artrite, uretrite, conjuntivite e lesões cutâneo-mucosas) não necessita ser completa para se suspeitar da doença, principalmente em um homem jovem com oligoar- trite de MMII. Muitas doenças primariamente não- reumáticas apresentam poliartrite ou poliartralgia aguda, concomitantes ou não a outras manifestações semelhantes à doença do soro (nefrite, serosite, rash cutâneo, febre e adenopatia), provocadas por imunocomplexos. Entre essasdoenças se incluem hepatite, rubéola, endocardite bacteriana, lepra le- promatosa, eritema nodoso, sarcoidose e reações a drogas ou produtos biológicos. Quando a intensidade dos sintomas indicar, esses pacientes podem ser tratados paliativamente com AINE, ou mesmo com corticosteróides. Poliartrite Crônica Poliartrite crônica pode ser a forma inicial de apresentação de uma doença reumática ou a evolu- ção de uma monoartrite ou de uma poliartrite aguda. O protótipo das doenças desse grupo é a AR, cujo diagnóstico requer a presença de poliartrite crônica e pode ser auxiliado por achados radiológicos. A maioria das doenças auto-imunes sistêmicas, como LES, ES, PM-DM, DMTC e vasculites, manifesta- se por poliartrite ou poliartralgia crônica. A análise clínica e laboratorial das manifestações extra-arti- culares e do perfi l de auto-anticorpos, geralmente, permite o diagnóstico dessas doenças. Assim, o fator reumatóide para AR, anticorpo anti-DNA nativo para LES, anti-RNP para DMTC, anti-SSA e SSB para síndrome de Sjögren, anti-Scl-70 para esclerodermia e anticitoplasma de neutrófi lo para a granulomatose de Wegener são particularmente úteis, mas não são completamente específicos e costumam ter sensibilidade baixa. Biópsias dos ór- gãos afetados auxiliam no diagnóstico de DM-PM, esclerodermia e vasculites. Como foi mencionado anteriormente, as espondiloartropatias (espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, artrite psoriásica e artrite enteropática), geralmente, apresentam-se como uma oligo ou poliartrite, predominando nas grandes articulações dos membros inferiores, às vezes assimétrica, associada à sacroiliíte. Esta é diagnosticada radiologicamente e, nos casos duvi- dosos, a presença do antígeno HLA-B27 pode ser sugestiva. A distinção entre as espondiloartropatias se baseia no acometimento extra-articular e todas elas respondem à terapia com indometacina, fenilbu- tazona ou outro antiinfl amatório efetivo. Finalmente, a artrite gotosa crônica é facilmente diagnosticada pela demonstração de cristais de urato nos tofos. Na maioria das poliartrites crônicas, haverá tempo sufi ciente para confi rmação do diagnóstico e cui- dadoso planejamento terapêutico. Exceções que requerem intervenção mais rápida, geralmente na forma de imunossupressão em altas doses orais ou por pulsoterapia, são as vasculites ou outras condi- ções que comprometem gravemente o estado geral do paciente e a integridade de órgãos vitais. São os casos da vasculite reumatóide sistêmica, da cerebrite e anemia hemolítica do LES, da nefrite rapidamente progressiva da panarterite nodosa e da granuloma- tose de Wegener, da pneumonite aguda da ES, AR e LES, do envolvimento diafragmático da polimiosite, e ocular da arterite temporal. GLOSSÁRIO Articulações: grandes: ombro, cotovelo, punho, coxofemoral, joelho e tornozelo; pequenas: metacarpofalangianas, metatarsofalangianas e interfalangianas das mãos e dos pés. Artralgia: dor em articulação sem alteração visí- vel ou palpável. Artrite: aditiva: artrite mudando de articulação mantendo-se comprometida à articulação inicial- Voltarelli22.indd 503Voltarelli22.indd 503 30/9/2008 15:59:5030/9/2008 15:59:50 504 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO mente afetada juntamente com as demais sub- seqüentemente envolvidas; aguda: em geral, é grave, atingindo rapidamente o pico de atividade (inferior a duas semanas); bilateral: comprome- timento das mesmas articulações bilateralmente; crônica: artrite mantida por período longo de tempo (superior a seis semanas), episódica: duas ou mais crises articulares entremeadas por perío- dos de remissão; migratória: artrite movendo-se de articulação a articulação e, quando uma nova articulação é afetada, a anteriormente compro- metida voltou à normalidade; monoartrite: afeta apenas uma arti culação; pauciarticular (oligoar- trite): envolve quatro ou menos articulações; po- liarticular (poliartrite): afeta várias articulações (≥ cinco); simétrica: envolvimento das mesmas articulações na mesma extensão em ambos os la- dos do corpo; simultânea: artrite comprometendo um número de articulações, todas elas afetadas desde o início da doença. Crepitação: atrito palpável e/ou audível provo- cado pelo movimento da articulação. Pode ser “delicado” no caso de sinovite (percebido com estetoscópio) ou “grosseiro” na presença de lesão óssea ou cartilaginosa. Doença de Behçet: doença caracterizada por ulceração oral, ulceração genital, irite e compro- metimento articular. Artrite enteropática: artrite associada à colite ulcerativa ou à doença de Crohn. Fadiga: perda de força muscular recuperável com o repouso. Fraqueza: perda de força muscular que não se recupera com o repouso. Fenômeno de Raynaud: vasoespasmo caracteri- zado por isquemia temporária dos dedos, ponta do nariz e/ou pavilhão auricular, induzido por estresse (p. ex., temperatura baixa). Observam-se três fases: palidez isquêmica, cianose congestiva e hiperemia reativa. Fotossensibilidade: desenvolvimento de erupção em seguida à exposição solar. Hidartrose intermitente: ataques recorrentes de artrite aguda, geralmente mono ou oligoarticular e indolor. Heliotropo: erupção eritematosa ou arroxeada envolvendo as pálpebras, com ou sem edema periorbital. Manobra de Adson: enquanto o examinador palpa o pulso radial, o braço do paciente é abduzido, extendido e rodado externamente. Pede-se, então, ao paciente que ele olhe para o lado testado e faça uma inspiração profunda, e sustente. A diminui- ção ou perda do pulso radial com o aparecimento de um sopro supraclavicular é sugestiva de com- pressão da artéria subclávia. Manobra de Lasègue: provocação de dor no território ciático quando a coxa é fl exionada man- tendo-se o membro inferior extendido. Nódulo de Bouchard: hipertrofi a óssea das inter- falangianas proximais. Pontos dolorosos: são regiões anatômicas es- pecífi cas, exageradamente (ou excessivamente) dolorosas quando submetidas à pressão tátil do polegar (4 kg/cm2 ou uma pressão sufi ciente para ocasionar o branqueamento do leito ungueal). Es- tão presentes em indivíduos com fi bromialgia. Nódulo de Heberden: nódulo pequeno, duro, devi- do à hipertrofi a óssea da segunda, terceira, quarta e quinta interfalangiana distal. Reumatismo palindrômico: doença caracterizada por crises de artrites agudas, recorrentes e autoli- mitadas: Pode confundir com AR. Rigidez: incômodo percebido pelo paciente ao mobilizar a articulação após um período de re- pouso de várias horas (p. ex., após uma noite = rigidez matinal); melhora após movimentações. Sinal de Brudzinski: com o paciente em decúbito dorsal e os membros inferiores extendidos, o examinador fl exiona o pescoço mantendo o tórax fi rmemente sobre o leito. Na condição de irritação menigeal, a manobra causa fl exão involuntária das coxas. Sinal de Giordano: é obtido por intermédio da punho-percussão dorsal das lojas renais com o paciente sentado (ou ereto) com ligeira fl exão da coluna vertebral. Na presença de processos infl a- matórios renais e perirrenais agudos, o paciente reage à dor provocada pela manobra. Sinal de Grotton: erupção descamante sobre as interfalangianas proximais, patela, maléolo e olecrânio. Evolução para atrofi a com alterações pigmentares e telangiectasias. Sinal de Kernig: com o paciente em decúbito dorsal, o médico fl exiona passivamente a coxa e o joelho a 90°. Com a coxa mantida em fl exão, o examinador tenta estender o joelho, o que provoca dor nos tendões e resistência ao movi- mento de extensão (na ocorrência de irritação meningeal). Voltarelli22.indd 504Voltarelli22.indd 504 30/9/2008 15:59:5030/9/2008 15:59:50 CAPÍTULO 22 ABORDAGEM CLÍNICA DO PACIENTE REUMÁTICO 505 Sinal de Murphy: sinal sugestivo da presença de colecistite aguda. O sinal é pesquisado com o paciente em decúbito dorsal e o médico sen- tado na cama com o dorso
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