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19/04/13 1 Método Epidemiológico Prof. Carlos Henrique Alencar carllosalencar@ufc.br Faculdade de Medicina Departamento de Saúde Comunitária ABS2 – DiagnósFco e Saúde da Comunidade Pressupostos Básicos da Epidemiologia 1-‐ AS DOENÇAS NO HOMEM NÃO OCORREM AO ACASO. A distribuição desigual dos agravos à saúde é produto da ação de fatores que se distribuem desigualmente na população. 2-‐ AS DOENÇAS NO HOMEM APRESENTAM FATORES CAUSAIS E PREVENÍVEIS, QUE PODEM SER IDENTIFICADOS POR MEIO DE INVESTIGAÇÕES SISTEMÁTICAS. O conhecimento desses fatores permite a aplicação de intervenções. Obter respostas relacionadas ao processo saúde-‐doença. Como? “Medidas” de frequência de doenças. QUANTIFICAR, MEDIR OU ESTIMAR A OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS DE SAÚDE EM POPULAÇÕES HUMANAS 1-‐ Descrever -‐ medir a frequência das doenças e descrever sua distribuição (quem? onde? quando?) 2-‐ Explicar -‐ elucidar os determinantes 3-‐ Predizer 4-‐ Controlar ObjeFvos da Pesquisa Epidemiológica Um Rato entrou numa caixa. Logo depois um Gato entrou na mesma caixa. Em seguida escutei um miado e um guincho. Teria o Gato matado o Rato? O Gato matou o Rato. Abrirei a caixa e verei se o rato está vivo ou morto. O Rato morreu. O Rato está vivo. Exemplos de perguntas a pesquisar em estudos epidemiológicos • Qual a magnitude do problema? • Quem é afetado? • Quais os fatores associados ao problema? • Qual a causa do problema? • Qual o efeito de uma intervenção? • Qual a estratégia mais eficaz e eficiente? Resultados/parâmetros Estatísticas Dados Amostra representativa Objetivos da pesquisa População de estudo Problema 19/04/13 2 Explicações para as causas das doenças variam conforme cultura e momento histórico - Antiguidade Concepção religiosa Desequilíbrio entre elementos - Idade média Teoria dos miasmas - Final séc. XVIII Causação social - Metade do séc. XIX Bacteriologia Modelos de causalidade • Modelos são maneiras de pensar a realidade e expressam nossa imaginação sobre como o mundo deve funcionar • O mundo é uni ou mulFcausal? O que significa “causalidade” em epidemiologia? – Uma associação causal entre um fator e desfecho/doença deve ser presente – A associação causal pode ser direta ou indireta: • associação causal direta – o fator tem efeito no desfecho sem outros fatores intermediários (por exemplo fumo) • associação causal indireta -‐ o fator influencia outros fatores que são causais diretos (por exemplo nutrição) – Cuidado: uma associação estapsFca pode exisFr sem ser causal! Exemplo: café e câncer Tipos de causalidade • Causa suficiente: se o fator é presente, a doença sempre ocorre. Exemplo: doenças genéFcas • Causa necessária: o fator tem que estar presente para a doença ocorrer, mas pode estar presente sem a doença ocorrer. Exemplo: infecção com Mycobacterium leprae • Fator de risco: se o fator está presente, a probabilidade da doença ocorrer aumenta, se comparado com grupo onde o fator não está presente. Não é causa suficiente nem necessária. Exemplo: Fumo e câncer de pulmão Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • A exposição claramente aconteceu antes do desfecho? • Muitas vezes não está claro! – Cirrose e consumo de alcool 19/04/13 3 Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) • gradiente biológico (dose-‐resposta) Sobreviventes da bomba atômica: incidência de leucemia Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) • gradiente biológico (dose-‐resposta) • Reversibilidade/especificidade Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) • gradiente biológico (dose-‐resposta) • Reversibilidade/especificidade • plausibilidade biológica 19/04/13 4 Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) • gradiente biológico (dose-‐resposta) • Reversibilidade/especificidade • plausibilidade biológica • excluir viés, confundimento, erro aleatório Excluir viés (bias)! • Erro sistemáFco que afeta a validade de um estudo • Existem cerca de 30 Fpos de vieses: -‐ viés de seleção -‐ viés de não parFcipação -‐ viés de observador -‐ viés de memória (recall bias) -‐ viés de classificação -‐ viés de publicação -‐ e muito mais... Critérios epidemiológicos para causalidade • sequência temporal: causa precede o efeito • consistência com outros estudos • magnitude da associação (RR>2) • gradiente biológico (dose-‐resposta) • reversibilidade/especifidade • plausibilidade biológica • excluir viés, confundimento, erro aleatório • desenho de estudo (RCT>coorte>caso-‐controle) Associação não é Causalidade • Se uma relação for encontrada entre duas variáveis, isto não significa que elas tem uma relação de causalidade. • Por exemplo: – número de doutores por pessoa na população e a expectaFva média de vida. – A correlação é ainda maior entre expectaFva de vida e número de aparelhos de TV por pessoa na população! Associação não éCausalidade • Um país com várias TVs é provavelmente um país próspero, com um padrão de vida razoavelmente alto e uma expectaFva de vida mais longa. Idéias de Snow sobre causalidade das doenças infecciosas • Teoria MiasmáFca – Defendia a idéia de que as doenças infecciosas eram causadas pelas condições de vida em áreas alagadas e insalubres -‐ inalação de eflúvios • Teoria do Contágio – Defendia a idéia de que as doenças transmissíveis eram causadas pela aFvidade de microorganismos dentro do corpo, sendo alguns tão pequenos que não podiam ser vistos a olho nu. 19/04/13 5 Distribuição das Principais Bombas de Água na Região da Epidemia O Início da Epidemia Reflexões sobre os primeiros dias da Epidemia Óbitos nas adjacências da Bomba de Broad Street • PraFcamente todas as mortes ocorreram a pouca distância da bomba. • 10 óbitos de pessoas que moravam próximo a outras bombas. • 5 sempre usavam água de Broad street • 3 eram crianças de escolas de Broad Street • Apenas 6 óbitos não eram de usuários da bomba de Broad street. • Como consequência, o manuseio da bomba foi suspenso nos dias seguintes. O caso da cervejaria • Percebeu que não havia registro de óbitos por cólera entre os trabalhadores da cervejaria (~70) . O caso da cervejaria • Acreditando-‐se que eles não bebiam água com frequência. • Decidiu-‐se invesFgar a fundo a questão da cervejaria. 19/04/13 6 O caso do asilo de Poland Street • Eram esperados até 100 óbitos entre os 535 internos do asilo, contudo ocorreram apenas 5 óbitos. Mortalidade Observada e Esperada • De 412 pessoas moradoras nos arredores do asilo, 77 faleceram por cólera, apontando uma mortalidade de 18,7%. • Isto implicaria em cerca de 100 óbitos esperados na população de internos. • Algum fator de proteção evitou 95% dos óbitos esperados. Distribuição Temporal de Casos e Óbitos na Epidemia de Cólera -‐ 1854 Imagens Remanescentes Uma década mais tarde, em 1866, bombas como a de Broad Street, eram vistas como fontes de poluição e morte. Esta pintura surgiu 17 anos antes que Robert Koch, em 1883, identificasse o Vibrio cholerae como agente causal. Problema epidemiológico • Eventos de saúde que acometem populações – Deterterminantes: fatores ambientais, culturais, biológicos ou sico-‐químicos nocivos à saúde. – Exemplo: • Estudo da transmissão da cólera por John Snow (1954) – primeiro registro de procedimento sistemáFco de uma invesFgação epidemiológica. • Estudo dos efeitos do vírus da rubéola em filhos de mães expostas à infecção no primeiro trimestre de gravidez -‐ Norman Gregg (1941). Pesquisa epidemiológica • Principal desafio: correta formulação de hipóteses e rigoroso processo de validação das hipóteses • Vigilância epidemiológica: importante fonte de geração de problemas • Hipótese: – Ferramenta fundamental de raciocínio epidemiológico. – ConsFtuída por elementos de tradução de conceitos sob a forma de variáveis.
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