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UNIDADE 2TÓPICO 380 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L Neste sentido, toda a colônia se organizou em torno deste projeto civilizatório. Esta escolha irá contribuir deinitivamente para a deinição das características sociais, culturais e econômicas do país que estava se formando. Segundo Tamás Szmrecsányi: A grande propriedade fundiária, a monocultura de exportação e o trabalho es- cravo foram os três componentes fundamentais da organização social do Brasil Colônia. Eles se conjugaram num sistema típico de exploração do trabalho e da natureza, sobre o qual acabaram se assentando todas as atividades econô- micas da sociedade colonial – desde as lavouras até a mineração, passando pelas raras atividades urbanas e mercantis. Padrões diversos só podiam ser encontrados em atividades marginais e subsidiárias – como a pecuária exten- siva dos sertões ou as pequenas culturas de subsistência –, como a pecuária extensiva dos sertões ou as pequenas culturas de subsistência – atividades que em nada afetavam os atributos dominantes da economia colonial (1998, p. 12). Para tanto, Portugal teve que organizar no Brasil um projeto civilizatório que desse conta do povoamento e colonização nas terras portuguesas na América do Sul, especialmente no Nordeste brasileiro. Segundo Gilberto Freyre: Quando em 1532 se organizou economicamente e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Mudando em São Vicente e em Pernambuco o rumo da colonização portuguesa do fácil, mercantil, para o agrícola; organizada a sociedade colonial sobre base mais sólida e em condições mais estáveis que na Índia ou nas feitorias africa- nas, no Brasil é que se realizaria a prova deinitiva daquela aptidão. A base, a agricultura; as condições, a estabilidade patriarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim à cultura econômica e social do invasor (2003, p. 65). Ainda segundo Freyre: Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravo- crata na técnica de exploração econômica, hibrida de índio – e mais tarde de negro – na composição. Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela consciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de proilaxia social e política. Menos pela ação oicial do que pelo braço e pela espada particular. Mas tudo isso subordinado ao espírito político e de realismo econômico e jurídico que aqui, como em Portugal, foi desde o primeiro século elemento decisivo de formação nacional; sendo que entre nós através das grandes fa- mílias proprietárias e autônomas: senhores de engenho com altar e capelão dentro de casa e índios de arco e lecha ou negros armados de arcabuzes às suas ordens [...] (2003, p. 65). Assim, a partir da decisão e, acima de tudo, da predisposição portuguesa em transformar o Brasil em uma colônia agrícola, diversos engenhos passam a aparecer no cenário do Nordeste e Sudeste do Brasil colonial. UNIDADE 2 TÓPICO 3 81 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L FONTE: Cotrim (1999, p. 84) Portugal, com a intenção de intensiicar a produção de açúcar em terras brasileiras, criou uma série de incentivos para que esta atividade prosperasse. Segundo Celso Furtado (1989, p. 41), a atividade açucareira seria implantada com muita diiculdade, pois: O rápido desenvolvimento da indústria açucareira, malgrado as enormes diiculdades decorrentes do meio físico, da hostilidade do silvícola e do custo dos transportes, indica claramente que o esforço do governo português se concentrará nesse setor. O privilégio, outorgado ao donatário, de só ele fa- bricar moenda e engenho de água, denota ser a lavoura do açúcar a que se tinha especialmente em mira introduzir. Favores especiais foram concedidos subsequentemente àqueles que instalassem engenhos: isenções de tributos, garantia contra a penhora dos instrumentos de produção, honrarias e títulos, etc. As possibilidades maiores, encontradas na etapa inicial advieram da escassez de mão de obra. O aproveitamento do escravo indígena, em que aparentemente se baseavam todos os planos iniciais, resultou inviável na escala requerida pelas empresas agrícolas de grande envergadura que eram os engenhos de açúcar. Além disso, esta atividade deveria estar atrelada ao trabalho escravo, pois o colono português não tinha muita predisposição ao trabalho braçal. Assim, o escravo passa a compor função de extrema importância no contexto da produção açucareira. O padre jesuíta Antonil, airma que os escravos, tanto os de origem indígena, quanto os de origem africana, “eram os braços e as pernas dos senhores de engenho”. FIGURA 11 – TRÁFICO NEGREIRO – SÉCULO XVI – XIX UNIDADE 2TÓPICO 382 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L Porém, segundo Eduardo Bueno (2003, p. 118-119) eles eram muito mais do que isso, vejamos na sequência: Eles eram plantadores e moedores de cana, derrubadores de mata e semeadores de mudas; eram vaqueiros, remeiros, pescadores, mineiros e lavradores; eram artíices, caldeireiros, marceneiros, ferreiros, pedreiros e oleiros; eram domésticos e pajens, guarda- costas, capangas e capitães do mato; feitores, capatazes e até carrascos de outros negros. Estavam em todos os lugares: nas cidades, nas lavouras, nas vilas, na mata, nas senzalas, nos portos, nos mercados, nos palácios. Carregavam baús, caixas, cestas, caixotes, lenha, cana, quitutes, ouro e pedras, terra e dejetos. Também transportavam cadeirinhas, redes e liteiras onde, sentados ou deitados, seus senhores passeavam (ou até viajavam). Mas, no Brasil, os escravos foram ainda mais do que isso: foram os olhos e os braços dos donos de minas; foram os pastores dos rebanhos e as bestas de carga; foram os ombros, as costas e as pernas que izeram andar a Colônia e, mais tarde, o Império. Foram o ventre que gerou imensa população mestiça e o seio que amamentou os ilhos dos senhores. Deixaram uma herança profunda: em 500 anos de história, o Brasil teve três séculos e meio de regime escravocrata contra apenas um de trabalho livre. Analisando as palavras de Bueno, podemos ter uma ideia mais profunda acerca da importância do escravo na sociedade colonial. O mais interessante é que, cada vez mais, a sociedade colonial irá se transformar em uma sociedade híbrida, na qual brancos, negros e índios formaram um verdadeiro caldo cultural que contribuirá para a formação étnica do Brasil. Este assunto será visto com mais propriedade no próximo tópico. Sobre a temática da escravidão e sua relação com a monocultura da cana-de-açúcar, é prudente citar Celso Furtado (1989, p. 42), pois nos faz reletir sobre a relação de produção, o sucesso da colônia e sobre o trabalho escravo. A escravidão demonstrou ser, desde o primeiro momento, uma condição de sobrevivência para o colono europeu na nova terra. Como observa um cronista da época, sem escravos os colonos “não se podem sustentar na terra”. Com efeito, para subsistir sem trabalho escravo, seria necessário que os colonos se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo, o que só teria sido possível se a imigração houvesse sido organizada em bases totalmente distintas. Aqueles grupos de colonos que, em razão da escassez de capital ou da escolha de uma base geográica inadequada encontraram maio- res diiculdades para consolidar-se economicamente, tiveram de empenhar-se por todas as formas na captura dos homens da terra. A captura e o comércio do indígena vieram constituir, assim, a primeira atividade econômica estável dos grupos de população não dedicados à indústria açucareira. Essa mão de obra indígena, considerada de segunda classe, é que permitiráa subsistência dos núcleos de população localizados naquelas partes do país que não se transformaram em produtores de açúcar. Conforme nos informa Celso Furtado, devemos ter clareza de que o cultivo da cana- 40 - (UNIMONTES MG) Longe dos centros principais da vida da colônia, a região do atual Norte do Brasil (incluindo o atual Estado do Maranhão) viveu uma existência muito diversa das outras áreas da colonização portuguesa na América. Acerca da colonização dessa região, marque com a letra C (CORRETA) ou com a letra I (INCORRETA) cada uma das afirmativas. ( ) Nessa vasta região, a colonização ocorreu lentamente, tendo sua integração econômica com o mercado europeu ocorrido de forma precária até fins do século XVIII. ( ) Nessa parte do Brasil, predominou o trabalho escravo africano, introduzido desde o século XVI, para trabalhar nas grandes plantações de algodão. ( ) A grande presença de indígenas fez do Norte um dos principais campos de atividade missionária, com destaque para a atuação dos jesuítas. ( ) No seu conjunto, a produção do Norte baseou-se no extrativismo de produtos da floresta com destaque para a extração de látex, que era exportado para a Inglaterra, na época da Primeira Revolução Industrial. A sequência CORRETA é a) C, I, C, I. b) C, C, I, I. c) I, I, C, C. d) I, C, I, C. História Brasil Colônia - Brasil Colônia 1530 a 1808 - Administração Colonial - [Fácil] 01 - (FATEC SP) Na verdade, o que Portugal queria para sua colônia americana é que fosse uma simples produtora e fornecedora dos gêneros úteis ao comércio metropolitano e que se pudessem vender com grandes lucros nos mercados europeus. Este será o objetivo da política portuguesa até o fim da Era Colonial. E tal objetivo ela o alcançaria plenamente, embora mantivesse o Brasil, para isto, sob um rigoroso regime de restrições econômicas e opressão administrativa; e abafasse a maior parte das possibilidades do país. Prado Júnior, C. – História do Brasil Pela leitura do texto, podemos concluir que: a) Apesar de o Brasil ser uma colônia de exploração, os princípios mercantilistas não foram aplicados aqui com rigor, o que possibilitou o desenvolvimento de atividades que visavam ao crescimento da Colônia. b) Mesmo tendo a Metrópole se afastado dos princípios econômicos do sistema colonial, os seus objetivos foram plenamente alcançados. c) Apesar de a colonização atender aos princípios mercantilistas, estes, em grande parte, não foram respeitados, uma vez que a economia colonial se voltou mais para o comércio interno. d) A metrópole se interessava pelo desenvolvimento econômico da Colônia e, por isso, preocupava- se em incentivar toda atividade que explorasse os recursos que viessem a beneficiar a terra. e) A montagem da empresa colonial obedecia aos princípios do mercantilismo e, nesse sentido, Lisboa preocupou-se em incentivar na Colônia as atividades complementares à economia metropolitana. 02 - (ESPM) Outra preocupação da coroa foi a de estabelecer limites à entrada na região das minas. Nos primeiros tempos da atividade mineradora, a câmara de São Paulo reivindicou junto ao rei de Portugal que somente aos moradores da Vila de São Paulo, a quem se devia a descoberta do ouro, fossem dadas concessões de exploração do metal. Os fatos se encarregaram de demonstrar a in- viabilidade do pretendido, diante do grande número de brasileiros, sobretudo baianos, que chegava à região das minas. (Boris Fausto. História do Brasil) A situação descrita no texto levou a ocorrência do conflito conhecido como: a) Guerra do Contestado; b) Guerra dos Mascates; c) Guerra dos Emboabas; d) Revolta de Felipe dos Santos; e) Guerra Guaraníticas. 03 - (FUVEST SP) “No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, ... destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no social como no econômico, da formação e evolução dos trópicos americanos”. (Caio Prado Junior, História Econômica do Brasil) Com base neste texto, podemos afirmar que o autor: a) Indica que as estruturas econômicas não condicionam a vontade soberana dos homens. b) Demonstra a autonomia existente entre as esferas social e econômica. c) Propõe uma interpretação econômica sobre a colonização do Brasil, acentuando seu sentido mercantil. d) Dá ao Brasil uma especificidade dentro do contexto de colonização dos trópicos.