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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL LUTERANA DO BRASIL Portaria Ministerial no 1992 – D.O.U. de 20/12/06 CURSO DIREITO – DIREITO DO TRABALHO CESSAÇÃO DO PACTO LABORAL POR CULPA DO EMPREGADOR Santarém - Pará 2024 CESSAÇÃO DO PACTO LABORAL POR CULPA DO EMPREGADOR Santarém – Pará 2024 CESSAÇÃO DO PACTO LABORAL POR CULPA DO EMPREGADOR De acordo com Coutinho (2010), o termo "rescisão" é empregado em todas as situações em que o contrato de trabalho é desfeito devido a faltas cometidas por uma das partes, ou por ambas, seja pelo empregado ou pelo empregador. Neste ínterim, a cessação do contrato de trabalho quando ocorrida por culpa do empregador, é conhecida como rescisão indireta, tratando-se de um mecanismo previsto no artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), permitindo ao empregado romper o vínculo empregatício quando do cometimento de faltas graves por parte do empregador. Para Pereira (2008), essa extinção do contrato de trabalho, é compreendida como sendo o fim da relação contratual, onde as obrigações entre empregado e empregador deixam de existir. Esse instituto é de extrema importância para proteger os trabalhadores contra práticas abusivas, garantindo- lhes a possibilidade de rescindir o contrato de trabalho sem abrir mãos das verbas rescisórias que seriam devidas em caso de dispensa sem justa causa. Ademais, a rescisão indireta é uma medida que assegura a dignidade do trabalhador e sua permanência em um ambiente laboral saudável, em conformidade com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho segundo os moldes do art 1º, incisos III e IV da Constituição Federal. Segundo o artigo 483 da CLT, são diversas as hipóteses em que a rescisão indireta pode ser requerida pelo empregado, sendo algumas das mais comuns: o não pagamento de salários, o tratamento com rigor excessivo, a exigência de serviços superiores às forças do trabalhador e a exposição a condições de trabalho perigosas. Essas hipóteses refletem a proteção ao trabalhador contra abusos e ilegalidades por parte do empregador. Segundo Delgado (2019), a rescisão indireta pode ser vista como uma "justa causa do empregador", pois resulta de comportamentos graves que tornam inviável a continuidade da relação de trabalho. Entre os principais motivos que justificam a rescisão indireta está o não pagamento de salários. Conforme estabelecido pelo artigo 483, alínea "d", da CLT, o inadimplemento salarial é uma violação grave que afeta diretamente a subsistência do trabalhador. Como pontua Martins (2020), o não cumprimento das obrigações contratuais, especialmente quanto ao adimplemento salarial, por parte do empregador compromete a confiança essencial para a manutenção do vínculo laboral. Outro fundamento relevante é o assédio moral, que ocorre quando o trabalhador é submetido a práticas abusivas e constrangedoras de forma repetida no ambiente de trabalho. O artigo 483, alínea "e", da CLT, prevê a possibilidade de rescisão indireta nos casos em que o empregador comete atos lesivos à honra ou à boa fama do empregado. Segundo Godinho Delgado (2019), o assédio moral representa uma violação séria à dignidade do trabalhador e justifica o rompimento do contrato de trabalho. Esse tipo de comportamento compromete o ambiente de trabalho e a saúde mental do empregado, tornando insustentável a continuidade da relação laboral. Para que o empregado possa requerer a rescisão indireta, é essencial que ele reúna provas robustas que comprovem a falta grave cometida pelo empregador. Essas provas podem incluir testemunhas, documentos e registros que demonstrem o descumprimento das obrigações contratuais ou os atos lesivos praticados pelo empregador. Além disso, o trabalhador deve notificar o empregador sobre a intenção de rescindir o contrato e, em seguida, ingressar com ação judicial para formalizar o pedido de rescisão. A jurisprudência do TST também oferece importantes diretrizes sobre o momento adequado para o trabalhador cessar suas atividades laborais. De acordo com a Súmula 32 do TST, o empregado pode interromper suas funções quando a falta grave cometida pelo empregador for suficientemente comprovada, como no caso de inadimplência salarial. No entanto, é fundamental que o trabalhador esteja amparado por provas consistentes e tome as providências necessárias para evitar que a continuidade da prestação de serviços seja interpretada como aceitação tácita das condições irregulares impostas pelo empregador. Uma vez reconhecida a rescisão indireta, o empregado tem direito às mesmas verbas rescisórias de uma dispensa sem justa causa. Isso inclui o saldo de salário, férias proporcionais acrescidas de um terço, 13º salário proporcional, aviso prévio indenizado, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) com multa de 40%, além do direito ao seguro-desemprego. Essas verbas visam assegurar a subsistência do trabalhador após o término do contrato de trabalho, garantindo-lhe o amparo financeiro necessário. Além da rescisão indireta, o artigo 483, parágrafo único, da CLT, permite que o trabalhador pleiteie o cumprimento de obrigações contratuais sem rescindir o contrato de trabalho. Essa medida é importante quando o empregado deseja regularizar sua situação trabalhista, mas não tem a intenção imediata de romper o vínculo empregatício. Segundo Delgado (2019), essa possibilidade oferece ao trabalhador uma alternativa eficaz para corrigir as irregularidades cometidas pelo empregador sem que ele precise deixar seu emprego. A hipótese de exclusão de contrato de trabalho por culpa do empregador, sem prejuízo ao empregado, constitui uma ferramenta crucial para a defesa dos direitos dos trabalhadores no Brasil. Ela garante que o empregado não seja obrigado a permanecer em um ambiente de trabalho degradante ou prejudicial à sua saúde física e mental. A jurisprudência do TST tem sido firme em reconhecer a legitimidade desse instituto, especialmente em casos de inadimplência salarial, assédio moral e descumprimento de obrigações contratuais. No entanto, a aplicação da rescisão indireta exige uma avaliação cuidadosa das provas e do comportamento do empregador, conforme observa Martins (2020). Para que o trabalhador tenha sucesso em seu pedido, é necessário que ele aja de forma diligente, reunindo provas consistentes e tomando as providências legais de maneira tempestiva. Caso contrário, corre o risco de perder o direito às verbas rescisórias. Em resumo, para um entendimento melhor, antes de interromper suas atividades laborais, primeiramente é fundamental que o empregado formalize a comunicação ao empregador acerca das faltas graves cometidas, preferencialmente por meio de uma carta ou notificação extrajudicial. Esse procedimento serve como prova documental de que o empregado está formalmente acionando a rescisão indireta. Ao notificar o empregador, o trabalhador resguarda seu direito e demonstra que está buscando uma solução dentro dos parâmetros legais, evitando complicações futuras no processo judicial. Simultaneamente ou logo após cessar suas atividades, o empregado deve ingressar com uma ação trabalhista, requerendo formalmente a rescisão indireta do contrato de trabalho. Nesse momento, o judiciário será responsável por analisar a situação, verificando se as faltas alegadas pelo empregado configuram motivos suficientes para a ruptura do contrato por culpa do empregador. A ação judicial é essencial para garantir que o empregado tenha acesso aos seus direitos trabalhistas, como verbas rescisórias e seguro- desemprego, sem que precise pedir demissão e perder esses benefícios. No entanto, é importante que o empregado continue exercendo suas atividadescaso as faltas do empregador não sejam suficientemente graves ou fáceis de comprovar. A continuidade na prestação de serviços pode ser interpretada como aceitação tácita das condições impostas pelo empregador, o que pode prejudicar a validade do pedido de rescisão indireta. Portanto, o trabalhador deve interromper suas atividades apenas quando houver certeza de que a falta grave é evidente e comprovável, assegurando que sua ação judicial tenha fundamentos sólidos. Assim, a rescisão indireta se consolida como um instrumento essencial para a salvaguarda dos direitos trabalhistas, garantindo que os trabalhadores possam atuar em um ambiente de trabalho que respeite sua dignidade e direitos fundamentais. REFERÊNCIAS BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 05 de outubro de 2024. COUTINHO, ANDRÉA DOS SANTOS; LEOCADIO, CARLOS AFONSO LEITE. DA RESCISÃO INDIRETA, 2010. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2019. PEREIRA, Indionara Franciele Carneiro. A rescisão indireta como causa da dissolução do contrato de trabalho: considerações. 2008. MARTINS, Sérgio Pinto. Curso de Direito do Trabalho. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2020.