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CICLO 3 MÓDULO III.D COMPONENTE Ciências da Natureza, os componentes Biologia, Física, Química CARGA HORÁRIA 20 h EMENTA A área das Ciências da Natureza para além da ótica da linearidade e da atomização. A natureza e a cultura. O diálogo entre o saber local, o saber global e os componentes curriculares da área de Ciências da Natureza. A natureza das ciências e suas relações com a tecnologia e a sociedade contemporânea. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ● DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André Peres; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2002. ● POZO, Juan Ignacio; CRESPO, Miguel Ángel Gómez. A aprendizagem e o ensino de ciências: do cotidiano ao conhecimento científico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. ● CARVALHO, Anna Maria Pessoa de; RICARDO, Elio Carlos; SASSERON, Lúcia Helena; ABIB, Maria Lúcia Vital dos Santos; PIETROCOLA, Maurício. Ensino de Física. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ● SOLBES, Jordi. Contribución de las cuestiones sociocientíficas al desarrollo del pensamiento crítico (I): Introducción. Eureka sobre Enseñanza y Divulgación de las Ciencias, v. 10, n. 1, 2013. ● ZUCCO, C. Química para um mundo melhor. Quím. Nova, v. 34, n. 5, São Paulo, 2011. Autores Ângelo Frederico Souza de Oliveira e Torres Marcos Melo de Almeida Talita Naria Silva de Souza Tatiane Vieira de Assunção AULA 1 TEMA: Ciências da Natureza para além da ótica da linearidade e da atomização: uma perspectiva histórica, filosófica e sociológica sobre a área. Saudações, cursistas! Já se perguntaram sobre as grandes transformações que ocorreram nas últimas décadas? As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), juntamente com a pandemia da Covid-19, geraram mudanças significativas em nossas vidas, especialmente na área em que atuamos, a educação. As formas de obter e produzir conhecimento foram alteradas, assim como as maneiras de nos comunicarmos e nos relacionarmos, o que gera mudanças na maneira como atuamos. Na área de ensino de ciências, assim como nas demais áreas de conhecimento, ocorreu algo semelhante, com muitos artigos científicos abordando a forma como o conhecimento é adquirido e produzido. Nesse contexto de produção do conhecimento, uma abordagem histórica e filosófica do ensino pode ser uma vertente importante para uma educação em ciências que integre e articule dimensões como ciência e tecnologia, por exemplo. Entretanto, é necessário compreender o que, exatamente, essa abordagem significa, quais são as implicações para a sociedade e a educação dos cidadãos e como isso se relaciona com a profissão docente. A intenção dessa etapa do curso é possibilitar uma abordagem contextual do ensino de ciências, na qual a aprendizagem da ciência ou dos conteúdos científicos seja enriquecida com a história, filosofia e sociologia da ciência, de maneira a proporcionar uma visão panorâmica das possíveis potencialidades, vantagens e desafios da utilização da referida abordagem no ensino de ciências. Sabemos que não é fácil, mas recomendamos que, sempre que possível, realize seus estudos em ambiente adequado, onde tenha tranquilidade para aproveitar ao máximo os conteúdos. Desejamos uma ótima jornada de aprendizagem e boas reflexões!😊 Aula 1.1 A NATUREZA DA CIÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO DE CIÊNCIAS Olá! Iniciamos nossa disciplina conversando sobre alguns aspectos e concepções sobre a natureza da ciência, assim como propostas e debates sobre a história, a filosofia e a sociologia da ciência no ensino. Nesta seção, vamos trabalhar as principais ideias sobre esses temas para que você possa iniciar o seu processo de aprender a conhecer o que é a natureza da ciência, na perspectiva da ciência como uma herança que faz parte da nossa cultura! COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Desde os primórdios da humanidade, a curiosidade em entender a natureza e o funcionamento do mundo à nossa volta tem sido uma constante. Ao longo dos séculos, a ciência, aqui conceituada como “o conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade” (DCRB - EM, 2022, p. 98), se estabeleceu como uma das principais ferramentas para compreender e explicar o universo, assim como as diversas áreas de conhecimento, a exemplo da história, da filosofia e da sociologia da ciência. No entanto, a história da ciência não é linear, e suas teorias e concepções passaram por diversas mudanças ao longo do tempo. Deste modo, nos ajuda a entender como as teorias e os conceitos científicos se desenvolveram no decurso do tempo e como esse conhecimento está relacionado ao contexto histórico, cultural e social em que foi produzido. Isso nos mostra que a ciência não é uma verdade imutável, mas um processo constante de evolução, revisão e questionamento (Moura, 2014). Comecemos pela história da filosofia da ciência. O infográfico abaixo apresenta, de forma visual e concisa, as principais correntes de pensamento e os marcos importantes que moldaram o desenvolvimento da filosofia da ciência ao longo do tempo, pois oferece uma oportunidade para compreendermos as raízes filosóficas que sustentam as investigações científicas modernas. Além de oferecer uma visão panorâmica da evolução do pensamento filosófico em relação à ciência, destacando os principais filósofos e suas contribuições para a compreensão do método científico. “História da Filosofia”: https://superscholar.org/wp-content/uploads/2014/09/History-of-Phil osophy.jpg https://superscholar.org/wp-content/uploads/2014/09/History-of-Philosophy.jpg https://superscholar.org/wp-content/uploads/2014/09/History-of-Philosophy.jpg Para ler do inglês para o português, siga esses passos: 1. Abra o aplicativo Google Tradutor em seu celular. Certifique-se de ter uma versão mais atualizada do aplicativo instalado em seu celular. 2. Selecione os idiomas de origem e destino. No menu suspenso na parte superior, escolha "Inglês" como o idioma de origem e "Português" como o idioma de destino. 3. Selecione a opção "Câmera" no menu principal do aplicativo. 4. Aponte a câmera do seu celular para o infográfico em inglês que você deseja traduzir. Certifique-se de que o texto esteja nítido e que não haja reflexos ou sombras que possam interferir na leitura. 5. O aplicativo irá detectar o texto na imagem e destacá-lo. Se o aplicativo não detectar automaticamente o texto, você pode selecionar a opção "Selecionar um arquivo" e escolher a imagem do infográfico em sua galeria de fotos. 6. Aguarde alguns segundos enquanto o aplicativo processa a imagem e traduz. 7. A tradução será exibida na tela, sobrepondo o texto original em inglês. Se a tradução estiver incorreta, você pode tocar em uma palavra específica para corrigir manualmente a tradução. 8. Role para baixo para ver a tradução completa do infográfico. 9. Se desejar, você pode salvar a tradução. Lembre-se que a tradução automática nem sempre é 100% precisa, por isso, é sempre bom verificar e corrigir manualmente a tradução, especialmente se você estiver lidando com termos técnicos ou específicos. Espero que isso ajude! A filosofia nos permite testar os princípios e pressupostos que orientam a produção científica, centrando-se nos elementos metafísicos, epistemológicos e metodológicos do conhecimento científico. Essa análise nos ajuda a esclarecer a essência e as restrições do conhecimento científico, além de sua conexão com outras áreas do conhecimento, a exemplo da ética, da política e da religião (POLISELI, 2019). A história, filosofia e sociologia da ciência (HFSC) são temas fundamentais para a compreensão do desenvolvimento das ciências ao longo do tempo. A interação entre esses três campos tem se mostrado cada vez mais relevante e atual (Matthews, 1995; Moura, 2014), uma vez que o ensino de ciências tem sido alvo de constantes transformações e inovações pedagógicas. Matthewsuniversais da ciência. Além disso, vamos debater um pouco o papel e a forma da interdisciplinaridade nos contextos da PHC e dos 3MP. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) O conhecimento “universal” e o saber local É muito tentador que, munidos do conhecimento científico, se queira suplantar, ou sobrepujar, ou ignorar todos os outros saberes. A nossa tradição colonial e eurocentrada, muito bem assentada na academia, nos impõe essa soberba, essa certeza de que o conhecimento científico é a única forma real de conhecer o mundo. É óbvio que o conhecimento científico tem algumas características que o tornam mais confiável, efetivo e, por consequência, mais universal. A base da PHC trabalha justamente nessa perspectiva, o concreto é determinado de forma científica, por meio de um método com uma série de premissas filosóficas estruturadas. A busca pelo concreto é, em última análise, um desvelar do real, uma busca pela essência das coisas, um processo que faz emergir os elementos mais determinantes de um determinado fenômeno. Esse é, portanto, o centro do debate. O conhecimento científico tem suas características por conta de seu método, portanto, a qualidade desse conhecimento deriva completamente da qualidade do método, isto é, o conhecimento é tão confiável quanto a forma como ele foi obtido. Desse modo, é impossível generalizar um conhecimento científico enquanto efetivo, bom ou universal sem avaliar o método pelo qual ele foi produzido. Uma analogia possível são as pesquisas de opinião. Elas têm causado polêmica no Brasil por conta da imprecisão em relação às eleições. Existem diversos fatores específicos, na pesquisa de opinião, que podem distorcê-la, como o fato de as pessoas mentirem, de mudarem de opinião e muitas outras, mas, para essa analogia, observaremos a metodologia. Algumas pesquisas acontecem por telefone, outras, nas ruas das grandes capitais. A questão, aqui, é: quem é o cidadão que pode atender telefone durante o horário comercial? Será que você conseguiria? Será que um trabalhador doméstico poderia parar seus serviços para responder a uma pesquisa por telefone? Será que todos os estratos da sociedade possuem telefone com possibilidade de receber ligações? É importante destacar que nenhuma metodologia poderia cobrir, sem erros, uma opinião da sociedade sobre um tema. E olhe que nem falamos de como as perguntas são formuladas! O importante, aqui, é destacar que os resultados da pesquisa são tão representativos quanto seu método é capaz de determinar. Da mesma forma, o conhecimento científico é tão confiável quanto seu método pode garantir. Por isso, não se deve tratar o conhecimento científico como algo dado, sem história, sem escolhas, sem política, sem uma filosofia que o oriente. É por isso que, ao nos confrontarmos com um saber tradicional, não é cientificamente correto tratá-lo como inferior, ou incompleto, ou irrelevante. É preciso, no mínimo, conhecer a forma como aquele saber se desenvolveu dentro daquele grupo social, é preciso, fundamentalmente, reconhecer os métodos que aquele grupo desenvolveu para construir aquele saber, já que, sem conhecer o método, é impossível determinar a qualidade do conhecimento. É provável que você já tenha percebido que os métodos apresentados aqui, ao ter como ponto de partida a análise do contexto social, histórico e cultural do sujeito ou, ainda, ao fazer o esforço de conhecer os sujeitos educandos e seu ambiente para, a partir daí, delinear estratégias pedagógicas, são ferramentas privilegiadas para concertar global e local numa relação dialética que será capaz de fornecer uma superação das eventuais contradições, produzindo uma nova e potente universalidade! Em outras palavras, é preciso reconhecer o aspecto metodológico do saber tradicional e trazê-lo para o centro do debate. Da mesma forma, é preciso reconhecer os limites do conhecimento científico, expressos em seus métodos. Dessa forma, é possível tratar, de forma igualmente honesta e científica, tanto os saberes tradicionais quanto os acadêmicos, superando as contradições entre os dois. O horizonte da interdisciplinaridade Todos compartilhamos o mesmo planeta. Esta é uma frase com a qual podemos todos concordar. E, apesar do fato de que a forma como cada um de nós interage, usufrui e aproveita os recursos desse planeta variar radicalmente de lugar para lugar, há sempre possíveis interseções nessas interações. No nível do mar, seja em Xangai, Luanda ou Guayaquil, perceberemos a mesma pressão atmosférica; no Himalaia ou nos Pirineus, precisaremos beber água para sobreviver. Em Teerã, Nairobi ou Bogotá, sal salga carnes e açúcares adoçam cafés. Essas certezas são todas compartilhadas pela humanidade, porque o ambiente que nos cerca, nosso planeta, possui um conjunto de regras em comum. Está na base das Ciências da Natureza que, se um fenômeno acontece ao mesmo tempo em dois lugares e nas mesmas condições, eles terão resultados iguais. Isso porque o conjunto de regras que regem o comportamento da natureza ao nosso redor é o mesmo para as mesmas condições. Essa concepção de conhecimento, reconhecido como o todo das experiências humanas, é um pressuposto da transdisciplinaridade. Fagundes (2001) delineia a visão transdisciplinar como o processo em que se objetiva reconfigurar os aspectos disciplinares sob uma ótica totalizante do conhecimento, buscando por outros elementos que orientem as investigações disciplinares, configurando, em alguma medida, a superação de suas barreiras. A transdisciplinaridade [...] mantém como um dos seus pressupostos básicos a crença de que o conhecimento é um todo integrado e de que é possível uma percepção totalizante da realidade. A identificação de saberes reorganizadores que atravessam as disciplinas, como base para os processos de unificação, tanto semântica como operativa das acepções através e além das disciplinas, são tentativas de costurar o incosturável: a fragmentação do mundo e dos saberes humanos. (FAGUNDES, 2001, grifo nosso).> Destacamos aqui “saberes reorganizadores”, que estão fortemente relacionados com os temas geradores freirianos (e, por consequência, dos Três Momentos Pedagógicos) e com os momentos de prática social e problematização da pedagogia histórico-crítica, que fazem emergir da realidade concreta os problemas sobre os quais se deve orientar o estudo disciplinar. Ainda nesse trecho, Fagundes reconhece a dificuldade da tarefa, pondo no centro da questão, mais adiante, o problema da formação do professor: Se os sujeitos envolvidos em tentativas transdisciplinares são formados por/em processos disciplinares – geralmente currículos multidisciplinares –, suas possibilidades de construção vão estar mediadas por (re)conhecimentos de limites disciplinares; portanto, construir esta prática transdisciplinar dependerá também da superação (coletiva) desses limites (FAGUNDES, 2001). Assim, ficam evidentes dois fundamentais pontos da perspectiva transdisciplinar: i) o seu objetivo de compreender o conhecimento como a totalidade da experiência humana, portanto, voltado para a solução de problemas concretos da humanidade; e ii) a necessidade de formar o professor para que ele possa, a partir de uma lógica inicialmente disciplinar, caminhar rumo à transcendência dessa disciplinaridade na formação do sujeito histórico do futuro. Japiassu faz uma compreensiva explanação conceitual das “vizinhanças” da interdisciplinaridade (a saber, disciplinaridade, multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade). Damos aqui ênfase ao trecho: [...] a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um projeto específico de pesquisa. A distinção entre as duas primeiras formas de colaboração [multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade] e a terceira [interdisciplinaridade] está em que o caráter do multi e do pluridisciplinarde uma pesquisa não implica outra coisa senão o apelo aos especialistas de duas ou mais disciplinas: basta que justaponham os resultados de seus trabalhos, não havendo integração conceitual, metodológica etc. Por outro lado, podemos retomar essa distinção ao fixarmos as exigências do conhecimento interdisciplinar para além do simples monólogo de especialistas ou do "diálogo paralelo" entre dois dentre eles, pertencendo a disciplinas vizinhas. Ora, o espaço do interdisciplinar, quer dizer, seu verdadeiro horizonte epistemológico, não pode ser outro senão o campo unitário do conhecimento. Jamais esse espaço poderá ser constituído pela simples adição de todas as especialidades, nem tampouco por uma síntese de ordem filosófica dos saberes especializados. O fundamento do espaço interdisciplinar deverá ser procurado na negação e na superação das fronteiras disciplinares (JAPIASSÚ, H., 1976, p. 73). Extraímos daqui duas lições importantes. A primeira é que a interdisciplinaridade depende de um elemento atitudinal dos envolvidos na “pesquisa”. O termo “pesquisa”, aqui, não está necessariamente restrito à produção de conhecimento científico de vanguarda, aqueles normalmente produzidos em universidades públicas com financiamento público, mas pode ser entendido como o processo de apropriação de conhecimento pelo estudante no contexto escolar. Essa questão nos coloca, enquanto professores, frente ao desafio de articular com os nossos pares as interações e integrações curriculares, contextuais e metodológicas para a produção interdisciplinar. Ela nos impõe, portanto, uma atitude interdisciplinar voltada para a intensificação das colaborações entre as diferentes disciplinas, visando à superação de suas barreiras, tendo como horizonte a formação de um sujeito capaz de articular as diversas áreas do conhecimento como um ferramental complexo voltado à solução de problemas concretos de uma realidade concreta. A segunda lição é a compreensão do horizonte interdisciplinar em si. A superação colocada por Japiassú deve ser compreendida na forma da síntese hegeliana/marxiana, aquela que, ao mesmo tempo, preserva, nega e eleva o objeto a um outro nível. De forma mais específica, a disciplina deve ser preservada na sua capacidade de descrever e orientar a percepção da realidade, negada em suas fronteiras rígidas e objetos meramente abstratos, e elevada a uma forma superior, em que pode servir de ferramenta para a transformação da sociedade. Então, ter como horizonte uma prática interdisciplinar demanda perceber a realidade como um todo não limitado à segmentação artificial das disciplinas. É, também, compreender que os conhecimentos disciplinares não são, por conta da proposição anterior, prescindíveis; ao contrário, devem nortear a interação dos sujeitos com os problemas propostos. Por último, devem conceber o conhecer como a articulação das várias disciplinas em suas dimensões epistemológicas, metodológicas, técnicas etc., objetivadas na construção do sujeito crítico e capaz de compreender e intervir em sua realidade. Tanto a PHC como os 3MP têm essa visão mais ampla de ciência. A visão de que o problema da realidade do estudante, aquele que assola sua realidade social, deve ser o objeto de estudo da escola e, por consequência, o estudante deve se apropriar do conhecimento científico e técnico produzido pela humanidade para ter capacidade de refletir criticamente sobre esses problemas e propor soluções para sua realidade, sem perder de vista o contexto histórico e social de sua cidade, estado e país e, também, geopolítico. Atitude interdisciplinar Nós vimos, durante a aula de 3MP, um exemplo de problematização que nos levou a um conteúdo de física, no caso hidrostática e correlatos. Mas como o problema é concreto, ele é muito mais complexo do que simplesmente fluidos em tubos. Por trás da falta d’água, estão questões sociológicas que vasos comunicantes não devem ajudar a responder. E a questão da poluição? Aonde vai esse esgoto? De onde vem essa água? Quem ganha dinheiro com esses serviços? Qual o dano ambiental? Para nenhuma dessas perguntas, a física tem instrumentos que ajudem a encontrar a resposta. Assim, um problema concreto é sempre complexo, e complexo porque, para que se articule uma resposta à altura do problema, são necessários múltiplos conhecimentos, múltiplas aptidões. Da mesma forma que é preciso uma comunidade para resolver os problemas coletivos, é preciso uma coleção de conhecimentos de áreas diferentes, com seus instrumentos diferentes, para produzir tanto uma análise correta quanto uma solução efetiva. Projeto Interdisciplinar: Abastecimento intermitente de água: Física: hidrostática; História: como nasceu o bairro?; Geografia: recursos hídricos; Biologia: poluição e biodiversidade; Química: poluição, compostos orgânicos e inorgânicos; Educação Física: água e saúde. Portanto, um projeto interdisciplinar exige dedicação e preparação, exige uma articulação muitas vezes difícil, por inúmeras questões, mas que pode enriquecer demais um processo pedagógico, formando sujeitos efetivamente capazes de atuar na sua comunidade e no mundo. O salto qualitativo que precisa ser dado é parcialmente na atitude, é desejar buscar se articular com outras áreas, e parte técnico, que é aportado pela PHC e pelos 3MP. Atividade 2.3: Faça uma postagem no fórum sugerindo um tema de trabalho interdisciplinar, colocando também qu[12] ais objetos de conhecimento da sua disciplina comporiam o currículo desse projeto. Comente em, ao menos, três postagens de colegas, sugerindo a inclusão de um ou mais objetos de conhecimento da sua área. Lembre-se! Os temas devem ter relação com um contexto social e histórico de alguma localidade real ou fictícia. Isso é necessário para que os colegas tenham maiores possibilidades de sugerir objetos ao seu tema. AULA 3 TEMA: A natureza das ciências e suas relações com a tecnologia, a sociedade contemporânea e o meio ambiente Olá, cursista! A partir de agora, iremos refletir sobre o ensino de Ciências da Natureza e suas relações com a cultura, a tecnologia e a sociedade contemporânea. Para tanto, iremos explorar como a abordagem CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) pode enriquecer o ensino de Ciências da Natureza, promovendo uma compreensão mais ampla e integrada dos fenômenos naturais e tecnológicos que nos cercam. De acordo com Delizoicov e colaboradores (2011), as atividades de ensino reforçam a ciência como um produto acabado e inquestionável, favorecendo a ideia de uma ciência morta voltada predominantemente para formar cientistas. A abordagem CTSA, por sua vez, incentiva a participação ativa dos estudantes em atividades experimentais, debates e pesquisas, além de desenvolver habilidades como a resolução de problemas, a comunicação e a colaboração em grupo. Isso é especialmente importante na formação de cidadãos críticos e conscientes, que possam entender e atuar de forma ética e responsável diante dos desafios contemporâneos. Assim, o nosso objetivo é que, ao final desta aula, você compreenda os principais conceitos da abordagem CTSA e sua importância no desenvolvimento de uma visão crítica e integrada da ciência, da tecnologia, da sociedade e do meio ambiente, mas, principalmente, que as reflexões aqui propostas possam contribuir para sua prática docente. Boa jornada e bons estudos! Aula 3.1 O conhecimento científico ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) Vamos iniciar nossa aula refletindo sobre o conhecimento científico. Para isso, utilizaremos uma rotina de pensamento chamada ver-pensar-perguntar. Para começar, analise a charge abaixo. Inserir imagem da charge “A dúvida traz progresso” disponível em: https://www.umsabadoqualquer.com/a-duvida-traz-progresso/ Atividade 1 A partir da análise da charge, propomos, na rotina de pensamento, os seguintes questionamentos: - O que eu vejo? (Descrever o que você vê) - O que eu penso? (Formular hipótesesa partir de conhecimentos prévios) - O que eu pergunto? (Refletir sobre os questionamentos que a imagem traz) Registre suas reflexões em seu portfólio. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) O conhecimento científico surgiu da necessidade de o ser humano compreender a realidade, saber como as coisas funcionam, em vez de apenas aceitá-las passivamente. A história do conhecimento científico é longa e remonta a muitos séculos atrás. Desde a Antiguidade, várias culturas desenvolveram conhecimentos a partir da observação e da curiosidade humana sobre o mundo natural e suas propriedades. Não há uma única definição do que é o conhecimento científico. Para Karl Popper, por exemplo, o conhecimento científico caracteriza-se por sua falsificabilidade. Ou seja, uma teoria científica deve ser capaz de ser testada empiricamente e, se não puder ser refutada por meio de evidências, pode ser considerada como válida – até que novas evidências possam refutá-la. Já para Thomas Kuhn, o conhecimento científico é moldado pelas teorias e paradigmas dominantes em uma dada época, que podem mudar ao longo do tempo, à medida que novas descobertas são feitas. No entanto, a maioria dos estudiosos concorda que se trata de um tipo específico de conhecimento que se baseia em evidências empíricas e é obtido por meio do método científico. Ao longo da história, o conhecimento científico evoluiu graças ao trabalho de muitos cientistas, em todo o mundo, que se basearam no conhecimento de seus antecessores e colaboraram entre si para fazer novos avanços e descobertas. O conhecimento científico é um processo dinâmico e em constante evolução, e é essencial para o progresso humano. Colocar palavras em negrito destacadas. ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) Atividade 2 Vamos fazer mais uma reflexão? Para isso, assista ao vídeo abaixo e responda ao questionamento. Vídeo: (4 min 49s) Uma vez que o conhecimento científico é dinâmico e seu domínio, necessário, principalmente, para vivermos melhor e para atuarmos, criticamente e politicamente, no sentido de desconstruir processos de dominação, por que ainda tratamos esse conhecimento como um saber firmado e estático? Excelente reflexão. De acordo com Rios e colaboradores (2007), o saber científico deve-se fazer entendido pelo saber popular. A ciência adota uma taxinomia muitas vezes impronunciável pelo senso comum, tornando complicada a compreensão desse tipo de linguagem pelos leigos e, em consequência, dificultando a comunicação entre os dois saberes. Nesse contexto, é preciso entender a relação histórica, social e cultural desses saberes e contribuir para que a sociedade adquira um pensamento crítico das ciências e suas implicações. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) https://www.youtube.com/watch?v=znChVbaQUgM Aula 3.2 - A cultura e a sociedade na produção do conhecimento científico A cultura e a produção do conhecimento científico estão profundamente interligadas. A cultura pode ser definida como um conjunto de valores, crenças, tradições e práticas que orientam a forma como uma sociedade funciona e como os indivíduos interagem entre si. Logo, ela influenciará diretamente a produção do conhecimento científico, pois molda todas as prioridades de uma sociedade e determina quais questões são consideradas relevantes para serem investigadas. Para exemplificar, podemos pensar em duas sociedades, uma que valoriza a tecnologia e a inovação, e uma outra que valoriza a sustentabilidade e a preservação ambiental. As prioridades dessas duas sociedades são diferentes e irão influenciar as suas pesquisas, bem como a produção do conhecimento científico. Na primeira, é provável que haja uma grande quantidade de pesquisas científicas voltadas para o desenvolvimento de novas tecnologias. Já na segunda, é provável que haja uma ênfase maior em pesquisas sobre energia renovável e conservação ambiental. Pensando nisso, trazemos um questionamento. Qual seria a mais importante invenção técnica do século XX? Podemos imaginar as mais diversas respostas, como aeroplanos, energia nuclear, voo espacial, televisão. Porém, nenhuma destas invenções teve a fundamental importância da síntese industrial da amônia. Destacar texto em negrito. Foi em 13 de outubro de 1908 que Fritz Haber registrou sua patente sobre a “síntese da amônia a partir de seus elementos", pelo qual recebeu o Prêmio Nobel de Química de 1918. Mas, mesmo muitos anos depois, vivemos em um mundo transformado e altamente dependente do nitrogênio Haber-Bosch. A síntese da amônia é um exemplo prático de como a cultura e a sociedade influenciam a produção do conhecimento científico, uma vez que o aumento populacional exigiu uma maior produção de alimentos e a síntese da amônia permitiu o desenvolvimento dos fertilizantes químicos nitrogenados sintéticos que, hoje, garantem a produtividade de quase metade de toda a agricultura mundial. Quer saber mais sobre a síntese da amônia e seu contexto histórico? Indicamos a leitura do artigo: CHAGAS, Aécio Pereira. A síntese da amônia: alguns aspectos históricos. Quim. Nova, v. 30, n. 1, 240-247, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/qn/a/vZbtpYKWR7JgfW6sFw4qNhs/?lang=pt https://www.scielo.br/j/qn/a/vZbtpYKWR7JgfW6sFw4qNhs/?lang=pt Além disso, a cultura e a sociedade também influenciam a forma como o conhecimento científico é produzido e comunicado. Em algumas culturas, a colaboração e o trabalho em equipe são altamente valorizados, o que pode levar a uma maior produção de conhecimento coletivo em detrimento do individual. Em outras culturas, a competição e a individualidade são mais valorizadas, o que pode levar a uma maior ênfase em descobertas individuais e reconhecimento pessoal. Ao longo da história, vivenciamos algumas competições científicas entre sociedades, das quais podemos citar a corrida espacial, episódio que ficou conhecido pela intensa disputa na exploração do espaço realizada por americanos e soviéticos. Naquele momento, o avanço científico permitiu a abertura de uma nova fronteira: o espaço, que acabou levando as duas nações a investirem na educação e a realizar pesados investimentos em estudos científicos. Quer saber mais sobre a corrida espacial? Assista ao vídeo abaixo. https://www.youtube.com/watch?v=urAy6BRsMTE Por outro lado, acompanhamos, recentemente, a maior colaboração científica de todos os tempos, o desenvolvimento da vacina da Covid-19. REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) Atividade 3 Faça uma reflexão com os colegas durante aas atividade do AC sobre a importância da colaboração científica no desenvolvimento da vacina da Covid-19 e respondam ao seguinte questionamento: • Em uma sala de aula, como combater a desinformação a respeito da agilidade e da eficiência da vacina da Covid-19, a partir da compreensão do significado de colaboração científica? Registre essas reflexões e leve essa mesma atividade para sua sala de aula. A cultura desempenha um papel importante na forma como o conhecimento científico é disseminado e utilizado pela sociedade, em geral. Em algumas culturas, a ciência é altamente valorizada e respeitada, o que pode levar a uma maior adoção de tecnologias baseadas em ciência e a uma maior confiança nas descobertas científicas. Em outras culturas, a ciência pode ser vista com desconfiança e ceticismo, o que pode dificultar a aceitação de novas tecnologias e descobertas científicas. Em resumo, a cultura e a produção do conhecimento científico estão interligadas de diversas maneiras, e entender essa relação pode ajudar a compreender melhor como a ciência é produzida, disseminada e utilizada em diferentes contextos sociais e culturais. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Aula 3.3 - O estudo das ciências para o exercício da cidadania Já sabemos que o conhecimento científico é produzido por investigações científicas, por meio de seus métodos, comvistas à resolução de problemas e atendendo aos anseios de uma sociedade. Nesse contexto, qual seria, então, o papel do ensino de Ciências? A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz um conjunto de habilidades e competências definidas para a área de Ciências da Natureza. No ensino médio, o documento propõe que os estudantes possam construir e utilizar conhecimentos específicos da área para argumentar, propor soluções e enfrentar desafios locais e/ou globais relativos às condições de vida e ao ambiente. Em resumo, o ensino de Ciências deve permitir o entendimento dos saberes oriundos da ciência e contribuir para que o cidadão adquira um pensamento crítico das ciências e suas implicações. Mas, na prática, o que observamos são atividades de ensino que se reduzem ao domínio dos procedimentos, regras, conceituações, modelos e teorias científicas. Atividades que pouco estimulam os estudantes a aplicarem esses conhecimentos em situações reais, a fim de resolver problemas e tomar decisões em sua vida cotidiana. Quantas vezes você, professor da área de Ciências da Natureza, foi questionado pelo seu aluno sobre a necessidade de aprender um determinado assunto? Ou quantas vezes você mesmo se perguntou sobre tal necessidade? É consensual a necessidade de o docente de Ciências ter domínio das teorias científicas, mas, ao pensar nos questionamentos acima, concluímos que apenas isso não é o suficiente. O papel do professor deve estar comprometido com a superação do que tem sido denominado senso comum pedagógico, que pode ser melhor caracterizado quando pensamos no ensino de Ciências apenas como uma valorização excessiva de definições, no uso acrítico de fórmulas e contas, na apresentação de tabelas e gráficos pouco contextualizados e em diversas outras situações que reforçam o distanciamento entre o conhecimento científico e a vida cotidiana do estudante. Um ensino que está sob o risco de uma apropriação do conhecimento pela mera transmissão mecânica de informações e que coloca a ciência como um produto acabado e inquestionável. Quando falamos de um ensino para situações reais, a fim de resolver problemas e tomar decisões em sua vida cotidiana, falamos de escolher se e qual remédio tomar, vacinar-se ou vacinar um(a) filho(a), aderir a um tratamento sem eficácia comprovada. Neste sentido, a desinformação científica é relevante, e um ensino de caráter investigativo pode ser um aliado das estratégias para combatê-la. ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) Atividade 4 Leia os trechos da notícia abaixo: MMS: os perigos da substância à base de cloro que promete curar autismo “Conhecida como MMS, sigla em inglês para solução mineral milagrosa, a substância popularizou-se entre familiares de pessoas com autismo. Mas, além da ausência de efeitos terapêuticos, a MMS é um líquido composto de dióxido de cloro, um alvejante usado no branqueamento de tecidos e no tratamento de água. Diz Renata Fonseca, gerente de fiscalização da Anvisa: “É uma substância química com atividade corrosiva que pode causar males para a saúde. É um produto que também traz riscos pela inalação”.” “(…) Kerri, que tem um filho autista, estimula o uso da MMS por via oral e anal para o tratamento do que ela chama de “sintomas conhecidos como autismo”, que seriam causados por uma intoxicação de bactérias desconhecidas e metais pesados do organismo.” Disponível em: Acesso em: 30 abr. 2023 Agora, vamos fazer uma reflexão. A ciência sabe que o autismo é um transtorno do desenvolvimento que se forma ainda na gestação, não se trata de bactérias e metais pesados. Não há cura, e os tratamentos buscam promover habilidades sociais e comportamentais. Mas a ciência saber disso não impediu que os pais de crianças autistas oferecessem a elas o medicamento da reportagem acima. Diante disso, fazemos os seguintes questionamentos: qual a importância e o papel do docente de Ciências no combate às fake news? Por que essas notícias falsas são muito mais veiculadas do que as notícias verdadeiras? Por que a sociedade acredita tão facilmente nas notícias falsas? Registre suas reflexões no seu diário de bordo. O desafio de pôr o saber científico ao alcance de uma sociedade e, mais especificamente, de um público escolar, não deve ser enfrentado com as mesmas práticas docentes de décadas anteriores ou de uma escola construída para poucos, uma vez que, para além de um maior contingente escolar, temos uma sociedade que mudou a sua forma de se expressar, os seus valores e crenças, as suas expectativas e a forma como obtém e adquire conhecimento. Vimos que o conhecimento científico é aberto, sujeito a mudanças e reformulações. Dessa maneira, podemos pensar a ciência como um produto histórico, social, político e cultural que possibilita levantar discussões relacionadas à construção do seu próprio saber, a fim de combater visões descontextualizadas, como a visão elitista, na qual os cientistas são tidos como minorias inatingíveis. Não podendo mais o ensino de Ciências ser visto apenas com o objetivo de formar cientistas e, sim, com a meta de uma ciência para todos. É importante que, cada vez mais, docentes, cientistas e instituições de pesquisas levem a ciência para além dos muros acadêmicos, se aproximando da sociedade. A contextualização social, histórica e cultural da ciência e da tecnologia é fundamental para que elas sejam compreendidas como empreendimentos humanos e sociais. Na BNCC, portanto, propõe-se também discutir o papel do conhecimento científico e tecnológico na organização social, nas questões ambientais, na saúde humana e na formação cultural, ou seja, analisar as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Aula 3.4 - A abordagem CTSA e o ensino de ciências Sabemos que o ensino de Ciências enfrenta diversas dificuldades que podem prejudicar a formação dos estudantes e o desenvolvimento do pensamento científico. Nesse sentido, podemos citar desde a falta de recursos e formação docente até o próprio desinteresse dos estudantes. Afinal, a atual geração de estudantes do ensino médio surge em um ambiente completamente digital, no momento de maior expansão tecnológica proporcionada pela popularização da internet. Logo, tornar o ensino de Ciências atrativo é um desafio, em meio a tantas distrações e interesses que cercam a vida desses estudantes. Mas um dos seus maiores problemas é o fato de o ensino de Ciências, usualmente, ser conhecido como uma área do conhecimento científico voltada às teorias e memorizações, como já refletimos na aula anterior, em que o estudante acaba apresentando muitas dificuldades no processo de aprendizagem. O que pode ser explicado, entre outras coisas, pela ausência de conexão dos conteúdos trabalhados na escola com a prática cotidiana dos estudantes. Portanto, incentivar uma abordagem mais investigativa e contextualizada e promover a participação ativa dos alunos parece um caminho alternativo em meio a todas essas dificuldades. Nesse sentido, a abordagem CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) apresenta um papel importante na educação contemporânea, visto que visa integrar os conhecimentos científicos e tecnológicos aos seus diversos contextos, sejam eles sociais, ambientais, culturais, econômicos, políticos e até mesmo éticos. Essa abordagem tem sido adotada no ensino de Ciências, pois oferece uma visão mais abrangente e contextualizada do conhecimento científico, tornando-o mais significativo e relevante para os alunos. Além disso, a abordagem CTSA pode ajudar a desenvolver habilidades importantes, como a capacidade de analisar e interpretar informações científicas, avaliar argumentos baseados em evidências, compreender a natureza e o processo da ciência, e refletir sobre as implicações éticas e sociais da tecnologia. O que permite tornaro ensino de Ciências mais relevante, significativo e engajador para os estudantes. Agora, vamos assistir ao vídeo das professoras Thais de Cássia Oliveira e Marina Matera Sanches, na qual elas discutem as possibilidades de trabalho com a abordagem “Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente” (CTSA). Vídeo: (27min30s) Vimos no vídeo que a abordagem CTSA não trata apenas de relacionar o conhecimento científico com o cotidiano do aluno, exemplificando com materiais, nomes de fenômenos e citar aplicações, mas, sim, de partir de situações-problema reais nas quais o conhecimento é empregado para compreendê-las e solucioná-las. Sendo assim, no contexto de uma educação CTSA, é importante pensar no currículo do ensino de Ciências. Delizoicov e colaboradores (2011) refletem sobre a necessidade da seleção dos conhecimentos científicos relevantes a serem ensinados e quais critérios devem balizar os que não serão abordados. A função do currículo, nesse cenário, é a de um ensino focado no aluno, na formação de um cidadão, e não na formação de um cientista, como ocorre no currículo tradicional de ciências. Pensando em uma alfabetização científico-tecnológica na qual se busca compreender as interações entre CTSA e associar os conceitos, problematizando-os, os conteúdos são considerados meios para a compreensão de temas sociais relevantes, por meio do trabalho educacional dialógico e problematizador que propicie um conhecimento crítico da realidade e das relações CTSA. Uma concepção mais próxima da educação progressista freiriana. A ação direta do estudante na construção de seu conhecimento é bastante discutida por Freire; assim sendo, o educando não poderá ficar à margem do processo educativo, mas, sim, ser considerado como sujeito central do processo educativo. Dessa maneira, o professor é o principal porta-voz do conhecimento científico, é o mediador por excelência do processo de aprendizagem do indivíduo. https://www.youtube.com/watch?v=K1f9SKvXI-8 O grande desafio do professor é construir práticas que propiciem aos alunos uma visão mais crítica do mundo que o rodeia. Neste sentido, a abordagem metodológica dos Três Momentos Pedagógicos (3 MP), de Delizoicov e colaboradores (2011), surge com o objetivo de auxiliar o processo de ensino e aprendizagem, possibilitando um maior envolvimento dos alunos na construção de seu próprio conhecimento. Essa sequência didática é um exemplo prático da pedagogia problematizadora defendida por Paulo Freire, e apresenta três etapas sistemáticas: problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) Atividade 5 Agora é com você! Vimos que a abordagem CTSA oferece uma oportunidade valiosa para tornar o ensino de Ciências mais relevante, significativo e engajador para os alunos. Com base nisso, envie sua TAREFA: uma proposta de aula fundamentada nos 3 MP. Você deverá escolher o componente curricular, o tema da aula e selecionar os objetos do conhecimento que serão abordados. Além disso, deverá indicar ações para a problematização inicial, a organização do conhecimento e a aplicação do conhecimento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. C. A. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011. KNOBEL, Marcelo. A ilusão da lua: ideias para decifrar o mundo por meio da ciência e combater o negacionismo. São Paulo, SP: Editora Contexto, 2021. LIMA, L. S.S.; GONZAGA, P. C. Conhecimento científico e ensino de ciências: tecendo reflexões. Biosphere Comunicações Científicas, Picos, PI, v. 1, n. 1, p. 38-44, 2022. OLIVEIRA, T. C. Educação CTS: uma experiência didática com o tema substâncias psicoativas. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. São Paulo, p. 217, 2016. RIOS, E. R. G. et al. Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 501-509, 2007. AULA 4 TEMA: Trabalhando em sala de aula. Uma perspectiva interdisciplinar para o ensino de Ciências da Natureza Olá, cursista! Esta é a última aula do módulo de Ciências da Natureza. Nela, apresentaremos uma perspectiva para o trabalho interdisciplinar de Ciências da Natureza nas escolas. Fundamentado nas discussões que realizamos nas aulas anteriores, empregaremos as dinâmicas dos Três Momentos Pedagógicos, propostas por Delizoicov, e os cinco momentos da pedagogia histórico-crítica nas aulas das disciplinas Biologia, Física e Química. Esperamos que você aproveite este momento! ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) A Base Nacional Comum Curricular propõe para a área de Ciências da Natureza duas unidades temáticas a serem trabalhadas no ensino médio:Matéria e Energia e Vida, Terra e Cosmos. Estas unidades temáticas podem ser utilizadas para articular as disciplinas da área e os processos que devem trabalhar os objetos do conhecimento de cada disciplina. A partir das unidades temáticas, podemos, também, pensar em temas geradores que possam abrir caminhos para uma discussão sobre temas relevantes socialmente e que se relacionem, de alguma forma, aos objetos de conhecimento a serem trabalhados. Como exemplo, podemos pensar em um trabalho coletivo interdisciplinar sobre a importância da energia na sociedade moderna. É possível pensarmos a nossa sociedade sem a energia elétrica? Quais os fatores positivos e negativos que decorrem da nossa dependência de energia? Como essa energia é produzida e transmitida para nós? Qual o custo que temos de pagar pelo seu uso? A investigação pela busca das respostas a estas perguntas podem ser trabalhadas em um movimento mais profundo de entender as relações que a produção do conhecimento científico mantém com a nossa sociedade, influenciando o nosso estilo de vida e a nossa organização econômica e social, impactando o meio ambiente e definindo o nosso futuro como habitantes de um planeta que se encontra perto de um desastre ambiental. Podemos utilizar o trabalho interdisciplinar com vistas à alfabetização científica das/os educandas/os, buscando formar cidadãos críticos e atores ativos na sociedade que estamos construindo. Alfabetização científica pode ser pensada como as ideias que temos em mente e que objetivamos ao planejar um ensino que permita aos alunos interagir com uma nova cultura, com uma nova forma de ver o mundo e seus acontecimentos, podendo modificá-lo e a si próprio por meio da prática consciente propiciada por sua interação cerceada de saberes de noções e conhecimentos científicos, bem como das habilidades associadas ao fazer científico. (SASSERON, p. 15). Pensar nesse conceito é pensar em democratizar os conhecimentos científicos de forma a transformar as pessoas e suas leituras sobre como o conhecimento científico pode afetar as suas vidas, permitindo que se tornem sujeitos conscientes, críticos e atuantes nas discussões associadas a este tema na sociedade. Conseguir formar pessoas capazes de lerem o mundo no qual estão vivendo e construindo, atores da história que está sendo produzida neste momento, deve ser uma aspiração das escolas comprometidas com a transformação social e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Só a partir da ação coletiva de pessoas que compreendam as contradições da sociedade e a necessidade de suas superações para que um caminho novo seja construído para a humanidade é que poderemos transformar a sociedade. O ensino de ciências, como atividade desta escola democrática, também devem estar conectado a estas aspirações. No âmbito de cada disciplina, aspectos mais particulares deste trabalho coletivo podem ser abordados, explorando as suas relações com os objetos de conhecimento a seremtrabalhados naquele período. Podemos aprofundar as discussões dos objetos de conhecimento e dos assuntos abordados no trabalho coletivo nos momentos da disciplina, sem perder de vista a perspectiva CTSA e a análise crítica das relações econômicas e sociais envolvidas no tema. Sugestão de leitura: o artigo Alfabetização Científica e Domínios do Conhecimento Científico: proposições para uma perspectiva formativa comprometida com a transformação social, de Maíra Silva e Lúcia Helena Sasseron. https://orcid.org/0000-0002-5490-1862https:/orcid.org/0000-0001-5657-9590 https://orcid.org/0000-0002-5490-1862https:/orcid.org/0000-0001-5657-9590 Biologia Saudações, querid@s cursistas, Como vocês viram nos módulos anteriores, a pedagogia histórico-crítica é uma abordagem didática pedagógica que tem como objetivo a formação de indivíduos críticos e reflexivos. Ela é baseada em cinco momentos: a prática social inicial, a problematização, a instrumentalização, a catarse e a prática social final. Esses momentos nos permitem criar estratégias didáticas para todo o nosso processo de planejamento. Desse modo, a aula 4 vai nos possibilitar trabalhar essa abordagem com uma temática importante para biologia: a energia. Além disso, esse momento também tem como objetivo proporcionar sugestões que permitam contextualizar o tema em questão, relacionando-o com outros temas já estudados ou com situações das nossas práticas cotidianas. Um forte abraço😊 A Temática “Energia” na Perspectiva da PHC Prática social inicial: Nesta etapa, os alunos serão expostos a situações que envolvam o uso de energia na biologia relacionadas a questões de cunho social. Um exemplo de problema social relacionado à utilização de energia na biologia é a produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, que são derivados de plantas. Embora os biocombustíveis sejam considerados alternativas mais favoráveis aos combustíveis fósseis, a produção em larga escala pode ter efeitos negativos no meio ambiente e na sociedade. Um outro problema social relacionado à produção de biocombustíveis é a competição por terras aráveis. À medida que mais terras são destinadas ao cultivo de plantas para a produção de biocombustíveis, há menos espaço para o cultivo de alimentos e para a preservação da biodiversidade. Isso pode levar a conflitos entre produtores de alimentos, comunidades locais e empresas que produzem biocombustíveis. Além disso, a produção de biocombustíveis pode ter efeitos ambientais prolongados, como a emissão de gases de efeito estufa durante o processo de produção e o uso excessivo de água e de fertilizantes químicos, que podem contaminar os recursos hídricos e afetar a qualidade do solo. Por exemplo, pode ser discutido como as plantas usam a energia solar para produzir alimentos e como os animais usam essa energia para se mover e realizar outras atividades. Além disso, esse momento também tem o objetivo de contextualizar o tema em questão, relacionando-o com outros temas já estudados ou com situações das nossas práticas cotidianas. Problematização: Aqui, o objetivo é levantar questões sobre a situação apresentada na etapa anterior. Os alunos serão orientados a identificar os principais problemas e desafios relacionados ao uso de energia na biologia. Para isso, pode-se iniciar a aula com uma pergunta desafiadora, como "o que é energia e como ela é usada pelos seres vivos?". Em seguida, o professor pode apresentar algumas imagens e exemplos relacionados ao tema, como a fotossíntese, e atividades voltadas para os processos celulares (fotossíntese, divisão celular, a síntese de proteínas, entre outros). Instrumentalização: Neste momento, o objetivo é apresentar conceitos teóricos mais detalhados sobre o tema em questão. O professor pode explicar, por exemplo, os tipos de energia utilizados pelos seres vivos (energia química, térmica, luminosa etc.) e as principais vias metabólicas responsáveis pela produção e utilização da energia nas células. Os alunos terão a oportunidade de explorar esses conceitos com as mediações do professor por meio de diversos materiais e/ou situações: artigos, blogs, vídeos do YouTube, livros e reflexões em grupo. Catarse: O objetivo, aqui, é fazer com que os alunos apliquem os conceitos aprendidos em situações que permitam fazer relações em suas vidas. Neste momento, eles terão a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na etapa anterior em uma situação prática: a construção de uma célula fotovoltaica ou a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos, ou projetar e construir um modelo de célula animal ou vegetal que represente o processo de produção e uso de energia. Prática social final: Aqui, os alunos serão convidados a compartilhar suas aprendizagens e reflexões com outras pessoas e aplicar seus conhecimentos em uma prática social relevante. Por exemplo, podem ser incentivados a criar campanhas de conscientização sobre o uso de energia levando em consideração a perspectiva biológica, desenvolver projetos de conservação ambiental ou fazer apresentações para a comunidade sobre como as escolhas de consumo de energia podem afetar o meio ambiente e suas vidas pessoais, a exemplo da conta de energia elétrica. É importante ressaltar que a prática social final não é o fim do processo educativo, mas, sim, um novo começo, pois os alunos podem continuar a aprender e aprimorar suas habilidades ao longo da vida e em sociedade, levando em consideração as possíveis reflexões proporcionadas pelas discussões ao longo dos cinco momentos didáticos da pedagogia histórico-crítica. Física Saudações, cursistas! Durante a apresentação da pedagogia histórico-crítica, demos algumas ideias de como utilizar a metodologia para planejar e preparar as aulas. Agora, traremos um exemplo mais detalhado da PHC utilizando o tema ENERGIA. O tema é, ao mesmo tempo, vasto e parte integrante do nosso dia a dia. Como é a realidade de muitos baianos, imaginamos que a falta de energia elétrica em bairros periféricos seria um tema não raro entre os estudantes. Visto que a energia elétrica intermedia acesso a quase tudo, desde lazer até alimentos (pela preservação em eletrodomésticos, como geladeiras), é relativamente fácil de emergir um debate em que as famílias dos estudantes tenham tido dificuldades por conta do acesso precário a esse recurso tão central nas nossas vidas. É importante ress[18] altar que os momentos da pedagogia histórico-crítica não são uma sequência linear fechada. A dinâmica em sala e o ritmo de transmissão dos conteúdos pode exigir ajustes e um bate-e-volta entre etapas, principalmente entre problematização, instrumentalização e catarse. Abraços! Prática Social: Os estudantes sabem como a energia elétrica chega em suas casas? Conhecem os sistemas de distribuição, geração e transmissão de energia? O serviço de energia elétrica em suas casas é de qualidade? Já passaram muitos perrengues sem energia elétrica? Conseguem conceber que estar sem energia elétrica é estar sem celular, tv, computador, geladeira, congelador, ar-condicionado, chuveiro quente, máquina de lavar, videogame etc.? Mas, e as baterias? O celular funciona fora da tomada por horas! Notebooks, também! E os geradores e no breaks? O objetivo desse momento é compreender o nível de entendimento que os estudantes possuem sobre o tema e perceber a realidade que os cerca. Problematização: O professor deve, aqui, alimentar o debate com dados da realidade, como matérias de jornais, estatísticas locais, para que o debate convirja para um tema. Esse tema deve ser amplo o suficiente para que o professor consiga encaixar seus objetos de conhecimento, mas com escopo bem definido, para que não se alongue muito no tempo e permita ações concretas ao final.O objetivo desta etapa é delinear um tema sobre o qual os estudantes e o professor irão se debruçar por um conjunto de aulas, abraçandouma série de objetos de conhecimento. Exemplo: depois de muito debater, os estudantes (com ajuda e orientação do professor) escolheram o tema A intermitência no fornecimento de energia elétrica no bairro. Instrumentalização: Aqui, o professor deve organizar os conhecimentos técnicos necessários para que os estudantes se apropriem deles e possam formular melhor o todo caótico que observaram nas etapas anteriores. O professor deve organizar suas intervenções utilizando todos os recursos à sua disposição, como trabalhos em grupos, seminários, resumos, listas de exercícios etc.O objetivo é que os estudantes compreendam as questões técnicas e políticas por trás da distribuição de energia no seu bairro. Exemplo: o professor organizou os seguintes assuntos: eletrostática, eletrodinâmica, magnetismo, Leis de Maxwell para o eletromagnetismo, Leis de Lenz e Ampère, Lei de Gauss, geração de energia, transmissão de energia e a Lei de Joule, circuitos elétricos, circuitos em nossa casa, proteção de circuitos, instalações elétricas, baterias. Notem que esse tema tem um grande potencial para a interdisciplinaridade. Somente dentro das Ciências da Natureza teríamos o apoio da química, com os modelos atômicos e o funcionamento das baterias, e da biologia, com o apodrecimento dos alimentos e o efeito de hidrelétricas no meio ambiente. Se quiséssemos uma parceria com os colegas de Humanas, teríamos um debate importante sobre deslocamento de povos originários em empreendimentos hidrelétricos, o efeito de acidentes com termonucleares nas populações humanas e animais, a influência da energia elétrica no processo de urbanização e muitos outros! Catarse: Há muitas possibilidades catárticas durante as intervenções para este tema. É importante ter em mente que a catarse é o momento de transformação da concepção do estudante de um empírico para um concreto. Então, é justo que, para cada objeto que o estudante se aproprie, ele tenha um ou mais momentos de catarse. O objetivo, aqui, é que o estudante seja colocado em condições de se apropriar dos objetos em diversos momentos do processo, ao passo que vai se apropriando dos objetos do conhecimento. Exemplo: os estudantes são instados a elaborar um trabalho de fontes alternativas para a geração de energia. Em meio ao processo, compreendem que é possível instalar em seu bairro um conjunto de placas fotovoltaicas que possam suprir suas necessidades quando a distribuidora falhar. Em que pese uma instalação como essa não ser particularmente acessível, o objetivo deste momento é que os estudantes mostrem apropriação do conhecimento técnico-científico adquirido durante os momentos de instrumentalização. A reflexão para a execução prática dos projetos deve ficar guardada para o momento seguinte. Prática social: Aqui, os estudantes deverão encarar a sua realidade novamente. Existe entre eles uma nova compreensão crítica da realidade em que vivem? Esse conhecimento novo que agora lhes pertence é suficiente para que eles transformem a sua realidade? O que mais falta? O objetivo deste momento é retornar ao contexto social posto, mas com uma visão mais concreta, e seguir com uma proposta de intervenção na realidade. Exemplo: os estudantes compram a ideia de construir uma central fotovoltaica no bairro; é preciso articular-se com a associação do bairro e, talvez, pleitear algum recurso junto à prefeitura, fazer uma parceria com a escola técnica local ou universidade para a instalação. O ensino na escola precisa ter como fim sair da escola. É claro que se sabe de todos os problemas das instituições públicas de ensino, e que esses processos são atravessados e atravancados por inúmeras questões, mas, dentro de toda limitação que se tem, é preciso, sempre, disposição para lutar e mudar a vida das pessoas. Química Como podemos pensar a pedagogia histórico-crítica (PHC) no ensino de Química? De acordo com Messeder Neto (2022), um educador químico que deseja avançar na materialização da pedagogia histórico-crítica precisa se preocupar em ensinar conteúdos que sejam reais, dinâmicos e concretos, de modo que não esteja restrito a ensinar abstrações internas da ciência. Pensando nisso, trazemos abaixo um exemplo de uma sequência didática fundamentada nos cinco momentos da PHC (prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final) que possa servir de inspiração para a sua prática docente. Afinal, nosso objetivo é contribuir para que você possa desenvolver suas atividades didáticas de maneira criativa e, principalmente, adequada à sua realidade. A sequência abaixo foi pensada para uma escola localizada na cidade de Salvador. É importante que o docente explore as possibilidades da sua cidade, do bairro onde está localizada a escola ou qualquer outro contexto que faça sentido para os estudantes. SEQUÊNCIA DIDÁTICA Componente curricular: Química Série: 2ª série Tema da aula: Energia Objetos do conhecimento: - Química ambiental. - Poluição. - Termoquímica. Habilidades BNCC: (EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos à saúde e ao ambiente, considerando a composição, a toxicidade e a reatividade de diferentes materiais e produtos, como também o nível de exposição a eles, posicionando-se criticamente e propondo soluções individuais e/ou coletivas para seus usos e descartes responsáveis. (EM13CNT203) Avaliar e prever efeitos de intervenções nos ecossistemas e seus impactos nos seres vivos e no corpo humano, com base nos mecanismos de manutenção da vida, nos ciclos da matéria e nas transformações e transferências de energia, utilizando representações e simulações sobre tais fatores, com ou sem o uso de dispositivos e aplicativos digitais (como softwares de simulação e de realidade virtual, entre outros). Desenvolvimento das atividades Momento 1 - Prática social inicial No momento inicial, a turma será dividida em pequenos grupos para refletir o que eles sabem sobre o tema energia e registrar no caderno. Após esse momento, um representante de cada grupo é convidado a escrever no quadro os principais pontos e conhecimentos prévios trazidos pelo grupo sobre a temática. Os registros serão salvos para que eles possam ser discutidos em momentos posteriores. Caso os estudantes tenham acesso a dispositivos eletrônicos conectados à internet, ferramentas como Mentimeter e Padlet serão utilizadas para os registros, como a construção de nuvem de palavras e murais. Na sequência, com os estudantes ainda em grupos, serão entregues os materiais de suporte. Caso exista acesso a recursos audiovisuais, serão apresentados vídeos e trechos de reportagens. Saídas pedagógicas serão utilizadas aqui, também. Seguem, abaixo, algumas propostas de materiais e recursos: - Visitas: - Museu da Energia, localizado na Praça da Sé, no Centro Histórico da cidade. - Termoverde Salvador, localizada na Estrada Cia Aeroporto, em São Cristóvão. - Vídeos: - Energia: https://www.youtube.com/watch?v=pXtVUobPQLs - Energia que vem do lixo: https://www.youtube.com/watch?v=cg2sUnrrIY0 - Reportagens extraídas dos sites de notícias: - Governo aciona termelétricas para driblar falta de chuva, e conta de luz vai ficar mais cara. - Bairros da capital baiana registram queda de energia nesta quarta-feira. - Primeira fábrica de hidrogênio verde do Brasil será instalada na Bahia. - Salvador tem a gasolina mais cara entre capitais do Brasil, aponta ANP. - Usina que transforma lixo em energia anuncia modernização em Salvador. - Sem acesso à luz ou à água: a realidade de quem vive sem energia na Amazônia. - Textos de revistas científicas: - Química Nova na Escola (QNEsc) - A energia e a Química: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc08/conceito.pdf - Recursos digitais: - Mentimeter (https://www.mentimeter.com/) - Padlet (https://pt-br.padlet.com/) Após apresentar os materiais aos estudantes, a percepção deles no contato com esses recursos deverá ser registrada. Você também deve solicitar o registrodo que eles mais gostariam de saber sobre o conteúdo apresentado. Momento 2 - Problematização A problematização será construída com base nas percepções e nos questionamentos que os estudantes trouxeram na etapa anterior. As questões problematizadoras farão correlação do conteúdo com a prática social e o cotidiano dos estudantes, e serão apresentadas em cartazes, que ficarão expostos na sala até a finalização dos estudos sobre o tema, já que estes irão nortear toda a atividade didática. Seguem, abaixo, algumas propostas de problematizações: - Como é a vida de uma comunidade que não tem acesso à energia? - Por que frequentemente nos deparamos com reportagens que anunciam o aumento da energia? Quais são os fatores que influenciam esse aumento? - Como funciona uma termelétrica e por que seu acionamento é um problema? - Por que a gasolina é tão importante na vida cotidiana e, ao mesmo tempo, pouco acessível? - Quais as possibilidades alternativas para produção de energia? - Como é possível obter energia através do lixo urbano? Depois de apresentar os cartazes com as questões problematizadoras, o professor irá mediar o momento, esclarecendo que a apropriação dos conhecimentos científicos referentes aos conteúdos abordados tem como principal objetivo encontrar soluções para os problemas do cotidiano e a tomada de consciência crítica. Momento 3 - Instrumentalização Nesse momento, os objetos do conhecimento serão apresentados de forma elaborada e sistemática. Para o tema energia, conceitos de termoquímica serão ofertados em momentos expositivos. Seguem, abaixo, algumas propostas de abordagens para a aula expositiva: - Modalidades de energia - Matriz energética mundial e brasileira - Conceitos de termoquímica - Variação de entalpia - Reações de combustão - Aspectos sociais, econômicos, ambientais e energéticos da utilização de combustíveis - O uso do hidrogênio como combustível - Aterro sanitário como fonte de energia Após a aula expositiva, os estudantes serão motivados a refletir, pesquisar e debater coletivamente sobre os temas abordados e conceituados. Essa etapa terá como objetivo reformular e desconstruir conceitos equivocados baseados no senso comum, ampliar os conhecimentos e criar relações destes com a química ambiental e a poluição. O professor irá dedicar um tempo para dialogar e mediar as reflexões do grupo, estimulando os estudantes a pensar sobre as relações da termoquímica com as situações reais do seu cotidiano e contexto social. Momento 4 - Catarse Para retomar os objetivos propostos e os questionamentos levantados nas etapas anteriores, os estudantes vão novamente ser separados em grupos. Os grupos terão como atividade sintetizar os conhecimentos construídos para responder aos seus próprios questionamentos e aos questionamentos da etapa de problematização. Situações-problema serão ofertadas com o objetivo de correlacionar a evidente aprendizagem dos estudantes e o seu nível de compreensão acerca dos objetos do conhecimento. Seguem, abaixo, algumas propostas de seleção de instrumentos para avaliação da aprendizagem: - Produção textual - Debates - Construção de murais, podcast ou vídeos - Atividades de expressão cultural e artística - Atividades avaliativas que abordem as diferentes dimensões estudadas na problematização e na instrumentalização - Autoavaliação Momento 5 - Prática social final Nesse último momento, os estudantes, ainda em grupo, vão planejar coletivamente estratégias que possam utilizar, a partir dos novos conhecimentos adquiridos, para responder ou trazer soluções para problemas cotidianos. A atividade proposta nessa etapa envolve a resolução de problemas da vida cotidiana dos estudantes por meio de ações empreendedoras, sejam elas individuais ou sociais. Essas ações deverão ser compartilhadas e apresentadas brevemente na forma de seminário, vídeo-minuto ou em qualquer outro formato criativo escolhido pelos estudantes. Nas apresentações, deverão constar o problema, o contexto no qual ele está inserido, a justificativa e a proposta de solução, utilizando os conceitos que abordam as diferentes dimensões estudadas na problematização e na instrumentalização. Referências MESSEDER NETO, H. S. O ensino da química na pedagogia histórico-crítica: considerações sobre conteúdo e forma para pensarmos o trabalho pedagógico concreto. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 27, n. 2, p. 271-293, 2022. PEREIRA, S. M. G. S.; PEDROSA, E. P. Proposta Didática à Luz da Pedagogia Histórico-Crítica: da prática social inicial à prática social final. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus São Luís, Monte Castelo, 2021.(1995), uma referência nessa discussão, enfatiza, ainda, que o estudo de conteúdos históricos, filosóficos e sociológicos tem contribuído para a compreensão de estudantes e professores sobre a natureza do conhecimento científico. Sendo assim, Matthews (1995) vai argumentar: os que defendem HFS tanto no ensino de ciências como no treinamento de professores, de uma certa forma, advogam em favor de uma abordagem contextualista, isto é, uma educação em ciências, onde estas sejam ensinadas em seus diversos contextos: ético, social, histórico, filosófico e tecnológico; o que não deixa de ser um redimensionamento do velho argumento de que o ensino de ciências deveria ser, simultaneamente, em e sobre ciências. (MATTHEWS, 1995, p. 166). E a sociologia da ciência? Esta é uma área de estudo que busca entender como a ciência é produzida e sua relação com a sociedade. É importante para o ensino de ciências porque ajuda a entender como as teorias científicas são construídas e como elas são influenciadas por fatores sociais, políticos e culturais. Além disso, a sociologia da ciência pode ajudar os alunos a entender melhor como a ciência funciona e como ela pode ser usada para resolver problemas em nossa sociedade (MASSONI; MOREIRA, 2020). Para conhecer mais, leia o artigo do professor-adjunto Breno Arsioli Moura, da Universidade Federal do ABC (UFABC), intitulado O que é a natureza da Ciência e qual sua relação com a História e Filosofia da Ciência? inserir aqui o link : https://rbhciencia.emnuvens.com.br/revista/article/view/237/189 REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) É importante observar, aqui, que as duas concepções adotadas são apenas algumas, entre muitas concepções possíveis sobre o tema. Se considerarmos o que os historiadores, os filósofos, os sociólogos da ciência e educadores têm a dizer sobre o assunto, é possível identificar uma variedade de visões e concepções. A imagem acima menciona, simbolicamente, a existência de diferentes concepções sobre um determinado tema, e a imagem dos dois olhos representa a capacidade de observar e enxergar essas diversas visões. Assim como os olhos nos permitem ver o mundo de diferentes ângulos e perspectivas, os historiadores, filósofos, sociólogos da ciência e educadores também oferecem diferentes pontos de vista e interpretações. Desse modo, a imagem dos dois olhos simboliza a abertura para a pluralidade de ideias e a importância de considerar múltiplas perspectivas na compreensão do tema questão. Veja, a seguir, os passos para a produção do seu áudio de, no mínimo, 60’’ (1 minuto) e, no máximo, 180’’ (3 minutos)! GUIA PARA GRAVAR UM PODCAST - Escolha um lugar tranquilo. Pode ser uma sala com pouco ou nenhum ruído, sem eco, e um gravador, que pode ser o gravador de áudio do seu celular. - Verifique se o celular está no silencioso (para não atrapalhar a sua gravação). - Agora, aperte o play e fale! - Controle o tempo da sua fala! Que ela não passe de 180’’ (3 minutos)! Pronto! Você já fez seu podcast. Salve-o em sua pasta pessoal. Agora, acesse o Fórum Contribuições da Filosofia e da Ciência e compartilhe seu podcast! Vamos lá colocar a mão na massa! Após inserir seu podcast no fórum, escolha o podcast de dois cursistas e faça um comentário colaborativo! Referências BAHIA. Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Documento Curricular Referencial da Bahia para o Ensino Médio. V. 2. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020. MARTINS, Roberto de Andrade. Introdução: a história das ciências e seus usos na educação. Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, p. 17-30, 2006. MASSONI, Neusa Teresinha; MOREIRA, Marco Antonio. David Bloor e o “programa forte” da Sociologia da Ciência: um debate sobre a natureza da ciência. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 22, 2020. MATTHEWS, Michael S. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995. POLISELI, Luana. Uma Breve Introdução à Filosofia da Ciência em Prática. 2019. Disponível em: https://philpapers.org/archive/POLUBI.pdf Aula 1.2 A NATUREZA DA CIÊNCIA: ALGUNS APONTAMENTOS Para começar este momento de estudo, é importante entender que estudar a natureza da ciência envolve compreender a história, filosofia e sociologia da ciência, o que também envolve a compreensão de como a sociedade constrói o conhecimento científico em diferentes contextos e épocas, considerando suas crenças históricas, filosóficas e sociológicas, bem como suas perspectivas ideológicas e metodológicas. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Para conhecer um pouco mais sobre o assunto, acesse o vídeo do Youtube do professor dr. André Ferrer Pinto Martins, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), intitulado História, Filosofia e Sociologia da Ciência: mais do que nunca! Apresentado no Webseminário Café: Ciência, Educação e Sociedade, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). inserir aqui o link: https://www.youtube.com/watch?v=jahwjUF4JU8&t=1705s Atenção: O vídeo possui dois momentos de falha de transmissão, o que não compromete a excelente explanação do professor André Ferrer Martins sobre a temática trabalhada nesta aula. O vídeo tem, aproximadamente, 2h de duração. Entretanto, apenas a primeira hora, ou seja, 1h de vídeo, nos interessa. Por esse motivo, escolha um lugar tranquilo e um horário em que tenha disponibilidade para assisti-lo. https://philpapers.org/archive/POLUBI.pdf REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar / avaliação) Agora que já assistiu ao vídeo História, Filosofia e Sociologia da Ciência: mais do que nunca!, viu que o professor André Ferrer Martins, que é uma das referências na área, destaca dez razões para utilização da história, filosofia e sociologia da ciência (HFSC), como também algumas limitações e dificuldades enfrentadas para quem usa. Deste modo, que tal começarmos com uma reflexão, para seguir com um quiz sobre o assunto? Quais são as limitações e dificuldades enfrentadas na utilização da HFSC, comentadas pelo professor André Ferrer Martins no vídeo? Preste atenção nelas! Agora responda ao QUIZ! 1 - Qual é um dos principais argumentos apresentados pelo autor a favor do uso da história e filosofia da ciência no ensino? a) Treinar os estudantes como cientistas neutros. b) Transmitir um entendimento da ciência como uma atividade livre de considerações metafísicas. c) Neutralizar o dogmatismo presente nos textos didáticos. d) Promover a doutrinação dos estudantes sobre a natureza da ciência. 2 - Qual é a importância da história e filosofia da ciência no contexto da formação dos estudantes? a) Facilitar o treinamento de cientistas neutros. b) Fornecer evidências para sustentar convicções. c) Promover a doutrinação dos estudantes em considerações transcendentes. d) Oferecer uma compreensão mais profunda da ciência como atividade. 3 - Qual é um dos argumentos apresentados pelo autor para o uso da história da ciência no ensino, de acordo com o texto? a) Estimular o pensamento crítico dos estudantes. b) Fornecer exemplos de utilização do imaginário. c) Focar principalmente em textos curtos. d) Incentivar o treinamento de cientistas mais eficientes. 4 - Qual é uma das dificuldades mencionadas no texto ao usar a história e filosofia da ciência no ensino? a) Falta de materiais adequados. b) Visões estereotipadas dos cientistas. c) Resistência dos alunos em relação a essa abordagem. d) Dificuldade em encontrar professores qualificados para ensino. 5 - Qual é uma das limitações mencionadas no texto em relação à cultura curricular? a) Falta de interesse dos alunos em tópicos históricos e filosóficos. b) Expectativas tradicionais de que as aulas se concentrem em equações e leis. c) Falta de recursos tecnológicos nas escolas. d) Pressão dos vestibularespara focar em conteúdo específico. 6 - Qual é o objetivo principal da discussão sobre a natureza da ciência? a) Ensinar aos estudantes as equações e fórmulas da ciência. b) Promover o afastamento das crenças religiosas e contemplar os conceitos. c) Compreender a percepção pública da ciência e questionar estereótipos. d) Destacar a importância do método científico rígido. Referências MARTINS, André Ferrer Pinto. Natureza da Ciência no ensino de ciências: uma proposta baseada em “temas” e “questões”. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 32, n. 3, p. 703-737, 2015. WEBSEMINÁRIO CAFÉ: CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE. História, Filosofia e Sociologia da Ciência: mais do que nunca! YouTube, 29 abr. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jahwjUF4JU8&t=1705s. Acesso em: 29 abr. 2023. Aula 1.3 A NATUREZA DA CIÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Nos estudos anteriores, conhecemos um pouco sobre alguns aspectos e concepções sobre a natureza da ciência, assim como sobre os da utilização da história, filosofia e sociologia da ciência (HFSC) no ensino. As discussões suscitadas nas aulas anteriores nos proporcionaram perceber que o desenvolvimento científico é produzido e regulado por necessidades sociais, assim como os sistemas que o regulam. A produção científica por meio da produção do conhecimento é complexa, pois, corroboramos com Massoni e Moreira (2020) quando, ao citar Martins (1990) e Forato et al. (2011), argumentam que é preciso compreender o desenvolvimento da ciência como uma rede complexa de influências científicas, políticas e sociais para evitar o perigo de transmitir aos estudantes perspectivas histórico-epistemológicas inadequadas e ultrapassadas, que retratam a ciência como uma linha temporal linear e heroica de "descobertas" científicas isoladas de contextos sociais e políticos (MASSONI; MOREIRA, 2020). PERCEBAM, GENTE! No texto acima, foi mencionada uma variação importante de um termo que precisamos entender para compreender a produção do conhecimento científico: a "epistemologia". Além desse termo, também é importante termos conhecimento de outros conceitos, como paradigmas, ontologia, método científico e pesquisa científica. Esses conceitos são fundamentais, e fazem parte das relações envolvidas na produção de conhecimento, não apenas no campo do ensino de ciências, mas, também, em outras áreas do conhecimento. Portanto, é essencial que tenhamos um conhecimento mínimo sobre esses termos para termos o mínimo de compreensão de como o conhecimento é produzido. Desse modo, Assunção et al. (2017) argumentam que os professores frequentemente se deparam com desafios e dúvidas ao lidar com questões relacionadas às principais teorias que sustentam os fundamentos do conhecimento científico. Isso possui implicações para o processo de ensino e aprendizagem na escola. Por exemplo, afeta a forma como os professores lidam com os problemas e as ideias que surgem dos alunos, de suas experiências, de sua cultura e até mesmo de sua condição social. Portanto, não podemos esquecer que todo conhecimento científico é permeado por perspectivas sociais, políticas e econômicas. Logo, toda produção do conhecimento tem intenções, que envolvem as crenças, as culturas e a experiência de vida de cada um. ALINHANDO OS BORDADOS (o que preciso questionar/ responder) AGORA, VAMOS REFLETIR! (Chamar atenção) Já se perguntaram: O que é o mundo? Como conhecer o mundo? Que caminho seguir para conhecer o mundo? Fonte: Autoria própria com base no Bing Create. Para que possam ter um pequeno entendimento sobre os termos acima citados – e digo pequeno pois precisaríamos de um tempo maior para discussão de conceitos tão complexos, tempo esse que não temos. Portanto, tentarei aqui fazer uma síntese para que possam entender como esses conceitos se relacionam com a produção do conhecimento científico. Como é bom quando nosso cérebro ferve com boas reflexões!😊 COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Para fazer ciência, é preciso, antes de tudo, escolher estratégias de pesquisa ou métodos de pesquisa específicos para produção de conhecimento, pois é importante que entendam os diferentes paradigmas de pesquisa em que se baseiam. Os paradigmas de pesquisa têm a ver com nossas crenças e suposições sobre a realidade, a maneira como as coisas existem (ontologia – o que é o mundo?) e a maneira como pensamos que o conhecimento humano é construído (epistemologia – como conhecer o mundo?). E, não menos importante, ainda temos os estudos dos métodos (metodologia – que caminho seguir para conhecer o mundo?). O paradigma resultante dessas crenças e suposições deve orientar a metodologia de pesquisa empregada, ou seja, a estratégia que definirá as técnicas de obtenção e análise de dados empregadas pelo pesquisador, o método. (SÁNCHEZ GAMBOA, 1998; SACCOL, 2009). Assim sendo, método é a ordenação de um conjunto de etapas a serem cumpridas no estudo de uma ciência (HEERD; LEONEL, 2022). O método não é único, como também não possui passos rígidos, mas, sim, etapas a serem cumpridas. Todos os conceitos discutidos acima fazem parte da pesquisa científica, entendida aqui como uma atividade sistemática que visa à produção de um conhecimento novo (conceitos, teorias ou problematizações) a partir de um problema bem delimitado (BARBOSA, 2001). Ela é realizada por pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em um processo contínuo de questionamento. Fonte: https://s2.glbimg.com/IH5E8PLr92w9aqHYWThm39QLJYo=/0x0:801x563/984x 0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd3767 0ae4f538a/internal_photos/bs/2020/l/Z/iz0KmuSfaxwfGieRkNuA/241120-unifor- infografico-1.png Importante ressaltar que concordamos com prof. dr. André Ferrer Martins, ministrante do vídeo do Youtube que vocês assistiram ou deveriam ter assistido na atividade anterior. Ele argumenta que os professores e pessoas atuantes na sociedade precisam COMBATER VISÕES ESTEREOTIPADAS DOS CIENTISTAS E DA CIÊNCIA presentes, inclusive, em alguns livros didáticos: cientistas descabelados, isolados socialmente, na sua grande maioria ou, se não, todos “homens”, assim como o método científico rígido e imutável, com passos únicos, que somente pesquisadores que estão nas grandes universidades ou nos grandes centros tecnológicos fazem pesquisa. O que é uma inverdade, TODOS E TODAS PODEM FAZER E FAZEM CIÊNCIA. Assim como professores e estudantes da educação básica, temos evidência disso. E um exemplo é https://s2.glbimg.com/IH5E8PLr92w9aqHYWThm39QLJYo=/0x0:801x563/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/l/Z/iz0KmuSfaxwfGieRkNuA/241120-unifor-infografico-1.png https://s2.glbimg.com/IH5E8PLr92w9aqHYWThm39QLJYo=/0x0:801x563/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/l/Z/iz0KmuSfaxwfGieRkNuA/241120-unifor-infografico-1.png https://s2.glbimg.com/IH5E8PLr92w9aqHYWThm39QLJYo=/0x0:801x563/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/l/Z/iz0KmuSfaxwfGieRkNuA/241120-unifor-infografico-1.png https://s2.glbimg.com/IH5E8PLr92w9aqHYWThm39QLJYo=/0x0:801x563/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/l/Z/iz0KmuSfaxwfGieRkNuA/241120-unifor-infografico-1.png a Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia (Feciba). Evento em que estudantes e professores da rede pública do estado da Bahia atuam fazendo ciência. Ainda segundo Saccol (2009), diferentes visões ontológicas e epistemológicas dão origem a diversos paradigmas de pesquisa, que podem ser entendidos como diferentes perspectivas sobre o mundo. Cada paradigma representa uma orientação filosófica que guia o método de pesquisa escolhido. Na sala de aula, o professor adota perspectivasparadigmáticas (mesmo sem ter consciência dela) ao trabalhar com seus alunos, buscando entender como eles interpretam e dão significado às informações apresentadas, e como suas experiências e contextos sociais moldam essas interpretações. Isso pode ser feito por meio de debates, discussões em grupo e atividades que incentivem a reflexão e o diálogo entre os alunos. Para que possam ter um melhor entendimento dos conceitos discutidos acima, segue, abaixo, um quadro comparativo com exemplos ontológicos, epistemológicos e metodológicos nas perspectivas de dois paradigmas antagônicos de que, acreditamos, todos e todas tenham ouvido falar em algum momento na sua formação: o paradigma Positivista e o paradigma Interpretativista. Quadro 1: Delineamento da pesquisa nas perspectivas positivista e interpretativista Fonte: Adaptado de Saccol, 2009, p. 255-256. Além dos paradigmas presentes no delineamento do Quadro 1, existe uma diversidade de paradigmas com especificidades em seu delineamento – Pós-Positivista, Fenomenologia, Marxismo, Teoria Crítica, Pós-estruturalismo –, além dos novos paradigmas que vêm surgindo, como o Feminismo, a Teoria Queer, a Decolonialidade e a Afrocentricidade. A escolha do paradigma a ser adotado na pesquisa será determinada tanto pela lacuna de conhecimento (problema) quanto pelo objeto da pesquisa. Em se tratando do delineamento de uma pesquisa, não existe um método correto ou incorreto para o planejamento de uma pesquisa. Desde que seja utilizado de maneira coerente e consistente, levando em consideração as peculiaridades ontológicas e epistemológicas de cada paradigma, não terá problema algum. REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) Agora vamos refletir sobre os conceitos trabalhados e aprender a criar uma História em Quadrinhos (HQ). O motivo de propor a utilização dessa ferramenta é porque seu uso traz vários benefícios para o ensino de diversas disciplinas, uma vez que permite a interação entre elas e estimula a aquisição de conhecimentos por meio de materiais presentes no cotidiano dos alunos. Além disso, a exploração de formas de linguagem e a reflexão crítica por meio das HQs podem aprimorar ainda mais esse aprendizado (NEVES, 2012). Logo abaixo, segue o link com o tutorial Como construir Histórias em Quadrinhos com Pixton. ACESSE AQUI O TUTORIAL DO PIXTON: https://www.youtube.com/watch?v=JffTJbKnITg https://www.youtube.com/watch?v=JffTJbKnITg https://www.youtube.com/watch?v=JffTJbKnITg Agora que já se familiarizou com o Pixton, vamos começar a fazer as histórias em quadrinhos. A história terá de conter alguns requisitos: 1) Ter, no mínimo, dois personagens: você, professor/a, e pelo menos dois estudantes; 2) A situação criada deve levar em consideração a abordagem de ensino por investigação; (para saber mais sobre o ensino investigativo, clique aqui: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4852/3040) 3) Trazer, pelo menos, três dos conceitos trabalhados nesta aula; 4) A história em quadrinhos deve conter, no mínimo, seis quadros com diálogos. Após criar sua história, salve a imagem no computador, conforme orientação do tutorial, e poste a atividade para o seu/sua tutor/a! Referências ASSUNÇÃO, Tatiane Vieira de; ALMEIDA, Rosiléia Oliveira de; ALMEIDA, Murilena Pinheiro. Perspectivas epistemológicas de Ciência e as feiras de ciências. Anais do XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Florianópolis, SC, Brasil, 2017. BARBOSA, Jonei Cerqueira. Modelagem na Educação Matemática: contribuições para o debate teórico. Reunião Anual da ANPED, v. 24, n. 7, p. 1-15, 2001. HEERDT, Mauri Luiz; LEONEL, Vilson. Metodologia científica e da pesquisa: livro didático. Palhoça, SC: UnisulVirtual, 2022. MASSONI, Neusa Teresinha; MOREIRA, Marco Antonio. David Bloor e o “programa forte” da Sociologia da Ciência: um debate sobre a natureza da ciência. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc., Belo Horizonte, v. 22, 2020. NEVES, Sílvia da Conceição. A história em quadrinhos como recurso didático em sala de aula. 2012. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/5588/1/2012_SílviadaConceiçãoNeves.pdf SACCOL, Amarolinda Zanela. Um retorno ao básico: compreendendo os paradigmas de pesquisa e sua aplicação na pesquisa em Administração. Revista de Administração da UFSM, Santa Maria, v. 2, n. 2, art. 6, p. 250-269, 2009. https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4852/3040) https://bdm.unb.br/bitstream/10483/5588/1/2012_S%C3%ADlviadaConcei%C3%A7%C3%A3oNeves.pdf https://bdm.unb.br/bitstream/10483/5588/1/2012_S%C3%ADlviadaConcei%C3%A7%C3%A3oNeves.pdf SÁNCHEZ GAMBOA, S. Epistemologia da Pesquisa em Educação, Campinas; Práxis, 1998. Disponível em: http://www.geocities.ws/grupoepisteduc/arquivos/tesegamboa.pdf Aula 1.4 CONTROVÉRSIAS SOBRE A NATUREZA DAS CIÊNCIAS ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar / responder) As controvérsias científicas podem ser um tema relevante para o ensino de ciências, pois apresentam a ideia de que a ciência não é um conjunto fixo de verdades, mas, sim, um processo dinâmico de investigação e questionamento. Pare e pense! O que são controvérsias científicas? COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) De acordo com Durbano (2013), ao citar Ernan McMullin, uma controvérsia científica envolve um debate público sobre temas científicos, em que pessoas com opiniões diferentes procuram defendê-las por meio de argumentos que são, em parte, baseados em observações, experimentos e argumentos racionais. As controvérsias científicas possuem uma dimensão epistêmica (interna ao meio científico), pois estão relacionadas à ciência, mas também apresentam uma dimensão não-epistêmica (externa ao meio científico) ou social, já que envolvem um debate público. Existem quatro classes de controvérsias científicas, segundo Durbano (2013), na perspectiva de McMullin: 1. Controvérsias de fato, ocorrem quando os cientistas discordam publicamente sobre as bases observacionais de uma hipótese, apesar de concordarem quanto aos pressupostos teóricos que embasam as observações; 2. Controvérsias de princípio, quando as discussões envolvem questões metodológicas, ontológicas ou mesmo dilemas éticos da aplicação pesquisa, apesar de haver acordo quanto aos paradigmas que norteiam a pesquisa; 3. Controvérsias mistas, ocorrem quando o debate envolve tanto conhecimentos científicos quanto questões de princípio moral ou político. É preciso que ocorra discordância entre ambos os aspectos, científicos e não científicos, para que a controvérsia seja classificada como mista; 4. Controvérsias de teoria são a classe de controvérsias mais comuns na ciência. Ocorre quando duas ou mais teorias são propostas para explicar os mesmos fenômenos. Matthews, em seu texto História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação, texto essencial para as discussões que permeiam a HFS da ciência, traz vários exemplos de controvérsias científicas: A controvérsia Galileu/Aristóteles sobre o princípio da causalidade final, a controvérsia Galileu/Kepler a respeito da teoria lunar das marés, a discussão newtoniana/cartesiana sobre ação a distância, a discussão newtoniana/berkeliana acerca da existência de tempo e espaço absolutos, a discussão Newton/Fresnel sobre a teoria da luz como partícula, a discussão Darwin/Parley a respeito do finalismo e da seleção natural, a discussão Mach/Bohr sobre a teoria atômica, a disputa Einstein/Copenhagen acerca da interpretação determinística da teoria quântica etc. (MATTHEWS, 1995, p. 194). É fundamental que os professores de ciências saibam distinguir os tipos de controvérsias que podem surgir em sala de aula para que possam planejar, na sua prática, estratégias pedagógicas mais direcionadas ao perfil de seus estudantes. Acesse abaixo “Dez teorias científicas derrubadas”: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/voce-sabia-te orias-cientificas/ POR QUE TECER (síntese da realidade)https://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/voce-sabia-teorias-cientificas/ https://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/voce-sabia-teorias-cientificas/ Quando os professores expõem as controvérsias científicas e as exploram em sala de aula, os alunos têm a oportunidade de entender que a ciência é um campo em constante evolução, em que novas evidências e explicações podem levar a mudanças nas teorias aceitas. Além disso, o estudo de controvérsias científicas também pode estimular o pensamento crítico e a discussão sobre como a ciência é feita, avaliando argumentos e evidências em apoio a diferentes pontos de vista. No entanto, é importante que os professores abordem as controvérsias científicas de maneira cuidadosa, com informações de fontes confiáveis. As controvérsias não devem ser usadas para promover visões equivocadas ou para desacreditar a ciência como um todo. Em vez disso, devem ser utilizadas como um meio de incentivar o diálogo científico por meio do pensamento crítico. Sendo assim, Ramos e Silva (2008) chamam a atenção para a maneira como utilizamos as controvérsias científicas em sala de aula: Algumas abordagens, portanto, acabam tomando a discussão das controvérsias como um instrumento para a aprendizagem exclusiva de conhecimentos científicos. Mas não tomam o debate sobre discursos científicos como um instrumento de compreensão de controvérsias humanas, ou seja, essencialmente sociais e políticas, nas quais os conhecimentos científicos se constituem e circulam em nossa sociedade. Dessa forma, a abordagem das controvérsias pode tender a se transformar em apenas mais um recurso didático para convencimento do alunado de que, realmente, o conhecimento científico, por ser diferenciado, teria mais validade que os demais ou seria o único a se considerar na tomada de decisões. Ou mesmo, em um simples exercício de argumentação que faça sentido apenas no plano simulado da sala de aula e que não se relaciona a outros discursos e situações com os quais os estudantes possam entrar em contato em suas vidas. (RAMOS; SILVA, 2008, p. 15). Em seu texto, Ramos e Silva (2008) argumentam que a discussão em torno das controvérsias no ensino de ciências pode ser considerada como parte de um debate mais amplo que envolve a necessidade de enfatizar não apenas o significado e os conceitos da ciência, mas, também, o papel dos discursos e práticas escolares em construir sentidos sobre a ciência. Além disso, essa discussão está relacionada a objetivos educacionais mais amplos, como capacitar os estudantes para tomar decisões em questões cotidianas relacionadas à ciência e tecnologia (C&T). Assista ao seminário intitulado: Controvérsias e Concepções sobre a Natureza das Ciências, no YouTube, com o professor dr. Olival Freire Júnior, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que atualmente é diretor científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Uma referência no Brasil e no mundo sobre questões voltadas para a História e a Natureza da Ciência (NdC). https://www.youtube.com/watch?v=91KwyztKaxI&t=148s O professor Olival Freire discute neste vídeo, já nos primeiros 25 minutos de gravação, as controvérsias científicas como eventos sociais comuns no processo de produção do conhecimento científico, porém, que exigem uma atenção especial para serem incorporadas nas concepções sobre a natureza da ciência, especialmente porque são variadas em suas evoluções e seus desfechos. Aproveite as discussões, pois nos trazem boas reflexões.😊 Caso você queira saber um pouco mais sobre as discussões das controvérsias científicas, acesse, abaixo, o link do texto intitulado: PARA PENSAR AS CONTROVÉRSIAS CIENTÍFICAS EM AULAS DE CIÊNCIAS. Para pensar as controvérsias científicas em aulas de ciências REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar / avaliação) VAMOS APRENDER A FAZER? VOCÊ SABE O QUE É UM PADLET? O Padlet é uma ferramenta que possibilita a organização e criação de conteúdo on-line utilizando murais dinâmicos e criativos, nos quais é possível hiperlinkar diferentes tipos de mídia, como textos, imagens, vídeos, áudios e links Agora, leia com atenção e siga as instruções disponíveis no tutorial. Caso haja alguma dúvida, retorne ao tutorial e veja os próximos passos a serem seguidos. Atenção: Caso tenha dificuldade em utilizar esse recurso, crie um mural em uma folha de cartolina seguindo os requisitos solicitados abaixo, depois tire uma foto, salve a imagem e compartilhe com seus colegas durante o AC. Não https://www.youtube.com/watch?v=91KwyztKaxI&t=148s http://200.133.218.118:3537/ojs/index.php/cienciaeensino/article/viewFile/132/106 esqueça de ver as controvérsias escolhidas por 2 colegas para comentar. O comentário deve ser baseado no que discutimos na aula. ACESSE AQUI O TUTORIAL DO PADLET: https://inovaeh.sead.ufscar.br/wp-content/uploads/2019/04/Tutorial-Pad pdf AGORA É COM VOCÊ! 1. Crie um mural relacionado às suas experiências nesta etapa da disciplina e acrescente nele uma controvérsia que lhe trouxe curiosidade de aprofundamento; 2. Apresente o seu Padlet para que seus colegas vejam sua linda criação; 3. Não deixe de ver o Padlet de pelo menos dois colegas, veja as controvérsias escolhidas por eles e façam comentários baseados no que discutimos na aula. Excelente reflexão Para finalizarmos essa etapa do módulo, é importante ressaltar que o conhecimento que as sociedades produziram ao longo da história e vêm produzindo na atualidade passou, e passa, por um processo de seleção cultural, que envolve crenças, valores éticos, políticos e sociais, que foram incorporados ao currículo escolar que, por sua vez, são reproduzidos nas disciplinas escolares (Assunção, 2019). Por esse motivo, precisamos ter uma abordagem cuidadosa, nas nossas aulas, sobre a natureza das ciências, pois é um tema complexo e bastante debatido, conforme discutido nesta etapa do módulo. Não esqueçamos dos programas de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), amplamente difundidos em escolas e universidades, que, de acordo com Matthews (1995), foi uma abertura significativa para a incorporação de contribuições histórico-filosóficas ao ensino de ciências, e que esses avanços têm implicações relevantes na formação do profissional de educação. Considerando todas as informações apresentadas, é necessário considerar o uso da história, filosofia e sociologia no ensino de ciências a fim de contribuir, https://inovaeh.sead.ufscar.br/wp-content/uploads/2019/04/Tutorial-Padlet.pdf https://inovaeh.sead.ufscar.br/wp-content/uploads/2019/04/Tutorial-Padlet.pdf significativamente, para a interdisciplinaridade das ciências naturais e a integração do conhecimento global e local com o conhecimento científico, permitindo ao estudante uma compreensão mais ampla e crítica da ciência e sua relação com a sociedade e o meio ambiente. E, assim, encerramos essas reflexões acerca da perspectiva histórica, filosófica e sociológica no ensino de ciências. Esperamos que tenham aproveitado e que possam compartilhar as ponderações realizadas aqui com outras pessoas! Bons estudos e até outro dia!😊 SAIBAMAIS Para se aprofundar nessa etapa, no sentido de desenvolver ainda mais o seu estudo, acesse os textos abaixo. Temas de História e Filosofia da Ciência no Ensino - 374 páginas https://ppgect.ufsc.br/files/2012/11/Temas-de-Historia-e-Filosofi a-da-Ciencia-no-Ensino1.pdf História e filosofia da ciência e implicações para o ensino - 75 páginas https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/206315/2/Pos%2 0Ciencias%20-%20Historia%20e%20filosofia%20da%20ciencia%20-%2 0MIOLO.pdf Referências ASSUNÇÃO, Tatiane Vieira de. Concepções docentes sobre a pesquisa estudantil na educação básica: o contexto das feiras de ciências da Bahia. 2019. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30715. DURBANO, João Paulo M.; CARVALHO, Eduardo C.; PRESTES, Maria Elice Brzezinski. Controvérsias científicas como recurso paraavaliar percepção sobre o papel da subjetividade na ciência. Revista de Ensino de Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), Florianópolis, n. 6, p. 122-134, 2013. MATTHEWS, Michael S. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995. https://ppgect.ufsc.br/files/2012/11/Temas-de-Historia-e-Filosofia-da-Ciencia-no-Ensino1.pdf https://ppgect.ufsc.br/files/2012/11/Temas-de-Historia-e-Filosofia-da-Ciencia-no-Ensino1.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/206315/2/Pos%20Ciencias%20-%20Historia%20e%20filosofia%20da%20ciencia%20-%20MIOLO.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/206315/2/Pos%20Ciencias%20-%20Historia%20e%20filosofia%20da%20ciencia%20-%20MIOLO.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/206315/2/Pos%20Ciencias%20-%20Historia%20e%20filosofia%20da%20ciencia%20-%20MIOLO.pdf https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30715 https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30715 RAMOS, Mariana Brasil; SILVA, Henrique César da. Para pensar as controvérsias científicas em aulas de ciências. Ciência & Ensino, Bauru, v. 1, 2007. SILVA MONTEIRO, Jean Carlos da. PADLET: um novo modelo de organização de conteúdo hipertextual. Revista Encantar, Bom Jesus da Lapa, v. 2, p. 1-11, 2020. AULA 2 TEMA: A interdisciplinaridade na área de Ciências da Natureza: o diálogo entre o saber local, o saber global e os conhecimentos científicos Salve, querid@s cursistas! Nessa etapa do curso, conversaremos sobre a interdisciplinaridade nas ciências da natureza e a conjugação dos saberes globais e locais com o conhecimento científico. Faremos isso a partir da pedagogia histórico-crítica e dos aportes de Delizoicov com seus três momentos pedagógicos. A pedagogia histórico-crítica (PHC) é uma prática pedagógica baseada numa teoria de conhecimento marxiana, fundamentada no materialismo histórico-dialético (MHD). Alguns conceitos e categorias são importantes para entender a PHC. Desses, destacamos a historicidade radical, que ancora todo sujeito no seu tempo histórico, a categoria de totalidade, fundamental para compreender o todo no qual o sujeito está inserido, e a Dialética do Empírico e do Concreto, pontos de início, fim e reinício do processo de obtenção do conhecimento. Os três momentos pedagógicos (3MP), de Delizoicov, derivam de uma releitura da metodologia freiriana adaptada ao ensino formal. O objetivo é criar um contexto em que os estudantes se sintam motivados a buscar compreender melhor uma situação concreta. A mediação do professor, aqui, se dá por meio da orientação de estudo para aquisição de novos conhecimentos necessários à solução do problema colocado. Por fim, esses novos conhecimentos são colocados a serviço da solução do problema concreto anterior e, também, usados para explorar problemas ou situações similares. Com esses dois aportes metodológicos, proporemos, durante as aulas, atividades e exercícios, que busquem integrar os componentes curriculares da área de Ciências da Natureza, bem como compreender as limitações e potencialidades dos saberes populares, do senso comum e do lugar do conhecimento científico na sociedade. Bons estudos! COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Aula 2.1 A Pedagogia Histórico-Crítica A pedagogia histórico-crítica (PHC) é uma interpretação e adaptação do materialismo histórico-dialético (MHD) para a pedagogia. A lógica é que, da mesma forma que os conhecimentos científicos são obtidos no MHD, por meio da construção de um todo articulado mediado por abstrações lógicas a partir das experiências empíricas, a escolarização deve partir da realidade empírica do estudante/escola para determinar o conjunto de conhecimentos que podem reorganizar essa realidade empírica num todo concreto. Uma breve revisão do materialismo histórico-dialético Ao longo deste curso, você já se deparou com o método marxiano do materialismo histórico-dialético. Aqui, vamos reunir alguns pontos acerca do método e de alguns princípios por trás dele, com o objetivo de conectá-lo à pedagogia histórico-crítica de forma mais suave. A jornada do empírico ao concreto O materialismo histórico-dialético tem como princípio a materialidade. O material é tudo aquilo que tem efeito real nas nossas vidas. O objetivo do método é organizar as experiências empíricas da humanidade a partir de categorias abstratas, revelando a realidade concreta. Lendo assim, parece bastante complicado, e não dá para dizer que é mais simples do que parece. O método materialista histórico-dialético tem uma base filosófica bastante abstrata e complexa, mas não precisaremos de grandes aportes filosóficos para compreender os propósitos e as mecânicas da pedagogia histórico-crítica. Saiba Mais Saiba mais sobre a filosofia de Hegel neste podcast: https://open.spotify.com/episode/1PJG7y488XkBUVDkyJhJiF?si=9de4a7d925c 447f2> https://open.spotify.com/episode/1PJG7y488XkBUVDkyJhJiF?si=9de4a7d925c447f2 https://open.spotify.com/episode/1PJG7y488XkBUVDkyJhJiF?si=9de4a7d925c447f2 https://open.spotify.com/episode/1PJG7y488XkBUVDkyJhJiF?si=9de4a7d925c447f2 Saiba Mais Saiba mais sobre a relação entre Hegel e Marx: https://youtu.be/kTPIMSTN-v4> Alguns aspectos importantes da MHD que precisam ser bem compreendidos para uma percepção mais profunda da PHC são empírico, concreto, abstrato, totalidade e dialética. Sugerimos que você retome as lições anteriores que abordam esses conceitos, pois apenas os resumiremos. Empírico: o empírico é a categoria que abarca as experiências do dia a dia. Também pode ser referido com empírico caótico, para dar a noção de que os determinantes daqueles fenômenos observados estão desorganizados, necessitando de uma organização para ser compreendido. Abstrato: é o conjunto de estruturas racionais e lógicas que organizam as experiências empíricas. As leis de Newton, por exemplo, são formas abstratas que organizam os conceitos força, resultante, repouso e movimento em um ferramental estruturado que permite conhecer como os fenômenos mecânicos ocorrem. Concreto: o concreto é aquilo que foi produzido a partir da organização do empírico através das formas abstratas. O concreto é, então, o próprio empírico que, por meio da reflexão e análise das determinações, se torna um Todo Articulado, ao invés de caótico, um todo rico em determinações e relações. O concreto, portanto, é o resultado do trabalho científico, é a formulação final do conhecimento sobre um tema. Totalidade: a totalidade é um imperativo do pensamento histórico-crítico. Não é possível educar um sujeito sem conhecê-lo na sua totalidade; é preciso sabê-lo enquanto estudante, trabalhador/a, negro/a, indígena, órfão, periférico, classe média, urbano, rural, se tem acesso a água, luz, telefone etc. A totalidade é uma chamada para que se observe o todo mais amplo, condições geopolíticas, nacionais e locais, e como elas interferem na escola, seja pública ou privada. A totalidade nos impõe que o sujeito não é um indivíduo, um átomo da sociedade, mas um sujeito pertencente a uma comunidade, país e mundo, potencialmente capaz de intervir e atravessado por essa comunidade, esse país e esse mundo. É necessário, também, compreender o conhecimento humano em sua totalidade, perceber as conexões histórico-sociais entre os saberes das diferentes disciplinas para derrubar as barreiras entre elas. Dialética: a dialética é um olhar para os fenômenos a partir das suas contradições. A premissa é que a realidade é contraditória, portanto, é preciso enxergá-la como essa dualidade. Diferentemente do positivismo e outras tradições científico-filosóficas, a dialética percebe a contradição como parte da realidade, e não como uma evidência de falha analítica. Na dialética, é da contradição que emerge sua superação, assim, é preciso estar atento às contradições para que haja superação dos dilemas em sala de aula. Percebamos, então, que oMHD é uma forma científica de abordar o conhecer. Ele, se formos rigorosos, se repete em iterações, para cada objeto que pretendemos analisar. Ele é um ferramental que nos permite estruturar percepções empíricas em um todo articulado em suas contradições e, mais, permite também conectar essas “totalidades locais” com outras, que serão determinações de um todo mais amplo. Tomemos como exemplo a queda dos corpos. A experiência geral humana é que as coisas caem. Isso é como as coisas aparentam agir, mas não é uma regra geral, já que não é sempre, e nem da mesma forma, que algo cai. Folhas secas flutuam antes de cair, a fumaça de uma fogueira sobe no ar, aviões de papel planam, dentes-de-leão bailam ao sabor do vento. Esse é o todo caótico. É o conjunto de experiências empíricas humanas sobre uma determinada fração da realidade. No nosso caso, esse Todo caótico é o Problema da queda dos corpos. O processo científico consiste em observar os fenômenos e relacioná-los a formas abstratas (leis) e gerais para descrever seu comportamento. O cientista retorna, então, para a realidade, munido de formulações abstratas que devem descrever o real. Ao “retornar” à realidade, o cientista será capaz de observá-la de outra forma; será capaz, por meio da mediação das leis abstratas, de formular uma realidade concreta. Perceberá, por meio de conceitos como resistência do ar, aceleração, massa, peso, força, arrasto, que a realidade concreta é um todo, agora organizado sistematicamente em bases gerais de comportamento, no caso, as leis de Newton. No exemplo dado, usamos um assunto da física para aproximar você, cursista das Ciências da Natureza, das linhas gerais do método, mas é importante que fique claro que o materialismo histórico-dialético é uma ferramenta para as Ciências Humanas. Então, seu ferramental específico difere em muito dos nossos exames de laboratórios e testes experimentais. Não dá para colocar a história num béquer e fazê-la reagir com um pouco de autoritarismo para ver o que acontece; nem seria ético submeter uma população a um certo tipo de regime político e econômico só para fins científicos, já que, afinal, estamos lidando com a vida das pessoas. Os fundamentos da pedagogia histórico-crítica Agora que relembramos alguns aspectos do materialismo histórico-dialético, podemos compreender melhor as bases da PHC e aprofundar no método em si. Primeiro, é preciso recordar que a PHC depende de conhecer radicalmente o estudante em seu contexto histórico. Além disso, é preciso conceber uma estratégia didática em que o estudante consiga perceber o empírico caótico em seu início, desenhar práticas e intervenções para construir as formas abstratas, com o objetivo de que o estudante retorne ao real com um conjunto de ferramentas abstratas que o permitam compreender a realidade concreta, ou consiga perceber as regras gerais e abstratas implícitas no empírico, sistematizando-as e evidenciando-as num empírico-concreto. Sendo mais concreto, é preciso compreender o objetivo da escola enquanto espaço educacional e traçar metas condizentes com esse objetivo para que se possa avaliar concretamente o que pode ou não ser feito. ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) O papel da escola na sociedade Quantos de nós já se perguntaram qual o papel da escola na sociedade? Parece uma questão trivial para quem está no contexto de sala de aula há tantos anos, mas façamos um esforço para responder a essa pergunta. Qual o papel da escola na sociedade? ou Por que eu estou aprendendo isso? Quando vou usar na vida? Saiba Mais Saiba mais sobre a concepção de indivíduo para a PHC em: https://open.spotify.com/episode/6aMsI8IVO8wWZmPCnS17sd?si=877fe41f6f4 b4842> https://open.spotify.com/episode/6aMsI8IVO8wWZmPCnS17sd?si=877fe41f6f4b4842 https://open.spotify.com/episode/6aMsI8IVO8wWZmPCnS17sd?si=877fe41f6f4b4842 Atividade 2.1.1 Faça uma pequena descrição da situação da sua escola no diário de bordo e comente, em sua opinião, qual deveria ser o objetivo de sua escola em seu contexto. Comente em, ao menos, dois outros tópicos as similaridades e diferenças entre suas realidades e as propostas de seus pares. O propósito da escola é humanizar. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) A premissa é que o ser humano é um animal que nasce com todas as ferramentas para realizar suas potencialidades. Entretanto, ele não nasce com os comportamentos que lhe permitirão realizá-las. Um animal irracional nasce com todos os comportamentos necessários ao seu sucesso pré-estabelecidos em sua estrutura biológica. Ele não precisa, nem consegue, transmitir às próximas gerações grandes mudanças comportamentais de vida, ou seja, eles não produzem cultura. Se um chimpanzé aprende a usar um instrumento qualquer, ele não é capaz de dividir aquele aprendizado com os demais chimpanzés. Aquela habilidade “morre” com ele. Já nós, humanos, somos capazes de transmitir às próximas gerações as técnicas, tecnologias e cultura, em geral, da nossa sociedade, efetivamente reproduzindo a cultura no outro, passando-a adiante no tempo. Na realidade, somos obrigados a fazê-lo, se quisermos que as próximas gerações aprendam com nossos erros e não percam tempo desbravando caminhos já trilhados, no lugar de buscar novos desafios. Em última análise, a passagem desse conjunto de signos, formas, saberes e técnicas é a própria humanidade, já que é justamente esse ritual que nos diferencia de outros animais. Assim, a pedagogia histórico-crítica considera que a escola tem o papel de formar o homem, torná-lo humano, para além de sua condição animal. É da escola o dever de sistematizar o conjunto de conhecimentos, saberes, práticas e técnicas do seu tempo e legar isso às próximas gerações. Portanto, humanizar, aqui, significa tornar aquele grupo social parte integrante da sociedade que o gerou. Entretanto, fazer apenas isso, seria alienante. Portanto, é preciso pensar que a formação desse indivíduo é também uma formação que lhe forneça as ferramentas para observar a sociedade e seu contexto histórico, perceber as contradições do seu tempo e trabalhar para que essas contradições sejam superadas, produzindo as novas formas que serão passadas, junto às suas contradições, às próximas gerações. O papel do professor na sala de aula da PHC. Chegamos, então, à necessária pergunta. Se na perspectiva da PHC, a escola tem o papel de transmitir às próximas gerações o conhecimento acumulado da humanidade até o presente momento, o papel de transformar o homem-animal em homem-humano, qual o papel do professor? O professor é o representante da humanidade à qual os estudantes estão sendo apresentados. Cabe a ele transmitir aos estudantes o Ethos do seu tempo. Mais, ainda: cabe ao professor construir, estruturar e apresentar as estruturas que conformam o saber humano. Em suma, cabe a ele organizar sistematicamente o conhecimento, as técnicas e tecnologias produzidas pela humanidade e passá-las aos sujeitos em processo de escolarização. É central, na formação do sujeito, que ele desenvolva a consciência de classe e formule as críticas à sociedade em que vive. Essa consciência é obtida a partir do ferramental discutido aqui, na forma científica de análise da realidade do materialismo histórico-dialético, que é a base da pedagogia histórico-crítica. Então, ao convidar o estudante a passar a pensar o mundo por meio de um método científico, este aluno tendencialmente sairá da escola capaz de reproduzir esse método em sua realidade empírica, podendo organizá-la numa realidade concreta, o que lhe permitiria planejar intervenções que visassem à superação das suas contradições. Referências FAGUNDES, N. C.; FRÓES BURNHAM, T. Transdisciplinaridade, Multirreferencialidade e Currículo. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade, Salvador, v. 6, n. 5, 2007. DOI: 10.9771/2317-1219rf.v6i5.2837. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/2837.Acesso em: 26 maio 2023. JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. MARX, K. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Expressão Popular, 2008. MUENCHEN, C.; DELIZOICOV, D. Os três momentos pedagógicos e o contexto de produção do livro Física. Ciência & Educação, Bauru, v. 20, n. 3, p. 617–638, jul. 2014. NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999. TELES, G. As contribuições da categoria da totalidade para a análise dos movimentos sociais. Alamedas, Toledo-PR, v. 6, n. 2, 2018. DOI: 10.48075/ra.v6i2.19001. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/alamedas/article/view/19001. Acesso em: 15 maio 2023. A pedagogia histórico-crítica na sala de aula Já discutimos, em linhas gerais, o materialismo histórico-dialético e seu método, além das bases da pedagogia histórico-crítica e sua relação com o MHD. Podemos resumir que ambos (PHC e MHD) partem de uma análise da realidade empírica, operam essa realidade a partir da abstração teórica e “retornam” à realidade, mas agora com uma visão concreta. Em outras palavras, o olhar do estudante, que é inicialmente empírico, passa pelas mediações das formalidades científicas e se torna um olhar concreto. Em outras palavras, o empírico é aquilo que enxergamos, faz parte da nossa vida, mas apenas sentimos as suas consequências em nossas vidas, e o concreto é uma articulação dialética entre as determinações que geram nossa realidade social, permitindo a crítica a essa realidade e, em última instância, sua superação. Mas, e o meio do caminho? Quais são as formas e as abstrações que são capazes de transformar o empírico em concreto? Para quem já está em sala há muitos anos e sabe disso, não há fórmula mágica, não existe uma fórmula ideal que seja 100% efetiva em fazer a transição do empírico ao concreto. Então, esse é o trabalho do professor. Esse é o esforço monumental e fundamental que os professores precisam fazer a cada dia. A PHC, no entanto, não nos deixa na mão, temos o ponto de partida e o ponto de chegada, e o que precisamos, agora, é mergulhar nas incertezas e possibilidades da sala de aula. COSTURANDO AS IDEIAS (o que preciso conhecer) Prática social, problematização, instrumentalização e catarse A pedagogia histórico-crítica vai chamar ambos os momentos de início e fim da intervenção educacional de prática social. Assim o é para que fique evidente o caráter não linear e cíclico do processo educacional. Dentro do método materialista histórico-dialético, essas duas etapas são o material empírico e o material concreto. A PHC usa o mesmo nome, mas evidencia que, ao sair para a prática social após a intervenção escolar, o estudante não deve retornar da mesma forma, mas sim, enxergando, na sua realidade, os determinantes materiais e vislumbrando formas de intervir e melhorar sua prática. O núcleo abstrato da PHC é a tríade problematização, instrumentalização e catarse. A problematização é o momento em que as percepções empíricas do estudante são explicitadas. Uma roda de conversas com um texto contextualizador (uma matéria jornalística sobre incêndios por conta de instalações elétricas mal feitas), perguntas diretas sobre eventos concretos (se você deixar esse copo na mesa e ninguém pegar, onde ele vai estar quando você retornar?) e outros instrumentos, como questionários estruturados, podem fazer emergir as percepções dos estudantes sobre determinados temas. O objetivo é criar um caldo que se assemelhe ao “todo empírico caótico”, comum da percepção não científica. A instrumentalização é o momento de apresentação formal das técnicas, métodos e conhecimentos que resolvem as questões levantadas no momento da problematização. Esse é um momento de maior abstração, e deve ser dosado com cuidado para que o estudante mantenha no horizonte a resolução dos problemas postos. O outro momento é a catarse, que é o momento em que o estudante dá o salto intelectual-cognitivo e percebe alguma nova organização no sistema empírico caótico, passando a enxergar a realidade como concreta, ou seja, o momento em que ele aprende. Apesar de serem tratados aqui de forma mais ou menos etapista, os momentos de problematização, instrumentalização e catarse não são para serem usados como receita de bolo. Como tudo no materialismo, é preciso analisar concretamente a realidade concreta para determinar as melhores estratégias de intervenção e a hora correta para estabelecer cada um desses momentos. Inclusive, isso serve também para a prática social, que não tem como estar desassociada do dia a dia dos educandos. Sendo assim, é preciso pensar a metodologia dentro do contexto do estudante e da escola, em sua totalidade. Adicionar infográfico resumindo os modos de abordagem. Uma sugestão é colocar lado a lado um círculo e uma barra vertical. no círculo teremos os três modos num conectados com setas de mão dupla. A barra vertical chamada prática social, pode ter em sua base escrito “Empírico” e do topo “Concreto” e uma seta larga ascendente no seu centro (ou um degradê). A Barra interage com o círculo em setas de mão única, sempre ascendendo em termos de concretude, uma seta parte para o círculo da base da barra para o círculo e retorna em um ponto superior da barra. ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) Planejamento de longo, curto e médio prazo Como a categoria totalidade é fundamental na PHC, é preciso sempre refletir sobre como os nossos objetivos podem ser alcançados no longo prazo. O debate da sociedade não se encerra ao fim do ciclo escolar, mas há certas competências, habilidades, técnicas, tecnologias e conhecimentos que é desejável que o estudante obtenha durante o ciclo. Sendo assim, é preciso pensar o currículo escolar como essa totalidade do processo de formação do sujeito no ensino médio, compreendendo as suas limitações e capacidades quando entra no ciclo, e os objetivos de formação, ao fim dele. Portanto, é preciso observar a temporalidade do processo de ensino, refletindo sobre os momentos pedagógicos que são mais necessários num dado período do desenvolvimento estudantil. Conectados a isso estão os planejamentos de anos letivos, que se dividem funcionalmente em unidades, que, por sua vez, se dividem em semanas, que se dividem em aulas, que têm certa carga horária. Articular os períodos letivos de diferentes temporalidades dentro de uma estrutura organizada única, orientada ao objetivo de humanizar o educando, permite ter sempre uma noção do todo quando construímos as práticas mais pontuais do dia a dia. REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) Atividade 2.1 Analise o seu planejamento: Busque em seus planos de aula, planejamentos de unidade, semestre ano etc. e verifique se ou o quão facilmente eles seriam adaptados ao método da PHC. Escolha um deles e converta para o método. Após terminar, utilizando a ferramenta TAREFA, envie ambos os planos (o original e o adaptado à metodologia PHC). COSTURANDO IDEIAS (o que preciso conhecer) Aula 2.2 - Os Três Momentos Pedagógicos (3MP) Os três momentos pedagógicos conformam uma abordagem pedagógica distinta, mas não distante, da pedagogia histórico-crítica. Os 3MP são uma adaptação, para o ensino formal, da pedagogia freiriana, que foi concebida em um contexto não formal. A dinâmica dos 3MP dentro de sala é, entretanto, similar aos momentos da PHC, permitindo, aqui, algumas pontes entre os métodos. Os três momentos pedagógicos possibilitam mais do que intervenções em sala de aula, mas podem orientar a formação de currículos. Saiba mais neste vídeo: Professora do Instituto Federal Farroupilha fala sobre a experiência com os Três Momentos Pedagógicos para construção dos temas geradores e currículo. Do ponto de vista freiriano, educar é emancipar. Para isso, é preciso que o educador se conecte com a realidadedo educando. Essa premissa é similar ao que a PHC trata na prática social inicial. É preciso conhecer a realidade do estudante, caso contrário, em vez de fornecer ferramentas para o sujeito operar e alterar a sua realidade, apenas se criará dependência, frustração e evasão. Então, é preciso, inicialmente, observar qual a realidade do estudante, para que ela seja a força motriz da intervenção na escola. O primeiro momento: problematização No primeiro dos três momentos pedagógicos, o professor conduz um debate sobre algum tema que toque os estudantes e que tenha alguma relevância em seu contexto social (é sempre importante lembrar que o estudante precisa conectar a aprendizagem em sala com seu contexto prático). Este é o momento de problematização. A problematização pode ser feita de diversas formas: em grupos menores, com toda a sala, debates em fóruns, discussão a partir de recortes de matérias e outras tantas. O fundamental do momento é que ele não seja um questionário, apenas, porque o propósito não é apenas saber se o estudante conhece determinado tema ou não, mas criar um caldo de debate em que surja entre eles a curiosidade de questionar as questões postas. Mais do que simples motivação para se introduzir um conteúdo específico, a problematização inicial visa à ligação desse conteúdo com situações reais que os alunos conhecem e presenciam, mas que não conseguem interpretar completa ou corretamente porque, provavelmente, não dispõem de conhecimentos científicos suficientes (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1990a, p. 29). https://www.youtube.com/live/OKn57LPzdpo?feature=share) A tarefa do professor, nesse momento, é produzir um debate rico e aberto e, a partir daí, avaliar os conhecimentos e as habilidades demonstradas pelos estudantes. Ressalta-se que este não é o momento de dar explicações ou fazer grandes esclarecimentos, mas de expor os problemas e evidenciar as contradições. A etapa de problematização, portanto, serve para abrir o debate sobre o tema, estimular a curiosidade dos estudantes sobre as questões colocadas e avaliar os estudantes em suas lacunas e valências para traçar uma estratégia de abordagem do conteúdo. É, por óbvio, importante que as questões colocadas para gerar o debate tenham relação com os conceitos científicos a serem estudados, e é tarefa do professor não deixar o debate extrapolar o escopo do que é possível trabalhar em sala (trataremos de interdisciplinaridade mais tarde). As perguntas no momento de problematização devem mobilizar o debate e não ter uma resposta específica. Antes de questionar “o que é energia?”, talvez seja mais proveitoso levantar a questão “de onde vem a eletricidade que chega em sua casa?” ou “falta luz em sua casa? Por que será?”. O segundo momento: organização do conhecimento (instrumentalização) Uma vez explicitadas as contradições, as dificuldades e as lacunas dos estudantes, o professor deve sistematizar e encadear uma série de atividades que vão permitir aos alunos acesso aos conhecimentos científicos que lhes possibilitarão compreender e solucionar os problemas postos no primeiro momento. Este momento é aquele a que o professor já está mais acostumado. É a etapa de preparar as aulas, estimar a quantidade de aulas para cada tópico e organizar, da forma mais didática quanto possível, os conhecimentos necessários aos estudantes naquele tema proposto. É importante não perder de vista, aqui, a problematização inicial, para que ela não seja vista como perda de tempo ou pretexto. É importante que os estudantes mantenham sempre como horizonte os problemas colocados na etapa de problematização. As aulas podem ser recheadas com exemplos que os próprios estudantes colocaram no primeiro momento, buscando, sempre, se relacionar com a curiosidade e a motivação inicial do tema. O terceiro momento: aplicação do conhecimento O momento de aplicação é o fechamento do ciclo de atividades que envolvem aquele tema, conjunto de conteúdos, unidade ou o que valha, que foram propostos e planejados nos momentos anteriores. [O Terceiro Momento] Destina-se, sobretudo, a abordar sistematicamente o conhecimento que vem sendo incorporado pelo aluno para analisar e interpretar tanto as situações iniciais que determinaram o seu estudo como outras situações que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, mas que são explicadas pelo mesmo conhecimento (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1990a, p. 31) . Além disso, é um momento em que o conhecimento científico se permite ser generalizado, abarcando tanto os problemas colocados no primeiro momento quanto aqueles correlacionados, que podem ser, enfim, identificados por suas similaridades. Exemplo de Três momentos Pedagógicos na Hidrostática: Problematização: o debate na turma focou no fornecimento de água intermitente e no impacto dessa falta em suas vidas diárias. Instrumentalização: trabalha-se os conteúdos de hidrostática, pressão, vasos comunicantes, volume e vazão, orientados para a distribuição de água nas cidades e as redes de água e esgoto. Aplicação do Conhecimento: os estudantes podem concluir que a falta d’água ocorre por subdimensionamento das caixas d’água no local e propor um projeto de emenda parlamentar para construção de novas torres e caixas d’água. Porém, os estudantes percebem que isso acarretará maior produção de resíduos sanitários, e ampliam a proposta para garantir rede de esgotamento sanitário em sua região.> Este momento pode ser aproveitado para construir um esforço coletivo, e os conhecimentos objetivos devem ser articulados para não só solucionar as questões propostas, mas para que eles permitam aos estudantes uma nova visão do mundo que os cerca. Os Três Momentos Pedagógicos nos diversos níveis da organização pedagógica ALINHANDO AS TEIAS (o que preciso questionar/responder) Como vimos, os 3MP nos ajudam a organizar e coordenar uma série de objetos de conhecimentos para suprir demandas da vida dos estudantes e, portanto, da sociedade. Ela também tem como vocação, de herança freiriana, a orientação de currículos baseada na realidade concreta dos estudantes e seu contexto social e político. Entretanto, os três momentos podem, ainda, ser usados para orientar as aulas em seu dia a dia. As aulas, sejam de 30, 50, 100 ou 150 minutos, podem ser organizadas no formato dos 3MP. A orientação é relativamente simples: um momento inicial de problematização, para motivar e orientar os estudantes do objetivo daquela aula em específico; um momento de instrumentalização, explorando as diversas estratégias possíveis, como discussões de textos, análise de problemas, experimentos, simulações etc.; e, por fim, uma síntese da atividade, por parte do estudante, também em forma de texto, projeto prático ou resumo ou até tarefas para casa. REVENDO O BORDADO (refletir para sistematizar/avaliação) Atividade 2.2 A partir das questões da sua escola e realidade, crie um roteiro para uma animação (baseado na animação da aula) em que você: 1) aborda um tema amplo e relevante, propondo estratégias de problematização; 2) enumera os objetos do conhecimento possíveis para o tema; e 3) propõe uma atividade de aplicação para os estudantes. DICA: Crie um roteiro como se fosse uma apresentação oral ou seminário. Tente ser objetivo e direto, expondo com clareza os três pontos solicitados. Aula 2.3 - Interdisciplinaridade e a Relação Global e Local Apresentamos, até aqui, dois métodos, duas pedagogias bastante conectadas em suas filosofias. Ambas deixam explícitas suas preocupações com a vida e a realidade social do estudante e da escola, deixando evidente o papel da escola de vetor para a transformação da realidade material do estudante e seu círculo social. Como estamos tratando de ciência, fica implícito o caráter universal da produção intelectual da humanidade, que deve servir à emancipação dos povos. Entretanto, é importante aprofundar no debate sobre a relevância do saber local e do saber tradicional e sua relação com os saberes