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NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 .Revisão de Tutoria . PROBLEMA 1: CICLO MENSTRUAL Os anos reprodutivos normais da mulher são caracterizados por mudanças rítmicas mensais da secreção dos hormônios femininos e correspondem a alterações nos ovários e em outros órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é denominado ciclo menstrual. Podemos dizer que é dividido em fase ovariana e endometrial. FASES DOS CICLOS O ciclo ovariano é dividido em três fases: 1. Fase folicular: É a primeira parte do ciclo ovariano e é um período de crescimento folicular no ovário. Essa fase é a que tem duração mais variável, de 10 a 21 dias. Pode ser dividida em: Fase folicular inicial: - Pouco antes do início de cada ciclo, a secreção de gonadotrofinas pela adeno- hipófise aumenta. Sob a influência do FSH, um grupo de folículos ovarianos terciários começa a crescer. - Conforme os folículos crescem, as suas células da granulosa (sob a influência do FSH) e suas células da teca (sob a influência do LH) começam a produzir hormônios esteroides. - As células da granulosa começam a secretar AMH, o que diminui a sensibilidade do folículo ao FSH e impede o recrutamento de folículos primários adicionais após um grupo ter iniciado o desenvolvimento. - As células da teca sintetizam androgênios que se difundem para as células vizinhas da granulosa, onde a aromatase os converte em estrogênios. Fase folicular tardia: - Conforme a fase folicular se aproxima do final, a secreção de estrogênio ovariano atinge o seu ponto máximo. Neste ponto do ciclo, somente um folículo ainda está se desenvolvendo. - Assim que a fase folicular está completa, as células da granulosa do folículo dominante começam a secretar inibina e progesterona, além do estrogênio. - O estrogênio, que até então tinha exercido um efeito de retroalimentação negativa sobre a secreção de GnRH na fase folicular inicial, muda para uma retroalimentação positiva, levando ao pico pré-ovulatório de GnRH. - Imediatamente antes da ovulação, os níveis persistentemente altos de estrogênio, auxiliados pelos níveis crescentes de progesterona, aumentam a responsividade da adeno-hipófise ao GnRH. - Como resultado, a secreção de LH aumenta significativamente, um fenômeno conhecido como pico de LH. O FSH também aumenta, mas em menor grau, presumivelmente por estar sendo suprimido pela inibina e pelo estrogênio. 2. Ovulação: Quando um ou mais folículos amadurecem, o ovário libera o(s) ovócito(s) durante a ovulação. - O folículo maduro secreta prostaglandinas e enzimas proteolíticas que dissolvem o NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 colágeno e outros componentes do tecido conectivo que mantém as células foliculares unidas. As prostaglandinas podem contribuir para a ruptura da parede folicular em seu ponto mais fraco. - O líquido antral jorra do ovário junto com o ovócito circundado por duas ou três camadas de células da granulosa. O ovócito é arrastado para dentro da tuba uterina para ser fertilizado ou para morrer. 3. Fase lútea. Fase lútea inicial - corpo lúteo. - Após a ovulação, as células foliculares da teca migram para o espaço antral, misturando- se com as células da granulosa e preenchendo a cavidade. - O nome “lúteo” tem origem na transformação do folículo rompido em um corpo lúteo, assim denominado devido ao pigmento amarelo e aos depósitos de lipídios. - Conforme a fase lútea progride, o corpo lúteo produz continuamente quantidades crescentes de progesterona, estrógeno e inibina. 💡 A progesterona possui capacidade termogênica. Durante a fase lútea de um ciclo ovulatório, a temperatura corporal basal da mulher, medida logo que ela acordar pela manhã e antes de sair da cama, aumenta cerca de 0,3 a 0,5°C e permanece elevada até a menstruação. Fase lútea tardia - corpo albicans: - O corpo lúteo tem uma duração intrínseca de aproximadamente 12 dias. Se a gestação não ocorrer, o corpo lúteo sofre apoptose espontânea. - Conforme as células lúteas degeneram, a produção de progesterona e de estrogênio diminui. Essa queda retira o sinal de retroalimentação negativa sobre a hipófise e o hipotálamo, e, assim, a secreção de FSH e de LH aumenta. - Os remanescentes do corpo lúteo formam uma estrutura inativa, chamada de corpo albicans. Quando o corpo lúteo degenera e a produção hormonal diminui, os vasos sanguíneos da camada superficial do endométrio contraem. Sem oxigênio e nutrientes, as células superficiais morrem. - Cerca de dois dias após o corpo lúteo parar de funcionar, ou 14 dias após a ovulação, o endométrio começa a descamar a sua camada superficial, e a menstruação inicia. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 O ciclo endometrial também é dividido em: Menstruação: - O primeiro dia da menstruação é o dia 1 (ou 1º dia) do ciclo. Este ponto foi escolhido como o início do ciclo porque o sangramento menstrual é um sinal físico facilmente observável. 🚨 Se liga! A camada funcional do endométrio descama, mas a camada basal do endométrio permanece intacta e pode assim iniciar a reparação da camada funcional. - O começo da fase folicular no ovário corresponde ao sangramento menstrual do útero. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 - O líquido menstrual não coagula, porque uma fibrinolisina (ou plasmina) é liberada em conjunto com o material endometrial necrótico, que pode degradar a fibrina e o fibrinogênio, acelerando assim a dissolução dos coágulos sanguíneos. 💡 Durante a menstruação, um grande número de leucócitos é liberado (leucorreia), junto com o material necrótico e o sangue. Com isso, o útero fica altamente resistente a infecções durante a menstruação, embora as superfícies endometriais estejam desprotegidas. Essa resistência a infecções apresenta um importante efeito protetor. Fase proliferativa: - A parte final da fase folicular do ovário corresponde à fase proliferativa no útero, durante a qual o endométrio produz uma nova camada de células em antecipação à gestação. Fase secretora: - Após a ovulação, os hormônios liberados pelo corpo lúteo convertem o endométrio espessado em uma estrutura secretora. Assim, a fase lútea do ciclo ovariano corresponde à fase secretora do ciclo uterino. Se não ocorrer gravidez, as camadas superficiais do endométrio secretor são perdidas durante a menstruação, quando o ciclo uterino inicia novamente. CONTROLE HORMONAL DO CICLO Consiste em três hierarquias de hormônios: 1. Hormônio de liberação hipotalâmica: hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH ou LHRH). - O hipotálamo é influenciado por sinais do sistema nervoso central e pelo ovário. - A secreção ovariana exerce feedback sobre o hipotálamo, sendo positivo quando estimula a produção de GnRH e negativo quando a inibe. - O GnRH também regula sua própria produção, reduzindo-a em alta quantidade e estimulando-a em níveis baixos. - Na mulher, o GnRH é liberado de forma pulsátil, crucial para a liberação adequada de FSH e LH pela adenohipófise. - Na menina, o centro hipotalâmico é bloqueado até a puberdade, quando sua liberação ocorre devido a fatores como ambientais, opioides endógenos, peso e gordura corporal. 2. Hormônios sexuais da adeno-hipófise: FSH e LH, ambos secretados em resposta à liberação de LHRH do hipotálamo. - O GnRH age nas células gonadotróficas da adeno-hipófise, estimulando-as a sintetizar e secretar na corrente sanguínea tanto o FSH quanto o LH. - Os hormônios esteroides, como o estradiol e a progesterona, ou fatores ovarianos não esteroides, como a inibida, são os moduladores da secreção de LH e FSH. 3. Hormônios ovarianos: estrogênio e progesterona, que são secretados pelos ovários em resposta aos dois hormônios sexuais femininos da adeno-hipófise. - O ovário em funcionamentoela deve ser suspensa quando os benefícios não forem mais necessários ou quando a relação risco-benefício for desfavorável. ● Potenciais riscos: ○ câncer de mama; ○ câncer de endométrio; ○ tromboembolismo venoso; ○ doenças da vesícula biliar;normal sintetiza e secreta hormônios esteroides sexuais com padrão de controle preciso e, em parte, é determinado pelas gonadotrofinas hipofisárias, FSH e LH. - O estrogênio exerce retroalimentação negativa na secreção de FSH e de LH pela adeno-hipófise, o que impede o NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 desenvolvimento adicional de folículos no mesmo ciclo. Ao mesmo tempo, o estrogênio estimula a produção de mais estrogênio pelas células da granulosa. Esta alça de retroalimentação positiva permite que os folículos continuem sua produção de estrogênio mesmo que os níveis de FSH e de LH diminuam. 🚨 Se liga! O padrão pulsátil de liberação das gonadotrofinas está diretamente relacionado à secreção pulsátil de GnRH, mas a modulação da amplitude e da frequência são consequências do feedback dos esteroides ovarianos no hipotálamo e na hipófise. Resumindo… Os hormônios são: ● GnRH do hipotálamo. ● FSH e LH da adeno-hipófise. ● Estrogênio, progesterona, inibina e AMH do ovário. Fase folicular do ciclo → estrogênio é o hormônio esteroide dominante. Ovulação → desencadeada pelo pico de LH e de FSH. Fase lútea → progesterona é dominante, embora o estrogênio ainda esteja presente. Hormônio anti-mülleriano (AMH) → regulador para evitar que muitos folículos ovarianos se desenvolvam ao mesmo tempo. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Importante ressaltar: Durante a ovulação, no folículo dominante, ocorrem três principais fenômenos: 1. Recomeço da Meiose: O oócito inicia a meiose I e retoma a meiose após a onda de LH. Isso permite que o oócito se torne apto para fertilização. O LH estimula a produção de prostaglandinas, a luteinização das células da granulosa que produzem progesterona. O oócito retoma a maturação nuclear e ocorre a transição da prófase I para a metáfase I, com a extrusão do primeiro corpúsculo polar na metáfase II. A meiose se completa após a fecundação. 2. Luteinização: Há um aumento da progesterona 12 a 24 horas antes da ovulação. Esse aumento contribui para a indução da onda de FSH e LH. O pico de FSH e LH requer um aumento pré- ovulatório da progesterona. A progesterona também afeta a parede folicular, tornando-a mais distensível. A liberação do oócito ocorre devido à ação de enzimas que digerem o colágeno, induzidas por gonadotrofinas e progesterona. 3. Ovulação: A ovulação é comparada a uma reação inflamatória, envolvendo componentes como prostaglandinas, fator ativador de plasminogênio e enzimas. As gonadotrofinas estimulam a produção dessas substâncias, que ativam a colagenase, permitindo a liberação do oócito. Esses processos preparam o oócito e o ambiente para a fecundação. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 CICLOS ANOVULATÓRIOS Caso o pico pré-ovulatório de LH não for de magnitude suficiente, a ovulação não ocorrerá, e o ciclo será anovulatório. As fases do ciclo sexual continuam, mas são alteradas das seguintes maneiras: - A falta de ovulação causa a falha do desenvolvimento do corpo-lúteo, então quase não há secreção de progesterona durante a última parte do ciclo. - O ciclo é encurtado por vários dias, mas o ritmo continua. Do ponto de vista fisiológico, os primeiros ciclos após o início da puberdade são geralmente anovulatórios, assim como os ciclos que ocorrem vários meses a anos antes da menopausa, provavelmente porque o pico de LH não é potente o suficiente nesses momentos para causar a ovulação. Por isso, são comuns nas adolescentes ao longo dos primeiros anos que se seguem à menarca, quando a função ovariana ainda não está estabilizada; entre as mulheres que estão na perimenopausa, cuja função ovariana começa a declinar; e frequentemente nas mulheres obesas com SOPC. 💡 Na prática, suspeita-se que o ciclo menstrual é anovulatório quando a mulher tem menstruações irregulares com fluxo pouco frequente, em intervalos maiores do que 35-60 dias. Nesses casos, não há periodicidade definida para ocorrer a menstruação. Os ciclos anovulatórios ocorrem pelo desequilíbrio hormonal das glândulas relacionadas ao eixo hormonal reprodutivo (hipotálamo, hipófise, ovário) e tireoide. Além da irregularidade menstrual, outros sintomas podem ocorrer a depender da causa de anovulação crônica. Algumas causas de ciclos anovulatórios: - Disfunção hipotálamo-hipofisária: causa mais frequente. - Estresse: O estresse crônico pode afetar o ciclo hormonal e interferir na ovulação. - Síndrome dos ovários policísticos: é caracterizada por um conjunto de alterações associadas ao excesso de androgênios na circulação sanguínea da mulher. - Hipotireoidismo: A redução da produção hormonal pela glândula tireoidiana pode provocar a anovulação crônica através do desequilíbrio hormonal do eixo hipotálamo- hipófise-ovariano. Ganho de peso, cansaço, sonolência, intestino preso e hiperpolactinemia com galactorréia são algumas das manifestações desta desordem tireoidiana. - Hiperprolactinemia: pode ocorrer por tumores na hipófise, uso de medicamentos (metildopa, antidepressivos…), lesões na parede do tórax, doenças crônicas, hipotireoidismo, entre outros. - Peso corporal: Tanto o excesso de peso quanto a baixa massa corporal podem influenciar os ciclos menstruais. - Falência ovariana precoce: está associada a cessação prolongada ou até definitiva dos ciclos menstruais. Além disto, essas mulheres apresentam ondas de calor, ressecamento da vagina, ausência de lubrificação vaginal durante as relações sexuais e osteoporose se não forem tratadas em tempo oportuno. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 PROBLEMA 2: SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL É um distúrbio em que um ou mais dos parâmetros do sangramento uterino normal está alterado: quantidade, duração ou frequência. 💡 Para caracterizar essa alteração, é importante o conhecimento do que se considera sangramento uterino normal, que constitui fluxo menstrual com duração de três a oito dias, com perda sanguínea de 5 a 80 mL (o mais comum é de 30 a 80mL) e ciclo que varia entre 24 e 38 dias (variabilidade de três dias). Qualquer sangramento que não tenha essas características é considerado anormal. Fonte: FEBRASGO. O SUA também é definido como perda menstrual excessiva com repercussões físicas, emocionais, sociais e materiais na qualidade de vida da mulher, que podem ocorrer isoladamente ou em combinação com outros sintomas. INFLÛENCIA DA IDADE O SUA é uma condição frequente, de etiologia múltipla, e que pode ocorrer em qualquer fase do período reprodutivo da mulher; a idade da mulher influencia diretamente na orientação das hipóteses diagnósticas. ● Adolescência: nos primeiros dois anos após a menarca, a irregularidade pode ser consequência da imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise. ● Mulheres entre 20 e 40 anos de idade: geralmente apresentam maturidade do eixo, que se traduz em ciclos menstruais regulares. Sangramento anormal nesse período, excluídas causas obstétricas, podem ocorrer por causas decorrentes de lesão estrutural nos órgãos ou ausência dessas lesões. ● Mulheres com mais de 40 anos até a menopausa: comumente apresentam irregularidades no padrão dos ciclos menstruais, decorrentes de flutuações na função do eixo e patologias do endométrio e miométrio. ● Climatério, na pós-menopausa e na senescência, predominam as causas endometriais. CLASSIFICAÇÃO Foi criado um grupo internacional – sob a responsabilidade da Federação Internacional Ginecologia Obstetrícia (FIGO) – intitulado Grupo de Desordens Menstruais, que desenvolveu um acrônimo denominado PALM-COEIN de terminologia flexível para a classificação das causas de SUA, cuja nomenclatura foi aceita pela FIGO no início de 2011 para facilitar a comunicação, o atendimento e a pesquisa. PALM-COEIN O sistemaPALM-COEIN é aplicável uma vez excluídas causas de sangramento relacionadas à gravidez. São nove categorias dispostas de acordo com a sigla: PALM: pólipo; adenomiose; leiomioma; malignidade e hiperplasia do endométrio; COEIN: coagulopatia; disfunção ovulatória; endometrial; iatrogênica e causas não classificadas. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Em geral, os componentes do grupo PALM são alterações/entidades estruturais que podem ser visualizadas em exames de imagem ou avaliadas pela histopatologia. Já no grupo COEIN, participam entidades que não apresentam essas características. CAUSAS ESTRUTURAIS P – Pólipo A prevalência dos pólipos endometriais varia de 7,8% a 34% sendo mais comuns em mulheres na peri e pós-menopausa. Causam aumento do volume menstrual, menstruações irregulares, sangramento pós-coito ou sangramento intermenstrual. A – Adenomiose A sintomatologia é variável e relaciona-se, essencialmente, com a profundidade do miométrio atingido. Assim, as formas superficiais (quando atinge 0,5 mm abaixo do endométrio) caracterizam- se por SUA, enquanto na adenomiose profunda também há sintomatologia dolorosa, com dismenorreia e dispareunia. A relação entre adenomiose e SUA ainda não é totalmente esclarecida. As estimativas da prevalência de adenomiose variam amplamente, de 5% a 70%, em parte pela inconsistência do diagnóstico. L – Leiomioma Os sintomas variam de acordo com a localização do mioma. Os miomas são classificados, segundo a FIGO, em submucosos, intramurais e subserosos tipos 0 a 8. Os submucosos são os mais envolvidos com o SUA. M – Malignidade e hiperplasia Embora deva ser lembrado em todas as etapas da vida, tem sua incidência aumentada em mulheres perimenopáusicas. Essa maior incidência justifica a avaliação endocavitária e endometrial nessa etapa da vida. Entre os fatores de risco para o adenocarcinoma do endométrio, alinham-se a obesidade, o diabetes e a hipertensão. Ademais, qualquer condição de exposição prolongada aos estrogênios sem oposição de progestagênios deve ser considerada como risco para a doença. Em geral, clinicamente devem ser suspeitados pela presença de sangramento, que ocorre na grande maioria das vezes no período após a menopausa. CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS C – Coagulopatia Qualquer alteração dos mecanismos de coagulação pode se expressar clinicamente por SUA. Causa mais comum: doença de von Willebrand (DVW). Porém também devem ser citadas hemofilia, disfunções plaquetárias, púrpura trombocitopênica e os distúrbios de coagulação associados a doenças como hepatopatias e leucemia. 💡 A doença de von Willebrand (DvW) é a NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 coagulopatia hereditária mais comum em diferentes populações humanas. É uma deficiência quantitativa hereditária ou anormalidade funcional do fator de von Willebrand (FVW), que provoca disfunção plaquetária. Especial atenção para essa causa para as jovens com história de sangramento abundante desde a menarca e com anemia. Dessa forma, deve- se considerar a presença de coagulopatia congênita ou adquirida quando a história clínica revelar: ○ sangramento aumentado desde menarca; ○ + uma das seguintes condições: ■ hemorragia após o parto; ■ hemorragia relacionada a cirurgia; ■ sangramento aumentado associado a tratamento dentário; ○ + 2 ou mais das seguintes condições: ■ hematoma pelo menos uma vez ao mês; ■ epistaxe pelo menos uma vez ao mês; ■ sangramento gengival frequente; ■ história familiar de sangramento. A menorragia, presente em aproximadamente 93% das mulheres com DVW, pode ser o único sintoma apresentado, iniciando-se mais comumente na menarca. O – Distúrbio ovulatório Os sangramentos anovulatórios podem ocorrer em qualquer época, embora se concentrem nos extremos do período reprodutivo. Devem ser incluídos, além dos sangramentos anovulatórios, os sangramentos irregulares decorrentes de outras disfunções ovulatórias. No período reprodutivo, a causa mais frequente de anovulação é a síndrome dos ovários policísticos (SOP). É considerada a desordem endócrina mais comum, afetando 5% a 10% das mulheres na menacme. E – Endométrio Distúrbios primários do endométrio frequentemente se manifestam como alterações de hemostasia endometrial local, decorrente de resposta inflamatória, como na doença inflamatória pélvica (DIP). I – Iatrogenia Entre as causas de iatrogenia responsáveis por SUA, devem ser lembrados os sistemas intrauterinos medicados (SIU ou DIU hormonal) ou inertes e agentes farmacológicos que alteram diretamente o endométrio, interferindo nos mecanismos de coagulação do sangue ou influenciando a ovulação. Os anticoncepcionais hormonais estão com frequência associados a sangramentos intermenstruais e manchas (spotting). Entre outros medicamentos associados a SUA, estão os anticoagulantes, o ácido acetilsalicílico, os antiepilépticos, os hormônios da tireoide, os antidepressivos, o tamoxifeno e os corticosteroides. N – Causas não classificadas Incluem lesões locais ou condições sistêmicas raras que podem ser causas de SUA, a exemplo das malformações arteriovenosas, da hipertrofia miometrial, das alterações müllerianas e da istmocele. QUADRO CLÍNICO NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Os padrões de sangramento anormais típicos incluem: ○ Ocorrer com mais frequência (menstruação 8 dias); ○ Envolver aumento do volume da perda de sangue [> 80 mL (ou por relato de paciente do volume)] durante a menstruação (sangramento menstrual intenso); ○ Ocorrer entre as menstruações (sangramento intermenstrual). O sangramento crônico pode causar anemia ferropriva e nos casos de sangramento intenso e agudo, pode gerar quadro hemorrágico grave. DIAGNÓSTICO - Obtenção da história clara do sangramento e anamnese detalhada; - Exame físico geral, abdominal e pélvico; - Quantificação do fluxo por meio do escore: Pictorial Blood Assessment Chart (PBAC), com sensibilidade de 86% e especificidade de 89%. ➢ O PBAC é calculado a partir das características dos absorventes usados pela mulher durante o período de sangramento. ➢ Multiplica-se constante de 1 em cada absorvente levemente encharcado, de 5 se moderadamente encharcado e de 20 se completamente encharcado. ➢ No caso de tampões vaginais, utilizam- se constantes de 1, 5 e 10, respectivamente. ➢ Para pequenos coágulos, usa-se constante de 1 e para os grandes de 5. ➢ Ao final, somam-se os valores obtidos; se apresentar um escore maior ou igual a 100, representa perda sanguínea excessiva, isto é, acima de 80 mL. - Solicitação do beta-HCG (idade reprodutiva) e hemograma completo; - USG para afastar causas estruturais. Avaliação secundária por meio da histerossonografia e de métodos diretos como histeroscopia e biópsia de endométrio. - Testes adicionais: ➢ TAP, TTPa e fibrinogênio (na suspeita de coagulopatias); ➢ Colpocitologia oncótica (se na fase de rastreamento ou na suspeita de patologia maligna do colo uterino); ➢ TSH, glicemia de jejum e dosagem de prolactina (na suspeita de patologias endócrinas); ➢ Teste para clamídia e gonococo (na suspeita de IST) e outros que forem pertinentes conforme o quadro clínico. TRATAMENTO O objetivo é a redução do fluxo menstrual, reduzindo a morbidade e melhorando a qualidade de vida. O tratamento por meio de terapêutica farmacológica ou medicamentosa é considerado a primeira linha a ser seguida, sempre que possível. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 As opções disponíveis são: HORMONAL NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 - Estrogênio e progestagênio combinados; progestagênio oral cíclicoou contínuo; progestagênio injetável; sistema uterino liberador de levonorgestrel; NÃO HORMONAL - Está particularmente indicado para mulheres que não desejam usar hormônios ou que tenham contraindicação ao uso de hormônios ou com desejo de gestação. ➢ anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): exercem sua ação por meio da inibição da ciclo-oxigenase, que é a enzima que catalisa a transformação de ácido araquidônico em prostaglandina e tromboxano. Podem ser usados isoladamente ou como terapia adjuvante de um tratamento hormonal. ex: ácido mefenâmico. ➢ antifibrinolíticos: são medicações que atuam reduzindo a fibrinólise podem reduzir o sangramento. ex. ácido tranexâmico. CIRÚRGICO - Com alteração estrutural: ➢ Pólipos: polipectomia histeroscópica. ➢ Mioma: miomectomia histeroscópica. Em miomas muito grandes, pode ser utilizado análogo de GnRH previamente à cirurgia para redução do volume do mioma. Recomendam-se análogos de GnRH por três meses e cirurgia antes do retorno da menstruação. Em alguns casos de miomas uterinos com desejo de preservação da fertilidade, e também em casos de adenomiose severa, outra técnica que pode ser empregada: a embolização das artérias uterinas (EAU). ➢ Adenomiose: Os sintomas podem ser controlados com o tratamento hormonal, em especial quando há desejo de manter a capacidade reprodutiva. Porém, geralmente, é tratada com histerectomia. - Sem alteração estrutural: ➢ É indicado quando há falha do tratamento clínico. Entre as formas de tratamento cirúrgico, estão: - Ablação do endométrio; - Histerectomia. OUTRAS OPÇÕES TERAPÊUTICAS - Análogos do GnRH podem ser considerados antes de uma cirurgia, por exemplo em miomas, em especial para possibilitar a recuperação do organismo e a redução do volume. São utilizados quando outros métodos hormonais estão contraindicados, por período de tempo curto, até que as condições para uma cirurgia sejam adequadas. FATORES BIOPSICOSSOCIAIS BIOLÓGICOS - Anemia: O sangramento excessivo pode levar à perda significativa de ferro, resultando em anemia ferropriva. - Deficiências Nutricionais: Além de ferro, a perda de sangue pode afetar os níveis de outros nutrientes essenciais. - Dor e desconforto: Muitas mulheres experimentam dor abdominal ou pélvica NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 associada ao SUA, que pode variar de leve a severa. - Complicações Reprodutivas: O SUA pode ser sintoma de condições subjacentes como fibroides, pólipos ou desordens endócrinas, que, se não tratadas, podem afetar a fertilidade. PSICOLÓGICOS - Estresse e Ansiedade: A imprevisibilidade do sangramento pode levar a um estado constante de ansiedade, preocupando-se com a possibilidade de episódios de sangramento em momentos inoportunos. - Depressão: Lidar com SUA crônico, especialmente quando acompanhado por dor, pode contribuir para o desenvolvimento de depressão. - Autoestima e Imagem Corporal: Alterações na percepção da própria imagem e na autoestima são comuns, devido ao impacto que o SUA pode ter na vida diária e na sexualidade da mulher. - Isolamento Social: O medo de vazamento ou a necessidade de planejar atividades em torno do sangramento pode levar ao isolamento social. SOCIAIS - Impacto nas Relações: Tanto as relações íntimas quanto as sociais podem ser afetadas, com possíveis impactos na intimidade e na compreensão por parte de parceiros, amigos e familiares. - Desempenho Profissional e Acadêmico: O desconforto e a necessidade de gerenciar o sangramento podem afetar a concentração e a presença no trabalho ou na escola, levando a uma diminuição no desempenho. - Custos Financeiros: O manejo do SUA pode envolver custos significativos, incluindo consultas médicas, exames, tratamentos e produtos sanitários. PROBLEMA 3: SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO É uma síndrome caracterizada por ciclos anovulatórios ou oligo-ovulação, hiperandrogenismo e múltiplos pequenos cistos ovarianos. Pode ser considerada uma doença metabólica, pois, além das manifestações ginecológicas, essa patologia pode cursar com alterações lipídicas, DM, HAS, obesidade e aumento do risco cardiovascular. FISIOPATOLOGIA - A anovulação crônica parece ser a causa responsável pela amenorreia ou pelas irregularidades menstruais e pelos ovários “policísticos” volumosos associados a essa doença. - Algumas alterações envolvidas na fisiopatologia da SOP são alterações na liberação pulsátil de GnRH, produzindo inversão na relação LH/FSH (na SOP, há aumento dessa relação, geralmente > 2:1). Lembrando que o LH estimula a secreção de androgênios nas células tecais do ovário. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 💡 Os androgênios também podem aumentar a secreção de LH e diminuir a de FSH pela hipófise. - A diminuição relativa do FSH pode diminuir a atividade da aromatase nas células da granulosa, reduzindo a conversão de androgênio em estrogênio. Além disso, a diminuição do FSH também está relacionado com o aumento dos níveis de inibina B, produzida nos pequenos folículos, e pelos altos índices de estrona, consequentes à maior produção de androstenediona. - O ambiente mais androgênico impede o desenvolvimento folicular normal, induzindo a atresia folicular prematura. 💡 Múltiplos folículos em vários estágios de desenvolvimento + hiperplasia estromal = aumento ovariano bilateral. 🚨 A ausência de desenvolvimento folicular adequado resulta em um quadro de anovulação → ou seja, sem corpo lúteo → consequentemente sem progesterona produzida em quantidade adequada → sem a progesterona, não há oposição ao estrogênio → estimulação contínua ao endométrio → aumentando o risco de hiperplasia endometrial → sangramento uterino irregular → a longo prazo pode gerar hiperplasia endometrial e câncer de endométrio. OBESIDADE E SOP - Pacientes obesas têm maior produção estrogênica em sua periferia. Devemos lembrar também que há aromatase no tecido adiposo. É também na periferia que, sob a ação da 5 alfa- redutase, a testosterona é transformada em Di- Hidrotestosterona (DHT), o androgênio mais potente e que não é mais aromatizado em estrogênios. A DHT é responsável pelo fenótipo andrógeno, explicando o aparecimento de hirsutismo na SOP. - Estudos sugeriram uma base genética potencial com padrão de hereditariedade autossômico dominante. QUADRO CLÍNICO ● Oligomenorréia ou períodos de amenorreia; ● Sinais de hiperandrogenismo: acne, pêlos…; ● Níveis altos de testosterona no sangue; ● Ovários com aspecto policístico, ou seja, com numerosos cistos diminutos na periferia do ovário. ● Infertilidade. DIAGNÓSTICO O diagnóstico só é firmado após a exclusão destas afecções: ○ disfunção da tireoide; ○ hiperprolactinemia; ○ tumor ovariano; ○ hiperplasia adrenal congenita; ○ síndrome de Cushing; ○ uso de substâncias androgênicas (anabolizantes). CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO Foram realizados vários consensos para estabelecer critérios para o diagnóstico da SOP, como o National Institutes of Health (NIH), o de Rotterdam e o da Sociedade de Excesso de Androgênio – Síndrome dos Ovários Policísticos (AES-PCOS). O mais utilizado atualmente é o Consenso de Rotterdam (2003). NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 CRITÉRIO DE ROTTERDAM Diagnóstico de SOP na adolescência, deve-se ter os três critérios de diagnóstico abaixo: ❖ hiperandrogenismo clínico ou laboratorial; ❖ disfunção ovulatória; ❖ ovários policísticos ao USG.. Nas mulheres adultas, para receber o diagnóstico de SOP é necessário ter 2 de 3 itens acima. Além disso, esse critério cria quatro fenótipos de mulheres com SOP: ➢ A: clássico ou completo, que é muito semelhante ao quadro clínico descrito na SOP da adolescência; ➢ B – anovulação com hiperandrogenismo sem as imagens de ováriospolicísticos; ➢ C – hiperandrogenismo com imagens de ovários policísticos, mas a paciente tem ciclo regular (ovulatório); ➢ D – a paciente não tem hiperandrogenismo. Os fenótipos mais comuns são o A e o B, correspondendo a quase 80% das mulheres com SOP. Assim, o diagnóstico final é baseado nos critérios de Rotterdam, afastando as afecções com quadro clínico semelhante. 💡 Em geral, a história clínica da SOP é mais arrastada, surgindo na adolescência e, em muitos casos, piorando gradativamente com a obesidade e a resistência insulínica. Exames que podem ser solicitados: ● USG: O exame de ultrassom pélvico das mulheres com SOP pode mostrar imagens de ovários com volume aumentado, em geral, acima de 10 mL com mais 12 microcistos, de até 9 mm de diâmetro, na periferia do ovário. ○ a característica mais marcante é a hiperecogenicidade central que reflete a hiperplasia estromal. ● Exame de sangue (hormônios): Dosagem dos seguintes hormônios: LH, FSH, TSH, prolactina, testosterona total e livre, SDHEA, androstenediona, SHBG, 17-OH progesterona, BHCG. TRATAMENTO ● Não medicamentoso: O primeiro passo no tratamento da SOP é a mudança de estilo de vida, ou seja, diminuir o sedentarismo e melhorar a dieta nutricional. ● Medicamentoso: Deve ser prescrito conforme a clínica da mulher. O primeiro passo é o tratamento da resistência insulínica, devido ao risco de DM, quando o tratamento não medicamentoso não surtiu efeito. São eles: NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 - Antiandrogênico: acetato de ciproterona. - Anticoncepcionais hormonais combinados. - Metformina. ATUAÇÃO DA METFORMINA A metformina, uma biguanida hipoglicemiante oral, é comumente usada no tratamento do diabetes tipo 2 e em pacientes obesos, atuando principalmente na redução da gliconeogênese hepática, absorção intestinal de glicose e lipólise, e no aumento da captação de glicose pelos tecidos periféricos. Lembrar que a hiperinsulinemia estimula a secreção de androgêniospelas adrenais e suprime a produção hepática da Sex Hormone-Binding Globulin (SHBG, Globulina Transportadora dos Hormônios Sexuais), promovendo aumento dos androgênios livres biologicamente ativos. A metformina tem como ação: - diminuição da gliconeogênese hepática de vários substratos, incluindo lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos; - promove a melhora na sensibilidade insulínica e no perfil lipídico; - diminuição dos níveis séricos de insulina/glicemia de jejum e dos níveis séricos de testosterona; - além da regularização dos ciclos menstruais e reversão da infertilidade. RELAÇÃO DAS DIFERENTES COMORBIDADES COM A SOP - Resistência à insulina e diabetes tipo 2: A resistência à insulina é uma característica comum da SOP, o que significa que o corpo não responde adequadamente à insulina, levando a níveis elevados de açúcar no sangue. Isso aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2. - Obesidade: A SOP está frequentemente associada à obesidade ou ao ganho de peso, e o excesso de gordura corporal pode piorar os sintomas da SOP, como resistência à insulina e desequilíbrios hormonais. - Distúrbios cardiovasculares: Mulheres com SOP têm um risco aumentado de desenvolver distúrbios cardiovasculares, como hipertensão arterial, doença cardíaca coronariana e acidente vascular cerebral (AVC). Isso pode ser devido a fatores como resistência à insulina, obesidade e desequilíbrios hormonais. - Esteatose hepática não alcoólica: Isso pode aumentar o risco de problemas hepáticos a longo prazo. - Distúrbios do sono, como apneia do sono: Alguns estudos sugerem uma ligação entre a SOP e distúrbios do sono, como apneia do sono, que podem ser exacerbados pelo excesso de peso e desequilíbrios hormonais associados à condição. - Distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade: Mulheres com SOP têm uma incidência aumentada de distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade, possivelmente devido ao estresse relacionado aos sintomas da SOP e à influência dos desequilíbrios hormonais na saúde mental. PROBLEMA 4: ÚLCERAS GENITAIS Úlceras genitais (UGs) são lesões localizadas na vulva, vagina ou colo uterino com perda de tecido, envolvendo a epiderme e a derme ou apenas a epiderme. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Podem se apresentar em tamanho e número variados, quase sempre associadas a processo inflamatório. A FEBRASGO coloca a presença de UG como uma emergência ginecológica, devido ao sofrimento que causa à mulher e pela vulnerabilidade que proporciona. CLASSIFICAÇÃO - Podemos dividir de várias formas como: - Porém, o mais comum é classificar em UGs causadas por ISTs e UGs não relacionadas às ISTs. UGs infecciosas relacionadas às ISTs Tem como agentes etiológicos os seguintes microrganismos: ● Herpes simplex virus (HSV); ● Treponema pallidum (sífilis); ● Haemophilus ducreyi (cancro mole ou cancróide); ● Chlamydia trachomatis sorotipos L1-3 (linfogranuloma venéreo – LGV) ● Klebsiella granulomatis (granuloma inguinal ou donovanose) ● Monkeypox; UGs infecciosas não relacionadas a ISTs: ● Úlcera de Lipschütz, ou ulcus vulvae acutum, é uma entidade rara mas provavelmente subdiagnosticada, que se apresenta como úlcera vulvar aguda dolorosa numa mulher jovem. A etiologia é desconhecida embora relatos recentes a tenham associado à primo-infecção pelo vírus Epstein-Barr. UGs não relacionadas às IST têm como as principais causas: ● vasculites autoimune; ● traumática; ● vascular; ● neoplásica; ● reações medicamentosas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS ÚLCERAS GENITAIS HERPES GENITAL É a IST ulcerativa mais prevalente! O herpes simples vírus (HSV) pode provocar lesões na pele e nas mucosas dos órgãos genitais masculinos e femininos. AGENTE ETIOLÓGICO: HSV (Herpes Simplex Vírus). Seus tipos são: HSV tipo 1: Lesões em qualquer parte do corpo, com preferência nas regiões periorais. HSV tipo 2: Lesões em qualquer parte do corpo, com preferência nas regiões genitais. TRANSMISSÃO: Contato direto ou fômites (Ex: toalha, vasos sanitários, roupas íntimas ou lençóis). FATORES DE RISCO: Falta de sono, traumas, trabalho excessivo, uso de drogas, constrangimentos emocionais, má alimentação (desnutrição), aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), uso de altas doses de corticoide, neoplasias, quimioterapia, entre NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 outras, são as principais causas de imunossupressão. As lesões do HG costumam regredir espontaneamente, mesmo sem tratamento, nos indivíduos imunocompetentes. Nos imunodeprimidos, incluindo os infectados pelo HIV, porém, elas podem adquirir dimensões extraordinárias. QUADRO CLÍNICO: ○ CARACTERÍSTICAS DAS LESÕES: ■ Vesículas agrupadas sobre base eritematosa que evoluem para pequenas úlceras arredondadas, dolorosas, com bordas lisas. ■ Linfadenomegalia inguinal dolorosa bilateral – 50% dos casos. ■ Pode haver acometimento do colo do útero, sendo comum o corrimento vaginal, que é intenso. ■ Caracterizam-se por apresentar ardor, prurido, formigamento e adenomegalia, que podem anteceder a erupção cutânea. ■ Hiperemia aparece alguns dias após e depois evoluem para vesículas agrupadas, que, depois, se rompem formando exulceração dolorosa seguida de cicatrização. 💡 O vírus migra pela raiz nervosa até alojar- se num gânglio neural, onde permanece quiescente até a recidiva seguinte. TEMPO DE INFECÇÃO: ○ a) Primoinfecção ■ Tempo de incubação – 6 dias. ■ Severa. ■ Pode ter sintomas gerais, além das lesões: febre, mal-estar, mialgia. ■ Em 50% dos casos pode haver adenopatia dolorosa inguinal bilateral. ○ b) Recorrência – Reativação viral ■ Quadro menos intenso. ■ Desencadeantes: quadros infecciosos, estresse, imunodeficiência, exposição à radiaçãosolar/UV, ao frio intenso, ATB prolongado, trauma local. ■ Sintomas prodrômicos – prurido leve, sensação de queimação, “fisgada”. ■ Tende a ter a mesma localização da lesão inicial (em zonas inervadas pelos nervos sensitivos sacrais). DIAGNÓSTICO: ○ Pelo protocolo do Ministério da Saúde, o diagnóstico se dará pela exclusão de caso sífilis e cancroide, associado ao histórico NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 de exposição ao risco, sinais e sintomas clínicos. ○ Na prática, é essencialmente clínico, baseado na história clínica sugestiva, sintomas prodrômicos e lesões características. ○ Diagnóstico laboratorial é realizado com: ■ Raspado de pele (Esfregaço de Tzanck): células epiteliais gigantes multinucleadas com inclusões intranucleares. ■ Sorologias: anticorpos surgem após a infecção primária e permanecem por toda a vida. ■ Cultura. A cultura e a biópsia são raramente utilizadas, pois sua sensibilidade diminui com a duração da lesão. TRATAMENTO: Não existe ainda tratamento eficaz para a cura da doença. O tratamento tem por objetivo diminuir as manifestações da doença ou aumentar o intervalo entre as crises. Inibe a síntese de DNA, possui ação na fase aguda e não atua na latente. SÍFILIS Também conhecida por lues, cancro duro e protossifiloma, é uma doença infectocontagiosa, de evolução sistêmica (crônica). O agente etiológico é o Treponema pallidum. TRANSMISSÃO: Pode ser por via sexual, da mãe para o feto (intra útero) ou pelo contato da criança com as lesões maternas durante o parto (transmissão vertical). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: dependem do tempo da doença. ○ Sífilis primária ou recente: A lesão pode surgir na vulva (grandes e pequenos lábios, fúrcula vaginal), mucosa vaginal e anal e colo do útero. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 10 a 90 dias (média de três semanas). CARACTERÍSTICAS: ■ Úlcera única. ■ Indolor. ■ Bordas bem delimitadas. ■ Base endurecida. ■ Fundo limpo. ■ Cor rosa-avermelhada. ○ Sífilis secundária: Os sintomas podem desaparecer em poucas semanas espontaneamente. Período de incubação: entre 3 semanas e 6 meses após a infecção. ■ A sífilis secundária e a sífilis tardia não costumam apresentar ulceração, contudo as lesões planas da sífilis secundária podem ulcerar. Habitualmente, o condiloma plano (sífilis secundária) localiza-se na área genital devido a umidade, oclusão e trauma. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 CARACTERÍSTICAS: ■ Erupções cutâneas em forma de máculas e/ou pápulas; ■ Eritema palmo-plantar; ■ Placas eritematosas branco-acinzentadas nas mucosas; ■ Lesões pápulo hipertróficas nas mucosas (condiloma plano); ■ Alopécia e madarose. 💡 Importante: Os testes treponêmicos costumam ficar positivos por toda a vida do indivíduo. A lesão sifilítica é um fator de risco/porta de entrada para a infecção pelo HIV. DIAGNÓSTICO - Microscopia de campo escuro; - Não treponêmico (VDRL). - Treponêmico (FTA-Abs). TRATAMENTO As parcerias sexuais devem ser avaliadas e tratadas. Também devemos rastrear outras infecções para que o tratamento seja prescrito, se necessário. CANCRO MOLE AGENTE: Haemophilus ducreyi (coco-bacilo gram-negativo). TRANSMISSÃO: Contato sexual. TEMPO DE INCUBAÇÃO: 3 a 5 dias. CARACTERÍSTICA DAS LESÕES: ○ Múltiplas (autoinoculação). ○ Dolorosas. ○ Borda irregular. ○ Base amolecida. ○ Contornos eritematoedematosos. ○ Fundo irregular, recoberto por exsudato necrótico, amarelado, fétido. ○ Pode iniciar como uma pápula e depois sofrer um processo de ulceração. Em 30% a 50% dos pacientes, a bactéria atinge os linfonodos inguinocrurais (bubão), sendo unilaterais em 2/3 dos casos, observados quase exclusivamente no sexo masculino pelas características anatômicas da drenagem linfática. No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa, evoluindo para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamente por orifício único. Raramente, apresenta-se sob a forma de lesão extragenital ou doença sistêmica. DIAGNÓSTICO NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Microscopia de material corado pela técnica de coloração de Gram: visualização de bacilos gram-negativos típicos, de tamanho pequeno, agrupados em correntes dos tipos “cardume de peixes”, “vias férreas” ou “impressões digitais” em material coletado das úlceras genitais. Essa é a recomendação pelo protocolo do MS. TRATAMENTO - Azitromicina 500mg VO 2cp dose única ou Ceftriaxona 500mg IM dose única. - 2ª opção: Ciprofloxacino 500mg 1cp VO 2x/dia por 3 dias. O tratamento das parcerias sexuais é recomendado, mesmo quando estas forem assintomáticas. LINFOGRANULOMA VENÉREO (LGV) Também conhecido por linfogranuloma inguinal, mula, bubão ou doença de Nicolas- Favre. AGENTE ETIOLÓGICO: Chlamydia trachomatis L1, L2 e L3. CARACTERÍSTICA DAS LESÕES: ○ aparecimento de lesão genital (lesão primária) ○ geralmente unica ○ de curta duração ○ se apresenta como ulceração (ferida) ou pápula. ○ indolor ○ pode ocorrer disúria, sintomas urinário. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: varia de 3 a 32 dias. Após isso, surge a papulovesícula ou pequena erosão, que em geral passa despercebida, pois cicatriza em poucos dias. A localização preferencial é na genitália externa. 💡 Assim como o cancro mole, o LGV tem baixíssima prevalência em nosso meio, sendo diagnóstico de exceção. DIAGNÓSTICO Deve considerar, além do quadro clínico, que muitas vezes se apresenta de forma incaracterística, alguns exames complementares que poderão ajudar na propedêutica diagnóstica. O diagnóstico é embasado na clínica, epidemiologia e exclusão de outras etiologias para proctites, linfadenomegalia inguinal ou UGs ou retais. Lesões genitais, material retal e material do linfonodo podem ser testados para C. trachomatis por cultura, imunofluorescência direta ou detecção dos ácidos nucleicos. Entre os exames utilizados, podemos citar: ■ Citopatológico: raramente positivo (ver inclusões citoplasmáticas características); ■ ELISA: alta sensibilidade, identificação dos anticorpos contra o antígeno do grupo e não dos diferentes sorotipos; ■ Cultura com células de McCoy: alta especificidade, tornando-se positiva em três dias, contudo é feita em poucos lugares e exige profissional experiente; NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 ■ Sorológico (reação de fixação do complemento): teste mais empregado, tem alta sensibilidade e baixa especificidade. Positividade não implica atividade da doença; ■ Microimunofluorescência: método mais sensível no diagnóstico da doença, capaz de detectar anticorpos específicos aos diferentes sorotipos; PCR e captura híbrida: alta sensibilidade e especificidade. TRATAMENTO A tetraciclina e a azitromicina são medicações de escolha e devem ser empregadas, salvo contraindicações (gravidez, infância, intolerância ou alergia). - 1ª opção: Doxiciclina 100 mg, VO, um comprimido, duas vezes ao dia, por 21 dias, é a primeira opção de tratamento. - 2ª opção: Azitromicina 500 mg, dois comprimidos, VO, uma vez por semana, por 21 dias, com uso preferencial nas gestantes. Se a parceria sexual for assintomática, recomenda-se um dos tratamentos abaixo: azitromicina 500 mg, dois comprimidos, VO, em dose única, ou doxiciclina 100 mg, um comprimido, VO, duas vezes ao dia, por sete dias. DONOVANOSE É uma IST crônica ulcerativa também conhecida como granuloma venéreo, granuloma tropical ou úlcera venérea crônica. AGENTE ETIOLÓGICO: bactéria Gram- negativa intracelular Klebsiella granulomatis. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: oito dias a seis meses. CARACTERÍSTICAS: - Inicialmente aparece lesão nodular em número variável, que evolui para úlcera. - A lesão é não dolorosa e altamente vascularizada, sangrando facilmente com o contato. - Múltiplas (configuração em “espelho”,em bordas cutâneas e/ou mucosas). - Borda plana ou hipertrófica, bem delimitada. - Fundo granuloso, vermelho vivo, de sangramento fácil. - Pode tornar-se vegetante ou ulcerovegetante. - A lesão evolui para extensa destruição tecidual, com cicatrizes retráteis, deformidades cutâneas e estase linfática. Outras apresentações: Lesões vegetantes, vegetantes e ulcerosas, elefantiásicas e, eventualmente, pode haver manifestações sistêmicas. 💡 Não ocorre adenite, embora raramente possam se formar pseudobubões na região inguinal, quase sempre unilaterais. Na mulher, a forma elefantiásica é uma sequela tardia, sendo observada quando há predomínio de fenômenos obstrutivos linfáticos. DIAGNÓSTICO Esfregaço ou biópsia (Corpúsculo de Donovan – corpos intracelulares com largas células mononucleares). NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 Exames histopatológicos e citopatológicos podem identificar os corpúsculos de Donovan, confirmando o diagnóstico. TRATAMENTO Doxiciclina 100 mg, um comprimido, VO, duas vezes ao dia, por pelo menos 21 dias ou até o desaparecimento completo das lesões. O critério de cura é o desaparecimento da lesão, não tendo sido relatada infecção congênita. Devido à baixa infectividade, não é necessário fazer o tratamento das parcerias sexuais. MONKEYPOX Fatores de risco: Relação HSH; os múltiplos parceiros sexuais e o histórico prévio de algum tipo de IST são fatores que corroboram para o risco de infecção por Monkeypox como também a prática sexual sem preservativo. Característica das lesões: Inicialmente, é uma lesão avermelhada, que se eleva e vira uma bolha com presença de líquido incolor, que com o NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 passar dos dias, passa a ter o tom mais amarelado e evolui para um processo de cicatrização, virando uma crosta e depois se rompe da pele. SOBRE O DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO Nem sempre é fácil de ser realizado. Entre outras causas, o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a procura pelo serviço de saúde habitualmente é longo. Além disso, não há, habitualmente, disponibilidade para o uso de exames laboratoriais para a identificação do agente causal. Há, portanto, uma tendência a se fazer o diagnóstico sindrômico, e não o etiológico. ● Tanto o Ministério da Saúde Brasileiro como a Organização das Nações Unidas (ONU) sugerem o tratamento sindrômico das UGs, para não correr o risco de deixar passar uma IST sem tratamento. A FEBRASGO prática, mesmo nos casos em que há a necessidade de fazer o tratamento sindrômico, recomenda fazer a pesquisa dos possíveis agentes etiológicos. 💡 O diagnóstico etiológico direciona o tratamento de forma precisa, diminui a chance de tratamentos excessivos com seus efeitos colaterais, diminui o desenvolvimento de resistência microbiana e, principalmente, não cria situações desagradáveis de classificar como IST uma UG que não é IST. TRATAMENTO EMPÍRICO - Paciente que possa ter sido exposto a uma IST, como profissionais do sexo; - Úlceras sugestivas de sífilis; - Indivíduos que trocam sexo por drogas; - Homens sexualmente ativos que fazem sexto com homens; - Pacientes que tenham dificuldade para retornar ao tratamento ou manter um acompanhamento. UG’s NÃO INFECCIOSAS Vasculite autoimune (doença de Behçet) Algumas UGs que acometem crianças e mulheres jovens preferencialmente. Quase todos os casos têm história de episódio recente de mal- estar geral e estado gripal e reclamam de aparecimento de feridas dolorosas em genitais. Às vezes ocorrem também lesões em boca. O aparecimento de lesões dermatológicas em pernas e dorso também pode ocorrer. TRATAMENTO - Prednisona 20 mg VO, uma vez ao dia, até remissão da úlcera. Manter 5 mg VO uma vez ao dia por mais três meses; - Manter cuidados locais com limpeza três vezes ao dia; - Em casos especiais, usar colchicina 0,5 mg, de 8 em 8 horas VO, até remissão da úlcera. VASCULAR Confirmada a etiologia, encaminhar para o angiologista ou cirurgião vascular. NEOPLÁSICA Realizada a biópsia, encaminhar para o oncologista com o resultado histopatológico em mãos. ASPECTO BIOPSICOSSOCIAIS NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 As úlceras vaginais podem ter várias consequências biopsicossociais para as mulheres afetadas. Algumas são: Consequências Biológicas: ○ Infecções: As úlceras podem ser causadas por infecções, como herpes genital, sífilis ou outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Estas infecções podem se espalhar se não forem tratadas adequadamente. ○ Dor: As úlceras podem causar desconforto ou dor, especialmente durante a micção ou durante as relações sexuais. ○ Cicatrização: A cicatrização das úlceras pode levar tempo e, em alguns casos, pode resultar em cicatrizes ou alterações na textura da pele. Consequências Psicológicas: ○ Estigma Social: O diagnóstico de uma doença que causa úlceras vaginais, como herpes genital, pode levar a sentimentos de vergonha ou estigma. Isso pode afetar a autoestima e a confiança da mulher. ○ Estresse e Ansiedade: A preocupação com a saúde e o impacto das úlceras na vida sexual e nas relações interpessoais podem causar estresse e ansiedade. ○ Depressão: Em alguns casos, o impacto psicológico das úlceras vaginais pode levar à depressão. Consequências Sociais: ○ Relações Interpessoais: As úlceras vaginais podem afetar a vida sexual e as relações íntimas. A mulher pode sentir-se insegura ou ter receio de transmitir a infecção ao parceiro. ○ Isolamento Social: Devido ao estigma associado a algumas doenças que causam úlceras vaginais, algumas mulheres podem se sentir isoladas ou evitar situações sociais. ○ Acesso a Cuidados de Saúde: Nem todas as mulheres têm fácil acesso a cuidados de saúde adequados para tratar úlceras vaginais, seja devido a barreiras financeiras, falta de informação ou acesso limitado a serviços de saúde. PROBLEMA 5: CLIMATÉRIO O climatério é a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, caracterizado por uma gama de modificações endócrinas, biológicas e clínicas, compreendendo parte da menacme até a menopausa. PATOGENIA A menopausa, apesar de poder ser influenciada pelo eixo hipotálamo hipofisário, é um evento ovariano secundário à atresia fisiológica dos folículos primordiais. Sua ocorrência pode ser natural ou artificial, após procedimentos clínicos ou cirúrgicos que levem à parada da produção hormonal ovariana. 💡 A produção de folículos ovarianos começa na oitava semana de gestação, atingindo cerca de 7 milhões até a vigésima semana. Até a puberdade, restam 300 a 500 mil folículos. Durante a vida reprodutiva, apenas cerca de 400 desses folículos resultarão em ovulação, com o restante sendo perdido pelo processo de atresia, o que contribui para a diminuição da fertilidade. TRANSIÇÃO MENOPAUSAL - É caracterizada pela irregularidade do ciclo menstrual devido à variabilidade hormonal e ovulação inconstante. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 💡 Diminuição maciça do número de folículos ovarianos → queda gradual da inibina B → desativa o feedback negativo sobre a hipófise → libera a secreção de FSH na tentativa de aumentar o recrutamento folicular → os níveis elevados de FSH é a aceleração da depleção folicular até o seu esgotamento. - Enquanto houver folículos suficientes, a ovulação ainda é mantida e os níveis de estradiol permanecerão dentro da normalidade. A contínua perda da reserva folicular diminui os níveis de estradiol que não são mais suficientes para estimular o pico de LH, encerrando, assim, os ciclos ovulatórios. 💡 Sem ovulação → não há produção de corpo lúteo → não há produção de progesterona → e os níveis de estradiol não são suficientes para estimular o endométrio → amenorreia. - Na pós-menopausa, a hipófiseé ativada por picos de GnRH, na tentativa de estimular uma adequada produção de estradiol pelos ovários, e secreta grandes quantidades de gonadotrofinas, levando as mulheres a um estado de hipogonadismo hipergonadotrófico. - Devido à redução da resposta ovariana às gonadotrofinas, os níveis de FSH e LH são marcadamente elevados nos primeiros anos após a menopausa, decrescendo com o envelhecimento. AMH: marcador do número de folículos ovarianos em crescimento, diminui para níveis indetectáveis na pós-menopausa. Em estudos recentes, o AMH tem-se mostrado um ótimo preditor do envelhecimento ovariano. - A mulher pós-menopáusica não é totalmente desprovida de estrogênio, que segue sendo sintetizado em níveis muito menores. No ovário, a produção de estradiol é quase nula. Já, por meio da aromatização periférica da androstenediona no tecido adiposo, a produção da estrona é mantida e, mesmo em pequenas concentrações circulantes, passa a ser o principal estrogênio na pós-menopausa. - Quanto à progesterona, não há mais produção. DIAGNÓSTICO DO CLIMATÉRIO - É clínico, não havendo necessidade de dosagens hormonais para confirmá-lo quando há irregularidade menstrual ou amenorreia e quadro clínico compatível. - Porém, níveis de FSH acima de 40 mUI/mL e estradiol (E2) menores do que 20 pg/mL são característicos do período pós-menopáusico. DIFERENÇA ENTRE MENOPAUSA E CLIMATÉRIO CLIMATÉRIO - Fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, caracterizado por uma gama de modificações endócrinas, biológicas e clínicas, compreendendo parte da menacme até a menopausa. MENOPAUSA - É definida como o último período menstrual, identificado retrospectivamente após 12 meses de amenorreia. O intervalo, do início dos sintomas de irregularidade menstrual até o final do primeiro ano após a menopausa, é chamado de perimenopausa. - É um evento fisiológico e inevitável que ocorre devido ao envelhecimento ovariano e sua consequente perda progressiva de função. - Usualmente, ocorre de forma natural no final da quarta e início da quinta década de vida, com variações devidas a diferenças étnicas, regionais, NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 ambientais e comportamentais, como o tabagismo. - A menopausa que ocorre antes dos 40 anos de maneira espontânea ou artificial é chamada menopausa precoce. Essas e outras etapas da vida reprodutiva feminina são regidas pela função ovariana e sua respectiva produção hormonal. CLASSIFICAÇÃO - Sua classificação é fundamental do ponto de vista clínico e científico, utilizando-se para o estadiamento aquele proposto em 2001 pelo Stages of Reproductive Aging Workshop: STRAW + 10. - A classificação compreende a vida reprodutiva feminina desde a menarca e é dividida em três principais categorias: reprodutiva, transição menopausal e pós-menopausa. E suas subdivisões, totalizando 10 categorias descritas por uma terminologia-padrão. 💡 A base para diagnóstico e classificação nos estágios reprodutivos são as mudanças observadas no ciclo menstrual. - Os sintomas apresentados e critérios de apoio descritos, como contagem de folículos antrais, dosagem de AMH, inibina B e FSH não são utilizados como critérios diagnósticos para mulheres saudáveis. - Já para aquelas portadoras de síndrome de ovários policísticos e insuficiência ovariana primária ou para aquelas submetidas a procedimentos cirúrgicos capazes de alterar o ciclo menstrual sem determinar o esgotamento total dos hormônios ovarianos (ablação endometrial, ooforectomia unilateral ou histerectomia), o diagnóstico e a classificação devem ser realizados baseando-se nos critérios de suporte e sintomatologia, já que mudanças no ciclo menstrual podem ser explicadas pela patologia de base. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO CLIMATÉRIO Receptores estrogênicos existem em diferentes concentrações em vários locais do organismo – como pele, ossos, vasos, coração, diversas regiões do cérebro, mama, útero, vagina, uretra e bexiga – e a redução nos níveis de estrogênio circulante gera efeitos diferentes para cada mulher. ★ Alterações no ciclo menstrual - Irregularidade menstrual, com alteração na intensidade do fluxo, na duração ou frequência da menstruação. - Amenorreia prolongada é característica da deficiência de estrogênio. O padrão de fluxo menstrual também pode variar, sendo comum ocorrer sangramento aumentado. 💡 Nessa fase, o desenvolvimento de patologias orgânicas como miomas e pólipos é favorecido e, nos casos de sangramento uterino intenso, é mandatória a investigação e exclusão de patologias endometriais, com atenção às hiperplasias endometriais e ao carcinoma de endométrio. ★ Sintomas vasomotores - Fogachos e suores noturnos, são os sintomas mais comuns da transição menopausal e pós- menopausa inicial, sendo referido por mais de 80% dessas mulheres. NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 FOGACHO - súbita sensação de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, e se generaliza; seguida por enrubecimento da pele e subsequente sudorese profusa. - observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia, aumento da temperatura da pele devido à vasodilatação e, eventualmente, palpitações. - além do impacto negativo na qualidade de vida, os sintomas vasomotores parecem estar associados ao aumento de risco cardiovascular, ósseo e cognitivo. FISIOPATOLOGIA DO FOGACHO não é tão conhecida ainda, entretanto, o que se sabe é: - a redução dos níveis séricos estrogênicos provoca alterações em neurotransmissores cerebrais causando instabilidade no centro termorregulador hipotalâmico, tornando-o mais sensível a pequenos aumentos da temperatura corporal relacionados a alterações intrínsecas e ambientais. - alterações nas concentrações hormonais e nos sistemas serotoninérgico, noradrenérgico, opioide, adrenal e autonômico. - cada episódio dura aproximadamente de 2 a 4 minutos e ocorre diversas vezes no decorrer do dia e é particularmente comum à noite, prejudicando a qualidade do sono e contribuindo para irritabilidade, cansaço durante o dia e diminuição na capacidade de concentração. - duração média dos sintomas vasomotores a partir da transição menopausal é de 7,4 anos, e 4,5 anos desse total são vivenciados no período pós-menopáusico - também está relacionado à maior duração dos sintomas: índice de massa corporal (IMC) elevado, tabagismo, grau de sensibilidade aos sintomas, ansiedade, percepção de estresse e sintomas depressivos. ★ Alterações no sono - Distúrbios do sono, incluindo menor duração, aumento nos episódios de despertar noturno e menor eficácia do sono, estão presentes em até metade das mulheres na pós-menopausa, com ênfase ao período perimenopáusico, devido às flutuações hormonais. - A menor duração do sono é responsável por sequelas orgânicas como aumento da prevalência de hipertensão e diabetes mellitus. - Prejuízo das atividades diárias. - Depressão e ansiedade também estão correlacionadas. ★ Alterações do humor - Os sintomas depressivos são relatados por 65% a 89% das mulheres que buscam atendimento no período do climatério. - O mecanismo responsável pelo aumento do risco ainda é desconhecido, porém a variação dos níveis séricos de estrogênio parece estar mais associada com efeitos depressivos do que com a própria concentração hormonal absoluta. ★ Alterações cognitivas - Durante a transição menopausal, há um aumento das queixas referentes ao declínio das funções cognitivas, como diminuição da atenção e alterações da memória. 💡 Sabe-se que o estrogênio tem papel modulatório nos sistemas neurotransmissores, NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 influenciando o desempenhonas tarefas de aprendizagem e memória. - Parece que o efeito da deficiência estrogênica na memória e outras funções cognitivas não são permanentes nas mulheres após menopausa natural. - Não há dados conclusivos comparando os tipos de TH e seus efeitos no sistema nervoso central. ★ Alterações em pele e fâneros Ganho de peso: - aumento da circunferência e da gordura abdominal e total, mesmo em mulheres magras. - o padrão de distribuição da gordura passa de ginecoide para androide, propiciando o acúmulo na região abdominal. - a quantidade de gordura visceral também aumenta. Pele: - sofre alterações devidas à deficiência estrogênica → declínio do colágeno e espessura da pele com ênfase para os primeiros cinco anos após a menopausa = aumento da flacidez e das rugas e diminuição da elasticidade da pele. Cabelo: - passa a ser mais fino e pode aumentar o padrão de queda relacionada à transição menopausal e o status pós-menopáusico. Alterações oculares: - queixa mais comum → síndrome do olho seco, caracterizada por irritação ocular, secura, pressão, sensação de corpo estranho, aspereza e queimação, assim como fotofobia; Declínio auditivo: - relacionado à idade em mulheres saudáveis. ★ Alterações atróficas: Síndrome geniturinária da menopausa (SGM) - Também conhecida por atrofia vulvovaginal (AVV), compreende alterações histológicas e físicas da vulva, vagina e trato urinário baixo devidas à deficiência estrogênica. - É uma condição comum que acomete quase metade das mulheres na menopausa e tem caráter progressivo se o tratamento adequado não for imposto, afetando a saúde, a sexualidade e a qualidade de vida das mulheres acometidas. - O quadro atrófico decorre dos baixos níveis sistêmicos do estrogênio. Alterações: ○ sintomas genitais (ressecamento, ardência e irritação); ○ sintomas sexuais (ausência de lubrificação, desconforto ou dor dispareunia, piora da função sexual); ○ sintomas urinários (urgência miccional, disúria, infecções recorrentes do trato urinário, piora da incontinência urinária preexistente). ★ Alterações cardiovasculares e metabólicas - No período pós-menopáusico, devido ao hipoestrogenismo, o perfil hormonal das mulheres passa a ser androgênico e a prevalência da síndrome metabólica aumenta, NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 aumentando a incidência de doenças cardiovasculares após a menopausa. - Observa-se aumento da adiposidade central (intra-abdominal), mudança para um perfil lipídico e lipoproteico mais aterogênico, com o aumento da concentração de colesterol total à custa do LDL, dos triglicerídeos e da redução de HDL, o principal preditor para eventos isquêmicos cardíacos. - Também se observa aumento da glicemia e dos níveis de insulina. A transição menopáusica por si só é fator de risco para a síndrome, independentemente de idade, hábitos de vida e composição corporal. CLIMATÉRIO E OSTEOPOROSE - A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada pela diminuição da densidade óssea e alterações em sua microarquitetura, levando à fragilidade e predispondo a fraturas por baixo impacto. O hipoestrogenismo tem papel importante nesse mecanismo. Sua importância está na altíssima frequência em que ocorre e nas graves consequências relacionadas às fraturas osteoporóticas – altos custos, dor crônica, deformidades, limitações na mobilidade, consequências psicológicas e morte. - Existem outros fatores de risco envolvidos além do status menopausal: sexo feminino, idade avançada, etnia branca ou oriental, baixo IMC, história pessoal ou familiar de fratura, baixa densidade mineral óssea (DMO), uso de glicocorticoide oral, tabagismo, abuso de bebidas alcoólicas, sedentarismo e baixa ingestão de cálcio. - As fraturas mais comuns nas mulheres pós- menopáusicas são do rádio distal (fratura de Colles), coluna vertebral e do fêmur proximal. - Cerca de 50% a 60% das mulheres nesse período referem dor ou rigidez articular. Receptores de estrogênio foram isolados nas articulações e sabe-se que sua ação nesses tecidos protege a estrutura biomecânica, porém ainda é controversa a associação da insuficiência estrogênica com a evolução das doenças que envolvem as cartilagens e as articulações. 📚 Evidências sugerem que o estrogênio exerce efeitos positivos sobre o metabolismo dos ossos, dos músculos e da sinóvia, que, em conjunto, melhoram a saúde das articulações. Estudos demonstraram que mulheres em uso de terapia hormonal queixaram-se menos de artralgia quando comparadas àquelas em uso de placebo, porém o exato efeito do estrogênio nas alterações articulares ainda é controverso. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - HORMONAL: A TH pode ser dividida em duas categorias: ● Terapia estrogênica isolada: empregada em mulheres histerectomizadas. ● Terapêutica estroprogestacional, conhecida como terapêutica combinada. A adição do progestagênio para pacientes com útero é necessária para proteção endometrial, contrabalançando os efeitos proliferativos do estrogênio e diminuindo, dessa forma, os riscos de hiperplasia e câncer endometrial. - NÃO HORMONAL: NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 ● Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs); ● Inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da norepinefrina (IRSNs). NÃO FARMACOLÓGICO ● As opções incluem: ○ técnicas comportamentais; ○ técnicas psicocorporais; ○ controle dietético; ○ suplementos; ○ técnicas de resfriamento corporal (uso de roupas leves e de algodão e controle da temperatura ambiental para diminuir a transpiração); ○ evitar determinados estímulos (bebidas alcoólicas, cafeína, comidas picantes), porém não são condutas que apresentam eficácia para SVMs, que tenham embasamento científico; ○ atividade física; ○ para síndrome geniturinária: lubrificantes vaginais, hidratantes, dilatadores, fisioterapia pélvica e laser vaginal. VISÃO GERAL DOS BENEFÍCIOS X RISCOS NA MANUTENÇÃO DA TERAPÊUTICA HORMONAL - Na avaliação dos benefícios e riscos da TH, o tempo de manutenção do tratamento deve ser considerado de acordo com os objetivos da prescrição e com os critérios de segurança na utilização. - O uso de TH é uma decisão individualizada em que a qualidade de vida e os fatores de risco, como idade, tempo de pós-menopausa, e risco individual de tromboembolismo, de DCV e de câncer de mama, devem ser avaliados. - O momento do início da TH, a dose e a via de administração têm importante papel na tomada de decisão. BENEFÍCIOS DA TERAPÊUTICA HORMONAL Dentre os principais benefícios para o uso da TH, podemos destacar o tratamento dos: ○ sintomas vasomotores, atrofia vulvovaginal, prevenção da osteoporose e fraturas osteoporóticas, que são indicações consagradas. Evidências atuais sugerem outros benefícios da TH sobre: ○ sintomas geniturinários, distúrbios da função sexual e na redução da DCV e diabetes; ○ além de melhora da qualidade de vida em mulheres na pós-menopausa. RISCOS DA TERAPÊUTICA HORMONAL - O uso da TH estroprogestativa é limitado pelo aumento do risco de câncer de mama em três a cinco anos, enquanto a terapia estrogênica isolada teria maior período de uso com segurança, de acordo com a North American Menopause Society. - Por outro lado, a International Menopause Society (IMS) não vê motivos para impor limites em relação à duração da TH, referindo que estudos indicam o uso por pelo menos cinco anos em mulheres saudáveis que iniciaram a TH NATÁLIA MOURA | MEDICINA | P4 na “janela de oportunidade” e que a continuidade além desse período pode ser realizada baseada no perfil de risco individual de cada mulher. - Em consenso, a Sobrac (Associação Brasileira de Climatério) considera que não há duração máxima obrigatória para o uso da TH e que